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Ecopedagogia 24
Projetos Ecopedagógicos 36
Anexos 44
Referências Bibliográficas,
Videográficas e Eletrônicas Contidas no Texto 46
EXPEDIENTE
Itaipu Binacional
Diretor Geral/Brasil Gerente do Departamento de Proteção Ambiental
Jorge Miguel Samek Rosana Lemos Turmina
A humanidade vive hoje uma grave crise socioambiental, o que exige uma “A educação não muda o mundo, a educação muda as pessoas e as pessoas é que
postura atuante dos seres humanos. A busca por soluções a partir da compreensão mudam o mundo”. À luz dessa frase de Paulo Freire é que apresentamos a todos os
da realidade à sua volta como instrumento de aprendizado, despertando para a educadores e educadoras da Bacia do Paraná 3 esse caderno de Ecopedagogia.
ação coletiva. A proposta do Caderno é contribuir na construção coletiva dos conhecimentos
É preciso mudar as relações humanas, sociais e ambientais que temos hoje. sobre o conceito de Ecopedagogia, ainda bastante novo em nosso meio, e
Mudar a convivência que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a compartilhar o rico caminho de aprendizados e vivências, trilhado ao longo destes
natureza e reconhecer que pertencemos a uma única comunidade de vida. 08 anos na educação formal e não formal da Bacia do Paraná 3.
A ecopedagogia traz uma visão unificadora do planeta e de uma sociedade A Ecopedagogia nos propõe um processo de aprendizagem que possibilita tecer
mundial. É uma educação para a cidadania planetária, que segundo Gadotti, implica relações entre saberes que foram separados, principalmente nos espaços formais
uma reorientação de nossa visão de mundo, uma re-educação para vivermos numa de ensino, e dialogar sobre as questões ambientais de forma transversal com todos
comunidade que é local e global ao mesmo tempo. estes saberes.
A prática ecopedagógica abarca um conjunto de princípios, valores, atitudes Mais do que construir projetos de Educação Ambiental nos espaços formais de
e comportamentos e promove a aprendizagem significativa, atribuindo sentido às ensino, precisamos repensar o próprio sentido da educação, o quê, como e com
ações cotidianas. quem aprendemos.
É uma pedagogia centrada na vida, que considera as pessoas, as culturas, o Reconhecer nosso papel de educadores e educadoras ambientais em todos os
modo de viver, o respeito, a identidade e a diversidade, apropriada para uma espaços de nossa vida, despertar o desejo de aprender, a alegria de ensinar, a
cultura de sustentabilidade e de paz. possibilidade de compartilhar as descobertas e o conhecimento é o compromisso
Ação e reflexão, metodologia e vivência, saber e sentido, são apresentados que nós educadores e educadoras estamos fortalecendo ao longo dos anos nesse
neste caderno como uma contribuição a uma nova relação, a ecopedagógica, que pedaço do planeta denominado Bacia do Paraná 3.
busca a partir da vida cotidiana, o sentido mais profundo do que fazemos com Antônio Machado nos diz que: o caminho se faz ao caminhar. Neste sentido
nossa existência e que está intimamente ligado ao futuro de toda Humanidade e convidamos você a continuar trilhando conosco esse caminho com alegria, confiança
da própria Terra. e esperança de, coletivamente, construirmos relações mais solidárias, justas,
fraternas, responsáveis e comprometidas com uma sociedade mais sustentável.
Silvana Vitorassi
Gerente da Divisão de Educação Ambiental Leila de Fátima Alberton
Itaipu Binacional Gestora do Programa de Educação Ambiental
Itaipu Binacional
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O processo formativo “A Escola e a Cultura da Sustentabilidade, “A primeira etapa da oficina de ecopedagogia, realizada no município de Ouro
Formação Continuada de Professores em Educação Ambiental”, iniciado Verde do Oeste veio certamente motivar e reforçar ainda mais a preocupação em
em fevereiro de 2010, vem ao encontro da meta do Programa Cultivando relação ao fazer ecopedagógico para nós professores. É lindo observar nos fazeres
Água Boa de envolver a educação formal nos processos de educação para diários, muitas vezes corriqueiros, pequenas ações, que certamente dizem muito
a sustentabilidade realizados no território da Bacia do Paraná 3 (BP3). mais que palavras”.
Participaram das oficinas de formação, primeira etapa do projeto,
Elaine Jacinta Pappen Poleze,
professora do ensino fundamental,
24 municípios; Ouro Verde do Oeste,PR
1271 educador@s;
246 espaços educativos: 69 centros municipais de educação infantil, “A oficina realizada em Altônia foi muito importante para despertar nos
144 escolas municipais, 17 escolas estaduais e 1 escola particular. professores a missão que a escola tem na preservação ambiental. Na verdade
todos os professores sabem do verdadeiro valor da ecopedagogia, mas muitos
Além das professoras e professores, contamos com a presença nem sabem como fazer e as dinâmicas e as atividades vieram de encontro com
das gestoras e gestores de educação ambiental dos municípios e de as necessidades da própria valorização do fazer a cultura da sustentabilidade. Eu
representantes das Secretarias Municipais de Educação e Meio Ambiente. como diretora da escola onde grande parte participou pude ver o interesse e a
Estiveram presentes 1271 educadores e educadoras, grupo composto 92 % motivação neste fazer e aprender como Paulo Freire nos ensina”.
por mulheres e 8% de homens, com faixa etária entre os 23 e os 50 anos
e formações acadêmicas variadas - história, ciências, artes, pedagogia, Janete Silva Hackl,
matemática, letras, geografia, entre outras. professora e educadora ambiental,
Durante o processo formativo, cada participante foi convidado a Altônia, PR
compartilhar suas experiências na realização de projetos socioambientais,
a refletir e dialogar sobre o caráter ecopedagógico das ações realizadas “A primeira etapa nos ajudou a desenvolver maior consciência da realidade, das
com vistas à construção da cultura da sustentabilidade nos espaços necessidades do meio em que vivemos e também do nosso planeta. Também nos deu
educativos. Todo esse processo esteve apoiado nos princípios da Carta da entusiasmo para lutarmos pela sustentabilidade, compartilhando conhecimentos
Terra, do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e e transformando vivências”.
Responsabilidade Global e na perspectiva da ética do cuidado, difundida
Marlene Vaniski,
por Leonardo Boff. professora do ensino fundamental,
Como forma de ilustrarmos os resultados observados e definirmos Santa Tereza do Oeste, PR
pontos de partida para a próxima etapa, a elaboração de projetos
ecopedagógicos, compartilhamos algumas impressões de participantes Acreditamos, contudo, que os diálogos socioambientais e as ações ecopedagógicas
das oficinas de formação: não podem ficar restritos aos muros da escola. Por ser um movimento social, aberto
à participação de todos os setores da sociedade, a Ecopedagogia serve como fio
“Mais do que projetos de educação ambiental é preciso repensar o condutor para reflexões em torno da temática da cidadania ativa, do envolvimento
próprio sentido da educação, o quê e como ensinamos. A arte, política e na tomada de decisões, da realização de ações voltadas ao bem comum, da
ecologia são ferramentas fundamentais para chegarmos ao ser humano organização social e da participação na formulação de políticas públicas para a
que queremos, com atitudes éticas, sabedoria e bem estar espiritual. O totalidade do território da bacia hidrográfica.
despertar da consciência humana acontece a partir do fortalecimento da É nesse sentido que apresentamos o Caderno de Ecopedagogia, material que
ética e da espiritualidade, conexões que são a base para a transformação vem compor o conjunto de cadernos voltados á Sustentabilidade lançados em 2004
humana”. pela Itaipu Binacional: A Carta da Terra e o Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.
Iracema M. Cerutti,
gestora de educação ambiental,
Desejamos a todos e todas uma excelente jornada ecopedagógica! E que seus
Foz do Iguaçu, PR frutos sejam a nossa contribuição para a construção de sociedades mais justas,
sustentáveis e solidárias.
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Agenda 21 do pedaço
A aproximação ecopedagógica se manifesta nesse programa na medida
em que apóia o diálogo entre sujeitos e desses com a realidade. As Oficinas
de Futuro, inspiradas na metodologia criada pelo instituto Ecoar para a
Cidadania (www.ecoar.org.br), se fundamentam nos Círculos de Cultura
de Paulo Freire e dinamizam processos de educação não formal nos mais
variados contextos. Por meio do “Muro das Lamentações” as comunidades
participam do diagnóstico socioambiental das microbacias. Elas
expressam na “Árvore da Esperança” seus desejos e sonhos relacionados
à qualidade de vida naquele pedaço e traçam o “Caminho Adiante”, a
partilha da responsabilidade na execução de voltadas á construção da
sustentabilidade.
O Pacto das Águas é um encontro de socialização dos resultados das
Oficinas de Futuro, informações que servem de subsídio para o Comitê
“A partilha da responsabilidade no cuidado com microbacias serve de exercício
Gestor dar encaminhamentos às ações propostas e convênios firmados.
de construção da cidadania planetária por abrir canais de percepção das cores,
Contudo, sua proposta vai além do diálogo e troca de experiências e
cheiros, sons, estórias, sabores daquele pedaço do planeta, estimulando o sentido
informações. O pacto é um momento de celebração da vida, um convite
de pertencer àquele local”.
para que todos e todas vivenciem o cuidado no trato das questões
socioambientais relacionadas ao seu pedaço do planeta. A “Carta do Pacto
das Águas” é um dos principais produtos desse encontro, documento Você sabe o que é “passivo ambiental”?
simboliza o verdadeiro retrato das comunidades e seu compromisso de
cuidado com as águas. Os passivos ambientais representam os danos causados ao meio ambiente,
consequência da realização de atividades produtivas no território e/ou da
“O Pacto das Águas é um momento utilização de insumos naturais como matéria-prima para essas atividades. Os
de mobilização de toda a sociedade principais passivos ambientais identificados na BP3 são (1) a contaminação dos
na construção do respeito mútuo e de rios, solos, seres humanos e animais por agrotóxicos, fertilizantes, esgoto não
solidariedade entre os seres. (BRASIL. tratado, dejetos animais, lixo residencial entre outros; (2) a perda de solos pela
Itaipu Binacional, 2009)”. erosão, levando à sedimentação dos corpos d´agua e à perda da produtividade
agrícola; (3)o acúmulo de matéria orgânica nos rios provocando eutrofização -
surgimento de algas e plantas tóxicas, favorecendo a formação de pântanos e a
Oficinas futuro no presente emissão de gases do efeito estufa; (4) a perda da biodiversidade decorrente do
desmatamento e desaparecimento de espécies animais e vegetais. BRASIL. Itaipu
Seguindo as Oficinas de Futuro, as
Binacional, 2009.
“Oficinas Futuro no Presente” priorizam
a concretização de ações socioambientais
nas comunidades das microbacias da BP3,
estimulando a continuidade no cuidado
com as águas e nas relações interpessoais,
conforme acordos estabelecidos.
Além disso, as oficinas Futuro no Presente reforçam a importância de
serem tomadas medidas de proteção das matas ciliares e biodiversidade,
fortalecimento das parcerias públicas e ou privadas e o planejamento
de ações junto aos comitês gestores de bacias hidrográficas da região
(BRASIL, Itaipu Binacional, 2010).
A educação ambiental na Jovem Jardineiro
responsabilidade socioambiental
O programa Jovem Jardineiro apresenta uma
importante proposta para a inserção de adolescentes
Agricultura Orgânica, Familiar e Plantas Medicinais de famílias de baixa renda na sociedade, por
meio de uma formação ao mesmo tempo técnica
Programa que atua por meio da gestão participativa, com intensa e ecopedagógica. Promovendo sensibilização,
participação de clubes de mães, pastorais, grupos de mulheres e idosos. reflexão, diálogo e tendo a jardinagem como
Tem por proposta o fomento à agricultura familiar, incentivando a tema gerador, os jovens estão envolvidos com uma
diversificação das produções, abrindo espaço para sistemas agroecológicos proposta multidisciplinar, ampliando sua visão de
e procurando envolver novos agricultores a essas ações. mundo e contribuindo para a formação de cidadãos
A aproximação ecopedagógica é perceptível pela realização de práticas e cidadãs atentos às questões socioambientais.
democráticas, dialógicas, que valorizam a biodiversidade, o conhecimento
e a cultura local. Por meio do cultivo de plantas medicinais, o programa Coleta Solidária
incentiva o cuidado com a saúde sem a necessidade de comprar
medicamentos para doenças comuns como resfriados, dores, inflamações. O programa Coleta Solidária incentiva a
Assim, contribui para melhorar a renda mensal das famílias e minimizar sensibilização e organização de associações e
a geração de impactos negativos ao ambiente em função da geração de cooperativas de catadores de recicláveis, garantindo
resíduos. melhores preços e condições de trabalho. Além
disso, reforça a auto-estima desses agentes
ambientais como profissionais, cidadãos e cidadãs
que realizam um trabalho de suma importância em
seu ambiente.
Na região da BP3, Foz do Iguaçu e outros
municípios são beneficiados por meio da implantação
de Centros de Triagem de Materiais Recicláveis.
Esses empreendimentos são administrados pelos
agentes ambientais, que participam de cursos de
capacitação oferecidos pela Itaipu Binacional em
parcerias com as prefeituras municipais.
Sustentabilidade
das Comunidades Indígenas
A diversidade cultural na BP3 transcende a
origem européia da maioria da população de
alguns municípios. A cultura indígena ainda é muito
marcante e, atualmente, 205 famílias com cerca de
1.100 indígenas são beneficiadas em suas aldeias
pela construção de 60 casas com modelo indígena.
Também são tomadas medidas para a difusão do
artesanato tradicional em escala comercial e cursos
para a capacitação, a formação de parcerias e
orientação técnica para o cuidado com a saúde, o
saneamento básico e a produção de alimentos que
respeitem as suas tradições étnicas e culturais.
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Cultura da solidariedade
A realidade socioambiental é uma fonte inesgotável de elementos de aprendizagem
transformadora, que nos permite construir conhecimento integral, solidário,
capaz de despertar a consciência para a mudança individual e coletiva de valores,
relações e significações Falando em mobilização social...
(GUTIERREZ e PRADO, 2008). O Brasil foi sede de uma das maiores reuniões já realizadas mundialmente para discutir
meio ambiente. A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
Somos pessoas solidárias, afetuosas e cuidadosas nas relações que estabelecemos (CNUMAD), também conhecida como Conferência da Cúpula da Terra, realizada no Rio de
e ambientes que freqüentamos em nosso dia-a-dia? Sabemos agir de forma Janeiro em 1992, contou com a participação de representantes de mais de 175 países e
democrática, responsável e contribuir para que os outros e outras também ajam debates voltados ao despertar da consciência ecológica, de preocupação universal com
dessa maneira no ambiente onde vivem? Estimulamos nosso imaginário, nossa o destino comum do planeta propondo um modelo de desenvolvimento comprometido
criatividade, nossa sensibilidade para perceber a beleza que existe no meio que prioritariamente com a preservação da vida. O Fórum Internacional de Organizações não
nos cerca? Compartilhamos essas vivências e percepções em nossas relações? Governamentais (Fórum Global Rio-92) foi um evento paralelo à Conferência oficial, que
Participamos de práticas de economia solidária? fortaleceu a mobilização e participação dos movimentos sociais de todo o mundo. Com a
presença de movimentos sociais e organizações não governamentais (ONGs) de 108 países,
Ética do cuidado esse encontro centrou diálogos na necessidade de serem criadas linhas de ação voltadas à
justiça social e à cultura da sustentabilidade em todo o planeta, cenário perfeito para a
“Cuidar é mais do que um ato, é uma atitude. Abrange mais do que um momento de elaboração da minuta da Carta da Terra, do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades
atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, Sustentáveis e Responsabilidade Global, referenciais para a Ecopedagogia.
de responsabilização, de envolvimento afetivo com o outro. Não existimos, co-
www.cartadelatierra.org
existimos, con-vivemos, co-mungamos com as realidades mais imediatas”.
www.tratadodeeducacaoambiental.net.
(BOFF, 2004b)
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www.unwater.org.
As práticas ecopedagógicas podem nos sugerir o caminho. Por meio www.revistaamigosdanatureza.com.br.
delas, vamos a cada dia nos ecoformando (PINEAU 1992 apud GADOTTI,
2005), nos tornando cidadãos e cidadãs planetári@s, transcendendo
fronteiras geográficas que nos separam (GUTIERREZ e CRUZ PRADO, 2008). Que tal diminuirmos o desperdício desse presente
Reforçamos nosso sentido de pertencimento ao Planeta Terra, nossa casa tão precioso que a natureza nos dá?
comum, organismo tão vivo e em evolução como o nosso próprio organismo
e dos demais seres vivos com os quais compartilhamos a nossa existência Podemos deixar de “varrer” a calçada com a água que sai da mangueira, usar
(BOFF, 2004). cisterna ou balde para guardar água da chuva para lavar o quintal, o carro, irrigar
o gramado, o jardim, a horta... E convidar os amigos e familiares para adotarem
essa mesma atitude.
Ao reutilizarmos o óleo de fritura para produzir sabão e detergentes
caseiros, evitamos a contaminação de mananciais e prejuízos ao nosso bolso.
A água contaminada fica mais cara para ser tratada, custo repassado a nós,
consumidores.
www.revistaamigosdanatureza.com.br.
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www.ibam.org.br.
“O Caminho é Feito ao Caminhar”
O planeta no nosso pedaço, “No dia-a-dia da sala de aula, desenvolvemos diversos hábitos que lembram uma
educação ambiental que todos devemos ter em nossas vidas. Desde não jogarmos a
o nosso pedaço no planeta latinha pela janela do ônibus, e/ou carro, ou mesmo lixo no chão, já estamos nos
referindo a uma educação ambiental. Porém, no decorrer dos anos que trabalho
As questões socioambientais locais e planetárias são bastante complexas. A
em sala de aula, desenvolvi alguns projetos com meus alunos para uma maior
ecopedagogia nos aponta um modelo de aprendizagem imerso em um contexto
reflexão sobre o nosso mundo, para que eles tenham um conhecimento maior do
de inter-relações: entre pessoas, entre pessoas e o meio, e os demais seres
que temos e como podemos preservar. Realizei projeto sobre plantas medicinais e
vivos, e o contexto histórico, social e econômico que as envolve, formando a
teia de informações, mudanças e incertezas que estruturam a realidade. Por tóxicas; lixo e reciclagem; e desenvolvimento sustentável”.
meio da prática ecopedagógica, os indivíduos desenvolvem uma percepção
Joana Raquel Diehl Vanzella,
holística da vida real, compreendendo que o todo é mais do que a soma das pedagoga,
partes (MORIN, 1999; GUIMARÃES, 2005). Diamante do Oeste, PR
Nesse contexto, o processo de aprendizagem ecopedagógica é
multidisciplinar, transitando das ciências naturais às ciências humanas e
“A Oficina de Ecopedagogia contribuiu muito no trabalho desenvolvido com nossos
sociais, da filosofia à religião, da arte ao saber popular, sempre buscando a
alunos no CMEI, além, é claro, de esclarecer de forma simples o verdadeiro
articulação entre os diferentes saberes. Através de processos, indicadores
e instrumentos pedagógicos criados e recriados a cada dia, construímos um sentido da palavra. Mesmo sem saber os professores já trabalham ecopedagogia.
conhecimento integral, voltado à concretização dos ideais de sustentabilidade Desenvolvemos um projeto através da Agenda 21 - A Nossa Horta, um projeto
no nosso dia-a-dia (GUTIERREZ e PRADO, 2008). muito interessante, conseguimos envolver todos os alunos, professores e pais.
Estamos conseguindo melhorar a qualidade de vida destas pessoas através da
“A Ecopedagogia faz ecoar nas pessoas a preocupação com a recuperação do alimentação, de maneira simples e divertida. Com a oficina tivemos condições
nosso meio ambiente e a preservação do que ainda resta. Temos que abrir de aprimorar nosso projeto com as trocas de experiências e com as dinâmicas de
caminhos, fazer algo de concreto deixando nosso exemplo para que os outros grupo. Aguardo ansiosa a segunda etapa desta oficina”.
dêem continuidade às atividades e projetos que garantam a recuperação e
sustentabilidade dos recursos naturais”. Márcia Regina Saucedo,
pedagoga,
Foz do Iguaçu, PR
Inês Ferreira Welter,
professora do ensino fundamental,
São Miguel do Iguaçu Elaborando projetos ecopedagógicos
Valorizar o sentido e o cotidiano é elemento intrínseco da Ecopedagogia.
Talvez o maior desafio vivenciado nos trabalhos em grupo seja inserir conteúdos
Contudo, ela vai além da prática pedagógica. Ao incorporarmos a Ecopedagogia
de forma contextualizada, ordenada e que garanta a participação de todos.
em nosso cotidiano, nos resgatamos e nos fortalecemos enquanto cidadãos e
Infelizmente, observamos que algumas vezes as informações são impostas,
cidadãs. Como consequência, atuamos como dinamizadores de processos que
contribuem para a vivência dos ideais de sustentabilidade nos espaços onde transmitidas de forma unilateral. Em outras, os participantes dos encontros
estamos inseridos (GUTIERREZ e CRUZ PRADO, 2008; GADOTTI, 2005). são estimulados a se manifestarem de forma espontânea, se desvinculando das
Entretanto, nossas propostas de intervenção apenas poderão ser informações e objetivos dos mesmos.
concretizadas e levadas adiante se nos unirmos e nos organizarmos, se Conteúdos e informações não devem de forma alguma ser desprezados. Eles
tivermos claro aonde queremos chegar, os possíveis caminhos a serem trilhados não surgem do acaso, são frutos da interação dos grupos sociais com sua realidade
e quem serão os nossos companheir@s de jornada. Por essa razão, sugerimos cultural ao longo do tempo (ALVAREZ, 1996). O mais importante, porém é que sua
os projetos Ecopedagógicos como ferramenta essencial para a realização transmissão dialogue com interesses, desejos e percepções dos participantes, bem
de ações socioambientais nas escolas, grupos comunitários, universidades, como a realidade observada e percebida por aquele grupo, naquele momento e
empresas... Independente dos espaços e dos atores envolvidos, podemos naquele espaço.
contar com esse importante instrumento para a viabilização das práticas Na perspectiva da Ecopedagogia, os ambientes educativos são ambientes de
solidárias e sustentáveis. mobilização de processos de diálogo entre conteúdos, reflexão crítica e intervenção
Os projetos ecopedagógicos incorporam em sua essência uma dimensão na realidade, um exercício de cidadania ativa para todos os atores envolvidos. Por
política e por essa razão não se bastam nas escolas! Eles são ferramentas essa razão, os projetos ambientais não podem estar focados apenas na mudança
indispensáveis para a construção da justiça social e ambiental, da cultura do de atitude dos participantes. É a vivência no movimento coletivo que enriquece
cuidado e da cidadania local e planetária! suas práticas e levam à transformação das comunidades e sociedades onde estão
inseridos.
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Por meio da realização de projetos ecopedagógicos, os conteúdos se Ponto de partida
tornam palpáveis, deixam de ser abstratos e prioritariamente técnicos e
permitem: Para iniciarmos, é fundamental que seja definida a linha de ação do projeto: É
a diminuição de desperdícios de água e energia? A redução e destinação adequada
Atuar no cotidiano daquele grupo provocando novas questões, situações dos resíduos sólidos? A criação de uma horta, de um canteiro de plantas medicinais?
de aprendizagem e desafios para a participação na solução de problemas Outros? Embora essas ações estejam interligadas, é importante que uma sirva como
e manutenção das conquistas por meio da articulação dos espaços com os tema gerador para a proposição de ações e intervenções socioambientais.
ambientes locais e regionais onde estão inseridos; Não podemos nos esquecer que as linhas de ação devem sempre estar
Construir processos de aprendizagem significativa conectando as relacionadas ao contexto socioambiental das pessoas envolvidas e à investigação
experiências e os repertórios já existentes com questões e experiências em torno de suas percepções e compreensões dos problemas vivenciados nesse
que possam gerar novos conceitos e significados para aqueles ou aquelas contexto. Para isso:
que estejam abertos a aventura de compreender e se deixar surpreender
pelo mundo que os/as cercam; Caracterizamos a área de estudo: Em que local as ações do projeto serão
Valorizar princípios da gestão democrática dos espaços, incentivando a realizadas? Já foram realizados outros projetos ou ações socioambientais nesse
descentralização, a autonomia e a participação; local? O ambiente deve ser caracterizado pelo olhar coletivo, pela contemplação,
reflexão e socialização das questões socioambientais a ele relacionadas.
Situar os coordenador@s /educador@s como mediadores das ações
Identificamos projetos e ações voltadas à sustentabilidade na comunidade:
socioeducativas, gerenciando a tomada de decisões e definição de ações,
Experiências anteriores podem ajudar na concretização de nossas idéias. Podemos
pesquisas, reflexões que oportunizem novos processos de aprendizagens convidar atores sociais envolvidos a essas ações para socializarem suas vivências,
sociais, individuais e institucionais; dialogando sobre as formas possíveis de intervenção para aquele espaço e aquele
Fortalecer as vivências de atitudes e dos valores bem como da prática público;
de pensar a prática; Delimitamos a abrangência do projeto: Não podemos nos esquecer que, um
Reorientar ações da educação formal e não formal, bem como as projeto realizado em um bairro, contribuirá de forma direta com a sustentabilidade
intervenções socioambientais, para que sejam trabalhados conteúdos de seu município, que por sua vez fará a diferença para aquele estado, país...
significativos para os envolvidos, em contexto amplo, inserindo os Afinal, estamos trabalhando para cuidar do nosso planeta, nossa casa comum e
princípios da sustentabilidade local e planetária. para construir a cidadania planetária, não é?
Definimos quem será o público envolvido ao projeto de forma direta e indireta:
A quem se destinam nossas ações?
Traçando caminhos e metas Realizamos registros (fotografias, vídeos, ilustrações, outros) e memórias dos
encontros: Estimulamos os membros dos grupos a adotarem essas práticas sempre
Convidamos colaboradores e colaboradoras e realizamos reuniões. que executarem ações voltadas à construção das propostas ecopedagógicas;
Poderá surgir a necessidade de ser definido um/uma representante do Avaliamos nossas expectativas iniciais: Estamos no caminho previsto?
projeto; Alcançaremos nossas metas por meio da metodologia e prazo estipulados? Verificar
Convidamos pessoas envolvidas direta ou indiretamente ao local da a necessidade de alteração de propostas iniciais, tarefas, providências, metas e
ação; prazos. Ao final do projeto, celebramos nossas realizações e avaliamos as lições
Definimos um plano de ação e objetivos; aprendidas.
Listamos tarefas, providências a serem tomadas e os responsáveis
pelas mesmas; Adaptado de www.petrobras.com. br.
Enquanto código de princípios éticos voltados à construção da cidadania I. Respeitar e Cuidar da Comunidade e da Vida
planetária, a Carta da Terra se fundamenta na mudança de valores, de
atitudes, de estilos de vida. Essas mudanças se tornam possíveis na medida Respeitar a terra e a vida em toda sua diversidade
em que os indivíduos se permitam imergir em um processo educativo Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
vivencial, flexível, dinâmico, criativo, voltado às necessidades daquele Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis
grupo e ao contexto socioambiental em que estão inseridos. e pacíficas.
Os estudos e debates voltados às possibilidades de garantia do Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras
desenvolvimento econômico e a preservação do ambiente foram divulgados gerações.
pela primeira vez durante a Conferência Mundial do Meio Ambiente
Humano, realizada em Estocolmo em 1972. Essas discussões permearam II. Integridade Ecológica
os debates ambientais nas décadas de setenta e oitenta, contribuindo
para a divulgação do Relatório Brutland em 1987, documento também Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com
conhecido como “Nosso Futuro Comum” e que lançava as diretrizes do especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que
desenvolvimento sustentável. É nesse mesmo ano a Comissão Mundial das sustentam a vida.
Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento faz um chamado para Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e
que as nações se unam e trabalhem na criação de uma Carta constando os quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da prudência.
princípios fundamentais desse novo modelo de desenvolvimento. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades
Lançada oficialmente no ano 2000, a Carta da Terra é na atualidade o regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
produto do diálogo de mais de dez anos entre diversas culturas e países. A Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover troca aberta e uma
“Iniciativa da Carta da Terra”, movimento global que tem como objetivo ampla aplicação do conhecimento adquirido.
envolver pessoas na vivência e difusão de seus princípios e valores, celebra
esse ano os dez anos do lançamento oficial desse importante documento III. Justiça Social e Econômica
planetário.
Por meio de Encontros Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social, econômico e ambiental.
programados para ocorrer Garantir que as atividades econômicas e instituições em todos os níveis promovam
durante 2010 nos quatro o desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável.
cantos do mundo e com o Afirmar a igualdade e a equidade de gênero como pré-requisito para o
slogan “Começa com você”, desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao
o movimento mundial nos faz cuidado com a saúde e às oportunidades econômicas.
lembrar que a conquista da paz, Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente
do respeito ao ambiente e o fim natural e social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o
das injustiças sociais inicia por bem estar espiritual, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e
nossas reflexões e iniciativas. minorias.
Unidos e unidas, dialogando e
construindo ações voltadas ao IV. Democracia, Não Violência e Paz
bem comum e à preservação
ambiental, passamos a “Ser a Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover transparência
Mudança que Queremos Ver”. e responsabilização no exercício do governo, participação inclusiva na tomada
de decisões e acesso.
Gandhi - www.weuuniverso.com.br. Integrar na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os
conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida
sustentável.
Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
Promover uma cultura de tolerância, não-violência e paz.
Disponível em www.cartadelatierra.org
O Tratado de Educação Ambiental. Princípios e Valores 45
Voltados á Educação para a Sustentabilidade
Tratado de Educação Ambiental para Sociedades 1. A Educação é um direito de todos. Todos somos aprendizes e educadores.
Sustentáveis e Responsabilidade Global 2. A Educação Ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo ou
lugar, em seus modos formal, não formal e informal, promovendo a transformação e a construção da
O Tratado de Educação Ambiental foi elaborado por meio de um processo sociedade.
mundial de consulta que antecedeu a Conferência da Cúpula da Terra, Rio
92. Ele é a síntese de um processo de diálogo e construção coletiva que 3. A Educação Ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com consciência
local e planetária, que respeitem a auto-determinação dos povos e a soberania das nações.
envolveu pessoas de diversos países: professores e professoras de vários níveis
da rede formal, pesquisadores e pesquisadoras de diversas universidades, 4. A Educação Ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato político, baseado em valores para a
representantes de ONGs e de movimentos sociais. Tod@s reunid@s durante a transformação social.
Primeira Jornada de Educação Ambiental, realizada durante o Fórum Global,
evento paralelo á Rio 92 (VIEZZER et al, 1995). 5. A Educação Ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser
Assim como a Carta da Terra, os signatários do Tratado estão distribuídos humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar.
em diversos países, pessoas que se comprometeram com a proteção da vida
6. A Educação Ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos,
no planeta e reconhecem a importância fundamental da Educação para a
valendo-se de estratégias democráticas de interação ente as culturas.
formação de valores e ação social.
7. A Educação Ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-relações em
uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico. Aspectos primordiais relacionados ao
Você sabia? desenvolvimento e ao meio ambiente, tais como a população, saúde, paz, direitos humanos, democracia,
degradação da flora e fauna, devem ser abordados dessa maneira.
Os princípios e valores do Tratado de Educação Ambiental serviram de
inspiração para a Política Nacional de Educação Ambiental, que define as leis 8. A Educação Ambiental deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de decisão em
sobre a Educação Ambiental no Brasil desde 1999. todos os níveis e etapas.
9. A Educação Ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e utilizar a história indígena e
2ª Jornada Internacional de culturas locais, assim como promover a diversidade cultural, lingüística e ecológica. Isso implica uma
revisão na história dos povos nativos para modificar os enfoques etnocêntricos, além de estimular a
Educação Ambiental 2008-2012 educação bilíngüe.
10. A Educação Ambiental deve estimular e potencializar o poder das diversas populações, promovendo
Os conteúdos do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades oportunidades para as mudanças democráticas de base que estimulem os setores populares da sociedade.
Sustentáveis e Responsabilidade Global são dinâmicos, permanentemente Isto implica que as comunidades devem retomar a condução de seus próprios destinos.
repensados e reconstruídos. São também um convite para que todos os
povos compartilhem a responsabilidade no cuidado com o planeta e da 11. A Educação Ambiental valoriza as diferentes formas de conhecimento. Este é diversificado,
construção de sociedades sustentáveis e equitativas. A Segunda Jornada de acumulado e produzido socialmente, não devendo ser patenteado ou monopolizado.
Educação Ambiental, coordenada por Moema Viezzer, é um movimento cuja
finalidade é fortalecer o Tratado de Educação Ambiental na perspectiva da 12. A Educação Ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas a trabalharem os conflitos de
maneira justa e humana.
sustentabilidade.
13. A Educação Ambiental deve promover a cooperação e o diálogo entre indivíduos e instituições, com
A participação de cada a finalidade de criar novos modos de vida, baseados em atender as necessidades básicas de todos, sem
distinções étnicas, físicas, de gênero, idade, religião, classe ou mentais.
um de nós é muito importante! 14. A Educação Ambiental requer a democratização dos meios de comunicação de massa e seu
comprometimento com os interesses de todos os setores da sociedade. A comunicação é um direito
A Segunda Jornada Internacional de Educação inalienável e os meios de comunicação de massa devem ser transformados em um canal privilegiado
Ambiental é um acontecimento marcante para de educação, não somente disseminando informações em bases igualitárias, mas também promovendo
todas e todos que trabalham para que a Educação intercâmbio de experiências, métodos e valores.
Ambiental esteja no centro das nossas ações
cotidianas, da gestão educacional e ambiental. 15. A Educação Ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações. Deve
converter cada oportunidade em experiências educativas de sociedades sustentáveis.
Para participar, basta compartilhar as ações
realizadas a partir dos princípios do Tratado e 16. A Educação Ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência ética sobre todas as formas
realidades locais, estabelecendo conexões com de vida com as quais compartilhamos este planeta, respeitar seus ciclos vitais e impor limites á (à)
a realidade planetária. exploração dessas formas de vida pelos seres humanos.