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Paulo Lobo
MORA DO DEVEDOR
. A mora do devedor decorre do inadimplemento, necessariamente. Ele não cumpre a
obrigação no tempo, forma e lugar devidos. Apesar da mora, continua obrigado a cumprir
sua prestação, se esta continua sendo valiosa ao credor, acrescida da reparação pelos
danos causados com o atraso, dos juros moratórios e dos honorários de advogado;
. Os pressupostos gerais da mora do devedor são o vencimento, o inadimplemento e a
exigibilidade pelo credor;
. Se há dia certo e a dívida é líquida, a mora é automática, com o inadimplemento, pouco
importando que a dívida seja de ir levar ou portável (o devedor adimple no endereço do
credor ou por este indicado) ou de ir buscar, ou quesível (o credor vai buscar o
adimplemento no endereço do devedor);
- o inadimplemento não constitui imediatamente, só por si, em mora o devedor. A
mora pressupõe a liquidação da dívida;
. Não pode o devedor alegar desconhecimento da dívida para escusar-se de adimpli-la. O
herdeiro que herdou a dívida sem tomar conhecimento dela assume as consequências da
mora, evidentemente nos limites do que recebeu;
. Além da reparação dos danos, o devedor em mora assume riscos que não teria se tivesse
cumprido a prestação no tempo devido;
. Se a coisa pereceu após o início da mora, no caso de obrigação de dar ou restituir coisa
certa, o devedor continua responsável pela indenização de quaisquer danos, mesmo que
tenha havido caso fortuito ou força maior;
- dessa responsabilidade apenas se isenta se prova que não teve qualquer culpa pela
perda da coisa ou pela impossibilidade da prestação, ou se o fato teria ocorrido
ainda que tivesse adimplido no tempo devido;
. A mora pode tornar a prestação inútil ao credor (a entrega dos equipamentos de som com
atraso não interessa mais ao credor, que teve de alugar outros para cumprir suas
obrigações em determinada evento);
- o credor poderá exigir a indenização dos prejuízos que sofreu, em vez de receber a
prestação, e o reembolso das despesas que teve de efetuar, em consequência da
mora;
. O credor não pode recusar a prestação se o que falta é mínimo ou acidental, sem redução
substancial do valor, em virtude de imposição dos princípios da boa-fé e do adimplemento
substancial;
- A recusa não gera mora do devedor, configurando abuso do direito do credor (art.
187 do Código Civil);
. A mora do devedor permite ao credor escolher as seguintes soluções:
a) receber a prestação, mais perdas e danos e demais acréscimos;
b) rejeitar a prestação, por falta de interesse ou utilidade, exigindo indenização mais perdas
e danos;
c) resolver imediatamente o contrato, com perdas e danos e demais acréscimos.
. Não há mora do devedor se ficar caracterizada a exceção do contrato não cumprido (STJ,
REsp 11329), ou seja, se o devedor deixar de cumprir sua obrigação porque o credor não
cumpriu a dele;
MORA DO CREDOR
. A mora do credor decorre de sua falta de cooperação com o devedor, para que o
adimplemento possa ser feito no tempo, lugar e forma devidos. A conduta do credor
provoca o atraso no adimplemento, portanto, a mora;
- Deixa o credor de receber o adimplemento (ato) ou não pratica os atos necessários
para que o adimplemento possa ser feito (omissão);
- A cooperação do credor pode ser antes da prestação, a exemplo das obrigações
alternativas, quando lhe compete a escolha, ou das obrigações genéricas (gênero e
quantidade), quando tem de determinar a espécie;
. A mora do credor pode ensejar ao devedor pretensão à reparação por perdas e danos e à
resolução do negócio jurídico, quando ficar evidenciada lesão aos deveres gerais de
conduta, nomeadamente o de cooperação;
. A mora do credor interrompe a do devedor, que fez movimento para adimplir, cessando,
inclusive, a fluência dos juros moratórios;
. Com a mora do credor, o devedor continua obrigado; daí seu legítimo interesse em solver
a obrigação. Tem de evitar que a coisa se danifique, para que não se lhe impute dolo;
- Para que a mora do credor se constitua, é necessário que o devedor pratique os
atos conducentes à recepção do adimplemento;
- Se não os faz nem promove o depósito em consignação da coisa devida, corre o
risco de, ele próprio, constituir-se em mora;
. Se a mora do credor resultar em impossibilidade da prestação pelo devedor, este ficará
inteiramente liberado;
. São pressupostos da mora do credor:
a) que o devedor possa prestar (não basta sua intenção), ou seja, que a prestação seja
exigível;
b) que o devedor pratique os atos necessários para prestar no lugar, tempo e forma
devidos, fazendo oferecimento efetivo da prestação (oblação), exigindo a cooperação do
credor;
c) que haja recusa do credor, ou que este tenha impedido o adimplemento, ou que tenha
omitido a cooperação necessária;
. Movimento do devedor para adimplemento, depende da natureza da prestação:
a) Se esta deve ser real, com tradição da coisa, precisa o devedor já ter iniciado a
entrega, que não se concluiu por ato ou fato do credor;
b) Se a prestação não é real, tem o devedor de comunicar ao credor que está pronto
para prestar e já iniciou a prestação;
. A recusa do credor apenas pode ser justificável quando houver adimplemento incorreto (a
prestação não corresponde ao que ficou acordado), defeituoso (existência de vício na coisa
entregue ou no serviço prestado) ou incompleto (o valor devido ou a quantidade da coisa
não são integrais). Sendo justa a recusa, não há mora do credor.
- Não é justa a recusa quando houver impedimentos de caráter pessoal, como no
caso de morte de alguém da família ou da participação em algum evento para o qual
foi homenageado;
. Também incorre em mora o credor quando, dispondo-se a receber o adimplemento,
recusa-se a fazer a contraprestação;
. A lei estabelece as seguintes consequências da mora do credor, se não houver dolo do
devedor:
a) libera o devedor de toda responsabilidade a respeito do objeto da prestação, em geral;
b) isenta o devedor da responsabilidade pela conservação da coisa que deve entregar ou
restituir ao credor; os riscos, inclusive de seu perecimento, passam para o credor;
c) obriga o credor a ressarcir ao devedor as despesas efetuadas com a conservação da
coisa após o início da mora; enquanto não for ressarcido, o devedor tem direito de retenção
sobre a coisa;
d) sujeita o credor a receber a coisa, no valor mais favorável ao devedor, se tiver havido
variação após o início da mora;
e) interrompe a fluência dos juros, inclusive compensatórios, ou penas convencionais,
exceto a atualização monetária, que continua exigível (STJ, REsp 43 7652);
f) impede o credor de valer-se da exceção do contrato não cumprido, sob alegação de que o
devedor não cumpriu sua prestação;
PURGAÇÃO DA MORA
. Mesmo em mora, pode o devedor cumprir a prestação ou o credor (se sua for a mora)
recebê-la, pagando os prejuízos a que deu causa: é a purgação da mora;
. A purgação alcança o passado, desde o momento em que o adimplemento era devido até
o de satisfazê-lo;
. Em geral, quando a purgação da mora é possível, pode ser requerida no prazo da
contestação;
. Não é possível purgação da mora na hipótese de inadimplemento absoluto, ou seja,
quando o adimplemento não admitir qualquer atraso, em virtude da natureza da prestação
ou de convenção das partes, ou quando a prestação tornar-se inútil ao credor;
. A purgação da mora do devedor permite o adimplemento tardio, mas, justamente por isso,
é agravado com ônus que recai sobre o devedor, que o atrasou, ou sobre o credor, que
deixou de recebê-lo (art. 401, I, do Código Civil);
- a purgação da mora não se realiza pelo mero adimplemento tardio, pois o devedor
tem de realizar a prestação mais o pagamento dos prejuízos que sua demora
causar. O ônus é a reparação do prejuízo sofrido pelo outro figurante da relação
jurídica obrigacional;
. Terceiro pode purgar a mora, nas mesmas condições em que pode adimplir, suportando
todos os encargos que incidem sobre o devedor;
. O credor purga a mora, oferecendo-se a receber o adimplemento e a
responder pelas consequências dela decorrentes até a mesma data (art. 401,
Il, do Código Civil);
- Todavia, purgada a mora do credor, começa a mora do devedor, se este não realizar
imediatamente a prestação (de dar, restituir ou fazer);