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Contexto Histórico:
Como dito, não é possível afirmar a data precisa das cinco sentenças, mas uma
coisa é certa, elas surgiram num contexto histórico onde a verdadeira religião estava
em declínio.
Por quase um milênio a igreja havia entrado num abismo sem fim. Após a
aceitação do império romano da fé cristã, no ano 380 pelo imperador Teodósio I,
politica e religião influenciaram-se e a igreja passou a defender seus interesses, ao
invés dos interesses do evangelho. A verdade da Escritura foi violentada, a fé genuína
e a Graça divina deu lugar às obras e ao legalismo, a mediação de Cristo foi substituída
por todo tipo de “amuletos” e a glória de Deus, invocada a homens. A piedade deu lugar
aos rituais, o poder da Palavra de Deus ao academicismo vazio, o estilo de vida
humilde às grandes ostentações de Roma.
Os solas, portanto, eram expressões que os reformadores e reformados usavam
para contradizer os ensinos de Roma. Lutero, por exemplo, combateu a justificação por
fé somente, contrariando as indulgências, Calvino, a submissão das Escrituras ao
papado, Wycliffe e Huss, combatiam a ostentação do sacerdócio.
Assim, podemos dizer que os solas não surgiram por acaso, mas por conta do
declínio da igreja num período da idade média.
O Que combatiam:
Solus Christus:
A expressão somente Cristo é a afirmação da suficiência da mediação realizada
por Cristo. Nada mais pode ser acrescido ao que Cristo fez.
Nos tempos da reforma era comum a expressão extra ecclesiam nulla salus, uma
expressão cunhada por São Cipriano (Sec.III), e usada pelo quinto concílio de Latrão.
Ela diz “fora da igreja (romana) não há salvação”. Os reformadores certamente tiveram
com esse dogma, que a luz das Escrituras fora corrompido, e refutaram-na com o Solus
Christus. Somente Cristo Salva. A igreja é o meio utilizado por Deus para alcançar os
seus eleitos.
Portanto, tal afirmação combatia os ensinos da igreja romana dos vários
mediadores que poderiam religar (de onde vem a palavra religião) o homem a Deus,
incluindo os vários santos e até o próprio papa.
Tal ensino contribuiu para a grande idolatria que adentrou a igreja, e desviou o
povo da busca pelo verdadeiro mediador, Cristo. Os vários ídolos (santos) e até a
pessoa do Papa eram invocados como mediadores, ou seja, aqueles que intercediam a
Deus pelo homem. O resultado foi a possibilidade de comércio com tais mecanismos.
O Papa, por exemplo, cobrava para fazer intercessões pelos mais nobres (pois
eram os que tinham condições de pagar), enquanto os mais pobres pagavam aos
sacerdotes “inferiores” pelas mesmas intercessões.
A idolatria alcançou o povo de uma forma tão forte (pois como disse Calvino: o
homem é uma fábrica de Ídolos), que Roma viu aí a possibilidade de comércio, e assim
aumentar seus ganhos, que, segundo eles, iriam para a “causa do evangelho” com
edificações de grandes templos. Roma então começou a comercializar “artefatos”,
primeiro dos apóstolos, depois de muitos outros santos.
Há relatos que se faziam comércio com restos da cruz, que se juntados,
formariam uma “cruz com quilômetros de extensão”.
O papa, que poderia fazer intercessões por todos, não as realizava se não
fossem pagos tributos, e Lutero condenou isto em suas teses 84 a 90.
Assim a obra mediadora de Cristo deixou de ser suficiente. Os rituais, a
obediência a Roma, os caríssimos amuletos, a intercessão dos sacerdotes, as
indulgências, entre outras coisas, precisavam ser acrescidas à obra “incompleta” de
Cristo.
Todo este movimento de abandono da suficiência de Cristo resultou na perda do
temor por parte dos fiéis. A explicação era bem simples: não havia mais motivo de se
preocupar com o pecado, desde que se tivesse dinheiro para comprar o perdão
oferecido pela igreja romana.
Portanto as consequências são muito mais graves do que podemos pensar.
Lutero em sua tese 75 chama a atenção dos teólogos da época, endereçando seu
discurso ao papa, para tamanha ignorância daqueles que afirmavam a expiação dos
pecados por meio das indulgências, a ponto de afirmar que se uma pessoa
blasfemasse contra Maria (mãe de Jesus), que para Roma tinha uma importância tal,
ainda assim, com a indulgência certa, o blasfemador poderia alcançar o perdão.
O Papa Leão X, com vistas de arrecadar fundos para a construção da Basílica de
São Pedro, comissionou Johann Tetzel (1465-1519) como o responsável pelas vendas
das indulgências na Alemanha, e Tetzel não poupou seus esforços. Também há relatos
de que Tetzel oferecia indulgências até para pecados premeditados, ou seja, se uma
pessoa pretendesse cometer algum pecado, era possível comprar antecipadamente o
perdão, através da indulgência.
Portanto, o Solus Christus, era um apelo ao retorno a sulficiência de Cristo e de
sua obra.
Nos nossos dias, percebemos o retorno dos cristãos às heresias romanas. A
suficiência de Cristo é negada com exigências feitas para “completarem” sua obra. O
legalismo é enfaticamente ensinado, como forma de se alcançar o favor de Deus. Os
amuletos romanos se transformaram em “rosas, sal grosso, fitas”. As orações
mediadoras dos papas se transformaram em orações mediadoras de pastores, bispos,
pseudoapóstolos, “paipóstolos” e tanto outros.
Hoje em dia temos vários Tetzel’s, que comercializam a Graça de Deus, a venda
de perdão, a justificação por meio das obras. Nos nossos dias, assim como nos dos
reformadores, as pessoas vão a igreja, mas desconhecem a bíblia, não por não tê-la
traduzida, ou por não saberem ler, mas porquê não a veem como importante para suas
vidas. A figura da liderança a si mesmo exalta, ou é exaltada por seus seguidores.
Roma manipulava o povo ignorante, líderes manipulam a ignorância do povo.
Cristo deixou de ser o centro, deixou de ser “o caminho, a verdade e a vida” e se
tornou apenas o “facilitador”, o Cristo moderno é “apenas o facilitador do nosso
relacionamento com Deus” e nosso relacionamento com Deus não se baseia nas
Escrituras, mas no fato de nos sentirmos bem com Deus.
A decadência que a igreja medieval se afundou, voltou em menos de meio
milênio. Nossos pecados não nos preocupam, mas nossas contas sim. Por falar em
contas, como Cristo só não é suficiente, a igreja tem corrido atrás do sucesso desse
mundo. Deus tem ficado em segundo lugar, isso quando não utilizamos a “fé” para
obter nosso sucesso financeiro. O homem, sendo colocado no centro, resultou numa
teologia da libertação, da prosperidade, numa teologia liberal, onde não há mais
preocupações com o evangelho. Assim, a igreja moderna tem outra sentença para
Solus Christus, que é “Cristo também, mas não somente”.
O Que ensinam:
At. 4.12
I Co. 10. 31
Sua Aplicação para os nossos dias: