Estendendo o Desconto Padrão ao Imposto de Renda na Fonte
Benjamin Azevedo
Tem passado despercebido que existe excesso na retenção mensal de
imposto de renda na fonte pela não consideração do desconto padrão de 20% já no cálculo da retenção mensal.
Inicialmente o aproveitamento do desconto padrão pelo contribuinte
dependia da sua opção pelo formulário simplificado na declaração anual de ajuste, de modo que somente quando da declaração, e conforme a opção do contribuinte, era possível saber se seria utilizado ou não.
Já há muito, porém, o desconto simplificado foi universalizado,
podendo dele se beneficiar qualquer contribuinte, independentemente de seu volume de rendimentos, e tanto na declaração simplificada como na declaração completa, respeitado unicamente seu teto máximo. Desde o ano base 2015 o limite máximo do desconto padrão é de R$ 16.754,34 (Lei 9.250/1995, Art.10, inciso IX, com redação dada pela Lei 13.149/2015), equivalente a R$ 1.396,20 mensais.
Para mudar esta situação há de se fazer ajuste na Lei nº 9.250/1995,
modificando a tabela de retenção de modo que já considere mensalmente a fração do desconto padrão, evidentemente respeitado de forma proporcional seu limite legal. Aplicando o conceito para o ano base 2013, teríamos a seguinte tabela de retenção mensal:
NOVA Tabela Progressiva do IR Fonte Mensal – Exercício 2019
Base de Cálculo Alíquota Deduzir Até R$ 2.138,48 Isento - De R$ 2.138,49 até R$ 3.204,89 7,50% R$ 160,39 De R$ 3.204,90 até R$ 4.273,24 15,0% R$ 400,75 De R$ 4.273,25 até R$ 5.339,49 22,5% R$ 721,24 Acima de R$ 5.339,50 27,5% R$ 988,22
Se refizermos os cálculos para os exemplos analisados, com a nova tabela o
imposto retido passa a equivaler ao imposto devido na declaração de ajuste anual.
A presente proposta apresenta as seguintes vantagens:
• Resgata o princípio de bases correntes, trazendo justiça fiscal a todo universo de contribuintes. • Traz alívio na retenção, já onerada pela longa defasagem da tabela, sem correção desde 2015. • Ao tempo em que a SRF anuncia que caminha em breve para a declaração de ajuste automática, com a medida aqui proposta será possível que a mesma esteja automaticamente quitada para a grande maioria dos casos, com o imposto devido equivalendo ao imposto retido. • A restituição tenderia a ficar limitada a contribuintes com deduções superiores ao desconto padrão legal, que tenham trabalhado apenas parte do ano, ou ainda aqueles que durante o ano tenham tido elevações de salário. • Tenderiam a ter imposto a pagar apenas os contribuintes com mais de uma fonte de rendimentos tributáveis. • Sem renúncia fiscal eleva-se o limite de isenção de retenção mensal de R$ 1.903,99 para R$ 2.379,99 beneficiando amplo contingente na base da pirâmide social. • Para trabalhador com renda na faixa de R$ 6.600, ou superior, o alívio mensal chega a R$ 364,49, equivalente a cerca de 5,5% de sua renda. • A proposta não envolve renúncia fiscal. • Ao disponibilizar renda disponível aos cidadãos, beneficia a população e reverte-se em reconhecimento positivo do governo.
Recomendações:
• Ao disponibilizar-se renda disponível para o trabalhador, gera-se folga
para expansão de consumo. Caso isto seja indesejado ao tempo da implantação, medidas macroeconômicas de compensação podem ser tomadas, tal como citado no item anterior. • Embora a proposta não envolva renúncia fiscal, num primeiro momento a eliminação da retenção indevida afeta o fluxo de caixa do governo, o que pode ser compensado de outras formas (por exemplo variação no compulsório sobre depósitos a vista). • Caso implantada por alteração na tabela de retenção, deve-se explicitar a tabela anual, que hoje é calculada por soma da tabela mensal, para evitar circularidade. A outra alternativa é manter a tabela mensal, mas autorizar as fontes pagadoras a utilizarem no cálculo da retenção mensal o abatimento de 20% limitado a R$ 1.396,20, equivalente mensal do limite anual do desconto padrão de R$ 16.754,34. Benjamin Azevedo