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Problemas globais,
enfrentamentos locais e
a universidade pública
O Centro Regional de Referência em
Álcool e Outras Drogas da UFRJ Macaé
e outros projetos extensionistas
organizadoras
Problemas globais,
enfrentamentos locais e
a universidade pública
O Centro Regional de Referência
em Álcool e Outras Drogas da UFRJ Macaé
e outros projetos extensionistas
2017
Copyright© 2017
Todos os direitos reservados.
Coordenação editorial
Erotides Maria Leal
Produção e impressão
Rona Editora
Ficha Catalográfica
ISBN: 978-85-62805-69-1
CDU 614(81)
Sumário
Apresentação
Erotildes Maria Leal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Capítulo 1:
Papel da universidade no desenvolvimento regional,
com ênfase no papel da Universidade Federal do
Rio de Janeiro no desenvolvimento de Macaé (RJ) e região
Francisco Esteves. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Capítulo 2:
Os desafios para a formação dos profissionais e a construção
de redes intersetoriais na temática AD: o projeto Redes/Secretaria
Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, em Macaé (RJ)
Tânia Maris Grigolo, Alex Xavier. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Capítulo 3:
O desafio da atenção integral em álcool e outras drogas –
a experiência do CRR Macaé em 13 municípios das regiões
da baixada litorânea e norte do estado do Rio de Janeiro
Júnia Prosdocimi. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Capítulo 4:
Consumos “problemáticos” e situações de “vulnerabilidade”:
drogas e cultura para o contexto do cuidado em saúde
Marcos Veríssimo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Capítulo 5:
Teatro do Oprimido: um meio para a compreensão e
ressignificação dos processos relacionados ao uso de
drogas e suas possibilidades interventivas
Monique Rodrigues. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
Capítulo 6:
Métodos e abordagens do uso problemático de drogas:
alcances e limites para a clínica no território
Ruth Escudero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
Capítulo 7:
Drogas nas escolas... O que fazer?
Gilberta Acselrad. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
Capítulo 8:
“Se essa rua fosse minha...”
A experiência do Consultório na Rua de Macaé (RJ)
Naly Almeida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219
Capítulo 9:
Percursos Reformativos – Relato de uma experiência
Vinte e sete anos de trabalho pela construção do cuidado
em saúde mental no contexto do SUS
Décio de Castro Alves e Breno Castro Alves. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241
Capítulo 10:
O Programa de Braços Abertos no município de São Paulo
Myres Maria Cavalcanti,
Teresa Cristina Endo, Mirmila Musse. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
Capítulo 11:
Impasses na prática da atenção integral aos
usuários de drogas: um estudo de caso
Cristiane Mazza. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281
Seção III – Projetos extensionistas: outros relatos e desafios
Capítulo 12:
O lugar do discente na extensão acadêmica: espaço de formação
e autonomia. O CRR – UFRJ Macaé – relato de experiência.
Maria Clarissa Santos da Silva, Sávio de Araújo Gomes. . . . . . . . . . . . . 295
Capítulo 13:
CRR-UFF: a experiência da formação para o cuidado de
usuários de álcool e outras drogas
Lorenna Figueiredo Souza, Ândrea Cardoso de Souza,
Elisângela Onofre de Souza, Ana Lúcia Abrahão,
Francisco Leonel Fernandes, Maria Alice Bastos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 305
Capítulo 14:
PET Saúde Mental/crack, álcool e outras drogas – Experiência
de adoecimento de pessoas em uso problemático de álcool e
outras drogas que não deram continuidade ao tratamento no
CAPS ad – Porto/Macaé (RJ)
Erotildes Maria Leal, Ana Lúcia Togeiro, Cynthia Aquino,
Fillipe Teixeira Tinoco Rodrigues, Gabriel Moreira Crelier,
Queline Simões Evangelista, Talitha Demenjour. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325
Capítulo 15:
Espaço para a extensão universitária no campo socioambiental:
um estudo de caso sobre as audiências públicas do Terminal
Portuário de Macaé
Rodrigo Lemes Martins,
Gustavo Arantes Camargo, Giuliana Franco Leal. . . . . . . . . . . . . . . . . . 355
Abreviaturas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 381
Apresentação
balho com os saberes não racionais que determinam nossos modos de agir
e intervir socialmente, criado pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal. A sua
premissa é que todos somos teatro, embora nem todos façamos teatro. Ser
teatro, dirá, é ser humano, e ser humano é carregar em si o ator, o espec-
tador e o diretor das ações que praticamos na vida. Diferente do ator pro-
fissional, na vida cotidiana não costumamos ter consciência disso. A partir
de seu método, os saberes experienciais e não refletidos, que dirigem nos-
sas ações sem que nos demos conta disso, seriam explicitados e refletidos.
Com isso, cada um teria a chance de se apropriar dos papéis em que atua,
conscientizando-se da sua autonomia, tanto diante dos personagens que
representa quanto dos fatos cotidianos envolvidos na sua produção, mo-
dificando-os, se for o caso. Boal nos ajudaria, com o seu método, a acessar
os saberes não racionais que nos movem no dia a dia. Favoreceria assim
a ampliação da liberdade e da nossa capacidade de agir, e não de sermos
agidos pela realidade.
1
KERKA, Sandra. Somatic/Embodied Learning and Adult Education. In: The Education Re-
sources Information Center, 2002;
14
2
BARLAS, Carole. Learning-within-Relationship as Context and Process in Adult Education.
In 42nd Annual Adult Education Research Conference Proceedings, East Lansing, Michigan,
June 1-3, 2001, edited by R. O. Smith et al. East Lansing: Michigan State University, 2001.
Disponível em <http://www.edst.educ.ubc.ca/aerc/2001/2001barlas.htm>. Acesso em 02 de
novembro de 2007.
15
no campo AD. Nesse artigo, tem-se o relato dos desafios enfrentados por
ele, ora como psicólogo de serviços substitutivos, ora como supervisor clí-
nico-institucional e também como gestor dos municípios de Santo André e
São Bernardo. O que se vê emergir nessa narrativa, inicialmente produzida
sob forma de entrevista por seu filho Breno, jornalista que assina junto o
artigo, é não só o processo de construção da rede de atenção psicossocial ,
mas o processo de construção do próprio campo AD em municípios que se
tornaram referência para todo o Brasil.
3
BRASIL, 2000/01. Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras
e SESu / MEC, (2000/2001). Plano Nacional de Extensão Universitária. p. 5
18
4
CECCIM, R. B.; FEUERWERKER, L. C. M. O quadrilátero da formação para a área da saúde:
ensino, gestão, atenção e controle social. Physis, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 41-65, jan./jun.
2004.
19
5
LEAL, Erotildes Maria; DELGADO, P. G. G. ou GODINHO DELGADO, P. G.; Strike, C.;
Brands, B.; Kenthi, A. Estudo de Comorbidade: sofrimento psíquico e abuso de drogas em
pessoas em centros de tratamento em Macaé, Brasil. Texto & Contexto Enfermagem (UFSC.
Impresso), v. 21, p. 96-104, 2012.
Merchán-Hamann, Edgar; LEAL, Erotildes Maria; Basso Musso, Liliana; García Estrada,
Miriam; Reid, Patrice; Kulakova, Olga Vladimirovna; Vásquez Espinoza, Eddy; Willis, Opal
Jones; Prieto López, Ricardo; Domenech, Diana. Comorbilidad entre abuso/dependencia de
drogas y el distrés psicológico en siete países de Latinoamérica y uno del Caribe. Texto & Con-
texto Enfermagem (UFSC. Impresso), v. 21, p. 87-95, 2012.
20
6
Este estudo, desenvolvido nos anos de 2012 e 2013, foi realizado por uma equipe constituída
por 15 alunos das graduações de medicina, enfermagem, psicologia, um preceptor psicólogo,
um assistente social e uma professora médica.
21
7
Diretor Geral do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé (NU-
PEM/UFRJ)
24
des no Brasil. A primeira tentativa foi feita já no ano de 1583, por Marçal
Beliarte, religioso de grande cultura geral e Padre Provincial do Brasil de
1588 a 1599, sucedendo José de Anchieta, que exercera o cargo entre 1577
e 1587. Esse religioso português propôs ao Rei Felipe I criar uma escola
superior na colônia, mas este negou o seu pedido com o seguinte argumen-
to: “É um absurdo criar uma escola superior no meio do mato”. A segunda
tentativa de criar uma universidade no Brasil foi feita, no ano de 1789, pelos
inconfidentes. Caso a proposta tivesse logrado sucesso, a primeira univer-
sidade brasileira teria sido criada em São João del Rei, que seria, segundo
os planos dos inconfidentes, a nova capital do Brasil. A chegada da Corte
Portuguesa ao Brasil, no ano de 1808, não foi motivo suficiente para se criar
a primeira universidade brasileira, mas no máximo duas faculdades, que vi-
riam atender diretamente aos interesses dos membros da Corte Portuguesa.
Para tanto, foi investido cerca de 800 contos de réis para criar a Faculdade
de Medicina da Bahia e a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (Wan-
derley, 2003).
Deve ser acentuado que, mesmo não tendo sido criada nenhuma
universidade, nesse período já havia no Brasil centros de pesquisas razoa-
velmente estruturados, como o Jardim Botânico e o Museu Nacional (Sca-
rano, 2014).
Outro aspecto que foi fortemente atentado por Zeferino Vaz foi
a formação do corpo docente da Universidade Estadual de Campinas, que
teve como premissa a excelência na qualificação dos docentes a serem con-
tratados. Assim sendo, já em 1966, ano do início de suas atividades, contava
com mais de 200 professores estrangeiros, das diferentes áreas do conhe-
cimento, e cerca de 180 vindos das melhores universidades brasileiras, a
maioria com o título de doutor, fato ainda raro naquela época. Isso pode ser
comprovado na análise de uma entrevista concedida por Zeferino Vaz, no
ano de 1958, quando ele foi perguntado sobre os recursos necessários para
construir uma grande universidade que pudesse contribuir para o desen-
volvimento de uma região. Ele apontou que seriam necessários seis elemen-
tos básicos: 1- bons mestres, 2- bons mestres, 3- bons mestres, 4- biblioteca,
5- equipamentos e 6- edifícios. Para Zeferino Vaz, sem bons mestres não
era possível construir universidades com pesquisa qualificada. E, assim, a
universidade não poderia cumprir seu papel social.
29
Figura 1 - Figura elaborada a partir de matéria publicada pelo jornal O Globo do dia 20 de
março de 2010. Essa figura evidencia a importância das universidades sediadas no interior
do Estado de São Paulo na formação de doutores (53%). Essa elevada produção de recursos
humanos qualificados tem consequência direta sobre o desenvolvimento científico, cultural,
tecnológico e econômico das regiões nas quais as universidades estão sediadas.
Química Zoologia
Educação Botânica
UFRJ
Filosofia
Pedagogia
Ecologia Sociologia
Figura 3 - Publicações voltadas para o público não especializado, Cadernos do NUPEM, Fi-
chas dos Seres e Publicações Temáticas são os meios mais eficazes para fazer com que o co-
nhecimento gerado nos laboratórios e campos experimentais do NUPEM/UFRJ cheguem até
as salas de aulas e contribuam para a formação da consciência socioambiental da população
de Macaé e região.
A área onde seria construído o novo porto é uma das que a Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro, principalmente por meio dos pesquisado-
res que atuam no NUPEM/UFRJ, desenvolve há vários anos pesquisas com
ênfase em questões ambientais e sociais. Grande parte dos resultados dessas
pesquisas serviu de subsídio para a sociedade se apropriar de informações
científicas obtidas no local onde a obra seria instalada. De posse de emba-
samentos científicos sólidos, a sociedade se tornou mais consciente e segura
para participar das difíceis discussões com defensores do empreendimento
sobre os impactos ambientais e sociais.
muros invisíveis, mas de muita eficácia, que apartam o saber por ela gerado
da sociedade.
Figura 5 - Principais fases da história da UFRJ em Macaé até criar o seu campus universitário.
Fase 1- Os poucos recursos disponíveis ajudaram a realizar as pesquisas pioneiras e a conceber
o maior patrimônio da pequena equipe de pesquisadores do Instituto de Biologia: sonhos.
Fase 2- Com a obtenção dos primeiros recursos, foi possível construir, no ano de 1994, a partir
da reforma de um galpão de ração, a primeira sede do NUPEM/UFRJ, onde foram realizadas,
além das atividades de pesquisas, as primeiras atividades de extensão da UFRJ em Macaé. Fase
3- As novas instalações, inauguradas no ano de 2006, abrigaram a primeira turma do curso
de Ciências Biológicas e assim a UFRJ inaugura, em Macaé, seu programa de interiorização
do ensino. Fase 4- O modelo exitoso, no qual ocorre à integração entre pesquisa, ensino e a
sociedade, que é praticado pelo NUPEM/UFRJ, inspirou e estimulou algumas Unidades Aca-
dêmicas a expandir suas ações em Macaé. E, para acolher essas novas atividades, foi iniciado o
processo de criação do campus universitário de Macaé, que ocorreu no ano de 2008.
66
§ ousadia;
§ reflexão;
Agradecimentos
Agradeço aos colegas Rodrigo Lemes Martins, Fabio Rubio Scarano e Ro-
drigo Nunes Fonseca e ao meu orientador, Roberto Nascimento de Farias,
pelas valiosas críticas e sugestões ao manuscrito, e aos colegas do NUPEM/
UFRJ que ajudam no cotidiano a manter viva a chama da interdisciplinari-
dade e da qualidade de trabalho dessa instituição.
Referências Bibliográficas
ARAUJO, M. S. et al. Body size and allometric shape variation in the molly
Poecilla vivipara along gradient of salinity and predation. BMC Evolutio-
nary Biology, Londres, v. 14, p. 251-262, dez. 2014. Disponível em: <http://
www.biomedcentral.com/content/pdf/s12862-014-0251-7.pdf> Acesso em:
01 set. 2015.
RESUMO
8
Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica e Cultura. Interlocutora do Projeto Redes/SENAD.
Professora do Curso de Psicologia (CESUSC) e do Mestrado em Saúde Mental e Atenção Psi-
cossocial (UFSC). Consultora em Saúde Mental, Álcool e outras Drogas. E-mail: taniamgri-
golo@gmail.com
9
Fisioterapeuta. Mestre em Saúde Coletiva. Articulador Local do Projeto Redes/SENAD.
E-mail: xavier_fisio@yahoo.com.br
80
pessoas que fazem uso problemático de drogas aos seus direitos e à inclusão
social. Trata-se de uma estratégia de apoio “in loco” para municípios que
integram o programa “Crack, é possível vencer”, tendo em perspectiva a su-
peração das lacunas existentes entre os diversos setores e políticas públicas,
entre as especificidades das ações de cada um e a necessidade de diminuir
a fragmentação das redes, considerando a singularidade dos sujeitos e dos
contextos locais.
1. Introdução
} autonomia,
} inexistência de hierarquia,
} cooperação,
} confiança,
} inter-dependência e
que emergem desses processos. O esforço, no campo AD, nos parece ainda
maior para superar as formas de pensar e de agir cristalizados na cultura e
na formação das pessoas em geral e dos profissionais em especial, incorpo-
rados dos modelos hegemônicos de tratamento, que dificultam as possibili-
dades de exercício de cidadania e cuidado integrado à saúde, à proteção so-
cial, à educação, à cultura e desconsideram os sujeitos e suas singularidades.
2. Objetivos
3. Percurso Metodológico
4. Resultados e Discussão
5. Considerações Finais
Referências Bibliográficas
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7 municípios Niterói
Itaboraí, Maricá, Niterói, Rio Rua Athaíde Parreiras, s/nº
Metro II Bonito, São Gonçalo, Silva Bairro de Fátima – RJ
Jardim, Tanguá CEP 24070-090
14 municípios
Aperibé, Bom Jesus de
Itabapoana,
Itaperuna
Cambuci, Cardoso Moreira,
Rua Coronel Romualdo
Noroeste Italva, Itaocara, Itaperuna,
Monteiro de Barros, 11
Laje do Muriaé, Miracema,
Altos – CEP 28300-000
Natividade, Porciúncula, Santo
Antônio de Pádua, São José de
Ubá, Varre-Sai
8 municípios
Campos dos Goytacazes, Campos dos Goytacazes
Carapebus, Rua Edmundo Chagas,
Norte Conceição de Macabu, Macaé, nº 116
Quissamã, São Fidélis, São Centro, RJ
Francisco de Itabapoana, São CEP 28010-410
João da Barra
16 municípios
Bom Jardim, Cachoeiras de
Macacu,
Cantagalo, Carmo, Cordeiro,
Nova Friburgo
Duas Barras, Guapimirim,
Av. Euterpe Friburguense,
Serrana Macuco, Nova Friburgo, Petró-
nº 93 – Centro
polis, Santa Maria Madalena,
CEP 28605-130
São José do Vale do Rio Preto,
São Sebastião do Alto,
Sumidouro, Teresópolis, Traja-
no de Moraes
TOTAL: 9 Regiões 92 municípios 9 sedes CIR
Ø territorialização;
Ø flexibilidade;
Ø cooperação;
Ø cogestão;
Ø financiamento solidário;
Ø solidariedade;
12
www.caminhosdocuidado.org
115
também sua vida fora dali, no território em que habita, local para onde vol-
tará. Na região de abrangência do CRR Macaé, essa situação se deu com o
CARE situado no município de Casimiro de Abreu, quando os municípios
do entorno, principalmente da região da Baixada Litorânea, deixaram de
obter parceria nos casos mais graves e, apesar de não serem mais referen-
dados pela Gerência de Saúde Mental da SES, tais dispositivos, nos casos
em que o cuidado não consegue ser oferecido no município de maneira
ambulatorial, acabam por indicar tais instituições.
CONCLUSÃO
usuários. Porém, apesar de todo esse avanço por parte da saúde, permanece
como atribuição da Senad “articular e coordenar as atividades de prevenção
do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes
de drogas”13. E assim a dicotomia vai se apresentando nas três esferas de go-
verno, trazendo grande dificuldade na articulação intersetorial necessária
para a atenção integral ao usuário.
Referências Bibliográficas:
www.justica.gov.br
13
121
14
Uma versão anterior deste capítulo foi apresentada na forma de paper no 38° Encontro
Anual da ANPOCS, no GT “Múltiplos discursos e práticas sobre drogas: medicina, direito
e consumidores sob a perspectiva das Ciências Sociais”, coordenado por Beatriz Labate e
Frederico Policarpo.
15
Doutor em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense. Bolsista do Programa
Nacional de Pós-Doutorado da CAPES. Pesquisador associado ao Instituto de Estudos Com-
parados em Administração Institucional de Conflitos (INCT-InEAC).
124
1. Considerações Iniciais
descansar. Patrick falava com entusiasmo do lugar para onde iam, onde a
diversão era barata e mercados de droga ilícita eram facilmente acessíveis.
gosto do senso comum, segundo a qual o consumo de drogas, por si, leva
à “violência” e a situações em que esses consumidores encontram-se física,
psíquica ou moralmente vulneráveis.
18
Notícias veiculadas na imprensa, à época, sobre o caso: http://oglobo.globo.com/rio/sepul-
tado-corpo-de-menino-atropelado-durante-acao-contra-crack-na-avenida-brasil-7247080;
http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2013/01/crianca-de-10-anos-que-morreu-atropelada-
na-avenida-brasil-no-rio-e
130
Situações como essa, que ficou alguns dias reverberando nos meios
de comunicação, parecem se configurar enquanto exemplo inequívoco das
relações que podem existir entre o consumo de crack e situações de violên-
cia (no caso, com os consumidores figurando como vítimas). Outras situa-
ções, também exploradas no universo noticioso carioca e fluminense, são
aquelas em que os “cracudos” aparecem roubando joias, carteiras, bolsas,
celulares e outros pertences de pedestres mais ou menos distraídos pelas
ruas da cidade. Em tais casos, esses consumidores figuram não mais como
vítimas, mas como vetores da violência.
pouco mais precisa do que aqui devemos entender como violência. No con-
texto dos usos e mercados de crack aqui delimitados, consiste a violência
em todas as práticas e seus efeitos, que contribuam decisivamente para vio-
lar a integridade física, moral, ou psíquica dos sujeitos envolvidos nestes
usos e mercados. Isso inclui tanto a violência que venham porventura pra-
ticar, como também aquela que, não raro, costumam sofrer.
19
Membro da seccional brasileira da LEAP (Law Enforcement Against Prohibition), ONG
internacional de ativismo antiproibicionista composta de “homens da lei”, ou seja, pessoas
que trabalham ou trabalharam em forças policiais ou judiciárias.
133
por “consumidores falhos” (Bauman, 1998) que vivem pela cidade com o
dinheiro que conseguem através da caridade, de atividades informais alta-
mente precarizadas, ou furtando pedestres mais ou menos incautos. Mas
o crack também é utilizado por pessoas com perfis socioeconômicos mais
favoráveis. Associado ao consumo de cachaças de qualidade duvidosa e a
uma alimentação mais ou menos restrita, seu consumo pode se configurar
extremamente danoso para a saúde do consumidor.
Por tudo isso, uma das relações que com maior clareza se estabele-
cem, por conta das economias do crack no Rio de Janeiro, entre mercados/
usos de crack e práticas/representações da violência, repousa no campo da
saúde pública. Inexoravelmente espúrio e potencialmente danoso à saúde
de seus consumidores, o crack, por seu uso, pode vir realmente a violar a
integridade física e psíquica dos usuários. Notemos, como uma evidência
nessa direção, que, no relato de Bob, a garota “cracuda” lhe parece, apesar de
“bonita”, muito “mal-tratada”.
outras coisas, fumar crack longe das ruas. Quase sempre após fazer uso da
droga nesse lugar, Jerry defeca e toma banho no “cafofo” antes de ir para
casa. Voltou a ganhar peso e tônus muscular após aquela vez que o vi na
rua com Tom, e atribuiu isso a suas estratégias de redução de danos e ao
aprendizado do controle da compulsão.
4. Considerações Finais
Por tudo isso, penso ser produtivo focar nossa atenção nos esforços
de desassociação que consumidores de crack empreendem para continuar
utilizando a droga para fins recreativos sem sofrer os complexos dissabores
que esses consumos implicam, muito em função da associação da imagem
de seus consumidores com o que se convencionou chamar “a escória da
sociedade”. Quanto mais se adensar o conhecimento etnográfico sobre dife-
rentes contextos e cenários de uso dessa droga “maldita”, melhor. Não afir-
mo que haverá menos preconceito em relação a tais práticas, mas talvez um
preconceito mais fundamentado. Muitas vezes, o próprio etnógrafo, como
também o policial e o redutor de danos, adentra esse espaço de lutas e cons-
trução do conhecimento, que são os distintos contextos de usos e mercados
do crack, com a cabeça impregnada de ideias preconcebidas.
Referências Bibliográficas.
20
Curinga do Centro de Teatro do Oprimido e Mestre em Sociologia e Direito pela Universi-
dade Federal Fluminense/UFF.
148
21
Todos os passos do jogo estão descritos em BOAL, Augusto. Jogos para atores e não ato-
res. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 102.
152
mos de venda e circulação, envolve aspectos que devem ser entendidos mais
amplamente. O que entendemos pela problemática do uso de entorpecentes
é a consequência, não a causa, de um fenômeno, e envolve diversas questões
que necessitam de maior reflexão e reformulação de conceitos usualmente
relacionados a ela. A forma como lidamos com psicotrópicos não é a mes-
ma que podem ser observadas em outras culturas e momentos históricos,
estando essa relação diretamente ligada ao universo simbólico do qual o
indivíduo faz parte. Segundo a antropóloga Regina Medeiros (2014),
O fato, para Carl Hart (2014), das pessoas usarem drogas regular-
mente não significa que sejam dependentes ou que venham a ter problemas
em sua vida. Para que isso seja considerado enquanto uma dependência,
ou um “vício” (palavra com cunho bastante estigmatizante ainda muito fre-
155
consideração múltiplos feixes. Por isso, essa análise considera que a especia-
lização das formas de controle culminou na sua atuação tendo como foco a
biopolítica, sendo a vida o foco das relações de poder e dominação.
recursos econômicos. Ele busca desenvolver uma visão alternativa que pos-
sa dar conta da complexidade desses processos geradores da intensificação
da exclusão social. Para ele, os aspectos culturais, sociais e familiares nesse
contexto são fundamentais.
22
Todos os passos do jogo estão descritos em BOAL, Augusto. Jogos para atores e não ato-
res. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 102.
165
Referências Bibliográficas
___________. Império. 10ª ed. Rio de Janeiro e São Paulo: Editora Record,
2012.
23
Mestre em Psicologia pela UFF, Especialista em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psico-
logia Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro – IFEN. Atua como Psicóloga Clínica na
perspectiva fenomenológico-existencial. Coordenadora acadêmica do CRR UFRJ Macaé.
174
1. Reflexões iniciais
Drogas.
178
dados informados pelo Ministério da Saúde25, apenas 20% dos usuários que
procuram tratamento conseguem se manter abstinentes por um certo pe-
ríodo de tempo, lançando-se uma importante pergunta: o que fazer com a
clientela que não quer, não pode ou não consegue aderir à abstinência? A
lógica da Redução de Danos se mostra como uma possibilidade de acom-
panhamento para essa clientela, até então relegada à própria sorte, uma vez
que cria a possibilidade de o profissional de saúde construir junto com o
usuário o que ele pode fazer para melhorar sua vida, sem assumir a postura
de determinar o que é melhor, de forma antecipada.
25
Fonte: Guia de Saúde Mental: atendimento e intervenção com usuários de álcool e outras
drogas, cartilha que compõe o material didático do curso Caminhos do Cuidado, voltado
para profissionais atuantes da Atenção Básica. Ministério da Saúde, 2013.
180
26
1. Intervenção breve para casos de uso de risco de substâncias psicoativas: módulo 4/ coor-
denação do módulo Denise De Micheli, Maria Lúcia Oliveira de Souza Formigoni. – 3. ed.
– Braília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2009. Manual integrante do material
didático do SUPERA – Sistema de Detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias
Psicoativas. 2. Intervenções Breves: para uso de risco e nocivo de álcool – manual para uso
em atenção primária/ Thomas F. Babor, John C. Higgns-Biddle; tradução Clarissa Mendonça
Corradi. – Ribeirão Preto: PAI-PAD, 2003.
181
27
Para um conhecimento mais detalhado dos testes citados, consultar: 1. AUDIT: teste para
identificação de problemas relacionados ao uso de álcool – roteiro para uso em atenção primá-
ria/ Thomas F. Babor, John C. Higgns-Biddle, John B. Saunders, Maristela G. Monteiro; tradu-
ção Clarissa Mendonça Corradi. – Ribeirão Preto: PAI-PAD, 2003.2. Detecção do uso abusivo
e diagnóstico da dependência de substâncias psicoativas: módulo 3 coordenação do módulo
Telmo Mota Ronzani – 3. ed. – Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2009.
183
5. Considerações finais
homem, em que ele perde o valor em si mesmo, sua verdade não reside mais
naquilo que ele próprio manifesta e seu desvelamento passa a se dar sempre
em função das teorias que a ele se almeja aplicar.
Referências Bibliográficas
28
Mestra em Educação, IESAE/FGV, Coordenadora de Cursos de Extensão “Políticas Públi-
cas sobre Drogas e alternativas democráticas”/UERJ.
194
Explicamos que, não só eles, mas a maioria das pessoas tem difi-
culdades em discutir o tema das drogas, ainda mais falar sobre as que foram
196
tornadas ilícitas. Falar sobre o que é proibido e ainda mais cercado por mi-
tos, mistérios, contradições, violência não é fácil. No entanto, essa discussão
é necessária, urgente, porque qualquer uso implica em riscos que são reais.
Os professores ficaram surpresos ao saber que, no Brasil, experimenta-se
muito, ainda que os índices de dependência sejam baixos. Ficaram também
surpresos ao saber que, de acordo com estudos epidemiológicos brasileiros,
as bebidas alcoólicas e o tabaco têm índices de uso e dependência maiores
do que os verificados em relação ao uso e dependência da maconha e da
cocaína. Pensavam ser o contrário, que as drogas de uso ilícito seriam mais
usadas no Brasil, tendo em vista o alarde da mídia.
ter coragem de bater na porta?”. Disseram também que seus problemas rela-
cionados com sexo, drogas, conflitos em casa eram discutidos com a biblio-
tecária da escola: “não temos medo de falar com ela, ela nos compreende”.
Sempre presente nas reuniões, Bruno explicou que insistia em falar sobre
drogas com os colegas porque
contra, para que explicasse suas razões, afinal mesmo esse único voto contra
deveria ser considerado, para que a permanência de Bruno transcorresse
em paz. Um professor se apresentou e explicou o que considerava suas ra-
zões: “desde o início dessa história, me sinto mal, não posso conviver mais
com o Bruno, não suporto quando ele fala sobre sensações boas que teve
com as drogas, afinal por que precisava delas? O que lhe faltava? Já tem
tudo, juventude, saúde, não é cego desde nascença como eu sou, por que
ainda quer mais da vida? Considero uma afronta a permanência dele na
escola. Ou ele é transferido ou peço eu a minha transferência!”. Diante desse
argumento, a diretora acatou o pedido e providenciou a transferência do
professor para uma unidade de sua escolha.
29
A Lei 11.343/2006 prevê como crime e determina penas para quem tem autoridade sobre
uma instituição e consente com o comércio ilícito de drogas em suas dependências.
201
apenas ela escutou a ordem e viu a cena, e esperava, assim, ter protegido a
escola. Exerceu sua função com dignidade, não transferiu a ameaça sofri-
da para o outro professor, os alunos continuavam brincando sem nada ter
percebido.Toda essa reflexão foi elaborada a posteriori, é claro, afinal a ação
não durou mais que alguns segundos. A diretora acreditou ter agido bem,
ajudou no socorro a uma pessoa ferida e em perigo e protegeu seus alunos
e sua escola de outros perigos.
boatos entre os próprios alunos sobre quem acusara quem. Nem deu tempo
de chamar Antônio e Fred para confirmar se a acusação estava certa. Entrou
em cena uma terceira pessoa: Ricardo, que, de fato, vinha quebrando as
lâmpadas e, com medo de que chegassem até ele, decidiu resolver o proble-
ma: na saída da escola, espancou os dois delatores – Pedro e Marcelo.
Caso 5 – Redação com “tema livre”: como as drogas entram nessa his-
tória?
Caso 6 – Debate sobre drogas, até onde vai o interesse dos alunos?
heroína), “Quais são os efeitos dos esteroides?” (remédios usados para ficar
mais forte).
“Desde quando se usa e por quê ?”. A essa pergunta inicial respon-
demos que não há registro de nenhum momento da história da humanida-
de sem que haja igualmente algum relato de consumo de drogas. É preciso
lembrar que é especifico de quem tem consciência querer experimentar
com a consciência (Savater, 2000). Quem não gostaria de expandir a cons-
ciência para outros espaços, tempos? Os alunos parecem gostar da ideia,
mas os professores, presentes na sala, estranharam.
Mas o tempo desses debates costuma sempre ser muito curto dian-
te de tanta curiosidade. É hora das despedidas e saio da sala acompanhada
por alguns alunos que ainda querem conversar mais e mais e me seguem
até a porta da escola. O professor, tão receptivo e amável no início, agora
está sério, agradece e parece reticente diante do meu comentário: “Quanto
interesse seus alunos parecem ter sobre drogas!”. A própria escola aceitou e
promoveu o debate, mas o professor me surpreende quando responde seca-
mente: “Esse não é um assunto para eles”.
sitivos, dão força e coragem para enfrentar desafios, a história muda quan-
do nos tornamos adultos porque algumas poções foram tornadas proibidas.
Recuperar a memória sobre esses usos e costumes fortalece a autonomia,
no sentido de melhor conhecer o mundo e tentar reconstruí-lo, de forma
generosa e solidária.
pulação que se quer definir o perfil – jovens do sexo masculino, com baixa
escolaridade, excluídos do mercado formal de trabalho, envolvidos no tra-
balho sexual, vivendo nas ruas, em situação de grande instabilidade, com
precário atendimento de saúde. Percebe-se que, muito mais do que tratar
o uso compulsivo, trata-se de evitar a miséria que favorece o uso do crack
“para ter mais energia para enfrentar um cotidiano adverso”, na busca de
políticas sociais amplas comprometidas com os direitos humanos.
rios de crack que vivem nas ruas de nossas cidades, decidida pela política
proibicionista, não seria uma tentativa de aprisionar seus discursos, de re-
duzir um sofrimento que vai além da droga em si, calando situações de
miséria?
Referências Bibliográficas
SAFATLE, W. Voltar a agir. Revista Cult, São Paulo, n. 163, nov. 2011.
SAVATER. F. Ética como amor próprio. São Paulo: Ed. Martins Fontes,
2000.
Marcel Proust
Esse profissional, antes de mais nada, tem que ser curioso, querer
saber o que não sabe, ser um pesquisador, caminhar e voltar, olhar e ver,
rever. Todo profissional de saúde não deveria ser assim? Em qualquer dis-
positivo?
30
Psiquiatra, coordenadora do Consultório na Rua da cidade de Macaé (RJ).
220
Aliás, sempre histórias mal contadas, que não querem ser ditas
nem lembradas. Com o tempo e aos poucos, elas, as histórias, vão apare-
cendo, e os profissionais do Consultório na Rua (CnaR) vão montando o
quebra-cabeça, com outras narrativas, novas narrativas que o vínculo vai
possibilitando.
221
1. As lógicas do cuidado
O indivíduo vive a vida nas ruas, a rede viva. Esse indivíduo pode
ser qualquer um que tenha uma íntima relação com as ruas: aquele que
vive na rua há mais de 10 anos, o que vive há 1-2 anos, aquele que acabou
de chegar, o que já usa drogas há muito tempo e aquele que está começan-
do a usar. Aquele que trabalha na rua informalmente. Tem também aquele
que tem casa, mas vive também na rua. Essa é uma característica típica do
alcoolismo. Por isso, é tão importante o diagnóstico desse território carto-
gráfico que muda e se reconstrói de acordo com a vida.
223
I. Atenção Básica
II. Saúde Mental
III. Redução de Danos
IV. Direitos Humanos e Ética
V. Preconceito
Como um ser humano pode falar isso? No início, eu não entendia, mas
aos poucos fui me deparando com essa realidade possível.
Caso Lu
Usuária com 62 anos, mulher, vive nas ruas, alcoólatra, com trans-
torno bipolar (THB), tem família no município, mas não consegue morar
junto, briga, fica agressiva. Na rua, bebe até cair, é violentada pelos “colegas”
homens, às vezes troca (?) sexo por quentinha, sofre outras violências, fica
caída no chão. O Consultório na Rua já a levou ao Pronto Socorro Mu-
nicipal várias vezes. Ela frequenta o Centro de Atenção Psicossocial para
Usuários de Álcool e Outras Drogas – CAPS AD, mas de forma irregular.
fez um bom vínculo com CnaR e tem sido nosso parceiro no caso de D. Lu
e outros.
Por isso, são tão importantes estas lógicas que vão norteando nos-
sas ações: a redução de danos, os direitos humanos/ética e o preconceito.
Ao julgar, não fico ali para escutar o que eles têm a me dizer, me en-
sinando sobre aquilo que não sei sobre eles. Perco o encontro e seu potencial.
2. Ferramentas
I. Matriciamento
Ela com uns 26 anos, ele com uns 35 anos, nenhum dos dois mo-
rava em Macaé. Ela deixou uma filha para trás e veio ser prostituta, ele veio
meio fugido. Após conhecê-lo, ela largou a profissão de prostituta e passou
a viver com ele na rua. Um casal que se une na dor, na proteção, que vive
uma relação possessiva e violenta. Um dia, eles estão vivendo um grande
amor e no outro ela quebra o braço dele ou agride qualquer parte de seu
corpo. Os dois têm família e não querem voltar a viver com elas porque não
são aceitos na sua escolha de vida em que a droga, hoje, é usada de forma
abusiva. Ela usa crack; ele cocaína e o álcool, sempre presente.
tração. A cena também muda. A cena também tem que ser cuidada, preci-
sando ser olhada por outros setores, governamentais ou não.
Referências Bibliográficas
ANEXO 1
1. Identificação:
Nome: Isa Q. A.
Sexo: feminino
Cor: negra
2. Dados familiares:
como “se fosse minha mãe”. A irmã de 8 anos é acolhida por uma vizinha,
que ajuda nos cuidados diários de higiene, se responsabilizando pelo horá-
rio escolar (esteve sob cuidados integrais dessa pessoa no período em que a
mãe passava o dia na praça junto ao pai).
2.2 Documentação:
A. Diagnóstico clínico:
B. Definição de metas:
• Contato com família que oferece suporte à irmã para ver a possi-
bilidade de estender rede de cuidados significativos no território
onde residem.
C. Divisão de Responsabilidades:
D. Reavaliação:
1. Introdução
31
Psicólogo, trabalhou nas cidades de Santos, São Bernardo do Campo e Santo André. Foi
gestor na área de Saúde Mental e participou da implantação da rede de atenção psicossocial
de álcool e outras drogas nessas e noutras cidades do Brasil.
32
Jornalista e escritor. Foi responsável pela escritura desse relato. Filho de Décio de Castro Alves.
242
2. Arqueologia em Santos
O NAPS I fica até hoje na Zona Noroeste, uma das regiões mais
pobres da cidade. Ele recebeu o maior número de pacientes do Anchieta,
que habitavam aquele território, demonstrando a força da relação entre in-
ternação e pobreza, apontando como o hospital servia para fazer controle
social das populações mais vulneráveis. Era um lugar de desterro, de trans-
formar as pessoas em coisas que mensalmente produziam dinheiro para o
dono do hospital, com aura de filantropia.
245
Por exemplo, a casa para o CAPS tem que ser grande, casas gran-
des são mansões, então casa de gente rica, muitas vezes, decadente. Em al-
guns territórios brasileiros, houve reação da população, que não queria tra-
zer loucos para perto de casa. As associações têm a capacidade de se fundir
no tecido social e por isso são um instrumento de transformação que está
nas nossas mãos. A essência da reforma é quando usuários e familiares bri-
gam pelo direito de os usuários estarem no território, com moradia decente,
possibilidade de trabalho. É a própria sociedade se articulando.
seguir nesse texto é a fusão dos relatos. Portanto, ainda que o fio condutor
deste seja o trabalho e a trajetória do Décio, leve em consideração que deste
parágrafo em diante a narrativa estará confundida com relatos de experiên-
cias compartilhadas pelo grupo mencionado, que efetivamente viveu junto
o processo.
que encontraram uma rede ávida. As reuniões eram fervura, tinha 30 pes-
soas numa sala pequena, nem cabia todo mundo. O NAPS II foi o umbigo
da história, foi lá que nasceu tudo, foi lá que nasceu toda esta rede. Tinha
uma coisa, na minha opinião o pessoal subiu a serra para dizer: “as dificul-
dades sempre vão estar aí, serviço público é difícil mesmo, mas dá pra fazer.
Se joga. Se vira”.
que passou num concurso dez anos antes, que atende oito pessoas por dia,
aí você chega para ele e diz: “espera aí, amigo, primeira coisa, vamos tirar
essa agenda, segunda coisa, vamos tirar a mesa, a cadeira, terceira coisa,
essa sala aqui não é mais sua também, a sala é de todos. Quarta coisa, ah é,
agora você vai precisar trabalhar também na porta”. É um baque.
Tinha morador que não via a rua há mais de vinte anos, que não
sabia em que cidade estava. Quando a perua com eles parou na porta do
NAPS, que era uma rua com bastante movimento no centrão de Santo An-
dré, um dos moradores sai e deita no meio da rua, parando o trânsito. É
levado para dentro, passou por um primeiro atendimento e depois foi para
a residência. Quando chegou, ele estranhou de novo. Seu Firmino começou
a ficar nervoso, agitado. Alguém já fala em aplicar um sossega-leão, aquela
herança toda, e não sei o quê. Nisso eu chego do mercado com uma caixa de
leite longa vida no ombro para a casa. Ele me viu e perguntou “Que isso?”.
Eu disse “Leite”. Ele, “De vaca?”. Eu, “É, ué, de vaca”. “É pra beber?”. Eu disse
“É, comprei para vocês”. Ele pegou uma caixa, abriu com o dente e começou
a virar, foi bebendo e acalmando, acalmando. Depois eu fui descobrir que
ele nasceu na roça, cresceu em Minas, era um matuto que se perdeu na ci-
dade, que cresceu tomando leite e chegou a um hospício que não dava leite
de vaca, só de soja. E ele ali, mamando.
6. Histórias e sujeitos
forte: “Eu sei que são vocês que vão cuidar do meu filho”, ele acreditava na
reforma mais do que nós. Até que ele morreu e um dos familiares levou o
filho dele para uma casa de repouso. Tudo isso aconteceu num interstício de
gestão, estávamos fora da Saúde Mental e de Santo André. Quando a gente
voltou, há dois anos, ele estava internado em clínica e a gente falou: “não,
era uma questão de honra”. Criamos uma residência e ele foi para lá. Fala-
mos: “não, depois de tudo que esse homem fez, não podemos deixar o filho
dele lá”. Ele insistia, era uma figura, parecia o Mazzaropi, com a calça bem
em em cima, o jeito dele andar... Ia em tudo, estava sempre com a gente, nos
puxando, incentivando. Quando vimos o filho dele na clínica, não teve jeito,
tiramos ele de lá.
teoria, mas entender como usar as teorias para mudar na prática a vida das
pessoas, isso foi um grande salto.
Sabe por que ela foi transferida para lá, né? Ela trabalhava no Ban-
gu, um pronto-socorro, e não varria nada, ficava só conversando com o
povo. Deu muito certo na Mental.
Uma coisa que a gente fazia muito era traduzir. Juntava todo mun-
do e começavam as conversa. Aí algum técnico fala que “fulano está num
processo transferencial”, mas isso é o quê, coisa de banco? Mãe esquizofre-
nizante, é o mundo de Bob? Começamos então pela linguagem, sustentar
que as pessoas começassem a entender.
que era ele que ministrava. Dissemos então: “Olha, só tem um jeito de você
entrar: passar pela assembleia”. E ele topou. Foi lá e falou, assumiu e disse
que sabia que a coisa mudou, que estava precisando trabalhar e que gostaria
de estar ali. E o povo falou: “Tudo bem, você fica”.
7. Associação de gente
Mas isso não se faz por concurso público. Existem mais exemplos
práticos de onde a máquina pública emperra. Quer ver uma coisa? Como
justificar que eu, órgão de saúde, comprei cigarro para um paciente de re-
sidência? Como eu pago a pizza à noite que os moradores vão comer? O
Tribunal de Contas vai dizer que é prevaricação. Moradores de hospital
psiquiátrico perdem muito de identidade, não tem armário, não tem rou-
pa. Poucos hábitos de fora se mantêm, e fumar é um deles. Numa situação
dessas, deixar de oferecer cigarros a esse cidadão é uma privação violenta. O
poder público adquirir isso é complicado, mas a sociedade civil não.
Nos últimos anos, a José Martins foi coordenada pela Maria Dirce
Cordeiro, figura que merece contar a história da associação em primeira
pessoa. É o relato dela que virá a seguir, nos oito próximos parágrafos que
compõem a última parte desta seção. “Eu era gerente de banco, tive minha
primeira crise em 88, um total de cinco internações em hospital psiquiátri-
co, ficava três meses, quatro, depois saía e voltava. E até então ficava nessa
coisa, aquele bando de médico que não falava nada, não tinha consciência
do que estava acontecendo. Dai entrei no ambulatório e já tinha esse grupo
aqui, que me enxergava não só como uma cabeça doida, mas como uma
pessoa que tinha passado, presente e futuro. Já estavam acolhendo e eu, que
fiquei doida, mas não fiquei burra, não parei de participar. Comecei a parti-
cipar do Conselho de Saúde, comecei a entender que dava, até que a Eliane
Guerra me convidou para participar da Associação e eu fui, na primeira
eleição que teve, no ano seguinte, eu já fui eleita presidente.
262
Mirmila Musse35
1. Introdução
• reduzir as desigualdades;
4. Housing in first
6. Pacote de direitos
• moradia;
• alimentação;
• trabalho;
• renda.
7. Considerações finais:
Referências Bibliográficas
1. Introdução
36
Supervisora clínico-institucional de CAPS AD, com experiência na área de atenção psicos-
social ao uso prejudicial de álcool e outras drogas.
282
É sobre esse último ponto que vou me deter. Assim, o objetivo des-
te artigo é discutir os impasses da operacionalização da integralidade e da
articulação de rede no cuidado aos usuários de drogas. Pretende-se apontar
algumas dificuldades que emergiram no acompanhamento do caso de uma
criança de 4 anos de idade, no qual colaboraram o CAPS ad Raul Seixas, um
abrigo e o Ministério Público. Isso inclui o reconhecimento dos momentos
em que esses setores se articularam e desarticularam ao longo do processo.
283
2. O caso Bruna
Bruna tinha 4 anos quando chegou ao CAPS (no ano de 2008) e foi
por mim acompanhada durante um ano. Ela morava na rua com Ana, sua
mãe (que na época tinha 20 anos), desde que nasceu. As duas eram constan-
temente abrigadas, mas não ficavam por muito tempo nos abrigos por causa
dos desentendimentos entre Ana e as meninas abrigadas.
falava nem fazia gestos sobre seu uso de thinner e não apresentava nenhum
sintoma físico de abstinência. O que aparecia era uma relação transferencial
que permitia que ela brincasse de me maquiar enquanto conversava e per-
guntava coisas fundamentais como:
_ “Quem é o juiz?”.
“Vai lavar a mão para comer o biscoito”. Depois a menina inventou uma
história para a mãe e esta exclamou: “Papai do céu não gosta de mentira e
nem eu!”. Ana mostrava-se sempre atenta ao que a filha dizia, além de serem
muito carinhosas uma com a outra.
Nos atendimentos com Ana, ela falava muito de sua vida na infân-
cia, nas experiências vividas na rua. Para ela, a rua era um lugar muito mais
seguro do que a própria casa, já que desde pequena, por ser órfã de pai e
mãe, foi criada por uma tia paterna que a obrigava a ir às ruas prostituir-se
e trazer dinheiro para casa. Ela jamais manifestou desejo de abandonar a
filha. Tinha dificuldade de perceber que corria risco de perder definitiva-
mente a guarda de Bruna, já que não via muito problema em usar droga e
morar na rua.
Lembro que foi muito difícil manejar essa situação, já que o abrigo
e o Ministério Público funcionavam em uma lógica muito diferente da do
CAPS. Para eles, se Ana não se mantivesse em tratamento, abstinente e não
aceitasse sair da rua, perderia o direito de recuperar a guarda da filha. Para
o CAPS, reconhecíamos que Ana não conseguia fazer muito diferente do
que sempre fez. Pensávamos que era preciso proteger a criança da negligên-
cia da mãe, mas para isso não era preciso destituí-la do lugar de mãe.
Nesse mesmo mês, Ana saiu da casa de sua tia e voltou para as
ruas, abandonando o tratamento no CAPS. Nos atendimentos, ela já vinha
anunciando a dificuldade de morar na casa da tia, já que os primos a trata-
vam mal e a tia tinha dificuldade de aceitar os seus hábitos. Ana queria sair
sozinha, queria namorar, ir para baile, mas a tia não deixava.
Meses depois, Ana procurou ajuda num outro CAPS ad, grávida do seu
segundo filho.
sava incluir sua história de vida, marcada por negligência familiar, abuso
sexual, prostituição e drogadição. Ana, por sua vivência, sentia-se mais se-
gura morando na rua do que morando com seus familiares. A droga para
ela era fonte de alívio do sofrimento e do abandono em que vivia. Entendía-
mos que não seria possível num curto período de tempo ela fazer alguma
demanda de tratamento por não reconhecer as consequências de seus atos.
Mesmo com toda a vulnerabilidade social em que se encontravam, mãe e
filha nunca se separaram. Ana jamais quis deixar de ser mãe, apesar de vá-
rias vezes não conseguir dar conta dos cuidados de que Bruna necessitava.
4. Considerações Finais
Referências Bibliográficas
1. O início
39
Os monitores se dividiram em dois grupos, produzindo dois pôsteres: “A utilização do Teatro
do Oprimido na capacitação de profissionais da rede AD de 13 municípios da região” e “Relato
de experiência da atuação de discentes nas atividades de monitoria do Centro de Referência
em álcool, crack e outras drogas da UFRJ Macaé”.
297
2. Sentindo as atividades
40
Foram realizadas entrevistas de roteiro semiestruturado, com duração aproximada de cin-
quenta minutos, contendo vinte e três perguntas. Todas as entrevistas foram feitas por meio
de webconferência, individualmente, com quatro monitores, por dois entrevistadores (autores
deste texto). Foram realizados pré-testes com intuito de aprimorar a formulação das perguntas
e o desempenho dos entrevistadores.
298
41
A substituição do termo “drogado” ou “usuário de drogas” (enquanto designação taxativa)
por “pessoa que faz uso problemático de droga(s)”, ao menos enquanto sentido, demonstra que
a concepção sobre o uso de drogas foi reformulada, deixando de lado a visão estigmatizada por
outra onde são comportados diferentes níveis de envolvimento com a substância de escolha. A
adoção de novos conceitos e expressões na linguagem é um importante indicador do quanto
essa mudança se enraizou na prática dos monitores.
301
5. Conclusão
42
Psicóloga; Mestre em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pela UERJ; Psicóloga da Secretaria
Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. Integrante da equipe de coordenação do CRR-UFF. En-
dereço eletrônico: lorennasouza@hotmail.com
43
Enfermeira; doutora em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ; professora adjunta da Escola
de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense. Integrante da
equipe de coordenação do CRR-UFF. Endereço eletrônico: andriacz@ig.com.br
44
Psicóloga; especialista em Rede de CAPS Álcool e outras Drogas. Integrante da equipe de
coordenação do CRR-UFF. Endereço eletrônico: elisonofre@gmail.com
45
Enfermeira; doutora em Saúde Coletiva pela UNICAMP; professora titular da Escola de En-
fermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense. Integrante da equipe
de coordenação do CRR-UFF. Endereço eletrônico: abrahaoana@gmail.com
46
Psicólogo; doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; pro-
fessor associado do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense. Inte-
grante da equipe de professores do CRR - UFF. Endereço eletrônico: francisco.lf@mac.com
47
Assistente Social; mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janei-
ro. Articuladora intersetorial do CAPS AD alameda da Fundação Municipal de Saúde de Niterói.
Integrante da equipe de professores do CRR - UFF. Endereço eletrônico: malicebs81@gmail.com
306
Não é que os usuários de drogas não devam ser tratados pela saú-
de, mas uma coisa é acolhê-los em suas dificuldades em torno da vida e da
morte, outra é sancionar como categoria patológica um hábito cultural que
é determinado e é resposta à composição dos jogos de força que ordenam o
308
clínica ao uso de drogas na esfera pública no Brasil, até o início dos anos 90
do século passado, estava a cargo de seis Centros de Referência Nacional.
Segundo Machado e Miranda (2007), desses centros de referência, quatro
foram criados em universidades públicas e somente dois no âmbito do se-
tor público estadual de saúde48. Tais centros surgiram a partir do início da
década de 1980, foram reconhecidos em 1988 pelo Conselho Federal de
Entorpecentes (Confen) como centros de referência.
Segundo os autores,
48
Os seis centros de referência são: Programa de Orientação e Atendimento a Dependen-
tes (Proad), do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp); o Centro de Orientação sobre Drogas e Atendimento a To-
xicômanos (Cordato), da Universidade de Brasília (UnB); o Núcleo de Estudos e Pesquisas
em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj); o
Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (Cetad), da Universidade Federal da Bahia
(UFBA); o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), do Depar-
tamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp); o Centro Mineiro de Toxicomania (CMT), em Minas Gerais, e o Centro Eulâmpio
Cordeiro de Recuperação Humana (CECRH), em Pernambuco.
312
3. A formação no CRR-UFF
e Profissionais que atuam nos Consultórios de Rua. Todos esses cursos vi-
nham com conteúdo bastante estruturados, nos moldes da hierarquização
universitária em torno de como agenciar o saber.
5. Recolhendo efeitos
7. Considerações finais
Referências Bibliográficas
<http://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/2444/1898>.
Acesso em: 19 ago. 2015.
Cynthia Aquino51
Talitha Demenjour55
49
Professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFRJ; Coordenadora do PET Saúde – PET
Saúde/Saúde Mental/Crack, Álcool e outras Drogas UFRJ – Macaé e do Centro Regional de Refe-
rência para formação de profissionais que atuam com usuários de álcool e outras drogas no SUS
e SUAS – CRR – UFRJ Macaé
50
Psicóloga do CAPS AD – Porto, Tutora do PET Saúde – PET Saúde/Saúde Mental/Crack,
Álcool e outras Drogas UFRJ – Macaé
51
Aluna bolsista do PET Saúde – PET Saúde/Saúde Mental/Crack, Álcool e outras Drogas UFRJ
– Macaé, medicina da UFRJ – Campus Macaé
52
Graduado em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé. Res-
idente do Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro. Foi aluno bolsista do PET Saúde Mental/Crack, Álcool e Outras
Drogas, na UFRJ – Campus Macaé.
53
Aluno bolsista do PET Saúde – PET Saúde/Saúde Mental/Crack, Álcool e outras Drogas UFRJ
– Macaé; medicina da UFRJ – Campus Macaé
54
Aluna bolsista do PET Saúde – PET Saúde/Saúde Mental/Crack, Álcool e outras Drogas UFRJ
– Macaé; medicina da UFRJ – Campus Macaé
55
Aluna bolsista do PET Saúde – PET Saúde/Saúde Mental/Crack, Álcool e outras Drogas UFRJ
– Macaé; medicina da UFRJ – Campus Macaé
326
Introdução
56
O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET-Saúde – é uma ação interseto-
rial, que tem como pressuposto a educação pelo trabalho e é uma das estratégias do Programa
Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde, o PRÓ-SAÚDE. O fio condutor
do PET-Saúde é a integração ensino-serviço-comunidade. Direcionado para o fortalecimento
de campos ou temáticas articuladas ao Sistema Único de Saúde (nesse caso a saúde mental/
campo AD foi o eixo). O Programa disponibiliza bolsas para tutores, preceptores (profissionais
dos serviços) e estudantes de graduação da área da saúde.
57
Este estudo, desenvolvido nos anos de 2012 e 2013, foi realizado por uma equipe constituída
por 15 alunos das graduações de medicina, enfermagem, psicologia, um preceptor psicólogo,
um assistente social e uma professora médica.
327
58
Dados oficiais – Saúde Mental em Dados 2014 – informam que existiam, nesta data, 378
CAPS AD, sendo 69 deles CAPS AD III.
59
O número de CAPS AD é de 309. O parâmetro de cobertura populacional é de 1 CAPS AD
por 150 mil habitantes. Considerando este único parâmetro, a cobertura ideal para o Brasil
seria de 1.351 CAPS AD. (Brasil, 2015)
328
O estigma talvez tenha sido o principal obstáculo que nós alunos viven-
ciamos e que tivemos que enfrentar para realizar a pesquisa. As visitas iniciais
ao CAPS e os grupos de discussão de nossas experiências e da experiência das
pessoas que usam álcool e outras drogas, conhecida inicialmente através de lei-
turas sugeridas e posteriormente a partir das narrativas dos usuários, revela-
ram para nós as nossas próprias opiniões, estabelecidas previamente e ao longo
de nossas vidas, sobre o que é a “loucura” e tudo que socialmente definimos as-
sim, bem como as nossas ideias sobre como tratá-la. No início do projeto, eram
comuns os pensamentos e crenças de que as pessoas que faziam uso problemá-
tico de álcool e outras drogas eram, em sua maioria, agressivas, criminosas, e
que conseguiriam “largar” as drogas e “essa vida” se tivessem “força de vontade”,
além de outros preconceitos. Também percebemos que algumas dessas ideias – a
da “força de vontade”, por exemplo – eram compartilhadas por pacientes. Eles
estabeleciam ainda, entre si, uma hierarquia moral, a partir do tipo de substân-
cia que usavam. Os usuários de álcool se apresentavam como moralmente su-
periores aos usuários de substâncias ilícitas. Um dos pontos positivos do projeto
foi exatamente nos ajudar a reconhecer e superar o nosso estigma em relação a
esses pacientes e os preconceitos e crenças que compartilhávamos socialmente.
Objetivos
Metodologia
Tipo de estudo
Ferramenta metodológica
• faleceram;
Busca Ativa
recorrer à orientação do funcionário responsável pelo setor toda vez que pre-
cisamos acessar o sistema. Três diferentes listagens com nomes dos pacientes
foram emitidas. Longas horas foram dispensadas para a organização de uma
única lista de pacientes que se enquadravam no perfil da pesquisa.
O contato telefônico foi, para nós alunos, mais uma árdua tarefa.
Fazer com que os usuários entendessem o que era o estudo e o propósito da en-
trevista, a partir de uma conversa telefônica, foi bastante difícil. A mudança
de endereço e de telefone foi comum a muitos daqueles previamente selecio-
nados, dificultando sobremaneira encontrarmos os sujeitos da pesquisa. Con-
tatadas, as pessoas mostraram-se relutantes em nos encontrar pessoalmente.
Com alguns deles, foi preciso entrar em contato mais de uma vez para que en-
tendessem o que estava sendo proposto. Essas dificuldades ocorreram mesmo
com os cuidados tomados para que não se sentissem ameaçados ao contato
telefônico. Por algumas vezes, essa questão foi pauta das reuniões da pesquisa.
O fato de alguns morarem distante do CAPS – lugar que acabou definido para
a entrevista – e de estarem trabalhando, também dificultou o acesso.
Coleta de Dados
Análise de Dados
Resultados
Frequência Frequência
Variável Categoria
absoluta relativa (%)
Masculino 75 81,5
Sexo
Feminino 17 18,5
Total 92 100,0
15-20 11 12,0
21-30 20 21,7
31-40 23 25,0
Idade (anos)
41-50 21 22,8
51 ou mais 15 16,3
não informado 2 2,2
TOTAL 92 100,0
Fonte: Registros de prontuário e fichas de atendimento inicial.
60
Nas fichas de atendimento inicial, registrava-se a passagem da pessoa pelo serviço ainda antes
da abertura do prontuário. Frequentemente o paciente voltava várias vezes ao serviço antes que
fosse aberto prontuário. A abertura de prontuário ocorria, em geral, após a negociação com o
usuário de um projeto terapêutico singular, a ser cumprido com visitas regulares ao serviço.
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Nas narrativas estudadas, o uso de vocábulos com forte carga moral esteve
presente tanto entre os que relacionaram o uso de álcool ao problema que
os fez chegar ao CAPS quanto entre aqueles que referiram o uso de outras
substâncias como determinante. “Excesso”, “vício”, “burrice”, “falta de vergo-
nha”, foram as palavras com colorido moral que apareceram. As categorias
morais, entretanto, variaram entre os dois grupos e não foram exatamente
as mesmas. Embora a palavra “vício” tenha aparecido nos dois grupos, bur-
rice” e “falta de vergonha” categorias que desqualificam mais claramente o
usuário, surgiram apenas na narrativa dos que referiram o uso das substân-
cias ilícitas como o mote para busca do CAPS. “Dependência” foi a única
palavra do discurso técnico-científico presente nas narrativas dos entrevis-
tados. As pessoas que relacionaram os seus problemas ao uso de substâncias
ilícitas recorreram ao nome das próprias substâncias para descrever o seu
problema. Isso não aconteceu com aqueles que buscaram o CAPS por pro-
blemas relacionados ao uso de álcool. Estes descreveram o seu problema
como “problema com o álcool”, indicando que o problema residia na forma
como se relacionavam com a substâncias, enquanto que os que referiam os
seus problemas como relacionado ao uso de substancias ilícitas localizavam
na própria droga o problema.
Análise
Conclusões
Referências Bibliográficas
1. Introdução
61
Doutorado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2007). Núcleo de Pes-
quisas em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé (NUPEM). Professor Adjun-
to da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil.
62
Doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2008). Nú-
cleo de Pesquisas em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé (NUPEM). Pro-
fessor Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil.
63
Doutorado em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (2008). Núcleo de Pes-
quisas em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé (NUPEM). Professora Ad-
junta da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil.
356
O trecho sobre a área a ser ocupada ainda cita que o TEPOR será
empreendido sobre uma das únicas áreas naturais não ocupadas do bair-
ro, área esta que está em estudo pela Câmara Técnica de Unidade de Con-
servação do COMMADS para a criação de uma unidade de conservação
(UC) Municipal, previamente tratada com Restinga do Barreto (Processos
PMM10840/2014 e PMM 33238/2013). A criação da UC da restinga do
Barreto cumpriria também um importante papel da prefeitura e da Secre-
taria de Ambiente, que é o de garantir a integração sustentável entre ativi-
dades de lazer, conservação e educação ambiental da comunidade do bairro
do Barreto e do Aeroporto, que é um percentual representativo do total de
moradores do município de Macaé.
Trata-se de extensão porque, por meio dessa ação, fora dos espaços
formais de atuação dos professores universitários, os moradores do bairro
São José do Barreto e outros moradores acabaram por incorporar valores,
conceitos, habilidades e atitudes que contribuíram para o entendimento da
realidade de vida e atuação lúcida e responsável dos atores sociais coletivos,
dentro de uma perspectiva crítica de educação ambiental (Loureiro, 2006).
Como exemplo, transcrevemos parte das falas de moradores, proferidas du-
rante primeira audiência pública, falas essas que foram registradas pelo INEA:
367
5. Conclusão
Referências Bibliográficas
ACSELRAD, H.; MELLO, C. C. A.; BEZERRA, G. N. O que é justiça ambien-
tal. Rio de Janeiro: Garamond, 2009, 156p.
ARRETCHE, M. T. Tendências no estudo sobre avaliação. In: RICO, E. M.
(org.). Avaliação de políticas sociais: uma questão em debate. 2. ed. São Pau-
lo: Cortez; Instituto de Estudos Especiais, 1999, p. 75-85.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, 322 p.
372
Autores
Alex Xavier
Fisioterapeuta. Mestre em Saúde Coletiva. Articulador Local do Projeto Re-
des/Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD – Macaé (RJ).
Cynthia Aquino
Aluna de graduação em medicina do curso de Medicina da Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro – Campus Macaé. Foi aluna bolsista do PET Saúde
Mental/ Crack, Álcool e Outras Drogas, na UFRJ - Campus Macaé.
Gilberta Acselrad
Enfermeira da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Mestra em
Educação, IESAE/FGV, coordenadora de cursos de extensão “Políticas Públi-
cas sobre Drogas e alternativas democráticas”/UERJ.
Junia Prosdocimi
Terapeuta ocupacional. Trabalhou em Centros de Atenção Psicossocial, foi
coordenadora municipal de Programas de Saúde Mental, e tutora do Centro
Regional de Referência sobre Drogas – CRR – UFRJ Macaé RJ
Marcos Verissimo
Graduado em Ciências Sociais. Especialista em Políticas Públicas de Justiça
Criminal e Segurança Pública pela Universidade Federal Fluminense. Doutor
em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisador associa-
do ao Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de
Conflitos (INCT-InEAC).
Mirmila Musse
Psicóloga, Mestre: Master de psychanalyse pela Université de Paris VIII. Foi
Assessora Técnica da Área Técnica de Saúde mental, Álcool e outras Drogas
da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.
Monique Rodrigues
Graduada em Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela Univer-
sidade Federal Fluminense/UFF. Curinga do Centro de Teatro do Oprimido.
379
Ruth Escudero
Psicóloga, Mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense – UFF,
Especialista em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia Fenomenoló-
gico-Existencial do Rio de Janeiro – IFEN. Foi coordenadora acadêmica do
Centro Regional de Referência sobre Drogas – CRR UFRJ Macaé.
Talitha Demenjour
Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – Cam-
pus Macaé. Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde
da Família da Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ. Foi aluna bolsista do PET
Saúde Mental/ Crack, Álcool e Outras Drogas, na UFRJ – Campus Macaé.
380
ABREVIATURAS
AD – Álcool e Drogas
AP – atenção primária
MS – Ministério da Saúde
SM – saúde mental
9 788562 805691