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JÚRI:
Julho de 2008
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
RESUMO
A salubridade do ambiente interno de um edifício está directamente relacionada com a qualidade e estado de
conservação dos revestimentos interiores. Actualmente, o estuque com base em gesso, com um peso de cerca
de 75%, constitui o revestimento interior com maior expressão em Portugal. Ainda assim, devido
especialmente à sua susceptibilidade à acção da água, estes revestimentos carecem de uma cuidada aplicação
em obra e de uma adequada manutenção durante a fase de utilização, a qual deve ser efectivada através de
um plano de manutenção inserido numa estratégia de manutenção pró-activa.
Neste trabalho, são propostas e classificadas as técnicas de reparação de revestimentos interiores estucados
correntes (RIEC), cuja descrição pormenorizada é apresentada em fichas individuais, as quais são
correlacionadas com um sistema classificativo das suas anomalias (elaborado por PEREIRA, 2008) do ponto
de vista técnico-económico. Através da realização de uma campanha de trabalho de campo, composta pela
inspecção a 87 compartimentos estucados, o sistema foi calibrado e, consequentemente, validado, sendo
também efectuado o tratamento estatístico das informações obtidas.
O objectivo desta dissertação é, em conjunto com o trabalho efectuado pela referida autora, criar um sistema
de apoio à inspecção e diagnóstico de RIEC que sistematize com a maior objectividade possível as
respectivas inspecções previstas numa estratégia de manutenção pró-activa predictiva.
São também referidos os estuques tradicionais, com vista a assinalar-se a sua evolução ao nível das técnicas
de concepção, aplicação e reparação, e os estuques sintéticos que, embora substancialmente diferentes,
possuem algumas semelhanças com os seus homólogos cujo ligante principal é o gesso, as quais se tentaram
evidenciar.
ABSTRACT
The health of a building´s environment is directly related to the quality and state of conservation of the
internal cladding. Nowadays, the plaster based on gypsum, with a relative weight of around 75%, constitutes
the inner cladding most widely used in Portugal. Nevertheless, especially due to its vulnerability to water,
these claddings need to be carefully applied in a construction and properly maintained during its service life.
In this phase, its maintenance must be performed through a carefully organised plan, part of a pro-active
strategy of maintenance.
In this study, techniques for repairing inner gypsum plasters (IGP) are proposed and classified. Each detailed
description is presented in individual sheets which are correlated with a classifying system of its anomalies
(PEREIRA, 2008) from a technical-economical point of view. The system was calibrated and, consequently,
validated, through a field work campaign that consisted in the inspection of 87 gypsum plastered rooms,
followed by the statistic analysis of the information collected.
The purpose of this thesis is, complemented with the work done by the previously referred author, to create a
support system of inspection and diagnosis of IGP that systemizes, as objectively as possible, the inspections
planned within a predictive pro-active maintenance strategy.
Traditional gypsum plasters are also mentioned in order to celebrate its evolution in what concerns its design,
application and repair techniques, as well as synthetic plasters that, although substantially different, has
some resemblances, focused in this work, with analogous claddings whose main binder is gypsum.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, ao Professor Doutor Jorge de Brito, meu orientador científico, pelo rigor exigido, a
disponibilidade demonstrada, o acompanhamento constante do meu trabalho, os conselhos e materiais
bibliográficos fornecidos, pela ajuda na obtenção de informações relevantes no âmbito na minha dissertação
e, sobretudo, por ser também um amigo.
À minha colega de mestrado Ana Pereira, pela sua cooperação e trabalho de equipa.
À Engenheira Ana Carvalho e à Arquitecta Ana Laura Vasconcelos, pelo conhecimento e ajuda transmitidos,
nomeadamente na obtenção de contactos úteis no âmbito da minha dissertação.
Aos Engenheiros Duarte Barros e Jorge Almeida, em representação da empresa “Marques SA”, pelas
explicações prestadas e informações fornecidas.
Ao Encarregado José Guilherme, em representação da empresa “Marques SA”, pela visita guiada a um
edifício em reparação, bem como pelas inúmeras explicações dadas sobre a matéria em questão e pela sua
prestabilidade e boa disposição sempre demonstrada.
Aos meus amigos e colegas Ismael Aguiar, Manuel Fernandes e Pedro Casaleiro, pelo sempre disponível
apoio.
Aos Engenheiros Yolbert Aguiar e Gilbert Aguiar, pela ajuda, incentivo e contactos relevantes no âmbito da
minha dissertação.
Ao Engenheiro Ricardo Bordetas, pela sua disponibilidade, ajuda e acompanhamento em algumas inspecções
efectuadas.
Ao Engenheiro Paulo Furtado, em representação da empresa “APM - António Palmira Martins”, pelo auxílio
em várias situações ao longo da realização da minha dissertação, nomeadamente em visitas a obras e na
resolução de problemas informáticos.
Ao Engenheiro João São José, em representação da empresa “APM - António Palmira Martins”, por me ter
guiado na visita a uma obra, na qual estava a ser aplicado estuque (de gesso) projectado.
Aos estucadores da empresa “Redecal”, pelas “dicas” fornecidas sobre o assunto em questão e pela excelente
reportagem fotográfica que me proporcionaram no domínio da aplicação do estuque em obra.
Ao Engenheiro Carlos Duarte, Presidente da APFAC, com quem nunca comuniquei directamente, mas que
me soube indicar profissionais capazes de fornecer informações relevantes no âmbito deste trabalho de
investigação.
Ao Doutor Faria e ao Senhor Rodrigo Cardoso, em representação da empresa “Sival”, por todas as
informações cedidas sobre a utilização de estuques em Portugal.
Ao meu amigo Marco Cantarino, em representação da empresa “Secil Martingança”, pela sua vasta
experiência e conhecimentos no mercado dos materiais de construção, os muitos contactos fornecidos, bem
como as explicações concedidas.
Aos Engenheiros Paulo Gonçalves e José Megre, pela colaboração evidenciada, nomeadamente na indicação
de pessoas com informações úteis.
Ao senhor Paulo Macedo, em representação da empresa “Uralita”, os preciosos dados comerciais fornecidos
sobre estuques com base m gesso, bem como a indicação de profissionais com informações importantes no
âmbito da dissertação.
A todos os autores do material bibliográfico que serviu de base à elaboração da presente dissertação.
Em último lugar, mas não menos importante, um grande obrigado à minha família, principalmente os meus
pais, que embora quase sempre à distância, demonstraram sempre o seu apoio e preocupação no meu sucesso
em atingir os objectivos definidos.
ÍNDICE GERAL
RESUMO ...................................................................................................................................................................... I
ABSTRACT ................................................................................................................................................................... II
AGRADECIMENTOS .................................................................................................................................................... III
ÍNDICE GERAL ............................................................................................................................................................. V
ÍNDICE DE FIGURAS.................................................................................................................................................. VIII
ÍNDICE DE QUADROS ................................................................................................................................................. XI
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 1
1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS........................................................................................................................................ 1
1.2. JUSTIFICAÇÃO E OBJECTIVOS DA DISSERTAÇÃO............................................................................................................. 1
1.3. METODOLOGIA DA DISSERTAÇÃO ............................................................................................................................. 2
1.4. TRABALHOS REALIZADOS NO ÂMBITO DA DISSERTAÇÃO ................................................................................................. 3
1.5. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO .............................................................................................................................. 3
2. TECNOLOGIA ..................................................................................................................................................... 5
2.1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................................... 5
2.2. CLASSIFICAÇÃO DOS REVESTIMENTOS PARA PARAMENTOS INTERIORES DE PAREDES E TECTOS ............................................... 7
2.3. QUALIDADE DOS RIEC ........................................................................................................................................... 7
2.3.1 Regras de qualidade dos revestimentos com base em gesso ..................................................................... 9
2.3.1.1 Espessura e dureza .............................................................................................................................................9
2.3.1.2 Planeza, verticalidade e regularidade superficial .............................................................................................10
2.3.1.3 Aderência ao suporte .......................................................................................................................................11
2.3.1.4 Resistência à flexão e à compressão.................................................................................................................11
2.3.1.5 Resistência à fixação e ao desenvolvimento de bolores ...................................................................................12
2.3.1.6 Tempo de início de presa..................................................................................................................................12
2.3.1.7 Durabilidade .....................................................................................................................................................12
2.3.2 Regras de qualidade dos revestimentos com base em ligantes sintéticos para paramentos interiores de
paredes 12
2.3.2.1 Resistência à saponificação ..............................................................................................................................13
2.3.2.2 Planeza, verticalidade e regularidade superficial .............................................................................................13
2.3.2.3 Aderência ao suporte .......................................................................................................................................13
2.3.2.4 Resistência às acções de degradação devidas à utilização normal dos espaços (choques, atrito, água e
sujidade) 13
2.3.2.5 Resistência à fixação e ao desenvolvimento de bolores ...................................................................................16
2.3.2.6 Durabilidade .....................................................................................................................................................16
2.4. REVESTIMENTOS DE ESTUQUE ............................................................................................................................... 16
2.4.1 Evolução histórica do estuque em Portugal .............................................................................................. 16
2.4.2 Estuques tradicionais ................................................................................................................................ 17
2.4.2.1 Generalidades ...................................................................................................................................................17
2.4.2.2 Constituição ......................................................................................................................................................19
2.4.2.2.1 Crespido ......................................................................................................................................................19
2.4.2.2.2 Camada de base ..........................................................................................................................................20
2.4.2.2.3 Acabamento ................................................................................................................................................20
2.4.2.2.4 Tipos de acabamento ..................................................................................................................................21
2.4.2.2.4.1 Polimento ..............................................................................................................................................21
2.4.2.2.4.2 Pintura ...................................................................................................................................................21
2.4.2.2.4.3 Estuque colorido ...................................................................................................................................22
2.4.2.2.4.4 Estuque com molduras, ornatos moldados, ornatos pintados, pintura a fresco e pintura fingida .......22
2.4.2.2.4.5 Escaiola ..................................................................................................................................................23
2.4.2.3 Campo de aplicação ..........................................................................................................................................23
2.4.2.3.1 Suportes ......................................................................................................................................................23
2.4.2.3.2 Locais ...........................................................................................................................................................26
2.4.2.4 Aplicação em obra ............................................................................................................................................26
2.4.3 Estuques pré - doseados de gesso ............................................................................................................. 27
2.4.3.1 Generalidades ...................................................................................................................................................27
2.4.3.2 Constituição ......................................................................................................................................................28
2.4.3.2.1 Camadas constituintes ................................................................................................................................28
ANEXOS
ÍNDICE DE FIGURAS
Capítulo 2
Capítulo 3
FIGURA 3. 1: A-F1 HUMIDADE (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-A1 APÓS SECAGEM DO PARAMENTO................................... 57
FIGURA 3. 2: A-F2 SUJIDADE (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-A1 OU, EM CASO DE INEFICÁCIA DESTA ÚLTIMA, R-B2 ............. 58
FIGURA 3. 3: A-Q1 BIODETERIORAÇÃO (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-A2 ................................................................... 59
FIGURA 3. 4: A-Q1 BIODETERIORAÇÃO (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-C1 OU R-C4 ...................................................... 59
FIGURA 3. 5: A-Q1 BIODETERIORAÇÃO ASSOCIADA A A-Q2.2 EFLORESCÊNCIAS E CRIPTOEFLORESCÊNCIAS (A PRESENÇA DE
CRIPTOEFLORESCÊNCIAS PODE SER CONFIRMADA PELA IMPOSSIBILIDADE DE REMOÇÃO DOS SAIS POR LIMPEZA (FIGURA 3.6);
REPARAÇÃO: R-C4 ....................................................................................................................................................... 60
FIGURA 3. 6: TENTATIVA DE REPARAÇÃO DAS ANOMALIAS ILUSTRADAS NA FIGURA 3.5 ATRAVÉS DE LIMPEZA (R-C1) ................................ 60
FIGURA 3. 7: A-Q 3.2 ABAULAMENTO (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-C1 .................................................................... 62
FIGURA 3. 8: A-Q 3.2 ABAULAMENTO DEVIDO A OXIDAÇÃO DE ELEMENTO METÁLICO (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-C5 ...... 62
FIGURA 3. 9: A-Q 3.3 DESTACAMENTO (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-C1................................................................... 62
FIGURA 3. 10: A-Q 3.3 DESTACAMENTO APENAS DA PINTURA (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-B2. ................................... 62
FIGURA 3. 11: A-M1.1 FISSURAÇÃO SUPERFICIAL EM FORMA DE MAPA (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-B2 ........................ 63
FIGURA 3. 12: A-M1.3 FISSURAÇÃO MÉDIA (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-B1 SE A ANOMALIA ESTIVER ESTABILIZADA E R-C2,
R-C6 OU R-D1 NO CASO CONTRÁRIO ............................................................................................................................... 63
FIGURA 3. 13: A-M1.2 FISSURAÇÃO DE LINEARIDADE MUITO MARCADA OU PROFUNDA; REPARAÇÃO: R-C2; R-C6 OU R-D1.................... 64
FIGURA 3. 14: A-M1.2 FISSURAÇÃO DE LINEARIDADE MUITO MARCADA OU PROFUNDA; REPARAÇÃO: R-D1 .......................................... 64
FIGURA 3. 15: A-M2 GOLPES E IMPACTOS (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-B2 .............................................................. 65
FIGURA 3. 16: A-M2 GOLPES E IMPACTOS (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-C3 .............................................................. 65
FIGURA 3. 17: A-M3 PERDA DE COESÃO E DESAGREGAÇÃO EM VÉRTICE DE VÃO (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-C2 ............. 65
FIGURA 3. 18: A-M3 PERDA DE COESÃO E DESAGREGAÇÃO EM ARESTA SALIENTE EM PARAMENTO INTERIOR - EXTERIOR (RIEC COM BASE EM
GESSO); REPARAÇÃO: R-C2 ............................................................................................................................................ 65
FIGURA 3. 19: FANTASMAS EM TECTO ESTUCADO (RIEC COM BASE EM GESSO); REPARAÇÃO: R-B2 ...................................................... 66
Capítulo 4
Capítulo 5
ÍNDICE DE QUADROS
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
QUADRO 4. 1: LISTA DE TÉCNICAS DE REPARAÇÃO CURATIVAS (RC), PREVENTIVAS (RP) E TRABALHOS DE MANUTENÇÃO (M) ....................... 72
QUADRO 4. 2: FORMAS DE ELIMINAÇÃO DOS VÁRIOS TIPOS DE HUMIDADE ....................................................................................... 75
QUADRO 4. 3: MATRIZ DE CORRELAÇÃO ANOMALIAS - TÉCNICAS DE REPARAÇÃO ............................................................................... 88
QUADRO 4. 4: FICHA DAS INTERVENÇÕES RELATIVAS À A-Q-1 (BIODETERIORAÇÃO), NA QUAL AS TÉCNICAS DE GRANDE RELAÇÃO SE
ENCONTRAM SUBLINHADAS ............................................................................................................................................ 89
QUADRO 4. 5: FICHA DE REPARAÇÃO R-A2 - APLICAÇÃO DE FUNGICIDA NA SUPERFÍCIE DO RIEC .......................................................... 91
Capítulo 5
Capítulo 6
QUADRO 6. 1: TÉCNICAS DE REPARAÇÃO MAIS FREQUENTES PARA CADA TIPO DE ANOMALIA .............................................................. 124
1. INTRODUÇÃO
No presente trabalho, são abordados os revestimentos estucados correntes, os quais serão referidos pela sigla
RIEC, em paredes e tectos interiores. Actualmente, conhecem-se dois tipos de estuques correntes:
o estuque com base em gesso (vulgarmente designado simplesmente por “estuque”);
o estuque com base em ligantes sintéticos (habitualmente referido como “estuque sintético”).
São também abordados os estuques tradicionais (de gesso), numa tentativa de evidenciar as diferenças,
referentes à tecnologia e reabilitação, em relação aos seus homólogos correntes.
A extensão do tratamento dado aos diversos tipos de revestimentos citados não foi uniforme. Com efeito,
devido ao âmbito da presente dissertação, foi feita uma descrição mais pormenorizada dos revestimentos
correntes e, mesmo entre estes, os estuques de gesso correntes foram alvo de maior atenção, tendo sido o
objecto do trabalho de campo efectuado, descrito em §5, do qual resultou a validação do modelo teórico,
definido em §4, embora algumas conclusões sejam também extensíveis aos estuques sintéticos.
Desde há muito tempo que os estuques são utilizados como revestimento de paredes e tectos interiores em
Portugal, tendo inclusivamente ganho expressão artística. Tratavam-se de estuques actualmente designados
de tradicionais, constituídos basicamente por gesso, cal, água e areia. Com a evolução da tecnologia
construtiva, nos dias de hoje o estuque tradicional tornou-se incompatível com os rendimentos exigidos em
obra. Deste modo, surgiram novos procedimentos de aplicação (nomeadamente a projecção mecânica) e a
composição foi alterada no sentido de se obterem gessos pré-doseados, isto é, aos quais seja necessária
apenas a adição de água para a formação da pasta que, satisfazendo as exigências funcionais de um
revestimento interior, pudessem igualmente constituir uma solução competitiva no cenário actual da
construção. Simultaneamente, surgiu outro tipo de revestimentos, com a mesma função embora
substancialmente diferentes, conhecidos por estuques sintéticos que, genericamente, além da composição,
diferem dos estuques correntes de gesso no tocante à espessura em que são aplicados e por se apresentarem
na forma de pastas prontas-a-aplicar.
Tal como os estuques tradicionais perderam expressão, também algumas técnicas de reparação aplicáveis a
revestimentos de gesso se tornaram obsoletas (referidas em §4.1), facto que associado ao aumento de
importância da reabilitação, fruto essencialmente da diminuição de área disponível para construção, gera
uma necessidade de actualização / sistematização das técnicas de reabilitação destes revestimentos que, tal
como referido em §4, pode ser parcialmente estendida aos estuques sintéticos.
Actualmente, em Portugal, os revestimentos interiores mais utilizados em edifícios correntes são os estuques
com base em gesso, enquanto que os estuques com base em ligantes sintéticos, embora menos usados, têm
ganho expressão e diversidade com os avanços verificados na indústria química. Essa constitui uma razão
por que será dada maior ênfase neste trabalho aos estuques com base em gesso. Estes dois tipos de
revestimentos apresentam como principais vantagens a rapidez e facilidade de aplicação, bem como um
melhor controlo de qualidade do produto final, visto o doseamento dos constituintes já vir feito de fábrica.
Segundo SILVA (2004) e COLEN (2003 b), desde a construção de um edifício até à sua demolição, as fases
de concepção, projecto e construção representam apenas 15 a 20% dos custos totais, o que remete os
restantes 75 a 80% para custos de utilização e manutenção. COLEN (2003b) refere que, através da
implementação de estratégias de manutenção pró-activa na fase de projecto, é possível reduzir os custos de
utilização e manutenção associados a um edifício que, tal como referido, constituem os encargos mais
relevantes na vida útil do mesmo. Deste modo, as medidas adoptadas na fase de projecto condicionam
fortemente a sua posterior utilização e manutenção. Sabe-se que estas passam pela adopção de soluções
construtivas adequadas, como sejam a correcta aplicação de todos os constituintes da edificação, onde se
incluem os revestimentos, nomeadamente os interiores (exemplo: definição, na fase de projecto, da
incorporação de rede no revestimento em zonas previsivelmente sujeitas a fendilhação). Com efeito, no
tocante aos revestimentos, é fundamental ter um conhecimento aprofundado das tecnologias de aplicação,
manutenção e reparação com vista a maximizar a sua qualidade e vida útil, conseguindo, assim, diminuir os
custos totais associados a esta componente dos edifícios.
Assim, o trabalho realizado na presente dissertação tem como objectivos principais descrever a tecnologia
actual do estuque com base em gesso e, em conjunto com o trabalho desenvolvido por PEREIRA (2008),
criar uma ferramenta de apoio à inspecção, diagnóstico e reparação desses revestimentos através da
sistematização de procedimentos, materializados pela classificação das anomalias, causas prováveis, técnicas
de diagnóstico, técnicas de reparação e as suas correlações.
Numa primeira fase, foi feito um seminário de investigação, que se caracterizou pela recolha de informação
com vista a obter-se um panorama do state-of-the-art e, consequentemente, a consciencialização das
subtarefas inerentes a este trabalho, de que resultou um índice e bibliografia provisórios, assim como a
calendarização das actividades. Esses conhecimentos foram posteriormente organizados de forma a moldá-
los à estrutura da dissertação em causa.
Seguidamente, foi efectuado um estudo aprofundado da informação recolhida, o que, por sua vez, deu
origem a uma nova recolha de informação. Os conhecimentos dos vários autores foram organizados de
acordo com a estrutura de cada capítulo e/ou subcapítulo, iniciando-se depois a escrita da dissertação (com
excepção do capítulo da validação).
Depois da criação do modelo teórico, iniciou-se uma campanha de campo que consistiu em inspecções a
edifícios, acompanhadas, quando possível, por um elemento com experiência no domínio do diagnóstico
e/ou reparação. No decurso deste período, foi efectuada a validação dos sistemas propostos nos capítulos
anteriores, de acordo com os critérios definidos em §5. Foi também feito o tratamento estatístico dos dados
recolhidos nesta fase, do qual se retirou igualmente informação relevante no âmbito da validação dos
conhecimentos que, até ao início das inspecções, eram fundamentalmente teóricos.
Vários foram os trabalhos já realizados que, pela sua estrutura ou devido ao seu conteúdo, constituem
informação de base para a elaboração da presente dissertação, dos quais se destacam:
O capítulo 1 constitui a introdução da dissertação, constituída pelas considerações iniciais, onde se referem,
de uma forma geral, os assuntos tratados e a importância dos mesmos na construção, bem como a
justificação, objectivos, metodologia e organização do presente trabalho.
No capítulo 2, é descrita a tecnologia actual do estuque de gesso e sintético (embora com maior pormenor
para o primeiro), fazendo-se também uma breve referência aos estuques tradicionais, com vista a se poder
aferir a evolução / modificação verificada nos revestimentos de gesso.
No capítulo 3, é apresentada uma proposta de classificação das anomalias, as quais são também descritas de
um forma relativamente sucinta, com o objectivo de compreender os fenómenos de formação das mesmas e,
desse modo, escolher a solução de reparação mais adequada.
O capítulo 4 constitui a parte mais inovadora da presente dissertação, sendo propostas técnicas de
reparação com base nos conhecimentos teóricos recolhidos na bibliografia pesquisada e na experiência
adquirida, em virtude de visitas a obras e de conversas com profissionais do sector. A cada técnica de
reparação corresponde uma ficha de reparação, onde o método é descrito com mais pormenor, que consta do
Anexo 4.I. Esta informação é relacionada com a descrita em §3 através da construção da matriz de
correlação anomalias - técnicas de reparação, a qual foi inicialmente feita com base na bibliografia
recolhida e, posteriormente, ajustada durante a campanha de inspecções realizada.
O capítulo 5 corresponde à validação do modelo teórico proposto em §4, que foi realizado através da análise
de casos práticos (inspecções) a edifícios com RIEC com base em gesso, e ao tratamento estatístico dos
dados recolhidos nessa campanha, de onde se obteve resultados julgados relevantes no âmbito da validade
das técnicas de reparação e da sua adequação às anomalias identificadas. As técnicas de reparação foram
preconizadas (e não aplicadas efectivamente) às anomalias identificadas nas inspecções realizadas. A
validação foi auxiliada por fichas de inspecção e validação, apresentadas, respectivamente, nos Anexos 5.I e
5.II.
Para finalizar, apresentam-se as referências bibliográficas e a bibliografia, onde são enunciados os trabalhos
que contribuíram para a presente dissertação.
2. TECNOLOGIA
2.1. Introdução
No passado, o termo “estuque” referia-se simplesmente à camada de acabamento final com base em gesso e,
eventualmente, cal apagada que era, em geral, aplicada sobre um suporte de madeira ou reboco de cimento.
Actualmente, esses revestimentos são designados de estuques tradicionais ou antigos e o referido termo
designa uma gama maior de revestimentos, nos quais se incluem os estuques pré-doseados sintéticos e os
estuques pré-doseados de gesso, considerados como não-tradicionais (VEIGA et al., 1995) ou argamassas
industriais (APFAC, 2001), pois constituem uma argamassa doseada e misturada em fábrica, podendo-se
apresentar em forma de pó, requerendo apenas a adição de água (caso dos estuques pré-doseados de gesso),
ou em forma de pasta já amassada, fornecida pronta a aplicar (caso dos estuques pré-doseados sintéticos). Os
revestimentos com base em gesso, de acordo com o artigo 17º do RGEU, estavam, em Portugal, sujeitos a
homologação prévia pelo LNEC até 2005, ano em que surgiu a norma europeia EN 13279-1, relativa a
gessos e revestimentos com base em gesso, infelizmente ainda sem versão portuguesa. Embora tenha havido
um período de transição em que se continuaram a fazer documentos de homologação (DH), de que são
exemplos LNEC (2006b) e LNEC (2006c), estes deixaram de ter carácter obrigatório. Actualmente, para os
revestimentos com base em gesso, apenas se efectuam os documentos de aplicação (DA), que
complementam a referida norma e se destinam à verificação da qualidade, tendo, portanto, carácter não
obrigatório.
Assim, o aparecimento dos revestimentos sintéticos e pré-doseados de gesso para paramentos interiores de
paredes e tectos ficaram associados ao aumento de importância na construção assumido pelas paredes de
betão de argila expandida, betão celular autoclavado e betão moldado de agregados correntes. Este facto
ficou sobretudo a dever-se aos problemas de incompatibilidade ou inadequabilidade dos referidos suportes
com revestimentos tradicionais de cimento, cal ou gesso e às boas condições de planeza e desempeno
conferidas pelos mesmos, que lhes permitia serem regularizados e acabados com revestimentos de espessura
final bastante inferior (entre 1 a 3 mm no caso dos sintéticos e 10 a 20 mm para os pré-doseados de gesso).
Com efeito, ficaram criadas condições para o desenvolvimento de soluções não-tradicionais de revestimentos
que aproveitassem esta possibilidade e superassem aqueles problemas (LUCAS, 1986; LUCAS, 1990).
o exigência
xigência de secagem perfeita dos paramentos aquando da execução de revestimentos com base em
gesso em suportes ricos em cimento (como é exemplo o betão moldado e betão celular autoclavado),
autocla
bem como a garantia de não humedecimento dos mesmos durante a sua utilização.
Os revestimentos correntes tratados neste trabalho superam facilmente os inconvenientes descritos desde que
o ligante seja de boa qualidade e a sua aplicação seja correcta
correcta e acompanhada, quando necessário, das
soluções construtivas e/ou adjuvantes adequados a cada situação, como por exemplo a incorporação de rede
de reforço na camada de regularização do revestimento em zonas previsivelmente
previsivelmente mais sujeitas a fendilhação
ou a utilização de um adjuvante fungicida incorporado na camada de acabamento (em revestimentos
deixados à vista) ou na tinta (em revestimentos pintados). Além da sua superior adaptabilidade, estes
métodos correntes possibilitam uma maior facilidade e rapidez de aplicação, secagem e facilidade de limpeza
dos utensílios de aplicação, resultando em rendimentos de obra elevados (VEIGA e tal, 1995; LUCAS, 1986;
LUCAS, 1990c).
120000 (ton/ano)
100000
80000
60000
40000
20000
0
2003 2004 2005 2006 2007
1
De acordo com a empresa Uralita, este valor ascende a 233.000 ton / ano.
ano
6 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
75% de todos os revestimentos interiores aplicados em edifícios de habitação no referido país2. Perante estes
valores, percebe-se a importância que assume o estudo deste tipo de revestimento, bem como o seu impacte
ao nível do projecto, aplicação e reabilitação.
Embora o mercado português dos estuques pré-doseados de gesso não seja desprezável, nomeadamente para
as empresas espanholas, as quais absorvem cerca de 60% do mesmo, a verdade é que não tem grande
expressão face aos colossos europeus (Alemanha, França e Espanha) e mundiais (China) (fonte: Sival).
A matéria-prima para concepção do estuque pré-doseado de gesso (pedras de gesso bruto) não é abundante
em Portugal. De facto, a localização inicial da fábrica da “Sival” (até ao momento, a única empresa
portuguesa produtora de gesso) em Leiria devia-se essencialmente à existência de pedras de gesso bruto
nessa zona. Actualmente, a sua mudança para perto do Porto da Figueira da Foz visa a redução do tempo e
custo de transporte da matéria-prima proveniente de Marrocos. Como tal, só em 2007 a referida empresa
iniciou a exportação, tendo como destino Cabo Verde e Angola (fonte: Sival).
Ao nível do impacte ambiental, o problema principal de uma unidade fabril de calcinação de gesso é o pó
que liberta, apesar dos sistemas de desempoeiramento que as unidades possuem (fonte: “Sival”).
Sobre os revestimentos sintéticos, apesar da busca efectuada, não foi possível obter este tipo de dados, na
certeza, porém, de que a sua utilização é francamente inferior.
Com o objectivo de apresentar uma classificação mais específica dos revestimentos de gesso correntes,
apresenta-se no Quadro 2.2 a classificação segundo a norma EN 13279-1: 2005.
A directiva 89/106/CE, relativa aos produtos de construção (DPC), estabelece seis exigências essenciais para
os produtos, materiais e sistemas a utilizar na construção de edifícios (VEIGA, 2004b):
o estabilidade (EE1);
o segurança contra riscos de incêndio (EE2);
o higiene, saúde e ambiente (EE3);
o segurança no uso (EE4);
o protecção contra o ruído (EE5);
o economia de energia (EE6).
2
Média ponderada, obtida com base nos dados recolhidos nas empresas Sival e Uralita.
Quadro 2. 1: Classificação dos revestimentos para paramentos interiores de paredes (VEIGA, 2004b)
CLASSIFICAÇÃO
TIPOS PRINCIPAIS DE REVESTIMENTOS INTERIORES DE PAREDES USADOS EM PORTUGAL
FUNCIONAL
Rebocos tradicionais
Rebocos pré-doseados
Quadro 2. 2: Tipos de revestimentos correntes com base em gesso (EN 13279-1: 2005)
DESIGNAÇÃO NOTAÇÃO
Gesso (Gypsum binder) A
Revestimento com base em gesso (Gypsum plaster) B
Revestimento de gesso (Gypsum building plaster) B1
Revestimento com base em gesso (Gypsum based building plaster) B2
Revestimento de gesso e cal (Gypsum-lime building plaster) B3
Revestimento aligeirado de gesso (Lightweight gypsum building plaster) B4
Revestimento aligeirado com base em gesso (Lightweight gypsum based building plaster) B5
Revestimento aligeirado de gesso e cal (Lightweight gypsum-lime building plaster) B6
Revestimento com base em gesso com dureza superficial melhorada (Gypsum plaster for
B7
plasterwork with enhanced surfaced hardness)
Revestimento com base em gesso para aplicações especiais (Gypsum plaster for special
C
purposes)
Revestimento fibroso com base em gesso (Gypsum plaster for fibrous plasterwork ) C1
Gesso para assentamento em tijolo (Gypsum plaster for bricklaying) C2
Gesso para isolamento acústico (Acoustic plaster) C3
Gesso para isolamento térmico (Thermal insulation plaster) C4
Gesso para protecção ao fogo (Fire protection plaster) C5
Gesso para aplicação em camada fina (Thin coat plaster) C6
Quadro 2. 3: Classes dos revestimentos de ligantes sintéticos para paramentos interiores de paredes (VEIGA et al., 1995)
CARACTERÍSTICAS
CRITÉRIO DE CLASSES DE
DIMENSÃO DAS ESPESSURA POR
CLASSIFICAÇÃO REVESTIMENTOS
CARGAS (ΜM) DEMÃO (MM)
De seguida, apresentam-se as exigências específicas de qualidade que cada um dos revestimentos tratados na
presente dissertação deve verificar, quando aplicado em paramentos interiores de paredes e tectos.
Com base na bibliografia analisada, foram definidos os seguintes parâmetros de qualidade, referentes ao
sistema de revestimento completo (camada de regularização, camada de acabamento e acabamento por
pintura, considerando que os revestimentos de gesso poderão ficar à vista ou serem pintados com uma tinta
não texturada):
o espessura e dureza;
o planeza, verticalidade e regularidade superficial;
o aderência ao suporte;
o resistência à flexão e à compressão;
o resistência à fixação e ao desenvolvimento de bolores;
o tempo mínimo de início de presa;
o durabilidade.
O número de sondagens a efectuar será de S / 1,5 m2, com um mínimo de 5, sendo que, em painéis onde S <
1,5 m2 ou l < 1,5 m, não são efectuadas determinações. Os pontos de sondagem devem distar, pelo menos,
0,50 m entre si e 0,10 m dos bordos dos painéis ou de arestas intermédia (Figura 2.4).
Cada sondagem é efectuada por penetração suave de um punção até atingir o suporte ou, no caso de suportes
pouco duros (como por exemplo betão celular autoclavado ou poliestireno expandido), a partir de carotes
extraídos da parede.
A espessura média do revestimento é obtida através da média aritmética das sondagens efectuadas, após se
eliminarem os valores extremos, caso o número de sondagens for superior a 6. O valor mínimo da espessura
não deve ser inferior a 8 mm em execução corrente do revestimento ou 12 mm caso seja executado segundo
a técnica de pontos e mestras.
Para determinação da dureza, de acordo com o D.T.U. n.º n 25.1, retomam-se se os painéis definidos a propósito
da verificação da espessura. Esta operação só se inicia depois do revestimento estar bem seco (teor em água
inferior a 1%, que corresponde a cerca de 3 semanas a 1 mês após a sua execução) e deve ser obtida
recorrendo a um durómetro Shore C. Para realização dos ensaios, definem-se
definem se círculos de 0,2 m de diâmetro
centrados nos pontos de sondagem de espessura, sendo efectuadas seis determinações
determinações em cada um desses
círculos. Os dois valores extremos são eliminados e o valor de dureza em cada zona é obtido pela média
aritmética dos 4 valores restantes determinados. A dureza do revestimento no painel obtém-se
obtém pela média
aritmética da durezaa nas diversas zonas. Para revestimentos de gesso projectado, a dureza em cada zona deve
ser superior a 60 Shore e a dureza média do painel não deverá ser inferior a 65 Shore.
Segundo a norma EN 13279-1: 1: 2005, apenas é exigido um valor de dureza mínimo no caso dos
revestimentos com base em gesso com dureza superficial melhorada (2,5 MPa).
Estes três parâmetros da qualidade dependem fortemente do desempenho do operador executante durante a
aplicação do estuque,
ue, sendo que, no caso da regularidade superficial, o resultado final está igualmente
relacionado com a granulometria do produto (em pó), de tal forma que quanto maior for a finura deste, mais
10 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
facilmente se obterá uma superfície regular, isto é, menos rugosa. Os critérios de apreciação e tolerâncias
apresentados para estes parâmetros são os especificados no D.T.U. n.º 25.1.
As características de planeza e verticalidade dos paramentos devem ser especificadas no caderno de encargos
relativo a cada obra. A planeza pode ser dividida em geral e local. No primeiro caso, a aplicação de uma
régua com 2 m de comprimento sobre o paramento não deve originar um desvio de planeza superior a 10
mm, entre o ponto mais saliente e o ponto mais reentrante, sendo o valor reduzido para 5 mm se o
revestimento for executado segundo a técnica de pontos e mestras. Para avaliação da planeza local, o
procedimento é análogo, variando apenas o comprimento da régua, que deve ser de 0,20 m, e o desvio
verificado não deverá ultrapassar o limite de 1 mm. O desvio de verticalidade medido para um pé-direito de
2,50 m não deve exceder 5 mm (Figura 2.5). Ainda assim, as exigências de planeza e verticalidade só são
aplicáveis desde que o suporte não apresente desvios superiores a duas vezes o valor para o paramento
revestido.
A regularidade superficial define, de uma forma geral, se a superfície é lisa ou rugosa. Do ponto de vista
funcional, é dada preferência a superfícies lisas, isentas de fendas visíveis e estrias ou reentrâncias com
profundidade superior a 1 mm (ou inferiores a 1 mm de forma generalizada), por acumularem menos
sujidade, possuírem menor retenção de humidade superficial e serem menos favoráveis à fixação e
desenvolvimento de bolores.
A avaliação da aderência do revestimento ao suporte pode ser efectuada de acordo com a metodologia da
ficha de ensaio Fe Pa 36 do LNEC, isto é, através de um ensaio de arrancamento por tracção com
dinamómetro enquanto o revestimento é novo ou depois do mesmo ter sido humedecido com água quente e
posteriormente seco. No primeiro caso, a tensão de arrancamento por tracção do revestimento novo deve ser
superior a 0,5 MPa e, no segundo, superior a 0,35 MPa (LUCAS 1990a; FERNANDES, 2000).
Apesar de tudo, a norma EN 13279-1:2005 refere que a tensão de arrancamento deve ser apenas superior a
0,1 MPa.
Tendo por base os valores e os ensaios constantes na norma EN 13279-1:2005, a resistência à flexão deve ser
superior a 1,0 MPa, a menos que se trate de revestimento com base em gesso com dureza superficial
melhorada, em que esse valor deve ser superior a 2,0 MPa. A resistência à compressão deve ser superior a
2,0 MPa, com excepção do revestimento com base em gesso com dureza superficial melhorada, em que esse
valor ascende a 6,0 MPa.
Os RIEC localizados em compartimentos húmidos e mal ventilados ou sobre as pontes térmicas de qualquer
paramento em contacto com locais frios são propícios à fixação e ao desenvolvimento de bolores. Com
efeito, nesses locais, o revestimento deve ser protegido por um agente fungicida, o qual, em presença de
revestimentos deixados à vista, deve ser incorporado na camada de acabamento através de um adjuvante
fungicida ou, no caso de possuir um acabamento final por pintura (caso mais corrente), a tinta a utilizar deve
ter propriedades fungicidas. Estas soluções de prevenção apresentam, no entanto, a desvantagem de
possuírem um carácter temporário, variável consoante o produto e quantidade utilizada (LUCAS, 1990a;
VEIGA et al., 1995).
Uma solução mais eficaz passa, então, por garantir uma boa ventilação dos espaços e o reforço do isolamento
térmico nas pontes térmicas, de modo a evitar, respectivamente, humedecimento prolongado e condensações
nessas zonas. A elevada permeabilidade do sistema total de revestimento é igualmente muito importante na
prevenção da fixação e desenvolvimento dos referidos criptorganismos e pode ser avaliada através da ficha
de ensaio Fe Pa 17 do LNEC (LUCAS, 1990a; VEIGA et al., 1995 e FERNANDES, 2000).
Outro aspecto a não esquecer é o facto de as superfícies lisas dificultarem a fixação dos bolores, bem como
de sujidades diversas, pelo que devem ser privilegiadas relativamente às superfícies rugosas, especialmente
nos ambientes acima descritos (LUCAS, 1990a e VEIGA et al., 1995).
O tempo de início de presa deve ser superior a 20 e 50 min para estuques aplicados, respectivamente, de
forma manual ou por projecção mecânica (CEN, 2005).
2.3.1.7 Durabilidade
A durabilidade a exigir a um revestimento deste tipo é da ordem dos 50 anos, sendo que, durante esse
período de tempo, este deverá ser objecto de operações periódicas de manutenção, as quais foram descritas
em §2.4.3.6. Ainda assim, a durabilidade está fortemente dependente do grau de exposição / protecção aos
agentes biológicos, acções de choque e atrito, da água e da sujidade (VEIGA et al., 1995).
2.3.2 Regras de qualidade dos revestimentos com base em ligantes sintéticos para
paramentos interiores de paredes
Tal como referido para os revestimentos de gesso, as regras de qualidade dos estuques sintéticos referem-se
ao conjunto formado pela camada de regularização, camada de acabamento e, eventualmente, pintura com
verniz ou tinta não texturada. Foram, então, definidos os seguintes parâmetros de qualidade:
o resistência à saponificação;
o planeza, verticalidade e regularidade superficial;
o aderência ao suporte;
o resistência às acções de degradação devidas à utilização normal dos espaços (choques, atrito, água e
sujidade);
o resistência à fixação e ao desenvolvimento de bolores;
o durabilidade
Em rigor, o fenómeno da saponificação é a designação adoptada para o processo de degradação de uma tinta
de óleo que consiste na formação de um sabão e de um álcool em consequência da reacção entre o óleo e as
bases. Paradoxalmente, nos estuques sintéticos, produtos com base em dispersão de polímeros sintéticos, se
ocorrer uma degradação por ataque alcalino desse tipo, o resultado não será a formação de um sabão, mas
sim de um álcool, pelo que a designação correcta do fenómeno seria hidrólise. No entanto, por tradição, os
autores continuam a manter a designação saponificação, como são exemplos LUCAS (1990a) e VEIGA et al.
(1995).
Os RIEC sintéticos não devem ser afectados pela alcalinidade dos suportes. Como tal, estes revestimentos
devem ser ensaiados em suporte humedecido com solução alcalina, não se podendo verificar qualquer
descolamento ou outro tipo de degradação (LUCAS, 1990a).
Em relação a estes parâmetros, os RIEC sintéticos devem satisfazer as mesmas exigências definidas em
§2.3.1.2.
A avaliação da aderência destes revestimentos ao suporte pode ser efectuada através dos ensaios já descritos
em §2.3.1.3. e a partir de um ensaio por peladura a seco. Para utilização deste último, aplica-se o
revestimento sintético sobre tiras de rede previamente fixadas ao suporte. Após ter decorrido um intervalo de
tempo necessário para o endurecimento dos produtos sintéticos, procede-se à peladura das tiras de rede e
regista-se a resistência oferecida pelo revestimento a essa acção de arrancamento, a qual deve ser superior a
0,5 N/mm de largura da tira de rede (LUCAS, 1990a).
2.3.2.4 Resistência às acções de degradação devidas à utilização normal dos espaços (choques, atrito,
água e sujidade)
As regras de qualidade relativas às acções de choque (de corpo duro, cortante e não cortante), de atrito, à
água e à sujidade (de produtos químicos domésticos), dependem do tipo de edifícios, espaços, utilização e
grau de acessibilidade aos utentes (LUCAS, 1990a).
Para a avaliação da resistência a acções de choque, utiliza-se o choque de esfera (Figura 2.6) e o ensaio de
quadriculagem (Figura 2.7). O primeiro corresponde à acção de uma esfera com 250 g de massa, em
movimento pendular de 0,80 m de braço. O segundo consiste na acção de choque de um bloco denteado de
aço accionado por massas adicionais de valor sucessivamente crescente - 250, 500 e 1000 g - , em
movimento pendular de 0,80 m de braço, provocando a formação de uma quadrícula no revestimento. Para o
ensaio de choque de esfera, o diâmetro da mossa provocada deve ser inferior a um determinado valor e, para
o ensaio de quadriculagem, não se deve verificar descolamento de nenhum dos quadrados definidos pela
quadrícula para um valor mínimo da massa adicional. Neste último, se o revestimento não resistir à acção de
quadriculagem com a massa de 250 g, ser-lhe-á
ser á atribuído o índice de resistência 0 (zero) (LUCAS, 1990a).
A resistência à sujidade é avaliada pela acção de produtos enodoantes convencionais ou outros de actuação
previsível sobre o revestimento e subsequente acção de limpeza para tentativa de extracção de nódoas
(Figura 2.8).. Para realização do ensaio de resistência à formação de nódoas, são obrigatoriamente utilizados
os seguintes produtos-tipo
tipo convencionais (a letra que precede a designação do produto corresponde ao
código do mesmo no Quadro 2.4)) (LUCAS, 1990a):
a) pó de grafite (sujidade seca);
b) guache “terre d´ombre naturelle” (sujidade de lama);
c) tinta de óleo “terre d´ombre naturelle” (sujidade gorda);
d) tinta de óleo “terre de sienne brulée” (sujidade
( gorda e tingidora);
e) tinta de esferográfica (sujidade tingidora).
ting
Quadro 2. 4: Exigências de resistência às acções de choque, atrito, água e sujidade aplicáveis a paramentos interiores de paredes de
edifícios de habitação (LUCAS, 1990a)
ACÇÃO DE ENSAIO
CHOQUES ATRITO
ÁGUA SUJIDADE
TIPO DE ESPAÇO Choque de
Quadriculagem Riscagem Abrasão Lustragem
esfera
Índice (g) Índice (g) Índice (g) Índice Índice Índice
Φ (mm)
(min)
Quarto 20 – – – – – a
Sala 20 – – – – – a
Espaços de circulação
no interior dos fogos
(corredores, átrios)
– Superfícies acima de 2
20 – – – – – a
m
– Superfícies abaixo de
20 250 ou 500 250 ou 500 250 ou 500 Satisfatório 5 min a, b, c, d, e
2m
Cozinha 20 – 250 250 – 60 min a, b, c, d
Instalação sanitária 20 – 250 250 – 60 min a, b
Espaços para lavagem
20 – 250 250 – 60 min a, b
de roupa
Superfícies em contacto
frequente com as mãos
(superfícies contíguas a 20 250 250 250 Satisfatório 5 min a, b, c, d, e
interruptores, corrimãos,
etc.)
Espaços de circulação
colectiva (corredores,
átrios de zonas comuns,
caixas de escadas, etc.)
– Superfícies acima de 2
20 250 250 250 – a
m –
– Superfícies abaixo de
15 500 500 500 – 60 min a, b, c, d, e
2m
Espaços colectivos de
recolha ou evacuação de 20 250 250 250 – 5 min a, b, c, d
lixo
Apresenta-se no Quadro 2.4 os valores admissíveis para os ensaios descritos nas paredes interiores dos
vários espaços de um edifício de habitação. Quando uma determinada célula apresentar um travessão (“–“), o
revestimento deverá ter capacidade para resistir à acção mais severa do ensaio em questão. As exigências de
resistência à quadriculagem, riscagem e abrasão estão dependentes da intensidade da circulação dos utentes,
do número de utentes do fogo, da existência de crianças e das dimensões do espaço. Se a ventilação das
cozinhas e instalações sanitárias for eficaz, as exigência de resistência à água e à sujidade podem ser
reduzidas se as superfícies se situarem a mais de 2 m do nível do piso. Embora o Quadro 2.4 tenha por
objecto apenas as paredes interiores, é razoável a sua extensão aos tectos, devendo estes ser tratados como
superfícies acima de 2 m relativamente à laje de piso para efeitos da resistência às acções de choque, atrito e
sujidade, e como superfícies com distância inferior a 2 m para avaliação da resistência à água.
2.3.2.6 Durabilidade
A vida útil exigível a um revestimento de ligante sintético para paramentos interiores é de, no mínimo 10 a
12 anos, não descurando, durante esse período, as necessárias operações de manutenção periódicas
adequadas a este tipo de revestimento, descritas em §2.4.3.6 (LUCAS, 1990a; SABBATINI, 2007).
No entanto, o estuque só começou a ser realmente divulgado em Portugal em 1764, quando foi criada, pelo
Marquês de Tomar, a Aula de Estuque e Desenho, actividade que juntou um grupo de artistas italianos, de
onde se destaca o milanês João Grossi, responsável pela direcção da mesma. A este grande mestre são
atribuídas bastantes obras de estuque em Portugal, como o tecto da igreja dos Mártires (datado de 1748 e
desaparecido com o terramoto de 1755), o Museu Nacional de Arte Antiga na rua das Janelas Verdes, o
palácio do Marquês de Pombal em Oeiras ou o tecto da igreja dos Paulistas. Grossi formou em Portugal
diversos discípulos, tais como João Paulo da Silva, que terá decorado os tectos do palácio das Laranjeiras. A
divulgação do estuque assumiu proporções tais que este revestimento passou correntemente a fazer de
suporte a imitações de materiais considerados nobres, como sejam os mármores ou a talha dourada
(SILVEIRA, 2000 e SANTOS, 2002).
No fim do século XVIII, iniciou-se a técnica de execução dos tectos com recurso a fasquias pregadas, onde
as sancas de perfis finos utilizadas eram uma espécie de redução das cornijas clássicas da Antiguidade. No
16 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
Alentejo e Algarve, devido ao clima seco e pouco chuvoso, surgiu uma espécie de decoração exterior,
referida como ornatos de massa, estuques exteriores ou esgrafitos, cuja técnica de execução apresentava
semelhanças com a do estuque, mas cuja composição era completamente diferente, não incluindo sequer o
gesso. Deste tipo de ornamentação aponta-se como exemplo os esgrafitos da praça do Giraldo, em Évora
(SILVEIRA, 2000).
Ainda no final do século XVIII, suportado igualmente por mestres estrangeiros, o estuque acompanha as
curvas assimétricas características da estética do estilo Rococó em conchas estilizadas e folhagem esguia,
estendendo-se posteriormente nos frisos de grinaldas e festões de folhas pequenas, formando molduras
circulares, ovais ou rectangulares, que enquadram as pinturas do período Neoclássico (SILVEIRA, 2000).
Devido à influência do movimento Romântico, em meados do século XIX, surge um tipo de decoração em
estuque de gosto literário e exaltação nacional. Simultaneamente, servindo o aspecto da arquitectura
medieval e dos descobrimentos, desponta outro tipo de decoração em estuque em Portugal voltado para a arte
muçulmana e manuelina, sendo exemplos deste grupo os estuques mouriscos dos palácios de Monserrate e
da Pena, em Sintra, e o salão nobre da Bolsa portuense (SILVEIRA, 2000).
As decorações e ornamentos em estuque assumem grande relevo nas últimas décadas do século XIX e início
do século XX devido à influência da Arte Nova, cujos traços estilísticos primam pela assimetria, as formas
fluidas e artesanais, de tal modo que as ornamentações em foco foram consideradas exageradas e muito
pesadas. A partir desta data, assistiu-se à degradação do estuque decorativo (SILVEIRA, 2000).
Com efeito, os métodos de concepção e aplicação foram alterados no sentido de optimizar a relação custo /
qualidade, facilidade e rapidez de execução, surgindo o estuque projectado, feito com base em misturas pré-
doseadas em fábrica. Este foi um dos factores que contribuiu para que, actualmente, o estuque tenha perdido
o seu carácter artístico que outrora conquistara, embora o seu campo de aplicação tenha aumentado, sendo
aplicado em todo o tipo de construções, desde a chamada habitação de custos controlados até aos edifícios de
escritórios das grandes empresas de comércio e serviços.
Recentemente, surgiram revestimentos com base em ligantes sintéticos aplicáveis a paramentos interiores de
paredes e tectos, vulgarmente conhecidos por estuques sintéticos. Estes diferem significativamente dos
“tradicionais” estuques de gesso no tocante à sua composição, sendo constituídos por resinas sintéticas em
dispersão aquosa (ligante), ainda que a aplicação de ambos apresente várias semelhanças.
2.4.2.1 Generalidades
Os estuques tradicionais, por não constituírem o âmbito desta dissertação (este diz respeito aos estuques
correntes e, principalmente aos que têm o gesso como ligante principal), não serão descritos com o mesmo
rigor aplicado aos estuques pré-doseados de gesso e pré-doseados sintéticos, trabalho que já se encontra
efectuado de forma pormenorizada, por exemplo, em SILVEIRA, 2000 e COTRIM (2004). Deste modo, o
conteúdo de §2.4.2 estará deliberadamente incompleto, tendo como principal objectivo aferir a evolução do
estuque ao nível da sua composição, constituição e aplicação em obra (VEIGA et al, 1995).
O gesso obtém-se através da calcinação das pedras de gesso bruto (rocha sedimentar), que são constituídas
por sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4.2H2O) e impurezas, seguida da sua moagem. Actualmente, em
Portugal, a calcinação é realizada em fornos cilíndricos, onde o gesso bruto, após sofrer um processo de
dupla moagem, reduzindo-o a pó, é cozido por vapor de água, normalmente a uma temperatura entre 110 e
170 ºC, provocando a sua desidratação, resultando na formação do sulfato de cálcio hemi-hidratado (CaSO4.
½ H2O), com cerca de um quarto do peso do composto inicial, de acordo com a seguinte reacção (BRANCO,
1981; VEIGA et al., 1995; OLIVEIRA, 1996):
Contudo, a temperatura e tempo de exposição originam gessos com diferentes graus de desidratação e
propriedades. De um modo geral, a 128ºC forma-se o sulfato de cálcio hemi-hidratado (CaSO4. ½ H2O), a
163ºC esse composto dá origem à anidrita solúvel (CaSO4) (Figura 2.9) e entre 250 e 600 ºC esse composto
torna-se insolúvel. A formação desses compostos é sempre acompanhada por uma perda de massa.
Posteriormente à calcinação, é feita a moagem do gesso com vista a torná-lo num pó ainda mais fino
(VEIGA et al., 1995; SILVEIRA, 2000; SILVA et al., 2006).
Quanto maior for o teor de impurezas das pedras de gesso bruto, mais acinzentado será o gesso produzido,
enquanto que, contrariamente, quanto menor for o teor de impurezas, maior será o grau de brancura do gesso
final. Em Portugal, existem dois tipos de gesso: o gesso para esboço, cinzento e de granulometria mais
grosseira, e o gesso para estuque, branco e de maior finura. Contudo, o traço das argamassas utilizadas na
execução de cada um daqueles revestimentos determina igualmente a adequação à sua utilização como
camada de acabamento ou de regularização (BRANCO, 1981; BRANCO, 1993; VEIGA et al, 1995).
Quando amassado com água, o gesso inicia a presa ao fim de 3 a 5 minutos, terminando próximo dos 15
minutos. Contudo, esse intervalo de tempo varia na razão inversa relativamente ao estado de desidratação do
gesso, que será tanto menor quanto maior for o tempo e/ou a temperatura no forno (calcinação). A presa é
acompanhada de um aumento de volume em cerca de 1/5, facto que poderia dar origem a perda de aderência
com o suporte ou com a camada subjacente. Com efeito, normalmente o gesso é misturado com cal, cujo
efeito de retracção na secagem compensa a dilatação daquele e retarda a presa. Ainda assim, mesmo quando
se utiliza cal, deve-se usar um retardador de presa nos revestimentos de gesso, nomeadamente a dextrina a
5% (5 g / kg de gesso), grude, silicato de sódio concentrado ou ainda gesso hidráulico (VEIGA et al., 1995;
OLIVEIRA, 1996).
A fraca resistência mecânica do gesso e a sua sensibilidade à humidade fazem com que a sua utilização na
construção se limite quase exclusivamente ao acabamento de paredes e tectos interiores e ao fabrico de
divisórias (VEIGA et al, 1995). A espessura total do revestimento estucado aplicado de forma tradicional
sobre paredes comuns estará entre 19 e 33 mm (SILVEIRA, 2000), dependendo fundamentalmente do
sistema de revestimento utilizado, que, por sua vez, obedece a razões de ordem funcional.
Dentro dos estuques tradicionais, existem vários tipos de revestimento (VEIGA et al., 1995):
o pasta de gesso (pasta de gesso puro);
o argamassa de gesso (gesso e areia);
o gesso e cal apagada (com ou sem areia).
2.4.2.2 Constituição
Tradicionalmente, os revestimentos de gesso aplicam-se em Portugal após o suporte se achar revestido por
um reboco, cuja função é a de regularizar e preparar a superfície para a execução do acabamento. Ainda
assim, se o suporte for de natureza muito irregular, como é exemplo a alvenaria de pedra grosseira (situação
frequente apenas em edifícios antigos), é necessário efectuar uma regularização prévia da superfície através
da aplicação de encasques nas zonas de maior depressão (VEIGA et al, 1995).
2.4.2.2.1 Crespido
A principal função desta camada é a preparação do suporte para a aplicação da camada seguinte, assegurando
uma boa aderência através de uma superfície rugosa. O crespido constitui-se como um estrato descontínuo,
cuja espessura máxima varia entre 3 e 5 mm, sendo constituída por uma argamassa fortemente doseada em
cimento (por exemplo, traço volumétrico 1 : 2 (cimento : areia)) e com água suficiente para se dar a
hidratação do cimento e a regularização da absorção do suporte. O crespido pode ser aplicado chapeando a
parede com uma vassoura embebida em argamassa ou mecanicamente por projecção. Aquando da execução
desta camada, o suporte deve estar limpo e humedecido (VEIGA et al, 1995).
Fasquiado de madeira
3-5 mm
10-20 mm
3-5 mm
3 mm
Crespido
Camada de base
Esboço
Estuque
No tocante à aplicação, esta deve ser iniciada após a argamassa constituinte do crespido ter sofrido a parte
principal da sua retracção de secagem inicial (mínimo de 3 dias), sendo executada de forma manual,
lançando a referida argamassa contra o suporte ou apertando-a uniformemente com talocha. Em qualquer das
situações, deve-se compatibilizar a rugosidade da superfície com a camada de acabamento a aplicar. Se a
camada de base for executada em duas camadas, essa preocupação apenas é tida em conta no reboco
(segunda camada), sendo que esta última, em condições normais, é aplicada após o emboço ter sofrido a
parte principal da sua retracção de secagem inicial e ter sido, seguidamente, humidificado (BRANCO, 1981;
VEIGA et al., 1995).
Nas situações em que foi aplicada uma armadura metálica ou de fibra de vidro, a camada de base é
obrigatoriamente executada em duas camadas, sendo a primeira aplicada sobre pressão, de forma a penetrar e
envolver a malha, e a segunda executada após secagem e endurecimento completos da primeira (VEIGA et
al., 1995).
2.4.2.2.3 Acabamento
O acabamento é aplicado em duas camadas, sendo a primeira denominada esboço e a segunda designada de
estuque, cifrando-se a sua espessura total entre 6 e 8 mm. A composição e o traço da mistura a aplicar
diferem em cada uma delas, valendo normalmente no primeiro caso 1 : 2 : 1 ou 1 : 1 : 4 (gesso para esboço,
pasta de cal apagada, areia) e no segundo valores entre 1 : 0 a 0,25 : 0 a 1 (gesso, cal apagada, areia) (VEIGA
et al, 1995).
O esboço, também denominado camada de esboçar, constitui um revestimento de regularização que prepara
a superfície para a aplicação da camada final de acabamento (estuque). Deve ser aplicado à talocha,
começando pelo bordo (inferior encostado, no caso das paredes), estendendo posteriormente a massa para a
zona superior da parede com o auxílio da talocha, evoluindo igualmente para o outro bordo da parede.
A argamassa é obtida amassando a pasta de cal e a areia, à qual se adiciona o gesso só no momento da
aplicação, devido ao seu baixo tempo de presa. Esta mistura permite um tempo de utilização de cerca de 10 a
30 minutos (VEIGA et al, 1995).
No caso das paredes, pode também ser utilizada uma técnica de pontos e mestras. Para tal, utilizando
pedaços de gesso, marcam-se pontos na parede a revestir, começando pela faixa superior da parede,
evoluindo no sentido descendente. O seu espaçamento horizontal deve ter cerca de 2 m e na vertical os
pontos devem distar entre 1,5 a 2,5 m. Seguidamente, os pontos das mesmas verticias são unidos por tiras
estreitas de argamassa, formando as mestras e, posteriormente, realiza-se o preenchimento da área entre cada
par de mestras sucessivas, alisando-se a superfície com régua (BRANCO, 1981; SILVEIRA, 2000).
O estuque, também designado de camada de dobrar ou estender, tem por finalidade conferir à superfície o
aspecto final pretendido. Para tal, esta camada deve possuir, em geral, um acabamento liso, embora possa
incorporar molduras e ornatos, sendo considerado, neste caso, um revestimento decorativo. À semelhança do
esboço, o estuque é igualmente aplicado à talocha. Porém, tratando-se da camada final do revestimento, ao
seu acabamento é exigido um maior rigor de execução, razão pela qual esta camada é finalizada com a colher
de estucador ou por meio de uma pequena colher a que se dá o nome de colheril. Em presença de pasta
simples de gesso, a amassadura realiza-se numa vasilha larga, onde se coloca previamente a quantidade de
água necessária (50 a 70% do volume de gesso, cerca de 18 litros de água para 25 kg de gesso), na qual se
espalha o gesso em pó em camadas delgadas até a saturarem, momento em que se mistura rapidamente a
pasta, aplicando-a de imediato. Por vezes, é adicionada cal apagada ao gesso ou este é amassado com água
de cal, com o objectivo de diminuir a sua expansibilidade, aumentar a sua dureza depois de seco e/ou por
razões de ordem económica (a cal é mais barata do que o gesso) (VEIGA et al, 1995; SILVEIRA, 2000;
SEGURADO, s. d.).
2.4.2.2.4.1 Polimento
Esta operação efectua-se humedecendo a superfície do estuque, que se deve apresentar previamente seca,
esfregando posteriormente com firmeza o talco ou pó de jaspe muito fino, recorrendo para o efeito a um
pedaço de feltro embebido em água de sabão. Este tratamento conferia endurecimento superficial e a
colmatação da porosidade (VEIGA et al, 1995; SILVEIRA, 2000).
2.4.2.2.4.2 Pintura
O revestimento final por pintura é aplicado quando, estando em presença de estuque branco (sem pigmentos
nem impurezas), se pretende um acabamento a cores, ou este se encontre localizado em espaços de humidade
persistente, sendo aconselhado, neste último caso, o emprego de uma tinta impermeável à água. Este tipo de
acabamento carece, porém, de algumas exigências quanto ao estado da superfície a pintar, como seja o facto
desta se apresentar liberta de partículas e de pó, sem pulverulências superficiais, rachas ou estrias profundas
de forma generalizada, nem apresentar defeitos que não possam ser corrigidos pelos trabalhos normais de
preparação. Tradicionalmente, as tintas eram diluídas em água, cola ou óleo, originando, respectivamente a
pintura a cal (ou pintura a água), a tinta de cola (ou pintura a têmpera) e a tinta de óleo (VEIGA et al, 1995).
Figura 2. 11: Molduras em torno de ornato Figura 2. 12: Paredes coloridas e Figura 2. 13: Ornatos pintados
moldado em tecto estucado ornatos moldados em tecto estucado em parede estucada
A ornamentação do estuque era também feita através da pintura a fresco, isto é, recorrendo a desenhos de
cores diferentes executados sobre a base ainda húmida,
húmida, diluindo as cores em água que, quando misturada
com o gesso e a cal, incorporam-se se no estuque em virtude das propriedades secantes e absorventes desta
última (Figura 2.14).. Esta pintura pode também ser efectuada por meio de “estampilhas”, isto é, folhas de
papel onde se encontram recortados as formas dos ornatos que se pretendem
pretendem pintar e que, após serem
ajustadas à parede, permitem a pintura desta na parte que o recorte deixa descoberto. Do mesmo modo que
na pintura de ornatos se emprega a estampilha, na pintura a traço recorre-se
recorre se ao estrapezido, ou seja, o
desenho é picado à agulha
ulha num papel
pape que posteriormente é assente sobre a parede recentemente estucada,
passando sobre ele o lápis ou o pó de carvão, que deixa na parede um ponteado escuro, sobre o qual passa
depois o pincel (VEIGA et al, 1995; SILVEIRA, 2000).
A pintura fingida sobre estuque consistia na imitação de materiais nobres, como madeiras (Figura 2.15) e
pedras naturais (Figura 2.16),, utilizados em revestimentos considerados luxuosos. Os estuques com estas
características eram vulgarmente designados de “fingidos”.. Este trabalho exigia grande precisão e
sensibilidade por parte do estucador. Em Portugal,
Portugal este tipo de acabamento é característico dos edifícios
22 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
Gaioleiros (Figura 2.17),, que ficaram associados à decadência da qualidade construtiva (SILVEIRA, 2000;
APPLETON, 2003).
Figura 2. 14: Estuque decorado com pintura Figura 2. 15: Formação dos veios em pintura fingida,
imitando
ando madeira (SILVEIRA, 2000)
Figura 2. 16: Pintura em tecto estucado e faixa Figura 2. 17: Pintura fingida em edifício
edif Gaioleiro
estucada em parede (em execução), imitando pedra
natural
2.4.2.2.4.5 Escaiola
Esta técnica consiste na imitação de mármore e de outras pedras naturais, através da impregnação de cores
nas pastas e argamassas
sas de estuque. A escaiola realizava-se
se pela preparação de partes de argamassa de
diversas tonalidades, que eram depois misturadas e cortadas em fatias ou tiras no estado plástico, que se
aplicavam
vam por aperto à colher, com espessura final pouco acima de 3 mm. Era desta forma criado o
desenvolvimento das tonalidades que distinguiam as cores de fundo, os veios, manchas e outras
“imperfeições” da pedra natural. Embora assegurasse superfícies duráveis e fáceis de limpar, esta técnica era
muito onerosa (SILVEIRA, 2000).
2.4.2.3.1 Suportes
De um modo geral, as paredes das edificações antigas que habitualmente eram estucadas em Portugal, podem
agrupar-se
se em três grandes grupos: as paredes de alvenaria, os frontais e os tabiques (Figuras
( 2.18 a 2.20).
As paredes de alvenaria eram constituídas por blocos de pedra e tijolo cerâmico, geralmente aglomerados
com argamassa de cal e areia. Os frontais e os tabiques são paredes características da construção Pombalina.
As primeiras tinham função estrutural, sendo constituídas por uma estrutura mista de madeira e alvenaria e,
após o terramoto de 1755, passaram a incorporar a Gaiola Pombalina,, que era uma estrutura com esqueleto
em madeira com elementos horizontais, verticais e diagonais (formando as cruzes de “Santo
“ André”) e um
núcleo em alvenaria, formado por cal, blocos de pedra e tijolo e, em alguns casos, entulho resultante do
efeito nefasto do referido sismo nas construções existentes.. Os tabiques eram paredes com função de
compartimentação, constituídas por tábuas colocadas na vertical.
ver No entanto, a aderência do reboco à
madeira não era suficiente, se não houvesse o cuidado de tornar áspera, picada ou mesmo endentada.
endentada Como
efeito, a ligação do reboco às paredes era normalmente feita por fasquias horizontais (Figura ( 2.20)
(SILVEIRA, 2000; SILVEIRA; VEIGA; BRITO, 2002; AGUIAR; PALHA, 2004).
Assim, no caso dos tectos, até aos anos 40 do séc. XX, o fasquiado era pregado directamente sob as vigas de
madeira que constituíam o pavimento do piso superior ou a uma estrutura de madeira independente,
denominada vigamento de esteira, na direcção perpendicular às vigas em questão. Como tal, contrariamente
ao que se passava nas paredes, nos tectos o revestimento estucado dispensava a aplicação de uma camada de
reboco. Ainda assim, a partir de finais do séc. XIX, a aplicação do fasquiado entraria em desuso, dando lugar
à utilização de placas de estafe, as quais eram pregadas em estruturas engradadas de madeira (Figura 2.21)
(SILVEIRA; VEIGA; BRITO, 2002).
Esboço
Estuque
Tabique
Placa de estafe
Não obstante a sua vocação para os referidos suportes, característicos da construção antiga, pode-se afirmar
que os estuques tradicionais possuem condições que lhes permitem ser aplicados em qualquer tipo de
suporte, desde que sejam utilizadas camadas inferiores adequadas, em número e proporção dos seus
constituintes. Em VEIGA et al., 1995, são distinguidos três tipos principais de suportes:
o suportes contínuos - a aplicação dos estuques faz-se após aplicação de um reboco; dentro deste tipo de
suporte, distinguem-se os suportes de betão e as alvenarias de tijolos e blocos de argila e betão; os
primeiros são suportes fortes, de baixa ou média porosidade e pequena ou média sucção, dependentes da
densidade; a aderência do reboco ao betão é variável consoante a superfície do mesmo, que por sua vez
está muito dependente do tipo de cofragem utilizado; para aprumar a aderência em superfícies
demasiado lisas, é necessário um tratamento da superfície do betão à base de ligantes; as alvenarias
possuem, em geral, alguma sucção e aderência mecânica, com excepção das alvenarias de tijolos ou
blocos de elevada densidade, que podem necessitar de um tratamento com ligantes, ou das alvenarias de
betão leve, onde se deve ter particular cuidado para que o reboco não seja mais forte do que o suporte,
devido a eventuais movimentos de retracção elevados deste;
o suportes de placas ou painéis - distinguem-se os painéis ou placas de gesso (estafe) e as placas de
cortiça ou lã de vidro; os primeiros dispensam a aplicação de reboco e a execução do estuque neste tipo
de suportes faz-se com pasta de gesso, tanto no esboço como na camada final, dita de dobrar (Figura
2.21); as juntas entre as placas de gesso são cobertas por enchimento a gesso; porém, o grau de
humidade das placas não deverá ser muito elevado, pois tal situação causa fissuração do acabamento,
nem muito baixo, condição que deixa transparecer as juntas entre placas; por outro lado, os suportes de
placas de cortiça ou lã de vidro, quando secos, não apresentam risco de retracção na secagem; as placas
de cortiça têm baixa sucção e aderência variável, que pode ser aumentada através da aspersão de uma
pasta fluida de cimento e areia ou mediante uma rede de arame galvanizado agarrada à superfície; as
placas de lã de vidro têm baixa sucção e boa aderência; no entanto, quando são fixas a lajes de betão e
se pretende revesti-las antes da sua secagem completa, é necessário o reforço das juntas com uma rede
de metal ou a sua incorporação no revestimento, de forma a evitar a fissuração do revestimento segundo
as juntas;
o suportes de engradados - requerem a aplicação de uma camada de regularização com o propósito de dar
continuidade ao suporte, embora forneçam uma boa aderência global; perante engradados metálicos, é
necessária a aplicação de um tratamento anti-corrosivo (pintura com tinta anti-corrosiva ou tratamento
metálico adequado, como a galvanização).
2.4.2.3.2 Locais
Os estuques tradicionais são vocacionados para revestir paramentos interiores de paredes e tectos de locais
secos de utilização individual ou colectiva, desde que neste último caso se situem pelo menos 2 m acima do
nível do piso já que, caso contrário devem receber um tratamento adequado. O uso deste tipo de revestimento
é desaconselhado em locais que possam estar sujeitos à acção intensa ou prolongada da chuva (VEIGA et al,
1995).
Deve garantir-se que a temperatura ambiente no momento da aplicação do revestimento seja de, pelo menos,
2 ºC e a temperatura do suporte esteja compreendida entre 5 e 40 ºC. Os suportes devem apresentar-se secos
e isentos de poeiras, eflorescências ou óleos que possam prejudicar a aderência das camadas. As
irregularidades do suporte que não sejam susceptíveis de serem vencidas com as camadas de regularização
devem sofrer um tratamento prévio, de desbaste no caso de saliências, ou de aplicação local de um encasque,
se se tratar de reentrâncias. A descontinuidade do suporte merece igualmente atenção especial, isto é, nos
suportes de natureza diferente justapostos, a boa prática implica a incorporação, sobre a junta, de uma rede
metálica protegida contra a corrosão ou uma tela de fibras vegetais ou fibra de vidro, com pelo menos 15 cm
para cada lado da mesma, minimizando, deste modo, o risco de fendilhação (VEIGA et al, 1995).
Na fase de planeamento da obra, deve ser previsto o tempo de execução das camadas, bem como o intervalo
de tempo entre elas; neste caso, salienta-se a importância das camadas que contêm cimento se encontrarem
bem secas no momento da aplicação do acabamento, com o propósito de eliminar a possibilidade do gesso
reagir com o cimento, formando sais expansivos. É também necessário prever um intervalo de tempo
adequado para que se dê o assentamento das alvenarias, em geral cerca de um mês. Além disso, os trabalhos
devem ser escalonados de modo a que as superfícies estucadas não possam vir a sofrer danos devido à
natureza das obras a realizar posteriormente, nomeadamente a exposição à intempérie. Quaisquer alterações
à obra devem ser executadas antes de os paramentos terem os acabamentos finais prontos. Devem marcar-se
em obra os paramentos que serão acabados em estuque tradicional, de modo a efectuar a aplicação das
camadas subjacentes adequadas. Embora, do ponto de vista do ambiente, não seja uma medida conservadora,
não se deve reutilizar gesso que já tenha feito presa, mesmo com a adição de gesso fresco, pois conduz ao
aparecimento de fendilhação. A água de amassadura deve ser potável sempre que possível, não se devendo
em caso algum utilizar água salgada ou salobra, e a areia não deve conter sais solúveis ou resíduos em
suspensão. Todos os instrumentos a utilizar na aplicação das várias camadas se devem encontrar em muito
bom estado de limpeza, especialmente os utilizados nas camadas finais do estuque, assim como todos os
elementos metálicos susceptíveis de estar em contacto com o revestimento devem ser protegidos através da
aplicação de uma tinta anti-corrosiva ou com um tratamento metálico adequado, como a galvanização. Nos
ângulos convexos, recomenda-se a utilização de protectores de esquinas, cantoneiras metálicas (neste caso,
estas peças devem ser protegidas contra a corrosão) ou plásticas, fixadas às arestas por chumbagem de gesso
(VEIGA et al., 1995 e FERNANDES, 2000).
2.4.3.1 Generalidades
Os estuques pré-doseados de gesso são constituídos por misturas pré-doseadas em fábrica de gesso de
granulometria fina, cal apagada (eventualmente), cargas minerais, adjuvantes e, em alguns casos, outros
elementos, tais como fibras minerais (VEIGA et al, 1995).
Este tipo de revestimento apresenta-se sob a forma de pó, ao qual apenas há a necessidade de adicionar água,
na dosagem recomendada pelo fabricante. A resistência à tracção do revestimento varia na razão directa da
espessura do mesmo, no entanto, uma espessura excessiva faz aumentar o peso próprio do revestimento e a
sua retracção diferencial, podendo originar perdas de aderência ou mesmo fissuras. Como efeito, há que
determinar um intervalo de variação da espessura que assegure uma resistência à tracção mínima (para que o
RIEC não fique muito susceptível à fendilhação), que limite a retracção diferencial e cujo peso próprio seja
facilmente vencido pela aderência ao suporte, o que normalmente é conseguido com uma gama de espessuras
entre 10 a 20 mm. Os estuques pré-doseados de gesso são aplicáveis por projecção mecânica ou
manualmente, assegurando, por si só, a regularização e a planeza dos paramentos interiores de paredes e
tectos, embora possa exigir um revestimento decorativo ou resistente à água, por exemplo por pintura, de
modo a cumprir as funções a que se destina, do ponto de vista estético e de resistência a determinadas acções
específicas (VEIGA et al, 1995; VEIGA, 1997; 2006c; LNEC, 2006d; LNEC, 2007).
VEIGA et al., (1995) afirmam que os revestimentos não-tradicionais com base em gesso são globalmente
classificados como revestimentos de regularização, uma vez que a sua principal função consiste em conferir
ao paramento as condições requeridas de planeza e verticalidade, materializadas através da camada de
regularização, devendo igualmente satisfazer as exigências de regularidade superficial. Não obstante a sua
função principal, o estuque exerce igualmente funções de acabamento através da camada de acabamento, que
sucede à de regularização. As suas características não lhes permitem dispensar, em geral, um acabamento
final por pintura, realizado normalmente com tintas aquosas correntes do tipo não texturado, a escolher em
função das exigências dos locais de aplicação previstos, proporcionando igualmente um aspecto estético
compatível com as exigências de conforto visual (LNEC 2006c; LNEC, 2006d; LNEC, 2007).
Os produtos com base em gesso são incluídos na classe A1 de reacção ao fogo (não combustível) sem
necessidade de ensaio, desde que possuam menos de 1% (em peso ou volume) de material orgânico, devendo
ser ensaiados segundo a norma EN 13501, caso não cumpram essa regra. A determinação do teor de matéria
orgânica pode ser feita com base na norma ISO 3049. A resistência ao fogo e o isolamento acústico são
características que dependem do sistema de revestimento e não do produto que o constitui. A condutibilidade
térmica varia essencialmente com as cargas constituintes do revestimento, oscilando entre 0,18 e 0,56
W/(m.K), valores correspondentes a densidades do produto em pó de, respectivamente, 600 e 1500 kg/m3.
Os produtos em questão não contêm, em princípio, substâncias perigosas, de modo que a sua aplicação não
envolve riscos para a saúde, para além dos inerentes ao manuseamento de produtos pulverulentos com base
em gesso (CEN, 2005; LNEC, 2006d e LNEC, 2007).
A água utilizada na amassadura dos produtos de regularização e acabamento deve ter um teor de matéria em
suspensão e de sais dissolvidos inferior a, respectivamente, 5 e 30 g/l. Nestas condições, a água potável é, em
princípio, adequada, sendo fortemente desaconselhada a utilização de água do mar ou de água salobra
(VEIGA et al, 1995).
2.4.3.2 Constituição
eventualmente cal apagada (Ca(OH)2). Quanto às cargas, estas são constituídas normalmente por silicatos
expandidos (perlite), areia siliciosa bem limpa, seca e calibrada e/ou pó de pedra, geralmente de calcário. Os
adjuvantes constituintes são retardadores de presa, plastificantes e retentores de água. De forma a melhorar o
desempenho do revestimento, estas misturas podem ainda incorporar outros elementos, tais como micro-
fibras minerais, as quais devem ser hidrófilas, imputrescíveis e quimicamente neutras, favorecendo a
secagem e carbonatação do RIEC em profundidade. (VEIGA et al, 1995; LNEC, 2006d; LNEC, 2007).
Quando o revestimento é deixado à vista, os produtos que constituem a camada de acabamento incorporam
pigmentos, normalmente de cor branca (ex: litopon, branco de zinco e dióxido de titânio, os quais são
misturados, a seco, com o gesso, procedendo-se posteriormente à amassadura de modo corrente. A coloração
da massa tem as vantagens de não ser afectada por factores do tipo mecânico (como golpes ou arranhões) e
manter a taxa de evaporação do vapor de água, embora se encontre mais susceptível a todas as outras acções
(FERNANDES, 2000).
Assim, posteriormente à execução desta camada, é aconselhado um acabamento final por pintura, adequado
ao tipo de espaço em que é aplicado, no que diz respeito às funções decorativas e de resistência às acções de
degradação inerentes ao uso, particularmente no tocante à acção de choques, sujidade, atrito e água. Para tal,
na escolha do sistema de pintura, deve-se recorrer ao fabricante do revestimento, salientando que, em
qualquer situação, as tintas à base de óleo nunca devem ser aplicadas em estuques que tenham cal na sua
composição, pois, em presença de humidade, podem ocorrer os seguintes fenómenos, por ordem decrescente
de gravidade (FERNANDES, 2000; VEIGA et al, 1995):
o formação de bolhas de água e corrosão da pintura;
o amolecimento da pintura, tornando-a pegajosa;
o empolamento (descolamento, abaulamento ou destacamento) da pintura, sem causar danos relevantes ao
estuque.
Camada de acabamento
Camada de regularização
Alguns produtos destinados à camada de regularização são também comercializados a granel, em cisternas,
para armazenagem em silos (Figura 2.24).
2.4.3.4.1 Suportes
Os produtos destinados a executar a camada de regularização podem ser aplicados directamente sobre a
generalidade dos materiais constituintes dos paramentos interiores de paredes e tectos, nomeadamente
alvenarias não-rebocadas de tijolo (Figura 2.25), de blocos de betão de agregados correntes, de pedra
natural, de blocos de betão de argila expandida, de blocos de betão celular autoclavado, betão moldado em
obra (Figura 2.26) e poliestireno extrudido (Figura 2.27). A sua aplicação em revestimentos de edifícios
antigos está condicionada a uma consulta prévia ao fabricante. Em alguns produtos é ainda viável a aplicação
sobre poliestireno expandido. No caso dos tectos, os revestimentos não-tradicionais de gesso podem revestir
Figura 2. 25: Estuque de gesso Figura 2. 26: Estuque de gesso Figura 2. 27: Estuque de gesso
aplicado sobre alvenaria de aplicado sobre betão moldado aplicado sobre poliestireno
tijolo extrudido
Os suportes devem assegurar uma regularidade compatível com as espessuras de revestimento da ordem de
10 a 20 mm (podendo atingir um máximo de 25 mm). mm) Caso
aso contrário a aplicação de revestimentos pré-
pré
doseados de gesso torna-se anti-económica,
económica, perdendo competitividade em relação às soluções tradicionais
(VEIGA et al., 1995; LNEC 2006b).
006b).
Um aspecto importante a ter em conta na fase de projecto é o facto de estes revestimentos não serem
adequados para suportes susceptíveis de ultrapassar os 35 ºC de temperatura, como pode ser o caso da face
inferior de lajes de pavimento aquecidas (VEIGA
( et al., 1995).
2.4.3.4.2 Locais
Os estuques pré-doseados
doseados de gesso são especialmente vocacionados para revestir paramentos interiores de
paredes e tectos de locais secos de utilização
utilização individual ou colectiva embora, o campo de aplicação varie de
acordo com o acabamento final utilizado (por pintura ou de outro tipo). A aplicação em locais de utilização
colectiva até 2 m acima do nível do piso fica, no entanto, condicionada à utilização
uti zação de um sistema de pintura
- ou outro tipo de acabamento final - que lhes confira um apropriado complemento de resistência ao atrito e
às acções da água e da sujidade, como por exemplo um esmalte acrílico. Analogamente, estes revestimentos
podem ser aplicados em locais húmidos, mal ventilados ou sujeitos a lavagens frequentes, desde que se
seleccione um sistema de pintura adequado, devendo a tinta possuir propriedades fungicidas, a menos que já
tenha sido incorporado um adjuvante fungicida na camada de de acabamento do estuque.
estuque No entanto, o emprego
destes revestimentos em locais de grande movimento de pessoas e/ou cargas, como por exemplo as áreas
destinadas às escadas, não é aconselhado devido à sua baixa capacidade para absorver cargas de impacto nos
planos revestidos (VEIGA et al., 1995; DIAS e CINCOTTO, 1995; LNEC, 2006d; LNEC, 2007).
Camada de acabamento
com base em gesso
Camada de
regularização com
base em cimento
Com o objectivo de evitar a formação de manchas de humidade e/ou o amolecimento do revestimento (ainda
que reversível), decorrente da exposição prolongada à acção da água, aconselha-se
aconselha a criação prévia de
condições mínimas de protecção à penetração da chuva, pelo menos em épocas do ano em se que se
justifique tal precaução (VEIGA et al., 1995; LNEC, 2006d; LNEC, 2007).
substancialmente mais pequeno, como é exemplo o que consta em LNEC (2006c), cuja utilização é
desaconselhada após 60 dias, a contar da data de fabrico. Além disso, os revestimentos deste tipo não podem
ser aplicados após o início de presa da pasta, que pode ser muito variável, principalmente consoante o tipo de
produto (regularização ou acabamento), o fabricante e a relação ponderal água de amassadura / produto em
pó. A título indicativo, apresentam-se, no Quadro 2.5, os valores extremos verificados dos tempos de início
e fim de presa paras as camadas de regularização e acabamento, após análise dos documentos de
homologação e aplicação do LNEC constantes na bibliografia.
Após análise do Quadro 2.5, é possível concluir que os produtos destinados à regularização apresentam
tempos mínimos de início e fim de presa inferiores aos correspondentes para os produtos de acabamento.
Com efeito, apesar das possíveis variações referidas quanto aos valores do tempo de presa, é razoável
concluir que os produtos destinados ao acabamento permitem um intervalo de tempo maior para aplicação, o
que de facto se justifica uma vez que, além de serem, na sua grande maioria, aplicados manualmente e o
processo ser, por isso, mais moroso relativamente à aplicação por projecção mecânica, a operação de
acabamento é mais delicada do que a de regularização, exigindo maior rigor na sua execução.
Quadro 2. 5: Tempos mínimos e máximos de presa, obtidos a partir dos documentos de homologação e aplicação do LNEC
constantes em §8.3
TIPO DE
CARACTERÍSTICA VALORES FONTE
PRODUTO
Início 12 minutos DH 576
Tempo Regularização
Fim 2 horas DA 5
mínimo de
Início 35 minutos DA 5
presa Acabamento
Fim 4 horas e 20 minutos DA 4
Início 2 horas e 6 minutos DH 856
Tempo Regularização
Fim 5 horas e 15 minutos DA 4
máximo de
Início 2 horas e 50 minutos DA 4 e DA 5
presa Acabamento
Fim 7 horas e 30 minutos DA 5
O equipamento e os utensílios de aplicação devem ser lavados com água, sempre que ocorra uma interrupção
do trabalho (VEIGA et al., 1995; LNEC, 2006d; LNEC, 2007).
Todos os elementos metálicos em contacto directo com o estuque devem estar protegidos contra a corrosão,
nomeadamente através de metalização inoxidável, anodização de alumínio ou pintura compatível com o
estuque. Esta medida é tomada uma vez que, com pH neutro, a pasta de gesso promove a corrosão de
componentes aço-carbono em presença de humidade (HENAO e CINCOTTO, 1997; FERNANDES, 2000).
No caso de revestimento armado, a espessura média do recobrimento das redes para os revestimentos que as
incorporam deve ser de 6 mm e, no caso de cabos eléctricos, de 4 mm (VEIGA et al., 1995)
As saliências do suporte cuja altura ultrapasse um terço da espessura média do revestimento devem ser
previamente desbastadas e as irregularidades em reentrância superiores a 10 mm devem ser previamente
preenchidas com massa de gesso ou, se ultrapassarem 20 mm, através de encasques com casquilho de tijolo
embebido em massa de gesso (Figura 2.30) (VEIGA et al., 1995; FERNANDES, 2000; LNEC, 2006d;
LNEC, 2007).
Figura 2. 30: Características de planeza a verificar no suporte aquando aplicação de estuque (FERNANDES, 2000)
Se a superfície do suporte se encontrar muito lisa e pouco absorvente (como são exemplos o poliestireno
expandido e alguns casos de betão moldado em obra), é recomendada a aplicação prévia de um primário com
função de aderência, constituído por uma dispersão polimérica com cargas ou através da picagem da
superfície (LNEC, 2006d; LNEC, 2007).
2.4.3.5.4 Amassadura
A amassadura dos produtos destinados à regularização e acabamento deve ser feita nos próprios locais de
aplicação, não sobrecarregando os meios de transporte horizontal ou vertical, facilitando assim o movimento
em obra de outros materiais que necessitam de ser preparados em locais distantes da sua aplicação (DIAS e
CINCOTTO, 1995).
Apesar de a camada de acabamento mento ser efectuada por aplicação manual, a sua amassadura é feita
mecanicamente em recipiente próprio previamente limpo (por exemplo, um balde de chapa zincada ou de
polietileno) (Figura 2.32),, no qual se introduz o pó (Figura 2.33) e, posteriormente, a água
á na proporção já
definida (Figura 2.34),, estando associado a um misturador mecânico, responsável pela homogeneização da
pasta (Figura 2.35).. Após a conclusão da amassadura, o tempo de utilização da pasta é de cerca de 1 hora
(VEIGA e tal, 1995; LNEC, 2006d; LNEC, 2007).
Figura 2. 36: Tratamento mecânico do suporte, efectuando o Figura 2. 37: Projecção da pasta em camadas
desempenamento do suporte e preenchimento de cavidades com massa de horizontais sucessivas
gesso
Porém, em paramentos muito irregulares que exijam espessuras de revestimento superiores a 20 mm,
aconselha-se
se a aplicação de duas camadas, sendo a primeira mais diluída, de forma facilitar a penetração da
massa nas depressões existentes no suporte. Após o início do endurecimento desta, aconselha-se
aconselha a passagem
36 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
de uma talocha denteada de forma a aumentar a rugosidade e, portanto, a aderência à camada subsequente. A
segunda camada de regularização deve ser aplicada antes da secagem completa da anterior, seguida
seguid do
alisamento da massa com régua e, após o início do seu endurecimento, é apertada e raspada com talocha
metálica, de forma a melhorar a regularização e desempeno da superfície (VEIGA e tal, 1995;
1995 LNEC, 2007).
Figura 2. 38: Alisamento com régua Figura 2. 39: Alisamento com régua de Figura 2. 40: Verificação da
metálica na zona corrente cantos nas arestas reentrantes do verticalidade e horizontalidade da parede
paramento
Figura 2. 41: Alisamento da camada de regularização com Figura 2. 42: Aperto e raspagem da camada de regularização
espátula com talocha metálica
Figura 2. 43: Aplicação da camada de acabamento Figura 2. 44: Ajuste da massa com Figura 2. 45: Ajuste da massa com
à talocha espátula na zona corrente e arestas régua de cantos (ou “asa delta”,
salientes do paramento termo usado na gíria da construção)
nas arestas reentrantes
Em (a), (b), (c) e (d), o RIEC deve ser armado com rede de fibra de vidro (com protecção anti-alcalina)
anti ou
metálica (protegida contra a corrosão),
corrosã com dimensão da malha de 5 x 5 mm, aplicada sobre o suporte (neste
caso, a rede deve ser pontualmente fixa ao suporte por meio de buchas,
buchas, cravos ou argamassa) ou embebida
entre duas demãos da camada de regularização, solução mais conservativa (VEIGA et al., 1995), devendo
abranger toda a área crítica e excedê-la
excedê em pelo menos 15 cm (Figura 2.47).. Em alternativa, nas situações
(b) e (d),, o RIEC pode ser simplesmente esquartelado nas zonas de transição. Em (a), a rede deve aplicar-se
a 45ºº relativamente à horizontal com as dimensões ilustradas na (Figura 2.46) (VEIGA et al., 1995; VEIGA,
1998; FERNANDES, 2000; LNEC, 2006d; LNEC, 2007). 2007
Em (e), aconselha-se
se a utilização de perfis de plástico perfurados pois, além de permitirem um acabamento
final mais rigoroso, conferem simultaneamente maior resistência a choques.
choques Estes perfis devem aplicados
aquando da execução do revestimento, ficando parcialmente embebidos numa fina camada constituída pelos
produtos destinados à regularização do paramento (Figura
( 2.48) (FERNANDES, 2000; LNEC, 2006d;
LNEC, 2007).
3
A título de exemplo, refere-se
se o módulo de elasticidade aos 28 dias obtido na camada de regularização do estuque pré-doseado
pré de gesso ensaiado
em LNEC, 2007 (Documento de Aplicação LNEC mais recente sobre este tipo de revestimento), cujo valor evidenciado foi de 5000 ± 100 N/mm2.
38 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
Figura 2. 46: Reforço dos vértices de vãos com rede de fibra de vidro e perfis metálicos
perfurados (Adaptado de VEIGA, 1998)
Camada de acabamento
Rede de reforço
Camada de regularização
Parede de alvenaria
Pilar de betão
15 cm 15 cm
Figura 2. 48: Reforço de arestas salientes com perfis de plástico perfurados (adaptado de
FERNANDES, 2000)
Em (f),, os remates são frequentemente feitos através de alhetas ou sancas. As primeiras são constituídas por
uma reentrância
ntrância no revestimento, feita com o auxílio de um esquadro de madeira chapeado ou de perfis
plásticos, de modo a criar um encaminhamento de eventuais fissuras. As sancas constituem uma cimalha
convexa de gesso ou poliuretano, de cor semelhante à camada de acabamento, podendo ser fabricadas “in
situ” ou pré-fabricadas (Figura 4.499) (FERNANDES, 2000).
mecânica, o consumo foi, em média, de 12 kg/m2, podendo, no entanto, variar com as características
superficiais do suporte, no que diz respeito a material, planeza e regularidade superficial. O consumo médio
dos produtos destinados à camada de acabamento foi de 0,80 kg/m2, variando essencialmente com o método
de aplicação.
A armazenagem em obra deve ser efectuada em silos metálicos estanques ou nos sacos de origem, devendo,
neste último caso, ser mantidos em locais secos, cobertos e medianamente ventilados (LNEC, 2006d; LNEC,
2007).
2.4.3.6 Manutenção
Para que os RIEC atinjam a sua vida útil sem perda de desempenho ou, pelo menos, satisfazendo níveis de
qualidade mínimos durante a fase de exploração do edifício, é necessário efectuar vários tipos de
intervenções nesse período que, no caso dos RIEC, se destacam: limpezas periódicas, inspecções e
reparações localizadas (VEIGA et al., 1995; FLORES-COLEN e BRITO, 2003; SILVA, 2004).
Genericamente, podem considerar-se duas estratégias de manutenção (Quadro 2.6): manutenção pró-activa,
que tem como objectivo intervir antes da quebra, degradação ou perda de capacidade, e manutenção reactiva
(também denominada de resolutiva, correctiva ou curativa), que consiste em deixar operar o mecanismo de
degradação do elemento e intervir após a manifestação da anomalia (LOFORTE, 2008).
As operações de limpeza, embora muitas vezes subestimadas, assumem grande importância na constância de
qualidade do revestimento, nomeadamente a nível estético, e na prevenção de ocorrência de outras
anomalias, nomeadamente na evolução de sujidades. Além disso, a ausência de limpeza permite a formação
de uma película de sujidade à face do revestimento, que diminui a sua permeabilidade ao vapor de água.
Com efeito, esta situação favorece a retenção de humidade com origem exterior, podendo, em última análise,
provocar perdas de aderência (descolamento, abaulamento ou destacamento) no RIEC. A limpeza corrente
dos paramentos depende do acabamento final. No caso dos revestimentos pintados, esta é feita por simples
desempoeiramento a seco ou, se necessário, por lavagem com esponja ligeiramente humedecida em água,
simples ou adicionada de uma pequena quantidade de sabão líquido neutro. Paradoxalmente, a limpeza por
via húmida pode igualmente afectar o revestimento, devido essencialmente à necessidade do contacto da
água com o RIEC, podendo diminuir a sua vida útil se as condições de ventilação forem insuficientes e / ou o
estado de fendilhação for elevado. Os revestimentos deixados à vista devem ser limpos através de uma
lixagem leve da zona enodoada. Porém, estas técnicas de limpeza são eficazes apenas contra o enodoamento
decorrente da utilização normal de espaços de edifícios de habitação. Em caso de ineficácia destes métodos,
aconselha-se a consulta aos fabricantes do revestimento e/ou a aplicação dos procedimentos descritos em
§4.2.1, onde são descritos métodos de limpeza com mais pormenor (LUCAS, 1990c; VEIGA et al., 1995;
FLORES-COLEN e BRITO, 2003; LNEC, 2007).
As operações de inspecção devem ter metodologia própria e ser sustentadas por adequadas técnicas de
diagnóstico sobre o estado de degradação de cada revestimento (estado do acabamento, estado de limpeza,
aderência ao suporte, existência de fissuras, entre outras). As operações de inspecção e diagnóstico a RIEC
com base em gesso são descritas em pormenor em PEREIRA (2008). No entanto, estas acções devem ser
estendidas à envolvente do revestimento, com vista a detectar a ocorrência de fenómenos que são a causa de
anomalias evidenciadas ou potenciais, nomeadamente infiltrações ou condensações. Desta forma, as acções
são realizadas no sentido de antecipar a anomalia ao invés de a corrigir, isto é, a operação de manutenção é
As reparações localizadas devem ser precedidas não só por acções de inspecção e diagnóstico, como também
pela análise e correcção das causas das degradações surgidas, para o caso de manutenção reactiva, de forma a
evitar o reaparecimento das mesmas. Estas operações impedem a propagação das anomalias ao restante
revestimento, podendo, inclusivamente, melhorar o nível de qualidade do mesmo, aumentando igualmente o
ciclo de vida deste. Como exemplo desta situação, refira-se a protecção de arestas salientes com perfis de
plástico em zonas particularmente sujeitas a acções de choque. Segundo os documentos de homologação e
aplicação do LNEC consultados, a reparação do revestimento em áreas localizadas dos paramentos pode ser
efectuada recorrendo à aplicação dos próprios produtos de revestimento, após extracção completa dos
produtos antigos nessas áreas. Porém, as técnicas adoptadas devem ser adequadas a cada anomalia, podendo
exigir intervenções com maior ou menor grau de profundidade ou mesmo de natureza diferente. Assim, de
forma a obter-se uma correlação mais rigorosa entre a técnica de reparação e a anomalia em questão,
aconselha-se a leitura dos procedimentos descritos em §4, no qual esta temática é desenvolvida em pormenor
(VEIGA et al., 1995; FLORES-COLEN e BRITO, 2003; FLORES-COLEN, 2003; SILVA, 2004).
Os RIEC pré-doseados de gesso, no âmbito do seu campo de aplicação, referido em §2.4.3.4, não devem
apresentar degradações permanentes quando em contacto com suportes alcalinos humedecidos, desde que o
humedecimento seja apenas temporário. Além disso, devem apresentar boa resistência aos choques, boa
aderência aos suportes, desde que tenha sido efectuado o seu tratamento recomendado, e módulo de
elasticidade moderado, fazendo prever um comportamento satisfatório à fendilhação (LNEC, 2006d; LNEC,
2007).
Contudo, os revestimentos em questão apresentam fraca resistência às acções de atrito, à acção da água e à
formação de nódoas, comparável à de um estuque tradicional de gesso aplicado sobre alvenaria rebocada.
Estes inconvenientes podem ser resolvidos, pelo menos em parte, através da aplicação de uma camada final
que confira ao estuque propriamente dito alguma protecção contra os agentes mecânicos e químicos, razão
pela qual se verificou durante a campanha de campo, descrita em pormenor em §5., que os RIEC raramente
são deixados à vista, recebendo um acabamento final por pintura na esmagadora maioria dos compartimentos
inspeccionados. Neste caso, é, porém, necessária a escolha de um sistema de pintura compatível com o
RIEC, principalmente ao nível do módulo de deformabilidade e da permeabilidade ao vapor de água,
devendo para o efeito ser efectuada uma consulta ao fabricante do revestimento estucado (LNEC, 2006d;
LNEC, 2007).
Numa tentativa de quantificar algumas propriedades enunciadas de RIEC pré-doseados de gesso, com base
no Documento de Aplicação mais recente referente a revestimentos interiores de paredes e tectos com base
em gesso (LNEC, 2007), organizou-se, no Quadro 2.7, alguns resultados julgados relevantes para os
produtos destinados à camada de regularização, à de acabamento e ao sistema completo, os quais foram
obtidos em laboratório com uma relação ponderal de água / pó de 75%.
Salienta-se o facto de os valores apresentados possuírem carácter meramente indicativo, podendo variar de
uma forma significativa com diversos factores, nomeadamente o tipo de produto e a relação ponderal água /
pó. De facto, se se comparar os resultados obtidos em LNEC (2006d) e LNEC (2007), cujas diferenças na
realização dos ensaios foram o tipo de produto destinado à camada de regularização e uma relação ponderal
água / pó inferior em 5%, verificaram-se diferenças significativas ao nível das características mecânicas no
estado endurecido, principalmente ao nível da resistência à compressão aos 7 dias.
Os estuques com base em gesso são actualmente regulamentados pelas normas EN 13279-1: 2005, relativa às
definições e exigências de gessos e revestimentos à base de gesso, e EN 13279-2: 2004, que trata os métodos
de ensaio daqueles revestimentos. Estes documentos normativos do CEN (Comité Européen de
Normalisation), do qual Portugal faz parte, servem de base à marcação CE, referida na Directiva dos
Produtos de Construção (DPC), que permite a livre circulação dos produtos no mercado do espaço
económico europeu (EEE).
Quadro 2. 7: Características dos produtos de regularização e acabamento e do sistema completo de revestimento (LNEC, 2007)
VALORES OBTIDOS EM ENSAIOS OU
CARACTERÍSTICA UNIDADE PRODUTO
AVALIAÇÕES DO LNEC
Anteriormente à vigência das normas EN 13279, os revestimentos com base em gesso eram abrangidos por
normalização europeia e estrangeira, nomeadamente em França e Inglaterra. Da normalização francesa,
referem-se o Document Technique Unifié (D.T.U) 25.1 - relativo a revestimentos interiores em gesso - , as
normas NF B12-300, NF B12-301, NF B12-401 que estabelecem condições gerais de embalagem, entrega e
recepção e definem classificações, técnicas e especificações de ensaio de produtos de gesso para
44 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
revestimentos. Em Inglaterra, estes revestimentos são abordados nas normas BS 5492: 1977, que diz respeito
a revestimentos interiores, BS 1191-1:
1191 1973 e BS 1191-2: 2: 1973, relativas a revestimentos de gesso (VEIGA
et al., 1995). Actualmente, estes documentos perderam o carácter normativo, embora forneçam muitas
indicações relevantes para o tipo de revestimento em apreço, possuindo, por vezes, um conjunto de
exigências mais numeroso e restrito relativamente à norma EN 13279, para alguns parâmetros de d qualidade
dos mesmos.
O gesso para a construção,, que é o principal constituinte dos estuques, é objecto de várias normas
portuguesas e europeias.
2.4.4.1 Generalidades
Camada de acabamento
2ª demão da camada de regularização
Entende-se por resina sintética um polímero de alta massa molecular resultante de monómeros (substâncias
de baixa massa molecular), com dois ou mais grupos reactivos ou ligações duplas, por meio de reacção
química controlada. Por dispersão, é considerado um produto líquido que contém uniformemente
un repartido
no seu seio um produto sólido (não solúvel nesse líquido) sob a forma de pequeníssimas partículas (LUCAS,
(
1990c).
À semelhança dos estuques pré-doseados de gesso, as misturas sintéticas são aplicáveis por projecção
mecânica ou manual, mas em espessuras da ordem de 1 a 3 mm, carecendo de homologação prévia pelo
LNEC (de acordo com o artigo 17º do RGEU), por se tratar de um revestimento não-tradicional.
2.4.4.2 Constituição
Os ligantes são constituídos por resinas sintéticas, em que as mais utilizadas nos revestimentos sintéticos
correntes são as termoplásticas, cuja forma se pode modificar por aquecimento sem alteração da sua
constituição (sendo solúveis apenas em solventes apropriados), nomeadamente as pertencentes à família dos
acrilatos e dos acetatos de vinilo na forma simples ou copolimerizados, como por exemplo (LUCAS, 1990c):
o poliacetato de vinilo;
o poliacetato-co-vinilo;
o poliacetato-co-estireno;
o copolímero vinil versático acrílico;
o copolímero estireno-butadieno acrílico.
Os produtos com base em resinas acrílicas apresentam algumas vantagens relativamente aos produtos com
base em resinas vinílicas, tais como (LUCAS, 1990c):
o maior facilidade de formação da película endurecida;
o melhor aderência aos suportes, devido à menor dimensão das suas partículas e dispersão aquosa;
o maior resistência ao humedecimento prolongado e à abrasão húmida, por terem menos; necessidade de
produtos auxiliares reversíveis (como estabilizantes e molhantes), isto é, solúveis em água;
o maior resistência ao envelhecimento e ao amarelecimento pelos agentes atmosféricos;
o muito maior resistência à alcalinidade do suporte, pois são reconhecidamente insaponificáveis, o que
permite reduzir o tempo de secagem prévia dos suportes alcalinos (como, por exemplo, betão moldado
em obra);
o maior módulo de deformabilidade.
As cargas empregues nos revestimentos de ligantes sintéticos para paramentos interiores são naturais,
sobretudo de calcite (carbonato de cálcio) ou quartzo (sílica), sendo utilizadas, em menor teor, cargas de
dolomite, sulfato de cálcio hidratado, barite (sulfato de bário), talco, caulino, entre outras. A granulometria
das cargas constitui a principal diferença entre os produtos destinados à regularização e acabamento dos
paramentos interiores, devendo ser escolhidas de forma a verificar as características que a seguir se
enunciam (LUCAS, 1986; LUCAS, 1990c):
o ser adequada à espessura com que cada uma das camadas são aplicadas, sendo mais grosseira para os
produtos destinados à camada de regularização (a qual é feita em uma ou, mais frequentemente, em duas
demãos) e mais fina nos produtos constituintes da camada de acabamento (para obtenção de paramentos
macios);
o minimizar a retracção do produto aplicado em consequência da perda de água empregue na dispersão;
o evitar a formação de crateras durante a aplicação, devidas à libertação do ar contido nas reentrâncias do
suporte (como, por exemplo, os “chochos do betão”).
Os pigmentos utilizados neste tipo de revestimento são minerais ou orgânicos, apresentando, em geral, cor
branca, embora possam também ser comercializados noutras cores claras, como creme, bege, verde ou rosa,
estes últimos aplicados sempre apenas na camada de acabamento. Um pigmento deve possuir boas
características de opacidade (resulta da diferença entre os índices de refracção do pigmento e do ligante,
sendo tanto maior quanto maior for essa diferença), poder corante, finura e estabilidade à luz e ao calor
(LUCAS, 1986; LUCAS, 1990c).
A água é utilizada no fabrico destes revestimentos, devendo ser potável ou de qualidade comprovada através
da realização de ensaios (LUCAS, 1986; LUCAS, 1990c).
No âmbito dos paramentos tratados neste trabalho (paredes e tectos interiores), os adjuvantes utilizados são
(LUCAS, 1990c):
o dispersantes (ex: lecitina) - facilitam a dispersão dos produtos na fase líquida;
o molhantes (ex: ácido oleico) - favorecem o envolvimento dos constituintes sólidos pela dispersão ao
diminuir a tensão interfacial entre a fase sólida e líquida;
o espessantes (ex: sílica coloidal) - aumentam a consistência dos produtos em pasta;
o fungicidas e anti-bolores (ex: Acetoarsenieto de cobre) - impedem o ataque do revestimento por fungos
ou bolores;
o antissedimentantes (ex: bentonite) - evitam a sedimentação dos constituintes sólidos durante a
armazenagem;
o antiespumas (ex: álcool octílico) - evitam a formação de espuma durante a aplicação;
o anti-peles (ex: hidroquimona) - evitam a formação de peles à superfície dos produtos durante a
armazenagem;
o secante (ex: naftanatos de chumbo) - reduzem o tempo necessário para secagem dos revestimentos.
Contudo, de forma mais relevante do que nos estuques com base em gesso, a experiência mostra que
actualmente o estuque sintético é muitas vezes aplicado somente como camada de acabamento sobre uma
camada de reboco, vulgarmente de cimento ou mista, como é exemplo o produto descrito em LENA, 2006.
Os produtos de ligantes sintéticos para revestimento de paramentos interiores de paredes são comercializados
na forma de pastas prontas a aplicar, em embalagens / sacos de polietileno, normalmente com válvula, cuja
quantidade varia normalmente entre cerca de 25 e 30 kg, podendo, ainda assim, ser muito menor no caso dos
produtos destinados à camada de acabamento (Figuras 2.51 e 2.52). No caso dos produtos de acabamento,
cada
ada embalagem apresenta, em geral, a seguinte informação (LUCAS, 1990; CONSTRULINK;
CONSTRULINK SECIL,
2002; LNEC, 1992 e DYRUP, 2008):
2008
o designação comercial e referência do produto;
o identificação do fabricante (nome e endereço);
o quantidade de produto;
o lote de fabrico e data de produção dos mesmo;
o referência
ncia do documento de homologação ou aplicação do LNEC ou da norma aplicável.
Figura 2. 51: Embalagem de produto destinado à camada de Figura 2. 52: Embalagem de produto destinado
regularização à camada de acabamento
Os produtos destinados à camada de regularização são produzidos em cor única (branca ou marfim),
enquanto que os destinados à camada de acabamento podem também ser produzidos noutras cores claras,
como bege, creme, rosa ou marfim (LUCAS,
( 1990c).
2.4.4.4.1 Suportes
Os RIEC sintéticos são aplicáveis directamente sobre a generalidade dos materiais constituintes dos
paramentos interiores de paredes e tectos, desde que estes apresentem planeza geral e local compatível com
as espessuras
as em que são aplicados, como sejam o betão moldado, o poliestireno expandido (Figura
( 2.53,
situação, ainda assim, mais frequente em paramentos exteriores,
exteriores, devido à maior eficácia do isolamento
térmico quando aplicado pelo exterior), as argamassas hidráulicas de cal ou gesso e as alvenarias de blocos
dos seguintes materiais: betão celular autoclavado, betão de argila expandida e betão de agregados correntes
(Figura 2.54). No entanto, as irregularidades superficiais localizadas nos paramentos
paramen devem surgir em
número reduzido, não devendo ultrapassar 5 a 8 mm para as reentrâncias e 2 mm para as saliências. Podem
também ser usados para o nivelamento de superfícies texturadas para posterior repintura com uma tinta lisa
(LUCAS, 1990; LNEC, 1992; DYRUP, 2008). 2008
Figura 2. 54: Estuque sintético armado Figura 2. 53: Estuque sintético armado aplicado sobre blocos de betão de agregados
aplicado sobre poliestireno expandido correntes
48 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
2.4.4.4.2 Locais
Os revestimentos em questão são especialmente vocacionados para paramentos interiores de paredes de
espaços de espaços secos de utilização individual ou colectiva, desde que neste último se situem pelo menos
2 m acima do nível do piso. No entanto, o complemento com revestimentos particularmente resistentes às
acções de choque, atrito ou água - pintura epóxida, verniz acrílico, entre outros - permite expandir os locais
de aplicação destes revestimentos, tornando-os aptos a serem utilizados praticamente em qualquer
compartimento interior (LUCAS, 1990c; LNEC, 1992).
O equipamento e os utensílios de aplicação devem ser lavados sempre que se verifique uma interrupção de
trabalho. Além disso, recomenda-se a rejeição de produtos fabricados há mais de um ano (LUCAS, 1990c;
LNEC, 1992).
A aplicação destes produtos não envolve riscos de inflamabilidade nem de toxicidade, desde que nos locais
onde decorra a aplicação se verifique uma razoável renovação de ar. Além disso, é aconselhado o uso de
equipamento de protecção individual, nomeadamente óculos, luvas e fatos de trabalho (LNEC, 1992).
No momento da aplicação, os suportes devem estar limpos e secos (a aplicação destes revestimentos nunca
deve ser precedida de um humedecimento do suporte) e isentos de produtos friáveis ou pulverulentos, óleos e
outros que possam prejudicar a aderência do revestimento aos suportes. Ainda assim, além dos cuidados já
referidos, alguns suportes carecem de tratamento especial, obtido através da aplicação prévia de um primário
com os seguintes objectivos (LUCAS, 1986; LUCAS, 1990c):
o redução da absorção do suporte, para que este não absorva demasiado ligante, evitando, deste modo,
deficiências de coesão do revestimento;
o favorecer ou regularizar a aderência do revestimento ao suporte;
o consolidar a superfície de suportes pulverulentos ou facilmente desagregáveis;
o evitar a deterioração do revestimento por ataque de agentes do suporte.
A camada de acabamento deve ser executada após secagem total da camada de regularização, o que depende
da temperatura e estado higrométrico ambiente, intervalo nunca inferior a 48 horas. O número de demãos em
que é aplicado depende do tipo de acabamento superficial pretendido, que poderá ser liso, rolado ou
projectado. Nos dois primeiros casos, o acabamento normalmente é obtido apenas com uma demão do
produto, enquanto que no último caso é necessária uma segunda demão, efectuada com pistola de projecção,
executada sobre uma primeira demão parcialmente endurecida e previamente alisada com talocha ou espátula
metálicas. O acabamento rolado é conseguido pela passagem de um rolo adequado pelo paramento enquanto
o produto ainda se encontra fresco. Este tipo de acabamento é aconselhado quando se pretenda a aplicação
posterior de uma tinta resistente à água (como, por exemplo, uma tinta epóxida ou um verniz acrílico), pois
permite disfarçar as estrias da trincha utilizada na aplicação desses produtos. O acabamento liso é obtido
através da raspagem ou lixagem do paramento após um período de, pelo menos, 48 horas, que deverá
corresponder à secagem completa do produto. Os acabamentos liso e projectado são normalmente deixados à
vista ou pintados com tintas de dispersão não texturadas (LUCAS, 1990c; SIMMONS, 1990; LNEC, 1992 e
CONSTRULINK; SECIL, 2002; GONÇALVES, 2006).
No caso de aplicação manual, imediatamente antes da aplicação, a mistura pronta a aplicar é vertida para um
recipiente plástico ou de aço inoxidável, efectuando-se, se necessário, a sua homogeneização através de
agitação manual, adicionando água, se recomendado pelo fabricante. Durante este processo, caso sejam
detectados grumos (coagulação localizada) na mistura, o produto dessa embalagem deve ser rejeitado, pois
este facto pode ser sintomático de falta de estanqueidade da mesma. A aplicação propriamente dita é feita
apertando o produto ao suporte com o utensílio de aplicação. Após aplicação da demão, o produto é alisado
com talocha ou espátula (LUCAS, 1990c; LNEC, 1992).
50 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
Para aplicação mecânica (por projecção), utiliza-se equipamento de projecção destinado à aplicação de tintas
texturadas que, através de combinações criteriosas de diversos factores, como sejam a velocidade, pressão e
caudal, permitem desde aplicações em espessura até à aplicação em gotículas finamente divididas, para o
acabamento do tipo projectado fino. As equipas de execução deste tipo de revestimentos devem ser
constituídas por três operários, ficando um encarregado da projecção e os restantes responsáveis pelo
subsequente alisamento, o qual é efectuado com espátula metálica, que pode ser montada na extremidade de
cabos de comprimento compatível com as zonas mais elevadas a revestir, como é o caso dos tectos (evita-se,
deste modo a necessidade de escadotes). Esta dimensão fica a dever-se ao facto de a operação de alisamento
obrigar ao dispêndio de duas vezes mais tempo do que a operação de projecção (considerando que são ambas
executadas por apenas um operário) e ao facto de o alisamento ser executado imediatamente após a aplicação
do produto por projecção. Para obtenção de acabamento projectado fino, a última demão da camada de
acabamento deve ser aplicada com velocidade lenta, a baixa pressão e com o diâmetro mínimo no bico da
pistola (LUCAS, 1990; CONSTRULINK; SECIL, 2002).
Tendo como referência a informação constante em LNEC (1992), o produto de acabamento é aplicado à
razão de cerca de 2,5 kg/m2 por cada milímetro de espessura, valor que é reduzido a 1 a 1,5 kg/m2, se a sua
espessura for inferior a 1 mm.
A armazenagem em obra deve ser efectuada mantendo os produtos nas embalagens de origem, fechadas e ao
abrigo da incidência directa dos raios solares (LUCAS, 1990c; LNEC, 1992).
2.4.4.6 Manutenção
A manutenção é idêntica à dos RIEC com base em gesso, referida em §2.4.3.6, acrescentada da renovação do
revestimento, que corresponde à aplicação de uma nova camada do mesmo produto sobre o já existente.
Infelizmente, não foi possível encontrar tanta informação como a já referida para os estuque de gesso
correntes, tendo sido o documento de homologação LNEC (1992) (o único ainda em vigor para os RIEC
sintéticos) a única fonte. Apresenta-se, no Quadro 2.8, a informação retirado do referido documento, julgada
relevante.
Quadro 2. 8: Índices de resistência do sistema de revestimento constituído pelos produtos de regularização e acabamento (LNEC,
1992)
Índice de resistência
Choque Atrito
Suporte Água Sujidade
Esfera
Quadriculagem Riscagem Abrasão (min) (*)
(mm)
Betão 8 1000 500 1000 15 a,e
Alvenaria de
blocos de betão
16 1000 500 1000 15 a,e
celular
autoclavado
Alvenaria de
blocos de betão
11 1000 500 1000 15 a,e
de argila
expandida
* Processo de limpeza adoptado: esponja embebida em água com sabão líquido
Legenda: a) pó de grafite (sujidade seca); e) tinta de esferográfica (sujidade tingidora)
Os revestimentos de ligantes sintéticos para paramentos interiores de paredes não estão cobertos por
normalização nacional nem europeia (CEN). Em França, porém, estes revestimentos estão cobertos por
algumas normas, como sejam a NF T 30-608: 1981 quanto às características e as normas NF T 30-606: 1980
e NF T 30-607: 1980, quanto aos ensaios
2.5. Conclusões
O termo “estuque” é actualmente utilizado para designar uma gama de revestimentos interiores, que não
incluem apenas os revestimentos com base em gesso (que podem ser correntes ou tradicionais), mas
abrangem igualmente os revestimentos com base em ligantes sintéticos (vulgarmente denominados de
estuques sintéticos). Os estuques tradicionais referiam-se apenas à camada de acabamento do revestimento,
cabendo a um reboco a função de regularização do paramento, enquanto que, presentemente, os estuques são
aplicados directamente sobre o tosco dos paramentos, cumprindo funções não só de acabamento, mas
também de regularização
De facto, a evolução do estado de superfície dos toscos das paredes no sentido de apresentarem
sucessivamente melhores condições de planeza e desempeno, como são exemplos as paredes de betão
moldado de agregados correntes, de alvenaria de tijolo, de blocos de betão celular autoclavado e argila
expandida, bem como paredes de painéis pré-fabricados, justificou o aparecimento de revestimentos
susceptíveis de serem aplicados com espessura cada vez mais reduzida. Em consequência, a utilização dos
revestimentos tradicionais de gesso foi progressivamente substituída pela de outros, aplicáveis em espessuras
menores, como são exemplos os revestimentos de ligantes sintéticos (1 a 3 mm) e de gesso correntes (10 a 20
mm), tratados neste trabalho.
Os métodos de concepção e aplicação dos estuques tradicionais tornaram-se incompatíveis com as exigências
actuais atribuíveis aos revestimentos interiores e aos rendimentos de obra. Com efeito, esses métodos foram
alterados no sentido de optimizar a relação custo / qualidade e facilidade e rapidez de execução, surgindo o
estuque projectado, feito com base em misturas pré-doseadas em fábrica. Como consequência, o estuque e o
estucador perderam o seu carácter artístico, pois aquele revestimento deixou de ser aplicado em relevo ou
associado a pinturas artísticas, salvo em algumas construções mais ricas.
Além disso, conclui-se também que o estuque sofreu uma modificação quanto ao uso, pois verificou-se que,
embora o termo “estuque” fosse utilizado para designar todo o sistema estucado (crespido, emboco, reboco,
esboço e estuque), as camadas com base em gesso (esboço e estuque) desempenhavam apenas funções de
acabamento e/ou decorativas. Presentemente, o estuque é aplicado (na esmagadora maioria dos casos)
directamente sobre o tosco das paredes, exercendo a dupla função de regularização e acabamento, ou seja, a
sua função passou de acabamento / decoração para regularização / acabamento.
Os estuques sintéticos assemelham-se exteriormente aos estuques com base em gesso, mas possuem
composição totalmente distinta. Enquanto que o ligante dos primeiros é constituído por resinas sintéticas em
dispersão aquosa, os segundos, tal como o próprio nome indica, têm como ligante principal o gesso (sulfato
de cálcio, podendo ser ou não hemi-hidratado). Os estuques pré-doseados de gesso apresentam-se sob a
forma de misturas pré-doseadas, às quais apenas há a necessidade de juntar água. Os estuques sintéticos
dispensam esse processo de amassadura, pois são constituídos por pastas prontas a aplicar, o que constitui
uma vantagem. Além disso, estes revestimentos podem receber um acabamento final passadas apenas 48
horas da aplicação da camada de acabamento, intervalo substancialmente inferior ao exigido pelos estuques
pré-doseados de gesso, que exigem um período entre 30 a 45 dias.
O surgimento de anomalias em RIEC pode ser minimizado através de uma adequada gestão dos edifícios,
que passa pela elaboração e implementação de planos de manutenção pró-activa que tenham em conta
aspectos técnicos (adequadas soluções de manutenção e reparação, ao nível dos materiais e técnicas),
económicos (minimização dos custos durante a fase de exploração) e funcionais (adequada utilização). Para
tal, é na fase de concepção que devem ser equacionados os custos globais das soluções técnicas a adoptar,
avaliando os aspectos tecnológicos e de durabilidade. Porém, um bom planeamento não pode ser dissociado
da correcta execução em obra, que foi o aspecto mais desenvolvido neste capítulo.
De acordo com a bibliografia pesquisada, os estuques de gesso apresentam a vantagem de, contrariamente
aos estuques sintéticos, serem adequados a suportes de alvenaria de tijolo que, no caso de Portugal,
continental constituem o suporte mais frequente das paredes dos edifícios. Porém, os RIEC sintéticos
permitem uma menor espessura de aplicação, o que pode ser uma vantagem, do ponto de vista da economia
de material e consequente ganho económico, mas que tem a contrapartida de exigir uma maior regularidade
do suporte e não assegurar um isolamento térmico e acústico tão eficaz.
Infelizmente, não foi possível comparar directamente as características de desempenho dos dois
revestimentos correntes tratados, devido à carência dessa informação para os estuques sintéticos (apenas se
conseguiu alguma informação no único documento de homologação em vigor em Portugal para estes
revestimentos, no caso o DH 357). A existência de um documento de aplicação teria possibilitado essa tarefa.
O único resultado em comum, a resistência ao choque de corpo duro não cortante, não pôde ser comparado
entre os dois revestimentos, pois os ensaios foram feitos sobre suportes diferentes. Além disso, em
consequência da fina espessura dos estuques sintéticos, salienta-se a dependência do referido parâmetro nas
características do suporte.
3. PATOLOGIA
3.1. Introdução
A informação apresentada no presente capítulo, embora muito mais incompleta, está concordante com aquela
que é referida por PEREIRA (2008) relativamente a este assunto específico e tem por objectivo servir de
base ao capítulo que se segue, a reparação de RIEC, que constitui um dos objectos primordiais do presente
trabalho. Como tal, neste capítulo são tipificadas e brevemente descritas as principais anomalias em RIEC,
sendo feita também uma alusão às respectivas causas (§3.2). É também feita uma breve comparação entre as
anomalias dos estuques pré-doseados de gesso e os estuques sintéticos (§3.3), embora de forma pouco
desenvolvida, pelo facto de estes últimos não serem o objecto principal da presente dissertação.
Em RIEC, as anomalias mais comuns devem-se a fenómenos de natureza física, química e mecânica. Os
primeiros resumem-se, de um modo geral, à sujidade e humidade nos paramentos, enquanto que os segundos
dizem respeito essencialmente ao desenvolvimento de fungos e bactérias (biodeterioração), à cristalização de
sais à face do revestimento (eflorescências) ou na interface entre este e o suporte (criptoeflorescências) e a
reacções que provocam a perda de aderência do revestimento (empolamento) a vários níveis: descolamento,
abaulamento, destacamento. Os fenómenos anómalos de essência mecânica podem associar-se a perdas de
aderência no seio do revestimento estucado e/ou deste ao substrato em que assenta devido à variação
dimensional do suporte ou mesmo do próprio estuque (como, por exemplo, a retracção durante o processo de
endurecimento), materializadas através de lacunas ou fissuração de diversa ordem (VEIGA, 2004c).
Como forma de optimizar a solução de intervenção, ressalva-se a importância do conhecimento das causas
das anomalias que potenciam o aparecimento dos seus sintomas, operação, no entanto, muito dificultada
devido a diversos factores, tais como a interpenetração entre causas e efeitos dos vários fenómenos que se
podem desenvolver, a influência da componente humana nas fases desses processos de degradação e a
complexidade do meio ambiente que envolve o edifício (AGUIAR; VEIGA, 2002). Ainda assim, em
estuques com base em gesso, a correlação entre as anomalias e as suas causas é efectuada em PEREIRA
(2008).
As causas das anomalias podem ser directas (próximas) ou indirectas (primeiras). No primeiro caso, o
fenómeno provoca de forma relativamente imediata a anomalia, ao passo que as segundas necessitam da
conjugação com uma causa directa para que o processo de degradação se inicie. A relação entre a anomalia e
as respectivas causas está dependente de diversos factores, dificilmente quantificáveis. Ainda assim, de um
modo geral, as causas podem ser devidas a erros (projecto, materiais, execução e utilização), acções
ambientais ou de origem mecânica exterior. Segundo o “Tratado de Rehabilitacion” (UNIVERSIDAD
POLITÉCNICA DE MADRID, 1998), as deficiências de projecto estão na origem de 40 a 50% das
anomalias e as de execução de 25 a 35%. De facto, quanto mais cedo o erro ocorre, maior a probabilidade do
aparecimento de anomalias e mais cara será a sua correcção, até porque um erro na fase de projecto pode dar
origem a dificuldades de execução, fomentar o aparecimento de anomalias na utilização ou originar custos
excessivos de manutenção. Estes dados fazem antever uma maior importância da fase de projecto face à fase
de execução e exploração. Porém, a garantia de qualidade resulta, em grande parte, da performance
individual de cada um dos membros envolvidos num empreendimento, nomeadamente projectistas,
empreiteiros, fornecedores e utilizadores, e da sua compatibilização através da realização de um trabalho
conjunto (COAM, 1991a,b,c; AGUIAR; CABRITA; APPLETON, 1997; SILVA, 2004).
Os erros de projecto podem ser de índole diversa, incluindo a deficiente aplicação dos regulamentos e
documentos de homologação ou aplicação, a incorrecta concepção / pormenorização dos sistemas de
ventilação, impermeabilização, drenagem, protecções a acções mecânicas e juntas de expansão / contracção,
especificações incorrectas dos produtos, espessuras e técnicas a aplicar ou até negligência nas condições a
exigir ao suporte ou na estimativa das deformações estruturais e da sua influência sobre os suportes.
Os erros de materiais estão normalmente relacionados com a utilização de produtos não prescritos,
incorrectos, incompatíveis entre si ou com defeito de fabrico.
Os erros de execução são os que possuem uma maior variabilidade, tais como a deficiente compreensão do
projecto, a utilização de mão-de-obra inexperiente ou não recomendada, o desrespeito pelas dosagens e
recomendações do fabricante, a instalação incorrecta ou omissa de sistemas de protecção na transição entre
materiais diferentes ou zonas particularmente sujeitas a acções de choque, o desrespeito pelas condições
atmosféricas ou condições exigíveis ao suporte no momento da aplicação do revestimento e a insuficiente
fiscalização / controlo da qualidade, nomeadamente quanto aos tempos de espera entre as várias fases de
execução. Alguns deste tipo de erros devem-se a omissões nos projectos.
Das causas devidas a acções de origem mecânica exterior, salientam-se os impactos de objectos, choques /
vibrações, deformações do suporte e a concentrações de tensões geradas na interface revestimento / suporte.
Por último, entre as causas devidas a acções ambientais, refere-se exposição solar, a poluição atmosférica, a
temperatura, o envelhecimento natural do revestimento e, principalmente, a acção da água, pois a elevada
porosidade aberta e higroscopicidade do estuque favorecem a percolação de água na sua microestrutura sob a
forma de humidade, propiciando o desenvolvimento de agressões de natureza física (alteração da aderência
intercristalina do gesso), química (reacções resultantes da presença de sais solúveis nos suportes e no
revestimento) e biológica (desenvolvimento de fungos e bolores).
De acordo com o descrito em §3.1, apresentam-se no Quadro 3.1 os três grupos de anomalias, assim como a
respectiva subdivisão, proposta em PEREIRA (2008).
3.2.1 Humidade
3.2.2 Sujidade
A sujidade caracteriza-se
se pela acumulação, permanente ou provisória, de partículas microscópicas na
superfície do paramento estucado, traduzida macroscopicamente por manchas de d coloração variável
Figura 3. 2: A-F2
F2 Sujidade (RIEC com base em gesso); reparação: R-A1
A1 ou, em
caso de ineficácia desta última, R-B2
3.2.3 Biodeterioração
A prevenção mais correcta desta anomalia passa pela ventilação adequada dos espaços, pois impede a
permanência de humidade nos paramentos por períodos elevados. Nos locais onde isso não é possível e em
que seja previsível a criação de condições favoráveis ao aparecimento de fungos e bolores, é aconselhável a
incorporação de um agente nte fungicida no revestimento (através de um adjuvante) ou na pintura (tinta com
propriedades fungicidas), na certeza, porém, do carácter temporário desta solução. Em termos de correcção,
esta anomalia pode ser removida por limpeza e aplicação superficial de um agente fungicida (R-A2;
( Figura
3.3)) nas situações menos graves ou, nos casos em que a permanência dos microorganismos tenha danificado
irreversivelmente o revestimento, pela extracção das zonas afectadas e reposição com os mesmos produtos,
incorporando do um agente fungicida na camada de acabamento ou na tinta, se o revestimento receber um
acabamento final por pintura (R-C4 C4; Figura 3.4).). Quando se verifica uma situação intermédia, isto é, a
proliferação dos fungos ou bolores é pouco profunda, atingindo não
não mais do que a camada de acabamento e
o restante RIEC não se encontra irreversivelmente danificado pela acção da humidade, a solução mais eficaz
passa pela aplicação da técnica R-B2B2 (aplicação
plicação de fina camada sobre o RIEC existente)
existente (VEIGA et al.,
1995; LITHGOW; STEWART, 2001; LNEC, 2007).
Figura 3. 3: A-Q1 Biodeterioração (RIEC com base Figura 3. 4: A-Q1 Biodeterioração (RIEC com
em gesso); reparação: R-A2 base em gesso); reparação: R-C1
R ou R-C4
Porém, quando o revestimento incorpora sais higroscópicos, a degradação do mesmo devido a estas
anomalias é praticamente inevitável quando se sucedem elevadas amplitudes de variação da humidade
relativa
va do ar, de que resultam sucessivos ciclos de dissolução-cristalização,
dissolução cristalização, que exercem uma acção
destrutiva muito grande no revestimento, devido à variação volumétrica associada à mudança de estado
físico dos sais. Com efeito, a prevenção quanto à ocorrência deste fenómeno é muito dificultada, pois exige
que se mantenha o teor de humidade relativa do ar no interior da habitação abaixo dos 65% (valor a partir do
qual, segundo HENRIQUES (2003), se começam a verificar fenómenos de higroscopicidade), recorrendo,
por exemplo, a aparelhos desumidificadores. Felizmente,
Felizmente o sulfato de cálcio (vulgar gesso anidro ou
anidrite), embora seja um sal solúvel, não é higroscópico (HENRIQUES, 1992).
Figura 3. 5: A-Q1 Biodeterioração associada a A-Q2.2 Figura 3. 6: Tentativa de reparação das anomalias
eflorescências e criptoeflorescências (a presença de ilustradas na Figura 3.5 através de limpeza (R-C1)
(R
criptoeflorescências pode ser confirmadaa pela impossibilidade de
remoção dos sais por limpeza (Figura 3.6); reparação: R-C4
R
A perda de aderência entre o revestimento e o suporte ao qual foi aplicado pode manifestar-se sob três fases
distintas, que ocorrem sucessivamente por ordem crescente de gravidade: descolamento, abaulamento e
destacamento. No primeiro caso, cria-se uma descontinuidade entre o RIEC e o suporte em zonas localizadas
do paramento, detectáveis apenas pelo som oco emitido quando percutidas, que podem, no entanto, evoluir
para a criação de convexidades (abaulamento) e, posteriormente, originar o desprendimento da parede
(destacamento) (VEIGA, 2004).
Para explicar o fenómeno da perda de aderência, começa-se por descrever o mecanismo normal de aderência,
que é conseguido microscopicamente pela penetração da pasta de estuque nos poros do suporte e
macroscopicamente pelo atrito entre o revestimento e as rugosidades superficiais do substrato. Com efeito, a
aderência do revestimento ao suporte será tanto maior quanto maior for a rugosidade superficial, porosidade
e absorção deste último. Assim, considerando a anomalia isoladamente, pode afirmar-se que as deficiências
de aderência acontecem quando o suporte não verifica estas características, como é exemplo o betão
moldado, que se caracteriza por ser liso e pouco poroso e, como tal, carece da aplicação prévia de um
primário para assegurar a aderência desejada ou de um tratamento mecânico, de forma a criar rugosidades.
Quanto maior o teor em água do suporte, menor será o seu grau de absorção, pelo que o mecanismo de
aderência não é tão eficaz, além de essa água poder exercer pressão sobre o revestimento (tanto maior quanto
menor a permeabilidade do revestimento) e/ou transportar sais solúveis, formando criptoeflorescências,
criando-se tensões na interface suporte - revestimento. A perda de aderência pode também estar associada a
movimentos diferenciais entre o suporte e o revestimento, causando o descolamento como consequência da
rotura por corte entre os mesmos. A evolução dos descolamentos para os outros estádios da perda de
aderência está geralmente relacionada com a precipitação de sais solúveis ou higroscópicos que se depositam
preferencialmente na descontinuidade criada, cuja expansão volumétrica faz aumentar o volume da cavidade,
provocando o abaulamento e, posteriormente, o destacamento local do RIEC. Associada aos abaulamentos e
destacamentos, pode surgir fissuração diversa quando as deformações superam a ductilidade do
revestimento. Ainda assim, estas anomalias geralmente só se verificam quando os paramentos sofrem de
infiltrações. A perda de aderência pode também estar relacionada com a oxidação de elementos metálicos
desprotegidos contra a corrosão, cujas reacções expansivas provocam um efeito semelhante ao já descrito
para os sais (Figura 3.9). A correcção da perda de aderência devida aos fenómenos descritos implica a
extracção do revestimento até ao suporte e posterior reposição com os mesmos produtos (R-C1; Figuras 3.7
a 3.9)
Quando o revestimento recebe um acabamento final por pintura em que a tinta é muito menos permeável ao
vapor de água do que o revestimento estucado em si, é comum a perda de aderência acontecer apenas na
pintura, principalmente se ocorrerem infiltrações. Neste caso, a correcção da anomalia não necessita da
extracção do revestimento até ao suporte e posterior reposição com os mesmos produtos, sendo suficiente a
aplicação de uma fina camada de acabamento sobre o revestimento existente (R-B2; Figura 3.10)
Como forma de prevenção desta anomalia, assinala-se a importância da verificação das condições a exigir ao
suporte, descritas em §2.4.3.5.2 e das recomendações de o carácter geral referidas em §2.4.3.5.1, assim como
da aplicação de uma tinta com elevada permeabilidade (no caso de o revestimento receber um acabamento
final por pintura, verificando, neste caso, as condições enunciadas em §2.4.3.5.6).
Figura 3. 7: A-Q 3.2 Abaulamento (RIEC com base Figura 3. 8: A-Q 3.2 Abaulamento
Abaulam devido a oxidação de
em gesso); reparação: R-C1 elemento metálico (RIEC com base em gesso);
gesso) reparação:
R-C5
C5
Figura 3. 10: A-Q 3.3 Destacamento apenas da pintura (RIEC com base em gesso); reparação:
reparação R-B2.
3.2.6 Fissuração
As fendas ou fissuras surgem no revestimento quando a sua resistência à tracção é superada, podendo ser
classificadas, quanto ao aspecto e à largura, em microfendas, fendas médias e fracturas
fractura ou grandes fendas
(VEIGA, 1998):
o microfendas: são lineares, têm largura inferior a 0,2 mm, formam malhas de quadriláteros com
menos de 20 cm de lado e são, em geral, devidas à retracção diferencial da camada de acabamento;
o fendas médias: são lineares, têm largura entre 0,2 e 2 mm, atravessam por vezes todo o revestimento
e podem ter origem tanto no revestimento como no suporte;
o fracturas ou grandes fendas: têm largura superior a 2 mm e a sua origem não é, em geral, do
revestimento.
62 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
se considerar que as causas da fissuração se dividem em dois grandes grupos: causas com origem no
Pode-se
revestimento e causas com origem no suporte. Das primeiras, destacam-se se a espessura desadequada do
revestimento e a retracção do revestimento. Das causas com origem no suporte, salientam-se
salientam as reacções com
sais existentes no mesmo e deslocamentos deste.
A maioria dos suportes correntes possui sais solúveis na sua composição e, como tal, pelas razões já
referidas, na presença de água pode sofrer dissolução, migração para o revestimento e precipitação, causando
fissuras devido à expansão volumétrica associada a este último fenómeno. É desaconselhada a aplicação de
revestimentos pré-doseados
doseados de gesso sobre argamassas de
d cimento pelas razões referidas em §2.4.3.4.1.
A transmissão das deformações do suporte ao revestimento é tanto maior quanto menor for a espessura do
revestimento e a sua capacidade de deformação. Com efeito, no tocante aos estuques pré-doseados
pré sintéticos,
em virtude da sua inferior espessura face aos seus homólogos com base em gesso, cifrada entre 1 e 3 mm, as
movimentações do suporte transmitem-se
transmitem se com maior facilidade ao revestimento, estando, portanto, mais
sujeitos à fissuração com origem no suporte. Esta
ta constitui uma das razões pelas quais os RIEC sintéticos são
mais frequentemente armados com rede relativamente aos estuques de gesso. Os deslocamentos nos suportes
podem ter quatro causas principais: hídricas, geológicas, dinâmicas e as relacionadas
relacionadas com os próprios
elementos construtivos. As duas primeiras surgem normalmente associadas, assinalando-se assinalando a
heterogeneidade inerente aos solos, os assentamentos diferenciais das fundações directas, a variação do nível
freático ou do teor de humidade (particularmente gravoso em solos argilosos) e a insuficiente compactação
dos aterros de fundação. Como causas dinâmicas,
dinâmicas associam-se,se, em geral, as acções sísmicas, incêndios e
impactos fortuitos. Por último, referem-se
referem se as causas atribuíveis aos elementos construtivos, que estão
relacionadas com as suas deformações em serviço. Quanto à manifestação da fissuração devida a
deformações no suporte, pode afirmar-se
afirmar se que esta se traduz geralmente em fendas profundas e com
orientação preferencial (A-M1.2; Figuras 3.13
3 e 3.14)) quando a deslocação no suporte excede largamente a
capacidade de deformação do RIEC, embora ocorram situações em que o revestimento tem capacidade para
absorver parcialmente as deformações induzidas pelo suporte, evidenciando apenas fendas superficiais.
supe
Há ainda que mencionar as fissuras com origem em variações térmicas ou higrométricas e impactos. O
suporte e o revestimento normalmente não têm o mesmo coeficiente de dilatação térmica e húmida, pelo que
se desenvolvem movimentos diferenciais
diferenciais associados a variações térmicas ou higrométricas. Quando o
suporte dilata mais do que o revestimento, podem surgir fissuras ramificadas ou com orientação aleatória,
enquanto que na situação contrária podem ocorrer descolamentos. Obviamente,
Obviamente estas manifestações
man estão
dependentes da capacidade de deformação do revestimento. As acções de choque originam deformações
permanentes nos RIEC (A-M2 M2 Golpes e impactos;
impactos Figuras 3.15 e 3.16) e/ou
ou fissuras em forma de teia de
aranha, centradas no ponto de aplicação da carga.
Figura 3. 17: A-M3 Perda de coesão e desagregação em vértice Figura 3. 18: A-M3 Perda de coesão e desagregação em
de vão (RIEC com base em gesso); reparação: R-C2
R aresta saliente em paramento interior - exterior (RIEC
com base em gesso); reparação: R-C2
Outra causa advém da referida acção biológica de microorganismos, cuja actividade vital retém humidade na
superfície dos paramentos e forma compostos que deterioram o ligante, promovendo a falta de coesão do
revestimento.
Uma forma de prevenir a ocorrência destas anomalias consiste em evitar o humedecimento dos paramentos e
dotá-los de uma ventilação eficaz.
Embora não seja muito frequente, à semelhança do que acontece nos rebocos doseados em obra, também os
estuques podem
dem sofrer do aparecimento de fantasmas, isto é, da reprodução à superfície do revestimento do
desenho dos blocos (no caso de paredes de alvenaria) ou das armaduras (no caso de lajes em tectos), através
de diferenças de cor (Figura 3.19)) e, nos casos mais graves, de manchas de sujidade e de microorganismos.
Os revestimentos sintéticos sofrem de anomalias com manifestação semelhante às dos seus homólogos com
base em gesso, mas com algumas diferenças assinaláveis no processo de formação das mesmas.
Em paramentos interiores particularmente expostos à acção solar (devido, por exemplo a envidraçados com
grandes áreas), a elasticidade dos revestimentos sintéticos diminui, tornando-o
tornando os mais susceptíveis à
fendilhação devido a movimentações do suporte. Este endurecimento acontece porque as radiações
ultravioletas destroem os polímeros constituintes dos ligantes destes produtos, podendo também ficar a
dever-se
se à má qualidade do produto (VEIGA,
( 2004c).
A biodeterioração processa-se
se de forma semelhante ao já referido para os RIEC pré-doseados
pré de gesso
(VEIGA et al., 1995).
3.4. Conclusão
As manifestações das anomalias, assim como a sua reparação, estão intimamente relacionadas com os
fenómenos que lhes dão origem.
A simples manifestação patológica revela-se incompleta como base para a decisão da solução de reparação.
O conhecimento da acção física, química ou mecânica associada à formação de cada anomalia é fundamental
para a adopção de uma prevenção e correcção adequada das mesmas. Compreendendo as suas causas,
percebe-se que algumas anomalias podem ter mesma causa e que, por vezes, são as próprias anomalias a
causa principal de outras irregularidades. Desta feita, é possível concluir que a maior parte das anomalias
verificadas em estuques decorre da acção da humidade, pelo que as suas causas são imputáveis
principalmente à acção da água. De facto, ela constitui não só uma anomalia (manchas de humidade), mas é
igualmente responsável pela dissolução - precipitação de sais, fenómeno responsável por vários sintomas
patológicos em RIEC. Assim, facilmente se percebe que as anomalias não ocorrem isoladamente, mas sim de
forma simultânea e/ou sucessiva e correlacionada.
4. REPARAÇÃO
4.1. Introdução
Tendo em conta que, no âmbito desta dissertação, se está perante edifícios correntes em que o valor
arquitectónico ou histórico não é relevante, serão abordadas apenas de forma muito sucinta algumas técnicas
de reabilitação que eram usadas no passado em RIEC, designadamente na reparação de estuques tradicionais
colocados sobre suportes de madeira (fasquiado), ornatos em estuque ou policromias, técnicas que já foram
descritas em detalhe, por exemplo, em COTRIM (2004).
AGUIAR, APPLETON e CABRITA (1997), citados por COTRIM (2004), definem o conceito de
reabilitação como “toda uma série de opções empreendidas tendo em vista a recuperação e a beneficiação de
um edifício, tornando-o apto para o seu uso actual”. SILVEIRA (2000) refere reparação como sendo uma
“intervenção destinada a corrigir anomalias”. Com efeito, facilmente se percebe que o primeiro conceito
referido é mais abrangente, englobando o segundo. Contudo, uma vez que o objecto da presente dissertação
são os edifícios correntes, neste caso, numa obra de reabilitação não há, em princípio, a necessidade de uma
modernização inerente à intervenção, de forma a dotar o imóvel de um desempenho compatível com as
exigências ou condicionalismos actuais, isto é, em edifícios recentes os conceitos de reabilitação e reparação
confundem-se, sendo este último o adoptado neste trabalho para o presente capítulo.
A tecnologia aplicada na construção de edifícios tem vindo a evoluir ao longo do tempo, mas ficou marcada
com o aparecimento do cimento portland e a consequente utilização do betão armado. Assim, APPLETON
(2003) define edifício antigo como “aquele que foi construído antes do advento do betão armado como
material estrutural dominante”. O mesmo autor afirma que a razão de ser desta definição limitadora
relaciona-se com o facto de ter sido o betão armado o responsável por rápidas e profundas alterações nos
procedimentos habituais de construção de edifícios. SILVA (2004) é um pouco mais específico,
classificando um edifício como recente desde que o mesmo possua estrutura em betão armado e data de
construção posterior a 1945. De facto, em Portugal, a partir da década de 40 do século XX, o betão armado
marca efectivamente um plano de rotura com o passado, de tal forma que “foram primeiro abandonadas, e
logo depois esquecidas, as técnicas tradicionais consagradas por séculos de experiência. Na verdade, esta
influência ultrapassou as fronteiras das estruturas dos edifícios, determinando igualmente mudanças
significativas na concepção, projecto e execução de elementos não estruturais” (APPLETON, 2003), onde se
incluem os revestimentos. Com efeito, os edifícios perderam parte do seu carácter artesanal, para serem
concebidos de uma forma cada vez mais industrializada, surgindo, no âmbito dos revestimentos, as misturas
pré-doseadas, de mais fácil e rápida aplicação. A forma relativamente abrupta com que se deu esta transição
originou igualmente um rompimento na passagem do conhecimento das técnicas tradicionais, razão pela
qual, actualmente, a mão-de-obra especializada nessa área é tão escassa, constituindo, por si só, um entrave à
aplicação desses métodos nos edifícios contemporâneos.
O endurecimento e conservação de superfícies era um trabalho necessário na fase final das operações de
reabilitação de estuques e destinava-se a conferir ao mesmo um aspecto e uma textura semelhantes à pedra
polida, em resultado do preenchimento da sua porosidade, o que contribuía para que não houvesse
desenvolvimento de fungos e bolores, permitindo, contudo, as necessárias trocas de vapor de água
(COTRIM, 2004).
No entanto, as duas técnicas referidas nos parágrafos anteriores não são aplicadas em estuques correntes,
pois o seu carácter muito específico exige mão-de-obra muito especializada, razão que inviabiliza a sua
utilização no contexto actual. Além disso, estas soluções não são favoráveis do ponto de vista técnico-
económico porque o processo de consolidação não é mais eficaz, do ponto de vista do desempenho, do que a
extracção da zona degradada e posterior reposição do revestimento, embora o primeiro seja mais oneroso
devido, fundamentalmente, à escassez de mão-de-obra especializada. Analogamente, o endurecimento e
conservação de superfícies pode ser substituído por revestimentos por pintura adequados que evitam o
aparecimento de fungos ou bolores. Por outro lado, no caso dos estuques antigos vale sempre a pena tentar
conservá-los, devido ao valor histórico e também aos problemas de incompatibilidades de materiais novos a
usar em eventuais reparações.
Na construção tradicional, quase todos os suportes dos estuques são constituídos por madeira, nomeadamente
os frontais (paredes estruturais), tabiques (paredes de compartimentação) e tectos. Em todos, a primeira
camada do estuque, o pardo, é aplicada sobre réguas de madeira estreitas, de secção trapezoidal,
denominadas fasquias (correntemente designados de fasquiados). Assim, é comum nesses casos necessitar-se
de intervir sobre os diversos elementos de madeira (estruturas de suporte e fasquiados) (SILVEIRA, 2000 e
COTRIM, 2004). Nos edifícios correntes, os suportes são totalmente diferentes: nos tectos normalmente a
laje de betão e nas paredes a alvenaria de tijolo (mais corrente em território continental) ou de blocos de
betão (mais frequente nos Açores), constituem as opções mais utilizadas em Portugal. Com efeito, não serão
abordadas as técnicas referentes a intervenções sobre os suportes de madeira, soluções que, apesar de
importantes e complexas, só têm interesse em edifícios antigos.
Nos estuques antigos, é comum substituírem-se parcialmente os revestimentos e a ornamentação nas zonas
com lacunas. Neste último caso, a sua reprodução deve ser feita através da análise da restante composição ou
documentos (fotografias ou desenhos originais) que informem sobre a composição original. Os revestimentos
utilizados no preenchimento de lacunas devem satisfazer um conjunto de exigências, nomeadamente a
compatibilização com os estuques antigos a nível funcional e estético (AGUIAR; VEIGA, 2003). Porém, na
construção contemporânea, o estuque perdeu o seu carácter artístico, sendo que as ornamentações em
estuque, os fingidos e os estuques policromos são apenas característicos da construção tradicional. Com
efeito, não serão tidos em conta neste trabalho os métodos referentes à reabilitação destes elementos,
operação também denominada de reintegração (COTRIM, 2004). A compatibilização do revestimento de
substituição com o antigo na prática corrente é assegurada através da aplicação dos mesmos produtos,
operação ainda mais facilitada por se tratarem de misturas pré-doseadas, sendo, contudo, aconselhada a
utilização de produtos do mesmo fabricante. A existência de um acabamento homogéneo pode ser também
assegurada pela aplicação de um revestimento final por pintura, opção também já aplicada nas soluções
tradicionais, tal como referido por COTRIM (2004), mas com vista, sobretudo, à ocultação de sujidades ou
manchas, de origem biológica ou provocadas por sais.
anomalias, enquanto que as soluções de intervenção correctiva permitem reparar directamente a anomalia,
eliminando-a. Dentro das acções correctivas existem as técnicas de reparação correctiva (rc) e os trabalhos
de manutenção (m), podendo ainda existir medidas que, devido ao seu efeito, são consideradas preventivas
(rp), como por exemplo a R-C3 - Protecção de arestas salientes (GONÇALVES, 2007).
No presente capítulo, descreve-se o sistema classificativo das técnicas de reparação e manutenção de RIEC
proposto, sendo que, a cada técnica, corresponde uma ficha de reparação, apresentada no Anexo 4.I, na qual
consta uma descrição mais pormenorizada do processo. Uma vez que a cada anomalia não corresponde
apenas uma técnica de reparação ou manutenção e que a mesma técnica de reparação ou manutenção pode
ser aplicada na resolução de diversas anomalias, não é possível apresentar uma solução tipo para cada
anomalia identificada num RIEC. Com efeito, em §4.2 é apresentada uma matriz que identifica o grau de
adequação de cada técnica de reparação a cada anomalia apresentada em §3.2 - matriz de correlação
anomalias - técnicas de reparação.
A estratégia mais correcta para a reabilitação é composta por duas etapas: a eliminação da causa e a posterior
eliminação das anomalias. Contudo, estas duas acções são, em geral, dificilmente concretizáveis, sendo
necessário recorrer, em alternativa ou complemento, a outras estratégias, nomeadamente: protecção contra os
agentes agressivos; reforço das características funcionais e ocultação das anomalias (GONÇALVES, 2007).
De facto, embora não seja a opção mais frequente, antes de se aplicar qualquer medida de reparação ou
manutenção num RIEC, é essencial determinar as causas das anomalias (VEIGA et al., 1995 e APPLETON,
2003) através de um processo de inspecção e diagnóstico lógico e sistemático, assunto que, para o caso dos
RIEC com base em gesso, se encontra desenvolvido em PEREIRA (2008), assim como assegurar a sua
eliminação.
Dado que é a eliminação dos fenómenos patológicos que preocupa a entidade gestora (BRITO, 1992), na
presente dissertação, serão apenas tratadas as intervenções de reparação e manutenção das anomalias em
RIEC, as quais foram classificadas em (SILVESTRE, 2005): técnicas de reparação curativas (rc), técnicas
de reparação preventivas (rp) e trabalhos de manutenção (m).
As técnicas de reparação curativas são as que permitem reparar, eliminar ou ocultar a anomalia, podendo
corresponder também a intervenções de reabilitação (reparação do RIEC que inclua a alteração das
características ou da geometria dos materiais utilizados, introduzindo melhorias no desempenho do
revestimento) ou substituição integral ou parcial dos RIEC (SILVESTRE, 2005; GONÇALVES, 2007).
As técnicas de reparação preventivas constituem intervenções que, embora possam não tratar directamente a
anomalia, são necessárias para eliminar a sua causa. O que foi dito para as técnicas de reparação curativas
também se aplica neste caso, ou seja, estas técnicas também podem corresponder a intervenções de
reabilitação ou substituição de algumas partes dos RIEC (SILVESTRE, 2005).
Estas técnicas foram divididas em quatro grupos, de forma a que a cada um correspondessem as intervenções
relativas a cada um dos elementos constituintes do RIEC (R-A - Superfície do RIEC ou R-B - Camada de
acabamento), à totalidade deste (R-C - RIEC) ou à sua zona de contacto com o suporte onde está aplicado
(R-D - Contacto suporte - RIEC).
Apresenta-se, no Quadro 4.1, a listagem das técnicas de reparação e trabalhos de manutenção que integram
o sistema classificativo proposto, as quais são individualmente descritas de seguida.
Quadro 4. 1: Lista de técnicas de reparação curativas (rc), preventivas (rp) e trabalhos de manutenção (m)
R-A SUPERFÍCIE DO RIEC
R-A1 Limpeza do RIEC (rc /m)
R-A2 Aplicação de fungicida na superfície do RIEC (rp / rc)
R-B CAMADA DE ACABAMENTO
R-B1 Preenchimento de fissuras (rc)
R-B2 Aplicação de fina camada de acabamento sobre o RIEC existente (rc)
R-C RIEC
R-C1 Substituição integral / parcial do RIEC (rc)
R-C2 Incorporação de rede na camada de regularização do RIEC (rc)
R-C3 Protecção de arestas salientes (rp / rc)
R-C4 Incorporação de fungicida no RIEC (rp / rc)
R-C5 Remoção / substituição de elementos metálicos corroídos e reparação do estuque (rp / rc)
R-C6 Reforço localizado do RIEC com agrafos (rc)
R-D CONTACTO SUPORTE - RIEC
R-D1 Dessolidarização local do revestimento (rc)
As operações de limpeza de RIEC podem ser consideradas tanto técnicas de reparação curativas como
trabalhos de manutenção. No primeiro caso, porque permitem a eliminação de anomalias, como são o caso
de fungos, bolores ou sais (devido a fenómenos de eflorescência).
Todavia, a limpeza pode igualmente constituir um trabalho de manutenção, uma vez que deve ser uma
operação periódica que visa a remoção de sujidades inerentes ao uso. Estas operações podem ser aplicadas
em associação com outras técnicas, tais como a R-A2 - aplicação de fungicida na superfície do RIEC, ou a
R-B2 - aplicação de fina de camada de acabamento sobre o RIEC existente. Antes da aplicação de
qualquer produto, é necessário analisar a sua eficiência e adequação em áreas de teste (VEIGA et al., 1995).
Em RIEC, os métodos de limpeza variam de acordo com o tipo de acabamento (principalmente nos estuques
sintéticos), com a existência ou não de um revestimento por pintura e, em caso afirmativo, do tipo de tinta
empregue (VEIGA et al., 1995; SILVA, 2004; LNEC, 2007).
A limpeza dos revestimentos de ligantes com base em gesso pintados é, em regra, e desde que a tinta
utilizada o permita, efectuada por simples desempoeiramento a seco, escovagem suave com água simples ou
adicionada da quantidade necessária de detergente líquido neutro, seguida, neste último caso, de uma
enxaguadela. No caso deste tipo de revestimentos não possuir acabamento por pintura, a sua limpeza deve
ser feita através de uma lixagem leve da zona enodoada (VEIGA et al., 1995; LNEC, 2007).
No caso de estuques sintéticos, os métodos de limpeza mais adequados dependem do tipo de acabamento dos
paramentos e da existência ou não de um revestimento por pintura. Os paramentos pintados ou envernizados
podem ser limpos por lavagem com esponja ligeiramente humedecida com água, simples ou adicionada de
detergente neutro. Os paramentos em que o revestimento tenha sido deixado à vista (isto é, sem pintura
posterior) e o acabamento seja do tipo liso poderão ser limpos mediante lixagem leve, com lixa macia.
Salienta-se o facto de os revestimentos sintéticos à vista com acabamento projectado serem de muito difícil,
senão impossível, limpeza e dos métodos de limpeza referidos descritos serem eficazes apenas em situações
decorrentes da utilização normal do edifício, sendo que, em caso de ocorrência de nódoas de produtos pouco
usuais, deverão ser consultados os fabricantes dos revestimentos quanto aos métodos e produtos de limpeza
adequados (VEIGA et al., 1995; SILVA, 2004).
Nos casos em que o revestimento tenha ficado irreversivelmente danificado, nomeadamente devido à
permanência prolongada de fungos, bolores, eflorescências ou criptoeflorescências, deve ser efectuada uma
intervenção mais profunda, no caso a técnica R-C1 - Substituição integral / parcial do RIEC (na Figura
3.6, apresentada no capítulo anterior, pode-se verificar que a limpeza é um método impotente a partir de um
determinado grau de gravidade / impregnação da(s) anomalia(s)).
A secagem do paramento pode ser acelerada através de uma intensificação da respectiva ventilação, do
aumento de temperatura ou da desumidificação dos ambientes que confinam (HENRIQUES, 1992). Técnicas
mais intrusivas, tais como a extracção do revestimento e posterior reposição (R-C1), seriam, neste caso,
desadequadas, uma vez que só fariam sentido se a humidade tivesse danificado irreversivelmente o
revestimento, o que geralmente não acontece, pois o que pode suceder é a evolução das manchas de
humidade para as outras anomalias já referidas, podendo, só nesse estádio, ser viável a aplicação de tais
técnicas.
A presença de humidade, além de constituir por si só uma anomalia, potencia também o aparecimento da
esmagadora maioria das outras anomalias verificadas em estuques, assumindo, por isso, uma importância
muito grande nos revestimentos estucados. A sua reparação implica a adopção de técnicas que actuem sobre
o suporte e/ou a envolvente, domínios que não são contemplados no Quadro 4.1. Com efeito, apresenta-se
de seguida, no Quadro 4.2, o qual foi feito com base em HENRIQUES (1992), um resumo das soluções de
reparação para cada tipo de humidade: humidade de construção, do terreno, de precipitação, de condensação
ou devida a fenómenos de higroscopicidade.
Antes de mais, convém esclarecer que o agente fungicida pode ser aplicado na superfície do RIEC, ou
incorporado no próprio revestimento, daí o motivo da aplicação deste produto se repetir no Quadro 4.1,
aparecendo nas técnicas R-A2 e R-C4.
Tal como referido em §3.2.3, os locais húmidos e mal ventilados são propícios ao desenvolvimento de
fungos e bolores, organismos responsáveis pela degradação de RIEC (biodeterioração). Com efeito, nesses
ambientes, o revestimento deverá ser protegido através da aplicação de um produto fungicida, que poderá ser
aplicado na superfície do revestimento (sendo removido passados 3 dias), incorporado na tinta aplicada (tinta
com propriedades fungicidas) ou no próprio revestimento através de um adjuvante fungicida. No entanto,
esta solução apenas retarda o problema do surgimento de microorganismos, dado que estes produtos têm
durabilidade limitada. Para que a biodeterioração não volte a ocorrer, a humidade no paramento deve ser
eliminada, impedindo a penetração de água pelo exterior ou evitando a ocorrência de condensações,
mediante ventilação do ambiente interior e, se necessário, reforço do isolamento térmico. A criação de
superfícies bastante lisas são menos favoráveis à fixação de fungos e bolores (VEIGA et al., 1995 e
SILVEIRA, 2000).
No primeiro caso referido, a execução deste método consiste numa limpeza da superfície afectada por fungos
e/ou bolores, seguida da aplicação do produto fungicida após secagem perfeita do paramento, o qual é
removido três dias depois por escovagem, terminando com uma pintura geral do paramento. Outra opção
será pintar ou repintar o paramento com uma tinta com propriedades fungicidas incorporadas, após remoção
das manchas existentes por limpeza (técnica R-A2). Em alguns casos, as manchas devidas à biodeterioração
são de impossível remoção devido à sua permanência prolongada, situação em que deverá ser aplicada a
técnica R-B2 (Aplicação de fina camada de acabamento sobre o RIEC existente (rc)) ou, em casos mais
graves, a R-C1 (Substituição integral / parcial do RIEC (rc)).
A aplicação de fungicida segundo estes dois procedimentos pode assumir o papel de uma intervenção de
reparação com carácter preventivo (rp), se for feita quando (ainda) não existam anomalias visíveis no
paramento e este se situe nos ambientes agressivos referidos (locais húmidos e mal ventilados), não sendo,
com efeito, necessárias as operações de limpeza para remoção dos organismos que desencadeiam um
processo de deterioração do RIEC.
Por último, refere-se a medida de mais difícil execução, mas também a mais eficaz, que consiste em
incorporar na camada de acabamento do revestimento um adjuvante que lhe atribua intrinsecamente
propriedades fungicidas (técnica R-C4). Para tal, é necessária a remoção do mesmo até ao suporte, o seu
tratamento, com eventual aplicação de um primário se as condições de aderência não forem consideradas
suficientes, e a posterior reposição com os mesmos produtos, mas incorporando o adjuvante referido, o qual
é misturado na pasta durante o processo de amassadura. A pintura final do paramento é opcional, sendo, no
entanto, a medida mais conservativa. O facto de impedir futuras fixações e desenvolvimentos de fungos e
bolores atribui a esta técnica um carácter preventivo (rp) e a necessária remoção e reposição do revestimento
garante a correcção da anomalia, razão pela qual também é uma medida de reparação correctiva (rc).
74 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PAREDES INTERIORES
Quadro 4. 2: Formas de eliminação dos vários tipos de humidade (adaptado de HENRIQUES, 1992)
Reforço da ventilação dos ambientes
Humidade de
Aumento da temperatura do ar
construção
Diminuição da humidade relativa do ar
Secagem da fonte de alimentação de água
Tratamento superficial do terreno
Soluções destinadas a impedir o acesso de água Rebaixamento do nível freático
à parede
Drenagem do terreno
Execução de valas periféricas (com ou sem enchimento)
Redução da secção absorvente
Substituição de elementos de alvenaria
Corte com serra
Humidade do Soluções destinadas a impedir a ascensão da Introdução de barreiras estanques
Corte por carotagens sucessivas
terreno água nas paredes
Introdução forçada de materiais plásticos
Produtos tapa-poros
Introdução de produtos impermeabilizantes
Produtos hidrófugos
Electro-osmose passiva
Electro-osmose Electro-osmose semi-passiva
Soluções destinadas a retirar a água em excesso
das paredes Electro-osmose activa
Electro-osmose forese
Drenos atmosféricos
Soluções destinadas a ocultar as anomalias Execução de nova parede pelo interior
Aplicação de revestimentos de parede novos, após remoção dos existentes
Soluções destinadas a eliminar as deficiências de Aplicação de hidrófugo de superfície nos paramentos exteriores
estanquidade das paredes Aplicação dum revestimento curativo com base em ligantes sintéticos
Humidade de
precipitação Aplicação dum revestimento exterior de elementos descontínuos
Fissuras de largura inferior a 0,2 mm e estabilizadas Aplicação de um revestimento curativo de ligantes sintéticos
Soluções destinadas a eliminar as infiltrações de
água através de fissurações Aplicação de um revestimento curativo de ligantes sintéticos,
Fissuras de largura superior a 0,2 mm ou não estabilizadas
armado com rede de fibra de vidro
Isolamento térmico pelo exterior
Reforço do isolamento térmico das paredes Isolamento térmico pelo interior
Condensações superficiais Isolamento térmico na caixa-de-ar (paredes duplas)
Reforço da ventilação dos espaços
Humidade de Reforço da temperatura ambiente
condensação
Adopção de soluções em função da resistência térmica ou à difusão de vapor dos elementos
Aplicação de revestimento delgado sobre isolante
Condensações internas
Aplicação de revestimento por elementos descontínuos sobre isolante
Reforço da ventilação dos espaços
Remoção dos sais higroscópicos (apenas aplicado em paramentos com valor artístico, como é o caso de alguns estuques antigos)
Humidade
devida a Substituição dos elementos afectados
fenómenos de Ocultação das anomalias
higrospicidade
Controlo da humidade do ar
Embora o adjuvante fungicida apenas seja incorporado na camada de acabamento (VEIGA et al., 1995), a
aplicação desta medida implica a remoção do revestimento até ao suporte, razão pela qual esta técnica foi
inserida na zona C (RIEC), correspondente à totalidade
total do revestimento.
Tal como o nome sugere, esta técnica consiste na colmatação de fendas e pode ser aplicada em fissuras
superficiais estabilizadas em que o estuque subjacente se encontre em boa condição (fissuras perfeitamente
estabilizadas). Para tal, deve começar-se
começar se por abrir a fissura em “V” ou em rectângulo, utilizando para o efeito
efei
o martelo e escopro ou, em alternativa, um berbequim munido de disco rotativo. Nesta operação, aconselha-
se a utilização do martelo e escopro ao invés do berbequim munido de disco rotativo pois, ao contrário dos
primeiros, este último não proporciona condições
condições de aderência tão boas devido ao acabamento mais liso.
Apesar de tudo, este problema pode ser resolvido mediante a aplicação de um primário com função de
aderência, aquando do preenchimento da fissura. A operação de picar a área a cobrir, dando-lhe
dando um contorno
mais irregular é denominada de “aferroamento” por SILVEIRA (2000). (2000) Seguidamente, é necessário remover
o material solto no interior da mesma (com pincel ou compressor de ar),, iniciando-se,
iniciando posteriormente, o
preenchimento da fissura. Este pode serser feito de três formas: 1) aplicação de uma camada de acabamento em
estuque apenas na zona extraída, seguida de um acabamento final por pintura (Figuras ( 4.1 a 4.5); 2)
aplicação de uma camada de acabamento numa área maior, delimitada por arestas do paramento; 3)
preenchimento de grande parte da fissura com uma mistura de cimento com massa acrílica (composto com
boa resistência e elasticidade, compatível com o estuque), seguida da sua colmatação com uma camada de
acabamento em estuque e, posteriormente,
posteriormente, um revestimento exterior por pintura (VEIGA et al., 1995;
MACDONALD, 2004; GONÇALVES, 2007).
GONÇALVES (2007) refere que esta técnica só é aplicável em fissuras de largura superior a 0,2 mm, não
sendo, portanto viável em microfendas, devendo, em substituição, ser utilizada a técnica R-B2 (Aplicação de
fina camada de acabamento sobre o RIEC existente (rc)). Ainda assim, os aparelhos utilizados no
alegramento da fissura devem ser adequados à dimensão da mesma, nomeadamente a dimensão dos discos
ou dos escopros.
Esta técnica permite a renovação do revestimento e pode ser aplicada para eliminar fissuração estabilizada
existente no revestimento, colmatando as fendas existentes (mais frequente em estuques de ligantes com base
em gesso) ou ocultar nódoas que sejam impossíveis de remover por limpeza, nomeadamente as que ocorrem
devido ao desenvolvimento de fungos e bolores (mais frequente em estuques sintéticos), em situações onde
não se justifique a extracção do revestimento e posterior reposição do mesmo utilizando produtos idênticos,
medida mais radical e onerosa.
Nos casos de RIEC onde haja desenvolvimento de fungos ou bolores, a aplicação desta técnica carece da
eliminação prévia das causas do aparecimento destes microorganismos. Nestes casos, quando uma limpeza é
insuficiente, mas a gravidade não justifica a substituição completa do RIEC, o acabamento atacado deve ser
riscado e a superfície esterilizada através de uma lavagem tóxica, mantida sob observação durante cerca de
uma semana. O reaparecimento de bolores durante esse período não significa necessariamente que as
infiltrações de água no paramento não tenham sido eliminadas, mas informa sobre a existência de humidade
no mesmo. Em caso afirmativo, deve-se efectuar nova lavagem tóxica do paramento. Quando a superfície
estiver seca, coloca-se uma fina camada de acabamento em estuque, de preferência com os mesmos produtos
originais de forma a assegurar compatibilidade, aplicando, se necessário, um primário para proporcionar
melhores condições de aderência, finalizando com uma pintura com tinta de propriedades fungicidas
(VEIGA et al., 1995).
Em presença de fissuras estabilizadas, o procedimento é mais simples, devendo o revestimento ser riscado e,
após remoção do material solto e eventual aplicação de um primário com o objectivo de melhorar a
aderência, coloca-se uma fina camada de acabamento em estuque com produtos idênticos aos iniciais,
finalizando, opcionalmente, com um acabamento final por pintura com tinta que confira resistência adequada
às acções de degradação inerentes ao espaço em que é aplicado, designadamente ao atrito, à água e à
sujidade (VEIGA et al., 1995).
O procedimento de aplicação desta técnica de reparação pode variar de acordo com a anomalia e o tipo de
revestimento em questão (estuque de ligante com base em gesso ou estuque sintético), sendo aplicado em
RIEC que apresentem perdas de aderência (descolamento, abaulamento ou destacamento), eflorescências e
criptoeflorescências que tenham danificado irreversivelmente o revestimento (apenas em estuques de ligantes
minerais com base em gesso) e fendilhação não estabilizada (VEIGA et al., 1995).
Esta solução implica, em anomalias localizadas, o corte e a extracção até ao suporte das zonas de
revestimento afectadas que, no caso de fendas, devem ser feitos em faixas com larguras entre 0,15 e 0,25 m
para cada lado das mesmas e, para as restantes anomalias, deverá abranger uma zona que englobe as zonas
afectadas e as ultrapasse em pelo menos 0,10 m em todo o seu contorno (substituição parcial do RIEC). Se
a(s) anomalia(s) for(em) generalizada(s) no paramento, deve ser feita a remoção integral do revestimento
(substituição integral do RIEC). Antes de ser refeito o revestimento, é necessário eliminar eventuais sais
cristalizados no suporte, preparar a superfície exposta de forma adequada a receber o revestimento
subsequente, bem como anular as causas das anomalias que, à excepção da fendilhação, estão normalmente
relacionadas com a presença de água na parede. Finalmente, pode-se refazer o revestimento com os mesmos
produtos, aplicando, se necessário, um primário para garantir aderência ao suporte, e pintar ou repintar toda a
parede, ou pelo menos uma zona delimitada por arestas, de forma a se obter um aspecto homogéneo.
De salientar que em presença de fendilhação não estabilizada devida a variações dimensionais de materiais
revestidos em continuidade ou assentamentos diferenciais das fundações ou dos pavimentos do edifício, a
reposição do revestimento deve ser feita esquartelando-o na separação entre materiais diferentes ou, se tal
não for aceitável do ponto de vista estético, as zonas afectadas deverão ser armadas com uma rede de fibra de
vidro com protecção anti-alcalina ou de uma rede metálica com protecção anti-corrosiva, procedimento que
se encontra descrito na técnica R-C2 (Incorporação de rede na camada de regularização do RIEC) e
mais pormenorizadamente na ficha de reparação correspondente, que consta do Anexo 4.I (VEIGA et al.,
1995 e GONÇALVES, 2007).
Realça-se ainda o facto de, em locais particularmente expostos a acções de choque, ser recomendada a
protecção das arestas salientes com perfis de plástico perfurado, embebidos na camada de regularização
(segundo a técnica R-C3) e, em locais húmidos e mal ventilados, a aplicação / incorporação de um produto
fungicida (segundo a técnica R-A2 ou R-C4).
A reparação de fissuras não estabilizadas devidas a movimentações do suporte por razões diversas ou
variações dimensionais de materiais diferentes revestidos em continuidade e de fissuras superficiais que
reabrem com as alterações sazonais de humidade, originando movimentos de expansão - contracção, pode
ser feita mediante a extracção do revestimento até ao suporte nas zonas afectadas e sua posterior reposição,
mas incorporando uma rede entre duas demãos da camada de regularização. Esta medida tem o objectivo de
aumentar a resistência à tracção e, deste modo, prevenir a fendilhação.
A rede a aplicar tem normalmente uma abertura de malha entre 4 x 4 e 5 x 5 mm e pode ser constituída por
fibra de vidro, metal ou polipropileno. A eficácia do material está relacionada com as suas propriedades
resistentes, aderentes e elásticas, devendo em todo o caso, receber uma protecção adicional. À fibra de vidro
deve ser adicionada uma protecção anti-alcalina (geralmente por recobrimento de resina acrílica ou de PVC)
(Figuras 4.6 e 4.7) e a rede metálica tem de ser protegida contra a corrosão. Contudo, estas protecções têm
eficácia limitada. A protecção anti-alcalina das redes de fibra de vidro, quando incorporada em estuques em
ambiente húmido, vai perdendo eficácia ao longo do tempo, tal como é verificado nos ensaios de
envelhecimento artificial acelerado (EAA) efectuados por VEIGA (1998) para rebocos, cujos resultados
mostram perdas de resistência da ordem de 50 %. A mesma autora refere ainda que outros estudos realizados
pelo LNEC (VEIGA, 1994) conduziram a perdas de resistência de cerca de 75 a 100%. A protecção anti-
corrosiva das redes metálicas mais comum é a galvanização e também nem sempre é suficiente já que o
78 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PAREDES INTERIORES
revestimento é muito mais permeável ao ar e à água do que o betão e o recobrimento do elemento metálico
em camada muito fina não constitui protecção significativa.
signif
Figura 4. 6: Rede de fibra de vidro com abertura de Figura 4. 7: Rede incorporada entre duas demãos da
malha de 5 x 5 mm camada de regularização
A remoção do revestimento deve ser feita ao longo da fissura em faixas de largura entre 15 a 25 cm para
cada lado da mesma, no caso de anomalias localizadas, ou numa área que envolva o revestimento afectado e
o ultrapasse em pelo menos 0,10 m, no caso de a fendilhação estar generalizada no paramento e não se
considerar necessário a eliminação das suas causas, geralmente associadas a movimentações do suporte.
Feita a extracção do revestimento inicial, o suporte deve ser tratado, efectuando a sua limpeza a seco com
uma escova para remover poeirasiras e materiais soltos que possam diminuir a aderência do revestimento ao
suporte. Posteriormente, é executada uma 1ª demão da camada de regularização sendo, então, fixada a rede
ao longo da fissura ou zona de contacto entre materiais diferentes, de modo a que ultrapasse em cerca de 10 a
20 cm para cada lado, incorporando--a na massa ainda fresca. Aplica-sese posteriormente a 2ª demão da camada
de regularização. Após secagem parcial da camada de regularização, é executada a camada de acabamento,
finalizando o processo com a pintura ou repintura do paramento ou, pelo menos, de uma zona delimitada por
arestas. A introdução desta armadura não elimina a fissuração do suporte, mas protege-a protege e oculta-a,
restituindo o comportamento monolítico da parede, o que permite controlar as deformações, diminuir a
amplitude do movimento e redistribuir esforços (VEIGA et al., 1995; MACDONALD, 2004 e
GONÇALVES, 2007).
Na Figura 4.8, é possível visualizar as várias camadas do revestimento armado aplicado sobre alvenaria de
tijolo. A camada de base assume, no caso do estuque, a designação de camada de regularização.
Este método de reparação é tanto mais adequado quanto maior for a área afectada. Em situação contrária, a
reposição do revestimento é efectuada incorporando simplesmente fibras nas zonas fissuradas, fissuradas que são
misturadas no composto com base em gesso. Todavia, a incorporação de rede na camada de regularização
constitui uma medida muito eficaz quando aplicada durante a execução da obra de raiz, devendo,
devendo neste caso,
ser estendida a todo o paramento. Porém, devido à sua morosidade e custo custo relativamente elevado, esta
solução só é recomendada em zonas limitadas do paramento que se encontram particularmente sujeitas a
fendilhação, como sejam (VEIGA, 1997):
o vértices dos vãos (que são pontos de concentração de tensões) (Figura
( 4.10);
);
o zonas heterogéneas do suporte revestidas em continuidade (ligações alvenaria-estrutura)
alvenaria (Figura
4.10),
), onde os diferentes coeficientes de dilatação térmica e os diferentes estados de carga e módulos
de deformação tendem a provocar deslocamentos diferenciais e, portanto,
portanto, tensões;
o zonas do suporte superficialmente fendilhadas (Figura
( 4.12);
o zonas em que seja necessário fazer enchimentos localizados, usando camadas de estuque mais
espessas que em zonas adjacentes (Figura 4.11);
nestes casos, a rede deve ser incorporada
incorporada entre duas demãos da camada de regularização;
o camadas de acabamento, aplicadas sobre bases já existentes e fendilhadas ou com comportamento
mal conhecido ou, de um modo geral, quando se quer garantir um paramento sem nenhuma
fendilhação superficial;
neste
ste caso, a rede deve ser incorporada entre duas demãos da camada de acabamento; este
procedimento é aplicado apenas em estuques de ligantes com base em gesso tradicionais, os quais se
aplicavam em Portugal após o suporte se achar revestido por um reboco que que tinha a função de regularizar e
preparar a superfície para a execução do acabamento (VEIGA et al., 1995).
ainda referido nos documentos de aplicação LNEC (2006) e LNEC (2007) para aplicação durante a execução
da obra de raiz,, tal como é descrito em §2.4.3.5.5.2.
Figura 4. 9: Dobra intermédia efectuada em rede de fibra de Figura 4. 10: Reforço nos ângulos dos vãos
vidro aquando da sua aplicação na zona do revestimento a
reforçar
Camada de acabamento
Rede de reforço
Camada de regularização
Figura 4. 11: Esquema de estuque armado com rede na zona de transição entre materiais diferentes (esquema feito com
base em VEIGA, 1998)
50 cm
25 cm 2 cm
25
Camada de acabamento
Rede de reforço
Mastique
Fenda
Figura 4. 12: Esquema de estuque armado com rede sobre fenda aderente (esquema feito com base em VEIGA, 1998)
Nas arestas salientes, poderão ser utilizados perfis de plástico perfurados que, embebidos na camada de
regularização do revestimento, permitirão mais facilmente a obtenção de linhas rectas e de um aspecto final
mais rigoroso, conferindo simultaneamente maior resistência a choques. Trata-se, portanto, de uma medida
aplicável sobretudo (e até ver apenas) em paredes. A aplicação desta técnica implica a remoção até ao
suporte do revestimento existente numa largura variável com a dimensão do perfil a aplicar, sendo que deve
ter pelo menos mais 5 cm do que a largura do perfil para cada lado da aresta. Após a remoção do
revestimento, é necessário preparar a superfície exposta, devendo a mesma apresentar-se limpa, seca e bem
aplanada aquando da reposição do revestimento reforçado. Se necessário, pode ser aplicado um primário
com função de aderência. Posteriormente, é executada a camada de regularização, seguida da colocação do
perfil sobre esta, quando a mistura se encontra ainda fresca. A camada de acabamento deve ser iniciada antes
da secagem total da camada precedente (regularização). O método é finalizado através da pintura ou
repintura de toda a parede, de forma a obter-se um acabamento homogéneo (VEIGA et al., 1995; LNEC,
2007).
Associado ao perfil plástico perfurado, pode estar uma rede de fibra de vidro com protecção anti-alcalina ou
metálica com protecção anti-corrosiva (a qual é colada ao perfil) (Figuras 4.13 e 4.14), sendo aconselhada
quando o paramento se encontra fendilhado. Neste caso, é necessária a extracção de uma porção maior de
revestimento para a possibilidade de inserção da rede associada ao perfil. Esta medida assegura, além do
aumento da resistência aos choques nas arestas salientes, um aumento da resistência à tracção do
revestimento na zona abrangida pela rede. A correcção da fissuração existente atribui a esta solução o
carácter correctivo e o reforço dos cantos salientes assegura o carácter preventivo da mesma. Porém, à
semelhança do que pode acontecer na técnica R-C2 (Incorporação de rede na camada de regularização
do RIEC), após aplicação deste método, pode aparecer uma fissura em cada uma das extremidades da rede
(não se inclui como extremidade a aresta saliente) devido à transição mais acentuada de rigidez nessa zona
(revestimento armado - mais rígido; revestimento sem rede - menos rígido). Uma forma de tentar resolver
este problema consiste em efectuar dobras intermédias na rede, tal como descrito na técnica R-C2
(Incorporação de rede na camada de regularização do RIEC), colocadas sobre as fissuras existentes no
revestimento.
Contudo, por vezes o estuque sobre o perfil estala, deixando-o à vista, razão pela qual alguns profissionais
preferem aplicá-lo à face do estuque, opinião também partilhada pelo já mencionado Encarregado José
Guilherme. O princípio mantém-se, isto é, o aumento da resistência aos choques, embora o acabamento final
não resulte tão bom relativamente ao perfil embebido, pois as arestas salientes não ficam totalmente
homogéneas. A aplicação desta solução é em tudo semelhante ao método já descrito, com as excepções de
que o perfil plástico não é furado e a sua colocação não é feita na camada de regularização (a qual pode ser
feita apenas em uma demão), mas sim sobre a camada de acabamento do estuque, ficando à face do mesmo.
O método é finalizado através da pintura ou repintura de toda a parede com esmalte ou verniz aquoso, de
forma a obter-se um acabamento o mais homogéneo possível.
Esta técnica é sobretudo aplicável a estuques de ligantes com base em gesso pela sua incompatibilidade com
elementos metálicos desprotegidos e o seu procedimento de aplicação é muito variável devido às inúmeras
82 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PAREDES INTERIORES
situações em que os elementos metálicos podem aparecer no revestimento. Em construções mais antigas, era
comum recorrer-se se à execução de ornatos estruturados com arame, responsável, a médio prazo, pela
ocorrência de manchas de ferrugem. A reabilitação de estuques antigos com esta anomalia implica a
substituição
ubstituição integral das áreas manchadas, assim como a remoção das estruturas de arame (COTRIM, 2004).
Figura 4. 13: Perfil perfurado associado a rede Figura 4. 14: Exemplo de aplicação da solução
de fibra de vidro para reforço de arestas ilustrada na Figura 4.13
salientes e parede adjacente
Caso o revestimentoo esteja manchado apenas na zona de contacto com o elemento metálico, a remoção da
mancha deverá ser feita por limpeza, com equipamento adequado a cada situação, desde que esta seja
possível. O preenchimento posterior da zona tratada está dependente das pretensões
pretensões do dono de obra.
Tomando o exemplo do prego encastrado no estuque para pendurar um quadro, se o dono de obra desejar
manter essa configuração na parede do edifício, poderá não ser necessário repor localmente o revestimento,
devendo, neste caso, o elemento metálico ser substituído por outro que desempenhe a mesma função e não
oxide (latão, bronze ou outros metais inoxidáveis), após limpeza da zona afectada. Em alternativa à
substituição dos materiais, podem ser previstas outras soluções construtivas mais conservativas, como, por
exemplo, substituindo os pregos oxidados por parafusos (constituídos por latão, bronze ou outros metais
inoxidáveis) com bucha (COTRIM, 2004 e SILVESTRE, 2005).
a posterior reposição com os mesmos produtos. De modo a obter-se uma acabamento homogéneo, deve-se
finalizar o procedimento com a aplicação de uma pintura ou repintura de todo o paramento, ou pelo menos
de uma zona delimitada por arestas, com tinta adequada às condições de degradação inerentes ao espaço em
que se situa, designadamente no que diz respeito ao atrito, à água e à sujidade. Se o estuque inicial estiver
armado, a extracção deve ser feita até ao suporte e a sua reposição tem de ser feita igualmente com a
incorporação de uma rede (em fibra de vidro ou metal com protecções, respectivamente, anti - alcalina ou
anti - corrosiva) de acordo com os procedimentos referidos em R-C2 (Incorporação de rede na camada de
regularização).
A expansão volumétrica que acompanha a formação dos óxidos resultantes da corrosão do pode também
originar perda de aderência (descolamento, abaulamento ou destacamento) ou fissuração no estuque de
gesso. Estas fendas são, em geral, facilmente identificáveis, por acompanharem a localização do elemento
metálico e serem visíveis manchas acastanhadas de ferrugem nos seus bordos e na superfície que as rodeia
(VEIGA, 1997; SILVEIRA, 2000). Nestas situações, o revestimento deverá ser extraído até ao suporte e
reposto com os mesmos produtos.
O facto de esta técnica impedir futuras fixações e desenvolvimentos de manchas de ferrugem atribui a esta
técnica um carácter preventivo (rp) e a necessária limpeza ou extracção do revestimento e sua posterior
reposição do revestimento garantem a correcção da anomalia, razão pela qual também é uma medida de
reparação correctiva (rc).
SILVA (2002) refere que, em paredes de alvenaria, para fissuras de espessura superior a 0,5 mm com
espaçamento superior a 1m, é muito difícil garantir a sua estabilização, mesmo que a causa da fissuração
tenha cessado, uma vez que estas fissuras, depois de abertas, funcionam como juntas de dilatação térmica
naturais. Este autor refere ainda que a reabilitação de fissuras nestas condições consiste, nos casos mais
graves, na colocação de agrafos metálicos regularmente espaçados, perpendiculares à fissura (R-C6), e na
reparação em “ponte” da mesma (R-D1). É ainda referido que os agrafos devem estar muito bem protegidos
contra a corrosão e não devem ter todos a mesma dimensão e alinhamento, pois este facto criaria zonas
frágeis na parede, não garantindo uma adequada distribuição de tensões.
GONÇALVES (2006) refere que, para o betão, a reparação de fissuras pode ser feita recorrendo a agrafos,
medida que é preferencialmente usada nos casos em que as fissuras apresentem um desenvolvimento
segundo linhas isoladas. Neste caso, é referido que a distribuição dos agrafos ao longo da fissura deve ser
efectuada de modo a não introduzirem esforços em linha, ou seja, de forma a que o esforço transmitido não
se faça num único plano.
Considerou-se legítimo estender esta medida de intervenção aos RIEC, constituindo uma técnica de
reparação, até porque, em conversas com o Encarregado José Guilherme (comunicação pessoal recolhida em
13 de Fevereiro de 2008 e outra telefónica em 22 de Fevereiro de 2008), foi possível conferir que a mesma é
aplicada em obra. Segundo o referido profissional, que já aplicou as técnicas R-C2 (Incorporação de rede
na camada de regularização do RIEC), R-C6 (Reforço localizado do RIEC com agrafos) e R-D1
(Dessolidarização local do revestimento), este é o método mais eficaz para a reparação de fissuras em
revestimentos com origem no suporte pois, desde que o mesmo seja bem executado, não ocorre o problema
de, por cada fissura reparada, aparecerem, paralelamente à fissura inicial, outras duas junto das extremidades
84 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PAREDES INTERIORES
da zona tratada, anomalia mais comum nas técnicas R-D1D1 (Dessolidarização local do revestimento) e R-C2
(Incorporação
Incorporação de rede na camada de regularização do RIEC)) (principalmente nesta última). A
introdução de agrafos no revestimento não elimina a fissuração do suporte, mas protege-a
protege e oculta-a,
restituindo o comportamento monolítico da parede, o que permite controlar as deformações, diminuir a
amplitude do movimento e redistribuir esforços. Os agrafos a utilizar devem ser de aço inoxidável ou
plástico (GONÇALVES, 2007), possuir o mesmo comprimento e diferentes larguras. Em nenhum caso a sua
largura pode ser inferior a 5/16```` (cerca de 8 mm), valor um pouco superior ao mínimo aconselhado na
montagem de painéis de gesso cartonado adjacentes. O seu comprimento deve ser cerca de metade da
espessura do revestimento, de forma a nunca penetrar no suporte.
suporte A largura média dos agrafos aumenta na
razão directa da abertura das fendas (GYPSUM ASSOCIATION, 1997; NATIONAL GYPSUM, 2008). 2008)
Esta técnica apresenta, no entanto, uma maior morosidade face a outros métodos, devido sobretudo à
colocação dos agrafos, processo que deve ser efectuado de forma rigorosa e de acordo com o procedimento
já descrito, resultando, por isso, um custo elevado. Além disso, comparativamente às técnicas R-C2
(Incorporação de rede na camada de regularização do RIEC) e R-D1 D1 (Dessolidarização local do
revestimento),, é a que apresenta um campo de aplicação mais pequeno, exigindo que a fissura tenha um
desenvolvimento isolado e não é tão eficaz quando as fendas são muito profundas, uma vez que os agrafos
são aplicados (em profundidade) sensivelmente a meio do revestimento.
Quando o RIEC se encontra fendilhado devido a fissuras com origem noo suporte não estabilizadas
localizadas e com traçado pouco irregular, um dos métodos que pode ser utilizado para reparar o
revestimento consiste em dessolidarizar localmente o revestimento do suporte, operação também
denominada de reparação em m “ponte”. Esta técnica implica a extracção do revestimento até ao suporte na
zona afectada e consiste no preenchimento da fissura (situada no suporte) e na colocação de uma fita de
papel “Kraft” sobre a mesma (na gíria da construção, este procedimento é denominado
denominado de colocação de um
“penso”), impedindo a aderência do revestimento à parede nessa zona, o que permite a distribuição do efeito
dos seus movimentos por uma faixa mais larga de revestimento. A fita de papel deve manter-se
manter no local
durante a execuçãoo dos trabalhos, mas não deve estar rigidamente colada, nem ao suporte, nem ao
revestimento. Este deve ser armado numa faixa de cerca de 25 cm para cada lado da fissura, de forma a
resistir às deformações provocadas pelos movimentos
mov da fissura (SILVA, 1998;; GONÇALVES, 2007)
(Figuras 4.16 e 4.17).
Figura 4. 16: Esquema de estuque armado com rede sobre fenda com interposição de fita dessolarizante (esquema feito com
base em VEIGA, 1998)
conseguida através da dessolidarização local (na fissura) do RIEC ao suporte, apresentando, ainda assim, o
inconveniente de exigir uma execução mais difícil e morosa, tendo, por isso, um custo superior.
À semelhança do que foi referido para a técnica R-C2 (Incorporação de rede na camada de regularização
do RIEC), o aparecimento de duas fissuras paralelas à fissura reparada, na periferia da zona reforçada,
também pode ocorrer após aplicação deste método e a inserção de uma dobra intermédia na rede, aquando da
sua colocação, fazendo-a coincidir com a fissura ao longo de toda a extensão da mesma, pode resolver esse
problema.
Esta técnica incide tanto no suporte (preenchimento da fissura) como no RIEC (incorporação de rede no
mesmo), mas a sua grande inovação está na zona de contacto entre ambos, razão pela qual foi inserida na
zona D (Contacto suporte - RIEC) na classificação já apresentada.
Após se ter definido as anomalias em §3.2 para os RIEC e as suas técnicas de reparação em propostas em
§4.2, foi construída a matriz anomalias - técnicas de reparação, apresentada no Quadro 4.3. Numa primeira
fase, construiu-se essa matriz com valores teóricos, resultantes da pesquisa bibliográfica efectuada e,
posteriormente, no decorrer da validação, alguns desses valores sofreram alteração, encontrando-se os
mesmos assinalados a amarelo. Nessa matriz, na intersecção de cada linha (representando uma anomalia)
com cada coluna (representando uma técnica de reparação) é inscrito um número, que representa o grau de
correlação entre ambas, de acordo com o seguinte critério (BRITO, 1992; SILVESTRE, 2005; GARCIA,
2006):
o 0 - sem relação - não existe qualquer relação entre a anomalia e a técnica de reparação;
o 1 - pequena relação - técnica de reparação adequada, dentro de determinadas limitações de
aplicabilidade, para reparar a anomalia ou eliminar a(s) causa(s) da sua ocorrência;
o 2 - grande relação - técnica de reparação mais adequada para reparar a anomalia ou eliminar a(s)
causa(s) da sua ocorrência.
Pela observação do Quadro 4.3, é possível verificar que existem anomalias para as quais são indicadas
várias técnicas de reparação. Nesses casos, a opção pela técnica a utilizar terá de ter em consideração que as
técnicas de pequena relação só deverão ser utilizadas em determinadas situações particulares de manifestação
da anomalia, nas quais se verifiquem as condições descritas na respectiva ficha de reparação ou quando há a
manifestação de várias anomalias conjuntamente. Para exemplificar este último caso, refiram-se as
anomalias A-F2 (sujidade) e A-Q1 (biodeterioração). Quando ocorre apenas a primeira e a mesma é de
possível remoção por limpeza, utiliza-se a técnica R-A1 (Limpeza do RIEC) na sua correcção. Porém,
quando as duas anomalias referidas se manifestam conjuntamente, a técnica R-A1 constitui uma medida
incompleta, uma vez que não previne um futuro desenvolvimento de fungos ou bolores quando as causas das
anomalias não são resolvidas; nesse caso, a opção mais acertada é a aplicação da técnica R-A2 (Aplicação
de fungicida na superfície do RIEC) ou, nos casos mais graves, a R-C4 (Incorporação de fungicida no
RIEC).
Nas situações em que existem duas ou mais técnicas de grande relação associadas a uma mesma anomalia, a
opção terá de recair naquela que se revele mais adequada em termos técnico-económicos, em cada uma das
situações de patologia em causa (SILVESTRE, 2005). Para exemplificar esta situação, refira-se a utilização
das técnicas de reparação R-A1 (Limpeza do RIEC) e R-B2 (Aplicação de fina camada de acabamento
sobre o RIEC existente) na resolução da anomalia A-F2 (Sujidade). Ambas as técnicas referidas são
consideradas as mais adequadas para a resolução da anomalia em causa (grau de correlação 2). Contudo, a
primeira é a mais apropriada quando as manchas de sujidade são de possível remoção, uma vez que, embora
a técnica R-B2 também resolva o problema (igual desempenho técnico), esta última é muito mais onerosa,
sendo, por isso, menos vantajosa em termos técnico-económicos. Ainda assim, existem manchas de sujidade
de impossível remoção por limpeza (como são exemplos as que ocorrem em alguns estuques de ligantes
sintéticos de acabamento projectado), nas quais a técnica R-B2 constitui a solução mais económica e capaz
de garantir o desempenho técnico desejado, ocultando a anomalia.
Existem também soluções que, apesar de garantirem igualmente a resolução de determinadas anomalias,
devido ao seu carácter muito intrusivo, prazo de execução e/ou custo mais elevado relativamente a outros
métodos, tornam inviável a sua aplicação em qualquer manifestação da anomalia, sendo o seu grau de
correlação 0. Como exemplo desta situação, refira-se a aplicação da técnica R-C1 (Substituição integral /
parcial do RIEC) à anomalia A-F2 (Sujidade), que não garante um desempenho superior à técnica R-B2
(Aplicação de fina camada de acabamento sobre o RIEC), pelo menos quando a referida anomalia ocorre
isoladamente.
De salientar ainda que a solução de reparação depende também do que o cliente pretende e/ou pode suportar
em termos económicos. Assim sendo, embora seja recomendada a reparação do revestimento em áreas
esquarteladas ou delimitadas por arestas, é prática corrente a reparação apenas nas áreas afectadas,
resultando em custos associados inferiores mas, em contrapartida, o desempenho a longo prazo pode ser
afectado e a homogeneidade do paramento só é garantida através de um revestimento final por pintura. Deste
modo, é importante ter em consideração que qualquer análise da viabilidade económica de cada intervenção
deverá integrar a avaliação dos seguintes parâmetros (adaptado de SILVESTRE, 2005 e GARCIA, 2006):
o extensão da(s) anomalia(s);
o riscos para os utentes;
o vida útil remanescente estimada do RIEC;
o custos da recuperação em função do valor estimado do revestimento;
o pretensões do cliente.
Como exemplo da relação entre as anomalias e as técnicas de reparação, são apresentadas no Quadro 4.4 as
técnicas de reparação curativas e preventivas que podem ser utilizadas em intervenções em anomalias do
subgrupo A-F2 (Sujidade), no qual as técnicas de grande relação se encontram sublinhadas. Uma vez que
existem várias formas de aplicar algumas técnicas de reparação de acordo com as particularidades do espaço
e/ou anomalias a corrigir, no resumo dos trabalhos será referida, entre parênteses, qual a opção descrita
dentro de cada técnica de reparação.
Quadro 4. 4: Ficha das intervenções relativas à A-Q-1 (Biodeterioração), na qual as técnicas de grande relação se encontram
sublinhadas
ANOMALIA
FICHA DE CORRELAÇÃO ANOMALIA - TÉCNICAS DE REPARAÇÃO
A-Q1 (Biodeterioração)
TÉCNICA DE
RESUMO DOS TRABALHOS CUSTO ESTIMADO RESULTADO EXPECTÁVEL
REPARAÇÃO
((b,c.1) Lavagem com solução a 10% de
lixívia em locais húmidos e mal ventilados Este método é de rápida e simples
na ficha de reparação) aplicação, permitindo a eliminação da
Lavagem esterilizante: 0,8 anomalia, restituindo o aspecto
€/h; Lavagem com água homogéneo da superfície do paramento,
R-A1 Limpeza 1. Molhagem da superfície com água simples: 0,5 €/h; Pintura desde que a mesma seja de possível
do RIEC adicionada de uma solução a 10% de lixívia; (tinta com propriedades remoção por limpeza, isto é, quando a
2. Escovagem suave e localizada fungicidas): 1,25 €/(m2 x proliferação dos fungos é apenas
(movimentos circulares ponto a ponto) com demão). superficial; neste caso, esta técnica
compressa de algodão embebida na referida constitui a solução técnico-económica
solução; 3. Lavagem com água simples; 4. mais eficaz.
Secagem perfeita do paramento;
Este método é complementar ao
((b)Tinta com propriedades fungicidas) anterior, adequado quando a anomalia é
considerada como não estabilizada
R-A2 Molhagem da superfície com água devido a condensações pelo interior do
Lavagem esterilizante: 0,8
adicionada de uma solução a 10% de lixívia; compartimento (como pode ser o caso
Aplicação de €/h; Lavagem com água
2. Escovagem suave e localizada de instalações sanitárias e cozinhas); o
fungicida na simples: 0,5 €/h; Pintura
(movimentos circulares ponto a ponto) com sucesso deste método implica o carácter
(tinta com propriedades
superfície do compressa de algodão embebida na referida superficial dos fungos ou bolores no
fungicidas): 1,25 €/(m2 x
RIEC solução; 3. Lavagem com água simples; 4. revestimento, permitindo, nessa
demão).
Secagem perfeita do paramento; 5. Pintura situação a eliminação dos mesmos e
geral do paramento com uma tinta com evitar a repatologia temporariamente
propriedades fungicidas. (os agentes fungicidas têm duração
limitada).
((a) Fungos ou bolores e sujidades diversas
de impossível remoção, admitindo que não Riscagem da superfície: 0,6 Este método resolve sempre a anomalia
há reaparecimento de bolores após a €/m2; Lavagem esterilizante: em causa assegurando um acabamento
R-B2 primeira lavagem tóxica) 0,8 €/h; Aplicação do homogéneo da superfície do RIEC
Aplicação de
primário: 0,6 €/m2; Aplicação (nem que seja só por ocultação), mas só
fina camada de de camada de acabamento em deve ser aplicado quando a anomalia
1. Riscagem da superfície; 2. Aplicação de
acabamento uma lavagem tóxica esterilizante; 3. estuque: 6 €/m2; Pintura (tinta não ultrapassa a camada de
sobre o RIEC Secagem da superfície durante uma semana; aquosa corrente): 0,5 €/m2; acabamentos e a anomalia esteja
4. Aplicação de uma fina camada de Pintura (tinta com estabilizada, o que em geral é garantido
existente
acabamento do mesmo revestimento sobre o propriedades fungicidas): pela cessação de humidade no
paramento; 5. (Opcional) Pintura ou 1,25 €/(m2 x demão). paramento.
repintura com tinta adequada ao espaço
Este método assegura, do ponto de vista
estético, os mesmos resultados do
1. Extracção do revestimento existente até ao
anterior (R-B2), mas por ser uma
suporte; 2. Preparação da superfície exposta
Extracção: 3 €/m2; Aplicação solução mais intrusiva e onerosa, só
do suporte, devendo, se necessário, ser
de primário: 0,6 €/m2; deve ser aplicado quando a
aplicado um primário com função de
R-C4 Reposição do estuque com permanência prolongada da
aderência; 3. Aplicação da camada de
Incorporação fungicida: 12 €/m2; Pintura biodeterioração tenha danificado
regularização sobre o suporte; 5. No
(tinta aquosa corrente): 0,5 irreversivelmente o estuque; garante um
de fungicida doseamento da mistura a aplicar na camada
€/(m2 x demão); Pintura (tinta acabamento homogéneo do paramento
no RIEC de acabamento, incorporar o adjuvante
com propriedades sem a necessidade de pintura desde que
fungicida nas quantidades aconselhadas pelo
fungicidas): 1,25 €/(m2 x seja aplicado em áreas esquarteladas ou
fabricante; 6. Execução da camada de
demão) delimitadas por arestas e impede a
acabamento; 7. (Opcional) pintura do
biodeterioração temporariamente (os
paramento com tinta adequada ao espaço.
agentes fungicidas têm duração
limitada).
Tal como referido, a cada técnica de reparação ou manutenção, corresponde uma ficha de reparação, as quais
são apresentadas na sua totalidade no Anexo 4.I. O formato e algum conteúdo destas fichas são baseados em
trabalhos anteriores (BRITO, 1992; SILVESTRE, 2005; GARCIA, 2006), constando a seguinte informação:
o número da ficha de reparação (de acordo com a listagem do Quadro 4.1);
o apresentação de uma fotografia ou esquema representativo da técnica;
o elemento do RIEC ao qual se aplica a técnica;
o designação da técnica (de acordo com a listagem do Quadro 4.1);
o características dos materiais a aplicar;
o descrição dos trabalhos a efectuar (os trabalhos são apresentados pela sequência de execução, estando a
definição das fases a executar em cada caso dependente das causas da anomalia, da sua extensão, da
ocorrência de outras anomalias em simultâneo, entre outros factores);
o mão-de-obra (e respectiva especialização) e prazo de execução estimados;
o equipamentos necessários;
o custo unitário estimado, o qual se torna fundamental ao nível da decisão de reparação ou de manutenção
do RIEC;
o resultado expectável, em termos de reparação das anomalias, eliminação das causas e melhoramento do
desempenho do RIEC;
o problemas especiais associados à técnica, como sejam os cuidados especiais e as desvantagens da
execução da técnica.
De seguida, é apresentado, no Quadro 4.5, um exemplo de ficha de reparação relativo à técnica preventiva
R-A2 (Aplicação de fungicida na superfície do RIEC), a qual inclui todos os campos atrás enunciados.
No que diz respeito à estimativa de custo e do prazo de execução, convém sublinhar que estas têm apenas um
carácter indicativo, dado que, como é referenciado por AGUIAR, CABRITA e APPLETON (1997), as
intervenções de reparação têm características diferenciadas das obras de construção nova, as quais impedem
que qualquer estimativa de custo de intervenção seja infalível à partida. Entre essas características, podem-se
citar:
• a necessidade de efectuar trabalhos preliminares, como sejam os de consolidação prévia (aspecto que se
encontra desenvolvido em (COTRIM, 2004), embora com maior vocação para estuques antigos);
• a existência de condições de execução mais dificultadas;
• a incerteza no volume e tipo de trabalhos final;
• a constatação de que a intervenção não é totalmente adequada à eliminação das causas das anomalias;
• a necessidade de mão-de-obra especializada que ainda rareia.
4.5. Conclusão
Os estuques correntes com base em ligantes de gesso diferem dos seus homólogos tradicionais, tanto ao nível
da composição, mas mais significativamente no tocante à sua aplicação (como é exemplo o estuque
projectado). Além disso, devido à tipologia de construção
construção contemporânea, actualmente o estuque deste tipo
perdeu o seu carácter artístico e ganhou em rapidez de execução, desempenhando agora a função de simples
revestimento de acordo com as exigências actuais. Em consequência, os métodos de reparação também
sofreram alterações, sendo alguns abandonados (exemplo: intervenções sobre o suporte de madeira), outros
alterados por razões diversas (exemplo: o estuque antigo, principalmente aquele que tinha valor artístico ou
histórico, que apresentasse perda de coesão
coes / desagregação (anomalia A-M3)) era normalmente reabilitado
através do processo de consolidação; actualmente, nestas situações, opta-se
opta se pela substituição do estuque) e
surgiram novas técnicas de reparação (exemplo: dessolidarização local do revestimento).
revestimento) As razões para
estas alterações ficam também a dever-se
dever à actual escassez de mão-de-obra
obra especializada nas técnicas
tradicionais, tornando-as
as onerosas. Ainda assim, estas continuam a ser importantes pois são aplicadas em
edifícios históricos ou outros onde
de se queira preservar determinadas peças em estuque, até porque existem
sempre eventuais problemas de incompatibilidades de materiais novos a usar em eventuais reparações de
revestimentos antigos.
Aos estuques de ligantes sintéticos, por serem relativamente recentes, não lhes é possível efectuar uma
análise comparativa desta natureza. No entanto, as técnicas de reparação dos mesmos assemelham-se às do
seu homólogo com base em gesso, apesar das constantes diferenças relativamente à espessura das camadas e
constituintes das mesmas.
Tal como é referido por inúmeros autores, a necessidade de intervenções de reparação em revestimentos,
onde se incluem os RIEC, pode ser reduzida ao mínimo através de adequadas medidas na fase de projecto,
aplicação correcta em obra e a realização de operações periódicas de manutenção (de preferência que estejam
definidas no plano de manutenção). As medidas a tomar na fase de projecto passam pela adopção de
soluções construtivas adequadas, como sejam a aplicação de rede de reforço em zonas previsivelmente mais
sujeitas à fendilhação, a protecção de arestas salientes com perfis de plástico perfurado ou ambas as soluções
associadas (tal como referido em §4.2.7.), e planos de inspecção e manutenção que abranjam toda a vida útil
do revestimento, com procedimentos bem definidos. A aplicação correcta em obra consiste em cumprir os
procedimentos referidos em §2.4.3.5 para estuques pré-doseados de gesso e em §2.4.4.5. para estuques pré-
doseados sintéticos.
Assim, o esforço financeiro necessário para o investimento nestas três fases, constituindo uma estratégia de
manutenção pró-activa, diminui de forma significativa os custos inerentes às acções correctivas, os quais
podem mesmo exceder o valor dispendido na sua execução de raiz.
A correlação entre cada técnica de reparação e cada anomalia depende não só do seu desempenho técnico,
mas também do seu custo. A relação entre desempenho técnico e económico constitui o maior indicador de
adequabilidade de uma técnica de reparação relativamente a uma anomalia. Pode então dizer-se que a
solução mais favorável para uma dada anomalia é a que for melhor do ponto de vista técnico-económico.
5.1. Introdução
O presente capítulo abrange apenas os RIEC com base em gesso e visa autenticar alguns conhecimentos
propostos nos capítulos anteriores, até aqui sobretudo teóricos, nomeadamente os procedimentos adoptados e
a matriz de correlação anomalias - técnicas de reparação. Para tal, foi preparado um plano de inspecções a
edifícios que possuíssem anomalias em RIEC, documentando a informação recolhida em fichas de inspecção
(Anexo 5.I) e de validação (Anexo 5.II). As primeiras apresentam as características dos edifícios e dos RIEC
inspeccionados e as segundas assinalam e caracterizam as anomalias identificadas em cada RIEC
inspeccionado e os parâmetros relacionados, permitindo aferir e calibrar os conhecimentos teóricos
propostos. A título de exemplo, são apresentadas uma ficha-tipo de inspecção (Anexo 5.III) e uma ficha-tipo
de validação (Anexo 5.IV).
As inspecções incluíram apenas a análise visual dos RIEC, não tendo sido realizado qualquer tipo de ensaio
in situ ou em laboratório. Salienta-se o facto de as técnicas de reparação não terem sido efectivamente
aplicadas, mas simplesmente propostas face aos quadros patológicos diagnosticados no decorrer das
inspecções. Esta preconização foi efectuada em última instância pelo autor deste trabalho, decisão, no
entanto, sempre auxiliada pela autora de PEREIRA (2008) e, em alguns casos (em 7 edifícios), com a ajuda
de profissionais com experiência em reabilitação. Deste modo, embora esta situação possa constituir uma
limitação do sistema adoptado, considera-se que esta foi a opção possível mais verosímil para validar os
conhecimentos teóricos, tendo em conta a natureza do presente trabalho. Esta metodologia já foi utilizada em
outros trabalhos, tais como em SILVESTRE (2005) e GARCIA (2006).
A validação incidiu sobre o sistema classificativo das técnicas de reparação (§5.3) e a matriz de correlação
anomalias - técnicas de reparação (§5.4). No primeiro caso, este processo está relacionado com a adequação
de cada método de reparação proposto às anomalias diagnosticadas no decorrer da campanha de campo, isto
é, a frequência absoluta das técnicas de reparação preconizadas define a autenticidade das mesmas. A
validação da referida matriz foi realizada comparando os valores teóricos da mesma (§ Quadro 4.3) com
aqueles que se obtiveram nas inspecções efectuadas, resultando em alguns ajustes no grau de correlação, de
acordo com os critérios definidos em §5.4, já utilizados por outros autores (SILVESTRE, 2005; GARCIA,
2006).
A informação recolhida foi organizada numa base de dados (Microsoft Office Access), de um modo que se
descreve sucintamente de seguida. Num edifício, são inspeccionados um ou mais compartimentos (relação de
um para vários, constando ambos na ficha de inspecção) e a cada compartimento correspondem uma ou duas
fichas de validação, pois fez-se a distinção entre os paramentos do tipo “parede” e do tipo “tecto”. Como tal,
um compartimento que tenha anomalias em ambos os tipos de paramento dá origem a duas fichas de
validação. Assim, a título de exemplo, o primeiro edifício tem o código “Ed1”, o primeiro compartimento
desse edifício tem o código “Ed1A” e a primeira anomalia diagnosticada nesse compartimento tem o código
de “Ed1A1”.
Seguidamente, é apresentado o tratamento estatístico dos dados recolhidos durante o trabalho de campo, do
qual foi possível retirar algumas conclusões interessantes, principalmente sobre o grau de adequação de cada
técnica a cada anomalia prescrita tendo em conta os condicionalismos locais.
Com a validação do sistema proposto, pretende-se que, conjuntamente com o trabalho desenvolvido por
PEREIRA (2008), o mesmo sirva como ferramenta de trabalho para as inspecções regulares a RIEC, as quais
são efectuadas mediante um plano de inspecções, que se baseia num conjunto de inspecções de visitas
periódicas, que podem ser correntes, detalhadas ou de pós-intervenção (estas últimas com carácter não
periódico), as quais são resumidas no Quadro 5.1.
Quadro 5. 1: Identificação e caracterização do programa de inspecções (BRITO, 1992; BUREAU VERITAS, 1993; SANTIAGO,
1997; FLORES, 2002; SILVESTRE, 2005; GARCIA, 2006)
TIPO DE PERIODICIDADE
OBJECTIVO METODOLOGIA
INSPECÇÕES MÍNIMA / MÁXIMA
Detectar anomalias de rápida
Observação visual do RIEC;
evolução; monitorizar anomalias
Correntes 15 / 24 meses reduzidas necessidades de
detectadas em inspecções
equipamento
anteriores
Monitorizar anomalias detectadas Observação visual do RIEC;
em inspecções anteriores, ensaios in-situ não destrutivos;
Detalhadas 5 / 10 anos
determinar a sua extensão, estrutura de apoio pessoal e
gravidade e respectivas causas material considerável
Não periódicas (no Verificar os casos de degradação
Pós- precoce do RIEC devidos a erros Observação visual do RIEC;
primeiro ano após
intervenção de execução das técnicas de reduzidas necessidades de
cada intervenção no
reparação equipamento
RIEC)
A eficiência das soluções de reparação de anomalias e de eliminação das causas das anomalias deverá ser
avaliada através de inspecções pós-intervenção não periódicas (simultâneas com as inspecções correntes ou
detalhadas, conforme se apresenta no Quadro 5.1), podendo mesmo ser efectuada a instrumentação da zona
do RIEC reparada para se verificar o respectivo comportamento ao longo do tempo. Poderão assim ser
detectadas degradações precoces do RIEC, assim como possíveis ocorrências de repatologia, e efectuada a
sua reparação (SILVESTRE, 2005; GARCIA, 2006).
A metodologia de actuação é função da degradação observada, dos padrões de qualidade exigidos, das
necessidades de manutenção, da gravidade das anomalias e dos recursos financeiros disponíveis
(SILVESTRE, 2005; GARCIA, 2006).
O plano de inspecções apresentado, quando inserido numa estratégia pró-activa de manutenção do edifício
(preventiva ou preditiva), referida em §2.4.3.6, permite minimizar os custos totais inerentes ao edifício,
assegurando, além disso, a satisfação contínua de um determinado padrão de qualidade (FLORES, 2002).
Embora as fichas de validação especifiquem a zona do paramento afectada (zona corrente, remate, canto
saliente ou canto reentrante, não é possível localizar com exactidão as anomalias identificadas num RIEC,
pelo facto de um compartimento ter, em geral, pelo menos quatro paredes (e um tecto), bem como saber a
sua extensão. Assim, deverá ser feito, para cada compartimento, o mapeamento das anomalias detectadas no
revestimento, com base numa planta (para definição dos tectos) e quatro alçados (para definição das paredes
interiores). Um ponto fraco deste método consiste na impossibilidade de definição de paredes em saliência
no interior de compartimentos. Em cada planta ou alçado, é definida uma malha com dimensão adequada,
94 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
Alguns dos campos apresentados, embora relevantes do ponto de vista do diagnóstico, são de difícil ou
mesmo impossível determinação quando não é possível estabelecer contacto com o empreiteiro responsável,
nomeadamente o tipo de execução do revestimento e o tratamento mecânico do suporte. Apresenta-se no
Anexo 5.III um exemplo de ficha de inspecção, correspondente a uma inspecção na qual foi possível obter
toda a informação contida na ficha de inspecção.
A cada anomalia identificada nos RIEC inspeccionados foram associadas uma ou mais técnicas de reparação.
Na Figura 5.1, apresenta-sese a frequência absoluta observada na amostra para cada uma das técnicas de
reparação propostas, tendo-se
se obtido um total de 437 técnicas preconizáveis e, como foram detectadas 331
anomalias,, uma média de 1,3 técnicas aplicáveis por anomalia. Comparando este este valor com o obtido por
SILVESTRE (2005), que obteve uma média de 2,3 técnicas por cada anomalia, conclui-se
conclui que é cerca do
dobro do que foi obtido no presente trabalho, o que pode ser justificado por o referido autor considerar a
correcção não só da anomalia
omalia propriamente dita, mas também da(s) suas causas prováveis.
prováveis O facto de o valor
obtido ser
er próximo de 1, tem a ver com a opção de as medidas correctivas incidirem só sobre a reparação do
RIEC, o que na generalidade dos casos não permite a anulação das causas, e também por se tentar sempre
escolher a opção mais favorável do ponto de vista técnico - económico.
R-D1 21
R-C6 18
R-C5 6
R-C4 48
R-C3 19
R-C2 25
R-C1 77
R-B2 62
R-B1 21
R-A2 25
R-A1 115
0 20 40 60 80 100 120
Figura 5. 1: Frequência
Frequ absoluta das técnicas de reparação preconizadas
Ainda assim, existem situações em que o nível de gravidade não é constante para uma mesma anomalia num
determinado compartimento, variações que dependem, por exemplo, de saber se o paramento é interior -
interior ou interior - exterior ou até da ocorrência de infiltrações (que pode ser diferencial num mesmo
compartimento). Nestas situações, toma-se
toma se consciência da ajuda que o mapeamento das anomalias pode ter
no rigor de uma inspecção. Em todo o caso, na presente dissertação, o nível de gravidade para uma mesmame
anomalia foi considerado tendo em conta o seu estado de evolução dominante, embora no tocante às técnicas
de reparação, estas tenham sido prescritas de forma a eliminar todos os cenários verificados in situ para uma
mesma anomalia.. A título de exemplo, refere-se a situação da anomalia A-Q1 (biodeterioração
iodeterioração). Se esta
anomalia estiver estabilizada e se manifestar apenas superficialmente, a sua correcção pode ser obtida através
de uma limpeza (R-A1)) esterilizante. Porém, se, para a mesma manifestação, a sua sua estabilização não estiver
assegurada devido, por exemplo, a fenómenos de condensações, recomenda-se
recomenda se a aplicação superficial de um
produto fungicida (além da necessária operação de limpeza para remoção da anomalia, também preconizada
na referida técnica). Se a biodeterioração tiver proliferado de forma profunda no revestimento, mas a sua
estabilização estiver completamente assegurada (por exemplo, por já ter sido reparado o cano que causou a
infiltração de água), então a opção mais correcta será a técnica R-C1 (substituição
ubstituição integral / parcial do
RIEC). ). Por outro lado, se essa manifestação não estiver estabilizada ou a sua estabilização for duvidosa, a
opção mais adequada será a aplicação da técnica R-C4 (incorporação
ncorporação de fungicida no RIEC).
RIEC A juntar a
isto, há ainda a possibilidade de várias anomalias surgirem associadas, devendo a técnica de reparação ser
escolhida de modo a corrigir a totalidade da área afectada.
Da observação da Figura 5.1, verifica-se um claro domínio da técnica R-A1 (limpeza do RIEC),
seleccionada em 26% das anomalias identificadas, resultado que se deve à sua capacidade de correcção da
maioria das anomalias físicas, as quais possuem maior frequência absoluta na amostra.
Por outro lado, a técnica R-C5 (remoção / substituição de elementos metálicos corroídos e reparação do
estuque) registou apenas 6 casos de preconização (1,8% das anomalias identificadas), o que revela não só a
especificidade da mesma, mas também o facto de, felizmente, nos edifícios correntes não ser comum
encontrar elementos metálicos desprotegidos encastrados no estuque, situação mais frequente em edifícios
antigos, nomeadamente servindo de estrutura ou fixação de ornatos moldados ou quadros (SILVEIRA,
2000). No entanto, optou-se por considerar esta técnica válida, até porque as próprias protecções conferidas
aos elementos metálicos se degradam com o tempo e o encastramento de pregos para a fixação de quadros é
ainda uma opção utilizada (embora não seja aconselhável).
A técnica R-C3 (protecção de arestas salientes) denotou igualmente uma frequência baixa, resultante
também de a sua especificidade e aplicação só fazerem sentido em certas anomalias não estabilizadas,
quando identificadas em cantos salientes. Caso contrário, o custo adicional em relação à técnica R-B2
(aplicação de fina camada de acabamento sobre o RIEC existente) ou R-C1 (substituição integral /
parcial do RIEC) não é justificado, a menos que se opte por uma medida preventiva - situação dependente
do proprietário do fogo.
Salienta-se o facto de a técnica R-C4 (incorporação de fungicida no RIEC) ter apresentado uma frequência
absoluta de cerca do dobro da evidenciada pela técnica R-A2 (aplicação de fungicida na superfície do
RIEC). Ainda assim, esta evidência não denota a invalidade desta última, mas fica a dever-se ao facto de os
edifícios inspeccionados na Alta de Lisboa (5 no total), embora bastante recentes (média de idades de 10
anos), estarem muito degradados devido à acção da humidade e, consequentemente, da biodeterioração, a
qual constitui a anomalia-alvo das referidas técnicas.
Por último, as técnicas R-B2 (aplicação de fina camada de acabamento sobre o RIEC existente) e R-C1
(substituição integral / parcial do RIEC) revelaram-se como as segundas mais cotadas, o que já seria de
esperar no caso desta última, tendo em conta os dados recolhidos na bibliografia pesquisada, mas que
constitui uma certa surpresa para a primeira. Concluiu-se que quando as intervenções mais superficiais, tais
como a limpeza do RIEC (R-A1), são ineficazes na correcção das anomalias, cuja profundidade não
ultrapassa a camada de acabamento, esta é, nas circunstâncias referidas em §4.2.4, uma opção muito válida,
pois do ponto de vista funcional ambas as técnicas referidas neste parágrafo se equiparam. A principal
desvantagem da técnica R-B2 resulta da sua necessidade de auxílio por adequados métodos de diagnósticos
(nesse aspecto faz-se referência ao trabalho desenvolvido por PEREIRA, 2008), de modo a ser determinada
com precisão a espessura de revestimento afectada, de que depende a eficácia deste processo.
98 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
De acordo com o sistema classificativo proposto em §3.2 e §4.2, foi construída a matriz de correlação
anomalias - técnicas de reparação teórica, com base na bibliografia pesquisada e a experiência adquirida
ao longo deste trabalho. Neste subcapítulo, é efectuada a comparação entre os dados teóricos e aqueles que
se verificaram durante o trabalho de campo, de forma a calibrar os valores inicialmente sugeridos, com vista
a aumentar a fiabilidade dos mesmos. Desta análise, resultaram alguns ajustes, de tal modo que a matriz que
consta em §4.3 já se encontra validada, sendo assinalados os coeficientes que foram alterados no decurso
desta fase.
Assim, foi construído o Quadro 5.2, o qual constitui uma tabela de dupla entrada, em que, para cada
anomalia, se apresenta na linha superior o grau de correlação teórico da técnica com a anomalia (0, 1 ou 2,
conforme a relação é não existente, pequena ou grande, respectivamente) e, na linha imediatamente sob esta,
a percentagem de casos na amostra em que determinada técnica foi associada à anomalia em causa. De forma
a visualizar o ajuste entre a previsão teórica e o resultado da amostra, dividiram-se os resultados por cores
representativas do grau de ajustamento (SILVESTRE, 2005; GARCIA, 2006):
Quadro 5. 2: Comparação entre as matrizes de correlação, teórica e com base na amostra, entre anomalias e técnicas de reparação
A/R R-A1 R-A2 R-B1 R-B2 R-C1 R-C2 R-C3 R-C4 R-C5 R-C6 R-D1
A-F1 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
A-F1_amostra 80% 12% 0% 0% 15% 0% 0% 29% 0% 0% 0%
A-F2 2 0 0 2 0 0 0 0 1 0 0
A-F2_amostra 92% 0% 0% 10% 2% 0% 0% 12% 6% 0% 0%
A-Q1 1 2 0 1 0 0 0 2 0 0 0
A-Q1_amostra 48% 58% 0% 0% 3% 0% 0% 48% 0% 0% 0%
A-Q2 2 1 0 0 2 0 0 1 0 0 0
A-Q2_amostra 38% 0% 0% 0% 85% 0% 0% 77% 0% 0% 0%
A-Q3.1 0 0 0 0 2 0 0 0 1 0 0
A-Q3.1_amostra 0% 0% 0% 0% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
A-Q3.2 0 0 0 1 2 0 0 0 1 0 0
A-Q3.2_amostra 4% 0% 0% 48% 81% 0% 0% 0% 4% 0% 0%
A-Q3.3 0 0 0 1 2 0 0 0 1 0 0
A-Q3.3_amostra 4% 0% 0% 42% 88% 0% 0% 0% 4% 0% 0%
A-M1.1 0 0 2 2 1 0 0 0 0 0 0
A-M1.1_amostra 0% 0% 0% 63% 0% 38% 0% 0% 0% 0% 0%
A-M1.2 0 0 0 0 1 2 1 0 0 2 2
A-M1.2_amostra 0% 0% 8% 0% 0% 16% 3% 0% 3% 42% 53%
A-M1.3 0 0 1 1 1 2 1 0 0 0 1
A-M1.3_amostra 0% 0% 49% 11% 0% 38% 11% 0% 0% 5% 3%
A-M2 0 0 0 1 2 1 2 0 0 0 0
A-M2_amostra 0% 0% 0% 74% 0% 0% 45% 0% 0% 0% 0%
A-M3 0 0 0 0 2 1 0 0 1 0 0
A-M3_amostra 0% 0% 0% 0% 80% 40% 0% 0% 0% 0% 0%
Após análise do Quadro 5.2, verifica-se que o ajuste é muito bom para 82% dos casos (comparações
assinaladas a verde), razoável para 14% (representadas a branco) e mau em apenas 4% das situações
(marcadas a vermelho).
Em relação à adequação da técnica R-A2 (aplicação de fungicida na superfície do RIEC) à anomalia A-
Q2 (eflorescências e criptoeflorescências), inicialmente tinha-se considerado uma correlação de 1, devido à
possibilidade de as eflorescências surgirem associadas a fenómenos de biodeterioração (A-Q1). De facto,
durante a campanha de campo, essa situação verificou-se inúmeras vezes. Porém, quando ambas as
anomalias se manifestaram em conjunto, a sua profundidade não era apenas superficial, o que
impossibilitava a respectiva reparação recorrendo à técnica R-A2. Esse facto deu origem à utilização
inesperadamente superior da técnica R-C4 (incorporação de fungicida na superfície do RIEC) para
correcção da anomalia A-Q2, o que justifica o seu ajustamento apenas razoável. Considerou-se que esta
situação se deveu aos vários casos evidenciados de manifestação conjunta das duas anomalias referidas, pelo
que se manteve a correlação de 1.
Considerou-se inicialmente a técnica R-B2 (aplicação de fina camada de acabamento sobre o RIEC
existente) como a solução mais adequada à anomalia A-F2 (sujidade), quando a mesma é de impossível
remoção por limpeza. No entanto, na prática verificou-se que esse cenário só ocorre quando essa anomalia
surge associada com outros fenómenos de maior gravidade, cuja reparação exige uma intervenção mais
profunda, nomeadamente devido à proliferação acentuada de microorganismos (A-Q1) em situação de
instabilidade dos mesmos, os quais favorecem a retenção de sujidade, impregnando-a no revestimento.
Assim, o método em questão torna-se impotente para rectificar o quadro patológico em que a sujidade
normalmente se insere quando a sua remoção por limpeza não é possível (funcionaria neste caso mais como
ocultação das irregularidades do que propriamente como correcção das mesmas) e daí a má correspondência
entre a anomalia A-F2 e a técnica R-B2. Ainda assim, este método permite a correcção de ambas as
anomalias, mas em situações em que a zona afectada não ultrapasse a camada de acabamento e o fenómeno
de repatologia seja pouco provável. Nas inspecções efectuadas, devido à falta de equipamento específico,
não foi possível avaliar a profundidade das anomalias (embora pela aparência das mesmas fosse possível ter
uma ideia) e daí a sua aplicação ter sido tão baixa. Assim, acredita-se que a técnica R-B2 constitui uma
opção válida quando estas anomalias não podem ser reparadas pelo método R-A1 (limpeza do RIEC) ou R-
A2 (aplicação de fungicida na superfície do RIEC), mas o facto de a sua profundidade não ir além da
camada de acabamento e de a humidificação do paramento já ter sido solucionada, não implica uma
intervenção tão profunda, como é o caso da R-C4 (incorporação de fungicida no RIEC) ou mesmo da R-
C1 (substituição integral / parcial do RIEC). Por estas razões, considera-se que a correlação da técnica R-
B2 com as anomalias A-F2 e A-Q1 deve ser de 1. O ajuste apenas razoável deste método de intervenção à
anomalia A-M1.3 (fissuração média) fica relacionado com o facto de, na amostra obtida, a profundidade
destas fissuras ultrapassar muitas vezes a camada de acabamento e/ou não se encontrarem estabilizadas,
necessitando, assim, de medidas mais conservativas. O mesmo se pode dizer relativamente à
correspondência entre a técnica R-C1 (substituição integral / parcial do RIEC) e as anomalias A-M1.3 e
A-M1.2 (fissuração de linearidade muito marcada ou profunda) (com especial incidência nesta última),
100 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
com a excepção de não constituir problema o facto de as fissuras atravessarem a camada de acabamento.
Assim, considerou-se 1 os respectivos graus de correlação. Pelas razões opostas, a técnica R-C1 não se
mostrou adequada à anomalia A-M1.1 (fissuração linear em forma de mapa), pois a sua profundidade e
causas associadas não exigiu intervenções com este nível de profundidade.
A técnica R-C3 (protecção de arestas salientes) apenas foi aplicada em 11% das anomalias A-M1.3
(fissuração média) devido ao facto de apenas 14% da amostra dessa anomalia se verificar em cantos
salientes. Além disso, tendo em conta que só faz sentido aplicar esta técnica quando a anomalia não está
estabilizada, conclui-se que esta técnica é adequada à anomalia em causa, mas apenas em determinadas
condições de manifestação da mesma, isto é, quando esta não está estabilizada e se situa em cantos salientes
(devendo ser associada rede ao perfil plástico). Com efeito, decidiu-se manter o grau de correlação 1. Em
relação à correlação entre a referida técnica de reparação e a anomalia A-M1.2 (fissuração de linearidade
muito marcada ou profunda), conclui-se que de facto a sua aplicação não é das mais aconselhadas, pelo
que se procedeu à alteração do respectivo coeficiente de correlacção. De facto, esta técnica só pode ser
aplicada nas condições descritas para a anomalia A-M1.3 e o seu desempenho não é tão bom como o
evidenciado pelas técnicas R-C6 (reforço localizado do RIEC com agrafos) e R-D1 (dessolidarização
local do revestimento), embora possa ser aplicada em associação com outras técnicas, a título preventivo.
Tal como seria de prever, a técnica de reparação que obteve menor número de bons ajustes foi a R-C5
(remoção / substituição de elementos metálicos corroídos), o que pode ser justificado principalmente pelo
cada vez menos frequente encastramento de elementos metálicos desprotegidos no estuque com base em
gesso nos edifícios correntes, tal como referido neste capítulo. Ainda assim, a expansão volumétrica
associada às reacções de oxidação de elementos metálicos pode ser a causa directa de perda de aderência
(anomalia A-Q3), às quais se podem associar posteriormente fissuração diversa consoante o estado de
oxidação e a dimensão do elemento em questão. Com efeito, mantém-se a relação de 1 entre a técnica R-C5
e as anomalias A-Q3.1, A-Q3.2 e A-Q3.3, aceitando que, no caso desta última, a relação causa - efeito seja
mais indirecta. De igual modo, a sujidade (A-F2) pode resultar da “ferrugem” consequente da corrosão de
elementos metálicos, sendo nesse caso necessária a remoção ou substituição dos mesmos, pelo que se
manteve o grau de correlação 1. Em resultado de a anomalia A-M3 (perda de coesão / desagregação) ter
sido aquele com menor frequência absoluta (apenas 5 ocorrências), associado à igualmente baixa
preconização da técnica R-C5 (somente 6 escolhas), não foi possível retirar uma conclusão segura quanto ao
respectivo coeficiente de correlação. Como tal, não se descarta a hipótese de interdependência em
determinadas situações, razão por que se manteve o factor 1.
Quando a fissuração, embora classificada como média (A-M1.3) devido à sua profundidade limitada, não se
encontre, porém, estabilizada (por exemplo, uma fenda média pode evoluir para uma fenda profunda devido
a deslocamentos no suporte), a técnica R-B1 (preenchimento de fissuras), que foi a mais aplicada na
anomalia em questão, revela-se ineficaz no sentido de evitar o fenómeno de repatologia. Como tal, em
presença de fendas dessa natureza nessas condições e que, além disso, ocorram de forma relativamente
localizada, a técnica R-D1 é mais adequada em relação à R-C2 (incorporação de rede na camada de
regularização do RIEC) (que foi a técnica mais vezes aplicada a esta anomalia, quando a mesma não se
encontrava estabilizada), razão pela qual se manteve a correlação de 1 entre a primeira técnica referida e a
anomalia A-M1.3.
De acordo com o descrito nos parágrafos anteriores, apresentam-se, de seguida, as alterações que devem ser
feitas na matriz de correlação anomalias - técnicas de reparação, em resultado da campanha de inspecções
efectuada:
o a correlação entre a técnica R-A2 (aplicação de fungicida na superfície do RIEC) e a anomalia A-Q2
(eflorescências e criptoeflorescências) foi alterada para 0;
o a correlação entre o método R-B1 (preenchimento de fissuras) e a anomalia A-M1.1 (fissuração
superficial em forma de mapa) foi alterada para 0;
o a correlação entre o método R-B2 (aplicação de fina camada de acabamento sobre o RIEC
existente) e a anomalia A-F2 (sujidade) foi alterada para 1;
o a correlação entre o método R-C2 (incorporação de rede na camada de regularização do RIEC) e as
anomalias A-M1.1 (fissuração superficial em forma de mapa) e A-M1.2 (fissuração de linearidade
muito marcada ou profunda) foi alterada para 1.
A campanha de inspecções efectuada resultou na visita a 23 edifícios, nos quais foram inspeccionados 87
compartimentos, tendo sido diagnosticadas 331 anomalias, das quais 231 se verificaram em paredes e 100
em tectos. Tal como mencionado, estes dados foram organizados numa base de dados (Microsoft Office
Access), o que permitiu cruzar alguma informação considerada relevante, a qual é apresentada nos
subcapítulos seguintes.
Como referido, SILVA (2004) classifica, de um modo geral, um edifício como “recente” desde que a
respectiva data de construção seja posterior a 1945, embora se tenha consciência de que essa definição não
tem em conta o tipo de revestimento. Ainda assim, na campanha experimental teve-se o cuidado de não
vistoriar edifícios anteriores àquela data. Na Figura 5.2, é apresentado o número de edifícios inspeccionados
por cada intervalo de tempo, referente ao ano de construção, com vista a obter-se uma ideia geral da idade
dos mesmos. Assim, tendo em conta que o âmbito desta dissertação é os edifícios correntes, foi dada maior
relevância às construções posteriores à década de 90, as quais representam 65% da amostra total de edifícios.
Na Figura 5.3, esta informação é tratada com mais pormenor, sendo possível verificar o ano específico de
cada uma das construções vistoriadas, de onde se pode concluir que a sua idade média é de 18 anos.
Ao nível da distribuição geográfica, todas as inspecções foram realizadas na região Centro de Portugal
Continental, das quais 83% foram efectuadas na região de Lisboa. Salienta-se o facto de que, embora o
estuque com base em gesso seja o revestimento interior mais utilizado em Portugal Continental, a sua
aplicação no Arquipélago dos Açores é cada vez menos frequente, fruto do clima muito húmido e da
conhecida susceptibilidade daquele revestimento à acção da água.
102 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
10
10
6 5
4 3 3
2
2
0
[1950 - [1970 - [1980 - [1990 - [2000 -
1970[ 1980[ 1990[ 2000[ 2008]
3
Nº de edifícios
Das 331 anomalias diagnosticadas, 231 (70%) tiveram lugar em paredes e as restantes 100 (30%) em tectos t
(Figura 5.5). Pensa-se se que tal se deve ao facto de cada compartimento ter maior área de parede (mesmo
descontando as aberturas devido a portas e janelas) em relação ao tecto e pela maior exposição dos primeiros
à acção humana. Além disso, as paredes, ao contrário dos tectos, podem estar, em alguns casos, em contacto
directo com o exterior (nos tectos, essa situação só acontece nas extremidades das lajes ou no último piso dos
edifícios) e, portanto, mais susceptíveis à ocorrência de infiltrações de água.
águ
Corredor
3% Cozinha
14% 13% 1%
3% Despensa
8% Compartimentos
não utilizados
Hall
39%
16%
Instalação
Sanitária
Marquise
Quarto
2%
Sala
30%
70%
Parede Tecto
Com vista a se ter uma noção mais precisa da amostra tratada, apresenta-se,
apresenta na Figura 5.6,
5. a frequência
relativa de ocorrência de cada anomalia na totalidade dos 87 compartimentos inspeccionados.
Pode-se
se concluir que as anomalias físicas são as mais frequentes, tendo ambas uma percentagem relativa de
ocorrência superior a 50%. O facto de em 68% dos compartimentos inspeccionados terem sido detectadas
manchas de humidade, revela bem a susceptibilidade do estuque à acção da água e justifica o facto de a
humidade ser a precursora de grande parte das anomalias químicas evidenciadas em RIEC com base em
gesso, tal como referido em §3.2.1.. A sujidade foi a segunda anomalia mais frequente, o que de certa forma
form
não constitui surpresa pois as suas causas estão por vezes associadas à própria utilização do edifício.
A-M1.3 43%
A-M1.2 44%
A-M1.1 9%
A-Q3.3 30%
A-Q3.2 31%
A-Q3.1 7%
A-Q2 15%
A-Q1 36%
A-F2 57%
A-F1 68%
Figura 5. 6: Frequência relativa de ocorrência de cada anomalia na totalidade dos 87 compartimentos de RIEC
Na Figura 5.7, pode-se se observar a frequência relativa da distribuição das anomalias pelas zonas afectadas
nos compartimentos. Conclui-se se que a maioria das anomalias (55%) se localizou na zona corrente dos
paramentos, o que se justifica, pois, embora não sejam as regiões mais propensas a anomalias (por exemplo,
a retenção de humidade), constituem a quase totalidade da área de um compartimento. Em relação aos
cantos, aqueles que constituem arestas reentrantes revelaram-se
revelaram se os mais anómalos, o que se percebe, pois são
zonas menos ventiladas e mais frequentemente associadas a paramentos interior - exterior do que as arestas
are
salientes e, portanto, com maior tendência à ocorrência de anomalias físicas e químicas, as quais constituem
a maioria da amostra (Figura 5.6).
30%
55%
12%
3%
Figura 5. 7: Frequência relativa das anomalias por zona de paramento afectada (inclui paredes
parede e tectos)
Apresenta-se, na Figura 5.8,, a análise estatística das técnicas de reparação associadas às anomalias
identificadas na campanha de campo. É notório que a escolha mais frequente como técnica de reparação é a
limpeza (R-A1) (26%). Noo entanto, isso não indica a natureza mais superficial da amostra de anomalias,
dado que a outra técnica aplicável sobre a superfície do RIEC (R-A2
( A2 Aplicação de fungicida na superfície
super
do RIEC) registou
tou uma frequência relativa de 6%6 e a segundaa técnica mais utilizada, com 18%,
18 foi a R-C1
(Substituição
Substituição integral / parcial do RIEC),
RIEC), que tem incidência sobre a totalidade do revestimento. De facto,
se considerarmos a totalidade das técnicas
técn aplicáveis sobre a superfície (R-A)) e a camada de acabamento (R-
(
B)) do RIEC e comparamos esse valor com o somatório dos métodos aplicáveis sobre a totalidade do RIEC
(R-C)) e na zona de interface entre este o suporte (R-D),
( obtém-se valoreses de, respectivamente,
respecti 51 e 49%, o
que mostra um equilíbrio das anomalias diagnosticadas na campanha de campo, no tocante à sua
profundidade.
R-D1 5%
R-C6 4%
R-C5 1%
R-C4 11%
R-C3 4%
R-C2 6%
R-C1 18%
R-B2 14%
R-B1 5%
R-A2 6%
R-A1 26%
É ilustrada, na Figura 5.9, a frequência de escolha de cada técnica de reparação em relação à totalidade da
amostra (87 compartimentos),, consoante o tipo de paramento em questão (parede ou tecto). O objectivo da
referida figura é evidenciar uma eventual vocação das técnicass de reparação propostas relativamente ao tipo
de paramento.
5%
R-D1 5% Tecto
5%
R-C6 4% Parede
1%
R-C5 2%
18%
R-C4 8%
0%
R-C3 6%
3%
R-C2 7%
18%
R-C1 17%
9%
R-B2 16%
5%
R-B1 5%
8%
R-A2 5%
28%
R-A1 26%
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18% 20% 22% 24% 26% 28% 30%
48% 52%
A--Q1
0% 50% 100%
Parede Tecto
A técnica referida no parágrafo anterior é aplicada nos casos em que a biodeterioração (A-Q1)
( se manifesta
de forma profunda e não estabilizada no revestimento,
revestimento, situação que normalmente está associada aos tectos de
compartimentos cuja produção de vapor de água seja intensa e a ventilação se revele insuficiente.
insuficiente Deste
modo, a ascensão do vapor de águagua é obstruída pelo tecto, cuja temperatura inferior provoca localmente o
aumento da humidade relativa do ar que, ao atingir 100%, origina a condensação. Se nestas condições a
ventilação for insuficiente, a humidificação dos paramentos é prolongada, constituindo
const um ambiente
favorável à fixação e desenvolvimento de fungos e bolores, que permite,, com efeito, a progressividade da
anomalia em causa. Assim, pode dizer-se
dizer que a técnica R-C4 (incorporação
ncorporação de fungicida no RIEC)
RIEC é mais
frequentemente aplicada em tectos
ctos quando a progressividade da biodeterioração (A-Q1
( Q1) se deve à humidade
com origem no interior do edifício, nas situações mais graves de manifestação dessa anomalia.
94% 6%
A-M2
0% 50% 100%
Parede Tecto
A- 70% 30%
M1.3
0% 50% 100%
Parede Tecto
Na Figura 5.13,, é ilustrada a frequência de distribuição das técnicas de reparação por zona do paramento
afectada (inclui as paredes e os tectos). Assim,
Assim verifica-se
se que quase todas as técnicas foram mais
frequentemente aplicadas na zona corrente (o que está concordante com a Figura 5.7), 5. com excepção das
técnicas R-A2 (aplicação
plicação de fungicida na superfície do RIEC)
RIEC e R-C4 (incorporação
ncorporação de fungicida no
RIEC), ), cujas zonas mais reiteradas foram os cantos reentrantes, e a técnica R-C3 C3 (protecção de arestas
salientes), cuja zona de maior aplicação foi,, obviamente, os cantos salientes. No primeiro caso,
caso essa situação
pode justificar-se pelo facto dee esses espaços
esp serem, como referido,, menos ventilados, o que favorece a
retenção de humidade (A-F1)) e, consequentemente, de outras anomalias tais como sujidade (A-F2) ( e
biodeterioração (A-Q1). ). No tocante à técnica R-C3, o seu campo de aplicaçãocação é precisamente as arestas
salientes, embora, pela análise da Figura 5.13,
5. o referido método inclua todas as outras zonas tratadas. Esse
facto ficou a dever-sese a uma pequena incongruência do sistema utilizado para registo da informação
recolhida, que assume que,, num determinado compartimento, uma mesma anomalia se pode manifestar em
108 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
diferentes zonas do paramento, mas não associa uma técnica de reparação por anomalia e por zona afectada,
mas simplesmente uma ou mais técnicas por anomalia, sem ter em conta especificamente as zonas em que a
mesma se verifica. Assim, o sistema apresenta esta limitação quando se cruza informação de uma mesma
anomalia que se manifesta em zonas diferentes do paramento, às quais são também associadas diferentes
técnicas de reparação.
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
R-A1 R-A2 R-B1 R-B2 R-C1 R-C2 R-C3 R-C4 R-C5
C5 R-C6 R-D1
Figura 5. 13: Frequência de escolha de cada técnica de reparação por zona do paramento afectada (inclui as paredes e os tectos)
R-D1
A-M3
R-C6
R-C5
A-M2 R-C4
R-C3
R-C2
A-M1.3
R-C1
R-B2
A-M1.2 R-B1
R-A2
R-A1
A-M1.1
A-Q3.3
A-Q3.2
A-Q3.1
A-Q2
A-Q1
A-F2
A-F1
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
facto de esta última ter um campo de aplicação demasiado restrito para que se constitua uma opção técnico -
economicamente competitiva,
ompetitiva, exigindo desta feita um carácter localizado da anomalia e uma linearidade
acentuada (esta, em geral, não constitui problema pois é uma característica desta anomalia).
A substituição integral / parcial do RIEC foi a técnica mais escolhida para solucionar a anomalia A-M3
(perda de coesão / desagregação), o que se acredita reflectir a realidade, embora a amostra desta anomalia
ano
tenha sido pequena.
Nas Figuras 5.15 e 5.16,, a preconização das técnicas de reparação é comparada com a idade dos edifícios
correspondentes. As técnicas foram distinguidas com diferentes tonalidades conforme a profundidade em que
actuam no revestimento. Refira-se
se que a análise destas duas figuras não pode ser dissociada da comparação
com a Figura 5.3,, uma vez que alguns dos edifícios inspeccionados possuem a mesma data de conclusão. De
um modo geral, pode-sese concluir que a limpeza do RIEC (R-A1)
( ) é uma técnica que está presente de forma
sistemática em praticamente todos os edifícios analisados, embora tenha maior relevância nos edifícios mais
recentes. De facto, os RIEC de edifícios mais antigos
ant apresentam normalmente anomalias cuja correcção
exige medidas mais profundas. Além disso, embora não seja muito evidente, pode afirmar-se
afirmar que as técnicas
que actuam sobre a camada de acabamento (R-B)
( e sobre a totalidade do RIEC (R-C C) têm uma expressão um
pouco superior nos edifícios anteriores a 1980, nomeadamente as técnicas R-A2 (aplicação
plicação de fina camada
de acabamento sobre a superfície do RIEC existente) e R-C1 (substituição
ubstituição integral / parcial do RIEC).
RIEC
35
R-A1
30 R-A2
R-B1
25 R-B2
R-C1
20 R-C2
R-C3
15 R-C4
R-C5
10 R-C6
R-D1
5
0
1950 1968 1970 1975 1980 1982 1987 1990
Figura 5. 15: Frequência absoluta das técnicas de reparação consoante a data de conclusão ([1950 - 1990])
35
R-A1
30 R-A2
R-B1
25 R-B2
R-C1
20 R-C2
R-C3
15 R-C4
R-C5
10 R-C6
R-D1
5
0
1995 1997 1998 1999 2000 2001 2004 2006
Figura 5. 16: Frequência absoluta das técnicas de reparação consoante a data de conclusão ([1995 - 2006])
O critério para definição do nível de gravidade varia consoante o tipo de anomalia mas, em termos gerais,
determina a extensão (em área) e a urgência de reparação da anomalia (SILVESTRE, 2005; GARCIA, 2006;
PEREIRA, 2008). Assim, percebe-se se que o nível de gravidade não classifica a profundidade da anomalia e,
por isso, não está directamente relacionado com a técnica de reparação. Porém, no caso da fissuração (A-
(
M1), o nível de gravidade é influenciado pela estabilização ou progressividade do fenómeno e, portanto,
constitui um dado muito importante na escolha da técnica de reparação mais adequada. Na Figura 5.17, o
nível de gravidade das anomalias é determinado para cada uma das técnicas de reparação.
R-D1 95% 5% 0%
R-C6 50% 50% 0%
R-C5 33% 17% 50%
R-C4 79% 15% 6%
R-C3 26% 63% 11%
R-C2 68% 32% 0%
R-C1 47% 52% 1%
R-B2 8% 55% 37%
R-B1 14% 86% 0%
R-A2 60% 28% 12%
R-A1 17% 39% 44%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Nível de gravidade 0 Nível de gravidade 1 Nível de gravidade 2
Figura 5. 17: Níveis de gravidade associados às anomalias corrigidas pelas técnicas de reparação
paração propostas em §4.2.1
correspondentes, verificando-se
se a situação oposta nas técnicas de reparação mais intrusivas (R-C
( e R-D).
Com efeito, da referida figura
gura pode notar-se
notar se que mais de 50% das escolhas dos métodos de reparação R-C2
(incorporação
incorporação de rede na camada de regularização do RIEC),RIEC R-C6 (reforço
eforço localizado com agrafos)
agrafos e
R-D1 (dessolidarização
dessolidarização local do revestimento),
revestimento , os quais são adequados a fissuras,
fissura incidiram sobre
anomalias com nível gravidade mais acentuado, isto é, 0. Como excepção do referido, indicam-se
indicam os métodos
R-A2 (aplicação
aplicação de fungicida na superfície do RIEC)
RIEC e R-C5 (remoção
remoção / substituição de elementos
metálicos). No primeiro caso, o facto de d a técnica de reparação superficial estar associada a 60% de
anomalias com nível de gravidade 0 pode ser justificado pelo facto de esta intervenção só se justificar
quando a sua anomalia-alvo (A-Q1 biodeterioração) não se encontrar estabilizada, factor
fa que não é tido em
conta no nível de gravidade (este é principalmente determinado pela percentagem da área de paramento
afectada). Quanto à técnica R-C5,, a sua variabilidade de aplicação torna-a
torna a quase independente do nível de
gravidade, estando directamente
mente relacionada com o estado de conservação
conservação dos elementos metálicos e não
propriamente com o estado do revestimento estucado.. Como resultado, esta técnica obteve uma das
distribuições mais homogéneas segundo o nível de gravidade das anomalias em que foi preconizada.
A estabilização ou progressividade das anomalias é um dos factores mais decisivos na escolha das técnicas
de reparação. Contudo, a sua relação não tem a ver com a profundidade da anomalia em questão,
questão mas
principalmente com as características específicas de cada técnica de reparação. De um modo geral, as
anomalias são consideradas como não estabilizadas quando as causas associadas não foram resolvidas. Deste
Dest
modo, em situação de progressividade de uma(s)
uma determinada(s) anomalia(s), a(s) técnica(s)
técnica a aplicar-lhe(s)
não deverá(ão) simplesmente repor o aspecto inicial do RIEC, mas introduzir-lhe
lhe uma melhoria, de forma a
evitar a ocorrência do fenómeno de repatologia.
repato Na Figura 5.18, são ilustradas as frequências relativas de
cada técnica de reparação de acordo com o processo evolutivo das anomalias correspondentes,
correspondentes a partir da
qual se indicam, de seguida, algumas observações.
R-D1 95% 5%
R-C6 94% 6%
R-C4 100% 0%
R-C3 100% 0%
R-A2 100% 0%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Anomalia não estabilizada Anomalia estabilizada
Figura 5. 18: Frequências relativas de cada técnica de reparação de acordo com o processo evolutivo das anomalias correspondentes
repetido periodicamente em intervalos de tempo relativamente curtos, podendo ser encarado como um
trabalho de manutenção (m). No presente trabalho, em situação de estabilização duvidosa de uma(s)
determinada(s) anomalia(s), considerou-se a hipótese mais desfavorável (progressividade do fenómeno). No
entanto, para algumas anomalias, como são exemplos as manchas de humidade e sujidade, a aplicação de
uma limpeza, repondo o aspecto inicial da superfície do revestimento, permite posteriormente aferir
rigorosamente o reaparecimento do fenómeno anómalo e, com efeito, decidir, com conhecimento de causa, a
medida mais adequada a uma determinada situação. Além disso, este resultado pode dever-se, em parte, ao já
referido sistema de caracterização das anomalias, que é feito com base no estado geral da(s) anomalia(s)
no(s) paramento(s), mas que pode ser diferencial num mesmo compartimento. Assim, as técnicas de
reparação são escolhidas em função de todos os cenários observados in situ, podendo algumas não estar
concordantes com a caracterização das anomalias efectuada nas fichas de validação.
Analogamente, o método R-C1 (substituição integral / parcial do RIEC) também não introduz nada de
novo no RIEC, embora no seu campo de aplicação constem 81% de anomalias não estabilizadas. Este valor
pode ser explicado pela inexistência de técnicas que evitem a repatologia de certas anomalias quando a sua
origem da sua manifestação não é eliminada, o que reforça a necessidade de anulação prévia das causas.
Exemplos de anomalias nestas condições são os vários níveis de perda de aderência (A-Q3), que constituem
66% do número total de anomalias reparadas com esta técnica, as eflorescências e criptoeflorescências (A-
Q2) (14%) e a perda de coesão / desagregação (5%).
Das anomalias corrigidas por técnicas de reparação que introduzem melhorias no revestimento face à sua
situação inicial (R-A2 aplicação de fungicida na superfície do RIEC, R-C2 incorporação de rede de
reforço na camada de regularização do RIEC, R-C3 protecção de arestas salientes, R-C4 incorporação
de fungicida no RIEC, R-C6 reforço localizado com agrafos e R-D1 dessolidarização local do
revestimento), pelo menos 80% das mesmas não se encontravam estabilizadas. Por outro lado, nos métodos
de reparação que não introduzem melhorias no revestimento, com excepção da técnica R-A1 (limpeza do
RIEC) e R-C1 (Substituição integral / parcial do RIEC), a sua preconização teve como objecto, pelo
menos 58% de anomalias estabilizadas.
perdas de aderência (A-Q3)) devidas a humidade com origem exterior, pelo facto de não deixarem “respirar”
a parede. Para evidenciar esta ideia, nas Figuras 5.20 e 5.19,, são apresentadas, respectivamente, o tipo de
tinta utilizado nos paramentos relativamente às 331 anomalias diagnosticadas e em relação às anomalias do
tipo A-Q3 (perda de aderência).
A-Q3.1 0% 100% 0%
Da Figura 5.19, pode-sese observar que as percentagens relativas das anomalias A-Q3.2
Q3.2 (abaulamento) e A-
Q3.3 (destacamento)) verificadas em paramentos com esmalte ou verniz aquoso são sempre iguais ou
superiores às apuradas em paramentos acabados com tinta aquosa corrente.. Este facto denota uma forte
correlação entre essas anomalias
omalias e o esmalte ou verniz aquoso,
aquoso, se se tiver em conta que a tinta aquosa
corrente está associada a 74% da totalidade da amostra de anomalias
anom (Figura 5.20).
2%
24%
74%
Esmalte aquoso Tinta aquosa corrente Esmalte aquoso e tinta aquosa corrente
Contudo, este facto passou despercebido na amostra das técnicas de reparação, onde as frequências relativas
de cada técnica de reparação são sempre iguais ou superiores nos paramentos acabados a tinta aquosa
corrente (Figura 5.21).
R-D1 0% 95% 5%
R-C6 17% 78% 6%
R-C5 50% 50% 0%
R-C4 0% 100% 0%
R-C3 11% 89% 0%
R-C2 32% 64% 4%
R-C1 34% 62% 4%
R-B2 34% 61% 5%
R-B1 43% 52% 5%
R-A2 8% 92% 0%
R-A1 21% 76% 3%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Liso com pintura (esmalte aquoso)
Liso com pintura (tinta aquosa corrente)
Liso com pintura (tinta aquosa corrente e esmalte aquoso)
Figura 5. 21: Frequências relativas de cada técnica de reparação relativamente ao tipo de tinta constituinte dos paramentos afectados
5.6. Conclusão
De um modo geral, concluiu-se se que as técnicas de reparação propostas são adequadas para os dois tipos de
paramentos tratados, à excepção do método R-C3 (protecção
protecção de arestas salientes),
salientes cuja aplicação é mais
adaptada para paredes, e da técnica R-C4 (incorporação de fungicida no RIEC), ), cuja utilização revelou-se
revelou
mais vocacionada para tectos.. Este último caso acontece quando a anomalia A-Q1 Q1 (biodeterioração) se
manifesta de forma profunda no RIEC e a causa da sua progressividade
dade é a humidade com origem no interior
do edifício.
Dos 87 compartimentos inspeccionados, não houve nenhum que possuísse rede de reforço ou protecção das
arestas salientes. No entanto, acredita-se
acredita veemente que o investimento nestas medidas preventivas nas
n fases
de projecto e concepção permitem, em muitas situações, a redução dos custos globais associados ao edifício
durante a sua vida útil, além de a aumentar.
Em edifícios recentes, a escolha da técnica de reparação em RIEC está mais dependente das condições de
exposição do revestimento, que por sua vez determinam a estabilidade ou progressividade das anomalias, do
que propriamente com a idade do mesmo ou da classificação segundo o nível de gravidade (com excepção
das anomalias A-M1 - fissuração)). A correcta reparação do RIEC deve ser iniciada pela eliminação das
causas das anomalias em situação de progressividade das anomalias, devendo as melhorias introduzidas no
revestimento servir como medida de prevenção.
A humidade (A-F1) foi a anomalia mais frequente nos edifícios inspeccionados, tal como a limpeza (R-A1)
foi o método de reparação que registou maior número de escolhas.
A técnica R-A1 (limpeza do RIEC) é a mais adequada à correcção da anomalia A-F1 (humidade),
bastando para isso deixar secar completamente o paramento e, de seguida, aplicar o referido método, o qual
prevê também a pintura / repintura do paramento afectado. Embora esta anomalia possa danificar
irreversivelmente o revestimento, situação em que se exige uma intervenção mais profunda, esse cenário só
se verifica quando a referida anomalia se tenha prolongado por um período de tempo elevado, causando o
aparecimento de irregularidades mais graves, tais como biodeterioração (A-Q1) ou eflorescências e
criptoeflorescências (A-Q2). Este mesmo método de intervenção revela-se o mais adequado para a remoção
de sujidade (A-F2), nas situações em a mesma ocorre isoladamente.
A reparação da anomalia A-Q1 (biodeterioração) está dependente do seu nível de gravidade. Assim, nos
casos menos graves, isto é, quando a anomalia surge de uma forma localizada e superficial no RIEC e se
encontra estabilizada, a técnica R-A1 (limpeza do RIEC) é suficiente para resolver o problema. Nas
mesmas condições, mas considerando a anomalia não estabilizada, a técnica R-A2 (aplicação de fungicida
na superfície do RIEC) mostrou ser a mais adequada. Nas situações mais graves, isto é, quando a
biodeterioração se encontra muito alastrada tanto em área como em profundidade, a resolução da mesma só é
conseguida através da aplicação da técnica R-C4 (incorporação de fungicida no RIEC).
A técnica R-C1 (substituição integral / parcial do RIEC) revelou-se a mais adequada para solucionar as
perdas de aderência em RIEC (A-Q3), salvo na situação em que, por associação a outras anomalias, como é
o caso da biodeterioração, a intervenção necessita de algo mais, como por exemplo a adição de um adjuvante
fungicida (R-C4) ou a incorporação de rede no revestimento (R-C2). Todavia, nos casos menos graves, isto
é, quando a perda de aderência é apenas superficial, afectando apenas a pintura e/ou a parte superficial do
revestimento, a técnica R-B2 (aplicação de fina camada de acabamento sobre o RIEC existente) permite
corrigir o problema. Não obstante a validade deste método, e tendo em conta que o descolamento (A-Q3.1)
do revestimento não se dá necessariamente na interface entre o revestimento e o suporte (pode ocorrer entre
camadas de revestimento), a substituição da camada de acabamento (R-B2) poderia ser suficiente. No
entanto, a determinação exacta do local onde se dá o descolamento foi impossível, não havendo meios para o
fazer, de modo que, nestes casos, se optou sempre pela opção mais conservativa.
Das técnicas referidas na presente dissertação, a R-B2 (aplicação de fina camada de acabamento sobre o
RIEC existente) é a mais adequada para corrigir as fissuras superficiais mapeadas (A-M1.1). Convém,
ainda assim, não aplicar o estuque com temperaturas superiores a 40 ºC (LNEC, 2007) e humidade relativa
do ar muito baixa, com vista evitar o endurecimento demasiado rápido da pasta, que faria aumentar a
retracção do revestimento, potenciando o fenómeno de repatologia. Ainda assim, a menor espessura da
camada associada a este método, em princípio, é suficiente para impedir esse acontecimento.
As técnicas R-D1 (dessolidarização local do revestimento) e R-C6 (reforço localizado do RIEC com
agrafos) são as mais indicadas para corrigir e prevenir as anomalias do tipo A-M1.2 (Fissuração de
linearidade muito marcada ou profunda). Do ponto de vista do desempenho, pode-se considerar que
ambas se equiparam, sendo as características das anomalias que determinam a maior ou menor
competitividade técnico - económica de cada uma delas. Assim, o método R-D1 é mais indicado quando a
abertura de fendas é tão grande que associe outros fenómenos patológicos à anomalia em questão, nas
situações em que ocorrem várias fissuras desta natureza numa mesma zona ou quando a sua extensão é muito
grande (infelizmente não foi possível obter informação de modo a quantificar esse valor de fronteira). A
técnica R-C6 mostra-se mais adequada quando as fendas se desenvolvem isoladamente, não têm extensão e
abertura muito significativa e não ocorram outros fenómenos patológicos associados a esta anomalia (tais
como destacamentos na periferia das fendas). Com efeito, é razoável admitir que, em termos gerais, a técnica
R-D1 é mais indicada para os casos mais graves da anomalia A-M1.2 e o método R-C6 destina-se às
manifestações menos graves.
A técnica R-B1 (preenchimento de fissuras) é a mais adaptada às fissuras médias, desde que estas se
encontrem estabilizadas e a sua densidade por metro quadrado não seja muito elevada, caso em que o método
se torna impraticável, perdendo competitividade face às técnicas R-B2 e R-C1 (substituição integral /
parcial do RIEC). Nas situações em que este tipo de fissuração não esteja estabilizado, as técnicas mais
indicadas são a R-D1 (dessolidarização local do revestimento), quando a densidade de fissuras por metro
quadrado é baixa, e a R-C2 (incorporação de rede na camada de regularização do RIEC), quando esta
última situação não se verifica.
A anomalia A-M2 (golpes e impactos), quando estabilizada, deve ser reparada com a simples aplicação de
uma camada de acabamento, restituindo a superfície afectada. Quando essa estabilização não está garantida
ou se pretende uma intervenção com carácter preventivo, então a escolha deve recair sobre a técnica R-C3
(protecção de arestas salientes), se a superfície afectada for um canto saliente (podendo ou não ser
associada uma rede ao perfil) ou na técnica R-C2 (incorporação de rede na camada de regularização do
RIEC), caso a área afectada se localize em zona corrente do paramento.
A perda de coesão / desagregação (A-M3) deve ser resolvida com a substituição do estuque na zona
afectada, podendo, nesse processo ser incorporada uma rede de reforço, nomeadamente se a zona afectada se
inserir numa das situações descritas em §2.4.3.5.5.2. (R-C1 Substituição integral / parcial do RIEC ou R-
C2 Incorporação de rede na camada de regularização do RIEC).
Concluiu-se também que os paramentos acabados com pintura a tinta aquosa corrente, embora provoquem
uma maior susceptibilidade do revestimento estucado a acções vindas do interior, tais como condensações
interiores, raramente apresentam empolamentos, devido à elevada permeabilidade ao vapor de água. Porém,
a sua limpeza é mais difícil quando comparada com os esmaltes acrílicos, os quais são facilmente laváveis,
sendo por isso aconselháveis em compartimentos sujeitos a contacto frequente com objectos, pessoas ou
118 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL
TECNOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTUQUES CORRENTES EM PARAMENTOS INTERIORES
animais, como são exemplos alguns edifícios públicos (hospitais, centros de saúde, entre outros). Ainda
assim, a sua menor permeabilidade ao vapor de água, embora possa ser muito útil em compartimentos
sujeitos a intensa produção de vapor de água, como são o caso das cozinhas e instalações sanitárias, pois
confere maior protecção ao revestimento, facilmente provoca empolamentos quando os agentes agressivos
têm origem exterior, como são o caso das infiltrações. Além disso, os esmaltes aquosos, devido às suas
propriedades já descritas, retiram a maior parte do carácter higroscópico aos estuques com base em gesso,
que é uma das vantagens deste tipo de revestimentos, ainda que de forma menos efectiva em relação aos
hidrófugos de superfície, os quais são completamente desaconselhados.
Com efeito, aconselha-se sempre a aplicação de um revestimento final por pintura nos RIEC com base em
gesso, recomendando, para edifícios particulares, a utilização de esmaltes acrílicos em cozinhas e instalações
sanitárias, por estes compartimentos estarem, em geral, associados a uma produção de vapor de água
relevante, revestindo as restantes divisões com tinta aquosa corrente, desde que o seu contacto com objectos,
pessoas ou animais não seja frequente.
Em edifícios de utilização colectiva, cujos paramentos verticais (paredes) normalmente estão sujeitos a
contacto frequente com objectos, pessoas ou animais, aconselha-se a aplicação de um esmalte acrílico até a
uma altura de, aproximadamente, 2,20 m (contados a partir do pavimento de cada piso), sendo o restante
(incluindo o tecto) pintado com tinta aquosa corrente. Esta solução foi executada, por exemplo, no Centro de
Saúde de Massamá, permitindo uma limpeza mais fácil nas zonas mais sujeitas a sofrerem a anomalia A-F1
(humidade) e A-F2 (sujidade), permitindo, além disso, que a parede “respire” através da sua fracção que
está revestida a tinta aquosa corrente. No entanto, nas instalações sanitárias e cozinhas desse tipo de
edifícios, se for previsível uma produção de vapor de água relevante, o RIEC deve ser totalmente revestidos
a esmalte ou verniz aquoso.
De salientar que, independentemente do tipo de edifícios, uma ventilação e iluminação natural eficazes
constituem boas medidas de prevenção das diversas anomalias com possível origem na humidade - manchas
de humidade (A-F1), biodeterioração (A-Q1), eflorescências e criptoeflorescências (A-Q2) e perdas de
aderência (A-Q3). Por vezes, basta abrir uma janela para resolver o problema.
Embora tenha perdido o seu carácter artístico que outrora o caracterizava, o estuque com base em gesso
constitui actualmente um dos revestimentos com acabamento estético mais consensual, o que decerto
contribui para que seja o mais utilizado em Portugal em edifícios de habitação (75% dos revestimentos
interiores), de acordo com os dados recolhidos junto das empresas. O estuque de gesso corrente apresenta-se
comercialmente na forma de pó pré-doseado em fábrica, ao qual apenas há a necessidade de adicionar água
para formação da pasta.
Este trabalho pretende sistematizar a reparação das anomalias evidenciadas em estuques de gesso com base
na classificação e quantificação das mesmas, operação que deve ser concretizada através da realização de
inspecções. Este facto pressupõe a implementação de uma estratégia de manutenção pró-activa, que pode ser
preventiva ou predictiva, sendo esta última a mais aconselhada pois, ao prever apenas as inspecções na fase
de projecto, permite escolher as medidas de intervenção (curativas, preventivas ou trabalhos de manutenção)
com base na tecnologia mais actualizada, a qual pode evoluir ao longo da vida útil do edifício / revestimento.
A adopção desta estratégia permite a redução dos custos globais do edifício e a satisfação da qualidade do
revestimento, efectivada através da realização de um plano de manutenção, elaborado na fase de projecto.
Por apresentarem algumas semelhanças com os estuques pré-doseados de gesso, os estuques pré-doseados
sintéticos foram também abordados neste trabalho. Estes produtos, embora praticamente dispensem a
amassadura (basta uma simples agitação) são aplicados de modo semelhante aos estuques com base em
gesso, embora em espessuras significativamente inferiores (1-3 mm face aos 10-20 mm em que são
correntemente aplicados os revestimentos de gesso). Quanto à reparação, praticamente todas as técnicas
descritas para os revestimentos de gesso são extensíveis aos sintéticos, embora possam diferir pontualmente
em algumas situações (nessas situações, tentou-se assinalar essas diferenças nas fichas de reparação
constantes no Anexo 4.I).
o os revestimentos de gesso, sendo cobertos desde 2005 pela norma europeia EN-13279-1, já não
necessitam de documentos de homologação (DH) emitidos pelo LNEC para circularem legalmente em
Portugal (tal como exigia o artigo 17º do RGEU); ainda assim, a verificação da qualidade pode ser
obtida através de documentos de aplicação (DA) emitidos pela mesma entidade, os quais
complementam a referida norma;
o os estuques correntes (pré-doseados de gesso e pré-doseados sintéticos) são aplicados directamente
sobre os suportes, assegurando, por si só, a regularização e acabamento dos paramentos; no entanto, a
sua susceptibilidade à humidade e resistência mecânica relativamente baixa levam a que este tipo de
revestimento receba, na maioria dos casos, um acabamento final por pintura adequado às acções de
degradação inerentes à utilização normal dos espaços, designadamente aos choques, ao atrito, à água e à
sujidade;
o nos estuques pré-doseados sintéticos, o ligante é constituído por resinas sintéticas em dispersão aquosa,
enquanto que os estuques pré-doseados de gesso, tal como o nome indica, têm por ligante o gesso
(sulfato de cálcio); estes últimos possuem um bom isolamento acústico e sonoro, um período de vida
útil de cerca de 50 anos e têm a propriedade de serem higroscópicos; os estuques sintéticos possuem
uma vida útil superior a 10 anos (endurecem com o tempo), podem receber um acabamento final
passadas apenas 48 horas da aplicação da camada de acabamento e o seu desempenho mecânico está
dependente das características do suporte;
o as regras de qualidade para revestimentos com base em gesso podem ser definidas em função da sua
espessura, dureza, planeza, verticalidade, regularidade superficial, aderência ao suporte, resistência à
flexão e à compressão, resistência à fixação e ao desenvolvimento de bolores, tempo mínimo de início
de presa e durabilidade; além disso, tal como os estuques sintéticos, devem verificar as seis exigências
essenciais definidas na directiva dos produtos de construção (89/106/CE);
o para revestimentos interiores com base em ligantes sintéticos, as regras de qualidade passam por
assegurar condições mínimas de resistência à saponificação, planeza, verticalidade, regularidade
superficial, aderência ao suporte, resistência às acções de degradação devidas à utilização normal dos
espaços (choques, atrito, água e sujidade), resistência à fixação e ao desenvolvimento de bolores e
durabilidade;
o os estuques tradicionais possuem espessura variável entre 19 e 33 mm, sendo constituídos pelo crespido,
camada de base (aplicada em camada única ou em duas camadas, emboço e reboco) e camada de
acabamento (esboço e estuque);
o os prazos cada vez mais restritos nas obras correntes exigem um planeamento rigoroso, de forma a que a
aplicação correcta dos estuques seja coordenada com os outros trabalhos, evitando-se, assim, a
degradação prematura dos RIEC;
o a manutenção da qualidade dos componentes dos edifícios (onde se incluem os revestimentos) deve ser
assegurada pela elaboração de uma estratégia de manutenção pró-activa predictiva, materializada pelo
plano de manutenção, elaborado na fase de projecto.
o das anomalias mecânicas, fazem parte os golpes e impactos (A-M2), a perda de coesão / desagregação
(A-M3) e vários tipos de fissuração (A-M1), a qual é classificada principalmente consoante a abertura e
profundidade das fendas;
o distinguem-se três tipos de fissuração: superficial (não ultrapassa, em geral, a camada de acabamento),
que normalmente tem origem no revestimento (nomeadamente devido à retracção do mesmo durante o
processo de endurecimento) e se apresenta de forma mapeada (A-M1.1); fissuração média, cuja origem
pode estar no revestimento ou no suporte e não cruzam, em condições normais, toda a espessura do
revestimento (A-M1.3); fissuração de linearidade muito marcada ou profunda, a qual tem origem no
suporte (A-M1.2).
Do capítulo 4, dedicado à reparação, enunciam-se as seguintes conclusões:
o a consolidação, o endurecimento e conservação de superfícies e a reintegração de ornamentos em
estuque são técnicas de reparação tradicionais que, devido essencialmente à necessidade de mão-de-obra
especializada e ao tipo de acabamento dado ao próprio revestimento, só fazem sentido na reabilitação de
edifícios históricos, sendo, no cenário actual, substituídas por outros métodos mais rápidos e com um
desempenho superior;
o as técnicas de reparação podem classificar-se como curativas, preventivas ou trabalhos de manutenção;
o a reparação está fortemente dependente das causas das anomalias que, por sua vez, determinam muitas
vezes a estabilização das mesmas;
o o sistema classificativo proposto prevê técnicas de reparação que actuam somente no RIEC, embora, em
rigor, a reparação inclua, por vezes, a intervenção na envolvente, de modo a inibir a fonte dos
problemas; assim, os métodos de reparação foram classificados de acordo com a sua tipologia - curativa,
preventiva ou trabalhos de manutenção - e profundidade - superfície do RIEC, camada de acabamento, a
totalidade do RIEC e a interface entre o revestimento e o suporte;
o a escolha da técnica de reparação para uma determinada anomalia deve ser a mais favorável do ponto de
vista técnico-económico.
o as anomalias físicas são as mais frequentes, tendo ambas uma percentagem relativa (ao número de
compartimentos inspeccionados) de ocorrência superior a 50%; o facto de em 68% dos compartimentos
inspeccionados terem sido detectadas manchas de humidade (A-F1) revela bem a susceptibilidade do
estuque à acção da água; esta anomalia ter apresentado o valor máximo de percentagem relativa está
concordante com e justifica o facto de a humidade ser a precursora de grande parte das anomalias,
nomeadamente as de natureza química;
o 55% das anomalias diagnosticadas tiveram lugar na zona corrente dos paramentos, 30% em cantos
reentrantes, 12% em cantos salientes e 3% em remates;
o a relação entre o nível de gravidade das anomalias e as respectivas técnicas de reparação não é uniforme,
uma vez que a própria definição de nível de gravidade é variável consoante a anomalia em questão
(PEREIRA, 2008); no caso da fissuração, pode considerar-se que a relação é acentuada;
o a técnica de reparação mais solicitada foi a limpeza (R-A1), com 26% das escolhas; a segunda foi a R-C1
(substituição integral / parcial do RIEC), com 18%;
o as técnicas aplicáveis sobre a superfície (R-A) e a camada de acabamento (R-B) do RIEC constituíram
51% do total de técnicas preconizadas enquanto que, os métodos de reparação aplicáveis sobre a
totalidade do RIEC (R-C) e na zona de interface entre este e o revestimento (R-D) obtiveram os restantes
49% da amostra, o que revela o equilíbrio da amostra quanto ao nível da profundidade das anomalias
diagnosticadas;
o a preconização de todas as técnicas de reparação consoante o tipo de paramento foi homogénea,
exceptuando-se as técnicas R-C3 (protecção de arestas salientes), que é mais adaptada para paredes e
R-C4 (incorporação de fungicida no RIEC), cuja aplicação, em determinadas condições, mostrou-se
mais vocacionada para tectos;
o 73% das técnicas de reparação foram mais frequentemente aplicadas nas zonas correntes dos paramentos;
o as técnicas de reparação mais frequentes para cada tipo de anomalia foram as que se apresentam no
Quadro 6.1.
Em função do aumento da importância da reabilitação, principalmente em zonas urbanas, seria útil aplicar a
mesma metodologia desta dissertação a outros tipos de revestimento com um objectivo final de sistematizar
os procedimentos a efectuar para reabilitar qualquer tipo de revestimento.
A análise experimental das técnicas previstas na presente dissertação, seria interessante com vista a avaliar
ainda melhor a sua adequação às anomalias. Com este estudo seria possível determinar limitações e
capacidades desconhecidas de cada um desses métodos, que infelizmente não é possível aferir na presente
dissertação por não serem aplicados efectivamente.
Considera-se relevante o estudo da durabilidade dos RIEC perante diferentes cenários de exposição. Para tal,
seria interessante o estabelecimento de níveis de qualidade para os mesmos (técnicos, funcionais, estéticos e
económicos), bem como o desenvolvimento de modelos de degradação, que representassem com fiabilidade
o comportamento desses revestimentos ao longo do tempo, tendo em conta os agentes e mecanismos de
deterioração. Neste caso, os modelos poderiam ser construídos a partir de um estudo laboratorial ou de
monitorização de construções. Esta análise, complementada com a informação contida na presente
dissertação e no trabalho desenvolvido por PEREIRA (2008), entre outros, permitirá uma optimização
técnico-económica das estratégias de manutenção pró-activas e tipos de intervenção necessárias, a decidir na
fase de projecto, para a satisfação de níveis de qualidade ao longo da vida útil do edifício. Deste modo, o
retorno aos projectistas dos conhecimentos teóricos (validados) e o tratamento estatístico das anomalias,
técnicas de diagnóstico e de reparação verificado na campanha de campo, durante a realização dos dois
trabalhos referidos, poderiam servir como informação de base para o estabelecimento de tais planos de
inspecção e manutenção.
A cooperação com empresas ligadas à reabilitação permitiria a obtenção de um valor mais preciso do
rendimento das técnicas de reparação através do acompanhamento da sua aplicação in situ. Deste modo, os
custos reais associados a cada uma delas seriam determinados com maior rigor e, assim, futuramente os
orçamentos que acompanham os planos de manutenção pró-activa preventiva seriam efectuados com maior
exactidão.
1. Referências bibliográficas
Como auxílio e com o objectivo de se constituir como bases de referência à presente dissertação, recorrer-
se-á aos seguintes trabalhos de investigação já realizados e em realização no Instituto Superior Técnico:
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