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A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE
SOCIAL CORPORATIVA
(Work Paper)

Professor Dr. Martinho Luís Kelm


Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Desenvolvimento da Unijuí

Setembro de 2008
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RACIONALIDADE ADMINISTRATIVA E RESPOSABILIDADE SOCIAL


CORPORATIVA

Prof. Martinho Luís Kelm

Inicio este ensaio com uma grande ousadia. A ousadia de comentar algumas
idéias de três dos mais brilhantes teóricos da sociologia e filosofia, Max Weber,
Jürgen Habermas e Alberto Guerreiro Ramos que, de uma forma ou outra, tem
influenciado uma conceituada vertente de estudos organizacionais no Brasil. Para
atenuar este desafio cabe esclarecer que não se pretende contrapor suas idéias,
mas erigir algumas possibilidades de problematização aplicadas ao contexto
empresarial, enfatizando a racionalidade administrativa e do que entendemos que
se possa esperar das organizações para a construção de uma sociedade que
qualifique as condições de existência dos indivíduos.
O presente texto discute esta temática tendo como referência teórica a
denominada teoria crítica que tem como premissa a oposição ao positivismo lógico
e considera que a sociedade de mercado não é algo natural, ou seja, nem sempre
a sociedade se organizou deste modo e não necessariamente este deva ser o
modelo final de organização. Neste contexto a teoria crítica tem como elemento
fundamental a questão da emancipação e os fatores que tem inibido este processo
na sociedade contemporânea. É uma abordagem que busca, mais do que
descrever a realidade administrativa, contribuir para a construção de outras
referências de convívio que possam contribuir para que se avance nos processos
de emancipação individuais. Para tanto, em termos metodológicos, ela adota uma
postura de “crítica” que se baseia, conforme, Falcão Vieira e Caldas (2006, pg.60),
no seguinte postulado:

“... é impossível mostrar as coisas como realmente são, senão a partir da perspectiva de como
elas deveriam ser. Na verdade, o “dever ser” se refere às possibilidades não realizadas pelo mundo
social. Não tem caráter utópico, mas analisa o que o mundo poderia ter de melhor se suas
potencialidades se realizassem. A identificação das potencialidades permite entender mais
claramente como o mundo funciona e, dessa forma, identificar os obstáculos à realização das suas
potencialidades”.

A estrutura do texto busca primeiramente discutir um conjunto de elementos


da dinâmica administrativa frente as premissas da teoria crítica. Neste sentido a
tese central levantada é que, em função de um conjunto de dificuldades de caráter
epistemológico esta transformação, praticamente se inviabiliza quando buscadas a
3

partir das organizações investigadas independentemente. Esta observação,


entretanto não inviabiliza que sejam paulatinamente elevados os padrões de
existência dos indivíduos e do ambiente como conseqüência de um processo de
evolução da sociedade como um todo que acaba construindo, intersubjetivamente,
novas referências que se constituem como base para a ação administrativa em um
contínuo processo de aprendizado social.
Alberto Guerreiro Ramos, no primeiro parágrafo de seu livro a Nova Ciência
das Organizações, uma reconceituação da riqueza das nações, afirma que “A teoria
da organização, tal como tem prevalecido, é ingênua. Assume esse caráter porque
se baseia na racionalidade instrumental inerente a ciência social dominante no
ocidente” (1989, pg.1). Em seguida o autor ressalva que esta ingenuidade tem sido
aceita, pois tem apresentado sucesso não obstante adotar uma visão
unidimensional das circunstâncias concretas da vida humana associada.
O que se pretende ponderar é que talvez a questão fundamental seja o fato
de que a sociedade produz e constitui uma variedade de sistemas sociais, cada um
com especificidades e objetivos próprios atuando de modo diverso, mas
absolutamente complementares na formação do dia-a-dia da vida humana
associada (para utilizar a terminologia de Guerreiro Ramos). Não se pode criticar o
mundo empresarial por adotar uma lógica instrumental em seu agir visto que as
organizações buscam indubitavelmente a otimização de recursos à consecução de
uma finalidade pré-definida. Não obstante merecer críticas o modo de agir de
muitas empresas, a disfunção não está exclusivamente no comportamento
administrativo, mas no fato de que na sociedade de mercado, um conjunto
significativo das dimensões da vida humana foram paulatinamente convertidos a
uma relação econômica. Este quadro acaba redundando que também os aspectos
transcendentais da existência tentam ser solucionados em função da viabilização da
capacidade de compra de cada indivíduo, que então, a partir do dinheiro, poderia
equacionar todos seus desejos e expectativas.
Pizzi (2006, pg.160) reforça este fato afirmando que “as estruturas simbólicas
do mundo da vida reproduzem um sistema de necessidades hierarquizado,
submetendo a integração social aos mecanismos da auto-interpretação restrita ao
domínio técnico-instrumental da natureza e dos próprios sujeitos”. O que se
observa é uma hegemonia da dimensão econômica sobre um indivíduo que se
pressupõe multidimensional e onde as necessidades de qualquer dimensão podem
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ser equacionadas pelo provimento de um fluxo financeiro que, individualmente, será


utilizado para pretensamente satisfazer cada pessoa.
A temática, colocada deste modo, mais que um problema organizacional
exige uma análise sociológica que não obstante envolver enormes reflexos ao
mundo empresarial deve ter como arena privilegiada a sociedade em toda sua
complexidade. As patologias oriundas de um tratamento unidimensional à vida
humana não decorrem da existência das empresas, nem tampouco do
desenvolvimento tecnológico dos fatores de produção. Conforme tentar-se-á
demonstrar mais adiante, auxiliando-nos em Habermas (1990, 2002), esta
concepção de mundo decorre do modo como se organizaram as relações de
produção e como a sociedade materializou determinadas normas e
comportamentos que, ao assumirem um caráter normativo ou legitimado, permitiram
que a vida humana associada assumisse as características hoje vivenciadas.
A percepção de que existem dinâmicas específicas entre as empresas e a
totalidade do ambiente social é evidente em Guerreiro Ramos quando este afirma
que “... a organização tem um ethos específico, diverso do ethos da vida humana
em geral”. Em outra passagem o autor reforça que “...
... a ética da organização é a
ética da responsabilidade, embora ela nunca deixe de ser, de certo modo,
influenciada pela ética da convicção”. Apesar disto, a contundência que Guerreiro
Ramos analisa criticamente o ambiente organizacional acrescido do forte viez
sociológico, parece ter gerado a expectativa em alguns teóricos que fosse possível
promover uma transformação da sociedade a partir da modificação do
comportamento no interior das organizações.
Na hipótese remota que isto fosse possível, observa-se que não se
procederia uma alteração de tal envergadura impunemente. Ao pautar o
comportamento administrativo com base em uma racionalidade substantiva, o
principal resultado não é a modificação da dinâmica de convivência dos indivíduos,
mas o desvirtuamento do objetivo organizacional1. Ou seja, a empresa enquanto um
sistema de conversão de recursos em resultados especificados em sua missão pela
execução de seu negócio somente se justifica e sobrevive autonomamente se o
produto gerado for no mínimo igual aos insumos consumidos. Um eventual
desvirtuamento desta condição sistêmica, ocorrendo em um contexto de relações

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O que não significa que as organizações não tenham um amplo campo para promover a
humanização das relações de trabalho sem comprometer sua função precípua.
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de produção orientadas à dimensão econômica, retira praticamente todas as


chances de sobrevivência das denominadas organizações substantivas (SERVA,
1993, 1997a, 1997b), a não ser que seus integrantes se disponham, também, a
prescindir das questões econômicas para subsistirem somente com os aspectos
substantivos da vida social. Talvez isto seja possível, entretanto, provavelmente
não estaremos mais falando de uma empresa no sentido estrito que hoje
conhecemos e com a finalidade que a sociedade pressupõe que ela exerça. Ramos
(1989, pg. 108), é sagaz e definitivo com relação a este tema ao afirmar que “...
culpar as organizações de natureza econômica por serem incapazes de atender às
necessidades do indivíduo como um ser singular é tão fútil quanto culpar o leão de
ser carnívoro”.
Por outro lado não se pode menosprezar que há um grande risco das
empresas serem percebidas como “a sociedade”. Esta tendência não pode ser
ignorada em função de que, aliada a todo o aparato de comunicação e de funções
executadas pelas organizações no cotidiano, estas tem efetivamente a possibilidade
de se converterem em sistemas epistemológicos capazes de conduzir uma política
cognitiva que coloque o econômico como a principal dimensão perceptível e
importante na vida dos indivíduos.
Esta dinâmica é discutida tendo como referência duas interrogações
fundamentais, quais sejam:

- A perspectiva unidimensional referida por Guerreiro Ramos que tomou posse do


homem contemporâneo pode ser modificada a partir da ação administrativa sem
comprometer as expectativas da sociedade com relação à empresa?

- Qual o modelo de racionalidade que se pode esperar e aceitar nos contexto social
e empresarial?

A Constituição do Indivíduo Unidimensional

Da análise das obras de Guerreiro Ramos infere-se sua perspectiva marxista


vinculada a Escola de Frankfurt, que influencia significativamente sua abordagem
que tem como foco central a emancipação do homem dos problemas da sociedade
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industrial focada no mercado. Esta influência está clara quando o autor (1989, pg. 8)
comenta que:

“...seus principais representantes (da Escola de Frankfurt), essencialmente, afirmam


que, na sociedade moderna, a racionalidade se transformou num instrumento disfarçado
de perpetuação da repressão social, em vez de ser sinônimo de razão verdadeira. Esses
autores pretendem restabelecer o papel da razão como uma categoria ética e, portanto,
como elemento de referência para uma teoria crítica da sociedade. Recusam, ao que
parece, o pressuposto de Marx de que a racionalidade é inerente a história, e que o
processo da sociedade moderna, através da crítica dialética de si mesma, conduzirá à
Idade da razão. Salientam que Marx não percebeu que, na sociedade moderna, as
forças produtoras haviam conquistado seu próprio impulso institucional independente,
assim subordinando toda a vida humana a metas que nada têm a ver com a
emancipação humana.”

Nesta referência transparece que Guerreiro Ramos considera como um


compromisso fundamental da razão, e por extensão, da racionalidade
administrativa, a emancipação do indivíduo. Com relação a este tema pode-se
utilizar a definição de outro importante sociólogo contemporâneo, Sygmunt Bauman,
que discute a emancipação com base no conceito de que liberdade é “... sentir-se
livre das limitações, livre para agir conforme os desejos, significa atingir o equilíbrio
entre desejos, a imaginação e a capacidade de agir...” Bauman (2001, pg. 24).
Considerando este conceito, a preocupação levantada pelos frankfurtianos é
que as pessoas talvez não tivessem condições plenas de avaliar sua própria
situação ou condições objetivas de se auto-determinar, pois como já referiram
Bourdieu e Passeron (1982), a vontade está simbolicamente violentada pelo fato de
que os opressores conseguem inculcar na ideologia dos oprimidos a ideologia dos
primeiros. Este, entretanto não é o único entrave a emancipação do indivíduo. Outro
motivo bem menos nobre tem a ver com as responsabilidades e conseqüências de
ser livre. Conforme afirma Bauman (2001, pg. 25), esta discussão traz uma ameaça
que atormenta o coração dos filósofos que é o fato de que “... as pessoas
pudessem simplesmente não querer ser livres e rejeitassem a perspectiva da
libertação pelas dificuldades que o exercício da liberdade pode acarretar”. O mesmo
autor questiona: “A libertação é uma bênção ou uma maldição? Uma maldição
disfarçada de bênção, ou uma bênção temida como maldição?” (pg. 26). Em outra
passagem Bauman (2001, p.27), afirma que:

“...a felicidade geral é promovida mais eficazmente se mantivermos nos adultos “a


expectativa de que cada um será deixado com seus próprios recursos para prover suas
próprias necessidades (...) O que faz um acontecimento causar satisfação é que você o
produziu... com responsabilidade substancial sobre seus ombros, sendo uma parte
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substancial do bem alcançado uma contribuição sua. Ser abandonado a seus próprios
recursos prenuncia um medo paralisante do risco e do fracasso, sem direito a apelação
ou desistência. Esse não pode ser o significado real de liberdade; e se a liberdade
realmente existente, a liberdade oferecida, significar tudo isso, ela não pode ser nem a
garantia da felicidade, nem um objetivo digno de luta”

Analisando o tema na perspectiva organizacional e considerando a hipótese


de que um ambiente de trabalho democrático se vincularia aos objetivos
emancipatórios, poder-se-ia questionar se procede a premissa de que todo o
trabalhador de uma organização tem o desejo de participar efetivamente de sua
gestão e arcar com as responsabilidades destas decisões, desde que
democraticamente construídas. A dúvida se coloca, pois uma coisa é discutir os
problemas organizacionais, outra totalmente diferente é o indivíduo sentir-se
“empoderado” da decisão sobre os rumos concretos da organização e observar sua
real disposição em decidir e responsabilizar-se. Arcar com as últimas
conseqüências de suas decisões. Até que ponto a bandeira de luta da participação
efetiva na gestão é algo que realmente quer ser carregada para além do discurso?
Outra crítica recorrente refere-se a rotina e a coisificação do objeto do
trabalho que conduz a um processo profundo de alienação e subjugação do sujeito
ao sistema. Neste sentido cabem algumas observações. Em primeiro lugar,
conforme menciona Richard Sennett apud Bauman (2001, p.28), se a rotina pode
apequenar ela também pode proteger. É lógico que esta afirmação somente é
possível a partir de uma dinâmica de auto-alienação que reforça a reprodução da
lógica sistêmica, mas talvez o tema tenha um desdobramento mais complexo,
principalmente se considerado como o modelo capitalista de produção tem
conseguido gerar alternativas de superação de suas crises cíclicas e dos principais
pontos de estrangulamento sistêmicos.
Neste sentido, o que Marx buscou profetizar ao prospectar que haveria um
esgotamento do modelo capitalista que chegaria a um ponto de ruptura em função
de processos extremos de exploração da força humana de trabalho não foi
observado empiricamente. Sua projeção foi historicamente subvertida pela
capacidade do sistema, paulatinamente, impor limites a exploração do capital sobre
o trabalho. Um exemplo foi o Estado do bem-estar que predominou até o início dos
anos 80 e que inibiu qualquer iniciativa mais articulada de busca de uma opção
socialista (PRIEB, 2005). A cada limite constituído ocorre uma incorporação ao
aparato legal vigente definindo-se então novos pontos de referência para as
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relações de produção2. Com isto o ambiente de trabalho tem seu caráter opressor
minimizado, ao menos em relação à situação anterior, embora ainda possam ser
observadas situações que induzam a auto-alienação ou a coisificação como
estratégia de equilíbrio psicológico do indivíduo na organização. Cabe, entretanto
observar que cada vez mais estas atividades não intensivas em conhecimento têm
seu peso relativo e número de profissionais reduzido pelo avanço tecnológico que
substitui, geralmente com mais eficiência econômica, o trabalho humano direto
finalizando em termos históricos o período taylorista-fordista.
Esta transformação não ocorre somente pelo incremento tecnológico na
empresa, mas essencialmente pela elevação da capacidade de consumo da
população, de um comportamento mais individualista que gera a necessidade da
produção de produtos ergonomicamente aderentes as expectativas de extratos de
consumidores e que possuem um ciclo de vida extremamente curto. Este processo,
denominado por alguns de toyotista, força as empresas a operarem em um
processo permanente de inovação que faz surgir um novo profissional, o
trabalhador do conhecimento. Este novo agente assume uma participação relativa
de destaque nos processos de produção da sociedade da informação por ter a
capacidade de agregar valor aos produtos pelo gerenciamento dos novos fatores de
produção baseados em tecnologia intensiva. Neste cenário surge uma nova
questão: até que ponto, em uma economia onde a inovação e a criatividade são os
elementos essenciais de competitividade, o sistema conduz deliberadamente a
processos de alienação no ambiente do trabalho? Provavelmente nestes casos a
alienação, se é que este é o melhor termo, não se dê no contexto do mundo do
trabalho aos moldes da sociedade industrial, mas ocorra a partir do mercado onde
sujeitos são avaliados e envolvidos em todas as dimensões de sua personalidade,
em função de seu potencial de consumo material e cultural3.

2
Especificamente no campo trabalhista alguns exemplos são o reconhecimento dos sindicatos, a
redução da jornada de trabalho, o direito a férias e 13 salário e a definição do salário mínimo, para
mencionar alguns.
3
Fontenelle (2007, pg.142), explicita o consumo cultural ao afirmar que “... em que pesem as
inúmeras definições de cultura que povoam os diversos campos do conhecimento, pelo menos há
uma idéia compartilhada entre esses campos de que a cultura seria a forma através da qual os
homens expressam suas experiências vividas e seus significados. Ela estaria ancorada, portanto, em
sentimentos, valores, crenças, rituais partilhados em comunidades locais, regionais ou nacionais
oriundos de histórias e experiências reais de vida que se refletem nas artes plásticas, na música, na
dança, na comida, nos filmes, nos textos impressos, etc. Mas, quando empacotadas para consumo,
essas formas culturais perdem seu sentido original e se apresentam como simulacros de
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Nesta nova sociedade o trabalho assume uma conotação mais complexa do


que simples movimento de sobrevivência física. Ele sufoca as demais dimensões do
viver não obstante o fato de que este movimento não é integralmente produzido no
interior da empresa mas emerge simbolicamente da sociedade de mercado.
Utilizando a base conceitual de Ramos (1983), é provável que na sociedade do
conhecimento, mais que alienação clássica, o processo de trabalho provoque a
unificação de uma gama de dimensões da vida do indivíduo. Talvez esta afirmação
possa ser melhor compreendida com base em um conjunto de indagações
propostas por Albornoz (2007), a saber: Onde a classe trabalhadora teria esquecido
que ser plenamente humano significa algo mais que produzir? Quando os
trabalhadores abandonaram seu gosto e respeito pelo jogo, a diversão, a dança, a
festa, o descanso, as horas do recolhimento, o ritual, o convívio com os amigos, a
família, o encontro amoroso, a reunião da comunidade, a associação, o partido?
Quando houve a conversão geral ao trabalho profissional em detrimento da vida
liberta dos cuidados menores da sobrevivência?
Pode-se dizer que neste momento ocorre uma ruptura no processo de
dominação do indivíduo pela empresa, e aprofunda-se, como veremos adiante, o
que Habermas denomina de colonização do mundo-da-vida, quando a emancipação
do indivíduo na organização/trabalho se complexifica sobremaneira.
Uma faceta desta complexidade é apresentada por Bauman (2001), quando
este afirma que os desejos individuais de realização e de felicidade do homem
contemporâneo não podem ser “somados” ou “condensados” e convertidos em uma
causa de luta comum. Eles podem, no máximo, ser colocados lado a lado, mas sem
a possibilidade de fusão. Assim, mesmo que estes problemas ou desejos possam
ser semelhantes eles não formam uma totalidade, fato que acaba tendo uma grande
influência na definição do homem pós-moderno que, embora não indiferente aos
problemas da sociedade e de seus semelhantes é extremamente individualista na
perspectiva que seus anseios, que são somente seus, têm a sua cara e, na maioria
das vezes, a única certeza que este indivíduo possui é que algo lhe falta, mas foge-
lhe totalmente da percepção o modo ou objeto que poderia satisfazer este anseio.
Neste sentido cabe primeiramente especificar alguns conceitos e a
percepção de alguns teóricos proeminentes com relação à racionalidade. Este

experiências vendidas ao gosto do consumidor e, também, sujeitas ao tempo fugaz de vida do


consumo”.
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termo será aqui utilizado como a coerência entre a ação social e o modo como seu
ator consegue fundamentá-la e justificá-la sem cair em contradição a partir de seus
próprios argumentos. Em Hobbes (1999, pg. 51) o conceito de razão é definido
como “... o cálculo (adição e subtração) das conseqüências de nomes gerais
estabelecidos para marcar e significar nossos pensamentos. Digo marcar quando
calculamos para nós próprios, e significar quando demonstramos ou aprovamos
nossos cálculos para os outros homens”4. Obviamente este conceito não busca
qualquer vínculo com os aspectos valorativos de uma decisão e ação, não se
relaciona com aspectos considerados corretos ou não por uma determinada
comunidade, mas envolve apenas a coerência intrínseca entre a ação e sua
justificativa.

Razão e Racionalidade nas Organizações


Considerando este conjunto de transformações no mundo organizacional e
estabelecidas algumas perspectivas sobre a emancipação do indivíduo e o papel
que o trabalho passou a assumir de modo mais contundente no período histórico
que Giddens (2002), denomina de “alta modernidade”, pode-se adentrar a
discussão da racionalidade com base nos pensadores que nos propomos analisar.
É importante recuperar alguns conceitos que tem influenciado os estudos
organizacionais, principalmente aqueles articulados sob a denominação de Teoria
Crítica. Neste sentido, um autor com grande influência na área é Max Weber, que
embora tenha tratado da racionalidade quase como um opúsculo em sua obra, as
repercussões de seus conceitos nas análises posteriores foram fundamentais posto
que estabelecem alguns marcos conceituais que permitirão a análise de elementos
das teorias de Alberto Guerreiro Ramos e Jürgen Habermas.
Weber (2004), tipifica ação social como aquela que necessariamente se
orienta pelo comportamento de outros, seja este presente, passado ou futuro. Como
tal, a ação social pode ser determinada (1) de modo racional referente a fins,
quando envolve expectativas quanto ao comportamento de objetos do mundo ou
outras pessoas, onde esta expectativa é condição ou meio para alcançar um
determinado objetivo próprio pré-determinado, (2) de modo racional referente a
valores, quando envolve a crença consciente no valor – ético, estético, religioso –

4
Grifos do original.
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absoluto e inerentemente determinado, independendo neste caso dos resultados


atingidos, apenas a coerência com relação aos valores que motivam as ações, (3)
de modo afetivo e (4) de modo tradicional. Dada a importância destes conceitos
vale transcrever o que Weber (2004, pg.15), esclarece:

1. O comportamento estritamente tradicional – do mesmo modo que a imitação


puramente reativa – encontra-se por completo no limite e muitas vezes além daquilo que
se pode chamar, em geral, ação orientada “pelo sentido”. Pois frequentemente não
passa de uma reação surda a estímulos habituais que decorre na direção da atitude
arraigada. A grande maioria das ações cotidianas habituais aproxima-se desse tipo, que
se inclui na sistemática não apenas como caso-limite mas também porque a vinculação
ao habitual (...) pode ser mantida conscientemente, em diversos graus e sentidos ...
2. O comportamento estritamente afetivo está, do mesmo modo, no limite ou além
daquilo que é ação consciente orientada “pelo sentido”; pode ser uma reação
desenfreada a um estímulo não cotidiano. Trata-se de sublimação, quando a ação
afetivamente condicionada aparece como descarga consciente do estado emocional:
nesse caso encontra-se geralmente (mas nem sempre) no caminho para a
“racionalização” em termos valorativos ou para a ação referente a fins, ou para ambas.
3. A ação afetiva e a ação racional referente a valores distinguem-se entre si pela
elaboração consciente dos alvos últimos da ação e pela orientação conseqüente e
planejada com referência a estes, no caso da última. Têm em comum que, para elas, o
sentido da ação não está no resultado que a transcende, mas sim na própria ação em
sua peculiaridade. Age de maneira afetiva quem satisfaz sua necessidade atual de
vingança, de gozo, de entrega, de felicidade contemplativa ou de descarga de afetos
(...).
Age de maneira racional referente a valores quem, sem considerar as conseqüências
previsíveis, age a serviço de sua convicção sobre o que parecem ordenar-lhe o dever, a
dignidade, a beleza, as diretivas religiosas, a piedade ou a importância de uma “causa”
de qualquer natureza (...).
4. Age de maneira racional referente a fins quem orienta sua ação pelos fins, meios e
conseqüências secundárias, ponderando racionalmente tanto os meios em relação às
conseqüências secundárias, assim como os diferentes fins possíveis entre si (...). Do
ponto de vista da racionalidade referente a fins, entretanto, a racionalidade referente a
valores terá sempre caráter irracional, e tanto mais quanto mais eleve o valor qual se
orienta a um valor absoluto, pois quanto mais considere o valor próprio da ação (...) tanto
menos refletirá as conseqüências desta ação.

Fica evidente nas palavras de Max Weber que na ação racional motivada
pela convicção em valores, o agente delega a responsabilidade sobre a coerência e
os vínculos de sua ação com resultados aos valores que o guiaram na ação. Não
existe uma preocupação em cotejar os desdobramentos de suas iniciativas sobre as
outras pessoas visto que isto já está equacionado na crença valorativa a que o
agente se vinculou, logo, ele não avalia ou se sente responsável com os resultados
provocados, apenas busca coerência com seus valores.
Já na ação racional referente a fins o agente social está conscientemente
comprometido, responsabilizado, pela relação meios e fins/resultados gerados. O
agente assume para si a avaliação das conseqüências e decide pela
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implementação ou não de um determinado comportamento segundo “Sua” análise


de efetividade ou dos desdobramentos últimos desta ação. Em nenhum momento
Weber (2003, 2004), afirma que as expectativas, sentimentos ou interesses de
outros ou da sociedade são ignorados quando a ação é racional com relação aos
fins até porque pode-se inferir que estas variáveis concretas são efetivamente
ponderadas na análise daquele agente.
Ramos (1983), orientando-se explicitamente nos conceitos de Max Weber
reelabora o tema ao discorrer sobre o que o autor denomina de “racionalidade
funcional-racionalidade substantiva” e “ética da responsabilidade-ética do valor
absoluto ou da convicção” que serão apresentados e discutidos a seguir. Antes
porém vale alertar que a leitura de Guerreiro Ramos é determinada por dois
elementos fundamentais. Primeiramente o fato de que foi elaborada tendo como
referência empírica a sociedade industrial gerida com bases nas referências da
administração científica de Taylor e Fayol onde a divisão do trabalho, a coisificação
e reificação5 eram elementos chaves e centro das críticas e análises no campo da
administração. O segundo elemento a ser considerado na análise do sociólogo
brasileiro é sua orientação explicitamente marxista e os desdobramentos ideológico-
perceptivos que esta orientação resulta. Um exemplo é afirmação de Ramos (1983,
pg. 40), inspirado em Mannheim que, ao comentar o modelo de produção vigente
afirma “... que a industrialização tem agravado o caráter concentracionário de nossa
época. Não só restringe a relativamente poucos a propriedade dos meios de
produção, como concentra o poder de decidir e organizar, excluindo dele a maioria
dos indivíduos.” Apesar disto Ramos (1989, pg.108), alerta com bastante clareza
que assim como a ação da empresa, na sociedade, pode converter-se em política
cognitiva, a abordagem dos humanistas organizacionais no interior das
organizações terá o mesmo caráter quando “... conduz à técnicas ilusórias de
aperfeiçoamento de pessoal, destinadas a facilitar a exposição completa da
subjetividade das pessoas, fora de contexto, isto é, no desempenho de papéis de
natureza instrumental”.
5
Segundo Abbagnano (2000), reificação é o termo empregado por alguns escritores marxistas para
designar o fenômeno, ressaltado por Marx, de que, na economia capitalista, o trabalho humano
torna-se simples atributo de uma coisa. A magia consiste simplesmente em que, na forma de
mercadoria, devolvem-se aos homens, como espelho, as características sociais de seu próprio
trabalho, transformadas em características objetivas dos produtos deste trabalho, na forma de
propriedades sociais naturais das coisas produzidas; portanto a mercadoria espelha também a
relação social entre produtores e trabalho global, como relação social de coisas existentes fora dos
próprios produtos.
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Considerado este cenário pode-se agora comentar como Guerreiro Ramos,


referenciando-se novamente em Mannheim, concentrou sua atenção em analisar a
ação administrativa em um continuo entre racionalidade funcional e substancial.
Com relação a primeira Ramos (1983, pg. 39), afirma que “...não se aprecia
propriamente a qualidade intrínseca das ações, mas o seu maior ou menor
concurso, numa série de outros, para atingir um fim estabelecido,
independentemente do conteúdo que possam ter as ações”. Já a racionalidade
substantiva seria todo ato intrinsecamente inteligente, que se baseia num
conhecimento lúcido e autônomo de relações entre fatos. Ramos complementa
ainda que “... a racionalidade substancial é estreitamente relacionada com a
preocupação em resguardar a liberdade”.
Apresentados os dois conceitos cabem algumas observações quanto a
interpretação viz-a-viz os conceitos originais de Max Weber e o contexto
contemporâneo, posto que esta nomenclatura tem circulado com certa
proeminência em alguns círculos de estudos organizacionais. Com relação à
afirmação de Ramos (1983), de que a razão funcional, ao contrário da razão
substancial, desconsidera a multidimensionalidade do indivíduo na organização não
há o que objetar. Cabe, porém ressalva ao modo como o trabalhador é encarado no
espectro da racionalidade funcional onde este seria tratado apenas funcionalmente
como um recurso de produção, visto que as experiências de enriquecimento da
função e da ampliação dos direitos trabalhistas tem efetivamente elevado as
condições de vida no ambiente de trabalho, embora deva reconhecer que isto, na
maioria das vezes, ocorra sob uma perspectiva unidimensional.
Isto acaba ocorrendo porque é inegável o fato de que na sociedade da
informação os fins não serão atingidos de modo eficaz se a criatividade e espírito
empreendedor dos agentes organizacionais não for incentivado. Sendo verdadeiro,
em termos organizacionais nunca será possível falar em razão substantiva pura,
pois na medida em que o caráter emancipatório é promovido com o objetivo de
melhorar o bem estar dos indivíduos para que este eleve sua produtividade, a
iniciativa emancipatória converte-se em estratégia racionalmente direcionada a
majoração dos fins.
Também entendo que não seja possível inferir da obra de Weber a
trasposição valorativa de que a ação orientada por valores equivale a razão
substantiva. Conforme a reprodução dos conceitos de Weber transcritos
14

anteriormente, a análise é inversa. Se alguma crítica à ação deve ser feita esta é
dirigida à razão orientada por valores visto que é bastante discutível, principalmente
no campo administrativo, quais valores poderiam ser considerados legítimos e
emancipatórios, principalmente se, conforme apresentado por Weber (2004),
caberiam a estes valores, responsabilizar-se pela conseqüência dos atos do agente
organizacional.
Tratemos agora da dimensão ética originada destes dois conceitos que
Ramos (1983) denominou de ética da responsabilidade e ética da convicção e que
estariam implícitos nos conceitos anteriormente comentados. A ética da convicção
subjacente a razão valorativa, por basear-se estruturalmente em um conjunto de
valores e princípios, tem caráter essencialmente normativo com um enfoque que
poderia ser denominado de pré-kantiano, pois opera com referências pré-
estabelecidas e aparentemente não considera o imperativo categórico da
universalidade da aplicação de uma ação moral como fundamento de análise na
formação dos juízos morais.
Ramos (1983, pg. 44), como pode ser visto na afirmação a seguir, não ignora
que as empresas possuem uma dinâmica que condiciona seu comportamento à
ética da responsabilidade:

“A ética da responsabilidade é ingrediente de toda ação administrativa. É o seu conteúdo


subjetivo por excelência. Os que a adotam, em todos os níveis de autoridade, chefes e
subordinados, por definição, tácita ou explicitamente, se acham sob o vínculo de um
compromisso: o de, pelo autodomínio dos impulsos, das preferências e até crenças e
ideologias, auto-racionalizarem a sua conduta, tornando-a parte funcionalmente racional
da ação administrativa. A ética da responsabilidade é vivência, por assim dizer, habitual
de quem quer que tenha alguma função na empresa.”

Apesar de esta afirmação ser convergente com os objetivos organizacionais


de utilizar meios para consecução de fins, ela dispõe a ação administrativa em um
extremo de um continuo que tem no outro extremo uma abordagem emancipatória.
Ou seja, as éticas apresentadas por Ramos (1983), possuem um caráter
maniqueísta que possivelmente não reflitam integralmente a realidade social
contemporânea. A polarização entre ética da responsabilidade, vinculada a uma
razão atinente aos fins e a ética da convicção relacionada a valores parece
desnecessária e representa uma simplificação que busca construir uma utopia
revolucionária. Muito mais produtivo seria incorporar uma concepção ética que
15

contemple a complexidade da sociedade contemporânea e que talvez pudesse ser


resumida na seguinte interrogação:

- Quais valores fundamentais devem ser considerados na formação de juízos


morais baseados na ética da responsabilidade? Poder-se-ia acrescentar ainda,
“independente de seu custo ou esforço para a organização”. Retomaremos
propositivamente este aspecto ao final.

O modo como estas questões tem sido colocadas, principalmente no que


concerne a racionalidade substantiva, apresentam duas limitações que podem
comprometer sua utilização e análise empírica. Primeiramente, fica evidente na
versão marxista mais estrema desta análise que ela é fortemente determinada pela
análise dos fatores de produção interferindo na vida humana associada cujo único
futuro seria o aprofundamento da deterioração das relações de trabalho até um
ponto de ruptura. Este viéz determinista não considera a capacidade da sociedade
de influenciar o mercado ao “instituir” parâmetros limites que evitem que as relações
sociais culminem em situações de rupturas radicais como única alternativa. A
institucionalização de procedimentos de cunho social, sejam estes decorrentes da
busca de diferenciais estratégicos por parte das organizações, seja originada por
pressões da sociedade sobre o mercado, introduz parâmetros limites que conduzem
a melhoria da qualidade do ambiente de trabalho, embora se tenha consciência que
isto ainda não produz um caráter emancipador. Mesmo que se entenda que a
situação ideal é de difícil execução, a empresa contemporânea tem o compromisso
de visualizar o homem como um ser de palavra, de símbolos, de sentido, de
sociedade, de afetividade, de livre arbítrio (mesmo que relativo), antes de ser um
recurso a serviço da empresa, da “produção máxima do valor de troca”. Aí está
seguramente um homem que se aproxima mais de sua condição humana
(humanitude).
O contraponto negativo do projeto anterior é que existem limites da ação
administrativa que restringem uma plena reconversão do posicionamento da
empresa frente ao trabalhador como sujeito. Um aspecto é que uma transformação
plena teria de pressupor que a empresa fosse a reprodução, sob todos os aspectos,
da própria sociedade e de que uma teoria de análise sociológica pudesse ser
transposta com sucesso e sem custos teórico-metodológicos para a análise e
16

transformação organizacional. É provável que isto não seja possível, pois não
obstante a empresa ser parte integrante e com grande potencial epistemológico de
definição de uma percepção de sociedade ela possui uma finalidade clara que é a
articulação de fatores de produção no intuito de executar sua missão a partir de um
negócio previamente definido. Acreditar que seja possível conduzir uma revolução
social de amplo espectro no seio organizacional a revelia do sistema social externo
é uma temeridade que compromete diretamente os interesses dos investidores.
Estes últimos, não obstante os discursos românticos veiculados na mídia, não
teriam qualquer escrúpulo em redirecionar seus recursos para alternativas
empresariais mais rentáveis que mantivessem uma coerência entre missão, negócio
e não transgredissem os limites institucionalizados pelo Estado ou sociedade.
Poder-se-ia afirmar que é uma ilusão, se o termo mais adequado não fosse
irresponsabilidade, buscar transformar a sociedade a partir de movimentos no
interior das empresas envolvendo iniciativas isoladas, alheias a seu objeto e sem
sustentabilidade econômica, pois o mercado tem sido impassível em sua lógica
instituída, punindo implacavelmente aquelas organizações que ignorarem os
princípios funcionais6deste mercado. Contudo, talvez o desafio esteja em, não
ignorando este foco funcionalista do mercado, limitar o grau de funcionalismo no
interior da organização que mesmo tendo que se manter fiel a meta de execução
efetiva de sua missão com autonomia econômica, pode efetuá-lo buscando

6
Para a definição do conceito de funcionalismo utiliza-se o modelo multiparadigmático apresentado
por Burrel e Morgan (1979) onde a categoria “Funcionalismo” seria derivada do Positivismo. Esta
qualificação efetuada pelos autores decorre da interpretação de Comte que afirmaria que, as
ciências biológicas desempenhariam o papel de fazer a transição dos métodos das ciências naturais
para as ciências sociais. Dessa maneira, ele lançou as bases para a abordagem funcionalista nas
ciências sociais que utilizam analogias mecânicas e orgânicas para explicar estruturas e processos
dentro de uma perspectiva holística. Apoiado nas idéias de Comte e Darwin, Herbert Spencer vê a
sociologia como o estudo da evolução, traçando paralelos entre sociedade e organismo. A sociedade
seria um sistema auto-regulado que poderia ser entendido por intermédio do estudo de seus vários
elementos ou órgãos e pela maneira como eles se inter-relacionam. A evolução – que ele também
denomina de progresso – se dá por processos de integração crescentes e diferenciação. Durkheim
utiliza os mesmos métodos de Comte e Spencer e acrescenta ser importante analisar não apenas a
estrutura e as funções, mas também as causas dos eventos; não apenas estudar a utilidade e o
papel de um fato, mas por quê ocorre. Sua sociologia se desenvolve dentro da ótica da regulação,
sendo sua preocupação a noção de solidariedade. Segundo Burrell e Morgan (1979), a abordagem
funcionalista deriva, em grande medida, da obra de Alfred Marshall, Max Weber, Vilfredo Pareto,
George Herbert Mead e William James. Segundo os paradigmas de Burrell e Morgan (1979), embora
possa haver inúmeras possíveis correntes teóricas e metodológicas dentro do paradigma
funcionalista em Administração, todas buscam explicar, de maneira racional, o status quo, a ordem e
a integração sociais, o consenso, a solidariedade e assim por diante. Pressupõem uma sociedade
regulada e buscam relações que garantam a manutenção dessa ordem.
17

modelos alternativos de organização e relacionamento do trabalho e do indivíduo de


modo “estrategicamente” mais digno à condição humana.
Concluindo as análises efetuadas até esta etapa pode-se propor algumas
conclusões preliminares:

a) A empresa é uma estrutura de caráter majoritariamente funcional destinada a


articular recursos à consecução de resultados;

b) O indivíduo é composto por uma multiplicidade de dimensões que deverão ser


equilibradas em sua existência. Algumas destas necessidades têm caráter material
e outras possuem uma dimensão transcendental;

c) Uma eventual alienação do sujeito pela preponderância do trabalho como


dimensão essencial da existência humana na sociedade contemporânea pode ser
minimizada por modelos de gestão que considerem o trabalhador como um sujeito,
porém esta realidade é preponderantemente determinada pela estrutura de valores
da sociedade e não pela forma de ação administrativa das empresas;

d) A sociedade de mercado tem produzido, a revelia dos interesses econômicos,


uma elevação da dignidade humana, das relações sociais e de sustentabilidade do
ambiente mesmo que isto tenha uma limitada capacidade de se converter em
processos de emancipação.

As primeiras três conclusões foram desenvolvidas nas discussões anteriores.


A quarta afirmação será fundamentada no tópico a seguir com base na crítica
efetuada por Jürgen Habermas ao materialismo histórico de Marx e Hegel e de
alguns elementos de sua teoria da ação comunicativa.

A Qualificação da Ação Administrativa pela Evolução das Relações de Produção

Já há algum tempo outro autor com pesquisas fora do campo organizacional


tem sido referenciado para produzir análises organizacionais, principalmente
vinculados com autores identificados com a teoria crítica. Neste sentido vários
estudos têm procurado investigar a empresa, e até propor sua transformação a
18

partir da Teoria da Ação Comunicativa do filósofo alemão Jürgen Habermas. A


abordagem proposta por este pensador será apresentada, primeiramente no que
concerne aos elementos básicos da teoria da ação comunicativa e como esta
abordagem tem sido integrada aos estudos organizacionais e, em segundo lugar
como dinâmica de desenvolvimento social que poderá, a partir de uma análise da
sociedade, servir de referência para a compreensão das transformações no meio
empresarial e elaboração de um ambiente empresarial mais digno à condição
humana e seu desenvolvimento.
Habermas pode ser apresentado como um dos expoentes da denominada
Escola de Frankfurt, linha teórica de orientação marxista não ortodoxa oriunda do
Instituto de Pesquisas Sociais constituída em 1923. as pesquisas do Instituto foram
reorientadas em 1931 por Max Horkheimer para a investigação de fenômenos
sociais com uma abordagem crítica relacionada à formação da sociedade e da
razão moderna. Pelo prestígio de seus integrantes e a qualidade de suas
investigações a Escola de Frankfurt destacou-se como um dos principais fóruns de
discussão da sociedade moderna a partir de uma perspectiva crítica e marxista.
Neste sentido, seus principais integrantes defrontaram-se com uma desilusão sobre
as possibilidades de emancipação do indivíduo pelo uso reflexivo individual da
razão, a denominada filosofia da consciência. Aqui se deve separar a emancipação
em relação à natureza exterior que é obtida pelo progresso técnico7 envolvendo um
agir instrumental da emancipação em relação a formas sociais de dominação que,
como veremos adiante, Habermas propõe que seja conduzida com base no agir
comunicativo.
Segundo estes autores a sociedade contemporânea evoluiu de tal forma na
formação de símbolos, percepções e significados a partir de instrumentos como o
sistema educacional, os diversos sub-sistemas vinculados ao Estado e formas de
mídia que tornou-se praticamente impossível o indivíduo conceber uma razão
autônoma que não considere o atual sistema de produção capitalista como a única
alternativa a ser cogitada8. Na prática os autores acabaram incorrendo em uma

7
O progresso técnico envolve o interesse em dominar a natureza para fins instrumentais e dela
dispor, planejando, interferindo e otimizando desempenho e produtividade.
8
Embora não vinculada a Escola de Frankfurt, um boa definição deste quadro é apresentado por
Souza Santos (2000, pg.230) quando apresenta as possibilidades de superação desta realidade pela
teoria crítica ao afirmar que ”A análise crítica do que existe assenta no pressuposto de que a
existência não esgota as possibilidades da existência e que portanto há alternativas susceptíveis de
superar o que é criticável no que existe”
19

desilusão da possibilidade emancipadora do sujeito não conseguindo conceber


analiticamente alternativas para a ideologia produzida e reproduzida no sistema.
Nesta linha Ramos (1989, pg. 8), comenta que a “... racionalidade se transformou
num instrumento disfarçado de perpetuação da repressão social, em vez de ser
sinônimo de razão verdadeira”.
Os ideais do iluminismo e da modernidade foram, pouco a pouco substituídos
por uma racionalidade de cunho essencialmente instrumental orientada para a
reprodução do modelo ocidental capitalista de produção e ao indivíduo não é
viabilizado, por intermédio da razão, de sua consciência autônoma, escapar desta
perspectiva de mundo. Tal hegemonia solapou não somente a possibilidade de
mudança, mas avançou de modo profundo na mente dos agentes sociais não
permitindo que se cogite ou perceba cognitivamente alternativas de modelos de
produção ou de organização da sociedade. Neste contexto a própria linguagem
perde seu papel instrumento de construção coletiva de significados para constituir-
se em mais um elemento estratégico de ação de um sujeito sobre seu interlocutor.
Horkheimer, outra figura de destaque desta Escola, afirma que:

“A linguagem foi reduzida a mais um instrumento no gigantesco aparelho de produção


na sociedade moderna. Toda sentença que não equivale a uma operação parece ao
leigo tão desprovida de significado quanto é assim considerada pelos semânticos
contemporâneos, que entendem que aquilo que é puramente simbólico e operacional,
quer dizer, a sentença puramente sem sentido, faz sentido ...Na medida em que as
palavras não são usadas com o propósito evidente de calcular tecnicamente
probabilidades importantes, ou para outros objetivos práticos, entre os quais se inclui o
relaxamento, correm elas o risco de se tornarem suspeitas ... porque a verdade não
constitui um fim em si mesma” (1947, p.22).

A filosofia da consciência, que antes prometeu uma razão autônoma e liberta


perdeu, na modernidade, seu caráter emancipatório e passou a consagrar uma
abordagem sujeito/objeto, onde cada ação visualiza o outro como um objeto
empírico para uma ação orientada a determinado resultado. O “Outro” não é visto
pelo sujeito como um interlocutor em igualdade de condições, como outro sujeito
capaz de receber e produzir significações com base na linguagem, mas como um
elemento a ser articulado dentro da lógica do Sistema para um determinado
propósito.
Habermas também reconhece as teorias do conhecimento como carentes de
potencial esclarecedor ou emancipatório visto que dificultam uma conexão do saber
teórico com a diversidade de apresentações do mundo-da-vida e carecem de uma
20

fundamentação capaz de liberar a filosofia dos limites da consciência monológica. A


alienação da auto-reflexão transtorna o conceito de racionalidade, pois debilita e
oculta uma gama imensa de elementos do mundo da vida “colonizado” pelo
Sistema.
Por envolver uma razão monológica, Habermas considera a abordagem ética
de Kant como sendo incapaz de conduzir a uma sociedade justa, pois não obstante
seu imperativo categórico de que cada indivíduo deve agir somente segundo a
máxima de que possa ao mesmo tempo converter esta máxima em uma lei
universal, esta ainda se constitui em uma perspectiva monológica que tende a
imposição de um solipsismo metódico onde o outro é avaliado, sem a possibilidade
interativa, pela reflexão isolada do sujeito, não sendo visto como sujeito, mas como
objeto a ser influenciado.
Apesar de concordar com a análise crítica de seus colegas da Escola de
Frankfurt sobre o esgotamento emancipatório da filosofia da consciência, Habermas
é mais otimista com relação às possibilidades de constituição de uma razão voltada
ao esclarecimento e de superação desta alienação. O autor propõe então uma
filosofia do agir comunicativo que pressupõe a construção da realidade social com
base em uma relação intersubjetiva entre sujeitos mediados pela fala. Neste sentido
Habermas pode ser considerado um autor pós kantiano visto que recupera de Kant
a intenção de justiça através da construção de uma ética de caráter universalista,
porém difere deste ao afirmar que esta somente será possível se construída
intersubjetivamente, com a participação efetiva dos sujeitos envolvidos a partir de
situações ideais de fala. Esta situação pressupõe relações de igualdade de
entendimento e relacionamento, onde a força do argumento deverá prevalecer
sobre outras estratégias de coação ou opressão para a consecução da ação.
Para que esta relação intersubjetiva seja frutífera Habermas introduz o
conceito de “mundo-da-vida” que constitui o saber não reflexivo e que serve de
pano de fundo para as mediações lingüísticas. Esta dimensão de fundo não é
universal no sentido de que exista um único “pano de fundo” para todos os sujeitos
mas vinculada a um conjunto identificado de sujeitos com modelos de significação
compartilhado. Estes mundos da vida são formados pela personalidade, cultura e a
própria sociedade, fruto de processos de aprendizado coletivo historicamente
institucionalizados e incorporados a base não reflexiva destes sujeitos e de suas
relações. O conceito de mundo-da-vida ou lebenswelt é central na teoria
21

habermasiana e crucial na análise crítica do que o autor denomina de “patologias da


sociedade contemporânea”.
A partir deste quadro de referência e tendo a linguagem como elemento de
construção intersubjetiva de significados e da própria racionalidade, Habermas
estrutura a Teoria da Ação Comunicativa Habermas e busca superar os limites do
esclarecimento da filosofia da consciência avançando para o que o autor denomina
de filosofia da linguagem. Nesta abordagem o agir inerente as situações de fala,
denominado de agir comunicativo, tem como propósito a busca de situações de
consenso onde cada sujeito percebe o outro como sujeito e não como objeto a ser
influenciado para fins específicos.
Realizando um primeiro contraponto com a dinâmica organizacional e a
teoria da ação comunicativa, observa-se que alguns autores (SERVA, 1993, 1997a,
1997b, TENÓRIO, 2002), vem tentando transpor esta dinâmica de busca do
consenso a partir de situações ideais de fala no processo decisório empresarial
como uma forma de garantir um projeto emancipatório. Entendo que alguns
elementos estruturais inviabilizam esta tentativa e impedem praticamente qualquer
tipo de análise dentro dos parâmetros teóricos propostos por Habermas9. Um
primeiro obstáculo que não se pode ignorar é que é impossível não visualizar na
empresa seu caráter instrumental imanente já que ela existe para gerar algum
resultado decorrente da articulação de um conjunto limitado de recursos. O acordo
intersubjetivo entre dois sujeitos pode não corresponder às possibilidades de
sustentabilidade da entidade, mesmo que este acordo tenha atendido todos os
requisitos de uma situação ideal de fala. A empresa poderá não suportar o
atendimento das expectativas emancipatórias construídas pelas locuções dos
sujeitos.
Uma segunda dificuldade refere-se ao fato de que a empresa é um ente
hierarquizado e, geralmente, com especificidades técnico-profissionais vinculados a
cada nível de responsabilidade. Desta sorte, é muito provável que existirão
múltiplos mundos-da-vida que, aos se converterem em argumentos para o
equacionamento de uma situação concreta qualquer, encontrará sujeitos com
quadros de significação distintos. Ou seja, mesmo em uma situação de não coerção

9
Deve-se ressalvar que isto não significa que atitudes como o diálogo, a transparência, a verdade e
até a participação ampla no processo decisório não devam ou possam compor o cenário
administrativo. Isto, entretanto nada tem a ver com a teoria de Habermas pois constitui simples
recorte de alguns poucos elementos de sua proposta bem mais complexa.
22

e observância da verdade sobre uma mesma situação empírica, mesmo o sujeito


percebendo seu interlocutor como outro sujeito legítimo, visões de mundo distintas
conduzirão a percepções potencialmente divergentes sobre o problema em análise
e os desdobramentos de cada alternativa. A título de conjectura, mesmo assim o
consenso seria possível, porém, considerando as premissas da teoria, este
somente seria obtido se um dos sujeitos se auto-subjugasse aos argumentos da
outra parte, provavelmente em função da otimização de um fim, propiciando um ato
social estratégico. Parece óbvio que este fato em nada irá contribuir para a
emancipação ou bem estar psicológico do sujeito que se viu obrigado a ceder em
seus princípios.
Uma terceira dificuldade refere-se a pressuposição adotada por alguns
autores contemporâneos de que a democracia seja um elemento intrínseco à teoria
de Habermas e que deva ser transposta ao contexto organizacional. Segundo
Tenório (2002, pg. 37):

“... Isto nos leva a inferir que a legitimidade do processo produtivo ou administrativo
somente existiria quando os atores envolvidos no processo – subordinados e superiores
hierárquicos, administrados e administradores, negociassem dialogicamente a maneira
como os resultados seriam alcançados. Conseqüentemente, o processo decisório seria
democratizado à medida que os participantes defendessem suas razões com base no
melhor argumento”.

Infelizmente esta passagem contém no mínimo duas falácias importantes.


Em primeiro lugar a legitimidade do processo produtivo ou administrativo não se dá
pelo grau de participação nas decisões, mas de sua coerência com a missão e
negócio da entidade sem que isto venha a ferir a legislação vigente. Do modo como
está colocada, a assertiva aproxima o termo ao atendimento de interesses. Em
segundo lugar há um equívoco em considerar que democracia seja equivalente a
consenso. Segundo Bobbio (2006), democracia relaciona-se a regras de ação
produzidas e observadas por maiorias, fato que não exige necessariamente
consenso para garantir legitimidade.
Estas três dificuldades comprometem qualquer possibilidade de emancipação
dos sujeitos no cenário organizacional pela introdução das premissas da teoria da
ação comunicativa. Não obstante sua riqueza de propósito, transpor elementos
isolados como verdade e respeito como sendo vinculada a teoria é uma liberdade
teórico-metodológico que não nos é permitida.
23

Apesar destes limites, é possível buscar em Habermas referências para a


análise organizacional quando este aborda a evolução dos sistemas sociais com
base no agir comunicativo. Sob este viéz é possível compreender e analisar o
desenvolvimento de um conjunto de relações estabelecidas entre Estado,
sociedade civil e mercado que tem qualificado e elevado os níveis de
responsabilidade das empresas com relação aos seus empregados, os diversos
stakeholders, o ambiente e, em última instância, a sociedade como um todo.
Para estabelecer estas relações serão primeiramente apresentados os
principais elementos e relações da teoria da evolução social de Habermas. Neste
sentido o autor considera que as mudanças nas estruturas normativas das
sociedades dependem tanto dos desafios evolutivos representados por problemas
sistêmicos não equacionados e economicamente condicionantes, quanto dos
processos de aprendizagem, que responderiam a tais desafios.
Antecipando nossa intenção, a tese que se buscará defender é que a ação
comunicativa no meio empresarial se dá na relação organizações/sociedade/
desenvolvimento e não nos processos internos de gestão da organização. A
empresa nunca poderá fugir da responsabilidade estratégica de consecução da
missão para qual foi constituída e para tanto, na execução de seu negócio, deverá
inexoravelmente adotar uma perspectiva instrumental com relação ao trato de todos
os recursos envolvidos em sua atividade.
Habermas explicita a dinâmica do desenvolvimento a partir da crítica ao
materialismo histórico de Marx e utilizando-se dos conceitos de Piaget com relação
ao conhecimento e do psicólogo Lawrence Kholberg no que se refere aos
processos individuais de aprendizado e formação dos juízos morais. Segundo o
autor, diferente do que acreditava Marx, os processos de desenvolvimento não
seguem uma lógica ditada pela evolução dos fatores de produção, mas uma
dinâmica que é viabilizada pelas possibilidades apresentadas pela sociedade no
que concerne as relações de produção. Ou seja, o simples fato de estarem
disponíveis novas alternativas tecnológicas de produção não terá um caráter
transformador se não forem construídas, paralelamente, condições vinculadas às
relações entre os diversos agentes sociais.
Para exemplificar pode-se mencionar o fato de que a revolução industrial,
viabilizada pela criação de uma gama de novos fatores de produção, não teria êxito
em viabilizar o modelo capitalista se não houvesse ocorrido a estruturação do
24

mercado e da incorporação deste em uma ampla gama de dimensões da vida


social. O desenvolvimento industrial não teria o reflexo avassalador na sociedade
contemporânea se três elementos que constituem a base do mercado não tivessem
sido institucionalizados, quais sejam: a noção de indivíduo livre e autônomo, a
estrutura de propriedade e os contratos, elementos estes que possibilitaram o
surgimento de um novo conjunto de relações de produção e o progresso dos
próprios fatores de produção.
A consolidação da concepção de indivíduo ocorre ao final da idade média e
tem como fator determinante as transformações ocorridas no seio da cultura
judaico-cristã que culminaram com o movimento reformador (Bedin, 2002)10. A partir
deste momento o indivíduo está apto a gozar de direitos e de lhe ser imputada
responsabilidades, elementos necessário a segunda condição da sociedade de
mercado que são os direitos de propriedade. Somente constituído como um
indivíduo autônomo é que o homem moderno tem a possibilidade concreta de exigir
direitos de propriedade que serão inclusive tutelados pelo Estado. Isto é
fundamental ao modelo capitalista pois possibilita que também o trabalho deste
indivíduo seja considerado uma propriedade e, por conseqüência, passível de
comercialização através do sistema de salários. O terceiro elemento constitutivo da
dinâmica do mercado e que possibilita uma nova relação de produção são os
contratos, que substituem a tradição da antiguidade e se fortalecem com a
constituição do Estado moderno.
Habermas afirma que o estabelecimento do vínculo entre desenvolvimento
de fatores e relações de produção ocorre como decorrência da evolução paralela

10
Segundo Bedin, 2002, pg.23-24, o processo de constituição do indivíduo surge “...das culturas
clássica e judaico-cristã (...) pois um dos ensinamentos básicos desta tradição é que cada cristão é
um indivíduo em relação a Deus”. Este indivíduo entretanto ainda refere-se a um individualismo fora-
do-mundo pois surge de uma relação com o divino. Apesar disto, o processo de transformação para
um individualismo-no-mundo também emerge da cultura cristã a partir de três eventos
determinantes: a conversão do cristianismo como religião tolerada por Constantino no século IV,
tornando a igreja mais mundana. O segundo evento ocorre no século VIII quando ocorre o
rompimento do papa Leão III com Bizâncio “...e a conseqüente afirmação do poder espiritual sobre o
poder terreno. Este fato deu aos papas, a partir de então, uma função política e obrigou os indivíduos
cristãos a se envolverem de maneira mais direta com este mundo”. O terceiro fato que consolida o
individualismo neste mundo ocorre no século XVI com a reformadores protestante que “...afirmavam
que o indivíduo é auto-suficiente em sua relação com Deus e que, portanto, não precisa de
intermediários”.
25

entre o desenvolvimento do indivíduo (ontogênese) e a evolução da sociedade


(filogênese)11. Conforme Aragão (1992, pg. 80),
“... a ontogênese pode ser analisada sob três aspectos distintos: o desenvolvimento da
capacidade de conhecimento, da capacidade linguística, e da capacidade interativa.
Todos esses, entretanto, apontam para a idéia de que o Eu se forma através de um
sistema de delimitações, em que a subjetividade de uma natureza externa, à
normatividade de uma sociedade, e à intersubjetividade de linguagem”.

Para justificar o desenvolvimento do indivíduo é utilizada a concepção de


desenvolvimento moral do psicólogo Lawrence Kohlberg (HABERMAS, 1989) que
opera com um conjunto de seis fases agrupadas em três níveis de construção da
consciência moral dos indivíduos. No nível mais elementar, denominado de pré-
convencional, o indivíduo tem uma concepção hedonista da ação e avalia suas
decisões em função dos benefícios pessoais que uma determinada ação possa
gerar. No nível intermediário, o convencional, a formação dos juízos morais que
orientam as ações leva em consideração a imputabilidade de responsabilidades,
principalmente pelo Estado e de legitimidade social obtida pelo agente. No nível
superior de formação de juízos morais, denominado pós-convencional, o indivíduo
incorpora em sua análise a concepção de justiça e de universalidade avaliando, em
um primeiro momento, a legitimidade do aparato normativo de uma sociedade e, na
fase mais avançada, o conteúdo intrínseco das normas e seu caráter universal,
independente da legitimidade do legislador.
Estas fases são seqüenciais e necessárias, ou seja, não é possível um
indivíduo “pular” uma fase, pode apenas apressá-la. Ao transferir esta dinâmica
para a evolução social, Habermas entende que os indivíduos, através da linguagem,
estabelecem relações intersubjetivas e obtém determinados níveis de consenso,
permitindo assim ao homem e a sociedade evoluir para uma nova forma de
interação. Para garantir este avanço a sociedade concebe processos de
institucionalização e orientações especializadas para a manutenção da
intersubjetividade dos acordos. Segundo Habermas, estas instituições e
orientações se dão por meio do direito e da moral.
O aprendizado da sociedade, embora fundamental à evolução social,
obviamente é aqui apresentado de modo figurado posto que somente os indivíduos
socializados tem condições de aprender e converter seu estoque de conhecimentos
11
Habermas utiliza como inspiração a lei fundamental da biogenética que discute este paralelismo
entre o desenvolvimento do indivíduo e da espécie. Nesta concepção a ontogenia recapitula a
filogenia. Já Habermas analisa a sociedade de modo inverso.
26

em capacidades e informações que, ao serem partilhados, podem ser socialmente


incorporados por meio das instituições. Nas palavras de Habermas (1990, pg. 141),
“pode-se representar esse processo como encarnação institucional de estruturas de
racionalidade já expressas em imagens do mundo”. Em outro momento o autor
afirma também que:
“...em última análise, as formações sociais são diferenciadas pelos núcleos institucionais
que definem a “base” da sociedade. Essas instituições básicas formam uma série de
inovações evolutivas que só podem surgir se o mundo-da-vida for suficientemente
racionalizado, sobretudo somente se o direito e a moralidade tiverem alcançado um
estágio de desenvolvimento correspondente” (1992, pg.173).

A partir da capacidade de aprendizado dos sujeitos socializados, a própria


sociedade constitui novas estruturas para resolver problemas de direção e de
controle que ponham em perigo sua existência ou que possam facilitar o convívio
dos sujeitos. A evolução social que ocorre nos níveis convencional e pós-
convencional somente é possível quando existe a corporificação da consciência
moral em instituições. Aragão (1992, pg. 96) sistematiza a estrutura de
argumentação de Habermas em três instâncias:

“a) o nível de aumentos em complexidade sistêmica só pode ser elevado pela introdução
de um novo mecanismo sistêmico;
b) esse novo mecanismo, entretanto, deve ser institucionalizado, isto é, tem que estar
apoiado sobre o mundo-da-vida;
c) essa institucionalização de um novo nível de diferenciação sistêmica requer a
reconstrução da regulação moral-legal (isto é, consensual) dos conflitos do domínio
institucional nuclear”.

Esta dinâmica possibilita a análise do desenvolvimento das sociedades que


vão, com base em processos de aprendizagem, institucionalizando estruturas de
consciência que garantem níveis cada vez mais elevados de complexidade do
sistema. Esta dinâmica, entretanto traz consigo um conjunto de patologias da
sociedade contemporânea, representados principalmente pelos processos de
reificação. Segundo a análise de Habermas os elementos fundamentais do sistema
que são o dinheiro e o poder acabam dominando as demais dimensões da vida
humana. Ou seja, a modernização capitalista, seguindo a racionalidade instrumental
ultrapassou os limites da economia e do Estado passando a também serem
considerados bases para formação do mundo da vida. A cultura perde seu conteúdo
ideológico e é resignificada com base no poder e no dinheiro. Segundo Pizzi (2006,
pg.160), “... as estruturas simbólicas do mundo da vida reproduzem um “sistema de
27

necessidades” hierarquizado, submetendo a integração social aos mecanismos da


auto-interpretação restrita ao domínio técnico-instrumental da natureza e dos
próprios sujeitos”.
O mercado se consolida como determinante de valores, não somente na
esfera das organizações empresariais, mais também, e isto é fundamental para
sustentar este modelo de sociedade, na cultura e na personalidade dos indivíduos.
Não existe economia de mercado fora de uma sociedade de mercado. A dinâmica
atual acaba promovendo uma homogeneização de interesses tal que, todas as
dimensões do indivíduo, são reduzidas ao poder e ao dinheiro. O homem consolida-
se a cada dia, na sociedade de mercado, como um ser unidimensional onde o
econômico acaba constituindo a totalidade da natureza humana.
Podemos agora retomar a quarta assertiva do tópico anterior que afirmava: A
sociedade de mercado tem a possibilidade de produzir, a revelia de interesses
econômicos, uma elevação da dignidade humana, das relações sociais e de
sustentabilidade do ambiente mesmo que isto não se converta em processos de
emancipação.
Considerando estas referências, principalmente a dinâmica de
desenvolvimento das forças e relações de produção proposta por Habermas,
entendo que somente se tem condições de buscar a melhoria das condições de
existência dos sujeitos considerando a dinâmica de mercado como um fato dado,
pelo menos até este momento. É a partir desta sociedade e de sua capacidade de
aprendizagem que poderão ser elevados os níveis de dignidade humana e de
sustentabilidade do ambiente.
Isto posto e sem ter a pretensão de ser exaustivo em termos de
possibilidades, serão levantadas duas hipóteses que buscam manter uma coerência
com o atual modelo de sociedade e o referencial até aqui utilizado. A primeira
hipótese considera que são possíveis avanços tendo como âncora a política e os
novos modelos associativos e a segunda hipótese considera que a busca de
diferenciais competitivos pelas empresas podem elevar as condições globais de
atuação de todo o universo empresarial em função do isomorfismo. As duas
hipóteses têm origens diversas, mas consideram que procedimentos de caráter
substantivo são, em um segundo momento, convertido em padrões materiais de
racionalidade, de uso abrangente, quando de sua institucionalização. Nas duas
alternativas o aprendizado coletivo, comunicativamente conduzido, tem a
28

possibilidade de elevar os parâmetros da vida humana associada, porém ainda em


uma visão unidimensional do sujeito.
Embora possa parecer uma incoerência a tentativa de elevação dos níveis de
civilidade sem alterar o enfoque unidimensional, temos de lembrar que estamos
discutindo estas possibilidades de avanço no escopo da teoria organizacional.
Discutir propostas de processos de emancipação na esfera empresarial somente
poderia ser efetuado sob a égide da filosofia da consciência, da pressuposição de
uma mente esclarecida que poderia conceber e fornecer uma situação
emancipatória aos demais sujeitos. Esta condição não existe e a emancipação
somente poderá ser concebida no estudo e na evolução da sociedade como um
todo.
Conforme Ramos (1989, pg. 126), “... em toda sociedade, o homem se
defronta com dois problemas: o problema do significado de sua existência e o
problema de sua sobrevivência biológica”. Disto infere-se que as organizações
empresariais tem sua ação determinada por uma escolha, consciente ou não, da
sociedade em operar como uma sociedade de mercado que viabiliza um modelo de
produção e acumulação também de mercado, com todos seus desdobramentos e
conseqüências. Mesmo nos estudos organizacionais, é a partir da sociologia e da
filosofia que a crítica a atual sociedade alienante e reificante deverá ser efetuada.
Retomando agora as hipóteses que nos propusemos levantar sobre a
elevação dos padrões de existência, a primeira alternativa considera que a
sociedade não pode ser vista como composta por grupos monolíticos com
interesses homogêneos. Segregar a sociedade, mesmo que restrito ao campo
econômico, a uma visão polarizada composta por detentores dos meios de
produção de um lado e de outro os trabalhadores é um equívoco. A dicotomia entre
capital e trabalho constitui apenas uma perspectiva de organização destes agentes
sociais que apresentam outros recortes que viabilizando o surgimento de outros
interesses que acabam muitas vezes subvertendo a lógica econômica sem, contudo
transgredir a ordem econômica.
Empiricamente este recorte mencionado pode ser observado pelo incremento
de iniciativas associativistas ou de redes de entidades que atuam colaborativamente
integradas. As diversas experiências de associações, entidades que mesclam em
seu DNA elementos da lógica dos detentores do capital com expectativas dos
trabalhadores, atuam em todos os espaços e dentro das regras da economia de
29

mercado, mas até como condição de existência, são obrigadas a incorporar


estruturalmente a democracia nos processos internos de gestão. Um exemplo
concreto são as cooperativas de produção que embora atuando segundo a razão
instrumental e nas regras do mercado não tem como objetivo a geração de lucro
mas a maximização da riqueza de seus associados por meio das operações e não
da remuneração do capital.
As iniciativas envolvendo redes de empresas são outro exemplo de
desmonte da dicotomia capital/trabalho, não obstante estas poderem também ser
comparadas a trustes. Na prática estas experiências tem envolvido empresas de
menor porte que mesmo constituindo-se independentemente atuam de forma
colaborativa em algumas atividades e competitivamente em outras. Este fato tem
obrigado um esforço em construir formas de integração compatíveis com as regras
de mercado.
Embora os dois exemplos espelhem bem os recortes alternativos que
desfazem uma eventual visão monolítica de atores e interesses entre capital e
trabalho, o exemplo mais significativo decorre da existência de uma terceira arena,
concomitante ao Estado e ao mercado, e que na pós-modernidade tem se elevado
em importância e influência sobre as outras duas que é a sociedade civil e as
organizações que nela atuam. As entidades da sociedade civil tem a possibilidade
de atuar e modificar um segundo elemento de “colonização” mencionado por
Habermas que é o poder, por intermédio da política. Segundo Liszt (2001, pg.73):

“Os processos de reprodução sociocultural se convertem em forma política no espaço


público. As associações civis absorvem iniciativas sociais difusas, encaminhando-as ao
espaço público para o embate político. As associações e os movimentos sociais ampliam
o espectro do político, incorporando novos temas na agenda política, desempenhando,
assim, papel fundamental da construção do espaço público.”

Estas organizações da sociedade civil tem a possibilidade de interferir, tanto


“no” como “através do” Estado e mercado definindo e institucionalizando
procedimentos e padrões materiais de racionalidade que constituirão limites para
atuação das entidades que compõem a sociedade. Podem ser mencionadas ainda
as diversas Organizações Não Governamentais – ONGs – que também se
constituem de um novo recorte social. Com relação a estas últimas deve-se alertar
que, não obstante possuírem causas de caráter substantivo ou não econômico, elas
não pode ser caracterizadas como organizações substantivas, pois somente
30

conseguirão a efetividade de sua missão se adotarem internamente a razão


instrumental e organizarem esforços para os fins pré-acordados. A causa sempre
poderá ter um caráter substantivo, sua execução, entretanto somente se dará pela
razão instrumental ou estratégica.
A segunda hipótese que entendemos poder explicar a melhoria das
condições de existência do sujeito e do próprio ambiente do planeta também
vincula-se a processos de aprendizado social e posterior materialização institucional
de novos padrões de racionalidade. Esta alternativa incorpora em todos os aspectos
a lógica do mercado como elemento de melhoria e tem em seu cerne a busca de
uma maior competitividade das empresas constituindo o que entendemos que seja
efetivamente a essência da responsabilidade social corporativa.
Antes de explicitar esta dinâmica deve-se alertar para um aspecto de suma
importância. As hipóteses aqui elencadas viabilizam-se conjuntamente e
complementarmente, devendo inclusive ser agregadas analiticamente a todo o
processo histórico de regulação social conduzido com base no Estado. Se este
alerta não for observado teríamos de nos aliar, e não o fazemos, a afirmação de
Friedman que diz:

“A responsabilidade social da empresa consiste em aumentar seus próprios lucros(...).


A maior parte daquilo que se debatera a propósito de responsabilidade da empresa
não passa de tolices. Para começar, apenas indivíduos podem ter responsabilidades;
uma organização não pode tê-las. Eis portanto a questão que devemos nos colocar:
será que os administradores - desde que permaneçam dentro da lei – possuem outras
responsabilidades no exercício de suas funções além daquela que é aumentar o
capital dos acionistas? Minha resposta é não, eles não têm.” (FRIEDMAN, 1970)

Embora esta afirmação possua uma coerência intrínseca bastante elevada


dentro da lógica do mercado ela é falaciosa em um elemento crucial que é a
tempestividade com que o mercado promove sua auto-regulação e a capacidade
que a sociedade e o meio ambiente têm de suportar determinados processos e
relações de produção.
O modelo aqui proposto modifica alguns aspectos discutidos na literatura e
buscar dar uma ênfase mais sociológica nos compromissos assumidos pela
empresa que, mais que refletir um maior nível de conscientização interna, reflete o
aprendizado e amadurecimento da própria sociedade que, ao institucionalizar um
conjunto de elementos, vai paulatinamente determinando comportamentos para as
organizações que por sua vez também podem dar origem a comportamentos ou
31

procedimentos que passarão por processos de institucionalização. A figura a seguir


sistematiza o que propomos como modelo analítico:

AÇÕES SOCIAIS ESTRATÉGICAS

GOVERNANÇA CORPORATIVA
Institucionalização
oriunda da
Sociedade Responsabilidade
Social
REGRAMENTO LEGAL Corporativa

Institucionalização
oriunda do meio
empresarial SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA
MISSÃO/NEGÓCIO DA EMPRESA

SOCIEDADE
Figura 01: O Processo de Institucionalização da Responsabilidade Social Corporativa

Considerando o escopo desta análise, pode chamar atenção o fato de que a


ética não esteja incluída como uma dimensão do modelo. Entendo que isto não
significa que ela não esteja presente ou que não seja desejável no comportamento
das pessoas. Embora a retirada da ética possa reduzir o grau de romantismo do
tema, este procedimento deixa o modelo extremamente pragmático com
possibilidades de investigação empírica, deixando a crítica a formação dos juízos
morais para ser analisada na dimensão da sociedade quando esta institucionaliza
alguns comportamentos ou percepções. Em outras palavras, a ética, enquanto
filosofia moral deve ser discutida em uma perspectiva de sociedade e a partir desta
refletir-se nos agentes sociais.
Ainda como elemento de fundo desta temática vale lembrar que se entende
que a responsabilidade é sinônimo de compromisso o qual não concede
prerrogativa ao agente organizacional de, a seu bel prazer, cumprir ou não o acordo
assumido, pois ele será sempre compulsório. Cabe a sociedade atuar como agente
fiscalizador aplicando sansões àqueles que fugirem de sua responsabilidade.
Comentando então brevemente como entendemos que possa ser
compreendida a responsabilidade da empresa e como esta dinâmica pode se refletir
32

em avanço social, a figura anterior modela a própria essência existencial da


empresa. Seu ponto de referência inicial é a consecução de sua missão por meio de
seu negócio. Todas as demais ações, considerando os limites estabelecidos nas
demais dimensões, deverão ser cotejadas frente sua coerência com esta missão.
Como tal, para subsistir a empresa deve conseguir com seu negócio gerar recursos
que viabilizem sua sustentabilidade econômica12. A segunda dimensão da
responsabilidade é o cumprimento tempestivo de todo o regramento legal
constituído, o que abrange aquele determinado pelo Estado e também por outros
órgãos legitimados socialmente. A terceira dimensão de responsabilidade, a
Governança Corporativa, abrange o que hoje tem sido denominado como o respeito
aos acordos e expectativas entre a entidade e os diversos stakeholders, mesmo
que não legalmente instituído. Estas três dimensões, erigidas com base na missão,
esgotam a responsabilidade de qualquer organização e somente isto delas poderá
ser exigido.
Acima da responsabilidade corporativa incluímos uma quarta dimensão que
será determinante para o objetivo em pauta que é a elevação qualitativa dos
padrões de atuação social e ambiental das organizações. As Ações Sociais
Estratégicas, tem um caráter essencialmente competitivo qual seja, são propostas e
implementadas de modo a gerar diferenciais competitivos que a sociedade entenda
como importantes e que possam atuar, melhorando a propensão de consumo dos
produtos da empresa ou sua imagem. Estas iniciativas têm um impacto direto na
dimensão da sustentabilidade enquanto consegue gerar um processo de
diferenciação, porém o grande impacto em termos de aprendizado social se dá
quando a sociedade passa a não mais considerar esta iniciativa como uma
diferenciação positiva indutora de consumo e a converte em um elemento
qualificador da ação empresarial. Nesta virada, o procedimento é então
institucionalizado legal ou moralmente e passa a constituir um novo ponto de partida
para todas as organizações daquele setor. Embora a origem desta iniciativa tenha
sido de caráter instrumental, como sempre deve ser, sua incorporação aos padrões
de racionalidade materialmente constituídos (Habermas, 1992), a converte em uma
regra de mercado de reflexo qualitativo à existência dos sujeitos e do ambiente.

12
Entende-se por sustentabilidade econômica a capacidade autônoma da organização em gerar
rendas suficientes para cobrir seus custos de operação, reprodução de seus fatores de produção e
remuneração dos provedores de capital.
33

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