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Do rito à teologia e à espiritualidade

O rito e as raízes de nossa epistemologia e método para o estudo da liturgia cristã

A tradição judaica legou aos cristãos de todas as épocas uma verdade: o Senhor é Deus-
Conosco (cf. Is 7,14). Após a morte e ressurreição de Jesus, seus discípulos e discípulas
concluíram que tal presença se revelava nos gestos e palavras do Mestre. Ainda em meados do
século primeiro, foi composta uma longa homilia cuja autoria não se tem precisão até os dias de
hoje e ficou conhecida como Carta aos hebreus. Parece-me que este seja um dos registros mais
antigos a indicar um procedimento hermenêutico que parte deliberadamente do rito para
anunciar e explicar a fé em Jesus. É reconhecível o uso preciso das categorias do culto no templo
de Jerusalém para abordar tudo o que diz respeito a pessoa de Jesus de Nazaré.

O Concílio Vaticano II em sua Constituição sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum


Concilium valeu-se da Carta aos hebreus para introduzir uma breve exposição sobre a natureza
da liturgia. Com habilidade narrativa descrevem o evento central da fé cristã: “tendo falado
outrora muitas vezes pelos profetas, quando chegou a plenitude dos tempos enviou-nos o seu
Filho” (SC 5). Mas é no versículo seguinte (Hb 1,2) encontramos o tema mais importante da Carta
aos hebreus, a afirmação de que Deus fala em seu Filho Jesus de uma maneira peculiar e jamais
vista antes. A singularidade do pronunciar-se de Deus na existência total de seu Filho é abordada
no prólogo da Carta aos hebreus sobretudo em duas expressões: “falou-nos por meio de seu
Filho” e “Ele é o resplendor de sua glória”.

Ambas expressões uma vez aplicadas à Liturgia estabelecem que ela deva sempre ser
considerada à luz da Revelação. Como bem nos alerta Andrea Grillo, a SC não começa por
enunciar conceitos “sobre” a Liturgia, mas põe em evidência o que se dá pela sua “mediação”.
Na Constituição litúrgica do Concílio, a afirmação da Carta aos hebreus de que pela mediação
do Filho temos acesso esplendor da glória divina é interpretada numa palavra sobre a
humanidade do Verbo. Assim se exprimem os padres conciliares: “A sua humanidade foi, na
unidade da pessoa do Verbo, o instrumento da nossa salvação” (SC 5).

A SC é clara: o Filho é mediação enquanto Verbo humanado. Locutus est nobis in Filio,
traduz a Vulgata. “In Filio” significa que Jesus tornou-se “lugar” no qual Deus se manifesta.
Padres da Igreja como por exemplo João Damasceno chamavam este procedimento de teandria.
Em Cristo, nada de Deus é manifesto senão por sua humanidade e, inversamente, tudo na
humanidade de Jesus é obediência à divindade. A consequência sobretudo para nós cristãos do
ponto de vista da gnose ou conhecimento de Deus é que necessitamos da experiência da
“pessoa” de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. É no corpo de Cristo que Deus se torna acessível
a nós.

Ao falarmos de Corpo vamos bem além da concepção meramente fisicista de “carne”.


Mais uma vez, os padres conciliares souberam narrar a humanidade salvífica do Verbo, ou seja,
a sua carne, descrevendo as relações que Jesus de Nazaré estabeleceu durante sua existência
histórica: Ele foi enviado para “evangelizar os pobres, curar os contritos de coração, como
médico da carne e do espírito” (SC 5). Por traz destes termos (evangelizar e curar) está o texto
de Lc 4,18 no qual o evangelista apresenta programaticamente a vida de Jesus. O ministério de
Jesus é expressão de seu Mistério. É carne feita corpo, isto é, comunicação intersubjetiva,
encontro, humanidade.
É muito conhecido o que Leão Magno afirma sobre as celebrações cristãs referenciando-
as à humanidade de Cristo: o que era visível em nosso salvador passou agora para os seus
mistérios, isto é, para a liturgia. Os ritos com os quais celebramos não podem ser reduzidos a
mero aparato cerimonial e nem podem realizar-se como simples ato jurídico, ou seja, na
obediência condescendente à rubricas e normas. Os ritos com os quais os cristãos celebram são
o fato humano exprimindo o mistério de Deus tal e qual se deu em Jesus de Nazaré. Segundo
Bonaccorso, o rito é a vida e história humanas com sentido e orientação. No caso, ações capazes
de revelar a pessoa de Jesus, porque correspondem aos seus gestos e palavras.

O rito é a expressão mais completa e complexa de nossa humanidade e ao mesmo


tempo a experiência humanizante fundamental. Isso se dá porque o rito, qual realidade
simbólica, realiza o cruzamento de todas as principais linguagens humanas (cf. Bonaccorso:
2006, p. 238). Portanto, se há uma linguagem com a qual o Mistério de Verbo Encarnado, Morto
e Ressuscitado pode ser “pronunciado” em nossa humanidade é a ritualidade. Mais
especificamente, em se tratando da liturgia cristã, os ritos são um prolongamento do Evangelho,
conforme afirmara o Cardeal Martini (Milano: 1998). E o evangelho não é um “conteúdo” ou
uma “mensagem” mas é o próprio acontecimento de Cristo como Palavra de Deus disponível
aos nossos sentidos (cf. Bianchi; Boselli: 2017, p. 13.39). Conforme escreve São Paulo, o
Evangelho é a vida e história humana do Filho (cf. Rm 1,1-4).

Por todas essas razões o rito não pode ser desconsiderado no trabalho de qualquer
teólogo ou teóloga que seja, mas sobretudo daqueles que tem a incumbência profissional e
também pastoral de estudar a Liturgia. A falência do rito é falência da fé que nasce da
ressurreição de Verbo feito ser humano (cf. Bonnacorso: p. 242). Mas é, antes de tudo, falência
daquela humanidade nova que deve ser manifesta no corpo pessoal e eclesial e no fim das
contas, falência da própria teologia.

BIBLIOGRAFIA

BONACCORSO, Giorgio. Il Corpo de Dio. Vita e senso della vita. Assissi: Citadella Editrice, 2006.

BIANCHI, Enzo. BOSELLI, Goffredo. Il vangelo celebrato. Milano: San Paolo, 2017.

MARTINI, Carlo Maria. Omelia per la messa crismale. Milano, 1998. Disponível para download
em: https://www.chiesadimilano.it/cms/documenti-del-vescovo/c-m-martini/cm-omelie-del-
giovedi-santo/la-liturgia-mistica-del-prete-14106.html. Acesso: 20 jul 2019.

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