Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
A tradição judaica legou aos cristãos de todas as épocas uma verdade: o Senhor é Deus-
Conosco (cf. Is 7,14). Após a morte e ressurreição de Jesus, seus discípulos e discípulas
concluíram que tal presença se revelava nos gestos e palavras do Mestre. Ainda em meados do
século primeiro, foi composta uma longa homilia cuja autoria não se tem precisão até os dias de
hoje e ficou conhecida como Carta aos hebreus. Parece-me que este seja um dos registros mais
antigos a indicar um procedimento hermenêutico que parte deliberadamente do rito para
anunciar e explicar a fé em Jesus. É reconhecível o uso preciso das categorias do culto no templo
de Jerusalém para abordar tudo o que diz respeito a pessoa de Jesus de Nazaré.
Ambas expressões uma vez aplicadas à Liturgia estabelecem que ela deva sempre ser
considerada à luz da Revelação. Como bem nos alerta Andrea Grillo, a SC não começa por
enunciar conceitos “sobre” a Liturgia, mas põe em evidência o que se dá pela sua “mediação”.
Na Constituição litúrgica do Concílio, a afirmação da Carta aos hebreus de que pela mediação
do Filho temos acesso esplendor da glória divina é interpretada numa palavra sobre a
humanidade do Verbo. Assim se exprimem os padres conciliares: “A sua humanidade foi, na
unidade da pessoa do Verbo, o instrumento da nossa salvação” (SC 5).
A SC é clara: o Filho é mediação enquanto Verbo humanado. Locutus est nobis in Filio,
traduz a Vulgata. “In Filio” significa que Jesus tornou-se “lugar” no qual Deus se manifesta.
Padres da Igreja como por exemplo João Damasceno chamavam este procedimento de teandria.
Em Cristo, nada de Deus é manifesto senão por sua humanidade e, inversamente, tudo na
humanidade de Jesus é obediência à divindade. A consequência sobretudo para nós cristãos do
ponto de vista da gnose ou conhecimento de Deus é que necessitamos da experiência da
“pessoa” de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. É no corpo de Cristo que Deus se torna acessível
a nós.
Por todas essas razões o rito não pode ser desconsiderado no trabalho de qualquer
teólogo ou teóloga que seja, mas sobretudo daqueles que tem a incumbência profissional e
também pastoral de estudar a Liturgia. A falência do rito é falência da fé que nasce da
ressurreição de Verbo feito ser humano (cf. Bonnacorso: p. 242). Mas é, antes de tudo, falência
daquela humanidade nova que deve ser manifesta no corpo pessoal e eclesial e no fim das
contas, falência da própria teologia.
BIBLIOGRAFIA
BONACCORSO, Giorgio. Il Corpo de Dio. Vita e senso della vita. Assissi: Citadella Editrice, 2006.
BIANCHI, Enzo. BOSELLI, Goffredo. Il vangelo celebrato. Milano: San Paolo, 2017.
MARTINI, Carlo Maria. Omelia per la messa crismale. Milano, 1998. Disponível para download
em: https://www.chiesadimilano.it/cms/documenti-del-vescovo/c-m-martini/cm-omelie-del-
giovedi-santo/la-liturgia-mistica-del-prete-14106.html. Acesso: 20 jul 2019.