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Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ

Docente: Anderson Luchese


Discentes: Ciro Felipe Scopel, Otávio Augusto Grotto, Thayna Bessegato
Componente Curricular: Libras

O Grito da Gaivota

“Desde a minha infância que considerei as palavras como uma coisa


bizarra.” A autora parte de sua infância para expor suas dificuldades iniciais,
quando as palavras lhes representavam um grande mistério. Relata que vivia
no momento presente, não tinha noção do que representa o passado ou o
futuro, nem mesmo a consciência de sua própria individualidade, noções que
só alcançaria após ter contato com a língua de sinais, aos sete anos de idade.
O apelido de “gaivota” foi-lhe dado pelos pais, em função de seus “gritos
agudos de pássaros do mar”(p.11) – gritos proferidos na tentativa de “falar”. Em
francês, as palavras “mouette” e “muette” representam, respectivamente,
“gaivota” e “muda”, uma semelhança fonética que reforçou esse apelido.

Os problemas começam desde os primeiros contatos com os médicos


especialistas: seu pediatra não acreditava que ela seria surda. Aos nove
meses, um especialista deu o diagnóstico de surda profunda, informando que
poderia falar com a colocação de aparelho, reeducação ortofônica e evitando a
linguagem gestual. E nada de contato com adultos surdos.

Ao alcançar a quinta série, foi recusada a sua matrícula, o que lhe


causou grande decepção. Foi obrigada a migrar para a única escola que
atendia surdos. Sua mãe lhe informou, entretanto, que o método adotado para
o ensino era oral, o que, em princípio, não foi claramente compreendido pela
autora, mas que depois trouxe uma dura realidade. O ensino se baseia na
leitura labial e a oralidade.

Aos treze anos, sem saber o que seria de seu futuro profissional, vem à
tona uma Emmanuelle revoltada, contra o sistema, indignada com a sua
situação e com a condição dos surdos. Entende os surdos como pessoas que
não desejam ouvir, não como deficientes, como a sociedade os percebem.
Começava a se desenvolver e seu corpo já é de uma mulher. Descobre a
sexualidade, os homens. Em especial, começa um relacionamento com um
jovem surdo, apaixonando-se perdidamente, mesmo contra a vontade de seus
pais.
Durante um almoço o grupo de amigos acaba bebendo. O efeito da
bebida surge, acabam causando certo alvoroço aos olhos de quem estava no
metrô. São detidos por terem ‘’vandalizado um cartaz’’. Eles não eram
vândalos, os policiais não tentam manter comunicação. Ao meu ver sendo
terrivelmente injustiçados, e vítimas de muito pré-conceito.
Presenteada por um Minitel. Aparelho que a torna independente,
podendo comunicar-se de forma livre. Emmanuelle também participa de
manifestações a favor do reconhecimento da língua gestual, algo valioso e
importante. Em determinado momento relata o infeliz fato de ter sido vítima de
assédio sexual, não houve contato físico, mas o trauma foi grande. Sentia-se
lesada, ela não pode gritar. O indivíduo tomou proveito da situação por ela ser
surda, e o pior, após isso nada foi feito.
Com a separação dos pais a vida da jovem torna-se ainda mais
turbulenta, e em meio a todas essas mudanças ela descobre a traição do seu
namorado. Mesmo com todos estes empecilhos Emmanuelle segue forte.
Porém sente-se injustiçada com a própria vida, ela diz não sentir-se bem no
próprio corpo. Pensa não ter nada na cabeça, ser uma gaivota vazia. A
aceitação é um caminho fundamental, mas que muitas vezes é difícil de
percorrer quando achamos estar sozinhos.
A jovem Emmanuelle adorava participar de teatros para surdos, sentia-
se bem, realizada. Naquele tempo começa a pensar no seu futuro e em como a
língua de sinais pôde mudar a sua vida para melhor. Emanuelle também
participa de grupos a incentivo e conscientização de surdos a cerca das
doenças sexualmente transmissíveis, uma vez que existe sim a falta de
informação para esse público, que também está vulnerável a estas doenças.
Sabe-se que em alguns lugares a educação para surdos é vista como
algo desnecessário ou falho, quando em alguns casos a escola é
despreparada. Uma situação que pode e deve ser melhorada, principalmente
por existir uma grande parte da população que é surda, e que tem direitos que
devem ser compridos. Ela era estudiosa, sendo considerada bilíngue, pois
compreende a gramática e comunica-se através de sinais. Ressaltando que às
vezes provas e exames não adaptados, não é a melhor forma de medir o
conhecimento de uma pessoa surda.
Neste período Emmanuelle é convidada para participar de uma peça
teatral, para interpretar um grande papel, sempre com o incentivo, é alguém que
tem uma grande expressividade, e capacidade como qualquer outra pessoa, ali ela é
tratada com igualdade.
Em várias consultas médicas, há insistência em implantar aparelhos
auditivos, o implante muitas vezes pode ser considerado como uma violação,
os surdos devem opinar pelo uso do aparelho, sendo que muitas vezes não
resolve ou só piora a situação.
A experiência que Emmanuelle tem no teatro é algo enriquecedor, os
que ouvem e os surdos misturados, local onde se percebe que há um grande
incentivo. Com a chegada do dia da peça teatral, Emmanuelle está aflita, é
uma grande responsabilidade interpretar aquele papel, com todo aquele
público, e com sucesso e razão a peça consegue o título de melhor adaptação.
Emmanuelle tem um lema: Lutar para viver. Não se render.
Comprometer-se. Fazer tudo. Onde agora se vê como uma gaivota que
cresceu, e que voa com as próprias asas, independente e batalhadora, digna
de admiração.
Alguns surdos conseguem ir à universidade, mas devido à dificuldade,
eles usam o método de gravar as aulas, e depois o pai ou a mãe escrevem
para que o surdo possa ler e entender. Uma amiga aprendeu a língua gestual o
que facilita muito, mas os pais não aprenderam e também não aceitam a
surdez da filha e escondem, por isso nem sempre é fácil. Os pais dela a
tratavam como uma deficiente, eles obrigam ela a falar, para que ela se torne
“normal”. Mas um dia um colega acabou com o segredo da família e acabou
contando, e explicando a menina que ela não era a única surda.
Tenho que deduzir daquilo que vejo na sua boca, uma palavra, em
seguida outra palavra, até finalmente conseguir construir uma frase. Ao todo,
passei dez anos no Instituto Morvan. É uma escola privada, oralista, mas estou
grata pelo ensino que ali recebi. Identifico visualmente muito bem os erros. Mas
quanto à construção das frases, quando entra “se bem que ou enquanto” é
complicado. Não temos a mesma gramática em língua gestual.
Quando eu tinha dez anos, vi num teatro, onde fui com os meus pais,
uma peça intitulada Os Filhos do Silêncio. Naquela idade não percebi tudo.
Lembro-me principalmente do ambiente do espetáculo. O palco, as
personagens, um homem que ouve, uma mulher que fala por gestos. O
combate entre dois mundos.
No final minha mãe disse: Emmanuelle, há um encenador que quer falar
contigo por causa de uma reposição dos Filhos do Silêncio. Marquei uma
entrevista com ele em teu nome”. Eu perguntei para ele perguntei-lhe por que é
que ele se interessava tanto pelo mundo dos surdos, por que é que se batia
tanto pelos direitos dos surdos, o que é que o prendia tanto a eles. Ficou
silencioso, pôs-se a pensar e depois respondeu-me, perturbado pela pergunta:
Não sei, tenho a impressão de pertencer à mesma família!”
Um dia, a minha mãe e Maria estavam a conversar acerca de uma
operação milagrosa e improvável que devolvia o ouvido aos surdos. Estavam a
falar de mim, interrogando-se se eu estaria na disposição de a fazer. Somos
uma minoria, os surdos profundos de nascença. Com uma cultura específica e
uma língua específica. Os médicos, os investigadores, todos os que querem
transformar-nos a qualquer preço em ouvintes. Fazerem-nos ouvintes é
aniquilar a nossa identidade. Querer que à nascença deixe de haver crianças
"surdas," é desejar um mundo perfeito. Como se quiséssemos que fossem
todos louros, com olhos azuis.
No século XIX, surge a proibição oficial. A "mímica". As crianças
passaram a ser obrigadas a articular sons que nunca tinham ouvido nem nunca
viriam a ouvir. Foi preciso aguardar pelo decreto de 1991 para que a proibição
fosse levantada. Para que os pais pudessem escolher o bilinguismo para os
seus filhos. Uma escolha importante, pois permite à criança surda ter a sua
própria língua, desenvolver-se psicologicamente, e também poder comunicar
em francês oral ou escrito, como os outros. O implante para mim é como uma
violação.
Quando era ainda adolescente sonhava com a Marilyn Monroe, tão
frágil, sabendo aguentar todas aquelas emoções da sua profissão. Tinha
retratos dela por toda a parte. Eu não sou a Marilyn nem isto aqui é Hollywood,
mas para mim é a mesma coisa. É a primeira vez que uma atriz surda é
nomeada para um Prémio Molière. E fui eu a contemplada. Mesmo que não
ganhe, já terei ultrapassado um obstáculo imenso.
“O termo "surda-muda" continua a espantar-me. Mudo significa que não
se tem o dom da palavra. As pessoas vêem-me como alguém que não utiliza a
palavra. É absurdo! Eu uso. Tanto com as mãos como com a boca. Faço
gestos e falo francês. Utilizar a língua gestual não significa que se seja mudo.
Posso falar, gritar, rir, chorar, são sons que me saem da garganta. Não me
cortaram a língua! Tenho uma voz esquisita mais nada. Nunca disse aos
jornalistas que não podia falar. “
O meu silêncio não é igual ao vosso. O meu silêncio seria ter os olhos
fechados, as mãos paralisadas, o corpo insensível, a pele inerte. Um silêncio
do corpo. Quer seja surdo ou que ouça, será sempre bilingue. Vai conhecer os
dois mundos.
“A gaivota cresceu e voa com as próprias asas. Vejo como poderia ouvir.
Os meus olhos são os meus ouvidos. Tanto escrevo como falo por gestos. As
minhas mãos são bilingues. Ofereço-vos a minha diferença. O meu coração
não está surdo a nada neste mundo duplo. Custa-me muito deixar-vos.”
Este livro é uma importante leitura para quem quer conhecer um pouco
mais sobre a realidade das pessoas surdas, é um relato verdadeiro de uma
jovem que tem uma perspectiva diferente do mundo e que apesar de todas as
dificuldades nunca desistiu do seu sonho de ser atriz, serve com inspiração e
um exemplo de superação, não somente para as pessoas surdas, nos
mostrando que não importa o quão grande os seus sonhos sejam, você possui
a capacidade de realiza-los e que as dificuldades ao longo do percurso apenas
enaltecem ainda mais as nossas conquistas.

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