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Resumo:
As teorias do audiovisual dizem muito para a educação e vice-versa. Buscamos por uma
estratégia que permita olharmos e escutarmos ambas, o que pode contribuir para a sustentação
teórica de práticas educativas em Cinema e Audiovisual. Através das noções de conteúdo de
Antoni Zabala, aqui propomos uma forma de olhar para as teorias do cinema enquanto teorias
da educação informal, o que nos ajudará a indicar tanto uma forma de identificar a pluralidade
da educação audiovisual como possíveis implicações para uma educação audiovisual feminista
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Mestrando em Cinema e Audiovisual pelo PPGCINE-UFF.
ensino-aprendizagem fortalecidas pelas perspectivas teóricas. Isso pode nos ajudar a pensarmos
as nossas práxis, a avaliar os nossos caminhos e a consolidar a nossa atuação dentro de ambos
os campos.
Isso já tem sido feito por pesquisadores que buscaram as implicações pedagógicas do
pensamento em palavras, imagens e sons de cineastas e que constróem as suas práticas
conscientes das teorias que se avizinham. Trabalhos como “Godard e a Educação”, por
exemplo, são reflexões pedagógicas do que Aumont chamou de Teoria dos Cineastas. Essa
estratégia de Pedagogias dos Cineastas também se estendeu a Glauber Rocha (LEANDRO,
2003). Já MIGLIORIN & BARROSO (2016) buscaram as Pedagogias do Cinema ao tentarem
compreender as implicações pedagógicas das teorias e práticas da montagem. Aqui
complementamos essas estratégias ao reconhecermos que o que elas possuem em comum é um
corpo teórico sobre o Cinema e o Audiovisual. A nossa empreitada é então as Pedagogias das Teorias
do Cinema, o que se estende tanto aos cineastas que expressaram seus pensamentos quanto aos próprios
teóricos que não realizaram filmes. Esta identificação com as teorias facilita a aproximação com as
teorias de todas as outras áreas: assim passaremos das concepções sobre o audiovisual às concepções
sobre ensino-aprendizagem em geral e vice-versa.
Essa aproximação entre esses campos teóricos se torna mais palatável se reconhecermos
o cinema como um meio de educação informal. Na década de 50 os teóricos da Escola de
Frankfurt reconheceram que a mídia de massa educa. Propomos que as teorias do cinema então
são teorias sobre meios informais de educação. As teorias do cinema são teorias da educação
pois destrincham um meio de ensinar fatos, conceitos, atitudes e procedimentos aos humanos.
Podemos usar as teorias do cinema para analisar propostas de educação audiovisual. Essas
concepções estão sempre presentes nas práticas educativas, embora muitas vezes elas sejam
trabalhadas sem uma evidente intencionalidade. Cada curadoria de filmes utilizada em um
projeto, cada organização curricular dos conteúdos em um processo educativo, cada forma de
criar e pensar o audiovisual em sala de aula encontra justificativas a partir de uma teoria do
cinema. O mesmo é possível a partir das correntes da educação, o que nos permitirá refletir a
que cabe ao audiovisual em uma prática escola novista, por exemplo.
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bell hooks se autonomeia em letras minúsculas.
Ainda hooks, ela cita a teorização como um processo de cura ao ser uma possibilidade
de imaginar outros caminhos em meio ao sentimento de ausência de se ter um lar. Ela propõe
uma prática teórica intrínseca à experiência e existência de quem a exercita e cita que ela cura
a quem a direciona para este fim. “Quando nossa experiência vivida da teorização está
fundamentalmente ligada a processos de autorrecuperação, de libertação coletiva, não existe
brecha entre a teoria e a prática” (hooks, 2013, p. 85).
Partimos desse pressuposto da importância do estudo teórico associado às experiências
dos educadores e educandos. Assim declaramos que as reflexões aqui presentes são incompletas
sem uma aproximação de narrativas de práticas de ensino-aprendizagem, o que pretendemos
realizar em uma dissertação futura.
Sob essa perspectiva conjunção de teoria e prática, os esforços teóricos apresentados em
livros como “A Hipótese Cinema” (BERGALA, 2008) e “Inevitavelmente Cinema”
(MIGLIORIN, 2015) são essas primeiras curvas da “espiral em progressiva expansão e gradual
ascensão” que Nadia Souza disse acima. São esforços teóricos quanto às práticas educativas
com o audiovisual. Isso nos permite reconhecer que não são as práticas de educação audiovisual
a grande novidade do século XXI, mas o adensamento das reflexões teóricas sobre elas.
Maria Ferraz e Maria Fusari (2001) se detiveram sobre a história do ensino de artes
visuais no Brasil. Ao abordarem as diferentes perspectivas que foram aplicadas, elas
reconhecem que “as práticas educativas surgem de mobilizações sociais, pedagógicas,
filosóficas e, no caso da arte, também artísticas e estéticas” (ibid, p. 27). As duas arte-
educadoras nos apresentam a relevância de buscar os pressupostos de diferentes práticas, o que
elas fazem através de cursos, aulas, materiais didáticos etc. consolidadas de um campo
institucionalizado – ao qual denominam Arte-Educação. Elas esboçam uma estratégia que pode
contribuir para o fortalecimento de campos como Educomunicação e Cinema-Educação,
campos que ainda não foram aplicados em massa na escola brasileira e carecem de uma
sustentação para além da técnica.
As práticas de ensino aprendizagem com audiovisual se beneficiam deste acúmulo
realizado pela Arte-Educação, como podemos ver em trabalhos que se aproximam da
metodologia triangular de Ana Mae Barbosa (DIAS, 2018). O que não temos é um mapa que
abre as práticas de Educação Audiovisual em diferentes momentos da história, o que poderia
nos ensinar o que tantos projetos e atividades já aprenderam durante os séculos XX e XXI.
Assim justificamos a presente empreitada, um primeiro passo antes de efetivamente
buscarmos por essas experiências em processos de ensino e aprendizagem.
Vislumbramos a força desse trabalho ao olharmos para alguns projetos que ganharam
ampla difusão pela América Latina e ao conseguirmos identificar os impactos que seus
pressupostos teóricos possuem em suas proposições pedagógicas. De meu ponto de vista, o
projeto “Inventar com a diferença”, por exemplo, é um desdobramento pedagógico da teoria
contemporânea do documentário, particularmente a que o discute dentro do conceitual do
dispositivo.
Robert Stam (2003) apresenta a noção de teoria do cinema afastada da ideia de Grande
Teoria, aquela que utiliza de uma estratégia totalizante. Ele cita a noção de Noël Carroll e David
Bordwell sobre uma “teorização de médio alcance” que
“Reconheceria como teoria do cinema qualquer linha de investigação dedicada a
produzir generalizações ou explicações gerais sobre os fenômenos cinematográficos,
ou consagrada a isolar, rastrear e/ou descrever quaisquer mecanismos, procedimentos,
padrões e regularidades no campo do cinema” (CARROLL E BORDELL apud
STAM, 2003, p. 20).
A partir desta noção de teoria do cinema, podemos entender que esta linha pode se
estender e se conectar com as teorias da educação, principalmente a partir dessas regularidades
e padrões enquanto pressupostos comuns. Buscaremos então a aproximação entre estes campos.
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Disponível em: http://ffc.twu.edu/ Acesso em 12 de dezembro de 2018 às 15h01.
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Disponível em: https://oca.ancine.gov.br/sites/default/files/repositorio/pdf/informe_diversidade_2016.pdf
Acesso em 12 de dezembro de 2018 às 15h05.
denunciarem as práticas machistas, o que ocorre em todos os departamentos de produção
audiovisual, do roteiro à edição. Assim encontramos proposições tais como a de Molly Haskell
sobre a fuga da estereotipação das mulheres nas narrativas (SMELIK, p. 492) e a de Laura
Mulvey a construção de um contra-cinema que abandone os preceitos de identificação presentes
no cinema clássico machista (ibid., p. 493), a de Anna Johnston sobre como os documentários
feministas não deveriam adotar a reflexividade e o questionamento de Alexandra Juhasz sobre
essa ênfase formal e como ela abandona filmes que contribuíram para a mobilização feminista
(ibid., p. 494). Ainda, encontramos trabalhos como o de Nina Tedesco (2013), reflexões sobre
como aspectos técnicos como a iluminação e o enquadramento concorrem para a criação de
sentidos que alimentem ou desconstruam o machismo.
Por fim, o feminismo indica o principal conteúdo atitudinal de desconstrução e
abandono de práticas e valores machistas, práticas de discriminação e violência contra as
mulheres, bem como o fim da submissão das mesmas por hierarquias de poder. Em práticas de
Educação Audiovisual isso se traduz pela problematização e abandono de filmes que pratiquem
violência simbólica contra as mulheres, a valorização da presença das mulheres nos processos
formativos, bem como o incentivo ao protagonismo da mulher e a cooperação entre as mesmas.
Conclusão
Buscamos por uma estratégia que nos ajude a compreender a pluralidade da prática em
educação audiovisual. Identificamos que essa pluralidade ocorre tanto no nível das grandes
áreas que lidam diretamente com o audiovisual, como no nível das diversas correntes teóricas
que as influenciam e também abarcam as da educação.
Ao abordamos o Feminismo, por exemplo, conseguimos alcançar as perspectivas
estruturalistas e pós-estruturalistas, o que parece ser um nível de aprofundamento dentro do que
Bergala (2009) apenas indicou enquanto “práticas de defesa ideológica”. Porém não fomos aos
estudos feministas para descartá-los ou usarmos eles como uma rato de laboratório. O
aprofundamento nas reflexões sobre a opressão das mulheres é urgente para a educação
brasileira e mundial e como uma aluna me disse, o papel dos homens é apenas tentar abrir
caminhos antes bloqueados para o diálogo, o que entendemos aqui como uma tentativa de
apresentar que o feminismo tem muito a contribuir com a Educação Audiovisual. Fizemos isso
sem estabelecermos uma norma ou o que fazer, o que reforça o nosso compromisso em não
falar pelas mulheres.
Bibliografia
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ZABALA, Antoni. A Prática Educativa – como ensinar, Porto Alegre: ArteMED Ed. 2010.