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5, Nº 2, 21-35
Priscila Mara de Araujo Gualberto,1 Pedro Eugênio Aloi e João dos Santos Carmo
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS2
RESUMO
Habilidades pré-aritméticas são um conjunto de repertórios tidos como pré-requisito à aquisição de habilidades matemáticas
complexas. Estudos em análise experimental do comportamento têm apresentado bons resultados em avaliação e ensino de habilidades
matemáticas básicas para indivíduos com desenvolvimento típico e para pessoas com dificuldades de aprendizagem ou deficiência
mental. No entanto, cada estudo propõe tarefas diferentes para avaliar repertórios matemáticos, e parte desses não avalia as habilidades
pré-aritméticas. O presente estudo objetivou desenvolver um instrumento de avaliação que contemple habilidades pré-aritméticas
apontadas como relevantes por Carmo (2003) e Prado e de Rose (1999) em crianças das primeiras sérias do Ensino Fundamental: con-
tagem de elementos de um conjunto; seriação e ordenação de algarismos; comparação de conjuntos e algarismos; noções qualitativas
(maior, menor, antes, depois, igual). Participaram três crianças do Ensino Fundamental da rede municipal de ensino de São Carlos/SP.
Aplicou-se uma bateria com 10 tarefas que envolveram as habilidades de sequenciação de numerais, classificação de figuras, conjuntos
e numerais (com e sem modelo impresso), igualdade entre numerais e entre conjuntos, contagem e ordenação crescente de numerais.
O procedimento foi o emparelhamento ao modelo. P1 teve o maior desempenho médio (96,8%) e P3, o menor (73,7%). Tarefas que
exigiam produção de sequências com ou sem discriminação de quantidade representaram maior dificuldade para os participantes. O
procedimento mostrou-se eficaz para a descrição do repertório inicial dos participantes. Contudo, há necessidade de inclusão de novas
relações, tais como nomeação de algarismos, ordenação decrescente, estimativas etc.
Palavras-chave: comportamento matemático, habilidades numéricas, avaliação de repertório, séries iniciais, crianças.
ABSTRACT
Pre-arithmetic skills are a set of prerequisites to the acquisition of complex mathematical skills. Studies in experimental analysis
of behavior have been successfully used in evaluation and teaching of basic math skills for individuals with typical development and
for people with learning difficulties or disabilities. However, each study proposes different tasks to assess mathematical repertoires of
these and does not assess the pre-arithmetic skills. This study aimed to develop an assessment tool that includes pre-arithmetic skills
considered relevant by Carmo (2003) and Prado and de Rose (1999) in children of elementary school: counting elements in a set,
ordering and sorting of figures, comparison of sets and numbers; qualitative notions (major, minor, before, after, equal). Attended
three elementary school children of municipal schools in São Carlos/SP. We applied a battery with ten tasks involving the skills of
sequencing numerals, classification of figures, sets and numbers (with and without a print model), equality between sets and numerals,
counting and ordering numerals growing. The procedure was the matching to sample. P1 had the highest mean performance (96.8%)
and P3, the lowest (73.7%). Tasks requiring production of sequences with or without regard to amount represented more difficult for
the participants.The procedure was effective for the description of the repertoire of the participants. However, there is need to include
new relationships, such as naming numbers, decreasing ordering, estimates, etc.
Keywords: mathematical behavior, numerical abilities, repertoire assessment, early elementary school, children.
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AVALIAÇÃO DE HABILIDADES PRÉ-ARITMÉTICAS
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Tabela 1
Instruções verbais e tipos de estímulos experimentais utilizados
Qual é o maior/menor
(figuras)?
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AVALIAÇÃO DE HABILIDADES PRÉ-ARITMÉTICAS
podendo ser repetidos até três vezes, totalizan- presso). Essa tarefa também envolveu a ha-
do 54 tentativas para o teste dessa habilidade. bilidade de comparar e classificar numerais
Tarefa 2. Classificação de figuras em “maior em maiores ou menores, mas sem o estímulo
que/menor que”. A cada tentativa eram apre- visual como modelo. Em cada tentativa apre-
sentadas três figuras, variando apenas em ta- sentavam-se cinco algarismos não repetidos
manho. O participante era, em três tentativas, como estímulos-comparação e solicitava-se
oralmente instruído a apontar a figura maior ao participante que apontasse para o numeral
dentre as apresentadas na tentativa, e, em ou- de maior valor dentre todos ou para o de
tras três, a apontar a figura menor, totalizando menor valor dentre todos. Para cada tentati-
seis tentativas no bloco. Com as três repe- va, os valores dos algarismos variaram entre
tições possíveis, houve 18 tentativas para o dois e 40, selecionados aleatoriamente. Essa
teste dessa habilidade. tarefa totalizou seis tentativas, sendo três para
o maior de todos os algarismos e três para o
Tarefa 3. Classificação de conjuntos com menor de todos.
“mais/menos elementos”. Eram apresen- Levando em conta as três repetições pla-
tados três conjuntos, variando apenas em nejadas para cada bloco de tarefas (Tarefas
quantidade de elementos. Foram utilizados 4.1 e 4.2), a habilidade de classificação de
conjuntos aleatoriamente selecionados en- numerais foi testada em 42 tentativas.
tre dois e 10 elementos. Em três tentativas, o
participante deveria apontar para o conjunto Tarefa 5. Igualdade entre numerais. Apre-
com mais elementos e, nas outras três, para o sentava-se um numeral impresso como estí-
conjunto com menos elementos, totalizando mulo-modelo e cinco numerais como estí-
seis tentativas no bloco. Com as três repe- mulos-comparação. O participante era oral-
tições possíveis, houve 18 tentativas para o mente instruído a apontar o numeral igual ao
teste dessa habilidade. estímulo-modelo. Essa tarefa foi organizada
em um bloco composto por seis tentativas,
Tarefa 4.1. Classificação de numerais 1 e foram apresentados valores que variaram
(noção de “maior/menor”). Foram utilizados entre dois e 40, aleatoriamente selecionados.
numerais aleatoriamente selecionados entre Com as três repetições planejadas, houve 18
os valores zero a 22. Era apresentado um nu- tentativas para o teste dessa habilidade.
meral impresso como modelo, e a tarefa era
apontar, a partir de um pool de numerais im- Tarefa 6. Igualdade entre conjuntos. Nes-
pressos (estímulos-comparação), o numeral sa tarefa, as tentativas foram organizadas da
de maior valor que o estímulo-modelo (qua- mesma forma que na Tarefa 5 (um estímulo-
tro tentativas) ou o numeral de menor valor -modelo e cinco estímulos-comparação), em
que o estímulo-modelo (quatro tentativas), um bloco composto por quatro tentativas,
totalizando oito tentativas no bloco. sendo a mesma em duas delas a disposição
espacial do estímulo modelo e do estímulo
Tarefa 4.2. Classificação de numerais 2 de comparação correspondente, formando
(noção de “maior/menor”, sem modelo im- duas figuras iguais visualmente e em quan-
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AVALIAÇÃO DE HABILIDADES PRÉ-ARITMÉTICAS
Tabela 3
Esquema do bloco de tentativas do Teste 1 (contagem)
1 Não linear 5
2 Linear 2
3 Linear 7
4 Não linear 8
5 Linear 12
6 Não linear 15
7 Não linear 23
8 Linear 17
tarefas; análises do mesmo tipo foram elabo- car um conjunto de cartões com algarismos
radas para os demais participantes. impressos em ordem crescente (Tarefa 8). Da
A análise individual dos resultados de P2 mesma forma que para P1, foram calculadas
nas 10 tarefas mostra que o desempenho mais as médias das tentativas nas tarefas em que o
baixo foi naquela em que ele deveria colo- desempenho de 100% de acerto não foi atin-
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AVALIAÇÃO DE HABILIDADES PRÉ-ARITMÉTICAS
gido. Ele apresentou um erro em três repeti- que sete”. Na tarefa na qual P3 foi instruída
ções (66,7% de acertos) nas sequências zero a apontar o menor ou maior numeral entre
a nove, cinco a 14, 15 a 24, 25 a 34 e 35 a um conjunto de numerais (Tarefa 4.2), a par-
44. P2 apresentou mais cinco erros para ten- ticipante não apresentou respostas corretas
tativas que envolviam dezenas: na tarefa de nas tentativas para apontar o maior e apenas
contar laranjas (Tarefa 7), 66,7% de acertos 22,2% de acertos quando deveria apontar o
nos conjuntos com 15 e 23 laranjas; na tarefa menor numeral do conjunto.
de apontar um número anterior (Tarefa 1.1),
66,7% de acertos quando o estímulo-mode- Discussão
lo foram os algarismos 25 e 29; na tarefa de
apontar um número posterior (Tarefa 1.2), A partir da análise dos resultados, foi ve-
66,7% de acertos na tentativa cujo estímulo- rificado que a tarefa de sequenciar os nu-
-modelo foi o algarismo 17. merais quando estes não iniciavam no zero
A análise individual do desempenho de apresentou-se difícil tanto para P2 quanto
P3 mostra que as tentativas em que a par- P3. Nesses casos, esses participantes iniciavam
ticipante teve baixo desempenho envolviam pelo numeral que tinha o zero (por exemplo,
dezenas e os conceitos de maior e menor do 25 ao 34 iniciavam pelo 30) e comple-
relacionados a algarismos. Na tarefa de con- tavam a sequência como dois subconjuntos
tar as laranjas (Tarefa 7), P3 não respondeu (no exemplo dado, o conjunto da dezena 30
corretamente para os conjuntos com 15 e mais o conjunto da dezena 20, nessa ordem).
23 laranjas. Na tarefa de apontar o nume- Outra dificuldade relacionada a essa tarefa
ral anterior (Tarefa 1.1), P3 alcançou 33,3% foi compreender qual era a exigência. Foram
de acertos para o algarismo 14. Na tarefa de necessárias instruções adicionais nas primei-
apontar o numeral posterior (Tarefa 1.2), um ras tentativas, indicando-se que eles deveriam
erro também ocorreu para as tentativas nas começar pelo menor numeral até o maior.
quais os estímulos-modelo foram 12 e 17. Na Os termos “antes de” e “depois de”, cons-
tarefa de ordenação crescente (Tarefa 8), P3 tantes das instruções das tarefas de indicar o
teve desempenho de 33,3% nas sequências numeral anterior e posterior em relação a
cinco a 14, 15 a 24, 25 a 34 e 35 a 44. um modelo, também constituíram dificulda-
Nas duas tarefas em que se requeria a ha- de para P2 e P3. Foram necessárias, também,
bilidade de comparar numerais e classificá- instruções adicionais que indicassem que a
-los em maior ou menor (Tarefas 4.1 e 4.2), tarefa estava relacionada com a posição do
o desempenho de P3 foi baixo. Quando a algarismo em um contínuo. O entendimen-
comparação foi em relação a um estímulo- to de palavras foi apontado por Resnick et
-modelo (Tarefa 4.1), P3 não respondeu al. (1973) como uma variável relevante para
corretamente nas tentativas em que a instru- a aprendizagem de habilidades matemáti-
ção foi apontar o numeral “maior que três e cas básicas, sendo considerado pelos autores
maior que sete”, e atingiu 33,3% de acertos como um possível dificultador no momento
quando a instrução foi apontar o numeral em que a criança deve traduzir afirmações
“menor que três, menor que seis e menor verbais em problemas de adição e subtração.
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Necessidade de instrução adicional tam- gem, na qual a nomeação era parte da pro-
bém ocorreu com P3 nas tarefas de comparar dução da resposta) durante a realização das
e classificar algarismos em maiores ou me- tarefas de sequenciação de algarismos antes/
nores. E mesmo com explicações extras, essa depois e ordenação crescente. A nomeação é
participante teve baixo desempenho nessas apontada, na literatura, como parte importan-
tarefas, chegando a verbalizar que “...essas te na formação de conceitos (Sidman, 2000).
(tentativas) com números” (fala dela) eram Outras habilidades, observadas como re-
muito difíceis. levantes durante a análise dos resultados do
Convém destacar que, na tarefa de conta- presente estudo, devem ser inseridas em uma
gem (das laranjas), os três participantes apre- nova versão do teste. São elas: utilizar, além
sentaram erros na tentativa cujo conjunto da ordem crescente, a ordem decrescente em
tinha 23 laranjas desorganizadas, e P2 e P3 tarefas de sequenciar numerais; outras varia-
erraram também na tentativa de contar o ções das tarefas que envolvem a relação de
conjunto com 15 laranjas, também arranja- igualdade, incluindo, por exemplo, a compa-
do de forma não organizada, sugerindo que ração entre conjuntos de diferentes objetos,
com grandes quantidades a configuração es- mas com quantidades iguais de elementos; e,
pacial dos conjuntos interfere no desempe- além da nomeação oral dos conjuntos (con-
nho. Essa dimensão espacial do estímulo (ar- tagem), a nomeação dos algarismos. Com ex-
ranjo canônico × não canônico) também foi ceção da habilidade de ordenação crescen-
apontada como fator relevante em estímulos te e decrescente, as demais foram avaliadas
numéricos por Prado e de Rose (1999) e em outros estudos (Carmo & Galvão, 1999;
Kahhale (1993). Kahhale, 1993; Prado & de Rose, 1999). Es-
O procedimento de teste das habilidades sas tarefas serão avaliadas com novos partici-
pré-aritméticas mostrou-se eficaz para uma pantes antes que se proceda à etapa de vali-
descrição inicial das habilidades dos partici- dação do instrumento.
pantes, que pode ser tomada como base para O presente estudo beneficiou-se de da-
o planejamento de ensino de novas habilida- dos de avaliação presentes na literatura e pos-
des. Os resultados aqui demonstrados estão sui a singularidade de propor uma sistemati-
de acordo com os estudos de Carmo (2003), zação de tarefas de avaliação de habilidades
Green (2010), de León (1998), Kahhale numéricas que se encontravam dispersas nas
(1993) e Prado e de Rose (1999), na medida publicações anteriores.
em que as variáveis envolvidas no presente A próxima versão do instrumento será
procedimento, já levantadas anteriormente aplicada por meio de computador, a partir do
nesses estudos, mostraram-se relevantes para uso de um software apropriado para a coleta
a descrição das habilidades dos participantes. de dados utilizando o paradigma de equiva-
Contudo, a análise dos dados aponta a ne- lência. Os estímulos para escolha se limitarão
cessidade de inclusão de outras relações que a três alternativas em tarefas de MTS, a fim
exijam do participante expressão oral, uma de minimizar a oportunidade de erros. O uso
vez que a nomeação dos estímulos emergiu do computador se justifica pela maior preci-
espontaneamente (além da tarefa de conta- são e controle da coleta e análise dos dados.
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Anexo A
Desempenho dos participantes em cada tarefa, em porcentagens de respostas corretas
Tarefas P1 P2 P3
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