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XI Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia

Local: Campinas/ SP
Título: O trabalho das mulheres na produção e comercialização:
Agroindústrias Familiares do oeste catarinense
Autor: Valdete Boni
e-mail: valdete@cfh.ufsc.br

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O trabalho das mulheres na produção e comercialização: Agroindústrias
Familiares do oeste catarinense

Resumo:
Este trabalho é o projeto a ser desenvolvido no mestrado em Sociologia Política na
UFSC. Tem por finalidade estudar as agroindústrias familiares da região oeste de Santa
Catarina, e as feiras de venda direta ao consumidor, enfatizando o trabalho das mulheres na
produção e comercialização dos produtos.
Essa região foi escolhida pelo número expressivo de grupos de cooperação, de
agroindústrias familiares e de produtores que comercializam nas feiras. Na década de 1980,
eclodiram ali vários movimentos sociais que, juntamente com agentes/atores sociais e
também o poder público municipal, dão suporte a essas experiências. Esses grupos e atores
sociais, além de questionar os resultados da modernização e também a maneira como ela
vinha sendo encaminhada, procuram articular o que Jalcione Almeida chama de uma
possível nova modernização, que para esses atores é concebida como modernização
alternativa pois leva em conta as noções de “coletivo” e de “comunidade”.
E, no bojo da constituição dos grupos de cooperação e implantação das
agroindústrias, está a participação das mulheres. A divisão sexual do trabalho na pequena
propriedade rural é nítida. Há, neste processo, lugares específicos para homens, mulheres,
jovens, crianças e idosos. Essas funções, geralmente, são determinadas pelo homem, muito
embora sejam passadas de geração, naturalizando-se, é o habitus, como bem coloca
Bourdieu. Assim, minhas principais interrogações são: Primeiro qual a participação das
mulheres no trabalho das agroindústrias? Segundo, como é a sua participação nas decisões
dos grupos? E por último, que papel desempenha a mulher na comercialização da produção,
seja na venda direta das feiras ou junto aos demais compradores?

O meio rural brasileiro sofreu muitas mudanças nos últimos 40 anos. A chamada
Revolução Verde e a Modernização da Agricultura alteraram significativamente as
relações sociais no campo. Os pequenos proprietários, os assalariados rurais, arrendatários e
meeiros sofreram um intenso processo de empobrecimento. O modelo convencionado de
desenvolvimento foi de expropriação dos bens da agricultura para propiciar o
desenvolvimento do modelo urbano-industrial.
O sistema de integração às agroindústrias e às cooperativas tradicionais causou a
dependência e a exclusão de milhares de famílias de agricultores em Santa Catarina. Como
exemplo podemos citar o caso da suinocultura. Segundo dados da Secretaria Estadual da
Agricultura, em 1985 haviam 60 mil suinocultores integrados. Em 1998, esse número caiu
para apenas 12 mil, sem que a produção diminuísse, mas sim ocorreu um aumento. A

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concentração da produção causou, de um lado, a poluição de rios, solos e nascentes de
água, por outro lado, os produtores excluídos ou dedicaram-se a outras atividades, ou
migraram para as cidades ou outras regiões do país. Isso não aconteceu só com os suínos no
sul do Brasil. A monocultura de soja, arroz milho também foi bastante forte.
Outro ponto que deve ser destacado é o da importância que teve o movimento
ecológico na contestação da concentração da produção e na monocultura com intensa
utilização de insumos químicos, mostrando o quão prejudicial era para o ambiente a
poluição gerada por esse tipo de cultura.
Com o discurso da modernização perdendo forças diante da falência do modelo
urbano-industrial – gerando poluição e desemprego, assistimos a pequena propriedade e a
diversificação da produção sendo revalorizadas.
A pequena propriedade camponesa, que no passado foi alvo de vários discursos
vaticinando seu desaparecimento, torna-se objeto de inúmeros estudos que têm por
finalidade provar sua viabilidade. Apesar das predições que o campesinato desapareceria
não terem se confirmado, não se pode deixar de concordar que sua manutenção não tem
sido tranqüila, uma vez que crises são constantes na agricultura familiar contemporânea, em
especial nos países pobres (ABRAMOVAY, 1993).
Nos últimos anos vem se fazendo importantes discussões acerca da pequena
produção agrícola. A definição de agricultor familiar é um tanto complexa. Existem vários
critérios para delimitar o que é familiar e o que é patronal, por exemplo, tipo de mão-de-
obra, participação no mercado, grau de capitalização, etc. Mas tem um ponto que é comum
em todas as definições, que é o trabalho familiar. Resolvemos optar pela seguinte que
expressa essa posição. “A exploração familiar, tal como a concebemos, corresponde a uma
unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à
família” (LAMARCHE, 1997:15).
A definição contida no Projeto de Cooperação INCRA/FAO de 2000 reforça o que
acabamos de dizer. Segundo ela, as unidades familiares são as que atendem às seguintes
condições: primeiro, a direção dos trabalhos do estabelecimento são exercidas pelo
produtor; segundo, o trabalho familiar é superior ao trabalho contratado. Acrescenta-se a
isso uma limitação quanto ao tamanho da área agrícola. Ou seja, a propriedade deve ter
uma área total máxima que varia de acordo com a região, segundo o módulo agrícola.

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Segundo o Censo Agropecuário de 1995/96, existem no Brasil 4.139.369
estabelecimentos familiares, que ocupam uma área de 107,8 milhões de hectares. Além
disso, os números apresentados no projeto de Cooperação INCRA/FAO demonstram que os
agricultores familiares são mais eficientes no uso do crédito rural que os agricultores
patronais, pois conseguem nível de produção superior a estes com menos recursos de
crédito. São 4.139.369 estabelecimentos familiares, ocupando uma área de 107,8 milhões
de há (hectares), sendo responsáveis por R$ 18,1 bilhões do Valor Bruto da Produção Total,
recebendo apenas R$ 937 milhões de financiamento rural. Os agricultores patronais
possuem 554.501 estabelecimentos que ocupam uma área de 240 milhões de há, onde
produzem R$ 29.139.850, recebendo mais de 2 bilhões e 735 milhões de reais em
financiamentos, cerca de 73% do total do crédito. Frente a esses números a agricultura
familiar, pela importância que tem, deve ser fortalecida e reestruturada através de um novo
modelo de desenvolvimento que agregue valores relativos à sustentabilidade, ao meio
ambiente e à qualidade de vida.
Uma maneira encontrada pelos agricultores para continuar no campo foi a
cooperação. Tendo claro que o sistema tradicional de cooperativas havia se transformado
em mais um instrumento de exploração e de subordinação ao mercado (ver, entre outros,
BRANDENBURG, 1999), os agricultores partiram para uma cooperação diferente,
alternativa. Organizaram-se em pequenos grupos para produzir, comercializar,
industrializar, e até mesmo para adquirirem sementes, insumos e máquinas mais baratos.
Alas Progressistas das Igrejas Católica e Luterana, fundamentadas nas teorias de
solidariedade, ligadas à Teologia da Libertação também influenciaram a organização e a
criação de grupos coletivos. Esse discurso não ficou somente na Igreja, mas penetrou
significativamente nos movimentos sociais, associações e ONGs que também surgiram a
partir da influência da Teologia da Libertação. Esses agentes – movimentos sociais, ONGs,
sindicatos de trabalhadores rurais, cooperativas de crédito – difundiram a idéia de grupos
coletivos entre os agricultores.
Outra iniciativa veio do Estado através das secretarias da agricultura e dos órgãos
ligados a estas, como foi o caso, em Santa Catarina, da antiga ACARESC – Associação de
Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina, hoje EPAGRI – Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Os grupos formados por iniciativa do

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Estado se organizaram no início em torno dos condomínios de suínos e na compra de
máquinas coletivas, enfatizando a viabilidade econômica. Mesmo os grupos influenciados
pelo discurso da Igreja que tinham mais precisa a idéia de ajuda mútua, de trabalho
coletivo, e até de transformação social, mantinham um caráter econômico bastante
acentuado.
Segundo Chayanov (Apud ABRAMOVAY, 1993), o cooperativismo era uma forma
de organização dos camponeses que não seria, necessariamente, capitalista e que poderia
contribuir para a construção do socialismo. Para ele, a organização dos camponeses em
cooperativas permitia-lhes o controle de sua produção, ao contrário do que acontecia com a
integração à agroindústria.
Em Santa Catarina, as experiências de cooperação estão muito difundidas. No
município de Santa Rosa de Lima uma associação, a AGRECO (Associação dos
Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral) agrega cerca de 211 famílias de
agricultores, agrupando em torno de 500 associados que produzem alimentos com base na
Agroecologia. Esta experiência começou em 1996 e tem se mostrado de grande viabilidade.
Já em Chapecó, uma experiência que também vem chamando a atenção é a das
feiras. Segundo dados de novembro de 2000, existiam, neste período, oito feiras semanais
que comercializavam alimentos agroecológicos produzidos por 247 famílias de agricultores
(esse número era de apenas 8 famílias em 1998). Quanto aos grupos de cooperação,
somente a APACO (Associação de Pequenos Agricultores do Oeste de Santa Catarina)
assessora cerca de 135 grupos na região oeste, envolvendo mais de 800 famílias. Essas
informações mostram que a cooperação vem ganhando espaço entre os agricultores da
região. A APACO assessora 32 pequenas agroindústrias em toda a região oeste. Estas já
possuem um selo especifico, o Sabor Colonial, e estão legalizadas, pelo menos a nível
estadual, já que nem todas tem CIF (Certificado de Inspeção Federal). Outras 15
agroindústrias estão em processo de adequação às normas legais exigidas.
O PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) tem
desempenhado um papel importante na formação de grupos coletivos e na implantação das
Agroindústrias Familiares, uma vez que tem uma linha de crédito especialmente para estes
fins.

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No bojo da constituição dos grupos e implantação das agroindústrias está a
participação das mulheres na produção. Em pesquisa preliminar na região de Chapecó e em
Santa Rosa de Lima constatei que, em vários grupos, são as mulheres que realizam grande
parte do trabalho dentro das agroindústrias.
Em pesquisa sobre as relações de gênero entre famílias agricultoras associadas à
mini-usinas de leite em Santa Catarina, De Grandi constatou que grande parte do trabalho
era realizado por mulheres e jovens (moças e rapazes), mesmo onde parte dele foi
mecanizado. A administração da atividade leiteira, que antes da implantação da mini-usinas
era das mulheres, passou a ser dos homens. Na maioria das famílias os associados eram os
homens e as reuniões aconteciam em horários que coincidiam com trabalho da ordenha
feito pelas mulheres, assim, sua participação nas decisões coletivas ficava ainda mais
prejudicada. Na opinião de muitos homens “(...) elas tinham menos consciência do que era
administrar um negócio porque não tinham experiência pública, por isso não saberiam
continuar com os projetos” (DE GRANDI, 2000: 42).
Em alguns folders das agroindústrias que trazem informações de cada uma, na
apresentação não consta o nome das mulheres. O que está escrito é “Senhor (...) e esposa”.
Outra curiosidade é que em seminário promovido pelo ICEPA (Instituto Catarinense de
Pesquisa Agropecuária) que se realizou em Florianópolis nos dias 22 e 23 de outubro deste
ano e que tinha o intuito de mostrar experiências da agricultura familiar na valorização de
produtos e agregação de renda, constava também na programação uma experiência de
associação que seria apresentada pelo “Senhor (...) e esposa”.
Tendo em vista o número de agroindústria assessoradas pela APACO e a existência
das feiras onde os próprios agricultores vendem sua produção aos consumidores, qual a
participação das mulheres no trabalho das agroindústrias? E como é a sua participação nas
decisões do grupo? E por último, que papel desempenha a mulher na comercialização da
produção, sejam nas feiras ou junto aos demais compradores?

Objetivos:
Geral:

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 Verificar como se dá a relação de trabalho dentro das Agroindústrias Familiares
e qual o papel das mulheres na produção e comercialização.

Específicos:
 Identificar papéis sociais de homens, mulheres, jovens e crianças.
 Verificar se a instalação da Agroindústria Familiar diminui o êxodo dos jovens.
 Verificar a influência dos movimentos sociais, ONGs.

Orientações teóricas

A modernização da agricultura passou a ser questionada/contestada em meados de


1970. O modelo de desenvolvimento baseado no crescimento econômico impôs aos
agricultores familiares uma dura realidade. A desvalorização dos preços dos produtos
agrícolas, a utilização de insumos e semente a preços muito altos oneravam os produtores, o
“incentivo” à compra de máquinas trouxe dívidas difíceis de serem saldadas. Muitos
agricultores perderam suas terras ou foram obrigados a vendê-las para pagar as dívidas com
os bancos.
Esse crescimento econômico que, pregado pelos seus idealizadores, iria provocar a
integração social e diminuir as desigualdades, teve efeito contrário. O que se assistiu foi o
aumento das disparidades sociais. De um lado, a acumulação de capitais para alguns, de
outro, a exclusão econômica, social e cultural de um grande número de agricultores.
A contestação a esse modelo passou a ser mais intensa a partir dos anos 80 por
parte de agentes e atores sociais que, embora carregados de conotações ideológicas e
partidárias, apontavam para alternativas capazes de buscar novas formas de fazer e viver a
agricultura (ALMEIDA, 1999:17). Essa discussão, porém, não foi muito forte nos meios
acadêmicos. Apenas nos últimos dez anos é que os estudos de meios alternativos para a
agricultura e as experiências elaboradas neste sentido vêm ganhando força nas pesquisas
acadêmicas.
Frente a esse quadro nefasto provocado pela modernização é que surgem, por parte
de grupos e atores sociais, tentativas de construção de uma nova realidade baseada na

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cidadania, nos direitos coletivos e na justiça social. Segundo Almeida, esses grupos e atores
sociais além de questionar os resultados da modernização e também a maneira como ela
vinha sendo encaminhada, procuram articular o que ele chama de uma possível nova
modernização, que para esses atores é concebida como modernização alternativa pois leva
em conta as noções de “coletivo” e de “comunidade”.
“O que busca a maior parte desses atores, através de suas
experiências e idéias, é ressaltar, mesmo que sem ainda grande convicção e
de maneira ambígua e desordenada em alguns casos, a autonomia e a
solidariedade, assim como a construção de uma identidade própria e o
reconhecimento de seus movimentos como sujeitos autênticos e legítimos da
vida social” (ALMEIDA, 1999: 34).
Segundo Almeida, podemos entender as ações coletivas através de três abordagens:
a etiológica, a simbólica e a das disputas. Segundo a abordagem etiológica clássica, as
ações coletivas surgem a partir de crises e estas determinarão a ação dos atores. As crises,
no caso da modernização, para este autor, incitam as ações coletivas. Já na abordagem
simbólica, as ações coletivas são atribuídas à leitura que os atores sociais fazem de
determinados períodos. Essas duas abordagens se complementam na medida em que
levarmos em conta que as ações sociais surgem a partir da leitura que os atores sociais
fazem em momentos de crise. A terceira abordagem diz respeito ao lugar, aos atores e aos
objetivos do conflito. Há entre as três abordagens uma forte interação que define ou permite
definir melhor as ações coletivas.
Almeida (1999) enumera três ações coletivas relacionadas ao conflito: as
“condutas”(ou reivindicações coletivas), as lutas e os movimentos sociais. Vou me ater
apenas a este último, que o autor aponta como organizações que são “definidas pela
constituição de um conflito que opõe um ou mais adversários e uma ou mais disputas,
assim como pela resistência em se dar a esse adversário o controle daquilo que se
disputa”. O autor ainda utiliza a definição de Melucci (1985), para o qual “um movimento
social é uma forma de ação que se funda na solidariedade, conduzindo um conflito e
ultrapassando os limites do sistema no qual se desenvolve a ação”.

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Os principais atores e grupos contestatórios surgido posterior a 1970 foram as
ONGs, setores progressistas da Igreja Católica e Luterana, Associações, novas formas de
organização sindical (o sindicalismo combativo) e movimentos sociais.
Em Santa Catarina podemos mapear quatro grandes movimentos: o MST
(Movimento dos Sem Terra), o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), o MMA
(Movimento de Mulheres Agricultoras) e o Movimento de Oposições Sindicais, os quais
tem forte cunho político e surgiram no início dos anos 80. Para alguns autores como
Brandenburg (1999), a agricultura de grupo pode ser considerada um movimento social.
Este autor diz que é por meio do movimento social institucionalizado pelas ONGs que os
agricultores criam condições de enfrentar o poder do Estado e do mercado de forma
coletiva (Idem. 149).
Quanto às ONGs e associações podemos citar o CEPAGRO (Centro de Estudos e
Promoção da Agricultura de Grupo) que agrega cerca de cinco outras entidades, grupos e
associações, entre elas a APACO (Associação de Pequenos Agricultores do oeste de Santa
Catarina). Esses atores, além de contestarem os meios praticados pela modernização,
propõem uma agricultura alternativa, orgânica, sustentável. Termos não faltam para
nomear esses novos meios de produzir e de se relacionar com o mercado. Essas diferentes
denominações ressaltam as diferentes formas de pensar e planejar essa nova organização da
agricultura.
As agroindústrias rurais de pequeno porte ou agroindústrias familiares 1 estão muito
difundidas em Santa Catarina. Segundo levantamento feito por Schmidt et alli (1999),
existem no estado mais de mil experiências deste tipo, que vão desde as muito pequenas,
absolutamente informais, até aquelas já consolidadas e inseridas no mercado formal de
produtos. Para Prezotto (2001: 5) essa industrialização é entendida como o “beneficiamento
dos produtos agropecuários (secagem, classificação e limpeza) e/ou a transformação de
matérias-primas gerando novos produtos de origem vegetal ou animal, como por exemplo,
leite em queijos e frutas em doces e bebidas”.
Entre as principais vantagens desse tipo de empreendimento está a utilização e
remuneração da mão-de-obra da família, o aumento da renda, a diversificação da produção,

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Há outras denominações, como pequena unidade industrial, agroindústria caseira, agroindústria de produtos
coloniais, agroindústria artesanal, entre outras. Porém, as mais utilizadas são estas duas.

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proximidade das matérias-primas e a manutenção de jovens e famílias inteiras no meio
rural sem que as atividades sejam somente agrícolas.
A divisão sexual do trabalho na pequena propriedade rural é nítida. Há neste
processo de divisão posições distintas para cada membro da família, homens, mulheres,
jovens, crianças e idosos. Geralmente quem determina essas funções é o homem, “chefe da
família”, muito embora essas funções sejam passadas de geração para geração, tornando-se
naturalizadas, é o habitus como coloca Bourdieu. Essa organização assume caráter
patriarcal (De Grandi: 1999). A naturalidade com que é construída a divisão social entre os
sexos a torna legitima. A diferença biológica entre homem e mulher aparece para justificar
as diferenças construídas entre os sexos (Bourdieu: 1995).
Também na propriedade, o trabalho do homem está ligado à produção e o da mulher
à reprodução. Os homens se dedicam ao trabalho na lavoura e às atividades que se destinam
ao comércio e o relacionamento com cooperativas, bancos, etc. O trabalho da mulher está
“mais próximo” da casa: as pequenas criações (vacas de leite, galinhas, porcos); a horta; o
cuidado e educação dos filhos. Além disso, trabalha também na lavoura. Neste espaço seu
trabalho é considerado “ajuda”.
Esses trabalhos são considerados “leves”. Paulilo (1987), estudando mulheres na
Paraíba, São Paulo e Santa Catarina, constatou que o trabalho da mulher é tido como leve
enquanto o do homem é considerado pesado. O que define se é leve ou pesado não é
propriamente a dificuldade do trabalho, mas sim a posição de quem o realiza na hierarquia
familiar.
Muito da produção das agroindústrias familiares é originário da produção doméstica
das mulheres: queijos, iogurtes, manteiga, geléias, compotas, doces, verduras, conservas,
que eram para o consumo da família. Quando esses produtos passaram a ser feito
comercialmente, a administração passou a ser dos homens em muitas propriedades. Até
mesmo o trabalho quando se mecanizou foi sendo substituído pelos homens, porque o
treinamento e o uso das informações sobre o funcionamento são dirigidos aos homens (De
Grandi: 1999, 58).

Metodologia

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A metodologia consiste primeiro num levantamento de dados sobre as
agroindústrias familiares de pequeno porte junto às organizações de assistência e assessoria
de grupos. Após esse levantamento quantitativo, selecionar três ou quatro agroindústrias.
Nesta escolha vou fazer a opção por produtos, ou seja, entre os produtos principais
escolherei um de cada ramo: um de agroindustrialização de suínos; um de
agroindustrialização de leite; um de cultivo e beneficiamento de hortaliças; e por fim um de
bebidas. Esta escolha por diferentes produtos se deve às demandas de trabalho geradas por
eles, que são diferentes, o que permitirá analisar diferentes tipos de relações. Além disso,
pretendo fazer entrevistas semi-estruturadas com lideranças e membros dos grupos. Se
possível, fazer observação participante nos grupos, acompanhando o trabalho desenvolvido
e o relacionamento entre os seus membros (homens, mulheres e jovens) e também o
relacionamento dos grupos com os agentes incentivadores (associações, STR - Sindicato de
Trabalhadores Rurais, secretaria de agricultura e outros).

Referências bibliográficas.

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Hucitec/UNICAMP. São Paulo/Campinas.
ALMEIDA, Jalcione. (1999). A construção social de uma nova agricultura. Editora da
UFRGS. Porto Alegre.
BRANDENBURG, Alfio. (1999) Agricultura Familiar: ONGs e desenvolvimento
sustentável. Editora da UFPR. Curitiba.
CARNEIRO, Maria José. (1997) Política Pública e Agricultura Familiar: uma leitura do
PRONAF. www.deser.org.br
DE GRANDI, Alessandra Bueno. (1999). Relações de gênero nas famílias agricultoras
associadas a mini-usinas de leite no estado de Santa Catarina. Dissertação de
mestrado em Sociologia Política/UFSC.
FAO/INCRA. (2000) Novo Retrato da Agricultura Familiar: O Brasil Redescoberto.
LAMARCHE, Hugues.(1993) Agricultura Familiar, comparação internacional. Editora da
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MATTEI, Lauro. (2001) Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
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Florianópolis. SC.

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Lages. SC.

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