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A desconstrução do gênio na Sociologia:

Como a sociologia veio questionar a genialidade como um


"Dom" na acepção romântica da palavra.

Denis Almeida dos Santos


Ciências Sociais
RE: 93875

RESUMO

Nesse trabalho de finalização do curso de sociologia da cultura e das distinções sociais, escolhi falar
sobre um assunto que me atraiu muito no curso: A desconstrução que a sociologia faz da "ideia de
gênio” que por muito tempo esteve e acredito que ainda está no imaginário popular quando nos
referimos a um artista magnífico, que deixou marcas históricas, que mudou de alguma forma a
história da arte. Mostraremos que no plano de fundo do surgimento do "gênio", existe um período
histórico, aonde esse artista viveu e que de alguma maneira ele fez parte. Discutiremos os
dominantes do campo das artes, seja na época de Mozart, abordado por Norbert Elias 1 , no “ancien
régime” época em que a aristocracia determinava o gosto a ser seguido, seja em outra época que
aborda o texto de Pierre Bourdieu “A Produção da Crença 2” em que aqui a Burguesia já havia
virado a mesa em seu favor, portanto é ela que dita o gosto dominante, embora diferente da época
da nobreza, no período burguês o produtor não está mais submetido a corte e ganha um status de
artista, diferente do status subjugado de artesão, que tinha anteriormente, agora arte é uma arte de
especialistas ou de produtores, que ao serem os verdadeiros autores da obra de arte, reestrutura todo
o campo.

1
ELIAS, Norbert. Mozart. Sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Zahar, 1995 [1991].
2
BOURDIEU, Pierre. “A produção da crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos”. In A produção da crença: contribuição para
uma economia dos bens simbólicos. Porto Alegre: Zouk, 2006 [1977], pp. 19-111.

1
Vamos abordar também o texto sobre o gosto dominante como gosto tradicional 3 falando do
desprezo, da desaprovação que as elites têm nos dias contemporâneos com os filmes que abordam
problemas sociais e compararemos com dominação que a nobreza tinha do gosto, mostrando que se
esta praticamente não possibilitaria ninguém trabalhar outro tema de arte que não fosse de seu
gosto, simplesmente porque ela era a única consumidora existente, aquela já mesmo discordando do
que é bom, não pode fazer nada contra, haja visto, que independente de ela gostar ou não do tema
abordado por esse tipo de cinema, os produtores desse cinema irão continuar produzindo-o. Enfim,
julguei esses assuntos pertinentes serem tratados, pois os considero os mais importantes, curiosos e
contemporâneos, desde o conceito de gênio gerado pelo senso comum, algo interessante de discutir,
passando pela análise do que é gosto e como um gosto impera sobre outro, através de uma análise
sociológica.

PALAVRAS-CHAVES: Mozart, Gênio, Campo, Arte, Gosto Dominante, Pretendentes.

Hoje em dia o “senso comum” ainda prega aos quatro cantos a existência de gênios, pessoas que a
3
PULICI, Carolina. “O gosto dominante como gosto tradicional: preferências e aversões estéticas das classes altas de São Paulo”. Novos Estudos
CEBRAP, n° 91, 2001, pp. 123-139.

2
revelia de onde nasceram e viveram, cada qual em sua área, são “gênios”, ou seja, verdadeiros
sopros divinos ou milagres da natureza, seriam praticamente semideuses, acima do homem comum,
seres distintos de todo o resto. Essa distinção se daria pela sua inteligência ser mais aprimorada que
as demais, e como já dito o senso comum não explica- como e onde essa inteligência diferenciada,
surgira, só é colocada que ela nasce com o escolhido, por isso a utilização de expressões religiosas,
Como “sopro divino” ou “milagres” ou românticas, como a própria palavra “gênio” confere. Um
texto, que utilizasse esses tipos de termos, estaria caracterizado como muitas coisas, menos como
um texto cientifico, a sociologia que é a ciência que Norbert Elias utilizou para analisar a biografia
de Mozart, no livro “Mozart: Sociologia de um gênio”, não trabalha com “senso comum”, ao
contrário a sociologia tem entre outras funções desconstruir idéias do “senso comum” que permeia
as sociedades pelo mundo, os sociólogos irão investigar pela lente cientifica os verdadeiros motivos
das coisas serem o que são, ao redor do mundo. A mitologia do gênio não irá ser diferente, portanto
para iniciar-se uma investigação, a sociologia vai através principalmente de documentos históricos
para isso, esses documentos podem ir desde jornais antigos, cartas, e dependendo da época até de
materiais audiovisuais. No caso que iremos trabalhar nesse artigo foram principalmente “As Cartas”
que decifraram o dia a dia do nosso herói, suas agruras, desencontros, decepções e embates com pai,
familiares e pessoas próximas, as cartas mostraram o que de verdade acabou com o sonho do nosso
herói Wolfgang Amadeus Mozart, mais conhecido como “Mozart”, as inúmeras cartas, trocadas
entre ele e seu pai, mostraram de forma clara a decepção e os descompassos gerados entre o
compositor e a sociedade da época liderada por uma classe em especial, “Os Nobres”, que
formavam um governo aristocrático, que de uma forma ou de outra, determinava como deveria se
fazer arte, ou seja, os “artistas” como conhecemos hoje não existiam, não se tinha uma arte a partir
da concepção atual de arte, ou pelo menos, não integralmente. Quem produzia a obra de arte não
tinha a liberdade artística dos dias de hoje, de poder criar o que bem entender, sem precisar
necessariamente traduzir ou convencioná-la para quaisquer pessoas que seja, eram meros artesões
ou empregados das cortes, instituições que mesmo como consumidoras, ditavam as regras do que e
como fazer em grande parte das vezes e se por acaso fosse surpreendida com algo novo, poderia
desagradar-se de tal forma a alijar o produtor/artesão para sempre do campo artístico que estava
inserido. O produtor, ao cair em desgraça com a corte, sofria uma queda social gradativa com
descrédito e desprestigio vindo à sequência, pois o corpo da sociedade seguia a cabeça da mesma, e
quem representava a cabeça, era a corte, pois como já falamos não tinha outra forma de cultura a
seguir a não ser a que ela seguia e ditava.
“Na fase da arte artesanal o padrão do gosto do patrono prevalecia como base para a criação

3
artística, sobre a fantasia pessoal de cada artista. A imaginação individual era canalizada,
estritamente, de acordo com o gosto da classe dos patronos”4
Embora isso tenha mudado no nosso atual período histórico, já não temos uma classe que estrutura
o campo da arte como tínhamos antes da revolução francesa, mas na nossa sociedade capitalista
temos uma classe que a moda dos nobres, também julga e de certa maneira tenta impor seu modo de
ver a arte, consequentemente seu modo de ver o mundo. “Eu achei bizarra essa Bienal, não tem um
quadro nessa Bienal, um quadro sequer [...] uma proprietária de importante coleção de arte
moderna julga que a produção contemporânea apresentada, por exemplo, nas Bienais, não
passaria de um blefe” [...] Proprietário de duas obras de Iberê Camargo, um pianista, maestro e
compositor avalia que, apesar de frequentar as Bienais, “eu acabo curtindo 10% do que está” [...]
À pergunta sobre o gosto por pintura, um empresário [...] responde, de pronto “Os clássicos,
especialmente os clássicos [...] Eu demorei para aceitar Picasso, demorei para aceitar Picasso!”5
Portanto, fica claro que, se dependesse dessa gente rica, muitas das artes que não são consideradas
tradicionais, tanto como a arte produzida por Mozart antes da revolução, quanto à arte que é
reproduzida em nossos dias por inúmeros artistas desconhecidos, chamados “artistas de vanguarda“,
como especificaremos mais adiante, não teria oportunidades no campo artístico. O gosto da elite se
revela tradicional, formal, sem muitas inovações, portanto conservador, muito próximo do gosto da
corte na época de nosso herói, ou como preferir, a visão de mundo das elites de séculos atrás parece
se assemelhar com as de hoje. No final do livro de Elias Norbert sobre Mozart que já citamos no
primeiro parágrafo essa insatisfação pelo novo fica ainda mais clara: “Ao dar asas á fantasia
individual e especialmente a sua capacidade de sintetizar elementos anteriormente dispersos, de
modo a romper com os padrões de gosto existentes, ele prontamente reduz suas chances de
encontrar acolhida por parte do público. [...] numa sociedade cujo establishment encara o bom
gosto nas artes, assim como em roupas, mobílias ou residências, como prerrogativa natural de seu
próprio grupo social [...] pode ser muito perigoso a tendência do “artista autônomo” a inovar
além do padrão existente. O Imperador José II, que de algum modo se envolvera no projeto de o
rapto do serralho [...] ficou nitidamente insatisfeito com o trabalho final. Declarou ao compositor
após a premieré em Viena: “Notas demais, meu caro Mozart, notas demais. ”[...]uma das cantoras
também se queixou de que sua voz não podia ser ouvida acima da orquestra[..]Mozart[..] inquietou
a sociedade de corte, que, numa ópera, estava acostumada a ter empatia com as vozes humanas e

4
ELIAS, Norbert. Mozart. Sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Zahar, 1995 [1991], p.47
5
PULICI, Carolina. “O gosto dominante como gosto tradicional: preferências e aversões estéticas das classes altas de São Paulo”. Novos Estudos
CEBRAP, n° 91, 2001, p.137

4
não com as vozes simultâneas da orquestra.”6
Mozart desafiou o establishment de sua época ao colocar sua criatividade, sua inteligência musical
acima do comum, sua orgulho e principalmente sua ousadia acima da hierarquia estabelecida pela
nobreza, ele sabia que era muito bom no que fazia, os outros, de certa maneira, também sabia da sua
capacidade, porém a técnica apurada e magnífica que ele detinha não era suficiente para realizar os
seus maiores sonhos e os de seu pai Leopold Mozart, se tornar o músico oficial da corte e ter seu
trabalho e sua magnitude reconhecida por todos, principalmente por esse grupo distinto, só que
para galgar essa vaga, teria que ser não só um músico maravilhoso, também teria que ter uma alma
cortesã, ou seja, mesmo não tendo nascido naquele meio, se encaixar á ele, mas isso era algo difícil,
para o nosso compositor, pois desenvolvera uma personalidade complexa e difícil, principalmente
em se tratando de um “artista” vivendo no século XVIII, mas talvez entendamos mais como esse
músico vindo de Salzburgo chegou a virar o “grande” Mozart que desafiou sua sociedade da época
conhecendo um pouco dele.
Mozart foi um compositor austríaco que já encantará desde os poucos anos de idade, compondo e
tocando magnificamente bem para uma criança, primeiro em Salzburgo onde nasceu depois em
Viena e por a toda a Europa.
Enfim era um bom exemplo que nosso “senso comum” poderia chamar de gênio, porém quando um
dos mais importantes pensadores sociais de nosso tempo veio a desvendar o mito por trás desse
homem que viveu no século XVIII, através, principalmente, de cartas que trocava com o seu pai,
grande entusiasta do filho, pessoa que sempre batalhou para fazer de Mozart o melhor musico que o
mundo vera, muito suor e o amor paterno fora aplicado, seu pai Leopold não deu folga ao filho,
exigindo-lhe dedicação á musica e expondo Mozart desde criança a seguir em tournées pela Europa
como “macaquinho de circo”, tamanha era a espetacularização de ter um menino de tanta pouca
idade, mas que criava e tocava musica como poucos adultos, conseguindo assim apresentar o filho
aos códigos do campo da música tão logo quanto o menino se acostumava com as letras do alfabeto,
e quando falamos em “códigos do campo musical” falamos não só de partituras, falamos também da
expressão corporal, linguagem, metas a perseguir nesse campo e uma coisa que talvez explique
tantas outras:
Desde cedo Leopold Mozart convenceu o filho que a música era tão importante quanto o ar que ele
respirava, de que ele era o “melhor”, não que ele não era, mas, não culpando seu Pai, colocou
primeiro na cabeça dele sua genialidade, e depois sua posição social. Leopold sempre conflitou o
filho acerca de sua postura perante hierarquia, desde quando este ainda estava em Salzburgo,

6
ELIAS, Norbert. Mozart. Sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Zahar, 1995 [1991], PP.128-129

5
frequentemente desafiava a autoridade eclesiástica da região que o chefiava, em Viena não foi
diferente. Tudo isso já mostra que desde cedo Mozart já desponta com um outsider, uma das
palavras que vai definir sua curta vida, mas voltamos a história de sua vida.
Mozart nasceu em uma casa em que todos, de certa maneira, já respiravam música, com destaque
para o seu Pai que sustentava a família como músico da capela de Salzburgo e sua irmã que
participava das tournées junto á eles. Mozart já tinha acesso aos códigos musicais em casa, mas os
aprimorou de forma estupenda ao viajar de corte em corte exibindo pela Europa, seu ímpeto de
compor e tocar o aprimorava cada vez mais, e possivelmente essa é a primeira pista de como atingiu
uma genialidade “explicável”, Norbert Elias deixa isso claro “Fica claro que a peculiaridade de
sua infância e seus anos de aprendizado estão indissoluvelmente ligados às peculiaridades da
pessoa de Mozart a que se aplica o conceito de gênio. ”7
Ninguém está falando que ele não nasceu para compor e tocar música, trabalhando com ela como
fosse sua segunda língua, mas estamos enfatizando que ele provavelmente não seria tão magnífico
como fora, se para começar, em sua infância o mesmo não tivesse sido um projeto apaixonado de
seu pai, que dedicado sua vida para tornar o filho “o melhor” e com mais sorte que o pai tivera em
seu destino Leopold Mozart tomou posse do filho e, como Pai do prodígio, viveu a vida que lhe
tinha sido negada até então.”8, ou seja, Leopold tentou fazer do filho o sucesso que não conseguiu
ser, e conseguir para nosso herói um emprego que não conseguiu ter. Com tanta pressão, com tanto
preparo, aliado a uma espetacular facilidade de viver a música, Amadeus Mozart, estava a uma
geração á frente dos outros músicos, distância essa que manteve até o fim, não tinha como ser
diferente, ele manuseava a música como uma destreza invejável, e quando falamos “geração”,
queremos dizer que Mozart estava a frente de seu tempo, nasceu quando o mundo da arte não estava
preparado para o seu talento e para os seus valores burgueses, como a sua independência, um desejo
atroz de ser autônomo em seu campo, traz as características não de um simples artista artesão,
como seu pai ganhava a vida, e sim característica de ser um artista como conhecemos hoje em dia,
que dita o ritmo da relação “produtor – consumidor”.
Mozart de certa forma inaugurou uma outra fase da estrutura “produtor-consumidor”, claro que este
“ponta pé inicial” não se deu formalmente, ou seja, a mudança não foi apartir dele, até porque como
já foi colocado nesse artigo, Mozart sofreu em quase toda sua curta vida, a mal pesada da
aristocracia que ditava qual obra de arte seria ou não acolhida por ela, e a sua só fora acolhida após

7
Ibid, p.70

8
Ibid, p.72

6
sua morte, já em outro sistema. Mas falar que ele tentou e por um momento com sucesso impor sua
música de forma autônoma, não esta errado.
Apesar de ter vivido próximo a eclosão da revolução burguesa, esta não havia estourado ainda e
consequentemente não tinha influenciado as artes com seu olhar burguês, portanto Mozart tentou
ser e até onde pôde foi um artista nos moldes que conhecemos hoje, e não apenas um artesão a
serviço de sua corte, como era mais comumente encontrado na época que viveu. Sua luta era por
produzir uma arte mais autentica, mais autônoma do que existia até então, o que o levava a ficar em
colisão com o sistema de arte de artesão vigente, ambos estavam em rotações diferentes, emanava
criatividade e inovação, se nosso herói tivesse nascido um pouco mais tarde, poderia ter tido mais
reconhecimento em vida assim como Beethoven teve em outra fase artística posterior a de Mozart.
“Na outra fase, os artistas são, em geral, socialmente iguais ao público que admira e compra sua
arte. No caso de seus quadros […] os artistas enquanto formadores de opinião e a vanguarda
artística, são mais poderosos que seu público. Com seus modelos inovadores podem guiar para
novas direções o padrão estabelecido de arte, e então o público em geral pode ir lentamente
aprendendo a ver e ouvir com os olhos e ouvidos dos artistas. ” 9
A fase descrita acima, igualava e até muitas invertia a relação do produtor com o consumidor, dando
ao primeiro mais autonômia sobre seu trabalho, algo buscado por Mozart sua vida inteira, portanto
isso prova que as épocas históricas, pelo menos as ocidentais, caminha em passos diferentes a de
seus personagens, o “ancién regim” não girava na mesma rotação de Mozart, talvez dai tiramos uma
segunda explicação da sua suposta “genialidade”, ou seja, foi um artista a frente de seu tempo, por
isso também foi diferente, não foi um semideus como já descartamos acima, mas foi alguém que
além de ter sido uma inteligente acima da média, ter tido um pai dedicado ao extremo, foi também
alguém que teria nascido em geração errada.
Claro todo herói tem seu ponto fraco, e o nosso compositor não é exceção, inclusive, já falamos
dele aqui: É a falta de jeito de lhe dar com a realeza e com os nobres que na época eram seus únicos
clientes, até porque o produto principal, a obra da arte que Mozart mais gostava de produzir era
ópera, uma produção cara, que exigia patrocinadores de peso, que na época, só poderia ser custeado,
patrocinado por uma parte da sociedade: os Reis e a Nobreza, até porque a arte nesse período não é
a mesma arte que temos hoje, basicamente sua função social é diferente, se hoje sua função beira a
necessidade do homem se expressar, no antigo regime, época que Mozart viveu, a arte existente, era
uma arte utilitária, grandes dois exemplos disso é a pintura e a música, a primeira era utilizada
muitas vezes para decorar e ornamentar igrejas, especificamente catedrais e basílicas, pelo mundo,

9
Ibid, p.47

7
grandes artistas se prestavam ao oficio de pintar grandes salões eclesiásticos por encomenda de
sacerdotes, ou seja, agiam como um simples artesão que produz uma roupa para o Rei, ou um
músico que produz uma música para o baile dos nobres, ou seja, a arte vista como algo puramente
utilitário, que não é produzida como fim e sim como meio para outra função, para outra coisa
considerada mais importante, sendo então a arte no “ancién regim” reduzida a um valor de um traje
de gala, em que o indivíduo que encomendou vai utilizá-la como meio de estar elegante e não curti-
la como produto fim.
Essa visão de arte, colocado no parágrafo anterior, com o tempo se solidifica como uma “arte
tradicional”, que ira se opor a qualquer ideia de arte como objeto fim, criando um grande conflito,
entre instituições e indivíduo, algo que definitivamente ocorreu a Mozart e a Aristocracia, mas que
pode muito bem ter ocorrido a outros “gênios” que talvez por terem nascido antes do tempo, podem
não só ter sido enterrado como indigente, como Wolfgang foi, como vivido como um. Com isso
reafirmamos que o período aristocrático não fornecia outra alternativa para os artistas artesões que
não fosse produzir uma arte utilitária. A estrutura da arte, assim como uma consequente estrutura de
mundo produzida na época do nosso compositor aos poucos vem abaixo, entre outras hipóteses que
pode haver, podemos destacar as revoluções políticas e sociais pelo mundo (Revoluções
Burguesas), que surgidas através de uma mudança na forma de pensar a sociedade ajudaram a
derrubar o antigo regime.
O parágrafo anterior introduz no horizonte uma mudança de política e pensamento social, que
condizia com o pensamento de Mozart de ganhar a vida com a sua música, somente com ela, sem
precisar de favores ou bênçãos de uma elite, tendo plena liberdade de executar sua arte.
“[...]dois estágios muito distantes na mudança estrutural sofrida pela relação entre produtores e
consumidores de arte. Num caso em que o artista artesão trabalha para um cliente conhecido, o
produto normalmente é criado por um propósito especifico, socialmente determinado. Não importa
que seja uma festividade pública ou um ritual privado – a criação de um produto artístico exige
que a fantasia pessoa do produtor se subordine a um padrão social de produção artística,
consagrado pela tradição e garantido pelo poder de quem consome arte. Em tal caso, portanto, a
forma da obra de arte é modelada menos por sua função para o produtor e mais por sua função
para o cliente que a utiliza, de acordo com a estrutura de relação de poder”10
Essa nova estrutura artística vai abrir espaços para os especialistas, que poderão explicar as obras de
arte, podendo ser o próprio artista ou não, este último terá a liberdade que muitos que veio antes
morreram sem a ter, incluindo nosso compositor.

10
Ibid, p.49

8
Esse mundo vivido por Wolfgang Amadeus Mozart e descrito por Norbert Elias na bibliografia já
citada tinha sua arte decidida por um combinado de nobreza e clero, principalmente depois da
revolução burguesa, e sua consequente mudança de visão do mundo, temos uma polarização do
campo artístico, não mais uma elite que decide o que é arte, mas uma elite, agora burguesa, que vai
de certa forma herdar o gosto tradicional dos nobres, classe que estavam no poder no regime que
fora substituído e também é sabida a predileção burguesa de tentar imitar os nobres por carência de
uma identidade, não esqueceremos que a burguesia compraram títulos, forjaram casamentos entre
eles e a nobreza, enfim adotaram muitas coisas que a classe dominante do antigo regime
praticavam, inclusive a de adotar a arte tradicional, porém com uma grande diferença: A arte já não
era a mesma, os artistas, mesmo os de vanguarda já não tinham seu público restrito como antes,
embora, a maior parte do dinheiro estivesse em mãos burguesas(Capital Econômico),
consequentemente a isso, tendiam estes a ter mais influência no campo artístico, porém a arte sendo
diferente, a elite, agora burguesa, é restrita a opinar sobre ela, mas como consumidor de arte, não
como dona da mesma.
Pierre Bourdieu irá estudar a dinâmica dessa estrutura: a arte dos “produtores”, que terá o campo
dividido em dominantes e pretendentes, sobre o primeiro veja o que o autor falou: “Do lado dos
dominantes, todas as estratégias, essencialmente defensivas, visam conservar a posição ocupada,
portanto, perpetuar o status quo, ao manter e fazer durar os princípios que servem de fundamento à
dominação”11

Portanto ao compararmos as elites de diferentes épocas, vimos que o grupo dominante vai tentar
sempre proteger o lugar privilegiado que ocupa, tentando legitimar seu discurso, ao mesmo tempo
que deslegitima o do outro, seja esse outro um indivíduo isolado, como Mozart esteve com sua
música na sociedade cortesã do Século XVIII, seja os produtores de um cinema que tem como
tema: raízes problemáticas da nossa sociedade, tendo então sua arte marginalizada, estigmatizada e
até ridicularizada por uma elite que mesmo sabendo de suas responsabilidades à respeito do social,
prefere não discuti-lo, o primeiro caso vimos com a análise de Norbert Elias sobre Mozart e o
último caso é sobre o texto de Carolina Pulici a respeito das entrevistas com a elite paulistana.
Pierre Bourdieu fala sobre esse assunto o seguinte: “Os dominantes têm compromisso com o
11
BOURDIEU, Pierre. “A produção da crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos”. In A produção da crença: contribuição para
uma economia dos bens simbólicos. Porto Alegre: Zouk, 2006 [1977], p.32

9
silêncio, discrição, segredo, reserva; quanto ao discurso ortodoxo sempre extorquido pelos
questionamentos dos novos pretendentes[...]Os problemas sociais são relações sociais: eles se
definem no enfrentamento entre dois grupos, dois sistemas de interesses e de teses antagonistas. ”12
Esses dois grupos que se contrapõe e se enfrentam “Dominantes e Pretendentes” se localizam cada
qual de um lado, e esses lados estão relacionados com a vida que eles levam, com a biografia que
desenvolveram ao longo de suas escolhas e história. Se no texto da Carolina Pulici, no campo
econômico as elites de são Paulo são dominantes, por homologia elas muitas vezes podem se
relacionar com os dominantes de outro campo, como o cultural, essa homologia é criada graças a
eficiente transformação de capital econômico em cultural e até simbólico, e como eles fazem isso?
Utilizando a força econômica para adquirir obras de artes, conhecimentos (com viagens e cursos,
etc...), oferecendo jantares e patrocínio, onde estará diretamente em contato com artistas.
Mozart que morreu pobre, sem ter tido o retorno econômico do seu imenso trabalho, hoje é
dominante no campo artístico, e provavelmente se a ciência de hoje conseguisse trazê-lo de volta,
nem que fosse um clone dele, com certeza, se relacionaria melhor com o capital econômico.

12
Ibid, p.32

10

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