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FACULDADES BATISTA DO PARANÁ

PROGRAMA DE BACHARELADO EM TEOLOGIA

CONVERSÃO, REGENERAÇÃO
E SUAS EVIDÊNCIAS NA VIDA DO HOMEM
POR
LUIZ HENRIQUE NEVES

Curitiba
2016
“Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em
mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e
se entregou por mim”
Gálatas 2:20
DEDICATÓRIA

Dedico esta obra a minha família, amigos e educadores que me inspiraram e me


incentivaram viver essa maravilhosa jornada.
AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, a Deus, por Seu amor e Sua Graça, que me deu a possibilidade
de me formar em teologia.
A minha família e amigos que sempre confiaram e me deram forças para
concluir e vencer cada batalha.
A Igreja Batista do Hauer onde sirvo, que possibilitou meu desenvolvimento
durante os anos de estudos, bem como os auxílios ofertados durante meus estudos.
Ao meu professor e orientador Eduardo Getão, pela atenção, paciência e
dedicação durante as aulas ministradas em sala de aulas, bem como na manutenção
e desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso.
A Faculdades Batista do Paraná, como família, que me confiou grande
crescimento espiritual e intelectual, além de proporcionar-me a maturidade
necessária para servir melhor as comunidades e a Deus.
RESUMO

Conversão e regeneração são termos muito usados entre os cristãos


protestantes. Embora seja um processo simultâneo, existem diferenças entre os dois
aspectos, porém poucos conhecem e entendem suas principais diferenças. Além do
mais, muitos não dão a real atenção em suas necessárias evidências e tão pouco
imaginam que pode haver indivíduos arrependidos, sem realmente serem salvos,
mediante a realidade bíblica. Conhecer essas verdades é fundamental para o
cristão. Com isso, este estudo parte da análise das pesquisas tecidas por teólogos e
escritores, conjuntamente com a Bíblia Sagrada sobre o assunto evidenciado. O
objetivo da pesquisa tem por finalidade alcançar o entendimento e o conhecimento
mais aprofundado dos termos bem como sua aplicação e evidencia. Parte-se da
seguinte problemática: será que o entendimento de conversão e regeneração, bem
como a sua evidência na vida do homem tem sido claro ao ponto de pastores e
lideres descansarem nessa certeza ao batizar, transferir cargos eclesiásticos e
deixar de acompanhar o indivíduo que acabara de tomar decisão em resposta ao um
evangelho “suavizado” propagado por muitos líderes dos dias atuais? Para tal
intento, fez-se uso da pesquisa bibliográfica, como princípio metodológico da
investigação efetiva. A partir deste trabalho de conclusão de curso pode-se dizer que
há necessidade de se rever os métodos e o conteúdo propagados nos púlpitos
cristãos, bem como ter um entendimento mais afinco sobre o significado teológico de
conversão e regeneração, além da importância da transformação evidenciada por
esses aspectos salvíficos.

Palavras-chave: Conversão; Regeneração; Evidências; Arrependimento; Salvação.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. O ARREPENDIMENTO DO HOMEM NA PERSPECTIVA TEOLÓGICA


1.1 A CONVERSÃO
1.2 A REGENERAÇÃO

2. A CONVERSÃO E A REGENERAÇÃO NA PERSPECTIVA BÍBLICA


2.1 CONVERSÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
2.2 REGENERAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
2.3 A CONVERSÃO NO NOVO TESTAMENTO
2.3.1 CONVERSÃO NAS CARTAS PAULINAS
2.4 REGENERAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO
2.4.1 RENEGERAÇÃO NAS CARTAS PAULINAS

3. A CONVERSÃO, REGENERAÇÃO E A EVIDÊNCIA DA RESTAURAÇÃO


3.1 A MENSAGEM DA CONVERSÃO
3.2 CONVERSÃO E REGENERAÇÃO QUE PROVOCA MUDANÇA
3.3 A EXPERIÊNCIA DA CONVERSÃO E A BUSCA PELA SANTIFICAÇÃO
3.4 O ARREPENDIMENTO COMO CONVERSÃO E REGENERAÇÃO EM SPURGEON

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO

Embora haja diferenças significativas entre a conversão e a regeneração


ambas fazem parte de um processo gracioso de Deus. Entender esses termos, bem
como analisa-los em seu sentido teológico-bíblico é essencial para o cristianismo,
haja visto que sua experiência se fez e faz presente em qualquer verdadeiro cristão.
Por esse motivo, a reflexão, juntamente com o estudo, se faz necessário para uma
melhor argumentação quanto ao seu significado e a posteriori aplicar seu estudo a
tratar de diversas situações divergentes, muitas vezes enfrentadas nas igrejas, tais
como a falta de compromisso no corpo de cristo, batismos sem a devida atenção e
devoção, admissão de líderes sem comprometimento com Cristo, entre outros
aspectos, manchados pela falta, muitas vezes, de conhecimento e analise dos
temas.
Embora regeneração e conversão sejam temas usuais entre conversas,
pregações e experiências de qualquer cristão protestante, as perguntas que
resultam nesse estudo são: Será que a compreensão do significado de regeneração
e conversão pelo crente tem sido sólida e bem entendida, ao ponto de líderes e
pastores descansarem nessa certeza ao batizar, transferir cargos eclesiásticos, ou
até mesmo deixar de acompanhar àqueles que há pouco entraram para o corpo de
Cristo? Será que o evangelho moderno, de “aceitar a Jesus”, tem sido simplesmente
o resultado rarefeito da má vontade ou disposição para se pregar a necessidade do
arrependimento? Será que apenas a superficialidade dos apelos de hoje, tais como:
“apenas creia”, ou, “tudo que você tem a fazer é pedir que Jesus entre no seu
coração”, nos minutos finais dos cultos e pregações são suficientes para o indivíduo,
morto espiritualmente, compreender a verdade do evangelho de tal forma que ele
receba a disposição verdadeira para abnegar de sua vida e então viver a vida de
Cristo?
O evangelho, antes de tudo, deve ser pregado, o testemunho da ação de
Cristo nas vidas dos transformados precisam ser declarados, a verdade da graça
salvadora precisa ser ouvida por toda criatura nesta terra. Nos púlpitos cristãos
deve-se ser anunciado, destemidamente, o plano soberano de Deus. Como SELPH
(1990) destaca que os púlpitos “suavizaram” as exigências do evangelho,
engavetando a verdade do arrependimento, e esse silêncio acerca do
arrependimento tem feito com que o evangelho tenha sido barateado; os róis de
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membros das igrejas cristãs andam repletos de pessoas que não são mais
encontradas, e outros que não demonstram nenhuma obediência evangélica a
Cristo. Pouca porcentagem, diante da quantidade de membros, tem servido
ativamente a Cristo, “e apesar disso muitas igrejas se vangloriam de suas grandes
membresia [...] as igrejas firam tão cheias de falsos crentes despreocupados, carnais
e desobedientes”. (SELPH, 1990, p.108).
Um bom entendimento e compreensão do verdadeiro arrependimento, bem
como a conversão e regeneração operada por Deus no homem, ajudará na firmeza
da fé e esperança daqueles que por essa graça foi tocada, daqueles que
pronunciam essa fé, e daqueles que ainda tem dúvida quanto a sua conversão e
regeneração e no que ela deveria resultar. Com isso, o objetivo deste estudo é
apresentar principais comentários teológicos sobre conversão e regeneração, logo
apresentar as experiências e ensinamentos bíblicos sobre os temas e sintetizar o
estudo para melhor compreensão dos respectivos assuntos e reflexão desses temas
aplicados na vida do cristão que faz parte da igreja terrenal. O estudo entende que
não se poderá alcançar a subjetividade de cada indivíduo e nem o seu processo
integral de vida, por esse motivo não se pode declarar de forma veemente aquilo
que não pode ser comprovado. Por essa razão, serão analisados apenas os
aspectos teológicos e bíblicos de tais temas.
Os objetivos específicos desse estudo são: discorrer, por meio da
perspectiva teológica, sobre o arrependimento do homem; explicitar o que a verdade
revelada e a teologia apresentam sobre a conversão e regeneração, e por fim
abordar a evidencia desses aspectos na vida do crente e a possível consequência
dos conflitos causados pela falta, talvez, de uma conversão genuína.
O primeiro capitulo, aborda de forma geral os pensamentos dos principais
teólogos cristãos quanto ao arrependimento do homem e ação de Deus nele. Essas
informações dão características necessárias para melhor entendimento e ligação ao
segundo capítulo onde serão destacados os textos bíblicos e sumariamente suas
explicações dando sentido aos temas abordados, culminando assim no terceiro
capítulo, apresentando os aspectos práticos da conversão e regeneração na vida do
crente e sua evidência diante da reação a esses acontecimentos.
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1. O ARREPENDIMENTO DO HOMEM NA PERSPECTIVA TEOLÓGICA

A maioria dos teólogos usam de explicações sistemáticas e trazem


informações de conversão à luz de exemplos e informações bíblicas apresentadas.
A aplicação estudada da conversão e regeneração, nesse estudo, aborda a
experiência religiosa não comprovada, embora ela esteja constituída de suas
aparentes transformações.
Como parte das explicações temáticas, cabe destacar que o estudo não tem
como objetivo apresentar a ordem cronológica dos acontecimentos, embora seja
bem entendido pela maioria dos teólogos como fatos instantâneos na cronologia, ou
seja, a conversão e regeneração num só ato embora tenham suas diferenças na
aplicação e de certa forma, há uma ordem lógica aplicada, porém, não estudada
aqui.
As duas palavras, “regeneração” e “conversão”, são empregadas
sinonimamente por alguns teólogos. Todavia, na teologia dos dias atuais elas
geralmente se referem a matérias diferentes, se bem que estreitamente inter-
relacionadas. O princípio da nova vida implantado na regeneração vem a expressar-
se na vida consciente do pecador, quando este se converte. A mudança efetuada na
vida subconsciente, quando da regeneração, passa para a vida consciente, na
conversão. Na regeneração o pecador é inteiramente passivo, mas na conversão ele
pode ser passivo e ativo como será explicado na sequência.

1.1 A CONVERSÃO

A experiência religiosa da conversão é um fenômeno bastante complexo. Ela


tem sua dimensão variável e pode ser analisada através da psicologia, sociologia,
filosofia, teologia, entre outras. A conversão sempre teve uma grande relevância
para religião cristã. O marco da vida do cristão é o momento em que ela ocorre.
Frequentemente um convertido é questionado sobre o momento da sua conversão,
o local dela ou como ela se deu. Dentro do protestantismo esse termo é muito
comum e usual.
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Conversão é a mudança voluntária na mente do pecador, na qual, por um


lado, ele dá as costas para o pecado, por outro, se volta para Cristo. Aquele
elemento negativo na conversão, a saber, voltar as costas para o pecado,
denomina-se arrependimento. Este elemento positivo na conversão, isto é, o
encaminhamento para Cristo é chamado de fé. (STRONG, 2003, p. 548)

A fé, neste caso, é a mudança voluntária na mente do pecador pela qual ele
se volta para Cristo. Essa fé, no sentido mais amplo do termo, é a confiança, o
assentimento à verdade, ou a persuasão da mente de que algo é certo. Essa fé gera
a mudança e por ser uma mudança na mente implica o mesmo no ponto de vista, no
sentimento e no propósito.
Na teologia formal, segundo CULVER (2012), a conversão, em geral,
designa-se simplesmente ao voltar-se de um pecador do pecado, da morte e do
diabo para a santidade, vida e comunhão com Deus. A conversão é o lado humano
ou aspecto da mudança fundamental. É simplesmente a volta do homem. As
Escrituras reconhecem a atividade voluntária da alma humana nesta mudança tão
distintamente como reconhecem a atuação causativa de Deus.
Há, então, dois lados nesta conversão, um ativo e o outro passivo; o primeiro
sendo o ato de Deus pelo qual Ele muda o curso consciente da vida do homem, e o
último, o resultado desta ação como se vê na mudança que o homem faz no curso
da sua vida e em seu voltar-se para Deus. Consequentemente, pode-se dar uma
dupla definição de conversão, BERKHOF (1990) sintetiza isso da seguinte forma:

(a) A conversão ativa é o ato de Deus pelo qual Ele faz com que o pecador
regenerado, em sua vida consciente, se volte para Ele com arrependimento
e fé. (b) A conversão passiva é o resultante ato consciente do pecador pelo
qual ele, pela graça de Deus, volta-se para Deus com arrependimento e fé.
(BERKHOF, 1990, p.478)

Portanto, sem a obra de Deus, no coração e na mente, não há nenhum


reconhecimento apropriado sobre o pecado nas pessoas.
Há elementos intelectuais, emocionais e volitivo nessa mudança, em suma,
o intelectual como onde há uma mudança de conceito, um reconhecimento de que o
pecado envolve culpa pessoal, contaminação e desamparo; o emocional como uma
mudança de sentimento que se manifesta em tristeza pelo pecado contra um Deus
santo e justo; e o elemento volitivo, que consiste numa mudança de propósito, num
abandono interior do pecado e numa disposição para a busca do perdão e da
purificação.
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NORMAN GEISLER (2010) afirma que o arrependimento implica não


somente uma mudança genuína da mente acerca da condição de pecadores e da
necessidade de Jesus como o Salvador, mas também a boa-vontade de ver a uma
vida modificada por Cristo, a fim de que se produza frutos para Ele.
A palavra, então, para essa mudança ou volta, é da tradução grega
(Septuaginta) e aparecem como “voltar ou mudar de direção” no Novo Testamento.
“Algumas vezes ela significa ‘ser convertido’”. (CULVER, 2012 p.926).
Já no latim, a palavra Convertere é formada por dois termos básicos: Con,
que significa “totalmente” e Vetere, que significa “virar”. Portanto a ideia principal é
fazer uma mudança radical, isto é, girar completamente. A terminologia usada tenta
expressar a experiência da conversão, todavia, não a consegue plenamente, tendo
em vista a complexidade desta experiência.
A experiência faz parte do intelecto do indivíduo, é diante da visão de sua
condição perante ao divino que o impulsiona a decidir por uma mudança de vida
que, de certa forma, possa-o proporcionar uma maior proximidade e relacionamento
com Deus. Ela proporciona entendimento e compreensão das Escrituras que o leva
a fazer parte dela. Para STOTT (2013), a mente, o intelecto humano, é importante
no processo de conversão, no entendimento da Bíblia e na pregação persuasiva do
evangelho. Além disso, é na conversão que o indivíduo percebe a graça de Deus
sendo manifestada em sua vida e essa percepção gera uma certa liberdade e paz
por compreender que seus pecados estão, então, perdoados. “Pode-se dizer que a
conversão começa nas profundezas da personalidade, mas, como um ato completo,
certamente está dentro das linhas abrangidas pela vida consciente” (BERKHOF,
1990, p. 480)
O indivíduo, ao se deparar com sua condição de pecador diante do
imaculado, tem em seu primeiro ato espanto e consciência de que seu pecado foi
uma desonra e é uma humilhação diante do que é puro. Mas ao mesmo tempo, há
em si um quebrantamento gerado pela convicção de pecados apagados e um
envolver que somente a graça proporciona. Calvino, citado por BAVINCK (2001),
declarava que a verdadeira conversão e arrependimento não consistem de remorso
que se desgosta com as consequências do pecado, mas consistem de um
quebrantamento interno do coração, de uma tristeza causada pelo pecado em si
mesmo, por causa de seu conflito com a vontade de Deus e pela provocação da ira
de Deus por ele causada, e de um sincero arrependimento e ódio ao pecado.
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BAVINCK (2001), ainda, afirma que para a Escritura Bíblica, a mudança que o ser
humano sofre pela fé em sua conversão é uma mudança das trevas para a luz, da
morte para a vida, da escravidão para a liberdade, da falsidade para a verdade, do
pecado para a justiça, da expectativa da ira de Deus para a esperança de sua glória.
O arrependimento está vinculado à verdadeira fé salvadora, pois ela é um
elemento da conversão e a fé abre a porta para tudo na salvação. Nela os pecados
dos convertidos são apagados, ocorre um novo discernimento espiritual, surgem
novas esperanças, entre outros resultados da fé. É nesse tempo que o indivíduo se
volta do pecado, como maneira de viver, para seguir nos caminhos de Deus. Aí ele
assume uma postura radical no seu modo de viver.
Para STOTT (2006), na conversão há um voltar-se não apenas do pecado
para Cristo, mas também "das trevas para a luz", "do poder de Satanás para Deus",
e dos ídolos para servir o "Deus vivo e verdadeiro"; há também um resgate do
domínio das trevas para o reino do Filho a quem Deus ama.
É diante dessa conversão que o ser passa a entender que seus pecados,
até mesmo, em sua consciência, dos piores acometidos a Deus, foram perdoados e
jogados no profundo do mar, graças a Cruz de Cristo e o amor de Deus. Isso se
torna fruto de uma compreensão da sua realidade natural e espiritual.
É na experiência da conversão que o homem percebe um Deus próximo e
não mais distante e que o deixou ao abandono. Passa, então, de um relacionamento
quebrado pelo pecado para um restaurado pela Cruz. O que antes era inalcançável
agora, através de Jesus, está tão perto que pode-se perceber e experimentar. “No
arrependimento, fé e conversão, o pecador é levado até Cristo e unido a Ele pelo
Espírito Santo” (Severa, 2014, p.286). É nessa união, conjunta de adventos vindos a
partir da conversão, que o homem recebe e percebe a salvação. Em Cristo é o lugar
onde se opera a salvação, e para estar N’ele a conversão se faz necessária.
Na experiência da conversão o ser toma consciência de sua posição diante
de Deus. Sem essa consciência, a característica de homem pecador pode ser
ofuscada, e a compreensão do pecado, ao que se refere a Deus, talvez não seja tão
devastadora assim, lhe permitindo continuar no pecado. Ou então, a consciência do
papel de Deus na vida homem para a redenção, pode leva-lo acreditar que a
decisão da escolha é exclusivamente dele, sem precisar da influência do Espirito
Santo ou de qualquer ação divina. O homem, diante da revelação, não se exalta,
pelo contrário, ele entende sua posição de pecador, se envergonha de quem era, e
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toma consciência do que Jesus fez. “Na conversão, o homem se desperta para a
jubilosa segurança de que todos os seus pecados são perdoados com base nos
méritos de Jesus Cristo” (BERKHOF, 1990, p.479) e não dele.
Essa experiência é realizada apenas uma vez no ser humano, o que
diferencia da atitude tomada por aqueles que declaram que estão “voltando para
Deus” no sentido de um dia serem convertidos, mas desviarem-se, estão caídos
temporariamente sob falsos encantos do mal, e ao voltar-se não significa que
passaram por mais uma conversão e sim retornaram a Deus, devido ao
constrangimento realizado pelo Espirito Santo que constantemente o chama para
voltar de onde não deveria ter saído. Com isso, o indivíduo volta a Cristo e deposita
sua confiança novamente a Ele. Tomando a palavra “conversão” em seu sentido
mais especifico, ela indica uma mudança instantânea, e não um processo como o da
santificação. É uma mudança que se dá uma vez e não se pode repetir, embora,
́ lia também denomine conversão o retorno do cristão a
como acima exposto, a Bib
́ o em pecado. Neste caso, é a volta do crente para Deus
Deus, depois de haver caid
e para a santidade, depois de os haver perdido de vista temporariamente. Devido a
́ dos de in
primeira queda, na vida consciente do cristão há altos e baixos, perio ́ tima
comunhão com Deus e perio
́ dos de afastamento dele.
Um aspecto importante na conversão é que ela não altera a posição, mas,
sim, a condição do homem. É somente na conversão que esta transição penetra a
vida consciente, levando-o numa nova direção, rumo a Deus. Não quer dizer, porém,
que a luta entre a velha e a nova vida esteja acabada de uma vez; ela continuará
enquanto durar a vida do homem.

1.2 A REGENERAÇÃO

A regeneração difere da conversão no sentido de que ela é uma ação direta


de Deus na vida do crente. O homem, objeto da regeneração, participa da
conversão através do arrependimento, gerado por Deus, de auto-avaliar-se, e de
participar dessa responsabilidade como Deus ordena. Porém não há mandamento
para que o homem se regenere, pois, esta é uma obra de Deus, “ela é o princípio
essencial da salvação” (Severa, 2014, p.289). O indivíduo recebe a Cristo depois de
obter discernimento e poder para fazê-lo. É algo feito ao indivíduo, não por ele ou
por sua cooperação. Com tudo o mais, mesmo os atos como arrepender-se, crer,
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voltar-se para Deus (conversão), “a regeneração é um dom” (CULVER, 2012, p.924)


Toda essa regeneração é operada por Deus através de Cristo. É N’ele que
tudo se faz novo, o velho homem morre, e o novo homem é criado. É um “nascer de
cima”, ou seja, o próprio Deus causa a regeneração e por meio desse evento que o
homem torna-se filho D’ele. CULVER (2012) citando Garfield, definiu a regeneração
como a uma transformação radical e completa operada na alma por Deus, o Espirito
Santo, em conhecimento e santidade na verdade criada segundo a imagem de
Deus. A pessoa, o objeto da regeneração, é um receptor na regeneração, ou seja,
um agente passivo. O Espirito de Deus vai ao encontro, e não o indivíduo a Ele.
Com isso, Deus é o autor do novo nascimento. Essa obra soberana de Deus faz do
indivíduo uma nova criatura. Para CULVER (2012), isso vai de encontro com os
pontos de vista de certos lideres protestantes (Philip Melanchthon, Jonh Wesley,
Jacó Arminio) que defenderam a ideia de que o homem coopera com Deus em sua
própria regeneração. Contudo, nenhum dos três foi consistentemente sinergético,
cada um regozijando-se em dar toda a gloria a Deus e ansioso para orar para que
Deus agisse para converter e regenerar pecadores. Nenhum foi bem-sucedido em
ajustar seu ponto de vista com as Escrituras.
A mudança subjetiva operada na alma pela graça de Deus é designada na
Bíblia de várias maneiras. Entre outros, ela fala de novo nascimento, nova criatura,
ou nascido de Deus, vivificação, renovação pelo Espírito, ressurreição. O termo mais
apropriado e utilizado na teologia é regeneração ou renovação. A palavra no grego,
significa literalmente “de novo nascido”. Esse “nascer de novo” pressupõe um
primeiro nascimento de pais pecaminosos, à sua imagem, e o segundo nascimento
de Deus e à sua imagem.

Regeneração é uma exigência absoluta para a entrada no reino de Deus


[…] o homem está morto em delitos e pecados […] precisa de uma
vivificação de fora para poder viver eternamente […] nessa vivificação o
pecador é santificado, e sem esta nova vida moral e espiritual ele não
poderia ter comunhão com Deus. (Severa, 2014, p.290).

A regeneração muito tem a ver com a vida de Jesus, é na regeneração que


o indivíduo começa a se parecer com o padrão moral e espiritual de Cristo. Cristo é
formado no coração, a sua imagem está estampada ali de acordo com a “imagem do
seu Criador”. Essa mudança interna, antes de tudo, não pode ser alcançada pelas
atitudes naturais do homem. “Ele requer uma justiça acima da ‘dos escribas e
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fariseus’ […] o caráter dos cidadãos do Reino de Deus é muitíssimo elevado […] o
alvo de perfeição é o próprio Pai celestial “ (Severa, 2014, p.290). É uma nova vida,
vinda de Deus para o coração do homem. É Ele, então, quem muda a disposição
moral dominante da alma do indivíduo, tornando-o moral e espiritualmente
semelhante a Cristo, sendo assim, regenerado. É uma mudança operada na alma.
Ela é iluminada (chamado especial, graça proveniente), para que o indivíduo possa
entender o evangelho, e sua vontade debilitada e então é fortalecido para voltar-se
para Deus. Há no homem regenerado desejos ardentes por alimento espiritual como
um recém-nascido anseia pelo leite materno.

O novo homem tem novos olhos (os olhos da fé), novos ouvidos: ouvem a a
Palavra de uma maneira como nunca a ouviram antes; também novas
mãos, para manusear a Palavra da vida e para trabalhar com ela; e novos
pés para refugiar-se em Cristo, a nova cidade de refugio. Nova habilidade
para orar a Deus. (CULVER, 2012, p.923)

É nesta mudança (regeneração) que a situação pecaminosa, contraditória,


dominada pela carne, corrupta e mortal, que a natureza do homem é revertida. Deus
opera nele uma mudança no coração, onde sua disposição moral dominante passa a
ser espiritual, vivificada, favorável a Ele. O regenerado tem seu amor redirecionado,
afastando-se do amor impróprio por si mesmo para um amor apropriado por si
mesmo e por Deus. “O homem regenerado se deleita na lei de Deus” (CULVER,
2012, p.923).
A partir disso, o crente entende que pertence a Deus e a uma nova vida
dirigida pelo Espirito Santo, segundo STOTT (2006), envolve um encontro com o
poder que obriga o diabo a descontrair o controle da vida de alguém e demonstra o
poder superior de Cristo. Para essa regeneração o Espirito Santo usa como
instrumento a Palavra de Deus. O pregador ou evangelista pode semear a Palavra e
cuidar da semente, mas só Deus dá o crescimento. Nasce, então, uma nova vida, e
está vida é eterna, dada gratuitamente, a alma se volta para Deus em amor e
submissão. A paixão dominante da alma converte-se em amor para com a justiça
onde não se pode mais descansar numa vida de pecado.

O regenerado se toma semelhante a Cristo […] isto não significa que todas
as inclinações carnais são eliminadas de vez; significa sim que essa
mudança revolucionária tomou lugar dominante na alma, de tal modo que
não poderá mais descansar enquanto não se ver livre completamente no
pecado. (Severa, 2014, p.293).
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A regeneração dá a condição do homem ser filho de Deus por adoção,


sendo Seu herdeiro e co-herdeiro com Cristo, herança essa assegurada no céu; ela
proporciona os efeitos espirituais em sua alma, onde é fortalecido no Senhor e na
força do seu poder; e também cria experiências práticas que aparecem em seus
cotidianos, praticando o amor fraternal, servindo a Cristo e aos irmãos.
A salvação, então, começa com a regeneração, e é completada pela perfeita
libertação, quando Deus afasta o homem das “misérias da vida mortal “ (CULVER,
2012, p.915). A imagem moral de Deus é restaurada, tornando o homem adequado
para entrar no Reino de Deus.
Na junção dos dois temas é destacado que regeneração é o termo usado
por teólogos para expressar a agência divina na mudança do coração. Para eles, a
regeneração não inclui nem implica a atividade do indivíduo. A conversão, embora
recebe em seu primeiro ato a ação de Deus, há cooperação do indivíduo para sua
aplicação, como um ato de responsabilidade.

A regeneração, ou o novo nascimento, é o lado divino da mudança do


coração que, vista do lado humano, é chamado de conversão. É Deus
voltando alma para ele mesmo; enquanto a conversão é a volta da alma
para Deus, a qual é tanto a consequência como a causa. Da definição
acima observam-se aspectos da regeneração: no primeiro a alma é passiva;
no segundo é ativa, Deus muda a disposição governante; nesta mudança a
alma simplesmente sofre a ação. Deus garante o exercício inicial desta
disposição em vista da verdade; nesta mudança é a própria alma que age.
Contudo, estas duas partes da operação de Deus são simultâneas. No
mesmo momento em que torna a alma sensível, ele derrama a luz da sua
verdade e induz ao exercício da santa disposição que ele concedeu.
(STRONG, 2003, p.518)

A forma lógica, então, pode dar-se da seguinte maneira: O Espírito Santo


primeiro regenera ou muda a mente, após o que o pecador muda ou se converte. De
modo que Deus e o indivíduo agem, cada um por sua vez. Deus primeiro muda a
mente e, como consequência, o indivíduo depois se converte ou volta-se para Deus.
Assim, o indivíduo é passivo na regeneração, mas ativo na conversão.
Tanto a conversão, quanto a regeneração fazem parte dos aspectos
salvíficos, de forma sobrenatural e soberana de Deus, portanto, são obras realizadas
apenas uma vez no indivíduo, ou seja, impossibilitando assim de haver-se uma
“segunda conversão ou regeneração”.
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A conversão propriamente dita, como a regeneração, que é o outro lado da


moeda, pode ocorrer apenas uma vez. A expressão ‘segunda conversão’,
mesmo que não implique falso conceito radical da natureza da conversão, é
enganosa. Prefere-se, portanto, descrever estas experiências
subsequentes, não com o termo ‘conversão’, mas com expressões tais
como ‘afastamento, abandono, volta, desprezo, ou transgressão’ e ‘volta
para Cristo, renovação da confiança nele’. É com arrependimento e fé,
como elementos da primeira e radical mudança pela qual a alma entra num
estado de salvação, que o individuo age assim. (STRONG, 2003, p.551)

Essa nova vida se manifesta em novas concepções de Deus, de Cristo, do


pecado, da santidade, do mundo, do evangelho e da vida vindoura, levando o
homem, assim, voltar-se para Deus. Em suma, fazem parte das verdades que Deus
revelou, através da Bíblia, como necessárias para a salvação.
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2. A CONVERSÃO E A REGENERAÇÃO NA PERSPECTIVA BÍBLICA

Como já discorrido no capítulo anterior, muitos teólogos advogam que, a


regeneração em sua ordem lógica é a primeira transformação realizada no indivíduo
por Deus, e é Ele quem concede a nova vida espiritual, que também pode ser
chamado de “nascer de novo”, e em seguida a conversão, como resposta do
indivíduo ao chamado do evangelho através do arrependimento, voltando-se do
pecado para Cristo.
As doutrinas da conversão e regeneração baseiam-se tão somente na
Escritura. Como a conversão e a regeneração são experiências conscientes e
subjetivas, ela pode ser compartilhada através de testemunhos, porém por mais
valioso que eles sejam, nada acrescenta à segura veracidade da doutrina ensinada
na Escritura Sagrada. A doutrina bíblica da conversão e regeneração baseiam-se
não somente nas passagens que contêm um ou mais dos termos mencionados logo
a baixo, mas também em muitas outras, nas quais o fenômeno da conversão é
descrito ou apresentado como exemplos vivos. Nem sempre a Bíblia fala de
conversão e regeneração no mesmo sentido.
As principais abordagens sobre o assunto contidos nesse capítulo, levam em
conta os exemplos e ensinamentos bíblicos discorrendo o Antigo Testamento e logo
no Novo Testamento com subdivisão nas cartas paulinas.

2.1 CONVERSÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

Ao longo da narrativa bíblica, as principais ideias ligadas à conversão se


relacionam com o abandono do pecado e da maldade. Tal abandono está sempre
associado à dedicação a Deus pois Ele mesmo é a força ativa que opera esta
mudança. No contexto bíblico da conversão estão presentes a fé, o arrependimento
e obediência a Deus, seguido sempre de um novo estilo de vida.
Numa perspectiva hermenêutica, a promessa da vitória de Deus sobre a
serpente, prometida no Antigo Testamento (Gn 3.15), torna-se uma realidade no
Novo Testamento. O Antigo Testamento promete uma nova aliança, nova criação e
uma nova vida para o povo de Deus. No contexto bíblico veterotestamentário a
conversão, ou o arrependimento, implica em uma ruptura com a idolatria, com o
pecado e com os cultos pagãos, ou seja, o abandono radical das raízes religiosas
19

atuais e aceitação de uma nova verdade de fé, que conduz ao novo estilo de vida,
envolvendo crença, moral, ética e novos costumes. Embora, ao longo da história,
muitos voltassem para o Deus Uno, por muito tempo os Judeus participavam das
tradições antigas de adoração a outros deuses, que por consequência Deus permitia
retaliações de outros povos inimigos para trazer novamente seu povo ao
arrependimento, uma conversão a Ele novamente.
No Antigo Testamento, a ideia de inversão de direção moral, numa
perspectiva sistemática, tem quase que a maior parte em seu conteúdo o
ensinamento da necessidade que o indivíduo tem de reconhecer o seu estado
espiritual, e então arrepender-se dos seus maus caminhos, voltar-se a Deus, e viver
uma nova vida regida por Ele. Ou seja, a conversão “é peculiar na Bíblia desde a
petição do Senhor a Caim (Gn 4.7) até a petição a todos no último capítulo da Bíblia
(Ap 22.17) ”. (CULVER, 2012, p.926).
A Septuaginta interpretava arrependimento e seus sinônimos com uma
forma de voltar ou mudar de direção. Segundo CULVER (2012), essa palavra ocorre
579 vezes na Septuaginta. As palavras gregas, vindouras do hebraico, devem ser
lidas à luz do hebraico, para extrair-se o importante ponto, que a virada indicada é
em realidade um retorno.
No Antigo Testamento os profetas eram pregadores do arrependimento dos
pecados. CULVER (2012), relata que embora a consequência da doutrina do pecado
implícita a separação e morte do homem, tirando dele toda disposição ou vontade de
voltar-se a Deus, mesmo que algumas passagens reconheçam os aspectos também
humanos, como por exemplo o texto “converte-me, e converter-me-ei” de Jeremias
31.18, que expressa tanto aspecto humano quanto divino, pois o texto é formado
apenas por duas palavras no hebraico e a palavra para mudar de direção em cada
caso, a primeira está no causativo do verbo, “converte-me”, logo segue com “e
converter-me-ei”. Ambos se movem juntos, mas Deus inicia o processo ao regenerar
a vontade ou disposição. Da mesma forma na versão de King James em Jeremias
31.18,19 Efraim diz: “Na verdade, depois que fui convertido [por Deus], tive
arrependimento; e, depois que fui instruído [por Deus], bati na minha coxa”. A
atividade do homem é sempre resultante de uma prévia obra de Deus realizada no
homem, Lm 5.21; Fp 2.13. Que o homem é ativo na conversão, talvez haja mais
evidências em passagens como Is 55.7; Jr 18.11; Ez 18.23, 32; 33.11; At 2.38; 17.30
e entre outras. O que pode-se destacar é que a conversão tem, em seu ato primeiro,
20

a vontade soberana de Deus em agir e em consequência, então, uma resposta


favorável a esse chamado. Juntamente, o elemento volitivo é caracterizado como
uma mudança de propósito, um abandono interior do pecado e com isso a
disposição para a busca do perdão e da purificação, Sl 51.5, 7, 10; Jr 25.5. Este
elemento inclui os outros dois, e, portanto, para BERKOF (1949) é o aspecto mais
importante do arrependimento. O Antigo Testamento dá à luz de que Deus é o autor
da conversão. No Salmo 85.4 o autor pede: “Restabelece-nos, ó Deus da nossa
salvação”, e em Jeremias 31.18 Efraim ora: “Converte-me, e serei convertido”.

2.2 REGENERAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

A regeneração, realizada por Deus no homem, no Antigo Testamento tem


como seu conhecimento vago quanto a este termo. Esse “novo-nascimento” é um
elemento desconhecido para os Judeus, visto que no Novo Testamento, Nicodemus,
um importante mestre de Israel, declarou a sua ignorância quanto a isso. “Como
pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e
nascer segunda vez? ”(João 3:4).
A massa do povo de Israel ainda não tinha consciência do fato de que as
condições em as promessas divinas que deviam ser obtidas são mais do que
cerimônias ritualísticas. Como Deus toma a iniciativa de fazer o pacto, a convicção
de que o pecado tem raiz na depravação humana, pode ser eficazmente eliminado
apenas pelo ato de Deus que renova e transforma o coração do homem (Os 14:4).
Nisso vemos o testemunho de alguns que sabiam que esta graça foi encontrada no
caminho do arrependimento e humilhação diante de Deus. Uma expressão desta
convicção é encontrada na oração de Davi: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro,
e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires
de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me
com um espírito voluntário”. (Sl 51:10-12).
Entendendo que a obra da regeneração é realizada por Deus, dando um
novo espirito, uma nova vida ao seus, pode-se destacar que Ezequiel ponderou que
Ele daria ao seu povo “um só coração, e um espírito novo [...] dentro deles [...] para
que andem [em seus] estatutos, e guardem [os seus] juízos, e os cumpram”
(Ezequiel 11:19,20).
21

O fruto do trabalho regenerador do Espírito é a fé (Efésios 2:8). Pode se


dizer, então, que havia homens de fé no Antigo Testamento, pois Hebreus 11
nomeia muitos deles. Se a fé é produzida pelo poder regenerador do Espírito Santo,
então este deve ser o caso dos santos do Antigo Testamento, os quais olhavam
adiante, acreditando que o que Deus havia prometido em relação à sua redenção
iria acontecer. Eles viram as promessas "de longe e de longe as saudaram"
(Hebreus 11:13), aceitando pela fé que Deus realizaria o que prometera.

2.3 A CONVERSÃO NO NOVO TESTAMENTO

No Novo Testamento, encontra-se a inauguração do cumprimento para


todas essas promessas através da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo,
prevista no Antigo Testamento. Nos Evangelhos sinóticos, a obra salvadora de Deus
prometida no Antigo Testamento pode ser englobada pelo termo “reino de Deus”.
Percebe-se nos sinóticos que o Reino de Deus exerce um papel fundamental em
seu conteúdo, e esse Reino de Deus convoca os homens à conversão. Conforme
em Marcos descreve: “foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus,
dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e
crede no evangelho” (Mateus 4.17). As boas novas do retorno do exílio anunciado
por Isaías, as boas novas do cumprimento das promessas de salvação de Deus
serão desfrutadas por aqueles que se arrependerem de seus pecados e crerem no
evangelho.
A palavra “conversão” no Novo Testamento pode ser usada também para o
indivíduo que se arrepende do seu erro após a sua primeira e verdadeira conversão,
para esses casos a palavra é usada em Lc 22.32; Ap 2.5, 16, 21, 22; 3.3, 19. Deve-
se destacar que a conversão, no sentido estritamente soteriológico, nunca se repete.
Essa conversão, ou arrependimento, leva o homem a nova vida. No Novo
Testamento é um arrependimento vindo de Deus para que o homem reconheça seu
estado e voluntariamente volte-se para Deus. Por outro lado, há o arrependimento
que gera remorso, desesperança, como no caso de Judas em Mateus 27.3, ou do
jovem rico que tinha muitos bens e ficou triste de pensar que teria que desfazer
disso para seguir a Cristo, em Lucas 18.23. Essa nova vida em Cristo e a partir Dele,
se estende a todos, como visto em Atos 11.18 em que Pedro chama a atenção para
o fato de que Deus concedeu aos gentios arrependimento para a vida.
22

Os Seres Humanos devem voltar-se do pecado e voltar-se para Deus para


serem salvos. Devem, então, arrepender-se dos seus pecados e crer no evangelho
de Jesus Cristo, crucificado e ressurreto. O texto em Lucas 5:32: “Eu não vim
chamar os justos, mas sim os pecadores ao arrependimento”. Esta afirmação pode
ser considerada um contraste entre a condição dos salvos e dos não-salvos,
significando que o arrependimento é necessário para a salvação dos pecadores.

2.3.1 CONVERSÃO NAS CARTAS PAULINAS

Outra palavra que alguns teólogos destacam, usado por Paulo em suas
cartas, no sentido de “conversão”, é Metanoia (forma verbal, metanoeo), que é
composta de meta e nous e é relacionado com o verbo ginosko (latim noscere;
português, conhecer), usado para referenciar à vida consciente do homem. Para
BERKHOF (1990) a tradução comum na Bíblia, “arrependimento”, não faz plena
justiça ao original, visto que dá indevida proeminência ao elemento emocional. No
Novo Testamento, o seu sentido é aprofundado, e denota uma mudança do
entendimento, passando a ter uma visão diferente do passado, reinterpretando seu
mal, levando a uma mudança de vida para melhor. A palavra tem mais valor no
entendimento de que ela não se limita à consciência intelectual, teórica, mas moral
ou consciente. Tanto a mente como a consciência estão corrompidas.

A mudança indicada pela palavra metanoia tem que ver (1) com a vida
intelectual, 2 Tm 2.25, para um melhor conhecimento de Deus e da Sua
verdade, e uma salvadora aceitação desta (idêntica à ação da fé); (2) com a
vida volitiva consciente, At 8.22, para um voltar-se para Deus que esta
mudança é acompanhada por uma tristeza segundo Deus, 2 Co 7.10, e
abre novos campos de fruição para o pecador […] conversão não é apenas
passar de uma direção consciente para outra, mas fazê-lo com uma aversão
claramente percebida para com a direção anterior. Noutras palavras,
metanoia tem, não somente um lado positivo, mas também um lado
negativo: olha retrospectivamente e também prospectivamente. A pessoa
convertida torna-se consciente da sua ignorância e do seu erro, da sua
obstinação e da sua loucura. Sua conversão inclui a fé e o arrependimento”
(BERKHOF, 1990, p.476)

Como a palavra metanoia claramente indica, a conversão tem lugar, não na


vida subconsciente do pecador, mas em sua vida consciente. Isto não significa que
ela não tem suas raízes na vida subconsciente, mas sim que seu aspecto principal
se dá no entendimento do indivíduo, o que o leva a tomar qualquer decisão
23

baseando na sua compreensão da verdade lhe exposta.


A mudança intelectual, segundo BERKHOF (1990) é conceitual, ou seja, um
reconhecimento de que o pecado envolve culpa pessoal, contaminação e
desamparo. Essa mudança intelectual é designada nas cartas de Paulo como
“conhecimento do pecado” (Rm 3.29). Logo, o elemento emocional é o sentimento
que se manifesta em tristeza pelo pecado contra um Deus santo e justo, ele é
indicado pelo verbo metamelomai. Quando acompanhado pelo elemento
subsequente significa (tristeza segundo Deus), mas se não for acompanhado por
ele, será “tristeza do mundo”, que se manifesta em remorso e desespero (2Co 7.9-
10).
A nova vida, que a partir de Cristo se estende a todos, é declarada por Paulo
em 2 Timóteo 2.25. De forma geral pode-se dizer que Deus produz o
arrependimento por meio da lei (Sl 19.7; Rm 3.20), e também, a fé, por meio do
Evangelho (Rm 10.17).

2.4 REGENERAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

Na Bíblia, regeneração, e a palavra grega que à traduz, aparecem apenas


duas vezes. A palavra no grego, significa literalmente “de novo nascido”, usado em
Tito 3.5 e em Mateus 19.28. Segundo CULVER (2012), a palavra regeneração
começou sua carreira na língua inglesa, justamente como nome para um
acontecimento religioso.
Como na teologia sistemática, desenvolvida por vários teólogos, será
empregado, aqui, a regeneração com relação à vida espiritual dos crentes
individuais, ou seja, uma mudança interna, uma obra exclusivamente operada por
Deus no indivíduo. É um mistério divino. O novo nascimento em si, de certa forma,
está envolvido em mistérios. Trata-se de um milagre de Deus e não se pode
entender exatamente como ele acontece. Do mesmo modo, ninguém pode observar
a regeneração da alma humana, mas pode-se facilmente notar os resultados
aparentes desta operação divina.
24

Uma declaração de Jesus a Nicodemos, o visitante inquiridor noturno,


durante seu primeiro ministério público, sugere que um bom lugar para
iniciar a discussão da ideia da regeneração (renovação, limpeza espiritual e
reabilitação) é o Antigo Testamento. Jesus disse: “Ninguém pode ver o
Reino de Deus, se não nascer de novo”. O tímido visitante aristocrata
noturno então perguntou: ‘Como pode ser isso?’ (Jo 3.9). Jesus respondeu:
‘Você é mestre em Israel e não entende essas coisas?’ (Jo 3.10). A
implicação clara é que qualquer bom mestre das Escrituras hebraicas
deveria saber que o reino messiânico seria precedido pelo arrependimento
e purificação de Israel, que a nação seria purificada no coração dos seus
membros como um aspecto de restauração do ‘reino a Israel’ (At 1.6) ”
(CULVER, 2012, p.915)

Esse termo usado na literatura pré-cristã já parecia ter uma história anterior
na cultura grega, ele parece inicialmente ter obtido seu significado no estoicismo. No
estoicismo, seu significado foi antes de tudo a renovação do mundo depois de um
“holocausto, purificação do mundo pelo fogo” futuro. Quando a palavra passou do
estoicismo para o judaísmo, o significado mudou. Tanto Fílon de Alexandria quanto
Josefo usam essa palavra, e embora ela se refira a um mundo futuro, ela é
preenchida com um novo conteúdo religioso. “Assim, quando a palavra aparece no
relatório de João acerca da conversa de Jesus com Nicodemos, sua carga de
transformação individual ligada a um novo princípio de vida já era usada havia muito
tempo pelos instruídos”. (CULVER, 2012, pag. 916)
A palavra grega, então, para referir-se à regeneração pode ser
“renascimento” ou “renovação espiritual. ” Embora o termo apareça apenas duas
vezes na Escritura, a realidade que ele representa é mencionada diversas vezes
através de diferentes palavras e imagens. CULVER (2012), fortalece esse
significado com outros termos citados que podem se assemelhar a regeneração
como “nascer de novo” (1 Pe 1.3), “receber vida por meio do Filho” (Jo 5.21), ser
chamado “das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9), “nova criação” (2Co
5.17), voltar “da morte para a vida” (Rm 6.13).
A “regeneração” aparece pela primeira vez, no Novo Testamento, quando
Jesus a usou para indicar o tempo futuro prometido pelos profetas: “Em verdade vos
digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se
assentar no trono da sua glória…” (Mt 19.28).
O Novo Testamento, numa visão sistemática, assim descreve a
regeneração: “Um nascimento”: Deus o Pai é quem “gerou”, e o crente é “nascido”
de Deus (I Jo. 5:1), “nascido do Espírito” (Jo. 3:8), “nascido do alto” (Jo. 3:3,7).
Esses termos referem-se ao ato da graça que faz o crente um filho de Deus. “Mas, a
25

todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus [...] os
quais […] nasceram de Deus” (Jo. 1:12-13). De entendimento dos teólogos, a
regeneração não é uma renovação completa até que ocorra a ressureição das almas
plenamente santificada na volta de Jesus (1Ts 5.23,24). No futuro, quando a
“regeneração” no sentido mais amplo estiver completa, também haverá a liberdade
de uma escravidão decadente. Ap. 21.5. “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap.
21.5), primeiro Deus torna o homem novo, depois dá-lhe um coração novo, e depois
um novo mandamento. Logo, dará um novo corpo, novas vestes, novo cântico e um
lar novo. O novo nascimento do qual Jesus falava para Nicodemos é o ato da
regeneração, pelo qual Deus transmite a vida espiritual para a alma do crente (1Pe
1.23). Nascer de novo ou nascer do alto são expressões paralelas a regeneração. O
novo nascimento é o ponto no qual uma pessoa “morta em ofensas e pecados” (Ef
2.1) recebe a vida espiritual.
Jesus citou em alguns momentos a necessidade que o indivíduo tem de ser
regenerado para viver no Reino de Deus. Não se trata de Deus não permitir a
entrada do homem não regenerado no reino de Deus, mas de uma absoluta
impossibilidade (ICo. 2:14). Suas palavras e ensinamentos ressalta que esse
fenômeno aprofunda na alma, é algo mais do que uma mudança de vida visível ou
um caminhar, ela desce, ou alcança o âmago do indivíduo, e ali começa-se a
restauração. A entrada de Cristo na alma faz dela uma nova criatura no sentido de
que a disposição dominante, que anteriormente era pecaminosa, agora se torne
regenerada, justificada e santa. A regeneração, então, é uma mudança
indispensável à salvação do pecador, pois ela é uma ressurreição espiritual, o
começo de uma nova vida:

Jo.3.7 - “Necessário vos é nascer de novo”; Gl. 6.15 - “nem a circuncisão,


nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas o ser uma nova criatura”; cf.
Hb. 12 .14 -“a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” - por isso a
regeneração é ainda mais necessária à salvação; Ef. 2.3 - “por natureza
filhos da ira, como os outros também”; Rm. 3.11 - “Não há ninguém que
entenda; não há ninguém que busque a Deus”; Jo. 6.44,65 - “Ninguém pode
vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer […] ninguém pode vir a
mim, se por meu Pai não for concedido”; Jo. 3.3 - “aquele que não nascer
de novo não pode ver o reino de Deus”; 5.21 - “como o Pai ressuscita os
mortos e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer”; Rm.
6.13 - “apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos”; Ef. 2.1 - “E vos
vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados”; 5.14. (STRONG,
2003, p.520)
26

Alguns teólogos chegaram a enfatizar que o batismo é a primazia ou a


necessidade para haver-se a regeneração, porém as Escrituras descrevem o
batismo como um sinal da regeneração e não um meio para ela. Por esta razão, só
os crentes, isto é, pessoas com evidência de serem regeneradas, eram, então,
batizadas (At. 8.12). Pode-se dizer, com isso, que o batismo exterior não salva; o
que salva é a mudança consciente da alma na direção de Deus, simbolizada pelo
batismo (1 Pe. 3.21). Alguns textos como Jo. 3.5, At. 2.38, Cl. 2.12, Tt. 3.5 explicam-
se com base no princípio da regeneração, como mudança interior, e o batismo, sinal
exterior dessa mudança.

A crença de que o batismo produz a regeneração é inconsistente com os


ensinamentos da Escritura sobre a graça de Deus. A salvação é concedida
'pela graça, por meio da fé', e não por quaisquer 'obras de justiça' (inclusive
o batismo). Jesus disse que o batismo era um ato que lhe 'convinha' (Mt
3.15), e Paulo declarou que, 'não pelas obras de justiça que houvéssemos
feito, mas, segundo a sua misericórdia' […] o batismo é um sinal exterior
daquilo que nos salva, a saber, a regeneração feita pelo Espírito na vida
daquele que crê (GEISLER, 2003, p.624)

Com isso, “é Deus quem opera a regeneração pelo Seu Espírito (Jo 1.13;
3.5,6; Tt 3.5; 1 Pe 1.3) […] a Palavra de Deus é o meio ou o instrumento que o
Espírito usa na regeneração (Rm 1.16; 1 Co 1.21; 1 Ts 2.13; 1) “. (SEVERA, 2014,
p.291)

2.4.1 RENEGERAÇÃO NAS CARTAS PAULINAS

Pela segunda e última vez a palavra “regeneração” aparece no Novo


Testamento como um dos termos que Paulo usa para a renovação das almas: “não
por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos
salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”. Esse lavar
regenerador, ou a regeneração é o que ocorre no coração de todos aqueles que,
semelhantemente aos novos crentes em Tessalônica, deixam de viver uma vida de
idolatria a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro (1Ts 1.9).

A regeneração é transmissão da vida espiritual, por parte de Deus, às almas


daqueles que estavam “mortos em ofensas e pecados” (Ef 2.1) e que foram
“salvos” — trazidos novamente à vida — por Deus “pela fé” em Jesus Cristo
(Ef 2.8). A Fonte da regeneração é Deus, o resultado da regeneração é a
filiação; o meio da regeneração é o Espírito Santo; e a duração da
regeneração é eterna (GEISLER, 2003, p.199)
27

Na ideia do batismo como regeneração, para Paulo, de forma clara, o lugar


onde se opera a regeneração é em Cristo e tão somente. Nele que tudo se faz novo
(2 Co 5.17), o “velho homem” morre e o “novo homem” é criado (Ef 2.10). O
indivíduo é unido a Cristo pelo Espírito divino (Ef 1.13). O batismo é sinal exterior
dessa maravilhosa união do crente com Cristo na sua morte e na sua vida ressurreta
(Rm 6.1-5). Esta é uma realidade espiritual. Paulo destaca que: “[Ele] nos salvou
pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que
abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, para
que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros, segundo a
esperança da vida eterna”. (Tt 3.5-7). Ou seja, sem esta regeneração, todo ser
humano está espiritualmente morto nos seus pecados.
A regeneração dá origem a um homem perfeito que, apesar de ainda não
estar maduro e de ter que lutar contra todos os tipos de pecados da carne (Gl 5.17),
deseja viver em novidade de Espírito (Rm 6.4; 7.8). No modelo desse novo homem,
os crentes são recriados à imagem de Cristo em verdadeira justiça e santidade. Eles
não carregam mais a imagem do primeiro homem, do primeiro Adão, e sim a
imagem do segundo Adão, Jesus (ICo 15.48,49).
Nasce no regenerado um novo homem, que segundo Deus foi criado em
verdadeira justiça e santidade (Ef 4.24). O ser humano não somente foi criado à
imagem de Deus, mas também recriados nela.
A conversão, nem mesmo a regeneração, são os temas centrais da Bíblia.
Crentes foram feitos para glorificar a Deus e desfrutá-lo para sempre. Porém a
conversão e a regeneração são fundamentais para a história, visto que somente
aqueles que são convertidos e regenerados desfrutarão do novo céu e da nova terra
com Cristo.
28

3. A CONVERSÃO, REGENERAÇÃO E A EVIDÊNCIA DA RESTAURAÇÃO

Ao longo da narrativa bíblica, percebe-se a grande tendência do homem em


fazer o mal, e viver uma vida totalmente iníqua, caído em seus delitos, sem
possibilidade alguma de se autorregenerar. Sendo assim, é necessário a ação
exclusivamente divina no homem. Segundo SHEDD (1990), a natureza da maldade
desvia nossa consciência até ao ponto de se perder a auto-percepção. Somente o
Espirito tem a capacidade de revelar o erro daquilo que tão fatalmente o ser humano
abraça, pensando ser admissível ou até bom. Com isso, sem que o indivíduo receba
a graça perdoadora de Deus não há salvação.
A conversão e regeneração tem o mesmo efeito na vida de todos os
cristãos. É diante dessa mudança interna e externa que se desenvolve ao longo da
sua nova vida os dons espirituais e consequentemente o seu papel ministerial
durante sua vida e missão na terra. É do caráter do pregador, do líder eclesiástico,
bem como dos adeptos ao cristianismo, antes de anunciar a verdade do Evangelho,
vive-lo.

Um ator […] devasso em sua vida pessoal, pode subir […] ao palco para
desempenhar o papel de Martinho Lutero, fazendo-o com tal maestria que [
em sua pregação ] se sentira arrepios na espinha, deixando aqueles que
ouvem-o resolvidos a ser homens e pregadores melhores […] no entanto,
pode não haver nenhuma relação direta entre como aquele ator vive
diariamente e a sua entrada no palco e seu subsequente desempenho”
(MARTIN, 1991, p.7)

A pregação e a vida cotidiana do pregador devem andar paralelamente com


as verdades bíblicas, caso contrário a pregação se voltara ao nível de mera arte da
elocução. O que diferencia um pregador, convertido e regenerado, de demais
artistas da comunicação, é que sua expressão e comunicação está relacionada a
sua vida.

3.1 A MENSAGEM DA CONVERSÃO

Percebe-se que muitas pregações nos dias atuais, têm se deleitado sobre
problemas corriqueiros sociais, problemas sentimentais, relacionais, até mesmo
financeiros, e é inevitável perceber o número de “decisões” ao apelo de entregar a
vida a Cristo, com o objetivo de sanar esses incidentes pessoais. Esses indivíduos,
mesmo na declaração repetida do plano da salvação, se despendem do culto felizes
29

por encontrarem a resolução de seus problemas. Por outro lado, um pregador


citando o pecado e seus perigos, o juízo de Deus frente a isso, a necessidade de
voltar-se para Deus, de entender sua condição e a necessidade da dependência de
Deus para que haja sua salvação, nessas pregações resultam em números bem
reduzidos de decisões em vista ao primeiro citado, e saem do culto tristes pelo seus
pecados, porém felizes por completo, independentemente de sua situação
sentimental, relacional ou financeira, pois entenderam que diante de Deus, o
problema do ser humano é ainda maior, e depende exclusivamente Dele para a sua
salvação.
BERKHOF (1990) cita que é destacável o fato de que a conversão possa ser
resposta a uma crise agudamente marcante, mas ela deveria gerar uma mudança
gradativa no convertido. Por isso, ele enfatiza que há elementos intelectuais,
emocionais e volitivo na conversão, como desenvolve cada um deles, em suma
caracterizando o intelectual como onde há uma mudança de conceito, um
reconhecimento de que o pecado envolve culpa pessoal, contaminação e
desamparo; o emocional como uma mudança de sentimento que se manifesta em
tristeza pelo pecado contra um Deus santo e justo; e o elemento volitivo, que
consiste numa mudança de propósito, num abandono interior do pecado e numa
disposição para a busca do perdão e da purificação. Em vista disso,

Pode-se dizer que a conversão começa nas profundezas da personalidade,


mas, como um ato completo, certamente está dentro das linhas abrangidas
pela vida consciente […] a conversão que não esteja arraigada na
regeneração, não é conversão verdadeira. (BERKHOF, 1990, p.480)

É fato que a conversão pode dar-se a qualquer momento e lugar.


SPURGEON (2012) exorta que aqueles que imaginam que todas as conversões,
abaixo de Deus, são feitas pelo ministro, comete um grande erro. Pois há muitas
conversões realizadas por uma bem simples observação do indivíduo mais humilde.
Uma única palavra falada pode ser um melhor meio de conversão do que um
sermão inteiro.
Alguns instrumentos podem ser usados para a conversão do ímpio,
SPURGEON (2012) comenta que nem em todos os casos Deus usa da
instrumentalidade, mas esta seria Sua maneira geral de fazer. Instrumentalidade é o
plano do universo. Na nova criação quase sempre é regra invariável de Deus
converter por meio de instrumentos. Embora SPURGEON (2012) observa que a
30

instrumentalidade não é necessária a Deus, Deus pode, se Ele quiser, converter


almas, sem quaisquer instrumentos que seja, como no caso Abrão chamado por
Deus por sua voz imediata, pela própria agencia de Deus; e também no caso de
Saulo:

[…] nenhum ministro foi seu pai espiritual, nenhum livro pode reclamá-lo
como seu convertido. Nenhuma voz humana, mas o ultimato imediato de
Jesus Cristo, ele mesmo – De uma só vez, então e ali, e sobre o local –
trouxe Saulo ao conhecimento da verdade!” […]Deus pode, se Ele quiser,
lançar o instrumento de lado! O poderoso Criador do mundo, que não usou
anjos para bater para fora a grande massa da Natureza e moldá-lo em um
mundo redondo[…] Ele pode ordenar, e permanecerá firme! Ele não
necessita de instrumentos, embora Ele os use. (SPURGEON, 2012, p.7,8)

Mas para SPURGEON (2012), a instrumentalidade é muito honrosa para


Deus. Para ele, é tão honroso a Deus converter por meio de cristãos e outros. Isso
ocorre porque, geralmente, em noventa e nove casos de cem, Deus tem o prazer de
usar a instrumentalidade de Seus servos ministradores da Sua Palavra, de homens
cristãos ou outros meios para os trazer ao Salvador. A maioria das pessoas foram
convencidas pela conversa piedosa das irmãs, pelo santo exemplo de mães, pelo
ministro, pelo professor da escola dominical, ou pela leitura de trechos ou Escritura.

3.2 CONVERSÃO E REGENERAÇÃO QUE PROVOCA MUDANÇA

A mensagem do evangelho, bem como suas implicações na vida daqueles


que negam a si mesmos para segui-la, não pode ser segundo plano nas pregações
atuais, muito menos deixa-la para ser anunciada em poucos minutos, como uma
liturgia para haver a confissão de fé em modo público. O plano de salvação é bem
mais do que apenas um parágrafo no meio de textos longos. O indivíduo não deveria
aceitar viver uma vida com Cristo, esperando em troca a resolução para seus
desejos e problemas pessoais, acreditando que nada mais precisa fazer além de
dizer “sim” e esperar o amém na oração do preletor para que então comece a sua
tão propagada vida. Para SHEDD uma teologia que oferece graça sem
arrependimento é falsa.
31

O cristianismo verdadeiro não pode existir com base numa graça tão leviana
que o cristão não a valorize. Quando a salvação não passa de uma
assinatura num cartão de decisão ou um barco levantado numa reunião de
evangelização, torna-se inevitável o desprezo desse dom de infinito valor
[…] se os pecadores não têm nenhuma ideia de majestade e santidade de
Deus, nem do inconcebível inferno para o qual caminham, a graça perde
sua forca transformadora” (SHEDD, 1990, p.33)

Para BERKHOF (1990) a genuína conversão nasce da tristeza segundo


Deus, e redunda numa vida de devoção a Deus. É uma mudança que tem suas
raízes na obra de regeneração, e que é efetuada na vida consciente do pecador pelo
Espírito de Deus. SHEDD (1990) argumenta que um pecador, que não acreditava na
veracidade histórica de verdades bíblicas e depois passa, tão somente, a crer nelas,
não se pode caracterizar uma salvação eterna como recompensa por essa aceitação
dos fatos históricos. Assim como filhos de crentes que costumam acreditar nas
doutrinas bíblicas que aprenderam na escola dominical não se pode confiar na
salvação de todos eles por esses méritos.

Se aceitar fatos bíblicos fundamentais é suficiente para garantir a salvação,


não estariam quase todos os brasileiros salvos? […] mas Paulo confirma o
que Jesus ensina: sem alguma mudança de comportamento, não existe
fundamento para uma esperança de vida eterna (1 Co 10:1-13)”. (SHEDD
1990, p.33)

SPURGEON (2012) destaca que o arrependimento gera tal vida na alma,


que aqueles que estavam mortos em delitos e pecados, são revividos conjuntamente
com Cristo; aqueles que não tinham receptividade espiritual, agora recebem com
mansidão a palavra implantada; aqueles que cochilavam no próprio centro da
corrupção, recebem o poder de se converterem em filhos de Deus, e de estar
próximos de Seu trono. Para GEISLER (2010) é necessário o abandono do pecado
(na forma do arrependimento) antes de poder-se unir a Cristo (por meio da fé);
ninguém pode aceitar Jesus se não estiver disposto a abandonar o pecado, já que é
incompatível abraçar ao mesmo tempo o pecado e a salvação.
SHEDD (1990) aborda que Lucas em Atos relata que Simão, o magico, creu,
mas não se arrependeu. Faltou-lhe a transformação de comportamento, Pedro não
hesita em excluir o pretenso crente da esperança dos regenerados (At 8.21-23). Aos
atenienses Paulo lança o desafio de um arrependimento genuíno (At 17:30,31), ele
pregava a necessidade de uma mudança que também incluía “fazer obras dignas de
arrependimento” (At 26:19).
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3.3 A EXPERIÊNCIA DA CONVERSÃO E A BUSCA PELA SANTIFICAÇÃO

Diante da verdade revelada, o indivíduo sente-se na necessidade de uma


mudança em sua vida, em todos os aspectos. Quando ele declara e confirma sua
conversão, pela ação do Espirito Santo, mais severo fica o entendimento de mudar e
trilhar o caminho novo. Por outro lado, BERKHOF (1990), sobre a conversão, afirma
que é bem conhecido o fato de que alguns, ao falarem da sua redenção, nunca vão
além da sua conversão, esquecendo-se de falar do seu crescimento espiritual, nos
anos posteriores. Isto se deve ao fato de que na experiência deles, a conversão
sobressai como uma crise incisivamente marcante, crise que exigiu da parte deles.
Tendo-se em conta a tendência atual de se perder a percepção das linhas de
demarcação presentes no processo de salvação.
Na experiência da conversão o ser toma consciência de sua posição diante
de Deus. Sem essa consciência, a característica de homem pecador pode ser
ofuscada, e a compreensão do pecado, ao que se refere a Deus, talvez não seja tão
devastadora assim, lhe permitindo continuar no pecado. Ou então, a consciência do
papel de Deus na vida homem para a redenção, pode leva-lo acreditar que a
decisão da escolha é exclusivamente dele, sem precisar da influência do Espirito
Santo ou de qualquer ação divina. O homem, diante da revelação, não se exalta,
pelo contrário, ele entende sua posição de pecador, se envergonha de quem era, e
toma consciência do que Jesus fez. “Na conversão, o homem se desperta para a
jubilosa segurança de que todos os seus pecados são perdoados com base nos
méritos de Jesus Cristo”. (BERKHOF, 1990, p.479)
Na experiência da conversão, o indivíduo também passa a entender o perigo
de seus pecados, e onde eles o levaram, culminando em sua morte, mas também
ele passa entender o plano redentivo, que o faz se alegrar no perdão e na graça de
Deus. Para BERKHOF (1990), na conversão, o homem toma consciência do fato de
que ele merece a condenação, e também é levado ao reconhecimento desse fato.
Talvez, por esse motivo, muitos relatos são encontrados de jovens e adolescentes
que passam a declarar sua conversão mesmo depois de tempos presente na igreja,
alguns após anos de convívio com o corpo de Cristo, batizados e servindo em
ministérios. Em suas declarações enfatizam que acreditavam que as conversões
tinham vindo a eles, simplesmente pelo “sim” dado diante da igreja, mas que quando
entendem o plano da salvação e seus aspectos redentores, chamam nova decisão
33

de “nova conversão” ou a “conversão verdadeira”. “Não devemos supor que, porque


Deus os fez úteis, são, portanto, convertidos! ” (SPURGEON, 2012, p.10)
Na conversão o “Espírito Santo faz com que o pecador veja a verdade como
esta é aplicável à sua vida, de modo que ele fica sob “convicção”, e assim se torna
cônscio do seu pecado”. (BERKHOF, 1990, p. 487). Para STOTT (2006), a
conversão é falsa se a mente não for convertida. Para ele, ninguém é
verdadeiramente convertido se não estiver intelectualmente convertido. E ninguém
pode afirmar que é intelectualmente convertido se não submeter sua mente à
autoridade de Jesus, como Senhor. É diante dessa conversão genuína, que o ser
passa a entender que seus pecados, até mesmo, em sua consciência, dos piores
acometidos a Deus, foram perdoados e jogados no profundo do mar, graças a Cruz
de Cristo e o amor de Deus. Isso se torna fruto de uma compreensão da sua
realidade natural e espiritual.
Para STOTT (2006), o homem verdadeiramente penitente que confessa os
seus pecados a Deus recebe o perdão instantâneo. Deus é um Pai amoroso que
perdoará o pecado sob a única condição do verdadeiro arrependimento, e a morte
de Jesus Cristo opera, em realidade, ajudando a produzir esse arrependimento. Mais
do que isso, supõe-se que Deus somente possa perdoar tornando o pecador melhor,
e, assim, removendo qualquer exigência de castigo. Em outras palavras, é o
arrependimento e a conversão, produzidos no indivíduo ao contemplar a cruz, que
capacita Deus a perdoa-lo. A partir disso, o crente convertido, entende que pertence
a Deus e a uma nova vida dirigida pelo Espirito Santo, de modo que a conversão de
cada crente, segundo STOTT (2006), envolve um encontro com o poder que obriga
o diabo a descontrair o controle da vida de alguém e demonstra o poder superior de
Cristo. A perfeição exigida por Deus aos homens, nunca foi nem será alcançada por
um ser humano sequer, com exceção de Jesus Cristo, todavia a busca pela
santidade é fundamental na vida daqueles que Deus regenerou. “Toda conversão
genuína cria no coração do neófito um desejo inevitável que o conduz para a
santidade”. (SHEDD, 1990, p.10)
Não adentrando na possibilidade da perda da salvação, cabe ressaltar que,
não havendo essa condição, não se pode afirmar, tão somente, que a conversão foi
genuína, mas o crente não foi fiel até sua morte, veio a perder a salvação. “Não é
assim a alma que é salva da morte - ela é salva para sempre! ” (SPURGEON, 2012,
p.12). Todavia, devido ao fato de que o indivíduo, mesmo regenerado, tem seu
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estado de pecador vivo enquanto seu corpo não for glorificado e santificado por
completo, obra essa, realizada por Deus após a segunda volta de Cristo ao buscar a
sua igreja, que nada mais é que os regenerados, enquanto esse status estiver ativo,
o homem que desfalece poderá se desviar do alvo, por um instante, porém o Espirito
Santo, que o convence, todos os dias de seus pecados, reforçará a necessidade de
se voltar-se para os cuidados de Quem ele, agora, pertence.
SPURGEON dedicou pregações falando apenas sobre a genuína conversão
e a falsa, com as principais falas transcritas e destacadas sobre o tema por ele, é
encerrado esse capítulo.

3.4 O ARREPENDIMENTO COMO CONVERSÃO E REGENERAÇÃO EM


SPURGEON

Mais do que uma mera resposta a pregação, SPURGEON (2012) observa


que o espantar-se sob o som do Evangelho não é “arrependimento”. Existem muitas
pessoas que quando escutam um fiel sermão evangélico, permanecem agitadas e
comovidas.
Mediante certo poder que acompanha à Palavra, Deus dá testemunho de
que se trata de Sua própria Palavra, e provoca naqueles que a escutam certo tremor
involuntário.

Eu já vi algumas pessoas quando as verdades da Escritura ressoaram


desde esse púlpito, cujos joelhos tremeram chocando entre si, cujos olhos
derramaram lágrimas como se fossem fontes de água. Fui testemunha da
profunda depressão de seu espírito, quando, segundo me disseram alguns
deles, foram sacudidos até o ponto de não saber como suportar o som da
voz, pois era semelhante à terrível trombeta do Sinai, trovejando
unicamente sua destruição […] vocês poderiam estar sumamente
perturbados sob a pregação do Evangelho, e, no entanto, poderiam não ter
esse arrependimento para vida […] profundamente afetados quando vão à
casa de Deus e, no entanto, poderiam ser pecadores endurecidos.
(SPURGEON, 2012, p.3)

SPURGEON (2012) destaca que existem muitas pessoas que não podem
assistir à casa de Deus sem se alarmarem; pode ser que com frequência tenham
sido induzidas a uma emoção sincera sob a influência do ministro de Deus; mas
apesar de tudo, poderiam ser rejeitados, porque não se arrependeram de seus
pecados e não se converteram a Deus. Mais além, é muito possível que não
somente se espantem diante a Palavra de Deus, mas sim que “se convertem” a
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voltarem-se a Jesus Cristo e, no entanto, não ter nenhum “arrependimento”.


Poderiam chegar a desejar o Evangelho, mas tem que entrar no coração antes de
que possam se arrepender. SPURGEON (2012) enfatiza que esses, podem inclusive
cair de joelhos em oração e podem pedir com lábios aterrados que isso seja de
benção para sua alma; e depois de tudo, poderia ser que não fora um filho de Deus.
“[...] como Agripa disse para Paulo: ―Por pouco me persuades a ser cristão [...]
Agripa estava ‘quase persuadido a ser cristão’, mas não plenamente convencido”.
(SPURGEON, 2012 p.4)

Porém, ainda, é ainda possível que os homens progridam mais alem disso,
e que positivamente se humilhem sob a mão de Deus, mas que sejam
completos estranhos ao arrependimento […] mas depois que escutam o
sermão, regressam para casa e realizam o que eles concebem que é a obra
do arrependimento, quer dizer, renunciam a certos vícios e necessidades,
se vestem de saco e suas lágrimas se derramam muito abundantes por
conta do que fizeram; se lamentam diante de Deus; no entanto, com tudo
isso, seu arrependimento não é senão um arrependimento passageiro, e
voltam outra vez para seus pecados. (SPURGEON, 2012, p.4)

SPURGEON (2012) alerta que a falsa conversão, poderia gerar pessoas


humilhadas diante de Deus por um tempo e, no entanto, poderiam seguir sendo os
escravos de suas transgressões. Têm medo da condenação, mas não têm medo de
pecado; possuem medo do inferno, mas não temem suas iniquidades; têm medo de
ser lançados ao poço, mas não temem endurecer seus corações contra Seus
mandamentos. Para muitos se o inferno fosse extinto, seu arrependimento se
extinguiria; se os terrores que lhe esperam fossem eliminados, pecaria mais
perfidamente do que antes, e sua alma se endureceria e se rebelaria contra seu
soberano.
Na continuidade de seu sermão, SPURGEON (2012) ressalta que o
arrependimento é um ódio ao pecado; consiste em apartar-se do pecado e em uma
determinação, na força de Deus, de abandoná-lo. Não existe nenhum grau eminente
de arrependimento que seja necessário para a salvação.

Vocês sabem que há graus de fé e, no entanto, a mínima fé salva; também,


existem graus de arrependimento, e o mínimo arrependimento, se é sincero,
salvará a alma […] nunca alcançaremos o arrependimento que seja livre de
alguma dureza de coração. O mais sincero penitente que conheçam se
sentirá parcialmente impenitente. (SPURGEON, 2012, p.7)
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O arrependimento para Spurgeon, também é um ato continuo durante a vida


inteira. Crescerá continuamente. Ele acredita que um cristão em seu leito de morte
se arrependerá mais amargamente do que jamais fez. Arrepender-se é algo que se
fará durante toda a vida. “Pecar e arrepender-se, pecar e arrepender-se, resume a
vida de um cristão”.
Para SPURGEON (2012), ninguém se arrepende do pecado sem sentir
algum tipo de tristeza por sua vez. Pode ser mais ou menos intensa, de acordo com
a maneira em que Deus lhes chama, e a sua prévia maneira de vida; porem deve
existir alguma tristeza. Não nos importa quando chega, mas em algum momento ou
outro deve chegar, ou não seria o arrependimento de um cristão. Ninguém pode vir a
Cristo e conhecer Seu perdão sem sentir que o pecado é uma coisa odiosa, pois
levou Cristo à morte.
Nem sempre o verdadeiro arrependimento vem com as lágrimas,
SPURGEON (2012), ainda que as lágrimas forneçam muitas vezes evidências de
contrição, podem ter “arrependimento para vida” sem elas. O que deve existir uma
dor real. Se a oração não é vocal, deve ser secreta. Para mostrar o arrependimento,
ainda que seja mínimo, deve haver um gemido; ainda que não existam palavras, e
deve haver pelo menos um suspiro, ainda que não existam lagrimas. Nesse
arrependimento deve conter não somente dor, mas deve ter algo prático: deve ser
um arrependimento prático.
Muitas pessoas, segundo SPURGEON (2012), sentem-se entristecidas e
muito penitentes por seus pecados passados. Elas lamentam profundamente terem
vivido no pecado, logo vão para casa, e quando chega a uma hora da tarde do
domingo seguinte as encontram nos mesmos pecados outra vez. E, no entanto,
dizem-se que se arrependeram.

Apostaria a reputação que eu poderia ter nas coisas espirituais afirmando


que um homem não pode, sob a influência do Espírito Santo de Deus,
contemplar a cruz de Cristo sem um coração quebrantado. Se não fora
assim, meu coração seria diferente do de todos os demais. Não conheci
jamais a ninguém que houvesse refletido, e olhado para cruz, que não
tivesse descoberto que a cruz gerou arrependimento e gerou fé.
(SPURGEON, 2012, p.13)

O arrependimento é o dom de Deus. É um dos favores espirituais que


asseguram a vida eterna. É uma maravilha da graça divina que não somente
providencie o caminho de salvação, que não somente convide aos homens a
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receberem a graça, mas sim que positivamente faça que os homens estejam
dispostos a serem salvos. Não faz isso por meio da força, mas sim usa de uma doce
persuasão espiritual. O Espírito Santo faz então a Palavra de Deus penetrar nas
consciências de Seus filhos de uma maneira tão bendita, que não podem se recusar
mais a amar a Jesus.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Categoricamente, os teólogos citados acreditam que a conversão e


regeneração gera uma mudança na vida do indivíduo ao ponto de ser notório sua
transformação. Embora sua real e primária aplicação seja subjetiva, as evidências
desses feitos estão relacionadas aos aspectos práticos da vida. O homem é mudado
interiormente e em consequência suas atitudes transparecem esse feito. O contrário
disso não se encontra nas verdades reveladas na Bíblia, e muito menos nos
comentários teológicos. A compreensão do significado de regeneração e conversão,
a luz da Bíblia, não tem sido sólida por boa parte dos crentes e líderes que
acreditam que apenas dizer “sim”, como regra, ao belo sermão tem sido suficiente
para a regeneração do homem, ao ponto de deixa-lo descansar nessa certeza,
batizando-o, transferindo cargos eclesiásticos sem, muitas vezes, perceber as
evidências dessa verdadeira transformação.
Deus é o autor do novo nascimento. Quando Deus opera a regeneração no
homem, ele entende sua necessidade de voltar-se pra Deus. Esse voltar, só pode
acontecer, a partir do momento em que recebe o discernimento e poder de Deus
para fazê-lo, pois é Ele quem muda a disposição moral dominante da alma do
indivíduo, tornando-o semelhante a Cristo. A partir disso, o indivíduo regenerado se
deleita na lei de Deus. Sua vida é então transformada internamente e externamente.
Ele passa a odiar o pecado. Ele passa a entender que suas vontades entram em
conflito com a vontade de Deus, e ele deve então, na conversão, abraçar a vontade
Daquele que o criou. Essas verdades precisam ser destacadas na vida do líder
eclesiástico. Não diferente das ovelhas, o pastor deve compreender o que Deus fez
em sua vida, e zelar por essa mudança, para que àqueles que o assistem, percebam
o resultado da nova vida dada por Cristo aos seus.
Muitos concílios de consagração ministerial, os indivíduos são submetidos a
teste na tentativa de se descobrir a sua capacidade de refutar os hereges sobre
minúsculas questões teológicas, ao passo que qualquer indagação raramente é feita
a respeito da piedade pessoal e doméstica, fatores esses que o apostolo Paulo
colocava em suas epistolas como requisitos ministeriais (I Tes 1:4-5, 2: 10-13, Tt 1:6,
2:7, I Tm 3:1, 4:16).
Vale ressaltar que, com toda clareza, a conversão e regeneração é essencial
para vida do homem, e essa verdade precisa anunciada. Os dias de hoje tem se
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marcado por pregações aguadas, as quais levam o indivíduo mais a exaltação, e


pouco reconhecimento de sua posição de pecador, ou de vergonha ao olhar-se para
seu estado pecaminoso.
Será, então, que o evangelho moderno, de “aceitar a Jesus”, tem sido
simplesmente o resultado rarefeito da má vontade ou disposição para se pregar a
necessidade do arrependimento? Será que apenas a superficialidade dos apelos de
hoje, tais como: “apenas creia”, ou, “tudo que você tem a fazer é pedir que Jesus
entre no seu coração”, nos minutos finais dos cultos e pregações são suficientes
para o indivíduo, morto espiritualmente, compreender a verdade do evangelho de tal
forma que ele receba a disposição verdadeira para abnegar de sua vida e então
viver a vida de Cristo? A obra da conversão e regeneração, realizada por Deus no
homem, deve ser enfatizada nas pregações, de uma forma que o receptor
compreenda que essa verdade é fundamental para que haja salvação, sem ela,
qualquer esforço de auto-regeneração é inútil, bem como, a conversão sem
conhecimento real dela, e o que ela implica na vida do ser humano é, no mínimo,
auto-enganosa. Essas verdades não podem se acanhar diante das mensagens
pregadas nos dias de hoje por líderes religiosos, que tem como responsabilidade
ensinar as verdades reveladas na Bíblia de forma consistente, não com objetivo de
agradar, mas fortalecer a fé salvadora.
As pregações deveriam tomar essas responsabilidades, visto que o indivíduo
sem a consciência e compreensão do pecado, ao que se refere a Deus, talvez não
perceba o quão devastador ele é. Ou então, se ignorado o papel de Deus na vida
do homem para a redenção, o indivíduo pode ser levado a acreditar que a decisão
da escolha é exclusivamente dele, sem precisar de alguma ação divina para que
haja sua restauração e salvação.
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REFERÊNCIAS

BAVINCK H. Teologia Sistemática. Fundamentos Teológicos da Fé Cristã. São


Paulo: SOCEP, 2001

BERKHOF, L. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1990.

CULVER. R. Ducan. Teologia Sistemática: bíblica e histórica. São Paulo: Shedd


Publicações, 2012.

GEISLER, N. Teologia Sistemática. Introdução à Teologia: A Bíblia Deus A


Criação. Rio de Janeiro: CPAD, 2010

MARTIN, N. Albert O Que Há De Errado Com A Pregação De Hoje? São Paulo:


Editora FIEL, 1991

SEVERA. Z. Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba: A.D.Santos Editora,


2014.

SPURGEON, C. H. Terrível Convicção – Gloriosa Conversão (Sermão Nº 45),


2012. Disponível em: <www.spurgeon.com.mx/sermon44.html>. Acesso em
09/07/2016

SPURGEON, C. H. Arrependimento para Vida (Sermão Nº 44), 2012.


Disponível em: www.projetospurgeon.com.br/2012/11/arrependimento-para-vida>.
Acesso em: 16/07/2016

STOTT, J. A cruz de Cristo - São Paulo : Editora Vida, 2006

STOTT, J. Evangelicalismo Intelectual, Social e Cristocêntrico - Revista Theos.


Campinas: 9a Edição, V.8 – No 02 – dezembro de 2013. ISSN: 1980-0215.

STRONG, A. Hopkins. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003.

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