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Brandão, Higor Machado (1); Dordenoni, Daniele (2); Ceotto_Sobrinho, Bruno (3)
(1) Estudante de Engenharia Civil, Universidade Vila Velha
(2) Engenheira Civil, Vertiko – Engenharia Estrutural
(3) Professor Mestre, Curso de Engenharia Civil da Universidade Vila Velha
Rua Rui Barbosa, 17. Planalto. Vila Velha/ES. CEP 29118-350.
Resumo
Durante muitos anos, devido à falta de recursos computacionais, o cálculo estrutural dos pavimentos de
edifícios em concreto armado foi realizado de maneira simplificada, por meio de tabelas, considerando-se as
lajes como elementos isolados e apoiadas em vigas rígidas. Atualmente, mesmo com a disponibilidade de
programas comerciais capazes de realizar análises e cálculos de forma rápida e refinada, a NBR 6118 (2014)
ainda admite o emprego de métodos de cálculos simplificados. O presente trabalho tem o objetivo de
apresentar um estudo comparativo sobre o dimensionamento de lajes maciças de um pavimento em concreto
armado com base em três métodos distintos, a saber: os métodos simplificados de Czerny (MC) e de Marcus
(MM), que consideram as lajes como elementos isolados, e a Analogia de Grelha (AG), que permite reproduzir
o comportamento estrutural do pavimento inteiro de maneira mais próxima da realidade. Para alcançar esse
propósito, foi desenvolvido um estudo de caso a partir do projeto arquitetônico de um edifício residencial em
concreto armado, constituído de cinco pavimentos e de lajes retangulares maciças. Os resultados obtidos
foram comparados a fim de serem verificadas as diferenças entre os valores dos momentos fletores máximos
positivos e negativos obtidos pelos três métodos mencionados. No trabalho em tela, foram adotados os
mesmos parâmetros de cálculo para os três métodos empregados e foi utilizado o Software CAD/TQS como
ferramenta de apoio para a análise pela AG. Por fim, foi avaliado se, em prédios calculados por métodos
simplificados, que apresentam áreas de aço inferiores àquelas fornecidas pela AG, existe uma maior
tendência para a ocorrência de manifestações patológicas estruturais quando considerados outros fatores
adversos.
Palavras-Chave: Cálculo de Lajes; Método Czerny; Método de Marcus; Analogia de Grelhas.
Abstract
For many years, due to lack of computer resources, the structural calculation of reinforced concrete buildings
floors was performed by simplified way, through tables and considering the slabs as isolated elements and
supported by rigid beams. Currently, even with the availability of commercial calculation programs able to
perform analysis and fast calculations with great refinement, the NBR 6118 (2014) still allows the use of
simplified calculation methods. The present article aims to present a comparative study on the design of floor
slabs in reinforced concrete with the use of three distinct methods: the simplified method of Czerny (MC), the
simplified method of Marcus (MM), and the Grillage Analogy method (GAM), that recreates the structural
behavior of the pavement closer to reality. For this purpose, a case study will be developed from an
architectural design of a residential building in reinforced concrete having five floors and massive rectangular
slabs. Thus, the final results will be compared, in order to verify the differences between the positive and
negative maximum values of bending moments reached by the three methods mentioned. In this project, the
same calculation parameters will be selected for the three methods and as a support tool for the analysis of
the Grid Analogy method, the CAD/TQS software will be used. In conclusion, it is intended to evaluate if
buildings calculated by simplified methods, which have lower steel areas than those provided by the Grillage
Analogy Method, have a greater tendency for occurrence of structural pathological manifestations when other
adverse factors are considered.
Keywords: Slab Calculation; Czerny method; Marcus method; Grillage Analysis; Finite Element Method.
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ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018
1 Introdução
No Brasil, o processo de transição entre a utilização de tabelas para o cálculo de lajes de
edifícios até a efetiva utilização de programas e softwares comerciais para o cálculo dessas
estruturas foi relativamente demorado. Embora no início dos anos 1990 já existissem
softwares nacionais para o cálculo de estruturas em concreto armado, a grande maioria dos
projetistas ainda calculava as estruturas utilizando processos simplificados de cálculo, os
quais, muitas vezes, eram realizados por meio de calculadoras científicas programáveis,
tais como a Texas TI-59 e as da família HP. Nessa época, como poucos programas
possuíam interface gráfica, os modelos eram gerados por meio de arquivos produzidos com
a digitação de dados. FORTES (2009) relata que, em 1994, os processos de cálculo dos
projetistas ainda eram bem tradicionais, visto que apenas uma pequena parcela dos
escritórios de cálculo estava preparada para modelar pavimentos por grelha ou por
elementos finitos. Dessa forma, a transição do processo do cálculo tradicional para o cálculo
baseado no modelo de pórtico espacial e de pavimentos em grelha, ou modelagem em
Elementos Finitos, não ocorreu de imediato. Em verdade, essa transição se prolongou até
o início dos anos 2000, quando uma nova geração de projetistas se adequou ao uso dos
novos softwares de cálculo e aos novos paradigmas normativos que entraram em vigor com
a NBR 6118 (2014). Observa-se, assim, que, na sociedade brasileira, há,
aproximadamente, 15 anos, grande parte dos edifícios ainda eram calculados de maneira
simplificada, considerando-se as lajes isoladas e apoiadas em vigas rígidas. BANKI (2013)
comenta que, nos casos de pavimentos formados por lajes quadradas ou retangulares, com
dimensões não muito diferentes entre si e com vigas de apoio suficientemente rígidas, o
procedimento antigo, ou simplificado, não apresenta resultados muito diferentes daqueles
obtidos com a análise do pavimento inteiro por meio da Analogia de Grelha.
É importante enfatizar, contudo, que essa consideração necessita de alguns cuidados
adicionais para ser adotada, pois há projetos que apresentam uma grande discrepância nos
esforços obtidos ao se considerar a laje apoiada sobre vigas supostamente indeformáveis,
calculadas com o uso de tabelas, ou sobre vigas deformáveis. Conforme COL DEBELLA
(2015), tais simplificações podem produzir erros significativos, que chegam a superar a
capacidade de redistribuição de esforços da estrutura.
2 Referencial Teórico
2.1 Métodos de análise estrutural para lajes
As lajes estão sujeitas, de maneira geral, tanto a ações normais quanto a ações horizontais
em seu plano, o que faz com que sejam projetadas para suportar e promover a distribuição
dos esforços oriundos dessas ações aos seus apoios e dos demais elementos de
contraventamento da edificação. O cálculo dos esforços solicitantes nas lajes é feito,
normalmente, por meio de dois grupos de métodos: os métodos que se baseiam na teoria
da plasticidade e consideram os mecanismos de ruptura da laje, considerando o material
com comportamento rígido-plástico perfeito; e os métodos clássicos, que se fundamentam
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ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018
na teoria da elasticidade, supondo o material homogêneo, isotrópico e de comportamento
linear (MONTOYA; MESEGUER; CABRÉ, 2000, p. 539).
onde:
ω = função que representa os deslocamentos verticais da placa;
p = carregamento na placa;
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ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018
D = rigidez à flexão da placa, que é dada pela equação 2.
Eh3
D= (Equação 2)
12(1−ʋ2 )
E = módulo de elasticidade do concreto;
h = espessura da placa;
ʋ = coeficiente de Poisson do concreto.
Cumpre pontuar que a solução algébrica exata para a equação fundamental das placas
delgadas se limita à análise de casos específicos. Para casos mais gerais de carregamento
e de condições de contorno, as soluções podem ser obtidas por meio das séries de Fourier,
que apresentam duas famílias de solução: as equações de Navier e as de Lévy (ARAÚJO,
2014).
Diversos autores desenvolveram tabelas que permitem o cálculo simplificado dos
momentos fletores e de flechas para casos particulares de carregamento e de condições
de apoio de lajes isoladas. Os casos mais gerais abrangem, além das lajes retangulares,
as triangulares, as circulares, as apoiadas em pilares, as com bordas livres, bem como os
carregamentos uniforme e triangular (BASTOS, 2015).
Atualmente, a solução da equação diferencial das placas delgadas é realizada por meio de
processos numéricos, tais como o Método dos Elementos Finitos ou o Método da Analogia
de Grelha.
3 Estudo de caso
O presente trabalho objetiva realizar um estudo comparativo entre os momentos fletores
característicos, positivos e negativos, obtidos por meio de três métodos de cálculo distintos,
para as lajes do pavimento tipo de um edifício residencial em concreto armado.
A partir da definição do pavimento de formas do pavimento tipo, foram calculados os
esforços solicitantes nas lajes através dos métodos simplificados de Czerny e de Marcus,
que consideram as lajes como elementos isolados sobre apoios rígidos; e da Analogia de
Grelha, que permite reproduzir o comportamento estrutural do pavimento inteiro de maneira
mais próxima da realidade.
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De forma simplificada, para o cálculo das lajes maciças retangulares, a convenção de
vinculação será feita com diferentes estilos de linhas, como pode ser visto na figura 1.
Em função das várias combinações possíveis de vínculos nas quatro bordas das lajes
retangulares, as lajes recebem números que diferenciam as combinações de vínculos nas
bordas, como indicado na figura 2.
𝑝𝑙𝑥²
𝑀𝑦 = (Equação 4)
𝑚𝑦
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𝑝𝑙𝑥²
𝑋𝑥 = (Equação 5)
𝑛𝑥
𝑝𝑙𝑥²
𝑋𝑦 = (Equação 6)
𝑛𝑦
Sendo:
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3.5 Ações atuantes nas lajes e parâmetros de projeto
Para a obtenção do carregamento total nas lajes (p = gtot + q), é preciso que sejam
consideradas todas as ações atuantes sobre as mesmas, tais como o peso próprio, o
revestimento do lado inferior da laje, o contrapiso, o piso, as paredes, as ações variáveis e
toda ação que porventura provoque solicitações nas lajes (cf. Tabela 1).
No estudo em tela, foram considerados os seguintes parâmetros de projeto:
• espessura média do contrapiso com 5 cm e peso específico da argamassa
(arg,contrapiso) de 21 kN/m³;
• espessura média do reboco da face inferior das lajes com 1,5 cm e peso específico
da argamassa (arg,reboco) de 19 kN/m³;
• piso cerâmico com peso de 0,15 kN/m² em toda a área útil do apartamento;
• parede de bloco cerâmico com espessura de 9 cm x 19 cm x 19 cm, com peso
específico (alv) de 15 kN/m³;
• paredes com espessura final de 15 cm e altura de 2,94 m;
• lajes em balanço e regiões das áreas de serviço com (q = 2,0 kN/m²) e demais lajes
com (q = 1,5 kN/m²);
• concreto C30, com brita 1 de granito, e aços CA-50 e CA-60;
• todas as vigas com largura de 12 cm;
• classe IIl de agressividade ambiental;
• coeficientes de ponderação c = f = 1,4 ; s = 1,15.
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4 Análise comparativa entre momentos fletores
Com a finalidade de realizar uma comparação entre os valores dos momentos fletores
característicos fornecidos pela análise estrutural do pavimento, foram elaborados os
gráficos 1, 2, 3 e 4, nos quais são apresentados os momentos fletores máximos, positivos
e negativos, obtidos por meio de três métodos de cálculo. Nesses gráficos, os momentos
fletores positivos e negativos referentes aos métodos de Czerny e Marcus já se encontram
com os valores compatibilizados.
2500,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
L3=L10 L4=L9 L5=L8 L6 L7 L12=L18 L13=L17 L14=L16 L15
Grelhas 735,8 735,8 1059,5 676,9 676,9 2315,2 1520,6 735,8 1000,6
Vigas Rígidas (12x400cm) 578,6 460,9 1147,4 294,2 264,8 1922,1 1412,2 735,5 1078,7
Czerny 373,0 275,1 846,6 173,9 165,4 1306,1 1342,5 844,6 819,6
Marcus 326,1 488,0 797,6 785,3 150,1 1074,7 1178,4 735,0 726,2
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
L3=L10 L4=L9 L5=L8 L6 L7 L12=L18 L13=L17 L14=L16 L15
Grelhas 833,9 1030,1 1147,8 137,3 196,1 1962,0 902,2 696,5 873,1
Vigas Rígidas (12x400cm) 863,0 1019,9 1137,6 98,1 107,9 1961,3 1010,1 686,5 872,8
Czerny 590,7 800,2 575,3 232,1 196,2 2188,6 724,0 579,5 606,4
Marcus 576,8 267,4 555,0 196,3 152,0 1823,9 604,7 491,3 375,7
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Momento negativo na direção X
3500,0
Xx (KNcm/m)
3000,0
2500,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
L3-L4 L4-L5 L12-L13 L13-L14 L14-L15
Grelhas 1657,3 2030,0 3304,8 1853,4 1500,4
Vigas Rígidas(12x400cm) 1196,4 1892,7 3236,2 1941,7 1775,0
Czerny 987,8 1326,7 1988,7 2045,3 1283,8
Marcus 1072,7 1421,2 1829,8 1867,0 1157,4
3000,0
2500,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
L3-L12 L4-L13 L5-L14 L12-L20 L13-L20 L14-L20 L15-L20
Grelhas 2030,0 1539,6 1726,0 1578,9 1608,3 1549,4 1765,2
Vigas Rígidas(12x400cm) 2471,3 2059,4 1922,1 3236,2 1951,5 1745,6 2010,4
Czerny 882,3 1723,9 1498,7 1623,1 1623,1 1623,1 1623,1
Marcus 856,2 1113,9 1212,7 1623,1 1623,1 1623,1 1623,1
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Tabela 2 – Razão entre cada momento positivo e o corresponde momento obtido pela Analogia de Grelha.
Laje L3=L10 L4=L9 L5=L8 L6 L7 L12=L18 L13=L17 L14=L16 L15
Czerny 0,51 0,37 0,80 0,26 0,24 0,56 0,88 1,15 0,82
Mx
Marcus 0,44 0,66 0,75 1,16 0,22 0,46 0,78 1,00 0,73
Czerny 0,71 0,78 0,50 1,69 1,00 1,12 0,80 0,83 0,69
My
Marcus 0,69 0,26 0,48 1,43 0,77 0,93 0,67 0,71 0,43
Tabela 3 – Razão entre cada momento negativo na direção X e o corresponde momento obtido pela Analogia de Grelha.
L3-L4 L4-L5 L12-L13 L13-L14
Laje L14-L15
L9-L10 L8-L9 L17-L18 L16-L17
Czerny 0,60 0,65 0,60 1,10 0,86
Xx
Marcus 0,65 0,70 0,55 1,01 0,77
Tabela 4 – Razão entre cada momento negativo na direção Y e o corresponde momento obtido pela Analogia de Grelha.
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5 Conclusões
O presente trabalho buscou verificar as diferenças entre os valores dos momentos fletores
para lajes maciças de concreto armado obtidos por meio de métodos manuais, com as
tabelas de Czerny e Marcus, e do Método da Analogia de Grelha, com o uso do software
TQS.
Analisando os resultados, constatou-se que os métodos manuais divergem muito pouco
entre si, porém, em alguns casos, podem diferir de forma significativa dos resultados
obtidos pela teoria das grelhas. Essas diferenças ocorrem, principalmente, porque o Método
da Analogia de Grelha calcula o pavimento de concreto armado como um todo, de forma
integrada, apresentando uma análise estrutural mais próxima da realidade, visto que leva
em consideração a contribuição simultânea de todos os elementos que compõem o
pavimento.
Tendo em vista essa constatação, conclui-se que os prédios calculados por métodos
manuais simplificados, ainda que em conformidade com as normas vigentes, podem ter
lajes dimensionados com base em resultados inferiores aos reais, desfavoráveis à
segurança. À vista disso, tais prédios podem apresentar deformações, trincas e fissuras
não esperadas, oriundas da diferença entre os métodos manuais (cálculo simplificado) e o
modelo baseado na teoria das grelhas (mais próxima da realidade).
Apesar disso, deve-se ressaltar que, como as lajes trabalham em regime linear elástico,
com carga média de serviço inferior a 65% da sua carga característica atuante, nos casos
desfavoráveis à segurança, as diferenças apresentadas entre os métodos simplificados e
a teoria das grelhas não terão consequências práticas, pois as lajes dimensionadas com
valores inferiores aos da teoria das grelhas, normalmente, estarão sendo submetidas a
esforços reais inferiores aos utilizados no dimensionamento.
6 Referências
ARAÚJO, J. M. Curso de concreto armado. Rio Grande, Dunas, 2014.
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COL DEBELLA, L. B. Estudo da analogia de grelha no cálculo de lajes
maciças de concreto armado. Trabalho de Conclusão de Curso da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, Pato Branco, 2015.
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