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Elaboração: Heliane Maria Bergo

Isolda de F. Gusmão de Oliveira


Avaliação e revisão: Magda Maria de F. Querino
Desenho educacional: Heliane Maria Bergo
Editoração eletrônica: Rui Carlos de Oliveira

DOCUMENTO DE PROPRIEDADE DO CETEB


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Nos termos da legislação sobre direitos autorais, é proibida a reprodução total ou parcial deste
documento, por qualquer forma ou meio – eletrônico ou mecânico, inclusive por processos
xerográficos de fotocópia e de gravação – sem a permissão expressa e por escrito do CETEB.

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Sumário

– Como é o Caderno de Estudos e Pesquisa – CEPes ................................................................................................................................... 04


– Outros recursos ...................................................................................................................................................................................... 05
– O que você vai ver neste curso ................................................................................................................................................................. 06
– Mapa conceitual ..................................................................................................................................................................................... 07
– Nossa intenção educativa ........................................................................................................................................................................ 08
– Provocação: A escola dos meus sonhos .................................................................................................................................................... 09
– Unidade: APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS ..................................................................................................................................... 11
• Teorias da Aprendizagem do Adultos ..................................................................................................................................................... 11
– Unidade: MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO ................................................................................................................................................... 18
• Método na Alfabetização – conceito, classificação, vantagens e desvantagens da sua adoção ................................................................... 18
• Métodos sintéticos ............................................................................................................................................................................. 23
• Métodos analíticos ............................................................................................................................................................................. 29
– Unidade: ALFABETIZAÇÃO E CONSTRUTIVISMO .......................................................................................................................................... 43
• Reflexões a respeito da prática construtivista ........................................................................................................................................ 43
– Unidade: PLANEJAMENTO ........................................................................................................................................................................ 54
• O planejamento: conceito, componentes, finalidades e características essenciais .................................................................................... 54
• Intrumentos do planejamento do ensino ............................................................................................................................................... 65
– Unidade: COMPONENTES CURRICULARES ................................................................................................................................................. 71
• Língua Portuguesa .............................................................................................................................................................................. 71
• Matemática ....................................................................................................................................................................................... 81
• Natureza e Sociedade ......................................................................................................................................................................... 93
• Artes Visuais, Música e Movimento ....................................................................................................................................................... 98
• Temas Transversais ............................................................................................................................................................................. 104

A prática da alfabetização de jovens e adultos 3


Sumário
Como é o Caderno de Estudos e Pesquisa – CEPes O que você pensa disto?
Questões colocadas no início de cada tema
para estimulá-lo a pensar a respeito do assunto
O que você vai ver neste curso em estudo. Registre aqui a sua visão, sem se
Apresentação da ementa das Unidades. preocupar com o conteúdo do texto. O
importante é verificar seus conhecimentos,
Mapa conceitual experiências e sentimentos prévios. Não
consulte o texto para respondê-las.
Expressão gráfica do que você vai ver no Curso. Observe que o mapa é
formado por conceitos ligados por setas. Ele foi preparado para possibilitar-
lhe visualizar as relações entre os conceitos. Textos básicos
Você poderá realizar o seu estudo obedecendo à seqüência em que os Textos que desenvolvem os temas.
temas aparecem neste Caderno de Estudo e Pesquisa – CEPes, ou, se
preferir, poderá definir a partir do mapa a ordem em que pretende estudá- Janelas
los. Veja que os conceitos mais inclusivos – que constituem as unidades
– vêm em destaque e o principal está localizado no centro. Novos textos, exemplos e sugestões
para enriquecer, concretizar,
Intenção educativa apresentar novas visões sobre o tema
abordado no texto básico.
Competências e habilidades pretendidas neste curso.
Sintetizando e complementando nossas informações
Para pesquisar
Espaço para você sintetizar os textos, verificando sua aprendizagem, e
Questões propostas para estimular você a analisar de enriquecê-los com a sua contribuição pessoal.
forma mais profunda a sua realidade e buscar novas
soluções. Para (não) finalizar
Texto no final do Caderno com a intenção de instigá-lo a prosseguir na
Provocação reflexão.
Texto colocado no início do Curso para provocar você
Bibliografia
a refletir sobre sua prática e seus sentimentos. É
importante que você reflita sobre as questões Bibliografia consultada para a elaboração do curso e que você poderá
propostas. Elas são o ponto de partida de nosso consultar também.
trabalho.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Como é Caderno de Estudos e Pesquisa – CEPes 4
Outros recursos Tutoria
Serviço de orientação/esclarecimento de dúvidas.
Orientação para o cursista Você poderá solicitar apoio da tutoria para esclarecer dúvidas e discutir
suas idéias.
Manual que orienta o seu estudo, apresentando técnicas
Orientação para o cursista

telefax: (61) 381-8110


ESCOLA
para facilitá-lo.
telefone: (61) 442-8243 443-8399
ABERTA
É importante ler o Manual com cuidado antes de iniciar o e-mail: aberta@ceteb.com.br
estudo.
CETEB • Centro de Ensino Tecnológico de Brasília SGAS – Quadra 710/910 – Conjunto C/D
Centro Clínico Via Brasil, Sala 247
Memorial CEP 70390-108 – Brasília-DF – Brasil

Instrumento de avaliação preparado para possibilitar o registro de sua


caminhada no curso: suas reflexões, suas dúvidas, suas soluções, seus
feedbacks etc.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Outros recursos 5


O que você vai ver neste curso

Você encontrará neste curso as seguintes Unidades:


Caderno 1
Unidade – Aprendizagem de Jovens e Adultos – Teorias da Aprendizagem do Adulto e implicações
na prática: teorias baseadas em características do adulto; teorias baseadas na situação
de vida do adulto e teorias baseadas na mudança de consciência.
Unidade – Métodos de Alfabetização – Método de Alfabetização: conceito, classificação, vantagens
e desvantagens da sua adoção; métodos síntéticos: alfabético e silábico; métodos
analíticos: palavração, sentenciação e historiado.
Unidade – Alfabetização e construtivismo – Reflexões a respeito da prática construtivista: o
preparo para a Alfabetização, mediação pedagógica, trabalho cooperativo, ambientação
psicológica e aprendizagem significativa.
Unidade – Planejamento – O planejamento: conceito, finalidades e características essenciais;
instrumentos do planejamento do ensino: plano de curso, plano de unidade, plano de
aula; projeto.
Unidade – Componentes curriculares – Língua portuguesa: a linguagem oral, a linguagem escrita;
Matemática; a ação mediadora do professor, competências e habilidades, a comunicação
na aprendizagem da Matemática, resolução de problemas; tipos de problemas, cálculo
mental, a abordagem lúdica da Matemática; Natureza e sociedade: habilidades e
competências da área; Artes Visuais, Música e Movimento: eixos norteadores e conteúdos,
atividades sugeridas; Temas Transversais.
Caderno 2
Unidade – Estratégias – Apresentam-se as seguintes estratégias para o trabalho de Alfabetização:
Histórias; Jogos e Brincadeiras; Recuros construídos por professores e alunos e Recursos
Tecnológicos da Comunicação e informação.
Unidade – Reflexões a respeito da prática da avaliação na Alfabetização – Discutem-se
aspectos importantes a serem considerados pelo professor, com exemplos de atividades
adequadas à avaliação dos componentes curriculares: Linguagem Oral e Escrita,
Matemática, Natureza e Sociedade, Música, Movimento e Artes Visuais.

A prática da alfabetização de jovens e adultos O que você vai ver neste curso 6
Mapa conceitual
Analise os temas abordados neste curso e as relações entre eles.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Mapa conceitual


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Nossa intenção educativa

Pretendemos com este curso propor algumas alternativas para a questão: Como realizar a Alfabetização e
Letramento na Educação de Jovens e Adultos? Nossa proposta é refletir com você a respeito da sua prática,
estimulá-lo a repensá-la.
Esperamos que a reflexão conjunta aumente as nossas competências e nos estimule a buscar sempre novas
alternativas que atendam ao dinamismo do dia-a-dia da sala de aula.
Objetivos do Caderno 1
• Analisar as abordagens teóricas da aprendizagem do adulto.
• Analisar os métodos de Alfabetização, suas vantagens e restrições.
• Refletir a respeito da própria prática de Alfabetização.
• Refletir a respeito de aspectos essenciais da prática construtivista.
• Discutir conceito, componentes, finalidades e características essenciais ao planejamento.
• Analisar os instrumentos do planejamento de ensino, elaborando planos adequados à própria opção
metodológica.
• Conhecer os componentes curriculares estabelecidos para a Alfabetização e as orientações oficiais a respeito
do seu desenvolvimento.
• Refletir sobre a transversalidade no currículo e os temas transversais propostos para a Educação Infantil e o
Ensino Fundamental.
Objetivos do Caderno 2
• Refletir a respeito das finalidades da história na Alfabetização, analisando técnicas de apresentação e de
criação de histórias.
• Reconhecer a importância dos jogos e das brincadeiras na Alfabetização e seu potencial de transformação e
libertação do ser humano.
• Analisar possibilidades de construção de recursos educativos por professores e alunos.
• Analisar possibilidades de uso do televisor, do videocassete e do computador na Educação.
• Refletir a respeito da prática da Avaliação na Alfabetização.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Intenção


Intenção educativa
educativa 8
Provocação

Leia o texto que se segue. Ele tem a finalidade de instigar você, a refletir
sobre a sua prática.

A ESCOLA DOS MEUS SONHOS Para refletir.


Frei Betto

Na escola de meus sonhos, os alunos aprendem a cozinhar, costurar, consertar eletrodomésticos, fazer
Vamos refletir sobre isto?
pequenos reparos de eletricidade e de instalações hidráulicas, conhecer mecânica de automóvel e de
geladeira, e algo de construção civil. Trabalham em horta, marcenaria e oficinas de escultura, desenho, A sua primeira atividade neste curso consiste
em fazer uma reflexão a respeito da escola
pintura e música. Cantam no coro e tocam na orquestra. dos seus sonhos e da sua prática educativa.
Uma semana ao ano integram-se, na cidade, ao trabalho de lixeiros, enfermeiras, carteiros, guardas de Como é a escola dos seus sonhos?
trânsito, policiais, repórteres, feirantes e cozinheiros profissionais. Assim, aprendem como a cidade se Como é a sua escola? Ela está próxima dos
articula por baixo, mergulhando em suas conexões subterrâneas que, à superfície, nos asseguram limpeza seus sonhos?
urbana, socorro de saúde, segurança, informação e alimentação. O que você como professor e a Escola como
um todo buscam?
Não há temas tabus. Todas as situações-limite da vida são tratadas com abertura e profundidade: dor,
perda, falência, parto, morte, enfermidade, sexualidade e espiritualidade. Ali, os alunos aprendem o texto O que precisa ser feito para construir a escola
dos seus sonhos?
dentro do contexto: a Matemática busca exemplos na corrupção dos políticos e nos leilões das privatizações;
o Português, na fala dos apresentadores de TV e nos textos de jornais; a Geografia, nos suplementos de Permita-se um tempo para meditar sobre
estas questões, sem pressa, de forma
turismo e nos conflitos internacionais; a Física, nas corridas da Fórmula 1 e pesquisas do supertelescópio
relaxada.
Hubble; a Química, na qualidade dos cosméticos e na culinária; a História, na violência de policiais a
cidadãos, para mostrar os antecedentes na relação colonizadores x índios, senhores x escravos, Exército x Que tal ouvir uma música suave enquanto
faz sua meditação?
Canudos etc.
Registre suas reflexões no Memorial.
Na escola dos meus sonhos, a interdisciplinaridade permite que os professores de Biologia e de Educação
Física se complementem; a multidisciplinaridade faz com que a história do livro seja estudada a partir da
análise de textos bíblicos; a transdisciplinaridade introduz aulas de meditação e de dança e associa a
História da arte à História das ideologias e das expressões litúrgicas.
Se a escola for laica, o ensino religioso é plural: o rabino fala do judaísmo; o pai-de-santo, do candomblé;
o padre, do catolicismo; o médium, do espiritismo; o pastor, do protestantismo; o guru, do budismo etc. Se

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for católica, há periódicos retiros espirituais e adequação do currículo ao calendário litúrgico da Igreja.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Provocação
Provocação
Na escola dos meus sonhos, os professores são obrigados a fazer periódicos treinamentos e cursos de
capacitação, e só são admitidos se, além da competência, comungam os princípios fundamentais da
proposta pedagógica e didática, porque é uma escola com ideologia, visão de mundo e perfil definido do que
sejam democracia e cidadania. Essa escola não forma consumidores, mas cidadãos.
Ela não briga com a TV, mas leva-a para a sala de aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em
seguida, analisados criticamente. A publicidade do iogurte é debatida: o produto, adquirido; sua química,
analisada e comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as incompatibilidades, denunciadas, bem
como os fatores porventura nocivos à saúde. O programa de auditório de domingo é destrinchado: a
proposta de vida subjacente, a visão de felicidade, a relação animador-platéia, os tabus e preconceitos
reforçados etc. Em suma, não se fecham os olhos à realidade, muda-se a ótica de encará-la.
Há uma integração entre escola, família e sociedade. A política, com P Maiúsculo, é disciplina obrigatória. Para pesquisar 1
As eleições para o grêmio ou diretório estudantil são levadas a sério e, um mês por ano, setores não vitais
da instituição são administrados pelos próprios alunos. Os políticos e candidatos são convidados para
debates e, seus discursos, analisados e comparados às suas práticas. Faça mais uma pausa para reflexão. Desta
vez propomos a você um mergulho mais
Não há provas baseadas no prodígio da memória nem na sorte da múltipla escolha. Como fazia meu velho profundo, em suas memórias da época em
mestre Geraldo França de Lima, professor de História (hoje romancista e membro da Academia Brasileira de que foi alfabetizado. Qual o método utilizado?
Letras), no dia da prova sobre a Independência do Brasil, os alunos traziam para a classe a bibliografia Como você se sentiu? Quais as melhores
pertinente e, dadas as questões, consultavam os textos, aprendendo a pesquisar. lembranças deste período?
Escreva um texto sobre suas memórias.
Não há coincidência entre o calendário gregoriano e o curricular. João pode cursar a 5ª série em seis meses Procure entrevistar outras pessoas a respeito
ou em seis anos, dependendo de sua disponibilidade, aptidão e recursos. do processo de alfabetização: métodos,
recursos, dificuldades e lembranças
É mais importante educar do que instruir; formar pessoas do que profissionais; ensinar a mudar o mundo do agradáveis.
que a ascender à elite. Dentro de uma concepção holística, ali a ecologia vai do meio ambiente aos Registre tudo no Memorial.
cuidados com nossa unidade corpo – espírito, e o enfoque curricular estabelece conexões com o noticiário
da mídia.
Na escola dos meus sonhos, os professores são bem-pagos e não precisam pular de colégio em colégio para
poderem se manter, pois é a escola de uma sociedade em que educação não é privilégio, mas direito
universal, e o acesso a ela, dever obrigatório.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Provocação 10


UNIDADE: Aprendizagem de
Jovens e Adultos

Teorias da Aprendizagem do Adulto O Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos do Rio


Grande do Sul – MOVA/RS
1. Teorias baseadas em características do adulto Liana Borges
O que você pensa disto?
a. Andragogia – Knowles (1990) O Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos – MOVA/RS,
Quais as características da desenvolvido entre maio de 1999 e dezembro de 2002, foi
aprendizagem do adulto? Princípios básicos prioridade máxima do governo democrático e popular do Rio
Grande do Sul.
• O auto-conceito do indivíduo passa da condição de
(...)
dependência para a de auto-estima à medida em que
ele amadurece. Fundamentos políticos e pedagógicos do MOVA/RS

• O adulto acumula experiências variadas que tornam-se Para identificar os fundamentos políticos e pedagógicos do MOVA/
fontes de aprendizagem. RS é imprescindível retomar a gestão da prefeita Luiza Erundina
(1989/1992) e do secretário de Educação Paulo Freire (1989/
• A prontidão do adulto para a aprendizagem está 1991), visto que foi nesse momento que o MOVA/SP surgiu, se
aprofundou na relação com os movimentos organizados da
relacionada às tarefas que desenvolve nos seus diversos
cidade de São Paulo.
papéis sociais.
O MOVA/SP resgatou o trabalho das comunidades nas periferias,
• A aprendizagem do adulto deve ser centrada em preservando a lógica dos movimentos populares e apoiando o
problemas mais do que em conteúdos, pois à medida fórum de entidades durante o processo de elaboração do
em que amadurece ele procura aprendizagens que tenham programa, bem como ao longo da sua implementação. Mas,
além disso, ampliou essas práticas no sentido da construção
aplicação imediata.
de uma política pública em que o Estado cumpriu com o papel
• O adulto age mais em função de fatores internos do que de garantir educação básica para todos e todas.
de fatores externos. Sobre isso, o MOVA/RS viveu um constante dilema, uma vez
que o crescimento da demanda por alfabetização era vertiginoso
Restrições mais comuns. e, por isso mesmo, incompatível com a capacidade financeira
do Estado para ampliar a oferta de Educação de Jovens e Adultos
• Andragogia não se distingue nitidamente da Pedagogia, (EJA) na mesma dimensão. O governo anterior deixou 20% dos
na verdade elas constituem-se em dois pólos de um municípios com EJA em escolas estaduais; fizemos então um
continuum.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Aprendizagem do adulto 11


• A teoria proposta por Knowles é mais de ensino que de
aprendizagem.
• Na prática os professores agem da mesma forma com Continua ...
adultos e crianças.
esforço e, até o final de 2002, conseguimos colocar o Ensino
• Não existe suporte empírico para afirmar que adultos se Fundamental em quase todo o estado.
dão melhor em situações de instrução estruturadas por
Retomando a importância da construção de uma política pública
ele ou pelo professor. de EJA, o mais adequado é que um Movimento de Alfabetização
seja parte da política pública de EJA e, de preferência, que a
b. Características do Adulto Aprendiz – CAL – Cross (1981) coordenação dos trabalhos seja a mesma, para que não se
vivenciem problemas clássicos: a disputa política na Secretaria
Princípios básicos
da Educação e entre o MOVA e a EJA.
• Características pessoais: Desde então, as palavras campanha, programa, erradicação,
chaga e vacina estão superadas pelo termo movimento, por se
– Fisiológicas reportarem a experiências marcadamente assistencialistas, do
tipo Mobral, ou por serem institucionais em demasia,
– Socioculturais
engessando a educação popular num formato de currículo
– Psicológicas excessivamente tradicional.

O conceito de movimento é complementado com o de parceria,


• Características situacionais pois é fundamental definir papéis, assegurando, contudo, que
não se trate de transferência de responsabilidades do poder
– tempo dedicado ao aprendizado
público para a sociedade civil, mas de partilha.
– aprendizagem compulsória ou voluntária. Tanto no MOVA/SP como no MOVA/RS, o financiamento, a
organização e a manutenção da estrutura e a formação político-
Restrições mais comuns. pedagógica ficaram a cargo dos governos.
• As variáveis são descritas de modo vago o autor não Às entidades coube definir as diferentes configurações do
explica que tipo de aprendizagem deriva da conjugação movimento, indo realmente ao encontro dos problemas das
de características pessoais e situacionais. comunidades: localização das turmas, chamamento das
educandas, horário das aulas, escolha das educadoras
• Não há sustentação empírica para uma linha demarcatória populares etc.
clara entre adultos e crianças. O MOVA/RS foi organizado com base nessas premissas, porém,
com uma diferença importante: no Rio Grande do Sul não
encontramos um número significativo de turmas de alfabetização

A prática da alfabetização de jovens e adultos Aprendizagem do adulto 12


2. Teorias baseadas na situação de vida do adulto
a. Teoria da Margem – McClusky – 1963, 1970
Princípios básicos Continua ...
ou de entidades que refletissem sobre a questão do
• A idade adulta é um tempo de crescimento, mudança e analfabetismo, a não ser, como exceção, alguns movimentos
integração, no qual o indivíduo busca equilibrar populares e religiosos de maior envergadura. Esse desafio
quantidade de energia necessária e quantidade de energia acabou se constituindo num avanço em relação ao MOVA/SP e
disponível a outros MOVAs, pois buscamos o MOVA/Porto Alegre, que
também coordenamos em 1997/1998.
• Equilíbrio resulta da razão entre a carga da vida (que
dissipa energia) e o poder de vida, que permite ao indivíduo O MOVA/Porto Alegre conta com dezesseis agentes comunitários
de alfabetização, um para cada região da cidade. Como o
lidar com a carga. estado, obviamente, tem uma área geográfica maior e, por
• A margem pode ser ampliada tanto pela redução da carga conseqüência, uma infinidade de demandas, o MOVA/RS passou
a ter uma animadora popular de alfabetização por município,
quanto pelo aumento do poder, da mesma forma que ela
totalizando 467 lideranças advindas de diversos segmentos
pode ser diminuída pelo aumento da carga ou redução organizados. Essas lideranças desempenharam funções vitais
do poder. para o desencadeamento do MOVA/RS tendo em vista a
construção da cultura de alfabetização que nos propúnhamos a
• O indivíduo for capaz de assegurar uma reserva de margem fomentar como interface da cultura de participação que também
terá condições de enfrentar o inesperado, isto é, terá estava em curso.
capacidade de aprender.
A proposta político-pedagógica do MOVA/RS não se diferencia
Restrições mais comuns. de nenhuma outra, uma vez que os MOVAs em geral optam
pela educação popular com paradigma norteador das relações
• Teoria aplica-se a indivíduos da terceira idade e idosos, que se estabelecem no interior de cada espaço educativo (sala
não abrangendo adultos jovens. de aula, reuniões de estudo) ou até mesmo nas relações entre
o poder público e a sociedade civil.
• Mais que teoria de aprendizagem é um instrumento de
aconselhamento. No que tange ao conceito de alfabetização, também não temos
divergências. Alfabetizamos na perspectiva da ação cultural,
b. Teoria da proficiência – Knox (1980) perspectiva essa amplamente discutida na teoria e no método
Paulo Freire e aqui destacada por meio de três princípios
Princípios básicos fundamentais:

• Dois aspectos tornam a aprendizagem do adulto peculiar: • A leitura do mundo precede a leitura da palavra: o processo
de alfabetização está vinculado às compreensões, ao senso
a centralidade que tem o desempenho na ação e a comum que as educandas possuem acerca das coisas. É o
proximidade entre aprendizagem e ação, extrapolando os

A prática da alfabetização de jovens e adultos


limites da escola.
Aprendizagem do adulto 13
• A proficiência é “a capacidade de desempenhar
satisfatoriamente quando se é dada oportunidade”.
• O desempenho envolve, atitudes, conhecimento e Continua ...
habilidades.
sendo comum o ponto de partida da aprendizagem da língua
• O desempenho do indivíduo pressupõe a existência de escrita e da superação de um dado nível de compreensão
tensão entre a proficiência presente e a desejada. para a construção de outro patamar de entendimento da
realidade.
• Os componentes da teoria são os seguintes: o ambiente
• Ninguém sabe tudo, ninguém ignora tudo: as relações entre
como um todo, as características do presente e do educadoras e educandas pressupõem sempre o diálogo,
passado, o desempenho, a aspiração, o eu., as porque só é possível aprender em comunhão com os outros.
discrepâncias, os ambientes especiais, a atividade de O diálogo em Freire é fraterno, tolerante, crítico e amoroso.
aprendizagem e o papel do professor. • A mudança é possível: o sentido da alfabetização está em
pensá-la como possibilidade, já que não somos objetos da
Restrições mais comuns.
história, mas sujeitos capazes de buscar a mudança ao
• A ênfase no desempenho impede que se verifique quando refletirmos sobre a realidade. Para tanto, as educadoras têm
como tarefa criar condições pedagógicas para que as
a aprendizagem promove o seu aumento. educandas pensem sobre suas condições de vida, façam a
leitura de mundo e reescrevam a história.
• A teoria mistura aprendizagem, ensino e motivação,
tornando impossível separar esses três componentes. Considerando essas dimensões, o almejado não se limita à
aquisição do código escrito; conseqüentemente, o tempo está
c. Teoria do Modelo de Processo de Aprendizagem - Jarvis relacionado a oito, nove ou dez meses de alfabetização.
(1987) Entretanto, se respeitamos os processos individuais, é preciso
considerar a existência de tempos menores e maiores, porque
Princípios básicos o mais importante é não interromper o processo de alfabetização
e garantir, logo à frente, a oferta da educação básica ou de,
• Toda aprendizagem se inicia com a experiência. Mesmo pelos menos, Ensino Fundamental como um dos meios para a
aprendizagens deseducativas podem ser consideradas consolidação das habilidades da leitura e da escrita. Inúmeros
experiências de aprendizagem. são os questionamentos em torno dessa questão, porque muitas
educandas passaram pelo Mobral ou por outras recentes
• Somente as experiências que demandam resposta do campanhas de alfabetização e não guardam boas lembranças,
especialmente sobre as constantes interrupções de seus
indivíduo têm o potencial de produzir aprendizagem.
momentos de aprendizagem.
• Toda aprendizagem assenta-se sobre a inabilidade em Sobre o “método Paulo Freire”, é necessário levara em
lidar com uma situação instintivamente, mecanicamente. consideração a década em que foi organizado e o que havia à

A prática da alfabetização de jovens e adultos Aprendizagem do adulto 14


• De uma experiência podem resultar nove roteiros ou
resposta, que se agrupam em três categorias:
– respostas que não conduzem a aprendizagem - Continua ...
presunção, não consideração e rejeição;
disposição, no caso, a silabação. Como tal metodologia não
– aprendizagem irreflexiva - pré-consciente, prática e mais responde aos achados da lingüística, nem tampouco às
memorização; novas abordagens sobre letramento, o MOVA/RS e os demais
MOVAs assumem basicamente os seguintes referenciais teóricos,
– aprendizagem reflexiva - contemplação, prática reflexiva a saber: a educação popular, o construtivismo sociointeracionista,
e aprendizagem experimental. a psicogênese da língua escrita e os estudos da lingüística e do
letramento.
Restrições mais comuns.
Ainda sobre os fundamentos epistemológicos, destaco o uso
• A Teoria do Modelo não é exclusiva da aprendizagem do do tema gerador e do estudo da realidade como meios de
organizar o planejamento do ensino e da aprendizagem. No
adulto, embora seja o modelo com maior conteúdo de
MOVA/RS e em alguns MOVAs localizei semelhanças do tema
aprendizagem. gerador e do estudo da realidade, visto que partem da escuta
das falas dos educandos, que é seguida da organização dos
3. Teorias baseadas na Mudança de Consciência dados, atividade inerente às educadoras, já que a elas é atribuída
a função de mapear os problemas, as situações-limite, para
a. Teoria da transformação de perspectiva – Merizow (1981)
daí, coletivamente, retirar o tema gerador. Desse diálogo e do
Princípios básicos aprofundamento teórico, surge a visão crítica da realidade, bem
como as possibilidades transformá-la.
• Três áreas de interesse cognitivo: Para concluir a reflexão sobre os fundamentos políticos e
pedagógicos, julgo importante registrar, talvez, a maior polêmica
– Técnica ou instrumental – relacionada com a prática
entre os MOVAs, e também fora deles: os critérios de escolha
– Prática ou dialógica – envolve a interação social das educadoras populares. Antes, sublinho que há um consenso
em torno do critério da afinidade ou do conhecimento que a
– Emancipatória – relacionada com a auto-reflexão educadora deve ter em relação à comunidade em que vai atuar;
logo, são as entidades, sem ou com o apoio das secretarias,
• Aprendizagem emancipatória é aquela que produz que indicam quem será essa pessoa.
transformação na perspectiva. A polêmica reside na escolaridade exigida da educadora, uma
vez que os MOVAs apresentam critérios variáveis: ter o Ensino
• A capacidade de refletir criticamente sobre a própria vida Fundamental completo ou o Ensino Médio, ou até mesmo ser
pode ser a distinção mais significativa da aprendizagem professora da EJA.
do adulto.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Aprendizagem do adulto 15


• A transformação de perspectiva percorre a seguinte
trajetória: dilema desorientador – auto-exame de crenças
– modificação da estrutura de crenças.
Continua ...
• Educadores de adultos têm a responsabilidade de ajudar
seus alunos a explicar seus pressupostos e crenças, a Em razão de manifestações de pesquisadores, quer me
explorá-los e a agir com base neles. posicionar assinalando que a questão central nos MOVAs não
é essa, mas o vínculo prévio estabelecido com as educandas
• Educadores de adultos devem promover neles o senso e, sobretudo, o investimento na formação político-pedagógica
de auto-direção. permanente, não só dessas, mas de todas as protagonistas do
MOVA.
Restrições mais comuns. Não concordo com a idéia de que a educadora que é professora
será, a priori, mais bem sucedida, pois se assim fosse não
• Treoria tem aplicação limitada (Ekpenyong) teríamos uma produção em série de novos “analfabetos” (aqui
• Trata-se de um conjunto de prescrição e não de uma não vai uma crítica às professoras, mas aos sistemas
educacionais que pouco ou nada investem na formação
teoria (Griffin) continuada, em especial em EJA).
• A orientação tomada por Mezirow rumo à autonomia No MOVA/RS sempre predominaram educadoras cursando (ou
reflete os valores da cultura dominante: masculina, concluintes) o ensino médio ou o normal, ou ainda o ensino
branca e de classe média (Clark & Wilson) superior. Porém, após pesquisa realizada, confirmamos que é
a reflexa constante sobre a prática que garante a permanência
• Mezirow não leva em conta o contexto social e as da turma e o sucesso da alfabetização. Quase sempre
mudanças sociais oriundas da mudança de perspectiva. fracassaram as educadoras que não freqüentavam as reuniões
ou as que não participavam da vida da comunidade.
b. Teoria da Conscientização – Paulo Freire (1970) Como afirmei que foi a formação político-pedagógica
permanente que sustentou a pedagogia do MOVA/RS, quero
Princípios básicos
registrar que é insuficiente uma formação que se paute por um
• Ênfase na solução de problemas, em contraste com o curso inicial, seja ele de 20, 30 ou 40 horas, porque é o processo
de ação-reflexão-ação que reorganiza a práxis da educadora
armazenamento de informações (instrução bancária) ou de qualquer outro sujeito que faz parte do Movimento.
• Professor e aluno são co-investigadores da realidade. O Para tanto, definimos que, para cada seis educadoras, era
processo se dá por meio do diálogo no qual se busca necessária, uma apoiadora pedagógica, esta sim com formação
humanizar e libertar o aluno. mínima em Normal ou cursando o Ensino Superior, também
indicada pela entidade e com vínculo comunitário.
• Temas gerativos são temas propostos pelo aluno, os quais
constituem-se conteúdo da instrução.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Aprendizagem do adulto 16


• O objetivo final é a libertação, a qual se manifesta na
praxis: “a ação e reflexão das pessoas sobre o mundo
que as cerca, com vistas à sua mudança”.
Continua ...
Restrições mais comuns.
A educadora dispunha de 12 horas semanais, sendo nove para a
• A conscientização não é suficiente para abranger a sala de aula e três para se encontrar com a apoiadora e com as
gama de experiências de aprendizagem do adulto. outras cinco educadoras. A apoiadora, por sua vez, divida as 12
horas semanais entre as seis educadoras, preservando três horas
• Esvaziada do seu conteúdo político, a conscientização para a reunião semanal.
eqüivale a um processo idêntico ao de Merizow, no
A experiência aqui realizada constitui uma rede de formação político-
qual o indivíduo se dá conta de suas crenças e valores, pedagógica que concatenava diversos espaços e instâncias para o
passando daí a uma nova perspectiva ou nível de aprofundamento teórico: ora reuniões semanais, ora gerais;
Sintetizando e consciência. seminários locais, regionais e estaduais; partilha de conhecimento
com renomados educadores populares, tudo isso definido
enriquecendo nossas • O educador deve estar atendo para não se tornar um anualmente em um planejamento participativo com todos os sujeitos
informações doutrinador. do MOVA/RS.

(Extraído de: Alfabetização e Cidadania. Nº. 16. Julho de 2002.)


Faça a síntese do texto.

Para refletir!

Você observa algumas das características apresentadas


nas teorias? Quais?

A prática da alfabetização de jovens e adultos Aprendizagem do adulto 17


UNIDADE: Métodos de
Alfabetização

Método na Alfabetização – conceito, A formação dos alfabetizadores


classificação, vantagens e
(...)
O que você pensa disto? desvantagens da sua adoção Como toda prática é sustentada pela teoria de quem pratica, mudar
esta prática implica na mudança desta teoria.
Você considera importante adotar Como vimos, a ação guarda íntima relação com a teoria. A tal ponto
um método de Alfabetização? Utilizar ou não um método constitui uma preocupação
que a ausência de uma teoria, por mínima que seja, implica no
constante dos alfabetizadores. Questiona-se qual o imobilismo. Assim, a nosso ver, o grande segredo de uma formação
Conhece os métodos? melhor método e até se ele deve ou não ser usado. eficaz é trabalhar no sentido de modificar a teoria que o alfabetizador
Em caso de opção por um método de alfabetização, o tem sobre o processo de alfabetização. Modificada a teoria, modificar-
Como classificar os métodos?
professor deve considerar as características dos alunos, se-á a prática. A constatação pouco adianta se não soubermos de
da escola e as suas próprias para escolher que maneira é possível alterar a teoria de quem pratica. Vejamos a
seguir as nossas descobertas a respeito.
adequadamente um método.
Qual o melhor método? Não se muda a teoria que sustenta a prática do educador através da
Analisaremos, a seguir, os métodos de alfabetização, superposição de outra teoria
sem a intenção de privilegiar um em detrimento do Embora uma outra obviedade, este fato costuma ser sistematicamente
outro. ignorado pelos esforços de formação. Via de regra age-se como se o
conhecimento de teorias mais modernas seja capaz de alterar a prática
Você vai observar que, em determinados momentos do educador (alfabetizador). Bombardeia-se o alfabetizador com textos
do processo de alfabetização, pode ser necessário de Piaget, de Paulo Freire, de Emília Ferreiro etc. ou palestras e
utilizar procedimentos de mais de um método, já que exposições das teorias destes e outros autores para que o alfabetizador
as turmas não são homogêneas. reconheça seus próprios erros e modifique sua atitude. Os resultados
costumam ser decepcionantes.
Isto ocorre porque nenhum educador é capaz de apagar completamente
Conceito de si as idéias que tinha até o momento em que é apresentado a
estas novas teorias. Pelo contrário, são estas idéias que servirão de
O termo método tem sua origem em duas palavras base para o entendimento e o julgamento destas novas teorias.
gregas: Julgamento consideravelmente amortecido pela insegurança do
alfabetizador e pelo “status” dos autores destas novas teorias. A
• meta, que significa pelo, para, através de; tendência então é escutá-las passivamente e transformá-las em receitas
• hodos, que significa caminho, resultando na que devem ser seguidas. É lamentável perceber quanta teoria de ótima

18
palavra original em grego MÉTHODOS.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização
Assim, temos o seguinte conceito de método:
“Método é um procedimento geral,
baseado em princípios lógicos ou Continua ...
filosóficos e pode ser comum a várias
ciências.” qualidade é transformada em simples receitas. Com o agravante que
receitas costumam dar certo apenas em situação particulares. Na
primeira dificuldade ou insucesso, a receita é abandonada, e o
No sentido etimológico, alfabetizador volta à prática anterior até que surja nova receita e o
ciclo se reinicie.
“Método é o caminho para se chegar
a um determinado fim.” O primeiro passo de quem quer contribuir na mudança da teoria que
sustenta a prática do alfabetizador é saber qual é esta teoria.

Esse “caminho” só levará aos resultados esperados A tarefa não é simples uma vez que é perfeitamente possível, e quase
sempre acontece, o alfabetizador ter um discurso absolutamente
mediante um planejamento viável, flexível, adequado independente da sua prática e da sua teoria. Portanto de nada adianta
aos alunos, aos professores e à realidade da escola. simplesmente perguntar ao alfabetizador. A resposta quase sempre
corresponderá ao discurso dominante ou o da moda. E isto não acontece
Podemos conceituar assim o método de Alfabetização: apenas por um desejo de ocultar-se. Muitas vezes, o próprio
alfabetizador ainda não codificou em discurso a sua própria prática.
O método de Alfabetização constitui
Não tomou consciência da teoria que sustenta a sua prática.
um caminho planejado para a
A única forma segura de identificar a teoria que sustenta a prática do
apropriação da leitura e da escrita.
alfabetizador é a observação da prática do próprio alfabetizador. É
nesta prática que se exprime no que o alfabetizador realmente acredita.
Esta observação pode ser feita pela observação direta ou pelos relatos
Classificação do próprio alfabetizador.
É lógico que o alfabetizador poderá fantasiar no discurso a prática que
Os métodos de alfabetização se organizam em 2
desenvolve. Existe uma tendência natural de disfarçar os insucessos e
grupos, em função da maneira como é iniciado e ampliar os sucessos. A maneira de contornar isto é não ficar apenas
desenvolvido o processo de ensino-aprendizagem, e na descrição das práticas mas incentivar os motivos desta prática.
das bases psicológicas nele envolvidas: analíticos e Nesta fase, o importante não é o que ele faz mas principalmente o
sintéticos. Encontram-se, ainda, métodos ecléticos “por quê” ele faz. A insistência nos porquês produz dois resultados
que utilizam as duas tendências. igualmente significativos. Torna difícil o mascaramento da prática
através do discurso e contribui para que o alfabetizador vá teorizando
Os métodos sintéticos partem de unidades menores a própria prática. Tome consciência da existência da sua teoria.
para chegar às maiores. O professor apresenta primeiro Um exemplo simples deste processo seria dado pelo relato eventual
os sons ou as letras e suas correspondências com os de um alfabetizador sobre a repetição em coro das “famílias” silábicas
sons ou as sílabas para depois formar com elas por parte dos alfabetizandos. Um aprofundamento sobre o “porque”
palavras, frases e textos.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 19


Os métodos analíticos partem das unidades completas
de significação para partes constitutivas. O professor
inicia apresentando textos, frases ou palavras para
depois identificar as unidades componentes, os sons Continua ...
e as letras correspondentes. desta atividade provavelmente desvelará a crença do alfabetizador na
memorização das sílabas como elemento fundamental na
É importante estar atento pois qualquer que seja o alfabetização.
caminho escolhido, por mais eficiente que seja
É este conjunto de crenças, idéias e valores do alfabetizador que
considerado um método, sempre podem ocorrer falhas. constituem a teoria que sustenta a prática do educador. É ela que
precisará ser contestada, ampliada e discutida para que se obtenha
Vejamos algumas vantagens e desvantagens no
uma mudança significativa da prática do alfabetizador.
trabalho com métodos.
Nossa experiência tem demonstrado que só existem duas formas de
alterar a teoria: a reflexão da prática e a comparação com outras
Vantagens: teorias.
Uma outra forma de dizer o que já foi dito acima pode ser a seguinte:
Cada método de alfabetização possui uma seqüência Ninguém é capaz de pôr em prática uma teoria que não seja a sua.
de passos pré-determinada que orienta e facilita o Quando se tenta pôr em prática a teoria de outro, a teoria deixa de ser
planejamento do professor. Isto constitui uma teoria e se transforma em receita. Todavia, a teoria que sustenta a
vantagem particularmente no caso daqueles que prática de uma pessoa não é estática. Está em modificação constante.
possuem pouca experiência ou têm dificuldades em A prova disto é que raramente uma pessoa fará alguma coisa pela
estruturar o processo de alfabetização. segunda vez sem melhorar em relação à primeira vez que fez. Esta
melhoria se fará também na terceira vez e assim por diante até que
Cada método traz inúmeras sugestões de atividades e vire um automatismo ou até que a pessoa esteja plenamente satisfeita
procedimentos. Em geral, ao adotar um método o com a forma como está fazendo. Nestes dois casos deixa de haver
melhoria porque cessa a reflexão, isto é, cessa a necessidade ou o
professor utiliza um material específico, desenvolvido estímulo de pensar a prática. Cessa a modificação teórica.
de acordo com ele, eliminando gasto de tempo na
Portanto, pensar a prática é uma das formas de modificar a teoria e
elaboração dos recursos e garantindo a fidelidade ao
aprimorar a prática. Daí resulta que todo trabalho de formação não
método. pode deixar de realizar um trabalho de reflexão da prática.
O professor poderá ampliar e enriquecer seu trabalho, A outra forma de modificação teórica possível é a comparação da
dependendo do método escolhido. teoria de quem realiza a prática com outras teorias. Não se trata de
comparação de práticas mas de comparação de teorias. Em duas
práticas iguais, uma pode estar adequada e outra inadequada quando
Desvantagens: exercidas em situações distintas. Um mesmo exercício motor pode
ser útil em uma classe infantil de alfabetização e absolutamente
O aspecto que constitui vantagem para um professor contraproducente numa classe adulta. Igualmente, duas práticas

20
inexperiente pode representar desvantagem para o
A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização
processo pois o professor pode ficar limitado aos
procedimentos específicos do método, acomodando-
se a eles, sem enriquecer o processo.
Continua ...
Um método dificilmente atende às necessidades de
distintas e eventualmente opostas podem estar absolutamente
todos os alunos. Muitos professores ficam presos ao adequadas dependendo de onde se realizam. Não corrigir erros
método escolhido e esquecem que sua turma não é ortográficos no início do processo de alfabetização está tão correto
homogênea e pode precisar da inclusão de outros quanto corrigi-los a partir de determinado nível de leitura e escrita.
recursos ou atividades ou mesmo de outros métodos Como dissemos, o importante é conhecer os “porquês” mais do que
ou procedimentos dos mesmos para atender às os “quês”.
especificidades dos alunos. A comparação entre teorias permite a modificação de teorias. É o
diálogo entre elas que pode estimular a sua mudança. Esta comparação
O conhecimento dos métodos, suas características entre teorias se dá através do diálogo entre os próprios companheiros
principais, as vantagens e as desvantagens, de formação e do diálogo com o educador do grupo. Também é possível
apresentadas por profissionais que já desenvolveram no diálogo entre alfabetizador e as teorias expostas em textos. Neste
trabalhos com cada um, aumenta as possibilidades caso, o único cuidado é evitar o endeusamento que os textos costumam
ter na nossa cultura. Temos a tendência de mitificar o texto escrito e
de intervenção do professor. É importante lembrar que neste caso deixa de existir o diálogo e passa a existir o monólogo. Aí,
algumas etapas serão desenvolvidas em todos eles, cresce a tentação de obedecer o texto, no pressuposto de que se
porém, em momentos diferentes. escrito está certo. A teoria exposta deixa de ser teoria e passa a
funcionar como determinação ou receita.
Por exemplo: o sílabico inicia-se pela análise das sílabas
Até o momento, não descobrimos outra forma de modificação teórica
e das famílias silábicas para a composição da palavra; do alfabetizador que não seja estas duas: reflexão da prática e
o método da palavração fará o caminho inverso. Assim, comparação teórica. Sendo assim, qualquer processo de formação de
podem ser utilizadas as mesmas atividades em ordem alfabetizadores passa necessariamente por elas.
e contexto diversos. Nenhum alfabetizador se propõe a modificar sua teoria sobre
alfabetização quando está plenamente satisfeito com ela
Por trás do método, uma teoria Vimos que entre os equívocos sobre a formação está o de imaginar
que a formação pode tudo. Este é um exemplo da limitação da
O desenvolvimento dos métodos ocorre a partir de formação. Quando o alfabetizador está satisfeito com a sua prática,
portanto com a teoria que a sustenta, não há como mudá-la pela
teorias. Eles estruturam o trabalho de acordo com
formação. Mudar a prática implica em um esforço que ninguém fará
uma concepção de educação. quando imagina desnecessário.
Assim, a decisão a respeito do caminho de trabalho Mas se não pode tudo, a formação pode alguma coisa. Pode sondar
representado pelo método pressupõe uma reflexão a os horizontes do alfabetizador, por exemplo, e identificar os motivos
desta satisfação. Geralmente a causa está na pobreza de objetivos
respeito da própria concepção de educação e do aluno
que o alfabetizador pretende atingir. Se o alfabetizador acredita que a
que se pretende formar.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 21


Como somos constantemente bombardeados por novas
teorias, técnicas, recursos etc., nossa prática absorve
muitas contribuições, às vezes contraditórias entre
si. Estes antagonismos podem complementar ou Continua ...
dificultar o trabalho. Torna-se necessário, portanto, leitura se esgota na decifração do código escrito, é provável que esteja
que nos empenhemos em um processo de formação satisfeito com a simples memorização de fonemas.
continuada, de reflexão sobre a nossa prática, de Na medida em que o alfabetizador for percebendo que o domínio do
revisão de nossas teorias. código escrito implica em muita mais, é provável que sua satisfação
diminua e abra espaço para tentar tornar mais abrangente o seu
Enfim, precisamos estar abertos a mudanças, universo teórico.
avaliando permanentemente nossa prática, atentos É importante perceber que o primeiro passo da formação quando
ao contexto sócio-histórico-cultural em que nós e existe plena satisfação dos formandos com suas próprias teorias é
nossos alunos estamos inseridos. criar a insatisfação. Sem ela, será impossível qualquer processo de
formação.
Sintetizando e Você encontrará na janela o texto A formação dos A prática da formação de alfabetizadores também é sustentada pela
enriquecendo nossas Alfabetizadores, no qual os autores fazem colocações teoria do formador e obedece aos mesmos princípios para sua
informações pertinentes sobre o tema. modificação
O que apresentamos aqui foi o discurso construído a partir da teoria
Faça a síntese do texto, que construímos refletindo nossa prática e também confrontando com
posicionando-se em relação a ele. a teoria de outros educadores. Como não acreditamos ter chegado ao
fim de nosso crescimento teórico, esta teoria certamente irá se modificar
e tornar-se mais abrangente no futuro. Queremos ser melhores
educadores. Como sabemos que o mesmo ocorre com outros
formadores, esperamos que estas colocações sejam confrontadas com
Para refletir! outras teorias e resultam em um diálogo que aprimore a capacidade
de todos os educadores em um campo que certamente constitui hoje
um dos limites para o pleno desenvolvimento do processo educacional
Vamos exercitar a reflexão sobre a prática? brasileiro.
Analise os seus métodos de trabalho, identificando o porquê de
(Extraído de:
seu uso. BARRETO, José Carlos. BARRETO, Vera. A formação dos Alfabetizadores. In:
Confronte-os com a sua visão teórica. GADOTTI, Moacir. ROMÃO, José E. (org.) Educação de Jovens e Adultos:
teoria, prática e proposta. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 1995,
Não se preocupe se encontrar discrepâncias. A finalidade deste p.77-81)
exercício é auxiliá-lo a se conscientizar de eventuais desencontros
entre a teoria e a prática e estimulá-lo a aprofundar a reflexão. Atenção! Sugerimos que procure ler o texto na íntegra. Vale a pena.
Nossa avaliação incidirá sobre o seu processo de reflexão. Não
faremos um julgamento de sua prática.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 22


Métodos sintéticos

Os métodos sintéticos propõem que o ensino da leitura e da escrita comece


pelas partes que compõem a palavra (sons, letras e sílabas), em seguida que
se combinem em unidades lingüísticas maiores, para formar as sílabas, Reflexões sobre a expressão de novos
palavras, frases e textos. textos
O que você pensa disto? Os defensores destes métodos consideram que eles possibilitam ao aluno Desde tempos remotos, a escola dedicou-
maior facilidade no reconhecimento das palavras, desenvolvendo se a ensinar as características do signo
lingüístico (a palavra) como se este existisse
Em que consistem os métodos posteriormente o treino da leitura com sucesso.
sintéticos de Alfabetização? de maneira isolada, autônoma, em relação
Por outro lado, recebem também muitas críticas de profissionais que os ao sistema ao qual pertence. Na
Quais as características dos lingualização, não deve acontecer assim.
consideram contrários ao processo natural de aprendizagem, por fragmentarem A semiótica nos esclarece que não podem
seguintes métodos:
a palavra, dificultando a apreensão do sentido completo, pois, durante a existir, num sistema semiológico – e por
• Alfabético
• Silábico soletração/silabação o ritmo e a entonação podem ter diferentes seqüências. conseguinte no sistema da língua – signos
• Fônico isolados. A própria natureza do fato
Por exemplo, ao tentar ler a palavra MARTELO o aluno pode chegar a um semiológico proíbe aos elementos
sentido totalmente diferente, em função do seu nível de desenvolvimento. individuais ter alguma realidade semiótica
e/ou lingüística, fora de suas relações com
Veja as várias leituras da palavra MARTELO quando fragmentada: o todo, ou seja, o sistema em seu conjunto.
Abordar a língua a partir da composição
MAR – TELO interna do signo constitui uma etapa
MA – RTE – LO importante da análise para que o adulto
compreenda a natureza do sistema de
MA – RT – ELO escrita alfabética da nossa língua. Mas não
MAR – TE – LO etc. podemos nos deter aí por muito tempo. É
preciso considerar o signo em seu
Cada aluno elabora uma hipótese silábica distinta. “entorno”, a fim de que se verifique de que
maneira a arbitrariedade do signo
Quando se apresenta uma frase para ser lida nesta fase de silabação, torna- determina um certo tipo de relações de
se quase impossível ao alfabetizando concluir a sua leitura com o significado solidariedade entre este e os demais
real. termos de uma expressão escrita.

Por isso, em nossa proposta lingualizadora,


Aponta-se, ainda, como desvantagem o fato de o método e a palavra serem a análise do significante da palavra por mais
definidos pelo professor e nem sempre as palavras serem familiares ou importante e força comunicativa que tenha
significativas para o aluno, pois cada um possui um vocabulário.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 23


Para Gray (apud Soares, 1983) os métodos sintéticos tornam-se lentos e o
trabalho é parcelado em duas etapas. Na primeira, o aluno aprende a
decodificação e, somente na segunda é que será trabalhada a habilidade de
extrair o pensamento de um texto escrito – objetivo da aprendizagem da Continua ...
leitura. para o conjunto dos usuários, deve ser
muito breve, clara e precisa, para retomar
Vamos analisar, em seguida, os métodos Alfabético e Silábico. Deixaremos imediatamente – e como caminho natural
de abordar o Fônico por não ser usado na Alfabetização de adultos. – a integração de textos. Será evitado, por
conseguinte, qualquer trabalho com
palavras ou sílabas que não tenham
Método Alfabético significado para o grupo.

Trata-se de um método muito antigo, usado desde a Grécia e Roma antigas. Ao considerar a tendência da educação
escolástica de dar supremacia à palavra
Sua essência consiste na crença de que a repetição das formas e dos nomes (frases ou orações) e a exigência que
das letras, seguidas vezes, ajuda o aluno a soletrar palavras: submete o aluno a expressar-se a partir
dela, notamos que o docente realiza isso
bê com a = ba, lê com a = la, ba-la (bala) sem identificar o seu somente na escola; em sua vida cotidiana,
significado. adota outra postura. Tal é o caso da
comunicação que entabula como pai com
A combinação diferenciada das letras com seus correspondentes sonoros seus filhos, no momento em que esses
começam a falar.
favorece a leitura e a escrita, primeiro de sílabas, depois de palavras, frases,
textos. Nos primeiros passos da aprendizagem da
leitura-escrita, como na de qualquer outra
linguagem, surge a necessidade humana
Procedimentos de transcender a intenção, o propósito, o
juízo, a idéia ou o desejo que o indivíduo
O trabalho com o Método Alfabético segue uma seqüência de passos que sente. Imediatamente outorgamos especial
se inicia com a aprendizagem do nome das letras e suas formas, seguida da importância ao meio e à linguagem
combinação de 2 em 2 letras, e, posteriormente da ampliação das escolhida para manifestá-lo. Isso significa
combinações de letras até formar grupos maiores. que nossa expressão deve subordinar-se
às palavras e não promover atos de fala
A aprendizagem centraliza-se na repetição de partes e só depois ocorre a nos quais as palavras impostas enquadrem
leitura real. a expressão, mediatizando-a,
subordinando-a.
O processo de aprendizagem da leitura e da escrita realizado com este método Quando o homem é “socializado” com o
enfatiza o reconhecimento de sons e palavras sobre a construção do seu alfabeto, que se distorce como linguagem,
significado.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 24


São os seguintes os procedimentos didáticos.
1. Aprendizagem do nome de cada letra e suas formas maiúscula e minúscula.
A ordem seguida na introdução das letras é a do alfabeto. Continua ...
Aa Bb Cc Dd Ee Ff ... esse deslocamento influi tanto em sua
expressão como em sua visão das coisas
2. Combinação das letras entre si, principalmente vogais e consoantes, e dos acontecimentos que o rodeiam. Por
formando sílabas que devem ser recitadas pelos alunos. isso, o estilo educativo alfabético, que
oferece grafias esvaziadas de sentido ou
B + O = BO B + U = BU B + I = BI um sentido esvaziado de suporte, põe em
evidência sua falta de interesse pelo
3. Ampliação gradativa das combinações de letras para formar grupos maiores. desenvolvimento do homem em sua
qualidade de ser preceptivo e expressivo.
4. Treino de sílabas em separado, seguido de reunião para formar palavras.
Fica comprovado que a promoção do
LA + TA = LATA CO + PO = COPO homem apregoada nos fins, propósitos e
objetivos enumerados em listas
intermináveis que se detalham nos planos
e diretrizes curriculares são apenas
enunciados que não são levados à prática.

A pessoa, com sua


5. Ensino da escrita simultaneamente ao ensino da pronúncia das letras. energia transcendente, a palavra
seu desejo, sua como meio
Realize uma atividade prática. necessidade, sua idéia, para
seu impulso, utiliza
• Escolha algumas letras do alfabeto.
• Recorte de jornais e revistas essas letras no maior número possível de
formatos. expressão daquela
energia, daquele desejo,
• Analise esta atividade, refletindo sobre a alfabetização pelo método daquela idéia, daquela
necessidade
alfabético:
– Como o aluno vê a variedade de formatos de letras?
– Que significado tem a letra para o aluno? Concepção na qual a palavra é o meio de
comunicação.
O método alfabético raramente é utilizado hoje em dia, razão pela qual
deixaremos de exemplificá-lo.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 25


Restrições ao método alfabético

• O aluno só poderá ler realmente depois de muita repetição de partes


isoladas. Continua ...
• Torna-se cansativo, pois o aluno repete unidades que não possuem
significado.
a palavra é expressor para que
• Leva a uma leitura artificial e silabada. proposta ao (a pessoa) a expresse.

bê + á = ba
ele + a = lá Concepção alfabética escolástica onde a
ba + la = bala palavra se converte num fim em si mesma,
e o expressor e sua expressão assumem a
• O método alfabético enfatiza o reconhecimento dos sons representados função de manifestá-la.
pelas letras. E é nesta ênfase que surgem os maiores problemas, pois
nem sempre as letras correspondem aos sons que pronunciamos. (Extraído de:
FERREIRA, Erasmo Norberto. A linguagem oral
Exemplo: na palavra casa, escrevemos s, mas pronunciamos [z] – [kaza]. na educação de jovens e adultos. Trad. Jussara
Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes médicas,
1998. p.149-150.)
Método silábico

O trabalho com o método silábico parte da sílaba para o ensino da leitura,


pois considera-se que as consoantes não podem ser articuladas sem o apoio
da vogal. Enfatizam-se as chamadas famílias silábicas: ta, te, ti, to, tu.

Procedimentos

Apresentam-se inicialmente as vogais para depois combiná-las entre si,


formando os encontros vocálicos (ai, ei, ui etc.).
Em seguida introduzem-se as consoantes, sendo cada letra apresentada
através de uma gravura com a letra inicial em destaque.

Batata
batata

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 26


A partir da letra destacada forma-se a família silábica, obedecendo sempre à
ordem natural das vogais a - e - i - o - u, dando ênfase à pronúncia e à
repetição.
Nas demais combinações adota-se o mesmo procedimento.
A partir da introdução de novas famílias silábicas, trabalha-se a formação de Sugestões para o trabalho com silabário
palavras, combinando estas sílabas.
O professor confecciona o silabário, com
Segue-se um detalhamento destes procedimentos. os alunos, em papel pardo (grande) para
uso coletivo ou em uma folha de papel
1. Apresentação de uma palavra associada a uma ilustração da qual o professor para uso individual.
destacará uma sílaba. VOGAIS
Aa Ee Ii Oo Uu
CON-
SOAN-
Bala TES
bala B b
BA BE BI BO BU
2. Leitura repetida das palavras, acentuando a pronúncia das sílabas: ba - la BARRACA
C c
3. Pronúncia repetida da sílaba destacada pelo professor: ba
CA – – CO CU
4. Traçado no ar, pelo professor, da sílaba ba com o dedo ou com um ponteiro. CASA
Repetição do movimento pelos alunos. Alguns podem ir ao quadro-de-giz D d
escrever a palavra. DA DE DI DO DU
DINHEIRO
5. Cópia no caderno da sílaba ba, escrita no quadro-de-giz. F f
6. Exploração da família silábica, mantendo a consoante e alternando as FA FE FI FO FU
vogais: ba, be, bi, bo, bu. FACA

G g
7. Formação de palavras a partir das sílabas conhecidas. GA – – GO GU
GALO
8. Formação de frases e textos a partir das palavras conhecidas.
H h
HA HE HI HO HU
Vantagens do Método Silábico HAMBURGER

• Facilidade de uso. Este método é muito prático, possilitando que qualquer E assim por diante...
pessoa alfabetizada possa ensinar outra, com relativa facilidade.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 27


• Utilização de pouco material didático.
• Aplicação do vocabulário escrito em pouco tempo.
• Aplicação fácil na alfabetização de adultos pela semelhança com o Continua ...
raciocínio lógico destes. Exemplos de atividades com o silabário

1. Pesquise no silabário as sílabas que


Restrições ao Método Sílábico
formam os nomes das figuras abaixo:
• Exploração inicial de unidades que não apresentam significado.
• Adiamento da leitura e escrita com significado e de interesse real do
aprendiz.
• Mecanização do processo.
O ensino é totalmente repetitivo e tenta manter uma referência para cada
sílaba. Ex.: 2. Com o auxílio do silabário crie palavras
com as famílias das letras: D - L - M -
ca (da casa) T.
va (da vaca) ca - va - lo
lo (do lobo)
Sintetizando e Os verbos ficam restritos às possibilidades oferecidas pelas famílias silábicas
enriquecendo nossas já trabalhadas.
informações. 3. Forme frases, empregando as palavras
Leia, na janela, o texto Reflexão sobre a expressão de novos textos e as
criadas.
sugestões para confecção e trabalho com silabário.
Faça a síntese do texto,
destacando os principais
procedimentos e os pontos fortes
e fracos de cada método.

Você poderá acrescentar outras


informações de seu domínio, que
considere importantes, no seu
texto.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 28


Métodos analíticos

Denominam-se métodos analíticos os métodos de alfabetização que


preconizam o uso de palavras, sentenças, ou histórias (textos) no
início do trabalho, por constituirem unidades significativas da língua. O Método Paulo Freire de Alfabetização

Estes métodos que utilizam processos que vão do todo para a parte Em 1958, Paulo Freire, no 2° Congresso de Educação
O que você pensa são conhecidos como globais ou analíticos, tendo substituído o de Adultos realizado em Pernambuco, discutia o ciclo
disto? de miséria gerado pelo analfabetismo. Defendia,
aprendizado mecânico ao partirem de unidades mais amplas para então, meios audiovisuais para alfabetizar adultos.
unidades menores da língua. Palavra e imagem se reforçavam a seu ver, num
Em que consistem os métodos processo que partia da própria palavra do educando.
analíticos de Alfabetização? Estes métodos se tornam interessantes e atrativos para o aprendiz
em função de trabalharem com unidades lingüísticas significativas. Sua primeira experiência de alfabetização de adultos
Quais as características dos deu-se no Centro Dona Olegarinha, Movimento de
seguintes métodos: Carvalho (1994) destaca algumas premissas em que se baseiam os Educação Popular de Pernambuco. Freire iniciou seu
• Palavração métodos analíticos. trabalho com 5 adultos analfabetos e os alfabetizou
• Sentenciação em cerca de 30 horas, usando método próprio.
• Historiado “• Desde as etapas iniciais de alfabetização, a principal preocupação
A partir de pesquisa sobre o universo vocabular dos
do leitor deve ser a busca do significado.
alunos, eram selecionadas palavras geradoras que
• A compreensão dos usos sociais da escrita é importante e pode davam origem a debates, organizando-se temas de
ser facilitada, na escola, pela criação de situações de leitura. interesse dos alunos.
• O gosto pela leitura é resultado do contato freqüente com textos A partir daí, as palavras aliadas a imagens eram
interessantes, de diferentes gêneros.” subdivididas em sílabas que, reorganizadas, davam
origem a outras palavras.
Estes métodos baseiam-se na compreensão de que escrever não é
apenas juntar letras, mas criar sentido. Na época, Freire causou uma revolução nos métodos
de alfabetização de adultos que até então eram
alfabetizados usando-se os mesmos procedimentos
Método da palavração utilizados com crianças.

Seu método partia do princípio de que era necessário


Trata-se de um método global porque tem como ponto de partida a uma aproximação da cultura e do vocabulário dos
palavra, unidade da língua e do pensamento. educandos, desvelando-se a realidade subjacente às
palavras geradoras em debates. Dos debates e da
A escolha das palavras deve ocorrer em um determinado contexto. força das palavras geradoras chegava-se ao domínio
A exploração de palavras isoladas acaba resvalando para a silabação. do código escrito.
Uma palavra não pode ser vista apenas como um conjunto de
A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 29
símbolos gráficos e sonoros, mas como uma unidade de significado,
por isto sua contextualização.
Ao estudar o funcionamento interno do pensamento e da linguagem
que está oculto à observação direta, Vygotsky (apud CETEB 1996)
ressalta que:
Dicionário ilustrado
“... um pensamento não tem equivalente imediato em palavras, a
O professor orienta a elaboração do dicionário em
transição do pensamento para a palavra passa pelo significado” fichas para possibilitar o acréscimo de novas palavras.
“... a relação entre o pensamento e a linguagem nasce através das
palavras.” – banheira A banheira é pequena.

“... Uma palavra é um microcosmo da consciência humana.”


– casa Eu comprei uma casa.
Procedimentos didáticos
– calçado O calçado é de couro.
1. Contextualização da palavra
Cada palavra utilizada como geradora do processo de alfabetização,
– janela A janela tem grade.
deve surgir de um contexto específico do cotidiano da sala de
aula (ex. SALA, AULA etc.) a partir de um centro de interesse (ex.
FUTEBOL, CINEMA, PARQUE etc.) ou de um tema de debate (ex.
TRABALHO, ARANHA, LIXO etc.). – porta A porta é reforçada.

A contextualização da palavra a partir de temas de debate


constitui-se em elemento central do método de alfabetização
desenvolvido por Paulo Freire. Palavras de forte conteúdo social, – quarto O quarto é grande.
relacionadas a necessidades fundamentais do homem como
habitação, alimentação, vestuário, saúde e educação: tijolo,
parede, comida, camisa são palavras geradoras típicas desse – telhado O telhado é novo.
método.
Por exemplo, o centro de interesse da turma pode ser uma – vassoura Eu limpo o chão com a vassoura.
Exposição Agropecuária que está ocorrendo na cidade. Neste
caso podem ser explorados: o nome dos animais que se encontram

30
em exposição, as frutas, as verduras, as comidas, o nome dos
A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização
componentes de um espetáculo, as músicas, o vestuário, os
preços dos ingressos etc. Essas listas de palavras surgem dos
próprios alunos em atividades variadas, tais como: discussão em
pequenos grupos ou de toda a turma, recorte e colagem de
imagens em um painel coletivo ou nos cadernos etc. É importante
explorar as palavras, ilustrá-las, copiá-las a partir da escrita do
Estudo de palavras novas
professor, classificando-as de acordo com critérios definidos por
eles. É importante preparar os alunos para que saibam
suprir suas próprias necessidades, solucionando suas
Contextualizar uma palavra significa torná-la tão viva, tão plena dúvidas.
de significado que o interesse em conhecê-la na escrita surge
Sugerimos um modo eficiente de estudar palavras,
naturalmente. devendo apenas o professor orientar as etapas desse
trabalho.
2. Reconhecimento das palavras em outros contextos. Nesta etapa
de aplicação do método sugere-se que todos os alunos Depois de alguma prática o aluno a utilizará nas suas
desenvolvam atividades como: horas de estudo.

Observaremos, então, os passos que devem ser


• Produção oral de diferentes frases com a palavra-chave. seguidos, de início, sob orientação do professor.
• Localização da palavra-chave em jornais, revistas, livros.
1º passo
• Escrita da palavra associando-a a ilustrações diferentes.
Telhado
Olhar a palavra e pronunciá-la
vagarosamente (o professor
escreve no quadro ou entrega ao
aluno a ficha com a palavra).

2º passo

Olhar novamente a palavra e


Te-lha-do

janela janela janela pronunciá-la destacando as


sílabas.
• Localização da palavra-chave escrita em diferentes tipos de letra.
janela JANELA janela
• Jogo do itinerário para formar a palavra chave e outras conhecidas
pela turma. (Veja descrição na janela)

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 31


• Brincadeira de caça-palavras para localizar a palavra chave e
outras já do conhecimento da turma.
Encontre as palavras Continua ...
3º passo
C I T E T O
Telhado Pensar na palavra, lembrando
A M I S U R sua escrita.

S A L A J U
A D O B E A
4º passo
J A N E L A
Verificar se pensou na escrita
casa janela sala teto rua correta, consultando a ficha ou
Telhado

olhando para o quadro.


Jogo do itinerário
Colar no verso de uma bandeja de duas duzias e meia de ovos
círculos de papel, contendo letras na ponta de cada cone. 5º passo

Prender um barbante comprido em uma das extremidades da bandeja. Escrever a palavra. Conferir se
acertou e escrever duas ou mais
Preparar cartelas com as palavras, ou pedir que os alunos preparem vezes; se tiver errado, deve repetir
cartelas com as palavras escolhidas e ilustradas por um desenho ou os passos.
figura, uma palavra em cada cartela, representando os itinerários.
As cartelas são misturadas e cada aluno deve fazer o itinerário O professor pode fazer cartazes, mostrando esses
passos, para que os alunos os observem durante seus
conforme a cartela recebida. Esta atividade pode ser adaptada para períodos de estudo.
vários casos. As letras podem ser substituídas por números,
desenhos, cores etc.
As cartelas podem conter questões referentes a ortografia, gênero,
número, cores, meio ambiente, animais etc.
O aluno passa o barbante pelo itinerário indicado na cartela.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 32


FORMIGA
Atividades que podem ser usadas para trabalhar
• Brincadeira de bingo, identificando em seu cartão a palavra sentenças
cantada pelo professor. Completar orações
• Escrita da palavra associando-a a desenhos que expressem É um jogo de encaixe. Consiste em apresentar setas
significados diferentes, quando for o caso. com enunciados incompletos aos alunos e deixar que
eles encontrem a seta que completará
adequadamente os enunciados.

Esta atividade:
• desenvolve a percepção;
• desenvolve o gosto pela leitura.

Procedimentos – Veja os procedimentos através da


exemplificação que se segue:
manga manga A blusa da Eva na grama.

• Produção de frases com a palavra, utilizando seus diferentes O dia peteca.


significados. A menina joga é azul.
Eu vejo um pato está bonito.
3. Análise da palavra
• Desenhe no quadro ou em pequenas fichas de
Nesta etapa a atenção volta-se mais diretamente para os aspectos cartolina o jogo.
gráficos e sonoros das sílabas e depois das letras que compõem • Peça aos alunos para encaixarem as frases da
a palavra. Sugere-se que os alunos desenvolvam atividades como: coluna da esquerda na coluna da direita, de modo
a completar-lhes o sentido.
• Localização, em revistas e jornais, de palavras com a mesma
sílaba da palavra-chave, em posição inicial, intermediária e final. Se as setas estiverem desenhadas no quadro o
aluno deve ligá-las.
ja ne la
jaca neto lápis
cajado Canela melado

A prática da alfabetização de jovens e adultos


maracujá boné bola
Métodos de Alfabetização 33
• Localização em revistas e jornais de palavras com a mesma letra
inicial da palavra-chave, variando o tipo da letra.

jaca jeito Continua ...


jabuti jibóia Ler frases para escrever o que elas traduzem
jato jumento
Consiste na leitura de frases com vistas a escrevê-las
JOÃO Jandira segundo uma interpretação pessoal.

• Escrita da sílaba ou da letra que falta. Esta atividade desenvolve a habilidade de o aluno
sintetizar, extrair a idéia principal do texto.
____cinto _______caré ra ___do
boti____ _______to man______do Procedimentos – Veja os procedimentos através de
um exemplo.
bei____ lo____
• Ler silenciosamente as frases a seguir, para
• Contagem das sílabas da palavra, cantando-a ritmadamente. analisar os sentimentos dos personagens.
• Busca de palavras que rimem com a palavra-chave, Ordem: Escreva no quadrinho o sentimento do
pronunciando-as em série. personagem das historinhas seguintes. Procure a
palavra na lista que está depois das historinhas.
Nesta etapa, ou na seguinte, deve ocorrer a descoberta pelo
aluno das famílias silábicas da palavra-chave que passam, então, 1.
a ser trabalhadas pelo professor.
O cachorro do João foi atravesar a rua e o carro o
4. Formação de novas palavras atropelou. João chorou muito.

Sugere-se que os alunos desenvolvam atividades tais como: 2.

• Junção de sílabas conhecidas para formar novas palavras. Osvaldo está muito feliz, porque os ovos se
partiram e três sabiás saíram da casca.
• Junção de letras conhecidas para formar novas palavras.
• Organização de um dicionário individual com as novas palavras 3.
formadas. Os alunos podem ilustrar cada palavra ou colar figuras Dora esbarrou em Marcelo e derrubou o sorvete
de revistas e também escrever uma frase ao lado da palavra, que ele trazia na mão. Marcelo gritou: – Você me
contendo-a. paga, Dora!

Veja um exemplo na janela.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 34


Esta etapa exige que as novas palavras sejam contextualizadas
em frases e situações para que sejam apreendidos os respectivos
significados.
Continua ...
É importante que o aluno cole desenhos e escreva frases com os
tristeza
diversos sentidos da palavra. Por exemplo.
alegria

raiva
A folha de papel é azul.
medo

• O professor faz a análise da atividade, ouvindo o


grupo e discutindo as diferentes respostas.

A folha da árvore secou.

5. Produção escrita de frases e textos


Nesta etapa de produção de frases e textos, a partir das palavras
conhecidas, é importante estar atento ao processo de criação de
sentido. Este é um bom momento para utilizar os dicionários
individuais, socializando as produções de cada aluno.
O professor deve apoiar o aluno na escrita de palavras com fonemas
ainda não trabalhados de forma que a limitação da escrita não
comprometa o ato criador.
Lembre-se:
Não basta partir da palavra para estar empregando o método da
palavração, pois este tem como ponto de referência a
contextualização da palavra.
Quando bem utilizado pelo professor, o método da palavração
apresenta resultados bastante satisfatórios.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 35


Vantagens e restrições a este método.
• Desenvolvimento de habilidades de leitura.
• Exploração das partes das palavras sem perder o sentido do todo.
A atenção pode ser dirigida aos detalhes da palavra como sílabas,
letras e sons. Estas unidades depois de internalizadas são O pescador, o anel e o rei
reconhecidas pelo aluno em outras palavras, ampliando a Bia Bedran
autonomia na leitura. Era uma vez um velho pescador que vivia cantando:
Restrições ao Método da Palavração Viva Deus e ninguém mais.
Quando Deus não quer,
• Comprometimento do ritmo e da eficácia em caso de omissão da ninguém nada faz.
etapa de reconhecimento das partes componentes da palavra. Mesmo quando sua pesca não era boa, ele cantava
com muita fé e alegria a sua cantiga.
• Mecanização do processo de aprendizagem da leitura e da escrita
Viva Deus e ninguém mais.
quando utilizadas palavras sem significado para o alfabetizando. Quando Deus não quer,
ninguém nada faz.
Leia, na janela, um texto a respeito do Método Paulo Freire que tem
como centro palavras geradoras. Um dia, o rei daquele lugar soube da existência do
pescador e quis que ele fosse à sua presença, por
não admitir que Deus podia mais que tudo no mundo...
Método da sentenciação Esse rei era tão poderoso e orgulhoso, que achava
que podia até mais que o próprio Deus!
Conforme já discutimos, os métodos analíticos pressupõem a seleção E lá foi o pescador, subindo as escadas de tapete
da unidade lingüística de referência – palavra, frase ou texto. vermelho do palácio, cantando:
Viva Deus e ninguém mais.
O método da sentenciação utiliza a frase (sentença) como ponto de Quando Deus não quer,
partida. Assim a frase inicial deve estimular o leitor a buscar seu ninguém nada faz.
sentido, reforçando a compreensão das funções sociais da escrita. Diante do rei, o pescador não mostrou medo algum,
e ainda reafirmou sua fé, cantando a mesma cantiga.
Quanto mais significativa a frase escolhida, maior interesse despertará
nos alunos. Uma boa medida é utilizar uma frase criada por eles. Então o rei disse:
Pode também ser tirada de uma história que eles considerem – Vamos ver se Deus pode mais que eu, pescador!
interessante, de uma música conhecida, de uma poesia, de notícias Eis aqui o meu anel. Vou entregá-lo aos seus cudiados!
Se, dentro de quinze dias, você me devolver o anel,
de jornal etc. O importante é que seja estimulante para a turma. intacto, você ganhará um enorme tesouro e não

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 36


Procedimentos

1. Registro da frase no quadro-de-giz ou em uma faixa de papel, em


letra visível por toda a turma. Continua ...
2. Contextualização da frase. precisará mais trabalhar para viver. Porém, se no
décimo quinto dia você não voltar com o anel, mando
Quando a frase foi criada pela própria turma, essa etapa já foi, cortar a sua cabeça! Agora vá embora.
em parte, vencida pois os alunos sabem exatamente em que O pescador foi embora e, quando chegou em casa,
contexto ela surgiu. entregou o anel para a mulher que prometeu guardá-
lo a sete chaves.
Se a frase foi dita ou escrita por outra pessoa deve-se interpretar Deixe estar que isso não passava de um plano do rei,
seu significado. Quem a escreveu? De que texto foi retirada? que logo mandou um criado, disfarçado de mercador,
Quando possível, deve-se solicitar aos alunos que ilustrem a bater na casa do pescador, quando este já havia saído
frase. para pescar.
– Ô de casa!
3. Leitura da frase. O professor deve ler a frase com entonação e A velha senhora abriu a porta.
pausas adequadas, deixando a idéia bem clara.
– Minha senhora, sou mercador. Vendo e compro
4. Análise da frase. anéis. A senhora não teria, aí pelas gavetas, um
anelzinho para me vender? Pago bem!
Nesta etapa, de acordo com o nível de desenvolvimento dos E mostrou muito dinheiro.
alunos, pode-se propor atividades tais como: – Não tenho não, senhor. Aqui é casa de pobre. Não
tem anel nenhum não.
• Observar como as palavras de uma frase relacionam-se umas
Mas a velha ficou surpresa com tanto dinheiro que o
com as outras.
homem mostrava. Acabou caindo na tentação e
Jane foi à exposição com seu namorado no domingo. vendeu o anel!
Quando o pescador voltou cantando:
De quem é o namorado? De Jane. Destacar a função do
pronome possessivo “seu”. Viva Deus e ninguém mais.
Quando Deus não quer,
• Analisar sintaticamente a frase: ninguém nada faz.
– Quem foi? Jane. ...Soube do que havia acontecido e ficou desesperado.

– Onde ela foi? À exposição. – Mulher! Você não vendeu o anel não; você vendeu
a minha cabeça!
– Com quem foi? Com seu namorado.
E foram correndo procurar o mercador pela floresta,
– Quando? No domingo. pela estrada, pela praia, pela aldeia e nada...

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 37


• Substituir primeiro oralmente, e depois por escrito, os elementos
da frase.
Sujeito: Maria foi à exposição com seu namorado, no domingo.
Continua ...
Verbo: Jane dançou na exposição com seu namorado no
Claro! À essa altura, o criado disfarçado de mercador
domingo. já estava longe e havia jogado o anel em alto-mar, a
Adjunto adverbial de lugar: Jane foi ao rodeio com seu mando do rei, para que nunca mais ninguém pudesse
encontrá-lo.
namorado no domingo.
E o tempo foi passando...
Adjunto adverbial de companhia: Jane foi à exposição com Décimo dia...
sua mãe no domingo.
O pescador, triste, continuava cantando:
Adjunto adverbial de tempo: Jane foi à exposição com seu (mais lento)
namorado hoje. Viva Deus e ninguém mais.
Quando Deus não quer,
• Acrescentar uma palavra que modifica o sentido do verbo.
ninguém nada faz.
Jane foi animada à exposição com seu namorado, no domingo. Até que, no penúltimo dia, o pescador chamou a
mulher e disse:
• Acrescentar uma palavra que modifica o sentido do adjunto
– Mulher, eu vou morrer... Amanhã, minha cabeça vai
adverbial de lugar. rolar. Vamos nos despedir, com uma última refeição.
Jane foi a uma famosa exposição com seu namorado. Farei uma boa pescaria.
E lá se foi o pescador, tristemente, cantando sem
• Alterar a ordem das palavras sem mudar o sentido da frase. parar sua cantiga.
Jane, no domingo, foi à exposição com seu namorado. Pescou cinqüenta peixes, quarenta e nove ele vendeu
no mercado, e um levou para a mulher preparar.
Jane foi com seu namorado no domingo à exposição.
Ela caprichou no tempero e fez, no fogão de lenha,
No domingo, Jane foi à exposição com seu namorado. aquele peixe que seria sua última ceia junto com o
marido depois de tantos anos.
5. Análise das palavras
Mastiga daqui, chora dali, pensa de lá, e de repente...
O professor seleciona, na frase, a palavra que vai se constituir engasga-se.
em chave para a continuidade do processo de alfabetização, com – O que é isso? Mulher? (Cospe o anel.) Eu não disse
a participação dos alunos. que Deus pode mais que todo o mundo?
(bem animado)
Essa palavra será memorizada globalmente e analisada pelos
alunos.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 38


O professor deve fazer a discriminação visual e auditiva da palavra-
chave.
Apresentar palavras semelhantes à palavra-chave, palavras que Continua ...
contenham sílabas da palavra-chave (em posição inicial, medial
e final). Viva Deus e ninguém mais.
Quando Deus não quer,
Depois é importante, também, discriminar e memorizar as sílabas ninguém nada faz.
estudadas nas palavras-chave. O pescador limpou o anel e correu em direção ao
palácio. Subiu as escadas de tapete vermelho
6. Formação de novas palavras/elaboração de frases e textos. cantando, fez uma reverência para o rei, que perguntou
todo poderoso:
Essas etapas são as mesmas desenvolvidas no método da
– e então, pescador? Onde está o meu anel?
palavração.
E o pescador, vitorioso:
Vantagens do método da sentenciação – Está aqui, meu rei!
O rei ficou boquiaberto? Não conseguia acreditar...
O método da sentenciação atende aos princípios e leis da percepção,
Teve de entregar o tesouro para o pescador; E até o
cultiva hábitos de leitura inteligente. rei teve que cantar:
Trabalha ainda o reconhecimento do som dentro da palavra, Viva Deus e ninguém mais.
aperfeiçoando e desenvolvendo os mecanismos corretos da leitura. Quando Deus não quer,
ninguém nada faz.
Segundo Gilda Rizzo (1983, p.31), quando bem trabalhado o método
da sentenciação possibilita o desenvolvimento dos hábitos e atitudes
(Extraído de: BEDRAN, Bia. O pescador, o anel e o rei.
necessários a uma leitura inteligente:
4.ed. Belo Horizonte: Editora Lê, 1999).
1. “habilidades em extrair idéias básicas do texto; Atenção! Este é um livro interessante para ser lido
2. atitude de leitor ativo; pelos alunos, pois além da história agradar a crianças,
jovens e adultos é muito bem ilustrado.
3. atitude reflexiva de leitura;
4. habilidade de aplicação inteligente do conteúdo lido;
5. habilidade de pensamento, leitura e crítica;
6. atitude de interesse e prazer na leitura.”
Leia, na janela, exemplos de atividades que podem ser usadas para
trabalhar sentenças.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 39


Método historiado

Este método é conhecido também como “de historietas”, “de


histórias”, “de contos” etc.
Ele representa uma extensão do método de sentenças e seu objetivo
é aumentar as vantagens do desenvolvimento dos hábitos e atitudes Sugestões de atividades para exploração do texto
(O pescador, o anel e o rei)
na leitura.
• Leitura feita pelo professor
O êxito do trabalho com o método historiado depende, em grande • Interpretação oral coletiva
parte, da seleção de um bom texto, cujo critério de escolha pode • Exploração da estrutura gráfica do texto:
ser o mesmo adotado nos métodos de palavração e sentenciação, – destacar a palavra pescador e outras e explorar
isto é, ressaltando a contextualização e o significado. número de letras, número de sílabas;
– uso de maiúsculas;
Qualquer que seja a história escolhida deve conter princípio, meio e – estrofes;
– parágrafos;
fim e ser do interesse do aluno, de forma a despertar a curiosidade
– pontuação;
para a leitura. – identificação dos nomes próprios;
– rimas.
Procedimentos • Exploração da sintaxe do texto:

1. Narração da história. O professor deve contar uma história para a – início, meio e final;
– palavras novas (desconhecidas);
turma. – exploração do significado das expressões como
2. Reprodução oral da história pela turma. O professor pode pedir a “sete chaves”, “vendeu minha cabeça”;
– produção de um texto coletivo com os
alguns alunos que reproduzam, oralmente, a história contada.
personagens da história.
3. Exploração do texto
Integração com outras áreas do conhecimento
O texto produzido pelo grupo deverá ser transcrito em papel pardo,
a. Artes
constituindo-se em um cartaz que deve estar exposto todo tempo – compor paródias
na sala de aula. Na transcrição do texto devem ser observados – reproduzir a história por meio de desenhos
cuidados tais como: uso de um tipo uniforme de letra, afastamento – dramatizar a história
entre as palavras, afastamento entre as linhas, pontuação etc.
b. Matemática
É importante que o texto seja curto e em linguagem próxima da – Trabalhar números ordinais a partir da palavra
realidade lingüística do aluno. décimo.
– Trabalhar ordem a partir da palavra penúltimo.
• Leitura em voz alta do texto completo pelo professor.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 40


• Exploração, com os alunos, do título do texto ou criação de
um título.
• Exploração das experiências dos alunos referentes às situações
Continua ...
vividas pelos personagens do texto.
– Seqüência numérica: escrever os numerais de
• Discussão com os alunos sobre as reações de cada 0 a 50.
personagem. – A partir da frase: “Pescou cinqüenta peixes,
quarenta e nove ele vendeu no mercado, e
• Leitura, pelo professor, apontando palavra por palavra do texto, um levou para mulher preparar”.
acentuando os espaçamentos gráficos entre as palavras e seus Trabalhar adição e subtração por meio de
correlatos sonoros, de forma que os alunos entendam a escrita problemas, envolvendo os elementos do texto.
como representação da fala. Ex.: O pescador pescou 40 peixes e os
distribuiu em 3 cestos.
• Leitura do texto por toda turma, sob a regência do professor Quantos peixes você acha que ficou em
que lê junto, aponta as palavras, sinaliza a direção da leitura, cada cesto?
marca a troca de linha etc. c. Natureza e Sociedade
• Exploração, com os alunos, dos aspectos formais do texto:
– Discutir regimes políticos: monarquia e
pontuação, uso de maiúsculas e minúsculas etc. república.
• Identificação das palavras que se repetem. – Explorar a profissão do pescador e as dos
alunos.
• Repetição da leitura do texto, ora pela turma toda, ora por um – Pesquisar: produtos do mar
único aluno. importância do mar para a vida
dos consumidores.
4. Decomposição do texto
d. Ética
Essa etapa volta-se para o reconhecimento, e posterior – Discutir as atitudes do rei e da mulher do
memorização, das frases do texto. Sugere-se o desenvolvimento pescador.
de atividades como:
• Registro em tiras de papel de cada frase do texto, solicitando
aos alunos que o remontem corretamente.
• Análise do texto com a seqüência das frases alterada,
verificando a manutenção ou não do sentido e permitindo aos
alunos emitirem opinião pessoal.
• Localização, pelos alunos, da tira correspondente à frase ditada
pelo professor.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 41


• Localização, pelos alunos, da tira correspondente à frase que está
faltando no texto registrado no quadro pelo professor.
• Ilustração pelos alunos de cada frase do texto.
5. Análise das frases
Esta etapa pretende possibilitar que o aluno perceba o texto como unidade
maior resultante da articulação de outras unidades de sentido. Para Pesquisar 2
• Separação, na frase, da palavra-chave.
• Realização de exercícios com a palavra-chave. Vamos fazer uma atividade prática.
• Separação da palavra-chave em sílabas. • Selecione uma história que você
• Realização de exercícios com as sílabas destacadas. considere interessante para a sua turma.
• Estudo da família silábica. • Produza um texto que sintetize a história
e possa ser usado para alfabetização
Vantagens do Método historiado pelo método historiado.
Consideram-se como vantagens deste método: • Analise o texto produzido, verificando se
• Contextualização da aprendizagem. tem começo, meio e fim; se mantém as
idéias principais da história e se a
• Estímulo à liberdade de criação dos alunos. linguagem é compatível com o nível dos
• Valorização da produção dos alunos. alunos.
Que conclusões você tira dessa atividade?
Sintetizando e Restrições ao Método historiado
enriquecendo nossas
Os resultados dependem da qualidade das histórias selecionadas e das
informações
sentenças e palavras destacadas. O professor pode comprometer a eficácia
do processo ao utilizar histórias desvinculadas do interesse dos alunos.
Faça a síntese do texto,
complementando-o com outras Veja, na janela, um exemplo de exploração de texto de acordo com o método
informações que considere historiado.
relevantes.

Analise as desvantagens dos


métodos analíticos, identificando
o que eles têm em comum quanto
a esse aspecto.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Métodos de Alfabetização 42


UNIDADE: Alfabetização e
Construtivismo

Reflexões a respeito da prática construtivista


Aprender é construir

A aprendizagem contribui para o desenvolvimento


O que você pensa disto? Segundo COLL e SOLÉ (1999, p.19): na medida em que aprender não é copiar ou
A concepção construtivista da aprendizagem e do ensino parte reproduzir a realidade. Para a concepção
Em que consiste a concepção construtivista, aprendemos quando somos capazes
do fato óbvio de que a escola torna acessíveis aos seus alunos
construtivista? de elaborar uma representação pessoal sobre um
aspectos da cultura que são fundamentais para seu objeto da realidade ou conteúdo que pretendemos
Que aspectos você considera desenvolvimento pessoal, e não só no âmbito cognitivo; a aprender. Essa elaboração implica aproximar-se
essenciais ao êxito da prática educação é motor para o desenvolvimento, considerado de tal objeto ou conteúdo com a finalidade de
construtivista? globalmente, e isso também supõe incluir as capacidades de apreendê-lo; não se trata de uma aproximação
equilíbrio pessoal, de inserção social, de relação interpessoal e vazia, a partir do nada, mas a partir das
motoras. Ela também parte de um consenso já bastante arraigado experiências, interesses e conhecimentos prévios
em relação ao caráter ativo da aprendizagem, o que leva a aceitar que, presumivelmente, possam dar conta da
que esta é fruto de uma construção pessoal, mas na qual não novidade. Poderíamos dizer que, com nossos
significados, aproximamo-nos de um novo aspecto
intervém apenas o sujeito que aprende, os “outros” significativos, que, às vezes, só parecerá novo, mas que na
os agentes culturais, são peças imprescindíveis para essa verdade poderemos interpretar perfeitamente com
construção pessoal, para esse desenvolvimento ao qual aludimos. os significados que já possuíamos, enquanto,
A concepção construtivista do processo de ensino e aprendizagem outras vezes, colocará perante nós um desafio ao
qual tentamos responder modificando os
integra posições diversas, às vezes antagônicas em vários aspectos.
significados que já possuíamos, a fim de podermos
Vejamos. dar conta do novo conteúdo, fenômeno ou
situação. Nesse processo, não só modificamos o
No sentido exposto, este referencial explicativo permite integrar
que já possuíamos, mas também interpretamos
posições que às vezes se contrapõem muito; não contrapõe o o novo de forma peculiar, para poder integrá-lo e
acesso à cultura ao desenvolvimento individual. Pelo contrário, torná-lo nosso.
entende que este, mesmo tendo uma dinâmica interna (como
demonstrou Piaget), adota cursos e formas dependentes do Quando ocorre este processo, dizemos que
contexto cultural em que a pessoa em desenvolvimento vive; estamos aprendendo significativamente,
construindo um significado próprio e pessoal para
entende que esse desenvolvimento é inseparável da realização
um objeto de conhecimento que existe
de certos aprendizados específicos. Pela mesma razão, não objetivamente. De acordo com o que
contrapõe construção individual à interação social; constrói-se,

A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo 43


porém se ensina e se aprende a construir. Em definitivo, não
contrapõe a aprendizagem ao desenvolvimento, e entende a
educação – as diversas práticas educativas das quais um mesmo
indivíduo participa – como a chave que permite explicar as relações Continua ...
entre ambos.” (COLL e SOLÉ, op. cit. p.19) descrevemos, fica claro que não é um processo
que conduz à acumulação de novos
A adoção da prática construtivista envolve a reflexão a respeito de conhecimentos, mas à integração, modificação,
aspectos como o preparo para a Alfabetização, a mediação pedagógica, estabelecimento de relações e coordenação entre
a ambientação física e psicológica, o trabalho colaborativo, a esquemas de conhecimento que já possuíamos,
aprendizagem significativa, entre outros. dotados de uma certa estrutura e organização que
varia, em vínculos e relações, a cada aprendizagem
Vamos refletir a respeito de alguns deles. que realizamos.

Um exemplo simples permitirá ilustrar esse


O preparo para a Alfabetização processo. Quando lemos um documento sobre os
conteúdos escolares que diz que eles são
Durante muito tempo acreditou-se que o aluno deveria ser “preparado” integrados não só por fatos e conceitos, mas
para a Alfabetização por meio do desenvolvimento de habilidades de também por conteúdos de procedimento e de
lateralidade, coordenação motora ampla e fina, discriminação auditiva, atitude, em geral não nos limitamos a registrar
percepção visual. O desenvolvimento destas habilidades ocorria por essa afirmação, mas tentamos compreendê-la.
meio de atividades mecânicas tais como: cobrir pontilhados, recortar, Para isso, contrastamos com esta idéia nossa visão
colar, marcar rítmo etc. de “conteúdo escolar” que pode estar mais ou
menos próxima da nova afirmação, em um
Na Alfabetização de jovens e adultos estas atividades mecânicas processo que nos leva a identificar os aspectos
mostram-se ainda mais sem significado. Qual o sentido, por exemplo, discrepantes, a estabelecer relações entre os que
não o parecem, a explorar ao máximo nosso
de submeter mulheres que costuram, bordam, pregam botões, catam
conhecimento prévio para interpretar o novo, para
arroz e feijão, esfregam roupas e panelas, varrem, lavam vidros, separam modificá-lo e para estabelecer novas relações que
e embalam objetos, dançam pagode e samba, fazem longas caminhadas permitam ir mais além. Seguindo com o exemplo,
etc. a exercícios mecânicos para desenvolvimento de habilidades de talvez um professor perceba que muitos desses
coordenação motora? Nenhum, não é mesmo? “novos” conteúdos já estavam presentes em sua
escola, e que sua novidade reside mais no fato
A concepção atual de Alfabetização considera que o preparo necessário de ser preciso torná-los mais explícitos, isto é,
ao aluno consiste em que o aprendiz “tenha compreendido que a planejá-los, ensiná-los e avaliá-los. Outro
escrita é um modo de representar conceitos, idéias, pensamentos e a professor, por sua vez, pode viver um conflito para
maneira pela qual esta representação é feita.” (GROSSI, s.d., p.9) discernir entre os conteúdos de procedimentos e
as estratégias por ele utilizadas para ensinar os
Segundo Emília Ferreiro, os alunos formulam suas próprias hipóteses alunos; inclusive pode ocorrer que sua
sobre a construção da escrita e a alfabetização ocorre quando constroem

A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo 44


a hipótese alfabética, isto é, internalizam que cada som deve ser
representado por uma letra. Antes desse entendimento não há
preparação que leve à Alfabetização.
Continua ...
Emília Ferreiro pesquisou esta questão e constatou que os traçados
disformes feitos pelas crianças não alfabetizadas não eram meros compreensão o leve a confundir ambas as coisas,
sem estar consciente disso.
“rabiscos”, mas tentativas de escrita, hipóteses sobre a escrita que a
criança formulava no processo de aquisição da mesma. Nos dois casos, parece evidente que a experiência
pessoal e os conhecimentos de cada um
Vejamos as formulações sobre a psicogênese da escrita, apresentadas determinam a interpretação que realizam. Ela
no quadro que se segue. também depende das características do próprio
conteúdo. (...) Simplesmente frisaremos que as
Hipóteses Etapas noções de aprendizagem significativas não são
sinônimas da aprendizagem na medida em que
Escrita = Imagem (etiquetas de desenhos • Pré-simbolismo determinadas condições estejam presentes; e
ou marcas pictográficas) • Distinção entre modo de sempre pode ser aperfeiçoada. Na mesma
representação icônico (figurativo) e medida, essa aprendizagem será
não-icônico (não-figurativo) significativamente memorizada e será funcional,
• Foco em nomes de objetos ou útil para continuar aprendendo. A significatividade
• Realismo Nominal: indiferenciação
substantivos concretos e a funcionalidade da aprendizagem nunca são
entre significado (objeto representado)
• Quantidade mínima de caracteres uma questão de tudo ou nada.
e significante (palavra)
(3ou4) – convencionais ou inventados • Formas de diferenciação quantitativas Uma construção peculiar; construir na escola
• Variedade interna de caracteres: e qualitativas
letras repetidas não podem ser lidas: • Sem correspondência grafia/som No âmbito escolar, essa intensa atividade mental
AAA PRÉ-SILÁBICA – e com freqüência também externa, observável
(OHIICX) = GATO – que caracteriza a aprendizagem adquire algumas
características peculiares, que convém estudar
• Recorte na emissão sonora em SILÁBICA mais de perto. Em primeiro lugar e embora as
sílabas, com um registro para cada (G T) ou (A O) = GATO crianças aprendam na escola coisas que talvez
uma delas. não estavam previstas, não se pode negar que aí
• Utilização de algumas letras para SILÁBICA – ALFABÉTICA estão para aprender algumas outras, e que estas
representar sílabas, e de outras para (G T O) OU (G A T) = GATO são bastante identificáveis. Os conteúdos escolares
representar fonemas. constituem um reflexo e uma seleção (cujos
• Compreensão do sistema sonoro ALFABÉTICA (GATO) critérios sempre são discutíveis e revisáveis)
(fala) com representação de daqueles aspectos da cultura cuja aprendizagem
caracteres correspondentes na escrita: considera-se que contribuirá para o
fonema como menor unidade. desenvolvimento dos alunos em sua dupla
dimensão de socialização – na medida em que

45
Fonte: FERREIRO e TEBEROSKI apud CEALE (1985, p.50)

A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo


As pesquisas a respeito das hipóteses ortográficas têm contemplado os
alunos da faixa infantil. Os adultos não gostam de se exporem em
tentativas de escrita sem uma mínima certeza de êxito. Assim, tornam-
se pouco comuns as produções destes alunos nas etapas pré-simbólica Continua ...
e pré-silábica. Além do mais, tradicionalmente, trabalha-se com esta
os aproximam da cultura do seu meio social – e
clientela, utilizando-se o método silábico ou o da palavração de individualização, na medida em que o aluno
construirá com esses aspectos uma interpretação
Observe que as descobertas de Emília Ferreiro mudaram totalmente o
pessoal, única na qual sua contribuição é decisiva.
conceito de prontidão, transferindo a ênfase dada a pontilhados e
traçados mecânicos para aspectos ligados à construção da escrita Enjeitados por muito tempo, após épocas de
com significado. hegemonia absoluta na estruturação da tarefa
educacional, os conteúdos aparecem no
Portanto, no processo de aprendizagem é importante propiciar ao referencial da concepção construtivista como um
aluno oportunidade de contato com letras, palavras, textos, situações elemento crucial para entender, articular, analisar
e inovar a prática docente.
reais de uso da língua escrita.
(...)

Mediação pedagógica Entretanto, convém lembrar que esses conteúdos,


sejam eles quais forem, já estão elaborados e
A proposta de Alfabetização e Letramento que vimos discutindo fazem parte da cultura e do conhecimento, o que
pressupõe uma nova visão do processo de ensino-aprendizagem e exige, faz com que a construção dos alunos seja uma
construção peculiar. Com efeito, constrói-se algo
necessariamente, um repensar da relação do aluno com o objeto do
que já existe, o que naturalmente não impede a
conhecimento, com o professor e com os outros alunos. construção – no sentido que lhe damos: atribuir
significado pessoal –, embora obrigue que ela se
Envolve uma postura diferente do educador, caracterizada como
realize em um determinado sentido: justamente
mediação da aprendizagem. aquele que aponta a convenção social em relação
ao conteúdo concreto. Ou seja, não se trata de
“Por mediação pedagógica entendemos a atitude, o alunos somarem aproximadamente como está
comportamento do professor que se coloca como um estabelecido, ou colocarem a letra “agá” onde lhes
facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que pareça melhor. Embora, obviamente, possam, em
se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o seu processo, “inventar” formas de somar muito
aprendiz e sua aprendizagem – não uma ponte estática, mas interessantes, que podem levá-los a resultados
uma ponte ’rolante’, que ativamente colabora para que o inesperados; embora possam usar a ortografia de
maneira sumamente criativa e pouco convencional,
aprendiz chegue aos seus objetivos. É a forma de se apresentar é óbvio que essa construção pessoal deve ser
e tratar um conteúdo ou tema que ajuda o aprendiz a coletar orientada no sentido de aproximar-se do
informações, relacioná-las, organizá-las, manipulá-las, discuti-
las, debatê-las com seus colegas, com o professor e com outras

A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo 46


pessoas (interaprendizagem), até chegar a produzir um
conhecimento que seja significativo para ele, conhecimento
que se incorpore ao seu mundo intelectual e vivencial, e que o
ajude a compreender sua realidade humana e social, e mesmo Continua ...
interferir nela“. (MASETTO, 2001. p. 144-145) culturalmente estabelecido, compreendendo-o e
podendo usá-lo de múltiplas e variadas formas
De acordo com a teoria sócio-interacionista de Vygotsky, a construção
do conhecimento ocorre em meio a uma rede histórico-cultural, desde Esta é uma das razões pelas quais a construção
o nascimento do indivíduo, que envolve as pessoas e as organizações dos alunos não pode ser realizada solitariamente:
com os quais ela interage, participando ativamente da construção de por que nada garantiria que sua orientação fosse
sua cultura e de sua história. a adequada, que permitisse o progresso. A outra
razão, muito mais importante, é que de forma
A construção das aprendizagens envolve os hábitos, as atitudes, os solitária não seria assegurada a própria construção.
valores e a linguagem das pessoas que interagem com o aluno, em A concepção construtivista assume todo um
seu grupo familiar e em outras instituições próximas como o emprego conjunto de postulados em torno da consideração
e a escola, ou contextos mais distantes da própria cidade, estado, país do ensino como um processo conjunto,
compartilhado, no qual o aluno, graças à ajuda
ou outras nações. que recebe do professor, pode mostrar-se
Todos os sujeitos influenciam-se e modificam-se ao interagirem. A progressivamente competente e autônomo na
resolução de tarefas, na utilização de conceitos,
construção do conhecimento ocorre em dois momentos, sendo o
na prática de determinadas atitudes e em
primeiro inter-subjetivo (entre sujeitos) e o segundo intra-subjetivo (no numerosas questões.
interior do próprio sujeito).
É uma ajuda porque é o aluno que realiza a
Vygotsky observou que os professores tradicionalmente preocupam-se construção; mas é imprescindível, porque essa
em detectar o nível de desenvolvimento real do indivíduo, o qual ajuda, que varia em qualidade e quantidade, que
revela a possibilidade de sua atuação independente. Assim, considera é contínua e transitória e que se traduz em coisas
somente o resultado final da aprendizagem, deixando de observar o muito diversas – do desafio à demonstração
processo desenvolvido pelo aprendiz ou de possibilitar-lhe a superação minuciosa, da demonstração de afeto à correção
das dificuldades por meio da mediação do professor ou de colegas – que se ajustam às necessidades do aluno, é
que permite explicar que este, partindo de suas
mais experientes. Segundo Vygotsky esta mediação ocorre na zona de possibilidades, possa progredir no sentido
desenvolvimento proximal, constituída pela distância entre o nível de apontado pelas finalidades educativas, isto é, no
desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial. sentido de progredir em suas capacidades. E isso
acontece dessa forma porque essa ajuda situa-
A mediação da aprendizagem tem como finalidade contribuir para a se na zona de desenvolvimento potencial, zona
atuação crítica dos sujeitos nas diversas relações estabelecidas na em que a ação educativa pode alcançar sua
sociedade. As interações, a linguagem, as experimentações, os jogos, máxima incidência.
envolvendo outras pessoas, atuam na zona de desenvolvimento proximal,

47
facilitando as aprendizagens.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo
O Prof. Ubiratan D´Ambrósio resume bem esse papel de mediador da
aprendizagem do professor ao afirmar que:
“Ao professor é reservado o papel de dialogar, de entrar no Continua ...
novo junto com os alunos, e não o de mero transmissor do
Dessa maneira, a criança vai construindo
velho. O professor cuja atividade é transmitir o velho não tem aprendizagens mais ou menos significativas, não
mais espaço neste mundo que estamos começando a viver. É só porque possui determinados conhecimentos,
nesse sentido que podemos dizer que estamos entrando numa tampouco porque os conteúdos sejam estes ou
nova era na educação.” aqueles; e os constrói pelo que foi dito e pela
ajuda que recebe de seu professor, tanto para
usar sua bagagem pessoal quanto para ir
Trabalho colaborativo progredindo em sua apropriação. Na verdade,
poderíamos afirmar que essa ajuda, a orientação
que ela oferece e a autonomia que permite, é o
O trabalho colaborativo é fundamental no processo de alfabetização
que possibilita a construção de significados por
pois promove a interação entre os alfabetizandos e propicia a socialização parte do aluno.
do saber. Para facilitar o trabalho colaborativo o professor deve organizar
o ambiente físico de acordo com as atividades a serem desenvolvidas. O motor de todo esse processo deve ser buscado
no sentido a ele atribuído pelo aluno; no sentido
Esse trabalho mostra que o processo de construção do conhecimento intervêm os aspectos motivacionais, afetivo-
não se dá pela simples transmissão de informações, mas pela resolução relacionais que se criam e entram em jogo a
propósito das interações estabelecidas em torno
de problemas. Quanto mais hipóteses o aluno formular para resolvê-
da tarefa. Considerar a importância desses
los maiores serão as chances de sucesso. O trabalho colaborativo aspectos não pressupõe, a nosso ver, depositá-
permite a troca de informações, a busca conjunta de alternativas e a los exclusivamente no aluno; pelo contrário, requer
verificação dos resultados com os colegas. uma reflexão sobre o que faz com que emerjam
em sentido mais ou menos positivo, reflexão que
O trabalho colaborativo consiste em um método de trabalho, que não pode deixar à margem o impacto das
admite uma gama de técnicas apropriadas ao trabalho, porém, mais expectativas dos alunos em relação ao que vai
do que isso, é um ambiente de aprendizagem, no qual o grupo suceder em um processo de ensino e em relação
trabalha e aprende junto. Trata-se de uma proposta que propicia as aos resultados que presumivelmente serão obtidos.
(...) Em uma perspectiva um pouco mais ampla,
interaprendizagens.
das relações entre âmbito cognoscitivo e o afetivo-
No ambiente colaborativo desenvolvem-se atividades coletivas, em relacional, na perspectiva de que, em uma lógica
construtivista, é a pessoa, considerada
pequenos grupos e até mesmo individualizadas. Os trabalhos em equipe globalmente, que aprende, e esse aprendizado
podem ser homogêneos (todos realizam a mesma atividade) ou também repercute globalmente na pessoa, naquilo
diversificados (cada grupo realiza atividades diferentes). que sabe e em sua forma de ver-se e de relacionar-
se com os demais.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo 48


A proposta de trabalho diversificado pode ocorrer com os grupos
distribuídos de forma irregular, inclusive alguns alunos realizando
trabalho individual.
Continua ...
Niquini (1997, p.24) faz a seguinte transcrição:
Em síntese, na concepção construtivista, assume-
se que na escola os alunos aprendem e se
“De fato, não se pode chamar de GC* todas as vezes que, em desenvolvem na medida em que podem construir
classe, os alunos são colocados em grupos para discutir um significados adequados em torno de conteúdos
tema ou estudar uma lição, solicitando aos alunos uma ajuda que configuram o currículo escolar. Essa
recíproca ou dando a eles um trabalho a ser realizado com o construção inclui a contribuição ativa e global do
objetivo de realizarem-no por escrito, devolvendo-o, no final, para aluno, sua disponibilidade e conhecimentos
prévios no âmbito de uma situação interativa, na
uma avaliação. qual o professor age como guia e mediador entre
a criança e a cultura, e dessa mediação – que
Para que haja um grupo de aprendizagem cooperativa, devem adota formas muito diversas, como o exige a
estar presentes quatro características e que se mantenham diversidade de circunstâncias e de alunos –
específicas e fundamentais: a interdependência positiva, a depende em grande parte o aprendizado realizado.
Este, por último, não limita sua incidência às
interação face a face, a avaliação individual e o uso de habilidades capacidades cognitivas, entre outras coisas porque
interpessoais no agir dos pequenos grupos. (JOHNSON e os conteúdos da aprendizagem, amplamente
JOHNSON, HOLUBEC & ROY, 1984). entendidos, afetam todas as capacidades:
repercute no desenvolvimento global do aluno.
Para Niquini (1997), o grupo colaborativo diferencia-se do grupo
(Extraído de COLL, César et al. O construtivismo na
tradicional porque: sala de aula. Trad. Cláudia Schilling. 6 ed. São Paulo:
Ática, 1999. p.19 –24)
• os componentes vivenciam uma interdependência positiva, todos
se empenham e se responsabilizam pela própria aprendizagem e
pela dos demais componentes do grupo;
• cada componente é responsável pelo próprio progresso, participando
ativamente da própria aprendizagem e avaliação e todos se ajudam
mutuamente a vencer dificuldades;
• caracteriza-se pela diversidade de seus membros, que apresentam
características e habilidades variadas, valorizando-as;
• a liderança é compartilhada pelos componentes, que assumem
tarefas diferentes de gestão do trabalho e do grupo;

A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo 49


• estabelecem-se interações positivas, além de um alto nível de
aprendizagem;
• desenvolvem-se diretamente competências de relacionamento e
comunicação;
• o professor realiza intervenções, oferecendo feedbacks aos Conhecimento
participantes e acompanhando o seu trabalho; Artigo 25. O conhecimento é um processo
deflagrador de autorias individuais e coletivas, um
Portanto, o trabalho colaborativo imprime uma dinâmica diferenciada processo humanizante de des/re/construção da
à sala de aula e propicia a realização efetiva de interaprendizagens. história e questionador incessante do próprio
conhecimento.
Artigo 26. O conhecimento é envolvimento
Ambientação física e psicológica compreensivo da realidade, é construção de
saberes entre pessoas que mais desafiam o
É essencial que o professor organize um ambiente alfabetizador com cotidiano como projeto provisório de histórias
vistas a possibilitar contatos estimuladores com a escrita. Este ambiente solidárias entre criaturas que reassumem a
envolve a organização física e psicológica da sala de aula. condição de criadores de seus próprios destinos,
cada vez mais comprometidos com as felicidades
Como muitos dos alunos não possuem em casa um ambiente letrado, coletivas.
é importante que a escola proporcione a eles um ambiente físico Artigo 27. O conhecimento origina-se e se realiza
instigante, rico em portadores de texto e momentos de leitura e escrita, das práticas coletivas do homem, de suas relações
interessantes e significativos. interpessoais fraternas e dos processos
sustentados da natureza, de mútuos benefícios.
Constituem recursos adequados a um ambiente alfabetizador: diferentes
Artigo 28. O conhecimento, carregado de desejo
tipos de alfabeto confeccionados em tamanhos e materiais variados
e de sonho, é uma ação humana de saber de si e
(plástico, madeira, papel etc.), revistas, jornais, livros, cartazes, do outro para a reconstrução coletiva do mundo
embalagens, rótulos e jogos com letras e palavras. Recomenda-se que parcial em que está inserido.
estes recursos estejam sempre ao alcance e à disposição do educando, Artigo 29. O conhecimento pressupõe a reinvenção
objetivando a interação do mesmo com o mundo das letras. recíproca da realidade pela prática solidária entre
as pessoas e a natureza em busca de benefícios
Além de disponibilizar um material escrito variado, é importante compartilhados.
proporcionar ao aluno oportunidades de contato direto com a escrita
Artigo 30. Torna-se necessário eliminar as
de forma instigadora e prazerosa, estimulando-o a pensar, a raciocinar,
barrreiras que se criam entre as pessoas para o
a interpretar e a criar. estabelecimento de clima propício, que só pode
fecundar de uma relação dialógica e comprometida
A ambientação psicológica instigadora pressupõe:
com o prazer de conhecer.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo 50


• a criação de um clima harmonioso e cooperativo, onde todos tenham
liberdade para se expressar. Esta característica é particualrmente
importante na Educação de Jovens e Adultos, já que aprendem
melhor em ambientes descontraídos; Continua ...
• atendimento às diferenças individuais;
Artigo 31. “Não peço aos livros a não ser dar-me
• a preservação / desenvolvimento da auto-estima; prazer por honesto divertimento; ou, quando
• o desenvolvimento de valores; estudo, procuro neles apenas a ciência que trata
• a liberdade para testar hipóteses, de errar, de mudar de opinião etc. do conhecimento de mim mesmo, e que me
instrua a bem morrer e a bem viver.” (Montaigne,
Este ambiente possibilita o desenvolvimento do processo de 1533-1599)
Alfabetização significativa, o fortalecimento da auto-estima, a ampliação
da consciência e de formas variadas de expressão de idéias. Artigo 32. O conhecimento só poderá ser usado
adequadamente quando se referir ao tipo de
aprendizagem que envolva compreensão da
Aprendizagem significativa realidade e busca de soluções de problemas, a
partir do imaginário e da criatividade do
aprendente.
Aprendizagem significativa é aquela que tem sentido
para o aluno. Artigo 33. O conhecimento não será discriminado,
elitizado ou deselitizado, de acordo com as
diferentes classes e grupos sociais.
Ele aprende algo que lhe interessa saber, envolve-se por inteiro: razão,
emoção, valores etc., vivenciando a descoberta e a compreensão, Artigo 34. O conhecimento elevará os níveis de
mesmo que o primeiro estímulo venha de fora. aspiração social e cultural do aprendente,
confiando em suas potencialidades de inserir-se
A aprendizagem significativa tem como base o desejo natural de dignamente no mundo do trabalho e na sociedade.
aprender, que pode ser liberado sob condições apropriadas ou Artigo 35. O aprendente deverá ser animado pelas
entorpecido à medida que o indivíduo passa por situações convivências e experienciar o conhecimento sob
desestimuladoras de aprendizagem, caso em que se torna necessário o respeito mútuo, o diálogo organizado e
remover as ameaças externas à aprendizagem, para que ela se realize. espontâneo, a investigação cooperativa sem
arbitrariedades e manipulações; será animado a
A aprendizagem significativa ocorre quando o tema em estudo se desenvolver conceitos, forjar definições e
relaciona ao contexto, interesses ou objetivos do aluno e ele percebe interferências, fazer conexões e distinções,
isto. Colocar o estudante em contato direto com problemas práticos e raciocinar analogicamente, investigar a si mesmo,
apossar-se de idéias coletivamente, construir a
de pesquisa, possibilitar que ele escolha suas próprias direções, participe
partir do conhecimento próprio e dos outros,
do processo de descoberta de recursos de aprendizagem, formule pensar independentemente, procurar razões para
problemas que lhe dizem respeito, decida quanto ao curso de ação a seus pontos de vista, explorar suas
seguir e viva as conseqüências de cada uma dessas escolhas,

A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo 51


constituem procedimentos estimuladores de aprendizagens
significativas.
Torna-se essencial que o aluno tenha consciência de estar realizando Continua ...
a sua própria aprendizagem, envolvendo-se por inteiro.
pressuposições, trazer para sua vida novas
A independência, a criatividade e a autoconfiança são facilitadas num percepções do que significa descobrir, inventar,
ambiente estimulador e amigável, no qual a auto-avaliação tem mais interpretar e criticar, perceber as virtudes da
conversação, do diálogo, da participação, evitando
peso que a avaliação feita por outros. o individualismo e o coletivismo desenfreados.
O aluno deve ser preparado para incorporar novas e desafiadoras Artigo 36. Os projetos serão alicerçados no sistema
aprendizagens de forma a intervir sobre o mundo atual, em constantes de planejamento participativo da própria
e rápidas transformações, contribuindo para que elas sejam aprendizagem. Os temas, eletivos e flexíveis nos
enriquecedoras para a comunidade. comprometimentos recíprocos, serão
reinterpretados e realizados com a alegria de
É importante que o professor esteja atento ao clima estabelecido na reaprender o que realmente faz sentido e
equipe, transmitindo a sua confiança no grupo e nos indivíduos que o apresenta referência significativa ao grupo que se
compõem, de forma que se sintam à vontade para solicitar auxílio dispõe a aprender o que foi decidido que é
necessário ser aprendido.
quando dele necessitarem.
(Extraído de: CARMO, Paulo Roberto do. SOUZA, Vilmar
Constituem exemplos de atividades significativas para o aluno, no Figueiredo de. A revolição das aprendências; como o
período de alfabetização: regimento escolar pode libertar a alegria de aprender.
São Leopoldo: UNISINOS, 2000. p.21-22.)
– trabalho com a escrita do próprio nome, crachás, auto-chamada,
jogos de letras para formar o próprio nome e o de colegas etc;
Atenção. Sugerimos a você a leitura da obra na
– leitura de história pela professora; íntegra, uma, duas, muitas vezes, refletindo,
– reescrita coletiva da história lida ou contada; apropriando-se, revendo seus conceitos.

– escrita da lista de personagens da história;


– dramatização da história;
– desenho dos personagens principais e escrita dos respectivos nomes
(deixar o aluno livre nessa escrita);
– manuseio de diferentes portadores de texto;
– construção de livros de história, álbuns, dicionários;

52
– jogos de letras e palavras (bingo, memória, dominó etc);
A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo
– jogos de números, operações etc.;
– confecção e etiquetagem de fantoches;
– resolução de problemas;
– chamada viva (o aluno se apresenta, procura no Quadro de Pregas
sua ficha e a coloca no cartaz de freqüência);
– confecção de cadernos de receitas de culinária, de artesanato, de
agricultura etc.
Leia o texto Conhecimento, disponibilizado na janela.
Sintetizando e
enriquecendo nossas
Para refletir!
informações.

Faça a síntese do texto, Analise o texto e reflita.


complementando-o com
informações dos textos Aprender Qual a sua relação com o conhecimento?
é construir e Conhecimento que se
encontram na janela, com suas Como você concebe o conhecimento na sua
observações e novas sugestões de atividade?
atividades.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Alfabetização e Construtivismo 53


UNIDADE: Planejamento

O planejamento: conceito, componentes, finalidades e


características essenciais
Significado do Planejamento

Ao planejamento são atribuídos


O que você pensa disto? Conceito de planejamento
significados diversos segundo o enfoque e
a ênfase com que o estudioso o aborda.
Dessa forma, surgem diferentes conceitos
Qual o significado do planejamento Hernandez (1988, p.42) afirma que que nos orientam na abordagem à
para você? problemática do planejar.
“Planejamento é etapa intermediária entre o conhecimento construído
Quais os componentes do e refletido nas diversas experiências vivenciadas pelos docentes durante É possível, no entanto, verificar que as
planejamento? sua formação pedagógica (cursos, seminários, encontros, leituras, variações apresentadas nos conceitos de
planejamento não os tornam mutuamente
debates, reuniões...) e a ação concreta a realizar. A consciência de excludentes, mas sim, complementares
É importante planejar na que planejamos para a prática e que fazer plano só tem sentido se entre si, porque expressam, em última
Alfabetização? desencadear a ação vai mudar a óptica dos planejadores instância, uma preocupação única: a de
comprometendo-os mais num trabalho personalizado e contextualizado.” que ações significativas sobre uma dada
Em caso afirmativo, quando realidade sejam praticadas de forma
planejar? Assim, planejar é refletir sobre as concepções, o contexto e as pessoas sistemática, a partir de uma visão clara da
envolvidas no processo para tomar decisões, é refletir sobre a prática para sua necessidade e dos seus objetivos e
Com que finalidade? ordenadas de modo a obter o máximo de
avaliá-la e refazer os caminhos já percorridos, quando necessário, ou alçar
resultados com o melhor uso de recursos.
vôos mais amplos quando a reflexão assim o indicar. Expressam, pois, uma orientação para a
superação da ação improvisada, que se
Seguindo com a autora teremos. direciona por uma visão extremamente
limitada e parcial da realidade, comumente
“Planejar significa antever o que irá acontecer, as metas a serem
impulsiva e direcionada por interesses
vencidas e a melhor maneira de atingi-las, decidindo-se por trabalhos estabelecidos emocionalmente e de caráter
que envolverão todo o grupo, ou por alternativas diferenciadas conforme personalístico.
características especiais da turma. Planejar significa, também prever o
Conceitos de planejamento
tempo necessário para execução e avaliação do projetado.”
(HERNANDEZ, op. cit. p.42) Vejamos alguns conceitos de
planejamento. O mesmo é considerado
Vamos analisar outro conceito de planejamento, visando entender a sua como:

54
importância.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento
Planejamento é um processo de tomada de decisões dentre
as várias alternativas possíveis, tendo em vista o
desenvolvimento de um conjunto de ações para alcançar
determinados objetivos de forma eficiente. Continua ...
Assim o planejamento constitui um processo que envolve decisões contínuas 1. “Processo permanente e metódico de
do professor a respeito dos métodos, técnicas, passos e operações. abordagem racional e científica de
problemas” (Baptista, 1979, p.13).
O conjunto de ações refere-se às experiências de aprendizagem desenvolvidas
2. “Processo de tomada de decisão,
com vistas ao alcance dos objetivos. execução e teste de decisões”
O planejamento de um curso, de uma unidade ou de uma aula envolve uma (Goldberg, 1973, p.64).
série de decisões sobre os resultados que se quer alcançar, os conteúdos a 3. “Processo de antecipação e antevisão
serem desenvolvidos, a maneira de ensinar, os recursos, a duração e a forma de condições, estados ou situações
de avaliar se o aluno aprendeu ou não; tudo isso visando reduzir as incertezas futuras, desejadas, e a previsão de
do futuro, ou seja, todos os aspectos necessários para a
obtenção desses resultados” (Chruden
tomar decisões antecipadas sobre o que fazer, para que e Sherman, 1972, p.52).
fazer, como fazer, quem deve fazer, com que fazer, onde
4. “Processo que consiste em preparar um
fazer, quando fazer e como avaliar o que foi feito. conjunto de decisões tendo em vista
agir, posteriormente, para atingir
Veja, na janela, o texto Significado do planejamento.
determinados objetivos” (in Turra et al.
1975, p.13).
Componentes do planejamento 5. Processo de direção e controle das
ações de uma pessoa, em busca de
Os componentes do planejamento podem ser facilmente identificados por um objetivo determinado (Kaufman,
meio das seguintes perguntas: 1978).
• Para quem? → caracterização dos alunos 6. “Visão antecipada de estágios mais
avançados de desenvolvimento e de
• Para quê? → definição dos objetivos
qualidade da instituição e previsão dos
• O quê? → seleção e organização dos conteúdos passos necessários para atingi-los”
• Como? → definição das atividades (Juliatto, 1991).

• Quando? → previsão da duração das atividades 7. “Processo que se inicia com a fixação
de objetivos e define as estratégias, as
• Por meio de quê? → seleção dos recursos políticas e os planos detalhados para
• Como avaliar? → decisão das estratégias de avaliação os atingir” (Hampton, 1980, p.120).

A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento 55


Caracterização dos alunos

O processo de ensino-aprendizagem deve ser planejado a partir das


necessidades e interesses dos alunos. Assim, o processo inicia-se pelo Continua ...
conhecimento dos alunos: seus interesses, experiências positivas e negativas,
conhecimentos etc. Segundo uma descrição mais específica
e analítica, o planejamento é conceitudo
O professor pode adotar para conhecer seus alunos procedimentos tais como: como sendo:

• consulta aos registros da escola; 8. Processo de estruturação e organização


da ação intencional, realizado
• conversas informais, procurando estar atento ao que eles têm a dizer;
mediante:
• relatos de experiências;
• análise de informações relevantes
• sondagem sobre suas preferências; do presente e do passado,
• observação em situações diversas como: jogos, folguedos, atividades livres objetivando, principalmente, o
etc.; estabelecimento de necessidades
a serem atendidas;
• observação de dificuldades, receios, bloqueios etc.;
• estabelecimento de estados e
• realização de questionamentos, perguntas, jogos, exercícios etc. para
situações futuros, desejados;
verificar o que eles sabem sobre um determinado assunto, antes de começar
a trabalhá-lo. • previsão de condições necessárias
ao estabelecimento desses estados
e situações;
Definição dos objetivos
• escolha e determinação de uma
É importante refletir a respeito do tipo de objetivos que se deve visar. Nas linha de ação capaz de produzir os
propostas tracidionais, procurava-se elaborar objetivos instrucionais, resultados desejados, de forma a
específicos, limitados, facilmente mensuráveis. maximizar os meios e recursos
disponíveis para alcançá-los.
Hoje, de acordo com os Referenciais Curriculares e os Parâmetros Curriculares Esse conceito pode ser representado
Nacionais para o Ensino Fundamental e a Educação de Jovens e Adultos graficamente como segue na figura.
deve-se visar o ensino por habilidades e competências.

Seleção e organização dos conteúdos

A seleção e organização dos conteúdos deve ser realizada a partir dos objetivos
definidos, de forma a possibilitar o desenvolvimento das habilidades e

56
competências pretendidas.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento
O processo de Alfabetização envolve os seguintes componentes curriculares:
Linguagem Oral e Escrita, Matemática, Natureza e Sociedade, Música e
Movimento e Artes Visuais, além dos Temas Transversais.
Continua ...
A proposta educacional que estamos discutindo, envolve a utilização de
critérios variados de seleção e organização dos conteúdos. Conceito de planejamento

Enricone (1988) apresenta sete critérios de seleção de conteúdos que abordam

Planejar é
aspectos essenciais à nossa proposta de educação.
Veja.
a. Critérios axiológicos, que se relacionam aos valores: a busca de
significação da aprendizagem e de assimilação de valores sólidos; a

mudar
que se deseja
Estabelecer o

atual
situação
Levantar a
a ação futura
Organizar
preocupação com o significado existente por trás de cada aprendizagem; a
ênfase nos valores sociais, culturais e humanos.
b. Critérios científico-tecnológicos, que envolvem a preocupação em
relacionar os conhecimentos às atividades do aluno; a busca de
conhecimentos atualizados, válidos etc.

se obter
a fim de
c. Critérios históricos, que consideram a dimensão histórica do ser humano,
considerando a pessoa no seu contexto, aqui e agora, paralelamente à
preservação das tradições.

eficiência
maior
determinação
exatidão e
maior
resultados
melhores
maiores e
e gastos
dos esforços
maximização
d. Critérios lógicos, que buscam a identificação dos princípios básicos do
conteúdo; a ordenação de acordo com a sua seqüência natural; a seleção
de informações; a elaboração de princípios e conceitos; a transferência da
aprendizagem.
(Extraído de: LÜCK, Heloísa. Planejamento em
e. Critérios metodológicos, que envolvem a busca de métodos e técnicas Orientação Educacional. 15.ed. Petrópolis:
adequados aos conteúdos; o respeito aos pré-requisitos. Vozes, 2002. p.23-25.)

f. Critérios psicológicos, que consideram a natureza da aprendizagem e do


conhecimento; a relação com as aprendizagens anteriores; as
características de aprendizagem do aluno; a decisão entre a aplicação
imediata ou futura do conhecimento.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento 57


g. Critérios sociopolítico-culturais, que consideram as características da
comunidade, seus problemas, suas condições, suas potencialidades etc.
Na prática do planejamento devem ser conjugados critérios diferentes na
organização dos conteúdos.
Momentos do planejamento
Escolha e duração das atividades
Na construção de um planejamento há
As atividdes devem ser escolhidas considerando-se as características do momentos a percorrer:
grupo, do professor e do contexto educacional e também as bases teóricas 1º MOMENTO – Conhecimento do mundo
adotadas. Outro fator importante na escolha das atividades consiste no tempo nas dimensões espaço-temporais onde
disponível para a realizçaão das atividades. Assim é importante estabelecer está situada a comunidade escolar: suas
possibilidades, recursos, características,
as prioridades na escolha das atividades, adequando a duração e relevância.
limitações, necessidades, problemas...

2º MOMENTO – Conhecimento do alunado


Seleção/confecção de recursos como ser conhecedor e que traz para a
escola uma bagagem experiencial rica e
Podem ser utilizados recursos humanos (o professor, alunos, pessoal da marcante que não pode ser ignorada na
escola, família e comunidade) e materiais (recursos do ambiente escolar e previsão do trabalho escolar a desenvolver.
recursos da comunidade). Assim: condições pessoais, aptidões,
interesses, problemas, reivindicações dos
No trabalho com adultos é importante estar atento a algumas mudanças aprendizes devem ser identificados em
fisiológicas que ocorrem de forma diferenciada com o passar dos anos: perda momentos de comunicação franca e
amistosa (evitando-se as situações formais,
de audição, visão e vitalidade, dificuldades de movimento etc. como testes e entrevistas, que bloqueiam
as manifestações afetivas mais autênticas
Dessa forma, os recursos visuais devem ser claros, as letras e figuras de
das pessoas);
tamanho que permita uma boa visualização por todo o grupo.
3º MOMENTO – Estabelecimento das
Ao selecionar os recursos é importante que o professor verifique se dispõe relações conteúdos-objetivos onde com os
das condições de uso. alunos será construída a rede de conceitos
a ser trabalhada como estrutura da matéria
É importante também planejar a forma de utilização do recurso para garantir de determinada disciplina, definindo-se o
bons resultados. Objetos e figuras pequenos devem ser apresentados próximos que trabalhar e com que finalidade fazê-
ao aluno ou em pequenos grupos de forma a possibilitar sua análise; os lo. Neste momento deve-se ter especial
cuidado, evitando-se o uso de linguagem
recursos auditivos devem ser apresentados em um volume que possibilite técnica que compromete a comunicação
aos que apresentam dificuldades de audição compreenderem o que estão professor-aluno;

58
ouvindo.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento
Avaliação

A definição das estratégias de avaliação constitui decisão muito importante


no processo de planejamento. Ela deve envolver os métodos, técnicas, Continua ...
instrumentos e critérios adotados.
4º MOMENTO – Seleção e descrição de
Na proposta que vimos discutindo, a avaliação deve propiciar ao professor procedimentos, técnicas e atividades
adequados aos conteúdos, de modo a
atuar na zona de desenvolvimento proximal, identificando e intervindo nas
tratá-los como algo próximo e que
dificuldades apresentadas pelos alunos. desafiem os alunos para a vivência de
processos mentais avançados. Assim, os
Leia, na janela, o texto Momentos do planejamento. aprendizes participam, efetivamente, da
descoberta e da construção do saber. É o
Finalidades do planejamento momento de “fazer caminhos”. Como toda
a decisão pressupõe alternativas de
escolha, professores e alunos devem
Em função de exigências das escolas e dos sistemas educacionais, os
familiarizar-se com situações concretas de
professores acostumaram-se a planejar apenas para cumprir uma obrigação experiências de aprendizagem. Ao
burocrática. entrarem em contato com os
procedimentos ao vivo e em ambientes
Mas, que valor este procedimento tem no desenvolvimento do processo de reais, eles obtêm matéria para a reflexão,
ensino-aprendizagem? Evidentemente, nenhum. exame e definição de novas ações mais
adequadas a seu grupo e ocasião. São as
Os planos só têm sentido quando embasados em uma reflexão sobre o mundo, atividades e procedimentos selecionados
sobre o homem em interação com este mundo e sobre a concepção num exercício dialético de “ação-reflexão-
pedagógica que é necessária à otimização dessa relação homem-mundo. ação”;

Portanto, os planos devem nascer da reflexão e expressar os caminhos para a 5º MOMENTO – Seleção e previsão de uso
concretização de uma proposta pedagógica. de recursos (do mundo, da comunidade,
da escola, audiovisuais, sucata...). A
As situações de ensino precisam ser pensadas de forma a possibilitar a preparação para o uso se faz necessária
construção dos conhecimentos por meio de descobertas, revisões críticas, quando o equipamento tiver seu
busca de soluções para os problemas. funcionamento condicionado a detalhes
técnicos mais sofisticados. A exploração de
Assim, planejamento e reflexão são indissociáveis. recursos reais e atualizados deve ser a
prioridade no emprego de meios, pois eles
Destacam-se entre as finalidades do planejamento: contêm toda a riqueza de desafios
autênticos. Isto nos faz lembrar situações
• definição e alcance dos objetivos; em que este princípio não é observado:

59
• previsão de recursos;
A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento
• organização do ambiente;
• avaliação do desenvolvimento do processo;
• coordenação e desenvolvimento integrado das atividades; Continua ...
não raro, são encontrados em sala de aula
• adequação de atividades e recursos aos interesses e ao nível de cartazes com desenhos de folhas, frutos,
desenvolvimentos dos alunos. árvores... como recursos visuais de estudos
botânicos. O fato implica prejuízos que
Alguns aspectos importantes precisam ser considerados quando repensamos poderiam ser evitados por observação “in
o planejamento: loco” do material a explorar. Entre os
prejuízos podemos destacar:
• O planejamento deve ser feito por quem vai executá-lo. Não faz sentido
alguém planejar o trabalho que o professor irá executar. Como o – falta de detalhes importantes;
planejamento deve ser realizado pelos alunos tanto quanto pelo professor, – solicitação desnecessária de
eles devem participar do planejamento, manifestando seus interesses, decodificação de signos por parte do
propondo atividades etc. aprendiz, quando o real está próximo e
disponível;
• Um planejamento é feito para ser executado. Não faz sentido elaborar
– gastos com materiais;
planos para ficarem arquivados. O planejamento deve ser contextualizado
no tempo e no espaço, entendendo-se aqui o espaço como a realidade – desgaste e esforço desnecessários do
vivida pelos alunos. Portanto, planeja-se para desencadear e facilitar a professor;
ação pedagógica e não para encher arquivos. – perda de oportunidades
desencadeadoras de aprendizagens
• O planejamento deve ser realizado com o compromisso de promover correlatas... Filmes, textos, gravuras,
mudanças: construir conhecimentos, rever posições, comprometer-se com cartazes só são aconselhados para
a realidade. ajudar na formação de conceitos de
fenômenos distantes e inacessíveis.

Características essenciais ao planejamento 6º MOMENTO – Decisões sobre meios a


empregar para avaliação do processo, com
a finalidade de verificar a coerência interna
Algumas características impõem-se quando planejamos. São elas: a
das ações que acontecem em sala de aula.
viabilidade, a flexibilidade e a participação. A professora Magda B. Soares (Patto,
1985) nos alerta para a necessidade de
Vejamos em que consistem e os cuidados que elas implicam. considerar, também, a coerência externa.
Necessidade de meios para aferir a relação
entre o rendimento escolar e o contexto

A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento 60


Viabilidade

É a característica que mostra ser possível desenvolver o planejamento. Dizemos


que o planejamento é viável ou exeqüível. Continua ...
Não adianta ao professor elaborar belos planos mas que não podem ser social mais amplo, com a finalidade de “ver,
executados. julgar e decidir” sobre o que fazer para
controlar desvios, preencher lacunas,
Para que o planejamento seja viável são necessários os seguintes cuidados: intensificando-se as oportunidades com
vistas a corrigir desigualdades de
• considerar os interesses e necessidades dos alunos, pois o ensino deve resultados. A escola precisa se preocupar
ser significativo para eles; em manter um bom nível de exigência de
modo a evitar que a seleção social de fora
• observar o nível de maturidade, as experiências e os conhecimentos da escola atinja e marginalize os seus
anteriores dos alunos pois os conteúdos devem estar de acordo com o egressos em futuro próximo. A avaliação
seu desenvolvimento; deve ser vista como meio e não como fim,
onde todos os elementos têm
• levar em conta as experiências e os conhecimentos do professor, pois ele oportunidades de julgar a si e aos seus
não pode executar bem um planejamento que englobe técnicas e companheiros de jornada.
conteúdos que não domine; A idéia de momentos procura mostrar o
dinamismo da ação de planejar, onde o
• verificar os recursos disponíveis pois as atividades podem ficar professor (em comunhão e troca com seus
comprometidas ou inviabilizadas por falta deles; colegas e alunos) é o seu principal
articulador, ao mesmo tempo que se
• levantar as características do ambiente, o tempo disponível, outras pessoas compromete com tudo aquilo que constata
que possam ter algumas interferência positiva ou negativa sobre a ação; e prevê, numa atitude livre e consciente
pela qual busca transformar o mundo,
• observar as normas da escola, características e restrições familiares, tornando-o mais humano e mais digno.”
características da comunidade.
HERNANDEZ, Ivane Calvo. Planejamento,
Vejamos um exemplo. Imaginemos que você planejou uma atividade festiva compromisso com a ação. In Ensino, revisão
crítica. Delcia Enricone. Marlene Grillo. 2. ed.
para estimular os familiares de seus alunos alfabetizandos a apoiá-los nos Porto Alegre: Sagra, 1988.
estudos. Você manda convites para que todos venham participar de um dia
de aula. Do seu plano constam relatos de experiências, atividades folclóricas
e redação coletiva.
Quando as famílias começam a chegar você percebe que não há cadeiras
para todos e começa a colocar as crianças sentadas no chão, porém logo

61
percebe que ninguém poderá se movimentar na sala.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento
Esta situação torna aquele planejamento inviável, não acha?
Como sair de uma situação como esta? Ela exige a segunda característica
do planejamento: a flexibilidade.

Flexibilidade
A busca do horizonte
É a característica do planejamento que permite modificá-lo para atender às Eduardo Galeano conta-nos a história de
circunstâncias novas e ou imprevistas. um homem e uma mulher que, fascinados
pela deslumbrante paisagem de colorido
Na hora de colocar em prática o planejamento costumamos ter surpresas e luz que brotava diante de seus olhos,
tais como: decidiram começar a caminhar em busca
do horizonte. Andavam e andavam e, à
• falta de pré-requisitos, ou seja, os alunos não possuem um medida que avançavam, o horizonte
conhecimento prévio imprescindível à nova aprendizagem. afastava-se deles. Resolveram apressar os
passos, não se deter sequer um momento,
Neste caso é necessário alterar o planejamento e trabalhar os pré-requisitos não ouvir os gritos do cansaço, da sede e
antes de desenvolver os conteúdos programados. da fome. Inútil: por mais que eles
acelerassem a caminhada e
• falta de recursos, ou seja, na hora de desenvolver a atividade você não multiplicassem seus esforços, o horizonte
pode contar com o recurso: a máquina quebrou, o entrevistado não continuava igualmente longínquo,
inalcançável. Cansados e decepcionados,
compareceu, faltou energia elétrica para ligar um aparelho. Nestes casos
com os pés destroçados de tanto andar e
o professor vê-se na contingência de substituir o recurso. com a sensação de vertigem em haver-se
fadigado inutilmente, disseram-se
• falta de habilidade na condução da atividade, ou seja, o professor cansados: “Para que nos serve um
inicia uma atividade mas não vê condições de prossegui-la porque não horizonte se nunca o alcançaremos”?
está dando bons resultados, seja por não dominar bem a técnica, ou Então escutaram uma voz que lhes dizia: “
porque o tempo é curto. Assim é necessário substituir o procedimento Para que continuem caminhando”.
planejado. Em educação, tal como na vida, deter-se
é retroceder. Não há caminho aberto, faz-
• participação dos alunos fora do previsto, ou seja, o professor percebe se caminho ao andar. Alguns pensam que
que os alunos estão desinteressados, desestimulados, os recursos não o caminho já está feito e se lançam a
atraem a sua atenção etc. É preciso reformular a ação procurando despertar percorrê-lo rotineiramente: programas,
o interesse dos alunos. Pode ocorrer, entretanto, exatamente o contrário: aulas, avaliações, notas... Os cursos e os
os alunos interessam-se tanto pelo assunto que não se satisfazem com as anos se sucedem sempre iguais. A rotina
cria a ilusão de se caminhar, mas é um
atividades previstas. Assim, o professor dá seqüência à atividade, explorando-

62
a mais para alcançar novos objetivos.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento
• falta ou inadequação do espaço para a realização das atividades,
isto é, na hora de realizar a atividade o professor percebe que o espaço
físico é insuficiente ou tem um piso inadequado para a atividade: muito
irregular para a dança ou muito escorregadio em um dia de chuva, o que Continua ...
torna impróprio para caminhadas etc. movimento que, embora se mostre fácil,
vai afastando-nos da meta porque vai nos
Participação dos atores do processo desumanizando, vai minando-nos o
coração, faz-nos perder o entusiasmo, leva
O planejamento participativo ou cooperativo é aquele realizado com a convencer-nos de que não existe
horizonte. Outros falam da necessidade de
participação das pessoas nele envolvidas. Trata-se de um instrumento de
buscar novos caminhos, de que as velhas
democratização do ensino, pois o aluno participa da decisão sobre o quê e rotas já não servem, mas permanecem
como vai aprender, observa os seus interesses, necessidades, conhecimentos, instalados em suas seguranças, falando
experiências. do caminho em lugar de começar a
percorrê-lo. Continuar buscando o
Entretanto não se trata de transferir a responsabilidade do planejamento horizonte é tê-lo já encontrado, porque a
para os alunos e sim de ouvi-los, observá-los, avaliá-los para que o meta não está no final do caminho, mas
planejamento atenda às suas necessidades reais. O professor que conhece consiste precisamente em continuar
seus alunos propõe temas e atividades que realmente despertem seu interesse, caminhando e buscando sempre, em não
sem precisar esperar por suas sugestões. ceder, em administrar a esperança e
continuar fiéis na busca de uma educação
Os conteúdos previstos nas programações oficiais, devem ser abordados a sempre renovada.
partir da realidade do aluno, estabelecendo ligações com suas experiências,
No momento em que deixar de buscar a
enfim, buscando a construção de aprendizagens significativas. mudança, será você que terá se
modificado. Fechar-se à mudança é voltar
Interdisciplinaridade e transversalidade as costas à vida. A escola mudará quando
você mudar.
O planejamento atual deve considerar, ainda, a importância de planejar de
(Extraído de: ESCLARIN, Antonio Perez. Educar
forma interdisciplinar e contemplar os temas transversais. valores e o valor de educar. Trad. Maria Stela
Gonçalves. São Paulo: Paulus, 2002. p.14-15.)
A interdisciplinaridade consiste no processo de integração
entre várias disciplinas, rompendo as estruturas de cada
uma delas para trabalhar uma visão comum do saber.

A proposta de abordagem interdisciplinar surge da necessidade de romper


com a prática de tratamento fragmentado e desarticulado do conhecimento.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento 63


O planejamento interdisciplinar integra os componentes de forma significativa
e contextualizada.

A transversalidade é uma forma de abordagem de temas


importantes, perpassando-os pelos diversos componentes
curriculares.

Assim, o professor trabalha a Ética, a Pluralidade Cultural, o Meio Ambiente,


a Saúde, a Orientação Sexual e temas locais de interesse da comunidade
como o trabalho, a violência, o trânsito etc., junto com os demais
componentes.
Leia, na janela, o texto A busca do horizonte. Para refletir.
Sintetizando e
enriquecendo nossas
Você busca o horizonte?
informações
Estimula seus alunos a buscá-lo?
Faça a síntese do texto.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento 64


Instrumentos do planejamento do ensino

O processo de planejamento para intervenção em uma determinada


realidade envolve a tomada de decisões que são sistematizadas,
interpretadas e consolidadas em documentos caracterizados como A bengala mágica
um plano, um programa ou um projeto, de acordo com o nível
decisório a que se relacionam, de seu âmbito de ação e do grau O pequeno Juancho brincava na frente de casa quando
O que você pensa disto? de variações e detalhamento. passou um ancião muito elegante caminhando apoiado
numa bela bengala que caiu de sua mão justamente
quando passava junto a Juancho. O menino apanhou-a
Quais são os instrumentos do
planejamento do professor?
Plano de curso rápido e a devolveu ao ancião, que lhe disse sorridente:

– Obrigado, mas não tem serventia para mim. Possa


O plano de curso constitui o tipo de planejamento mais caminhar perfeitamente sem ela. Se você gosta, pode
abrangente. Apresenta, em linhas gerais, o trabalho que será ficar com ela – e se afastou a bom passo demonstrando
desenvolvido durante todo o período letivo, as unidades a serem que, com efeito, não precisava de sua bengala.
desenvolvidas, os principais objetivos, técnicas, recursos etc.
Juancho ficou com a bengala entre as mãos e não sabia
Trata-se de uma previsão global do trabalho a ser realizado durante o que fazer. Era uma bengala comum e corriqueira, de
madeira e com o cabo curvo. Depois de um instante, o
um determinado período de tempo e caracteriza-se pela descrição menino começou a rebater o ar com sua bengala e, em
geral de todos os meios de ensino – conteúdos, procedimentos breves momentos, se transformou num jogador de
e recursos – que serão utilizados no desenvolvimento das beisebol extraordinário, a ponto de rebater o quadrangular
atividades educativas, em função dos objetivos pretendidos. mais longo da história que levaria sua equipe à vitória
definitiva. Quando terminou de dar a volta ao campo entre
É importante que o plano seja viável, adequado à realidade dos os aplausos do público exaltado e o coração lhe sossegou
alunos e da escola. após as saudações dos companheiros, Juancho montou
na bengala que, em seguida, se transformou num belo
Constituem elementos do plano de curso: cavalo negro com uma estrela de prata na testa. Montado
nele, percorreu países encantadores e resgatou donzelas
• Dados de identificação belíssimas que lhe agradeciam com beijos úmidos e
• Dados sobre a população-alvo emocionados.
• Objetivos
A bengala mágica voltou a ser um simples pedaço de
• Conteúdos por área de conhecimento madeira, mas não tardou a ser um carro de corrida, uma
• Procedimentos batuta de orquestra, uma espada, um camelo de duas
• Recursos corcovas com o qual cruzou desertos intermináveis e até
• Distribuição do tempo

65
• Avaliação
A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento
Plano de unidade
É o instrumento de planejamento no qual o professor desenvolve
uma parte do plano de curso. O conteúdo do curso é dividido em Continua ...
unidades lógicas que, por sua vez, serão divididas em uma ou esteve a ponto de morrer sob uma espantosa tempestade
mais aulas. de areia.
Trata-se de um planejamento completo sobre a unidade, porém Já entardecia quando voltou a passar o ancião elegante.
sem detalhamento.
– Você gosta da bengala? – perguntou sorrindo a Juancho.
São sugeridos na elaboração deste tipo de plano cuidados tais O menino pensou que a bengala estava sendo pedida de
como: volta e a entregou completamente enrubescido.
• definir o tema central da unidade de acordo com o nível de – Não, você pode ficar com ela para sempre. Que farei
desenvolvimento e interesse dos alunos; eu com uma bengala? Você pode voar com ela, eu
• organizar a seqüência de aprendizagem, relacionando somente posso apoiar-me.
conhecimentos anteriores com os novos; Ser professor é oferecer bengalas às crianças para que
• envolver, sempre que possível, a participação dos alunos na possam voar com sua fantasia, percorrer os caminhos
elaboração do plano; da imaginação, visitar estrelas e países encantados, falar
com as mariposas e trupiais, descobrir horizontes
• verificar a coerência entre os diversos componentes do plano.
insuspeitados e descansar no peito da lua.

Etapas para elaboração do plano de unidade Estimulemos nos alunos a capacidade de crer e criar
para que nunca se deixem aprisionar pela mediocridade
• Apresentação rasteira, sem alma, do materialismo que nos domina e
• Desenvolvimento esmaga, que não nos deixa sonhar.
• Integração
(Extraído de: ESCLARIN, Antonio Pérez. op. cit., p.127-128.)
Será necessário, também, avaliar o trabalho realizado. Os
instrumentos deverão ser adequados aos comportamentos
previstos nos objetivos das fases da unidade.

Plano de aula Para refletir.


o planejamento da aula possibilita ao professor criar e organizar
as situações de aprendizagem. Você dá a seus alunos bengalas que só servem para se
escorarem? Ou bengalas que os fazem voar.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento 66


O plano de aula consiste em um detalhamento do planos de
curso e unidade. As unidades são detalhadas no plano de aula,
em uma situação didática real imediata.
É importante observar que:
O termo aula não se aplica somente à aula
Projeto de Vida
expositiva, mas a todas as formas didáticas
organizadas e dirigidas direta ou indiretamente É importante chamar a atenção, aqui, para o fato de
que não é apenas a construção de objetos físicos,
pelo professor, tendo em vista realizar o ensino e tangíveis, como casas, automóveis, aviões, que precisam
a aprendizagem. (Libâneo, 1991). ser objeto de um projeto. Se quisermos ter controle sobre
nossas próprias vidas, temos que saber elaborar um
O Plano de Aula deve envolver os seguintes passos didáticos da projeto de vida – caso contrário estaremos sendo
aula. apenas, na melhor das hipóteses, executores eficientes
de projetos elaborados por outrem (por nossos pais, por
a. Preparação e introdução do tema nosso cônjuge, por nosso empregador...).
• incentivação, mobilização para despertar a atenção dos Para elaborar um projeto de vida, é preciso que
alunos; aprendamos a especificar, agora, como desejamos que
• desenvolvimento de atitude favorável ao estudo; venha a ser a nossa vida no futuro (no plano pessoal,
profissional, público). Para que possamos fazer isso, é
• preparação do ambiente; preciso que descubramos ou decidamos, primeiro, o que
• estabelecimento de relações entre conhecimentos anteriores queremos na vida, e, depois, como é que podemos
com o tema a ser estudado; alcançar aquilo que desejamos...
• definição dos objetivos. O primeiro passo na elaboração de um projeto é um
sonho – um exercício da imaginação. É esse sonho que
b. Tratamento didático-metodológico abrangendo: coloca diante de nós uma imagem (donde o termo
• transmissão/assimilação ativa dos conteúdos, por meio de “imaginação”) daquilo que queremos ser, do destino a
métodos e técnicas selecionados; que queremos chegar em nossas vidas.
• desenvolvimento das capacidades cognitivas, afetivas, de Sonhos, envolvendo, como envolvem, a imaginação,
observação, imaginação, raciocínio lógico etc., de acordo devem ter uma certa concretude. Dizer simplesmente
com os objetivos previstos; “meu sonho é ser feliz”, ou “meu sonho é ser famoso”,
ou “meu sonho é ser bem-sucedido”, ou “meu sonho é
• sistematização das idéias, dos conceitos, da aquisição de ser rico”, não é suficiente. Essas frases expressam mais
operações mentais para o desenvolvimento de novas tarefas um desejo (bastante indefinido), do que um sonho. O
teóricas e práticas; sonho deve ter um nível suficiente de concretude para
• outras, a depender dos objetivos, do conteúdo, do nível dos engajar a vontade, motivar, nos indicar o caminho a seguir.
alunos etc.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento 67


c. Consolidação e aprimoramento dos conhecimentos, das
atitudes e das habilidades
• fixação dos conhecimentos e habilidades;
• estabelecimento de relações entre o estudado e as situações Continua ...
novas; Se ficarmos apenas nos sonhos não teremos um projeto
• demonstração de habilidades e atitudes decorrentes do de vida. Para que um sonho se transforme em projeto é
necessário, portanto, em segundo lugar, que ele seja tão
estudo da matéria;
motivador que gere em nós o firme propósito de
• integração com outros conhecimentos; transformá-lo em realidade. Um projeto é, assim, mais
do que um mero desejo de ver se transformar em
d. Aplicação
realidade alguma coisa que, até aqui, é apenas idéia,
• demonstração, pelos alunos, da capacidade de utilização, apenas sonho: é um propósito, que exprime uma firme
decisão anterior.
de forma autônoma, dos conhecimentos e habilidades
adquiridos; Definido o norte a seguir, é preciso procurar descobrir
como chegar lá. Em geral há várias maneiras de conseguir
• estabelecimento da relação do conhecimento adquirido com algo que se deseja, mas algumas delas podem ser
os anteriores; extremamente demoradas, outras onerosas demais (em
• transferência dos conhecimentos para situação da vida termos financeiros, emocionais, ou em outros termos).
prática e situações novas. É aqui que entra o terceiro elemento de um projeto de
vida: o plano de ação. É o plano de ação que vai nos
e. Controle e avaliação indicar como.

• ocorre em todas as etapas e em todas as atividades do Para quem não sabe para onde quer ir, qualquer caminho
serve... Mas para quem sabe onde quer chegar, é muito
professor e do aluno; importante escolher o caminho certo – pois caso contrário
• verificação do grau e qualidade do alcance dos objetivos; pode-se chegar em algum outro lugar... ou pode-se chegar
• desenvolvimento das funções diagnóstica, formativa e no lugar certo, mas apenas quando já estamos muito
somativa. velhos, ou doentes, ou cansados, para realmente usufruir
o momento da vitória...
Atenção! Embora esses passos didáticos sejam comuns a qualquer Em quarto lugar, é preciso ir à luta: partir para a execução
aula, não há entre eles uma seqüência fixa, podendo, inclusive, do plano. Aqui vai ser necessário muita paciência e
dentro de um passo, realizarem-se, ao mesmo tempo, outros persistência, porque muitas vezes a coisa não dá certo
passos e várias atividades comuns e interdependentes. da primeira vez – ou mesmo da segunda.
Diante de eventuais fracassos ou de elementos novos
Dependendo dos objetivos, do conteúdo, das características dos que não haviam sido contemplados no planejamento, é
alunos, dos recursos didáticos etc., o professor poderá fazer opção preciso, em quinto lugar, proceder a uma avaliação
por explorar mais um determinado passo, iniciar a aula por outro constante do plano e da execução do projeto. Estamos
passo, usar o conjunto dos passos em uma aula só ou não.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento 68


Projeto
O desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem por meio
de Projetos cria inúmeras possibilidades de construção de Continua ...
aprendizagens significativas, tendo em vista a complexidade dos
problemas da sociedade atual. conseguindo chegar aonde desejávamos, dentro do
cronograma e do orçamento previstos?
A Pedagogia de Projetos constitui uma metodologia de trabalho Às vezes não estamos conseguindo executar o que foi
O que você pensa disto? pedagógico que valoriza a participação do educando e do educador planejado, e precisamos nos esforçar mais. Outras vezes
no processo de ensino-aprendizagem, ressignifica o espaço podemos concluir que o plano inicialmente definido
escolar, como espaço de construção de aprendizagens, de continha falhas, que é mister corrigir – fazer ajustes na
Em que consiste o Projeto?
significância, de interações, de integração do conhecimento com rota prevista. Será necessário eliminar alguns elementos
do plano original? Foram acrescentados elementos aos
Quais suas principais a vida do aluno. que originalmente haviam sido imaginados?
características?
O Projeto visa estabelecer os princípios orientadores para o O importante é se lembrar de que esse processo de
trabalho de professores e alunos, integrando os aspectos avaliação constante pode levar a revisões, seja das ações
Projetos são adequados ao cognitivos, emocionais e sociais presentes nesse processo. Torna- que estão sendo realizadas, seja do plano originalmente
processo de Alfabetização? definido.
se impossível trabalhar com projetos numa visão tradicional,
conteudista e compartimentada. Os projetos exigem uma Há muita gente que não se interessa por projetos porque
abordagem interdisciplinar. não tem sonhos. A capacidade de sonhar com coisas
que não existem e se perguntar “Por que não?” tem sido
A proposta dos temas gerais, dos conteúdos específicos e da a mola propulsora das grandes transformações da vida
maneira como serão desenvolvidos é de responsabilidade de todos aqui na Terra.
e deve contemplar a realidade do educando, a sua cultura e Outros não se interessam por projetos porque, apesar
possibilitar uma reflexão sobre esta realidade, gerando ações de de sonharem, se contentam em deixar que seus sonhos
intervenção social viáveis. permaneçam apenas sonhos: não tentam transformá-
los em realidade. Seus sonhos não são acompanhados
A elaboração do projeto deve ser feita de forma participativa, da do firme propósito de transformá-los em realidade.
mesma forma que seu desenvolvimento envolve o fazer conjunto, Outros até tentam transformar seus sonhos em realidade,
integrado, de todos os atores do processo. A metodologia permite mas não sabem exatamente como, não conseguem
ao aluno negociar a própria participação na atividade, discutir e encontrar os caminhos certos que vão levá-los aonde
querem chegar. É preciso muita criatividade e inteligência
decidir estratégias de ação, assumir responsabilidades.
para imaginar planos de ação que realmente nos levem
O detalhamento do Projeto envolve os seguintes elementos: de onde nós estamos até aonde nós queremos chegar –
o lugar dos nossos sonhos.
• Identificação

69
• Justificativa
A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento
• Objetivos
• Metas
• Especificação do Projeto Continua ...
• Implementação Gostaria aqui de reiterar (pois já foi mencionada) a
• Fases e cronogramas de execução importância de um elemento crucial na implementação
de um projeto bem sucedido: persistência. Muitas vezes
• Custos e financiamento (quando for o caso) o plano de ação inicialmente elaborado não dá certo – e
Sintetizando e muitos se desanimam e eventualmente desistem de
enriquecendo nossas • Cronograma de desembolso executar o projeto. Persistência é a característica daqueles
informações • Acompanhamento controle e avaliação. que não se deixam abater porque o plano de ação não
deu certo, mas tentam de novo, e de novo, até
Faça a síntese do texto. conseguirem transformar em realidade o que era apenas
sonho...
Posicione-se em relação ao texto
Improvisar ou planejar? Eis o Para que tenhamos persistência é necessário que o nosso
desafio... sonho, o objeto do nosso projeto, seja perseguido com
paixão!
Estão notando que nós estamos encontrando vários “p”s
importantes a que fizemos referência no início?
Projeto = propósito + plano de ação + persistência +
paixão
Para o indivíduo que tem um projeto de vida, quase
qualquer coisa é suportável, se ele acredita que pode
ajudar a alcançar o seu propósito.
Eduardo Chaves
Campinas, Abril de 2001

Para refletir.

Você tem um projeto de vida? Em caso


afirmativo, procure escrevê-lo de forma clara.

Se não tem, que tal fazê-lo agora?

A prática da alfabetização de jovens e adultos Planejamento 70


UNIDADE: Componentes curriculares

Língua Portuguesa
Durante a Comunicação com a Palavra
mais Importante
A escrita está presente no meio social em que vivemos.
O que você pensa disto? No trabalho em que os adultos analisam
Fazemos uso da leitura e da escrita nas variadas áreas da nossa vida. Para a palavra que eles mesmos escolheram
Quais as finalidades do ensino da
Língua Portuguesa no processo de
nos alimentarmos (ver preço, data de validade, nome do produto, ingredientes como a mais importante do texto
Alfabetização? etc.), para nos medicarmos (ler a receita, a bula, nome do remédio etc.), produzido, sugere-se uma variedade de
para nos deslocarmos de um lugar a outro (ver horários de ônibus, nome da exercícios entre os quais o docente optará
por aquele que considere mais apropriado
viação, itinerário, ler o nº da poltrona etc.), para nos dedicarmos à vida
para cada reciclagem do processo
religiosa (ler a bíblia, mensagens, livros, folhetos de missa etc.), para nos lingualizador, a saber:
divertirmos (ler a legenda de um filme, identificar e localizar as praças de
um shopping, ler revistas, gibis etc.) para nos informamos (ler jornais e Durante a Escolha da Palavra
revistas, pesquisar na internet etc.), para nos comunicarmos (ler e escrever Esta instância pode ser desenvolvida com
cartas, participar de chats, escrever telegramas, pesquisar em lista telefônica, trabalhos de grupo ou de modo individual
usar e-mail etc.). Enfim, sem o domínio de habilidades de leitura e escrita o para depois passar a confrontações
homem fica privado de atuar plenamente na sociedade, tornando-se grupais. Será finalizada com um plenário
dependente de outros e até mesmo excluído da sociedade. no qual se escolherá, em comum acordo
com todos os participantes, uma só palavra
A Língua Portuguesa permeia todas as outras áreas do conhecimento. Para considerada a mais significativa. Se forem
estudarmos qualquer conteúdo é preciso dominar a leitura e a escrita. Assim, privilegiadas mais de uma, abre-se a
possibilidade de trabalhar em grupos; essa
busca-se com este componente o desenvolvimento da linguagem oral, da
seria uma grande oportunidade para
leitura e da escrita, capacitando o educando a atuar em situações formais e implementar diferentes níveis de atividade.
informais.
Tal como na elaboração do texto, que foi a
A Proposta Curricular para o 1º segmento do ensino fundamental da Educação expressão livre e autêntica da opinião do
de Jovens e Adultos estabelece que o trabalho com o componente Língua grupo, a tarefa, nesta etapa, deve ser
Portuguesa tem como objetivo desenvolver habilidades e competências de: realizada dentro de um clima de trabalho
inter-relacional. O docente deve estimular
“• Valorizar a língua como veículo de comunicação e expressão das o grupo para que seja realmente crítico no
pessoas e dos povos. momento da seleção da palavra. Posto que

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 71


• Respeitar a variedade lingüística que caracteriza a comunidade dos
falantes da Língua Portuguesa.
• Expressar-se oralmente com eficácia em diferentes situações, Continua ...
interessando-se por ampliar seus recursos expressivos e enriquecer
seu vocabulário. ela deva ser um signo com grande riqueza
de significado para todos, o docente deve
• Dominar o mecanismo e os recursos do sistema de representação renunciar a qualquer juízo de valor e
escrita, compreendendo suas funções. coordenar aquela dinâmica de modo que
permita uma verdadeira polêmica na
• Interessar-se pela leitura e escrita com fontes de informação, escolha.
aprendizagem, lazer e arte.
Esse é o momento oportuno para que se
• Desenvolver estratégias de compreensão e fluência na leitura. tome consciência de que todas as palavras
que conformam um texto são importantes,
• Buscar e selecionar textos de acordo com suas necessidades e pois cada uma delas o constitui como tal.
interesses.” Uma das seguintes atividades pode dar vida
(RIBEIRO, Vera Maria Masagão (org), 1997, p.60.) a esse estágio:

• Opinar sobre qual é a parte do texto


Linguagem oral cuja idéia se considera principal.
• Escolher aquela parte do texto
A linguagem oral é a forma de comunicação mais usada para a participação (sobretudo se for extenso) que, segundo
ativa do homem em sua cultura. a opinião do grupo, é a mais relevante.

O discurso oral permite ao homem que não domina a leitura e a escrita a • Assinalar qual é a palavra do texto que
pertence à nossa cultura popular.
possibilidade de reivindicar seus direitos de cidadão que trabalha, que
consome, que se diverte, que adoece etc. • Evidenciar qual é a palavra do texto
mais usada nos outros meios e
Por meio da sua fala o homem pode expor suas idéias, se defender quando linguagens aos quais recorremos.
injustiçado, enfim fazer valer sua posição na sociedade. • Imaginar qual é a palavra que
escolheriam meus familiares (parentes,
No entanto, nossa história mostra que o homem tem sido educado para vizinhos, companheiros de trabalho).
obedecer e não para falar ou questionar. • Imaginar qual é a palavra que teriam
Paulo Freire (apud STEIN, 1979, p.55) refere-se a esta prática como educação escolhido meus antepassados como a
mais popular.
bancária, na qual:

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 72


“O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; o
educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é
o que pensa; os educandos os pensados...”
Continua ...
Segundo Paulo Freire é por meio da palavra que o homem se torna homem e
toma consciência do seu papel no meio em que vive, atuando de forma • Destacar a palavra que eliminaria por
não considerá-la imprescindível.
crítica sobre a sociedade.
• Outorgar um valor de 1 a 10 a cada
No entanto este cidadão crítico só poderá ser formado à medida que a escola palavra do texto. Depois discutir até
que o educa propuser meios para ampliar sua capacidade de expressão, chegar a uma estimativa grupal.
usando uma metodologia problematizadora. • Indicar qual palavra sublinharia por ser
a mais significativa.
Outro fator que pode contribuir muito para formação crítica é a valorização
• Identificar a palavra que pode chamar
do discurso do aluno. É importante deixar claro para ele que não há discurso mais a atenção aos vizinhos da
errado, mas discursos diferentes, utilizados em momentos distintos e que há comunidade onde se vive.
momentos em que são necessários certos conhecimentos da norma culta.
• Opinar sobre qual é a palavra do texto
Para isso é necessário que nós – professores – estejamos conscientes dessa mais freqüente no nosso folclore
(crenças, costumes, canções, refrões,
diversidade, acatando-a como legítima.
contos, lendas).
O trabalho com a linguagem oral deve ocorrer a partir de situações reais de Durante os Trabalhos sobre a Base do
comunicação, estimulando o desenvolvimento da oralidade em atividades Significado da Palavra Escolhida –
como: Exercícios Orais

• rodas de conversa sobre o dia-a-dia; • Descobrir o costume (crença, imagem


familiar ou do bairro, ou da cidade, ou
• debates sobre assuntos de interesse da turma; da zona) que evoca, em cada um, a
• formulação de perguntas dirigidas a todo o grupo; palavra selecionada, para, depois,
compartilhar experiências.
• momentos de tira-dúvidas;
• Descobrir experiências pessoais que a
• organização de eventos como recitais de poesias, repentes, canções etc.; palavra evoca.
• dramatizações; • Verificar se a palavra pertence ao
contexto comunitário ou a outro.
• leituras de textos em voz alta etc.
• Quem utiliza mais essa palavra?
Atividades como essas trabalham a pronúncia, a dicção e a entonação e
contribuem para a desinibição ao se expor em público.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 73


Muitas vezes o aluno tem sua fala discriminada pelo professor e pelos colegas,
atitudes que geram bloqueios no seu desenvolvimento e baixam sua auto-
estima, tornando-o desmotivado, podendo até levá-lo a desistir da escola.
Continua ...
É importante que o professor procure sempre convidar seus alunos a falarem
e a ouvirem em todas as atividades e que faça leituras em voz alta para a • Nomeia alguma coisa concreta ou
familiarização com o texto escrito. imaginária?
• Que importância tem para cada um o
Veja, na janela, o texto Durante a comunicação com a palavra mais
que a palavra designa?
importante, que apresenta ótimas sugestões de atividades.
• Onde enquadraria melhor a escrita
dessa palavra?
A linguagem escrita
• Em boca de quem, ou de que pessoas
Alfabetizar jovens e adultos é um exercício pleno de cidadania e exige do costuma-se escutar essa palavra?
educador o conhecimento do perfil do seu público, que por sinal é totalmente • Que transcendência tem essa palavra
diferente do infantil. na minha comunidade?

Por ser a nossa sociedade letrada, em geral os jovens e adultos que nunca • Que significado outorgariam meus
vizinhos a essa palavra?
freqüentaram a escola têm alguns conhecimentos sobre a escrita.
• Em que seção do jornal de minha
O adulto ao chegar à escola traz consigo uma história de vida mais ampla e cidade (bairro, zona, lugar de origem) é
possui seus valores e costumes consolidados, o que o leva a aceitar ou não possível encontrar essa palavra?
o trabalho a ele direcionado, sendo a não-aceitação a sua evasão. • Se a palavra fosse o título de uma lenda
Esse aluno já possui muitas habilidades e competências que foram (conto, história, radioteatro, novela,
livro, revista, história em quadrinhos,
desenvolvidas durante a sua história de vida, ele já possui conceitos formados
telenovela etc.), qual seria seu
a respeito da linguagem escrita, cabendo à escola o dever de sistematizar argumento? Quem seriam seus
esses conhecimentos. intérpretes? Se eu trabalhasse nela,
que papel gostaria de representar? Com
Os adultos retornam à escola com um objetivo claro, que é aprender a ler que me agradaria dar-lhe vida? Etc.
para viver melhor na sociedade. Eles estão ali, não porque os pais abrigaram,
mais porque sentiram a necessidade. • Se a palavra fosse o título de um
produto regional de consumo massivo
Quando se trabalha, visando aos objetivos dos alunos, deve-se ter em vista a (artefato, instrumento, utensílio,
aprendizagem significativa, desde a seleção de objetivos e conteúdos até a ferramenta, aparelho, máquina, artigo
para o lar etc.), de que se trataria?
preparação do material a ser utilizado.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 74


As escolas muitas vezes reclamam da falta de material para trabalhar com
adultos e chegam até a adotar ou utilizar material específico da alfabetização
infantil, menosprezando o aluno, esquecendo que materiais como conta de
luz, carnês, folhetos de propaganda, rótulos etc. são portadores de texto Continua ...
significativos para o aluno. Quem o usaria? Que resultado daria?
Para que seria útil? Como seria
Ao utilizar materiais “não escolares” o professor possibilita ao seu aluno o empregado? Como seria promovido?
contato com materiais significativos. Quem o venderia? Etc.

Desde o início do ano letivo professor e alunos podem juntos selecionar • Se a palavra fosse a marca de uma
mercadoria de primeira necessidade,
materiais para trabalhar, organizando bancos de textos, caixa de artes, rótulos, qual poderia ser o produto? Quem o
gravuras, fotos, objetos, revistas, jornais etc. consumiria? A quem não interessaria?
Onde seria vendido? Que necessidade
A partir da seleção do material o professor pode criar atividades variadas satisfaria? Por que meio massivo seria
individuais e coletivas, visando à exploração dos mais diversos conteúdos. anunciado? Que forma teria sua
embalagem? Etc.
Outro recurso riquíssimo no trabalho com os adultos são suas memórias. O
professor pode transformar o relato do aluno, que constitui um texto oral, em • Se a palavra fosse o centro de atenção
de um comercial de televisão (rádio,
texto escrito, transcrevendo-o em cartaz para exploração: interpretação do
revista etc.), como seria o comercial?
texto, seleção de frases e palavras geradoras, discussão dos aspectos relatados, Que outras coisas deveriam ser ditas
troca de experiências, exploração de sentenças e palavras, criação de novos nele? Que imagens se mostrariam para
textos etc. chamar a atenção? Etc.

O aluno-autor se sentirá valorizado, com a auto-estima elevada. • Se ela fosse a única palavra de um
outdoor (um cartaz de estrada, um
Os diferentes materiais citados possibilitam ao professor trabalhar as várias anúncio, um mural etc.), como ele
habilidades necessárias ao desenvolvimento da leitura e da escrita como seria? Que tamanho teria? Que imagens
colocaria nele? Que cor predominaria?
habilidades de:
Qual seria o tamanho das letras? Etc.
– comunicar-se por meio da leitura e da escrita; • Se ela fosse a única palavra de um
anúncio (cartão, decalcomania, postal
– resolver problemas, usando conhecimentos adquiridos;
etc.) que imagem a acompanharia?
– saber argumentar; Que tamanho teria a palavra? Em que
ângulo da folha a localizaria? Que cor
– expor idéias; prevaleceria? Que mensagem
– produzir portadores de textos (listas, cartas, anotações etc.); pretenderia comunicar? A quem seria
dirigida? Etc.

75
– fazer uso da escrita e da leitura em situações diversas.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares
É importante lembrar que a participação direta do aluno no seu processo de
aprendizagem torna-se fundamental, pois ao vivenciar cada momento ele
internaliza os conceitos.
Continua ...
Essa vivência ocorre por meio de atividades escritas, orais e/ou lúdicas.
• Se a palavra fosse o nome de um
Veja a seguir algumas sugestões de atividades para esse trabalho. programa de televisão ou de rádio,
como seria o programa? Que
Atividades para desenvolver habilidades de se expressar em relação a apresentaria? Que imagens mostraria?
um tema e de argumentar. Partindo da leitura e discussão de um Quem teria a palavra? De que se
artigo de jornal ou revista, o professor pode propor: falaria? A quem estaria dirigido? Que
empresas o patrocinariam? Etc.
• Debate sobre o tema entre dois grupos – que cada grupo assuma uma
(Extraído de: FERREYRA, Erasmo Norbeto. A
posição – um defende e outro ataca. linguagem oral na educação de adultos. Trad.
Jussara H. Rodrigues. Porto Alegre: Artes
• Dramatização do texto – Os alunos criam as falas e o cenário. Médicas, 1998, p. 140-143.)

• Criação coletiva de histórias – Os alunos se organizam em círculo e um


inicia a história; a um sinal do professor o seguinte continua e assim por
diante.
• Concurso de paródias. O professor distribui os alunos em grupo e propõe
o tema para a criação das paródias. A música pode ser uma para todos ou
cada um escolhe a sua.
• Montagem de mural. O professor propõe que confeccionem um mural
com artigos, desenhos e figuras relacionados ao tema.
• Apreciação de obras artísticas.
– O professor propicia ao aluno momentos de apreciação e discussão de
obras de arte, por meio de excursões a museus, galerias e monumentos
públicos, pesquisas etc.
– Em seguida promove relatos orais ou escritos de apresentações por
meio de desenhos, pinturas, ou outras formas de expressão artísticas.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 76


Atividades para desenvolver habilidades de leitura e escrita
• Letra viva
– O professor confecciona um alfabeto móvel, repetindo as letras.
– Após trabalhar um texto (música, poema, caso etc.), o professor faz
uma seleção das palavras que considera mais significativas. O poder das palavras

– Dentre as palavras selecionadas, o professor escolhe uma de cada vez Em certa ocasião, um afamado escritor
colombiano estava num bar e dele se
para montar com os alunos, usando as letras móveis.
aproximou um operário que, depois de
– A seguir, o professor distribui as letras da palavra no grupo e, logo após, apresentar-se e cumprimentar o escritor
com verdadeira admiração, lhe disse:
escreve-as no quadro e os alunos devem montá-las, observando a ordem
de cada letra. – Sou analfabeto e quero que o senhor
escreva por mim uma carta de amor à
Essas palavras poderão servir de suporte para a formação de frases. minha noiva. O escritor sorriu
desconcertado, levantou os ombros num
• Desenhar palavras gesto de impossibilidade, procurou explicar
ao operário que isso não seria possível,
O professor distribui os alunos em grupos iguais, por exemplo: de 5 e cada mas como este último insistisse em seu
um recebe um número de 1 a 5. pedido, disse-lhe:

– Cada equipe faz, numa folha de papel, um desenho que represente – O que você quer que eu diga nessa carta?
uma palavra com 5 letras. A equipe A desenha, por exemplo, um LÁPIS. – Não sei – respondeu-lhe o operário – Se
o soubesse, eu não estaria fazendo este
Agora, o participante número 01 desta equipe representa na folha, um pedido ao senhor.
desenho que comece com a letra inicial da primeira palavra escolhida
pelo grupo (a letra L). Ele escolhe, por exemplo, lâmpada; o participante O escritor ficou impressionado com a
resposta, ficou um instante pensativo e por
número 02 representa um, começado pela 2ª letra (A); o nº 03 fim lhe disse:
começado com a letra (P) e assim sucessivamente.
Está bem. Volte aqui amanhã a esta
– Cada participante coloca em seu papel a letra correspondente à sua mesma hora e você terá a sua carta.
equipe e o número de ordem de sua letra na palavra.
O escritor passou a noite lutando com as
– O papel é pregado com um alfinete ou fita adesiva nas costas do palavras, procurando exprimir um amor
profundo e fazendo uso do melhor de sua
participante. literatura. No dia seguinte, foi ao bar com

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 77


Todos os participantes começam a andar pela sala, munidos de papel e
lápis, para tentarem descobrir as palavras das outras equipes.
Esta brincadeira tem um caráter individual. O vencedor é aquele que Continua ...
descobre todas as palavras das outras equipes.
sua carta e, quando o operário chegou, leu-
• Produção de texto com auxílio de gravuras a para este. O operário ficou com os olhos
iluminados e lhe disse com gratidão e
– O professor seleciona uma gravura que sugira vários elementos para admiração:
discussão de temas atuais. – Sim, sim, perfeito. Era justamente isso
o que eu queria dizer à minha noiva, mas
– Apresenta-a ao grupo, estimulando a discussão. não sabia que era assim.
– Propõe a produção de um texto sobre o conteúdo da gravura e vai ***
registrando as frases produzidas pelos alunos no quadro.
Contam que o autor de fábulas, Esopo,
– Transcreve o texto para um cartaz e deixa exposto para posterior esteve certo tempo a serviço de Xantu. Um
exploração. dia, este o enviou ao mercado para que
comprasse o melhor que encontrasse.
Ao trabalhar com textos escritos, músicas, poemas e outros, provocando Esopo foi e comprou uma língua.
debates, discutindo, explorando idéias, o professor contribui para a formação – Isso foi o melhor que você encontrou?
crítica do seu aluno.
– Sim, com a língua podemos expressar
Ao longo dessas atividades, além de trabalhar a escrita dos alunos, o professor amor, verdade, louvor, ânimo... A língua
faz o diagnóstico do nível de desenvolvimento de cada um. permite aos homens comunicar-se,
entender-se.
Como acontece com as crianças, os adultos também elaboram hipóteses a Passado um tempo, o patrão voltou a
respeito da escrita, que vão aos poucos evoluindo com a intervenção do enviar Esopo ao mercado e lhe pediu que,
professor e com o amadurecimento das idéias. desta vez, lhe trouxesse o pior que pudesse
encontrar.
Durante o processo de aquisição da leitura e da escrita acontecem os conflitos
ortográficos como troca, omissão ou acréscimo de letras, que são vistos Esopo foi e voltou com outra língua.
como “erros”. – Isso foi o pior que você encontrou?

Esses “erros” podem acontecer também devido a diferença entre a escrita e – Sem dúvida. com a língua podemos
a fala. caluniar, mentir, ofender, intrigar, injuriar.

Veja alguns exemplos de escritas centradas na fala.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 78


trocas: do e por i leiti (leite)
o por u gatu (gato)
l por u aneu (anel) Continua ...
Não há dúvida de que, se mordessem a
r por l praneta (planeta) própria língua, algumas pessoas se
envenenariam.
omissões: d – correno (correndo)
As palavras são como seres vivos, capazes
m – comero (comeram) de fazer rir ou chorar, afundar ou elevar,
perturbar ou enaltecer. A palavra é poder
r – falá (falar) e por isso precisamos de uma educação
que devolva ao povo sua palavra, uma
s – vamo (vamos) palavra pessoal e responsável, como
expressão de seus sentimentos, sua
acréscimo: i – rapaiz (rapaz), voceis (vocês), deiz (dez) cultura, seus valores. A educação atual
nega aos alunos a palavra, a possibilidade
Tais ocorrências vão sendo sanadas à medida que o aluno evolui em suas
de ser. O professor fala, o aluno escuta,
concepções a respeito da escrita. No entanto é importante deixar claro que tem de ouvir sem interromper e repetir o
nem todas as “dificuldades” encontradas serão resolvidas na alfabetização, mais fielmente possível as palavras do
pois o aprendiz evolui por toda a sua vida. professor. Quem não se expressa se
reprime, se deprime, suprimem-no. A
Outras atividades que auxiliam o aluno no seu processo de aprendizagem da verdadeira educação deve capacitar o
leitura e da escrita são: aluno a dizer sua própria palavra, como
expressão de vida, de compromisso, num
• uso do dicionário; mundo dominado pela propaganda e pelo
charlatanismo. Numa palavra, educar se
• atividades em duplas sendo um com mais facilidade no assunto; resume a ensinar os alunos a ler a
realidade, dizer sua palavra, pra que assim
• contação de histórias; sejam capazes de escrever a história de
sua própria libertação.
• produções coletivas de textos significativos;
Escrever é comunicar-se, espalhar-se nos
• atividades com textos que estimulem a criatividade e o interesse etc. outros. Alguém escreve, mas o texto se
realiza no leitor. As palavras viajam dentro
Trabalhar com textos diversificados é fundamental para o desenvolvimento dele, pertencem-lhe. Daí que ler precise
das habilidades propostas. Essa variedade de textos torna possível a formação de um silencio prévio. Ler necessita uma
crítica, tendo em vista que o aluno entra em contato direto com textos que escuta prévia. Ler requer um diálogo
profundo consigo mesmo, anterior ao
tratam dos mais variados assuntos e linguagens.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 79


Para exploração de textos, o professor deve organizar um banco de textos
com várias modalidades, sendo: textos literários, prosas, poesias, textos
jornalísticos, receitas, manuais, regulamentos, formulários e questionários,
cartas, propagandas, textos de informação científica e histórica etc. Continua ...

Quanto maior for o contato do aluno com um material escrito variado, maiores diálogo com o texto escrito. Só quem é
Sintetizando e serão suas chances de ingresso no mundo letrado.
capaz de escutar-se, capaz de escutar o
silencio, poderá dizer e escrever palavras
enriquecendo nossas verdadeiras.
informações Leia o texto: O poder das palavras.
(Extraído de: ESCLARIN, Antonio Pérez.
Faça a síntese do texto básico e Educar valores e o valor de educar:
do que se encontra na primeira parábolas. Trad. Maria Stela Gonçalves.
janela. São Paulo: Paulus, 2002, p.146-148.)

Para refletir!

Você está atento ao poder das palavras em


sua vida?

E na dos alunos?

Preocupa-se em orientá-los neste sentido?

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 80


Matemática

A Matemática está presente nas mais variadas situações da vida


humana.
Cada vez mais torna-se necessário o desenvolvimento de habilidades O recurso à comunicação e a perspectiva
metodológica da resolução de problemas
e competências que permitam ao homem questionar, argumentar,
O que você pensa disto? resolver problemas, interagir no seu contexto sociocultural. Por meio dos exemplos descritos em nossa tentativa
de esclarecer a concepção que temos sobre Resolução
Como o professor deve agir em Para acompanhar os avanços nas diversas áreas de atuação do de Problemas, é possível perceber que os recursos
relação aos conhecimentos prévios homem, faz-se necessária uma nova forma de ensinar. Da de comunicação oral, escrita e pictórica aparecem
do aluno na Alfabetização transmissão de conhecimentos passa-se à construção de naturalmente.
matemática? conhecimentos. De fato, se ampliarmos o significado de problema
para situação-problema, a necessidade da
Quais os aspectos centrais do Essa construção deve partir dos conhecimentos que o aluno já comunicação aumentará. Ela será necessária para
processo de ensino-aprendizagem possui ao chegar à escola, ampliando-os. descrever e entender a situação inicial, para buscar e
da Matemática na Alfabetização? registrar a resolução das possíveis soluções
É importante que o professor esteja atento e informado sobre a encontradas e para avaliar que soluções são mais
realidade e a diversidade do seu grupo, para transformar tais adequadas.
conhecimentos em elementos de estímulo, análise e compreensão, Ao problematizarmos uma situação, temos novamente
dessa forma o aluno se sente valorizado e encorajado na sua que recorrer à oralidade ou a algum tipo de texto para
caminhada. descrever as questões e para garantir que elas sejam
compreendidas. A ação mais forte e presente na
Quanto mais o professor valorizar seu aluno mais ele se problematização é a oralidade; os registros pictóricos
sentirá capaz e encorajado para aprender. e o texto surgem, quase sempre, em um segundo
momento quando se deseja sistematizar ou apenas
O aluno, em especial o adulto, possui uma gama de conhecimentos registrar os questionamentos e suas respostas.
matemáticos que foram aprendidos de forma diferente da escola
Finalmente, quando assumimos que a Resolução de
mas que mostram grande interesse em aprender os processos de Problemas está intimamente relacionada à
representação simbólica convencional. aprendizagem de conteúdos, o recurso à comunicação
é essencial, pois é o aluno, falando, escrevendo ou
desenhando, que mostra ou fornece indícios de que
A ação mediadora do professor habilidades ou atitudes ele está desenvolvendo e que
conceitos ou fatos ele domina, apresenta dificuldades
Os conhecimentos do aluno não devem ser imediatamente ou incompreensões. Os recursos da comunicação são

81
substituídos pelos conhecimentos formais da escola e sim, servir de
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares
base para as novas formas de pensar matemática. As práticas
informais vão aos poucos sendo substituídas pelas convencionais
de forma natural.
Continua ...
A sistematização dos conhecimentos matemáticos deve ser
amplamente amparada pela atuação mediadora do professor. O papel novamente valiosos para interferir nas dificuldades
encontradas ou para permitir que o aluno avance
do professor nesse momento é fundamental pois transmite segurança mais, propondo-se outras perguntas ou mudando-se
ao aluno, proporcionando-lhe abertura para questionar e dialogar a forma de abordagem.
com seu professor e com o grupo.
A partir da associação entre a perspectiva
Nesse processo de buscas, trocas e comparações ocorre a ação metodológica de Resolução de Problemas e a
mediadora do professor; no momento certo ele propõe comunicação, podemos verificar que o aluno,
enquanto resolve situações-problema, aprende
questionamentos que induzem a pensar à maneira matemática. matemática, desenvolve procedimentos e modos de
pensar, desenvolve habilidades básicas como
Quando falamos em momento certo, queremos dizer que o professor
verbalizar, ler, interpretar e produzir textos em
não deve se antecipar, impedindo o aluno de buscar a solução com matemática e nas áreas do conhecimento envolvidas
seu próprio raciocínio e nem deixá-lo sem a informação sistemática, nas situações propostas. Simultaneamente, adquire
e sim atuar depois que todos fizerem a exposição do seu raciocínio, confiança em seu modo de pensar e autonomia para
afirmando, complementando ou auxiliando na reformulação dos investigar e resolver problemas.
raciocínios sem lógica. Um outro aspecto positivo que temos constatado em
nosso trabalho com a Resolução de Problemas em
Veja como a Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos um ambiente de comunicação é que o aluno não
aborda a relação professor-aluno: constrói o que chamamos de más concepções sobre
o que significa aprender e resolver problemas. De
“O processo de ensino e aprendizagem deve centrar-se na fato, ao analisarmos pesquisas recentes (Borasi,
análise e na interpretação de situações, na busca de estratégias 1993, p.83-91) sobre o que os alunos pensam
quando trabalham apenas dentro da concepção
de solução, na análise e comparação entre diversas estratégias,
tradicional de Resolução de Problemas, resolvendo
na discussão de diferentes pontos de vista e de diferentes apenas problemas convencionais, é muito freqüente
métodos de solução. Desse modo, pode-se favorecer não só o encontrarmos entre os alunos as seguintes opiniões:
domínio das técnicas, mas também o de procedimentos como
– Não vale a pena gastar muito tempo para resolver
a observação, a experimentação, as estimativas, a verificação um problema; se a solução não pode ser
e a argumentação.” (BRASIL, 1997. p.102) encontrada rapidamente, é porque eu não sei
resolvê-lo.
O mesmo documento propõe que este trabalho seja desenvolvido
por meio de situações cotidianas de modo a tornar a aprendizagem

82
significativa.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares
Para este trabalho o professor deve criar situações com dados da
realidade do aluno como endereços, números de telefone, preços
de produtos e serviços, aluguel, percurso de ônibus, medidas de
terrenos, calendários etc. Continua ...
– Se eu cometi um erro, devo desistir e começar
A partir desses dados são explorados conteúdos matemáticos tais
tudo de novo; não adianta tentar entender o porquê
como: distância, mapas, cálculos, medidas etc., de forma que a do erro.
aprendizagem se torne realmente significativa, ou seja, que haja
um ligação entre os conhecimentos dos alunos e os conhecimentos – Há sempre uma maneira certa de resolver um
problema; mesmo quando há várias soluções uma
escolares e para que esses conhecimentos possam ser utilizados na delas é a correta.
realidade em que vivem, tais conteúdos devem ser abordados por
meio da resolução de problemas. – Aprender a resolver problemas é uma questão de
esforço e prática. Eu aprendo tomando notas,
No trabalho com jovens e adultos, torna-se necessário também que memorizando todos os passos de uma seqüência
o professor esteja atento ao material utilizado, cuidando para que o correta e praticando-os.
ensino não se torne infantilizado ou sem sentido para o aluno que – Um bom professor não deve me deixar confuso. É
traz para a escola uma vasta experiência de vida e noções construídas responsabilidade dele orientar o que devo fazer,
mentalmente sobre quantidades, contagens, cálculos entre outros. pois isso é ensinar.

Para romper com essas crenças ou más concepções


São nesses momentos de interação do professor-aluno que se
sobre o que significa aprender matemática e evitar
estabelece o que Brousseau apud Arruda et al. (2003), chama de que elas existam, não basta ter em mãos um
contrato didático que é o conjunto de ações recíprocas esperadas problema interessante. É preciso que o aluno se
tanto por parte do professor quanto do aluno. No entanto pode perceba como ser pensante e produtor de seu próprio
ocorrer uma má interpretação das ações esperadas por uma das conhecimento.
partes. Os alunos muitas vezes agem de determinada maneira por Combinar Resolução de Problemas e comunicação é
acreditarem ser o que o professor espera deles e tentam descobrir uma forma bastante eficiente de implementar a
outros caminhos por conta própria, criando um amontoado de regras. investigação em situações-problema ao mesmo
tempo em que se favorece o desenvolvimento integral
O autor aponta algumas idéias mais democráticas no jogo das do aluno, diminuindo as barreiras arbitrárias das
relações entre professor-aluno-saber: disciplinas e auxiliando o rompimento com crenças
socialmente difundidas que têm impedido a
• idéia da divisão de responsabilidades: a relação didática não é aprendizagem real, especialmente em matemática.
controlada exclusivamente pelo professor; o aluno deve cumprir Sem dúvida, bons problemas, situações próximas à
com seu papel, envolvendo-se com o aprender; realidade do aluno e temas motivadores favorecem a
aprendizagem e o envolvimento do aluno, mas é

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 83


• conscientização do implícito: a relação didática funciona mais
sob um conjunto de regras “não ditas”, do que aquelas formuladas
e explicitadas; o contrato didático se inquieta muito mais por
essas regras implícitas do que por aquelas explícitas. De todo Continua ...
modo, é em torno de tais regras, implícitas e explícitas, que o através da utilização da comunicação que o aluno
professor e aluno estão ligados; ganha voz na sala de aula, podendo trocar opiniões,
argumentar em favor de suas idéias, refletir sobre o
• relação com o saber: o que é característico do contrato didático que pensa ao escrever ou representar suas
é a consideração da relação que cada um dos parceiros tem com descobertas e conclusões e sentir-se valorizado por
o saber; devemos portanto, levar em conta a assimetria das possuir interlocutores e leitores para suas produções.
relações com o saber em jogo na relação didática; É preciso salientar novamente que esse trabalho não
é simples, requer tempo e depende muito de um
• construção da comunicação didática: o contrato didático fixa
bom planejamento. Trabalhar na perspectiva
o papel do conhecimento e da aprendizagem, constituindo uma metodológica da Resolução de Problemas, em um
forma de teoria chamada “epistemologia escolar”. É mediante o ambiente que contemple a comunicação, não inclui
contrato didático que se busca o que impede ou favorece o acesso experimentações eventuais, nem permite o improviso
dos alunos ao conhecimento e, ainda, o que bloqueia sua entrada ou a falta de clareza quanto ao conhecimento
matemático e a forma adequada de utilização da
no processo de aprendizagem.
metodologia.
Isto não significa apenas acompanhar o aluno, mas apoiá-lo e fazer (Extraído de: DINIZ, Maria Ignez. Resolução de problemas
interferências no momento certo. Esse momento deve vir depois da e comunicação. In: SMOLE, Kátia S. DINIZ, Maria Ignez
fala e participação do aluno. (Org.). Ler, escrever e resolver problemas. Porto Alegre:
Artmed, 2001. p.95-97)
Sempre que o professor for trabalhar um conteúdo, antes de explicá-
lo é importante primeiro fazer um questionamento ao grupo, a fim
de verificar se determinado conteúdo faz parte da experiência dos
alunos, o que eles sabem sobre, o que pensam, como pensam etc.,
somente depois dessa discussão é que o professor fará suas
colocações sobre o assunto.
Neste aspecto o professor deve estar atento para não substituir os
conhecimentos e a forma de pensar dos seus alunos pela sua,
julgando ser a maneira mais fácil, pois o que é fácil para um pode
ser difícil para outro.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 84


Competências e habilidades

Os vários materiais disponíveis no meio educacional para trabalhar


conceitos matemáticos só farão sentido para o aluno se estiverem
relacionados a situações significativas e provocarem a reflexão sobre
seu uso, já que os objetivos principais da área de matemática estão
voltados para o desenvolvimento das competências e habilidades Conhecendo diferentes tipos de problemas
descritas a seguir.
Uma das preocupações dos professores é fazer com
• Valorizar a Matemática como instrumento para interpretar que os alunos sejam capazes de resolver diferentes
tipos de problemas nas aulas de matemática. Mas,
informações sobre o mundo, reconhecendo sua importância em afinal, o que exatamente isso significa?
nossa cultura.
Para auxiliar essa reflexão, vamos observar e resolver
• Apreciar o caráter de jogo intelectual da Matemática, os dois problemas que seguem:
reconhecendo-o como estímulo à resolução de problemas.
A) Ricardo comprou 3 pacotes de figurinhas. Em cada
• Reconhecer sua própria capacidade de raciocínio matemático: pacote há 4 figurinhas. Quantas figurinhas Ricardo
tem ao todo?
desenvolver o interesse e o respeito pelos conhecimentos
desenvolvidos pelos companheiros.
• Comunicar-se matematicamente, identificando, interpretando e
utilizando diferentes linguagens e códigos.
• Intervir em situações diversas relacionadas à vida cotidiana,
aplicando noções matemáticas e procedimentos de resolução de
problemas individual e coletivamente.
• Vivenciar processos de resolução de problemas que comportem
a compreensão de enunciados, proposição e execução de um
plano de solução, a verificação e comunicação da solução.
B) Isso é um cérbero. Cada vez que uma das suas
• Reconhecer a cooperação, a troca de idéias e o confronto entre
cabeças está doendo, ele tem que tomar quatro
diferentes estratégias de ação como meios que melhoram a comprimidos. Hoje as suas três cabeças tiveram
capacidade de resolver problemas individual e coletivamente. dor. Mas o frasco já esta no fim e ficou faltando
comprimidos para uma cabeça. Quantos
• Utilizar habitualmente procedimentos de cálculo mental e cálculo comprimidos haviam no frasco?
escrito (técnicas operatórias), selecionando as formas mais

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 85


adequadas para realizar o cálculo em função do contexto, dos
números e das operações envolvidas.
(BRASIL. Ministério da Educação: Proposta Curricular de Jovens e Adultos.
Continua ...
Brasília:_____ p.109-110)

O papel do professor é fundamental para que tais habilidades se


concretizem. Ele não deve esquecer que seu aluno tem uma história
de vida e que no decorrer de sua experiência muitos conceitos
foram construídos, mesmo que de maneira informal.

A comunicação na aprendizagem da Matemática


Observa-se, com freqüência, que muitas dificuldades encontradas
pelos alunos em Matemática relacionam-se, na verdade, a problemas
de comunicação: dificuldade de entender o que está sendo falado
ou lido, explicações teóricas acima do nível dos alunos,
desconectadas da prática, falta de diálogo etc. Analisando os dois problemas, notamos uma
Muitas vezes o professor não consegue ajudar o aluno por não semelhança entre eles; ambos envolvem uma
multiplicação. No entanto, as semelhanças acabam
entender o seu raciocínio. aí. Seja no processo de resolução, no número de
Ao discutir com os alunos as diferentes maneiras de resolver uma respostas possíveis ou na forma de resolução, os dois
situação-problema, são trabalhadas habilidades tais como: problemas são muito diferentes.
interpretação, compreensão, argumentação, comparação etc. As O problema A possui frases curtas e objetivas e não
habilidades de leitura e escrita também são trabalhadas à medida exige um pensamento mais elaborado para sua
que o aluno passa para o registro. interpretação e resolução. Todos os dados de que o
resolvedor necessita estão explícitos no texto de modo
O diálogo, assim como em outras áreas, na Matemática auxilia os claro e na ordem em que devem ser usados. Além
alunos a construírem os vínculos entre os conceitos informais e a disso, pode ser resolvido pelo uso direto de um
linguagem abstrata simbólica da Matemática. algoritmo e tem uma única resposta, que é numérica.
Esse é o tipo mais comum de problema trabalhado
É por meio da linguagem verbal que o aluno descobre formas úteis nas aulas de matemática e geralmente encontrado
de resolver problemas, usando a linguagem matemática. A partir da em livros didáticos. Por apresentar as características
troca de informações entre os colegas, com cada um expressando citadas, ele é conhecido como problema convencional.
seu raciocínio, o aluno faz comparações e percebe que há diferentes
maneiras de resolver um mesmo problema e que dentre essas

86
maneiras há uma mais “fácil” ou prática.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares
Segundo Cândido (2001, p.17) podemos atribuir dois papéis à
língua em relação à matemática.

“Por um lado, a língua materna é aquela na qual são lidos os Continua ...
enunciados, na qual são feitos os comentários e a qual permite
interpretar o que se ouve ou lê de modo preciso ou aproximado. O problema B tem uma história com personagens,
oferecendo uma situação inusitada. Isso motiva,
Por outro, a língua materna é parcialmente aplicada no trabalho
encanta e envolve o aluno, quer pelo bom humor,
matemático, já que os elos de raciocínio matemático apóiam- quer pelo imaginário, pela fantasia. Exige que o aluno
se na língua, em sua organização sintática e em seu poder faça uma leitura mais cuidadosa do texto, selecione
dedutivo. as informações, decida quais são essenciais para a
resolução e utilize um pensamento muito mais
Parece-nos que a tarefa dos professores em relação à linguagem
elaborado na sua resolução do que no problema A,
matemática deve desdobrar-se em duas direções. Em primeiro pois estimula o desenvolvimento de estratégias
lugar, na direção do trabalho sobre os processos de escrita e variadas de resolução, possibilitando, assim, um maior
representação, sobre a elaboração dos símbolos, sobre o uso dos diferentes recursos de comunicação. O
esclarecimento quanto às regras que tornam certas formas de trabalho com o problema B favorece o
escrita legítimas e outras inadequadas. Em segundo, em direção desenvolvimento de diferentes modos de pensar além
ao trabalho sobre o desenvolvimento de habilidades de da aritmética, estimulando o raciocínio divergente,
raciocínio que, para os alunos, se inicia com o apoio da indutivo e lógicodedutivo nas aulas de matemática.
linguagem oral e vai, com o tempo, incorporando textos e Vejamos algumas estratégias que podem ser usadas
representações mais elaborados.” para resolver o problema B:

Resolução de problemas 1. Desenhos

Conforme já discutimos, a tendência atual do ensino de Matemática


indica a centralização na resolução de problemas entendidos de
forma mais ampla, como situações-problema.
Esta recomendação, mais que um modismo, visa tornar a
aprendizagem significativa.
Segundo Smole e Diniz (2001), existem três concepções correntes
de problemas.
• Resolução de problemas como meta do ensino da Matemática.
• Resolução de problemas como processo de aplicação de
conhecimentos adquiridos previamente.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 87


• Resolução de problemas como habilidade básica que habilita o
indivíduo a inserir-se no mundo.
As autoras propõem a abordagem de uma perspectiva metodológica, Continua ...
que ultrapassa os problemas convencionais, normalmente
2. Algoritmos:
apresentados por meio de frase, diagramas ou pequenos parágrafos,
após o estudo de um conteúdo específico; contêm todos os dados 4 + 4 + 4 = 12
necessários à solução explícitos no texto; podem ser resolvidos pela
12 – 4 = 8 Havia 8 comprimidos.
aplicação direta de um algoritmo, possuem uma resposta numérica
única e têm como tarefa básica identificar e aplicar adequadamente 3. Desenhos e algoritmo:
operações apropriadas à solução, transformando informações em
linguagem matemática.
A perspectiva metodológica da resolução de problemas, por sua vez,
visa problematizar as situações, ou melhor, identificar nas situações
aspectos que podem ser problematizados, isto é, envolver
investigações e busca de soluções, de naturezas diversas. Assim o
problema não precisa necessariamente envolver a transcrição para
a linguagem matemática. Os alunos devem ter a liberdade de 4. Cabeça 1 0000
escolher caminhos, formas de registro, questionar, enfim exercitar Cabeça 2 0000
a investigação antes de se preocuparem com a sistematização na
Cabeça 3
linguagem matemática.
Havia oito comprimidos no frasco.
Valoriza-se, neste processo, a curiosidade, a busca de alternativas,
a problematização, os processos não convencionais de investigação. 5. Texto

Cada uma das cabeças toma 4 comprimidos


Observe, você, que a comunicação torna-se essencial nesse
quando está com dor, precisamos de 12
processo. comprimidos. Só, que ficou faltando comprimidos
para uma cabeça, no frasco tinhas apenas 8
Leia, na janela, o texto O recurso à perspectiva metodológica da comprimidos.
resolução de problemas. Camila – 2ª série
Dante (1996) recomenda uma série de cuidados no trabalho com Também é importante observar que este é um
problemas, dentre os quais destacam-se: problema que possui mais de uma resposta possível:

• propor problemas com freqüência, porém pouca quantidade de

88
cada vez;
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares
• enfatizar e valorizar mais o processo de solução de problema do
que o resultado;
• incentivar os alunos a verbalizarem seus raciocínios, revendo-os
Continua ...
e apontando outros caminhos que poderiam ter sido seguidos,
quando for o caso; Resposta Cabeça 1 Cabeça 2 Cabeça 3
• disponibilizar material concreto para ser manipulado no processo 8 comprimidos 0000 0000
de busca de soluções;
9 comprimidos 0000 0000 0
• estimular o aluno a identificar seus erros e a causa deles;
10 comprimidos 0 0 0 0 0000 00
• apontar situações cotidianas que envolvem a solução de
problemas; 11 comprimidos 0 0 0 0 0000 000

• incentivar os alunos na resolução de problemas, apresentando De acordo com a leitura que se faz do texto, os alunos
sugestões, elencando possibilidades, porém sem apontar o podem encontrar diferentes respostas para o
problema. É muito comum deles encontrarem a
caminho a ser seguido; resposta 8 quase de imediato, pois, quando lêem
• contextualizar os problemas de forma a despertar o interesse dos que faltaram comprimidos para uma cabeça, já
alunos; “associam” isso a 4 comprimidos, ignorando o fato
de que pode haver outras interpretações e, portanto,
• propor problemas incompletos para serem completados e outras respostas possíveis.
resolvidos. Por exemplo: sem os números; sem perguntas; faltando
No momento da discussão das diferentes resoluções,
dados etc. o professor pode solicitar a um aluno que coloque
• solicitar que os alunos criem problemas em contextos específicos: sua solução no quadro e perguntar se algum aluno
observação de gravuras; leitura de histórias; análise de folhetos fez de outra maneira ou se todos encontraram a
mesma resposta. Caso apareçam como pensaram
de supermercado; corridas; jogos; coleções de objetos, programas sobre o problema e chegaram a elas.
de televisão etc.
Caso apareça só uma resposta na classe, o professor
pode interferir questionando: Será que só há essa
Tipos de problemas resposta? E se tivesse 9 comprimidos no frasco?
Vamos verificar o que aconteceria?
O professor deve evitar problemas padronizados que geram respostas
É importante que os alunos percebam que as quatro
padronizadas e não cumprem seu objetivo maior que é possibilitar respostas são diferentes, porém todas estão corretas
ao aluno uma elaboração mental e a execução de um plano cujo e resolvem o problema. Ao final da discussão e da
resultado consiga pôr à prova, testando seus efeitos e argumentando socialização, eles devem ser incentivados a registrar
a respeito das diferentes formas de solução encontradas pelo grupo. no caderno as soluções que foram diferentes da sua.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 89


O trabalho com a resolução de problemas deve envolver os seguintes
procedimentos: ler, falar, argumentar, escrever, escutar, comparar,
discordar, levantar hipóteses e prever soluções, levando ao
desenvolvimento das habilidades de: compreensão, elaboração, Continua ...
comparação, comunicação etc. Podemos, então, observar que, apesar de os dois
problemas propostos aproximarem-se porque
É importante que o aluno tenha contato com os diferentes tipos de envolvem a idéia multiplicativa, o segundo exemplo
problemas. De acordo com Dante (1996), os problemas podem ser é o que denominamos de um problema não-
variados: convencional, pelo fato de que possui várias soluções
possíveis.
• problemas padrão – apresentam a solução no próprio enunciado. Uma vez que as características de um problema
convencional são estar ligado a um conteúdo
• problemas de aplicação – denominados também como
específico ou técnica; sempre ter solução e resposta
situações-problema, retratam situações reais e envolvem única que, em geral, é numérica; apresentar todos
conhecimentos matemáticos em sua solução. Normalmente os dados de que o resolvedor necessita para sua
envolvem pesquisa e levantamento de dados. resolução e não possuir dados supérfluos,
denominamos um problema de não-convencional
• quebra-cabeças ou desafios – envolvem atenção e perspicácia quando ele rompe com uma dessas características,
para decifrar códigos e truques e, às vezes a solução envolve como é o caso do exemplo anterior.
sorte. Ao trabalhar com os problemas não-convencionais,
os alunos têm contato com diferentes tipos de textos
• problemas de processo ou heurísticos – envolvem operações e desenvolvem sua capacidade de leitura e análise
que não estão contidas no enunciado. Normalmente exigem crítica, pois, para resolver a situação proposta, é
planejamento e definição de estratégias e nem sempre podem necessário voltar muitas vezes ao texto a fim de lidar
ser traduzidos diretamente para a linguagem matemática. com os dados e analisá-los, selecionando os que
são relevantes e descartando aqueles supérfluos.
Outros autores classificam os problemas de forma diferente. Planejando o que fazer, como fazer, encontrando uma
resposta e testando para verificar se ela faz sentido,
Veja, na janela, alguns exemplos de problemas apresentado no texto o aluno compreende melhor o texto. Isto gera uma
de Renata Stanconelli: Conhecendo diferentes tipos de problemas, atitude que não é passiva e requer uma postura
diferenciada frente à resolução de problemas.
que ilustram bem o que significam os problemas não convencionais.
A partir da exploração desses problemas, o professor
pode iniciar um trablaho que leve os alunos a
Cálculo mental confrontarem opiniões e refletirem sobre a finalidade,
a adequação e a utilização dos dados apresentados
O desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas envolve no texto, interpretando e analisando o problema com
a capacidade de realização de cálculos mentais. Assim, os alunos mais atenção.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 90


necessitam escolher os procedimentos a serem utilizados, encontrar
as respostas e avaliá-las.
O trabalho de cálculo mental deve estar presente em todas as Continua ...
atividades, ou seja, antes de pedir a resolução escrita de um problema
o professor deve pedir primeiro que pensem nas diferentes maneiras É importante, ainda, ressaltar que a necessidade de
entender uma situação, de considerar os dados
de solução e depois façam o registro do que pensaram. fornecidos, de colecionar dados adicionais, de
descartar dados irrelevantes, de analisar e obter
De acordo com Marincek (2001), o trabalho com cálculo mental
conclusões a partir dos dados, de imaginar um plano
envolve para a resolução e, finalmente, de resolver e verificar
a coerência da solução são procedimentos comuns
– realização de estimativas, de forma a averiguar se os tanto no entendimento de diferentes tipos de textos
procedimentos usados e os resultados estão no caminho certo; quanto nos problemas de matemática. Assim, o
– seleção dos procedimentos mais apropriados à situação-problema; trabalho que aqui propomos pode auxiliar na
interpretação de outros tipos de textos, como aqueles
– realização de procedimentos de verificação e controle dos usados em outras disciplinas e fora dos limites da
resultados; escola.
– desenvolvimento de estratégias pessoais de cálculo a partir dos (Extraído de: STANCANELLI, Renata. Conhecendo
conhecimentos das operações fundamentais e de propriedades diferentes tipos de problemas. In; SMOLE, Kátia S.
do sistema de numeração; DINIZ, Maria Ignez. Ler, escrever e resolver problemas:
habilidades básicas para aprender Matemática. Porto
– utilização de medições e contagens em intervalos diferentes; Alegre: Artmed, 2001. p.103-107.)
– domínio de combinações aritméticas como as tabuadas e os fatos Atenção. Recomendamos que você procure ler a obra
numéricos. inteira. Você encontrará orientações riquíssimas e
exemplos muito interessantes de problemas.
Antunes (2001) chama a atenção para o uso de estimativas no
desenvolvimento do componente Natureza e Sociedade, no
estabelecimento de probabilidades de ocorrência de eventos:

“Embora toda probabilidade envolva uma suposição, seu uso


em sala de aula mostra-se válido para explorar a capacidade
de dedução do aluno e o uso de seu raciocínio lógico.

O início dos alunos nos caminhos das probabilidades deve


ser lento, progressivo, mostrado passo a passo pelo professor,
geralmente levantado por questões desafiadoras como: qual

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 91


a relação entre o buraco na camada de ozônio e o
derretimento das calotas polares? Quais as vantagens e os
riscos da implantação de usinas nucleares em um espaço
geográfico? O que teria acontecido com a humanidade se
os países do Eixo vencem a Segunda Guerra Mundial?
(ANTUNES, 2001, p.92)

A abordagem lúdica da Matemática


Podemos afirmar, sem medo de errar, que a Matemática constitui-
se no componente curricular mais temido por alunos de todas as
faixas etárias e níveis de ensino.
A aversão que a disciplina desperta em muitos estudantes deve-se,
em grande parte, a um ensino massacrante e sem significado.
Os jogos, as brincadeiras e os desafios são muito importantes no
desenvolvimento das atividades de Matemática, por diversas razões.
Uma delas é o fato de propiciarem um ambiente alegre e
descontraído, essencial a uma proposta de aprendizagens Para pesquisar 3
significativas. Outras vantagens igualmente importantes são o
estímulo à interação; o desenvolvimento de atitudes ética, de respeito
ao outro, de raciocínio lógico, de habilidades de comunicação, de Apresente dois exemplos de problemas não
convencionais.
orientação espaço-temporal, de preservação ambiental, de auto-
conhecimento, de colaboração.
É importante propor atividades de modo atraente e desafiador,
Sintetizando e adequadas aos alunos e estimular que estes proponham também os
enriquecendo nossas próprios jogos, desafios e brincadeiras.
informações. Para possibilitar o desenvolvimento de diferentes habilidades, ao
trabalhar com jogos, o professor deve, de início, explicar apenas os
Elabore a síntese do texto que procedimentos e deixar que o aluno descubra as possíveis alternativas
acabou de ler e dos textos que se
de solução.
encontram na janela.

Faça uma auto-avaliação em Os jogos, como os problemas, devem ser passíveis de diferentes
relação à sua prática de ensino de formas de solução para que as diversas experiências sejam

92
Matemática, a partir do texto. valorizadas.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares
Natureza e sociedade

O ensino de Natureza e Sociedade na Educação de Jovens e Adultos merece


tanta atenção quanto o Português e a Matemática. Dizemos isso por perceber
que na maioria das salas de EJA não é o que acontece. Maratona

Por se tratar de um componente que aborda questões sociais, políticas, Participantes: 4 a 5


O que você pensa disto? culturais, econômicas etc., de forma direta, a discussão dos temas referentes Material:
ao componente Natureza e Sociedade ajuda a despertar a consciência crítica
Como deve ser a abordagem dos – 1 tabuleiro (figura 1)
do educando, tornando-o mais politizado e capaz de atuar na sociedade,
conteúdos no ensino de Natureza – 50 fichas contendo desafios
e Sociedade?
fazendo valer seus direitos e deveres de cidadão, enfim, possibilitando a – 1 dado
vivência plena da cidadania. – 5 tampas de refrigerante

Com isso não queremos descartar a responsabilidade das demais áreas de Como jogar:
ensino; a nossa intenção é enfatizar a importância do componente Natureza – Cada jogador lança o dado e quem tirar
e Sociedade cujo objetivo principal é “desenvolver o espírito investigativo e o mais pontos começa.
interesse pelo debate de idéias”. (PCN EJA. p.164) – Seguindo a ordem estipulada, joga-se
o dado, o jogador movimenta a sua
Sabemos que o adulto, mesmo quando sem nenhuma escolaridade, possui peça de acordo com o número de
uma gama muito grande de conhecimentos sobre diferentes áreas. Durante pontos tirados no dado.
a sua vida presenciou ou ouviu muitos relatos a respeito de fatos ocorridos – O jogador retira uma carta do monte e
na História do seu país e do mundo. Ao ingressarem na escola, esses lê o desafio contido nela ou pede ao
conhecimentos são transformados ou ampliados, mas para que isso ocorra é professor ou a um colega que leia. Se
acertar permanece nesta casa, se errar
necessário estabelecer uma ligação entre os conhecimentos vividos e os volta para o lugar onde estava.
novos, sistematizando-os, caso contrário os alunos irão descartar as
– Vence o primeiro a chegar ao final.
informações da escola.
Conteúdo das fichas
O estabelecimento de conexão entre os conhecimentos (escolares e dos
alunos) possibilita a construção de aprendizagens significativas. Se as 01. Dramatize o Presidente da República
do seu País.
informações escolares não possuírem nenhuma importância para suas vidas,
a assimilação será mínima. 02. Cite alguns lugares onde as pessoas
se encontram coletivamente para se
Dessa forma, o trabalho com os conteúdos deve estar relacionado com os divertirem.
conhecimentos dos alunos e o seu desenvolvimento deve ocorrer por meio

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 93


de recursos e estratégias variados de modo que cada aluno encontre sua
maneira de aprender.
Os conteúdos do componente Natureza e Sociedade estão relacionados à Continua ...
cultura, relações sociais, cidadania, corpo humano, meio ambiente etc.;
03. Qual a maior festa popular brasileira,
devem ser trabalhados de forma crítica, com uso de recursos próximos à sua ocorrida geralmente no mês de
realidade, tais como: jornais, documentos, museus, vídeos, revistas, fotos fevereiro?
etc. Quanto maior a vivência com os conteúdos maior será a aprendizagem.
04. Qual o partido do governador do seu
No entanto, a riqueza de recursos por si só não basta para garantir a qualidade Estado?
da aprendizagem. Mais do que dominar os conteúdos e dispor dos recursos 05. Qual a importância das florestas para
necessários para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental que o professor a vida do homem?
tenha compromisso e clareza dos objetivos da sua área, possua visão crítica
06. A Capital do seu país é?
e interesse pelos acontecimentos e fenômenos sociais, de forma a estimular
a reflexão dos alunos. 07. Nosso país é formado por quantos
estados?

Habilidades e competências da área 08. Uma rodovia que leva a sigla BR é:


federal – estudual – municipal.
De acordo com a Proposta Curricular da Educação de Jovens e Adultos, 09. O que significa a sigla MST?
constitui objetivos de Estudos da Natureza e Sociedade o desenvolvimento
10. Por que devemos ingerir alimentos
das habilidades e competências, descritas a seguir. variados?
• “Problematizar fatos observados cotidianamente, interessando-se pela 11. O que acontece quando não bebemos
busca de explicações e pela ampliação de sua visão de mundo. água o suficiente?

• Reconhecer e valorizar seu próprio saber sobre o meio natural e social, 12. Cite um alimento rico em vitamina C.
interessando-se por enriquecê-lo e compartilhá-lo. 13. Quais os benefícios do sol para nossa
saúde?
• Conhecer aspectos básicos da organização política do Brasil, os direitos
e deveres do cidadão, identificando formas de consolidar e aprofundar 14. Quais os malefícios do sol para nossa
a democracia no país. saúde?

15. Exercitar o cérebro é mais importante


• Interessar-se pelo debate de idéias e pela fundamentação de seus
do que praticar atividade física?
argumentos.
16. Qual a lei maior do nosso país?

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 94


• Buscar informações em diferentes fontes, processá-las e analisá-las
criticamente.
• Interessar-se pelas ciências e pelas artes como formas de conhecimento, Continua ...
interpretação e expressão dos homens sobre si mesmos e sobre o mundo
17. Cite um método anticoncepcional.
que os cerca.
18. Os recursos naturais são inesgotáveis?
• Inserir-se ativamente em seu meio social e natural, usufruindo racional
19. Quais as conseqüências do
e solidariamente de seus recursos.
desmatamento para o nosso planeta?
• Valorizar a vida e a sua qualidade como bens pessoais e coletivos, 20. Avance 2 casas.
desenvolver atitudes responsáveis com relação à saúde, à sexualidade
21. Avance 5 casas.
e à educação das gerações mais novas.
22. Avance 4 casas.
• Reconhecer o caráter dinâmico da cultura, valorizar o patrimônio cultural
23. Descanse uma jogada.
de diferentes grupos sociais, reconhecer e respeitar a diversidade étnica
e cultural da sociedade brasileira. 24. Descanse uma jogada.
25. Descanse uma jogada.
• Observar modelos de representação e orientação no espaço e no tempo,
familiarizando-se com a linguagem cartográfica. 26. Volte 5 casas.
27. Volte 3 casas.
• Compreender as relações que os homens estabelecem com os demais
elementos da natureza e desenvolver atitudes positivas com relação à 28. Volte 4 casas.
preservação do meio ambiente, analisando aspectos da Geografia do 29. Conte uma piada.
Brasil.
30. Conte uma piada.
• Compreender as relações que os homens estabelecem entre si no âmbito 31. Cante uma música.
da atividade produtiva e o valor da tecnologia como meio de satisfazer
32. Dance uma música.
necessidades humanas, analisando aspectos da História do Brasil.”
33. Imite um animal.
(PCN. Educação de Jovens e Adultos. São Paulo: Brasília. 1997, p.172 e 173)
34. Abrace um(a) colega.
O trabalho do professor deve ser planejado, observando-se cada habilidade.
35. Fale algo sobre você.
Se o professor planejar sua aula com base nas habilidades, seu trabalho,
com certeza, será mais produtivo. Vejamos um exemplo. 36. Abrace 2 colegas.

37. Quais as regiões brasileiras?

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 95


Habilidade:
“Compreender as relações que os homens estabelecem com os demais
elementos da natureza e desenvolver atitudes positivas com relação à Continua ...
preservação do meio ambiente, analisando aspectos da Geografia do Brasil.”
38. Quais os sintomas da Dengue?
Conteúdos: 39. Qual a vegetação do seu Estado?
Alguns conteúdos da área relacionados à habilidade: 40 Fale sobre seu País.

– água 41. O que podemos fazer para ajudar na


– ar preservação do meio ambiente?
– terra 42. Quais os males causados pelo cigarro?
– fauna
– flora 43. O que esta placa nos diz?

Obs.: Para as demais áreas poderão ser trabalhados vários conteúdos 44. Quem tem direito ao “passe livre” em
contextualizados, como produção de texto, problemas de matemática, transportes coletivos?
pesquisas, teatros etc. 45. Quais os principais documentos de uma
pessoa?
Desenvolvimento:
46. Por que é importante votar?
Expor o tema por meio de vídeo, exposições de fatos, excursão, palestra, 47. Qual a função de um Deputado?
texto, jornal, dados de uma pesquisa etc.
48. Diga o nome de 3 ex-Presidentes da
Explorar o tema a partir de debates, discussões, dinâmicas, atividades escritas República.
etc. 49. O Brasil já teve várias moedas. Diga o
nome de duas.
O desenvolvimento de um tema pode se dar também por meio de um projeto 50. Quais os Estados brasileiros que fazem
planejado pelo professor ou programado em conjunto com os alunos. fronteira com o Paraguai?

Recursos humanos e materiais: Obs.: Os conteúdos das fichas podem ser


alterados por outros temas de interesse
Os recursos devem ser definidos de acordo com o desenvolvimento: de acordo com a necessidade da turma.
entrevistado, palestrante, jornais, aparelho de som, objetos antigos, fotos, As fichas devem ser misturadas e
mapas etc. colocadas na mesa com as perguntas
viradas para baixo.

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 96


Avaliação:
O professor pode avaliar a cada dia sua aula, observando e registrando o
desempenho e a participação de cada aluno nas atividades proposta. Continua ...
Podemos perceber a importância que o planejamento tem para o sucesso do
TABULEIRO
trabalho do professor; é planejando que se evitam as improvisações e a falta
de material de apoio, pois com tempo e preparo o professor pode fazer as 29 30 31 32 33 CHEGADA
substituições necessárias sem comprometer os objetivos propostos.
28
Atividades bem planejadas despertam maior interesse nos alunos e, quando 27
há interesse, há vontade de aprender.
26
Tão importante quanto o planejamento é a avaliação, que deve ser trabalhada
25 24 23 22 21 20
de modo a destacar as qualidades e aquisições dos alunos e não suas
dificuldades. Estas devem ser identificadas para serem trabalhadas e 19
superadas. 18
A avaliação deve ser diária de modo a permitir ao professor fazer alterações 12 13 14 15 16 17
em seu planejamento, quando necessário, para possibilitar a recuperação do
11
aluno ao longo do processo.
10
A avaliação final para efeito de promoção deve ser criteriosa evitando fortalecer
Sintetizando e a cultura da reprovação e a exclusão dos alunos do sistema de ensino. 9 8 7 6 5 4

enriquecendo nossas Veja, na janela, o Maratona, um exemplo de jogo que pode ser preparado 3
informações pelo professor para dinamizar o trabalho. 2

Faça a síntese do texto.

SAÍDA
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 97
Artes Visuais, Música e Movimento

Por meio da Arte o homem se comunica, usando sua


criatividade e criticidade, seus conhecimentos, sua história,
sua cultura, expressando suas emoções e seus sentimentos. Aprender a ensinar arte
Tendo em vista a importância da Arte na vida do homem, A formação em arte, que inclui o conhecimento do que é e foi
O que você pensa disto? esse componente curricular tem sido tratado em diferentes produzido em diferentes comunidades, deve favorecer a
documentos que propõem a abordagem educacional de forma valorização dos povos, pelo reconhecimento de semelhanças e
contrastes, qualidades e especificidades, o que pode abrir um
Você considera importante significativa e interdisciplinar.
trabalhar com artes na leque das múltiplas escolhas que o jovem se defrontará ao
Alfabetização de Adultos? De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais o longo de seu crescimento, na consolidação de sua identidade.
Justifique sua posição. ensino da Arte deve desenvolver nos educandos as A arte nem sempre se apresenta no cotidiano como obra de
habilidades de se expressar, comunicar-se, interagir etc., arte. Mas pode ser observada na forma dos objetos, no arranjo
sob diversas formas: Artes Visuais, Dança, Música ou Teatro. de vitrines, na música dos puxadores de rede, nas ladainhas
entoadas por tapeceiras tradicionais, na dança de rua executada
As escolas definem seus projetos para as diversas por meninos e meninas, nos pregões de vendedores, nos jardins,
modalidades de ensino de acordo com as características da na vestimenta etc. O incentivo à curiosidade pela manifestação
comunidade, levando em conta os recursos humanos e artística de diferentes culturas, por suas crenças, usos e
costumes, pode despertar no aluno o interesse por valores
materiais de que dispõe. diferentes dos seus, promovendo o respeito e o reconhecimento
É importante que os conteúdos de Arte estejam relacionados dessas distinções.
com os demais componentes curriculares e com os Ressalta-se assim a pertinência intrínseca de cada grupo e de
conhecimentos dos alunos, pois os alunos adultos carregam seu conjunto de valores, possibilitando ao aluno reconhecer
uma bagagem cultural muito grande, que deve ser em si e valorizar no outro a capacidade artística de manifestar-
se na diversidade.
aproveitada e valorizada.
Arte e os temas transversais
Na Educação de Jovens e Adultos podemos encontrar numa
mesma sala de aula alunos de diferentes idades, raças, As manifestações artísticas são exemplos vivos da diversidade
experiências e costumes. O professor deve aproveitar os cultural dos povos e expressam a riqueza criadora dos artistas
de todos os tempos e lugares. Em contato com essas produções,
conhecimentos desses alunos para tornar o ensino da arte
o aluno pode exercitar suas capacidades cognitivas, sensitivas,
rico e significativo. afetivas e imaginativas, organizadas em torno da aprendizagem
O universo do adulto, em função da sua diversidade de artística e estética. Ao mesmo tempo, seu corpo se movimenta,
suas mãos e olhos adquirem habilidades, a audição e a palavra
experiências, é repleto de alegrias, tristezas, sucessos,

98
fracassos, sonhos, desilusões, conquistas e perdas.
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares
Os sentimentos do aluno devem ser trabalhados por meio
da Música, do Teatro, da Dança e das Artes Visuais levando-
o à produção, reflexão e fruição. A partir do momento que
os sentimentos negativos vão sendo trabalhados, a auto- Continua ...
estima substitui a insegurança, proporcionando o se aprimoram, enquanto desenvolve atividades nas quais
crescimento do aluno. Além disso, a Arte possui objetivos relações interpessoais perpassam o convívio social o tempo
claros de desenvolvimento de competências e habilidades todo. Muitos trabalhos de arte expressam questões humanas
de comunicação e expressão por meio de diversas linguagens. fundamentais: falam de problemas sociais e políticos, de
relações humanas, de sonhos, medos, perguntas e
inquietações de artistas, documentam fatos históricos,
Eixos norteadores e conteúdos manifestações culturais particulares e assim por diante. Nesse
sentido, podem contribuir para uma reflexão sobre temas
como os que são enunciados transversalmente, propiciando
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para
uma aprendizagem alicerçada pelo testemunho vivo de seres
o ensino de Artes, o trabalho com este componente possui humanos, que transformaram tais questões em produtos
os seguintes eixos norteadores: de arte.

• produção – o processo de criar; MATTOS, Paula Belfort. A arte de educar.[s.l.]: Internacional Paper.
Antônio Bellini Editora e Cultura. 2003, p.21-22.
• fruição – isto é, apreciação de obras artísticas em geral;
• reflexão – a construção de conhecimentos sobre a própria
arte e sobre a arte produzida pelos colegas e artistas em
geral. Em busca e uma aprendizagem significativa

Para que os eixos referidos se constituam efetivamente em Alguém só se torna marceneiro tornando-se sensível aos signos da
madeira e médico tornando-se sensível aos signos da doença...
articuladores do processo de ensino e aprendizagem, no
Gilles Deleuze
trabalho com Artes, fazem -se necessários alguns cuidados
na seleção dos conteúdos tais como a observação do nível Supondo que nossa questão fosse: como levar as crianças a
de desenvolvimento dos alunos e a valorização dos saberes conhecer o sentido do tato? Nossa resposta imediata seria
tocando, ou seja, colocando-as em contato direto com o sentido
já construídos por eles. que se quer que elas conheçam.
Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais do O que se pretende nas aulas de arte, nessa perspectiva, é a
Ensino Fundamental, (PCN, vol. 6, p.57), propõem os interação da criança com o campo da arte, o seu contato direto
seguintes conteúdos: com ela. Essa interação, de acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais – Artes (1997:25), envolve:
“• a arte como expressão e comunicação dos
indivíduos;

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 99


• elementos básicos das formas artísticas, modos
de articulação formal, técnicas, materiais e
procedimentos na criação em arte;
Continua ...
• produtores em arte: vida, épocas e produtos em
• a experiência de fazer formas artísticas e tudo o que entra
conexões;
em jogo nessa ação criadora: recursos pessoais, habilidades,
• diversidade das formas de arte e concepções pesquisa de materiais e técnicas, a relação entre perceber,
imaginar e realizar um trabalho de arte;
estéticas da cultura regional, nacional e
• a experiência de fruir formas artísticas, utilizando informações
internacional: produções, reproduções e suas e qualidades perceptivas e imaginativas para estabelecer um
histórias; contato, uma conversa em que as formas signifiquem coisas
diferentes para cada pessoa;
• a arte na sociedade, considerando os produtores • a experiência de refletir sobre arte como objeto de
em arte, as produções e suas formas de conhecimento, onde importam dados sobre a cultura em
documentação, preservação e divulgação em que o trabalho artístico foi realizado, a história da arte e os
diferentes culturas e momentos históricos.” elementos e princípios formais que constituem a produção
artística, tanto de artistas quanto dos próprios alunos.
Tais conteúdos devem ser trabalhados nas diferentes
Ensinando a construir sentido
modalidades artísticas (Música, Dança, Teatro ou Artes
Visuais), condicionando-se o aprofundamento de cada um Aprendemos a pensar sobre as coisas. Como intérpretes do
às possibilidades de aprendizagem do aluno. mundo, construímos interpretantes sobre ele.
O que “decoramos” ou simplesmente copiamos mecanicamente
O trabalho com Artes engloba também conteúdos relativos não fica em nós. É um conteúdo momentâneo, por isso
a normas, valores e atitudes, que devem ser comuns a conhecimento vazio que no decorrer do tempo é esquecido.
todas as modalidades artísticas, estimulando o aluno a Não faz parte de nossa experiência.
valorizar e respeitar os bens culturais e artísticos produzidos Para Gillo Dorfles (1987:25), “toda a nossa capacidade
pela humanidade através dos tempos. significativa, comunicativa e fruitiva é baseada em experiências
vividas – por nós ou por outros antes de nós , mas, de qualquer
Consta, ainda, dos Parâmetros Curriculares Nacionais do modo, feitas nossas”. Só aprendemos aquilo que, na nossa
Ensino Fundamental (vol. 6, p.91-93) a proposta de experiência, se torna significativo para nós.
desenvolvimento dos seguintes conteúdos relacionados aos
Nessa perspectiva, ensinar – que etimologicamente significa
valores, normas e atitudes: apontar signos – é possibilitar que o outro construa sentidos,
isto é, construa signos internos, assimilando e acomodando o
• Prazer e empenho na apreciação e na construção de novo em novas possibilidades de compreensão de conceitos,
formas artísticas. processos e valores.
• Interesse e respeito pela produção dos colegas e de

A prática da alfabetização de jovens e adultos


outras pessoas.
Componentes curriculares 100
• Disposição e valorização para realizar produções
artísticas, expressando e comunicando idéias,
sentimentos e percepções.
Continua ...
• Desenvolvimento de atitudes de autoconfiança nas
Mas quem são as pessoas que ensinam?
tomadas de decisões em relação às produções pessoais.
O educador, podemos pensar, é aquele que prepara uma
• Posicionamentos pessoais em relação a artistas, obras refeição, que propõe a vida em grupo, que compartilha o
e meios de divulgação das artes. alimento, que celebra o saber. É do entusiasmo do educador
que nasce o brilho dos olhos dos aprendizes. Brilho que reflete
• Cooperação com os encaminhamentos propostos nas também o olhar do mestre.
aulas de Arte.
Cada aula, como um jogo de aprender e ensinar, é um instante
• Valorização das diferentes formas de manifestações mágico. Requer preparação e coordenação especiais, de mãos
habilidosas que tocam, que apontam, que escolhem contextos
artísticas como meio de acesso e compreensão das significativos para o aprendiz tecer sua rede de significações.
diversas culturas. Esta, conforme explica Nilson Machado, é:
• Identificação e valorização da arte local e nacional. Metáfora que propicia a compreensão da construção de
significados como feixes de relações. A não-linearidade, a
• Atenção, valorização e respeito em relação a obras e multiplicidade de percursos possíveis, a diversidade de relações
monumentos do patrimônio cultural. constitutivas de cada feixe, entre outros aspectos, fazem com
que essa idéia tenha repercussões importantes no estudo dos
• Reconhecimento da importância de freqüentar processos cognitivos e nas ações pedagógicas. (MACHADO,
instituições culturais onde obras artísticas estejam Nilson J. Epistemologia e didática. São Paulo: Cortez, 1995.)
presentes. A magia, gerada na alquimia da intuição, do olhar cuidadoso
para cada aprendiz, no saber fazer, se revela na criação de
• Interesse pela História da Arte. situações de aprendizagem significativa. Para construir esses
momentos o educador terá de ser guloso em seu desejo de
• Valorização da atitude de fazer perguntas relativas à ensinar, paciente na oferta e na espera de quem acredita e
arte e às questões a ela relacionadas. confia no outro e amoroso no compartilhar de saberes. Como
um pesquisador, ele ensina porque quer saber mais de sua
• Valorização da capacidade lúdica, da flexibilidade, do arte. E aprende a ensinar ensinando, pensando sobre esse
espírito de investigação como aspectos importantes ensinar. E assim ensinando, também aprende.
da experiência artística.
Na rede de significações do mundo da arte, de seus produtores
• Autonomia na manifestação pessoal para fazer e e fruidores, o educador se encontra “com uma rédea no criativo,
uma rédea no técnico, uma rédea no estético, uma rédea no
apreciar a arte.
processo de vida, uma rédea no futuro e uma no passado,

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 101


• Formação de critérios para selecionar produções
artísticas mediante o desenvolvimento de padrões de
gosto pessoal.
Continua ...
• Gosto por compartilhar experiências artísticas e estéticas
todas elas puxadas ao mesmo tempo. Com a habilidade de um
e manifestação de opiniões, idéias e preferências sobre auriga romano, ele manobra essa impressionante energia em
a arte. direção a uma meta. As Musas se detêm para observar. Outra
trajetória foi percorrida; outra aula foi dada”. Essa sensível fala
• Sensibilidade para reconhecer e criticar ações de de Murray Louis (1992:101), bailarino, coreógrafo e professor,
manipulação contrárias à autonomia e ética humanas, certamente traz a ressonância de quem viveu instantes mágicos
veiculadas por manifestações artísticas. do aprender e ensinar.

• Reconhecimento dos obstáculos e desacertos como A magia certamente pode ser facilitada pelo cenário convidativo
da sala de aula e por aprendizes vorazes pelo aprender. Mas o
aspectos integrantes do processo criador pessoal.
mágico educador, muitas vezes limitado pelas amarras que lhe
• Atenção ao direito de liberdade de expressão e são impostas no espetáculo da vida, terá de encontrar saídas
na busca incessante do que é possível, para além do apenas
preservação da própria cultura. aceitável.
Gostaríamos de destacar a plasticidade do trabalho com O mistério pode ser desvelado no enredamento dos conteúdos
Artes, que possibilita abordagens interdisciplinares do que é preciso ensinar/aprender e dos conteúdos do aprendiz
significativas. – o que intui e sabe –, articulados em situações de aprendizagem
especialmente projetadas.

Atividades sugeridas Muitas vezes o aprendiz ainda não viveu situações positivas de
aprendizagem em arte, e talvez tenha dificuldades em explorar
e comunicar idéias de pensamentos/sentimentos, pode ter
Constituem atividades adequadas ao alcance dos objetivos aprendido apenas a seguir a lição de outros. Silenciado de seu
deste componente curricular: próprio pensar/sentir, repetidor do pensamento de outro, esse
aprendiz terá de ser envolvido na rede da linguagem da arte por
• dramatizações; outros caminhos.É preciso abrir espaço para que possa desvelar
o que pensa, sente e sabe, ampliando sua percepção para
• teatro de bonecos: confecção e manipulação dos bonecos
uma compreensão de mundo mais rica e significativa. Desvelar/
e fantoches; ampliar e propor desafios estéticos são como poção mágica,
pó de pirlimpimpim, na possível experimentação lúdica e
• canto e dança;
cognitiva, sensível e afetiva do poetizar, do fruir e do conhecer
• folguedos e danças folclóricas: arte.

• paródias;
• pintura, desenho e colagem;
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 102
• criação de coreografias;
• composição de músicas e poesias.
• desafios musicais e em verso; Continua ...
AIicerces da aprendizagem significativa em arte.
• ilustração de textos;
É com a gramática da linguagem da arte que se trabalha no
• esculturas e modelagem com materiais variados; fazer artístico para abstrair dela uma forma expressiva que será
percebida como imagem sonora, gestual ou visual, tornando
• teatro: criação de textos, cenários e adereços, encenação presentes nossas próprias idéias.
de peças etc.;
Cada som, cada gesto, cada linha, massa e cor de uma produção
• criação de histórias; artística nos apresentam uma qualidade sensorial que faz visíveis
idéias de sentimentos/pensamentos que poetizam o mundo.
• visitas a museus e exposições; Ou, como diz Merleau-Ponty (1975: 360-1), sobre o que é
indispensável na obra de arte:
• atividades artesanais;
Que contenha, melhor que idéias, matrizes de idéias, que nos
Sintetizando e forneçam emblemas cujo sentido não cessará jamais de se
• dobraduras.
enriquecendo nossas desenvolver, que, precisamente por nos instalar em um mundo
informações Veja, na janela, o texto Aprender a ensinar arte. do qual não temos a chave, nos ensine a ver e nos propicie
enfim o pensamento como nenhuma obra analítica o pode fazer,
Faça a síntese do texto que pois que a análise se revela no objeto o que nele já está. [...]
terminou de ler. Nada veríamos se não tivéssemos, em nossos olhos, um meio
de surpreender, interrogar e formar configurações de espaço e
cor em número indefinido. Nada faríamos se não
dispuséssemos, junto ao corpo, de algo que, saltando por sobre
todas as vias musculares e nervosas, nos leva a um ponto.
Nessa perspectiva, uma aprendizagem em arte só é significativa
quando o objeto de conhecimento é a própria arte, levando o
aprendiz a saber manejar e conhecer a gramática específica de
cada linguagem que adquire corporalidade por meio de
diferentes recursos, técnicas e instrumentos que lhe são
peculiares.
(Extraído de: MARTINS, Maria Celeste. et.al. Didática do ensino de
arte: a língua do mundo; poetizar fruir e conhecer arte. São Paulo:
FTD, 1998. p.128-131.)

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 103


Temas transversais

A Educação tem como principal objetivo formar cidadãos críticos e


conscientes do seu papel na sociedade. Para que isso se concretize a
escola deve proporcionar o contato do educando com as diferentes áreas Inter-transdisciplinaridade e
do conhecimento e também instigá-lo a discutir e questionar os temas transversalidade
que permeiam sua realidade, porém, esses temas nem sempre integram Instituto Paulo Freire/Programa de Educação
O que você pensa disto? a extensa lista de conteúdos dos programas curriculares previstos. Continuada
Os Temas Transversais referem-se a valores e conhecimentos que Os temas transversais dos novos parâmetros
Os temas transversais devem ser
proporcionam o desenvolvimento das habilidades e competências curriculares incluem Ética, Meio ambiente,
trabalhados na Alfabetização?
Explique sua resposta. necessárias para a participação efetiva do homem na sociedade. Saúde, Pluralidade cultural e Orientação
sexual. Eles expressam conceitos e valores
Os Temas Transversais estabelecidos nos Parâmetros Curriculares são: fundamentais à democracia e à cidadania e
Ética, Pluralidade Cultural, Meio ambiente, Saúde, Orientação Sexual e correspondem a questões importantes e
Temas Locais. Por serem temas abrangentes não constituem uma urgentes para a sociedade brasileira de hoje,
disciplina à parte, mas perpassam todas elas. presentes sob várias formas na vida cotidiana.
São amplos o bastante para traduzir
Sua importância e necessidade devem-se às questões sociais que se preocupações de todo País, são questões em
colocam ao longo da vida do ser humano e exigem capacidades de saber debate na sociedade através dos quais, o
dissenso, o confronto de opiniões se coloca.
se posicionar diante de fatores que interferem na vida coletiva, exigindo
soluções emergenciais, a exemplo do surgimento de uma epidemia, de Através da Ética, o aluno deverá entender o
um desastre ambiental etc. conceito de justiça baseado na eqüidade e
sensibilizar-se pela necessidade de construção
A conscientização dos problemas e conflitos vividos pela sua comunidade de uma sociedade justa, adotar atitudes de
levam o homem a sentir a responsabilidade de fazer a sua parte, procurando solidariedade, cooperação e repúdio às
contribuir de alguma forma para a sua solução. injustiças sociais, discutindo a moral vigente
e tentando compreender os valores presentes
Uma educação fundada nos quatro pilares da educação propostos pela na sociedade atual e em que medida eles
UNESCO – aprender a aprender, aprender a ser, aprender a conhecer, devem ou podem ser mudados. Através do
aprender a conviver – trabalha valores pessoais e coletivos, abordando tema Meio-ambiente o aluno deverá
problemas que envolvem o globo, o país, o município, a comunidade. compreender as noções básicas sobre o tema,
perceber relações que condicionam a vida para
De acordo com os PCNs posicionar-se de forma crítica diante do
mundo, dominar métodos de manejo e
Por tratarem de questões sociais, os Temas Transversais têm natureza conservação ambiental.

104
diferente das áreas convencionais. Sua complexidade faz com que
A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares
nenhuma das áreas, isoladamente, seja suficiente para abordá-los. Ao
contrário, a problemática dos Temas Transversais atravessa os diferentes
campos do conhecimento. Por exemplo, a questão ambiental não é
compreensível apenas a partir das contribuições da Geografia. Necessita Continua ...
de conhecimentos históricos, das Ciências Naturais, da Sociologia, da A Saúde é um direito de todos. Por esse tema
Demografia, da Economia, entre outros. o aluno compreenderá que saúde é produzida
nas relações com o meio físico e social,
Nas várias áreas do currículo escolar existem, implícita ou explicitamente, identificando fatores de risco aos indivíduos
ensinamentos a respeito dos temas transversais, isto é, todas educam necessitando adotar hábitos de autocuidado.
em relação a questões sociais por meio de suas concepções e dos valores A Pluralidade cultural tratará da diversidade do
que veiculam. No mesmo exemplo, ainda que a programação desenvolvida patrimônio cultural brasileiro, reconhecendo a
não se refira diretamente à questão ambiental e a escola não tenha diversidade como um direito dos povos e dos
nenhum trabalho nesse sentido, Geografia, História e Ciências Naturais indivíduos e repudiando toda forma de
discriminação por raça, classe, crença religiosa
sempre veiculam alguma concepção de ambiente e, nesse sentido, efetivam e sexo. A orientação sexual, numa perspectiva
uma certa educação ambiental. (BRASIL. Secretaria de Ensino social, deverá ensinar o aluno a respeitar a
Fundamental. 1997. v.8. p.36.) diversidade de comportamento relativo à
sexualidade, desde que seja garantida a
Assim, podemos observar que a transversalidade propõe um trabalho integridade e a diginidade do ser humano,
interdisciplinar, já que os temas transversais não têm momentos rígidos conhecer seu corpo e expressar seus
para serem trabalhados e muitas vezes um tema envolve mais de uma sentimentos, respeitando os seus afetos e do
área do conhecimento para uma melhor compreensão. outro.

Sintetizando e Um tema transversal pode levar a um tema específico de determinada Educação & trabalho.
enriquecendo nossas área, assim como pode ocorrer o contrário, o importante é que cada tema Além desse temas podem ser desenvolvidos
informações. real surgido seja explorado. temas locais, que visam a tratar de
conhecimentos vinculados à realidade local. Eles
Há determinados temas que apresentam mais afinidade com uma área, devem ser recolhidos a partir do interesse
Faça uma síntese do texto, como é o caso de Orientação Sexual com a área Natureza e Sociedade, específico de determinada realidade, podendo
complementando-o com no entanto é preciso estar atento para explorar também aspectos ser definidos no âmbito do Estado, Cidade ou
informações relevantes do texto
relacionados às outras áreas. Escola. Uma vez feito esse reconhecimento,
que se encontra na janela e do seu deve-se dar o mesmo tratamento dos outros
repertório de conhecimentos. Veja, na janela, o texto Inter-transdiciplinaridade e transversalidade. temas transversais.
(Extraído de: (http://www.inclusao.com.br/
projeto_textos_48.htm. Acesso em 01.fev.2005.)

A prática da alfabetização de jovens e adultos Componentes curriculares 105

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