Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
EIXO E CONHECIMENTO
Unidade 1
Panorâmica da Evolução do Pensamento
Científico-Filosófico
Autor: Professor Paulo Tadeu da Silva
I. Introdução
XIV. Conclusão
XV. Referências
A
o interagirmos com o mundo e com nossos semelhantes, esbarramos freqüen-
temente com uma série de fatos a partir dos quais geramos um conjunto de in-
formações que nos possibilitam compreender, em algum nível, os mais diversos
eventos e relações com que nos confrontamos. Nossos primeiros anos de vida são mar-
cados pelo intenso contato com situações desconhecidas e nossa formação escolar nos
fornece os elementos fundamentais para a vida em sociedade, bem como para a interação
com o mundo natural.
Tais informações formam um arcabouço inicial que possibilita algo bastante co-
mum a todo ser humano: diante de situações já vividas, esperamos resultados ou efeitos
semelhantes àqueles que outrora observamos. Em muitos casos, tais situações servem
como ponto de apoio para que estejamos certos de que determinado evento ocorrerá, uma
vez que ele é resultado necessário de tal ou qual causa.
De fato, a criança, após algumas observações regulares, sabe perfeitamente que o
fogo queima. O adolescente está absolutamente convencido de que ao aquecer uma dada
quantidade de água ela ferverá. Tais previsões, tomadas como absolutamente verda-
deiras ou muito prováveis, são resultados de nosso conhecimento sobre o mundo. Mais
do que isso, elas são a conseqüência direta de nossa crença na relativa infalibilidade do
conhecimento científico.
Dificilmente estaríamos dispostos a desconfiar de um resultado laboratorial que
apontasse uma alteração nos níveis de colesterol em nosso organismo. Pelo contrário, caso
sejamos prudentes, isso nos levaria a adotar alguns procedimentos que viessem a regula-
rizar esses níveis. Para a maioria dos homens, a ciência é tomada como um sinônimo de
verdade ou, de modo mais incisivo ainda, ela insere-se no domínio próprio da certeza.
Certamente nos soaria de modo muito familiar a afirmação de que a física e a química, por
exemplo, são ciências exatas e, portanto, não comportam diversas interpretações possí-
veis, ao passo que as artes permitiriam uma série de interpretações diferentes e, em alguns
casos, incompatíveis.
www. Saiba mais sobre progresso descontínuo da ciência, visto por Bachelard
(1864-1962), filósofo e poeta francês em:
http://www.filosofiavirtual.pro.br/bachelard.htm
Em primeiro lugar, é preciso chamar a atenção para aquilo que, de acordo com
Platão e Aristóteles, leva o homem a filosofar: o espanto ou a admiração, isto é, o senti-
mento de perplexidade que temos diante dos fatos que nos rodeiam. Para Platão e
Aristóteles, a perplexidade nos move a buscar explicações sobre o mundo, procurando
e determinando as causas dos mais diversos fenômenos. Ora, encontramos aqui um
primeiro elemento de aproximação. Com efeito, podemos afirmar que, em certa medida,
é esse mesmo sentimento que leva o biólogo, por exemplo, a investigar o funcionamento
dos mais diversos organismos animais.
Entretanto, isso não é tudo. Ainda segundo Aristóteles, “saber é conhecer por meio
da demonstração”. Isso significa que não podemos tomar como conhecimento legítimo
aquilo que não se estabelece segundo um raciocínio rigoroso, fundamentado em premis-
sas verdadeiras a partir das quais chegamos a uma conclusão logicamente válida. Temos
aqui o segundo ponto que nos indica a confluência entre filosofia e ciência. De fato, nos
dois domínios encontramos uma exigência fundamental: a necessidade da demonstra-
ção. Não é à toa que até mesmo no plano mais comum da vida exigimos muitas vezes que
nossos interlocutores apresentem provas daquilo que afirmam.
A filosofia reserva ainda uma característica que nos conduz a um traço claramente
presente na ciência: o sentido investigativo e questionador. Tanto o cientista natural quanto
o filósofo não parecem estar dispostos a aceitar aquilo que se lhes apresenta sem qualquer
tipo de consideração ou de questionamento: perguntamo-nos por que tal ou qual evento
acontece desta ou daquela maneira. Como se vê, em ambos os casos, é possível detectar
pelo menos três traços comuns: a perplexidade, o questionamento e a explicação rigorosa.
Talvez, para a surpresa de um estudante leigo, a filosofia tem mais proximidade com
Saiba Mais
a ciência do que se poderia esperar. Mais do que isso, é preciso lembrar que a ciência é a
filha legítima da filosofia. Os primeiros filósofos são tradicionalmente denominados pelos O que atualmente
consideramos
historiadores do pensamento ocidental como “físicos” ou “fisiólogos”. Essa denominação ciências era
está relacionada com o fato de que tais pensadores, os pré-socráticos, estavam diretamente antes chamado,
preocupados em oferecer uma explicação sobre a natureza, denominada pelos gregos de de modo geral,
de “filosofia
physis. Não é muito difícil notar que a palavra fisiólogo tem uma de suas raízes no conceito da natureza”.
de physis. A outra raiz está relacionada com a palavra logos que significa algo como discur- Tais estudos
buscavam
so, razão, etc. Desse modo, o fisiólogo é o pensador que procura investigar o mundo natural fornecer uma
construindo um discurso ou explicação racional sobre o mesmo. explicação
O parentesco entre filosofia e ciência nos coloca agora diante da questão que nos sobre o mundo
que permitisse
importa considerar: indicar as leis
determinantes
de todos os
no contexto que desejamos, a filosofia deve ser tomada como uma área do conhe- eventos naturais,
cimento humano que procura analisar o conhecimento científico em seus mais incluindo o
diferentes aspectos. movimento dos
corpos celestes,
as reações
Levando em consideração tanto a história do pensamento ocidental quanto da ciên- dos elementos
químicos e a
cia que foi aí desenvolvida, não deveremos ficar surpresos frente ao fato de que diversos origem dos seres
personagens dessa história estiveram preocupados em analisar, fundamentar ou mesmo vivos.
problematizar o conhecimento científico. De certo modo, a própria história do pensamento
ocidental confunde-se em muitos momentos com a história do pensamento científico.
Antes de investigarmos alguns aspectos fundamentais desse diálogo, é preciso
lembrar que a discussão aqui proposta não pretende abarcar todas as particularidades
concernentes ao longo período no qual a ciência se desenvolveu. Certamente não deseja-
mos traçar aqui um panorama extremamente minucioso de tudo aquilo que compõe essa
história. Pelo contrário, seremos obrigados a eleger alguns poucos aspectos que, longe de
esgotar o assunto, devem ser tomados como elementos que visam estimular investigações
e estudos ulteriores.
Os fenômenos naturais são tratados por meio da linguagem matemática, o que pos-
sibilita mensurá-los. É essa linguagem que permitiu a Galileu, e a outros autores do
período, erigir leis matemáticas que traduzam as regularidades naturais.
Nesse contexto, os corpos e suas propriedades são tratados do ponto de vista mate-
Curiosidade
mático e geométrico, o que significa uma mudança de perspectiva com relação ao tratamento
aristotélico. A natureza não é investigada qualitativamente, como fazia Aristóteles, mas Em 1609, Galileu
aperfeiçoa o
quantitativamente. A nova metodologia proposta por Galileu está fortemente vinculada telescópio, o
a uma nova visão da natureza e da ciência. Essa mudança de conduta inaugura uma que lhe permite
uma série de
nova fase no pensamento científico e filosófico que não admitirá mais um retorno às
descobertas
antigas concepções, pelo contrário, ela funda o novo terreno sobre o qual o conhecimento (como as
científico será construído. manchas solares
e os satélites
de Júpiter), as
quais derrubam
a distinção
de corrigir os eventuais erros dos sentidos é preciso utilizar a razão. Somente ela é capaz
de nos levar ao conhecimento certo e seguro.
Saiba Mais Nas Meditações Metafísicas, Descartes mostra que ainda que abandonemos tudo aqui-
A celebre frase
lo que, hipoteticamente, pode ser questionado (o mundo sensível, aquilo que apreendemos
de Descartes pelos sentidos e até mesmo as verdades matemáticas – estas últimas, segundo Descartes,
“Cogito, ergo graças à estratégia de suposição de um gênio maligno que constantemente nos engana,
sum” (penso,
logo existo) nos fazendo acreditar que algo é verdadeiro quando na realidade é falso), uma verdade
viria a ser a base se mantém inabalável, a saber: penso, logo existo. De fato, embora eu possa pensar pro-
do racionalismo
moderno.
posições falsas, nenhum argumento poderia me convencer de que não estou pensando. O
conhecimento passa a fundamentar-se, portanto, em um pilar fundamental: o sujeito.
É justamente a partir desse primeiro elemento que Descartes, por meio de um longo
processo reflexivo, resgata todos os outros elementos anteriormente questionados. Até
mesmo a existência de Deus é estabelecida como algo inquestionável. Mais do que isso,
Deus comparece na filosofia cartesiana como garantia da verdade. De fato, ao classificar
as idéias em três categorias (inatas, fictícias e adventícias), o autor sustenta que apenas as
idéias inatas (isto é, aquelas colocadas em nós por Deus) são absolutamente verdadeiras,
sendo as fictícias sempre falsas e as adventícias (provenientes da experiência) falsas ou
verdadeiras, cabendo à razão verificar quais são verdadeiras e quais são falsas.
Locke e Hume, entre outros, são dois grandes representantes dessa corrente filosófica.
De acordo com Locke, o inatismo (tendência intimamente relacionada com o ra-
cionalismo) carece de fundamentação consistente. Nos Ensaios Acerca do Entendimento
Humano, Locke faz uma crítica bastante severa ao
inatismo, mostrando que não é possível sustentar
a existência nem de princípios nem de idéias ina-
tas. Para o autor, o conhecimento está inteiramen-
te fundamentado na experiência e todas as nossas
idéias materiais, fundamentais para a construção do
conhecimento, estão baseadas nos dois modos se-
gundo os quais a experiência se efetiva: a sensação
e a reflexão. O primeiro modo é responsável pelas
idéias relacionadas com nosso aparelho sensorial,
pelo qual apreendemos as qualidades e proprieda-
des dos objetos do mundo exterior. O segundo, por
sua vez, diz respeito à apreensão daquilo que ocor-
re em nós mesmos quando passamos a considerar o
material já existente em nosso intelecto.
Hume, de um modo bastante próximo de Lo-
cke, também entende que a experiência tem um papel
Situação 1 Situação 2
de uma explicação que possa dar conta de um evento singular, isto é, de algo que não se
repita com alguma freqüência. Uma teoria científica é muito mais do que isso, ela procura
fornecer uma explicação de um dado conjunto de fenômenos regulares. Mais do que isso,
uma teoria possui um caráter claramente universal. Com efeito, não afirmamos que uma
certa porção de água, quando aquecida sob condições específicas, entra em ebulição a
100ºC. Afirmamos, isso sim, que “toda” porção de água, sob aquelas condições específi-
cas, entra em ebulição naquela temperatura. Uma teoria científica corresponde assim a
uma explicação de cunho universal.
Não podemos verificar tais enunciados, entretanto, podemos tomá-los como enun-
ciados que podem ser falseados. Para tanto, basta que encontremos uma ocorrência
negativa daquilo que a proposição universal afirma. Em nosso caso, basta que en-
contremos um cisne que não seja branco.
O que está em questão na estratégia adotada por Popper possui uma forte relação
com a questão da verdade e da confiabilidade depositada em teorias científicas. Como
vimos inicialmente, muitas vezes a ciência é vista como um sinônimo de verdade e de
certeza. Entretanto, as coisas não funcionam exatamente dessa maneira. Se levarmos em
consideração a abordagem defendida por Popper, fica claro que a verdade não pode ser,
em sentido estrito, um valor que possa ser efetivamente alcançado.
É como se os testes tivessem o objetivo de mostrar que aquilo que afirmamos re-
almente funciona, é digno de crédito. O progresso científico, para falarmos de algo tão
comum ao campo da ciência, consiste precisamente no fortalecimento desses dois com-
ponentes. Diante disso, é possível afirmar que as teorias mais arrojadas e que resistem
melhor aos testes são as melhores produzidas até então e, portanto, as mais confiáveis.
real estrutura do mundo. Segundo Feyerabend, esse passo foi fundamental, uma vez que
colaborou fortemente para o nascimento de uma nova ciência.
Tudo isso pode parecer bastante estranho diante do que vimos anteriormente. De
fato, não parece razoável imaginar que a ciência deva ser tomada como uma investigação
na qual toda e qualquer conjectura possa ter lugar. Entretanto, é preciso compreender que
o autor tem em vista um valor que lhe parece fundamental, a liberdade. É precisamen-
te nesse sentido que ele entende a atividade científica: algo que deve ser empreendido
livremente, sem a necessidade de obediência cega a regras metodológicas previamente
estipuladas. É por meio desse princípio que a ciência deve progredir.
Evidentemente, existe um nível no qual podemos falar que certos objetos existem
como, por exemplo, corpos, nervos, músculos, moléculas e outras coisas do gênero. Não é
possível, nem mesmo para um instrumentalista mais ortodoxo, negar a realidade daquilo
que podemos observar. Entretanto, nem tudo que uma teoria pressupõe pode ser reduzi-
do àquilo que pode ser facilmente observado. Um dos traços comuns de qualquer teoria
consiste justamente na suposição de algumas entidades inobserváveis, por meio das quais
é possível prever certos eventos.
Para um realista não existe qualquer problema em supor que tanto as entidades
observáveis quanto as inobserváveis existem. De fato, o realista se compromete com tudo
isso. Aos seus olhos não é possível questionar, diante dos resultados obtidos, a realidade
dessas entidades, nem tampouco a verdade de uma teoria quando ela obtém sucesso. Para
um instrumentalista as coisas não são bem assim. Teorias científicas são encaradas como
instrumentos úteis para a compreensão do mundo, enquanto as entidades inobserváveis
são meras ficções, não possuem existência real.
Temos aqui um problema bastante interessante e que gerou, mesmo em períodos
mais recentes, discussão em torno do valor das teorias científicas. Não nos cabe aqui de-
cretar quais dessas posturas é, de fato, a mais adequada. Pelo contrário, o debate em torno
da verdade ou não das teorias científicas nos indica a complexidade da prática científica.
Voltando à imagem exposta no início do texto: é preciso questionar e refletir muito bem
acerca da identificação entre ciência e verdade. Mais do que isso, é preciso compreender,
nesse mesmo contexto, que a ciência é uma prática essencialmente humana e, justamente
por esse motivo, contém uma dimensão social que não pode ser suprimida. Nesse sentido,
as advertências de Kuhn e Feyerabend, por exemplo, nos parecem bastante pertinentes.
Nossas teorias são, acima de tudo, uma reconstrução do mundo. Desse modo, não há
como eliminar os componentes humanos que inevitavelmente entram em jogo quando
testamos teorias, realizamos um experimento em laboratório ou observamos algum fenô-
meno a olho nu ou com algum aparato técnico.
Saiba Mais
Como exemplo, podemos dizer que realismo científico é a visão de que o universo é expli-
cado da forma que realmente é pelas afirmações científicas. Realistas defendem que coi-
sas como elétrons e campos magnéticos realmente existem. Já para um instrumentalista,
elétrons e campos magnéticos podem ou não podem existir de fato. Para estes, o método
empírico é usado para fazer não mais do que mostrar que teorias são consistentes com
observações.
GALILEI, G. Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico & copernicano.
Trad. Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Discurso Editorial, 2001.
______.O Ensaiador. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os pensadores)
______.Ciência e fé: cartas de Galileu sobre a questão religiosa. São Paulo: Nova Stella
Editorial/Rio de Janeiro: MAST, 1988.
LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção
Os Pensadores).
BRODY, D. E. & BRODY, A. R. As sete maiores descobertas científicas da história. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001.
RIVAL, M. Os grandes experimentos científicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
SIMAAN, A.; FONTAINE, J. A imagem do mundo dos babilônicos a Newton. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003.
1) A proposta formulada por Thomas Kuhn é uma das alternativas sobre o desen-
volvimento da ciência, amplamente discutida durante a segunda metade do século XX.
Em algumas passagens de seu livro A Estrutura das revoluções científicas encontramos algu-
mas passagens bastante interessantes. Vejamos algumas delas:
Essas duas passagens nos colocam diante de um problema, relacionado com a idéia
de conhecimento por acumulação de descobertas e teorias. Diante disso, explique por que
os dois trechos não são contraditórios, isto é, por que é possível sustentar que durante a
ciência normal existe um processo cumulativo, ao passo que a transição de um paradigma
para outro não pode ser encarada da mesma maneira. Não se esqueça de que a solução
deste problema depende também da utilização dos conceitos de anomalia, crise e revolu-
ção científica. Certamente esses três elementos garantem a Kuhn afirmar aquilo que ele
diz nos dois trechos acima.
“Parece-me também perceber em Sarsi sólida crença que, para filosofar, seja
necessário apoiar-se nas opiniões de algum célebre autor, de tal forma que o
nosso raciocínio, quando não concordasse com as demonstrações de outro, ti-
vesse que permanecer estéril e infecundo. Talvez considere a filosofia como um
livro e fantasia de um homem, como a Ilíada e Orlando Furioso, livros em que
a coisa menos importante é a verdade daquilo que apresentam escrito. Sr. Sarsi,
a coisa não é assim. A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que con-
tinuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o universo), que não se pode
compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais
está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos,
circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível en-
tender humanamente as palavras; sem eles nós vagamos perdidos dentro de um
obscuro labirinto” (GALILEU, 1978, p. 119).