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DECISÃO
O caso é de agravo de instrumento aviado pela BRASKEM S/A, em face das decisões
dos Juízos Federais da 3ª e da 4ª Varas da Seção Judiciária de Alagoas: a primeira, que
indeferiu a conexão entre a ação de origem e a de nº 0803662-52.2019.4.05.8000, que
tramita na Justiça Estadual, a segunda, que afastou a competência da Justiça Federal
para processamento da demanda.
"O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição
de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do
julgamento da questão no recurso de apelação".
Pois bem.
Pelo que se depreende dos autos, foi formulado, perante a Justiça Estadual de Alagoas,
Pedido de Tutela Cautelar, em caráter antecedente à Ação Civil Pública, pelo Ministério
Público Estadual e pela Defensoria Pública do Estado de Alagoas, na qual se busca a
indisponibilidade de ativos financeiros da empresa agravante, da ordem de R$
6.709.440.000,00 (seis bilhões, setecentos e nove milhões e quatrocentos e quarenta
mil reais).
A referida ação vem se somar a outras demandas contra a BRASKEM S/A, objetivando
a sua responsabilidade por rachaduras, fissuras e outros danos, constatados nos
bairros do Pinheiro, Mutange e arredores, na cidade de Maceió. É que, segundo os
autores dessas demandas, os fenômenos geológicos têm origem na atividade
minerária desenvolvida pela empresa, exploradora de salgema na localidade, há quase
40 (quarenta) anos.
Em face dessa provocação e por força dos ditames da Súmula 150 do STJ, os autos
foram remetidos à 3ª Vara Federal de Alagoas, sendo, na ocasião, requerido o
processamento da ação de origem junto à Ação Civil Pública de nº 0803662-
52.2019.5.05.8000, ajuizada pelo Ministério Público Federal, em trâmite perante o
Juízo da 4ª Vara daquela Seção Judiciária, que trata, segundo a agravante, "dos
mesmos fatos analisados no presente feito, de mico que flagrante a conexão entre as
causas".
A primeira decisão, como dito alhures, não reconheceu a conexão, por entender que
as demandas têm pedidos distintos, o que contraria, no entender da agravante, a regra
do art. 55 do CPC, uma vez que "restou intocada a causa de pedir".
"[...]
Nesse contexto, inexistindo definição a respeito das causas e da extensão dos danos
ambientais e patrimoniais aferidos nos bairros de Pinheiro, Bebedouro e Mutange da
Cidade de Maceió/AL - que serão definidos por ocasião do julgamento da ação civil
pública nº 0803662-52.2019.4.05.8000 (em trâmite na 4ª Vara Federal da Seção
Judiciária de Alagoas) -, patente a relação de prejudicialidade para o julgamento do
processo nº 0803836-61.2019.4.05.8000 (originário do presente agravo de
instrumento).
[...]
Ora, não há como garantir que a BRASKEM S/A repare os danos patrimoniais sofridos
pelos proprietários dos imóveis (objeto do processo nº 080383661.2019.4.05.8000), se
a causa e a extensão dos danos estão sendo aferidas na demanda de nº 0803662-
52.2019.4.05.8000 (em trâmite na 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de Alagoas)".
Neste primeiro exame, após minuciosa análise do Parquet Regional, não há como não
antever a relação de prejudicialidade entre as demandas e, por consequência, o risco
de decisões conflitantes por juízos distintos.
Ora, a demanda que tramita na Justiça Estadual de Alagoas, que visa à reparação de
danos patrimoniais por nexo de causalidade com as atividades minerárias
desenvolvidas pela BRASKEM S/A, guarda relação de prejudicialidade com a ação que
tramita na Justiça Federal, que definirá as causas e a extensão dos danos ambientais e,
por consequência, a responsabilidade da empresa, aqui agravante.
Por isso, o legislador processual define a conexão não apenas pela identidade de
pedido - como parece ter sido o fundamento da negativa do juízo de origem -, mas
pela identidade da causa de pedir. No caso em tela, é patente essa identidade, que
gera a relação de prejudicialidade entre as ações.
Demais disso, é de competência da Justiça Federal o julgamento das demandas
relacionadas ao exercício da atividade mineradora, por serem os recursos ali
explorados bens da União, de acordo com os arts. 20, IX e 176, caput, da Carta Política.
É o que diz a regra peremptória inserta no art. 109, inciso I, da CF, no sentido de serem
da competência da Justiça Federal as causas de interesse da União, de suas autarquias
e de empresas públicas federais, nas condições de autoras, rés, assistentes ou
oponentes.
Aliás, em razão da atratividade do Juízo Federal advinda da regra do art. 109, I, CF, o
Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 150, segundo a qual caberá à Justiça
Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença no
processo da União, suas autarquias e empresas públicas federais, o que evitou, na
prática, o trâmite de processos - não raro, por anos -, no juízo incompetente.
Diante desse contexto, DEFIRO o pedido de tutela liminar, para determinar a imediata
suspensão dos efeitos das decisões agravadas e, por consequência, manter, na Justiça
Federal de Alagoas, a ação de origem (0803836-61.2019.4.05.8000), até o julgamento,
pelo Colegiado, deste instrumental.
Expedientes necessários.