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19641
Rodrigo Lentz
1. Introdução
A epígrafe acima poderia ser muito bem escrita por algum dos Clubes Militares do país,
marcadamente nostálgicos da última ditadura brasileira. Entretanto, trata-se de manifestação
proferida pelo movimento estudantil “DCE Livre”, base organizada da nova gestão 2013-2014 do
Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela foi eleita pela
maioria dos graduandos votantes de uma das cinco maiores universidades da América Latina, de
forma relativamente livre.2
O caso é um retrato de como os traumas coletivos vividos por uma ditadura atravessam gerações,
configuram o presente político e assombram o futuro democrático do país. Não somente por
emergir de um ramo social considerado baluarte da resistência ao autoritarismo, mas também por
ilustrar que uma geração pós-ditadura mantém viva a alucinação autoritária: fechar o Congresso
Nacional, impor a censura oficial, acabar com o habeas corpus, restituir a pena de morte abolida em
1891, proibir a liberdade de expressão e pensamento foram medidas para salvar a “democracia” do
“radicalismo de esquerda”. Isso explica porque após 50 anos do Golpe civil-militar de 1964 ainda
esteja obscuro para todos a data que ele ocorreu (31 de maio ou 1 de abril) e tão pouco quando a
1
Versão eletrônica daquela publicada no livro Entre a Memória e o Esquecimento, editado em 2014. Eis a referência:
LENTZ, RODRIGO. A justiça de transição do jeitinho brasileiro: panorama após 50 anos do golpe civil-militar de
1964. In: Carlos Artur Gallo; Silvania Rubert. (Org.). Entre a memória e o esquecimento: estudos sobre os 50 anos
do Golpe Civil-Militar no Brasil. 1ed. Porto Alegre: Deriva, 2014, v. 1, p. 261-284.
2 O grupo estudantil existe desde 2006, já ocupou o Diretório em outra gestão e nessa oportunidade alcançou 40% dos
votos dos estudantes. É ligado ao professor de filosofia Denis Lerrer Rosenfield, teórico liberal e defensor do “mal
necessário” da última ditadura. A posse da nova gestão foi prestigiada pelo presidente da Câmara de Porto Alegre,
Thiago Duarte, curiosamente do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Disponível em:
<http://liberdadeufrgs.blogspot.com.br/2013/12/solenidade-oficial-de-posse-do-dce.html>. Acesso em 13.12.2013.
ditadura terminou: em 1985, quando foi eleito um presidente de forma indireta e por um parlamento
ainda autoritário; em 1988, com a promulgação da atual constituição sob um governo descendente
do autoritarismo; ou em 1990, após a posse do primeiro presidente eleito pelo sufrágio universal de
votos.
Essa incerteza e disputas de sentidos manifestamente deram e seguem fazendo os contornos das
políticas adotadas pelo país sobre o passado de tortura, desaparecimentos, prisões, banimentos,
demissões, estupros, execuções e outras formas ainda desconhecidas do autoritarismo brasileiro.
Centenas de familiares e o país inteiro permanecem há décadas sem conhecer o paradeiro de seus
familiares, quem os desapareceu ou executou. Os torturados sobreviventes correm o risco de
dividirem a fila do pão com seus algozes sem qualquer cerimônia. Enquanto isso, as Forças de
Segurança do país e cúmplices civis mantêm sua “guerra total”, agora focalizada em negros, pobres
e movimentos sociais, os atuais inimigos objetivos. Nas manifestações de junho de 2013 até livros
marxistas foram apreendidos como prova de crimes.
É diante desse quadro político que o presente texto objetiva traçar um panorama da chamada
“justiça transicional” no país. Para tanto, faz-se uma breve revisão crítica dos conceitos desse
campo e posteriormente apresenta-se alguns resultados dos mecanismos adotados até o momento
pelo país para, finalmente, sugerir explicações seguidas de breves conclusões. Isso a partir do
pressuposto de que o passado político de graves violações afeta centralmente o presente do país e do
mundo.
Seguindo uma tradição da política externa dos E.UA, um dos membros permanentes do Conselho
de Segurança da ONU, o principal organismo de alcance internacional impulsionador do campo
justransicional é o International Center for Transitional Justice (ICTJ). Fundado em 2001 pela
Fundação Ford, essa associação civil em pouco menos de um ano estava espalhada por mais de 10
países da África, Ásia e América Latina. Reuniu entre seus fundadores importantes cientistas
políticos como Priscila Hayner, Paul Van Zyl, Juan Mendéz, Pablo de Greiff e o ex-político e ex-
presidente da Igreja Metodista da África do Sul, Alex Boraine.4 Essa estratégia já havia sido
experimentada pelo Woodrow Wilson Center,5 instituição estadunidense que carrega o nome de seu
ex-presidente (1913-1921) e ligada ao Instituto “Smithsonian”, administrado pelo governo dos
Estados Unidos.6 Foi essa instituição que reuniu Gulhermo O'donnell e Phlip Schmitter no projeto
“Transições do regime autoritário” em 1986, produzindo umas das obras referências sobre as
transições políticas do fim do século XX.
Ademais, umas das principais características das ditaduras latino americanas e africanas foi a
chamada “Doutrina de Segurança Nacional”, largamente influenciada pelos Estados Unidos e
França, dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Com ela foram sofisticados
os mecanismos de repressão política, formadas elites civis e militares, associados os conceitos de
segurança e desenvolvimento do capitalismo, estabelecido o inimigo objetivo na nova concepção de
“guerra total” (sem fronteiras físicas mas sim ideológicas) e a relativa consolidação do direito à
propriedade como “cláusula pétrea” a partir de mudanças estruturais dessas sociedades. (Comblin,
1980; Dreiffus, 1981; Moreira Alves, 2005).7
A pergunta é: o que levou os E.U.A a desenvolver políticas pelo mundo de responsabilização dos
“excessos” cometidos por seus antigos aliados, especialmente na América Latina? Uma hipótese
levantada por Iagê Molon e Julieta Mira está exatamente no interesse doméstico que “se dá conta
tanto da construção e do posicionamento da 'justiça transicional' a partir do impulso da Fundação
Ford, como de seu envolvimento com interesses autônomos com o impacto a nível nacional.” (2011,
3 Cabe destacar que os 5 países permanentes impostos à Assembleia Geral da ONU: EUA, Rússia, Alemanha, França
e China.
4 Disponível em: <http://ictj.org/ >. Acesso em 30.11.2013.
5 Sua atual presidente é Jane Margaret Lakes Harman, parlamentar do Partido Democrata até 2011. Disponível em:
<http://www.wilsoncenter.org/>. Acesso em 30.11.2013.
6 Disponível em: <http://www.si.edu/>. Acesso em 30.11.2013.
7 Para conferir os teóricos da geopolítica líderes desses regimes autoritários: Golbery do Couto e Silva (Geopolítica
do Brasil, 1967), José Alfredo Amaral Gurgel (Segurança e Democracia, 1975), responsáveis por adequações da
Doutrina à realidade brasileira. Mesmo papel desempenhado no lado argentino pelo General Osiris Guilhermo
Villegas (Políticas y Estrategias para el Desarollo y Seguridad Nacional, 1969).
p.16).
Além dessa incógnita política, outro nó da justiça de transição é sua vocação original de buscar a
“reconciliação nacional”, “promoção da paz” e do “perdão” em face dos graves “abusos” cometidos
no passado. Tais conceitos, presentes na resolução de 2004 do Conselho de Segurança da ONU, são
utilizados por um dos fundadores do ICTJ, Paul Van Zyl, para fundamentar esse programa de
transição política (2009, p.38-39). Porém, como recorda Alexandra Bahoma, esses termos estão
atrelados às experiências sul-africanas e chinelas de justiça de transição, na qual o papel de
instituições religiosas como a igreja católica foi fundamental. Por isso, é preciso cuidado para
perceber a advertência de Madmood Mandani de que a reconciliação política é muito diferente do
que a reconciliação social. Enquanto a primeira pode se dar por meio de acordos entre elites, a
segunda pode jamais ocorrer (2009, p. 71-79). Quando aplicados à países da América Latina como o
Brasil, acusam uma certa leitura histórica que a justiça transicional, em tese, busca desfazer: a
existência de dois grupos antagônicos em conflito (dois demônios) e não um estado terrorista, com
cumplicidade civil, perpetrador de graves violações aos direitos humanos.
Aliás, outra característica marcante da literatura desse campo reside na sua concepção de
democracia. Especialmente dos autores com atuação em países anglo-saxões (EUA e Reino Unido),
o modelo de democracia pretendido está restrito às “regras do jogo” da competição eleitoral,
condensando essa tradição liberal no modelo poliárquico de Robert Dahl. Isso acaba trazendo
importantes implicações para a Justiça de Transição, pois delimita seu “ponto de chegada”, isto é,
quando a justiça transicional estará consolidada.
Importante sublinhar que a própria dimensão ética do programa de transição e sua expressiva
atenção à dimensão da memória de resistência ao autoritarismo marcam uma tentativa de escapar do
confinamento institucional e macroeconômico para a construção efetiva de uma democracia.
Quando Félix Reátegui, no contexto das transições políticas, se refere que para a consolidação de
uma democracia “a meta de que o jogo democrático seja o único jogo possível exige uma
transformação de índole cultural” está assentando a “cultura como uma dimensão central na
constituição de todo regime político a longo prazo” (2010, p. 32-34). Por isso, com razão afirma
que:
3. Os mecanismos justransicionais
Em que pese uma inegável influência e estratégia internacional, a força motriz da justiça
transicional é outra. Ela está assentada na dor de milhares de familiares de mortos e desaparecidos,
no sangue e nas cicatrizes de outros milhares de resistentes políticos e no programa político de
organizações civis e partidos políticos nacionais. Basicamente, a grande diretriz desse programa é
sintetizada pelo grito de resistência do levante do Gueto de Varsóvia, em 1943, na Polônia ocupada
pelos nazistas, propagada inicialmente pelos movimentos de direitos humanos na Argentina pós-
última ditadura e eternizada pelo pronunciamento do fiscal Júlio Strassera no julgamento das Juntas
Militares em 1984: nunca más.
Para tanto a experiência política condensou alguns mecanismos que fossem capazes de atender as
reivindicações de justiça, tanto de vítimas como da resistência política sobrevivente. Ao mesmo
tempo, construir as condições institucionais e culturais que garantiriam ao máximo a não-repetição
do autoritarismo e suas violações. Nesse sentido, uma combinação da prática política e da literatura
especializada resulta em 5 tipos de iniciativas: 1) esclarecimento do passado de violências; 2)
responsabilização penal dos perpetradores; 3) reparação material e imaterial às vítimas, familiares
e resistência; 4) mudanças das instituições protagonistas das violações do passado; 5) exercício de
memória das violações. (MÉNDEZ, 1997; BICFORD, 2004; ICTJ, 2009; ZYL, 2009; CIURLIZZA,
2009).
O segundo eixo da justiça transicional é exatamente uma opção pelo terceiro modelo descrito por
Kathryn Sikkink de responsabilização por violações dos direitos humanos no passado: a
responsabilização penal individual dos repressores (2011, p. 40). Apesar de tornar em sinônimos
algo que corriqueiramente não é, a busca de justiça por meio do judiciário civil – com ampla defesa
e contraditório – e do castigo penal cumpre uma dupla função. No plano individual, em dar reposta
aos familiares de perseguidos políticos mortos e desaparecidos ou para os sobreviventes e, no plano
coletivo, “aumentar os custos” da repetição do terrorismo de estado, de métodos autoritários para
grupos e atores políticos no futuro e alimentar um cultura política de respeito aos direitos humanos.
Essa dimensão justransicional também manifesta outro fator importante que é a influência do
Sistema Internacional de Direitos Humanos. A própria origem da justiça transicional está justamente
marcada pela existência de responsabilização penal, passando por consideráveis mutações. Esta
estratégia de mudança de regime em situações de violentos conflitos sociais, como demonstra a
genealogia do campo organizada por Ruti Teitel, transitou da responsabilização do Estado em
abstrato à individual, de julgamentos domésticos à internacionalizados, de tribunais ad hoc
(Tribunal de Nuremberg) à tribunais permanentes (Tribunal Penal Internacional), dando contornos à
primeira (pós 2º guerra), à segunda (pós-guerra fria) e a atual fase, onde há uma (falsa) dicotomia
entre justiça e estabilidade do novo regime (2003, p. 70-72).
A prática da reparação civil é outra faceta da responsabilização, pois faz aquilo que foi negado às
vítima, à resistência e ao conjunto da sociedade – o reconhecimento da injustiça da perseguição – e
ao mesmo tempo promove alguma compensação pelos danos materiais. Ela pode ser vista de uma
forma ampla, incluindo o castigo aos violadores e garantias de não-repetição, ou de forma mais
restrita, destinada diretamente às vítimas do autoritarismo. Em ambas comporta medidas de
compensação, restituição, reabilitação, satisfação e garantias de não repetição (Greiff, 2010, p.44-
46). A chave desse conceito é sua dimensão coletiva, pois além de foca-se no indivíduo violado
aponta para reparações morais que incluem uma ressignificação do passado em lugares públicos,
como logradouros e serviços públicos, prestando homenagens à resistência política ao arbítrio.
Fins também perseguidos pelo eixo memória, que se assenta na consigna “lembrar para que não se
repita”. Contrariando uma separação do tempo operada pela tradição liberal que se corporifica no
mantra do esquecimento das violências fundadoras, a memória justransicional mantém passado-
presente-futuro conectados e sincretiza uma face normativa das novas democracias: nunca mais
tortura, nunca mais desaparecimentos, nunca mais execuções, nunca mais sequestros, nunca mais
autoritarismo. Na importante elaboração teórica de Paul Ricouer, a memória é o instrumento
humano de acesso ao passado (2007, p.40) e está intimamente ligada ao projeto ético de não
repetição, uma vez que o trauma individual (dor, sofrimento) e coletivo (estruturas autoritárias)
provocados pelas violações do passado causam uma espécie de enfermidade na memória. Caso esse
trauma não seja enfrentado com um teste de realidade (busca da verdade pelo reconhecimento) e a
reconciliação com a perda por meio do exercício de memória, o passado se repete como compulsão,
tanto individual (dor e sofrimento) como coletiva (permanência de estruturas autoritárias e
violações) (2007, p. 84-93).8
Por fim, há o eixo das “reformas” na justiça de transição. Seguindo a linha fundamental de criar
condições do “nunca mais”, esse eixo se lança na reformulação de instituições-chave na repressão e
sustentação política das últimas ditaduras visando extirpar o sistema repressivo e sua organização.
Na literatura especializada figuram as instituições de Segurança, notadamente as Forças Armadas,
Forças Auxiliares e serviços de informações e eventualmente o sistema judicial, para assegurar o
Estado de direito, como o foco dessas mudanças estruturais. Nesse sentido, Paul Van Zyl sustenta
que “é imperioso mudar radicalmente, e em alguns casos dissolver, as instituições responsáveis
pelas violações dos direitos humanos”, tendo as Comissão da Verdade um papel significativo nesse
processo com seu diagnóstico e recomendações (2009, p. 37-45).
8 Há outros importantes trabalhos tecendo os elos entre memória e violências fundadoras dos estados modernos, dos
quais Maurice Halbwachs em “A memória coletiva” (2006) e Rey Mates sobre memória e justiça em “La herencia
del olvido” (2008) , “memórias de Auschwitz” (2006) e “fundamentos de uma filosofia da memória” (2009).
do que o caso brasileiro.
Iniciada em 31 de março de 1964, a última ditadura brasileira reúne uma série de idiossincrasias em
relação ao continente: longo período de duração, relativa e controlada manutenção das instituições-
chave do modelo liberal de democracia (incluindo competição eleitoral, sistema judicial e
administração pública) e um degenerativo suporte civil do regime autoritário. Embora comum no
continente, a ditadura brasileira nos melhores termos de Guilhermo O'Donnell foi acentuadamente
“burocrático-autoritária” (1990, p.56-62), revivendo o ideal da modernização conservadora do
estado novo de Vargas (1937-1945) e marcadamente com os dogmas católicos ao lado fazendo o
sinal da cruz.
Como destaca Carlos Arturi, de 1974 a 1985 a ditadura passou por um processo lento e gradual de
dissolução (2001, p.16). E uma dessas etapas foi justamente enfrentar o problema que alimentou “os
maiores temores de regressão brutal” no processo de transição de regime (O'donnell & Schmitter,
1988, p.54): a responsabilização dos violadores de direitos humanos durante a repressão à oposição
ao autoritarismo.
Mais de 30 anos se passaram e o Supremo Tribunal Federal (suprema corte do país), em 2010,
respondendo à Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 153) arguida pela Ordem
de Advogados do Brasil, declarou a constitucionalidade do artigo 1º da Lei de Anistia editada em
1979. Em questão estava a validade de anistia à crimes de lesa-humanidade. Entre verdadeiros
malabarismo jurídicos de interpretação de uma Lei ordinária cunhada durante uma ditadura e o
texto Constitucional de 1988, foi juridicamente asfaltada a versão de um “pacto político” existente à
época que desautorizaria a intervenção da Suprema Corte. O Ministro Marco Aurélio de Mello
selou o fundamento normativo da decisão: “diante do mal que se avizinhava, a ditadura foi um mal
necessário”.
Com precisão, José Carlos Moreira da Silva Filho identifica na decisão do STF “o que é certamente
um dos maiores óbices da cultura jurídica brasileira rumo a uma verdadeira democracia: a
continuidade do simulacro de legalidade” (2010). Isso se explica pelo nível de colaboração dos
atores judiciais com o regime autoritário e a consequente repressão. Como assevera Anthony Pereira
em sua pesquisa comparada, na Argentina o nível de consenso e integração entre as elites judiciárias
e militares foi baixo, em contraposição ao alto nível de cooperação judicial no autoritarismo
brasileiro (2010, p.41-46). Isso se reflete especialmente no posicionamento das Cortes Supremas
dos países em relação às Leis impunidade: a brasileira admite, a argentina não.
O nítido bloqueio jurídico está aos poucos sendo perfurado. No último dia forense de 2013 foi
ajuizada Ministério Público Federal (MPF) a sétima ação penal contra um militar reformado
acusado de ocultação dos cadáveres de Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck Machado, militantes
da organização guerrilheira MOLIPO. Considerando que a mesma instituição arquivou o mesmo
caso em 1986 e o à época Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, se posicionou pela
constitucionalidade do artigo 1º da Lei de Anistia, as investidas persecutórias representam uma
mudança institucional relevante e apontam resultados da criação do Grupo de Trabalho “Justiça de
Transição” na instituição em 2011 (Soares, 2013; MPF, 2013, p. 11).
O início oficial da busca pela Verdade e a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos
Após 31 anos do golpe civil-militar de 1964 e a persistente pressão de familiares e militantes dos
direitos humanos, foi editada a Lei 9.140/95, criando a Comissão de Mortos e Desaparecidos
Políticos (CMDP). É nesse momento em que as iniciativas de busca pela verdade da repressão com
respaldo estatal foi institucionalmente encampada pelo Estado brasileiro. Formada por familiares,
representantes do Estado e das Forças Armadas, a CMDP realizou diversas investigações e
publicou, mais de 10 anos depois, um relatório reconhecendo a denúncia de 396 casos de
desaparecimentos e execuções, ocorridas de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988 que,
somadas aos 135 casos reconhecidos na ocasião da Lei,9 perfazem um número de 531 pessoas
mortos e desaparecidas. (CMDP, 2008, p. 17).
n
te:Fo
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Outras profissões
Advogado
Camponês
Operário
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Estudante
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7
0
2
Bancário
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Jornalista
Professor
Religiosos
não identificado
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%
9 Originalmente a Lei reconheceu 136, mas um nome foi retirado posteriormente por erro de fato.
Na análise do perfil desses resistentes outros dados são visíveis: ao menos 9% eram negros, 11%
mulheres e 72% eram militantes de organizações políticas, sendo 8% aqueles dirigentes. Em termos
territoriais, é possível identificar os principais estados onde esses dois métodos de terrorismo de
100
80
68
60
40
27 26
20
20
11 12
8
6 5
4 3 4
1 1
0
Dentre os dois métodos de terrorismo de estado investigados pela Comissão, o mais utilizado foi a
execução, com 59% dos casos, figurando os outros 41% de desaparecimento. Aliás, casos que
permanecem sem esclarecimentos. A dor dos familiares pela perda de seus entes segue alimentada
pela tempestade dos dias e o resultado da Comissão, apesar do público esforço, não atravessou o
tortuoso pacto de silêncio das Forças Armadas, seus agentes de segurança e cúmplices civis.
Além disso, uma série de restrições legais aos casos de camponeses levaram a Gilney Vianna a
classificar esse grupo como “excluídos da justiça de transição”. Dos 1.196 casos levantados pelo
autor de mortos e desparecidos na repressão no campo, apenas 51 foram levados à CMDP. Os
outros 1.196 perderam o prazo e sequer passaram por apreciação. Destes, segundo o pesquisador,
602 casos de mortos e desaparecidos apontam significativas provas. Com 78% dos casos
envolvendo agentes privados, esse grupo divide-se em 77% de lideranças “de lutas coletivas”, 12%
de sindicalistas, 2% de Advogados e 1% de religiosos. (Brasil, 2013, p.13-14)
A Comissão de Anistia e o aprofundamento da busca pela verdade, justiça e memória no eixo
da reparação
É prudente ponderar que os dados sobre requerimentos de anistia não refletem necessariamente um
retrato da perseguição política ocorrida na última ditadura. Primeiro, porque muitos perseguidos
abdicam do pedido por variadas razões. Segundo, porque se referem apenas ao ânimo do
requerente, não necessariamente retratando uma perseguição política. Além de casos excepcionais
em que a alegada perseguição possa estar contaminada pela tentativa de vantagens financeiras, há
também a possibilidade dos requerimentos de anistia servirem de instrumento para a disputa
política. O jornalista Élio Gaspari, por exemplo, defende que a Comissão de Anistia concede uma
“bolsa ditadura” (28/06/2009, Folha de São Paulo). Por outro lado, a decisão de reconhecimento da
condição de anistiado político requer o cumprimento dos requisitos legais que, em muitos casos,
não é possível realizar. Um caso típico é dos camponeses.
Apesar disso, a riqueza sobre o período concentrada na Comissão de Anistia é robusta: atualmente
conta com mais de 72 mil requerimentos, isto é, aproximadamente mais de 70 mil pessoas ao menos
formalizaram um sentimento de perseguição política durante o período de 1946 a 1988. Para cada
caso analisado os(as) Conselheiros(as) da Comissão elaboram um dossiê com documentos oficiais
requisitados aos órgãos do estado ou entregues pelos requerentes e reúnem depoimentos e
testemunhos a partir da história oral. Dessa maneira, esse mecanismo acaba reunindo o maior
acervo de memória política do país sobre o período com uma rara peculiaridade: seu banco
historiográfico parte da narrativa dos perseguidos políticos.
É claro que esse mecanismo recebe muitas críticas, de próprios perseguidos políticos até declarados
militantes da última ditadura. Não sendo objeto desse artigo analisar os critérios de análise dos
pedidos e sua equidade, objetiva-se aqui apresentar dados parciais desse acervo aberto à consulta
pública e em fase de organização de seus dados para pesquisa histórica. Nesse intuito, um dos
primeiros dados preliminares de relevância que podem ser extraídos são aqueles referentes a
naturalidade dos requerentes de anistia.10
ESTADO Nº PROCESSOS %
Acre 89 0,1
Alagoas 1.084 1,5
Amazonas 282 0,4
Amapá 29 0
Bahia 3.867 5,4
Ceará 2.270 3,1
Distrito Federal 1.920 2,7
Espírito Santo 495 0,7
Goiás 1.906 2,6
Maranhão 988 1,4
Minas Gerais 6.394 8,9
Mato Grosso do Sul 1.107 1,5
Mato Grosso 250 0,3
Pará 2.025 2,8
Paraíba 1.770 2,5
Pernambuco 5.157 7,1
Piauí 955 1,3
Paraná 4.422 6,1
Rio de Janeiro 10.559 14,6
Rio Grande do Norte 2.404 3,3
Rondônia 172 0,2
Roraima 254 0,4
Rio Grande do Sul 2.580 3,6
Santa Catarina 2.455 3,4
Sergipe 616 0,9
São Paulo 7.518 10,4
Tocantins 497 0,7
Outros países 3 0
Não identificados 10.149 14,1
Totais 72.217 100
Fonte: Acervo da Comissão de Anistia
10 Cabe destacar que esses dados não são exatos, ocorrendo casos em que o estado indexado ao requerimento pode ser
da residência e não da naturalidade do requerente. Em outros casos o requerente não se trata do perseguido, podendo
ser um familiar. Porém, essa incidência é muito pequena não prejudicando o resultado final.
aparece em terceiro, com 8,9%. Outros dados chamam atenção, como a equivalência de
requerimentos de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com 3,6% e 3,4% respectivamente, atingindo
o Paraná 6,1%, quase o dobro de requerimentos dos outros estados da região Sul. Aliás, uma mirada
por regiões também floresce outros achados.
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
A região nordeste tem o dobro de requerimentos da região sul, aparecendo com 26,5%. Nessa
região, Pernambuco, com 7,1%, é o estado que possui o maior número de requerimentos, seguido de
perto por 5,4% da Bahia. Esse grande número de requerimentos na Região Nordeste pode ser
explicado pelo retrato da repressão no campo feito por Ana Carneiro e Marta Cioccari, segundo o
qual “uma revolução 'à brasileira' começaria em Pernambuco” (2011, p.40). Por outro lado,
confirmando tendência do relatório da CMDP, a região sudeste é a que mais aparece com
requerimentos de anistia, com mais de um terço dos requerimentos.
Nesse sentido, do total de requerimentos de anistia até o ano de 2013 cerca de 47% estão
classificados por decisão. Desse montante, 53% foram deferidos e 47% foram indeferidos. Isso
demonstra um significativo contraste entre a percepção de perseguição política da pessoa requerente
e o reconhecimento dessa perseguição pela Comissão, seja por conta de fatores ligados a
dificuldade probatória nos marcos da legislação ou mesmo por não verificação efetiva da
perseguição. Não obstante a parcialidade dos dados, é possível verificar preliminarmente que o
estado brasileiro reconheceu 18.182 casos de perseguição política ocorridas de 1946 à 1988. Desse
universo cerca de 38% dos casos estão classificados por atividade do perseguido nessa época,
conforme critérios de classificação da comissão.
distribuição de anistia por atividade do
perseguido
3508
2.307
Outra correlação positiva com os dados da CMDP é incidência de grande número de trabalhadores
urbanos perseguidos políticos, com 51% dos casos.11 O montante de 34% de perseguidos das
Forças Armadas e Auxiliares também chama atenção, demonstrando um considerável fenômeno de
resistência política dentro das Forças de Segurança do estado. Em contrapartida, 7% dos casos são
de estudantes, verificando-se quase 5 vezes menor em relação às Forças de Segurança. Casos
específicos aparecem ligados ao Plano Nacional de Alfabetização (PNA)12 e de representantes
políticos registram 3% cada.
Esse grande número parcial de anistias políticas – mais de 18 mil – foi acompanhado por uma
mudança significativa no sentido de anistia. Criada inicialmente como perdão do estado, foi
transformada em um pedido de desculpas do mesmo aos anistiando a partir de 2007. Especialmente
através do instrumento das Caravanas da Anistia, casos emblemáticos são realizados em sessões
públicas, itinerantes, com mobilização social, onde as anistias concedidas são acompanhadas pela
co-memoração pública e atividades educativas e culturais (Abrão, et al, 2010, p.4). Muito além de
compensações financeiras, um número ainda incontável de processos apenas reconhecem a
condição de anistiado político ou com isso restituem direitos, como direitos previdenciários,
recondução em carreiras e em universidades. A Comissão também recomenda retificações de
atestados de óbitos quando esses apontam a versão repressiva desfeita pelas investigações ou
silenciam sobre a causa da morte, como no caso da anistia pós-morte de Honestino Guimarães, ex-
presidente da União Nacional de Estudantes (UNE), recomendando que conste “atos violentos
11 Nessa categoria estão incluídos profissionais liberais, servidores púbicos e trabalhadores da iniciativa privada.
12 Cuidava-se de uma política pública de alfabetização criada pelo governo Jango em 1963, inspirada no método Paulo
Freire”. Em 1961, quase 40% da população brasileira era considerada analfabeta. Logo após o golpe civil militar de
1964, o plano foi extinto e Paulo Freire preso. Ver mais em: Faria, Nathália Rodrigues. O governo João Goulart e os
Movimentos de Educação e Cultura Popular: conscientização e independência política internacional. Anais do XV
XV encontro regional de história da ANPUH-RIO.
praticados pelo Estado”.13
Somente após 47 anos do golpe civil-militar de 1964 foi que o Brasil criou a sua Comissão
Nacional da Verdade. Instituída mediante Lei do Congresso Nacional enviada pela Presidente Dilma
Rousseff, integrante da resistência armada à ditadura, a Comissão foi criada em 2011, possui 7
integrantes e mandato de dois anos (até maio de 2014). Após um ano de trabalho, o órgão publicou
um relatório parcial para tornar público seus procedimentos e foi alvo de constantes críticas de
familiares de mortos e desaparecidos, sobreviventes e defensores de direitos humanos por seu
caráter fechado15. Além disso, a Comissão está envolta de fortes embates internos, sendo que dois
integrantes renunciaram ao mandato, e enfrenta uma ampla resistência das Forças Armadas para
colaboração de informações.16
0 5 10 15 20
Atualmente é prematuro reunir dados quantitativos sobre essas atividades de cada Comissão, mas
certamente suas atividades de forma centralizada estão provocando um novo cenário no tema ainda
pendente de diagnóstico.
No Brasil, dentre as iniciativas oficiais de construção da memória podem ser conferidas o projeto
“direito à memória e à verdade” da Secretaria Nacional de Direitos Humanos com exposições
Por outro lado, as chamadas “reformas institucionais” no Brasil enfrentam o veto das “forças
ocultas” que tanto se pronunciou Jânio Quadros. Com a ausência de responsabilização individual e
institucional pela ditadura, muito perto do nada se modificou. Embora reconhecendo mudanças
institucionais inauguradas com a Constituição de 1988, é visível a advertência de Jorge Zaverucha
de que a subordinação dos militares aos civis é parcial, onde vigoraria um pretorianismo moderado
ao invés da “neutralidade” das Forças Armadas. E esse quadro conta com o apoio dos civis (da
direita) ligados ao Executivo, Legislativo e Judiciário em face do cálculo do risco da revolução
social com a consolidação da democracia (2005, p. 253-255).
Além dessa instituição do estado diretamente ligada às violações da ditadura, outras do campo
social permanecem inalteradas. Em abril de 2009, a Suprema Corte brasileira (Supremo Tribunal
Federal - STF) julgou inconstitucional a Lei nº 5.250/67. Esta instituía regulações à liberdade de
manifestação do pensamento e de informação incompatíveis com os preceitos fundamentais da
Constituição Federal aprovada em 1988, especialmente quanto à plena liberdade de imprensa por
essa assegurada formalmente. No entanto, a estrutura de comunicação criada durante a ditadura
permaneceu intacta: grandes monopólios de comunicação restringem a liberdade de expressão e
E um dos mais recentes sintomas dessa continuidade autoritária nas instituições com relevantes
funções pública foram os protestos de junho de 2013 no Brasil. Enquanto as polícias militares
suspendiam direitos individuais nos estados dos manifestantes e praticavam diversas violações aos
direitos humanos, a imprensa buscava criminalizar a população que saía às ruas protestar. Alvo das
manifestações, a imprensa criticou os “excessos” da repressão quando esses atingiam seus
funcionários.21
Uma importante lição da experiência justransicional está na sua casuística. Embora seja
reconhecido um esforço da literatura em traçar padrões que atravessem os diferentes países, o caso
brasileiro é um daqueles que supera qualquer generalização do campo. Primeiro, constituiu sua
Comissão Nacional da Verdade após 21 anos da posse do primeiro presidente eleito pelo sufrágio
universal, Fernando Collor de Melo, em 1990. Segundo, é o único país da América Latina que
mantém viva uma Lei de Anistia que garante a impunidade de seus agentes repressivos, por mais de
30 anos.
O fator mais comum na literatura especializada para explicar essa peculiaridade brasileira é o tipo
de sua transição. Em verdade, o processo de transição brasileira pelo fato de que o regime
autoritário exerceu “controle firme e extraordinariamente duradouro” sob o processo de abertura
política (O'Donnell, Schmitter, 1988, p.79) e os resultados atingidos coincidiram com as regras do
metafórico “jogo de xadrez” da transição “bem sucedida”: é proibido capturar ou colocar em xeque
o Rei de um dos jogadores (propriedade privada), circunscrever ou estreitar os movimentos da
Rainha transicional (Forças Armadas) ou violar indivíduos específicos (ex-presidentes ou ex-
comandantes militares) (1988, p.122-113).
Nada disso seria possível sem uma efetiva base cultural, social e econômica autoritária e
conservadora. Desde a Revolução Russa de 1917, no Brasil já se cultivava o anticomunismo, sendo
que ele encontrou seu ápice justamente nos períodos marcadamente autoritários (Estado Novo e
última ditadura) mas esteve presente dentro da “normalidade” democrática com a proscrição do
Partido Comunista Brasileiro – PCB desde 1947.
Além disso, há uma verdadeira tradição de intervenção militar no processo político brasileiro. A
20 A respeito da concentração dos meios de comunicação, ver o projeto “os donos da mídia”, com dados disponível em:
<http://donosdamidia.com.br/grupos >. Acesso em 15.11.2013.
21 Em artigo escrito com Carlos Eduardo Torcato, analiso os efeitos da justiça de transição inacabada nos protestos de
junho. Disponível em: <http://www.brasildefato.com.br/node/17797>. Acesso em 15.11.2013.
própria fundação da República deu-se por intervenção dos militares, com Floriano Peixoto e
Deodoro da Fonseca em 1889. Embora por duas ocasiões as Forças Armadas triunfaram nas
instituições políticas para assegurar a normalidade constitucional - 1945 (Eurico Gaspar Dutra) e
1955 (Juscelino Kubitschek) o padrão interventivo também foi de quebrá-la: 1930 e 1937 nas
ditaduras de Getúlio Vargas, 1961 para impedir a posse de João Goulart e em 1964 pra sua
derrubada (Rouquié, p. 326-327; Comblin, p.152). Talvez por isso as Forças Armadas permanecem
como uma instituição com importante poder de veto. Assim como a grande imprensa, outra aliada
da tradição de ruptura institucional para resolver crises de hegemonia.
Porém, não é o que os dados demonstram. Somando os casos de violações aos direitos humanos
reconhecidos pelo Estado Brasileiro até o momento, a violência da última ditadura brasileira atingiu
diretamente 18.657 pessoas. Caso o padrão de deferimento da Comissão de Anistia se confirme ,ao
final da classificação de seus requerimentos o número poderá ultrapassar os 40 mil perseguidos
políticos. E, conforme recentes revelações como o “relatório figueiredo” relatando a execução de
mais de mil indígenas, após as conclusões das Comissões da Verdade do país uma realidade muito
mais violenta, sistemática e abrangente parece emergir.
Para além da frieza tacanha da comparação dos números, é madura a conclusão que no Brasil
existiu uma engenhosa estrutura repressiva que atuou de forma massiva e focalizada. Nesse ponto,
outra conclusão importante que os dados permitem é desfazer o mito de que a resistência política
era basicamente formada por estudantes. Emergem da história sufocada do período milhares de
trabalhadores e militares que enfrentaram a ditadura civil-militar.
Por fim, é possível concluir três fases da justiça transicional brasileira. A primeira foi marcada pela
abertura do debate público acerca da necessidade de enfrentamento do passado autoritário do país.
Ela foi inaugurada pela Lei de Anistia em 1979 e concluída com a publicação do relatório da
Comissão de Mortos e Desparecidos políticos em 2007. A segunda fase foi de hegemonização entre
a elite política brasileira da necessidade de enfrentar as violações do passado. Ela foi marcada por
uma mudança de política da Comissão de Anistia e do governo brasileiro com a ressignificação do
sentido de anistia política e do avanço limitado à governabilidade dos mecanismos justransicionais.
Esse processo se finaliza com a instalação da Comissão Nacional da Verdade em 2011 e a
proliferação de Comissões da Verdade pelo país. A terceira fase é o momento atual, onde os
postulados de verdade, justiça, memória e mudanças estruturais se direcionam para sua aplicação
prática.
Com os resultados da Comissão Nacional da Verdade e uma nova investida jurídica para
reinterpretação da Lei de Anistia por um renovado STF indicam um novo cenário da justiça
transicional brasileira. As formas, intensidade e o tempo que esses mecanismos irão se implementar
permanecem uma incógnita. Porém, as manifestações de junho e a longa estrada percorrida até aqui
apontam que o ritmo dessas mudanças serão ditados pelo grau de intensidade dos movimentos
sociais.
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