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A justiça de transição do jeitinho brasileiro: panorama após 50 anos do golpe civil militar de

19641

Rodrigo Lentz

1. Introdução

"Na data de hoje comemora-se os 45 anos do Ato Institucional nº 5, importante


instrumento no combate aos militantes de extrema-esquerda que vinham realizando
sequestros, assaltos a banco, assassinatos e outras ações terroristas contra a
população civil. A medida veio para proteger os cidadãos de bem e impedir que
indivíduos radicais continuassem lhes causando mal. Foi um basta para o
fanatismo. Assim, após tomar posse no Conselho de Entidades de Base (CEB)
realizado ontem, dia 12 de dezembro, a Gestão 2013-2014 do Diretório Central
dos Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DCE/UFRGS),
que derrotou a esquerda radical na Universidade, organizada por partidos nanicos
de extrema-esquerda, em especial o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e o
PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados), realizará uma
solenidade oficial de posse em data tão simbólica para o sepultamento do
radicalismo de esquerda.".

A epígrafe acima poderia ser muito bem escrita por algum dos Clubes Militares do país,
marcadamente nostálgicos da última ditadura brasileira. Entretanto, trata-se de manifestação
proferida pelo movimento estudantil “DCE Livre”, base organizada da nova gestão 2013-2014 do
Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela foi eleita pela
maioria dos graduandos votantes de uma das cinco maiores universidades da América Latina, de
forma relativamente livre.2

O caso é um retrato de como os traumas coletivos vividos por uma ditadura atravessam gerações,
configuram o presente político e assombram o futuro democrático do país. Não somente por
emergir de um ramo social considerado baluarte da resistência ao autoritarismo, mas também por
ilustrar que uma geração pós-ditadura mantém viva a alucinação autoritária: fechar o Congresso
Nacional, impor a censura oficial, acabar com o habeas corpus, restituir a pena de morte abolida em
1891, proibir a liberdade de expressão e pensamento foram medidas para salvar a “democracia” do
“radicalismo de esquerda”. Isso explica porque após 50 anos do Golpe civil-militar de 1964 ainda
esteja obscuro para todos a data que ele ocorreu (31 de maio ou 1 de abril) e tão pouco quando a

1
Versão eletrônica daquela publicada no livro Entre a Memória e o Esquecimento, editado em 2014. Eis a referência:
LENTZ, RODRIGO. A justiça de transição do jeitinho brasileiro: panorama após 50 anos do golpe civil-militar de
1964. In: Carlos Artur Gallo; Silvania Rubert. (Org.). Entre a memória e o esquecimento: estudos sobre os 50 anos
do Golpe Civil-Militar no Brasil. 1ed. Porto Alegre: Deriva, 2014, v. 1, p. 261-284.
2 O grupo estudantil existe desde 2006, já ocupou o Diretório em outra gestão e nessa oportunidade alcançou 40% dos
votos dos estudantes. É ligado ao professor de filosofia Denis Lerrer Rosenfield, teórico liberal e defensor do “mal
necessário” da última ditadura. A posse da nova gestão foi prestigiada pelo presidente da Câmara de Porto Alegre,
Thiago Duarte, curiosamente do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Disponível em:
<http://liberdadeufrgs.blogspot.com.br/2013/12/solenidade-oficial-de-posse-do-dce.html>. Acesso em 13.12.2013.
ditadura terminou: em 1985, quando foi eleito um presidente de forma indireta e por um parlamento
ainda autoritário; em 1988, com a promulgação da atual constituição sob um governo descendente
do autoritarismo; ou em 1990, após a posse do primeiro presidente eleito pelo sufrágio universal de
votos.

Essa incerteza e disputas de sentidos manifestamente deram e seguem fazendo os contornos das
políticas adotadas pelo país sobre o passado de tortura, desaparecimentos, prisões, banimentos,
demissões, estupros, execuções e outras formas ainda desconhecidas do autoritarismo brasileiro.
Centenas de familiares e o país inteiro permanecem há décadas sem conhecer o paradeiro de seus
familiares, quem os desapareceu ou executou. Os torturados sobreviventes correm o risco de
dividirem a fila do pão com seus algozes sem qualquer cerimônia. Enquanto isso, as Forças de
Segurança do país e cúmplices civis mantêm sua “guerra total”, agora focalizada em negros, pobres
e movimentos sociais, os atuais inimigos objetivos. Nas manifestações de junho de 2013 até livros
marxistas foram apreendidos como prova de crimes.

É diante desse quadro político que o presente texto objetiva traçar um panorama da chamada
“justiça transicional” no país. Para tanto, faz-se uma breve revisão crítica dos conceitos desse
campo e posteriormente apresenta-se alguns resultados dos mecanismos adotados até o momento
pelo país para, finalmente, sugerir explicações seguidas de breves conclusões. Isso a partir do
pressuposto de que o passado político de graves violações afeta centralmente o presente do país e do
mundo.

2. Buscando desatar os nós da teoria justransicional

Em agosto de 2004 o secretário-geral do Conselho de Segurança das Nações Unidas lançou um


documento chamado “o estado de direito e a justiça de transição em sociedades em conflito ou pós-
conflito”. Nele o órgão estabelece como noção de justiça de transição:

o conjunto de processos e mecanismo associados às tentativas da sociedade em


chegar a um acordo quanto ao grande legado abusos cometidos no passado, a fim
de assegurar que os responsáveis prestem contas de seus atos, que seja feita a
justiça e se conquiste a reconciliação. Tais mecanismos podem ser judiciais e
extrajudiciais, com diferentes níveis de envolvimento internacional (ou nenhum),
bem como abarcar o juízo de processos individuais, reparações, busca da verdade,
reforma institucional, investigação de antecedentes, a destituição de um cargo ou a
combinação de todos esses procedimentos. (ONU, 2004, p.4)

A gramática do conflito internacional se acostumou com a retórica democrática do autoritarismo,


mas é inicialmente confuso ver um órgão das Nações Unidas muito contestado justamente por não
conter e principalmente ser conivente com conflitos, quebra do Estado Direito e graves violações
dos direitos humanos tecer parâmetros e estratégias de enfrentamento ético sobre o legado de
violações do passado.3 Porém, basta conhecer um pouco da gênese do campo da justiça transicional
para enfraquecer aparentes esquizofrenias.

Seguindo uma tradição da política externa dos E.UA, um dos membros permanentes do Conselho
de Segurança da ONU, o principal organismo de alcance internacional impulsionador do campo
justransicional é o International Center for Transitional Justice (ICTJ). Fundado em 2001 pela
Fundação Ford, essa associação civil em pouco menos de um ano estava espalhada por mais de 10
países da África, Ásia e América Latina. Reuniu entre seus fundadores importantes cientistas
políticos como Priscila Hayner, Paul Van Zyl, Juan Mendéz, Pablo de Greiff e o ex-político e ex-
presidente da Igreja Metodista da África do Sul, Alex Boraine.4 Essa estratégia já havia sido
experimentada pelo Woodrow Wilson Center,5 instituição estadunidense que carrega o nome de seu
ex-presidente (1913-1921) e ligada ao Instituto “Smithsonian”, administrado pelo governo dos
Estados Unidos.6 Foi essa instituição que reuniu Gulhermo O'donnell e Phlip Schmitter no projeto
“Transições do regime autoritário” em 1986, produzindo umas das obras referências sobre as
transições políticas do fim do século XX.

Ademais, umas das principais características das ditaduras latino americanas e africanas foi a
chamada “Doutrina de Segurança Nacional”, largamente influenciada pelos Estados Unidos e
França, dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Com ela foram sofisticados
os mecanismos de repressão política, formadas elites civis e militares, associados os conceitos de
segurança e desenvolvimento do capitalismo, estabelecido o inimigo objetivo na nova concepção de
“guerra total” (sem fronteiras físicas mas sim ideológicas) e a relativa consolidação do direito à
propriedade como “cláusula pétrea” a partir de mudanças estruturais dessas sociedades. (Comblin,
1980; Dreiffus, 1981; Moreira Alves, 2005).7

A pergunta é: o que levou os E.U.A a desenvolver políticas pelo mundo de responsabilização dos
“excessos” cometidos por seus antigos aliados, especialmente na América Latina? Uma hipótese
levantada por Iagê Molon e Julieta Mira está exatamente no interesse doméstico que “se dá conta
tanto da construção e do posicionamento da 'justiça transicional' a partir do impulso da Fundação
Ford, como de seu envolvimento com interesses autônomos com o impacto a nível nacional.” (2011,

3 Cabe destacar que os 5 países permanentes impostos à Assembleia Geral da ONU: EUA, Rússia, Alemanha, França
e China.
4 Disponível em: <http://ictj.org/ >. Acesso em 30.11.2013.
5 Sua atual presidente é Jane Margaret Lakes Harman, parlamentar do Partido Democrata até 2011. Disponível em:
<http://www.wilsoncenter.org/>. Acesso em 30.11.2013.
6 Disponível em: <http://www.si.edu/>. Acesso em 30.11.2013.
7 Para conferir os teóricos da geopolítica líderes desses regimes autoritários: Golbery do Couto e Silva (Geopolítica
do Brasil, 1967), José Alfredo Amaral Gurgel (Segurança e Democracia, 1975), responsáveis por adequações da
Doutrina à realidade brasileira. Mesmo papel desempenhado no lado argentino pelo General Osiris Guilhermo
Villegas (Políticas y Estrategias para el Desarollo y Seguridad Nacional, 1969).
p.16).

Além dessa incógnita política, outro nó da justiça de transição é sua vocação original de buscar a
“reconciliação nacional”, “promoção da paz” e do “perdão” em face dos graves “abusos” cometidos
no passado. Tais conceitos, presentes na resolução de 2004 do Conselho de Segurança da ONU, são
utilizados por um dos fundadores do ICTJ, Paul Van Zyl, para fundamentar esse programa de
transição política (2009, p.38-39). Porém, como recorda Alexandra Bahoma, esses termos estão
atrelados às experiências sul-africanas e chinelas de justiça de transição, na qual o papel de
instituições religiosas como a igreja católica foi fundamental. Por isso, é preciso cuidado para
perceber a advertência de Madmood Mandani de que a reconciliação política é muito diferente do
que a reconciliação social. Enquanto a primeira pode se dar por meio de acordos entre elites, a
segunda pode jamais ocorrer (2009, p. 71-79). Quando aplicados à países da América Latina como o
Brasil, acusam uma certa leitura histórica que a justiça transicional, em tese, busca desfazer: a
existência de dois grupos antagônicos em conflito (dois demônios) e não um estado terrorista, com
cumplicidade civil, perpetrador de graves violações aos direitos humanos.

Aliás, outra característica marcante da literatura desse campo reside na sua concepção de
democracia. Especialmente dos autores com atuação em países anglo-saxões (EUA e Reino Unido),
o modelo de democracia pretendido está restrito às “regras do jogo” da competição eleitoral,
condensando essa tradição liberal no modelo poliárquico de Robert Dahl. Isso acaba trazendo
importantes implicações para a Justiça de Transição, pois delimita seu “ponto de chegada”, isto é,
quando a justiça transicional estará consolidada.

Importante sublinhar que a própria dimensão ética do programa de transição e sua expressiva
atenção à dimensão da memória de resistência ao autoritarismo marcam uma tentativa de escapar do
confinamento institucional e macroeconômico para a construção efetiva de uma democracia.
Quando Félix Reátegui, no contexto das transições políticas, se refere que para a consolidação de
uma democracia “a meta de que o jogo democrático seja o único jogo possível exige uma
transformação de índole cultural” está assentando a “cultura como uma dimensão central na
constituição de todo regime político a longo prazo” (2010, p. 32-34). Por isso, com razão afirma
que:

essa relação consiste, em seus termos mais estritos, na possibilidade de modificar


e de transformar as representações simbólicas mais gerais sobre a base das quais
se organiza o regime político – o regime de poder – numa sociedade. Isso se refere
igualmente à relação entre as instâncias de poder formal e institucional – o
Estado, a quem compete controlá-lo e quem o administra e conduz
transitoriamente – e a população civil em conjunto, bem como à relação entre os
membros da população entre si. (2010, p.34)
Em outras palavras, há uma importante consideração da variável cultural no programa
justransicional, ainda que ela esteja sobreposta pela busca de “confiança nas instituições e do
governo” (ONU, 2004, p.2). É um pedaço da teoria da congruência entre valores dos cidadãos e as
instituições formais do regime político, defendida por Ronald Inglehart e Christian Welzel (2007,
p.298).

3. Os mecanismos justransicionais

Em que pese uma inegável influência e estratégia internacional, a força motriz da justiça
transicional é outra. Ela está assentada na dor de milhares de familiares de mortos e desaparecidos,
no sangue e nas cicatrizes de outros milhares de resistentes políticos e no programa político de
organizações civis e partidos políticos nacionais. Basicamente, a grande diretriz desse programa é
sintetizada pelo grito de resistência do levante do Gueto de Varsóvia, em 1943, na Polônia ocupada
pelos nazistas, propagada inicialmente pelos movimentos de direitos humanos na Argentina pós-
última ditadura e eternizada pelo pronunciamento do fiscal Júlio Strassera no julgamento das Juntas
Militares em 1984: nunca más.

Para tanto a experiência política condensou alguns mecanismos que fossem capazes de atender as
reivindicações de justiça, tanto de vítimas como da resistência política sobrevivente. Ao mesmo
tempo, construir as condições institucionais e culturais que garantiriam ao máximo a não-repetição
do autoritarismo e suas violações. Nesse sentido, uma combinação da prática política e da literatura
especializada resulta em 5 tipos de iniciativas: 1) esclarecimento do passado de violências; 2)
responsabilização penal dos perpetradores; 3) reparação material e imaterial às vítimas, familiares
e resistência; 4) mudanças das instituições protagonistas das violações do passado; 5) exercício de
memória das violações. (MÉNDEZ, 1997; BICFORD, 2004; ICTJ, 2009; ZYL, 2009; CIURLIZZA,
2009).

Para o esclarecimento do passado de violências o principal mecanismo utilizado é a chamada


Comissão da Verdade. Investigando dezenas de casos no mundo, Priscila Hayner concluiu que essas
comissões se centram no passado, investigam um padrão de abusos cometidos ao longo de um
período, duram de seis meses à dois anos, produzem um relatório final, são organismos temporais e
possuem “o aval, a autorização e o poder oficial que lhes concede o estado” (2008, p. 41).

O segundo eixo da justiça transicional é exatamente uma opção pelo terceiro modelo descrito por
Kathryn Sikkink de responsabilização por violações dos direitos humanos no passado: a
responsabilização penal individual dos repressores (2011, p. 40). Apesar de tornar em sinônimos
algo que corriqueiramente não é, a busca de justiça por meio do judiciário civil – com ampla defesa
e contraditório – e do castigo penal cumpre uma dupla função. No plano individual, em dar reposta
aos familiares de perseguidos políticos mortos e desaparecidos ou para os sobreviventes e, no plano
coletivo, “aumentar os custos” da repetição do terrorismo de estado, de métodos autoritários para
grupos e atores políticos no futuro e alimentar um cultura política de respeito aos direitos humanos.

Essa dimensão justransicional também manifesta outro fator importante que é a influência do
Sistema Internacional de Direitos Humanos. A própria origem da justiça transicional está justamente
marcada pela existência de responsabilização penal, passando por consideráveis mutações. Esta
estratégia de mudança de regime em situações de violentos conflitos sociais, como demonstra a
genealogia do campo organizada por Ruti Teitel, transitou da responsabilização do Estado em
abstrato à individual, de julgamentos domésticos à internacionalizados, de tribunais ad hoc
(Tribunal de Nuremberg) à tribunais permanentes (Tribunal Penal Internacional), dando contornos à
primeira (pós 2º guerra), à segunda (pós-guerra fria) e a atual fase, onde há uma (falsa) dicotomia
entre justiça e estabilidade do novo regime (2003, p. 70-72).

Não obstante, a busca de responsabilização penal enfrentou o instrumento da “Anistia política” em


sua formatação clássica: autoanistia, isto é, o próprio regime repressor editando leis que concedem
aos autores da repressão imunidade penal e estende a determinados ou a totalidade de opositores a
mesma imunidade. Contudo, como frisam Sikkink e Walling, dos 19 países da América Latina que
passaram por transições das últimas ditaduras, 16 utilizaram leis de anistia. Porém, 15 desses 16
países também realizaram julgamentos. (2008, p.435)

A prática da reparação civil é outra faceta da responsabilização, pois faz aquilo que foi negado às
vítima, à resistência e ao conjunto da sociedade – o reconhecimento da injustiça da perseguição – e
ao mesmo tempo promove alguma compensação pelos danos materiais. Ela pode ser vista de uma
forma ampla, incluindo o castigo aos violadores e garantias de não-repetição, ou de forma mais
restrita, destinada diretamente às vítimas do autoritarismo. Em ambas comporta medidas de
compensação, restituição, reabilitação, satisfação e garantias de não repetição (Greiff, 2010, p.44-
46). A chave desse conceito é sua dimensão coletiva, pois além de foca-se no indivíduo violado
aponta para reparações morais que incluem uma ressignificação do passado em lugares públicos,
como logradouros e serviços públicos, prestando homenagens à resistência política ao arbítrio.

Fins também perseguidos pelo eixo memória, que se assenta na consigna “lembrar para que não se
repita”. Contrariando uma separação do tempo operada pela tradição liberal que se corporifica no
mantra do esquecimento das violências fundadoras, a memória justransicional mantém passado-
presente-futuro conectados e sincretiza uma face normativa das novas democracias: nunca mais
tortura, nunca mais desaparecimentos, nunca mais execuções, nunca mais sequestros, nunca mais
autoritarismo. Na importante elaboração teórica de Paul Ricouer, a memória é o instrumento
humano de acesso ao passado (2007, p.40) e está intimamente ligada ao projeto ético de não
repetição, uma vez que o trauma individual (dor, sofrimento) e coletivo (estruturas autoritárias)
provocados pelas violações do passado causam uma espécie de enfermidade na memória. Caso esse
trauma não seja enfrentado com um teste de realidade (busca da verdade pelo reconhecimento) e a
reconciliação com a perda por meio do exercício de memória, o passado se repete como compulsão,
tanto individual (dor e sofrimento) como coletiva (permanência de estruturas autoritárias e
violações) (2007, p. 84-93).8

As chamadas “políticas de memória” envolvem diversas iniciativas, tais como abertura e


preservação de arquivos da repressão, construção de “lugares de memória” como monumentos,
ressignificação de espaços públicos, especialmente logradouros, e outras políticas que mantenham a
“memória viva” do autoritarismo a partir do ponto de vista de suas vítimas e resistentes. Nos termos
de Fernando Catroga, as políticas de memória possuem o condão de “religar o indivíduo-cidadão à
sociedade política” para “reinventar a história”. (2010, p.77-81)

Por fim, há o eixo das “reformas” na justiça de transição. Seguindo a linha fundamental de criar
condições do “nunca mais”, esse eixo se lança na reformulação de instituições-chave na repressão e
sustentação política das últimas ditaduras visando extirpar o sistema repressivo e sua organização.
Na literatura especializada figuram as instituições de Segurança, notadamente as Forças Armadas,
Forças Auxiliares e serviços de informações e eventualmente o sistema judicial, para assegurar o
Estado de direito, como o foco dessas mudanças estruturais. Nesse sentido, Paul Van Zyl sustenta
que “é imperioso mudar radicalmente, e em alguns casos dissolver, as instituições responsáveis
pelas violações dos direitos humanos”, tendo as Comissão da Verdade um papel significativo nesse
processo com seu diagnóstico e recomendações (2009, p. 37-45).

Além de apontar determinados mecanismos, a experiência justransicional seguida de sua teoria


deixa claro a interdependência desses mecanismos para eficácia de seus postulados. A ordem desses
instrumentos certamente irá variar conforme diversos fatores domésticos que atravessam todas as
dimensões estruturais de uma sociedade. E não há nada mais exemplificativo para esse argumento

8 Há outros importantes trabalhos tecendo os elos entre memória e violências fundadoras dos estados modernos, dos
quais Maurice Halbwachs em “A memória coletiva” (2006) e Rey Mates sobre memória e justiça em “La herencia
del olvido” (2008) , “memórias de Auschwitz” (2006) e “fundamentos de uma filosofia da memória” (2009).
do que o caso brasileiro.

4. O jeitinho justransicional brasileiro

Iniciada em 31 de março de 1964, a última ditadura brasileira reúne uma série de idiossincrasias em
relação ao continente: longo período de duração, relativa e controlada manutenção das instituições-
chave do modelo liberal de democracia (incluindo competição eleitoral, sistema judicial e
administração pública) e um degenerativo suporte civil do regime autoritário. Embora comum no
continente, a ditadura brasileira nos melhores termos de Guilhermo O'Donnell foi acentuadamente
“burocrático-autoritária” (1990, p.56-62), revivendo o ideal da modernização conservadora do
estado novo de Vargas (1937-1945) e marcadamente com os dogmas católicos ao lado fazendo o
sinal da cruz.

Como destaca Carlos Arturi, de 1974 a 1985 a ditadura passou por um processo lento e gradual de
dissolução (2001, p.16). E uma dessas etapas foi justamente enfrentar o problema que alimentou “os
maiores temores de regressão brutal” no processo de transição de regime (O'donnell & Schmitter,
1988, p.54): a responsabilização dos violadores de direitos humanos durante a repressão à oposição
ao autoritarismo.

Lei de Anistia e a “busca por justiça”

O mecanismo da responsabilização penal dos autores de terrorismo de estado no Brasil seguramente


é o mais incipiente. Um dos itens negociados com a oposição “moderada” à época foi a edição de
uma Lei de Anistia que garantisse a imunidade penal dos repressores. Porém, a anistia “ampla, geral
e irrestrita” também foi uma forte bandeira dentro da última ditadura. Com um grande
protagonismo feminino, a mobilização social em torno da temática iniciou-se em 1975 com a
criação do Movimento Feminino pela Anistia (MFPA) e culminou com a aprovação da restrita Lei
de Anistia em 1979 (Del Porto, 2009, p.47-52). E uma dessas restrições foi exatamente o “perdão
aos torturadores” (Fico, 2011, p.318-333).

Mais de 30 anos se passaram e o Supremo Tribunal Federal (suprema corte do país), em 2010,
respondendo à Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 153) arguida pela Ordem
de Advogados do Brasil, declarou a constitucionalidade do artigo 1º da Lei de Anistia editada em
1979. Em questão estava a validade de anistia à crimes de lesa-humanidade. Entre verdadeiros
malabarismo jurídicos de interpretação de uma Lei ordinária cunhada durante uma ditadura e o
texto Constitucional de 1988, foi juridicamente asfaltada a versão de um “pacto político” existente à
época que desautorizaria a intervenção da Suprema Corte. O Ministro Marco Aurélio de Mello
selou o fundamento normativo da decisão: “diante do mal que se avizinhava, a ditadura foi um mal
necessário”.

Com precisão, José Carlos Moreira da Silva Filho identifica na decisão do STF “o que é certamente
um dos maiores óbices da cultura jurídica brasileira rumo a uma verdadeira democracia: a
continuidade do simulacro de legalidade” (2010). Isso se explica pelo nível de colaboração dos
atores judiciais com o regime autoritário e a consequente repressão. Como assevera Anthony Pereira
em sua pesquisa comparada, na Argentina o nível de consenso e integração entre as elites judiciárias
e militares foi baixo, em contraposição ao alto nível de cooperação judicial no autoritarismo
brasileiro (2010, p.41-46). Isso se reflete especialmente no posicionamento das Cortes Supremas
dos países em relação às Leis impunidade: a brasileira admite, a argentina não.

Essa continuidade do simulacro da legalidade também é impermeável ao Direito Internacional dos


Direitos Humanos. Revela, mais do que isso, o que Deisy Ventura definiu como “provincianismo
jurídico” da Suprema Corte brasileira (2011, 223-226). Em 1988, após julgar o caso de Velásquez
Rodríguez movido contra o Estado de Honduras, a Corte Interamericana (CIDH) fincou
entendimento que o Estado membro da Organização dos Estados Americanos (OEA) deve tornar
clara as circunstâncias, a autoria e responsabilizar penalmente os indivíduos que sequestraram,
torturaram e “desapareceram” o estudante hondurenho, sendo inválida qualquer legislação que
conceda imunidade penal ou obste investigações e julgamentos. Esse precedente, que se renovou
em diversos outros casos, abriu caminho para dezenas de ações judiciais na Argentina e em outros
países (Guembe, 2005, p.127-133). Contudo, no Brasil, a “condenação” do país pela Corte
Internacional no caso Gomes Lund, em 2010, para que esclareça as circunstâncias, autoria e
processe individualmente os acusados pela execução dos guerrilheiros do Araguaia não logrou
efeito político no Judiciário. Entretanto, exerceu pressão política e legitimidade para instituição da
Comissão Nacional da Verdade.

O nítido bloqueio jurídico está aos poucos sendo perfurado. No último dia forense de 2013 foi
ajuizada Ministério Público Federal (MPF) a sétima ação penal contra um militar reformado
acusado de ocultação dos cadáveres de Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck Machado, militantes
da organização guerrilheira MOLIPO. Considerando que a mesma instituição arquivou o mesmo
caso em 1986 e o à época Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, se posicionou pela
constitucionalidade do artigo 1º da Lei de Anistia, as investidas persecutórias representam uma
mudança institucional relevante e apontam resultados da criação do Grupo de Trabalho “Justiça de
Transição” na instituição em 2011 (Soares, 2013; MPF, 2013, p. 11).
O início oficial da busca pela Verdade e a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos

Após 31 anos do golpe civil-militar de 1964 e a persistente pressão de familiares e militantes dos
direitos humanos, foi editada a Lei 9.140/95, criando a Comissão de Mortos e Desaparecidos
Políticos (CMDP). É nesse momento em que as iniciativas de busca pela verdade da repressão com
respaldo estatal foi institucionalmente encampada pelo Estado brasileiro. Formada por familiares,
representantes do Estado e das Forças Armadas, a CMDP realizou diversas investigações e
publicou, mais de 10 anos depois, um relatório reconhecendo a denúncia de 396 casos de
desaparecimentos e execuções, ocorridas de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988 que,
somadas aos 135 casos reconhecidos na ocasião da Lei,9 perfazem um número de 531 pessoas
mortos e desaparecidas. (CMDP, 2008, p. 17).

Além de promover o reconhecimento do terrorismo de estado brasileiro e uma reparação mínima ao


familiares, os trabalhos da Comissão contribuíram para a reconstituição de uma história política
negada pelo estado e pela sociedade. A partir da contextualização de cada caso levado à Comissão,
um verdadeiro inventário preliminar do perfil da resistência política foi possível.
- Quadro 01 – Atividade das pessoas executadas e/ou desaparecidas -

n
te:Fo
rid
laó
R
Outras profissões
Advogado
Camponês
Operário
Militar
Estudante
P
D
M
C
7
0
2

Bancário
Engenheiro
Jornalista
Professor
Religiosos
não identificado
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

Fonte: Relatório CMDP 2007


Um dos primeiro mitos criados em torno da resistência política executada e/ou desaparecida foi que
ela era basicamente estudantil. Apenas 29% eram estudantes e 57% era formada por
trabalhadores(as). Destes, 12% eram operários, 4% bancários, 9% camponeses, 5% professores e
19% de diversas outras profissões. Outros dados chamam atenção, como apenas 3% de jornalistas e
2% de advogados, demonstrando que o alvo do método de desaparecimento e execução passava
longe da imprensa e da advocacia.

9 Originalmente a Lei reconheceu 136, mas um nome foi retirado posteriormente por erro de fato.
Na análise do perfil desses resistentes outros dados são visíveis: ao menos 9% eram negros, 11%
mulheres e 72% eram militantes de organizações políticas, sendo 8% aqueles dirigentes. Em termos
territoriais, é possível identificar os principais estados onde esses dois métodos de terrorismo de

Local da Morte ou Desaparecimento


120
111
109

100

80

68

60

40

27 26
20
20
11 12
8
6 5
4 3 4
1 1
0

Fonte: Relatório CMDP 2007

estados foram efetuados:

O grande número de militantes perseguidos até a morte ou desaparecimento no estado do Pará


reflete claramente o massacre da Guerrilha do Araguaia. Porém, nota-se que o estado do Rio de
Janeiro foi o local onde mais se desapareceu e executou no país, com 111 casos, seguido de perto
por São Paulo, com 109 casos. Os outros estados com maior número de casos são Pernambuco,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia, com 27, 20, 12 e 11 casos respectivamente.

Dentre os dois métodos de terrorismo de estado investigados pela Comissão, o mais utilizado foi a
execução, com 59% dos casos, figurando os outros 41% de desaparecimento. Aliás, casos que
permanecem sem esclarecimentos. A dor dos familiares pela perda de seus entes segue alimentada
pela tempestade dos dias e o resultado da Comissão, apesar do público esforço, não atravessou o
tortuoso pacto de silêncio das Forças Armadas, seus agentes de segurança e cúmplices civis.

Além disso, uma série de restrições legais aos casos de camponeses levaram a Gilney Vianna a
classificar esse grupo como “excluídos da justiça de transição”. Dos 1.196 casos levantados pelo
autor de mortos e desparecidos na repressão no campo, apenas 51 foram levados à CMDP. Os
outros 1.196 perderam o prazo e sequer passaram por apreciação. Destes, segundo o pesquisador,
602 casos de mortos e desaparecidos apontam significativas provas. Com 78% dos casos
envolvendo agentes privados, esse grupo divide-se em 77% de lideranças “de lutas coletivas”, 12%
de sindicalistas, 2% de Advogados e 1% de religiosos. (Brasil, 2013, p.13-14)
A Comissão de Anistia e o aprofundamento da busca pela verdade, justiça e memória no eixo
da reparação

Devida a ampla obstrução política tanto de instalação da Comissão da Verdade como em


responsabilizar penalmente, a saída para a demanda política por justiça transicional no Brasil foi
canalizada para a reparação. É por isso que Paulo Abrão e Marcelo Torelly sustentam ser a
dimensão reparatória o eixo estruturante da justiça transicional brasileira. Iniciada dentro da
ditadura com a Lei de Anistia em 1979, o mecanismo reparatório instituiu-se com a edição da
ADCT8ª na nova constituição democrática em 1988, se aplicou de forma restrita com a Comissão
de Mortos e Desaparecidos Políticos em 1995 e se generalizou com a Comissão de Anistia a partir
de 2001 (2011, p. 475-489).

É prudente ponderar que os dados sobre requerimentos de anistia não refletem necessariamente um
retrato da perseguição política ocorrida na última ditadura. Primeiro, porque muitos perseguidos
abdicam do pedido por variadas razões. Segundo, porque se referem apenas ao ânimo do
requerente, não necessariamente retratando uma perseguição política. Além de casos excepcionais
em que a alegada perseguição possa estar contaminada pela tentativa de vantagens financeiras, há
também a possibilidade dos requerimentos de anistia servirem de instrumento para a disputa
política. O jornalista Élio Gaspari, por exemplo, defende que a Comissão de Anistia concede uma
“bolsa ditadura” (28/06/2009, Folha de São Paulo). Por outro lado, a decisão de reconhecimento da
condição de anistiado político requer o cumprimento dos requisitos legais que, em muitos casos,
não é possível realizar. Um caso típico é dos camponeses.

Apesar disso, a riqueza sobre o período concentrada na Comissão de Anistia é robusta: atualmente
conta com mais de 72 mil requerimentos, isto é, aproximadamente mais de 70 mil pessoas ao menos
formalizaram um sentimento de perseguição política durante o período de 1946 a 1988. Para cada
caso analisado os(as) Conselheiros(as) da Comissão elaboram um dossiê com documentos oficiais
requisitados aos órgãos do estado ou entregues pelos requerentes e reúnem depoimentos e
testemunhos a partir da história oral. Dessa maneira, esse mecanismo acaba reunindo o maior
acervo de memória política do país sobre o período com uma rara peculiaridade: seu banco
historiográfico parte da narrativa dos perseguidos políticos.

É claro que esse mecanismo recebe muitas críticas, de próprios perseguidos políticos até declarados
militantes da última ditadura. Não sendo objeto desse artigo analisar os critérios de análise dos
pedidos e sua equidade, objetiva-se aqui apresentar dados parciais desse acervo aberto à consulta
pública e em fase de organização de seus dados para pesquisa histórica. Nesse intuito, um dos
primeiros dados preliminares de relevância que podem ser extraídos são aqueles referentes a
naturalidade dos requerentes de anistia.10

Quadro 03 – estado do requerente de anistia

ESTADO Nº PROCESSOS %
Acre 89 0,1
Alagoas 1.084 1,5
Amazonas 282 0,4
Amapá 29 0
Bahia 3.867 5,4
Ceará 2.270 3,1
Distrito Federal 1.920 2,7
Espírito Santo 495 0,7
Goiás 1.906 2,6
Maranhão 988 1,4
Minas Gerais 6.394 8,9
Mato Grosso do Sul 1.107 1,5
Mato Grosso 250 0,3
Pará 2.025 2,8
Paraíba 1.770 2,5
Pernambuco 5.157 7,1
Piauí 955 1,3
Paraná 4.422 6,1
Rio de Janeiro 10.559 14,6
Rio Grande do Norte 2.404 3,3
Rondônia 172 0,2
Roraima 254 0,4
Rio Grande do Sul 2.580 3,6
Santa Catarina 2.455 3,4
Sergipe 616 0,9
São Paulo 7.518 10,4
Tocantins 497 0,7
Outros países 3 0
Não identificados 10.149 14,1
Totais 72.217 100
Fonte: Acervo da Comissão de Anistia

Note-se que acompanhando uma tendência demonstrada no relatório de Mortos de Desaparecidos, o


estado do Rio de Janeiro figura com 14,6% dos requerimentos, sendo o que mais requereu anistia
política no Brasil. Igualmente, São Paulo é o segundo com 10,4% dos requerimentos e Minas Gerais

10 Cabe destacar que esses dados não são exatos, ocorrendo casos em que o estado indexado ao requerimento pode ser
da residência e não da naturalidade do requerente. Em outros casos o requerente não se trata do perseguido, podendo
ser um familiar. Porém, essa incidência é muito pequena não prejudicando o resultado final.
aparece em terceiro, com 8,9%. Outros dados chamam atenção, como a equivalência de
requerimentos de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com 3,6% e 3,4% respectivamente, atingindo
o Paraná 6,1%, quase o dobro de requerimentos dos outros estados da região Sul. Aliás, uma mirada
por regiões também floresce outros achados.

Quadro 04 – distribuição de processos de anistia por região

25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0

Fonte: Acervo Comissão de Anistia

A região nordeste tem o dobro de requerimentos da região sul, aparecendo com 26,5%. Nessa
região, Pernambuco, com 7,1%, é o estado que possui o maior número de requerimentos, seguido de
perto por 5,4% da Bahia. Esse grande número de requerimentos na Região Nordeste pode ser
explicado pelo retrato da repressão no campo feito por Ana Carneiro e Marta Cioccari, segundo o
qual “uma revolução 'à brasileira' começaria em Pernambuco” (2011, p.40). Por outro lado,
confirmando tendência do relatório da CMDP, a região sudeste é a que mais aparece com
requerimentos de anistia, com mais de um terço dos requerimentos.

Nesse sentido, do total de requerimentos de anistia até o ano de 2013 cerca de 47% estão
classificados por decisão. Desse montante, 53% foram deferidos e 47% foram indeferidos. Isso
demonstra um significativo contraste entre a percepção de perseguição política da pessoa requerente
e o reconhecimento dessa perseguição pela Comissão, seja por conta de fatores ligados a
dificuldade probatória nos marcos da legislação ou mesmo por não verificação efetiva da
perseguição. Não obstante a parcialidade dos dados, é possível verificar preliminarmente que o
estado brasileiro reconheceu 18.182 casos de perseguição política ocorridas de 1946 à 1988. Desse
universo cerca de 38% dos casos estão classificados por atividade do perseguido nessa época,
conforme critérios de classificação da comissão.
distribuição de anistia por atividade do
perseguido
3508
2.307

455 190 214


59 13 43 14

fonte: acervo da Comissão de Anistia

Outra correlação positiva com os dados da CMDP é incidência de grande número de trabalhadores
urbanos perseguidos políticos, com 51% dos casos.11 O montante de 34% de perseguidos das
Forças Armadas e Auxiliares também chama atenção, demonstrando um considerável fenômeno de
resistência política dentro das Forças de Segurança do estado. Em contrapartida, 7% dos casos são
de estudantes, verificando-se quase 5 vezes menor em relação às Forças de Segurança. Casos
específicos aparecem ligados ao Plano Nacional de Alfabetização (PNA)12 e de representantes
políticos registram 3% cada.

Esse grande número parcial de anistias políticas – mais de 18 mil – foi acompanhado por uma
mudança significativa no sentido de anistia. Criada inicialmente como perdão do estado, foi
transformada em um pedido de desculpas do mesmo aos anistiando a partir de 2007. Especialmente
através do instrumento das Caravanas da Anistia, casos emblemáticos são realizados em sessões
públicas, itinerantes, com mobilização social, onde as anistias concedidas são acompanhadas pela
co-memoração pública e atividades educativas e culturais (Abrão, et al, 2010, p.4). Muito além de
compensações financeiras, um número ainda incontável de processos apenas reconhecem a
condição de anistiado político ou com isso restituem direitos, como direitos previdenciários,
recondução em carreiras e em universidades. A Comissão também recomenda retificações de
atestados de óbitos quando esses apontam a versão repressiva desfeita pelas investigações ou
silenciam sobre a causa da morte, como no caso da anistia pós-morte de Honestino Guimarães, ex-
presidente da União Nacional de Estudantes (UNE), recomendando que conste “atos violentos

11 Nessa categoria estão incluídos profissionais liberais, servidores púbicos e trabalhadores da iniciativa privada.
12 Cuidava-se de uma política pública de alfabetização criada pelo governo Jango em 1963, inspirada no método Paulo
Freire”. Em 1961, quase 40% da população brasileira era considerada analfabeta. Logo após o golpe civil militar de
1964, o plano foi extinto e Paulo Freire preso. Ver mais em: Faria, Nathália Rodrigues. O governo João Goulart e os
Movimentos de Educação e Cultura Popular: conscientização e independência política internacional. Anais do XV
XV encontro regional de história da ANPUH-RIO.
praticados pelo Estado”.13

A mudança de concepção de anistia e suas políticas de memória e reparação influenciaram outras


instituições do Estado, como o Congresso Nacional. Em 2012, em cerimônia pública, foram
restituídos 172 mandatos parlamentares cassados durante a última ditadura. E, em 2013, devolveu
simbolicamente o mandato presidencial de João Goulart, deposto em 1964. Na cerimônia, o
presidente do Congresso pediu desculpas e a Presidente da República compareceu ao ato. 14

A consolidação da busca pela verdade com as Comissões da Verdade no Brasil

Somente após 47 anos do golpe civil-militar de 1964 foi que o Brasil criou a sua Comissão
Nacional da Verdade. Instituída mediante Lei do Congresso Nacional enviada pela Presidente Dilma
Rousseff, integrante da resistência armada à ditadura, a Comissão foi criada em 2011, possui 7
integrantes e mandato de dois anos (até maio de 2014). Após um ano de trabalho, o órgão publicou
um relatório parcial para tornar público seus procedimentos e foi alvo de constantes críticas de
familiares de mortos e desaparecidos, sobreviventes e defensores de direitos humanos por seu
caráter fechado15. Além disso, a Comissão está envolta de fortes embates internos, sendo que dois
integrantes renunciaram ao mandato, e enfrenta uma ampla resistência das Forças Armadas para
colaboração de informações.16

As investigações da Comissão, focadas nos casos de mortos e desparecidos, estão divididas em 14


Grupos de Trabalho: Araguaia; Contextualização, fundamentos e razões do Golpe civil-militar de
1964; Ditadura e gênero; Ditadura e sistema de justiça; Ditadura e repressão aos trabalhadores e
movimento sindical; Estrutura da Repressão; Mortos e desaparecidos; Graves violações de direitos
humanos no campo ou contra indígenas; Operação Condor; O estado ditatorial-militar; Papel das
Igrejas na Ditadura; Perseguição a militares; Operação Condor; Violações de Direitos Humanos de
brasileiros no exterior e de estrangeiros no Brasil.17

Em que pese as dificuldades internas e externas, a instalação da Comissão Nacional da Verdade


impulsou um movimento sem precedentes na implantação desse mecanismo pelo mundo: a

13 Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-09-20/comissao-concede-anistia-honestino-


guimaraes-e-recomenda-mudanca-na-certidao-de-obito>. Acesso em 15.11.2013.
14 Disponível em:<http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-12-18/congresso-devolve-mandato-presidencial-joao-
goulart >. Acesso em 18.12.2013.
15 Uma importante compilação de críticas à CNV está no relatório de monitoramento civil elaborado pelo Instituto de
Estudos da Religião (IER) disponível em: <http://www.comissaodaverdade.org.br/arquivos/ii-relatorio-cnv-iser-
web-160713-alt.pdf >. Acesso em 15.11.2013.
16 A respeito do processo de formação da Comissão Nacional da Verdade brasileira, ver: González e Lentz, 2010.
17 Disponível em: <http://www.cnv.gov.br/index.php/2012-05-22-18-30-05/veja-todos-os-grupos-de-trabalho >.
Acesso em 15.11.2013.
proliferação de Comissões da Verdade pelos Estados, Municípios, órgãos públicos e da sociedade
civil. Conforme levantamento preliminar elaborado para a pesquisa, até julho de 2013, mais de 75
Comissões foram instaladas pelo país.

Comissões da Verdade no Brasil


Outros
Municipais
Trabalhadores
Universitárias
OAB
Ministério Público
Magistratura
Estaduais

0 5 10 15 20

Fonte: Pesquisa para o artigo

Cada Comissão da Verdade desenvolve audiências públicas de escuta de sobreviventes, reúne


acervos públicos e privados, promove seminários temáticos, colhe testemunhos de forma reservada
e até mesmo convida acusados de violações aos direitos humanos na última ditadura a depor à
comissão para esclarecer casos investigados. Somente a Comissão de São Paulo, já realizou 58
audiências, promoveu outras 8 temáticas e produziu relatório parcial sobre o “Sistema Nacional de
Informações”.18 Além disso, essas Comissões atuam em diferentes graus em conjunto com os
familiares de executados e desaparecidos, movimentos de direitos humanos e contam, inclusive em
seus Comissionados sobreviventes do terrorismo de estado brasileiro. Todas essas Comissões se
relacionam de diferentes formas com a Comissão Nacional e dos objetivos desses organismos locais
é abastecê-la com suas investigações.

Atualmente é prematuro reunir dados quantitativos sobre essas atividades de cada Comissão, mas
certamente suas atividades de forma centralizada estão provocando um novo cenário no tema ainda
pendente de diagnóstico.

Políticas de memória e mudanças estruturais

No Brasil, dentre as iniciativas oficiais de construção da memória podem ser conferidas o projeto
“direito à memória e à verdade” da Secretaria Nacional de Direitos Humanos com exposições

18 Conforme cartilha realizada pela Comissão. Disponível em:


<http://www.comissaodaverdade.org.br/arquivos/cartcomv-02-10-2013-1.pdf> Acesso em 15.11.2013.
fotográficas pelo país e publicação de diversos livros temáticos sobre a ditadura no país. Há também
o projeto “Marcas da Memória” da Comissão de Anistia que conta com “audiências publicas,
financiamento de projetos ações culturais propostos e executados pela sociedade civil organizada, a
publicação de obras sobre memória, anistia e justiça de transição, e iniciativas de preservação de
memórias oral sobre o período” (Abrão & Torelly, 2011, p.224-225). Além disso, políticas de
acervos como o projeto “memórias reveladas” congregam diferentes arquivos oficiais do período, o
memorial da anistia que agregará todo o acervo da Comissão em construção e o “memória da
resistência” na cidade de São Paulo são inciativas importantes de construção de memória.19

Por outro lado, as chamadas “reformas institucionais” no Brasil enfrentam o veto das “forças
ocultas” que tanto se pronunciou Jânio Quadros. Com a ausência de responsabilização individual e
institucional pela ditadura, muito perto do nada se modificou. Embora reconhecendo mudanças
institucionais inauguradas com a Constituição de 1988, é visível a advertência de Jorge Zaverucha
de que a subordinação dos militares aos civis é parcial, onde vigoraria um pretorianismo moderado
ao invés da “neutralidade” das Forças Armadas. E esse quadro conta com o apoio dos civis (da
direita) ligados ao Executivo, Legislativo e Judiciário em face do cálculo do risco da revolução
social com a consolidação da democracia (2005, p. 253-255).

Portanto, há ainda um controle militar de posições estratégicas do aparelho de Estado. Criado em


1969, na antessala do Ato Institucional nº 5, o Decreto-Lei 667 reorganizou as Polícias Militares dos
estados e, juntamente com o Decreto-Lei nº 88.777/83 disciplina a organização das Forças de
Segurança do país. Conforme este último, por exemplo, “qualquer mudança de organização,
aumento ou diminuição de efetivos das Polícias Militares dependerá de aprovação do Estado-Maior
do Exército, que julgará da sua conveniência face às implicações dessa mudança no quadro da
Defesa Interna e da Defesa Territorial” (art. 34).

Além dessa instituição do estado diretamente ligada às violações da ditadura, outras do campo
social permanecem inalteradas. Em abril de 2009, a Suprema Corte brasileira (Supremo Tribunal
Federal - STF) julgou inconstitucional a Lei nº 5.250/67. Esta instituía regulações à liberdade de
manifestação do pensamento e de informação incompatíveis com os preceitos fundamentais da
Constituição Federal aprovada em 1988, especialmente quanto à plena liberdade de imprensa por
essa assegurada formalmente. No entanto, a estrutura de comunicação criada durante a ditadura
permaneceu intacta: grandes monopólios de comunicação restringem a liberdade de expressão e

19 A consulta de todo o acervo digitalizado está disponível em:


<http://www.memoriasreveladas.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home >. Acesso em 29.11.2013.
pensamento a pequenos grupos da sociedade, exercendo a censura privada ao debate público.20

E um dos mais recentes sintomas dessa continuidade autoritária nas instituições com relevantes
funções pública foram os protestos de junho de 2013 no Brasil. Enquanto as polícias militares
suspendiam direitos individuais nos estados dos manifestantes e praticavam diversas violações aos
direitos humanos, a imprensa buscava criminalizar a população que saía às ruas protestar. Alvo das
manifestações, a imprensa criticou os “excessos” da repressão quando esses atingiam seus
funcionários.21

5) Considerações finais: explicações para o jeitinho brasileiro e breves conclusões

Uma importante lição da experiência justransicional está na sua casuística. Embora seja
reconhecido um esforço da literatura em traçar padrões que atravessem os diferentes países, o caso
brasileiro é um daqueles que supera qualquer generalização do campo. Primeiro, constituiu sua
Comissão Nacional da Verdade após 21 anos da posse do primeiro presidente eleito pelo sufrágio
universal, Fernando Collor de Melo, em 1990. Segundo, é o único país da América Latina que
mantém viva uma Lei de Anistia que garante a impunidade de seus agentes repressivos, por mais de
30 anos.

O fator mais comum na literatura especializada para explicar essa peculiaridade brasileira é o tipo
de sua transição. Em verdade, o processo de transição brasileira pelo fato de que o regime
autoritário exerceu “controle firme e extraordinariamente duradouro” sob o processo de abertura
política (O'Donnell, Schmitter, 1988, p.79) e os resultados atingidos coincidiram com as regras do
metafórico “jogo de xadrez” da transição “bem sucedida”: é proibido capturar ou colocar em xeque
o Rei de um dos jogadores (propriedade privada), circunscrever ou estreitar os movimentos da
Rainha transicional (Forças Armadas) ou violar indivíduos específicos (ex-presidentes ou ex-
comandantes militares) (1988, p.122-113).

Nada disso seria possível sem uma efetiva base cultural, social e econômica autoritária e
conservadora. Desde a Revolução Russa de 1917, no Brasil já se cultivava o anticomunismo, sendo
que ele encontrou seu ápice justamente nos períodos marcadamente autoritários (Estado Novo e
última ditadura) mas esteve presente dentro da “normalidade” democrática com a proscrição do
Partido Comunista Brasileiro – PCB desde 1947.

Além disso, há uma verdadeira tradição de intervenção militar no processo político brasileiro. A

20 A respeito da concentração dos meios de comunicação, ver o projeto “os donos da mídia”, com dados disponível em:
<http://donosdamidia.com.br/grupos >. Acesso em 15.11.2013.
21 Em artigo escrito com Carlos Eduardo Torcato, analiso os efeitos da justiça de transição inacabada nos protestos de
junho. Disponível em: <http://www.brasildefato.com.br/node/17797>. Acesso em 15.11.2013.
própria fundação da República deu-se por intervenção dos militares, com Floriano Peixoto e
Deodoro da Fonseca em 1889. Embora por duas ocasiões as Forças Armadas triunfaram nas
instituições políticas para assegurar a normalidade constitucional - 1945 (Eurico Gaspar Dutra) e
1955 (Juscelino Kubitschek) o padrão interventivo também foi de quebrá-la: 1930 e 1937 nas
ditaduras de Getúlio Vargas, 1961 para impedir a posse de João Goulart e em 1964 pra sua
derrubada (Rouquié, p. 326-327; Comblin, p.152). Talvez por isso as Forças Armadas permanecem
como uma instituição com importante poder de veto. Assim como a grande imprensa, outra aliada
da tradição de ruptura institucional para resolver crises de hegemonia.

No sincero editorial da Folha de São Paulo intitulado 'Limites à Chávez', publicado em 17 de


fevereiro de 2009, Octávio Frias Filhos utilizou o termo 'ditabranda' para adjetivar a última
ditadura brasileira. Porém, ditou o milagre sem dar nome aos santos: Schimitter e Od'onnell
cunharam o enredado conceito de ditabranda, um regime que tolera e até promove a liberalização
sem alterar a estrutura autoritária de autoridade (1988, p. 27-28). Tudo isso para sustentar que no
Brasil havia pouco mais de 300 vítimas e, se comparada a vizinha Argentina com seus mais de 30
mil mortos e desaparecidos, a violência ditatorial brasileira teria sido mais branda.

Porém, não é o que os dados demonstram. Somando os casos de violações aos direitos humanos
reconhecidos pelo Estado Brasileiro até o momento, a violência da última ditadura brasileira atingiu
diretamente 18.657 pessoas. Caso o padrão de deferimento da Comissão de Anistia se confirme ,ao
final da classificação de seus requerimentos o número poderá ultrapassar os 40 mil perseguidos
políticos. E, conforme recentes revelações como o “relatório figueiredo” relatando a execução de
mais de mil indígenas, após as conclusões das Comissões da Verdade do país uma realidade muito
mais violenta, sistemática e abrangente parece emergir.

Para além da frieza tacanha da comparação dos números, é madura a conclusão que no Brasil
existiu uma engenhosa estrutura repressiva que atuou de forma massiva e focalizada. Nesse ponto,
outra conclusão importante que os dados permitem é desfazer o mito de que a resistência política
era basicamente formada por estudantes. Emergem da história sufocada do período milhares de
trabalhadores e militares que enfrentaram a ditadura civil-militar.

Por fim, é possível concluir três fases da justiça transicional brasileira. A primeira foi marcada pela
abertura do debate público acerca da necessidade de enfrentamento do passado autoritário do país.
Ela foi inaugurada pela Lei de Anistia em 1979 e concluída com a publicação do relatório da
Comissão de Mortos e Desparecidos políticos em 2007. A segunda fase foi de hegemonização entre
a elite política brasileira da necessidade de enfrentar as violações do passado. Ela foi marcada por
uma mudança de política da Comissão de Anistia e do governo brasileiro com a ressignificação do
sentido de anistia política e do avanço limitado à governabilidade dos mecanismos justransicionais.
Esse processo se finaliza com a instalação da Comissão Nacional da Verdade em 2011 e a
proliferação de Comissões da Verdade pelo país. A terceira fase é o momento atual, onde os
postulados de verdade, justiça, memória e mudanças estruturais se direcionam para sua aplicação
prática.

Com os resultados da Comissão Nacional da Verdade e uma nova investida jurídica para
reinterpretação da Lei de Anistia por um renovado STF indicam um novo cenário da justiça
transicional brasileira. As formas, intensidade e o tempo que esses mecanismos irão se implementar
permanecem uma incógnita. Porém, as manifestações de junho e a longa estrada percorrida até aqui
apontam que o ritmo dessas mudanças serão ditados pelo grau de intensidade dos movimentos
sociais.

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