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Álbum.

Ana Elisa Ribeiro.

108 páginas.

Editora Relicário.

Os sessenta e quatro poemas de “Álbum” (mais recente livro da poeta Ana Elisa
Ribeiro, com o qual venceu o Prêmio Manaus de 2016, Categoria Nacional de Poesia) se
dividem em quatro partes. Na primeira, “Desenhos com luz”, a poeta se debruça sobre a
técnica fotográfica, estabelecendo relações com a técnica poética, bem como o embate de
ambas as técnicas com o tempo. Na segunda parte, “Caixa de fotos”, a memória, a família
e a mudança dos corpos frente a imutabilidade da fotografia, são realçadas em um tom de
melancolia. “Desfotografias” parte de um diálogo com Drummond e expressa as
reflexões da poeta sobre o próprio patrimônio imagético e seus vínculos com a morte, a
história e a narrativa. A quarta parte, “Dublê de fake” versa sobre os contrastes entre a
foto e a realidade, retornando para a ideia de tempo como algo que não pode ser medido,
nem congelado.

Como o próprio título indica, o livro funciona conforme a mecânica de um álbum


de fotos, e cada poema sinaliza um registro fotográfico que não se vê. Cabe ao leitor,
durante a leitura, compor essas fotos na imaginação, tendo sempre em mente que: “o
obturador \ deixará passar \ a luz necessária \ Que mecanismo \ deixará passar \ as palavras
\ necessárias \ ao poema?”.

Nesse sentido, em Álbum, a fotografia é tanto ícone quanto índice. No cerne dessa
ideia, a constatação de que a realidade é complexa e necessita tanto da foto quanto do
poema para ser decodificada. São dois saberes que não se excluem, antes se completam,
e o olhar de Ana Elisa Ribeiro, apesar de estabelecer esse vínculo sincrônico, é infiel a
ambos, na medida em que, dos dois lados, deseja “sujar” os negativos com as
imperfeições da vida: “estava grávida \ naquela foto \ o filho \ não chegou \ a nascer \ a
foto \ nos mantém \ à sua espera”. E se “o que não é fotografia \ dependerá da memória”,
o poema deve ser aquilo que escapou das bordas da foto.

Formalmente, em seu novo livro, Ana Elisa Ribeiro eleva à sofisticação a síntese
poética que busca desde Perversa (livro-fetiche dos poetas da “geração 00”, lançado em
1
2002 pela lendária editora Ciência do Acidente), com a vantagem de abandonar certo
humor “leminskiano” em favor de uma sensibilidade e imaginação bem mais à vontade
para explorar as grandes questões do seu tempo. Com isso, a poeta ganha voz: bem mais
alta e (bem mais) contundente.

Como se não bastasse, Álbum ainda é um livro que emociona. As fotos da família,
nas quais “as joias reluziam até em preto e branco” cumprem a função da memória, na
tentativa de resgatar o que sobra daquilo que vivemos sem ter consciência, já que
“entramos na foto sem saber” e, muitas vezes, entramos assim na vida. O grande ganho
do livro é a poeta conseguir, depois de um longo processo de depuração, transcender a
experiência pessoal para atingir aquele fundo comum a todos nós.

O tempo poético não é o tempo fotográfico, mas a palavra da poeta, ao se originar


no gesto que inaugura a memória, une os dois tempos em uma só colagem. Desse modo,
poema e fotografia se fundem na imaginação do leitor, que monta a própria versão da
fotografia apenas evocada, conferindo novo sentido a essa experiência temporal. O que
Ana Elisa nos diz em Álbum é que toda memória possui uma extensão física, quer seja a
foto, quer seja o poema. Contaminar os códigos sensoriais da primeira com o segundo é
criar uma terceira coisa em nome da beleza.

O livro fecha com “Refinaria”, que expressa a esperança de que os poemas, diante
do esquecimento, possam deixar “o rastro de um cristal a ser refinado”. No limite, trata-
se de uma confissão de fé na poesia como forma de reatualizar tudo aquilo que,
empurrados pelas engrenagens da vida cotidiana, vamos deixando para trás. E se “hoje,
tudo pode nascer esquecido”, quem seguirá esse rastro senão os leitores? Quem poderá
refinar o que foi esquecido, senão o tempo?

Álbum conta ainda com uma edição moderna e primorosa da editora Relicário, que
transformou o livro em um objeto de contemplação à parte.

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