Sei sulla pagina 1di 2

O cume da misericórdia: o perdoar os inimigos1

Bem sabemos que a amizade é uma bela e edificante experiência humana. Mas
também precisamos estar cientes que existe o seu oposto a experiência tristemente
humana da inimizade. Que as vezes surge e se instala entre pessoas as quais jamais
imaginaríamos que pudesse acontecer tal rompimento. A experiência humana nos revela
que não é nada fácil superar a realidade da inimizade. Aliás como emerge do Evangelho
isto só é possível com o auxílio da graça de Deus, cuja especialidade é superar a
inimizade, pois nos amou quando ainda éramos seus inimigos: “Deus demonstra seu
amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda
pecadores...Pois se quando éramos inimigos fomos reconciliados com Deus pela morte
do seu Filho, muito mais agora, uma vez reconciliados, seremos salvos por sua vida”
(Rm 5, 8-10). A primeira iniciativa de nós arrancar da inimizade foi de Deus. Somos
pois devedores de Deus que nos devolveu o dom da sua amizade quando não a
merecíamos. Inimizade esta que já encontra suas raízes nas origens do homem: “Porei
hostilidade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a dela” (Gn 3, 15). Ou ainda no
episódio de Caim e Abel, o qual nos revela que o homem dominado pelo ódio, pelo
rancor, pela cólera, torna-se inimigo do seu semelhante: “Que fizeste! Ouço o sangue de
teu irmão, do solo, clamar para mim! Agora, és maldito e expulso do solo fértil que
abriu a boca para receber de tua mão o sangue de teu irmão” (Gn 4, 10-11).
É fundado nesta dinâmica da história da salvação, marcado por um lado pela oferta
de amizade da parte de Deus, e por outra pela a inimizade do pecado por parte do
homem, que Cristo nos dá um preceito que deixou os seus discípulos “vivamente
impressionados”: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos
perseguem”. Diante deste mandato do Senhor nos vemos incapazes. Pois significa ter
que perdoar “também aos que, sem ter arrependimento nenhum, nos ofenderam, nos
perseguem e maltratam”.
É inevitável não pensarmos que isto seja superior às nossas forças. E de fato o é.
Assim o afirma a Igreja: “Esta exigência crucial do mistério da Aliança é impossível
para o homem. Mas “para Deus tudo é possível” (Mt 19, 26) [CCE 2842]. “Só o
Espírito [Santo]..., esse Amor que ama até o extremo do amor” (CCE 2843). “O perdão
dá também testemunho de que, em nosso mundo, o amor é mais forte que o pecado. Os
mártires, de ontem e de hoje, dão este testemunho de Jesus” (CCE 2844).
Quando Jesus nos pede para perdoar e rezar pelos nossos inimigos ele antecipa
aquilo que Ele próprio realizou na cruz diante dos seus algozes, depois de ter sofrido em
silêncio injustiças, brutalidades e toda sorte de torturas físicas e morais, nosso Senhor
pediu: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Se a ofensa que
causou a inimizade gera dor e sofrimento em quem a sofreu, o perdão gera libertação.
“São João Paulo II, meditando este mistério, comentava: ‘Crer no Filho crucificado
significa crer que o amor está presente no mundo e que este amor é mais forte do que
toda espécie de mal em que o homem, a humanidade e o mundo estão envolvidos’”
(Dives in misericórdia, n. 50).
Também os mártires seguem as pegadas de Cristo no perdão aos inimigos, já o
primeiro mártir, Santo Estêvão, que morreu de joelhos rezando: “Senhor, não lhes leves
em conta este pecado” (At 7, 60), até a incontável multidão de homens e mulheres,
jovens, velhos e crianças que – em todos os tempos – morreram entre torturas,
perdoando e orando pelos seus carrascos. Estes são – diz poeticamente o Apocalipse –
os que lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro (Ap 7, 14). A

1
F. FAUS, Tornar a vida amável, Cléofas, São Paulo, 2016, p. 39-46.
atitude de perdoar os inimigos vem de encontro à afirmação de um mártir dos nossos
tempos, São Maximiliano Maria Kolbe: “O ódio não é força criativa, força criativa é o
amor”.
“Amai os vossos inimigos” é o que nos pede o Senhor. “Amar é ‘querer o bem’ do
outro (amigo ou inimigo). Vejamos um exemplo que vem das Escrituras: “Não pagueis
mal com mal, nem injúria com injúria. Ao contrário, abençoai, pois para isto fostes
chamados, para que sejais herdeiros da bênção” (IPd 3, 9).
Um exemplo recente de amor aos inimigos o encontramos no arcebispo vietnamita
Francisco Xavier Van Thuân: “Falsamente acusado, esteve preso pelos comunistas, a
partir de 1975, durante treze anos (nove deles no isolamento). Quase no final do
cativeiro, o carcereiro, admirado pela sua bondade, perguntou-lhe: ‘O senhor nos ama
verdadeiramente? – Sim, eu os amo sinceramente. – Mas nós o tivemos preso durante
tantos anos, sem julgá-lo, sem condená-lo, e o senhor nos ama? É impossível, isso não é
verdade! – Estive muitos anos com vocês. Você viu que isso é verdade. – Quando for
libertado, não vai mandar o seus fiéis incendiar as nossas casas e matar as nossas
famílias? – Não. Mesmo que você queira matar-me, eu o amo. – Mas, por quê? –
Porque Jesus me ensinou a amar a todos, mesmo aos inimigos. Se eu não o fizer, não
sou digno de ser chamado cristão. – É muito bonito, mas difícil de compreender...”.
“Fazei o bem aos que vos odeiam”. Esta é uma via privilegiada para vencer o mal,
como afirma São Paulo: “vencer o mal com o bem” (Rm 12, 21). Quando alguém cai na
tentação de querer vencer o mal com o mal acaba dominado por ele, porque precisa
produzir um mal sempre maior do que o mal que julga querer combater.
“Mas... e a justiça? – perguntará alguém – Onde fica? Será que agir como esses
homens de Deus não é uma tolerância passiva para com a injustiça? Vou deixar que
responda São João Paulo II: ‘É óbvio que a exigência de ser tão generoso em perdoar
não anula as exigências objetivas da justiça... Em nenhuma passagem do Evangelho o
perdão, nem mesmo a misericórdia como sua fonte, significa indulgência para com o
mal, o escândalo, a injúria causada, ou o ultraje feito’” (Dives in misericórdia, n. 97).
“Orai pelos que vos maltratam e perseguem” – os nossos inimigos – aquele que nos
maltrata e persegue sem qualquer sinal de arrependimento. Somente a oração pode
alimentar em nós misericórdia suficiente para perdoar a estes que tantas vezes se fazem
presentes no convício familiar, no trabalho, na comunidade, na Igreja, no trânsito, na
vida ordinária, na paróquia, no presbitério, na diocese. Assim, como Cristo venceu a
inimizade entre os homens e Deus, somente podemos vencer as inimizades, fazendo
morrer em nós o desejo de vingança, de revanchismo, de pagar o mal com o mal, o que
somente é possível pela via da oração, pelo auxílio da graça de Deus e uma boa doze de
querer pessoal. Somente o amor nos forma para perdoar os inimigos, pois este é o
fundamento que nos arranca da inimizade do pecado para a amizade com Deus.

Potrebbero piacerti anche