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Detalhamento:
1) Título: Os delitos de Associação Criminosa, Milícia Privada e sua aplicação nos delitos previstos
no Código Penal.
Envolvimento entre segurança pública e empresa privada é "temerário".
A. Aula: 7
B. Resumo:
E. Competências trabalhadas:
Articulação teórica e prática dos institutos jurídicos e seus efeitos nas medidas de Política
Criminal adotadas pelo Sistema de Justiça Criminal.
G. Palavras-chave:
Associação Criminosa. Milícia Privada. Segurança Pública. Segurança Privada.
2) Caso:
Para especialistas, o envolvimento entre a segurança pública e a segurança privada é algo "temerário",
seja pela dualidade que esses profissionais assumem quando transitam entre o público e o privado,
seja pela possibilidade da instituição de grupos de milícias.
Analistas reforçam que, infelizmente, esta prática não é algo novo. A falta de estrutura na formação de
policiais e os salários baixos levam os profissionais que atuam na segurança pública a procurarem os
chamados “bicos”, onde atuam como responsáveis pela segurança de empresas privadas.
Victória Sulocki, presidente da comissão de direito penal do Instituto de Advogados Brasileiros (IAB),
afirma que o envolvimento de policiais militares em serviços de segurança privada acaba gerando um
paradoxo, resultado de tentativas de complementar a renda do PM. “É muito difícil separar a função
dele como agente público e agente de uma empresa privada. Isso gera um enorme conflito entre o
trabalho oficial e o “bico”, onde normalmente o profissional acaba ganhando mais. O melhor seria que
ele estivesse mais bem treinado, mais bem pago e que não houvesse essa necessidade de
complementar a renda”, explica.
Ainda segundo a advogada, esse tipo de associação feita pela necessidade que o polícia tem em
aumentar a renda, devido aos baixos salários, pode contribuir para a formação de grupos paramilitares,
as famosas milícias. “No final acaba dando nisso”.
Outro ponto levantado por Victória é a necessidade de regulamentação constante das empresas de
segurança privada, principalmente quando são comandadas por profissionais que atuam em órgãos
públicos de segurança. “Essas empresas regulamentadas tem que estar com tudo controlado: quem
são os agentes que trabalham lá, que armamentos são utilizados, qual é o tipo de serviços segurança
prestados. Tudo isso é regulamentado pela Polícia Federal. O problema são as empresas de segurança
não registradas”.
No entanto, Victória aponta uma das contradições resultantes da associação de policiais ligados a
órgãos públicos com empresa privada. “O problema disso tudo é o seguinte: para que essas empresas
tenham lucro é preciso que existam áreas sem segurança. Quanto mais o discurso de insegurança é
propalado, maior é o lucro. Isso é uma incongruência na ação desses profissionais. Se eles estão
ligados a órgãos públicos, então a função deles é dar essa segurança, mas para manter o lucro ele
precisa do descrédito desses órgãos oficiais para que eles possam prover essa segurança. Aí é que
está o problema, a segurança privada serve apenas àquele que paga, ela não tem um compromisso
social de segurança pública”, destaca.
Assim como, Victória, Elionaldo Julião, sociólogo e professor da Universidade Federal Fluminense
(UFF), afirma que essa dualidade entre o público e o privado no campo da segurança pública, criado
pela falta de estrutura e apoio dos profissionais que atuam em órgãos públicos, acarreta diversos
problemas. Ele ainda critica a postura da Secretaria de Segurança do Estado. “Essas empresas
acabam por alimentar a possibilidade de que tenhamos grupos paralelos oferecendo serviço na área
de segurança pública, com um retorno maior do que policial consegue das fontes oficiais. O fato é
que a secretaria [de Segurança] vem atuado de forma muito paliativa nesse sentido. O destaque maior
para o secretário de Segurança pública é mostrar que o projeto da UPP é a solução para tudo, quando
os resultados mostram que não”.
O professor afirma, ainda, que é comum que empresas privadas saiam atrás de contratações de
policiais militares, alguns ainda atuantes dentro da corporação. “O que se pode perceber disso é uma
grande rede de favorecimento. Ou seja, quando acontece qualquer problema em uma empresa essa
rede é ativada e determinadas ações podem ser verificadas com alguma facilidade. Então há uma
preferência do mercado por esses profissionais”, afirma.
Julião destaca ainda que esse relacionamento cria uma “aberração”. “No final das contas, o que acaba
acontecendo é que profissionais que antes prestavam serviço para os órgãos públicos de segurança,
passam para o ramo privado e, em alguns casos, passam também a prestar serviços para esses
mesmos órgãos”, afirma o professor sobre a desvalorização criada em torno da segurança pública.
Marcus Brêtas, professor do Instituto de Filosofia e Ciência Sociais (IFCS) da UFRJ e líder do grupo de
pesquisa de história do crime, da polícia e da justiça criminal, também destaca essa competição entre
o estabelecimento da segurança pública e a segurança privada e a contradição que é gerada. “Acaba
que, onde falta o poder público, os profissionais que deveriam atuar nesse sentido, passam a atuar
pelas vias privadas”.
Para o professor do IFCS, as limitações dos órgãos de segurança pública, por diversos motivos, são
exploradas de forma competitiva, as empresas de segurança pública passam a preencher as lacunas
deixadas pelo poder público. “Isso é um fato conhecido e a situação irregular cria milícias. Além disso,
quem tem mais poder aquisitivo tem a capacidade de controlar esses serviços em áreas mais
abastadas, nas áreas mais pobres a segurança é produzida pela lei do medo”.
O trecho acima foi extraído de um artigo publicado em novembro de 2014 sobre a realidade vislumbrada
no Estado do Rio de Janeiro face ao confronto entre o exercício dos atores das áreas de Segurança
Pública e Privada e a atuação de seus respectivos agentes na formação da denominada “milícia
privada”, figura típica prevista no art.288-A, do Código Penal.
A referida figura típica foi inserida no Código Penal pela Lei n.12.720, de 27 de setembro de 2012, com
vistas à implementação de políticas criminais voltadas à maior repressão destas condutas, mormente
em decorrência dos agentes envolvidos.
Segundo Ignácio Cano e Thais Duarte, a partir de 2006, no estado do Rio de Janeiro, o termo milícia
foi utilizado para definir uma realidade muito diferente do significado etimológico da palavra, segundo
o qual milícia corresponde à uma organização militar ou uma instituição militarizada.
Para estes autores a milícia, contudo, refere-se a “grupos armados do Estado (policiais, bombeiros,
agentes penitenciários, fuzileiros etc) que, no seu tempo livre, controlavam espaços populares,
oferecendo ‘proteção’ em troca de taxas a serem pagas pelos comerciantes e os residentes” (CANO,
Ignácio e DUARTE, Thais. Milícias In Crime, polícia e justiça no Brasil/Organização Renato Sérgio
de Lima, José Luiz Ratton e Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo – São Paulo: Contexto, 2014, pp. 325).
Desta forma, busca-se analisar de forma crítica, a relação entre os delitos de Associação Criminosa e
Milícia Privada de modo a confrontar as figuras de associação criminosa (art.288, do Código Penal),
Milícia Privada (art.288-A, do Código Penal), Associação para a prática de crimes hediondos (art.8º, da
Lei n.8072/1990) e Associação para fins de tráfico ilícito de drogas (art.35, da Lei n.11343 /2006).