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RESENHA 1

MAFFESOLI, M. (2004). A parte do diabo: resumo da subversão pós-moderna. Rio de


Janeiro: Record.

Em seu percurso intelectual, Michel Maffesoli mostra e partilha com outros


autores a tese de que existe um projeto homogêneo de domínio da natureza, do indivíduo
e da sociedade. Ele possui como seus matizes correspondentes nas ciências físicas, no
freudismo, no behaviorismo e nos positivismos em geral e que teve seu apogeu no século
XIX e pretendeu planificar a felicidade individual e social exclusivamente através da
utilização dos instrumentos da razão. O indivíduo é considerado como senhor de si e do
mundo ao seu redor, uma entidade homogênea, tendendo a perfeição e a unificação, um
átomo social e físico. O contraditório, o aleatório, o fantástico e a pluralidade existentes
no indivíduo, na sociedade e no real são considerados desvios e erros, devendo ser
reduzidos ou eliminados. Este pensamento procura unificar, controlar e racionalizar. A
solidariedade e a comunhão naturais tendem a ser substituídas por uma estrutura social
racionalizada e racional e por dispositivos de comunicação entre os indivíduos.
Deste modo, Maffesoli e outros pensadores da pós-modernidade mostram que este
indivíduo como uma unidade articulada, homogênea e racional, tal como a modernidade
o conceitua não passa de uma ilusão ou um fantasma do desejo deste pensamento. A
complexidade do mundo, sua pluralidade de valores, a contradição dos afetos não podem
ser reduzidos a uma unidade abstrata. O pensamento mítico exprimiu esta
heterogeneidade em uma multiplicidade de deuses com vidas desregradas e aventureiras,
um politeísmo que integra com lógica contraditorial e os vários elementos heterogêneos
que compõe o real, o social e o indivíduo. Por outro lado, a expressão mítica da
racionalidade e dos valores ocidentais é um monismo cristão que valoriza a ordem, a
hierarquia, a perfeição e o dever-ser e está representado na imagem de um Deus único e
do bem absoluto que desencanta o mundo. Deste modo, exclui a desordem, o caos, a
heterogeneidade e a contradição associando-os ao Diabo e ao mal, diminuindo ou
impedindo uma dinâmica natural e relativista que conduz o mundo a Unidade e, por
extensão, ao totalitarismo, a inércia existencial e ao tédio. Entretanto, esta dinâmica é
contínua e regularmente ocorrem explosões deste recalcado, da desordem e das paixões.
Estas explosões evocam justamente a pluralidade de valores, o politeísmo, a
multidimensionalidade e dificilmente são controláveis, pois se encontram ocultas na
estruturação social. Neste sentido elas são francamente subversivas, estilhaçam a ordem
social, agitam, transgridem a moral e o dever-ser, mas atraem os indivíduos, pois.elas são
depositárias das projeções de todos os prazeres e satisfações que os indivíduos não podem
obter na normalidade ou nas vias legais.
A sociedade contemporânea aparece multifacetada e sem sentido, as tentativas de
pensá-la e teorizar sobre ela muitas vezes esbarram em algumas teorias negativistas ou
catastróficas como o esvaziamento do indivíduo e da cena política, na manipulação
ideológica, da falta de sentido e de projetos entre outros. Entretanto, entre todos parece
haver um consenso no sentido da saturação do pensamento do Iluminismo, na crença do
progresso, da razão, do trabalho como valor supremo e do desenvolvimento contínuo, o
laborioso Prometeu parece que está se retirando de cena coloca Michel Maffesoli.
Dirigindo o Centro de Estudos do Atual e do Cotidiano (CEAQ-Paris V) e resgatando
conceitos marginalizados pela corrente principal do pensamento nas ciências humanas
tais o mito, o imaginário, os arquétipos e o que denomina “constantes antropológicas”
este autor constrói um ponto de vista original e fecundo para entender os tempos pós-
modernos. Ele privilegia o subterrâneo do dinamismo social, a vida e o vivido antes de
sua institucionalização e estabilização em estruturas, mostra que estes relativizam os
valores e são essencialmente plurais. Procurando olhar sobre os “resíduos” da análise
social, sobre o cotidiano e a vida comum que é o fundamento de toda a sociedade, ele
mostra que o mito, o imaginário, os arquétipos sempre estiveram presentes, mesmo
marginalizados das teorias de emancipação e universalismo moderno, do pensamento e
valores judaico-cristão.
No seu livro “Parte do diabo: resumo da subversão pós-moderna” o autor rebela-
se contra este pensamento que o “decreta o que deve ser vivido e pensado, como se deve
viver e pensar e que se declara tabu esta maneira de viver ou aquele objeto de análise”.
desenvolve este o ponto de vista. Mostra a subversão que a pós-modernidade impõe ao
projeto e ao pensamento da modernidade estão inseridos dentro de uma dinâmica natural
da vida social, é o retorno do recalcado e do desprezado por este pensamento e por seus
valores, simbolizado pela parte do Diabo que se opõe ao Bem e ao Deus unidimensional
do ocidente. Ele exige a sua integração em uma ordem dinâmica, com a ética ou moral da
perfeição e do dever-ser sendo substituída pela ética da inteireza e do ser-mais.
Em seus capítulos desenvolve o tema discorrendo sobre a “epistemologia do mal”,
mostrando como ocorreu esta separação entre o Bem e o Mal, a sua negação e controle
no pensamento ocidental opondo natureza e cultura, pensamento e sentimento ou afeto,
mundo pensado e mundo vivido, cultura erudita e cultura popular. A imposição da
unidade através de uma “violência totalitária” ocasionou um “conflito estrutural”
marcado pelo vazio e pela falta de dinamismo entre os pólos, interrompendo o ciclo
natural de renovação da sociedade e do indivíduo e aumentando o conflito estrutural entre
eles. O recalcado e oposto ao modelo dominante não desaparece, mas constitui uma
“sombra” a eles que aparece na dinâmica social atual. Isto ocorre especialmente na
sociedade de consumo e nas práticas juvenis de lazer como as raves, os pegas
automobilísticos, a liberdade sexual entre outras.
A análise deste fenômeno pelo pensamento tradicional, acaba por ter um viés
negativista e vendo como uma forma de decadência, mas ele significa para os indivíduos
concretamente uma recusa da dualidade tradicional da ideologia dominante, é uma
tentativa de integrar no cotidiano e no vivido as dualidades e contradições da
modernidade. Representa um novo modo de ser, uma busca da “inteireza de ser” e não de
adequar-se a um modelo. Exprimindo as múltiplas faces do seu desejo, mesmo as mais
imorais, e exercendo a sua pluralidade de papéis, mesmo os mais insignificantes, o
indivíduo procura uma integração vivencial, uma participação afetiva na comunidade. no
mundo e consigo próprio. Através disto, a sombra coletiva e individual é aceita, vivida e
integrada, podendo ocorrer uma “transmutação do mal”. Assim a sombra transforma-se,
retira “a vida do seu torpor”, afirmando a vida em sua totalidade.
RESENHA 2

GIANGRANDE, Vera de Mello. Em defesa do consumidor. In: Revista de Comunicação,


no 40, p. 20-21. Rio de Janeiro: junho de 1995.

IANHEZ, João Alberto. Palestra - A necessidade de Relações Públicas com o


consumidor. XIX Congresso Interamericano de Relações Públicas e XI Congresso
Brasileiro de Relações Públicas, realizado em Florianópolis/SC.

As Relações Públicas e a Vossa Majestade, o Consumidor


As principais ideias dos artigos em análise são a importância das relações públicas
no processo de relacionamento das organizações com os seus públicos; da
conscientização dos públicos internos sobre a importância do tratamento diferenciado ao
cliente/consumidor, inclusive para a manutenção do seu posto de trabalho; e a
importância da queixa do cliente/consumidor para o aprimoramento constante dos
processos de produção e de operação de uma empresa.
Tanto Giangrande, quanto Ianhez procuram , através de relatos e interpretações
das suas experiências pessoais nas organizações que atuam, consolidar a atividade de RP
no processo de relacionamento da empresa com o público consumidor, deixando clara a
necessidade da empresa ultrapassar os aspectos meramente mercadológicos do marketing
e vendas e partir para o encantamento do cliente por meio das técnicas de relações
públicas.
O texto de Vera Giangrande é caracterizado pela abordagem das relações públicas
éticas, com a figura do Ombudsman mediando os interesses e detendo todo o poder
decisório do processo de relacionamento da organização e o cliente/consumidor. Já o
discurso de Ianhez está voltado para os processos organizacionais, como a filosofia e as
políticas que devem ser adotadas pelas empresas e transmitidas aos seus consumidores
por funcionários bem treinados e qualificados para a relação com esse público estratégico.
Os textos não exigem nenhum conhecimento técnico específico prévio para entendê-los.
Com uma linguagem simples e de fácil apreensão atende, perfeitamente, a demanda de
leitores leigos e curiosos pelo tema.
A conclusão da imprescindibilidade da participação das relações públicas no
processo de relacionamento da organização com o público consumidor é consenso entre
os dois autores, como também é consenso que, a idéia que deve predominar no ambiente
organizacional, desde o centro do poder até o lócus do atendimento, é o de que, atender
os desejos e necessidades do cliente não é um diferencial de qualidade, mas uma
obrigação com àquele que representa a própria razão de ser da organização, a sua
majestade, o cliente/consumidor.
Os métodos utilizados por Giangrande foram os dedutivos, históricos e
comparativos, a partir das técnicas de observação participante e a vivência empírica. Já
Ianhez, se utiliza dos métodos estatísticos, dedutivos, comparativos e históricos, com as
técnicas da pesquisa bibliográfica, observação participante, além da vivência empírica.
Um importante dado estatístico trazido por Ianhez foi a de que apenas 10% dos clientes
insatisfeitos com um produto ou serviço chegam a se queixar, através dos canais
disponibilizados pela empresa, enquanto 90% preferem simplesmente não mais utilizar
aquele produto ou serviço sem se manifestar para a empresa.
Nesse sentido, percebe-se claramente a importância que devemos dar aos clientes
queixosos, pois eles representam, para a empresa, a oportunidade de saber o que é preciso
corrigir para que não se perca os outros 90% que não se manifestam.
Percebe-se, mesmo que de forma implícita, que, a teoria que serve de apoio aos artigos
apresentados por Giangrande e Ianhez é a da função política das relações públicas,
desenvolvida, inicialmente, pelo autor Roberto Porto Simões (1995), e explorada -
criticada e ampliada - por vários autores ao longo da última década. Essa proposta de
Simões é, sem dúvida, a mais didática das tentativas de sistematizações teóricas das
relações públicas no Brasil, em que o autor tenta dar consistência científica para a
atividade e o processo de RP, atribuindo-lhe status de ciência.
Entretanto, é relevante observar, que os textos aqui analisados, por terem
características de artigos meramente informativos, sem, portanto, nenhuma abordagem
literal de teorias, não se apropriam de qualquer modelo teórico para o desenvolvimento
das suas principais idéias.
No nosso entendimento, as abordagens de Giangrande e Ianhez a respeito da
participação do profissional de relações públicas, contribuindo com o conhecimento
aprofundado que necessita ter, tanto das políticas da organização, quanto dos seus
públicos - seja ele interno, externo ou misto - na relação permanente da empresa com os
seus consumidores, são bastante pertinentes e bem contextualizadas, sobretudo, quando
levanta a relação estratégica que a empresa deve desenvolver com o mais importante
aliado nesse processo: o funcionário e/ou colaborador.
Os dois autores trazem contribuições importantes para o desenvolvimento da
prática de relacionamento das empresas com o público consumidor, retirando essa relação
do âmbito meramente mercadológico e levando-a para o âmbito das relações sociais, onde
os aspectos subjetivos da natureza humana são levados em conta e o que passa a ter valor
são as necessidades e desejos dos clientes. Nesses moldes, a obtenção do lucro torna-se
conseqüência de uma relação de respeito e cooperação mútua, entre a organização e os
seus públicos, valores prementes da atividade de relações públicas.
É claro que tanto Giangrande quanto Ianhez falam de realidades muito diferentes
da maioria dos profissionais de RP espalhados pelo nosso imenso país, pois, os dois são
funcionários de grandes empresas, com orçamentos majestosos e poder de articulação de
projetos ainda maior.
Contudo, sob o ponto de vista das relações públicas, contribuem substancialmente,
trazendo exemplos práticos de que, tanto a imagem corporativa, quanto a imagem
institucional, quando geridas dentro de uma visão de RP, tende a dar frutos muito
positivos, levando a organização àquilo que ela busca como objetivo final: o atingimento
das suas metas e legitimação da sua missão.
Pelo conteúdo pragmático e pelas importantes contribuições trazidas por Vera
Giangrande e Alberto Ianhez, os artigos Em defesa do consumidor e A necessidade de
Relações Públicas com o consumidor, são recomendados para todas as pessoas que
desenvolvem alguma atividade voltada ao atendimento ao consumidor e aos professores
e estudantes de comunicação, sobretudo, os de relações públicas, pelos exemplos
empíricos narrados por dois dos mais importantes autores da área de comunicação no
Brasil.
RESENHA 3
(BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. 56. ed. São Paulo: Parábola editorial, 2015)
O assunto sobre preconceito linguístico está implicitamente em nossas relações
sociais, desde situações sociais mais formais até as cotidianas. O livro Preconceito
linguístico de Maros Bagno aborda esta temática e, neste trabalho, pretendemos verificar
as novas pesquisas que foram incorporadas à obra, em específico à 56o edição.
Marcos Bagno, nascido em 1961, é professor da Universidade de Brasília e atua
no campo da educação linguística. É um profissional influente, realizando diversas
conferências internacionais (Uruguai, Argentina, Paraguai, Espanha, Itália, Colômbia,
México, Alemanha e Finlândia). Além disso, possui uma vasta publicação de livros,
dentre eles podemos citar: A língua de Eulália: novela socionlinguística; Preconceito
Linguístico, Português ou Brasileiro? Um convite a pesquisa, entre outros.
O objetivo de trazer esta obra é divulgar a importante questão em meio
interdisciplinar, a fim de que profissionais de diferentes áreas, como a de comunicação
em geral, compreendam que preconceito, independente de que natureza for, é uma crença
pessoal, uma postura individual diante do outro.
A obra Preconceito Linguístico fora publicada primeiramente em 1999, no
entanto, Bagno, em 2015, atualizou a obra com recentes pesquisas e contribuições, os
quais deixaram a obra ainda mais interessante para o tema. Com uma abordagem mais
teórica e com a presença de mais exemplos, Bagno (2015) organiza seu texto em seis
capítulos.
Na introdução, Bagno (2015) salienta a importância da publicação desta mais
nova edição do livro. É atualizado considerando as novas reflexões teórica e prática do
autor, devido às contribuições de outros colegas linguistas e educadores e também
acrescenta material novo, com discussões bem recentes em torno de alguns temas acerca
da linguagem.
É de bom tom os esclarecimentos de Bagno (2015) sobre política educacional
tendo em vista que ele propõe uma visão diferente de ensinamento. Para o autor o ensino
da língua desse acontecer em práticas de letramento em que todos tenham acesso às
variedades linguísticas de prestígio, pois é de direito, como outros direitos o são. Além
disso, ele valida pesquisas quanto à utilização de gêneros textuais discursivos no processo
de ensino e aprendizagem.
Assim, lendo o livro de Bagno, vemos que o maior interesse está na proposta de
uma reflexão linguística crítica pois a variedade prestigiada não corresponde
integralmente às formas prescritas pelas gramáticas normativas. Para tanto, é
imprescindível que toda reflexão seja feita por meio de investigação de fatos linguísticos
reais, confrontando pesquisas tradicionais com as mais recentes.
O primeiro capítulo apresenta a “mitologia do preconceito linguístico” os quais
são numerados em oito exemplos. Bagno (2015) crítica políticas públicas que nada tem
elaborado em relação a uma política linguística oficial que discuta direitos linguísticos
dos falantes de língua minoritárias que valorize e defenda a diversidade linguística do
país.
No mito “o português do Brasil apresenta uma unidade surpreendente” Bagno
(2015) critica considerarmos uma única língua, uniforme e homogênea para todo o
território brasileiro, negando também a língua de sinais, libras, fato que não havia
mencionada em seu primeiro livro. Ele defende que toda e qualquer língua é heterogênea
e apresenta variação em todos os níveis estruturais e em todos os seus níveis de uso social.
Assim, o autor quer que abandonemos esse mito de “unidade” e que reconheçamos a
verdadeira diversidade linguística de nosso país.
O próximo mito “Brasileiro não sabe português/Só em Portugal se fala bem
português” se refere ao sentimento de inferioridade à Portugal. Critica a visão de que se
o país não é “puro”, mas sim formado por diversas etnias, logo a língua não poderia ser
“pura” também. É certo que português de Portugal e português do Brasil são diferentes,
para isso basta ligarmos a televisão que veremos telenovelas representando os sotaques
portugueses, sem contar que há inúmeras obras portuguesas que evidenciam essas
diferenças.
O terceiro mito, intitulado “Português é muito difícil” se relaciona com o anterior
pois achamos a língua difícil porque temos que decorar conceitos de utilização que não
condizem com o português que falamos e escrevemos no Brasil. O autor adverte que
quando “nosso ensino de português se concentrar no uso real, vivo e verdadeiro da língua
portuguesa do Brasil é bem provável que ninguém mais repita essa bobagem” (p. 58,
grifos do autor).
Em relação ao primeiro livro, Bagno (2015) não altera seus exemplos e permanece
com o argumento de saber uma língua não se reduz em fazer análise sintática ou saber a
regência correta de um verbo, que muitas vezes está atrelada aos arcaísmos. O autor ainda
repreende essa manutenção de privilegiar o conhecimento da norma- bem escrever,
corroborando o privilégio das classes sociais que tem mais acesso a esses produtos.
O quarto mito “Pessoas sem instrução falam tudo errado” mostra estar arraigado
com o preconceito social tendo em vista que o problema não é o que se fala (pois muitos
dos desvios da norma-padrão são justificáveis), mas sim, o nível social de quem fala.
Bagno (2015) ainda analisa que, considerando a história de todas as línguas, as formas
inicialmente desprestigiadas, condenadas, passam a ser valorizadas quando as camadas
dominantes da população se utilizam delas.
O mito número cinco tem o título “O lugar onde melhor se fala português no Brasil
é o Maranhão”. Acredita-se nisso porque as pessoas que lá vivem flexionam os verbos
para o pronome “tu”, situação considerada como arcaísmo por Bagno (2015). No entanto,
essas mesmas pessoas cometem “erros” em outras situações. Dessa forma, não existe
nenhuma variedade, neste caso regional, melhor do que outra pois cada uma delas atende
às necessidades particulares de sua comunidade.
O sexto mito, “O certo é falar assim porque se escreve assim”, se refere à
supervalorização da escrita combinada com o descaso com a língua falada. O autor
ressalva que isso não significa que não se deva ensinar a escrever de acordo com a
ortografia oficial, mas isso não deve justificar a forma diferenciada que as pessoas falam,
resultando em preconceito linguístico. Para Bagno (2015), a língua falada é importante
para o estudo científico pois é por meio da fala que se analisam a variações,
transformando a língua.
O penúltimo mito, “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”,
demonstra a supervalorização que damos ao aprendizado da gramática, como se sabendo
regras demostrasse domínio da língua. Na verdade, como aponta Bagno (2015), a
gramática normativa é decorrência da língua; é dependente e está subordinada à língua e
não ao contrário. Para o autor, a gramática normativa estabelece a norma-padrão, a qual
não corresponde aos usos linguísticos reais, podendo ser considerado como uma modelo
anacrônico de língua em que fora prescrito em determinada época com valores sociais
particulares.
No último mito, nomeado por “O domínio da norma-padrão é um instrumento de
ascensão social deve ser posto abaixo senão professores de língua portuguesa ocupariam
o topo da pirâmide social. Bagno (2015) acertou em cheio no exemplo, porém é preciso
reconhecer que a pessoa que domina a habilidade de escrever e falar em situações que
exijam a norma-padrão são mais bem vistas do que aquela que apresenta sua variedade
estigmatizada.
Vemos que assim como o primeiro livro, Bagno (2015) é político e não deixa de
opinar em prol de uma sociedade em que todos tenham os mesmos direitos e acesso à
educação de qualidade. Para ele, não há como desvencilhar política e educação pois
educadores dever ter claro que não estão contribuindo para o que Bagno (2015) chama de
círculo vicioso da injustiça social.
No segundo capítulo, Bagno (2015) discorre sobre o círculo vicioso do
preconceito linguístico: gramática tradicional, métodos tradicionais de ensino e livros
didáticos. Para o autor, esses elementos contribuem para a supervalorização de uma
norma-padrão que nada se relaciona com a língua heterogênea. Bagno (2015) também
acrescenta um quarto elemento que são os comandos paragramaticais. Trata-se, da
comercialização de normas do "bem-escrever e falar" consumidas para atingir diversos
objetivos, tais como concursos, vestibulares e entre outros.
É válido a abordagem que Bagno (2015) faz em seu texto com exemplos de
discursos marginalizados, como os das mulheres e os dos homossexuais a fim de
argumentar que tais pessoas são discriminadas e consideradas inferiores às outras.
No capítulo seguinte, intitulado “a desconstrução do preconceito linguístico”
Bagno (2015) inicialmente critica três aspectos no Brasil: o nível altíssimo de analfabetos,
alunos não desenvolvem habilidades linguística por falta de letramento no processo de
ensino e o uso da norma-padrão nas escolas. O mais importante para Bagno, (2015) é a
mudança de atitude, e para isso, temos que parar de “rePEtir” e passar a “reFLEtir" sobre
o uso descompensado da norma-padrão.
No capítulo número quatro, Bagno (2015) é minucioso quando traz à discussão
temas quanto à linguagem, metalinguagem e epilinguagem. Para isso, o autor retoma a
origem dos termos para que o leitor possa entender como e o porquê ensinamos de
maneira tradicional. É útil mostrar como podemos ensinar a Língua Portuguesa
apresentando autores que já estão estudando a temática, abandonando classificações
sintáticas isoladas em sala de aula, por exemplo Magda Soares (2008).
No quinto capítulo, Bagno (2015) critica vários autores que deturpam o
importante papel da linguística e de linguistas. Ele destaca o círculo preconceituoso que
começa com o autor Napoleão Mendes de Oliveira, com seus ataques contra a linguística,
passa por Pasquale Cipro Neto, que elogia Napoleão, e também segue suas concepções
obscuras sobre a ciência da linguagem.
Bagno (2015) é áspero afirmando que a Academia Brasileira de Letras não pode
ser considerado o “maior centro de cultivo da língua portuguesa no Brasil” tendo em vista
que é representada por um número reduzido de quarenta escritores e nem são verdadeiros
escritores.
O último capítulo é o mais importante de todos. Bagno (2015) apresenta uma série
de textos coletados entre 2012 e 2014 que vão ao encontro da proposta do autor acerca da
língua, preconceito e o papel dos meios de comunicação no Brasil. Para isso, o autor cita
questões do ENEM.
Portanto, vemos que o tema é aprofundado, porém, importante ser discutido e lido
em diversas áreas onde a linguagem se faz presente. É preciso refletir sobre os modos
midiáticos e como estes representam a língua portuguesa. Não precisamos menosprezar
nem ter atitudes preconceituosas em relação às formas diferentes de falar, pois, em se
tratando de língua, tudo é possível e justificável. Língua é viva e se transforma de acordo
com as necessidades dos falantes. Comportamentos preconceituosos devem ser
denunciados, seja em qualquer instância.
RESENHA 4
Resenha de “Ensaios de Filosofia da Linguística”, de José Borges Neto
O livro “Ensaios de filosofia da linguística”, de José Borges Neto, não trata de
problemas/análises linguísticas ou de filosofia da linguagem. O foco da obra não é a
linguagem, mas teorias que tratam da linguagem, ou seja, teorias linguísticas, daí a
expressão “filosofia da linguística”. O termo “ensaios”, do título, justifica-se, por sua vez,
por ser o trabalho uma coletânea de ensaios, que, como salienta o autor, foram já antes
apresentados. O livro divide-se em duas partes que contabilizam um total de oito
capítulos: “Questões gerais”, que engloba os cinco primeiros capítulos, e “Propostas
particulares”, que engloba os três últimos capítulos.
No primeiro capítulo, “Diálogo sobre as razões da diversidade teórica na
linguística”, o autor apresenta um diálogo imaginário, mas que faz referência a uma
situação muito concreta e recorrente em sala de aula: a perplexidade de muitos discentes
sobre o porquê de “tantas” teorias linguísticas. O professor, ponto de vista do autor,
argumenta que nem sempre a diversidade teórica implica teorias contrárias entre si;
muitas vezes, indica a existência teorias complementares. Apresenta também uma
questão vital para quem se decide a fazer ciência: a necessidade de desconfiança.
Já no segundo capítulo, “De que trata a linguística afinal?”, de imediato Borges
Neto, em parceria com Marcelo Dascal, trata do que se pode interpretar como objetivo e
objeto. Mais especificamente, os autores consideram que é ingênua a afirmação de que
“[...] a linguística é o estudo científico da linguagem humana” (p. 31) e questionam o que
se pode entender por “(fazer) ciência”, já que esse conceito não está imune à história. O
segundo ponto abordado são as noções de “objeto observacional” e “objeto teórico”: os
autores lembram que as teorias fazem recortes da realidade para assim estabelecer seu
objeto observacional, o que implica admitir “[...] que as divisões da ciência [não]
correspondem a divisões naturais da realidade” (p. 35). O objeto observacional usado
como exemplo é a negação, que, como mostram Borges Neto e Dascal, constitui-se em
objetos teóricos distintos para teorias/disciplinas distintas, tais como a gramática gerativa,
a pragmática e a semântica argumentativa. O capítulo apresenta também o tópico “As
opções de Chomsky”. Nesse tópico, é lembrada a insistência de Chomsky, como a de
Saussure, na homogeneidade da língua; porém, com um caráter psicologizante bem mais
enfático, o que acaba por trazer para o campo da Linguística questões diversas, a exemplo
da aquisição da linguagem e da centralidade das noções de princípios como
universalidade, sintaxe e competência. O antepenúltimo tópico, “A opção
‘interdisciplinar’”, traz para a cena a proposta de uma gramática da comunidade de fala
de Labov e propostas outras, como o funcionalismo de Halliday e o cognitivismo de
Lakoff, que assumem para a linguística um objeto heterogêneo de estudos. O penúltimo
tópico, “As ‘filiações’ da linguística”, resume a Linguística atual em três tendências: a
sistêmica, de Saussure, Hjelmslev e Bloomfield, entre outros; a psicologizante, que tem
Chomsky como representante principal; e a Sociologizante, de Labov e Ducrot, por
exemplo. No tópico de conclusões, ao mesmo tempo em que relembram a impossibilidade
de qualquer teoria abarcar toda a realidade, Borges Neto e Dascal enfatizam que as teorias
só conseguem dar conta de porções da realidade e que, desses recortes de realidade,
resulta o fato de cada teoria ter um objeto observacional diferente.
O terceiro capítulo, “O pluralismo teórico na linguística”, é um texto apresentado
no GEL de 1995 que foi inspirado numa apresentação de Carlos Franchi no GEL de 1994.
Aqui, outra vez, Borges Neto trata do pluralismo d(/n)os estudos linguísticos, mais
especificamente trata das convergências e divergências possíveis em tal pluralismo. O
autor questiona o motivo para a existência da diversidade teórica na Linguística e assume
que essa diversidade mais do que positiva é inevitável, pois “[...] a linguagem é um objeto
de tal complexidade que todos [sic.] as possibilidades de abordagem serão sempre
parciais [...]” (p. 68). Sendo toda abordagem sempre parcial, tem-se como acarretamento
a necessidade de se fazer um recorte de estudo, o que, por sua vez, implica sempre deixar
algo de fora do recorte feito. Noutros termos, qualquer que seja o esforço empreendido
na busca de estudos os mais completos possíveis, algo ficará de fora. Novamente, aqui
Borges Neto se volta a Saussure para se reconhecer que a ciência e as teorias/abordagens
científicas criam seu objeto de estudo, objeto este que não corresponde a um objeto
natural, mas a um objeto teórico. Borges Neto coloca em cena outro ponto crucial para o
cientista: a arbitrariedade da escolha, seja na escolha do objeto de investigação, seja na
escolha do recorte epistemológico.
“Formalismo x funcionalismo nos estudos linguísticos”, quarto capítulo do livro,
coloca em cena o que Borges Neto chama de versão linguística do dilema do ovo e da
galinha, dilema esse que se pode traduzir nas seguintes perguntas: “[...] a linguagem tem
a forma que tem porque é determinada por suas funções? Ou suas funções é que são
‘permitidas’ pela forma?” (p. 84). O autor coloca Roberto Camacho como um
representante do funcionalismo, perspectiva que assume “[...] que a linguagem seja vista
como um instrumento de interação social entre seres humanos [...]” (p. 85), e coloca
Chomsky como o “paladino” do formalismo, perspectiva que trata “[...] os fatos
linguísticos enquanto manifetações de um “objeto” autônomo, que preexiste a esses fatos
(seja como um objeto “mental”, como quer Chomsky; seja como um objeto “abstrato”,
de natureza matemática, como quer Montague) [...]” (p. 85). Borges Neto diz que não
quer que seu texto represente uma posição subjetivista e propõe o que chama de um
“experimento mental”, experimento esse que consiste em considerar a forma e a função
na genética e na antropologia social. Sua primeira conclusão é que a genética aceita
apenas a perspectiva formalista; sua segunda conclusão é que a antropologia social aceita
tanto a perspectiva formalista quanto a funcionalista.
O quinto capítulo, “Reflexões preliminares sobre o estruturalismo em linguística”,
retoma, numa longa citação de Deleuze, uma questão assaz interessante que, em
diferentes áreas e momentos da ciência, volta à tona: “O que é o estruturalismo?”. No
primeiro parágrafo propriamente seu, Borges Neto diz “Tarefa inglória a de querer
conceituar ‘estruturalismo’ [...]” (p. 96), frase mais de impacto do que de efeito, tanto que
o próprio autor segue em seu raciocínio e fala em conceitos como estruturalismo
americano, estruturalismo europeu e estruturalismo unificado.
O funcionalismo, o historicismo e tantas outras correntes teóricas, pode-se dizer,
são, em si mesmas, “exatamente” isso: “[...] um conjunto de teorias da linguagem humana
que compartilham, em maior ou menor grau, alguns pressupostos [...]” (p. 98). A partir,
porém, da abordagem sobre o estruturalismo europeu, o capítulo perde a vagueza
excessiva que até então se fazia presente. As abordagens, tanto sobre o estruturalismo
europeu – (pós- )saussureano –, por muitos considerado o “verdadeiro” estruturalismo,
quanto sobre o estruturalismo americano – (pós-)bloomfieldiano –, são deveras
interessantes; especialmente pelo enfoque no contexto dentro do qual nasce o
estruturalismo americano. Borges Neto passa, por isso, a considerar uma possibilidade de
existência de um estruturalismo (geral) dentro qual possam existir outros estruturalismos,
para isso lembra que Apresjan e Mattoso Camara Jr. colocam Chomsky no conjunto dos
estruturalistas. O capítulo chega ao seu ápice com a distinção entre linguística estrutural
estática e linguística estrutural dinâmica, proposta por Shaumyan, que insere os
bloomfieldianos na primeira linguística e os chomskyanos na segunda. Para “acalmar os
ânimos”, Borges Neto, muito adequadamente, afirma que “[...] as delimitações de
fronteiras e as periodizações [de teorias] são resultado de um trabalho sobre a ‘realidade’
[...] e, em consequência, não são imunes aos interesses e às perspectivas dos homens que
as propõem” (p. 115, grifo do autor, acréscimo meu).
A segunda parte do livro, Propostas particulares, inicia-se com o sexto capítulo:
“Linguística e história da ciência: o caso do nupe”. Esse capítulo foi escrito em parceria
com Sírio Possenti e aborda a abstração de formas fonológicas em dois trabalhos de
Hyman, da década de 1970, que se inserem no quadro do gerativismo (transformacional).
Ao fazer essa abordagem, os autores apresentam também críticas que o primeiro trabalho
Hyaman recebeu de Harms e como, no segundo trabalho, Hyman reconhece a validade
de críticas de Harms, mas continua fiel ao seu programa de trabalho.
O sétimo capítulo de “Ensaios de filosofia da linguística”, “Um novo modelo do
velho molde”, foi escrito em parceria com Marcelo Dascal e Edson Françozo. Esse
capítulo é uma análise de Lectures on language performance, obra de Charles Osgood,
que apresenta a proposta de uma Abstract performance grammar. Borges Neto, Dascal e
Françozo começam afirmando que “[...] um dos méritos do programa de pesquisa de
Osgood é o seu esforço em providenciar uma teoria psicolinguística compreensiva,
abrangendo não só a aquisição da linguagem, mas também todos os aspectos do
desempenho linguístico adulto [...]” (p. 156).
O oitavo e último capítulo do livro de Borges Neto, “A incomensurabilidade e a
‘compatibilização’ de teorias”, coloca em cena mais uma vez a “proliferação” teórica na
Linguística. O autor começa evocando uma apresentação, da SBPC de 1988, na qual
Rajagopalan critica a proliferação teórica e propõe uma unificação teórica com vistas a
um suposto fortalecimento/reconhecimento do trabalho na área de Linguística. Borges
Neto argumenta que para uma possível unificação ou complementaridade teórica é
necessário não existir incomensurabilidade, mas sim compatibilidade.
Em termos de crítica geral, o livro “Ensaios de filosofia da linguística”, de José
Borges Neto, apresenta textos que podem ajudar muito o professor e pesquisador a
“suavisar” o caminho de dúvidas, perplexidades e angústias que discentes dos cursos de
Letras e Linguística, tanto em nível de graduação como de pós-graduação, sentem ao se
depararem com o grande arsenal de limitadas e limitadoras teorias/abordagens
linguísticas. A linguagem do livro é acessível; alguns textos, porém, apresentam trechos
de difícil compreensão, mas a ciência, mesmo buscando ser explicativa, nem sempre é
clara. No que tange a procedimentos lexicais, o livro apresenta o inconveniente de não
traduzir alguns termos, ou ao menos apresentar uma tradução possível, já que um termo
ou sua tradução pode ter significados distintos de acordo com o contexto teórico, como é
o caso de overlapings, na segunda linha do último parágrafo da página 46, e langue, na
primeira linha do penúltimo parágrafo da página 53.
Quanto à leitura, um cuidado é preciso: o leitor deve situar cada capítulo
temporalmente, pois embora o livro tenha sido publicado em 2004, todos os textos nele
presentes são do século passado. Obviamente, não se trata de uma insinuação de que
textos que não são muito recentes não devam ser lidos; pelo contrário, os textos clássicos
só se tornam clássicos porque sua vitalidade resiste ao tempo. A sugestão de localização
temporal é unicamente didática, para que o leitor não corra o risco de, ao ler, por exemplo,
o capítulo sétimo, supor que o paralelo que se faz entre a teoria de Osgood e o gerativismo
refere-se ao gerativismo (pós-)minimalista.
Com esta resenha crítica do livro de Borges Neto, fica registrado o nosso interesse
e respeito por seu trabalho, pois, como diz o próprio Borges, “Todo trabalho vem ao
mundo para ser criticado. Respeitá-lo, então, é submetê-lo ao crivo da mais severa crítica”
(p. 82). Erros de interpretação são, vale frisar, de minha inteira responsabilidade.

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