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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

unesp “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” – CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

APOSTILA

Conceito e Fundamentos de Medições e Instrumentação Aplicados à Engenharia

Disciplina – 0948 Instrumentação Mecânica

Prof. Dr. João Antonio PEREIRA


Departamento de Engenharia Mecânica
Av. Brasil no 56,

– Ilha Solteira – SP
2014
Conceito e Fundamentos de Medições e Instrumentação Aplicadas à Engenharia

Conteúdo

1. APLICAÇÕES DOS INSTRUMENTOS DE MEDIÇÕES............................................... 3


1.1. Monitoramento Processos E Operação ........................................................................ 3
1.2. Controle de Processo e Operação ................................................................................. 3
1.3. Análise Experimental em Engenharia .......................................................................... 4
1.4. Discussão...................................................................................................................... 7
2. CONFIGURAÇÃO e DESCRIÇÃO FUNCIONAL DOS INSTRUMENTOS DE
MEDIÇÕES ............................................................................................................................... 9
2.1. Elementos Funcionais de Um Instrumento ................................................................. 9
2.2. Transdutores Passivos e Ativos: ................................................................................ 13
2.3. Modos de Operação ................................................................................................... 15
2.4. Método da Deflexão e Método do Anulamento ........................................................ 17
2.5. Configurações Generalizadas de Entrada-Saída dos Instrumentos de Medições ...... 19
2.6. Comentários .............................................................................................................. 32
3. CARACTERÍSTICAS GENERALIZADAS E DESEMPENHO DOS INSTRUMENTOS
DE MEDIDAS ......................................................................................................................... 34
3.1. Características Estáticas dos Instrumentos ................................................................. 35
3.2. Calibração de um Dinamômetro De Mola Para Uma Faixa Específica De Pressão .. 62
3.3. Utilização da Distribuição t tara Estimativa da Incerteza dos Equipamentos. .......... 68
3.4. Outras Formas de Especificação dos Limites de Erros dos Instrumentos ................. 72
3.5. Definição dos Principais Termos Usados na Calibração Estática ............................. 74
4. EFEITO CARGA (IMPEDÂNCIA DE ENTRADA/RIGIDEZ ESTÁTICA) ................ 81
4.1. Impedância ................................................................................................................. 82
4.2. Admitância ................................................................................................................. 84
4.3. Rigidez Estática .......................................................................................................... 85
4.4. Compliância Estática .................................................................................................. 89
5. REFERÊNCIAS………………………………………………………………………….92

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Conceito e Fundamentos de Medições e Instrumentação Aplicadas à Engenharia

INTRODUÇÃO

Neste texto são apresentados os conceitos e a fundamentação básica de


Instrumentação, com foco na utilização, projeto e desenvolvimento de Instrumentos de
Medições de Grandezas Mecânicas. O texto será utilizado como material de apoio da disciplina
Instrumentação Mecânica, ministrada no 3º ano do Curso de Engenharia Mecânica, da
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira. Ressalta-se que o texto não dispensa a consulta a
outras obras relacionadas com os tópicos abordados ao longo do curso e que o mesmo foi
elaborado com o intuito maior de reunir e sistematizar os vários tópicos da disciplina, em um
documento único, de forma que os mesmos fossem abordados e ordenados, segundo a
sequência didática adotada ao longo do Curso.
O material busca fornecer ao leitor uma visão geral das várias etapas envolvidas em
um Sistema de Medição. São discutidos os conceitos e princípios teóricos que norteiam, tanto a
escolha adequada, como o uso correto dos instrumentos nos diversos setores da engenharia,
incluindo, a especificação, a calibração e operação, bem como o desenvolvimento de novos
instrumentos.
Os vários tópicos abordados têm em comum o fato de serem ferramentas necessárias à
formação de profissionais na área de Medições de Grandezas Mecânicas, que buscam atuar na
Indústria, em atividades de Pesquisa ou na Prestação de Serviços.
Inicialmente são discutidos, no capitulo 1, os principais tipos de aplicações dos
instrumentos de medições.Em seguida, no capítulo 2, os instrumentos são abordados em termos
dos seus elementos funcionais, tipos e modos de operação, incluindo uma discussão a respeito
dos vários tipos de entradas.
No capítulo 3, as características de desempenho dos instrumentos são discutidas a
partir da calibração estática, apresentando-se a definição dos principais termos utilizados em
medições, bem como uma avaliação da exatidão do instrumento, a qual é feita a partir dos erros
de precisão (imprecisão) e erros sistemáticos. No capítulo 4 é discutido o problema do Efeito
Carga devido a eventual interferência do instrumento no meio ou de um instrumento no outro,
quando um ou mais instrumentos estão conectados numa cadeia de medição.
Finalmente, ressalta-se que não foi pretensão do autor desenvolver um trabalho
original e que vários conceitos descritos aqui podem ser encontrados nas obras referenciadas.
Algumas figuras são cópias reproduzidas dos textos utilizados, mais especificamente do livro
Measurement Systems Application and Design do professor Enerst Doebelin.

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1. APLICAÇÕES DOS INSTRUMENTOS DE MEDIÇÕES

Para se fazer um estudo detalhado dos instrumentos de medidas e das suas características de
operação é conveniente primeiro discutir onde e como o instrumento será usado. De acordo
com o tipo de aplicação, os mesmos podem ser classificados (outras classificações existem)
como instrumentos para:
- Monitoramento de processo e operação;
- Controle de processo e operação;
- Análise experimental em engenharia.

1.1 - MONITORAMENTO DE PROCESSOS E OPERAÇÃO

Certos tipos de aplicações podem ser classificados como tendo essencialmente uma função
de monitoramento não tendo nenhuma função de controle na acepção do termo. Os
instrumentos usados para tal são classificados como instrumentos de monitoramento de
processos e operações. O termômetro, o barômetro e o anemômetro usados numa estação de
Meteorologia têm essa função. Eles simplesmente indicam as condições do ambiente, e suas
leituras não servem para nenhuma função de controle no sentido estrito da palavra.
Similarmente, medidores de água, de gás e de eletricidade operam como monitoramento de
determinadas variáveis visto que eles apenas informam a quantidade de consumo de
comodidade para que, posteriormente, seja calculado o custo das mesmas. A luz de óleo no
painel do carro serve para monitorar a pressão no motor, de forma que o motorista pode
acompanhar as condições de funcionamento do mesmo. Alguns exemplos típicos de
instrumentos utilizados para monitoramento incluem: Termômetro, Anemômetro, Hodômetro,
Medidor de água residencial e outros.

1.2 - CONTROLE DE PROCESSO E OPERAÇÃO

Neste tipo de aplicação, o instrumento de medição caracteriza-se pela função de


controle, conforme mostrado esquematicamente na Fig. 1.1. Neste caso, o funcionamento do
sistema de controle em malha fechada pode ser sintetizado utilizando um diagrama de blocos
funcionais para ilustrar a operação de cada componente do sistema. Claramente conclui-se que,

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para controlar o processo é necessário medir a variável de interesse no processo. Deste modo,
todos os sistemas de controle devem incorporar pelo menos um instrumento de medição.

Figura 1.1 - Sistema de controle em malha fechada.

Exemplos de utilização dos instrumentos para aplicações de controle são infinitos. Um


exemplo bastante familiar é ocorre na geladeira em que o termostato atua como “elemento de
decisão”. Neste caso, simplificadamente, um instrumento de medida de temperatura detecta a
variação de temperatura interna da geladeira e esse valor é comparado com o valor predefino e
o sistema de controle que irá acionar ou não o motor.
Similarmente, podem ser citados os sensores do sistema de injeção eletrônica dos
automóveis, sensores das chamadas suspensões inteligentes dos carros de corrida, entre outros.
Entre alguns exemplos mais simples de instrumentos de controles podem ser citados: o fusível,
a “cebolinha” do motor, a boia da caixa d’água e etc. Exemplos mais sofisticados são
encontrados, por exemplo, na aviação em que o sistema de controle requer informações de
vários instrumentos de medida para controlar a aeronave, tais como: pitot estático, sensor de
angulo de ataque, acelerômetros, giroscópios, entre outros.

1.3 - ANÁLISE EXPERIMENTAL EM ENGENHARIA

Na solução dos problemas de engenharia, existem basicamente duas abordagens para


tratar o problema, i.e., o enfoque teórico (análise teórica) ou o enfoque experimental (análise
experimental). Alguns problemas em específicos requerem a utilização, de forma
complementar, de ambos os métodos.
A opção por um método ou outro, depende do problema em específico, pois cada
método tem suas vantagens/desvantagens. Problemas de fronteira, por exemplo, requerem um
extensivo estudo experimental uma vez que não existe uma teoria adequada para sua solução.

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Já para os problemas mais comuns, existem teorias muito bem definidas (consolidadas) e o
problema pode ser convenientemente atacada utilizando a abordagem teórica.
A escolha de uma ou de outra abordagem depende basicamente de cada situação, mas,
um bom engenheiro deve sempre lembrar que esses dois métodos são complementares. Aqueles
que levarem esse fato em consideração efetivamente resolverão os problemas de forma mais
adequada do que aqueles que negligenciarem um ou outro método na solução dos problemas.
As Figs. 1.2 e 1.3 mostram resumidamente algumas das características da abordagem
teórica e experimental respectivamente.

1. Geralmente fornecem resultados que são de uso geral, ao invés de uma aplicação especifica;
2. Invariavelmente requer suposições simplificadoras. Desta forma, não é possível representar o
sistema físico real, mas sim obter um “modelo aproximado” do sistema em estudo. Isso
significa que o comportamento teoricamente previsto vai apresentar diferenças em relação ao
sistema real;
3. Em alguns casos, cai-se em problemas matemáticos complicadíssimos. Isto no passado tornava
inviável o tratamento teórico de alguns problemas. No entanto, com o surgimento e melhorias
das máquinas e equipamentos computacionais (aumento da velocidade de processamento)
problemas que não eram resolvidos no passado são perfeitamente tratáveis nos dias atuais;
4. Requer apenas lápis, papel, computador e conhecimento;
5. Não existe perda de tempo na criação/confecção de modelos, montagem, checagem de
instrumentação e coleta de dados.
Figura 1.2 – Características dos Métodos Teóricos

1. Fornecem resultados limitados àquela aplicação em específico. No entanto, algumas técnicas


permitem algumas generalizações (análise adimensional);
2. Não existe necessidade de hipóteses simplificadoras. Os resultados revelam o verdadeiro
comportamento do sistema;
3. Requer medidas exatas para fornecer um quadro verdadeiro. Isto geralmente requer
equipamentos complexos e caros. Neste caso, todas as características dos equipamentos e
armazenamento de dados devem ser conhecidas;
4. Requer o sistema real ou um modelo em escala. No caso do modelo em escala deve ser
preservada a similaridade das características significativas;
5. Existe um considerável gasto de tempo para projetar, construir, montar e checar todo o aparato
de medição.
Figura 1.3 – Características dos Métodos Experimentais

Um aspecto importante a ser observado com relação ao tipos de aplicação dos


instrumentos é que, dependendo do ponto de vista, pode ser que não fique muito clara a
distinção entre os vários tipos de aplicação, se é monitoramento, controle ou análise
experimental de Engenharia.

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A aplicação de um instrumento, dependendo do ponto de vista da análise, pode possuir
uma função de monitoramento, de controle ou de análise de Engenharia. Por exemplo: os
instrumentos usados para obter os dados climatológicos, obtidos em um Centro de
Meteorologia, para a maioria das pessoas têm uma função de monitoramento, ou seja, fornecem
apenas informação das condições do tempo.
Para um produtor de frutas, os dados climatológicos podem ter uma outra função, visto
que as informações da mudança de tempo (queda acentuada de temperatura) significam dano às
plantações e o produtor pode assim tomar medidas pro exemplo contra o efeito de baixas
temperaturas (geada), o que caracteriza uma função de controle.
Já para Centro de Meteorologia esse dados (informações climatológicas) podem ser
coletados e armazenados durante um período mais longo, tendo em vista formar uma “base de
dados” para estudos de predição e previsão do tempo. Neste caso, os instrumentos estão
fornecendo dados para uma análise de engenharia.

Alguns problemas típicos de engenharia

Considerando a aplicação dos instrumentos de medida para os problemas de análise


experimental em engenharia, é conveniente ter em mãos uma classificação dos principais tipos
de problemas encontrados. Uma classificação razoável, sugerida por Doebelin (livro texto), é
apresentada na figura 1.4.

1. Testar a validade de predições teóricas baseadas em hipóteses simplificadoras; melhoria de uma


teoria com base no comportamento medido;
Exemplo: Testes experimentais (resposta em freqüência) de uma estrutura mecânica para caracterização
das suas frequências de ressonância.

2. Formulação de relações empíricas generalizadas em situação que não existe uma teoria suficiente
desenvolvida;
Exemplo: Determinar o fator de atrito para tubos para escoamento turbulento.

3. Caracterização de material; determinação de componentes e parâmetros de um sistema; determinação


de variáveis e índice de desempenho.
Exemplos: Determinar o ponto de escoamento de uma dada liga de aço; curva torque/velocidade de um
novo motor; eficiência térmica de uma nova configuração de turbina térmica.

4. Estudo de um fenômeno físico com o intuito de desenvolver uma teoria.


Exemplo: Microscopia eletrônica para estudo de trincas na fadiga dos metais.

5. Solução de equações matemáticas por analogia.


Exemplo: Solução do problema de torção de eixos a partir de analogia (medições) com a bolha de sabão.
Figura 1.4 – Tipos de problemas envolvendo análise experimental de engenharia.

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1.4 - DISCUSSÃO

Qualquer que seja a natureza da aplicação, uma seleção adequada de uso dos
instrumentos de medida visando atender uma tarefa em particular, depende tanto do
conhecimento dos instrumentos disponíveis como da análise de desempenho dos mesmos.
Novos equipamentos continuam sendo desenvolvidos a cada dia, mas há certos equipamentos
básicos que têm provado sua aplicação em muitas áreas e têm sido usados ao longo dos anos.
Uma boa parte desses equipamentos será discutida neste texto.
Estes equipamentos básicos são de grande interesse e também servem como veículo de
apresentação e desenvolvimento de técnicas e conceitos gerais para tratar os principais
problemas de instrumentação. Estes conceitos básicos são de grande utilidade no tratamento e
aperfeiçoamento dos equipamentos atuais, bem como, de equipamentos que venham a ser
desenvolvidos no futuro.
É importante que esses conhecimentos sejam de tal nível que não sirva apenas para o
usuário, mas também para o projetista de instrumentos de medida. Há duas principais razões
para essa ênfase: uma é que muitos equipamentos experimentais de medição são muitas vezes
“feitos à mão”, especialmente em pequenas indústrias onde o alto custo de equipamentos
especializados não é justificado. A outra razão é que a indústria de instrumentação é ampla e
vem crescendo, demandando muitos engenheiros com capacidade não só para operar, mas
também projetar e desenvolver novos equipamentos.
O desenvolvimento no setor de projeto de máquinas e equipamentos mecânicos/elétricos
envolve uso e aplicação de técnicas e conceitos que também são aplicadas no setor
instrumentação. Entretanto, naquele primeiro setor, a aplicação é voltada principalmente para
questão de potência e eficiência, enquanto que no projeto de instrumentos de medição, esse
aspecto é quase completamente desprezado. No projeto de instrumentação, o foco é a aquisição
e manipulação de informações com exatidão.
Portanto, considerando-se que um significante número de engenheiros graduados irá
trabalhar em indústrias de instrumentação, é importante que a formação desses profissionais
inclua o tratamento dos aspectos e conceitos mais significativos desta área.

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COMENTÁRIOS:

- Não existe um instrumento de medida adequado para todos os tipos de medições;


- Novos equipamentos estão surgindo, no entanto, alguns equipamentos são
"antiguíssimos" e vão ainda continuar a serem usados como são;
- A discussão e conhecimento dos instrumentos e das suas principais características
de desempenho podem fornecer subsídios para melhorar o projeto do instrumento
ou criar novos instrumentos.

1a LISTA DE EXERCÍCIOS

1.1 Consultar revistas técnicas ou Anais de congresso na biblioteca, a respeito de


estudos experimentais executados por engenheiros ou cientistas. Escolher dois
artigos, referenciá-los completamente, explicar brevemente a proposta dos mesmos
e, finalmente, tentar classificá-los em uma ou mais categorias discutidas na figura
1.4.

1.2 Comparar e contrastar o enfoque teórico e experimental para os seguintes


problemas:
a.) Qual o nível de vibração tolerado por um astronauta no lançamento de uma
nave?
b.) No lançamento de um projétil, qual deve ser o ângulo de lançamento (com a
horizontal) para se conseguir o maior alcance?

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2. CONFIGURAÇÃO e DESCRIÇÃO FUNCIONAL


DOS INSTRUMENTOS DE MEDIÇÕES

2.1 – ELEMENTOS FUNCIONAIS DE UM INSTRUMENTO MEDIÇÃO

Para a compreensão do funcionamento e a utilização confiável de um sistema de


medição, é desejável se conhecer corretamente o processo de operação e o desempenho
(performance) de cada instrumento utilizado na cadeia de medição.
A operação de um instrumento, de forma genérica, pode ser descrita a partir dos
elementos funcionais do instrumento. Já o desempenho do instrumento dever definido em
termos das suas características Estáticas e Dinâmicas, como será discutido posteriormente, no
capítulo 3. Neste capitulo, a descrição da operação dos instrumentos será descrita em termos
dos elementos funcionais (não confundir com elementos físicos) do equipamento.
Um exame mais detalhado da operação dos diversos instrumentos, tendo em vista a
generalização das suas características funcionais mostra que os mesmos apresentam vários
elementos, denominados elementos funcionais, cuja função é bastante similar, ou seja, eles
possuem elementos que trabalham a informação medida (variável medida) de maneira
semelhante. Isto permite “quebrar” o instrumento em blocos de elementos funcionais e avaliar
o seu comportamento em termos dos respectivos blocos funcionais.
Neste caso, é possível subdividir o instrumento em alguns tipos específicos de
elementos que são separados de acordo com a sua respectiva função no instrumento. Estes
elementos são chamados de elementos funcionais do instrumento. A figura 2.1 mostra os
principais elementos funcionais encontrados em instrumentos de medida.

Meio de Elemento Elemento de Elemento de Elemento de Elemento de


sensitivo conversão manipulação transmissão apresentação Observador
Medida primário de variável de variável de dados de dados

Elemento de
armazenamento
de dados

Figura 2.1 – Elementos funcionais de um sistema de medição

Evidentemente, esta classificação é apenas funcional, não física, e a sequência dos


elementos funcionais não necessariamente é a mesma para cada instrumento. A Figura 2.1

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mostra um possível arranjo dos elementos funcionais de um instrumento, sendo que estão
incluídas todas as funções básicas consideradas necessárias para descrição da operação de
qualquer tipo de instrumento.
O elemento sensitivo primário é aquele que primeiramente recebe a energia do meio
medido e produz uma saída que, de alguma maneira, depende da quantidade a ser medida
(entrada). É importante notar que um instrumento em contato com o meio de medida, sempre
extrai alguma energia desse meio. Assim vai existir alguma perturbação na quantidade que esta
sendo medida ocasionada pelo ato de medição. Isso, teoricamente, torna impossível uma
medida perfeita. Bons instrumentos são projetados para minimizar este efeito, mas sempre
existe algum grau de perturbação como será discutido no capítulo 4.
O sinal de saída do elemento sensitivo primário é uma variável física que pode ser um
deslocamento, uma tensão ou outra variável qualquer. Para que o instrumento execute a função
proposta em alguns casos pode ser necessário converter a variável física de entrada em uma
outra variável mais apropriada, mas preservando o seu conteúdo de informação (sinal original).
Um elemento que execute tal função é chamado elemento de conversão de variável. Deve-
se notar que não necessariamente todos os instrumentos incluem um elemento de conversão de
variável, mas podem existir alguns instrumentos que requerem diversos elementos de
conversão. Como ressaltado anteriormente, tais "elementos" são funcionais e não elementos
físicos.
A Fig. 2.1 mostra os elementos funcionais de um instrumento separado por blocos
funcionais, o que pode levar a interpretação de que cada bloco representaria um elemento físico
do instrumento. Isto não é verdade, já que os elementos são apenas separados de acordo com a
função especifica que cada um executa. Por exemplo, um único componente físico pode
executar mais de uma função e, desse modo, ele poderia ser um elemento sensitivo primário e
um elemento de conversão de variável.
Para executar uma determinada função, muitas vezes um instrumento necessita que a
informação (entrada) representada por uma dada variável física, seja manipulada de alguma
maneira. Pela manipulação, aqui se entende como uma mudança no valor numérico da
variável, sendo isso feito de acordo com alguma regra definida em que a natureza física da
variável é preservada.

Um exemplo típico é o amplificador eletrônico que recebe um sinal de tensão de entrada


muito pequeno e amplifica este sinal, produzindo um sinal de saída que também é um sinal de

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tensão, entretanto, muitas vezes maior do que o valor do sinal da entrada. Um elemento que
execute tal função é chamado de elemento de manipulação de variáveis.
Um elemento de manipulação de variáveis não segue necessariamente um elemento de
conversão de variáveis conforme na Fig. 2.1, mas pode precedê-lo, pode aparecer em outra
parte na cadeia de medição ou então não aparecer.
Nos casos em que os elementos funcionais do instrumento realmente são separados
fisicamente, torna-se necessário transmitir os dados de um elemento para o outro. Um
elemento que executa esta função é chamado um elemento de transmissão de dados.
Esse elemento pode ser tão simples quanto um conjunto do eixo/rolamento ou tão
complicado quanto um sistema da telemetria para transmitir sinais de satélites para
equipamento de terra via rádio. Os elementos mais comuns de transmissão de dados são os
cabos (fios).
Se a informação sobre a quantidade medida deve ser passada para o operador, para que
o mesmo possa usá-la no Monitoramento, Controle ou numa Análise de Engenhara, tal
informação deve ser colocada numa forma facilmente reconhecida por um dos nossos sentidos.
Um elemento que execute esta função é chamado um elemento de apresentação de
dados, que pode ser simplemente um ponteiro movendo-se em uma escala, o registro de uma
pena no papel (registrador gráfico) ou um display. Essa indicação pode ser executada em
incrementos discretos ao invés de variações suaves.
Na maioria dos instrumentos a comunica com o homem é através do sentido visual,
entretanto também é possível o uso de outros sentidos tais como a audição e o tato. Embora o
armazenamento de dados na forma de registros de tinta/caneta seja muito empregado,
frequentemente, algumas aplicações requerem uma função de armazenamento/reprodução de
dados distinta, que possa facilmente reproduzir os dados armazenados através de um dado
comando.
Um exemplo clássico é o armazenamento/reprodução em fita magnética, muito utilizado
no passado. Mais recentemente os instrumentos digitalizam os sinais elétricos e então
armazenam os dados na forma digital, utilizando memória computacional.

COMENTÁRIOS
Reafirmando a observação feita no início deste tópico, é enfatizado que a
Figura 2.1 é utilizada como um meio de apresentar o conceito de elementos
funcionais, e não como um diagrama físico esquemático de um instrumento. Um
dado instrumento pode envolver as funções básicas apresentadas em diferentes
números e combinações e elas não necessitam aparecer na ordem da Fig. 2.1. Um

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dado componente físico pode ainda ter diversas funções. Em qualquer caso, a
definição de nomes específicos para cada componente não é tão importante como a
identificação das funções básicas que cada elemento executa para que ocorra a
operação adequada. É conveniente notar que a observação dos elementos funcionais
e dos vários componentes físicos capazes de realizar essas funções permite o
analista desenvolver novas habilidades, no sentido de propor e desenvolver outras
combinações para se obter novos instrumentos. Esta versatilidade do projetista é
fundamental no projeto e desenvolvimento de um instrumento.

Para uma melhor ilustração dos conceitos discutidos, considere o medidor de pressão
ilustrado na Fig. 2.2. O medidor é um instrumento bastante rudimentar, como pode ser
observado, que fornece as informações da medida de pressão através do deslocamento angular
de um ponteiro. Uma possível interpretação dos elementos funcionais é apresentada a seguir.
Neste caso, o pistão é o elemento sensitivo primário que também funciona como um
elemento de conversão de variável, uma vez que ele, além de sentir o efeito da variável pressão
também converte essa pressão em uma força resultante atuando na superfície do pistão. A força
é transmitida pela haste do pistão até a mola, que converte essa força em um deslocamento
proporcional.
Este deslocamento da haste do pistão é ampliado (manipulado) pelo sistema de
articulação para produzir um deslocamento maior do ponteiro. O ponteiro e a escala indicam a
pressão, ou seja, formam um elemento de apresentação dos dados.

fluido pistão haste mola articulação ponteiro/escala

p Elemento Elemento de f Elemento de f Elemento de d Elemento de d Elemento de


Meio de sensitivo conversão conversão manipulação apresentação Observador
Medida transmissão
primário de variável de dados de variável de variável de dados

Figura 2.2 – Elementos funcionais de um Medidor de Pressão

A Fig. 2.3 descreve a operação de um termômetro. Neste caso, o líquido do bulbo age
como um elemento sensitivo primário (sensor) e também como um elemento de conversão de
variável, visto que a mudança de temperatura leva a uma mudança da pressão dentro do bulbo
devido a expansão térmica do líquido do bulbo. Esta pressão é sentida através do tubo pelo

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medidor de pressão do tipo tubo de Bourdon, que converte a variação de pressão em
deslocamento. Este deslocamento é manipulado por um sistema de articulação e engrenagem
que visa produzir um movimento maior do ponteiro. A escala e o ponteiro servem novamente
para a apresentação dos dados.

Tubo de
Bourdon

tubo de Articulação/
fluido bulbo tubo engrenagem ponteiro/escala
Bourdon

T Elemento Elemento de p Elemento de


p Elemento de d Elemento de d Elemento de
Meio de
Medida sensitivo conversão transmissão conversão manipulação apresentação Observador
primário de variável de dados de variável de variável de dados

Figura 2.3 – Elementos funcionais de um Termômetro de Pressão

2.2 – TRANSDUTORES PASSIVOS E ATIVOS

Na realização de uma medição, existem dadas funções básicas indicadas na Fig. 2.1
que são comuns na maioria dos instrumentos. Desta forma, é conveniente generalizar, quando
possível, de que maneira essa funções são realizadas.
Uma generalização bastante aceita na comunidade de medições é a separação dessas
funções de acordo com as considerações de energia envolvida. Um componente físico que
realiza uma das funções discutidas na Fig. 2.1 pode ser definido como um transdutor passivo ou
um transdutor ativo, dependendo das considerações de energia envolvida.
Na literatura técnica, o termo transdutor é usado para aqueles componentes que envolvem
uma conversão de energia, por exemplo, mecânica para elétrica. Entretanto, aqui não será feita
nenhuma restrição quanto a isso e o sinal de saída pode envolver o mesmo tipo de energia do
sinal de entrada, por exemplo, energia mecânica ou elétrica.

a) Transdutores passivos
São considerados como transdutores passivos aqueles componentes em que a energia do
sinal de saída (output) é fornecida exclusivamente pelo sinal de entrada (input).

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Exemplos típicos: acelerômetro piezelétrico, termômetro de bulbo e etc.

b) Transdutores ativos
São considerados transdutores ativos aqueles em que o sinal de saída (output) tem
grande maioria parte ergia suprida por uma fonte auxiliar. Apenas uma pequena parte da
energia do sinal de saída vem do sinal de entrada (input).
Exemplos típicos: amplificadores e condicionadores de sinais.

O amplificador eletrônico ilustrado na Fig. 2.4 é um exemplo típico desse tipo de


transdutor. Neste caso, o elemento (meio) que supre a voltagem de entrada ei necessita fornecer
somente uma quantidade insignificante de potência, visto que quase nenhuma corrente é
drenada (extraída) do sistema, devido à corrente insignificante e a elevada resistência Rg nesta
porta. Entretanto, o elemento da saída (a carga, resistência RL) recebe uma significativa
corrente/tensão e, consequentemente, uma alta potência. Essa potência deve ser fornecida pela
bateria Ebb, ou seja, uma fonte auxiliar. Assim o sinal de entrada ei controla a saída eo, mas não
supre a potência de saída do sinal.

Figura 2.4 – Amplificador Eletrônico.

Um outro transdutor ativo de grande importância prática é o instrumento de servo


mecanismo mostrado, de forma simplificada, na Fig. 2.7. Este é um instrumento formado por
alguns componentes, dos quais alguns podem ser considerados como transdutores passivos e
outros como transdutores ativos, por si só. Entretanto, quando se considera o equipamento
como um todo, a sua voltagem de entrada ei e o deslocamento de saída xo, ele atende a
definição de um transdutor ativo e deve ser tratado como tal.
A finalidade deste dispositivo é fazer com que o movimento xo siga as variações da
tensão de maneira proporcional. Desde que o torque do motor é proporcional a diferença de
tensão ee, está claro que o sistema permanece em repouso somente se a tensão ee for zero.

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Isto ocorre somente quando ei = esl, uma vez que esl é proporcional a xo, isto significa
que xo deve ser proporcional a ei para o caso estático. Se ei variar, xo tenderá a segui-lo, e é
possível fazer xo seguir ei pelas próprias condições de projeto.

Figura 2.5 – Instrumento de Servo-Mecanismo. (Doebelin)

Em ambos os exemplos das Figs. 2.2 e 2.3 só existem transdutores passivos, já no


exemplo da Fig. 2.5 existem componentes ativos (motor) e passivos (sistema cremalheira). No
entanto, por definição, se existir pelo menos um elemento ativo o instrumento é considerado
como um transdutor ativo.

2.3 – MODOS DE OPERAÇÃO

Os instrumentos de medidas, de acordo com a natureza do sinal de saída medido


(leitura), podem ser classificados em instrumentos analógicos e instrumentos digitais.

Instrumentos analógicos  o sinal de leitura, obtido nestes instrumentos, varia de forma


contínua, assumindo valores infinitesimais em uma dada faixa de operação – sinal analógico.

A maioria dos elementos sensitivos primários é do tipo analógico. Um exemplo típico


é o medidor de pressão da Fig. 2.2. Nesse medidor, conforme o valor de entrada muda, o
ponteiro se move de forma contínua (um número infinito de posições na faixa de operação).

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Apesar disso, o número de posições distintas que o olho pode observar é limitado
(número finito) e depende do tamanho da escala e de quanto ela é refinada (subdivisões).

Instrumentos digitais  o sinal obtido nestes instrumentos varia de forma discreta assumindo
valores finitos em uma dada faixa de operação – sinal digital.

Nos sinais analógicos, o valor de uma quantidade (tensão, ângulo da rotação, etc..)
carrega todas as informações. Enquanto no caso digital carrega uma quantidade especifica de
informações, o sinal (digital) é de natureza binária (on/off) e a alteração do valor numérico esta
associada com uma mudança do estado lógico (falso/verdadeiro) de alguma combinação de
switches ( liga/ desliga).
Por exemplo, em um sistema eletrônico digital típico, qualquer tensão numa faixa de +2
a +5 V, produz um estado on, enquanto sinais de 0 a +0,8 V corresponderem a estado off.
Neste caso, pode se dizer que não é importante se a tensão é 3 ou 4 V, nenhuma consequência
vai ser notada pelo sistema e o mesmo resultado é produzido, ou seja, o sistema é bastante
tolerante a componentes espúrias (ruído) de tensão, o que pode contaminar a informação do
sinal. No caso de um valor representado digitalmente por 5,763, o dígito menos significativo
(dígito 3) é dado por um sinal on/off de mesmo tamanho (quantidade) do que o dígito mais
significativo (dígito 5). Assim, nos equipamentos totalmente digitais, como por exemplo, o
computador digital, não há nenhum limite quanto ao número de dígitos que podem ser
utilizados como números exatos; a definição desses números é justificada pela particular
aplicação que se deseja. Quando sistemas analógico e digital são combinados (em sistemas de
medições, isso é muito frequente) a parte digital não limita a exatidão do sistema. A limitação
do sistema analógico-digital geralmente está associada com a parte analógica, ou com o próprio
dispositivo de conversão analógico-digital.
Como afirmado anteriormente, a maioria dos elementos sensitivos primários é do tipo
analógico. Por outro lado, o dispositivo ilustrado na Fig. 2.6 é do tipo digital. Neste
instrumento, pode ser claramente observado que não é possível obter uma indicação de 0,79 da
rotação; ele mede somente variações de 1 em 1 rotação.

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Figura 2.6 – Contador digital de rotações (Doebelin).

A importância de instrumentos digitais tem aumentando muito, principalmente em razão


da grande difusão do uso de computadores digitais nos sistemas de redução de dados e controle
automático de sistemas. Uma vez que o computador digital trabalha somente com sinais
digitais, toda a informação fornecida a ele deve estar no formato digital. A saída do
computador também é no formato digital, assim toda a comunicação com o computador
(entrada ou saída) deve ser tratada como um sinal digital.
Uma vez que a maioria dos instrumentos e aparatos de medição e controle são de
natureza analógica, então é necessário ter um conversor analógico para digital (na entrada ao
computador) e um conversor digital para analógico (na saída do computador).
Esses dispositivos servem como "tradutores" que permitem o computador se comunicar
com o mundo exterior, que geralmente é de natureza analógica. Os dispositivos (placas de
conversão A/D e D/A) de conversão de analógico para digital (A/D) e digital para analógico
(D/A) serão discutidos no tópico "Introdução ao Processamento e Análise de Sinais".

2.4 –PRINCIPIO DA DEFLEXÃO E ANULAMENTO

Os instrumentos de medição, de acordo com a forma de operação, podem ser


separados basicamente em instrumentos que operam pelo princípio da deflexão e instrumentos
que operam pelo princípio do anulamento.

Método da deflexão  Neste caso a quantidade a ser medida produz um efeito físico no
sistema. Tal efeito provoca um efeito similar, em sentido oposto, no instrumento. Este efeito
oposto é relacionado com alguma variável (normalmente deslocamento mecânico) que em geral
pode ser observada diretamente pelos sentidos humanos. Este efeito oposto varia até atingir o

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equilíbrio. Neste ponto, é feita a leitura (medida) da deflexão sofrida pelo instrumento, que vai
fornecer o valor da quantidade de interesse.

A Fig. 2.7 mostra um exemplo típico de instrumento que opera pelo método da
deflexão.

Figura 2.7 – Medidor de pressão por deslocamento (Doebelin).

Método do anulamento  Neste caso visa-se manter nula a deflexão, que é provocada pela
quantidade a ser medida. Isso ocorre através da aplicação de um efeito externo, em sentido
oposto para anular aquele efeito provocado pela quantidade medida, equilibrando assim o
sistema. O valor da variável medida é obtido a partir do efeito introduzido externamente. Um
exemplo esquemático desse método está ilustrado na Figura 2.8.

Figura 2.8- Medidor de pressão por anulamento - peso morto (Doebelin).

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O método do anulamento, tomando como base os dois medidores de pressão
mostrados nas Figs. 2.7 e 2.8, possui algumas vantagens quando comparado ao método da
deflexão, em termos de exatidão da medida:

 No método da deflexão, a exatidão medida depende da calibração da mola (pesos


padrões) e no medidor por anulamento depende dos pesos padrões. Neste caso, e
em muitos outros, a exatidão atingida pelo método do anulamento esta um nível
acima quando comparada com a do método da deflexão;

 A mola não é um padrão preliminar de medida de força e, portanto, ela deve ser
calibrada antes com pesos padrão. Isto não ocorre no instrumento que opera pelo
método por anulamento, pois neste é feito uma comparação direta da força
desconhecida com o padrão, e o efeito contrário (anulamento) pode ser produzido
por padrões de grande exatidão;

 O método do anulamento geralmente é muito mais sensível, pois o mesmo vai


acusar apenas um desequilíbrio, ou seja, ele trabalha em uma pequena faixa de
saída. Enquanto o instrumento por deflexão é mais robusto e consequentemente
menos sensível, visto que o mesmo vai trabalhar em uma ampla faixa de operação.

As desvantagens do método por anulamento, aparecem principalmente em medidas


dinâmicas (oscilações nas leituras). Por exemplo, no caso do medidor de pressão, a dificuldade
em manter a plataforma em equilibro para uma flutuação de pressão é bastante evidente. Essa
dificuldade é menor no caso do instrumento por deflexão.
Uma maneira de melhorar a velocidade do método do anulamento seria por meio do uso
de um instrumento de servomecanismo (discutido anteriormente) que faria o balanço
(equilíbrio) automático da plataforma. Estes tipos de instrumentos são instrumentos de grande
importância atualmente, principalmente em sistemas de controle e instrumentação.

2.5 – CONFIGURAÇÕES GENERALIZADAS DE ENTRADA-SAÍDA DOS


INSTRUMENTOS DE MEDIÇÕES

Para um melhor entendimento das relações entrada-saída dos instrumentos e sistemas de


medições e um melhor conhecimento das suas características (Estáticas e dinâmicas) de
desempenho, é conveniente conhecer todas as entradas a que o instrumento é susceptível e
definir uma classificação para os tipos de relações entrada/saída. Uma classificação bastante
aceita na literatura corrente é a que separa as quantidades de entradas em três categorias:
entrada desejada, entrada interferente e entrada modificante.

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As duas últimas pertencem ao grupo das chamadas entradas espúrias (ou indesejadas).
A Fig. 2.9 mostra esquematicamente essas entradas separadas, utilizando o conceito de
diagrama de bloco.

Figura 2.9 – Configuração generalizada entrada/saída.

Entrada desejada  é a quantidade (variável) que o instrumento é intencionalmente


especificado para detectar (medir).

Entrada interferente  é uma quantidade (variável) que o instrumento é sensível, não


intencionalmente.

Entrada modificante  é uma quantidade (variável) que pode alterar tanto as relações
de entrada/saída em relação à entrada desejada como em relação às entradas interferentes.

Os conceitos acima podem ser mais bem entendidos através de exemplos específicos.
Considere o manômetro de mercúrio usado para medir diferença de pressão, figura 2.l0. As
entradas desejadas são as pressões p1 e p2, cuja diferença causa a saída (deslocamento) x, lida
em uma escala calibrada.
As Fig. 2.l0 (b) e 2.10 (c) mostram a ação de duas entradas interferentes possíveis. Na
Fig. 2.l0 (b) o manômetro é montado sobre um veículo que está se movendo com uma dada
aceleração.

(a) (b) (c)

Figura 2.10 - Entradas espúrias, manômetro de pressão (Doebelin).

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Neste caso, mesmo que a diferença de pressão seja zero, haverá uma saída x devido à
aceleração do veiculo, ou seja, a leitura de saída contém informações não só da entrada
desejada, mas também da entrada interferente (aceleração). O mesmo ocorre na Fig. 2.l0 (c), se
o manômetro não for alinhado corretamente com o vetor da gravidade, vai existir um saída
(leitura) x mesmo que não exista nenhuma diferença de pressão. Neste caso, o ângulo de
inclinação  atua como uma entrada interferente.
Como exemplos de entradas modificantes, podem ser incluídos a variação da
temperatura ambiental e a força gravitacional. A variação da temperatura pode influir de
diferentes maneiras. Por exemplo, devido à variação de temperatura a escala calibrada poderia
ser alterada e o fator de proporcionalidade que relaciona força F com o valor de saída x
(escala) é modificado, ou seja, a temperatura é uma entrada modificante.
A densidade do mercúrio também pode variar com temperatura, o que levaria a uma
mudança no fator de proporcionalidade. Uma variação na força gravitacional devido a
mudança da localização do manômetro, tal como movê-lo para outra região ou país, conduz a
uma modificação similar no fator de escala. Note que entradas modificantes podem afetar tanto
a relação entrada-saída desejada, quanto as relações entradas-saídas interferentes.
Outro exemplo típico de entradas espúrias pode ser notado na montagem de um sistema
de medidas de deformação utilizando extensômetros (strain gage), ilustrado na Fig. 2.11.

Figura 2.11 - Entradas espúrias, medida de força – Extensômetro (Doebelin).

O extensômetro consiste basicamente de uma resistência elétrica (pequeno fio de arame)


que pode ser moldada em diferentes formatos e, quando este fio (resistência) é deformado, o
valor da sua resistência R se altera. No caso de medidas de deformação, o extensômetro é
colado (solidário) à peça na qual se deseja medir a deformação, por exemplo, uma barra
submetida a uma dada força F.

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A deformação da peça é obtida (medida) a partir da medida da variação da resistência
do extensômetro deformado. A resistência do material do extensômetro é definida em termos
da resistividade, , do material e da forma da resistência, Eq. 2.1.

L
R  (2.1)
A

Portanto, quando a peça é tensionada, a resistência do extensômetro muda de acordo a


Eq. 2.1, essa variação pode ser avaliada pela relação.

R g  (GF)R g  (2.2)

Sendo: ΔRg ≈ mudança da resistência do extensômetro Ω;


GF ≈ fator do extensômetro, adimensional;
Rg ≈ resistência do extensômetro não deformado Ω;
ε ≈ deformação, mm/mm;

Neste caso, a mudança da resistência é proporcional à deformação, consequentemente,


se for possível medir a variação da resistência se tem a deformação.
A medida da variação de resistência pode ser feita utilizando uma ponte de Wheatstone,
ver esquema mostrado na Fig. 2.11. Quando não existe nenhuma carga (força) F atuando, a
ponte é balanceada (e0 igual à zero) ajustando Rc. A aplicação da carga vai causar uma
deformação da peça e, consequentemente, uma variação da resistência, ΔRg, produzindo assim
um desequilíbrio da ponte (e0 ≠ 0), ou seja, gerando uma tensão de saída e0 proporcional a
deformação ε. Essa tensão pode ser facilmente medida utilizando um osciloscópio ou medidor
qualquer. A tensão de saída e0 é dada por

Ra
e 0  (GF)R g  E b (2.3)
(R g  R a ) 2

A entrada desejada é claramente a deformação ε que causa uma tensão de saída e0


proporcional à entrada.
Entradas interferentes que frequentemente causam problemas neste tipo de instrumento
são campos magnéticos de 60-Hz causados por linhas de potência próximas, motores elétricos,
etc. Esses campos induzem tensões no circuito-extensômetro, causando uma tensão de saída e0
mesmo quando não existe deformação na peça.

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Outra entrada interferente bastante comum é a temperatura: se ela variar, vai haver uma
deformação e, consequentemente, uma variação da resistência do extensômetro. Mesmo não
existindo força atuando na peça, haverá uma tensão de saída (e0 ≠ 0) devido a variação de
temperatura.
A temperatura também pode agir como uma entrada modificante, se o fator do
extensômetro, GF, for sensível à temperatura. Outra questão é a tensão Eb da bateria, uma
perda de carga pode modificar o fator de proporcionalidade na relação entrada desejada, ε, e a
saída e0, ou até mesmo modificando a relação entrada-saída com relação a entradas
interferentes.

2.5.1 Métodos de Correção para Entradas Interferentes e Modificantes

No projeto ou uso dos instrumentos de medição existem disponíveis vários métodos


para anular ou reduzir os efeitos das entradas espúrias. A seguir são descritos os principais
métodos utilizados para minimizar os efeitos devido a entradas espúrias.

Método da insensibilidade inerente

A proposta deste método, como o próprio nome diz, busca o projeto e


desenvolvimento de um instrumento que seja sensível apenas à entrada desejada e insensível as
entradas interferentes e modificantes. Observa-se que este método nem sempre é possível, mas
a simplicidade da proposta encoraja a sua aplicação sempre que possível.
Em termos da configuração genérica mostrada na Fig. 2.9, a proposta pressupõe que
de algum modo, os operadores FI e FM,D construtivamente são forçados zeros. Isso garante que,
mesmo que as entradas iI e iD existam, elas não afetam a saída o.
Exemplo: No caso do medidor da Fig. 2.11, poderia se procurar um extensômetro cujo
material exiba uma variação da resistência extremamente baixa com a variação de temperatura,
permanecendo ainda sensível a deformação. Neste caso, pode-se identificar um problema da
entrada interferente devido à temperatura. Encontrando-se o material para construir tal
extensômetro, o problema estaria resolvido.

Método de realimentação de alto ganho (feedback)

Esse método é mais bem exemplificado pelo sistema ilustrado na Fig. 2.12. Neste exemplo

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deseja-se a medir uma tensão ei aplicada em um motor cujo torque seja aplicado a uma mola,
causando um deslocamento x0, que possa ser medido em uma escala.

Figura 2.12 – Sistema de controle em malha aberta (Doebelin).

Por condições de projeto, o deslocamento x0 pode ser feito proporcional à tensão ei de


acordo com a expressão 2.4.

x0  ( K M 0 K Sp ) ei , (2.4)

Os termos KMo e KSp são as constantes do motor e da mola respectivamente. O arranjo,


mostrado na Fig. 2.12 é chamado de sistema aberto (open-loop) na nomenclatura de controle.
Neste caso, se existir alguma entrada modificante, iM1 ou iM2, elas podem causar mudanças em
KMo e KSp e assim levar a mudanças (erros) na relação entre ei e x0 (entrada/saida). Esse erros
seriam proporcionais as mudanças de KMo e KSP .
Para atenuar tal efeito, considere uma montagem ligeiramente diferente do sistema
discutido acima. A Fig. 2.13 mostra esquematicamente uma nova montagem, neste caso a saída
medida x0 também é detectada pelo dispositivo de realimentação, KFB, que produz uma tensão
de saída eo proporcional a x0.

Figura 2.13 - Sistema de controle em malha fechada (realimentação)- (Doebelin).

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Esta tensão de saída e0 é somada, com sinal invertido, à tensão de entrada ei. A tensão
resultante alimenta o amplificador, KAM, que vai fornecer a tensão aplicada no motor. Este atua
na mola e produz uma saída xo, Eq. 2.5.

( ei  e0 )K AM .K MO .K SP  x0 (2.5)

ou

( ei  K Fb x0 )K AM .K MO .K SP  x0 (2.6)

K AM .K MO .K SP
x0  ei (2.7)
1  K AM .K MO .K SP .K Fb

Supondo que, por condição de projeto, a constante do amplificador, KAM, seja muito
grande (alto ganho), então isso implica que KAMKMoKSpKFb >>>1, ou seja,

1
x0  .ei (2.8)
K Fb

Portanto, de acordo com Eq. 2.8 qualquer variação de KAM, KMo e KSp ,devido às
entradas modificantes iM1, iM2 e iM3 atuando no sistema, tem pouca influencia (insignificante) na
relação entrada (ei) - saída (x0). Para manter a relação entrada-saída constante basta manter KFb
constante (não afetado por iM4).

COMENTÁRIOS:

A questão básica a ser discutida neste caso, seria se realmente este esquema, um tanto
mais elaborado, apresenta vantagens, já que as exigências para manter KMo e KSp foram
transferida para manter KFb. Em situações práticas esta proposta geralmente leva a uma
melhoria na exatidão, já que o amplificador supre a maior parte da potencia necessária e o
dispositivo de realimentação pode ser projetado de forma a consumir uma baixa potência.
Isso, em geral, leva a uma boa exatidão e linearidade nas características do sistema de
realimentação. Adicionalmente, a entrada ei necessita suprir apenas pequena potencia
(desprezível), ou seja, o sistema retira menos energia do meio de medida (interfere menos com
o meio) do que o sistema aberto discutido acima. Finalmente, deve-se dizer que a utilização

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do sistema de realimentação também contém suas desvantagens, sendo que a principal é a
instabilidade dinâmica do sistema, visto que um ganho excessivo na amplificação pode levar às
oscilações destrutivas (ver detalhes na disciplina de controle)

Método de correções das saídas

Neste método, a proposta é medir ou estimar as entradas interferentes e/ou modificantes


e conhecer como elas afetam quantitativamente a saída. Com esta informação, estimar as
correções a serem adicionadas ou subtraídas da saída medida.

Exemplo: No manômetro de pressão discutido anteriormente, conhecendo-se a variação


da temperatura é possível determinar, sem grandes esforços, como ela afeta o
comprimento da escala ou a densidade do mercúrio e posteriormente, subtrair
esse efeito do resultado.

COMENTÁRIOS:

Os instrumentos atuais, de forma geral, incluem vários acessórios, microprocessadores e


outros componentes que podem realizar somas, subtrações e outras operações facilmente, ou
seja, existindo sensores para medir as entradas espúrias esse dispositivos podem calcular as
correções da saída automaticamente.

Método da filtragem do sinal

A proposta da utilização de filtros é separar a entrada desejada das entradas espúrias.


Neste caso, são introduzidos elementos (filtros) em determinados etapas do processo de
medição que atuam de forma a remover ou reduzir os efeitos dos componentes espúrios na
saída. O filtro pode ser usado em qualquer etapa no processo de medição, na entrada, na saída
ou numa etapa intermediaria. Isto pode ser mais bem ilustrado analisando-se os exemplos a
seguir.
As Figs. 2.14 e 2.15 mostram esquematicamente o conceito de filtragem de um sinal
de entrada e de saída, respectivamente. Para sinais intermediários o conceito é o mesmo.
Na Fig. 2.14, as entradas iI e iM são forçadas a passar através de filtros e são reduzidas a valores

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próximos de zero. Sendo assim, mesmo que as entradas iI e iM não sejam nulas, as saídas iI´ e
i´M são minimizadas ou nulas.

Figura 2.14 – Princípios básicos de aplicação de filtros na entrada.

O conceito de filtragem da saída é ilustrado na Figura 2.15 em que a saída o é dada


pela superposição de oD (saída devido a entrada desejada), oI (saída devido à entrada
interferente) e oM (saída devido à entrada modificante).
Neste caso, se for possível construir filtros que obstruam seletivamente as entradas oI e
oM e deixam passar completamente a entrada oD, tem-se a filtragem das efeitos espúrios no
sinal de saída o e a saída o´ consiste inteiramente da saída desejada oD.

Figura 2.15 - Princípios básicos de aplicação de filtros na saída (Doebelin).

Os filtros podem assumir diferentes formas dependendo da sua aplicação. Quando


inseridos no caminho de uma entrada espúria o mesmo deve ser projetado para obstruir
completamente (idealmente) a passagem dessa entrada.

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Entretanto, se o mesmo for inserido em um ponto em que o sinal contém ambas
componentes, desejada e espúria, o mesmo deve ser projetado para obstruir as componentes de
forma seletiva. Isto é, a componente desejada deve permanecer inalterada e as componentes
espúrias devem ser completamente obstruídas (idealmente). A Fig. 2.16 mostra alguns
exemplos de filtros, Figs. 2.16.(a) – (f).

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Figura 2.16 – Alguns exemplos típicos de filtros (Doebelin).

Na Fig. 2.16 (a), é


apresentado um filtro mecânico composto pela montagem de molas adequadas de forma que a
vibração da estrutura (entrada interferente) não passe para mesa e prejudique o funcionamento
do instrumento de medida. O sistema massa-mola mostrado é um filtro que deixa passar apenas
uma parte desprezível da vibração da estrutura para o instrumento.
A Fig.2.16 (b) mostra uma montagem em que a entrada interferente discutida na Fig.
2.10 (desalinhamento do manômetro com a vertical) é eliminada. Como pode ser observado, se
os mancais não tiverem atrito, as rotações 1 e 2 não afetam o sistema e o manômetro
permanece sempre na horizontal. A Fig. 2.16 (c) mostra um filtro térmico em que a junção de
referência é protegida da flutuação da temperatura ambiente por uma isolação térmica.
A Fig. 2.16 (d) mostra uma situação em que um circuito de medição utilizando
extensômetros (strain-gage) é protegido por uma blindagem magnética da interferência de uma
entrada espúria devido a um campo magnético próximo de 60-Hz.
O mesmo sistema de medição (Strain-gage) é discutido no exemplo da Fig. 2.16 (e)
sendo que, neste caso, é feita uma filtragem da saída de forma seletiva para suprir apenas o
efeito da entrada interferente devido ao campo magnético. Para que a componente possa ser
filtrada, é necessário que a frequência da componente desejada esteja restrita numa faixa
distinta (separada) das componentes espúrias.
No exemplo, assumindo que o extensômetro vai medir deformações “quase Estáticas”,
isto é, as deformações variam lentamente até uma frequência máxima de 2 Hz. Então é
possível introduzir um filtro elétrico simples (filtro RC) na saída que deixa passar apenas o

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sinal desejado e bloqueia a quase totalidade (filtro físico ou real é diferente do ideal) a
componente de 60 Hz devido a entrada espúria.
A Fig. 2.16 (f) mostra um filtro pneumático (inserção de uma restrição do fluxo entre
tanque de ar e câmara do pistão do medidor de pressão) que funciona de forma análoga ao caso
discutido no caso (e). Neste caso o efeito da pulsação da pressão no tanque é minimizada e é
possível medir apenas o valor da pressão (média) sem flutuação.
Sintetizando a ideia da utilização de filtros, pode se dizer que, em geral, é possível
projetar filtros mecânicos, elétricos, térmicos, pneumáticos e etc. que separam as componentes
do sinal de entrada do sinal de saída, ou mesmo de um sinal intermediário, de acordo com suas
respectivas componentes de frequências.
A Fig. 2.17 mostra esquematicamente os diferentes tipos de filtros, cujas componentes
do sinal são separadas por banda de frequência, ou seja, filtro passa baixa, filtro passa alta,
filtro passa banda e filtro rejeita banda.

o/i o/i
rejeita banda
Passa baixa

f f

o/i o/i o/i


Passa alta Passa banda
Não passa

f f f
Figura 2.17 – Principais tipos de filtros.

Método da entrada oposta

Neste caso, a correção do efeito de entradas espúrias é feita introduzindo intencionalmente


entradas interferentes e/ou modificantes no instrumento, as quais tendem a cancelar os efeitos
das entradas indesejadas.
A Fig. 2.18 mostra esquematicamente o conceito do método para o caso de entradas
interferentes, embora ele também possa ser aplicado para entradas modificantes. A entrada
introduzida intencionalmente é projetada de forma que os sinais oi1 e oi2 sejam essencialmente
iguais, mas atuem em sentidos opostos. Assim, a contribuição final oi1 - oi2 é praticamente nula.

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Entrada Interferente
inevitável

Essencialmente
Zero

Entrada Interferente
introduzida
intencionalmente

Saída
Entrada Desejada

Figura 2.18 - Princípio de funcionamento da entrada oposta (Doebelin).

A Fig. 2.19 mostra o exemplo de um multímetro, o qual é essencialmente um aparelho


corrente-sensitivo. Entretanto, enquanto a resistência total do circuito é constante, as variáveis
tensão e corrente são proporcionais, e assim a leitura pode ser feita em voltagem a partir de
uma escala calibrada. Neste caso, a temperatura ambiente pode ser uma entrada interferente
uma vez que ela pode causar uma variação da resistência, Rcoil, do enrolamento,
consequentemente alterando o fator de proporcionalidade entre a corrente e a tensão.
Para compensar esse efeito, é introduzida uma resistência Rcomp no circuito, sendo que
o material da mesma é escolhido de forma que o coeficiente de variação da resistência com a
temperatura seja oposto à variação da Rcoil, ou seja, mesmo que haja uma variação da
temperatura, a resistência total do circuito permanece inalterada e a leitura continua bastante
acurada.

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Entrada Modificante

Entrada Desejada

Figura 2.19 – Exemplo de aplicação do conceito de entrada oposta (Doebelin).

Finalmente, observe que este método é praticamente uma variação do método das
correções da saída, com a diferença que neste caso as correções são feitas automaticamente
pelo próprio sistema, ao invés do usuário, como no outro caso.

2.6 -COMENTÁRIOS

Neste capítulo foram discutidas várias generalizações com relação aos elementos
funcionais e as relações entrada-saída dos instrumentos e sistemas de medidas. Deve ficar claro

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que, na análise de um instrumento ou no desenvolvimento de um novo instrumento, o ponto de
partida é separar a operação global do instrumento em elementos funcionais e analisá-las como
tal.
Neste ponto é conveniente tentar ter uma visão, que seja a mais ampla possível, do
que deve ser feito e não ficar focalizado em como isso será efetivamente feito. Uma vez que
tenha ficado claro o conceito geral do funcionamento, os detalhes de operação podem ser de
grande valia na análise ou projeto do instrumento.
As ideias de transdutor passivo e ativo, modo de operação analógico ou digital,
métodos da deflexão versus anulamento, oferecem condições para o tratamento sistemático,
tanto para análise e seleção como para o projeto de instrumentos de medição.
Finalmente, acrescenta-se que a utilização de diagramas de bloco relacionando as
entradas-saídas, facilita a compensação de entradas espúrias e a avaliação do desempenho dos
instrumentos.

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3. CARACTERÍSTICAS GENERALIZADAS E DESEMPENHO DOS


INSTRUMENTOS DE MEDIDAS

Tanto a escolha de um instrumento, dentre instrumentos comercialmente disponíveis


no mercado, quanto o projeto de um novo instrumento para uma tarefa específica, envolvem
aspectos operacionais, critérios de desempenho, custos, entre outros. Para escolha do
instrumento mais adequado, é fundamental o conhecimento das suas características de operação
e desempenho. As características de operação foram discutidas nos capítulos anteriores,
enquanto que neste capítulo serão discutidos características e critérios de desempenho de um
instrumento.
Os critérios de desempenho permitem avaliar quão bem o instrumento mede a variável
desejada e como ele rejeita as variáveis indesejadas (entradas espúrias). Para uma decisão
inteligente a respeito da escolha (ou mesmo o projeto) de um instrumento, os critérios de
desempenho assumem maior relevância, de modo que o usuário (ou projetista) deve ter em
mãos bases quantitativas para poder comparar o desempenho do instrumento (ou projeto) com
outras possíveis alternativas, visando assim tomar a melhor decisão.
Conforme discutido no capítulo anterior, é importante separar de forma sistemática o
problema de medição em partes, para melhor entendê-lo. Essa “quebra” do instrumento em
elementos funcionais possibilita uma melhor avaliação do funcionamento do instrumento e
assume um papel importante neste capitulo, cuja proposta é estudar, de forma detalhada, as
características de desempenho dos instrumentos e sistemas de medição. O propósito desse
estudo é buscar conhecer quão bem esses instrumentos medem as entradas desejadas e rejeitam
as entradas espúrias.
As características de desempenho dos instrumentos têm sido tratadas sob dois
enfoques básicos: Características Estáticas e Características Dinâmicas. As razões para tal são
várias, mas uma das principais é o fato de que existem situações em que a quantidade medida
não varia, ou varia muito lentamente com o tempo (medidas Estáticas), enquanto que outras
situações envolvem a medição de quantidades as quais variam rapidamente (medidas
dinâmicas).
No caso em que a quantidade medida varia lentamente, é possível definir critérios de
desempenho, sem levar em conta os aspectos dinâmicos do problema os quais, geralmente,
envolvem a análise de equações diferencias.

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Neste caso, em que não esta envolvida a variação temporal da variável durante a
medição, os critérios de desempenho são definidos em termos das características Estáticas do
instrumento. Já nos problemas em que a quantidade medida varia rapidamente (a variável se
altera durante o ato da medição), é necessária uma análise das características dinâmicas do
processo.
As características dinâmicas envolvem a avaliação das relações entrada/saída do
instrumento em relação ao tempo (dinâmica). Neste caso, essas relações são dadas por
equações diferenciais ordinárias e o desempenho é avaliado em termos dos parâmetros e
relações dinâmicas.
Entretanto, um aspecto importante a ser considerado é que as características Estáticas
também influem na qualidade de uma medida dinâmica, sendo que elas aparecem basicamente
na forma de não linearidades ou efeitos estatísticos nas relações entrada/saída que são definidas
a partir de equações diferencias lineares. Tais efeitos tornam a solução analítica dessas
equações diferencias muito mais difícil, ou mesmo impossível, e a aproximação mais usual é
tratar os efeitos estáticos e dinâmicos de forma separada.
Neste caso, a avaliação do comportamento (desempenho) dinâmico do instrumento é
feita através da análise das equações diferenciais, desprezando os efeitos de atrito, histerese,
dispersão estatística e etc., mesmo sabendo que esses efeitos influenciam o comportamento
dinâmico do mesmo.
Esses efeitos são, mais convenientemente, avaliados em termo das características
Estáticas e, posteriormente, o desempenho global do instrumento é definido pela superposição
de forma semiquantitativa das características Estáticas e dinâmicas.

3.1. CARACTERÍSTICAS ESTÁTICAS DOS INSTRUMENTOS

A avaliação das características Estáticas dos instrumentos é feita a partir da calibração


estática, ou seja, a partir da comparação da saída medida com o valor de entrada, onde o valor
de entrada é conhecido (padrão de calibração). Neste caso, a calibração estática permite obter
todas as características Estáticas de desempenho dos instrumentos.
Na calibração estática, todas as entradas do instrumento (desejada, interferentes e
modificantes) são identificadas, além de se definir quais delas são relevantes ou não. Uma vez
definidas as entradas mais relevantes, passa-se à calibração do instrumento que,

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resumidamente, consiste na comparação das leituras do instrumento com padrões de calibração
(valores de referência).
Na calibração, todas as entradas, exceto uma, são mantidas constantes. Essa entrada
(não constante) é variada sob um intervalo (faixa) pré-definido provocando assim as respectivas
leituras de saída. A relação entrada/saída desenvolvida nestas condições (todas as outras
entradas constantes) compreende a calibração estática para aquela dada variável de entrada.
Para se obter o comportamento estático global do instrumento, o processo é repetido
para todas as entradas que sejam relevantes, estabelecendo-se assim uma família de relações
entrada/saída Estáticas. Isso é feito, tanto para a entrada desejada, como para as outras entradas
espúrias significativas.
Dessa maneira, o comportamento estático do instrumento como um todo é então
definido superpondo adequadamente todos os efeitos individuais, obtidos a partir das relações
entrada/saída. Um aspecto muito importante a ser observado na calibração é que os parâmetros
e valores obtidos são válidos para aquelas condições específicas de operação, em que foi
realizada a calibração.

3.1.1 - Padrões de calibração

Para se calibrar um instrumento, existe a necessidade de um padrão de calibração


(referência). Este padrão deve obedecer alguns requisitos, por exemplo:

a) Se construtivamente o instrumento é capaz de obter medidas com uma exatidão


de 0,1%, os valores dos padrões de calibração, ou seja, as entradas usadas como
referência (padrão) devem ter uma exatidão maior (uma classe acima);
b) Aconselha-se usar padrões de calibração com uma exatidão 4 vezes maior do
que a exatidão do instrumento;
c) Outro aspecto importante a ser observado nos padrões de calibração é a
rastreabilidade (Traceability) dos mesmos.

Rastreabilidade habilidade de se poder rastrear a exatidão do padrão de calibração, ou seja,


como chegar ao padrão fundamental mantido nos Institutos de Pesos e
Medidas (National Bureau of Standards) que deu origem ao padrão
utilizado como referência na calibração.

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3.1.2– Valor Verdadeiro

Quando se faz uma medida de uma quantidade física qualquer, com um dado
instrumento, o usuário obtém um valor numérico e surge a seguinte preocupação: quão bem
este valor representa o valor verdadeiro daquela quantidade?
Essa resposta não é tão imediata, pois para responder essa pergunta seria necessário o
conhecimento do valor verdadeiro daquela quantidade. Entretanto, isso não é uma tarefa fácil
em geral e, em muitos casos, é impraticável sua avaliação.
Para ilustrar melhor esse problema, considere a medição do comprimento de um dado
cilindro físico na Fig. 3.1. Por exemplo, qual é o valor de seu comprimento h?

Figura 3.1: - Comprimento de um cilindro

Para uma real avaliação do significado do comprimento do cilindro, devem ser levados
em conta vários aspectos envolvidos na medição, tais como:
1) As duas faces do cilindro são planas?
2) Se as mesmas são planas, elas são paralelas?
3) Se elas não são planas, que tipos de superfícies elas são?
4) Qual a rugosidade destas?
5) Outros.

Como pode ser observado, quando se trata de objetos reais ao invés de sólidos
geométricos abstratos, o analista se depara com problemas bastante complexos para definir o
valor verdadeiro da variável de interesse. Outro aspecto importante a ser observado é que o
termo "valor verdadeiro" tem uma forte relação com o contexto de aplicação do instrumento.

Valor verdadeiro qualifica uma dada quantidade medida por um método exemplar, isto é,
um método que, de acordo com os experts, possui uma exatidão
suficiente para o propósito de uso dos dados medidos.

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Os slides mostrados a seguir apresentam uma breve discussão a respeito dos padrões
de medição:

segundo
segundo

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3.1.3– Calibração estática

A calibração estática refere-se a uma condição em que todas as entradas (desejada,


interferente e modificante), exceto uma, são mantidas constantes. Então essa entrada em
questão é variada na faixa de interesse e os valores da saída são obtidos.
A relação entrada/saída desenvolvida nestas condições (todas as outras entradas
constantes) compreende a calibração estática para aquela entrada. O mesmo processo é
repetido para todas as entradas de interesse, estabelecendo-se assim uma família de relações
estáticas entrada/saída.

Para realizar com sucesso a calibração estática dos instrumentos, aconselha-se seguir os
seguintes passos:

1) Examinar a construção do instrumento, identificar e listar todas as entradas


possíveis;
2) Decidir, da melhor forma, quais entradas são significativas para a aplicação a
qual o instrumento está sendo calibrado;
3) Procurar aparatos (dispositivos) que permitam variar todas as entradas
significativas no intervalo considerado;
4) Considerar algumas entradas constantes variando as outras e registrar as saídas e,
a partir dessas saídas, desenvolver as relações Estáticas entrada/saída de
interesse.

Manter todos os valores constantes é uma abstração, visto que na prática, ao se


examinar criticamente qualquer instrumento, o experimentalista irá verificar que existe uma
enorme quantidade de entradas interferentes/modificantes que podem ter algum efeito na
leitura, de modo que ficará praticamente impossível controlar todas essas entradas.
Desta forma, a afirmação manter todas as entradas constantes refere-se a uma situação
ideal que pode ser aproximada, mas não atingida na prática, ou seja, são aceitáveis pequenas
variações. Portanto, aqui é interessante distinguir o significado de um método de medição e um
processo de medição.

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O Método de Medição descreve uma situação ideal, enquanto o Processo de Medição
descreve uma situação prática, ou seja, a realização física de um método de medição.
Um processo de medição consiste basicamente na instrumentação e execução, da
melhor forma possível, de uma medição. Se esse processo é repetido várias vezes sob as
mesmas condições, se obtém um conjunto (grande número) de leituras e, normalmente, os
valores dessas leituras, mesmo sob condições idênticas, não são os mesmos.
Eles apresentam uma dispersão. Esse conjunto de dados (medidas) é usado para
descrever o processo de medição, assim se posteriormente o instrumento for utilizado para
medir valores não conhecidos (aplicação do instrumento para uma dada tarefa), então será
possível estabelecer uma estimativa numérica do erro associado com essas leituras.
Entretanto, para que esses valores de saída (leituras) obtidos sejam representativos e
possam ser utilizados para descrever o processo, os mesmos devem estar em estado de
Controle Estatístico. Ou seja, os dados de saída (leituras) devem formar uma seqüência
aleatória e não apresentar tendências.

COMENTÁRIOS:

Outro aspecto importante, a ser observado em instrumentação, é a diferença entre


descrever as características de uma simples leitura ou de um processo de medição, o slide
mostrado a seguir ilustra melhor esta questão.

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Quando se fala de uma simples leitura, o erro é dado pela diferença entre o valor
medido e o valor verdadeiro. Agora, quando se utiliza um instrumento, o interesse está nas
características do processo associadas com o instrumento, isto é, pode ser feito uma simples
medida, no entanto, esta leitura é uma amostra de uma população estatística gerada pelo
processo de medição.
Neste caso, se for conhecida às características do processo de medição, pode ser
estabelecido os limites do erro de uma simples medida. Entretanto, não pode-se dizer qual é
este erro, pois isto implicaria no conhecimento do valor verdadeiro da variável. Neste
contexto, pode-se dizer que na calibração o usuário está interessado em fazer uma estimativa a
respeito da exatidão (limites de erro) das leituras e, não necessariamente, do valor exato da
leitura. Esta estimativa dos erros pode ser feita em termos do conceito de precisão e erros
sistemáticos (bias) do processo de medição, como será discutido posteriormente.

3.1.4– Estado de Controle Estatístico

A confirmação de que os dados, obtidos em um processo de medição, estão em estado


de controle estatístico não é uma tarefa simples, no entanto, a sua essência pode ser resumida
como:
a) Não existe sentido falar de precisão absoluta de um instrumento isolado (deve-se
considerar um instrumento “+” o método de medida usado, ou seja, o instrumento
juntamente com as diversas entradas), sendo que este conjunto constitui o processo de
medida;

b) Todos os instrumentos têm um número infinito de entradas, e estas podem afetar a


saída de interesse com maior ou menor intensidade. Os efeitos mais comuns
observados incluem: a variação da pressão atmosférica, temperatura, umidade, campo
magnético entre outros. No entanto, quando se entra em “minúcias do processo”,
vários outros efeitos podem afetar o processo;

c) No processo da calibração de um dado instrumento, algumas entradas específicas


devem permanecer constantes dentro de determinados limites. Espera-se que estas
entradas sejam as principais responsáveis pelos componentes de erro do instrumento,
sendo as demais (número infinito) entradas não controladas responsáveis por apenas
uma pequena parte do erro do instrumento. Esses pequenos efeitos (erros) na saída do
instrumento devem ser de natureza aleatória.

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Se o processo obedecer aos requisitos acima, diz-se que o mesmo está em estado de
controle estatístico. Na prática, o estado de controle estatístico não se verifica, sendo possível
se obter apenas situações aproximadas.
Para ilustrar melhor esse efeito, considere o caso da calibração de um instrumento em
que a temperatura pode influir nos resultados, conforme ilustrado na Fig. 3.2, neste caso a
variável de interesse é observada (repetidas leituras) ao longo do dia. A Fig. 3.2.(a) mostra os
dados (leitura do instrumento) medidos ao longo do dia sem controle da temperatura, enquanto
a Fig. 3.2.(b) mostra os dados medidos (mesma experimento) com a temperatura controlada.
Claramente é possível notar que os dados do primeiro experimento (sem controle de
temperatura) apresentam uma tendência, ou seja, a temperatura tem influência nas leituras de
saída do instrumento. Esses dados não apresentam uma distribuição totalmente aleatória. Já no
segundo caso, não existe tendências, os dados tem uma distribuição aleatória (randômica).

Figura 3.2- Dados medidos ao longo do dia, (a) sem controle da temperatura, (b) com a temperatura
controlada (b) (Doebelin).

Um processo de medição atende razoavelmente bem o estado de controle estatístico,


quando a medida (ou ponto de calibração) é repetida várias vezes e resultado leva a um
conjunto de dados (leitura) que apresenta uma dispersão aleatória. Os dois principais métodos
utilizados para verificar se os dados estão em estado de controle estatístico são: o teste do papel
gráfico de probabilidade e o teste da qui-quadrada. Para maiores detalhes consultar Figliola
(1994).

3.1.5– Calibração de um Dinamômetro de Pressão.

A calibração de um instrumento envolve inicialmente a identificação e listagem de todas


as possíveis entradas do instrumento, para uma posterior análise e avaliação de quais entradas
são significativas ou não para a aplicação a qual o instrumento está sendo calibrado. Para

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melhor ilustrar o processo de calibração, o manômetro de mola (ou dinamômetro de pressão),
Fig. 3.3, discutido nos capítulos anteriores será analisado.
Neste caso, deseja-se determinar a relação entre a entrada desejada (pressão) e a saída
(leitura da escala) do manômetro. Entretanto, deve ser observado que outras entradas tais como
a temperatura, aceleração, vibração, etc. poderiam ser significativas no processo e
necessitariam ser controladas durante a calibração. Essas entradas espúrias (indesejadas)
podem interferir nos dados. Por exemplo:

a) Temperatura  Pode provocar contração/expansão dos componentes do


instrumento de forma que a leitura acuse um dado valor mesmo
quando a pressão permanece constante;

b) Aceleração  Componentes de aceleração na direção da haste poderiam


causar uma leitura na escala mesmo quando a pressão
permanece constante. Esta entrada seria significativa caso o
instrumento fosse usado em um veículo nestas condições;

c) Vibração  Vibração do sistema poderia provocar oscilações na leitura de


saída na escala. Entretanto, uma pequena vibração neste caso
poderia até ser benéfica para a operação do instrumento,
reduzindo os efeitos de atrito.

A discussão acima mostra à importância de se considerar cuidadosamente os efeitos e as


relações envolvidas no processo de calibração (condições de calibração), incluindo as várias
entradas e posteriormente avaliando o efeito dessas entradas na utilização do instrumento
(condições de operação).
A calibração do manômetro para um dado valor de pressão é feita aplicando uma
pressão de entrada conhecida (padrão) e fazendo leitura (medida) do valor da saída do
instrumento, mantendo as demais entradas constantes. Neste caso, foi utilizado uma entrada
conhecida de pressão de valor 10,000 ± 0,001 KPa e as demais entradas foram mantidas em
níveis constantes.

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Condições de teste

Entrada desejada = 10,000 ± 0,001 KPa

Demais entradas constantes :


- Temperatura 20 ± 1°C
- Aceleração ≈ 0
- Vibração ≈ 0

Figura 3.3- Teste de calibração de um Manômetro de mola

A Tab. 3.1 mostra os valores obtidos no teste de calibração, em que foram feitas 20
repetições de leituras. Se o processo de medição se encontra em um estado de controle
estatístico, quando uma mesma medida (ou ponto de calibração) é repetida várias vezes, os
dados de saída (leituras) apresentam uma dispersão, em torno de um valor, totalmente aleatória.
Neste caso, as características do processo de calibração, dada pela relação entrada
(pressão)/saída (leitura da escala) do instrumento, podem ser estabelecidas a partir da análise
dos dados obtidos, Tab. 3.1.

Tabela 3.1: Dados da Calibração


Número Valor Número
Valor Verdadeiro
de Verdadeiro Leitura (KPa) de Leitura (KPa)
(KPa)
leituras (KPa) leituras
1 10,000 10,02 11 10,000 10,05
2 10,000 10,20 12 10,000 10,17
3 10,000 10,26 13 10,000 10,42
4 10,000 10,20 14 10,000 10,21
5 10,000 10,22 15 10,000 10,23
6 10,000 10,13 16 10,000 10,11
7 10,000 9,97 17 10,000 9,98
8 10,000 10,12 18 10,000 10,10
7 10,000 10,09 17 10,000 10,04
10 10,000 9,90 20 10,000 9,81

Nos testes e experimentos de engenharia, a repetição de uma medição, mesmo


realizada sob condições idênticas, normalmente não fornece os mesmos valores, ou seja, os
valores de saída não se repetem. Os dados da Tab. 3.1 mostram essa questão. Neste caso, foi

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utilizada uma pressão padrão (entrada conhecida) suficientemente exata e as demais variáveis
foram mantidas o mais próximo possível das condições de operação.
Essa entrada conhecida, pressão de valor 10 KPa, foi aplicada repetidas várias vezes e
os respectivos valores de saída foram medidos e anotados, Tab. 3.1. Conforme pode ser
observado, existe uma variação (dispersão) nos valores de saída medidos. As fontes dessas
variações podem ser discutidas e separadas, basicamente, em função das variações que ocorrem
no sistema de medição, no processo e técnicas de medição e na variável que esta sendo medida.

a.) No sistema de medição


As variações estão associadas, principalmente, com a resolução do sistema;

b.) No processo e técnicas de medições


As variações estão relacionadas basicamente com repetibilidade;

c.) Na variável que esta sendo medida


Neste caso é causada pela eventual variação temporal e variação espacial da variável
de medição.

Na avaliação e quantificação do processo, o analista procura avaliar o conjunto de


dados obtidos com a repetição do experimento e busca poder quantificar: (1) um valor que
melhor caracterize (represente) a média do conjunto de dados; (2) um valor representativo
capaz de fornecer uma medida da variação (dispersão) no conjunto de dados medidos e (3) um
intervalo em torno desse valor representativo, em que se tenha uma expectativa de que o valor
verdadeiro se encontre dentro desse intervalo.
A definição desse intervalo é fundamental para o analista (engenheiro) visto que, para
uma aplicação segura do instrumento, ele precisa conhecer quão bem esse valor médio obtido
representa a média verdadeira do conjunto dos dados medidos. Neste caso, a estimativa desse
intervalo é feita a partir de ferramentas e conceitos de probabilidade e estatística.

3.1.6– Conceitos e Fundamentos Básicos de probabilidade e Estatística

Os conceitos básicos de probabilidade e estatística não serão totalmente explanados


neste tópico, já que o intuito é apenas apresentá-los em um nível suficiente para responder as
questões envolvendo o tratamento, análise e interpretação dos dados obtidos nos processos de
medições.

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Para uma discussão mais aprofundada, consultar bibliografia especializada. O objetivo
nesse tópico é fornecer subsídios para que o analista (engenheiro) seja capaz de avaliar as
relações entradas/saídas do instrumento, estimar os parâmetros de interesse no processo de
calibração e, consequentemente, conhecer os limites e a exatidão do instrumento.
O conjunto de dados apresentados no item anterior será utilizado para apresentação
dos conceitos básicos envolvidos na analise estatística. Inicialmente, considere que os valores
obtidos nas várias leituras da pressão padrão de 10 kPa aplicada no instrumento sejam
ordenados do menor valor (9,81 kPa) para o maior valor (10,42 kPa) e observe como se dá a
distribuição dos mesmos. Isso pode ser feito, dividindo a faixa de valores, por exemplo, em
intervalos de 0,05 kPa e observando quantas leitura se encontram dentro de cada intervalo, Fig.
3.4.

9,75 9,80 10,40 10,45 Leitura da escala

Figura 3.4- Distribuição das leituras do Manômetro

A frequência de valores (leituras) que cai em cada intervalo pode ser obtida na figura.
Agora definindo uma variável, Z, conforme expressão (3.1) é possível observar o histograma
desse conjunto dos dados.

Z
numero  de  leituras  em  um  intervalo  / numero  total  de  leituras  (3.1)
Largura  do  intervalo

O histograma, Fig. 3.4, é uma forma de se observar ambas, a tendência e a densidade da


variável. Pela Eq. 3.1, fica claro que a área de uma dada barra é numericamente igual à
probabilidade de que uma leitura específica vai se encontrar dentro daquele respectivo
intervalo. Mais ainda, é possível observar que a área total do histograma é igual a 1, ou seja,
100% de probabilidade de que todos os eventos (leituras) se encontram entre os valores 9,82 e
10,42 kPa (todos valores lidos estão entre esses valores).

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9,75 9,80 10,40 10,45 Leitura da escala

Figura 3.4- Histograma dos dados da calibração do Manômetro de mola.

Agora, considere um aumento do número de leitura e que sejam tomados intervalos


cada vez menores, no limite, quando o número de leituras tender a infinito o gráfico de barras
se aproxima de um curva continua e é possível definir (limite matemático) uma função Z=f(x)
chamada função densidade de probabilidade, Fig. 3.5.
A definição da função f(x) vai permitir a obtenção de um modelo matemático que possa
ser utilizado para representar o processo físico real (teste de medição). Pela própria definição
de Z, fica claro que a probabilidade de uma leitura se encontrar entre dois valores a e b é
definida pela área abaixo da curva neste intervalo, Fig. 3.5 (a).

Figura 3.5 - (a) Função densidade de probabilidade, (b) Função distribuição cumulativa.

Conhecida a função densidade de probabilidade f(x), o cálculo da probabilidade da


variável se encontrar entre os valores a e b é definida pela área abaixo da curva no intervalo,
Eq. 3.2.

b
p( a  x  b )   f x dx (3.2)
a

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A probabilidade de uma dada leitura ser menor do que um valor específico pode ser
obtida utilizando o conceito de Função Distribuição Cumulativa, Fig. 3.5 (b). Neste caso, a
probabilidade da leitura ser menor do que um dado valor x é dada pela Eq. 3.3.

x
F ( x )  p( x  b )   f x dx

(3.3)

Para uma variável aleatória discreta, os parâmetros, média e variância do conjunto de


dados analisados, são calculados utilizando as Eqs. 3.4 e 3.5.

N
1
  lim
N  N
x i 1
i (3.4)

N
1
 2  lim
N  N
( x   )
i 1
i
2
(3.5)

Para variáveis contínuas o tratamento é ligeiramente diferente. Existe um número


enorme de funções densidade de probabilidade, cada qual com suas características específicas.
Entretanto, em situações práticas, uma das funções mais comum e que representa
adequadamente uma enorme variedade de fenômenos físicos e aplicações de engenharia é a
função densidade Normal ou Gaussiana, Eq. 3.6.

( x   )2
1 
f(x) e 2 2
   x   (3.6)
 2

A função Gaussiana é dada em termos da média, , (média verdadeira) da distribuição e


do seu respectivo desvio padrão . Na função Gaussiana, a forma da curva da distribuição é
totalmente definida pelo desvio padrão , sendo que o valor da média, , define apenas a
posição da curva no eixo horizontal. A figura (3.6) mostra a curva para diferentes valores de .

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Figura 3.6- Função densidade de probabilidade para diferentes .

A função distribuição Gaussiana é um modelo matemático perfeitamente definido pelos


parâmetros  e . Conforme pode ser observado na Fig. 3.6, para uma distribuição com valores
de  pequenos existe uma alta probabilidade da leitura se encontrar próxima da média  (a
maioria dos valores estão concentrados em torno da média ), enquanto para valores de 
grandes, os valores da leitura estão mais dispersos em torno da média.
Para uma distribuição Gaussiana perfeita, a área abaixo da curva no intervalo de  
em torno da média  pode ser facilmente calculada pela Eq. 3.2, e é igual a 0,68, o que equivale
a dizer que 68% das amostras se encontram dentro deste limite. Para um intervalo de  2 da
média, 95% das leituras estão dentro dos limites, já para um intervalo de  3 em torno da
média vai cobrir praticamente todas as leituras, ou seja, 99,7% das leituras se encontrão dentro
destes limites.
O desvio padrão  é definido como a raiz quadrada da variância. Entretanto, a
dificuldade fundamental na definição desses parâmetros ocorre devido a fato de que uma
distribuição Gaussiana exata (Fig. 3.7.a) inclui um número infinito de leitura o que é inviável
ou mesmo impossível em termos práticos. O tamanho de um conjunto de dados de medição
normalmente vai desde algumas poucas leituras até um número muito grande de leitura, mas
ainda, tem um tamanho finito. Isso inviabiliza o uso das Eqs. 3.4 e 3.5.
Para uma analise mais atenta da Fig. 3.5 e da Eq. 3.3, pode-se observar que existe uma
pequena probabilidade da ocorrência de valores muito grandes de x ( x    ). Isso explica as
limitações da aplicação da função Gaussiana em situações práticas, visto que no mundo real,
variáveis físicas sempre são limitadas (valor finito).

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Consequentemente, para aplicações práticas a distribuição deve ser truncada para


valores finitos, i.e., a cauda da distribuição é cortada, Fig. 3.7 (b).

(a) (b)
Figura 3.7- Função densidade de probabilidade Gaussiana, (a) exata, (b) aproximada.

Em situações práticas, embora a distribuição dos dados não seja uma distribuição
Gaussiana perfeita, em muitos casos ela é suficientemente próxima de uma distribuição
Gaussiana e tem sua aplicação muito usada em modelos de engenharia.
O cálculo dos parâmetros da distribuição em situações práticas é obtido de forma
aproximada. Os parâmetros, média e variância da distribuição, neste caso, são estimados a
partir da redefinição das Eqs. 3.4 e 3.5 para um número finito de amostras. Para uma amostra
de tamanho finito, o valor da média (média da amostra) é definido como x , sendo calculado
pela Eq. 3.7.
N

x i
x i 1
(3.7)
N

E o desvio padrão (desvio padrão da amostra) é definido como s e é calculado pela Eq. 3.8.

( x  x ) i
2

s i 1
(3.8)
N 1

Observe que os valores da média e da variância, para variáveis aleatórias (amostra de


tamanho finito), por si só também são variáveis aleatórias, ou seja, podem variar de um número
de amostra para o outro.
O valor da média x neste caso é apenas uma estimativa do valor verdadeiro, visto que
se o calculo for repetido para um outra amostra provavelmente o valor vai ser ligeiramente

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diferente, ou seja, o valor vai apresentar uma dispersão. Uma vez conhecido o desvio padrão
das amostras, s, é possível calcular o desvio padrão da média das amostras, x , Eq. 3.9.

s
sx  (3.9)
N 1

O desvio padrão da média é considerado uma medida da precisão ao estimar a média da


amostra (tamanho finito). Neste caso é possível estabelecer os limites, com uma dada
probabilidade, em que se espera encontrar a média verdadeira. Para limites  3, a média
verdadeira, , se encontra dentro dos limites   x  3s x com probabilidade de 99,7%.

Observando a Eq. 3.9, nota-se que é possível reduzir a incerteza da média da amostra,
x, aumentando o tamanho da amostra N. Um aspecto importante ainda a ser discutido é quão
confiável, ou melhor, quão representativos são estes valores estimados (isso pode ser feito a
partir do teste da qui-quadrada).

3.1.7– Estimativa dos parâmetros de calibração do Manômetro.

Definido as principais ferramentas estatísticas a serem usadas no processo de calibração,


é possível quantificar algumas variáveis do processo. Para o exemplo, para o dinamômetro em
questão tem-se:

 valor médio - ;

 desvio padrão - ;

 Desvio da média – .

Conhecidos estes valores é possível uma estimativa a respeito da exatidão (ausência de


erro) das leituras, sendo que essa estimativa é feita em termos do conceito de precisão e erros
sistemáticos (bias) do processo de medição.
Para tanto, o primeiro passo é conhecer o quão bem os dados obtidos no teste se
aproximam de uma distribuição Gaussiana, visto que todos esses parâmetros foram calculados
com base em tal distribuição. Esta avaliação, conforme discutido anteriormente, pode ser feita
utilizando o papel gráfico de probabilidade, ou teste da Qui-quadrada.
Neste caso, a avaliação será feita de forma qualitativa, utilizando o papel gráfico de
probabilidade. Convém observar que, para uma avaliação quantitativa é aconselhado utilizar o
teste da Qui-Quadrada.

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Papel Gráfico de Probabilidade

O método do papel gráfico de probabilidade consiste basicamente numa distorção


adequada da escala vertical do gráfico da função de distribuição cumulativa, tornando-a uma
linha reta, Fig. 3.8. Posteriormente, os dados são lançando no papel gráfico de probabilidade
(este papel é vendido comercialmente ou pode ser utilizado um software) e é observado se os
dados têm o comportamento dos dados de uma distribuição Gaussiana.

Figura 3.8- Papel gráfico de Probabilidade

A Fig. 3.9 mostra o gráfico dos dados da calibração do manômetro (Tab. 3.1) plotados
no papel gráfico de probabilidade. Para traçar o gráfico, é definida inicialmente uma faixa de
valores, na escala horizontal, que inclua todos os valores dos dados lidos. Neste caso, como o
papel representa uma distribuição cumulativa, a ordenada de cada ponto do gráfico representa a
probabilidade de que aquela leitura seja menor do que a abscissa daquele ponto.
Essa probabilidade, em termos do conjunto de dados avaliados, é simplesmente o
percentual de dados (valores de leituras) abaixo daquele particular valor. Note, por exemplo,
que o valor mais alto (10,42 kPa) não pode ser plotado, visto que a escala vertical não
contempla 100% dos valor, isso implicaria em uma distribuição perfeita. O mesmo ocorre com
o menor valor 9,81 kPa.
No caso de uma distribuição Gaussiana perfeita, bastam dois pontos para se plotar a
curva (linha reta) no papel gráfico de probabilidade, o valor médio dos dados x e o valor da
média mais 1 desvio padrão, ou seja, x  s . Numa distribuição Gaussiana, 50% dos dados vão

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estar abaixo do valor médio e para o caso de se considerar o valor x  s , 84,1% dos dados vão
estar abaixo deste valor. Portanto, conhecendo-se o valor da média dos dados medidos x
=10,11 kPa e o valor de x  s = 10,11 kPa + 0,14 kPa é possível traçar a curva ilustrada na
Fig. 3.9.

84,1

S=0,1
4

Figura 3.9- Gráfico para avaliação da distribuição das leituras em termos de uma Gaussiana

A superposição da curva (linha reta) com os dados permite uma avaliação visual
(qualitativa) de quanto os dados (leituras) estão próximos ou distantes de uma distribuição
Gaussiana perfeita.
Neste caso, observando a Fig. 3.9, pode-se dizer que os dados (leituras) são
razoavelmente próximos de uma distribuição Gaussiana, visto que o comportamento dos
mesmos é praticamente uma linha reta (característica de uma distribuição Gaussiana) e
aproximadamente 50 % dos dados estão abaixo da média.
Uma vez definido que o comportamento dos dados se aproxima de uma distribuição
Gaussiana, então é possível fazer a estimativa (predição) da exatidão do instrumento, a partir
dos parâmetros estimados. No exemplo em questão, se novas leituras (medidas) forem feitas,
pode se afirmar que existem 99,7% de confiabilidade (limites  3) de que o valor da leitura
vai se encontrar em torno da média calculada 10,11 kPa dentro do limites de  0,42 kPa (3xs).

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Aplicação do Instrumento

Um aspecto importante a ser lembrado em sistemas de medições é que o processo de


calibração é um meio, visto que a real proposta não é a calibração em si, mas sim a aplicação
do instrumento. A calibração é um meio de fornecer as informações necessárias para que o
instrumento possa ser utilizado com segurança e que o analista possa obter, a partir do valor da
leitura (saída), uma estimativa do valor verdadeiro da variável que esta sendo medida (valor de
entrada).
Para uma melhor compreensão deste fato, considere que o manômetro em questão
(calibrado) seja usado para medir uma pressão desconhecida e o valor da leitura seja 10,11 kPa.
Tomando com base os parâmetros da calibração, pode-se dizer que a melhor estimativa do
valor da pressão verdadeira é 10,00 kPa, mas a leitura tem incertezas. Essas incertezas não
podem ser eliminadas, são inerentes do próprio processo de medição, mas elas podem ser
quantificadas com base nos parâmetros obtidos no processo de calibração. O analista não sabe
qual é o valor verdadeiro, mas ele pode prever com base nos dados da calibração que o valor
verdadeiro está em algum valor  0,14 kPa (limites  1) em torno da média 10,11 kPa ou, no
caso de limites  3, o valor vai esta em algum ponto entre os limites  0,42 kPa
(confiabilidade de 99,7%). A Fig. 3.9 mostra os limites de erros do instrumento que, neste caso,
são os erros de bias e imprecisão.

Figura 3.10- Erros de bias (erro sistemático) e imprecisão do Instrumento.

Teste da Qui-quadrada

Nos slides a seguir são apresentados resumidamente os conceitos e a aplicação do teste


da Qui-quadrada para avaliação do nível de significância dos dados.

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Tabela 3.2: Distribuição Qui-Quadrado

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3.2. CALIBRAÇÃO DE UM MANOMÔMETRO DE MOLA PARA UMA DADA FAIXA


DE PRESSÃO

Uma vez entendidos os procedimentos e testes de calibração para um único caso, faz-
se necessária uma discussão envolvendo agora a calibração de um instrumento para uma dada
faixa de operação (situação prática).
Para ilustrar esse processo, considere o próprio manômetro discutido no caso anterior.
A calibração será feita agora para a relação entre a entrada desejada (pressão) e saída (leitura na
escala) variando no intervalo de 0 – 10 kPa. A Tab. 3.3 mostra os dados obtidos no processo de
calibração do instrumento, sendo que os valores de entrada (valores verdadeiro) foram
aplicados em incrementos crescentes e, posteriormente, incrementos decrescentes. Em
processos reais, geralmente não são feitas várias repetições do valor de entrada (verdadeiro)
para cada caso (ponto), mas sim apenas um procedimento de carregamento e descarregamento
(incrementos crescente e decrescente), cobrindo toda a faixa de operação que é de interesse. Se
os valores aplicados no carregamento (incrementos crescentes) forem os mesmos aplicados na
direção decrescente, o valor de cada ponto é medido pelo menos duas vezes.
Neste caso, a variação do valor da variável de entrada (padrão), qi, foi de incrementos
de 1kPa em 1kPa e as entradas espúrias foram mantidas em níveis controlados (ver discussão
no exemplo anterior).

Tabela 3.3: Dados da Calibração


10
Valor Pressão
9
verdadeiro indicada
Saídas [KPa]

8
(qi) (qo)
Crescente decrescente 7

6
0.000 -1.12 -0.69
1.000 0.21 0.42 5 qoj
2.000 1.18 1.65 4

3.000 2.09 2.48 3

4.000 3.33 3.62 2


5.000 4.50 4.71 1
6.000 5.26 5.87 0
0 2 4 6 8 10
7.000 6.59 6.89 Entradas [KPa]
8.000 7.73 7.92
Figura 3.11- Ajuste de Curva.
9.000 8.68 9.10
10.000 9.80 10.20

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Lançando os valores das leituras obtidas em um gráfico Y em função de X, ou mais
especificamente, em um grafico qo (saída) em função de qi (entrada), é possível observar o
comportamento dos dados. A variável qi significa a entrada (valor padrão) e a variável qo a
saída (leitura) medida, nota-se que os dados estão distribuídos ao longo de uma reta, Fig. 3.11.
Portanto, a curva que melhor representa a relação entrada-saída do instrumento, neste
caso, é uma linha reta. A determinação dos parâmetros desta reta, os quais melhor representam
os dados, leva à chamada curva de calibração do instrumento. Para a maioria dos instrumentos,
a curva de calibração é uma linha reta (salvo alguns casos especiais).
No caso em questão, de acordo com o gráfico da Fig. 3.11, a curva que melhor
representa a distribuição dos dados é uma reta, cuja equação é dada pela Eq. 3.10.

q0  mqi  b
(3.10)

sendo: qi - quantidade de entrada (variável independente);


qo - quantidade de saída ( variável dependente);
m - inclinação da curva de calibração;
b - interseção da curva com o eixo vertical;

O ajuste da curva, que melhor se adapta aos dados medidos, pode ser obtido através de
um processo de minimização. Um dos critérios de ajuste mais comum é o método dos mínimos
quadrados, o qual minimiza a soma dos quadrados dos desvios verticais, , dos pontos
medidos em relação à curva.
Neste caso, o erro quadrático é determinado pela diferença entre o valor medido, ,
(j=1, 2, ... n ptos) e o correspondente valor da curva para aquele ponto.

(3.111)

ou

(3.12)

Definido o erro para cada valor de medição, a soma dos quadrados dos erros é
minimizada em relação aos parâmetros m e b da curva a ser ajustada.

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(3.13)

(3.14)

Resolvendo o sistema de equações fornecido pelas Eqs. 3.13 e 3.14, tem-se as


expressões para o cálculo dos parâmetros m e b (mínimos quadrados), Eqs. 3.15 e 3.16.

N  qi q0   qi  q0 
m (3.15)
N  qi2   qi 
2

 q  q    q q  q 
2

b
0 i i 0 i
(3.16)
N  q   q  2 2
i i

Os valores de m e b, obtidos a partir do conjunto de dados medidos, também


apresentam uma dispersão (caráter aleatório), visto que os mesmos foram calculados a partir de
dados não exatos. Isto significa que, para uma repetição do mesmo conjunto de valores de
entrada, os valores de saída (medidos) não necessariamente se repetem.
Portanto, conhecer a dispersão destes parâmetros é bastante útil para se ter uma “ideia”
da variação dos mesmos. As respectivas variâncias e desvios padrões dos parâmetros m e b são
dadas pelas Eqs. 3.17 e 3.18.

N sq20
s 
2
(3.17)
N  qi2   qi 
m 2

s q20  qi2
sb2  (3.18)
N  qi2   qi 
2

Para o cálculo dos desvios de m e b nas Eqs. 3.17 e 3.18, é necessário conhecer o valor
de sqo, isto é, o desvio de qo. Assim, se o valor de qi for fixado e repetido várias vezes, os
valores de saída qo obtidos vão apresentar uma dispersão sqo.
Agora assumindo que essa dispersão sqo seja igual para qualquer ponto, é possível
estimar o valor de sqo via Eq. 3.19, utilizando os dados da Tab. 3.3 sem ter que repetir a medida
para cada valor qi várias vezes.

1
s q0 
N
 (mqi  b  q0 ) 2 (3.19)

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Curva de Calibração do Manômetro

Substituindo os valores da Tab. 3.3 nas expressões acima, têm-se os valores dos
parâmetros m = 1,082 e b = -0,85 kPa da curva de calibração, para o instrumento em questão.

Conhecida a curva de calibração e o valor do desvio sqo = 0.208 kPa, agora é possível
estimar os desvios dos parâmetros sm = 0.014 e sb = 0.083kPa. Assumindo que os dados são
razoavelmente representados por uma distribuição gaussiana e assumindo limites de confiança
de 99,7% (limites 3) tem-se:

m = 1.082 ± 0.042
b = -0.85 ± 0.249 KPa

3.2.1 - Aplicação – Utilização do manômetro para medir uma dada pressão.

Uma vez definidos os parâmetros e a curva de calibração do instrumento, o mesmo pode


ser utilizado para aplicações diversas de medidas de pressão na faixa de 0 a 10 kPa. Neste
caso, o instrumento vai fornecer um dado valor de pressão qo (leitura do instrumento) e, a partir
da curva de calibração, é possível se fazer uma estimativa do real valor de pressão qi (valor
verdadeiro) que se deseja conhecer.
Assim, utilizando a curva de calibração, é possível fazer uma estimativa do valor da
entrada qi (pressão verdadeira) que leva à saída qo (leitura) medida pelo instrumento. Para isso,
basta expressar a entrada em termos da saída utilizando a curva de calibração, Eq. 3.20.

(3.20)
O valor de qi calculado desta maneira, como pode ser observado, também tem um erro
associado, definido pelo limite  sqi. Esse limite é estimado utilizando a própria curva de
calibração e os dados de entrada, Eq. 3.21.

(3.21)

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Para melhor ilustrar a utilização do instrumento, considere que o manômetro em


questão foi utilizado para medir uma pressão desconhecida e o valor da leitura (saída) medida
foi de 4.32 kPa. Uma vez conhecido o valor da leitura, o correspondente valor verdadeiro da
pressão (valor de entrada) e respectivos limites de erros podem ser estimados utilizando as Eqs.
3.20 e 3.21.

Portanto, assumindo limites de confiança 3s, pode-se dizer que o valor verdadeiro da
pressão de entrada do instrumento é 4,78 ± 0,58 kPa. Esse valor é diferente do valor lido no
instrumento que foi de 4,32 kPa , ou seja, existe um erro de -0,46 kPa.
O processo de calibração permite o analista avaliar melhor os erros do instrumento e
conhecer a exatidão do mesmo.
Para isso, é conveniente decompor o erro global do processo de medição em duas
componentes, i.e., os erros de bias ou sistemáticos e os erros de precisão (imprecisão). A figura
3.12 mostra esquematicamente a decomposição do erro global em bias e imprecisão, no caso
em que a leitura do dinamômetro foi de 4,32 KPa.

± 3 s limites de incerteza

± 0,58 imprecisão
Pressão medida (leitura): 4,32 KPa
Valor verdadeiro (estimado): 4,78 0,58 kPa
Erros de bias: -0,46 kPa
Imprecisão (limites 3): 0,58 kPa

4,20 4,32 4,78 5,36


Pressão [kPa]
leitura Melhor estimativa
do valor verdadeiro

Figura 3.12 – Decomposição do erro em precisão e erro sistemático (bias)

Uma interpretação mais clara dos erros de bias e imprecisão pode ser vista na Fig. 3.13.
A figura ilustra o resultado obtido no lançamento de dardos por três diferentes jogadores, sendo
que o primeiro jogador, Fig. 3.13(a) não tem precisão, o segundo, Fig. 3.13(b) é muito preciso,
mas não é exato (consegue acertar o mesmo ponto, mas está distante do alvo por um valor fixo

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ou bias). Finalmente, o terceiro jogador, Fig. 3.13(c), é preciso e não apresenta erros de bias, ou
seja, tem uma boa exatidão.

baixa precisão alta precisão


erros de bias erros de bias boa exatidão

(a) (b) (c)

Figura 3.13 – Ilustração dos conceitos de Precisão, Bias e Exatidão.

Resumidamente, a calibração pode ser entendida como uma forma de se eliminar


(minimizar) os erros sistemáticos e definir numericamente a imprecisão do instrumento. Um
instrumento com uma boa exatidão (acurácia) pode ser definido como aquele que tem uma alta
precisão e a ausência de erros de Bias.

3.3. UTILIZAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO t PARA ESTIMATIVA DA INCERTEZA DO


INSTRUMENTO EM UM PROCESSO DE MEDIÇÃO/CALIBRAÇÃO.

No caso anterior os limites de erros do instrumento, mais especificamente a precisão,


foram discutidos considerando a distribuição Gaussiana. Entretanto, em situações práticas, isso
pode não se aplicar plenamente, principalmente em função da quantidade de dados disponíveis
para análise, pois uma distribuição Gaussiana é baseada em um conjunto de amostras infinitas.
Para os casos práticos, em que o número de dados obtidos é limitado, existem métodos
mais refinados para especificar os limites de erros. Esses métodos assumem que os valores
estimados de sqi utilizando um pequeno número de amostra (N < 30) são menos representativos
do que aqueles utilizando um grande número de amostras. O uso da distribuição t para
estimativa dos valores de sqi leva, de alguma forma, o efeito do tamanho da amostra de dados
nos cálculos.
Da abordagem anterior (item 3.2), foram ressaltados dois aspectos importantes:

a) O desvio padrão calculado não leva em conta o fato de que, em situações reais,
se tem um pequeno número de pontos. Além disso, o valor calculado é assumido
como tendo a mesma exatidão daquele outro desvio padrão calculado com um

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grande número de pontos. Por isso o resultado não é plausível, ou seja, é
necessário adequar a incerteza dos dados para o número de pontos;

b) A utilização de limites 3s em situações práticas é pouco realista. Por exemplo,


para um limite de confiança de 99,7% (limite 3s), o número de pontos da
amostra, de modo que se possa observar pelo menos uma leitura fora do limite
especificado, seria de 334 pontos. Desta forma, é mais razoável se utilizar
limites 2s (95%). Neste caso, se o tamanho da amostra for de 20 pontos,
significa dizer que, considerando 20 leituras, 95% delas se encontram dentro,
enquanto que 5% delas se encontram fora dos limites (2s), ou seja, 19 leituras
dentro e 1 leitura fora dos limites especificados.

Nesta proposta, o cálculo da incerteza é feito utilizando a distribuição t e os limites de


erros são calculados com um limite de confiança de 2s (95%).
A curva de calibração é obtida com base no conceito dos mínimos quadrados, discutido
anteriormente (mesma curva) e a estimativa do valor verdadeiro é feita da mesma forma,
utilizando Eq. 3.20. Entretanto, os limites de incerteza são calculados de forma diferente.
Neste caso, são utilizadas as fórmulas de Mendel e o erro é estimado de acordo com a Eq. 3.21.

1 1 N qi  qi 2
q0  t 95,N  2 Sq0   (3.21)
n N N

qi 2   q1
2

Os limites de erros, conforme pode ser observado, são definidos por duas hipérboles em
ambos os lados da curva de calibração. Os valores de ∆qoj para cada j-ésimo ponto são
calculados utilizando a Eq. 3.21 em que N é o número de pontos medidos, n é número de
repetições da medição e t95,N-2 é dado pela tabela da distribuição t.
A Tab. 3.4 mostra alguns valores da distribuição t, dependendo do número de pontos da
amostra. Nota-se que, para o número de pontos variando entre 20 e 40, o coeficiente da
distribuição varia pouco.

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Tabela 3.4- Distribuição t

Para um valor qo lido no instrumento (leitura), é traçada uma linha horizontal passando
por esse valor que vai cortar as duas hipérboles. Os valores correspondentes de qi, na interseção
das curvas, definem os limites do intervalo de confiança de 95%, em relação ao valor
verdadeiro da leitura. Dessa maneira, existe 95% de probabilidade de que o valor verdadeiro da
leitura se encontre neste intervalo.

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Para o manômetro em estudo, a curva de calibração obtida é a mesma do caso anterior,
mas os novos limites de erros são calculados utilizando a Eq. 3.21. A Fig. 3.14 mostra a curva
de calibração e os respectivos limites de erros.

10 q0 ± q0
9
Saídas [KPa]

5 qoj
4 q0=1.082qi – 0,85
3

0
0 2 4 6 8 10
Entradas [KPa]

Figura 3.14 – Curva de Calibração e limites de imprecisão.

Uma vez definida a curva de calibração do instrumento e especificados os limites de


erro (curva pontilhada), o manômetro pode ser utilizado para medir qualquer valor de pressão
na faixa de 0 - 10 kPa. No caso anterior, foi utilizado o método da distribuição Gaussiana para
estimar a incerteza, enquanto que no caso atual foi utilizado o método da Distribuição t.
Anteriormente, para limites 2s de qi, os limites de erros seriam de (2)x(0,192) = 0,384
kPa. Para a mesma leitura de 4,32 KPa observada no exemplo anterior, o valor verdadeiro
estimado no caso atual é dado por qi = 4,78 ± 0,392 KPa. Comparando os dois métodos, é
possível notar que os limites de erro, neste caso, são ligeiramente maiores do que no caso
anterior.
Outro aspecto que pode ser notado é que, no caso anterior, os erros ∆qo são fixos e,
neste novo método, os mesmos variam com qi. O maior valor é 0,376 kPa e ocorre nos
extremos da curva, enquanto o menor valor é de 0,350 kPa, ocorrendo no centro da curva. Isso
era esperado, pois as curvas são formadas por 2 hipérboles.

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3.4. OUTRAS FORMAS DE ESPECIFICAÇÃO DOS LIMITES DE ERROS DOS


INSTRUMENTOS

Em engenharia, existem ainda outros métodos de avaliação dos limites do erro de um


instrumento. Tais métodos podem ser utilizados, principalmente, em função da sua praticidade.
Dentre eles tem-se o erro provável ep e a percentagem do fundo de escala (% FE).

Erro provável (ep)

O erro provável é definido como:

ep = 0.674 s (3.22)

Isso significa que, em cinquenta por cento das vezes, o valor verdadeiro se encontra
dentro dos limites  ep.

Maior distância horizontal em relação à curva ajustada

Em aplicações práticas de engenharia, frequentemente a exatidão do instrumento é dada


por um único valor numérico, sem uma definição clara do real significado deste número.
Muitas vezes, mesmo quando a calibração tenha sido feita como no exemplo anterior,
o desvio sqi da entrada (valor verdadeiro) não é avaliado e, dessa maneira, o erro é tomado
como sendo a maior distância horizontal dos dados (ponto mais distante em relação à curva de
calibração).
Por exemplo, para o dinamômetro em questão, isso ocorre para o ponto qi = 0, ou seja,
neste ponto a distância horizontal em relação à curva ajustada (erro do sistema) é igual a 0.25
kPa. Portanto, a inexatidão do instrumento é cotada como sendo  2.5% do fundo de escala (±
2,5% FE). Esse limite corresponde aproximadamente a um limite estatístico de  2s.

Percentual do Fundo de Escala (% FE)

Sob o ponto de vista prático, quando se faz uma medida, o que se deseja dizer não é o
quanto aquela leitura é correta, mas sim se o erro daquela leitura não excede um valor
especificado.
A forma mais fácil de fazer isso seria utilizar um único valor numérico para representar
o erro. Isso é correto, se os erros de bias são nulos (removidos pela calibração) e se os limites
forem especificados como sendo limites 1s; 2s; 3s ou ep.

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Entretanto, se erros de bias são desconhecidos (não nulos), o uso de um simples valor
numérico para expressar o erro global não é satisfatório. Essa afirmativa pode ser explicada
considerando o caso de se tentar estimar a inexatidão global de um sistema de medições. Este é
formado por vários componentes individuais, sendo que cada qual possui um inexatidão
conhecida, podendo levar a valores incorretos. Isso ocorre porque o método utilizado, para
combinar o efeito dos erros (inexatidão) individualmente, é diferente quando se tem erros
sistemáticos (bias) e erros aleatórios (imprecisão).
Para expressar a inexatidão de um dado componente, se for adotado um valor que
contém ambos os erros (bias e imprecisão), em proporções desconhecidas, então se torna
confuso o cálculo da inexatidão global do sistema.
Entretanto, em muitos casos práticos não existem muitas alternativas e, dessa maneira,
uma estimativa teórica, uso de experiências passadas ou mesmo o próprio julgamento do
experimentalista devem ser usados para chegar à estimativa da inexatidão global ou incerteza, a
ser associada à leitura. Nesta situação, o analista aposta em uma dada chance (por exemplo, 1
para 19) que o erro se encontra dentro dos limites estimados. Para esse caso, limites de erros
podem ser combinados, como se fossem apenas imprecisão, e utilizados como tal no cálculo do
erro global.
Independentemente do real significado, associado à inexatidão especificada pelo
fabricante, a inexatidão é especificada de maneira bastante uniforme e, na maioria das vezes,
ela é cotada como uma percentagem do fundo de escala do instrumento.
Por exemplo, se o manômetro opera numa faixa de 0-10 kPa e a inexatidão for cotada
como 1.0 % do fundo de escala, espera-se que nenhuma leitura do instrumento tenha erro
maior do 0.1 kPa, se feita corretamente.
Uma outra forma de se expressar o erro, muitas vezes utilizada, é definir um erro fixo
a ser utilizado no início da escala e, para o restante da escala, definir o erro como uma
percentagem da leitura, adotando-se assim o valor que for maior.
Por exemplo, se um instrumento para medir pressão indica uma inexatidão de  0.1 kPa
ou 0.5 % da leitura, tem-se que, para leituras menores do que 20 N, o erro é constante e igual
 0.1 kP, enquanto que, para leituras maiores do que 20 N, o erro é definido como um
percentual da leitura.

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3.5. DEFINIÇÃO DOS PRINCIPAIS TERMOS USADOS NA CALIBRAÇÃO


ESTÁTICA

Os principais termos utilizados para especificar as características de um instrumento são


discutidos a seguir, tomando como referência, sempre que for possível, a calibração do
dinamômetro de pressão, Fig. 3.3.

3.5.1-Facilidade de leitura

A definição da facilidade de leitura (leiturabilidade) de um instrumento envolve vários


aspectos, por exemplo:
- A leiturabilidade depende de ambos, do instrumento e do observador;
- “Quão próximo” do valor correto da escala o usuário acredita possa fazer uma leitura;
- Depende do comprimento da escala, da graduação, do tamanho do ponteiro, de erro de
paralaxe e outros;
- Um instrumento com uma escala de 12 cm de comprimento tem uma melhor leiturabilidade
do que um instrumento com uma escala de 6 cm, para a mesma faixa de operação é claro;
- Todos os valores anotados devem estar na forma decimal e não em fração. Isso para evitar
problemas com o número de casas nas aproximações. Por exemplo,
½ unidade → 0.5 ou 0.500?

3.5.2-Sensibilidade estática

A sensibilidade estática do instrumento é definida pela razão saída/entrada do instrumento,


ou seja, é definida pela razão do movimento do ponteiro do instrumento (saída) com relação a
variação da variável que causa este movimento (entrada). Por exemplo, considere um
instrumento para medida de deslocamento em que um valor de entrada de 1 mm produza um
registro de saída (leitura) de 25 mV, portanto, uma sensibilidade de 25 mV/1mm.
O valor da sensibilidade estática é definido pela inclinação da curva de calibração e no caso
de instrumentos lineares a mesma é dada pela razão ∆qo/∆qi (saída/ entrada). A Fig. 3.15
mostra o gráfico da curva de calibração para um instrumento linear e um não linear. Em ambos
os casos a sensibilidade é definida da mesma forma, entretanto, no segundo caso a mesma deve
ser definida ponto a ponto.

Prof. João Antonio Pereira 74 DEM/FEIS/UNESP/2014


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Sensibilidade

Figura 3.15- Curva de calibração para um instrumento linear e um não linear.

Outro aspecto importante a ser observado é a questão da sensibilidade ser representada


em relação a uma saída física ou em relação a um número. No exemplo do manômetro, a
sensibilidade do mesmo é dada por um número (m= 1,082) e a quantidade de saída é plotada
como pressão [kPa]. No entanto, a saída física do manômetro é uma rotação angular do
ponteiro.
Para um melhor entendimento da definição da sensibilidade, é mais conveniente que a
saída seja tomada como uma saída física do instrumento, não apenas como um número
associado à escala. Neste caso, para conhecer a sensibilidade estática propriamente dita, é
necessário conhecer o espaçamento angular causado por 1 kPa na escala do manômetro.
Supondo que esse espaçamento seja de 5 graus por cada 1 kPa (5graus/1kPa), isso
resultaria em uma sensibilidade estática de 5 x (1,05) = 5,25 graus / kPa. A sensibilidade
estática, definida desta forma, permite a comparação deste manômetro com outros manômetros
disponíveis. Isso permite avaliar qual deles melhor detecta uma mudança na pressão
(quantidade de entrada), etc.
A sensibilidade do instrumento, em relação à entrada desejada, é o foco tratado até aqui.
Entretanto, a sensibilidade em relação às entradas interferentes e/ou modificantes também pode
trazer informações a respeito do comportamento do instrumento, principalmente quando as
entradas espúrias estão presentes ou mesmo quando o instrumento está sendo utilizado para
uma medição qualquer, cujas condições são diferentes das condições de calibração. Neste caso,
pode haver erros relacionados aos termos 'flutuação do zero' e/ou 'flutuação da sensibilidade'.

Prof. João Antonio Pereira 75 DEM/FEIS/UNESP/2014


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3.5.4-Flutuação do zero e flutuação da sensibilidade

Flutuação do zero

A flutuação do zero está diretamente relacionada às entradas interferentes, por


exemplo, considere que a temperatura seja uma entrada interferente no manômetro. Essa
entrada pode causar uma expansão/contração que vai provocar uma saída (leitura), mesmo
quando não existe nenhuma variação de pressão.
Tal flutuação pode ser quantificada procedendo à calibração do instrumento em
relação a essa entrada, ou seja, variando a temperatura em uma dada faixa, ao manter todas as
outras variáveis constantes e medindo a saída (leitura) do instrumento. Assim é possível definir
a flutuação do zero, por exemplo, 0,01 grau angular para cada 1°C de temperatura
( 0,01 grau angular / 1°C ).

Flutuação da sensibilidade (ou fator de escala)

A flutuação da sensibilidade está diretamente relacionada às entradas modificantes e


também pode ser quantificada pela calibração. Por exemplo, considere que a variação de
temperatura possa afetar o módulo de elasticidade da mola e, consequentemente, a
sensibilidade do dinamômetro.
Neste caso, a flutuação da sensibilidade poderia ser avaliada fixando a temperatura em
um valor e executando a calibração para a entrada desejada, obtendo-se assim a sensibilidade
do instrumento para aquela temperatura.
Repetindo o processo para os outros valores de temperatura, é possível quantificar a
flutuação da sensibilidade, por exemplo, 0,0005 graus angular para cada 1 grau de temperatura
(0.0005 graus angular/°C). A Fig. 3.16 mostra a superposição desses efeitos na avaliação do
erro total devido à variação da temperatura.

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Figura 3.16- Superposição dos efeitos da flutuação do zero e da sensibilidade.

3.5.5-Linearidade

A linearidade do instrumental é discutida em termo da curva de calibração da entrada


desejada. Uma curva de calibração representada por uma linha reta (linear) é desejada para a
maioria das aplicações. Neste caso a conversão, da leitura da escala para o valor da variável de
entrada, é mais fácil: basta uma multiplicação por uma constante, diferentemente do caso não
linear. Isso facilita muito também quando o instrumento é utilizado como parte de um sistema
mais complexo, por exemplo, um sistema de controle.
Várias definições de não linearidade são possíveis, uma das mais comuns é chamada de
linearidade independente. A linearidade independente é definida em termo do grau de
conformidade dos dados com a curva ajustada (reta) e é especificada como a medida do desvio
do ponto que esta mais distante da curva de calibração (linha reta). Esse valor pode ser
especificado como uma porcentagem de leitura observada (±A% da leitura), uma porcentagem
de fundo-escala (±B% do fundo de escala) ou uma combinação de ambas. A combinação de
ambas parece ser uma representação mais realista.
A Fig. 3.10 mostra a banda de tolerância de cada especificação. Ambas apresentam
limitações. Por exemplo, a especificação do tipo ±A% não é adequada quando os desvios
absolutos são próximos do zero (inicio da escala) visto que a leitura se aproxima do zero
também. Uma vez que na calibração é pressuposto que a entrada deve ser muito mais exata do
que o instrumento, isso torna impossível conseguir esses valores.

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Já no caso da especificação do tipo ±B%, se o valor do desvio for tomado como um
único valor fixo para leituras no inicio e no final da escala, esse erro seria muito diferente de
uma leitura para outra. Portanto, a não linearidade independente é especificada por ±A% da
leitura ou ±B% do fundo de escala, usar o valor que for maior.

Figura 3.10- Banda de tolerância de cada especificação.

Note que, em alguns instrumentos considerados essencialmente lineares, a especificação


da não linearidade é equivalente à especificação da inexatidão global do instrumento (quando a
inexatidão é definida de forma não estatística). Em muitos instrumentos comerciais é
especificada apenas a linearidade (não exatidão).

3.5.6-Limiar (Threshold)

O limiar de um instrumento é definido como o mínimo valor de entrada abaixo do qual


nenhuma mudança mensurável de saída é detectada, resumidamente, define o menor valor de
entrada capaz de ser medido.

3.5.7-Resolução

A resolução de um instrumento é definida como o menor incremento de entrada que


fornece uma variação (mensurável) na saída, resumidamente, define a menor variação de
entrada que pode ser medida.

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3.5.8-Histerese

A histerese pode ser notada quando se aplica um carregamento no instrumento e retira


essa carga. Imediatamente após o descarregamento do instrumento, o mesmo não retorna o
zero inicial. Isso ocorre principalmente devido o atrito interno, atrito externo, efeitos
magnéticos, deformação elástica e etc. A Fig. 3.11 mostra esquematicamente o efeito da
histerese no caso de atrito interno, Figs. 3.11(a) e 3.11(b) e atrito seco nas figuras 3.11(c) e
3.11(d).
Claramente esta diferença na leitura depende da direção de aplicação da carga
(crescente/decrescente). A Fig. 3.11 (e) mostra a combinação dos efeitos. O valor numérico da
histerese pode ser especificado em termo da entrada ou da saída, sendo geralmente é cotado
como uma porcentagem do fundo de escala.

Figura 3.11- Efeito da histerese.

3.5.9-Repetibilidade

A repetibilidade, também chamada de repetitividade do instrumento, define os limites


de variação dos valores de uma grandeza medida varias vezes com o mesmo instrumento,
mesmo operador e as mesmas condições de teste. Essas medições devem ser realizadas em um
intervalo mínimo de tempo e devem apresentar a menor variabilidade possível.

Prof. João Antonio Pereira 79 DEM/FEIS/UNESP/2014


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3.5.10- Reprodutibilidade

A reprodutibilidade, também chamada de reprodutividade de um instrumento, é


definida como os limites da variação dos valores de uma grandeza, medida várias vezes por
diferentes operadores, usando o mesmo instrumento de medição, medindo os mesmos valores
em condições idênticas, mas em tempo e/ou local diferente. As medições podem ser feitas em
intervalos de tempo grandes e devem apresentar a menor variabilidade possível.

3.5.11-Exatidão

No caso de uma simples leitura, pode ser definida como o erro da leitura em relação a
uma entrada padrão conhecida. No caso em que não existe esse valor conhecido (maioria dos
experimentos), a exatidão é definida como a capacidade do instrumento fornecer leituras com
alta precisão e ausência de erros de bias.

3.5.12-Precisão

Indica a habilidade do instrumento, para uma mesma entrada, reproduzir a mesma


saída (leitura) com uma pequena dispersão.
Por exemplo, para uma distinção clara entre precisão e exatidão, considere que a
medição de uma voltagem conhecida (valor verdadeiro) de valor 100 V é feita com um dado
medidor. São feitas cinco leituras (104, 103, 105, 103 e 105) e, neste caso a exatidão do
instrumento está em 5% (5 volts), enquanto a precisão é 1%, visto que o máximo desvio do
valor médio é 1V.
Esse instrumento poderia ser calibrado (eliminação dos erros de bias) e passaria a medir
os valores com erros de ± 1V. Entretanto, o valor da precisão não vai mudar, ou seja, "a
exatidão pode ser melhorada pela calibração, até a precisão do instrumento, mas não além da
precisão".

Prof. João Antonio Pereira 80 DEM/FEIS/UNESP/2014


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5. REFERÊNCIAS
DOEBELIN, E. O. “Measurement Systems Applications and Design;” McGraw-Hill” Series in
Mechanical Engineering, Fifth Edition. 2004.
FIGLIOLA, R. S., BEASLEY, D. E. “Theory and Design for Mechanical Measurements;” John
Wiley & Sons. 1994.
HOLMAN, J. P. “Experimental Methods of Engineers;” International Student Edition.
McGraw-Hill Kogakusha. 1993. Sixth Edition.
DOEBELIN, E.O. “System Modelling and Response: Theoretical and Experimental
Approaches.” John Wiley & Sons. 1980.
LARSON, R., FARBER, B. "Estatística aplicada". Quarta Edição. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2010.

Prof. João Antonio Pereira 93 DEM/FEIS/UNESP/2014

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