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Com conteúdo da
É O FUTURO,
MAS NÃO
SE ASSUSTE
Pascal Finette,
chefe do
programa de
empreendedorismo
e inovação aberta
da Singularity
University
28 | Entrevista
Zia Chishti e sua segunda empresa
de mais de US$ 1 bilhão
34 | Dossiê África
As boas ideias de startups africanas
atraem investidores
48 | É coisa séria
Os planos da Giphy, maior produtora
de GIFs do planeta
66 | Entrevista
Pascal Finette, da Singularity, e a
ambição de salvar o mundo
70 | Entrevista
Sofia Wingren, da Hyper Island, e a
54 | EDUCAÇÃO EXECUTIVA Instituições
importância de desaprender
de ensino radicais revolucionam
a preparação de gestores
72 | Crianças primeiro
As escolas infantis que educam para
o século 21
IDEIAS INTELIGÊNCIA INSIGHTS
80 | Entrevista
17 | A fila anda Miguel McKelvey, do WeWork, e as
Rotatividade nas
vagas pode beneficiar sacadas da WeGrow
a produtividade da
economia e o cidadão,
ensina a Suécia 82 | O que vale saber?
Em novo livro, o futurólogo Tim
SIGA O LÍDER O’Reilly avalia a IA e a educação
8 | Embraer 92 | A hora dela 94 | Telescópio
A negociação com a Oprah Winfrey explica A consultora Iza Dezon, 86 | A Didi acelera
Boeing cria muitas por que o mundo está da francesa Peclers,
possibilidades e alguns mudando e oferece aos O que a gigante chinesa fará após
antecipa tendências e
riscos para a joia da americanos um novo explica como observá- comprar a 99
indústria brasileira tipo de inspiração las no nascedouro
90 | O novo normal
Junte um meme racista, a festa da
O QUE É O G.LAB
O G.LAB elabora conteúdos de qualidade patrocinados por empresas que firma e um funcionário indignado
contratam seus serviços. Eles são identificados por expressões como
“apresenta”, “apresentado por”, “oferecimento”, “especial publicitário”,
“conteúdo publicitário”, “publieditorial” e “promo”.
DIRETOR DE GRUPO AUTOESPORTE, ÉPOCA NEGÓCIOS, GLOBO RURAL E PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES NEGÓCIOS Ricardo Cianciaruso
COLABORADORES: Alexandra Gonsales, Emily Canto Nunes, Guilherme Horn, Marcos Todeschini, Paulo Eduardo Nogueira, Patricia Oyama, Priscila Cruz,
Rodolfo Araújo e Soraia Yoshida (texto); Luiz Roberto Mendes Gonçalves (tradução); Anna Carolina Negri, Jefferson Dias, Leo Lemos e Rogério Albuquerque (fotografia);
Baptistão, Davi Augusto e Denis Freitas (ilustração); Jonatan Sarmento (infografista); Laís Rigotti (revisão)
O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de
Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa
- Ano 2012, da Editora Globo S.A., é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação
equitativa dos dados e informações de GEE sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado
em conformidade com a NBR ISO 14064-1:2007 e Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.
D
esde que Bill Gates, Steve mesmo lugar em que educam os fi-
Jobs e Mark Zuckerberg sam- lhos. Crianças e cachorros aceitos
baram na cara dos inimigos nos novos escritórios. Eita louco. Vai
com seus famosos dropouts, mos- saber aonde vai dar.
trando que bom mesmo é ser aluno traz entrevistas com pessoas de na- O fato é que novas metodologias se
da Ivy League – só para entrar e sair cionalidades analógicas e digitais. multiplicam mais que dietas. Adeus,
rapidinho, pois importante mesmo Descobrimos que, no ensino médio e passividade e decoreba! Mas, por favor,
é mudar o mundo –, as coisas come- fundamental, instituições católicas e inglês continua fundamental, até para
çaram a complicar para a educação familiares estão cedendo lugar a fun- recitar os novos hits do momento: de-
executiva. É verdade que o formato dos de investimentos. As novas esco- sign thinking e hackathon. Desses en-
industrial (ou medieval?) de ensinar las de elite chegam chegando, com o contros, saem protótipos e vencedores.
das escolas muradas estava na corda espírito “quer causar, a gente causa”. Mas, claro, o importante é a vivência.
bamba desde o fim do século passado. Tratam professores como executivos O espírito de competição está down no
Mas agora sua morte foi finalmente e, no cardápio acadêmico, oferecem high society. O mesmo vale para estu-
decretada. Tudo vai mudar para no- até spiritual guidance. É o caso da dantes mais grandinhos. Para estes, o
vas e antigas gerações, que passaram WeGrow, a nova aposta de negócios cardápio acadêmico de velhas e novas
a vida fazendo maratonas de provas, do WeWork. Fomos até a Cidade do instituições oferece viagens cujos des-
foram atormentadas pela humilhante México conversar com um dos fun- tinos são, claro, centros de empreen-
recuperação, se mataram para entrar dadores do coworking mais famoso dedorismo. O medo de ficar obsoleto
em universidades famosas e se confi- do mundo, Miguel McKelvey, e fa- transformou o Silicon Valley em ponto
naram em salas geladas por um bom lamos sobre o novo modelo, que tem turístico. Nada como ir até o Facebook
par de anos (até aos sábados!) para por intenção desenvolver o espírito e postar uma selfie com o polegar das
atingir o clímax acadêmico e as siglas empreendedor nas criancinhas. Sim, curtidas ao fundo. Executivos e em-
MBA e Ph.D. no perfil do LinkedIn. empreendedorismo é o novo man- presas abrem seus bolsos na esperan-
Para entender um mercado que darim. Imagine só se eles resolvem ça de que outros abram suas cabeças.
virou de cabeça para baixo, e dar um abrir uma escola em cada unidade Pascal Finette, chefe do programa de
norte para estudantes e empresas, de coworking. Seria a realização do empreendedorismo e inovação aber-
fizemos uma edição globalizada, que sonho de toda família: trabalhar no ta da Singularity University, bem que
6
bilhões é a estimativa de
receita líquida da Embraer
450
milhões, aproximadamente,
foram investidos pela
97 37
bilhões, aproximadamente,
é a expectativa de receita
,
bilhões é a projeção
da companhia de
em 2017 (divulgação empresa em pesquisa e da Boeing em 2018 verba para pesquisa e
prevista para 8 de março) desenvolvimento desenvolvimento
JUNTAS
O cargueiro militar
KC-390, maior
avião já fabricado
pela Embraer. A
Boeing já é parceira
na prospecção
de mercado e
assistência técnica
AO INVESTIR EM
TECNOLOGIA
MILITAR, A
EMBRAER SE
TORNOU MAIS
ATRAENTE PARA
A BOEING
REMEDINHO
que protege a parte superior
do comprimido. O resultado
CONTRA POLUIÇÃO
foi um produto 45% mais
barato e com maior barreira
de proteção. Tanta inova-
ção despertou a atenção de
EMPREENDEDORA USA NANOTECNOLOGIA PARA CRIAR grandes empresas. A Na-
CARTELA DE MEDICAMENTO RECICLÁVEL E MAIS BARATA nomix, como foi batizada a
startup de Izabel, participou
dos programas de acelera-
Q
uando trabalhava para uma fabricante multinacional ção da Braskem, da Jasmine
de embalagens para remédios, a farmacêutica Izabel e da Fibria. Uma indústria
Fittipaldi vivia chateada. A indústria toda usava – e farmacêutica testa o produ-
ainda usa – cartelas de medicamentos caras e não reciclá- to. O interesse vai além da
veis. “Por que isso?”, perguntava Izabel aos colegas do setor. redução de custos. “Nossa
“Porque não há alternativa”, diziam eles. A fim de solucionar solução é 100% reciclável”,
o dilema, Izabel criou, primeiro, um substituto para a folha diz a empreendedora, hoje
de alumínio que cobre o fundo da embalagem. Com a ajuda feliz da vida. POR NAYARA FRAGA
A DOIS Elias (ao fundo) e Emmanuel Morandini, da April. Os franceses compraram 60% do negócio
Fonte: Digital (Mobile e Desktop) Comscore agosto 2017 | Impresso Kantar IBOPE Media TGI (Ago15-Jun16) – pessoas com projeção Brasil base IVC | *Leitores Digital + Impresso Somados
Um evento feito
por mulheres,
para mulheres,
no cenário
sofisticado do
Fasano Angra
dos Reis,
Rio de Janeiro
aqui há vagas
BEM DIFERENTE
DO BRASIL
RECOLOCAÇÃO RÁPIDA
DE DEMITIDOS IMPULSIONA A
ECONOMIA SUECA
o
assustador que pareça, tem um
papel a desempenhar. Numa eco-
nomia funcional, novas formas
de trabalhar e novos negócios su-
cedem aos anteriores. Se forem mais produtivos,
contribuem com a prosperidade geral. No Brasil,
ciclos de aquecimento e esfriamento se alternam
sem que o país passe a trabalhar melhor – um mal sonalidade, avaliação e reorganização de currí-
da economia fechada, travada e pouco inovadora culo, entre outras ações. Também prestam ajuda
que somos. Já a Suécia vem conseguindo tornar a psicológica no período de transição e fornecem
rotatividade de profissionais um fator de aumen- auxílio financeiro durante o desemprego, sobre-
to de produtividade, graças a um modelo agressi- tudo àqueles com mais de 40 anos.
vo de recolocação de desempregados. O modelo fortalece a economia como um
O desemprego
Segundo um estudo da OCDE (Organização prolongado todo, pois facilita o fechamento de vagas impro-
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômi- tem efeitos dutivas sem provocar reações de sindicatos –
co, entidade que inclui a maioria dos países de- nefastos nos fortes e combativos na Suécia. Afinal, o demitido
senvolvidos), 85% dos demitidos na Suécia reen- profissionais rapidamente se recoloca em outra função (um
contram emprego em menos de um ano, graças efeito nefasto do desemprego prolongado é que o
à política pública dos conselhos de segurança profissional, defasado, tem dificuldade crescente
do emprego (ou TRR, na sigla em sueco). Esses em se recolocar). O acesso aos conselhos se limi-
grupos reúnem representantes de empresas e ta aos profissionais sindicalizados, que corres-
entidades sociais e se sustentam com recursos pondem a 70% da força de trabalho no país.
privados. Mais ágeis que órgãos governamen- A política sueca parece tomar a dianteira
tais, os conselhos atuam logo após a demissão e ante à de outros países da Europa. Nos modelos
se mobilizam para encontrar um novo emprego tradicionais, escritórios do governo tentam dar
para o trabalhador. Aí entra a diferença essen- treinamento aos desempregados, enquanto sin-
cial: em vez de tentar recolocá-lo na mesma fun- dicatos tentam defender postos de trabalho, em
ção (muitas vezes ultrapassada por tecnologia vez de ajudar o profissional a se adaptar. Na Sué-
ou mudanças de mercado), os conselhos abrem cia, como reza o principal lema dos conselhos, “a
para ele novas opções profissionais. Fazem isso meta não é defender empregos, mas dar apoio
por meio de novos treinamentos, testes de per- aos trabalhadores”. PAULO EDUARDO NOGUEIRA
foto: thinkstock 17
abra campo para a INOVAÇÃO chefes que exigem constantes
avanços e propostas da equipe
geralmente não permitem os períodos
necessários para que se pense com
calma, o que impede a formulação de
ideias novas. Longe dessa pressão, os
profissionais mostram maior
capacidade de refletir.
O estudo, publicado no Journal
of Organisational Behaviour, avaliou
o desempenho de mais de mil
consultores e 200 trabalhadores
em assistência de saúde. Constatou
que as melhores propostas surgiam
whitewashing corporativo
mbora a primeira década deste século tenha posto, em 2001, havia apenas três CEOs negros na lista
e registrado avanços na diversidade racial no da Fortune, número que atingiu o ápice em 2007, com
meio empresarial, um levantamento sobre li- sete. Os líderes negros se aposentaram e estão sendo
deranças da revista americana Fortune soa o alerta: substituídos por brancos. Ao mesmo tempo, não houve
atualmente há apenas quatro negros ocupando cargos ascensão de novos altos executivos negros. Para o so-
de CEO no universo das 500 maiores empresas ameri- ciólogo Richard L. Zweigenhaft, que assessorou os au-
canas, e o número em 2018 cairá para três, com a apo- tores do estudo, o retrocesso pode ser resumido na fra-
sentadoria de Ken Chenault, atual CEO da American se “últimos a entrar, primeiros a sair” – fórmula também
Express. Explica-se. Quando Chenault assumiu seu aplicada às mulheres. P.E,.N.
18 foto: thinkstock
SEM CASCATA
BOA OU MÁ,
DÊ-ME A
VERDADE
EQUIPES PERDEM
MOTIVAÇÃO AO NÃO
SABER O QUE OCORRE NA
EMPRESA
cultar informações
o negativas numa TRUMP PASSARIA?
empresa, mesmo na
intenção de preservar o ânimo da
equipe, é perigosíssimo.
RECRUTE COM Q.I.
Pesquisadores da Warwick AVALIAR A CAPACIDADE COGNITIVA DE
Business School, no Reino Unido, CANDIDATOS AJUDA A SELECIONAR MELHOR
concluíram num estudo que
honestidade e transparência são
cruciais para obter o engajamento bcecado por autopromoção e autolouvação, Donald Trump tui-
de cada profissional envolvido. O o tou, em outubro passado, ter quociente de inteligência (Q.I.) mais
conhecimento dos desafios alto que seu secretário de Estado, Rex Tillerson. Trump já havia
profissionais em jogo mostrou-se lembrado dessa gasta medição em 2013, quando também se gabou de ter
mais motivador do que a percepção Q.I. maior que os dos ex-presidentes Barack Obama e George W. Bush. O
de que coordenadores omitem Q.I. já passou por todas as interpretações erradas possíveis – muitos rejei-
informação ou agem com otimismo tam completamente esse tipo de medição –, e Trump exagera sua impor-
infundado. O estudo constatou que tância. Há muito tempo Q.I. não é a principal definição de inteligência. Mas
chefias mostram tendência a omitir eis que um estudo publicado na revista científica Industrial and Organiza-
informações negativas na ilusão de tional Psychology constata que recrutadores de empresas deveriam incluir
que pouparão a equipe de desgaste, essa medição em seu trabalho. Segundo o artigo, o habitual hoje é que o Q.I.
mas isso gera insegurança. Um seja completamente ignorado, em favor de traços de personalidade e co-
chefe que expõe problemas ganha nhecimento técnico. Para os autores, isso impede a devida mensuração de
confiança e respeito da equipe, o que uma característica básica para um bom desempenho profissional – a capa-
tende a se refletir em melhores cidade cognitiva, de apreensão e reconhecimento de padrões, mudanças e
resultados no longo prazo, mesmo informações. Essa capacidade, fundamental para assimilar conhecimento,
com obstáculos imediatos. Há regras é parcialmente medida pelo Q.I.
fundamentais para que isso funcione: Isso não significa que o Q.I. deva direcionar o recrutamento – apenas
as informações devem ser que precisa ser considerado. Estudo publicado pela americana Harvard
compartilhadas regularmente e a Business School destaca os três traços conjuntos que devem nortear a esco-
equipe deve poder se expressar. P.E.N. lha de um candidato: habilidade cognitiva (outra denominação para Q.I.),
habilidades sociais e energia para agir. P.E.N.
foto: thinkstock 19
FOCA NO FOCO
MULTITAREFA, MULTIERROS
CONCENTRE-SE EM UM SÓ TRABALHO E RENDA MAIS
irou hábito disseminado, durante o trabalho (seja de 18 a 34 anos incluídos na pesquisa mudaram o foco de
v em que local for), navegar pela internet, ouvir atenção mais vezes ainda, cerca de 27 por hora. Os resultados
música, pesquisar, escrever e manter-se conectado ruins vêm em cadeia – baixa capacidade de decisão, aumento
a redes sociais, tudo ao mesmo tempo. Cuidado. Um estudo de estresse e queda de criatividade. O prejuízo é perceptível
do Bryan College, dos Estados Unidos, questiona o mito de também na qualidade do trabalho. Os autores detectaram ainda
uma pessoa ser capaz de realizar “multitarefas” seguidas. correlação entre os hábitos multitarefa e uma baixa densidade
Nada indica que esse indivíduo produza mais que outro em áreas do cérebro ligadas a controle emocional.
concentrado em uma só obrigação. Funcionários que O estudo sugere que o profissional administre melhor como
costumam alternar tarefas mais de 20 vezes durante o período gasta atenção e tempo. Já o empregador deve conter as jornadas
de uma hora acabam perdendo 15 pontos de Q.I. durante da equipe dentro de limites saudáveis e ajudar o funcionário a
testes cognitivos feitos pelos autores. É uma pancada séria, exercitar a concentração – ioga e meditação podem contribuir
equivalente ao efeito de uma noite de insônia. Os profissionais para esse esforço. P.E.N.
MOSTRE AO CHEFE
20 foto: thinkstock
RUPTURA ::: GUILHERME HORN
TESTE E FALHE. MAIS DE UMA VEZ. VOCÊ NÃO VAI CONSEGUIR INOVAR SE NÃO AGIR ASSIM
C
ADA VEZ MAIS vemos fundos ve a equação e nos aponta a probabilidade de você ser
de Venture Capital buscando in- bem-sucedido. Vamos para a segunda caixa, onde você
vestir em startups de empreen- encontrará cem bolas de cores aleatórias. Sua missão
dedores que já falharam. Como continua a mesma, retirar uma bola verde. Assumimos
se falhar fosse um pré-requisito então uma premissa: as bolas possuem dez cores dife-
para se chegar ao sucesso. Como rentes, igualmente distribuídas. E novamente calcula-
um ex-empreendedor que viveu mos a probabilidade de você acertar.
os dois lados, falhou e foi bem- Chegamos então à terceira e última caixa. Nesta, os
sucedido, posso dizer que, se não objetos são aleatórios. Não sabemos quais são, muito
é um pré-requisito, a falha é, no mínimo, ingrediente menos de que cor. E a missão não muda: retirar uma
muito importante para o sucesso. Especialmente nos bola verde. Para calcularmos sua chance de ser bem-
dias atuais, em que tudo muda em grande velocida- sucedido, neste caso, será necessário assumirmos uma
de, e que é mister testar muito mais do que planejar. série de premissas. Na prática, isso significa que esta-
Décadas atrás, havia tempo nas organizações para remos nos distanciando da realidade. Serão tantas pre-
longos planejamentos, que exigiam detalhadas discus- missas, todas ocorrendo simultaneamente, que a chan-
sões. Até era comum ouvir dos especialistas que as dis- ce desse cenário ser real será muito pequena.
cussões de planejamento eram mais relevantes do que Nas duas primeiras caixas, temos uma situação onde
o plano, o produto final das intermináveis reuniões. podemos calcular o risco. Não significa que sabemos de
Mas esse tempo se foi. Não que planejamento não seja antemão se você será bem-sucedido ou não, mas pode-
mais importante. Ele continua sendo fundamental para mos estimar qual o risco dessa operação. No terceiro caso,
qualquer empresa. A diferença é que vivemos, atual- é bem diferente. Não temos números, não temos cálculos,
mente, a era da experimentação. Em vez de longos es- não há indícios concretos que nos ajudem a fazer qual-
tudos e desenhos, precisamos gerar protótipos, para quer estimativa. Porque este é tipicamente um ambiente
serem rapidamente testados e validados no mercado. de incerteza. E incerteza é muito diferente de risco.
Entretanto, experimentar pressupõe que haverá fa- Incerteza é o mundo das startups. Elas não têm histó-
lhas. Não há inovação sem falha. E isso impõe um desafio ria, não têm clientes, não têm processos, não têm sistemas.
às empresas que historicamente se acostumaram a pu- Tudo é novo. Este cenário é diferente do contexto de uma
nir aqueles que falhavam, porque sua busca sempre foi grande organização, onde todo o seu passado, o conheci-
pela eficiência. A eficiência é que entregava retorno aos mento acumulado, a experiência dos profissionais que
stakeholders. Como então compatibilizar inovação e efi- nela trabalham, a história dos clientes, tudo isso ajuda a
ciência? Dois conceitos aparentemente antagônicos, mas construir um mundo onde existe muito mais informação.
que precisam conviver nas novas organizações da era E esta profusão de informações é que tornará possível a
digital, chamadas IDE (innovation-driven enterprises). esta empresa falhar com baixo impacto. Falhar de forma
Todos os caminhos passam pelo entendimento da que se gere um aprendizado. Que sirva para mostrar que
diferença entre risco e incerteza. Há um jogo que expli- aquele não era o caminho. Que permita à organização co-
ca de forma quase lúdica o que quero dizer. Chama-se nhecer os NÃOS antes desconhecidos. Isso tem um enor-
Jogo das 3 Caixas. Imagine que, numa primeira caixa, me valor para as empresas. Isso é inovar e ser eficiente.
existam cem bolas, sendo metade delas verdes e a outra
metade, azuis. Você precisa colocar a mão, com os olhos
vendados, e retirar uma bola verde. Uma conta simples, Guilherme Horn, Digital Innovation Partner da Accenture
ensinada na primeira aula de Estatística Básica, resol-
MARCOS TODESCHINI
DE PORTAS ABERTAS PARA OS EMPREENDEDORES O novo hub madrilenho ocupa uma antiga fábrica de
elevadores. A empresa que funcionava ali fechou nos anos 90, no auge da crise econômica da Espanha
A
uma indústria tradicional: pavilhões cinzas, telhados pontiagudos e uma chaminé em
atividade. Em frente, fica a carcaça do que um dia foi também uma fábrica. Só que
essa construção teve um destino diferente. O espaço que um dia abrigou uma linha de
produção de elevadores foi transformado em um galpão colorido e moderno, que ho-
je abriga um coworking, uma aceleradora, um laboratório de inovação e um amplo
espaço para eventos e cursos. A rua que separa os dois edifícios é como uma divisória
do tempo. Um lado representa o passado da revolução industrial. O outro representa o esforço de uma cidade
com mil anos de história em abraçar a economia criativa do presente e do futuro.
O espaço de 13 mil metros quadrados, apelidado de startup Footuro, que desenvolveu um aplicativo para
La Nave, promete ser o ponto nevrálgico do ecossiste- conectar jogadores de futebol amador e times que po-
ma de inovação tecnológica que começa a se consolidar dem contratá-los. A aposta de Arviset é uma plataforma
em Madri. Iniciativa da prefeitura local – e abraçada que possibilita aos jogadores mostrarem seus talentos
com especial fervor pela prefeita, Manuela Carmena –, e serem facilmente descobertos pelas grandes equipes,
o espaço iniciou as operações com a missão de trans- numa espécie de LinkedIn de atletas. A empresa foi
formar a cidade em um dos principais hubs de star- montada em março do ano passado na sala da casa de
tups na Europa, aproveitando a brecha aberta pela Arviset e, desde dezembro, mudou para dentro da La
saída da Inglaterra da União Europeia. “Há muitos Nave. “Queremos ser globais. Essa estrutura vai permi-
espaços desse tipo surgindo na Europa. Mas só algu- tir que possamos dar o próximo passo”, diz.
mas cidades pertencerão à liga dos campeões”, diz o Para levar a cabo a ambição de tornar-se referência
empreendedor brasileiro Igor Tasic, um dos idealiza- no mercado de inovação, a capital espanhola tem alguns
dores da La Nave. “Madri certamente tem fôlego para pontos a seu favor. A cidade conta com uma das melho-
estar nesse grupo.” res infraestruturas de bens e serviços da Europa. O cus-
Um dos primeiros passageiros a embarcar na via- to de vida é apenas uma fração do que é em muitas ca-
gem da Nave é Matthieu Arviset. Ele é o fundador da pitais europeias, como Amsterdã ou Paris. Além disso, a
cidade é sede de três das maiores escolas de negócios do
continente (IE Business School, Iese e Esade). E agora
conta também com La Nave. São dezenas de salas de co-
working, com capacidade para abrigar 160 pessoas. Uma
área aberta de 7 mil metros quadrados, capaz de sediar
O ECOSSISTEMA DE eventos para 3 mil pessoas. Um auditório com capaci-
MADRI JÁ GEROU dade para 630 pessoas. Um espaço equipado para quem
CASOS DE SUCESSO quiser desenvolver suas próprias soluções em hardwa-
re. E um programa de aceleração que deve formar pelo
COMO O CABIFY menos 20 startups por ano, com foco em projetos que
(A VERSÃO ESPANHOLA visem o desenvolvimento sustentável da cidade.
DO UBER), QUE CAPTOU
US$ 100 MILHÕES EM lll
INVESTIMENTOS ECOSSISTEMA EM EBULIÇÃO_ A criação da La
E ESTÁ PRESENTE Nave é uma resposta a um movimento que vem se
desenrolando na capital espanhola nos últimos anos.
EM 11 PAÍSES Durante décadas, Madri foi conhecida como o centro
econômico e financeiro da Espanha, tendo como car- bases. No ano passado, o Google abriu na cidade um
ros-chefes setores tradicionais como energia, constru- de seus três centros de inovação na Europa. Ao mes-
ção e bancário. Com a crise econômica de 2008, porém, mo tempo, a Amazon instalou ali um hub de inovação
essas indústrias foram incapazes de absorver a mão de e um centro logístico. Em outro sinal de amadure-
obra disponível. O índice de desemprego entre jovens cimento do mercado, 35 empresas de capital aberto
chegou a rondar os 50% em 2013. Quem se formava na abriram suas próprias aceleradoras, como é o caso da
faculdade tinha duas opções: emigrar, como foi o caso Telefónica Open Future. Uma das prioridades da La
de 200 mil pessoas que deixaram o país desde 2011, ou Nave é fazer a ponte entre todos esses players. “Que-
então criar sua própria empresa. “A crise mostrou que remos ser uma plataforma que facilite alianças criati-
o antigo modelo de economia não servia mais e que era vas”, diz Azucena Elbaile, responsável pelo programa
necessário voltar-se para a criatividade”, diz Luis Mar- de aceleração.
tín, um dos gestores executivos da La Nave. A ascensão de Madri vem surpreendendo especia-
Por conta desse movimento, o número de startups listas de mercado, que apostavam na rival Barcelona
em Madri explodiu: em 2016 e 2017, o crescimento foi como o mais provável centro de tecnologia na Europa
de 30% ao ano. A nova leva de empreendedores ge- pós-Brexit. Com um cenário artístico criativo e cosmo-
rou cases de sucesso mundial. É o caso do Cabify, uma polita, a capital da Catalunha sempre foi reconhecida
versão espanhola do Uber, que angariou investimento por seu ecossistema vibrante – a cidade abriga um pro-
de US$ 100 milhões e hoje está presente em 11 países jeto semelhante ao La Nave, o Numa. A disputa entre
(incluindo oito cidades no Brasil). A efervescência as duas adversárias históricas é bastante acirrada. No
do ecossistema madrilenho não passou despercebi- ranking das dez cidades europeias com maior número
da pelas gigantes de tecnologia, que passaram a ver a de startups, Barcelona ocupa a sexta posição; Madri, a
capital espanhola como uma opção para montar suas sétima. Em 2017, a Espanha captou ¤ 780 milhões de in-
vestimento em startups. Barcelona ficou com 58% des- Juíza aposentada de 74 anos, que vai ao trabalho todo
se dinheiro. Hoje, são 1,15 mil empresas que nasceram dia usando transporte público, Manuela está causando
em Madri, ante 1,3 mil em Barcelona. “As duas cidades alvoroço desde sua chegada à prefeitura, em 2015. Sua
contam com ecossistemas bem atrativos. É difícil dizer gestão colocou em pauta temas como mobilidade, co-
qual é a melhor”, diz Javier Ulecia, CEO da empresa de nectividade e meio ambiente. Lançou plataformas de
investimentos Bullnet Capital. incentivo ao uso de carros elétricos compartilhados.
Aprovou um projeto para transformar a Gran Vía, prin-
cipal avenida da cidade, em uma zona de pedestres.
lll Como parte de seus planos de transformar Madri
NAVE EM ÓRBITA_ Embora só tenha sido colocada numa referência em mobilidade, Manuela decidiu reto-
no ar em setembro de 2017, La Nave começou a esquen- mar o projeto da La Nave, que passou a ser responsabili-
tar seus motores há alguns anos. O espaço, que pertence dade da diretoria de inovação da prefeitura. Em 2015, foi
à prefeitura, foi repaginado em 2012 para receber even- aberta uma licitação para escolher a empresa que seria
tos de tecnologia, como TED Talks e South Summit. responsável pela gestão de conteúdo do local. A escolhida
Mas não vingava. Um dos grandes desafios era transfor- foi a Innova Next, uma consultoria de inovação coman-
mar um galpão no subúrbio de Villaverde, um bairro de dada por Carlos Barrabés, um dos pioneiros do e-com-
classe operária, em um ponto de encontro de empresas merce espanhol. Pelo contrato, a empresa recebe por ano
de tecnologia. Até que, no ano passado, o governo mu- ¤ 840 mil (cerca de R$ 3,3 milhões) para gerenciar o es-
nicipal decidiu adicionar o combustível que faltava. A paço – o que inclui o desenvolvimento de programas de
responsável foi a prefeita de Madri, Manuela Carmena. aceleração, cursos e eventos voltados às startups locais.
DOIS TEMPOS De um lado, fábricas tradicionais. Do outro, La Nave, símbolo da revolução digital na região
A parceria entre o privado e o público foi essencial o melhor e o pior de uma grande capital. É um conceito
para levar a cabo o projeto. O funcionamento da Nave que passa longe do estereótipo dos hubs de inovação,
se fundamenta três pilares, que levam o nome de For- em que cientistas e desenvolvedores vivem em um
ma, Conecta e Acelera. O primeiro se refere à formação, mundo idealizado, uma espécie de bolha. O laborató-
tanto de empreendedores que trabalham diretamente rio da Nave é a própria metrópole. “Queremos acabar
com tecnologia quanto da população em geral, que com a ideia de que inovação é feita dentro de um la-
também tem acesso aos cursos e palestras da casa. Para boratório, onde trabalham gênios visionários. A inova-
este ano, já estão planejadas 200 atividades, com temas ção precisa surgir da interação entre as pessoas, e im-
como cidades inteligentes, realidade virtual, inteligên- pactar positivamente o seu dia a dia”, diz Maysoun.
cia artificial e drones. O segundo pilar, a conexão, acon-
tece tanto nos grandes eventos de tecnologia quanto
nas pequenas salas de coworking. O terceiro é a ace-
leradora, que deve anunciar em breve o seu primeiro
processo de seleção. “Não queremos qualquer projeto,
mas sim os que busquem melhorar a qualidade de vida
das pessoas e o espaço urbano”, diz Maysoun Douas,
diretora de ecossistemas da Nave.
A inovação ligada à cidade pode ser um dos trunfos UMA NOVA ERA
A estrutura da incubadora La Nave, antes uma
de Madri para se diferenciar de outros 78 hubs europeus fábrica de elevadores, estava deteriorada e
surgidos nos últimos anos. A própria escolha do local já invadida desde os anos 90. Acompanhe uma
visita ao início das obras de recuperação do
reflete sua singularidade. Estar inserida nos subúrbios espaço, em 2011.
faz com que La Nave esteja diariamente conectada com
QUANDO
DINHEIRO É
UM DETALHE
Depois de criar dois unicórnios, Zia Chishti ÉPOCA NEGÓCIOS Você nasceu nos
Estados Unidos e cresceu no Pa-
chegou à conclusão de que capital não passa quistão. Como isso influenciou a
de commodity. As ideias podem até não ser tão sua formação de negócios?
boas. A diferença, diz, quem faz é o time ZIA CHISHTI Para responder a
essa pergunta, preciso falar um
pouco sobre a história da minha
THOMAZ GOMES família. Meu pai era americano,
descendente de alemães. Minha
mãe é paquistanesa. Eles se co-
CRIAÇÃO de unicórnios – apelido dado às startups ava- nheceram nos Estados Unidos,
A
liadas em mais de US$ 1 bilhão – virou obsessão coletiva enquanto faziam seus doutorados
no mercado de tecnologia. Enquanto fundos de capital na Universidade Cornell. Meu pai
de risco elevam apostas em companhias como Snap, faleceu quando eu tinha 2 anos.
Uber e Airbnb, o americano Zia Chishti, 45 anos, pasto- Logo depois, eu e minha mãe nos
reia seu segundo projeto de vulto. Criado no Paquistão, Chishti tornou-se mudamos para o Paquistão. Mo-
conhecido por fundar em 1997 a Align Technology, empresa especializada rei lá até os 15 anos. Não queria
em produtos e equipamentos para tratamentos ortodônticos. A compa- voltar para os Estados Unidos.
nhia foi listada em 2001 na Nasdaq e seu valor logo ultrapassou US$ 1 bi, Mas minha mãe me convenceu a
três anos antes de começar a dar lucro (hoje avaliada em cerca de US$ 20 cursar uma faculdade americana
bilhões). Depois de deixar a Align, em 2002, o empreendedor passou a se [Chishti é formado em economia e
dedicar ao desenvolvimento de tecnologias para grandes corporações. ciências da computação pela Uni-
Seu projeto atual é a Afiniti, startup de inteligência artificial avaliada em versidade Columbia]. Essas idas
US$ 1,6 bi. De passagem por São Paulo, em seu escritório na Avenida Faria e vindas me deixaram com uma
Lima, ele contou a Época NEGÓCIOS que sua vida pessoal é quase inexis- visão de mundo mais abrangente.
tente e a sua grande ambição: tornar-se um filantropo autossuficiente. Fiquei mais aberto para criar ope-
rações globais, sem restrições ou mica muito maior do que muita respostas negativas antes de con-
preconceitos. Tenho cerca de 800 gente pensa. seguir o primeiro aporte – muitas
funcionários trabalhando no Pa- delas desdenhosas e arrogantes.
quistão, por exemplo. Enquanto NEGÓCIOS Quando e como você Todo mundo me perguntava por
boa parte das pessoas enxerga o criou o seu primeiro negócio? que estava apostando em um seg-
país como uma área de risco, con- CHISHTI Em 1997, fundei a Align mento tão específico. Algumas
sigo identificar a grande oferta de Technology, uma empresa espe- pessoas ficavam até bravas quan-
talentos que existe ali. cializada em tecnologias ortodôn- do eu apresentava o projeto. Mas
ticas. A ideia veio num insight. sabia que era questão de tempo
NEGÓCIOS Esses mesmos ta- Usei aparelhos dentários durante até o mercado entender o poten-
lentos poderiam ser encontra- anos. Os tratamentos eram ex- cial da ideia.
dos em outros países a custos tremamente incômodos. Pensan-
igualmente competitivos. Qual do nisso, comecei a desenvolver NEGÓCIOS Por que você saiu da
é a motivação para manter uma uma solução menos invasiva para empresa?
operação no Paquistão? ajudar os pacientes. Em seguida, CHISHTI Essa é uma história
CHISHTI Sempre vai ser um pou- contratei um time de engenheiros curiosa... No dia 10 de setembro
co pessoal. Tenho como missão para criar os protótipos iniciais. A de 2001 [véspera do atentado das
criar empregos e tentar melhorar Align passou por todos os ciclos Torres Gêmeas], as ações da Align
a vida no Paquistão. Além disso, de crescimento do mercado de estavam cotadas entre US$ 10 e
minha mãe ainda mora lá. Então, tecnologia: levantamos dinhei- US$ 11. No dia 15 de setembro,
preciso ir até lá visitá-la de qual- ro entre investidores, investimos quando a bolsa reabriu, o valor
quer jeito (risos). Mas não esta- em marketing, abrimos canais tinha desabado para US$ 1,20.
ria no país se não fizesse sentido comerciais. Em 2001, abrimos o Tínhamos cerca de 750 funcio-
economicamente. Todos os meus capital na Nasdaq [o valor de mer- nários trabalhando no Paquistão.
negócios são baseados na com- cado da empresa logo superou US$ Por mais estranho que pareça,
binação entre baixo custo opera- 1 bilhão e, no final de 2016, atingiu na época o mercado americano
cional e mão de obra qualificada. a marca de US$ 20 bilhões]. não conseguia distinguir muito o
Como você mesmo disse, existem Afeganistão do Paquistão. Esta-
vários mercados eficientes sob NEGÓCIOS Simples assim? vam todos meio atordoados com
esse aspecto, como Índia e Vietnã. CHISHTI (Risos) Obviamente, tive os acontecimentos. Isso levou a
O ponto é que o Paquistão apre- algumas dificuldades. Na épo- uma disputa interna para tirar a
senta algumas facilidades para ca em que fundei a Align, todos empresa do país. Essa opção era
mim. Falo o idioma, conheço a os investidores estavam loucos inaceitável para mim. Então ter-
cultura. O país tem 200 milhões por soluções web voltadas para minei comprando apenas a ope-
de pessoas. É uma força econô- consumidores finais. Recebi dez ração paquistanesa. A partir daí,
comecei a trabalhar na criação da
TRG [The Resource Group, funda-
da em 2002], uma holding de in-
vestimentos focada em empresas
BPO [terceirização de processos
operacionais, na sigla em inglês].
“TENHO A MISSÃO DE CRIAR
EMPREGOS. TODOS OS MEUS NEGÓCIOS Foi difícil recomeçar?
CHISHTI Foi bastante desgastan-
NEGÓCIOS COMBINAM BAIXO
te. Eu já tinha passado pela mon-
CUSTO OPERACIONAL E MÃO DE tanha-russa emocional que envol-
OBRA QUALIFICADA” ve a criação de uma empresa. Não
valor não estão lastreadas em fun- CHISHTI De maneira geral, cos- muitas pessoas subestimam o ta-
damentos básicos de negócios. E tumo me dar muito bem com ho- manho das oportunidades que
quanto mais investidores correm mens entre 20 e 40 anos mais ve- existem no Brasil. O país é muito
atrás dessas empresas, mais infla- lhos do que eu. Tive muita sorte aberto a novas ideias e tecnolo-
da a bolha fica. Quando eu era mais em encontrar pessoas sábias que gias. Entendo que a economia está
novo, acreditava que a melhor ma- reservaram parte do seu tempo passando por um ciclo delicado.
neira de criar uma empresa bilio- para escutar meus problemas. Mas, de certo modo, essa situação
nária era levantar capital de risco. Talvez eles tenham sentido pena nos favorece. É nesses momentos
Tudo girava em torno disso. Com de mim (risos). Um dos meus me- que as empresas procuram por
o passar do tempo, percebi que lhores amigos é um cara chamado alternativas para aumentar a efi-
dinheiro é commodity. Você pode Peter Riepenhausen [ex-vice-pre- ciência de seus processos.
conseguir dinheiro em diversos sidente da PepsiCo para o mercado
lugares. O que faz a diferença é ter oriental]. Aprendi mais com ele NEGÓCIOS Na posição em que
uma equipe incrível. O time certo do que com qualquer outra pes- você se encontra hoje, qual é a
pode fazer sua empresa chegar a soa. Ele nunca lucrou um centavo sua ideia de sucesso?
qualquer lugar. Mesmo que a ideia comigo, mas sempre esteve dis- CHISHTI Minha vida pessoal é
não seja tão boa assim. posto a me ajudar com os negó- praticamente inexistente. Do
cios. Ele me ensinou muita coisa lado profissional, tento deixar
NEGÓCIOS Enxergar dinheiro sobre como administrar empre- minha marca no mundo dos ne-
como uma commodity faz mais sas, reconhecer talentos e seguir gócios. Gostaria que minhas
sentido para quem já tem acesso as intuições certas. ideias deixassem um impacto
a capital, certo? positivo na vida das pessoas. De-
CHISHTI Sem dúvidas. Essa é uma NEGÓCIOS Quais são os seus pla- pois disso, quero começar a me
percepção que muda ao longo do nos para o mercado brasileiro? envolver mais com filantropia.
tempo. Para um empreendedor CHISHTI A estratégia segue a mes- O meu sonho é criar um projeto
iniciante, a questão do dinheiro ma linha da nossa operação inter- que melhore a educação no Pa-
é muito mais difícil. É complica- nacional. Queremos conquistar quistão. Quero acumular capital
do consegui-lo até que as pessoas líderes de mercados-chave, como suficiente para fazer isso sem
reservem um tempo para ouvir a bancos e operadoras de telefonia. precisar recorrer a investidores.
sua ideia. Recebi dez “nãos” antes Estamos indo bem. Temos cer- Se eu conseguir me tornar um
de obter o meu primeiro aporte. ca de 20 clientes no país. Assim filantropo de sucesso, me darei
Quando você está construindo a como acontece com o Paquistão, por satisfeito.
sua carreira, isso é extremamen-
te desanimador. Mas com o pas-
sar dos anos, você percebe que
levantar capital é um processo
como qualquer outro. Você treina
para isso, assim como treina para
disputar uma corrida. Cercar-se
de pessoas boas é muito mais di-
fícil. Aprender a identificar talen- CORAGEM, INICIANTES!
tos – e convencê-los a trabalhar Pouco após se sentir traído e deixar a empresa que havia
fundado, a Align Technology, Chishti palestrou para
com você – é algo que leva anos. formandos de administração em Lahore, no Paquistão,
em 2002. Aos 33 minutos do vídeo, ele começa a tratar
das dificuldades para empreender e inovar. E diz que ouviu
NEGÓCIOS Você precisou buscar “todas as palavras de desencorajamento imagináveis”.
ajuda em algum momento? Teve
algum tipo de mentor?
AS FERAS DA
SAVANA DO SILÍCIO
Novos negócios em alguns países africanos chamam a atenção de
investidores e gigantes de tecnologia. Todos vão à caça de ideias
para enfrentar grandes problemas (e algumas servem para o Brasil)
P
principais do Leste Africano, os car-
ros avançam devagar. O trânsito é len-
to o tempo todo. Perto da Land Rover
blindada, transporte-padrão dos es-
trangeiros que vêm trabalhar no Quênia, segue um
matatu, ônibus multicolorido que roda sobre velhos
chassis de caminhão. A estrada corta a capital, Nairó-
bi. Vacas e cabras pastam no acostamento largo de ter-
ra batida e o esgoto segue a céu aberto por longos tre-
chos. Muita gente caminha ao longo da estrada e o
comércio de rua oferece quase tudo, de sofás, camas e
fogões a lápides de cemitério. Alguns comerciantes, a
pé, arriscam-se pelos vãos do trânsito para incentivar
a compra. Gritam em swahili (o idioma oficial do país,
junto com o inglês) ou em algum dos 43 dialetos lo-
cais. Conforme o carro se aproxima de um bairro ele-
vado no centro da cidade, a paisagem começa a mudar.
A Land Rover avança por Upper Hill, onde se vê
menos gente caminhando, mais árvores e muito mais
obras em andamento. A área já foi mais residencial
e abrigou principalmente brancos, executivos expa-
triados e diplomatas. Agora, o bairro se transforma. tiva a tecnologia e ansiosa por consumir. Para comple-
Operários e máquinas de construtoras chinesas du- tar, o Quênia, especificamente, passa por um período
plicam vias e levantam novos edifícios comerciais. A que combina instabilidade política (emperrada por
demanda por espaço multiplicou por seis o preço do defeitos velhos) e efervescência empreendedora (ace-
metro quadrado na área desde 2010. Upper Hill vem lerada por ideias novas). Quem chega do Brasil pode
acomodando escritórios de companhias estrangeiras, se sentir meio em casa.
investidores e pequenas empresas de base tecnológi- No sexto andar de um desses novos edifícios en-
ca. É o bairro da moda para quenianos e estrangeiros vidraçados, o Senteu Plaza, fica o iHub, mistura de
bem formados que querem criar novos negócios. Em coworking e incubadora. É peça-chave para Nairóbi
comum, tentam resolver problemas locais – e enri- merecer o apelido de Savana do Silício. Tem fama de
quecer ao fazer isso. Tudo bem pedagógico para quem ambiente de inovação mais produtivo da África. Em
vive no Brasil. Os problemas e as oportunidades soam sete anos de existência, abrigou 170 startups e gerou
familiares: territórios extensos e pouco povoados, que uma rede que conecta 17 mil profissionais. Começou
exigem investimento em cobertura de telecomunica- em 2010, como projeto social de um grupo de jovens
ções e internet; lacunas sérias e potencial imenso para quenianos que queriam um espaço para trabalhar e
inovações em transporte, energia, saneamento, habi- discutir ideias. Operou graças a doações de funda-
tação, agronegócio; grande população jovem, pobre e ções e empresários, como o francês Pierre Omidyar,
mal instruída, porém culturalmente inventiva, recep- fundador do eBay. Nessa fase, o iHub ajudava a trei-
nar programadores e oferecia gratuitamente espaço do usar o espaço. Não dava para atender todo mundo
a quem precisasse de internet rápida para montar apenas com doações”, diz Njoki Gichinga, diretora de
seu negócio (sem fins lucrativos, o espaço também parcerias do iHub, enquanto mostra as novas instala-
havia acumulado dívidas e gerado acusações de ges- ções. A infraestrutura para as empresas incubadas se
tão ruim contra seus administradores). Em dezem- espalha por 7 mil metros quadrados recém-inaugu-
bro de 2017, o perfil mudou. rados, decorados com tubulação hidráulica e elétrica
O iHub recebeu aporte de US$ 2 milhões da In- expostas, paredes de tijolo aparente e luminárias em
vested Development, gestora de recursos dos Estados diferentes alturas. “Agora, temos estrutura muito me-
Unidos que investe exclusivamente em projetos de lhor e condições de cumprir nossa missão – ser um
países em desenvolvimento, e tornou-se ele próprio polo de tecnologia para a África, reunindo gente com
um negócio com fins lucrativos. diferentes perfis, do mundo todo”, diz Njoki.
Com o novo estatuto, seus gestores esperam acele- A comunidade de profissionais ligados à inovação
rar a linha de produção de startups. “Estávamos rece- ganha força em vários países africanos. Os setores em
bendo mais de 200 pedidos por mês de gente queren- que trabalham seguem uma dinâmica particular, na
contramão dos negócios tradicionais no continente. Se os valores envolvidos parecem pequenos para
Nos últimos anos, caiu o fluxo de capital estrangeiro os padrões do Vale do Silício, bastam para fazer flores-
para a África. Isso ocorreu, entre outros motivos, por cer startups em países pobres. África do Sul e Nigéria,
causa do fim do ciclo de valorização das mercadorias as maiores economias da África subsaariana, também
básicas, por volta de 2010 (o Quênia, por exemplo, têm cena empreendedora vibrante e costumam aboca-
exporta muito café e petróleo) e pela desaceleração nhar, junto com o Quênia, as maiores fatias de capital
da economia da China – um fenômeno que também vindo de fora do continente (numa rodada de inves-
afetou o Brasil. A comunidade tem outra história para timento em 2015, a empresa de varejo online e de en-
contar, bem mais interessante. tregas Jumia, fundada na Nigéria por Tunde Kehinde
Conforme secou o dinheiro para setores tradi- e Raphael Afaedor, foi avaliada em mais de US$ 1 bi-
cionais, fluiu o investimento para nichos criativos. lhão e tornou-se o primeiro unicórnio da África, bem
Só em 2016, startups africanas levantaram US$ 367 antes de o Brasil ter o seu, o aplicativo de táxis 99).
milhões, na estimativa da gestora Partech Ventures O exemplo do iHub fez surgir incubadoras em outras
– valor quase dez vezes superior ao registrado qua- cidades quenianas, como a SwahiliBox, em Mombasa,
tro anos antes. O simples surgimento desse tipo de e a Dlab Hub, em Eldoret. Unem-se a um ecossistema
estimativa mostra uma mudança no jeito de avaliar que inclui Wennovation e Co-Creation Hub, em La-
a região. “Há tanta dificuldade [na África] de as pes- gos, na Nigéria, blueMoon, em Adis-Abeba, na Etiópia,
soas terem acesso a serviços básicos, a produtivida- e Bandwidth Barn, na Cidade do Cabo, África do Sul.
de é tão baixa, que as possibilidades de melhoria são Não se trata de euforia local. Há consistência, perce-
inúmeras”, diz Miguel Granier, diretor-geral do In- bida mundo afora.
vested Development, o fundo que apostou no iHub Em dezembro, durante um encontro em Adis-
e colocou US$ 20 milhões no continente. “Nos ne- -Abeba, na Etiópia, Christine Lagarde, diretora-geral
gócios, esses desafios se traduzem em ganhos expo- do Fundo Monetário Internacional (FMI), destacou
nenciais. Os riscos são altos, mas as perspectivas de as inovações que vêm da África e ressaltou a impor-
lucro, gigantescas.” tância de cultivar as iniciativas na região. “Além de
ser uma oportunidade
sem paralelo para a ge-
ração de empregos aos
mais jovens, a inovação
é uma forma eficiente
de reduzir o hiato de
infraestrutura do conti-
nente”, disse Christine.
Ela destacou que a tec-
nologia “molda a África
de agora” e que, com os
investimentos corretos,
“poderá ser a ferramen-
ta mais poderosa para
fortalecer a África do
futuro”.
O FMI acompanha
o Banco Mundial, que
escolheu startups como
um meio relativamen-
PADRINHO Mark Zuckerberg, do Facebook, em visita à Nigéria. Ele se impressionou com o te barato de fomentar
que viu na África. “É aqui que o futuro será construído” o desenvolvimento na
35 DOS 54 PAÍSES
AFRICANOS ESTÃO Quênia
ENTRE OS MENOS República
Democrática
DESENVOLVIDOS
DO MUNDO do Congo
1,2
BILHÃO DE
BURKINA FASO
63% é a taxa de analfabetismo –
PESSOAS uma das maiores do continente.
620
Metade das crianças é subnutrida.
Os problemas persistem, apesar das
significativas reservas de ouro do
MILHÕES SEM território
ACESSO A ENERGIA
315
NIGÉRIA
113 das 276 meninas sequestradas durante
MILHÕES SEM uma aula na comunidade de Chibok, em 2014,
ACESSO A ÁGUA continuam com paradeiro desconhecido.
POTÁVEL O ataque foi comandado pelo Boko Haram,
grupo terrorista que atua no país e é
240
MILHÕES
considerado um dos mais agressivos do
mundo. Tradicionalistas islâmicos, eles são
contrários à educação feminina
África do Sul
PASSAM FOME
REPÚBLICA
US$ 90
BILHÕES É O TOTAL
CENTRO-AFRICANA
51,4 anos é a expectativa de vida, uma
das menores do mundo. O lugar é um dos
QUÊNIA
NECESSÁRIO PARA Três pessoas morreram e centenas
mais violentos do continente e também o
RESOLVER O DÉFICIT ficaram feridas nos conflitos políticos do
mais pobre. A renda anual per capita é de
DE INFRAESTRUTURA final de 2017, após a eleição presidencial,
pouco mais de US$ 370. Hoje, metade da
anulada por suspeita de fraude. A
38%
população, de 5 milhões, depende de ajuda
instabilidade política marca o Quênia
humanitária para sobreviver
desde sua independência do Reino Unido,
em 1963. Em dezembro, Uhuru Kenyatta
DOS ADULTOS SÃO ÁFRICA DO SUL foi confirmado como presidente
ANALFABETOS
– A MAIORIA, 40 mil casos de estupro são reportados
MULHERES anualmente no país. O crime é corriqueiro,
mesmo em grandes cidades como a capital,
60%
DA POPULAÇÃO
Johannesburgo. As condenações judiciais
são raras
SOMÁLIA
75% dos ataques terroristas do planeta
estão concentrados em dez nações. A
TEM ATÉ 25 ANOS ETIÓPIA
Somália faz parte da lista. Desde 1991, o
50%
Mais de 400 mil pessoas morreram de grupo jihadista AI-Shabab controla áreas
fome na mais longa estiagem do país, de importantes e vive em conflito com o
1983 a 1985. Foi um dos mais dramáticos governo, apoiado pelos Estados Unidos. As
DOS QUE SE FORMAM episódios da Etiópia, que ainda sofre com ações por vezes chegam até o vizinho Quênia.
NÃO CONSEGUEM secas e confrontos armados entre regiões A guerra civil na Somália já resultou em mais
EMPREGO de 2 milhões de refugiados
Fontes: Banco Mundial, Global Safety Index, FMI e ONU Fevereiro 2018 epocanegocios.globo.com 39
DOSSIÊ ÁFRICA
região. Em dezembro, por meio do infoDev, um pro- ca. Entre quenianos, há um debate público bem vivo
grama que visa organizar e expandir negócios locais – será que o ímpeto inovador pode perder o fôlego?
ligados à tecnologia, o banco selecionou 20 empresas É bem possível, dado o histórico de vaivéns comum
(de 900 inscritas) para receber até US$ 1,5 milhão em em países emergentes. Basta lembrar a diferença en-
investimentos de um grupo de sete fundos. “O total tre o Brasil eufórico dos anos 2000 e a crise atual.
de inscrições e a qualidade dos casos apresentados Mas, por enquanto, os quenianos podem celebrar. O
são uma mostra de como as startups africanas podem país avança há três anos seguidos no ranking Doing
ser competitivas e importantes para o crescimento da Business, do Banco Mundial, que mede a facilidade
economia”, disse Klaus Tilmes, diretor de mercado para fazer negócios. Depois de perder posições, en-
e competitividade do Banco Mundial, durante a pre- tre 2008 e 2013, o Quênia voltou a avançar e subiu da
miação. Destacaram-se fintechs, agritechs e empresas 129ª para a 80ª posição (ultrapassando o Brasil, que
dedicadas a saúde e transportes. Uma nova rodada do está em 125º). O bom momento, por enquanto, faz as
infoDev deve acontecer em breve. histórias inspiradoras proliferarem mais rapidamen-
É preciso sempre dosar as expectativas, ao avaliar te que as previsões pessimistas.
bons momentos em países subdesenvolvidos. Essas Casos de diferentes dimensões agitam a cena local.
nações, com instituições e economias frágeis, costu- No ano passado, após receber investimento de US$ 4
mam cambalear. No caso da África, estamos tratando milhões, a BRCK, do engenheiro e empreendedor Erik
do continente mais pobre do mundo, acossado por Hersman, lançou um roteador wi-fi à prova d’água e
doença, violência, radicalismo e instabilidade políti- que se alimenta de energia solar. O equipamento ul-
trarresistente, projetado para uso em
localidades isoladas na África, oferece
até cem conexões de internet e conse-
gue sustentar streaming de vídeo para
50 dispositivos no entorno. Sua em-
presa já havia lançado um kit educati-
vo que inclui tablets resistentes e com
baixo consumo de energia. Os produ-
tos receberam cobertura elogiosa da
mídia, na Europa e nos Estados Uni-
dos. Hersman é um dos integrantes da
turma original de criadores do iHub e
passou a infância entre Quênia e Su-
dão. Subindo os degraus da pirâmide
de investimentos, encontram-se casos
como o da plataforma B2B de comér-
cio de alimentos Twiga Foods, criada
por Peter Njonjo, que captou US$ 10,3
milhões em 2017, e o da M-Kopa Solar,
que no ano passado foi apontada pelo
Instituto de Tecnologia de Massa-
chusetts (MIT), nos Estados Unidos,
como uma das 50 startups mais inova-
doras do mundo. A empresa criou um
dispositivo de fornecimento pré-pago
de energia solar, com manutenção ba-
INSPIRAÇÃO A nigeriana Honey Ogundeyi, do e-commerce Fashpa. Ela ratíssima, após captar US$ 33 milhões
criou um dos mais bem-sucedidos casos de varejo de moda do continente em investimento, em 2015. A M-Kopa
314
AMBIENTES DE
Farmerline, sistema de orientação sobre
clima e preço das safras</p>
<p>250 mil produtores são associados
Buni Innovation Hub,
Dar es-Salaam
US$ 367
MILHÕES INVESTIDOS <NIGÉRIA>
Bandwidth Barn, Cidade do Cabo
SmartXChange, Durban
EM STARTUPS DE <p>23 ambientes de inovação JoziHub, Johannesburgo
TECNOLOGIA EM 2016
<p>US$ 1 bilhão é o valor de mercado
US$ 31
da Jumia (AIG Group), empresa de varejo
online e primeiro unicórnio do continente
1,1 milhão
<UGANDA>
<p>12 ambientes de inovação</p>
DE EMPREGOS NO SETOR
<p>Quase 80% da população não tem acesso
a eletricidade. Startups como a Mandulis, que
Hoje extrai energia de biomassa, vêm lidando com o
problema </p>
<p>660 mil pessoas são atendidas pela Fênix <QUÊNIA>
731 milhões de Intl, que vende painéis solares
celulares, sendo... <p>27 ambientes de inovação</p>
<p>US$ 14 milhões foram gastos pelo Google
300 milhões de numa rede wi-fi na capital, Kampala </p> <p>É o principal centro tecnológico do Leste
smartphones Africano e referência em fintechs. Foi pioneiro em
33% de penetração pagamentos e transferências por celular</p>
e uso de wi-fi <ÁFRICA DO SUL>
<p>45 milhões de pessoas usam o M-Pesa,
<p>54 ambientes de inovação </p> sistema de pagamento digital da Safaricom</p>
Até 2020 <p>Primeiro país na região a atrair a atenção <p>10% das transações financeiras feitas no
de grandes empresas de tecnologia</p> mundo por celular acontecem no Quênia</p>
942 milhões de <p>Dois data centers da Microsoft devem <p>80 mil empréstimos diários são feitos pelo
celulares, sendo...
ser abertos no país este ano</p> celular. O KCB, principal banco do país, emprestou
498 milhões de <p>US$ 100 milhões é a meta de
desse modo US$ 17 milhões em 2016</p>
smartphones
investimento da IBM em pesquisa no <p>Mil pequenos comerciantes começaram a ser
60% de penetração e continente até 2024. O laboratório na África atendidos em 2017 pelo serviço Kionect, criado
uso de wi-fi do Sul estuda urbanismo e saúde</p> pela Mastercard com a startup Musoni </p>
(1) São considerados “ambientes de inovação” cidades que promovam políticas públicas para incentivar negócios e investimentos de base tecnológica e também espaços físicos
onde empreendedores podem compartilhar equipamentos, fazer contatos e receber mentoria (2) investimento das operadoras da região na infraestrutura
Fontes: Banco Mundial, EY, GSMA, Mastercard, Partech Ventures, Tufts University Fevereiro 2018 epocanegocios.globo.com 41
A ÁFRICA É
UM CAMPO
DE TESTES DE
CONDIÇÕES
EXTREMAS – E DE
OPORTUNIDADES
– SEM IGUAL
NO MUNDO
foi fundada por três executivos – os ingleses Chad e a incrementou, com análise de dados detalhada de
Larson e Nick Hughes, com o canadense Jesse Moo- suas potenciais consumidoras. Em vez de simples-
re – que haviam trabalhado por anos no Quênia, com mente revender peças, a Fashpa reuniu artesãs para
telecomunicações e finanças, e decidiram empreen- fabricá-las, depois que Honey descobriu que valeria a
der. Se o Quênia dispara startups em série, na Nigéria pena trabalhar com design exclusivo e inspirado em
parece haver outra gigante em gestação, no rastro do peças tradicionais. “Logo, logo, teremos mais um uni-
unicórnio Jumia. córnio”, anuncia ela em seu blog, acompanhado por
Trata-se da empresa de e-commerce Fashpa, fun- centenas de africanas.
dada pela ex-executiva Honey Ogundeyi. Depois de As oportunidades vistas pelos empreendedores
viver anos na Europa, onde trabalhou em companhias nativos não escapam do radar de companhias globais.
como McKinsey, Ericsson e Google, Honey decidiu Elas veem na África duas possibilidades atraentes – a
criar algo que ela mesma gostaria de ter encontrado primeira, a expansão de negócios num ritmo impensá-
quando voltou à Nigéria, em 2015 – um canal para vel em mercados maduros e mesmo na China (a África
compra de roupas online. Partiu de uma ideia simples abriga seis das 12 economias que mais cresceram no
primeira vez no mapa das grandes empresas de tecno- várias startups africanas, Bhattacharya conta que ele
logia, e a África passou a se destacar como um bom des- próprio passou de incrédulo a entusiasta do movimen-
tino para investimentos no setor. A alta conectividade to de inovação. “No começo, quando vi aqueles jovens
(mesmo que por redes 2G e 3G) desempenha hoje um em pufes coloridos, tomando café gratuito e discutin-
papel fundamental no desenvolvimento social e econô- do aleatoriamente um monte de ideias, duvidei do que
mico da África e é a principal plataforma para inovação estava acontecendo”, diz. “Hoje, posso afirmar: não há
em vários países. Não se pode dizer quanto vai durar o time mais engajado para promover mudanças.”
bom momento, mas há algo em construção – multipli- Da varanda do iHub, Njoki aponta para a vista.
ca-se rapidamente o número de ícones locais do em- “Não é bom estar aqui?”, pergunta. Ela mesma res-
preendedorismo. “A inovação vem do conhecimento, e ponde: “Os ventos estão favoráveis. Havia espaço para
geralmente é um processo que pode ser construído so- evoluir e estamos abraçando essa possibilidade com
bre experiências anteriores”, diz Kamal Bhattacharya, todas as nossas forças”.
CIO da operadora queniana Safaricom. Atual presiden-
te do conselho de administração do iHub e mentor de COLABOROU Marcos Coronato
G I F
Com 300 milhões de usuários/dia e parcerias com quase todas as
companhias de mídia dos Estados Unidos, o Giphy, maior produtor de GIFs
do planeta, prepara-se para revolucionar a publicidade na internet
S
de Los Angeles, jovens com laptops no colo assis-
tem atentos à cerimônia de entrega do prêmio
Emmy. Sua missão pode parecer simples: eles
precisam criar GIFs com cenas marcantes da fes-
ta. Para quem acaba de voltar de uma temporada em Marte, GIFs
são aqueles vídeos de poucos segundos, com imagens que se repe-
tem, compartilhados nas redes sociais para dar um toque diverti-
do às conversas. Fragmentos de cultura pop, funcionam como
metacomentário sobre o assunto em questão. No caso do Emmy,
os GIFs serviriam para destacar, ao vivo, pontos altos da cerimô-
nia. Depois, continuariam em circulação, pontuando pequenos
momentos e situações. Os jovens em questão eram funcionários
do Giphy, maior produtora de GIFs do planeta, com 2 bilhões de
compartilhamentos por dia.
Naquela noite de setembro, bastaram segundos de transmissão
para a equipe do Giphy encher a homepage do Emmy de GIFs com
atores de séries famosas. Então veio o momento mais polêmico da
noite: Sean Spicer, ex-porta-voz da Casa Branca, subiu num falso
púlpito e parodiou o infame discurso feito por ele mesmo, no qual
afirmava que a cerimônia de posse de Donald Trump havia atraí-
do “o maior público de toda a história”. Ávida por produzir o GIF
mais perfeito da noite, a equipe do Giphy começou a editar vídeos
em velocidade enlouquecedora. A proposta não era mostrar o rosto
de Spicer: parte da genialidade da empresa está em não publicar
clipes óbvios. Em vez disso, a equipe foi atrás das expressões per-
S
plexas e incrédulas da plateia. Uma das cenas mostrava a atriz Anna
Chlumsky, da série Veep (HBO), no momento em que se contorcia
na poltrona e, com olhos saltados, fazia uma expressão de “que dia-
bos está acontecendo?”. Em minutos, o clipe com a expressão hila-
riante de Anna viralizou no mundo inteiro. Uma semana depois, o
GIF tinha mais de 13 milhões de visualizações.
Registros de reações inusitadas, gatinhos batendo palmas com
as patas, trechos antigos da série Friends, o ex-presidente Barack
Obama deixando o microfone cair displicentemente no chão: essa
é a língua falada pelo Giphy, a empresa responsável pelo sucesso
dessa nova forma de comunicação. Embora curtíssimos, os vídeos
fazem sucesso porque são capazes de expressar muito mais nuan-
ces de emoção do que um emoji. Mais importante ainda: GIFs ofe-
recem possibilidades infinitas. Só o Giphy publica milhares de ima-
gens em movimento todo dia.
A escolha do clipe perfeito para cada situação vai além da ex-
pressão de um sentimento específico. “Se você quiser dizer ‘eu te
amo’ de um jeito romântico, pode usar um GIF do filme Top Gun.
Mas, se a ideia é mostrar o quanto gosta da sua filha, talvez um vídeo
da Disney funcione melhor”, diz Jeremy Liew, sócio da Lightspeed
Venture Partners, um dos fundos que investiram no Giphy. “O GIF
confere emoções e contexto a plata- bem que precisam buscar uma forma Chung advoga
formas de mensagens que antes não de gerar receita. Aos 42 anos, Chung em causa própria,
tinham esse tempero. Isso aumenta a tem idade suficiente para se lembrar claro. “Está todo
expressividade dos posts.” Dominic da bolha ponto.com nos anos 90. mundo migrando
Poynter, diretor de estratégia de co- Indagado sobre fontes de receita do para o formato de
municação da agência de publicidade Giphy, que já foi avaliado em US$ 600 seis segundos do
Droga5, vai um pouco mais longe. “Os milhões, ele reage de forma comedi- GIF. O YouTube
GIFs estão se transformando numa da: “Geramos receita. Poderíamos fez isso. O Face-
moeda social. Uma pessoa que usa um gerar lucros expressivos em um mês, book está fazendo.
clipe de um jeito diferente, habilido- se quiséssemos. Mas nosso objetivo Só que domina-
so e preciso ganha destaque imediato é atingir crescimento exponencial e mos esse formato
nas redes sociais. É como alguém que sustentável”. Ao lado da equipe de 75 há anos e temos as
escreve frases espirituo- funcionários, Chung pas- ferramentas para
sas ou tira lindas selfies.” sou os últimos anos pre- continuar no topo.
Dois bilhões de GIFs parando a empresa para Contamos com a
são compartilhados diaria- garantir essa expansão de maior distribuição
mente no site Giphy.com longo prazo. A próxima mundial de microvídeos, em plata-
e nas outras plataformas etapa acontecerá ao longo formas móveis, no desktop, em qual-
em que o Giphy está inse- dos próximos 12 meses, quer lugar.” Para ele, o ponto crucial
rido: Facebook, Twitter, quando o Giphy lançará da história é que o Giphy faz propa-
Tinder, iMessage e Slack. produtos para publicidade ganda sem cara de propaganda. “Se o
Embora esses números e ferramentas precisas de GIF é bom, as pessoas vão usá-lo para
não possam ser compara- medição de audiência. se comunicar, para rir, para se infor-
dos aos de outras redes, Muitos observadores mar”, diz o COO e cofundador, Adam
certamente causam inveja do cenário de publicida- Leibsohn. Chung completa: “Não es-
a Snapchat (173 milhões de de digital acreditam que tamos considerando uma receita de
usuários por dia) e Twitter o domínio da dupla Face- milhões, nem mesmo de centenas de
(a empresa não divulga ao book/Google ainda con- milhões de dólares. Estamos falando
dados, mas estima-se que tinuará por alguns anos. em bilhões. Mas como chegar lá? É
sejam 157 milhões de usuá- Mas crenças arraigadas preciso ser revolucionário”.
rios por dia, segundo o site como essa existem para
de tecnologia Recode). serem subvertidas. Se al- lll
Vale ressaltar que Snap- guém é capaz de derru- CIDADE DAS ILUSÕES_ O sonho
chat e Twitter têm ações bar esse monopólio, diz de chegar a uma receita bilionária
negociadas em bolsa, en- Chung, é o Giphy. “Todo começou em 2014 – um ano depois
quanto o Giphy tem capi- mundo sabe que a publi- da fundação da empresa. Chung ha-
tal fechado. “Ainda vamos cidade na internet tem via pedido a um analista de dados
crescer muito”, diz o fun- um lado capenga”, afir- que estudasse as solicitações de pes-
dador e CEO, Alex Chung. ma. São muitas as quei- quisa recebidas pelo Giphy. “O cara
“Acredito que podemos xas das empresas sobre nos mostrou que 80% das buscas
nos tornar três vezes maio- a imprecisão das métri- eram por conteúdo ligado à cultu-
res do que somos agora.” cas no mundo digital, as
No mundo digital, não questões relacionadas à
IMAGENS ANIMADAS Os fundadores
são raras as histórias de imagem das marcas e os
Alex Chung e Adam Leibsohn viraram
fundadores que encon- formatos ultrapassados GIFs (à esq.) no site da empresa. A
tram com facilidade seu como banners, janelas cada dia, 300 milhões de usuários
público, mas depois perce- pop up e native ads. visitam o Giphy.com
50 epocanegocios.globo.com
NOTÍCIAS ANIMADAS Chung e Leibsohn falam sobre o formato em eventos como o TechCrunch
ra: televisão, cinema, celebridades”, A estratégia de 2014 lembrava maior com seus clipes. Aí Chung e
afirma. Diante dessa informação, a o que o Twitter havia feito em seus Leibsohn perceberam a necessida-
equipe decidiu passar dois meses primórdios, quando seu fundador de de desenhar um plano cuidadoso
em uma casa alugada em Los Ange- foi a Hollywood mostrar às redes de para trabalhar com as redes sociais.
les. Nsse período, os representantes televisão, aos produtores e às cele- Era fundamental convencer cada
do Giphy reuniram-se com executi- bridades o valor real da plataforma rede a criar um botão especial para
vos de estúdios de cinema e canais de microtextos. Nos dois casos, tra- os usuários que quisessem incluir
de TV, para obter os direitos de uso tava-se de uma permuta, que não en- GIFs em seus posts. O Facebook foi
das imagens produzidas por eles. volvia receitas, mas abria portas. “O um dos primeiros alvos. “Sabíamos
No início da carreira, Chung havia pessoal de Hollywood é meio pre- que, se nossos GIFs entrassem na
trabalhado na Viacom: a experiên- guiçoso”, brinca um especialista em rede, a coisa ganharia outra dimen-
cia lhe rendeu bons conhecimentos marketing digital. “Se você propuser são”, diz Chung.
sobre licenciamento de direitos de algo fácil e grátis, eles provavelmen- O problema é que, na época, o
obras de arte. Ele sabia como ofere- te vão aceitar.” Liew, da Lightspeed Facebook era contra a publicação
cer contratos atraentes para as em- Venture Partners, diz que Chung de GIFs em suas páginas. Para dri-
presas detentoras das imagens. Em percebeu o potencial de juntar a in- blar o problema, o Giphy criou um
troca de acesso ao conteúdo de pro- dústria de entretenimento aos GIFs. truque de engenharia capaz de fa-
gramas como Os Simpsons, o Giphy “O formato permite fatiar e depois zer os clipes aparecerem nos feeds
faria uma parceria com as equipes de costurar novamente toda a história dos usuários, sem violar as regras
marketing dos canais de TV para de- do cinema e da televisão”, afirma. da casa. Finalmente, os microvídeos
senvolver uma “estratégia de GIFs”. O verão passado em Los Angeles foi estavam presentes na maior rede so-
Trocando em miúdos: o pessoal de tão bem-sucedido que a equipe do cial do planeta. “Dois anos depois,
Chung ajudaria as empresas a criar Giphy decidiu repetir a tática mais estávamos na conferência anual F8,
páginas originais dentro do Giphy e duas vezes, em 2015 e 2016. no Facebook, e assistimos ao próprio
a produzir clipes próprios, usando À medida que conseguia acesso Mark Zuckerberg enviar um GIF
a “máquina de tags” criada pela em- a um conteúdo cada vez mais cobi- nosso para David Marcus, chefe do
presa – que é capaz de encontrar os çado, vindo de gigantes como Dis- Messenger, no palco”, conta Chung.
melhores momentos em uma cena. ney e CBS, o Giphy ganhava alcance Mais uma barreira havia sido derru-
A
REVOLUÇÃO
EDUCAÇÃO
EXECUTIVA
Escolas de negócio tradicionais viram seus currículos
do avesso para se manter relevantes em um mundo
onde já é possível aprender (quase) tudo pela internet.
Enquanto isso, as nascidas na era digital crescem
e multiplicam seus lucros – e discípulos. Aonde vai
dar a nova corrida pelo conhecimento
BARBARA BIGARELLI
N
A ERA PRÉ-SMARTPHONE – e lá se pregos (800 milhões até 2030, segundo os cálculos da
vai pouco mais de uma década –, tudo McKinsey) e de profissões tal qual as conhecemos hoje
parecia mais fácil. A estrada rumo ao to- por conta do avanço da tecnologia, as garantias simples-
po da pirâmide era sinalizada por meia mente a-ca-ba-ram. Para escolas, estudantes e empresas.
dúzia de escolas de grife, cursos de lín- A estrada deixou de ser linear e cedeu lugar ao sinuoso
guas estrangeiras e temporadas no exte- espectro das angústias. O escritor Yuval Noah Harari,
rior. Para um trainee, a diferença entre autor dos best-sellers Sapiens e Homo Deus, capturou
o descarte do currículo e um telefone- esse novo estado de ânimo: “Nem todos vão conseguir
ma do RH para a ambicionada entrevista poderia estar se reinventar. Até 2050 veremos o surgimento de uma
no inglês fluente e na chancela de “uma boa faculdade”. nova classe, a dos inúteis”, escreveu, em artigo publicado
A fim de escapar do cruel funil das no The Guardian e lido por milhões
empresas, pais aconselhavam filhos de usuários únicos na internet. Em
a prestar concursos públicos (ga- um país como o Brasil, em que a taxa
rantia de estabilidade) ou a se tornar média de desemprego anual atingiu
profissionais liberais (garantia de 12,7%, a maior da série histórica do
5
prestígio). Sonhos de consumo, me- IBGE, as apocalípticas palavras de
TOP
dicina, engenharia e direito garan- Yuval atingem volume mais alto. O
tiam status ad infinitum. Para quem cursos fantasma não é só o desemprego – e
se decidia por carreiras executivas, executivos sim a completa inutilidade. E ronda
por vocação ou falta de alternativa, cada escalão da vida corporativa.
a saída era chegar “por baixo” à sel- 5 MELHORES “O problema é que o modelo de
va corporativa, com a certeza de que MBAS DO MUNDO educação tradicional foi construído
a promoção dependeria de outros • Insead segundo a lógica industrial. E isso
fatores. Para a diretoria, um diplo- • Stanford University não funciona mais”, pondera Pascal
ma de MBA sempre contou pontos • Wharton School Finette, chefe do programa de em-
decisivos. Melhor ainda se viesse • Harvard Business School preendedorismo e inovação aberta
com o brasão das top 10 do ranking • Cambridge Judge Business School da Singularity University (SU) (leia
FONTE: FINANCIAL TIMES 2017
do Financial Times. Harvard e In- entrevista exclusiva à pág. 66).
sead arrancavam suspiros de pares, A SU foi fundada há dez anos, por
5 ESCOLAS EXECUTIVAS
recrutadores e chefias. Estudantes Peter Diamandis e Ray Kurzweil, no
EM ALTA
não tinham dúvida alguma sobre auge da crise financeira internacio-
• Singularity University
o retorno sobre o investimento, de nal, e logo se tornou referência no
• Hyper Island
tempo e dinheiro, a curto, médio e • Berlin School of Creative Leadership ensino de inovação e tecnologia. Ins-
longo prazos. Conquistas escolares, • General Assembly talada no Vale do Silício, tem como
portanto, exerciam efeito calmante • Minerva Schools at KGI investidores empresas como Google,
na trajetória profissional, sustenta- Cisco e Nokia. O indiano Salim Is-
vam cargos e mantinham a ordem e 5 MOOCS mail, ex-CEO da SU, ajudou a fazer
o progresso do lucrativo mercado de (MASSIVE OPEN a fama internacional da escola ao
educação executiva. ONLINE COURSES) escrever o best-seller Organizações
Grosso modo, esse roteiro fun- • edX (Harvard e MIT) Exponenciais, em 2014. O lançamen-
cionou por décadas como o alarme • Coursera to foi sucedido por um boom de po-
• Udacity
do bedel (ok, vale um Google aqui). • Duolingo pularidade. No livro, ele fala sobre a
Agora, contudo, despontam inequí- • DataCamp competição entre empresas em um
vocos sinais de esgotamento. Em mundo que muda em altíssima velo-
um momento de previsões nefastas cidade – e em que concorrentes (leia-
sobre o futuro do trabalho e o pro- se startups) podem devorar uma
gressivo desaparecimento dos em- corporação antes mesmo desta se dar
conta da existência deles. Sua mensagem central, de tom um propósito claro: usar a tecnologia para gerar impacto
otimista, é que uma empresa pode multiplicar seu cresci- na vida de milhões de pessoas”, diz o CEO da HSM, Gui-
mento por dez com mudanças de gestão e tecnologia. Por lherme Soárez, fazendo coro ao que é frequentemente
isso, precisam de líderes que saibam fazê-las. No campus dito por Diamandis.
da SU, os alunos aprendem a pensar exponencialmente No Brasil, a SU conta com seis embaixadores, em São
em soluções para os grandes problemas da humanidade Paulo, Recife, Brasília, Porto Alegre, Uberlândia e Belo
– e não necessariamente nos consumidores dos produtos Horizonte. “Durante uma semana, aprendi mais do que
da sua empresa. É com essa proposta, humanista, mas de em um ano inteiro”, diz Conrado Schlochauer, ex-aluno
forte viés tecnológico, focada em cursos curtos e corpo da escola e, agora, o seu embaixador paulista. Por lá, as
docente que muda a cada temporada, que a SU tem atraí- disciplinas que pautam o programa acadêmico são bem
do a elite corporativa global para o seu campus, instalado diferentes das encontradas nas tradicionais escolas de
numa base de pesquisa da Nasa. Dezenas de brasileiros, a negócio: neurociências, genética, inteligência artificial,
exemplo de Rodrigo Galvão, presidente da Oracle no Bra- cybersegurança. Ex-CEO do LinkedIn no Brasil, Osval-
sil, e Paula Bellizia, da Microsoft (veja quadro na pág. 61), do Barbosa diz ter voltado da SU com a cabeça bem mais
já foram para lá ao custo de pequenas fortunas. Uma se- aberta. “Saí com conhecimentos sobre aspectos do setor
mana sai por US$ 14,5 mil. Os brasileiros, aliás, têm se tor- de tecnologia que nunca tinha reparado antes, ainda que
nado público cativo e, hoje, respondem por cerca de 20% tenha dedicado toda a minha carreira à área”, afirma ele,
da clientela. Não à toa, atraiu a atenção de grupos como que voltou ao Brasil para estruturar um fundo de inves-
HSM (o braço de educação executiva da Anima) e Mira- timento em startups. A Singularity também subverte
ch, de Porto Alegre, fundado por um dos embaixadores da a ideia clássica que temos a respeito de um professor, e
SU, Francisco Milagres. Juntos, eles vão realizar o SU Glo- recruta biomédicos, hackers, gerontologistas e astronau-
bal Summit, em São Paulo, em abril deste ano. O evento tas, com uma quedinha por empreendedores. Todos são
consumiu US$ 1 milhão em investimentos. “A Singularity entusiastas do que vem por aí, desde que façamos a nossa
é uma escola muito especial. Atrai os líderes porque tem parte. Em um trecho do documentário The University,
aposta em um novo modelo para ensinar “habilidades do para habilidades específicas, e que as universidades
do século 21” para seus alunos. Um dos mais populares é não teriam condições de oferecer os cursos na velocida-
o Boot Camp, em que o aluno desenvolve competências de que os executivos precisam”, diz Liao, que já colocou
em pouco tempo e de forma bastante pragmática: o for- módulos inteiros no WhatsApp.
mato atende quem tem por objetivo encontrar emprego Uma outra modalidade de ensino que tem crescido
em novas carreiras. Dois exemplos: cientista de dados substancialmente são os MOOCs, ou massive open online
e designer de experiência do usuário (UX). “Você não courses (veja quadro na pág. 64). Nesse caso, os cursos são
vai achar um programador com MBA em negócios. Um oferecidos em plataformas online, de forma gratuita ou a
MBA para designer UX faz zero diferença. O mercado de baixo custo. É o caso da Coursera, da edX (fruto de uma
tecnologia não olha para títulos, e sim para capacidade parceria entre MIT e Harvard) e da Udacity. Navegar pelo
de entrega”, diz Herrera, que fundou há pouco mais de menu de ofertas dessas plataformas é uma experiência
um ano a escola, que está, segundo ele, em franca expan- interessante. Os temas que desfilam na tela são bitcoin,
são. Na mesma praia está a Gama Academy, de Guilher- python, ciências de dados... Destaque para uma diferen-
me Junqueira, 29 anos. Sua startup só atua sob demanda ça fundamental: é o próprio aluno quem monta o rotei-
de empresas que não estão conseguindo encontrar os ro de aprendizado, e não a escola. “O objetivo é oferecer
profissionais certos no mercado. “O mundo andou mais flexibilidade e personalização”, diz o CEO da edX, Anant
rápido que as escolas normais, e as empresas não con- Agarwal. Ao final, o aluno não recebe um só diploma, váli-
seguem achar pessoas com o perfil que precisam. É aí do para a vida inteira, e sim um “nanodegree”. A intenção
que eu entro”, diz Junqueira. Depois de ser reconhecido é que os estudantes colecionem tantos microcertificados
como o melhor professor da pós-graduação do Insper, quanto forem necessários ao longo de sua carreira.
uma das escolas de negócio mais prestigiadas do Brasil, Responsabilizar os alunos, e não somente os profes-
Liao Yu Chieh, 41 anos, também decidiu fundar a sua sores, pelo aprendizado, é a pegada da Hyper Island, da
própria edtech, a Idea9, plataforma de treinamento cor- Suécia (veja entrevista exclusiva com a CEO, Sofia Win-
porativo. Funciona como um Netflix empresarial. A di- gren, na pág. 70), que ganhou o honroso apelido de Har-
ferença é que tanto empresas quanto alunos pagam pelo vard Digital. Aqui, contudo, o foco não são habilidades
acesso aos conteúdos. “Vi que existia um gap no merca- técnicas, e sim os chamados soft skills, como a capacida-
SALA DE AULA DA BERLIN SCHOOL OF CREATIVE LEADERSHIP Pessoas criativas também podem ser bons líderes
1 LABORATÓRIOS DE
PROTOTIPAGEM
Foi-se o tempo em que os labs serviam
só aos alunos de Ciências. Agora, os
executivos podem ser makers e inventar
seus próprios protótipos
2
2 AMBIENTE ABERTO
AO DEBATE
Para incentivar a troca de ideias e a
participação de todos, os futuristas
apostam em salas com cadeiras que
formam círculos
4 SALAS CONECTADAS
Alunos sentadinhos em carteiras
ouvindo o professor? Esqueça. Aqui,
eles podem conversar por meio de telas
e hologramas. Tudo junto e misturado, 1
no modelo batizado de semipresencial
5 VIDA SAUDÁVEL
Nada de coxinhas ou refrigerantes na
lanchonete. Em agradáveis cafés, os
estudantes têm acesso a comida fresca
e variada – e excelente atendimento
6 BIBLIOTECA INTERATIVA
Antes silenciosas, quase sagradas,
as salas de leitura se tornam espaços
de discussão de livros que foram lidos
virtualmente. As obras físicas não
ficam tão à mão
DE BIKE As universidades
do futuro estão abolindo os
estacionamentos para carros
e ampliando os espaços para
ciclistas e pedestres
MBA ONLINE
+++
MBA
Especialização,
oportunidade de
conhecer novas
áreas, networking
++
TEMPO PÓS
+++
+++
PRESENÇA
++
+++
++
CURSOS
DINHEIRO
+
TÉCNICOS
+++
+++ + ++
Ajudam a
desenvolver
habilidades
específicas
+++ +++ LEARNTO
LEARN
Os cursos online
abertos massivos
oferecem flexibilidade, + Python, machine learning,
variedade de temas e CURSOS xadrez, pintura e até macramê:
baixo investimento LIVRES vale de tudo para estimular
a criatividade
Será que as novas escolas vão deixar as tradicionais sequer vão pisar numa classe. Seu papel será o de de-
para trás? “O grande dilema do executivo é: vale gastar senvolver o bot Paul. Os novos cursos terão um modelo
um dinheirão para lidar com problemas que talvez nem de negócios inédito também, com vistas à escala: R$ 99
existam em um futuro próximo?”, pondera o headhun- por mês. Ou seja, bem menos que os R$ 67 mil cobra-
ter Daniel Faria, da consultoria de RH Linco. Cursos dos pelo MBA. José Cláudio Securato, presidente da
de MBA nas escolas que ocupam o topo do ranking do escola, justifica seu movimento. “A educação executiva
Financial Times chegam a durar até dois anos e podem ainda continua com alicerces baseados em métricas do
custar mais de US$ 100 mil. Em meio a mudanças tão rá- passado, com artigos que nem os próprios professores
pidas, as escolas de elite enfrentam o desafio de formar leem.” No Center of Real Estate do MIT (Massachu-
líderes com cabeça de startup. Quem responde, sem hesi- setts Institute of Technology), em vez de cases, os pro-
tação, é Ângela Pêgas, sócia da consultoria internacional fessores produzem materiais multimídia, com vídeos,
de executivos Egon Zehnder. “Vale o investimento, sim. sons, fotos, tabelas e até games. “Dessa forma, fazemos
Um MBA em escolas com renome global ainda tem e terá com que o aluno mergulhe na realidade arquitetônica e
valor por muito tempo no mercado”, diz. Mas ela diz que visual do ambiente de negócios. O conteúdo tem de ser
o recrutamento está, sim, diferente do que já foi um dia. lindo”, diz o diretor da unidade, Albert Saiz.
“As empresas querem mais que um currículo estrelado.” Na espanhola IE Business School, estão em testes
Na prática, essa nova forma de avaliar tem provocado salas futuristas, onde os alunos são projetados em vá-
uma revolução, também, nos processos de recrutamen- rias telas, e somente o professor está presente. “É assim
to. Se por acaso você, leitor, entender de programação, que enxergamos o futuro da educação executiva, com
entre no LinkedIn do Itaú e deslize a página em busca relações semipresenciais”, explica o coordenador, Ne-
da vaga. Se souber a linguagem python, irá encontrá-la wton Campos. Melhor escola executiva da América La-
e descobrirá que o banco procurava, na verdade, um tina (com cursos de especialização que variam de R$ 30
cientista de dados. Se não for capaz de decifrar o códi- mil a R$ 100 mil), a Fundação Dom Cabral (FDC) acabou
go, bem, a vaga não era mesmo para você. O Itaú, assim de inaugurar o Tree Lab, também fruto de uma parce-
como dezenas de outras empresas, também tem promo- ria com a IBM e a MRV. “Estamos muito incomodados
vido hackathons (maratonas de programação) para sele- com esse cenário de novos produtos e tecnologias. Hoje,
cionar candidatos a diversas vagas. “Nós só olhamos para os alunos buscam propósito, valores, bem-estar”, afirma
o currículo deles depois que passam por esses desafios”, o presidente da FDC, Antônio Batista Júnior. Para aque-
diz Lineu Andrade, diretor de tecnologia do Itaú. Na mul- les que, como Batista, querem dominar as novas regras do
tinacional CI&T, os mesmos métodos já diminuíram em jogo, as pistas podem estar nos campi de Yale e Harvard,
30% o tempo médio de fechamento de uma posição. onde alunos fazem fila para aprender sobre felicidade e
Diante da demanda das empresas, escolas brasi- justiça. Ao vivo, e com professores de carne e osso.
leiras e estrangeiras tentam se mexer. No ano passado,
a Insead, número 1 do mundo, mudou integralmente o COLABOROU Thaís Lazzeri
currículo do seu MBA, que pas-
sou a ter coaches e conselheiros
digitais. “Hoje, nossa priorida-
de deve ser formar profissionais
criativos”, diz Virginie Fougea, di-
retora de recrutamento e admis-
sões do MBA da escola francesa.
No Brasil, a Saint Paul abraçou a
tecnologia e, em parceria com o O QUE SÃO AS SOFT SKILLS?
Habilidades mais comportamentais e menos técnicas são cada vez
IBM Watson, vai lançar em março mais demandadas pelas empresas. Diante do avanço da tecnologia,
a plataforma de inteligência arti- saber engajar equipes e ter rapidez para resolver problemas
ganha tanta importância quanto conhecimento em finanças
ficial LIT. Hoje, circulam pelos ou administração. O profissional do futuro precisa dominar as
corredores professores que nem soft skills. Saiba como desenvolvê-las no site da NEGÓCIOS.
INTENSIVÃO
Shit Done), um movimento para os
chamados doers, aqueles que reali-
zam e não ficam apenas no discur-
PARA SALVAR
so. Entre os conselhos que costuma
dar aos alunos, um tem peso maior:
“construa o que importa”.
O MUNDO
Ao conceber o que precisa ser
feito, ele acredita que há valor no
simples, contanto que tenha impac-
to – pode ser apenas uma ligação
entre os pontos A e B. “No final das
Não há espaço para pequenez na Singularity. contas, é descobrir o que aflige seu
A escola quer inspirar negócios visionários – e cliente e resolver o problema”, diz.
Mas exorta todos a tentarem agir
também a resolução de grandes problemas da diante de questões globais, como
humanidade, diz o executivo Pascal Finette pobreza e analfabetismo.
Finette divulga seus pontos de
vista em aulas e em seu site, The He-
SORAIA YOSHIDA retic (o herege). A linguagem é sem-
pre simples e direta. Ao comentar as
novas exigências éticas do mercado,
alerta os empreendedores: “vejo
ÃO É POUCA COISA a ambição da Singularity Univer- uma oportunidade colossal para to-
N
sity. A nada convencional faculdade, criada em 2008 dos que fazemos o que é certo. Você
em um centro de pesquisa da Nasa no Vale do Silício, será capaz de competir assimetrica-
tomou como missão capacitar líderes a resolver os mente com companhias de porte ou
grandes desafios da humanidade. Com a ajuda de tec- status muito maiores que os seus,
nologias em difusão exponencial e a formação de uma comunidade glo- mas que não conseguem enfiar na
bal, a instituição quer beneficiar 1 bilhão de pessoas. Delírio? O discur- cabeça o que é fazer o bem”. Apesar
so tem cativado muita gente graúda ao redor do mundo. de ácido, ele soa otimista. “Coletiva-
Os preços dos cursos da Singularity começam em US$ 5 mil por dois mente, estamos criando um mundo
dias. As turmas lotam – de jovens executivos a empresários do calibre de abundância tecnológica. Rapida-
de Jorge Paulo Lemann, homem mais rico do Brasil, todos atrás de um mente disponível, barato e fácil de
vislumbre do futuro de abundância que a instituição afirma ser possí- usar. Cabe a nós usá-lo da melhor
vel. Em 2019, ela deve abrir sua primeira unidade no Brasil, numa par- forma possível”, escreve.
ceria com a HSM. Nesta conversa com Época NE-
No comando do Programa de Empreendedorismo e Inovação Aber- GÓCIOS, durante sua passagem
ta da Singularity está o alemão Pascal Finette. Aos 44 anos, Finette é o por São Paulo, Finette exercita o
que se pode chamar de empreendedor serial: fundou várias empresas, pensamento crítico sobre o futu-
chefiou o grupo de soluções para plataformas do eBay na Europa e, mais ro no ponto que mais o atrai hoje:
tarde, o Innovation Lab, do Mozilla. Também trabalhou no Google.org a interseção entre educação e em-
e criou organizações como Mentor for Good e o GYShiDo (Get Your preendedorismo.
ÉPOCA NEGÓCIOS A tecnologia FINETTE Acho que há um conjunto cimento em dez, 20 anos? Ou será
muda tão velozmente que, no mo- de habilidades que gira em torno de alguma outra tecnologia que ain-
mento em que você deixa a facul- design thinking e também da resi- da está vindo? Qual a sua aposta?
dade, o conhecimento adquirido liência. Ambas podem ser ensina- FINETTE Já estamos vendo alguns
corre o risco de estar ultrapassa- das e aprendidas. Essas competên- sistemas centrados em inteligência
do. Será que precisamos usar na cias vão se tornar extremamente artificial sendo melhores do que
educação a mesma abordagem de importantes para quem quer pros- professores na escola. Acho que
um empreendedor para escolher perar na carreira. isso continuará acontecendo em
em que área atuar e fazer uso rá- uma escala ainda maior. Para ensi-
pido das habilidades aprendidas? NEGÓCIOS Salim Ismail [diretor- nar alguém a ler e escrever, mate-
PASCAL FINETTE Acho que há mui- executivo da Singularity Univer- mática básica, álgebra, habilidades
ta verdade nisso. O antigo modelo sity] disse que os jovens deveriam linguísticas, provavelmente usare-
de educação foi construído nessa desistir de fazer faculdade e se mos um computador com sistema
versão industrializada de educação, dedicar a algum problema que interativo dotado de inteligência
baseada em grande parte em apren- quisessem resolver. Vamos aban- artificial. Agora, ensinar a alguém
der fatos e ser capaz de recitá-los. donar de vez a educação formal importantes competências socioe-
No mundo para o qual caminhamos por um modelo mais dinâmico? mocionais, empatia e design thin-
– em que basta apertar um botão FINETTE Eu não acredito que te- king, eu não tenho certeza. Acre-
para ter todos os fatos de que você remos de abandonar a educação dito que continuará sendo muito
precisa, carros só dependem de um formal. Há muito valor no ensino importante ensinar relações inter-
comando de voz para ser ativados tradicional e organizado, mas creio pessoais, e não vejo isso perder re-
e o futuro está a apenas um pensa- que vamos nos afastar desse proces- levância tão rapidamente.
mento de distância –, precisamos so de aprender fatos e factóides, de
ensinar às crianças, e com certeza decorar informações, para chegar a NEGÓCIOS Adotar a mentalidade
também aos adultos, habilidades um nível muito mais elevado. Falo das startups é apontado como
como empatia, resiliência, adapta- de compreender o contexto e en- a “salvação” para grandes em-
bilidade, como avaliar e lidar com o tender a complexidade do mundo presas que querem sobreviver à
mundo novo em que vivemos. Essas, em que vivemos. Muitos sistemas revolução digital. O modelo das
sim, são as habilidades necessárias. que existem por aí não são bons o startups vai se sobrepor comple-
suficiente. tamente ao das companhias tra-
NEGÓCIOS As competências so- dicionais? Teremos milhões de
cioemocionais [soft skills] é que NEGÓCIOS Inteligência artificial, pequenas empresas e menos espa-
vão nos diferenciar, já que, de realidade aumentada e internet ço para as gigantes?
qualquer jeito, todos teremos de das coisas vão formar a base da FINETTE Se eu tivesse de adivinhar
aprender tecnologia? plataforma para adquirir conhe- – e aqui se trata mesmo de adivi-
nhar –, acho que veremos umas
poucas grandes companhias fazen-
do um trabalho muito importan-
te. Os Googles e Facebooks deste
mundo, não os vejo desaparecendo.
E veremos muitas, mas muitas star-
“NÃO VEJO EMPRESAS GRANDES tups. As companhias médias, essas
DESAPARECENDO. MAS AS provavelmente enfrentarão difi-
MÉDIAS SERÃO ESPREMIDAS culdades, porque não conseguem
competir com as gigantes e não são
PORQUE NÃO SÃO TÃO ágeis como as pequenas. Como o
ÁGEIS COMO AS PEQUENAS” ambiente e as regras são iguais para
“TREINAMOS O ALUNO
PARA REAPRENDER”
A CEO da escola de negócios mais radical do mundo diz que a era digital
precisa de profissionais que saibam as perguntas (e não as respostas) certas
BARBARA BIGARELLI
U
xo na idílica costa de
Karlskrona, a cerca de
500 quilômetros de Esto-
colmo, Suécia, atrai centenas de estu-
dantes estrangeiros todos os anos. Eles
vêm estudar em uma ex-prisão militar,
onde, ao menos em teoria, aprendem
novas habilidades necessárias à trans-
formação digital. A Hyper Island, fun-
dada em 1996, prega um método de
ensino peculiar, sem professores nem
provas, baseado no desenvolvimento
de competências como engajamento,
motivação e trabalho em equipe. O
método ganhou popularidade entre
executivos mundo afora e hoje a escola
tem filiais no Reino Unido e em Cinga-
pura. Também montou sedes em vá-
rios países, onde funciona como con-
sultoria de transformação digital. Em
São Paulo, atua com seu braço consul-
tivo e com uma agenda de Master
Classes, ao longo do ano. “Alguns exe-
cutivos brasileiros me perguntam o
que precisam mudar, mas eles não
querem, de fato, mudar. Não entendem
que em alguns anos a empresa deles
pode nem estar viva”, diz Sofia Win-
SOFIAWINGREN
gren, CEO da Hyper Island, em entre-
vista exclusiva a Época NEGÓCIOS,
em sua passagem pelo Brasil, em de-
zembro, quando acompanhou o lança-
A ESCOLA
AMANHÃ
Bilíngues, tecnológicas e atentas ao desenvolvimento
socioemocional, as novas escolas de elite do ensino
básico querem formar líderes cosmopolitas e
sensíveis – e cobram caro por isso
PATRICIA OYAMA
GLOBAL
Thamila Zaher,
diretora do
grupo SEB, dono
da Concept.
Ela diz ter
buscado ideias
nos sistemas
educacionais de
Suíça, Cingapura
e Finlândia
EM NOVA YORK,
O WEWORK VAI
TESTAR UM
NOVO MODELO
DE ESCOLA
INFANTIL, A
WEGROW
divulgada no ano passado, a opção de mudar os filhos várias partes do mundo para criar a sua própria: “Na
para uma escola mais barata ou pública aparecia no fim Suíça, fomos buscar a multiculturalidade; em Cinga-
da lista de cortes no orçamento, citada por 7% dos en- pura, vimos a customização do ensino; na Finlândia,
trevistados. Se não tiver grandes percalços no caminho, aprendemos sobre competências e habilidades e como
uma empresa que investe no ensino básico conquista potencializar o aprendizado de cada aluno”, enumera
clientes fiéis por períodos de 12 anos ou mais. a diretora-executiva do grupo.
A Concept, que inaugurou suas primeiras unida- Inspirações vindas de vários países também dão o
des no ano passado em Salvador (BA) e Ribeirão Preto tom ao ensino na Escola Eleva, no Rio de Janeiro. Ela
(SP), é a aposta mais vistosa do Grupo SEB Educacio- responde à holding Eleva Educação, por sua vez con-
nal, o maior do segmento k-12 (do jardim de infância trolada pelo fundo Gera Venture Capital (cujos inves-
ao ensino médio). No primeiro dia de aula, os alunos timentos na área somam 88 escolas com 44,6 mil alu-
encontraram as escolas caracterizadas como o saguão nos). Um dos principais investidores do Gera Venture
de embarque de um aeroporto e receberam “passa- é o empresário Jorge Paulo Lemann – que participou
portes” para carimbar na entrada. “A metodologia da meses atrás de um descontraído bate-papo em sala de
Concept fala do protagonismo do aluno. Quisemos fa- aula, respondendo a perguntas de alunos de 14 anos.
zer uma analogia para mostrar que ele estava entran- A escola foi inaugurada no ano passado em Bota-
do numa experiência em que o ponto de partida era fogo, com 350 alunos. Em 2018, começa as aulas com
ele mesmo”, explica Thamila Zaher, diretora-executi- 1.033 alunos – e uma fila de espera com praticamente o
va do grupo SEB e filha do dono, Chaim Zaher. mesmo número de interessados, conta Márcio Cohen,
Neste mês, a Concept paulistana se juntará às ou- diretor do conselho pedagógico. A mensalidade varia
tras 39 escolas do grupo, que responde pelas redes de R$ 4 mil a R$ 5 mil. Dos matriculados, Cohen calcu-
Pueri Domus e Dom Bosco, entre outras, além de ter la que de 10% a 15% tenham bolsa. “A meta é chegar a
comprado 95% da operação brasileira da rede cana- 20% de bolsistas”, conta ele. A medida, explica, é uma
dense Maple Bear em 2017. Até 2020, o grupo planeja forma de fazer com que a valorização da diversidade
abrir uma Concept no Rio de Janeiro e outra no Vale cultural não fique só no discurso.
do Silício, na Califórnia. “Nossos alunos vão ter acesso Mesmo a mais cara das representantes da nova ge-
a conexões muito importantes e parcerias internacio- ração de escolas garante que vai prezar a diversidade e
nais”, diz Thamila. quer criar líderes com consciência social. “Tirar esses
Na unidade de São Paulo, a Concept investiu R$ 75 garotos da bolha é uma parte importante de nossa mis-
milhões. A escola se instalou no prédio onde o colégio são”, diz Alan Greenberg, cofundador da Avenues, que
Sacre Coeur funcionou por quase 60 anos, no bairro inicia seu ano letivo em agosto (a escola segue o calen-
nobre dos Jardins. Como a construção é tombada, a dário do Hemisfério Norte), cercada de expectativas.
fachada permanecerá a mesma, assim como as árvo- O valor da mensalidade para 2018/2019 será divul-
res do terreno de 18 mil m2. Por dentro, não há mais gado só em março, mas, para não deixar os pais no escu-
vestígios da instituição católica. Paredes retráteis per- ro, o site da escola dá como base os valores que seriam
mitem que se redesenhe o espaço de acordo com a ati- cobrados no ano letivo de 2017/2018: 13 parcelas de R$
vidade do dia, que pode incluir um experimento com 8,35 mil, mais uma taxa anual de R$ 7,8 mil, referente a
tinta invisível ou um desafio envolvendo programação. tecnologia e serviços. Alimentação e excursões que fa-
A anuidade é dividida em 12 parcelas de R$ 7,5 mil para zem parte do currículo estão incluídas nesses valores,
todas as séries. De período integral, como suas concor- mas é preciso colocar na conta as viagens internacio-
rentes diretas, a Concept misturou metodologias de nais: os alunos da Avenues nova-iorquina, inaugurada
em 2012, foram estudar mudanças climáticas na Nova
Zelândia e a cultura do Marrocos in loco, por exemplo.
Aqui, já há planos para roteiros na China e em Portugal.
META DE CONCESSÃO DE BOLSAS Márcio
Cohen, diretor da Eleva, no Rio. Segundo ele, O campus de São Paulo, que teve investimento de
a escola quer chegar a 20% de bolsistas, como R$ 300 milhões, ocupa 30 mil m2 no bairro nobre Ci-
forma de garantir diversidade dade Jardim e tem capacidade para 2 mil estudantes. A
capital paulista é a primeira de uma série de metrópo- – não só para os alunos, mas também para os docentes.
les, além de Nova York, onde a Avenues pretende fincar Durante a seleção, a empresa recebeu cerca de 3 mil
bandeira. “Somos parte de algo muito maior. Estamos currículos de professores, entre brasileiros e estran-
construindo um sistema global de escolas”, diz Green- geiros. Desses, aproximadamente mil foram chamados
berg. A possibilidade de passar um período em outros para entrevista, e 55 integraram a equipe.
campi do mundo é um dos grandes atrativos do colégio Já o primeiro escalão da Avenues traz nomes pinça-
dos de algumas das mais tradicionais escolas paulista-
nas, como a britânica St. Paul’s e a americana Graded.
Cristine Conforti, chamada para ser Head of Brazilian
Program (coordenadora do Programa Brasileiro), veio
do Santa Cruz, onde trabalhou por 40 anos. “Meu pa-
SEM BOLHA pel na Avenues é fazer com que a cultura brasileira, a
Alan Greenberg, língua portuguesa, a literatura se distribuam, que es-
cofundador corram sobre esse projeto como chuva”, diz ela. Apesar
da Avenues, e do foco global, a Avenues quer cultivar nos alunos um
um desenho da orgulho do Brasil, diz o cofundador da escola. Mas será
escola. Ele crê
que parte de sua
que essas crianças educadas para serem cidadãos sem
missão é fazer fronteiras vão querer continuar no país depois de for-
o aluno sair da madas? Greenberg acredita que sim: “Muitos irão sair
bolha da elite para o mundo e vão voltar e mudar o Brasil”, diz ele.
lll
AS QUE SE REINVENTAM_ A entrada de concorren- Com forte vocação tecnológica, a Lumiar, criada
tes novos e agressivos no ensino básico de alto padrão pelo empresário Ricardo Semler há 15 anos, tem como
sacudiu o setor. Muitas novidades, porém, já faziam metodologia a multietariedade, em que não há divisão
parte dos planos de colégios bem estabelecidos. Princi- por idade, apenas uma separação por ciclos, estimu-
palmente a ênfase no desenvolvimento das habilidades lando as crianças mais novas a aprender com as mais
socioemocionais, incorporadas à Base Nacional Co- velhas. “Desperta a maturidade”, diz Felipe Rodri-
mum Curricular e que, espera-se, seja aplicada também gues, CEO da Lumiar. Para Rodrigues, em breve não
no ensino público. “O que muitas escolas buscam ofe- fará mais sentido escolher uma profissão ao sair do
recer agora é preparar o aluno para o mundo. Fazemos segundo grau: as pessoas terão múltiplas profissões.
isso há 40 anos”, diz a diretora e fundadora do colégio “Ou seja, se você preparar a criança para o vestibular,
paulistano Vértice, Walkiria Gattermayr Ribeiro. não estará preparando-a para o futuro, mas ficando no
No Colégio Santa Cruz, também em São Paulo, o passado”, avalia. A vida pós-formatura das novas ge-
currículo já inclui estudos do meio, programas de vo- rações continua uma incógnita, mas o caminho até lá,
luntariado e abordagem transdisciplinar de temas que tudo indica, está ficando mais prazeroso.
refletem sobre sexualidade, diversidade cultural, sus-
tentabilidade e ética, diz o diretor-geral, Fábio Aidar. COLABOROU Alexandra Gonsalez
Ele considera natural que surjam propostas pedagógi-
cas que se apresentem com “a aura do novo”. “Nosso
desafio atual é outro: revelar como nossos princípios
fundadores são sólidos e consistentes, e manter um
projeto pedagógico ágil, que dialogue com nosso tem-
po e vislumbre o futuro”, afirma.
Em algumas dessas escolas, o termo “tradicional”
DIVERTIDO E PROFUNDO
é visto com ressalvas. “Celebramos o passado, celebra- Em um dos vídeos mais vistos na
mos o legado, mas não somos escravos da tradição”, história do TED, o educador britânico
diz Louise Simpson, diretora da St. Paul’s School, cujo Ken Robinson fala sobre a importância
de se apostar na criatividade. Segundo
currículo inclui programação (ou coding) e se baseia ele, o atual sistema educacional
em habilidades, não em conceitos. remonta às demandas do século 19.
D
McKelvey, sócio- formar um ser humano fundamen-
fundador do We- talmente bom, que entenda e con-
Work, passa fácil cilie os desafios que enfrentamos
por um astro do no mundo de hoje. É preciso pensar
cinema. Alto e bonitão, seus funcio- em você mesmo como um aprendiz
nários simplesmente o veneram – e constante. O modelo tradicional foi
demonstram até uma pontinha de estabelecido muito tempo atrás, e
tensão na sua presença, embora ele não vivemos mais naquele mundo.
trate todos de forma amável. Esta- Queremos que as crianças apren-
mos em um bairro afastado da Ci- dam a aprender e colocá-las em
dade do México, e o empreendedor um caminho para que continuem a
se prepara para subir ao palco, de aprender pela vida inteira.
camiseta e calça jeans, para falar de de ter cinco filhos e chegar à con-
uma nova competição promovida clusão que nenhuma escola seria NEGÓCIOS Que habilidades elas
pela empresa, o Creator Awards. capaz de dar a eles formação ade- precisam ter?
Minutos antes de o evento come- quada, Rebekah foi professora de MCKELVEY Se as pessoas se torna-
çar, ele recebeu Época NEGÓCIOS ioga, atriz e trader. Hoje, define-se rem adaptáveis e resilientes, vão
em uma sala com ares de camarim, como empreendedora, além de sobreviver a qualquer mudança. É
com seu nome colado na porta. Cal- Chief Brand Officer do WeWork. O a única forma de ter sucesso hoje.
mo e objetivo, McKelvey conta os projeto da escola continua envolto
motivos que levaram ele e seu só- em segredos. Mesmo assim, e ape- NEGÓCIOS Onde as escolas falham?
cio, Adam Neumann, a entrar no sar de apressado, McKelvey, que é MCKELVEY Não sei se o modelo está
mercado de educação a partir deste pai de um filho, respondeu as per- falhando. Há gente que se dá bem,
ano, quando deve ser inaugurada a guntas da nossa reportagem. outras não. Tive uma educação
primeira unidade da WeGrow, em tradicional e acho que me saí bem.
Nova York (leia reportagem sobre ÉPOCA NEGÓCIOS Por que entrar Não é um fracasso total, mas pode
educação infantil à pág. 72). Na ver- no mercado de educação? melhorar. Às vezes, você precisa
dade, a ideia partiu da mulher de MIGUEL MCKELVEY Quando as começar do zero para encontrar o
Adam, Rebekah Neumann. Antes pessoas se conectam, tornam-se novo. É isso que vamos fazer.
V
amos nos transportar até a educação execu- A educação no Brasil é uma máquina de exclusão.
tiva de 2038. Se você já pode se impressio- De cada cem crianças que ingressam na escola, só 65
nar com a quantidade de inovações dispo- concluem o Ensino Médio. Dessas, apenas 18 apren-
níveis hoje, imagine daqui a duas décadas. dem português adequadamente, apenas cinco assi-
Como prever avanços virou parte da milam matemática como deveriam e só sete seguem
cultura pop, a mente já se acostumou a ir rumo à faculdade.
longe quando visualizamos tecnologias Não à toa, nossa produtividade está praticamente
que pautarão nossas rotinas – incluindo estagnada há 30 anos, enquanto vizinhos como o Chile
as que estão relacionadas à aprendizagem. Agora, fa- mais que dobraram a capacidade de gerar riqueza ten-
çamos um esforço extra e tentemos pensar nas pessoas do como um dos pilares o investimento em educação.
que viverão essas experiências na educação executiva Segundo o Fórum Econômico Mundial, somos o 80º
do longínquo ano de 2038. Sabe onde elas estão hoje? país mais competitivo do mundo – mas, se isolarmos a
No Ensino Fundamental. variável do ranking que considera a qualidade da edu-
O futuro já começou a ser desenhado. Se quisermos cação primária, despencamos para o 127º lugar.
um Brasil inovador, competitivo, empreendedor Por isso, se quisermos muito mais brasileiros
e com mais crescimento, precisamos atentar com oportunidades de completar os estu-
ao capital humano das próximas décadas dos e chegar longe em 2038, precisamos
a partir de hoje. É do projeto de vida dar um passo à frente. Sem a educação
dessas crianças, futuros empreendedo- como prioridade de desenvolvimento,
res e executivos, que estamos falando. jamais entraremos no século 21.
Falar sobre novos modelos de Esses alunos da educação exe-
MBA ou tecnologias emergentes cutiva de 2038 talvez estejam con-
ainda é tema para poucos, justamen- cluindo o Ensino Médio até 2028.
te porque é muito difícil chegar lá. A Dá para mudar radicalmente nosso
grande questão mora em dois pilares cenário até lá. Estados como Ceará,
essenciais: qualidade de ensino e oportu- Pernambuco e Rio de Janeiro mostram
nidades iguais. Ambos começam a ruir no que é possível. Bastam três gestões de pre-
grave cenário da Educação Básica, que é pratica- sidentes e governadores com boas políticas pú-
mente sinônimo de escola pública ao levarmos em conta blicas, capacidade de implementação por excelentes
o número de alunos matriculados. times e continuidade.
O problema começa cedo. Segundo a Avaliação Na- O grande desafio é que, para cumprir esse prazo,
cional de Alfabetização (ANA) de 2016, 55% dos alunos precisamos começar agora. Se quisermos permitir
no terceiro ano do Ensino Fundamental não têm apren- voos mais longos aos projetos de vida das nossas crian-
dizagem adequada em leitura. E, de modo geral, quanto ças, a saída é educação. O convite para o futuro está
mais baixo o nível socioeconômico, pior o desempenho feito: educação já.
escolar. O que será destas histórias de vida? Além disso,
embora se costume pensar que está resolvido o proble-
ma do acesso à escola, 2,5 milhões de crianças e adoles- PRISCILA CRUZ E RODOLFO ARAÚJO, respectivamente
centes estão fora dela – grande parte no Ensino Médio, o presidente-executiva e diretor de comunicação do movimento
Todos Pela Educação
último degrau para a universidade.
O QUE VALE
A PENA
SABER?
Em seu novo livro, o futurólogo Tim O’Reilly
defende que a educação será uma das áreas
mais afetadas pela inteligência artificial.
Os alunos? Não necessariamente
O
Tecnologias capazes de substituir humanos em ativi-
dades diversas avançam rapidamente. Mas a educação,
que deveria preparar esses mesmos humanos para o
novo cenário, se arrasta, presa a velhos conceitos e prá-
ticas. E agora? Para o consultor e futurólogo Tim O’Reilly (que acha
estranho ser chamado de futurólogo), temos motivos para otimismo –
até hoje, a combinação entre humanos e novas máquinas resultou em
saltos de produtividade. Nascido na Irlanda e criado em São Francisco,
na Califórnia, O’Reilly, conhecido como “Oráculo do Vale do Silício”,
explica tendências desde os anos 90. Ele e sua equipe na O’Reilly Media
participaram da definição de conceitos como software de código aber-
to, web 2.0 e movimento maker. Em seu novo livro, WTF – What’s the
Future and Why It’s Up to Us (em tradução livre, “Que futuro é esse e
por que ele depende de nós”, ainda sem data de publicação no Brasil),
O’Reilly aprecia o que vem por aí e faz alertas sobre questões como mu-
danças climáticas e desigualdade social. Num trecho do livro, conta ter
participado, entre 2013 e 2015, da Rework America, força-tarefa forma-
da por executivos e especialistas de diversas áreas. Sua missão era ex-
plorar novos rumos para o mercado de trabalho nos Estados Unidos. No
trecho que Época NEGÓCIOS publica a seguir com exclusividade,
O’Reilly apresenta sua reflexão.
N
um anúncio sacu- tária da companhia”, afirmou em Desde então, dedica-se à hege-
diu o universo das comunicado oficial o CEO da Didi, monia global. Uma das primeiras
startups: a compa- Cheng Wei. “Queremos trabalhar parcerias internacionais foi com
nhia chinesa Didi com mais parceiros internacionais a americana Lyft. Depois foi a vez
Chuxing havia comprado a brasilei- para criar melhores serviços de mo- da Ola, líder de mercado na Índia,
ra 99. Nessa transação de valor não bilidade.” e da Taxify, com forte participação
divulgado – estimativas de merca- Formado em administração na na Europa e na África. Em 2017,
do falam em US$ 600 milhões –, a Universidade de Beijing, Cheng captou mais US$ 5,5 bilhões, maior
99 foi avaliada em US$ 1 bilhão, o fundou a Didi Dache em 2012, com rodada de investimentos já feita
que fez dela a primeira startup US$ 15 milhões investidos pela numa empresa de tecnologia. A ja-
brasileira a ingressar na lista glo- Tencent, maior portal de internet ponesa SoftBank liderou a rodada.
bal de unicórnios (como são cha- chinês. Antes disso, havia trabalha- A Didi investiu US$ 2 bilhões na
madas as empresas que atingem do durante 12 anos como gerente de Grab, concorrente do Uber no Su-
esse valor de mercado). vendas da gigante Alibaba. Em en- deste Asiático – e, por fim, chegou
A compra da 99 é mais um pas- trevistas, costuma dizer que o mo- à América Latina.
so no ambicioso plano de expansão tivo para abrir seu negócio foi sim- Fez isso com um aporte de US$
global da Didi, popularmente co- ples: não queria mais perder voos 100 milhões na 99. A jogada sinali-
nhecida como o Uber chinês. “Glo- por falta de táxis na hora do rush. zava a intenção de compra da chine-
A CONQUISTA DO PLANETA
lll
O FUTURO DA 99_ A princípio, o
MA HUATENG, CEO da Tencent PAULO VERAS, fundador da 99 aplicativo não deve passar por ne-
nhuma mudança mais radical. Com
o tempo, é possível que novos ser-
viços sejam oferecidos. Uma possi-
TIME VENCEDOR Executivos e investidores da Didi apostam em fusões e
bilidade, já disponível na China, é
aquisições. Com capital de sobra, avaliam competidores locais em cada país
dar ao usuário a chance de alugar o
seu carro, enquanto ele não estiver
as duas cidades do mundo com mais sição. Por isso concordamos em rodando. No Brasil, a criminalida-
corridas registradas no aplicativo, vender nossa parte na 99”, afirma de impõe um desafio adicional para
segundo a Bloomberg. “A expectati- Matthew Nicholson, relações-pú- implementar um serviço como esse.
va é que a demanda por transporte blicas da Softbank, gigante japone- Outra alternativa é a inclusão de um
com conforto e agilidade, por um sa das telecomunicações. sistema de carona, algo similar ao
preço menor, continue a crescer.” André Miceli, professor e coor- que faz a francesa BlaBlaCar para
Joe DePinto avalia que a 99 foi um denador do MBA em Marketing Di- longas distâncias. O Waze, serviço
investimento satisfatório para a Ri- gital da FGV, considera a estratégia de GPS do Google, já demonstrou in-
verwood. “Consideramos a compra certeira. “Para uma empresa capi- teresse em criar um serviço pareci-
pela Didi uma transação histórica talizada, faz todo o sentido crescer do. “Propostas que melhorem a mo-
no universo tecnológico brasileiro.” por aquisições. Ela compra a base de bilidade e tirem o carro da rua vão
Além da Didi e da Riverwood usuários, a marca e o engajamento, continuar em alta por muito tempo”,
Capital, fundos internacionais sem precisar levar seus executivos, afirma Miceli. Notícias recentes dão
como Qualcomm Ventures, Tiger abrir uma sede ou criar uma expan- conta de que a Didi planeja a com-
Global e empresas como a Soft- são orgânica, que seria muito mais pra da Bluegogo, em uma tentativa
bank também haviam investido na complexa”, afirma. Ao comprar a de dominar também o mercado de
empresa brasileira. “A Softbank, 99, fundada em 2012 pelos empre- bicicletas compartilhadas. Os estra-
como acionista majoritária na sários Paulo Veras, Renato Freitas e tegistas chineses da Didi ainda têm
Didi, apoiou totalmente a aqui- Ariel Lambrecht, a Didi abocanhou muito a fazer.
fonte: Zanone Fraissat/Folhapress; Lintao Zhang/Getty Images; VCG/ Getty Images; Fevereiro 2018 epocanegocios.globo.com 89
du Yang/China News Service/VCG/Getty Images
QUAL E
RA PARA SER UM
momento de har-
monia e descontra-
FANTASIA NO
lá, porque era festa da firma e todo
mundo precisava se comportar.
Mas harmonia cairia bem. Em vez
CARNAVAL?
disso, virou pesadelo. A festa à fan-
tasia da multinacional de tecnolo-
gia Salesforce, em dezembro, ter-
minou com o presidente, o diretor
Você acha que sua empresa já administra bem comercial e um funcionário demiti-
dos, e o nome da empresa envolvido
os choques culturais? O pessoal da Salesforce num debate público sobre racismo.
também achava. Até que... A lambança ocorreu porque um
funcionário usou uma fantasia ins-
pirada num meme pornográfico da
DUBES SÔNEGO E MARCOS CORONATO internet, o “Negão do WhatsApp”.
PROFISSIONAIS
QUE ANTES SE
A maioria dos presentes parece tória. A mudança seguinte será bem
ter achado divertido, tanto que o
CALARIAM DIANTE mais complicada. Envolve outro tipo
funcionário ficou em quarto lugar DO QUE ACHAM de personagem – aquele que não
no concurso de fantasias e colegas OFENSIVO HOJE se vê como agressor. Qualquer um
posaram para fotos ao lado dele. pode recorrer ao princípio filosófi-
Nem todo mundo viu graça. Uma
DENUNCIAM. MAS co da reciprocidade, bem simples:
denúncia foi feita à matriz, no Es- VISÕES DISTINTAS não faça ao outro o que não quer que
tados Unidos, de onde partiram DO QUE É OFENSIVO ele faça a você. Mas esse princípio
ordens de demissão contra o fan- é insuficiente diante de mudanças
tasiado, um diretor e o presidente.
AINDA VÃO SE comportamentais muito rápidas em
Terminado o desastre, profissio- MULTIPLICAR andamento. Talvez você não se sen-
nais de duas turmas podem incor- tisse agredido por tal atitude, mas o
rer num certo alívio – equivocado. outro se sente. Novas divergências e
Quem não viu racismo na história e novas concepções do que é ofensivo
se identifica com o fantasiado acha continuam a surgir. Entender o que
que ficou mais esperto e, assim, evi- planeta distante habitado pelo CEO. pode ser ofensivo para o outro, no sé-
tará cair em erros desse tipo. Quem Ou por achar que já entendeu o que culo 21, ficou bem mais complicado.
viu racismo e se identifica com o havia para ser entendido. Ou por
autor da denúncia acha que racistas estar preocupado demais com seu lll
aprenderam uma lição. Há uma boa desempenho. Ou porque não tem 3. MAIS FESTAS DA FIRMA_ Ao
chance de as duas conclusões esta- paciência para conversas sobre cul- mesmo tempo em que se multipli-
rem erradas, por muitos motivos. tura corporativa e prefere procurar cam as possíveis causas de ofensa e
Após ouvir especialistas em RH, memes de mau gosto no WhatsApp. indignação, colegas de trabalho ten-
listamos três deles: Por mais explícita que seja a orien- dem a passar mais tempo juntos. As
tação da cúpula de uma multinacio- jornadas de trabalho se alongam e
lll nal (e ela nem sempre é tão clara), as empresas incentivam os funcio-
1. GLOBALIZAÇÃO, NOVA BA- diferenças culturais entre países nários a interagir mais, com festas
BEL_ O que no Brasil muitos viram continuarão a atrapalhar a interpre- e happy hours corporativos. E, por
como irreverência ou apenas falta tação. E lembremos que um profis- mais diversa que seja a organização,
de noção foi interpretado, pela cú- sional dinâmico pode, ao longo da pequenas decisões (do tipo “qual
pula da Salesforce nos Estados Uni- carreira, transitar por companhias fantasia usaremos na festa?”) costu-
dos, como inaceitável. Questões ét- americanas, alemãs, japonesas, chi- mam ser tomadas individualmente
nicas e de gênero são caras ao CEO nesas, sul-coreanas... boa sorte para ou em pequenos grupos, muitas ve-
da companhia, Marc Benioff, conhe- ele, tentando acertar o que pode zes homogêneos (do tipo “homens
cido por marcar posições políticas ser ofensivo em cada uma delas. brancos que curtem memes de mau
no Twitter e cancelar eventos em gosto”). Quer saber qual é, afinal, a
estados americanos que aprovaram lll chance de ocorrerem choques na
leis antigays. No mundo corporativo 2. ACERTE O ALVO MÓVEL_ Será empresa? Faça a conta: número de
ideal, os exemplos das lideranças em cada vez mais fácil eliminar das or- questões potencialmente polêmicas,
questões comportamentais atraves- ganizações os agressores intencio- como raça, gênero, religião, política,
sariam fronteiras, desceriam degrau nais – assediadores, racistas e outros uso do banheiro, dress code... X nú-
a degrau da pirâmide hierárquica e tipos de preconceituosos e discrimi- mero de profissionais dispostos a de-
chegariam a todo funcionário. No nadores, que sabem o que fazem de nunciar o que consideram ofensivo
mundo real, um funcionário pode odioso, mas persistem no comporta- X número e acessibilidade de canais
simplesmente não prestar a aten- mento. Eles ainda estão por aí, ten- de denúncia X redes sociais X tempo
ção devida a esses exemplos, por tando se esconder nas organizações, crescente que colegas passam juntos
considerar que eles pertencem a um mas pertencem à lata de lixo da his- = tamanho do problema.
OPRAH
WINFREY / OWN
PODEROSA
É POUCO
NA META
A TAL DA TRANSPARÊNCIA
O presidente da Intel,
Brian Krzanich, come-
çou o ano gerenciando uma
mea culpa, porém, resumiu-
se a isso. Krzanich não foi
claro sobre a possibilidade de
A crise de imagem. Diante da a brecha ter sido usada por
CONFERIR
recente descoberta de uma hackers para roubar dados
MARCIO KUMRUIAN/
falha estrutural de segurança de usuários. Verificável na NETSHOES
na maioria dos microchips maior parte dos chips usados
fabricados pela companhia em PCs, servidores e celula-
e por suas concorrentes res, a falha, conhecida como PASSO
(AMD e Arm Holdings, entre
outras), admitiu o problema
Meltdown, permite o acesso
a senhas e chaves criptográ- ERROU
EM FALSO
LONGE
publicamente na edição de ficas. “Até agora, não recebe-
2018 de um dos maiores even- mos nenhuma informação de Há duas regras básicas para se
tos da indústria, o Consumer que tenha sido explorada”, construir reputação no varejo
online. A primeira é entregar
Electronics Show (mostra de afirmou. Abriu-se um debate produtos no prazo. A segunda
eletrônicos de consumo) em técnico – atualizações de é zelar pelas informações dos
Las Vegas. Krzanich falou de software bastam para corrigir usuários. A brasileira Netshoes
“esforços sem precedentes” a falha ou ela exigirá novos – maior e-commerce de artigos
esportivos da América Latina
do setor para corrigi-lo. O designs de chips?
– derrapou feio na segunda,
ao deixar vazar os dados de
2 milhões de consumidores.
Trata-se de um dos maiores
incidentes de segurança
digital do Brasil. Não se sabe
quando ele ocorreu, mas foi
exposto em 25 de janeiro,
com a exigência do Ministério
Público do Distrito Federal
e Territórios (MPDFT) que
a empresa informe todos os
clientes afetados (sem prazo
definido). Não há indícios de
que dados bancários ou senhas
tenham sido revelados. Mas
nome, CPF, e-mail e histórico
de compras dos clientes, sim.
Até o fim de janeiro, o fundador
e presidente da Netshoes,
Marcio Kumrian,
não havia se manifestado.
Em nota, a empresa reconheceu
o vazamento, confirmou que
foi alvo de extorsão e
informou que se recusou a
pagar os chantagistas.
E
Iza Dezon, M meados do ano passado, Depois de rodar por Paris,
da Peclers enquanto pegava fogo o de-
bate sobre feminismo, e bem
Londres, Milão e Nova York, Iza
desembarcou no país com a mis-
Paris, diz que antes da carta das france- são de antecipar para empresas
adivinhar o sas publicada no Le Monde,
pelo suposto direito de os homens
brasileiras os contornos do futuro,
no curto, médio e longo prazos. O
que vem importunarem as mulheres, a Na- trabalho da equipe multidiscipli-
por aí pode tura se saiu com um manifesto nar que ela integra é feito anual-
que defendia um novo papel para mente e tem como data-chave o
não ser tão o gênero... masculino. O texto, que mês de maio. É quando Iza e ou-
difícil assim. amparava a campanha da linha de tros quatro executivos da Peclers,
cosméticos Natura Homem, tinha cada um em um canto do mundo,
Basta ter um um bordão: “Ser homem vai muito deixam seus escritórios regionais e
time que vive além de ser macho”, e prosseguia viajam para Paris. Na bagagem, le-
por direções que defendiam ser vam a batelada de referências que
para observar insustentável a sociedade impor colecionaram e filtraram ao longo
cada canto tamanho sofrimento aos garotos, do ano. Juntos, cruzam dados e in-
da tenra infância até a idade adul- formações que resultarão, meses
do mundo - ta. Por trás da decisão – e do timing depois, no Futur(s) – com a letra
dentro e fora – para falar deles, e não apenas de- “s” entre parênteses mesmo –, um
las, estava uma tendência aponta- catatau de 4,5 quilos, que conden-
da internet da pela Peclers, empresa fundada sa as tendências, organizadas no
em 1970 pela francesa Dominique que os consultores batizaram de
DANIELA FRABASILE Peclers (e desde 2003 nas mãos do “oito dinâmicas”. Tomam-se por
WPP Group, hoje com escritórios horizonte válido os próximos cinco
em Paris, Nova York, Xangai, Mu- anos. “Nossa principal ferramenta
nique e São Paulo). À frente da sede
paulista está a carioca Iza Dezon,
31 anos, mestre em marketing pelo SEMIÓTICA NA VEIA
Iza Dezon, da Peclers:
Institut Français de la Mode, de Pa-
“Não temos bola de
ris. “Identificamos que as angústias cristal. Mas prestando
deles, e não apenas delas, passa- atenção e colhendo os
riam a ganhar volume”, explica ela, dados certos, dá para
sobre a campanha da Natura. prever muita coisa”
3. REINVENTANDO O SOFT-
POWER: aborda os efeitos da globa-
lização e o resgate das referências
socioculturais. Sai a visão coloni-
zada, que celebra o estrangeiro, e
entram os símbolos que nos são
mais próprios. “Daqui para a frente,
vamos ser mais mestiços e mistura-
dos. Mais verdadeiros, portanto”,
diz ela.
4. RECONSTRUÇÃO DO RELACIO-
NAMENTO COM A NATUREZA: ex-
plora como as tecnologias podem tão sendo explorados com o avanço COMO LIDAR COM
auxiliar no combate a problemas das tecnologias. Entre eles, como A EMOÇÃO DOS
ROBÔS? Perguntas
importantes, como o aquecimen- lidar com o que parecem ser emo- novas, ainda sem
to global, além de fazer com que ções em robôs? resposta, entram para
todos tenham melhor compreen- o rol de angústias do
são do que está em jogo. Iza dá um 7. DOMESTICANDO A PÓS-VER- século 21
exemplo: “A realidade aumentada DADE: aborda a necessidade de
permite que você ‘entre’ no tronco conduzir debates em um mundo
de uma árvore e a compreenda em onde interpretações podem ser
todas as suas dimensões”. mais importantes que a realidade
objetiva. Em pauta, a vontade pre-
5. INTENSIFICANDO EXPERIÊN- mente de muitos de estourar as bo-
CIAS: aponta o esgotamento físico lhas das redes sociais. Vale para as
e mental das pessoas provocado do mundo físico também.
pela ultraconectividade. Como
uma ressaca digital, a previsão é a 8. CULTIVANDO INTIMIDADE: mo-
valorização de atividades que exi- vimentos que valorizam a vulne-
gem concentração e também de ex- rabilidade. Indica que as pessoas
periências mais intensas. estarão mais dispostas a, entre
outras coisas, falar abertamente
6. COSMOLOGIAS ALIENÍGENAS: sobre tabus, como depressão, e ad-
identifica novos territórios que es- mitir problemas emocionais.
EMBORA ESSA
REVOLUÇÃO
CRIE LÍDERES E
OPORTUNIDADES
DE SUCESSO,
TAMBÉM CRIARÁ
PROBLEMAS
SOCIAIS