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Susana Sacavino
Novamerica
EdUECE - Livro 3
01884
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
A problemática das diferenças culturais está presente da grande mídia às redes sociais,
dos movimentos sociais às salas de aula. Relações étnico-raciais, diversidade sexual,
questões de gênero, pluralismo religioso, relações geracionais, culturas infantis e juvenis,
entre outros, são temas que provocam tensões, reações de intolerância e discriminação,
assim como suscitam diversas iniciativas orientadas a trabalhá-las numa perspectiva que
promova a afirmação democrática, o respeito mútuo, a aceitação da diferença e a
construção de uma sociedade em que todos e todas possam ser plenamente cidadãos e
cidadãs.
Em pesquisa concluída recentemente, um professor entrevistado afirmou: “as
diferenças estão bombando na escola e não sabemos o que fazer” (Candau, 2012, p.3).
Diante deste quadro muitos/as evadem da profissão e procuram caminhos mais tranquilos
e seguros de exercício profissional. Outros/as enfrentam o desafio querendo melhorar ou
reinventar as práticas pedagógicas.
O presente artigo parte deste universo de preocupações e está estruturado em três
partes. A primeira apresenta uma aproximação com o referencial teórico trabalhado
centrado em três afirmações básicas, assim como, os principais autores privilegiados para
cada uma delas. A segunda apresenta a nossa definição de educação intercultural e destaca
algumas abordagens pedagógicas que consideramos importantes para “reinventar a
escola” desde esse enfoque. Para finalizar, na terceira parte, tecemos algumas
considerações sobre a temática abordada.
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enfatiza a assimilação termina-se por negar a diferença ou por silenciá-la. Propõe então
colocar a ênfase no reconhecimento da diferença e, para promover a expressão das
diversas identidades culturais presentes num determinado contexto, garantir espaços em
que estas se possam expressar. Afirma-se que somente assim os diferentes grupos
socioculturais poderão manter suas matrizes culturais de base. Algumas das posições
nesta linha terminam por assumir uma visão essencialista da formação das identidades
culturais. São então enfatizados o acesso a direitos sociais e econômicos e, ao mesmo
tempo, é privilegiada a formação de comunidades culturais consideradas ‘homogêneas’
com suas próprias organizações - bairros, escolas, igrejas, clubes, associações etc. Na
prática, em muitas sociedades atuais terminou-se por favorecer a criação de verdadeiros
apartheids socioculturais.
Estas duas posições, especialmente a primeira, são as mais frequentes nas sociedades
latino-americanas. Algumas vezes convivem de maneira tensa e conflitiva. São elas que
em geral são focalizadas nas polêmicas sobre a problemática multicultural.
No entanto, nos situamos numa terceira perspectiva, que propõe um multiculturalismo
aberto e interativo, que acentua a interculturalidade, por considerá-la a mais adequada
para a construção de sociedades democráticas e inclusivas, que articulem políticas de
igualdade com políticas de identidade.
Desde esta perspectiva temos privilegiado a interlocução com o grupo
“modernidade/colonialidade”, formado predominantemente por intelectuais da América
Latina. São autores que apresentam um caráter heterogêneo e multidisciplinar e
acreditamos que também possuem vários pontos de confluência com o pensamento de
Boaventura Sousa Santos. A perspectiva que assumem pode ser caracterizada como uma
construção alternativa à modernidade eurocêntrica, tanto no seu projeto de civilização
como em suas propostas epistêmicas. Alguns dos seus principais integrantes são: o
argentino Enrique Dussel, o peruano Aníbal Quijano, o argentino-norte-americano Walter
Mignolo, os porto-riquenhos Ramón Grosfoguel e Nelson Maldonado Torres, a norte-
americana radicada no Equador Catherine Walsh, e o colombiano Arturo Escobar.
Um terceiro eixo articulador do nosso trabalho tem sido, particularmente no que se
refere à educação escolar, a afirmação de que estamos chamados a “reinventar a escola”
(Candau, 2010).
A problemática da educação escolar está na ordem do dia e abarca diferentes
dimensões: universalização da escolarização, qualidade da educação, projetos político-
pedagógicos, dinâmica interna das escolas, concepções curriculares, relações com a
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Reafirma-se, como nos lembra Freire (1997, p.110), que a educação é uma forma de
intervenção no mundo e por essa razão implica compreender os diferentes mecanismos de
construção social, política, cultural, histórica, econômica da realidade e das estruturas sociais,
assim como também desenvolver o sentido crítico para o desvelamento da ideologia
dominante.
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Uma prática pedagógica intercultural que afirme os direitos humanos, que promova o
“nunca mais” e reforce a identidade coletiva deve saber olhar também a história desde o
ângulo e a “ótica dos vencidos”, aquela forjada pelas práticas dos movimentos sociais
populares, pelos diferentes grupos discriminados e muitas vezes massacrados,
invisibilizados, subalternizados, por suas lutas pelo reconhecimento e conquista de seus
direitos e cidadania no cotidiano, suas resistências e sua teimosia em produzir outras
maneiras de ser, sensibilidades, percepções de construir cidadania. Nesse sentido uma
pedagogia da memória é também uma pedagogia da resistência. Manter viva a memória
não significa remoer o passado com cobranças sem sentido. Manter viva a memória
individual e coletiva exige favorecer visões críticas do passado e suas realidades, mas
também lúcidas e com capacidade de integração e saneamento coletivo capazes de exigir
justiça e mobilizar energias de construção de futuro e de consensos.
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de ser tão relacional quanto seus outros, a branquitude está menos claramente marcada,
exceto nos termos de sua não alteridade, “não sou aquele Outro”.
É importante destacar que a branquitude não é uma identidade racial única nem
imutável. A branquitude foi historicamente construída e, portanto, pode ser desconstruída.
Esse processo de desconstrução é fundamental para a construção de democracias
interculturais com empoderamento dos grupos historicamente excluídos e
subalternizados.
Outra dimensão importante a ser desenvolvida desde uma pedagogia para o
empoderamento dos grupos excluídos é a promoção de processos que apoiem e lutem
pela implementação de políticas públicas que favoreçam grupos específicos, como as
políticas de cotas para garantir o acesso da população negra à universidade, promovidas
em vários países, e as políticas para a igualdade de gênero, de reconhecimento da
diversidade sexual e orientadas às pessoas com necessidades especiais. Assim como, em
nosso país, na educação formal, a implementação da lei sobre a obrigatoriedade do ensino
da história da África e das culturas afro-brasileiras e indígenas.
Considerações finais
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