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Título original em inglês: SEEING GOD

Copyright © 2001 by David Aaron

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Tradução: Anita Morgensztern


Revisão: Jairo Fridlin
Editoração eletrônica: Editora Sêfer
Capa: Ivo Minkovicius
Impressão e Acabamento: Sumago Gráfica Editorial
Agradecimento: Baron Camilo Agasim-Pereira of Fulwood

Nota: Na transliteração de palavras hebraicas, adotou-se o “CH”


para o som de RR, como caRRo em português.

Observação: Nesta obra, as citações da Bíblia foram extraídas do livro


TORÁ - A LEI DE MOISÉS, do Rabino Meir Matzliah Melamed
(Editora Sêfer, 2001).

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio,


sem a autorização expressa da Editora e Livraria Sêfer Ltda.

2009
ISBN 978-85-7931-005-8

Printed in Brazil
7

Índice

Agradecimentos ..................................................... 9
Prefácio à Edição Brasileira ....................................... 13
Óculos para a alma ............................................ 19
1. Libertar-se de Deus .......................................... 21
2. Visão espiritual ............................................... 37
3. As cores da realidade .......................................... 57
4. Comunidade ................................................. 71
5. Fluxo de bênçãos ............................................ 91
6. Harmonia perfeita ........................................ 105
7. Amor na balança ............................................. 123
8. Cara a cara ....................................................... 141
9. Ver Aquele que vê ........................................... 153
Epílogo ................................................................... 167
9

Agradecimentos

Agradeço imensamente à minha esposa Chana, que nos guiou por


vários dos caminhos da nossa maravilhosa jornada espiritual.

O meu muito-obrigado à minha editora supertalentosa, Sarah


Rigler, que fez um trabalho excepcional ao me ajudar a colocar estes
segredos no papel. Sou também muito grato à Uriela Sagiv por ter
adicionado seu toque profissional, dando às ideias do livro uma
clareza ainda maior.

Sou extremamente grato às pessoas que apoiam o Instituto


Isralight, cuja generosidade me deu a oportunidade de apresentar
as ideias deste livro. Agradecimentos especiais a Dr. Herb Caskey,
Dr. Bob e Sarah Friedman, Moshe e Sarah Hermelin, Aba e Pamela
Claman, Michael e Jackie Abels, Steve e Rifka Alevy, Ziel e Chaiki
Feldman, Andrew e Shannon Penson, George e Pam Rohr, Robbie e
Helene Rothenberg, Stephen e Sandy Greenberg, Howard e Debbie
Jonas, Robert e Nilza Karl, Norman e Mary Geller, Eric e Loren
Stern, Shalom e Janet Spitz, Barry e Jodi Malkin, Stephen e Karen
Malkin e Harlan e Randy Steinbeger pelo amor e apoio sempre
presentes.

Agradeço infinitamente à minha fabulosa equipe do Isralight:


Rabino Binny Freedman, Rabino Sam Shor, Rabino Moishe
Kornblulm, Shlomit Grantz, Mindy Rosengarten, Sheila Jacobsohn,
Baruch Zev Olenick, Susan Rostsztajn e Judy Gordon. Que bênção
trabalhar com vocês!
10 Enxergando Deus

O meu obrigado aos vários estudantes que participaram de


minhas palestras e de meus seminários. A receptividade de vocês me
ajudou a acessar e a compartilhar estes ensinamentos sagrados.

Estarei para sempre em débito com meus professores, por todo


o brilhantismo e toda a doçura, especialmente o Rabino Shlomo
Fischer (shelita).

Um agradecimento especial a meu amigo Dr. Herb Caskey,


cuja generosidade tornou possível este projeto. Que o estudo
destes segredos traga mérito a seus pais, Morris e Rose Caskey, de
abençoadas memórias.

Obrigado, Hashem – o Autor único. Todo meu ser está repleto


de alegria e gratidão para servi-Lo.

D. A.
Aos meus admiráveis pais
Joe e Luba Z”L
À minha extraordinária esposa
Chana
Aos meus maravilhosos filhos
Lyadia, Aharon, Ne’ema, Yisroel, Ananiel,
Nuriel, Yehuda, Tzuriel e Shmaya
Aos meus encantadores netos
Nachalya, Shira, Ashira Liba e Emunah

D. A.
13

Prefácio à Edição Brasileira

Certa vez, ao passear por uma praça de artistas, vi uma enorme


exposição de caricaturas. Era fascinante! Dava para reconhecer que
eram todas de pessoas famosas – atores e atrizes de cinema, cantores,
jogadores de futebol e outras “celebridades”.
Fiquei me perguntando por que, no caso do Pelé, a bola que
aparecia na caricatura ocupava mais da metade do desenho, e, no
caso do Rambo, por que o bíceps de seus braços eram maiores do
que a sua cara? Na verdade, essa é a ideia da caricatura: transformar
um ser humano em arte dando ênfase àquilo que ele tem de mais
notório e à sua qualidade mais destacada.
Por outro lado – fiquei pensando –, será que uma pessoa
colocaria em seu porta-retrato uma foto de seus músculos sem seu
rosto? Da mesma forma, será que o que dá sentido à vida do Pelé nos
últimos anos foi ter sido o melhor do mundo até 1970? E esses 40
anos, de lá para cá? Será que ele continua vivendo só do passado?
Mas caricatura está na moda hoje em dia. Acho que todo
mundo gostaria de poder fazer uma de si mesmo e para isto bastaria
escolher apenas uma qualidade.
Atualmente, agarrar-se com unhas e dentes a um ideal, causa
ou talento é considerado digno. Importa apenas “o que você é”,
e não “quem você deixou de ser”. Ter no currículo um marco de
extremo sucesso é um convite tentador a se intitular “Eu sou ‘o cara’
porque fiz isto!”, mas o perigo é que, aos próprios olhos, a pessoa se
satisfaça somente como tal.
14 Enxergando Deus

Definir-se como “Eu sou isto ou aquilo” pode vir a gerar uma
quietude interna, mas um dia a pessoa acabaria percebendo quão
pequena ela foi por haver chegado a uma definição tão limitada de
si mesma.
Quando perguntamos a uma pessoa o que ela é, normalmente
ouvimos uma resposta do tipo “Eu sou cantor”, “Eu sou médico”.
Ou seja, sou aquilo que faço melhor. Mas a vida é muito mais do
que nossa maior qualidade ou o que fazemos no trabalho.
Nós, seres humanos, somos as criações mais complexas e
misteriosas do universo. Dentro de cada um existem milhões de
desejos e necessidades, virtudes e defeitos. A grande mágica e graça
da vida é, ao longo dos anos, saber filtrá-los, escolhê-los e dar cores
vivas a tudo que realmente nos preenche de significado.
Ninguém precisa ser uma caricatura.
Imagine-se no lugar de Steve Jobs, da Apple. À primeira vista,
ele deve ter uma vida mais que perfeita. Com alguns bilhões de
dólares no banco, não deve haver nada que faça falta a ele e à sua
família. Mas vamos tentar imaginar seu café da manhã com os
filhos, sabendo que há uma reunião marcada para as 9 horas e nela
serão tomadas decisões no valor de milhões de dólares. Como seria
o momento desse café da manhã?
Depende do que ele, Steve Jobs, quer que apareça em sua
caricatura. Se for só um monte de zeros entre o cifrão ($) e a vírgula,
ele não dará a mínima atenção ao que os seus filhos falam à mesa ou
sequer cogitará dizer à sua esposa: “Amor, não sei como, mas a cada
dia eu te acho mais linda!” – e ela, “certamente sem entender como”,
acreditaria e seria a mulher mais feliz do mundo se ele dissesse... Ou
talvez ele nem tomasse o café em casa, se quisesse apenas render
anualmente mais alguns zeros à sua caricatura...
No entanto, se ele chegar à conclusão que sua caricatura estará
incompleta sem sua família, sem suas ideias inovadoras, sem seus
hobbies e os sorrisos de alegria que ele proporcionou a milhões de
Prefácio à Edição Brasileira 15

pessoas ao redor do mundo, neste café da manha ele será apenas


uma pessoa normal, um pai feliz, e não o dono da Apple. E fico a
imaginar que, futuramente, ao passear numa praça e vir essas duas
possíveis caricaturas penduradas no meio de muitas outras, com
certeza é da segunda que ele teria mais orgulho e satisfação, mesmo
que ela tenha alguns zeros a menos...
É fácil perceber que a vida não tem só uma cor. E as pessoas
sabem disso. Porém, é muito mais conveniente aceitarmos uma
única virtude ou desejo como nosso lema de vida – ou para um
momento de nossa vida –, mesmo que, para isso, tenhamos de abrir
mão de todos nossos outros desafios pessoais.
Se dentro de nós existem tantas luzes e vibrações – como amor,
bondade, justiça, espiritualidade, dor, raiva, inveja e paciência –,
é porque precisamos viver e evoluir com todas elas, e só assim
poderemos refinar e transformar tudo que existe em nós ao longo
da vida. Quem olha a vida aos 50 anos da mesma forma que a via
aos 20, simplesmente perdeu 30 anos de vida!
E isso vale também para nossas tendências naturais e desejos.
Que uma criança de 5 anos de idade não queira repartir uma barra
de chocolate com os amiguinhos, isso se entende; mas, se quando
ela tiver 30 anos, não souber compartilhar o seu dinheiro com
quem dele necessita, isso significa que essa criança egoísta nunca
cresceu. Da mesma forma, um jovem que precisa realizar todos os
seus desejos porque acredita que liberdade é ceder a eles – se ele não
evoluir, quando adulto será um patrão tirano, ao não ser atendido;
um marido ausente, se ceder às tentações; e um pai “estourado”, se
for contrariado. Porque ele verá sua caricatura como um pódio de
um só lugar, onde todos estão abaixo dele e de suas vaidades.
Sim, temos tantas características, qualidades e defeitos dentro
de nós porque Quem nos criou sabe que é somente com estes
“privilégios e desafios” que podemos evoluir e sentir satisfação na
construção da nossa personalidade. Deus espera que sejamos muito
16 Enxergando Deus

mais do que meras “caricaturas” com apenas um sabor, e, sim, seres


humanos completos.
Que tenhamos compaixão mesmo quando nos é difícil, e que
saibamos ser rígidos com quem amamos, a fim de ajudá-los.
Que tenhamos sentimentos e atitudes positivas no nosso
trabalho apesar do stress, e que nunca tratemos as pessoas de acordo
com nosso humor, mas, sim, da forma que elas merecem.
Deus (Hashem) quer que rezemos com o coração mesmo se
formos os donos da Apple, e que esqueçamos que ela nos espera até
acabarmos nossas preces.
Hashem quer que saibamos olhar as dificuldades e quedas na
vida como oportunidades para crescer, como novos momentos para
sonhar. E que olhemos o sucesso como um presente e convite rumo
à humildade e à simplicidade.
Este livro fala um pouco e de modo “humano” sobre como
aprender de Hashem a sermos mais completos. As sefirót são
“maneiras” que Hashem escolheu para Se relacionar com o mundo,
porque quis dar ao homem a oportunidade de vê-las na natureza e,
assim, aprender com elas e enriquecer sua vida pessoal.
Ele nos ensina a não cultivar apenas bondade/compaixão,
porque isso levaria o homem a atitudes desproporcionais. Existe
também justiça/rigor, e a beleza da vida só pode ser alcançada
quando ambas vivem em harmonia, juntas. Assim alcançamos a
sefirá de Tiféret.
Quando os povos antigos idolatravam e adoravam o sol, é difícil
para nós crer que eles acreditassem que o Deus deles só reinasse de
dia. Na verdade, também pode-se explicar que aqueles povos só se
identificavam com as qualidades de poder e força que emanavam
do sol, e que estas eram as únicas qualidades humanas que eles
aceitavam cultivar e desenvolver.
Prefácio à Edição Brasileira 17

Isto é o que se chama de Avodá Zará: achar que Hashem só


espera de nós que desenvolvamos um único aspecto da nossa
personalidade.
O que Ele quer mesmo é que vivamos à Sua imagem; que
nossos pensamentos, palavras e atitudes sejam o reflexo “de tudo”
que temos de melhor dentro de cada um de nós; que nossas vidas
sejam obras-primas completas – pois o nosso potencial espiritual é
semelhante ao de Michelangelo ou Da Vinci nas artes, e não o de
um caricaturista.
Este livro dará a você, leitor, uma nova luz sobre como escolher
as cores deste desenho que é a nossa vida. E as dicas são de ninguém
menos que o próprio e melhor Artista do Universo – Hashem!

Efraim Horn
19

Introdução
Judaísmo: a religião do amor
Todos nós aprendemos que não podemos ver Deus. Na verdade,
nós não só podemos, sim, ver Deus, como estamos olhando para
Ele o tempo todo. Apenas não vemos para Quem estamos olhando.
Se você usa lentes de contato, provavelmente se lembra de
quando colocou as lentes novas pela primeira vez e saiu da loja. De
repente, um novo mundo se abriu. Era o mesmo mundo de sempre,
mas com nova claridade e intensidade. Todos esses detalhes luminosos
estavam diante de seus olhos o tempo todo; era preciso só as lentes
certas para vê-los.
Deus está diante dos nossos olhos – os olhos da alma. Precisamos
das lentes certas para enxergar.
Este livro vai apresentar a você, leitor, uma visão completamente
nova. A vida nunca mais será a mesma. Ele vai te dar o poder de
enxergar de outra maneira. A sabedoria contida aqui é retirada
dos antigos ensinamentos da Cabalá – interpretação mística dos
ensinamentos de Moisés, o profeta. Os conceitos abordados neste
livro não são invenções minhas. Apenas os traduzi numa linguagem
que qualquer um pode entender e todos podem usar.
Um conselho: não leia este livro. Veja através dele. Isto não é
um livro. São óculos para a alma.

David Aaron
Instituto Isralight
david.aaron@isralight.org
21

Libertar-se de Deus

Um dia, meu filho de três anos me assistia rezar, tentando imitar


meus movimentos e fingindo que também estava rezando. Então ele
falou: “Papai! Acabei de ver os pés de Deus!”
Não sabia o que responder, mas rapidamente decidi que a
verdade era a melhor opção. “Yehuda, você não pode ter visto os pés
de Deus. Ele não tem pés.”
Ele parecia surpreso com a resposta, mas disse apenas “ah”.
Depois de alguns minutos, Yehuda veio puxar a manga da minha
camisa. Ele me olhava com seus grandes olhos castanhos e, com um
sorriso doce, disse com total convicção: “Mas eu vi.”
Não havia nada que eu pudesse fazer para convencê-lo do
contrário. Decidi deixar passar. Afinal, ele tinha apenas três anos.
Espero que, quando for adulto, ele tenha aprendido que Deus não
tem pés. Se ele ainda alimentar esse conceito, não vai conseguir ver
Deus de verdade.
Vejo esse problema com frequência no Instituto Isralight, em
Jerusalém. As pessoas vêm ao instituto ansiando ver Deus, mas
frustradas, porque, na infância, aprenderam certas coisas que, na
vida adulta, agem como vendas espirituais.
Hoje em dia, as pessoas realmente querem conhecer Deus. No
entanto, procuram mais por uma apresentação a Deus do que por
entendê-Lo. Querem uma entrevista particular. Querem ver Deus.
Isso é possível, por incrível que pareça. Deus pode e quer ser visto.
22 Enxergando Deus

Mas o triste é que a maioria das pessoas não enxerga Deus; não
pode ver Deus nem se quiser.
Então, antes de começar a explicar como Deus pode ser visto,
trataremos de por que não podemos vê-Lo. Espero que, assim,
possamos nos livrar dos maiores obstáculos que estão em nosso
caminho.
A maioria das pessoas que conheci desde que sou rabino usa
vendas espirituais nos olhos. Isso lhes causa muito sofrimento, porque
essas vendas encobrem os olhos da alma, que nunca estão livres para
ver Deus.
Algumas pessoas sabem que andam cegas pela vida, mas a maioria
não tem essa consciência. Isso é ainda pior porque, se você não sabe
o que o machuca, fica mais difícil encontrar a cura.
Em meus seminários, muitas vezes peço às pessoas que escrevam
suas definições de Deus. As respostas típicas são intelectuais, filosóficas
e abstratas. Então peço que escrevam uma carta a Deus, que comece
com “Querido Deus, sempre quis saber...” Também peço que
escrevam com a mão esquerda – no caso dos canhotos, com a direita
– para simular a experiência de escrever como uma criança, porque
o objetivo do exercício é chegar aos primeiros anos de vida, quando
a imagem de Deus começa a se formar para nós.
É aí que as vendas se revelam. Não importa a definição intelectual
que as pessoas têm de Deus, suas visões infantis e sentimentais se
revelam em cartas como:

l “Querido Deus... por que Você levou meu avô?”


l “Querido Deus... por que Você permite que aconteçam guerras?”
l “Querido Deus... por que há tanta gente ruim no mundo?”

Todas as associações são negativas e sugerem a imagem de um


Deus injusto, impiedoso e castigador.
Imagine se você administrasse seu dinheiro hoje de acordo
Libertar-se de Deus 23

com o discernimento que tinha quando era criança. Como gastaria


seu salário? Ou se seus hábitos alimentares fossem baseados no seu
conhecimento sobre nutrição de quando tinha cinco anos. Como
estaria sua alimentação hoje? Então, você pode imaginar que, se sua
vida espiritual é baseada em uma compreensão infantil de Deus, sua
atual busca espiritual pode estar severamente prejudicada.

O cara roxo no céu

De vez em quando, eu e minha mulher passamos um tempo com


as crianças, analisando seus desenhos mais recentes. Geralmente, os
desenhos não mudam muito – o papai tem o cabelo encaracolado
e laranja, as flores são maiores que as pessoas e o sol brilhante tem
um grande sorriso feliz. Um dia, minha filha de cinco anos, Ne’ema,
nos mostrou um desenho que, além das coisas de sempre, trazia uma
estranha figura roxa e verde flutuando no céu.
“Ne’ema, quem é este?”, perguntei.
Ela fingiu não escutar minha pergunta e começou a falar sobre
outra coisa do desenho.
Eu insisti até que ela não pudesse mais escapar de identificar
aquela figura.
Ela fez um gesto para que eu me aproximasse. Assim, ela poderia
cochichar em meu ouvido e proteger o seu segredo dos irmãos que
estavam ali por perto. “É Deus.”
É claro que meus outros filhos não resistem a um segredo. Eles
chegaram perto para ouvir. Quando Yehuda ouviu a irmã, disse:
“Você desenhou Deus? Não pode desenhar Deus!”
Ne’ema pegou o desenho e correu para o quarto, chorando.
“Posso, sim, desenhar Deus, se eu quiser!”
Agora imagine que, aos 25 anos, Ne’ema continue a pensar
que Deus é um cara roxo e verde no céu. Certamente, se alguém lhe
perguntasse se acredita em Deus, ela responderia: “O quê? Claro que
24 Enxergando Deus

não!” Ela provavelmente se consideraria ateia. (Um colega meu tem


uma resposta-padrão aos ateus: “No Deus que você não acredita, eu
também não acredito.”
A maioria de nós retém algum tipo de imagem de Deus originada
na infância. Se pensarmos um pouco, poderemos lembrar a primeira
vez em que a ideia se registrou em nossas jovens consciências. Muitos
foram influenciados pelas imagens gregas e romanas de Zeus, outros
pela versão de Michelângelo da Capela Sistina, que se parece, cada
pedaço, com o próprio Zeus. É comum que crianças (e adultos
também) imaginem Deus como um homem poderoso e velho que
tem a barba branca e esvoaçante. As crianças precisam dar a Deus
uma forma física, senão não compreendem a ideia. Para elas, um
Deus invisível e sem corpo simplesmente não existe.
Na cabeça das crianças, de acordo com o nível de compreensão
de cada uma, Deus precisa de um corpo ou de algum tipo de forma
para existir. No entanto, à medida que a criança cresce, que amadurece
intelectual e espiritualmente, precisa encontrar outro paradigma –
uma nova estrutura conceitual para entender Deus; para ver Deus
O problema é que a maioria de nós não encontra esse
paradigma.

O destruidor de ídolos

A humanidade luta contra esse problema desde o início da


civilização. Esta foi a contribuição genial e fundamental de Abrahão.
Há quatro mil anos, ele disse a um mundo que adorava uma grande
quantidade de ídolos – que representavam cada aspecto da natureza
– que existe apenas uma fonte inimaginável de toda a criação. Você
pode imaginar o choque? Deus não tem forma? Como assim?
A ironia é que o pai de Abrahão, Terach, era um fabricante de
ídolos profissional. Conta a tradição judaica que, quando criança,
Abrahão destruiu todas as estátuas da loja do pai. Em resposta à fúria
de Terach, o pequeno Abrahão simplesmente disse que a maior das
Libertar-se de Deus 25

estátuas era a responsável pela destruição. “Mas é apenas uma estátua,


ela não pode fazer nada”, disse o pai. “Que seus ouvidos ouçam o
que a sua boca acaba de dizer”, disse Abrahão.
Deus, responsável pela imensidão e complexidade da Criação,
não pode ser limitado a forma nenhuma, principalmente a formas
esculpidas e inanimadas. Uma alma madura e saudável deve negar
imaginações tão infantis.
Como disse o Rabino Abraham Isaac Kook, grande cabalista e
filósofo do começo do século XX: “Há um tipo de fé que é, na verdade,
negação; e há um tipo de negação que é, na verdade, fé.” Se uma
pessoa diz que acredita em Deus, mas o Deus em que acredita é um
ídolo conceitual e espiritual, uma imagem de Deus que ela própria
formou, então sua fé é, de fato, a negação da verdade, uma heresia.
No entanto, se uma pessoa professa ateísmo porque não consegue
acreditar num rei todo-poderoso de barba branca e esvoaçante
flutuando em algum lugar do espaço, de um certo modo ela está
expressando a fé verdadeira, porque esse Deus não existe.
O desafio é tirar essas imagens falsas da mente – imagens que
se tornaram grossas, duras e sólidas com o tempo e que, assim como
uma parede de cimento, são uma obstrução que nos impede de
realmente ver Deus.
Comecemos com a grande palavra: D-E-U-S.
Atualmente, fala-se bastante sobre Deus. Está na moda
conversar sobre assuntos espirituais em festas. Mas qual o sentido
que geralmente se confere à palavra “Deus”?
Há alguns anos, quando uma grande editora concordou em
publicar meu livro Luz Infinita, meu editor, que também era o vice-
presidente da companhia, me disse: “Sabe, rabino, francamente, cinco
anos atrás nem olharíamos para um livro desses, um livro sobre Deus.
Não venderia. Mas hoje… o que posso dizer? Deus está na moda!”
É uma nova era. Deus faz vender livros. Acreditar em Deus está
na moda. Pouco tempo atrás, não era moda acreditar em Deus. Era
26 Enxergando Deus

até politicamente incorreto. Não faz muito tempo, uma estudante,


chefe de um departamento de filosofia de uma importante faculdade
americana, foi a um dos meus seminários. Ela se dizia “crente de
armário”: acreditava em Deus, mas se admitisse isso em círculos
acadêmicos, seria ridicularizada e poderia até perder o emprego.
Pessoas inteligentes simplesmente não acreditavam em Deus. A fé era
uma coisa primitiva, antiquada e definitivamente não-acadêmica. Por
isso, ela tinha de ser “crente de armário”. Hoje ela já pode “sair do
armário”. Como os tempos mudaram! Mas o que me preocupa sobre
essa moda de Deus é que as modas vão e voltam. Há duzentos anos
Deus estava na moda – os fundadores dos Estados Unidos colocaram
Deus na Declaração de Independência e In God we trust (“Confiamos
em Deus”) em todas as notas de dólares. Há cinquenta anos, Deus
não estava na moda – os fundadores do Estado de Israel, depois
de muito debate, decidiram se referir a Deus de modo enigmático
– “Rocha de Israel” – em sua Declaração de Independência. Agora,
Deus está na moda novamente.
Para garantir que Deus não seja apenas “da moda” e que saia de
moda no ano que vem junto com os saltos-plataforma, temos que
tomar bastante cuidado. Para assegurar que Deus realmente faça
parte de nossas vidas e tenha uma influência profunda e saudável,
melhorando nosso dia-a-dia e nossos relacionamentos, precisamos
prestar atenção ao significado que atribuímos à palavra “Deus”.

A morte de Deus

Sinceramente, a palavra “Deus” não significa nada para mim,


apenas interfere na minha verdadeira fé. Não acredito em “Deus”. É
uma palavra de origem latina não encontrada na Bíblia original, em
hebraico. Essa palavra tem sido tão usada, abusada e mal-entendida
que chega a atrapalhar nossa busca pela verdade fundamental.
Pensando nisto, começo a entender o que Nietszche quis dizer
quando declarou que Deus está morto. O conceito de “Deus” – o
Libertar-se de Deus 27

significado que atribuímos à palavra “Deus” – é um conceito morto.


Não é real. O vingador parecido com Zeus que flutua no céu não
representa nem um pouco da realidade.
Percebi o quanto esse conceito é infantil e contraprodutivo
quando, um dia, entrou em meu seminário um sujeito vestindo
uma camiseta com uma tirinha do Calvin e Haroldo. Haroldo, o
tigre de brinquedo, pergunta a Calvin, o menininho: “Calvin, você
acredita em Deus?” A resposta de Calvin é: “Bem, alguém está aí
para me pegar.”
Infelizmente, muita gente alimenta a imagem de que Deus é um
valentão celeste e todo-poderoso, que existe para “nos pegar”. Não
é de espantar que essas pessoas não queiram acreditar em Deus, que
não façam a menor ideia de como ter uma conexão com esse Deus.
Certa vez uma mulher me disse: “Só quero que Ele me deixe em
paz. Eu não O incomodo; Ele não deveria me incomodar.” Mas, no
fundo, essas pessoas sofrem de um intenso medo de Deus e de Seus
castigos. É a teofobia. Muitas vezes, as pessoas que sofrem de teofobia
se dizem ateias e tentam escapar de seus tormentos mentais negando
a existência daquele Deus a quem elas, na verdade, continuam a
temer todos os dias.
Entendo o medo dessas pessoas. Lembro-me da primeira vez
em que senti esse tipo de medo. Estava assistindo ao filme Os Dez
Mandamentos, estrelado por Charlton Heston no papel de Moisés.
Só percebi a influência negativa daquela experiência algum tempo
depois. Uma coisa é certa: a voz de Deus ficou marcada em minha
mente por muito tempo. Imagine só os testes para o papel. Atores de
voz doce e gentil não precisam nem se inscrever! Só alguém de voz
estrondosa, alta e opressiva poderia ser a voz de Deus.
Esses são os tipos de recordação que passeiam pelas mentes
de muitas pessoas. A soma de todas essas memórias resulta numa
péssima imagem de Deus. Por isso, acredito que, antes de qualquer
crescimento espiritual, devemos nos livrar de Deus.
28 Enxergando Deus

Como Abrahão, devemos destruir nossas próprias estátuas e nos


desvencilhar da idolatria conceitual que bloqueia os olhos da alma.
Chegou a hora de ver Aquele que procuramos.

Aquele que era, é e será


O nome na Bíblia que infelizmente foi traduzido como “Deus”
é composto pelas letras hebraicas iud, he, vav, he, e é escrito em
português como Y/H/V/H. É importante saber que Y/H/V/H não é
uma palavra, mas um tetragrama – o tetragrama, já que há somente
um – que significa “foi/é/e/será”. O tetragrama condensa três tempos
verbais do verbo “ser”, sugerindo a fonte e o contexto eternos de
toda a existência.
Segundo a lei judaica, a pronúncia do tetragrama é proibida.
Por isso, o judeu religioso o substitui, nas rezas, por uma palavra
completamente diferente – Ado-nai (Eterno).
Que estranho ler uma palavra e dizer outra! Isso é para lembrar
ao judeu que o que ele vê não pode ser dito; o que vivencia não pode
ser definido com palavras ou conceitos. Os sábios de antigamente
compreendiam a natureza humana, que precisa de imagens e lembretes
constantes para aceitar humildemente as limitações de suas mentes.
Como pode a mente de um ser humano abarcar Y/H/V/H? Como
pode a mente imaginar a Realidade Suprema e Infinita?
É muito difícil compreender esse conceito porque ele ultrapassa
a mente. É como um pingo de água no oceano tentando abarcar
o oceano. De fato, o melhor que podemos dizer é que cada um
incorpora um aspecto da realidade, mas não somos a realidade.
Como o pingo no oceano, existimos dentro da realidade. Porque a
realidade é Y/H/V/H.
Quando os judeus comemoram o Pêssach, cantam uma canção
da Hagadá: “Bendito seja o Lugar.” Um dos termos que descrevem
Y/H/V/H é “Lugar”. Por quê? Porque sugere que Y/H/V/H é o lugar
em que existimos, a realidade dentro da qual existimos.
Libertar-se de Deus 29

Se você acredita na teoria do Big-Bang – segundo a qual o mundo


surgiu de uma explosão primordial de massas de gases quentes que
se condensaram em estrelas e planetas –, ainda assim teria de se
perguntar: Onde tudo isso aconteceu? Em que lugar? Quem tornou
possível essa explosão?
A resposta é Y/H/V/H, a Realidade Suprema – Aquele que abarca
todo tempo, todo espaço e todo ser.
De acordo com a Cabalá, não se deve relacionar nenhum
nome ou letra à Realidade Suprema. (A Cabalá se refere à Realidade
Suprema como En Sof – o Infinito). Algo tão vasto e abstrato não
cabe em qualquer imagem ou conceito. Até mesmo o tetragrama é,
na melhor das hipóteses, apenas uma alusão, porque Aquele a quem
se refere está além de nomes e conceitos.
Então, o que fazemos para falar sobre Y/H/V/H sem ficarmos
presos ao conceito do qual estamos tentando nos libertar? O judaísmo
evita o problema dizendo simplesmente Hashem, que, em hebraico,
significa “o Nome”. Essa prática não nos familiariza com um nome;
não se usa um nome. Dizer “o Nome” – Hashem – nos lembra que a
Realidade Suprema está, de fato, além de todos os nomes, todos os
termos e todas as imagens. Quando dizemos Hashem, percebemos
ter apenas uma compreensão simplista, limitada e inadequada
da Realidade Suprema, a Fonte de Toda Existência, o Lugar ou o
Contexto de Tudo Que Existe.
Não compreendemos – na verdade, não podemos entender –
Hashem, mas podemos ter – e já temos - uma relação com Hashem.
Deus está morto; é um conceito sem vida, uma palavra morta.
Mas Hashem está vivo; é a Realidade Viva e Suprema.
Meu amigo Ron me contou a história de como se livrou de Deus
e descobriu Hashem. Ele estava em frente ao Muro das Lamentações,
em Jerusalém, o último remanescente do Templo Sagrado, de mais de
dois mil anos. Embora ele sempre tenha se considerado ateu, pensou:
“Quer saber, estou aqui em frente ao Muro, eu deveria fazer alguma
30 Enxergando Deus

coisa espiritual.” Então, ele se virou para o religioso que estava ao


seu lado e perguntou: “O que eu faço aqui?”
O homem respondeu: “Por que você não recita alguns salmos?” E
ele lhe deu um livro de salmos. Ron concordou e começou a ler alguns
versículos. Naturalmente, logo nas primeiras palavras, encontrou a
palavra “Deus”. Apesar de ter ficado um pouco aborrecido, decidiu
continuar. Mas novamente a palavra “Deus” apareceu. Ele já estava
começando a ficar frustrado. “Como posso dizer isso se não acredito
em Deus? Será que preciso acreditar em Deus para ter uma experiência
espiritual?”
Como Ron é engenheiro de computação, decidiu lidar com
esse impasse como se fosse um problema de computação. Quando
há dados no computador que não se pode usar, ele cria uma zona
de isolamento e os coloca lá. Ron decidiu: “Vou colocar a palavra
‘Deus’ numa zona de isolamento mental e simplesmente vou ignorá-
la para que eu possa continuar lendo os salmos sem ficar chateado.”
E foi o que fez.
Ron então continuou a ler e começou a se sentir completamente
inspirado pelas palavras poéticas e comoventes do Rei David. Ele me
disse que foi tocado por uma profunda experiência espiritual, que
nunca havia sentido. Era como se estivesse cercado de luz. Esse foi o
começo de sua crença em Hashem. Somente quando se libertou de
Deus ele pôde ver Hashem.

Mudança de Paradigma
É interessante notar que Nietzche, além de proclamar que Deus está
morto, disse que, a não ser que experimentemos um “todo-infinito”
que se manifesta através de nós, a vida não faz sentido. Nietzche não
acreditava em Deus. Eu também não. Acredito no Todo-Infinito,
Aquele que era, é e sempre será – Hashem.
Para a maioria das pessoas, estabelecer uma relação com Hashem
requer uma mudança total de paradigma. De modo geral, as pessoas
Libertar-se de Deus 31

entendem que há a realidade e há Deus na realidade. Dentro dessa


realidade Deus criou você e eu. E então aqui estamos na realidade,
ao lado de Deus Todo-Poderoso. Diante dessa imagem, é difícil
não nos sentirmos muito pequenos, insignificantes e ameaçados.
Tudo – toda criação e nós também – parece tão pequeno e inferior
comparado a Deus. Por isso é que fugimos desse Deus e negamos
Sua existência. Simplesmente não podemos lidar com a comparação,
com o sentimento de nulidade com relação a Deus.
As pessoas têm essa imagem de um Deus flutuando em algum
lugar na realidade, e que, por algum motivo, decidiu criar você e eu.
Ainda assim, esse ser perfeito e flutuante criou um monte de seres
imperfeitos. É difícil evitar a comparação entre nós mesmos e esse
ser perfeito e todo-poderoso. Não podemos evitar o sentimento de
nulidade com tal comparação. Então nos perguntamos: “Temos que
nos render a Deus e religiosamente aceitar a ideologia de que não
somos nada?” Algumas religiões responderiam: “Sim, não somos nada
e este mundo não é nada. Essa é a maior compreensão que se deve
buscar – a anulação pessoal.”
Entretanto, para aqueles que não estão dispostos a acreditar que
não somos nada, a alternativa é virar a moeda – Deus não é nada. Para
que eu acredite em mim mesmo, não posso acreditar em Deus.
O paradigma que constrói um Deus na realidade conduz as
pessoas a duas linhas de pensamento: a filosofia da rendição absoluta
e anulação total do ser humano e da vida neste mundo ou – para
quem não quer aceitar isso – o ateísmo. Aliás, o ateu, ao negar Deus,
está certo em parte – na realidade, não há Deus
A Cabalá inspira uma mudança completa de paradigma. Ela
ensina que Hashem não existe na realidade – Hashem é a realidade.
E não existimos ao lado de Hashem; existimos em Hashem, dentro
da realidade que é Hashem.
Hashem é o lugar. De fato, Hashem é o contexto de tudo que
tudo abarca. Então não é possível haver você e Deus lado a lado na

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