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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

FACULDADE DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E URBANISMO

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS

Prof.: Flávio Yukio Watanabe


2005
Referências Bibliográficas

BEER, Ferdinand P., JOHNSTON Jr., E. Russell. Mecânica Vetorial para Engenheiros; Estática. 5.ed. São
Paulo: Makron Books do Brasil/McGraw-Hill, 1991.
BEER, Ferdinand P., JOHNSTON Jr., E. Russell. Resistência dos Materiais 3.ed. São Paulo: Makron Books,
1995.
BORESI, Arthur P., SCHMIDT, Richard J. Estática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
CRAIG JR, Roy R. Mecânica dos Materiais. 2.ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2003.
HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais. 5.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
HIBBELER, R. C. Mecânica; Estática. 8.ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999.
GERE, James M. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
POPOV, Egor P. Introdução à Mecânica dos Sólidos. 3.ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1978.
MERIAM, J. L.; KRAIGE, L. G. Mecânica; Estática. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999.
TIMOSHENKO, S. P. , GERE, J. E. Mecânica dos Sólidos. 3.ed. São Paulo: Livros Técnicos e Científicos,
1994, v.1 e 2.
SCHIEL, Frederico. Introdução à Resistência dos Materiais. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1984.
PREFIXO SÍMBOLO FATOR
exa E 1018
peta P 1015
tera T 1012
giga G 109
mega M 106
kilo k 103
hecto* h 102
deca* da 101
deci* d 10-1
centi* c 10-2
mili m 10-3
micro µ 10-6
nano n 10-9
pico p 10-12
femto f 10-15
atto a 10-18

Tabela A1 - Prefixos padronizados - SI


(* Não recomendados)

alfa α Α ni ν Ν
beta β Β xi ξ Ξ
gama γ Γ ômicron ο Ο
delta δ, ∂ ∆ pi π Π
epsilo ε Ε rô ρ Ρ
dzeta ζ Ζ sigma σ Σ
eta η Η tau τ Τ
teta θ Θ ípsilon υ Υ
iota ι Ι fi φ,ϕ Φ
capa κ Κ chi χ Χ
lambda λ Λ psi ψ Ψ
mi µ Μ ômega ω Ω

Tabela A2 – Alfabeto grego


AÇOS CARBONO
10xx Aço Carbono
11xx Aço Carbono Ressulfurado (boa usinabilidade)
12xx Aço Carbono Ressulfurado e Refosforado (boa usinabilidade)

AÇOS DE BAIXA LIGA (Construção Mecânica)


13xx Mn 1,75%
23xx Ni 3,5%
25xx Ni 5,0%
31xx Ni 1,25% - Cr 0,65%
33xx Ni 3,50% - Cr 1,55%
40xx Mo 0,25%
41xx Cr 0,50 ou 0,95% - Mo 0,12 ou 0,20%
43xx Ni 1,80% - Cr 0,50% ou 0,80 - Mo 0,25%
46xx Ni 1,55 ou 1,80% - Mo 0,20 ou 0,25%
47xx Ni 1,055 - Cr 0,45% - Mo 0,20%
48xx Ni 3,50% - Mo 0,25%
50xx Cr 0,28 ou 0,40%
51xx Cr 0,80 a 1,05
5xxxx Cr 0,50 ou 1,00 ou 1,45% - C 1,00%
61xx Cr 0,80 ou 0,95% - V 0,10 ou 0,15 min.
86xx Ni 0,55% - Cr 0,50% ou 0,65 - Mo 0,20%
87xx Ni 0,55% - Cr 0,50% - Mo 0,25%
92xx Mn 0,85% - Si 2,00%
93xx Ni 3,25% - Cr 1,20% - Mo 0,12%
98xx Ni 1,00% - Cr 0,80% - Mo 0,25%

AÇOS INOXIDÁVEIS (Resistentes ao calor e à corrosão)


2xx Cr, Ni, Mn Austenítico
3xx Cr, Ni Ferrítico
4xx Cr Ferrítico
4xx Cr Martensítico
5xx Cr Baixo Cr

Tabela A3 - Classificação e Composição dos Aços, segundo ABNT


(xx - Teor de carbono: 0,xx%)
Classificação Tipo de σr σr σe σe Alongamento Estricção Dureza
ABNT Processo [MPa] [kgf/mm2] [MPa] [kgf/mm2] em 2" [%] [%] Brinell
LQ 300 31 170 17 30 55 86
1006
LF 330 34 280 29 20 45 95
LQ 320 33 180 18 28 50 95
1010
LF 370 38 300 31 20 40 105
LQ 340 35 190 19 28 50 101
1015
LF 390 40 320 33 18 40 111
LQ 400 41 220 22 25 50 116
1018
LF 440 45 370 38 15 40 126
LQ 380 39 210 21 25 50 111
1020
LF 470 48 390 40 15 40 131
LQ 400 41 220 22 25 50 116
1025
LF 440 45 370 38 15 40 126
LQ 470 48 260 27 20 42 137
1030
LF 520 53 440 45 12 35 149
LQ 500 51 270 28 18 40 143
1035
LF 550 56 460 47 12 35 163
LQ 520 53 290 30 18 40 149
1040
LF 590 60 490 50 12 35 170
LQ 570 58 310 32 16 40 163
1045
LF 630 64 530 54 12 35 179
LQ 620 63 340 35 15 35 179
1050
LF 690 70 580 59 10 30 197
1055 LQ 650 66 350 36 12 30 192
1060 LQ 680 69 370 38 12 30 201
1070 LQ 700 71 390 39 12 30 212
1080 LQ 770 78 420 43 10 25 229
1090 LQ 830 85 460 47 10 25 248
1095 LQ 830 85 460 47 10 25 248

Tabela A4 - Propriedades Mecânicas de Aços Carbono (valores mínimos),


LQ - Laminado a quente ou LF - Laminado a frio
σ r - tensão limite de resistência e σ e - tensão limite de escoamento
Classificação Tratamento Temperatura σr σr σe σe Alongamento Estricção Dureza
ABNT Térmico °C [MPa] [kgf/mm2] [MPa] [kgf/mm2] em 2" [%] [%] Brinell
T&R* 205 848 86 648 66 17 47 495
T&R* 315 800 82 621 63 19 53 401
T&R* 425 731 75 579 59 23 60 302
1030 T&R* 540 669 68 517 53 28 65 255
T&R* 650 586 60 441 45 32 70 207
Normalizado 925 521 53 345 35 32 61 149
Recozido 870 430 44 317 32 35 64 137
T&R 205 779 80 593 60 19 48 262
T&R 425 758 77 552 56 21 54 241
1040 T&R 650 634 65 434 44 29 65 192
Normalizado 900 590 60 374 38 28 55 170
Recozido 790 519 53 353 36 30 57 149
T&R* 205 1120 114 807 82 9 27 514
T&R* 425 1090 111 793 81 13 36 444
1050 T&R* 650 717 73 538 55 28 65 235
Normalizado 900 748 76 427 44 20 39 217
Recozido 790 636 65 365 37 24 40 187
T&R 425 1080 110 765 78 14 41 311
T&R 540 965 98 669 68 17 45 277
1060 T&R 650 800 82 524 53 23 54 229
Normalizado 900 776 79 421 43 18 37 229
Recozido 790 626 64 372 38 22 38 179
T&R 315 1260 128 813 83 10 30 375
T&R 425 1210 123 772 79 12 32 363
1095 T&R 540 1090 111 676 69 15 37 321
T&R 650 896 91 552 56 21 47 269
Normalizado 900 1010 103 500 51 9 13 293
Recozido 790 658 67 380 39 13 21 192
1141 T&R 315 1460 149 1280 130 9 32 415
T&R 540 896 91 765 78 18 57 262
T&R* 205 1630 166 1460 149 10 41 467
T&R* 315 1500 153 1380 141 11 43 435
T&R* 425 1280 130 1190 121 13 49 380
4130 T&R* 540 1030 105 910 93 17 57 315
T&R* 650 814 83 703 72 22 64 245
Normalizado 870 670 68 436 44 25 59 197
Recozido 865 560 57 361 37 28 56 156
T&R 205 1770 180 1640 167 8 38 510
T&R 315 1550 158 1430 146 9 43 445
T&R 450 1250 127 1140 116 13 49 370
4140 T&R 540 951 97 834 85 18 58 285
T&R 650 758 77 655 67 22 63 230
Normalizado 870 1020 104 655 67 18 47 302
Recozido 815 655 67 417 43 26 57 197
T&R 315 1720 175 1590 162 10 40 486
4340 T&R 425 1470 150 1360 139 10 44 430
T&R 540 1170 119 1080 110 13 51 360
T&R 650 965 98 855 87 19 60 280

Tabela A5 - Propriedades Mecânicas de Aços Tratados Termicamente (valores mínimos),


T&R - Temperado em óleo e Revenido, T&R*- Temperado em água e Revenido
σ r - tensão limite de resistência e σ e - tensão limite de escoamento
Módulo de Tensão Limite de Escoamento Tensão Limite de Resistência Coeficiente de
Módulo de % de Alongamento Coeficiente de
Densidade Elasticidade σe [MPa] σr [MPa] Dilatação
Materiais 3
γ [t/m ]
Elasticidade
Transversal
em Corpo de Prova Poisson
Térmica
E [GPa] b b de 50mm υ -6
G [GPa] Tração Compressão Cisalhamento Tração Compressão Cisalhamento α [10 /°C])

Metálicos

ƒ Ligas Forjadas de ƒ 2014-T6 2,79 73,1 27 414 414 172 469 469 290 10 0,35 23
Alumínio ƒ 6061-T6 2,71 68,9 26 255 255 131 290 290 186 12 0,35 24

ƒ Ligas de Ferro ƒ Cinza ASTM 20 7,19 67,0 27 - - - 179 669 - 0,6 0,28 12
Fundido ƒ Maleável ASTM A-197 7,28 172 68 - - - 276 572 - 5 0,28 12

ƒ Latão Vermelho C86400 8,74 101 37 70,0 70,0 - 241 241 - 35 0,35 18
ƒ Ligas de Cobre
ƒ Bronze C86100 8,83 103 38 345 345 - 655 655 - 20 0,34 17

ƒ Liga de Magnésio ƒ Am 1004-T61 1,83 44,7 18 152 152 - 276 276 152 1 0,30 26

ƒ Estrutural A36 7,85 200 75 250 250 - 400 400 - 30 0,32 12


ƒ Ligas de Aço ƒ Inoxidável 304 7,86 193 75 207 207 - 517 517 - 40 0,27 17
ƒ Ferramentas L2 8,16 200 75 703 703 - 800 800 - 22 0,32 12

ƒ Liga de Titânio ƒ [Ti-6A1-4V] 4,43 120 44 924 924 - 1000 1000 - 16 0,36 9,4

Não Metálicos

ƒ Baixa Resistência 2,38 22,1 - - - 12 - - - - 0,15 11


ƒ Concreto
ƒ Alta Resistência 2,38 29,0 - - - 38 - - - - 0,15 11

ƒ Kevlar 49 1,45 131 - - - - 717 483 20,3 2,8 0,34 -


ƒ Plástico Reforçado
ƒ 30% Vidro 1,45 72,4 - - - - 90 131 - 0,34 -

c d d e
ƒ Madeira Selecionada ƒ Abeto Douglas 0,47 13,1 - - - - 2,1 26 6,2 - 0,29 -
c d d e
Grau Estrutural ƒ Abeto Branco 3,60 9,65 - - - - 2,5 36 6,7 - 0,31 -

a
Os valores específicos podem variar para um material em particular devido à composição da liga ou do material, ao processamento mecânico de amostra ou ao tratamento térmico. Para se obter valor mais exato devem ser consultados livros de referência do material.
b
As tensões limites de escoamento e de resistência para materiais dúcteis podem ser admitidos como iguais tanto para a tração quanto para a compressão.
c
Medida perpendicular ao grão.
d
Medida paralela ao grão.
e
Deformação medida perpendicular ao grão quando a carga é aplicada ao longo deste.

Fonte: HIBBELER, R.C., Resistência dos Materiais, 5º ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

Tabela A6 - Propriedades Mecânicas Médias de Materiais Típicos de Engenhariaa (Unidades SI)


I CONCEITO DE TENSÃO

1.1 CONCEITOS BÁSICOS


O estudo de Resistência dos Materiais, requer inicialmente a introdução de alguns conceitos
básicos sobre tensões, seus diferentes tipos e sobre tensões admissíveis. Esses conceitos possibilitam a
análise e o dimensionamento de elementos de máquinas ou estruturas submetidos a condições simples
de carregamento. Considerando-se primeiramente uma barra BD com área de seção transversal A, em
equilíbrio estático, solicitada axialmente em suas extremidades por forças de tração de mesma
intensidade P, e com sentidos opostos; conforme ilustrado na Fig. 1.1.

B D
P P

A
Figura 1.1. Barra tracionada axialmente

Se a barra BD for seccionada em uma seção transversal em um ponto C arbitrário, obtém-se


duas partes, BC e CD (Fig. 1.2), que permanecem em equilíbrio estático quando são consideradas as
forças internas de intensidade P, transmitidas ao longo da barra.

B C C D
P P P P

Figura 1.2. Forças internas na barra seccionada

Na realidade, as forças internas P representam as resultantes de forças elementares que


encontram-se distribuídas nas áreas de seção transversal da barra (Fig. 1.3). A intensidade dessas
forças distribuídas é igual à força por unidade de área, P/A, na seção transversal.

B C C D
P P

P/A P/A
Figura 1.3. Forças normais distribuídas
Define-se tensão normal média, σ, como sendo a intensidade das forças distribuídas, ou seja, a
força por unidade de área da seção transversal.

P
σ= (1.1)
A

O valor obtido na Eq. (1.1) é um valor médio das tensões normais, porque, nos pontos e nas
seções transversais próximos aos pontos de aplicação das forças externas P, as tensões normais
apresentam uma forma de distribuição com concentrações em certas regiões. Nas seções transversais
distantes dos pontos de aplicação das forças, pode-se assumir que a distribuição das tensões normais é
uniforme.

1.2 SISTEMAS DE UNIDADES

1-1
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe

1.2.1 SISTEMA INTERNACIONAL [ N m 2 ]


No Sistema Internacional, a força é expressa em Newton [N] e área em metros quadrados [ m 2 ],
portanto, a tensão será expressa em [ N m 2 ], unidade esta que é denominada Pascal [Pa], ou seja,
1N m 2 ≡ 1Pa .
Na prática, a unidade Pascal revela-se uma medida muito pequena, sendo utilizados, portanto,
múltiplos dessa unidade básica

1kPa = 10 3 Pa = 10 3 N m 2 → kiloPascal

1MPa = 10 Pa = 10 N m → MegaPascal
6 6 2

1GPa = 10 9 Pa = 10 9 N m 2 → GigaPascal

1.2.2 SISTEMA INGLÊS [ lbf in 2 ]


No Sistema Inglês, a força é expressa em libras força [lbf] e a área em polegadas quadradas
[ in 2 ]. Portanto a tensão σ será expressa em [ lbf in 2 ], conhecido também por psi (pound per square
inch), ou seja, 1 lbf in 2 ≡ 1 psi .
Nesse sistema de unidades também se utiliza um múltiplo da unidade básica

1ksi = 10 3 psi

1.3 TIPOS DE TENSÕES


As forças internas e correspondentes tensões, discutidas na seção 1.1, eram todas de tração e
normais à seção transversal. A seguir serão apresentados outros tipos de tensões, que ocorrem em
diferentes condições de carregamento e que são expressas nas mesmas unidades apresentadas na seção
1.2 deste Capítulo.

1.3.1 TENSÕES NORMAIS - σ


As tensões normais σ podem ser de tração ou de compressão. Convenciona-se que tensões
normais de tração são positivas, conforme ilustrado na Fig. 1.4a, e as tensões normais de compressão,
ilustradas na Fig. 1.4b, são negativas.

B C
P
σ=+P/A

(a) Tração Ö σ > 0

B C
P
σ=-P/A

(b) Compressão Ö σ < 0


Figura 1.4. Tensões normais de tração e de compressão

1.3.2 TENSÕES DE CISALHAMENTO - τ

1-2
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe

Considerando agora uma chapa BD onde são aplicadas duas forças P na direção transversal à
mesma, conforme ilustrado na Fig. 1.5, e desprezando os efeitos de momentos gerados pelo
desalinhamento destas forças, pode-se analisar o efeito de cisalhamento que tende a cortar a chapa
transversalmente.

B D

P
Figura 1.5. Chapa solicitada transversalmente
Se a chapa BD tiver uma seção transversal de área A e for cortada em um ponto C entre os
pontos de aplicação das forças P, obtém-se duas partes, BC e CD (Fig. 1.6), onde atuam forças internas
P na seção transversal do corte, denominadas forças cortantes, que mantém o equilíbrio de forças em
cada uma das partes seccionadas.

P
B C P D

P C
P
Figura 1.6. Forças cortantes na chapa seccionada

As forças cortantes atuam na direção longitudinal da seção transversal e, de maneira análoga à


definição da tensão normal média, define-se a tensão de cisalhamento média, τ.

P
τ= (1.2)
A

Deve ser frisado que o valor obtido na Eq. 1.2 é um valor médio das tensões de cisalhamento e,
contrariamente ao que foi dito para as tensões normais, a distribuição de tensões de cisalhamento na
seção transversal não pode ser assumida como sendo uniforme em hipótese alguma. O valor real da
tensão de cisalhamento varia da superfície para o interior da peça, onde pode atingir valores bem
superiores à tensão de cisalhamento média.
A tensão de cisalhamento ocorre comumente em parafusos, rebites e pinos que ligam diversos
elementos de máquinas e estruturas. Na Fig. 1.7 são apresentadas duas chapas B e C, ligadas pelo
rebite DE e solicitadas por forças de tração P.

D C
P
P B

E
Figura 1.7. Ligação rebitada entre duas chapas

As forças P são transmitidas das chapas para o rebite (Fig. 1.8a), originando tensões de
cisalhamento na seção transversal do rebite de área A, definida pelo plano FF. A análise das duas

1-3
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe

partes do rebite separadas pelo plano FF, indica que na seção cisalhada ocorrem forças cortantes de
mesma intensidade P (Fig. 1.8b).
D
D P
P
P
F F
Ö P
A P
E P
E
(a) (b)
Figura 1.8. Esforços em um rebite cisalhado em um único plano (corte simples)

Sendo assim, a tensão de cisalhamento média que ocorre na seção FF do rebite é dada por

P
τ= (1.3)
A

Nas condições descritas anteriormente, o rebite está sujeito ao cisalhamento em um único plano,
ou ainda, está sujeito a um corte simples. Podem existir outras configurações, como por exemplo a
apresentada na Fig. 1.9.

B D
C P
P

E
Figura 1.9. Ligação rebitada entre três chapas

Neste caso as tensões de cisalhamento originam-se nas seções transversais de área A, definidas
pelos planos FF e GG (Fig. 1.10a), e portanto, o rebite está sujeito a uma condição de corte duplo. A
intensidade das forças cortantes nas seções cisalhadas é de P/2 (Fig. 1.10b).

D
P/2
D P/2
P/2 P/2
F F
P Ö P
G G P/2
P/2
E P/2
P/2
E
(a) (b)
Figura 1.10. Esforços em um rebite sujeito a corte duplo

Sendo assim, as tensões de cisalhamento médias que ocorrem nas seções FF e GG do rebite sujeito a
duplo corte são dadas por

P2 P
τ= = (1.4)
A 2A

1.3.3 TENSÃO DE ESMAGAMENTO - σesm

1-4
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe

Os parafusos, pinos e rebites provocam tensões de esmagamento que se distribuem nas


superfícies de contato das chapas que estão ligando, podendo provocar a destruição local das mesmas.
Tomando como exemplo a ligação rebitada apresentada na Fig. 1.7. O rebite DE exerce na chapa C
uma força P com sentido contrário à força P exercida no rebite (Figura 11).

C D
P P
t
P
E
C Aesm=dt

P P P

d
Figura 1.11. Esforços de esmagamento entre chapa e rebite

A força P que atua na chapa representa a resultante das forças elementares que se distribuem ao
longo da superfície interna do semicilindro de diâmetro d e altura t, igual à espessura da chapa.
A forma de distribuição das forças elementares nessa superfície é de difícil obtenção, mas como
normalmente o diâmetro do rebite é menor que o do furo, há uma concentração de tensões na região
central da superfície do semi-cilindro. Na prática, emprega-se um valor nominal médio para a tensão
denominada tensão de esmagamento média σ esm .
A tensão de esmagamento média na chapa é obtida dividindo-se a força P pela área do retângulo
que representa a projeção do rebite sobre a seção da chapa. Essa área é denominada área de
esmagamento Aesm , e é igual a dt.

P P
σ esm = = (1.5)
Aesm dt

Ensaios mecânicos de materiais mostram que seus limites de resistência ao esmagamento são
muito superiores aos limites de resistência à compressão dos mesmos. Esta elevada resistência ao
esmagamento na superfície solicitada se deve ao fato do material esmagado ficar apoiado por quase
todos os lados por um material pouco solicitado, mesmo depois de atingido o regime de deformações
plásticas.

1.4 TENSÕES EM UM PLANO OBLÍQUO


Nas seções anteriores, verificou-se que as forças axiais aplicadas a uma barra causavam tensões
normais, enquanto que as forças transversais aplicadas a chapas e rebites causavam tensões de
cisalhamento, ambas nas seções transversais dos elementos. Verifica-se agora que, quando são
analisados planos oblíquos aos eixos longitudinais de uma barra sujeita a forças axiais, surgem
simultaneamente tensões normais e de cisalhamento. Considera-se inicialmente uma barra BD com
área de seção transversal A, sujeita à ação das forças axiais de tração P, conforme ilustrado na Fig.
1.12.

B D

P P
θ

1-5
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe

Figura 1.12. Barra tracionada axialmente

Isolando-se um elemento prismático da barra, definido por um plano normal ao eixo


longitudinal da barra e outro que forma um ângulo θ com o plano normal, observa-se que nesses
planos devem atuar forças axiais de tração P de sentidos opostos (Fig. 1.13a).

Pcosθ
σ’
P θ θ P Ù σ
Psenθ

τ’
Figura 1.13. Esforços em um elemento prismático da barra tracionada

No plano normal não existe tensão de cisalhamento e a tensão normal média σ que atua no
mesmo é calculada normalmente (σ = P A) . Para se determinar a tensão normal média σ' e a de
cisalhamento média τ' que atuam no plano oblíquo (Fig. 1.13b), a força P atuante no mesmo deve ser
decomposta em uma componente normal ( P cos θ) e outra tangencial ao plano ( P sen θ) , conforme
ilustrado na Fig. 1.13a. As tensões resultantes são calculadas considerando-se as componentes de força
e a área da seção oblíqua, denotada por Aθ , calculada como Aθ = A cos θ .

P cos θ P cos 2 θ P sen θ P sen θ cos θ


σ′ = = e τ′ = = (1.6)
Aθ A Aθ A

De maneira análoga à análise anterior, pode ser demonstrado que, em planos oblíquos aos seus
eixos longitudinais de chapas e pinos cisalhados, também podem ocorrer tensões normais e de
cisalhamento, simultaneamente.

1.5 TENSÕES ADMISSÍVEIS E COEFICIENTE DE SEGURANÇA


Nas seções anteriores foram calculadas as tensões em barras, pinos e chapas submetidos a
condições simples de carregamento. Posteriormente serão determinadas as tensões em estruturas mais
complexas, entretanto, dentro das aplicações da engenharia, a determinação de tensões não é o
objetivo final, mas um passo necessário ao desenvolvimento da análise e dimensionamento de
elementos de máquinas e estruturas. Em ambos os casos é necessário se conhecer as características de
elasticidade e resistência do material a ser utilizado. Essas características são levantadas
experimentalmente através de ensaios específicos padronizados.
Os ensaios de tração, compressão, cisalhamento e esmagamento permitem determinar as
respectivas tensões limites de escoamento e as tensões limites de resistência (tensões últimas) dos
materiais. A simbologia adotada nesta disciplina para as tensões limites dos materiais é apresentada a
seguir.
σ te (σ ce ) tensão limite de escoamento à tração (compressão)
τe tensão limite de escoamento ao cisalhamento
σeesm
tensão limite de escoamento ao esmagamento
σ r (σ r )
t c
tensão limite de resistência à tração (compressão)
τr tensão limite de resistência ao cisalhamento
σr esm
tensão limite de resistência ao esmagamento

1-6
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe

Elementos de máquinas e estruturas devem ser dimensionados de tal forma que as tensões
atuantes nos mesmos, em condições normais de utilização, sejam consideravelmente inferiores às
respectivas tensões limites de resistência ou elasticidade do material empregado. Além disso, procura-
se trabalhar sempre dentro do regime de deformações elásticas do material. Para isso definem-se as
tensões admissíveis, que correspondem às tensões máximas aplicáveis, obtidas dividindo-se as
respectivas tensões limites por coeficientes de segurança, CS(s).

tensão limite
tensão admissível = (1.7)
coeficiente de segurança

De um modo geral empregam-se as tensões limites de escoamento para a determinação das


respectivas tensões admissíveis de materiais dúcteis como aço carbono, alumínio e cobre. Para
materiais frágeis como ferro fundido e vidro, empregam-se as tensões limites de resistência para a
determinação de suas respectivas tensões admissíveis.
A simbologia adotada para as tensões admissíveis dos materiais é apresentada a seguir.

σt ( σc ) tensão admissível de tração (compressão)


τ tensão admissível de cisalhamento
σesm tensão admissível de esmagamento

A definição dos coeficientes de segurança é bastante complexa por exigir a consideração de


inúmeras peculiaridades do elemento dimensionado, das condições de utilização e do perigo de vida.
Muitas especificações e normas de projeto fornecem critérios para a definição dos CS(s). Obviamente,
os CS(s) tem valores maiores que 1 (um), e quando se aplicam cargas que geram tensões inferiores às
admissíveis, apenas uma parte da capacidade de resistência do material está sendo utilizada; a outra
parte é reservada para assegurar ao material condições de utilização segura.

1-7
II – TENSÃO E DEFORMAÇÃO
- CARGAS AXIAIS DE TRAÇÃO E COMPRESSÃO -

2.1 TENSÃO E DEFORMAÇÃO


No Capítulo anterior, elementos estruturais simples como barras, vigas e pinos foram
dimensionados baseado na análise das tensões normal, de cisalhamento e de esmagamento,
ocasionadas nestes elementos por condições de carregamento diversas.
Um outro aspecto importante no estudo de Resistência dos Materiais se relaciona às
deformações decorrentes das cargas atuantes em elementos de máquinas e estruturas. É importante
evitar que estas deformações se tornem excessivas a ponto de comprometer a finalidade básica para a
qual cada elemento foi projetado, ou gerar desconforto físico excessivo aos seus usuários. A análise de
deformações pode auxiliar também na determinação de forças em estruturas hiperestáticas que não
podem ser resolvidas simplesmente com a aplicação das equações da Estática
( ∑ Fx , y ,z = 0 ; ∑ M x , y ,z = 0 ) , onde os elementos são considerados rígidos. No presente estudo, serão
analisadas as deformações elásticas de barras solicitadas axialmente por cargas de tração ou de
compressão.
Considerando-se inicialmente a barra cilíndrica BC da Figura 2.1a, de comprimento l0, diâmetro
d0, área de seção transversal A0, engastada no ponto B. Ao se aplicar uma força axial P de tração na
extremidade livre C da barra, esta sofre um alongamento ∆l, Figura 2.1b, cujo valor depende dos
parâmetros geométricos e das características do material da barra.

B B

d0 (d0+∆d)

l0
A0

C
C
∆l
P
(a) (b)
Figura 2.1 Deformação de uma barra causada por carga de tração
Além disso, o alongamento ∆l sempre é acompanhado de um decréscimo da dimensão transversal da
barra que passa a ter um diâmetro igual a ( d 0 + ∆d ). A relação entre esta deformação transversal e a
longitudinal será discutida posteriormente.

2.2 DIAGRAMAS TENSÃO-DEFORMAÇÃO


Observa-se através de ensaios que, em barras de mesmo material e com diferentes
comprimentos e áreas de seção transversal como as barras DE e FG da Figura 2.2, sujeitas a uma
mesma tensão normal média de tração σ = P1 A1 = P2 A2 , a relação entre as respectivas deformações e
comprimentos iniciais das barras mantém-se constante, ou seja, ∆l1 l 1 = ∆l 2 l 2

2-1
Tensão e Deformação - Cargas Axiais de Tração e Compressão Flávio Y. Watanabe

D F

(d1+∆d1) (d2+∆d2)

l1
A1 l2 A2

E
G
∆l1
P1
∆l2
P2
Figura 2.2 Deformação axial em barras de mesmo material

Essa deformação por unidade de comprimento é uma grandeza adimensional denominada


deformação específica ε

∆l
ε= (2.1)
l0

Um diagrama tensão-deformação de um corpo de prova tracionada gradativamente pode ser


obtido plotando-se em um gráfico a tensão σ = P A0 , e a correspondente deformação específica
ε = ∆l l 0 . Através deste diagrama são definidas as propriedades características de resistência e
elasticidade do material analisado, e que, geralmente, não dependem das dimensões do corpo de prova.
Cabe ressaltar que σ e ε são calculados considerando-se o valores iniciais da área de seção transversal
e do comprimento da barra, respectivamente; além disso, os diagramas tensão-deformação variam
muito em função do tipo de material ensaiado, de tratamentos térmicos anteriores, da temperatura do
corpo de prova e da velocidade de aplicação da carga.
A análise de diagramas tensão-deformação de diferentes grupos de materiais é possível,
entretanto, distinguir algumas características comuns que possibilitam uma classificação simplificada
dos materiais em duas importantes categorias, que são os materiais dúcteis e os materiais frágeis. Na
Figura 3a é apresentado um diagrama tensão-deformação característico de materiais dúcteis como os
aços carbono. O trecho inicial do diagrama é retilíneo e corresponde à fase de regime elástico de
deformações dos materiais. Quando a tensão normal ultrapassa o valor correspondente à tensão limite
de escoamento, σ e , o material entra em regime plástico de deformações, apresentando um trecho
característico de escoamento, isto é, grandes deformações com pouco aumento de carga.
Posteriormente, o material passa por uma fase de encruamento na qual se dá finalmente a ruptura do
material. Nesse último trecho a tensão normal atinge um valor máximo denominada tensão limite de
resistência, σ r , e depois decai até a ocorrência da ruptura propriamente dita. Este decréscimo final na
tensão normal, calculado em função da área inicial A0, não tem valor objetivo porque nessa fase o
corpo sofre uma perda de resistência localizada refletida na forma de estricção do corpo de prova.
Alguns materiais dúcteis como ligas de alumínio ou de cobre não apresentam o trecho de
escoamento nos diagramas tensão-deformação correspondentes (Figura 2.3b).
Materiais com características frágeis como ferro fundido e vidro diferenciam-se dos materiais
dúcteis por uma ruptura que ocorre sem nenhuma mudança sensível no modo de deformação do
material, conforme pode ser notado no diagrama tensão-deformação apresentado na Figura 2.4. Além
disso, a deformação dos materiais frágeis até a ruptura é muito menor do que nos materiais dúcteis.
Nos corpos de prova de materiais frágeis não ocorre a estricção e a ruptura se dá em uma superfície
perpendicular ao carregamento.

2-2
Tensão e Deformação - Cargas Axiais de Tração e Compressão Flávio Y. Watanabe

σ σ

σr
σr

σe σe

ε ε
(a) (b)
Figura 2.3 Diagramas tensão-deformação de materiais dúcteis: (a) aço-carbono; (b) ligas de alumínio ou cobre

σr

ε
Figura 2.4 Diagramas tensão-deformaçãode materiais frágeis

2.3 LEI DE HOOKE


As estruturas são projetadas buscando-se sempre trabalhar com uma boa margem de segurança
contra a ruptura do material. Isso faz com que as tensões admissíveis sejam definidas sempre no trecho
linear do diagrama tensão-deformação, ou seja, sempre dentro do regime elástico de deformações.
A proporcionalidade entre a tensão normal média σ e a deformação específica ε no trecho linear é
estabelecida por um parâmetro E, característico do material, denominado módulo de Young ou módulo de
elasticidade do material. Esta relação de proporcionalidade é conhecida como Lei de Hooke, e é válida
somente dentro do regime elástico de deformações dos materiais.

σ = Eε (2.2)

Como a deformação específica ε é adimensional, o módulo de elasticidade E deve ser expresso


na mesma unidade de σ, por exemplo, Pa. O módulo de elasticidade está relacionado diretamente com
a "rigidez" ou capacidade de resistir a deformações dos materiais. Cabe ressaltar que as "famílias" de
materiais metálicos apresentam características de elasticidade praticamente constantes, ou seja, um
aço-carbono ou um aço liga de alta resistência, pertencentes à família dos aços, apresentam
praticamente o mesmo módulo de elasticidade. Como exemplos são citados o aço com E ≈ 200GPa , o
alumínio com E ≈ 70GPa , o ferro fundido com E ≈ 130 ~ 170GPa e o concreto com
E ≈ 14 ~ 20GPa .

2-3
Tensão e Deformação - Cargas Axiais de Tração e Compressão Flávio Y. Watanabe

Considerando novamente o caso da barra tracionada apresentada na Figura 2.1, e substituindo as


expressões da tensão normal σ = P A0 e da deformação específica ε = ∆l l 0 na equação (2.2), resulta
na seguinte expressão para o alongamento ou deformação da barra

Pl 0
∆l = (2.3)
EA0

Até agora foram analisados apenas casos de barras tracionadas ( σ > 0 ). Na compressão ( σ < 0 ),
usualmente, os materiais apresentam um comportamento elástico análogo ao da tração, ou seja, a Lei
de Hooke vale também para o caso de barras comprimidas. Emprega-se normalmente o mesmo
Módulo de Elasticidade E tanto para a tração como para a compressão. Deste modo, nota-se pela
Equação (2.2) que a deformação específica ε de encurtamento de barras comprimidas é negativa
( ε < 0 ), enquanto que, no caso de barras tracionadas, a deformação específica de alongamento ε é
positiva ( ε > 0 ).
A Equação (2.3) possibilita determinar o alongamento ou o encurtamento ∆l de uma barra
homogênea (E constante), com seção transversal uniforme de área constante A, comprimento L, e
solicitada axialmente nas extremidades por cargas de intensidade P, sejam elas de tração ( ∆l > 0 ) ou
de compressão ( ∆l < 0 ).
No caso de uma barra solicitada axialmente em pontos diversos, ou se ela for composta por
vários segmentos com diferentes seções transversais e/ou diferentes materiais, deve-se dividir a mesma
em um número n de segmentos que, individualmente, satisfaçam às condições de aplicação simultânea
da Equação (2.3). Denominando por Pi , li , Ei e Ai , respectivamente, à força, ao comprimento, ao
módulo de elasticidade e à área de seção transversal correspondentes ao segmento genérico i, pode-se
expressar a deformação total da barra através do seguinte somatório

n
Pl
∆l total = ∑ E ii Ai i (2.4)
i =1

2.4 COEFICIENTE DE POISSON


Conforme mencionado anteriormente na Seção 2.1, quando uma barra é solicitada axialmente,
esta sofre uma deformação longitudinal que é acompanhada por uma deformação transversal. Na barra
considerada na Figura 2.1 há uma redução ∆d no seu diâmetro inicial d0. Essa deformação
homogênea só ocorre se o material for assumido como sendo isotrópico, isto é, se considerarmos que
suas propriedades mecânicas são independentes da direção considerada.
Definindo a deformação específica transversal como sendo ε t = ∆d d 0 , pode-se estabelecer
uma relação entre ε t e a deformação específica ε = ∆l l 0 , através de um outro parâmetro
adimensional, característico do material, denominado coeficiente de Poisson, ν

∆d ∆l
ε t = −νε ou = −ν (2.5)
d0 l0
O coeficiente de Poisson dos materiais pode assumir valores entre 0 e 0,5 . Para o aço, ν ≈ 1 3 e
para o concreto, ν ≈ 1 6 .
A Equação (2.5) corresponde a uma parte da Lei de Hooke generalizada para o caso de
carregamento multiaxial, e o sinal negativo é decorrente do fato de que, quando ocorre um
alongamento longitudinal, ocorre conjuntamente uma compressão transversal, e vice-versa.

2-4
III TORÇÃO DE BARRAS COM SEÇÃO CIRCULAR

3.1 PROBLEMA BÁSICO ANALISADO


Neste estudo será analisadas as tensões e deformações ocasionadas por momentos torçores
aplicados a barras com seção transversal circular ou em forma de anel circular. Na Figura 3.1 é
apresentada uma barra AB com seção transversal circular de raio R, engastada na extremidade A e
solicitada na extremidade livre B por um momento torçor M t . Este momento torçor é transmitido ao
longo da barra, resultando no engastamento A um momento torçor de reação M t , de mesma
intensidade mas com sentido contrário ao primeiro.

A
2
1 4
3

D=2R

Mt B
Mt

x
L

Figura 3.1. Barra com seção circular submetida à torção

Dentro do regime elástico de deformações do material da barra, cada seção transversal executará
uma rotação com um ângulo ϕ que varia em função da distância da seção ao engaste, na direção x.
Além disso, para equilibrar M t aplicado na extremidade B, em cada seção haverá tensões de
cisalhamento τ distribuídas de modo a gerar um momento torçor equilibrante.
Para a determinação das tensões e deformações características que ocorrem na barra AB
submetida à torção, algumas hipóteses simplificadoras serão formuladas para a análise o que ocorre
nas seções transversais e no elemento 1-2-3-4 da barra, localizado na extremidade A. Cabe ressaltar
que os resultados dessa análise estão em perfeita consonância com resultados de ensaios, validando
dessa forma as hipóteses mencionadas.

3.2 TENSÕES E DEFORMAÇÕES


Para equilibrar o momento torçor M t aplicado externamente, em cada seção transversal existirão
tensões de cisalhamento τ r distribuídas de modo a gerar um momento torçor de reação na seção.
Assume-se que estas tensões de cisalhamento estão direcionadas perpendicularmente à direção radial,
conforme ilustrado na Figura 3.2, e que o valor destas é proporcional à distância radial. Sendo assim,
no centro da seção a tensão de cisalhamento é nula e na distância radial R ocorre a tensão máxima de
cisalhamento, τ máx :

3-1
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe

τmáx
τr

D=2R
r

dr
Figura 3.2. Tensões de cisalhamento na seção circular

Portanto, as tensões de cisalhamento τ r que ocorrem à uma distância radial r podem ser
determinadas em função do raio R, da distância r e de τ máx , através da seguinte equação

r
τr = τ máx (3.1)
R

O momento resultante das forças elementares que atuam na seção é igual ao momento M t
aplicado na barra. A força elementar dF = τ r dA que atua no elemento de área dA em forma de anel
circular de espessura dr, e à uma distância r do centro da seção, contribui com um momento
dM = rτ r dA para o equilíbrio. Sendo assim

M T = ∫ dM = ∫ rτ r dA
A A

R R
r 2π πR 3
MT = ∫ r τ máx 2 πrdr = τ máx ∫ r 3 dr = τ máx
0
R R 0
2

2M t 16 M t Mt
∴ τ máx = = = (3.2)
πR 3
πD 3
Wt

onde,
πD 3
. Wt = módulo de resistência à torção de seção circular [m3]
16
O módulo de resistência à torção Wt constitui uma geométrica da seção que caracteriza a
resistência à torção da barra.
No elemento 1-2-3-4, ilustrado na Figura 3.3, a tensão τ máx atuante na face 3-4 e a reação na
face oposta 1-2 são insuficientes para equilibrar o elemento porque estas geram o binário
τ máx (dtdr )dx .

dt 2 dx
τmáx τl
dr 1 4
3
τl τmáx
Figura 3.3. Tensões no elemento 1-2-3-4

O equilíbrio do elemento 1-2-3-4 é garantido por tensões de cisalhamento τ l que atuam nas
faces 1-3 e 2-4, na direção longitudinal da barra, gerando o binário τ l (dxdr )dt ; sendo assim, da
igualdade dos dois binários, resulta

3-2
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe

τ l = τ máx (3.3)
Esta igualdade de tensões de cisalhamento em planos perpendiculares entre si constitui o
Teorema de Cauchy, que ocupa um papel de importância fundamental na análise de tensões.

dt

1 2

dx γ

3 3' 4 4'

3 3' 4 4'
dr

O
Figura 3.4. Deformações do elemento 1-2-3-4

Analisando agora as deformações elásticas da barra, assume-se que as seções transversais


comportam-se como planos rígidos que executam rotações com ângulos ϕ proporcionais à distância
das mesmas em relação ao engaste, na direção x. Considera-se que a seção transversal onde se
localizam os pontos 3 e 4 está afastada de uma distância dx do engaste e que esta rotaciona de um
ângulo dϕ em torno do eixo transversal; conseqüentemente, o elemento retangular 1-2-3-4 sofre uma
deformação transversal angular γ, passando a ter o formato do paralelogramo 1-2-3'-4' ilustrado na
Figura 3.4.
A deformação transversal angular γ é proporcional a τ máx , e esta proporcionalidade é
estabelecida por um parâmetro G característico do material, denominado módulo de elasticidade
transversal.

τ máx
γ= (3.4)
G

No Sistema Internacional (SI) de unidades, G e τ máx são expressos em Pa e a Eq.(3.5) fornece


um ângulo γ em radianos. Esta equação é considerada parte da Lei de Hooke generalizada para o caso
de carregamento multiaxial. O ângulo γ desempenha um papel análogo ao da deformação específica ε
na equação ε = σ E estudada anteriormente. Portanto, o comportamento elástico de um material fica
caracterizado por 3 parâmetros: os módulos de elasticidade E e G, e o coeficiente de Poisson ν. Pode-
se comprovar que estes parâmetros mantém entre si a seguinte relação

E
G= (3.5)
2 (1 + ν )

3-3
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe

Como exemplos são citados os módulos de elasticidade transversal do aço com G ≈ 80GPa , e
do alumínio com G ≈ 27 GPa .
A rotação dϕ .da seção transversal à uma distância dx do engaste é determinada através da
análise do deslocamento do ponto 3 nos "triângulos" 1-3-3' e O-3-3' :

33' = γdx = Rdϕ

γ
dϕ = dx (3.6)
R

ou, substituindo γ, dado na Eq.(3.4), na Eq.(3.7)

τ máx
dϕ =
dx (3.7)
GR
O ângulo de rotação relativa ϕ entre as extremidades A e B da barra é determinado a partir da
integral de dϕ, dado na Eq.(3.8), ao longo do comprimento L:

L L
τ máx τ L
ϕ = ∫ dϕ = ∫ dx = máx (3.8)
0 0
GR GR

Substituindo τ máx , Eq.(3.2), na Eq.(3.9), obtém-se

2 M t L 32 M t L M t L
ϕ= = = (3.9)
GπR 4 GπD 4 GI p

onde
πD 4
. Ip = momento polar de inércia de seção circular [m4]
32

O momento polar de inércia I p corresponde a uma outra característica geométrica da seção e


que será abordada com mais detalhes em outros estudos.

3.3 BARRAS COM SEÇÃO EM FORMA DE ANEL CIRCULAR


A análise das tensões que ocorrem em barras com seção transversal em forma de anel circular
solicitadas à torção, assume-se mais uma vez que as tensões de cisalhamento se distribuem nas seções
direcionadas perpendicularmente à direção radial e com valores proporcionais à distância radial,
conforme ilustrado na Figura 3.5.

τmáx

τmín

O
D=2R
d

Figura 3.5. Tensões de cisalhamento na seção em forma de anel circular

3-4
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe

Observa-se neste caso que na distância radial d/2 ocorre uma tensão mínima de cisalhamento
τ mín , diferente de zero e dada por
d
τ mín = τ máx (3.10)
D

A tensão máxima de cisalhamento τ máx da Eq.(3.10) pode ser deduzida de maneira análoga à
realizada anteriormente para seção circular, resultando

16 M t D M
τ máx = = t (3.11)
π( D − d ) W t
4 4

onde
π( D 4 − d 4 )
. Wt = módulo de resistência à torção para seção em forma de anel circular
16 D
Além disso, o ângulo de rotação relativa ϕ entre as extremidades desta barra, é facilmente
obtido substituindo τ máx , Eq.(3.11), na Eq.(3.8), resultando

32 M t L M L
ϕ= = t (3.12)
Gπ( D − d ) GI p
4 4

onde
π( D 4 − d 4 )
. Ip = momento polar de inércia para seção em forma de anel circular
32

3.3 BARRAS COM SEÇÃO ARBITRÁRIA


Foram analisados até agora os casos de torção de barras com seção circular ou em forma de anel
circular, onde algumas hipóteses simplificadoras foram assumidas e que possibilitaram deduzir
algumas equações simples para a tensão máxima de cisalhamento τ máx e o ângulo de rotação relativa
ϕ.
Nos casos de torção de barras com seção transversal arbitrária a forma de distribuição das
tensões de cisalhamento é bem mais complexa e ocorre ainda um empenamento da seção, o que
impede a adoção das hipóteses simplificadoras mencionadas anteriormente.
A torção livre de barras com seção arbitrária é caracterizada por um empenamento das seções e
o seu estudo analítico necessita de cálculos muito complexos. Os trabalhos de diversos pesquisadores
permitiram a elaboração de tabelas com valores de Wt e I p para diversas seções. Estes dois
parâmetros permitem determinar a tensão máxima de cisalhamento τ máx e o ângulo de rotação relativa
ϕ através de suas equações na forma generalizada.
M M L
τ máx = t e ϕ= t (3.13)
Wt GI p

Na Tabela 3.1 são apresentadas algumas seções e as expressões dos respectivos módulos de
resistência à torção e momentos polares de inércia, Wt e I p . O valor de Wt fornece τ máx sem indicar o
ponto mais solicitado da seção.

3-5
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe

Seção transversal Módulo de resistência à torção W t Momento polar de inércia I p

πD 3 πD 4
D Wt = Ip =
16 32

π( D 4 − d 4 ) π( D 4 − d 4 )
D d Wt = Ip =
16 D 32

dméd πtD méd


2
πtDméd
3

Wt ≈ Ip ≈
t 2 4

π 2 t πtDméd
3
dméd Wt ≈ t D méd (1 − ) Ip ≈
3 5 D méd 3
t

d Wt = 0 ,188 d 3 I p = 0 ,105 d 4

b πab 2 πa 3b3
Wt = Ip =
b<a 16 16 (a 2 + b 2 )
a

Wt = wb 2 h I p = jb 3 h

n w j
~0 0,333 0,333
h 0,1 0,312 0,312
0,2 0,291 0,291
0,3 0,273 0,270
b 0,4 0,258 0,249
0,5 0,246 0,229
b 0,6 0,237 0,209
h>b e n= 0,7 0,229 0,189
h 0,8 0,221 0,171
0,9 0,214 0,155
1,0 0,208 0,141
p/ n<0,25 Ö w ≈ j ≈ 0,333-0,21n
Seção aberta composta por
retângulos estreitos de largura b e Wt =
∑b hi
3

Ip =
∑b h i
3

altura h (h>>b) 3bmáx 3

Tabela 3.1. Módulos de resistência à torção W t e momentos polares de inércia I p

3-6
IV ESFORÇOS SOLICITANTES
4.1 INTRODUÇÃO

Um dos tópicos mais importantes abordados no estudo de Resistência dos Materiais se refere à
determinação dos esforços internos transmitidos ao longo dos elementos de uma máquina ou estrutura.
Estes esforços internos, denominados Esforços Solicitantes, podem variar ao longo do comprimento
do elemento analisado e sua determinação é essencial no dimensionamento e análise desses elementos.
Alguns Esforços Solicitantes já foram apresentados em estudos anteriores, como a Força Normal, a
Força Cortante e o Momento Torçor.
Antes de entrarmos no estudo de Esforços Solicitantes transmitidos em uma estrutura, devemos
introduzir o conceito de Determinação Geométrica dos elementos estruturais. Para isto, definiremos
alguns termos e adotaremos uma simbologia adequada à análise de "estruturas planas".

4.2 DEFINIÇÕES E SIMBOLOGIA

No estudo da resistência dos elementos de uma máquina ou estrutura devemos idealizar


convenientemente os componentes estruturais de modo a simplificar o problema analisado. Na
maioria dos casos, estes componentes tem uma das dimensões bem maior que as outras duas e são
denominadas genericamente por barras, podendo ser planas ou espaciais, retas ou curvas.
No caso de "estruturas planas" definem-se os seguintes elementos estruturais:

- Barra Simples (ou Barra): tem a função estática de transmitir apenas uma força interna, e a
função geométrica de estabelecer a distância entre suas extremidades. No caso de barras simples retas,
o único esforço solicitante transmitido é a Força Normal;
- Barra Geral (ou Chapa): tem a função estática de transmitir forças e momentos internos, e a
função geométrica de estabelecer a posição relativa entre vários dos seus pontos;
- Nó: é uma articulação onde são conectadas várias barras pelas suas extremidades;
- Vínculo: pode ser uma articulação entre chapas, ou um apoio ou engastamento entre chapas e
a "chapa terra".
Dispondo agora dessa terminologia, podemos esclarecer o significado do termo "estrutura
plana", que é naturalmente uma idealização que não existente na realidade. Muitas estruturas podem
ser analisadas, com boa aproximação, como sendo estruturas planas, onde todas as cargas atuantes são
aplicadas no mesmo plano e que os elementos estruturais estão rigidamente vinculados a este plano,
isto é podem movimentar-se apenas em direções contidas nele. Os vínculos necessários para atingir
esta condição não são computados no estudo do sistema plano.
Os diversos tipos de vínculos entre chapas ou entre chapas e a chapa terra podem ser
representados através da simbologia apresentada na Tabela 4.1, e que será adotada em nossos estudos,
à partir de agora. As chapas são representadas por regiões hachuradas ou por traços grossos; as barras
simples vinculares por traços finos.
Os vínculos são caracterizados pelo número de graus de liberdade (GDL) de movimento que
eles retiram da estrutura, sendo este número equivalente ao número de barras vinculares necessário
para a obtenção uma representação vincular geometricamente equivalente.

4-1
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe

NO DE GDL
REPRESENTAÇÃO POR RETIRADOS PELO
TIPO DE VÍNCULO SÍMBOLO BARRAS VINCULARES VÍNCULO
APOIO MÓVEL
entre chapa e a 1
chapa terra
APOIO MÓVEL
1
entre chapas

APOIO FIXO 2

ARTICULAÇÃO
2
entre chapas

ENGASTAMENTO FIXO 3

ENGASTAMENTO MÓVEL
2
entre chapa e a
chapa terra
ENGASTAMENTO MÓVEL
2
entre chapas

Tabela 4.1 - Simbologia de Vínculos planos

4.3 DETERMINAÇÃO GEOMÉTRICA

Consideremos uma estrutura plana composta de c chapas, n nós e b barras simples, incluindo
as barras vinculares de apoios, articulações ou engastamentos. Um nó possui 2 GDL de movimentação
no plano e uma chapa 3 GDL. Cada barra elimina um GDL de um nó ou chapa; sendo assim, a
estrutura plana é considerada geometricamente determinada se b = 3 c + 2 n . Consequentemente,
temos:

 b < 3c + 2 n ⇒ Estrutura geometricamente indeterminada (móvel) ou hipostática



 b = 3c + 2 n ⇒ Estrutura geometricamente determinada ou isostática
 b > 3c + 2 n ⇒ Estrutura geometricamente superdeterminada ou hiperestática

Na Figura 4.1 são apresentados alguns exemplos de determinação geométrica de estruturas. Nos
apoios, articulações e engastamentos encontram-se indicados entre parênteses o número de barras
vinculares equivalente. Os dois últimos exemplos (Fig. 4.1e e 4.1f) se referem a casos excepcionais
onde, apesar da relação b ≥ 3 c + 2 n ser satisfeita, existe mobilidade da estrutura devido à alocação de
vínculos de forma inadequada;

(2) (2)
(2) (1) (1)

c=2, n=0 e b=6=3c+2n c=1, n=1 e b=4<3c+2n


(a) Estrutura isostática (b) Estrutura hipostática

4-2
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe

(3)
(1)

c=0, n=3 e b=6=3c+2n c=1, n=0 e b=4>3c+2n


(c) Estrutura isostática (d) Estrutura hiperestática

c=0, n=7 e b=15>3c+2n c=1, n=0 e b=3=3c+2n


(e) Caso Excepcional ! (f) Caso Excepcional !

Figura 4.1 - Exemplos de determinação geométrica de estruturas planas

4.4 DEFINIÇÃO DE ESFORÇOS SOLICITANTES

Consideremos uma viga AB em equilíbrio (Figura 4.2a), subjeita à ação de diversas cargas
concentradas [N] e distribuídas [N/m], aplicadas em vários pontos da mesma. Imaginemos um corte
transversal C-C em uma seção arbitrária (Figura 4.2b).

F2 p2
A B
M1
F4
F1 F6 F5
p1
M2
F3
(a)

F2 p2
A C C B
M1
F4
F1 F6 F5
p1
C C M2
F3
(b)
Figura 4.2 - Equilíbrio de esforços em uma viga

As cargas encontradas em uma das partes da viga geralmente não estão em equilíbrio. Podemos
concluir que as tensões transmitidas na seção C, antes de efetuar o corte, garantiam o equilíbrio das
duas partes. Os esforços resultantes dessas tensões são denominados Esforços Solicitantes e podem
ser determinados através do equílíbrio das cargas aplicadas em uma das partes da viga cortada.
Portanto, os Esforços Solicitantes se referem sempre a uma certa seção da viga e suas
componentes são definidas a seguir:

4-3
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe

- Força Normal - N
- Força Cortante - V


- Momento Torçor - M T
- Momento Fletor - M

Na Figura 4.3a estão ilustrados os Esforços Solicitantes de força N e V, e na Figura 4.3b os


Esforços Solicitantes de momento M T e M. Na realidade, os esforços N e V correspondem
respectivamente às componentes normal e tangencial da resultante de forças R que atua no Centro
Geométrico da seção e os esforços M T e M correspondem respectivamente às componentes normal e
tangencial do momento resultante M R que atua na seção. Os momentos são representados por vetores
com duas setas, direcionados perpendicularmente aos planos dos respectivos binários e com sentidos
definidos pela "regra da mão direita".

V
R

CG

N MT
M
CG x
MR
z
y
(a) (b)
Figura 4.3 - Esforços Solicitantes N, V, M e M T

A Força Normal N e o Momento Torçor M T ficam suficientemente determinados se


indicarmos suas respectivas intensidades e sentidos de atuação. Já a Força Cortante V e o Momento
Fletor M necessitam de uma decomposição em duas direções para fixarmos suas intensidades e
sentidos de atuação. Para um sistema de coordenadas com os eixos y e z no plano da seção e o eixo x
coincidente com a linha de Centros Geométricos (CG) da viga (Figura 4.3), teremos as seguintes
componentes de Esforços Solicitantes:

- Força Normal - N
- Força Cortante - V e V
 y z

- Momento Torçor - M T
- Momento Fletor - M y e M z

4.5 ESFORÇOS SOLICITANTES EM ESTRUTURAS PLANAS

A determinação dos Esforços Solicitantes que ocorrem em estruturas isostáticas planas é o


principal objetivo de nosso estudo. Algumas simplificações são obtidas quando analisamos uma
estrutura plana submetida a um carregamento que atua apenas neste mesmo plano.
Se considerarmos que existe um plano de carregamento único na viga AB da Figura 4.2,
coincidente com o plano longitudinal xy, teremos Momento Torçor M T nulo, vetor Momento Fletor
M atuando perpendicularmente ao plano xy (direção z) e Força Cortante V atuando no plano xy
(direção y). Portanto, no caso de estruturas planas temos apenas os Esforços Solicitantes N, V e M
exemplificados na Figura 4.4.

4-4
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe

V
Plano de
carregamento M

N x
z
y

Figura 4.4 : Esforços Solicitantes em uma Estrutura Plana

4.6 CONVENÇÃO DE SINAIS

Adotaremos para os Esforços Solicitantes N, V e M as convenções de sinais representadas na


Tabela 4.2 e enunciadas na sequência:

ESFORÇO SOLICITANTE POSITIVO NEGATIVO

N N N N
FORÇA NORMAL - N

N>0 N<0

V V
FORÇA CORTANTE -V
V V
V>0 V<0

M M M M
MOMENTO FLETOR - M

M>0 M<0

Tabela 4.2 - Convenção de Sinais para N, V e M

- A Força Normal N é considerada positiva se for de tração na seção, e negativa se for de


compressão.
- A Força Cortante V é considerada positiva quando, aplicado na parte direita da viga, for
dirigida para cima; na parte esquerda, para baixo, e vice-versa. Esta convenção de sinais pode ser
enunciada de outra forma: a Força Cortante V é considerada positiva quando "percorre"a seção no
sentido horário, e vice versa.
- O Momento Fletor M é considerado positivo quando, aplicado na parte direita da viga, tiver
sentido horário; na parte esquerda, anti-horário, e vice-versa. Esta convenção de sinais também pode
ser enunciada de outra forma: o Momento Fletor M é considerado positivo quando produzir tração nas
"fibras" inferiores da viga, e vice versa.

4.7 DIAGRAMAS DE ESFORÇOS SOLICITANTES

4-5
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe

Os Esforços Solicitantes que ocorrem em qualquer seção de uma viga podem ser determinados
e plotados em função da posição da seção na mesma. Os gráficos obtidos desse modo são
denominados Diagramas de Esforços Solicitantes. Estes diagramas são muito úteis no
dimensionamento de elementos de máquinas e estruturas.
Existem vários métodos de obtenção dos Diagramas de Esforços Solicitantes em uma estrutura
sujeita a um carregamento diverso como o da Figura 4.5a.

F1 M1 F2 p1
A B

(a)

F1 M1 F2 p1

HA A C B

VA VB
(b)

F1 M1 V F2 p1
M M
HA A C N N C B

VA V (c) VB

Figura 4.5 - Determinação de Esforços Solicitantes em estruturas planas

O método analítico adotado neste curso para a determinação dos Esforços Solicitantes que
atuam em uma seção genérica C da viga AB, se resume basicamente em 3 etapas:

- Determinação das reações nos vínculos externos (apoios, articulações ou engastamentos), a


partir do diagrama de corpo livre da viga (Figura 4.5b);
- Corte da viga AB em um ponto intermediário C e traçagem dos diagramas de corpos livres das
partes AC e CB, adotando Esforços Solicitantes N, V e M com sentidos positivos na seção C de ambas
as partes (Figura 4.5c);
- Aplicação das equações de equilíbrio em um das partes da viga para a determinação dos
valores dos Esforços Solicitantes N, V e M, com seus respectivos sinais. Como adotamos inicialmente
N, V e M com sentidos positivos, os sinais resultantes indicam os sentidos corretos destes esforços.

Empregando-se este método analítico nos diversos trechos onde há variação do carregamento
aplicado, obtém-se equações de N, V e M, em função da posição x (eixo longitudinal) para cada trecho
analisado. Os Diagramas de Esforços Solicitantes são obtidos plotando-se estas equações ao longo do
comprimento da viga.
Na maior parte das aplicações de Engenharia, os Esforços Esforços Solicitantes N, V e M
precisam ser conhecidos somente em alguns pontos específicos do elemento analisado. Uma vez
traçados os diagramas de N, V e M podemos determinar diretamente nos gráficos quais os pontos mais
solicitados e os valores dos esforços de qualquer ponto.

4.8 RELAÇÕES DIFERENCIAIS

4-6
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe

A determinação analítica e construção dos diagramas dos Esforços Solicitantes V e M pode ser
bastante simplificada se considerarmos certas Relações Diferenciais existentes entre a carga aplicada,
a força Cortante V e o Momento Fletor M.
Consideremos a viga biapoiada AB da Figura 4.6, sujeita a uma carga distribuída genérica p(x),
aplicada ao longo da direção x.

p(x)

A B

x dx

Figura 4.6 - Viga sujeita a uma carga distribuída p(x) [N/m]

A Figura 4.7 representa um elemento de comprimento dx da viga AB, sujeito a um


carregamento não singular p(x). A parcela de carga aplicada no elemento é aproximadamente igual à
p(x)dx. Na seção de coordenada x ocorrem os esforços V e M e na coordenada x+dx os esforços
sofrem acréscimos diferenciais devido ao carregamento, passando para V+dV e M+dM,
respectivamente.

~ p(x).dx

V
M M+dM

V+dV
~ dx/2
x dx
Figura 4.7 - Esforços Solicitantes em um Elemento de viga

O equilíbrio de esforços no elemento da Figura 4.7 nos fornece:

∑ Fy = 0 ⇒ V − ( V + dV ) − p( x )dx = 0
 (4.1)
∑ M " x" = 0 ⇒ ( M + dM ) − M − p( x )dx 2 − ( V + dV )dx = 0
dx

Desconsiderando-se os termos de segunda ordem e rearranjando a equação (4.1), temos:

 dV
p( x ) = −
 dx d 2M
 ⇒ p( x ) = − (4.2)
dM dx 2
 V =
 dx

Estas Relações Diferenciais são válidas para uma carga distribuída p(x) genérica, mas podem
ser aplicadas convenientemente para trechos sujeitos a cargas concentradas, desde que sejam
observados os problemas de descontinuidade nos diagramas de V e M ocasionados por estas cargas.

4-7
V FLEXÃO NORMAL SIMPLES

O problema básico analisado no estudo de flexão normal simples é o de uma viga retilínea com
área de seção transversal simétrica em relação a um eixo, e no qual o plano de carregamento coincide
com o plano de simetria da viga, conforme exemplificado na Figura 5.1. Assumindo-se que neste
exemplo ocorre também uma situação de simetria de carregamento, tem-se na parte central da viga,
entre os pontos de aplicação das forças F, uma condição de flexão pura, uma vez que as forças normal
e cortante são nulas e, portanto, o único esforço transmitido é o de momento fletor.

x R
z

plano de
carregamento

y R

Figura 5.1 – Viga com seção transversal simétrica e sujeita à flexão

Problemas envolvendo flexão de vigas com áreas de seção transversal não simétricas e
carregamentos em direções diversas podem ser analisados através da aplicação da formulação básica
de tensões apresentada no presente estudo.

5.1 - TENSÕES NORMAIS E DEFORMAÇÃO DA VIGA


Para a análise das tensões internas na viga, produzidas pela flexão pura, deve-se investigar as
deformações da mesma no plano de simetria, que neste estudo coincide com o plano de carregamento.
Supõe-se nesta análise que a viga seja composta por infinitas “fibras longitudinais” elásticas que serão
alongadas ou encurtadas sob a ação do momento fletor.
Analisando-se um trecho central da viga, sujeito a flexão pura, observa-se que a ação do
momento fletor M faz com que a viga se curve como um arco circular, permanecendo as seções
transversais como mn e pq, planas e normais às fibras longitudinais da viga, conforme ilustrado na
Figura 5.2. A linha ss corresponde a um plano cujas fibras longitudinais não sofrem variação de
comprimento, conhecido como superfície neutra da viga. As deformações da viga ocorrem de modo a
alongar as fibras longitudinais na região abaixo da linha ss e encurtar as fibras na região acima dela.
Portanto, as fibras da região inferior estão sujeitas a tração e as da região inferior a compressão.
Na viga deformada as direções dos planos adjacentes mn e pq encontram-se no ponto O,
denominado centro de curvatura da viga, definindo assim o raio de curvatura ρ. O ângulo entre estes
dois planos é identificado por dθ e o comprimento do trecho da linha ss entre os dois planos é
identificado por dx. Definindo-se κ, a curvatura da viga, como sendo o inverso do raio de curvatura ρ,
tem-se da figura a seguinte relação

5-1
Flexão Normal Simples Flávio Y. Watanabe

1 dθ
κ= = (5.1)
ρ dx

m p

M s dx x s M

a y b
n q
Figura 5.2 – Deformação da viga devido à flexão pura

O alongamento da fibra longitudinal ab, distante y da superfície neutra, pode ser definido através de
sua deformação específica ε, como segue

ε=
(ρ + y )dθ − ρdθ =
y
= κy (5.2)
ρ θ
d ρ
Esta equação mostra que a deformação específica longitudinal ε é diretamente proporcional à
coordenada y, sendo positiva quando a fibra considerada estiver abaixo da superfície neutra, indicando
que a mesma está sob tração, e negativa quando estiver acima desta superfície, indicando compressão
da fibra. Considerando-se que o material trabalha no regime elástico de deformações, obedecendo a
Lei de Hooke, ou seja, σ = Eε , tem-se

σ = κEy (5.3)

Portanto, observa-se que as tensões normais que atuam na seção transversal variam linearmente com a
coordenada y, assumindo valores nulos na superfície neutra, conforme ilustrado na Figura 5.3.

região
comprimida
z M x
M
região y
tracionada σ
y
Figura 5.3 - Tensões Normais

Integrando-se as tensões σ em toda a seção, obtém-se a força normal N resultante que atua na
mesma, mas no caso analisado, de flexão pura, sabe-se que N=0, ou seja,

5-2
Flexão Normal Simples Flávio Y. Watanabe

N = ∫ σdA = ∫ κEydA = 0 (5.4)


A A

Como a curvatura κ e o módulo de elasticidade E são constantes, resulta que

κE ∫ ydA = 0 ou ∫ ydA =0 (5.5)


A A

Esta integral corresponde ao momento estático Q z da seção transversal, em relação ao eixo z. Sendo
assim, como Q z = 0 , conclui-se que o eixo z passa pelo centróide da seção transversal e, como
estamos trabalhando com seções simétricas, a origem do sistema de coordenadas yz coincide com o
próprio centróide da seção. O eixo z coincide com a linha de interseção da superfície neutra com a
seção transversal e é denominada linha neutra da seção. O caso de flexão analisado é denominado de
flexão normal devido ao fato da linha neutra ser perpendicular ao plano de carregamento.
O momento fletor M que atua na seção transversal pode ser calculado integrando-se, em toda a
seção, os momentos elementares dM resultantes das forças elementares σdA , que atuam a uma
distância y da linha neutra, conforme demonstrado a seguir

M = ∫ σydA = ∫ κEy 2 dA =κE ∫ y 2 dA = κEI z (5.6)


A A A

onde
I z = ∫ y 2 dA (5.7)
A

sendo I z o momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo z. A equação (5.6) pode ser
reescrita da seguinte forma

1 M
κ= = (5.8)
ρ EI z

Esta equação mostra que a curvatura κ do eixo longitudinal da viga é diretamente proporcional à intensidade do
momento fletor M e inversamente proporcional ao chamado módulo de rigidez à flexão da viga, EI z .
Associando-se as equações (5.3) e (5.8), obtém-se a expressão genérica para as tensões normais na seção
transversal da viga

M
σ= y (5.9)
Iz

Nesta expressão, o momento fletor M é considerado positivo quando produz tração na região inferior
à linha neutra e vice-versa.

5.2 - TENSÕES NORMAIS MÁXIMAS


As tensões normais máximas de tração e de compressão que atuam na seção transversal ocorrem
nos pontos mais afastados da linha neutra, conforme ilustrado na Figura 5.4.a, para um momento fletor
M positivo e na Figura 5.4.b, para um momento fletor M negativo.

5-3
Flexão Normal Simples Flávio Y. Watanabe

σs σs
hs hs
M>0 M<0
hi hi

σi σi
(a) (b)
Figura 5.4 - Tensões normais máximas de tração e compressão
Designando por h s e hi , as distâncias da linha neutra às fibras extremas na parte superior e
inferior, respectivamente, as tensões normais máximas σ s e σ i são determinadas aplicando-se a
equação (5.9), resultando em

M
σs = (− hs ) = − M
Iz Ws
(5.10)
M M
σi = (hi ) =
Iz Wi

onde
Iz I
Ws = e Wi = z são denominados módulos de resistência à flexão da seção transversal
hs hi

Cabe ressaltar que, quando a seção transversal for simétrica também em relação ao eixo z, tem-se
h s = hi e W s = Wi , portanto as tensões normais máximas σ s e σ i serão iguais, em valor absoluto.
Além disso, vale mencionar que os módulos de resistência à flexão de vigas com perfis padronizados
são fornecidos em tabelas de referência.
Analisando-se as Figura 5.4.a e 5.4.b, observa-se que, dependendo do sinal do momento fletor
M, as tensões normais máximas de tração, σ tmáx , e de compressão, σ cmáx , coincidem com σ s ou com
σ i , conforme apresentado a seguir

σ < 0 ∴ σ s ≡ σ cmáx - tensão máxima de compressão


M > 0⇒  s
σ i > 0 ∴ σ i ≡ σ tmáx - tensão máxima de tração
σ > 0 ∴ σ s ≡ σ tmáx - tensão máxima de tração
M <0 ⇒  s
σ i < 0 ∴ σ i ≡ σ cmáx - tensão máxima de compressão

A análise das tensões normais na seção transversal foi realizada para o caso de flexão pura,
desconsiderando-se os efeitos da força cortante na seção. Esta força origina tensões de cisalhamento na
seção transversal que provocam o “empenamento” da mesma. Deste modo, a hipótese de que as seções
transversais permanecem planas só vale para o caso de flexão pura. Entretanto, uma análise mais
aprofundada mostra que as tensões normais calculadas através da equação (5.9) não sofrem grandes
alterações com a existência das tensões de cisalhamento e pela deformação resultante.

5-4
VI FLEXÃO OBLÍQUA SIMPLES E COMPOSTA
No estudo anterior de flexão normal simples tratou-se apenas do caso de uma viga com seção
transversal simétrica e na qual o plano de carregamento coincidia com o plano de simetria. Dando
seqüência ao estudo de flexão serão analisados dois outros diferentes casos: a flexão oblíqua simples e
a flexão oblíqua composta. Em ambos os casos a viga analisada apresentará seção transversal bi-
simétrica; no entanto, o plano de carregamento não coincidirá mais com nenhum dos planos de
simetria. Basicamente, o caso de flexão oblíqua composta se diferencia da flexão oblíqua simples pela
existência adicional de uma força normal atuante na viga.

6.1 – FLEXÃO OBLÍQUA SIMPLES


Um caso de flexão oblíqua simples é ilustrado na Figura 6.1, onde tem-se uma viga de seção
transversal retangular, cujos planos de simetria coincidem com os planos xy e xz. Assume-se neste
exemplo que o plano de carregamento não coincide com nenhum dos planos de simetria e que ocorre
também uma situação de simetria de carregamento transversal. Desta forma, tem-se na parte central da
viga, entre os pontos de aplicação das forças F, uma condição de flexão pura, uma vez que as forças
normal e cortante são nulas e, portanto, o único esforço transmitido é o de momento fletor.

R
z x
C

plano de
carregamento
R y

Figura 6.1 – Viga com seção transversal bi-simétrica e sujeita à flexão oblíqua simples

plano de
M My
carregamento

z α C
Mz

y
Figura 6.2 - Momento fletor M e suas componentes

6-1
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe

Analisando-se uma seção transversal da região central da viga, sujeita à flexão pura, pode-se
representar o momento fletor M que atua nesta seção por um vetor perpendicular ao plano de
carregamento e que forma um ângulo α com o eixo z, conforme representado na Figura 6.2. O sentido
do vetor M é obtido aplicando-se a “regra da mão direita”.
A análise das tensões e deformações no caso da flexão oblíqua simples pode ser realizada
aplicando-se o “método da superposição de efeitos”. Por este método, deve-se inicialmente decompor
o momento fletor M nas direções dos planos de simetria, ou seja nas direções dos eixos y e z,
resultando nas componentes M z e M y , representadas na Figura 6.2 e dadas por

M z = M cos α
 (6.1)
M y = M sen α

O problema de flexão oblíqua simples passa então a ser analisado como sendo a superposição
de dois casos de flexão normal simples, conforme ilustrado na Figura 6.3, e que podem ser resolvidos
separadamente, seguindo a teoria de flexão apresentada anteriormente.

M My My

z α C z C z C
≡ +
Mz Mz

y y y

região tracionada região comprimida

Figura 6.3 - Superposição de efeitos na flexão oblíqua simples

Nos dois casos de flexão normal simples, as componentes de momento fletor M z e M y geram tensões
normais de tração e de compressão na seção transversal da viga, que variam linearmente com as coordenadas y e
z, respectivamente. A componente M z define uma linha neutra que coincide com o eixo z, e para M y a linha
neutra coincide com o eixo y.

6.1.1 - TENSÕES NORMAIS


As tensões normais σ originadas na seção transversal da viga pelo momento fletor M são
determinadas superpondo-se os efeitos das componentes M z e M y , que atuam nos planos de simetria.
Considerando um ponto genérico na seção transversal de coordenadas y e z, a equação geral de tensão
normal σ no ponto é dada por

Mz My
σ= y+ z (6.2)
Iz Iy

onde
à I z - momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo z
à I y - momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo y

6-2
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe

As tensões normais resultantes σ podem ser nula, de tração ou de compressão, dependendo das
coordenadas y e z do ponto analisado e dos sinais dos momentos fletores M z e M y .
Neste estudo, a convenção de sinais adotada define como momento M z positivo, o que
ocasiona tração nas fibras inferiores da seção e como momento M y positivo, o que gera tração nas
fibras do lado esquerdo da seção. Esta convenção de sinais é apresentada de forma gráfica na Figura
6.4.

My>0

Mz>0
z z
Mz<0
My<0

y y
Figura 6.4 - Convenção de sinais para momentos fletores M z e M y

6.1.2 – LINHA NEUTRA E TENSÕES NORMAIS MÁXIMAS


A linha neutra da seção transversal foi definida anteriormente como sendo o lugar geométrico
dos pontos da seção cuja tensão normal é nula; portanto, sua equação é obtida fazendo-se σ igual a
zero na equação (6.2). Substituindo as expressões de M z e M y , dadas na equação (6.1) na equação
(6.2), e igualando σ a zero, resulta em uma equação que independe de M.

cos α sen α
y+ z =0 (6.3)
Iz Iy

Isolando a variável y, resulta na equação da reta que define a linha neutra

Iz
y = −tgα z (6.4)
Iy

plano de
linha neutra
carregamento
A
M
θ
z C
σcmáx

região tracionada
região comprimida
σtmáx

Figura 6.5 - Linha neutra e tensões normais máximas

6-3
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe

A linha neutra no caso de flexão oblíqua simples é uma reta que passa pelo centróide da seção e
forma um ângulo θ com o plano de carregamento, conforme exemplificado na Figura 6.5. Na maioria
dos casos I z ≠ I y e consequentemente θ ≠ 90 o , o que caracteriza a flexão oblíqua.

A linha neutra divide a seção em duas regiões distintas, uma sujeita à tensão normal de tração e
a outra sujeita à tensão normal de compressão, conforme ilustrado na Figura 6.5. À medida em que se
afasta da linha neutra, as tensões normais crescem linearmente em valores absolutos; portanto, como
os pontos A e B são os pontos da seção mais distantes da linha neutra, estes estarão submetidos às
tensões normais máximas de compressão e tração, respectivamente
Como a análise se refere ao caso de flexão oblíqua simples de uma viga com seção transversal
bi-simétrica, os pontos mais solicitados da seção estarão sempre eqüidistantes da linha neutra;
portanto, as tensões normais máximas de tração e de compressão serão iguais em valores absolutos, ou
seja

σ tmáx = σ cmáx (6.4)

O problema de deflexão da viga será analisado posteriormente, mas vale lembrar que estas deflexões
podem ser determinadas para cada plano ortogonal onde atuam as componentes de momento fletor M z e M y ,
e posteriormente superpostas vetorialmente.

6.2 – FLEXÃO OBLÍQUA COMPOSTA


A flexão oblíqua composta se diferencia do caso anterior de flexão oblíqua simples pela atuação
adicional de uma força normal na direção axial, além do momento fletor em um plano de
carregamento que não coincide com nenhum dos dois planos de simetria da viga. A ação simultânea
destes esforços pode ser exemplificada através de uma viga de seção transversal retangular solicitada
axialmente por forças de tração N descentradas, conforme ilustrado na Figura 6.6.

z x
C
e
N plano de
carregamento
y

Figura 6.6 – Viga com seção transversal bi-simétrica e sujeita à flexão oblíqua composta
As forças normais N atuam paralelamente ao eixo longitudinal x e o plano que contém o eixo x
e a linha de ação das forças N constitui o plano de carregamento da viga.

6-4
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe

plano de
carregamento

z C
ey e
α
N
ez
y
Figura 6.7 – Carga axial descentrada

A excentricidade e pode ser projetada nas direções y e z, em função do ângulo α apresentado na


Figura 6.7, resultando nas componentes e y e e z

e y = e cos α
 (6.5)
e z = e sen α

As excentricidades e y e e z podem ser tomadas com os respectivos sinais, considerando-as como se


fossem coordenadas y ou z. Neste exemplo e y e e z são ambas positivos.
Um sistema equivalente ao apresentado na Figura 6.6 pode ser obtido transladando a força
normal N para o centróide da seção e acrescentando um momento fletor M, representado na Figura
6.8, que atua perpendicularmente ao plano de carregamento, com sentido definido pela “regra da mão
direita” e módulo determinado por

M = Ne (6.6)

plano de plano de
carregamento carregamento
M

z C z α C

N
ey e
α
N
ez
y y

Figura 6.8 - Translação da força normal N para o centróide

Mais uma vez a análise das tensões e deformações neste caso da flexão pode ser realizada
aplicando-se o “método da superposição de efeitos”. Por este método, o problema de flexão oblíqua
composta pode ser analisado como sendo a superposição dos casos de solicitação axial centrada e de
flexão oblíqua simples, conforme representado na Figura 6.9.

6-5
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe

M M
My
z α C z C z α C
≡ +
N N Mz

y y y
Figura 6.9 - Superposição de efeitos na flexão oblíqua composta

As componentes de momento fletor M z e M y podem ser definidas em função da força normal N e


das excentricidades e y e e z , substituindo a equação (6.6) na equação (6.1)

M z = Ne cos α = Ne y
 (6.7)
M y = Ne sen α = Ne z

Os sinais de M z e M y decorrem do produto dos sinais de N e das excentricidades e y e e z , ou ainda,


podem ser definidos através da convenção de sinais definida anteriormente.

6.2.1 - TENSÕES NORMAIS


As tensões normais σ geradas na seção transversal da viga pela força normal N descentrada são
determinadas pela superposição dos efeitos da força N centrada e do momento fletor M=Ne. Portanto,
a equação geral de tensão normal σ resultante em um ponto genérico de coordenadas y e z é dada por

N Mz My
σ= + y+ z (6.8)
A Iz Iy

onde
à A - área de seção transversal
à I z - momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo z
à I y - momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo y
A tensão normal σ determinada através desta equação pode ser nula, de tração ou de
compressão, dependendo das coordenadas y e z do ponto em questão e dos sinais da força normal N e
dos momentos fletores M z e M y .

6.2.2 – LINHA NEUTRA E TENSÕES NORMAIS MÁXIMAS


Mais uma vez, a equação da linha neutra pode ser definida impondo-se σ = 0 na equação (6.8).
Empregando M z e M y dados na equação (6.7) em função de N, resulta em uma equação
independente do próprio N.

1 ey e
+ y+ z z =0 (6.9)
A Iz Iy

6-6
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe

Isolando a variável y, resulta na a equação da reta que define a linha neutra

Iz  ez N
y=−  z+  (6.10)
ey Iy A 

No caso de flexão oblíqua composta, a linha neutra é uma reta que não passa pelo centróide da
seção e forma um ângulo θ com o plano de carregamento, conforme ilustrado na Figura 6.10. Mais
uma vez, na maioria dos casos θ ≠ 90 o , o que caracteriza a flexão oblíqua.

linha neutra plano de


carregamento
A
M=Ne θ

z C
N
σcmáx

região tracionada
região comprimida
σtmáx
Figura 6.10 - Linha neutra e tensões normais máximas

Neste exemplo, a linha neutra divide a seção em duas regiões distintas, uma maior sujeita à
tensão normal de tração e outra menor sujeita à tensão normal de compressão, conforme ilustrado na
Figura 6.10. O fato da área tracionada ser maior decorre do fato da força normal N ser de tração.
Novamente, à medida em que se afasta da linha neutra, crescem as tensões normais em valores
absolutos; portanto, os pontos A e B da seção estão submetidos, respectivamente, às tensões normais
máximas compressão e de tração; mas neste caso estas são desiguais em valores absolutos, devido à
existência da força normal N.

σ tmáx ≠ σ cmáx (6.11)

Um caso particular da flexão composta ocorre quando a força normal N for aplicada sobre um
dos planos de simetria da seção; neste caso, o plano de carregamento coincide com o plano de simetria
em questão e a linha neutra passa a ser perpendicular ao mesmo. Sendo assim, tem-se θ = 90 o e o
caso é definido como flexão normal composta.
Outra observação interessante é que, quando se trabalha com estruturas feitas de materiais cuja
resistência à tração é muito baixa, colunas de alvenaria, por exemplo, pode-se definir um região
central na seção na qual, uma força normal excêntrica N de compressão, gera somente tensões normais
de compressão em toda a seção. Obviamente, o caso oposto de tração também é possível.

6-7
VII ANÁLISE DE ESTADOS DE TENSÕES

Baseado nas informações sobre as condições de carregamento de uma estrutura plana ou


tridimensional, pode-se definir um estado de tensão resultante em uma região ou ponto de interesse
desta estrutura. A análise deste estado de tensões possibilita a determinação das condições críticas nas
quais ocorrem as tensões normais ou de cisalhamento máximas, bem como as direções dos planos
onde estas incidem.
Neste estudo serão abordados dois diferentes métodos de análise de estados planos de tensões,
sendo um analítico e outro gráfico, através do Círculo de Mohr. Apesar deste segundo método ser
menos preciso, a forma gráfica na qual as informações são apresentadas torna o método interessante
para um bom entendimento do problema de um modo global.

7.1 - ESTADO TRIPLO OU GERAL DE TENSÕES


Considerando-se inicialmente o corpo ilustrado na Figura 7.1, definido no espaço cartesiano
XYZ e sujeito à ação de diversos esforços, mas em equilíbrio estático, estabelecem-se seis equações de
equilíbrio de forças e momentos nas três direções dos eixos ortogonais.

∑ FX =0 ∑ FY =0 ∑ FZ =0 (7.1)

∑MX =0 ∑ MY =0 ∑MZ =0 (7.2)

Y
F1 F3

Q
F2 F4
X

Z
Figura 7.1 - Corpo rígido em equilíbrio estático

Y σy τ yx
τ yz
τ xy
τ zy Q σx

σ z τ zx τ xz
X

Z
Figura 7.2 - Estado triplo ou geral de tensões

Deseja-se analisar as condições de tensões de um ponto Q do interior do corpo, causadas pelo

7-1
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe

carregamento. Para facilitar a visualização das tensões no ponto Q, considera-se um elemento cúbico
de lado a, centrado no mesmo, juntamente com as tensões normais e de cisalhamento que atuam em
cada uma das seis faces do cubo, constituindo desta forma, um estado triplo ou estado geral de
tensões, ou seja, tensões em três direções ortogonais, conforme ilustrado na Figura 7.2

As tensões apresentadas na Figura 7.2 são as tensões normais σ x , σ y e σ z que atuam nas faces
perpendiculares aos eixo X, Y e Z, respectivamente, e as seis componentes de tensões de cisalhamento,
τ xy , τ xz , τ yx , τ yz , τ zx e τ zy . A notação adotada para as tensões de cisalhamento obedece ao seguinte
exemplo: a tensão τ xy corresponde à componente na direção y da tensão de cisalhamento que atua na
face perpendicular ao eixo x.
Nas três faces do cubo que não são visíveis, ocorrem tensões normais e de cisalhamento iguais
às citadas anteriormente, distribuídas de modo a manter o equilíbrio estático do cubo. As tensões
geradas pelo carregamento e que atuam no cubo, diferem um pouco daquelas que agem no ponto Q, e
o erro cometido tende a zero quando considera-se o cubo com dimensões infinitesimais, ou seja
quando a dimensão a tender a zero.
Algumas relações importantes entre as componentes de tensões de cisalhamento podem ser
deduzidas, considerando-se o equilíbrio de forças e momentos atuantes no cubo centrado no ponto Q.
Adota-se nesta análise um sistema de coordenadas auxiliar xyz, com origem no próprio ponto Q. Vale
ressaltar que, como o corpo da Figura 7.1 estava em equilíbrio estático, o cubo da Figura 7.2 com
todas as tensões atuantes também estará em equilíbrio estático.
Analisando-se uma projeção do cubo no plano xy, verifica-se que as tensões devem estar
dispostas como na Figura 7.3 para que as equações de equilíbrio sejam satisfeitas. As forças normais e
cortantes que atuam no cubo são obtidas multiplicando as respectivas componentes de tensões pela
área de cada face, dA = a 2 .

σy τ yx
τ xy
σx x
z
τ xy σx

τ yx σ
y
Figura 7.3 - Projeção no plano xy

Nas direções x e y o equilíbrio de forças é simples e evidente; o equilíbrio de momentos em


relação ao eixo z é garantido pelos binários de sentidos opostos gerados pelas forças cortantes τ xy dA e
τ yx dA , ou seja

∑ M z = (τ xy dA)a − (τ yx dA)a = 0
∴ τ xy = τ yx (7.3)

A mesma análise pode ser realizada para as projeções do cubo nos planos xz e yz, resultando em
relações semelhantes

τ xz = τ zx e τ yz = τ zy (7.4)

7-2
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe

As equações (7.3) e (7.4) indicam que, em planos perpendiculares entre si, existe a igualdade
das componentes de tensão de cisalhamento definidas no plano perpendicular aos dois primeiros.
Estas relações de igualdade são conhecidas como Teorema de Cauchy. Sendo assim, são
necessárias apenas seis componentes para se definir o estado triplo de tensões de um ponto Q
qualquer, a saber, σ x , σ y , σ z , τ xy , τ xz , e τ yz .

7.2 - ESTADO DUPLO OU PLANO DE TENSÕES


Quando duas faces paralelas do cubo estiverem isentas de tensões, configura-se um caso de
estado duplo ou plano de tensões.
Adotando-se, por exemplo, o eixo z como indicativo da direção perpendicular às duas faces
livres de tensões, resulta em σ z = τ xz = τ yz = 0 ; restando apenas as componentes de tensões
σ x , σ y e τ xy , conforme ilustrado na Figura 7.4.

Y σy τ xy
τ xy
σx
Q σx
τ xy
τ xy σy X

Z
Figura 7.4: Estado duplo ou plano de tensões

Na seqüência, o estudo se restringirá à análise do estado plano de tensões, mas em planos com
diferentes direções em torno do ponto analisado.

7.2.1 - ROTAÇÃO DOS EIXOS COORDENADOS X E Y


O ponto Q analisado está submetido ao estado plano de tensões, mostrado na Figura 7.5a,
representado pelas componentes σ x , σ y e τ xy atuando no cubo elementar, e com σ z = τ xz = τ yz = 0 .

y y
y’
θ
σy σ y′ τ x′y′
τ xy
σ x′ x’
σx x θ x
z σ x′ z
σx
τ xy
σy τ x′y′ σ y′
(a) (b)
Figura 7.5 - Tensões em planos inclinados

Deseja-se determinar quais as componentes de tensões σ x′ , σ y′ e τ x′y′ que ocorrem em um cubo


elementar rotacionado de um ângulo θ em torno do eixo z, conforme ilustrado na Figura 7.5b,

7-3
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe

expressando essas componentes em função de σ x , σ y , τ xy e do próprio θ. O ângulo θ é considerado


positivo quando definido no sentido anti-horário
A tensão normal σ x′ e a tensão de cisalhamento τ x′y′ , que atuam na face perpendicular ao eixo
x' podem ser determinadas em função de σ x , σ y e τ xy através da análise das equações de equilíbrio
de forças que atuam em um prisma elementar de faces perpendiculares aos eixos x, y e x' representado
na Figura 7.6. A face inclinada desse prisma possui área dA = a 2 .

τ x′y′
σx σ x′
θ
τ xy
σy
Figura 7.6 - Prisma elementar

As expressões resultantes para σ x′ e τ x′y ′ apresentadas a seguir.

σx + σy σx −σy
σ x' = + cos 2θ + τ xy sen 2θ (7.5)
2 2
σx −σy
τ x' y' = − sen 2θ + τ xy cos 2θ (7.6)
2

Para a obtenção da expressão da tensão σ y′ que atua na face perpendicular ao eixo y', basta
substituir o ângulo θ na equação (7.5) por (θ+90°), resultando

σx + σy σx −σy
σ y' = − cos 2θ − τ xy sen 2θ (7.7)
2 2

Adicionando-se as equações (7.5) e (7.7), membro a membro, nota-se que

σ x' + σ y' = σ x + σ y (7.8)

Portanto, conclui-se que em um elemento submetido a um estado plano de tensões, o resultado


da soma das tensões normais que atuam em planos ortogonais entre si é constante e independe da
orientação desse elemento, definida pelo ângulo θ.
As tensões normais σ x , σ y , σ x′ e σ y′ obedecem à convenção de sinais definida anteriormente,
sendo consideradas positivas se forem de tração, e negativas se forem de compressão. A tensão de
cisalhamento τ xy obedece à uma convenção de sinais definida graficamente na Figura 7.7 ou ainda,
com o auxílio dos versores normais n̂ , com sentidos de “tração” nas faces, como segue:
“A tensão τ xy que atua em uma face qualquer é considerada positiva se seu sentido coincidir
(não coincidir) com o eixo que lhe for paralelo, desde que, o sentido do vetor normal n̂ nesta
face coincida (não coincida) com o outro eixo”

7-4
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe

y y

n̂ n̂
τ xy τ xy
n̂ n̂ x n̂ n̂ x
z z

τ xy τ xy
n̂ n̂
τ xy > 0 τ xy < 0
Figura 7.7 - Convenção de sinais para τ xy

Para τ x′y ′ vale a mesma convenção de sinais definida para τ xy , bastando apenas substituir os
eixos x e y por x ′ e y ′ , respectivamente.

7.2.2 - TENSÕES PRINCIPAIS OU TENSÕES NORMAIS MÁXIMAS


Analisandos-se a equação (7.6), que fornece τ x′y ′ , observa-se que ela se anula para valores
particulares θ p , que satisfazem à seguinte condição

2 τ xy
tg (2θ p ) = (7.9)
σx −σy

Dentre as infinitas soluções da equação (7.9), interessam dois valores de θ p que definem as
direções de dois planos defasados entre si de 90°, e denominados planos principais. As tensões
normais que agem nesses planos são chamadas tensões principais no ponto Q, e são obtidas
substituindo os ângulos θ p na equação (7.5).
A mesma equação (7.9), que fornece θ p , pode ser obtida igualando-se a zero a derivada de
σ x′ , equação (7.5), em relação a θ. Sendo assim, as tensões principais correspondem às tensões
normais máxima e mínima que atuam no ponto Q, e são determinadas por:

2
σx +σy  σx −σy 
σ máx ,min = ±   + τ xy 2 (7.10)
2  2 
 

Para se determinar qual dos dois planos principais está submetido a σ máx e qual está submetido
a σ mín , necessita-se substituir um dos valores de θ p na equação (7.5) para verificação.

y
y’
θ p1
σmín
θ p2 σ máx x’
x
σ máx z

σmín
Figura 7.8 - Tensões principais

7-5
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe

O estado de tensões apresentado na Figura 7.8 ilustra as direções dos planos principais e as
tensões σ máx e σ mín associadas a essa condição. Vale ressaltar que θ p foi determinado fazendo-se
τ x' y' = 0 , sendo assim, obviamente não ocorrem tensões de cisalhamento nos planos principais.

7.2.3 - TENSÃO DE CISALHAMENTO MÁXIMA


A tensão de cisalhamento máxima, τ máx , ocorre em planos definidos por ângulos particulares
θ c , obtidos quando se iguala a zero a derivada de τ x' y' , equação (7.6), em relação a θ:

 σx −σy 
tg (2θ c ) = −  (7.11)
 2 τ xy 
 

A equação (7.11) permite determinar dois valores de θ c , que definem as direções de dois
planos defasados de 90° entre si, denominados planos de tensão máxima de cisalhamento. A tensão
τ máx é determinada substituindo-se θ c na equação (7.6) de τ x' y' , resultando

2
 σx −σy 
τ máx = ±   + τ xy 2
 (7.12)
 2 

O sinal correto de τ máx , segundo a convenção de sinais adotada, pode ser verificado
substituindo-se um dos valores de θ c na equação (7.6).

A mesma equação (7.11) que fornece θ c pode ser obtida igualando-se as tensões σ x′ e σ y′
Sendo assim, as tensões normais que atuam nos planos de tensão máxima de cisalhamento
correspondem à tensão normal média, σ méd .

σx +σy
σ méd = (7.13)
2

O estado de tensões apresentado na Figura 7.9 ilustra as direções dos planos de tensão máxima
de cisalhamento e as tensões τ máx e σ méd associadas a essa condição.

y
θc1 y’

σméd θc 2 σméd
τmáx x
z
τmáx
σméd
σméd x’
Figura 7.9 - Tensão de cisalhamento máxima e tensão normal média

Comparando as equações (7.9) e (7.11), verifica-se que:

1
tg (2θ p ) = − (7.14)
tg (2θ c )

7-6
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe

A relação trigonométrica (7.14) indica que os ângulos θ p e θ c estão defasados de 45° entre si.
Assim, os planos de máxima tensão de cisalhamento formam ângulos de 45° com os planos
principais.

7.3 - CÍRCULO DE MOHR - ESTADO PLANO DE TENSÕES


As equações (7.5) e (7.6) correspondem às equações de uma circunferência parametrizada em
função de θ e definida num sistema de eixos coordenados σ x′ e τ x' y' . Pode-se demonstrar esta
propriedade eliminando θ em (7.5) e (7.6); para tanto, deve-se isolar os termos com funções
trigonométricas em um único membro da equação, quadrar todos os membros das equações e somar as
duas equações, membro a membro, resultando assim na seguinte equação independente de θ.

2 2
 σ +σy  σ −σy 
 σ x' − x  + τ x' y' 2 =  x  + τ xy 2 (7.15)
 2   2 
   

2
σx + σy  σx −σy 
Sabendo que σ méd = , e definindo R =   + τ xy 2 , reescreve-se a
2  2 
 
equação (7.15) na seguinte forma

(σ x' − σ méd )2 + τ x' y' 2 = R2 (7.16)

que corresponde à equação de uma circunferência de raio R com centro no ponto C definido pelas
seguintes coordenadas: C (σ méd , 0 )
A construção do Círculo de Mohr constitui num método gráfico que possibilita uma
visualização muito eficiente do estado de tensões de um ponto, em função dos ângulos de inclinação
dos planos analisados; além disso pode-se analisar com facilidade as tensões principais e a tensão
máxima de cisalhamento, com as respectivas tensões associadas.
Consideremos um cubo elementar submetido a um estado plano de tensões, sendo σ x , σ y e τ xy
as componentes de tensões que atuam neste elemento. A análise gráfica desse estado de tensões,
através do Círculo de Mohr, pode ser realizada seguindo o roteiro prático apresentado a seguir.

ROTEIRO PRÁTICO PARA CONSTRUÇÃO DO CÍRCULO DE MOHR:


(1) Definir um sistema de coordenadas cartesianas, cujos eixos de abscissa e ordenada são σ e τ,
respectivamente.
(2) Marcar no plano στ os pontos X e Y do Círculo de Mohr, que representam os planos
perpendiculares aos eixos x e y, respectivamente, e que são definidos pelas seguintes coordenadas:

(
X σ x , - τ xy ) (
e Y σ y , + τ xy ) (7.17)

lembrando que σ x , σ y e τ xy obedecem às convenções de sinais definidas anteriormente.


(3) Unir os pontos X e Y por um segmento de reta, definindo o ponto C, centro do Círculo de Mohr,
na interseção de XY com o eixo σ. Esse ponto, corresponde ao mesmo ponto C citado anteriormente, e
cuja abscissa é a tensão normal média, σ méd .
(4) Traçar o Círculo de Mohr com centro em C e diâmetro XY. O raio desse círculo é o mesmo R
definido anteriormente.

7-7
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe

(5) Marcar no plano στ um ponto P, denominado Polo do Círculo de Mohr, simétrico a X, em


relação ao eixo σ. A partir de uma reta paralela ao eixo τ e que passa pelo ponto P, são definidos os
ângulos θ de um plano genérico analisado.

Se no estado de plano de tensões considerado tivermos σ x , σ y e τ xy positivos e não nulos, e


σ x > σ y , o Círculo de Mohr correspondente será semelhante ao apresentado na Figura 7.10.

τ σy
τ xy
D σx
− τ máx θ
Q σx
− τ x ′y ′ τ xy
Y P
τ xy σy

B C A σ
σmín σ y σ x′ σ méd σ x σ máx

R
− τ xy
X

τ máx
E

Figura 7.10 - Exemplo de Círculo de Mohr

O ponto genérico Q do Círculo de Mohr representa um plano cuja direção é definida pelo
ângulo θ, e no qual agem as tensões σ x′ e (-τ x′y′ ) Pontos Q localizados acima do eixo σ
representam planos onde as tensões de cisalhamento tendem a “rodar o elemento no sentido horário”,
em torno do eixo z; e pontos Q localizados abaixo do eixo σ, representam planos onde as tensões de
cisalhamento tendem a “rodar o elemento no sentido anti-horário”.
Os pontos A e B representam os planos principais onde ocorrem as tensões normais máxima e
mínima, σ máx e σ mín , respectivamente, associadas a uma tensão de cisalhamento nula. Suas direções
podem ser determinadas de maneira análoga a do plano representado pelo ponto Q. As coordenadas
destes pontos são definidas por:

A (σ máx , 0 ) e B(σ mín , 0 )


ou (7.18)
A (σ méd + R , 0 ) e B (σ méd − R , 0 )

Os pontos D e E representam os planos de tensão de cisalhamento máxima, τ máx , associada a


uma tensão normal média, σ méd . As coordenadas destes pontos são definidas por:

D (σ méd , − τ máx ) e E (σ méd , + τ máx ) (7.19)

As direções dos planos onde ocorre τ máx e os sentidos desta tensão nesses planos são determinadas de
maneira análoga à citada anteriormente para ponto Q.
Apesar da limitação de precisão nos valores das tensões e ângulos obtidos através do Círculo de
Mohr, este método gráfico possibilita uma visualização global de todas as diferentes situações críticas

7-8
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe

de tensões máximas com suas respectivas direções, facilitando o entendimento da análise de estados
de tensões. Cabe dizer que a análise de um estado triplo de tensões pode ser realizada também através
da construção de um Círculo de Mohr semelhante ao apresentado neste estudo.

7-9
VIII FLAMBAGEM DE VIGAS

O dimensionamento ou a seleção de elementos estruturais e de elementos de máquinas baseiam-


se fundamentalmente na análise de suas característica de resistência, rigidez e estabilidade. Os dois
primeiros itens são abordados em análises de tensões e deformações de elementos submetidos a
carregamentos diversos como tração, compressão, flexão e torção que podem atuar individualmente ou
de forma combinada. A análise de estabilidade estrutural de vigas será abordada no presente estudo e
está associada diretamente ao fenômeno de flambagem estrutural.

8.1 – O Fenômeno de Flambagem de Vigas


Considere a viga reta biarticulada de seção transversal circular, diâmetro d, comprimento l,
submetida a uma força de axial de compressão P, supostamente centrada, com intensidade crescente,
conforme ilustrado na Figura 8.1a.

P P

(a) (b)
Figura 8.1 - Viga biarticulada sujeita a solicitação axial de compressão

No caso em que o comprimento l é poucas vezes maior que o diâmetro d, não se tem problemas
de instabilidade e a viga suportará uma carga elevada, rompendo-se somente quando o limite de
resistência à compressão ou cisalhamento do material for ultrapassado. Entretanto, vigas muito
esbeltas, onde l >> d , podem tornar-se lateralmente instáveis, conforme ilustrado na Figura 8.1b,
mesmo com cargas inferiores às suportadas pelas vigas mais curtas
Denomina-se flambagem de vigas o fenômeno de instabilidade lateral no qual, pequenos
incrementos da carga axial de compressão P ocasionam grandes deformações laterais e que podem
levar a um colapso catastrófico por flexão da viga. O fenômeno de flambagem pode ocorrer também
em inúmeras situações onde se tem carregamento de compressão ou torção de chapas finas ou cascas,
ou ainda de flexão de vigas estreitas e de alma fina.
O objetivo deste estudo é analisar a flambagem de vigas submetidas a esforços de compressão,
bem como determinar a Carga Crítica, Pcr , a menor carga axial mínima que ocasiona a instabilidade

8-1
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe

lateral da viga, característica do fenômeno de flambagem, considerando-se diferentes tipos de


vinculação.

8.2 – Carga Crítica ou Carga de Euler


Os primeiros estudos sobre o fenômeno de flambagem de vigas longas e esbeltas foi publicado em
1757 pelo suíço Leonard Euler e possibilitou a definição de expressões para a carga crítica ou carga
de Euler para vigas com diferentes tipos de vinculações, como articulações, apoios móveis, engastes
fixos e engastes móveis

8.2.1 – Vigas Bi-Articuladas


Considera-se inicialmente o estudo de flambagem de uma viga com as extremidades articuladas,
como a representada na Figura 8.2a. A linha composta pelos centróides de todas as seções transversais
compõem inicialmente uma reta que corresponde ao eixo longitudinal da coluna; e quando essa se
deforma devido à flambagem esses pontos compõem uma curva denominada linha elástica, que se
forma evidentemente na direção de menor rigidez à flexão da seção transversal. Portanto, o eixo em
relação ao qual o momento de inércia de seção é mínimo (I = I mín ) é perpendicular ao plano da linha
elástica.
Define-se um sistema de eixos cartesianos xv com origem na extremidade inferior da viga e
orientado conforme ilustrado na Figura 8.2a. Um ponto genérico da linha elástica da viga é localizado
pela coordenada x ao longo de seu comprimento e pela deflexão v nesse ponto. Estas deflexões são
conhecidas também como flechas da viga e neste caso analisado a flecha máxima, v máx , ocorre na
metade do comprimento da viga.

P P
v v

L/2
x x
vmáx M(x)
P

L/2

(a) (b)
Figura 8.2 – Flambagem de viga bi-articulada

A análise estática de um trecho da viga, ilustrado na Figura 8.2b, permite definir o momento
fletor, M ( x ) , que atua na viga em uma seção genérica.

M ( x ) = Pv (8.1)

Sabe-se do estudo de deformação elástica de vigas sujeitas a momentos fletores puros que a
curvatura da linha elástica, κ, é determinada pela seguinte relação

8-2
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe

1 M ( x)
κ= = (8.2)
ρ EI

onde
à ρ - raio de curvatura da linha elástica
à E - módulo de Young ou módulo de elasticidade do material
à I – momento de inércia da seção (I = I mín )
A linha elástica de uma viga pode ser expressa matematicamente como sendo uma função da
coordenada x, ou seja, v = f ( x ) . Para tanto, deve-se inicialmente representar a curvatura κ em função
de v e x. Sabe-se do estudo de geometria analítica que κ de uma curva plana obedece à seguinte
relação:

d 2 v dx 2
k= (8.3)
[1 + (dv dx) ] 2 32

Esta equação representa uma equação diferencial não linear de segunda ordem e sua solução,
normalmente complexa, fornece a equação exata da linha elástica, admitindo que os deslocamentos da
viga são resultantes apenas devido aos esforços de flexão. Entretanto, na maioria dos problemas de
engenharia envolvendo a deformação de vigas devido à flexão, a inclinação dv dx é muito pequena, e
portanto o denominador da equação (8.3) pode ser aproximado à unidade, resultando em

d 2v
k≈ (8.4)
dx 2

Assumindo-se que o momento fletor M ( x ) na Figura 8.2b é positivo, nota-se que ele produz na
viga uma deflexão v também positiva. Além disso, nesta condição, a curvatura resultante implica em
uma diminuição da inclinação, dv dx , da linha elástica e um valor negativo da segunda derivada,
d 2 v dx 2 . Consequentemente, confrontando-se as equações (8.2) e (8.4) deduz-se que a equação
diferencial resultante que representa o problema de deformação por flexão é dada por

d 2v M (x )
2
=− (8.5)
dx EI

Substituindo M ( x ) , dado equação (8.1), na equação (8.5), resulta

d 2v P d 2v P
2
=− v ou 2
+ v=0 (8.6)
dx EI dx EI

A equação (8.6) é uma equação diferencial de segunda ordem, homogênea, com coeficientes
constantes e semelhante à equação diferencial que descreve um movimento harmônico simples, exceto
pela variável independente representada pela coordenada x, ao invés do instante de tempo t. A solução
geral da equação (8.6) é bem conhecida e pode ser definida como

v = A sen(kx ) + B cos(kx ) (8.6)

8-3
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe

onde k 2 = P EI e as constantes arbitrárias A e B são determinadas a partir da aplicação das condições


de contorno nas extremidades da viga, ou seja, v = 0 para x = 0 e x = L . Aplicando inicialmente a
condição de contorno v = 0 para x = 0 na equação (8.6), conclui-se facilmente que B = 0 . A segunda
condição de contorno, v = 0 para x = L , quando aplicada na equação resultante, indica que

A sen(kL ) = 0 (8.7)
A solução trivial A = 0 da equação (8.7) não se mostra adequada, uma vez que a equação geral
da deflexão da viga se resumiria a v = 0 , indicando que a viga não sofreria deformações. Portanto,
para que a equação (8.7) seja satisfeita, deve-se impor sen(kL ) = 0 , condição satisfeita quando
k = nπ L , sendo n um número inteiro qualquer. Portanto, como k 2 = P EI , conclui-se que

n 2 π 2 EI
P= (8.8)
L2

Quando n = 1 , tem-se o menor valor da carga P que ocasiona a flambagem, ou seja, define-se a
carga crítica ou carga de Euler, Pcr , para uma viga bi-articulada em suas extremidades.

π 2 EI
Pcr = (8.9)
L2

A carga de Euler corresponde à carga que, teoricamente, mantém a viga deformada e em


equilíbrio para qualquer valor de flecha. Na realidade, o Pcr definido na equação (8.9) só é válido
para valores de flecha relativamente pequenos. Além disso, a equação da linha elástica resultante é
dada por

v = A sen ( x)
π
L
(8.10)

e a constante A corresponde à flecha máxima, v máx , que ocorre na posição definida por x = L 2 ,
entretanto, o valor de v máx fica indeterminado e isto ocorre devido ao fato de ter sido empregado uma
equação diferencial aproximada da que realmente descreve a linha elástica da viga.
As soluções da equação (8.8) correspondentes às condições n = 2 ,3 ,... representam outras
condições de flambagem e que são válidas se existirem apoios laterais adicionais na viga, distribuídos
ao longo de seu comprimento, conforme ilustrado na Figura 8.3. Para cada caso são definidas novas
expressões para carga crítica e linha elástica, comparadas a seguir com as expressões originais.

π 2 EI
n = 1 - Figura 8.3a Ö Pcr =
2
e v = A sen (πL x ) (8.11)
L

4 π 2 EI
n = 2 - Figura 8.3b Ö Pcr =
2
e v = A sen (2πL x ) (8.12)
L

9 π 2 EI
n = 3 - Figura 8.3c Ö Pcr =
2
e v = A sen (3πL x ) (8.13)
L

8-4
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe

P P P

L/3
L/2

L L/3

L/2
L/3

(a) lf=L (b) lf=L/2 (c) lf=L/3


Figura 8.3 – Flambagem de vigas com múltiplas articulações

Adicionalmente, para cada uma das vigas da Figura 8.3 são fornecidos os valores de um
parâmetro denominado comprimento de flambagem da viga, l f , que será discutido posteriormente.

8.2.2 – Vigas com outros Tipos de Vinculações


A determinação das cargas críticas e das equações de linha elástica de vigas com outros tipos de
vinculação em suas extremidades, pode ser realizada de maneira análoga a apresentada anteriormente
para vigas bi-articuladas. Na Figura 8.4 são apresentados três outros tipos de vinculação de vigas e
suas respectivas formas características de linha elástica.

P P P

L/4

*
L 2
L L/2

*
*
L/4

(a) lf=2L (b) l f = L 2 (c) lf=L/2


Figura 8.4 – Flambagem de vigas com tipos diversos de vinculações: (a) viga esgastada-livre,
(b) viga engastada-articulada e (c) viga bi-engastada. (*) pontos de inflexão
Para cada uma destas vigas são apresentados também os respectivos comprimentos de flambagem, l f ,
que correspondem às distâncias entre pontos de inflexão da linha elástica e/ou de extremidades da
viga. A definição deste parâmetro possibilita a adoção de uma equação genérica para a carga crítica
ou carga de Euler, Pcr , para todas as vigas, com os diferentes tipos de vinculação.

8-5
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe

π 2 EI
Pcr = (8.14)
lf 2

Observa-se que o tipo de vinculação adotado para uma viga tem forte influência na sua
“resistência à flambagem”, uma vez que a carga crítica pode assumir valores muito diferentes. A
determinação da carga crítica de flambagem possibilita definir uma carga segura aplicável, baseado
em coeficientes de segurança definidos muitas vezes através de normas técnicas. Um aspecto prático a
ser considerado é a dificuldade em se definir de forma precisa o tipo de vinculação que representa a
forma de fixação de uma viga.

8.3 – Flambagem Elástica e Flambagem Plástica


O estudo sobre a carga crítica ou carga de Euler de vigas esbeltas sujeitas à flambagem parte da
premissa que o regime de deformações das vigas é elástico. No caso de vigas muito curtas ou pouco
esbeltas, não ocorrerá o fenômeno de flambagem e a carga limite dependerá apenas da tensão limite de
resistência à compressão do material, σ cR , ou ainda, da tensão limite de escoamento do material, σ e .
Considerando-se vigas sucessivamente mais esbeltas, estas poderão estar sujeitas ao problema
de flambagem e é usual determinar-se uma tensão limite que exprima seu efeito sobre as vigas. Esta
tensão é denominada tensão de flambagem ou tensão crítica, σ cr , determinada considerando-se a
carga crítica, Pcr , atuando na área de seção transversal da viga, A.

Pcr π 2 EI
σ cr = = 2 (8.15)
A lf A

Lembrando da definição de raio de giração da seção transversal, r, apresentado anteriormente no


capítulo sobre Propriedades Geométricas de Áreas Planas, r = I A , redefine-se a equação de
σ cr .

π2 E
σ cr = (8.16)
(l f r ) 2
A relação l f r , que aparece no denominador da equação (8.16) é denominado coeficiente de esbeltez
da viga, e é denotado por λ. Sendo assim, a forma final da tensão de flambagem é dada por

π2 E
σ cr = (8.16)
λ2

A equação (8.16) descreve a chamada hipérbole de Euler e mostra que a tensão crítica é
inversamente proporcional ao quadrado do coeficiente de esbeltez, λ. Demonstra-se
experimentalmente que esta equação é válida somente para o regime elástico de deformações,
definindo a flambagem elástica de vigas cujos coeficientes de esbeltez são elevados ( λ > 100 ).
Considerando corpos de prova com diferentes coeficientes de esbeltez, confeccionados com um
aço estrutural com módulo de elasticidade E ≈ 200GPa e tensão limite de escoamento
σ e ≈ 250 MPa , levanta-se experimentalmente, através de ensaios de compressão, um diagrama
semelhante ao esquematizado na Figura 8.5.

8-6
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe

σ cr

A B
σe
C

hipérbole de Euler

0 50 ~100 150 200 250 λ


Figura 8.5 - Diagrama σ cr x λ

Comparando os valores de tensão crítica calculados com os resultados dos ensaios de


compressão dos corpos de prova, observa-se que para vigas muito esbeltas, λ > 100 , os resultados
experimentais coincidem com a curva teórica do trecho CD, descrita pela equação da hipérbole de
Euler.
Para vigas pouco esbeltas, λ < 100 , os resultados experimentais fornecem pontos em torno na
linha ABC do gráfico de tensão crítica. No trecho AB os resultados coincidem com a tensão de
escoamento, σ e ; já no trecho BC os resultados dos ensaios são bastante dispersos e ocorre na viga a
chamada flambagem plástica. Para os cálculos comuns de engenharia não há a necessidade um estudo
teórico da flambagem plástica, pois a base para tais cálculos são os diagramas σ cr x λ , obtidos
através de ensaios.
Vale ressaltar que não foi empregado nenhum coeficiente de segurança para a definição dos
valores da tensão crítica, σ cr ; além disso, deve-se ter em mente que, na prática, estes valores não
devem ser atingidos, pois nestas condições as vigas estariam sujeitas à flambagem e/ou trabalhando
fora do regime elástico de deformações.

8-7
IX – CRITÉRIOS DE RESISTÊNCIA

A finalidade de um “Critério de Resistência” é a interpretação de solicitações combinadas


(estado duplo ou triplo de tensões) quanto à eventual ruptura ou falha. Por exemplo, a segurança
contra a ruptura de uma barra tracionada é julgada pela comparação com ensaios de tração feitos com
corpos de prova do material da barra. Para julgar a segurança de peças com solicitações mais
complexas, por exemplo, chapa de caldeira com tração em duas direções, eixo de máquina com flexão
e torção, etc., seria incômodo solicitar para cada caso o respectivo ensaio. O Critério de Resistência
pretende interpretar tais casos, partindo apenas do ensaio de tração, ou, pelo menos, de um número
restrito de parâmetros do material. Cada Critério de Resistência é uma hipótese de trabalho: primeiro
discrimina-se de uma maneira arbitrária, mas plausível, o fenômeno responsável pela ruptura, depois
tiram-se as conclusões a respeito das combinações possíveis de solicitação e finalmente se verifica a
veracidade do critério pela comparação com o comportamento real do material em tais casos de
solicitação combinada.
Quando um engenheiro se depara com um problema de projeto em que dever ser utilizado um
material específico, torna-se importante a imposição de um limite superior ao estado de tensões que
defina a falha do material. Se o material for dúctil, usualmente a falha é caracterizada pelo início do
escoamento, enquanto se o material for frágil, ela é caracterizada pela fratura. Esses tipos de falhas são
prontamente detectados caso o elemento esteja sujeito a um estado uniaxial de tensões, como no caso
de uma barra sob tração. Entretanto, se o elemento estiver submetido a um estado biaxial ou triaxial de
tensões, será mais difícil o estabelecimento de um critério de falha.
Diferentes teorias de falhas são utilizadas na prática da engenharia para a predição da falha de
um material sujeito a um estado multiaxial de tensões. Essas teorias, e outras similares a elas, são
também utilizadas na determinação das tensões consideradas admissíveis em muitas normas de
projeto. Entretanto, uma única teoria de falha não pode ser aplicada a um material específico em todas
as condições de utilização, porque o material pode se comportar de forma dúctil ou frágil, dependendo
da temperatura, das condições de carregamento, de eventuais reações químicas ou do processo
utilizado em sua conformação. Além disso, certos materiais não se enquadram em nenhum dos
critérios tradicionais, por exemplo os materiais não homogêneos como o concreto armado e os não-
isotrópicos como madeira e materiais compósitos. Nestes casos, analisa-se a resistência de um
componente baseado em uma série de valores empíricos estabelecidos por ensaios e codificados em
normas técnicas.
Ao utilizar uma teoria particular de falha é necessário calcular, inicialmente, as componentes de
tensão normal e cisalhamento nos pontos do elemento onde ocorrem seus valores máximos. Isso pode
ser feito utilizando-se os fundamentos da resistência do materiais e aplicando-se os fatores de
concentração de tensões onde forem aplicáveis ou, em situações complexas, as componentes de
tensões de maior valor podem ser obtidas utilizando-se uma análise matemática baseada na teoria da
elasticidade ou um procedimento experimental apropriado. Em qualquer dos casos, uma vez
estabelecido o estado de tensões, determinam-se as tensões principais nos pontos críticos, já que cada
uma das teorias é baseada no conhecimento destas tensões.

9.1 CRITÉRIOS DE RESISTÊNCIA OU TEORIAS DE FALHAS DE MATERIAIS DÚCTEIS


9.1.1 CRITÉRIO DA MÁXIMA TENSÃO DE CISALHAMENTO OU CRITÉRIO DE ESCOAMENTO
DE TRESCA

A causa mais comum do escoamento de um material dúctil, como um aço, é o deslizamento que
ocorre ao longo dos planos de contato entre os cristais constituintes do material e ordenados

9-1
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe

aleatoriamente. Esse deslizamento deve-se à tensão de cisalhamento, e, se construirmos um corpo de


prova na forma de uma barra fina, altamente polida e a submetê-lo a um ensaio simples de tração,
pode-se perceber como ocorre o escoamento do material. Os contornos dos planos de deslizamento
que aparecem na superfície da barra são chamados de linhas de Lüder, ilustradas na Figura 9.1. Essas
linhas indicam claramente que os planos de deslizamento na barra ocorrem a aproximadamente 45°,
em relação ao eixo longitudinal desta.

45°

T T

Figura 9.1 Linhas de Lüder em uma barra feita de aço de baixo teor de carbono

Considerando o estado de tensão de um ponto do corpo de prova sob tração e que esteja sujeito
à tensão limite de escoamento σ e , a tensão de cisalhamento máxima pode ser determinada
construindo-se o círculo de Mohr correspondente do referido estado de tensão, representado na Figura
9.2, resultando na seguinte relação

σe
τ máx = (9.1)
2

τ σe σe

τ máx = σ e 2

σ2 = 0 σ1 = σ e σ
σ méd = σ e 2
σ méd σ méd

τ máx τ máx

σ méd σ méd
Figura 9.2 Círculo de Mohr de uma barra tracionada, sujeita à tensão de escoamento

Além disso, a tensão de cisalhamento máximo τ máx atua nos planos posicionados a 45° em
relação aos planos das tensões principais σ 1 e σ 2 , e a direção desses planos coincidem com a direção
das linhas de Lüder mostradas no corpo de prova, indicando que de faro a falha ocorre pelo efeito de
cisalhamento.
Utilizando esta idéia, de um material dúctil falhar pelo efeito do cisalhamento, Henri Tresca em
1868 propôs o Critério da Máxima Tensão de Cisalhamento ou Critério de Escoamento de
Tresca. Essa teoria pode ser utilizada para prognosticar a tensão de falha de um material dúctil sujeito
a qualquer tipo de carregamento.
O Critério da Máxima Tensão de Cisalhamento estabelece que o escoamento do material inicia-
se quando a tensão de cisalhamento máxima absoluta , τ abs
máx , no material atinge a tensão cisalhante que
causa um escoamento, no mesmo material, ao ser submetido apenas a uma tração axial. Portanto, para

9-2
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe

evitar a falha, o Critério da Máxima Tensão de Cisalhamento requer que τ abs


máx no material seja menor
ou igual a σ e 2 , onde σ e é determinado através do ensaio de tração.
Para as aplicações expressa-se a tensão de cisalhamento máxima absoluta em função das tensões
principais σ 1 , σ2 e σ3 ( σ 1 ≥ σ 2 ≥ σ 3 ) ou σ máx , σ méd e σ min . A análise é realizada considerando-
se o estado plano de tensões, isto é, onde a tensão principal fora do plano é nula ( σ2 = 0 ou
σ méd = 0 ).
Se as duas tensões principais no plano de tensões tiverem o mesmo sinal, ou seja, se elas forem
ambas de tração ou ambas de compressão, a falha ocorrerá fora do plano e a tensão de cisalhamento
máxima absoluta é dada por

σ1 σ máx
τ abs
máx = ou τ abs
máx = (9.2)
2 2

Por outro lado, se as tensões principais no plano forem de sinais opostos, a falha ocorrerá no
plano das tensões e a tensão de cisalhamento máxima absoluta é dada por

σ1 − σ3 σ máx − σmin
τabs
máx = ou τabs
máx = (9.3)
2 2

Utilizando as Equações (9.1) a (9.3), o Critério da Máxima Tensão de Cisalhamento para o


estado plano de tensões pode ser expresso para quaisquer duas tensões principais no plano, σ 1 e σ2 ,
pelo seguinte critério

σ1 < σe 
 σ1 e σ2 com sinais idênticos
σ2 < σe  (9.4)
σ1 − σ 2 < σe } σ1 e σ 2 com sinais opostos

A Figura 9.3 representa graficamente estas equações. Obviamente, se qualquer ponto do


material for submetido a um estado plano de tensões e suas tensões principais no plano forem
representadas pelo ponto de coordenadas ( σ 1 , σ2 ) marcadas fora dos limites da área hexagonal
mostrada na figura, o material ecoará no ponto e ocorrerá a falha.

σ2

+σe

−σ e σ1
+σe

−σ e

Figura 9.3 Critério da Máxima Tensão de Cisalhamento ou Critério de Escoamento de Tresca

9-3
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe

9.1.2 TEORIA DA MÁXIMA ENERGIA DE DISTORÇÃO OU CRITÉRIO DE VON MISES

Quando um material é deformado por um carregamento externo, ele tende a armazenar energia
internamente através do volume por ele ocupado. A energia por unidade de volume do material é
denominada de densidade de energia de deformação e, se o material é submetido a uma tensão
uniaxial, σ, a energia de deformação específica pode ser expressa como

u = 21 σε (9.5)

É possível formular um critério de falha baseado nas distorções causadas pela energia de
deformação. Antes, porém, precisamos determinar a densidade de energia de deformação referente a
um elemento de volume do material sujeito às tensões principais σ1 , σ 2 e σ 3 , conforme ilustrado na
Figura 9.4a Neste caso, cada tensão principal contribui com parte da densidade de energia de
deformação total, logo

u = 21 σ1ε 1 + 21 σ 2 ε 2 + 21 σ 3 ε 3 (9.6)

Se o material apresenta um comportamento de deformação elástica linear, pode-se aplicar a lei


de Hooke Generalizada, definida através da seguinte equação
1
ε1 = [σ1 − ν(σ2 + σ3 )]
E
1
ε 2 = [σ 2 − ν(σ1 + σ3 )] (9.7)
E
1
ε3 = [σ3 − ν(σ1 + σ 2 )]
E

Portanto, considerando o estado de tensões principais, substituindo a Equação (9.7) na Equação (9.6) e
simplificando, tem-se

u=
2E
[
1 2
]
σ1 + σ 22 + σ 32 − 2ν(σ1σ 2 + σ1σ 3 + σ 3 σ 2 ) (9.8)

Essa densidade de energia de deformação pode ser considerada como a soma de duas parcelas,
uma representando a energia necessária para causar uma variação do volume do elemento sem que
haja variação na forma e outra representando a energia necessária para distorcer o elemento.
Especificamente, a energia armazenada no elemento como resultado da variação de seu volume é
causada pela aplicação da tensão principal média, σ = (σ 1 + σ 2 + σ 3 ) 3 , em todas as faces do
elemento, uma vez que essa tensão causa deformações principais idênticas no material, Figura 9.4b. As
tensões remanescentes, (σ 1 − σ ) , (σ 2 − σ ) e (σ 3 − σ ) , são responsáveis pela energia de distorção u d
do elemento, Figura 9.4c.

9-4
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe

σ2 σ (σ 2 − σ )
σ3 σ (σ3 − σ )

σ1 σ1 σ σ (σ1 − σ ) (σ1 − σ )
≡ +

σ3 σ (σ3 − σ )
σ2 σ (σ 2 − σ )
(a) (b) (c)
Figura 9.4 Estado triplo de tensões e deformações

Evidências experimentais mostram que os materiais não escoam quando sujeitos a um estado de
tensões uniformes (hidrostático), como σ discutido anteriormente. Em consequência, em 1904, M.
Huber propôs que o escoamento em um material dúctil ocorre quando a energia de distorção por
unidade de volume do material é igual ou superior à energia de distorção por unidade de volume do
mesmo material quando ele atinge o escoamento em um ensaio de tração. Esse critério é chamado
Critério da Máxima Energia de Distorção e, uma vez que ela foi posteriormente redefinida de forma
independente por R. von Mises e H. Hencky, também é conhecido como Critério de von Mises.
A energia de distorção por unidade de volume é obtida substituindo-se as tensões σ1 , σ 2 e σ 3
a Equação (9.8) pelas tensões (σ 1 − σ ) , (σ 2 − σ ) e (σ 3 − σ ) , respectivamente. Expandindo o
resultado da substituição e simplificando, resulta

ud =
1 + ν 1
3E  2
[ 2 2 2 
 (σ 1 − σ 2 ) + (σ 2 − σ 3 ) + (σ 3 − σ 1 ) 

] (9.9)

Define-se como tensão equivalente ou tensão de von Mises o termo da Equação (9.9)
reproduzido a seguir

σi =
1
2
[
(σ 1 − σ 2 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 + (σ 3 − σ 1 )2 ] (9.10)

No caso do estado plano de tensões, σ 3 = 0 , e a Equação (9.9) reduz-se a

ud =
1+ ν 2
3E
[
σ 1 − σ 1 σ 2 + σ 22 ] (9.11)

Para um ensaio de tração uniaxial, σ 1 = σ e e σ 2 = σ 3 = 0 , logo, a energia de distorção por


unidade de volume na condição de escoamento, (u d )e , é dada por

(u d )e = 1 + ν σ e2 (9.12)
3E

Uma vez que o Critério da Máxima Energia de Distorção requer que u d = (u d )e , para o caso
plano ou bidimensional de tensões, tem-se

σ 12 − σ 1 σ 2 + σ 22 < σ e2 (9.13)

9-5
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe

Essa equação representa uma curva elíptica, Figura 9.5. Assim, se um ponto do material é tensionado
de forma que o ponto com as coordenadas de tensões ( σ1 , σ 2 ) seja marcada no contorno da elipse ou
fora dela, o material falhará.

σ2
+σe A
C

−σ e σ1
+σe

D
B −σ e

Figura 9.5 Critério da Máxima Energia de Distorção

A Figura 9.6 mostra uma comparação entre os dois critérios de resistência apresentados para materiais
dúcteis. Nota-se que a elipse passa pelos vértices do hexágono. Os dois critérios dão o mesmo
resultado para os estados de tensões representados por esses pontos. Para qualquer outro estado de
tensões, o Critério da Máxima Tensão de Cisalhamento é mais conservador que o Critério da Máxima
Energia de Distorção, uma vez que o hexágono está localizado dentro da elipse.

σ2
+σe

0 ,5σ e 0 ,577 σ e
−σ e σ1
+σe

−σ e

Figura 9.6 Critérios de Máxima Tensão de Cisalhamento e Máxima Energia de Distorção

Um estado de tensões de interesse especial é aquele associado a um teste de torção pura que
gera um estado de cisalhamento pura. Neste caso, σ 1 = −σ 2 ; desse modo, os pontos correspondentes
no diagrama da Figura 9.6 estão localizados na bissetriz do segundo e quarto quadrantes. Segue daí
que em um teste de torção o escoamento ocorre quando σ 1 = −σ 2 = ±0 ,5σ e , de acordo com o Critério
da Máxima Tensão de Cisalhamento, e quando σ 1 = −σ 2 = ±0 ,577 σ e , de acordo com o Critério da
Máxima Energia de Distorção.
A análise do estado de cisalhamento puro indica que σ1 e σ 2 devem ter a mesma intensidade
de τ máx que é o valor obtido de um ensaio de torção para a tensão de escoamento ao cisalhamento τ e
do material. Baseado em dados experimentais e calculando-se o valor da relação τ e σ e para materiais
dúcteis, verifica-se que essa relação varia de 0,53 a 0,60. Isso mostra que o Critério da Máxima
Energia de Distorção é um pouco mais preciso, pelo menos no que concerne a estabelecer o
escoamento na torção.

9-6
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe

9.2 CRITÉRIOS DE RESISTÊNCIA OU TEORIAS DE FALHAS DE MATERIAIS FRÁGEIS


9.2.1 CRITÉRIO DA MÁXIMA TENSÃO NORMAL OU CRITÉRIO DE COULOMB

Materiais frágeis como o ferro fundido cinzento tendem a falhar subitamente por fratura sem
escoamento aparente. Nos ensaios de tração, a fratura ocorre quando a tensão normal atinge o valor da
tensão limite de resistência σ r . Também nos ensaios de torção de uma barra cilíndrica ocorre a fratura
frágil devido à máxima tensão de tração, uma vez o ângulo entre o plano de fratura na superfície para
uma elemento e a direção de cisalhamento máximo é de 45°, resultando em uma fratura helicoidal.
Os experimentos tem mostrado que durante a torção a resistência do material não é afetada pela
presença da tensão principal de compressão associada que atua a um ângulo reto em relação à tensão
principal de tração. Conseqüentemente, a tensão de tração necessária para fraturar um corpo de prova
durante um ensaio de torção é aproximadamente a mesma necessária para fraturar um corpo de prova
em um ensaio de tração. Por esta razão, o Critério da Máxima Tensão Normal estabelece que um
material frágil falhará quando a tensão principal máxima σ 1 atuante no material atingir um valor
limite igual à tensão limite de resistência à tração σ r .
Se o material é submetido ao estado duplo ou plano de tensões, devemos assegurar que

σ1 < σ r e σ2 < σr (9.14)

Essas equações são mostradas graficamente na Figura 9.7. Nesse caso percebe-se que se o ponto com
as coordenadas de tensões ( σ1 , σ 2 ) referentes a um ponto do material estiver sobre o contorno da área
quadrada ou fora dela, o material falhará. Esse critério é conhecido também como Critério de
Coulomb, devido ao físico francês Charles Augustin de Coulomb (1936-1806). Esse critério tem uma
deficiência séria, uma vez que se baseia na hipótese de que a tensão limite de resistência do material é
a mesma na tração e na compressão, o que raramente ocorre na prática devido à presença de vazios no
material, tais como falhas e fissuras., que debilitam o material tracionado, embora não tenham
influência apreciável no material sujeito a compressão.

σ2

+σ r

−σ r σ1
+σ r

−σ r

Figura 9.7 Critério da Máxima Tensão Normal

9.2.2 CRITÉRIO DE FALHA DE MOHR


Critério sugerido pelo engenheiro alemão Otto Mohr e que pode ser usado para prever os efeitos
de um certo estado plano de tensões em um material frágil, quando alguns resultados de ensaios

9-7
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe

podem ser obtidos para esse material. Este critério assume que alguns materiais frágeis quando
submetidos à tração e à compressão apresentam características diferentes de resistência.
Considerando inicialmente a realização de ensaios de tração e de compressão em corpos de
prova feitos de um mesmo material, os quais possibilitam a determinação dos valores de σ rt e σ rc ,
tensões limites de resistência à tração e à compressão, respectivamente.
Os estados de tensões que correspondem às condições de ruptura dos corpos de prova nos
ensaios de tração e compressão originam os círculos de Mohr tangentes à origem do sistema de
coordenadas στ, e de diâmetros 2 σ rt e 2 σ rc , respectivamente, conforme ilustrado na Figura 9.8.

τ
σ rc σ rc
τr
σ rt σ rt

σ rc σ rt σ

τr

τr
Figura 9.8 Critério de Falha de Mohr - representação dos círculos de Mohr

Desse modo, quando as duas tensões principais são de mesmo sinal, o estado de tensões é
considerado seguro se as seguintes condições forem satisfeitas

σ1 < σ rt 
 σ1 e σ 2 positivos
σ 2 < σ rt 
(9.15)
σ1 < σ rc 
 σ1 e σ 2 negativos
σ 2 < σ rc 

Considerando agora a realização de um ensaio de torção que possibilita a determinação de τ r ,


tensão limite de resistência ao cisalhamento do material. O círculo de Mohr correspondente está
relacionado ao estado de tensões de cisalhamento puro e é representado por um círculo cujo centro
coincide com a origem do sistema de coordenadas στ e possui diâmetro 2 τ r , conforme ilustrado na
Figura 9.8.
O critério de Mohr estabelece que um estado plano de tensões é considerado seguro se for
representado por um círculo localizado inteiramente dentro da área limitada pela envoltória dos
círculos que correspondem aos resultados de ensaios.
Diagramas mais exatos podem ser construídos se for possível a determinação de mais resultados
de ensaios, correspondentes a diferentes estados de tensões cujas tensões principais são de sinais
diferentes. Desta forma, as tensões principais σ1 e σ 2 dos diferentes estados de tensões podem ser
representados na forma do diagrama apresentando na Figura 9.9.

9-8
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe

σ2

σ rt

σ rc σ1
σ rt

σ rc

Figura 9.9 Critério de Falha de Mohr

Usualmente, os únicos dados disponíveis sobre um material são σ rt e σ rc . Nestes casos, a


envoltória da Figura 9.8 é substituída por retas tangentes aos dois círculos de Mohr correspondentes
aos estados de tensões de tração ou compressão puras e o diagrama de σ1 e σ 2 assume a forma
simplificada apresentada na Figura 9.10.

σ2

σ rt

σ rc σ1
σ rt

σ rc

Figura 9.10 Critério de Falha de Mohr - diagrama simplificado

9-9
A – PROPRIEDADES GEOMÉTRICAS DE ÁREAS PLANAS

A.1 - Momento Estático e Centróide de Área

A.1.1 - Momento Estático de Área


Considere uma área de forma arbitrária A, localizada em um plano yz e um elemento diferencial
de área dA, de coordenadas y e z, conforme ilustrado na Figura A.1.

z z zC O

C
yC

A
dA y

y
Figura A.1 - Área arbitrária A, com centróide C

A área total A, pode ser determinada através da seguinte integração

A = ∫ dA (A.1)
A

Os momentos estáticos da área A, em relação aos eixos z e y, representados pelos símbolos Q z


e Q y , respectivamente, são grandezas geométricas definidas pelas seguintes integrais

Q z = ∫ ydA e Q y = ∫ zdA (A.2)


A A

Observa-se que, dependendo da posição da área A em relação aos eixos coordenados y e z, os


resultados das integrais definidas nas equações (A.2), ou seja, os momentos estáticos de área, Q z e
Q y , podem ser positivos, negativos ou nulos.
Dimensionalmente, os momentos estáticos de área são expressos em [m 3 ] ou [mm 3 ] , no
Sistema Internacional de Unidades; ou então em [in 3 ] , no Sistema Inglês de Unidades.

A.1.2 - Centróide de Área

O centróide de uma área arbitrária A corresponde ao seu centro geométrico, e é representado na


Figura A.1 pelo ponto C, cujas coordenadas y C e z C são de determinadas pelas seguintes relações

∫ ydA ∫ zdA
A A
yC = e zC = (A.3)
∫ dA
A
∫ dA
A

A-1
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe

ou ainda, empregando-se a expressão de área total dada na equação (A.1) e as definições de momentos
estáticos de área da equação (A.2),

Qz Qy
yC = e zC = (A.4)
A A

Muitas vezes a posição do centróide de um área pode ser determinada por meio de uma simples
inspeção. Quando uma área possui um eixo de simetria, como a exemplificada na Figura A.2a, o
momento estático desta área em relação a este eixo é igual a zero; sendo assim, o centróide, C, estará
localizado em algum ponto sobre o eixo de simetria, necessitando-se determinar apenas uma
coordenada para localizar o ponto C.

z C z C z C

y y y
(a) (b) (c)
Figura A.2 - Áreas com características de simetria

Nos casos em que a área possui dois eixos de simetria, como a exemplificada na Figura A.2b,
pode-se concluir que o seu centróide localiza-se na interseção destes eixos. Finalmente, quando a área
possui um centro de simetria, apesar de não ter um eixo de simetria, conforme ilustrado na Figura
A.2c, este ponto corresponderá ao seu centróide.
Na Tabela A.1 do Apêndice A são apresentadas as expressões de cálculo de área e localizações
dos centróides de diversas formas simples de áreas planas, bem como outras grandezas geométricas
discutidas ainda neste capítulo
A.1.3 – Centróide de Área Composta

Freqüentemente, as áreas que podem ser decompostas ou divididas em várias partes com formas
geométricas simples como retângulos, círculos, semicírculos e triângulos, para as quais são conhecidas
as respectivas áreas e posições dos centróides. A Figura A.3 ilustra a decomposição de uma área em
dois retângulos de áreas A1 e A2 com respectivos centróides C 1 e C 2 , cujas posições são conhecidas.

z zC O

A1 C1 yC
C
C2

A2
y
Figura A.3 - Centróide de área composta

Nestes casos, pode-se eliminar o processo de integração na determinação da área total e da


posição do centróide, empregando-se expressões similares à equação (A.3), mas substituindo as
integrais por somatórios
1 n 1 n
y C = ∑ y i Ai z C = ∑ z i Ai (A.5)
A i =1 A i =1

onde

A-2
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe

à y i , z i - coordenadas do centróide C i do elemento i


à Ai - área do elemento i
à A - área total ( A = ∑ Ai )

Em alguns casos, se a área possui furos ou regiões sem material, esta pode ser considerada como sendo
composta por áreas positivas cheias e “áreas negativas”, correspondentes aos vazios, facilitando
muitas vezes a determinação da posição do centróide da área total.

A.2 – Momento de Inércia de Área e Produto de Inércia de Área

A.2.1 - Momento de Inércia de Área


Considere novamente a área de forma arbitrária A, localizada em um plano yz e um elemento
genérico de área dA, de coordenadas y e z, conforme reproduzido na Figura A.4. A distância radial
entre a origem O do sistema de coordenadas e o centro do elemento dA é denotada por “ρ”.
O momento polar de inércia, I O , da área A, em relação ao ponto O, é uma grandeza geométrica
definida pela seguinte integral

I O = ∫ ρ 2 dA (A.6)
A

z z O

A
dA y

y
Figura A.4 - Momento de inércia de uma área arbitrária A

A distância radial ρ pode ser determinada em função das coordenadas y e z do elemento dA,
aplicando-se o teorema de Pitágoras

ρ2 = z 2 + y 2 (A.7)

Substituindo a equação (A.7) na equação de I O , (A.6), resulta

I O = ∫ ( z 2 + y 2 )dA = ∫ z 2 dA + ∫ y 2 dA = I y + I z (A.8)
A A A

onde, I y e I z são definidos como sendo os momentos de inércia de área, em relação aos eixos y e z,
respectivamente

I y = ∫ z 2 dA e I z = ∫ y 2 dA (A.9)
A A

A partir das formações dos momentos de inércia de área, percebe-se que I O , I y e I z serão
sempre grandezas positivas. Além disso, dimensionalmente são grandezas expressas em [m 4 ] ou

A-3
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe

[mm 4 ] , no Sistema Internacional de Unidades; ou então em [in 4 ] , no Sistema Inglês de Unidades.

Os momentos de inércia de área de diversas formas simples de áreas planas, em relação a eixos
que passam pelos respectivos centróides, foram determinadas a partir das integrais definidas nas
equações (A.9) e são apresentadas na Tabela A.1 do Apêndice A.
A.2.2 – Teorema dos Eixos Paralelos para Área

Se o momento de inércia de uma área em relação a um eixo que passa pelo seu centróide for
conhecido, pode-se determinar o momento de inércia desta área em relação a um eixo paralelo ao
primeiro utilizando-se o Teorema dos Eixos Paralelos. Para demonstrar este teorema, considere na
área arbitrária A, ilustrada na Figura A.5 e localizada no plano yz, um sistema de eixos coordenados
yz com origem em seu centróide e paralelos aos eixos yz.

z z zC O

z z C
yC

A
dA y y

y
y
Figura A.5 - Teorema dos Eixos Paralelos

As coordenadas do elemento dA são descritas nos sistemas yz e yz , e obedecem às seguintes relações

y = y + yC e z = z + zC (A.10)

Considerando-se conhecidos os momentos de inércia de área I y e I z em relação aos eixos


y e z , respectivamente, e analisando-se inicialmente o paralelismo entre os eixos z e z , reescreve-se a
expressão do momento de inércia de área I z dada na equação (A.9), com o auxílio da relação entre
y e y da equação (A.10)

I z = ∫ y 2 dA = ∫ ( y + y C ) 2 dA = ∫ ( y 2 + 2 yy C + y C2 ) dA
A A A

Ö I z = ∫ y 2 dA + 2 y C ∫ ydA + y C 2 ∫ dA
A 23
1 A2
1 3 A
{
Iz Q z =0 A

A primeira integral do lado direito na expressão acima corresponde ao momento de inércia da


área em relação ao eixo z , I z . A segunda integral é nula, uma vez que equivale ao momento estático
Q z da área em relação ao eixo z que passa por seu centróide. A terceira integral é a mais simples e
representa a área total; portanto

I z = I z + A y C2 (A.11)

Analogamente, para o momento de inércia de área I y , resulta

A-4
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe

I y = I y + A z C2 (A.12)

Estas equações representam o Teorema dos Eixos Paralelos para Áreas e estabelecem que:
“O momento de inércia de um área em relação a um eixo é igual ao momento de inércia
da área em relação a um eixo paralelo ao mesmo e que passa por seu centróide, mais o
produto da área pelo quadrado da distância entre os dois eixos paralelos.”

Somando-se termo a termo as equações (A.11) e (A.12), deduz-se uma expressão semelhante,
relacionando o momento polar de inércia de um área, I O , em relação a um ponto arbitrário O e o
momento polar de inércia desta mesma área, I C , em relação ao seu centróide C. Denotando por d a
distância entre os pontos O e C, resulta

IO = IC + A d 2 (A.13)

A.2.3 – Momento de Inércia de Área Composta

O Teorema dos Eixos Paralelos é especialmente útil na determinação de momentos de inércia de


áreas compostas por formas geométricas simples cujos momentos de inércia em relação a eixos que
passam pelos centróides são conhecidos. Uma área como a exemplificada na Figura A.6 pode ser
decomposta em dois retângulos de áreas A1 e A2 , cujas posições dos centróides e momentos de inércia
básicos são conhecidos.

A1
C1
z C

C2

A2
y
Figura A.6 - Momento de inércia de área composta

Sendo assim, os momentos de inércia da área total, em relação a os eixos y e z com origem em seu
centróide C, podem ser determinados aplicando-se o Teorema dos Eixos Paralelos na forma de
somatórios

n n
I y = ∑ ( I yi + Ai z i2 ) e I z = ∑ ( I zi + Ai y i2 ) (A.14)
i =1 i =1

onde
à Ai - área do elemento i
à y i , z i - coordenadas do centróide C i do elemento i
à I yi , I zi - momentos de inércia de área do elemento i em relação aos eixos y i e z i , respec-
tivamente, com origem no centróide C i

A.2.4 – Produto de Inércia de Área

O produto de inércia de uma área é análogo ao momento de inércia de área e é definido em


relação a um sistema de eixos yz através da seguinte integral

A-5
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe

I yz = ∫ yz dA (A.15)
A

Diferentemente dos momentos de inércia de área, o produto de inércia de área pode ser positivo,
negativo ou nulo, dependendo da posição da área em relação aos eixos yz. Caso um dos eixos y ou z
coincida com um eixo de simetria da área, o produto de inércia será nulo.
Demonstra-se facilmente também que o Teorema dos Eixos Paralelos vale para os produtos de
inércia de área, sendo expresso da seguinte forma

I yz = I yz + A y C z C (A.16)

onde
à I yz - produto de inércia de área em relação ao sistema de eixos yx, paralelo a yz
à I yz - produto de inércia de área em relação ao sistema de eixos yz com origem no cen-
tróide C

Na Tabela A.1 do Apêndice A são apresentados também os produtos de inércia de várias formas
simples de áreas planas.
A.3 – Momentos de Inércia de Área em Eixos Rotacionados

Nos projetos mecânicos e estruturais, muitas vezes é necesssário calcular os momentos de


inércia I y′ e I z ′ e o produto de inércia I y′z ′ de uma área em relação a um sistema de eixos y ′z ′ ,
rotacionados de um ângulo θ em relação ao sistema de eixos yz, conforme ilustrado na Figura A.7.
z’
z’
z z O
θ

θ
A
dA y
y’
y’ y
Figura A.7- Momentos de inércia de área em eixos rotacionados

As coordenadas do elemento de área dA nos dois sistemas de coordenadas estão relacionadas


pelas seguintes equações de transformação

 z ′ = y cos θ + z sen θ
 (A.17)
 y ′ = − y sen θ + z cos θ

Partindo-se das equações de momentos de inércia (A.9) e de produto de inércia (A.15) de área,
definidos para o sistema de eixos y ′z ′ , e empregando-se as transformações da equação (A.17), obtém-
se as seguintes expressões

A-6
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe

 Iy + Iz Iy −Iz
 I y′ = + cos 2θ − I yz sen 2θ
 2 2
 Iy + Iz Iy −Iz
I z′ = − cos 2θ + I yz sen 2θ (A.18)
 2 2
 Iy − Iz
 I y′z′ = sen 2θ + I yz cos 2θ
 2

Adicionando-se a primeira e a segunda equação de (A.18), nota-se que

I y′ + I z′ = I y + I z = I O (A.19)

ou seja, o momento polar de inércia em relação ao ponto O, origem dos sistemas de coordenadas, é
constante e independe da orientação dos eixos y ′ e z ′ .

A.3.1 – Momentos Principais de Inércia de Área

Observa-se nas equações (A.18) que os momentos de inércia I y′ e I z ′ e o produto de inércia I y′z ′ da
área dependem do ângulo de rotação θ do sistema de eixos y ′z ′ . O nosso interesse está focado na
determinação da direção desses eixos para os quais o momentos de inércia, I y′ e I z ′ , assumem valores
extremos, ou seja, valores mínimo e máximo. Estes eixos particulares são chamados eixos principais
de inércia de área, e os correspondentes momentos de inércia em relação aos mesmos são os momentos
principais de inércia.
Os ângulos θ p que definem a orientação dos eixos principais podem ser obtidos por derivação
da primeira das equações de (A.18), em relação a θ, e igualando-se o resultado a zero, resultando

2 I yz
tg 2θ p = (A.20)
Iz −Iy

Esta equação fornece dois ângulos θ p defasados de 90o e estabelecem a inclinação dos eixos
principais.
A substituição dos ângulos θ p nas duas primeiras equações de (A.18) possibilitam a
determinação dos momentos principais de inércia da área, I máx e I mín

2
Iy + Iz  Iy −Iz 
I máx = ±   + I yz

2
(A.21)
mín 2  2 

A substituição de um dos ângulos θ p na terceira equação de (A.18) fornece sempre I y′z ′ = 0 , isto
é, o produto de inércia em relação aos eixos principais é nulo. Conforme mencionado na Seção A.4, o
produto de inércia é nulo em relação a qualquer eixo de simetria, portanto, qualquer eixo de simetria
será um eixo principal de inércia da área.

A.4 – Raio de Giração

A-7
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe

O raio de giração de uma área A, em relação ao ponto O, origem do sistema de coordenadas yz,
é definido como o sendo o raio rO que satisfaz à seguinte relação

IO
I O = rO2 A ou rO = (A.22)
A

De maneira análoga, definem-se os raios de giração r y e rz em relação aos eixos y e z,


respectivamente

Iy Iz
ry = e rz = (A.23)
A A

Devido à relação entre os momentos de inércia de área I O , I y e I z dada na equação (A.8), os


raios de giração rO , r y e rz mantém entre si uma relação análoga

rO2 = r y2 + rz2 (A.24)

A-8
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe

A = bh
z
h bh 3
hb3
Iz = Iy = I yz = 0
12 12
y

z πd 2
d=2r A = πr 2 =
4
πr 4 πd 4
Iz = I y = = I yz = 0
y 4 64

z (de2 − di2 )
di de A=π
4
π(de4 − di4 )
Iz = I y = I yz = 0
y 64

z A ≈ πdt
d
πtd 3 t2
t Iz = I y ≈ (1 + 2 ) I yz = 0
t<<d 8 d
y

r
πr 2 πd 2
z A= =
4r/3π
2 8
y (9 π2 - 64)r 4 πr 4
Iz = Iy = I yz = 0
d=2r 72π 8

z 3 2
h A= h
2
5 3 4
Iz = I y = h ≈ 0 ,0601h4 I yz = 0
y 144

bh
z h A=
2
h/3
bh3 b3 h
y Iz = Iy = I yz = 0
36 48
b
2a
z A = πab
2b 3
πab πba3
Iz = Iy = I yz = 0
4 4
y

Tabela A1 – Propriedades geométricas de áreas planas

A-9
B – VASOS DE PRESSÃO DE PAREDES FINAS

Os vasos de pressão são estruturas esféricas ou cilíndricas normalmente utilizadas na indústria


como tanques ou cilindros de armazenamento de gases ou líquidos, caldeiras ou cabines pressurizadas.
Outros exemplos de vasos de pressão são extintores de incêndio, latas de produtos em spray, silos de
grãos e canos pressurizados. Ao ser submetido à pressão interna, o material com o qual essas estruturas
são fabricadas fica sujeito a um carregamento atuante em todas as direções. Embora aparentemente
complexo, um vaso de pressão pode ser analisado de forma simples, se possuir uma parede fina
quando comparada com seus raios e comprimentos, sendo incluído dentro de uma categoria geral
conhecida como estruturas de cascas.
O termo parede fina não é preciso, mas, como regra geral, um vaso é considerado de parede fina
quando a relação entre o raio interno r e a espessura da parede t for maior ou igual a 10 (r/t ≥10).
Especificamente, quando r/t=10, os resultados de uma análise considerando essa estrutura como sendo
de parede fina fornecem uma tensão que é aproximadamente 4% menor do que a tensão máxima real
atuante no vaso. Para relações maiores de r/t esse erro será ainda menor.
Quando a parede do vaso é fina, a distribuição das tensões ao longo de sua espessura não sofrerá
uma variação significativa; admite-se então que a tensão seja uniforme ou constante. Baseado nesta
hipótese, serão apresentados os estados de tensões em vasos de pressão esféricos e cilíndricos sujeitos
a pressão interna p. Em ambos os casos, a pressão p no vaso é considerada manométrica, ou seja,
medida em relação à pressão atmosférica atuante nas paredes externas dos vasos. É importante
ressaltar que as expressões de tensões deduzidas nesta análise devem ser utilizadas apenas nos casos de
vasos de parede fina sujeitos a uma pressão manométrica interna. Se o vaso é submetido a uma pressão
externa, poderá ocorrer um dano por instabilidade ou flambagem da parede do vaso.

B.1 Vasos Esféricos

Um vaso de pressão esférico possui a forma ideal para um vaso que deve resistir a uma pressão
interna. Basta observar uma bolha de sabão para reconhecer que uma esfera é forma “natural” para
esse propósito.
A análise de um vaso esférico de parede fina como o ilustrado na Fig.B.1a, será realizada
considerando-se um vaso com raio interno r e espessura de parede t, sujeito a uma pressão
manométrica interna p (Fig.B.1b), desenvolvida por um gás ou fluido de peso desprezível.
m

t
r
p

(a) (b)
Fig. B.1 Vaso de pressão esférico
Para se determinar as tensões atuantes na parede do vaso esférico, este é seccionado em um
plano diametral vertical m (Fig.B.2a) e o diagrama de corpo livre de uma das partes fica como
indicado na Fig. B.2a. Agindo nesse corpo estão as tensões tangenciais de tração σ na parede do vaso e
a pressão p do fluido atuando perpendicularmente à parede interna. Uma vez que a pressão p é
uniforme, a força de pressão resultante é P=p(πr2) e atua horizontalmente contra a área circular plana
(πr2), projeção horizontal da superfície interna. Por causa da simetria do vaso e de seu carregamento, a

B-1
Vasos de Pressão Flávio Y. Watanabe

tensão de tração σ é uniforme ao redor da circunferência. Além disso, uma vez que a parede é fina,
pode-se assumir com boa precisão que a tensão está uniformemente distribuída através da espessura t,
conforme citado anteriormente.
σ
σ

P=p(πr2) σ

(a) (b)
Fig. B.2 Tensões na parede de um vaso de pressão esférico

Assim, considerando como sendo pequena a diferença entre o raio médio e o raio interno do
vaso e aplicando-se a condição de equilíbrio de forças na horizontal, resulta

Fhoriz = 0 ⇒ σ(2 πrt ) − p (πr 2 ) = 0
pr
∴ σ= (B.1)
2t

É evidente que a equação de tensão tangencial σ atuante na casca esférica pode ser obtida
seccionando-se a esfera em qualquer plano diametral. Dessa forma, conclui-se que a parede de um
vaso de pressão esférico está submetida a tensões de tração uniformes σ em todas as direções,
conforme representado no estado plano ou biaxial de tensões da Fig. B2.b, isto é, as tensões normais
atuam apenas em duas direções ortogonais.
Na realidade, o material desses vasos está também sujeito a uma tensão radial de compressão.
Essa tensão tem um valor máximo igual à pressão (-p) em sua superfície interna (Fig. B.3a) e decresce
ao longo da espessura da parede até um valor nulo na superfície externa do vaso (Fig. B.3b), onde a
pressão manométrica é nula. Entretanto, para vasos de paredes finas, considerando a hipótese inicial de
r/t=10, resulta em valores de tensão radial 5 vezes menores do que a tensão tangencial σ. Sendo assim,
a tensão radial na superfície interna de um vaso de parede fina pode ser desconsiderada e os estados de
tensões apresentados na Fig. B3 se equivalem.

y y

σ -p σ
σ σ x σ σ x

-p
z σ z σ
(a) (b)
Fig. B.3 Tensões em vaso de pressão esférico na (a) superfície interna e (b) superfície externa
A análise dos estados de tensões apresentados na Fig. B.3, desconsiderando agora a tensão
radial, possibilita afirmar que, para elementos rotacionados em torno do eixo z, as tensões tangenciais
σ permanecem constantes e não há tensões de cisalhamento. Para se obter as tensões de cisalhamento
máximas absolutas, deve-se considerar as rotações fora do plano xy, ou seja, deve-se analisar
elementos rotacionados em torno dos eixos x e y. A partir desta análise determina-se que elementos
orientados a partir de rotações de 45o em torno dos eixos x e y têm tensões normais iguais a σ/2 e
tensões de cisalhamento máximas absolutas iguais a σ/2, ou seja,

B-2
Vasos de Pressão Flávio Y. Watanabe

σ pr
∴ τ máx = = (B.2)
abs 2 4t

B.2 VASOS CILÍNDRICOS


Considerando um vaso cilíndrico tenha uma parede com espessura t e raio interno r, conforme
ilustrado na Fig. B.4a, sujeito a uma pressão manométrica p é desenvolvida no interior do vaso por um
gás ou fluido de peso desprezível. Devido à uniformidade desse carregamento, um elemento do vaso
suficientemente afastado das extremidades e orientado conforme mostrado na Fig. B.4a estará sujeito
às tensões normais σ1 na direção circunferencial ou tangencial e σ2 na direção longitudinal ou axial.
Essas componentes de tensões exercem uma tração no material. Deseja-se determinar o módulo de
cada uma dessas componentes em função da geometria do vaso e da pressão interna. Para isso pode-se
utilizar o método das seções e aplicar as equações de equilíbrio de forças.
m n
σ1

σ2 b

(a)

b
σ2
σ1
t
2 r
P2=p(πr )
P1=p(2rb)

σ1
(b) (c)
Fig. B.4 Tensões na parede de um vaso de pressão cilíndrico

A tensão longitudinal σ2 é obtida considerando a parte esquerda da seção transversal m do


cilindro, conforme ilustrado na Fig. B.4b. A tensão σ2 atua uniformemente ao longo da parede e a
pressão p atua na seção do gás ou fluido. Assumindo mais uma vez que o raio médio é
aproximadamente igual ao raio interno do vaso, o equilíbrio na direção longitudinal ou axial fica

∑ Faxial = 0 ⇒ σ 2 (2 πrt ) − p(πr 2 ) = 0


pr
∴ σ2 = (B.3)
2t
Para a tensão circunferencial σ1, o vaso é seccionado pelos planos transversais m e n e pelo
plano longitudinal diametral. O diagrama de corpo livre do segmento posterior com o gás ou fluido
nele contido é mostrado na Fig. B.4c, considerando somente os esforços na direção tangencial ou
circunferencial. Esse carregamento é desenvolvido pela tensão circunferencial uniforme σ1, atuante na
parede do vaso e pela pressão atuante na face vertical do gás ou fluido seccionado. Pela condição de
equilíbrio na direção cincunferencial, tem-se

∑ Fcirc = 0 ⇒ 2.σ 1 (tb ) − p(2 rb ) = 0

B-3
Vasos de Pressão Flávio Y. Watanabe

pr
∴ σ1 = (B.4)
t

Considerando-se as Eq. B.3 e B.4, observa-se que a tensão circunferencial ou tangencial σ1 é


duas vezes maior do que a tensão longitudinal ou axial σ2. Consequentemente, na construção de vasos
de pressão cilíndricos a partir de chapas laminadas, as uniões longitudinais devem ser projetadas para
suportar uma tensão duas vezes maior do que as uniões transversais.
Os estados de tensões nas superfícies interna e externa do vaso de pressão cilíndrico são
ilustrados nas Fig. B.4a e B4.b, respectivamente. De maneira análoga a análise realizada para os vasos
de pressão esféricos, a tensão radial na superfície interna de um vaso de parede fina pode ser
desconsiderada e os estados de tensões apresentados na Fig. B3 se equivalem.
y y

σ1 -p σ1
σ2 σ2 x σ2 σ2 x

-p
z σ1 z σ1
(a) (b)
Fig. B.5 Tensões em vaso de pressão cilíndrico na (a) superfície interna e (b) superfície externa

A análise dos estados de tensões apresentados na Fig. B.5, desconsiderando agora a tensão
radial, possibilita afirmar que, em elementos rotacionados de 45o em torno dos eixos x, y e z, atuam
tensões de cisalhamento máxima dadas por
(τmáx )x = pr ; (τ máx ) y = pr e (τ máx ) z = pr (B.5)
2t 4t 4t

Sendo assim, a tensão de cisalhamento máxima absoluta que atua em na parede de um vaso de
pressão cilíndrico é a que ocorre em planos rotacionados de 45o em torno dos eixos x, e é dada por
pr
τ máx = (B.6)
abs 2t

B.3 COMENTÁRIOS GERAIS


• Os cálculos da tensão de cisalhamento máxima absoluta são importantes no projeto de
componentes fabricados com materiais dúcteis, pois a resistência desses materiais depende de
sua habilidade em resistir às tensões cisalhantes. Tal discussão é usualmente aprofundada
quando se estuda os Critérios de Falhas ou Critérios de Resistência dos materiais.
• Os vasos de pressão geralmente têm aberturas em suas paredes bem como adaptadores e
suportes que exercem forças nas paredes. Essas características resultam em não uniformidades
na distribuição de tensão, ou concentração de tensões, que não podem ser analisadas pelas
fórmulas elementares apresentadas. Métodos mais avançados de análise são necessários, como a
teoria da casca e a análise de elementos finitos
• No caso dos vasos de pressão cilíndricos existe uma descontinuidade óbvia nas extremidades do
cilindro onde as tampas são presas, porque a geometria varia abruptamente.

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