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A ÉTICA UTILITARISTA E O CASO DA COROA CONTRA DUDLEY E

STEPHENS.

Raíssa Atem de Carvalho Pires1

Resumo: A todo instante o indivíduo se depara com decisões para tomar. Quais as
implicações dos atos do indivíduo na sociedade? O presente artigo visa refletir acerca
da ótica filosófica da ética utilitarista, analisando o caso concreto da Coroa contra
Dudley e Stephens, que envolveu atos de canibalismo. Pode o canibalismo ser aceito
em casos extremos ? Podemos relativizar o horror do ato em si em prol da
sobrevivência humana ?

Palavras-chave: Bentham. Utilitarismo. Canibalismo. Ética.

Introdução

Diariamente as pessoas tem que tomar decisões e refletir: o que é fazer


a coisa certa? Com base em quais princípios éticos devemos tomar nossas
decisões? A partir destas indagações, expõe-se o caso Coroa versus Dudley e
Stephens, trama que envolve canibalismo e a valorização da existência de
alguns em detrimento de outro.

Uma das teorias que justifica o evento é o Utilitarismo, doutrina


defendida por Jeremy Bentham, cujo pressuposto básico é que a coisa certa e
justa a se fazer é maximizar a felicidade para o maior número de pessoas, e
focar na utilidade dos indivíduos.

O presente artigo visa analisar o caso Dudley e Stephens, com base na


ética utilitarista, refletindo sobre as motivações e consequências que as
atitudes humanas podem ser fundadas. Podemos relativizar o certo ou errado
conforme as circunstâncias?

1
Advogada, Especialista em Direito Público e Direito Privado pela ESMEPI – Escola Superior de
Magistratura do Estado do Piauí em convênio com a UFPI – Universidade Federal do Piauí.
Especializanda em Direito de Propriedade e Desenvolvimento Sustentável pelo IDP – Instituto
Brasiliense de Direito Público. Mestranda em Educação pelo Florida Christian University.
1.Sobre o caso Coroa contra Dudley e Stephens

Em 1884, houve um naufrágio com o navio Mignonette em que quatro


pessoas sobreviveram num bote salva-vidas no Atlântico Sul, a cerca de 1.600
km da costa: Thomas Dudley era o capitão; Edwin Stephens, o primeiro-
oficial; Edmund Brooks, um marinheiro e Richard Parker, um taifeiro de 17
anos.

No bote, eles estavam sem água potável e tinham apenas duas latas de
nabos em conserva para se alimentarem. Os dias se passavam e a esperança
de resgate tornava-se cada vez mais remota. Nos primeiros dias, alimentaram-
se dos nabos, depois, pegaram uma tartaruga e conseguiram sobreviver por
mais uns dias. Logo ficaram sem ter o que comer nem beber por oito dias, e
Richard Parker, o jovem taifeiro, bebeu água do mar, contrariando as
instruções dos companheiros, e ficou muito doente.

Passaram-se dezenove dias, até que o capitão Dudley, sugeriu um


sorteio para escolher quem morreria para salvar os outros. Brooks foi contra a
proposta, e acabaram não realizando o sorteio.

Entretanto, no dia seguinte, o instinto de sobrevivência e a fome falaram


mais alto: Dudley pediu para que Brooks olhasse em outra direção e sinalizou a
Stephens que Parker deveria ser morto. Então, Dudley fez uma prece, avisou
ao jovem que sua hora havia chegado e apunhalou-o na jugular.

Brooks, apesar de inicialmente ter opinião contrária à proposta inicial


também se alimentou do corpo e do sangue do jovem camareiro. Depois do
incidente, finalmente foram resgatados por um navio alemão. Ao regressarem à
Inglaterra, foram presos e levados a julgamento. Brooks foi testemunha de
acusação. Dudley e Stephens foram julgados, confessaram espontaneamente
que haviam matado e comido Parker.

Dudley e Stephens alegaram que tinham assassinado Parker por


necessidade, argumentando que era melhor que um morresse para que três
pudessem sobreviver, e que se ninguém tivesse sido morto provavelmente
todos tivessem falecido. Um típico exemplo de aplicação de ética utilitarista.
Apesar da situação de necessidade em que os sobreviventes se encontravam,
foram condenados pela Justiça inglesa.

O breve relato dos fatos faz pensar: o que faríamos numa situação
extrema como essa? Deixando a perspectiva legal de lado, seria moralmente
aceitável sacrificar uma vida para manter outras? Há como mensurar o valor de
uma vida?
O jovem taifeiro, era candidato natural ao sacrifício, já que morreria de
qualquer maneira, por ter bebido água salgada. Ademais, não tinha pais nem
dependentes, sua morte não privaria o sustento de ninguém, ao contrário de
Dudley e Stephens, que tinham mulher e filhos.

Ao se defender perante o Tribunal, Dudley alegou que o assassinato de


Parker salvou a vida de três homens, e que se não tivessem feito, todos teriam
sucumbido à fome e à sede. Declarou que procurou maximizar o bem, já que a
morte de Parker contribuiu para a sobrevivência dos outros três sobreviventes
no bote salva – vidas.

Acrescentou ainda, que a morte do taifeiro foi a de menor impacto


perante a sociedade, uma vez que os três sobreviventes tinham mulher e
família para sustentar, ao contrário de Parker, que não tinha mulher, nem filhos
e era órfão.Logo, Dudley procurou analisar as consequências de seus atos e
maximizar o bem ao máximo possível. Seu argumento pode ter sido baseado
na teoria consequencialista sobre a moralidade de seus atos.

Após a breve descrição do fato, deve-se analisar: O que faríamos numa


situação como essa? De início, é muito fácil repugnar o canibalismo, posto que
não é moralmente nem legalmente aceitável a conduta de um ser humano se
alimentar de carne de seu semelhante.

Mas o caso descrito ocorreu em situação extrema, onde a fome já


desestabilizava as emoções e o instinto de sobrevivência aflorou. Sem analisar
a perspectiva legal do fato, é moralmente aceitável que uma pessoa seja
sacrificada para a sobrevivência de um grupo? O ato de canibalismo praticado
por Dudley e Stephens pode ser moralmente aceitável diante da situação em
que se encontravam?

É certo que a necessidade não justifica atos ilegais, mas existe um grau
de necessidade que se exonera a culpa? O canibalismo é uma prática
moralmente e legalmente reprovável em todas as sociedades do mundo, mas é
importante relevar que as regras que permeiam a sociedade são formuladas
em abstrato, ou seja, podem surgir novas situações em que as situações
previamente legisladas não se encaixem.

Se analisarmos o caso com base no utilitarismo de Benthan, é possível


considerar correta os atos de Dudley e Stephens, já que os mesmos pensaram
em seus entes queridos, na necessidade que passariam caso morressem, ou
seja, na felicidade e bem-estar que proporcionariam caso retornassem à suas
casas com vida, ao contrário de Parker, que não tinha dependentes.

Entretanto, há que se falar que o caso não é tao simples: há como se


mensurar o grau de felicidade e bem estar que as vidas de Dudley e Stephens
proporcionarão, mas, e sobre o valor da vida que todos gozam? Como uma
vida pode ser mais valorosa que a outra?

Todas as vidas tem valor igual, é um direito natural do ser humano.


Contudo, sob a ótica de Bentham, deve-se considerar a tripulação, bem como
todas as pessoas envolvidas no evento: a família dos náufragos e a sociedade.

2.Considerações sobre a ética utilitarista de Jeremy Bentham

Jeremy Bentham, filósofo e jurista inglês, em sua obra Uma introdução


aos princípios da moral e da legislação (1798), constata que a natureza do ser
humano está sujeita a duas emoções: a dor e o prazer. As ações humanas são
determinadas de acordo com as dores e prazeres envolvidos com o ato, ou
seja, institivamente, busca-se o prazer e repele-se a dor.

Com base neste paradigma, Bentham elaborou o “Princípio da


Utilidade”, para julgar qual comportamento é correto ou não, na medida em que
proporcione maior felicidade à coletividade.

Na mesma obra, arguiu que todas as decisões sociais e políticas devem


visar o alcance da máxima felicidade para o maior número de pessoas, ou caso
não fosse possível, minimizar o sofrimento. O valor moral das decisões
relacionava-se diretamente com sua utilidade ou eficiência, ou diminuir o
sofrimento e a dor2. Conforme esse entendimento, o princípio da utilidade
nortearia os legisladores em casos de conflitos de interesse.

Desta forma, Bentham propõe um “cálculo de felicidade”, como forma de


mensurar o grau de felicidade sentida e proporcionada pelo indivíduo,
considerando a felicidade e o bem- estar da coletividade.

Uma das objeções em relação à teoria utilitarista diz respeito à


desconsideração aos direitos individuais quando defende que a soma das
satisfações da coletividade é mais importante que a do indivíduo. Conforme
assentado por Michael Sandel:

“A vulnerabilidade mais flagrante do utilitarismo, muitos


argumentam, é que ele não consegue respeitar os direitos
individuais. Ao considerar apenas a soma das satisfações,
pode ser muito cruel com o indivíduo isolado. Para o utilitarista,
os indivíduos tem importância, mas apenas enquanto as

2
KETZER, Patricia. O caso da Coroa contra Dudley e Stephens e o Utilitarismo . Anais do Simpósio de
Filosofia e Direito, Vol. 1, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo – RS, 2015.
preferências de cada um forem consideradas em conjunto co
as de todos os demais. E isso significa que a lógica utilitarista,
se aplicada de forma consistente, poderia sancionar a violação
do que consideramos normas fundamentais da decência e do
respeito no trato humano [...]”

Outro filósofo utilitarista, John Stuart Mill reformula a teoria proposta por
Bentham, conciliando as premissas utilitaristas com os direitos individuais,
defendendo que a liberdade individual é inerente a todo ser humano, que todos
são livres pra fazer o que desejam, desde que não interfiram ou prejudique a
vida de outros.

Sandel inclina-se a concordar com Mill, no sentido de que o respeito aos


direitos individuais é justificado pela promoção do progresso social, ou seja, só
seriam promovidos caso houvesse progresso.

3. Conclusão

No caso supramencionado, sob a ótica das doutrinas éticas do


Utilitarismo, nota-se que se vertente de Bentham concorda veementemente
com a atitude extrema de matar Parker em prol da vida dos outros tripulantes,
pois o custo- benefício da vida dos outros tripulantes, que eram arrimo de
família, eram mais valiosos.

Logo, a morte de Parker diminuiu o sofrimento das pessoas, e o crime


de homicídio e o valor da vida humana foram relativizados em prol de um “bem
maior”. Sob a ótica de Mill, os direitos de Parker deviam ser considerados, uma
vez que os direitos individuais devem ser sopesados.

É certo que em situações extremas, o instinto de sobrevivência fala mais


alto: As leis e costumes vigentes podem ser relativizados, em defesa do direito
mais natural de todos: o direito à vida.

Os jornais da época simpatizavam com Dudley e Stephens, defendiam


que a motivação do ato foi a preocupação com seus entes queridos, mas
muitos argumentam que o ato não é diferente de um crime comum.

Portanto, a interpretação racional e fria do assunto, independente da


vertente legal, vê-se que o utilitarismo oferece uma visão de moralidade
baseada na felicidade geral, convertendo as ações individuais em custo-
benefício para o coletivo.
Referências:

KETZER, Patricia. O caso da Coroa contra Dudley e Stephens e o Utilitarismo . Anais do


Simpósio de Filosofia e Direito, Vol. 1, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo – RS, 2015.

SANDEL, Michael. Justiça: O que é fazer a coisa certa? 15. Ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2014.

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