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ISSN online:2326-9435
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
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O Escola Sem Partido, desse modo, defende o apartidarismo para questionar o
posicionamento de professores em sala de aula, visualizados como transmissores de
conhecimento de forma tendenciosa. Nos PL’s, objetos de estudo desse trabalho, em seus art.
2º, inciso I se defende a “neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado”. Assim,
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Frigotto(2017), pelos bancos centrais e ministérios da economia. Desse modo, visa-se o lucro
do setor privado e o sucateamento do setor público.
Essa estrutura invade a educação e está presente no ESP, visto que sua concepção de
educação vai em consonância com interesses de diversos grupos que visam, oportunidades de
ganhos econômicos, esta que possui uma concepção de ensino pautado em uma racionalidade
técnica e gerencial (Girotto, 2016).
Todo esse contexto histórico, possui uma vertente ideológica que vence, atualmente,
sobre as demais. É importante reforçarmos como a história do Brasil, desde seus primórdios,
vem se configurando com a vitória de uma frente política ideológica sobre outra. Desse modo,
ações como o ESP fazem jus a toda essa sistemática que o circunscreve: o sistema capitalista,
que prima pela ganância e pela sociedade de classes, de caráter desigual tanto econômica,
social, educacional e culturalmente, como conseqüência de um processo de ditaduras e golpes
institucionais (Frigotto, 2017).
Devemos nos lembrar que educação é um “ato político”, outro ponto para
compreendermos o que significa o Programa ESP, tanto que este era, de acordo com
Algebaile (2017), o slogan utilizado para questionar a idéia sobre educação que prevalecia
durante o período da ditadura: como algo estritamente técnico e independente da política.
Percebe-se que essa idéia acaba voltando, o que demonstra como as forças reacionárias se
mostram fortes em nossa atual conjectura.
Fica evidente que o princípio da neutralidade defendido no movimento Escola Sem
Partido é inexistente, pois se encontra vinculado a um partido, apesar deste não se associar
diretamente. Essa constatação pode ser evidenciada a partir do seguinte fato indicado por
Vasconcelos (2016): A formação da ESP se dá por partidos e pessoas da “nova direita, dentre
os quais se encontram o Movimento Brasil Livre, envolvido na direção dos protestos de
impeachment de Dilma Rousseff, Deputados dos partidos PSC, PMDB, PSDB e a bancada
evangélica.
Além dos nomes envolvidos nos referidos projetos que são objeto desse estudo,
podemos citar outros, como, conforme Brait (2016): a família Bolsonaro, no Rio de Janeiro;
Erivelto Santana (PSC-BA), que apresentou o primeiro projeto Nacional; Orley José da Silva,
militante do evangelismo universitário; João Campos, deputado federal (PSDB-GO), autor do
projeto apelidado como “cura gay”; Rogério Marinho, deputado Federal (PSDB-RN), que
apóia um ensino qualificador da mão de obra. Outro importante nome a citar é Rodrigo
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Constantino, formado em economia e membro fundador do instituto Millenium3 (IMIL) e
autor do livro Privatize Já.
Percebe-se por que nos PL’s em questão, as escolas particulares não são criticadas,
visto todo um contexto histórico e político acima explicitado. Além disso, estas podem ser
controladas pelos pais dos estudantes, assim, constata-se também uma questão de âmbito
social como pode ser visto na defesa que o Escola Sem Partido empreende tendo como base o
art.12 da Convenção dos Direitos Humanos, utilizada parcialmente para argumentação do
programa: “Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus filhos ou pupilos
recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções”
(ONU.OEA, 1969 p.3).
Apesar do Brasil ter como um de seus princípios a laicização do estado, conforme
Cunha (2016), este não ocorre como deveria e um exemplo clássico disso seria a permanência
do ensino religioso nas grades curriculares. Em conformidade ao mesmo autor, fazendo
menção a um dos capítulos de Maria Betânia de Melo Ávila, intitulado “Reflexões sobre
laicidade”, a Igreja Católica fez parte da colonização dos povos brasileiros impondo-os
conversões ao catolicismo; o que contribuiu para a sociedade intolerante e hierárquica que
temos em nossa cultura, assim como para o fenômeno citado anteriormente, de hegemonia da
religião cristã.
A burguesia adere a esse discurso religioso, além de estar preocupada com seus
interesses financeiros. Atualmente, com a secularização da cultura, percebe-se uma mudança
cultural, em nossa sociedade e na família, fato que amedronta os defensores da moral e dos
bons costumes cristãos. Defrontamos com um futuro incerto, no qual muitos preferem se
apoiar no que já existe, fato que engendra movimentos reacionários como o ESP. (CUNHA,
2016).
O programa Escola Sem Partido busca controlar e perseguir ideias que divergem das
suas, mostrando-se como anti-democrático, visto que não apresenta “os dois lados da moeda”
para o estudante. É um projeto educacional que vincula-se a um contexto de golpe de estado,
objetivando combater seu inimigo declarado, juntamente a sua ideologia: o Partido dos
Trabalhadores, acusados de todos os males do país (CUNHA, 2016).
Com todo esse contexto como pano de fundo do projeto de ESP fica evidente o porquê
do alvo se tornar o professor, mudando seu papel para um técnico com função de
simplesmente transmitir um programa pré-determinado. A partir desse controle se conquista o
almejado pelo estado capitalista e as frentes políticas reacionárias em nosso país: a “produção
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de subjetividades normalizadas” (BÁRBARA, CUNHA e BICALHO, 2017), para que possam
impingir a toda a sociedade uma única ideologia.
[...] o óculos que temos atrás dos olhos. Ao encarar a realidade, não vejo
meus próprios óculos, mas são eles que me permitem que me permitem
enxergá-la. A ideologia é esse conjunto de ideias incutidas em nossa cabeça
e que fundamentam nossos valores e motivam nossas atitudes (BETTO,
2016, p.66).
Compreende-se que ideias não surgem ao léu, mas possuem uma gênese, que seria o
contexto social e histórico no qual o sujeito se insere, este que é permeado por tradições,
valores familiares, princípios religioso, meios de comunicação e cultura (BETTO, 2016).
Desse modo, não existe ninguém sem uma ideologia e, com a análise anterior a respeito do
contexto que engendra o ESP, nota-se que este possui uma, relacionada aos setores
conservadores-liberais da sociedade.
O citado anteriormente pode ser confirmado com base em Ximenes (2016), segundo o
qual, esse pretensioso controle ideológico sobre professores e alunos relaciona-se com demais
reformas de caráter gerencial. Entre elas podemos citar a diminuição de recursos destinados a
educação pública, ou seja, as investidas de privatização da mesma; as tentativas para
militarizar a educação; entre outros, fatos que dão indícios de uma intencionalidade de projeto
social relacionado a ideologia liberal-conservadora. “Nesse contexto, os direitos
fundamentais, e especificamente o direito à educação, impõem barreiras contra o
autoritarismo e o esvaziamento do sentido democrático das escolas públicas” (Ximenes, 2016.
p. 58).
É perceptível o retrocesso que estamos vivenciando atualmente, principalmente a
partir de projetos como o Escola sem Partido, que fazem inferência a tentativa de uma
sociedade totalitária, caracterizada por Picoli (2017) como a investida na anulação das
pluralidades sociais, em formar um mundo de iguais. A igualdade que se almeja, no entanto,
não contempla a de direitos, muito menos a liberdade individual, tendo em vista que a política
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é anulada e o indivíduo não surge em sua individualidade. Complementando, o autor faz uso
da teoria de Arent (1973) para explicitar o que objetiva o totalitalismo:
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política curricular, que objetiva uma escola de um partido único, intolerante as diversas visões
de mundo, próximo tópico a ser abordado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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ww.escolasempartido.org
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Advogado e Procurador do estado de São Paulo. Fundador e líder do movimento escola sem partido.
Idealizador do texto que engendrou diversos projetos de lei. Articulador, até o ano de 2013, do instituto
Millenium.
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De acordo com Silveiro (2013), o instituto Millenium é um Advocacy think tank brasileiro,conhecido no Brasil
como centro de pensamento, banco de ideias ou viveiro de ideias. Com sede no Rio de Janeiro, conta com o
apoio de importantes grupos empresariais e dos meios de comunicação de massa, buscando influenciar
a sociedade brasileira, por intermédio da disseminação de ideias liberais. Além disso, sua equipe composta por
representantes, especialistas e colunistas prestam consultoria as empresas, ofertando as mesmas, como produto
final, relatórios pagos, acessíveis ao cliente e feitos sob medida para a necessidade dele.
REFERÊNCIAS
ALGEBAILE, Eveline. Escola Sem Partido: o que é, como age, para que serve. In:
Gaudêncio Frigotto (org.). Escola “sem” partido – Esfinge que ameaça a educação e a
sociedade brasileira. Rio de Janeiro: LLP/UERJ, 2017. p.63-74.
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ou como projetos neoconservadores e liberais negam a educação para todos. Revista de
História e Estudos Culturais, v. 14, no 1, p. 1-19, jan./ jun. 2017.
BÁRBARA, Isabel Scrivano Martins Santa; CUNHA, Fabiana Lopes da; BICALHO, Pedro
Paulo Gastalho de.Escola Sem Partido: visibilizando racionalidades, analisando
governamentalidades. In: Gaudêncio Frigotto (Org.). Escola “sem” partido: esfinge que
ameaça a educação e a sociedade brasileira. Rio de Janeiro: UERJ, LLP, 2017. p. 105-120.
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BETTO, Frei. “Escola sem Partido”?. In: Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e informação
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São Paulo: ação educativa, 2016. p.66-67.
BRASIL. Projeto de lei nº 193 de 2016. Inclui entre as diretrizes e bases da educação
nacional, de que trata a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, o "Programa Escola sem
Partido". Senado Federal, Brasília, DF. 04, maio, 2016.
BRASIL. Projeto de lei nº 867 de 2015. Inclui, entre as diretrizes e bases da educação
nacional, o "Programa Escola sem Partido". Câmara dos Deputados, Brasília, DF. 23, março,
2015.
ESPINOSA, Betty R. Solano; QUEIROZ, Felipe B. Campanuci. Breve análise sobre as redes
do Escola sem Partido. In: Gaudêncio Frigotto (Org.). Escola “sem” partido: esfinge que
ameaça a educação e a sociedade brasileira. Rio de Janeiro: UERJ, LLP, 2017. p. 49-62.
FREITAS, Nivaldo Alexandre de; Baldan, Merilin. Dossiê Escola Sem Partido e formação
humana. Fênix, Uberlândia, v.14, n. 1, p. 1-8, jan./jun. 2017.
FREITAS, Nivaldo Alexandre de. Escola Sem Partido como instrumento de falsa formação.
Fênix, Uberlândia, v.14, n. 1, p. 1-20, jan./jun. 2017.
FRIGOTTO, Gaudêncio. A gênese das teses do Escola sem Partido: esfinge e ovo da
serpente que ameaçam a sociedade e a educação. In: Gaudêncio Frigotto (Org.). Escola
“sem” partido: esfinge que ameaça a educação e a sociedade brasileira. Rio de Janeiro:
UERJ, LLP, 2017. p. 17-33.
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NAGIB, Miguel. A doutrinação é um problema grave na educação brasileira? Por quê?
[2004]. Disponível em: http://www.escolasempartido.org/faq. Acesso em: 31 março 2018.
PICOLI, Bruno Antonio. Totalitarismo na escola: uma análise dos Projetos de Lei do
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Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e informação (Org.). A ideologia do movimento Escola
Sem Partido: 20 autores desmontam o discurso. São Paulo: ação educativa, 2016.p.49-58.
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