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CENTRO DE HUMANI DADES


B ACHARELADO EM FILOSOFIA

JOSÉ WALDEN LINS MEL O FILHO


JOSUE VIEIRA DA SILVA
JUSSARA MARIA DE SOU SA M ATOS
RAÍ FRANCISCO DO NAS CIMENTO

AGOSTINHO DE HIPONA – SO BRE O PROCESSO DE


CONHECIMENTO DO SENS ÍVEL

FORTALEZA – CEARÁ
2018
1

José Wal den Lins Melo Filho - Matrícula 1457519


Josue Vieira da Silva - Matrícula 1457929

Jussara Maria de Sousa Matos - Matrícula 1457572

Raí Francisco do Nasci mento - M atrícula 1458004

AGOSTINHO DE HIPONA – SO BRE O PROCESSO DE


CONHECIMENTO DO SENS ÍVEL

Trabalho em equipe da disciplina Teoria do


Conhecimento, do Curso de Filosofia da
Universidade Estadual do Ceará – UECE.

Orientador: Prof . Halph Leal Heck

FORTALEZA – CEARÁ
2018
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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata sobre a vida e algumas das principais


contribuições filosóficas de Aurelius Augustinus Hipponensis , o Agostinho de
Hipona, ou como é mais conhecido, Santo Agostinho. Inicialmente, tendo o
relato de sua vida como fonte, será tratado sobre o processo de conhecimento
do sensível vi venciado por ele , e, como consequência, sua busca interior e o
processo de aprendizado pela interiorização.
Considerando exa tamente essa conclusão quanto ao verdadeiro
caminho encontrado por ele da busca por Deus, que complementamos este
estudo, baseado na obra “Confissões” , com a publicação “A Trindade” , do
mesmo autor.
Um dos mais importantes filósofos e teólogos dos primeiros anos do
cristianismo, cujas obras foram muito influentes na filosofia ocidental e no
desenvolvimento do próprio catolicismo medieval . Foi bispo de Hipona, cidade
da província romana da África.
Nasceu em 13 de novembro de 354 d.C., em Tagaste, e faleceu em 28
de agosto de 430 d.C., em Hipona, Annaba, Argélia .
Além de ter como fontes principais as obras “Confissões” e parte de
“A Trindade” , como já informado, foram usadas algumas referências externas
sobre as mesmas, devidamente identificadas na bibliogra fia.
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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Confissões – Li vro I

Já no Li vro I Agostinho reconhece que Deus está no homem, e assim


sendo, este é o caminho para acesso ao mesmo.

E co mo invo car e i meu D eus, meu Deus e meu S e nho r , se ao invo cá -


lo o far ia cer t a me nt e dent ro de mi m? E que lugar há e m m i m p ar a
r eceber o meu Deu s, po r o nde Deus de s ça a mi m, o Deus que fez o
céu e a t er r a? S enho r , haver á e m mi m a lgu m e spaço que t e po ssa
co nt er ? Acaso t e co nt êm o céu e a t er r a, que t u cr ia st e, e dent ro do s
qua is t ambé m cr iast e a mi m? S er á, t alve z, pe lo fat o de nada do que
exist e se m T i, que t o das as co isa s t e co nt ê m? E , ass im, se e xist o , que
mo t ivo po de ha ver par a T e pedir que ve nha s a mim, já que não
exist ir ia se e m m i m não habit á sse is ?

Fa z um relato de suas primeiras lembrança s e da infância, assim


como de comportamentos quando era muito pequeno os quais nem recorda, e
que foram relatados por outros.

Ainda na infância Agostinho afirma já ter ouvido falar da vida eterna,


e narra sobre seu batismo.

Ainda me nino , o uvi fa lar da vida et er na, que no s est á pro met ida pe la
hu m i ldade de Jesus, no sso S enho r , que desceu at é no ssa so ber ba; e
fu i mar cado co m o sina l d a cr uz, sendo -me dado sabo r ear de seu sa l
lo go que saí do vent r e de minha mãe, que se mpr e esper o u mu it o em
t i.

Confessa o a utor que na infância não tinha amor ao estudo; mas sim
certo ódio. Apesar de que , ao crescer, reconhecer que todas as vezes que o
forçaram a estudar grande bem lhe fez. Porém, que detinha paixão pelo latim,
enquanto odiava o grego, desenvol vendo uma verdad eira aversão a este idioma.

2.2 Confissões – Li vro II

Inicia relatando sobre sua adolescência. Lembrava de que foi nesta


fase da vida que se fartava de paixões e de prazeres.
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T e mpo ho uve de minha ado lesc ê nc ia e m que ar di e m d ese jo s de me


far t ar do s pr az er es ma is ba ixo s, e o use i a best ia l idade de vár io s e
so mbr io s a mo r es, e se mur cho u minha be lez a, e me t r ans fo r me i e m
po dr idão dia nt e de t eus o lho s, par a agr adar a mim mes mo e dese jar
agr adar ao s o lho s do s ho me ns.

Narrou sobre suas diversas experiências re lacionais, estas as quais já


mostram o quanto as experiências ligadas ao sensível serão presentes e
importantes da vida de Agostinho.

Mas o nde est ava eu ? Oh! Quão lo nge, exi lado das de lic ias de t ua casa
naque le s meus deze sse is a no s de idad e ca r na l, qua ndo est a empu nho u
seu cet ro so br e mi m, e eu me r end i t ot alme nt e a ela, à fúr ia da
co ncup iscê nc ia que a degr adação hu ma na leg ít i ma, por é m, il íc it a, de
aco r do co m as t uas le is.

Também descrever sua relação com os pais. Que aos dezesseis anos,
por falta de recursos financeiros, teve que abandonar os estudos e voltar a morar
com eles.
Descreve que foi exatamente nessa época que junto à mãe surge sua
ligação com o Deus cristão. E neste trecho encontramos uma contradição nos
relatos de Agostinho, pois no livro I af irma já ter tido a experiência do batismo
quando pequeno, enquanto aqui afirma não o ter sido ainda, como podemos ver
a seguir:

Mas, ne ssa épo ca, já t inhas co meç ado a le va nt ar , no cor ação de minha
mãe, t eu t emp lo e o s alicer ce s de t ua sant a mo r ada; meu pa i não er a
ma is que cat ecúme no , r ecent e aind a. Po r is so minha mãe per t ur bo u -
se co m sa nt o t emo r . E mbo r a eu ainda nã o fo sse bat izado , t emia que
eu segu is se as se nda s t ort uo sas por o nde anda m o s que t e vo lt a m as
co st as, e não o ro st o .

Neste livro afirma ainda qu e é através do contato carnal que “ cada


um dos sentidos percebe nos corpos certa modalidade própria. ” Que apesar dos
bens ínfimos do sensível terem seus encantos e deleites, não são comparáveis
aos de Deus.
Também é neste livro que Agostinho reconhece Deus como o sumo
bem.

2.3 Confissões – Li vro III


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Agostinho relata sobre suas experiências ligadas ao amor sensível e


às paixões, desde quando chegou a Cartago. “ E por isso minha alma não estava
bem e, ferida, voltava -se para fora de si, ávida de se roçar miseravelmente às
coisas sensíveis; se porém não tivessem alma, não seriam certamente amadas. ”

Ca í po r fim no a mo r , e m que de se j a va ser co lhido . P or ém, ó meu


Deus, miser icó r dia minha, quant o fe l não mist ur ast e àquela
sua vidade, e quão bo m fo st e ao fazê - lo ! Fu i a mado , e chegue i
secr et a me nt e ao s laço s do pr azer , e me de ixe i a legr e me nt e enr edar
co m t r aba lho so s la ço s, par a ser lo go aço it ado co m as var as de fer r o
ar dent e do ciú me, das suspe it a s, do s t emo r es, das ir as e das
co nt endas.

Identifica Agostinho que foi nesta época, aos dezenove anos, ao ter
acesso à obra Hortênsio, de Cícero, que tem estímulo, incitação , à filosofia,
que mudou seus sentimos sobre seus votos e anseios interiores, se voltando para
Deus. Também que foi nesta obra que teve acesso a autores de épocas anteriores
que busca ram ludibriar com filosofias vans, os quais foram i dentificados e
refutados por Cícero. Nesta mesma época resolveu estudar a Sagrada Escritura.
Contudo, naquele momento não a considerou digna de ser comparada à obra de
Cícero. Dá a entender também que posteriormente viria a compreender que a
Sagrada Escritura tem mistérios a serem revelados, os quais não foram
alcançados nesta época decorrente de sua sober ba, pois se achava grande.

E nt r e essa ge nt e est udava eu, e m t ão t enr a idade, o s livr o s da


e lo quênc ia, na qua l dese ja va so br essa ir co m o fim co nde ná ve l e vão
de sat is fazer à va idade hu ma na. M as, se gu indo o pro gr ama u sado no
ens ino desse s est udo s, chegue i a u m l ivr o de Cíc er o , cuja l inguage m,
ma is do que seu co nt eúdo, quase t o do s ad mir a m. E sse l ivr o co nt é m
u ma e xo rt ação à fi lo so fia, e se cha ma H o rt êns io . E sse livr o mudo u
meu s se nt ime nt o s, e t r ans fer iu par a t i, S enho r , minhas súp lic as, e fez
co m que mudas se m meus vo t o s e dese jo s . S ubit a me nt e, t or no u - se vil
a meu s o lho s t o da vã esper a nça, e co m in cr íve l ar do r de meu co r ação
susp ir a va pe la sa bedo r ia i mo r t al, e co me ce i a me r eer guer par a vo lt ar
a t i. Não er a par a li mar a linguage m – aper fe iço a me nt o que, par ece,
eu co mpr ar ia co m o dinhe ir o de minha mãe, naque la idade de meu s
deze no ve ano s, faze ndo do is que mo r r era meu pa i – não er a, r epit o ,
par a li mar o est ilo que eu me ded ica va à le it ur a daque le liv r o , ne m
er a seu est ilo o que a ela me inc it a va, mas o que ele d iz ia.

Foi neste momento da vida de Agostinho que sua relação com os


maniqueístas 1 deu início.

1
Manique ís mo : Do ut r ina do sacer dot e per sa Mani ( lat . M ani chaeus) , que viveu no século
I I I e pro cla mo u - se o P ar aclet o , aque le que devia co nduz ir a do ut r ina cr ist ã à perfe ição . O
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Reconhece o autor que por ainda desconhecer a verdadeira justiça


interior, assim como o que chama de verdade, se deixou ludibriar pelos
maniqueus, inclusive se deixando perturbar pelas perguntas que o faziam,
considerando que não tinha respostas, como “ de onde procedia o mal ”. Que
“ignorava totalmente o princípio de nossa existência, que há em nós, e p elo
qual a Escritura nos chama de imagem e semelhança de Deus. ”
Todavia, também que posteriormente, ao perceber as opiniões dos que
chamou de insensatos, conseguiu reconhecer a verdade, na qual, por exemplo,
consta que o mal nada mais é do que a ausência do Bem, ou seja, de Deus, já
que Deus é o Sumo Bem, o summum bonum.

Não co nhec ia t ampo uco a ver dade ir a jus t iça int er io r , que não ju lg a
pe lo co st ume, ma s pe la le i r et ís s ima do Deus o nipo t ent e. Po r ela se
hão de fo r mar o s co st ume s do s países co nfo r me o s me s mo s pa íses e
t empo s, e sendo a mes ma e m t o das as par t es e t empo s, não var ia de
aco r do co m as lat it udes e as épo cas; le i essa segu ndo a qual fo r a m
just o s Abr aão , I saac, Jacó e Davi, e t o do s o s que são lo uvado s pe la
bo ca de Deus. Os ig no r ant es, ju lga ndo as co is as de aco r do co m a
sa bedo r ia hu ma na, e med indo a co ndu t a alhe ia p e la pr ó pr ia, o s
ju lga m iníquo s. É co mo se u m ig no r ant e e m ar madur as, não sabe ndo
o que é pró pr io de cada me mbr o , quise sse co br ir a cabeça co m a
co ur aça e o s pés co m o elmo , e se queixasse de que as peças não se
lhe adapt e m co nve nie nt e me nt e. Ou co mo se a lgué m se qu e ixas se de
que, e m det er mina do dia co ns ider ado fer iado do me io - d ia e m d ia nt e,
não lhe per m it isse m ve nd er a mer cado r ia à t ar de, co mo aco nt ecer a
pe la ma nhã; o u po r que vê que na mes m a c asa per mit e - se a u m es cr avo
qua lquer t o car no que não é per mit ido ao co pe ir o ; o u por que não se
per mit e fazer d ia nt e do s co me nsa is o que se faz at r ás de uma
est r ebar ia ; o u, fina l me nt e, se ind ig na sse po r que, sendo uma a ca sa e
u ma a fa m í l ia, não se at r ibu ís se m a t o dos as me s mas co isa s.

2.4 Confissões – Li vro IV

Neste livro Agostinho trata de memórias dos seus dezenove anos aos
vinte e oito.
Segundo suas próprias palavras abaixo, reconhece que neste período
se deixou seduzir, assim como seduziu, se deixou enganar assim como enganou.

M. é uma m ist ur a imag ino sa de e le me nt os gnó st ico s, cr ist ão s e or ie nt ais, so br e as base s do


dua lis mo da r e lig ião de Zo ro ast ro. Ad mi t e do is pr in c íp io s: u m do be m, o u pr inc í p io da
luz, e o ut ro do ma l, o u pr inc íp io das t r eva s. No ho me m est es do is pr inc íp io s são
r epr esent ado s po r duas almas: a co r pó r ea, que é a do ma l, e a lu m ino sa, que é a do be m. O
M. fo i mu it o d ifu nd ido no Or ie nt e e no Oc ide nt e; a qu i dur o u at é o sécu lo VI I. O gr ande
adver s ár io do M. fo i Ago st inho , que dedico u gr ande nú mer o de o br as à sua r efut ação . Cf.
H. C. P UE CH, L e M ani chéi sme: son f ondat eur, as doct ri ne, P ar is, 1949.
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Dur ant e esse per ío do de no ve a no s – do s deze no ve at é o s vint e e o it o


ano s – fu i seduz ido e sedut or , enga na do e enganado r , co nfo r me
m inhas mu it as pa ixõ es ; publ ica me nt e, co m aque las do ut r inas que se
cha ma m l iber a is ; o cu lt a me nt e, co m o fa lso no me de r e lig ião ,
mo st r ando - me aqu i so ber bo , ali super st ic io so , e em t o da part e
va ido so . Or a per segu indo a aur a da glo r ia po pular at é o s aplauso s do
t eat ro, o s cert ames po ét ico s, o s t o r neio s de co ro as de fe no , as
bagat e las de espet ácu lo s e a i nt e mper a nç a da lu xúr ia ; o r a, deseja ndo
mu it o pur ific ar - me des sas imu nd íc ie s, le va ndo ali me nt o ao s
cha mado s “e le it o s” e “sa nt o s”, par a que na o fic ina de seu est ô mago
fa br icas se a njo s e deu ses que me l iber t asse m. T a is co isas segu ia eu
e pr at ica va co m meu s a m igo s, ilud ido s co migo e po r mi m.

Agostinho aqui também expressa sobre a beleza efêmera, que é


acessível pelo sensível. Que estas nascem e morrem, como tudo neste plano
físico. Que algumas apesar de não envelhecerem, também perecem.

Ó Deus das vir t udes! C o nver t e - no s e mo st r a - no s t ua face, e ser emo s


sa lvo s ! P o r que, par a o nde quer que se vo lt e a a lma hu ma na, o nde
quer que se est abe le ça fo r a de t i, se mpr e enco nt r ar á do r, mes mo que
se ja m a s be leza s que est ão fo r a de t i e fo r a de s i me s ma ; e t o davia,
est as nada s er ia m s e não exist iss e m e m t i. E las na sce m e mo r r e m; e,
na sce ndo , co meç a m a e xist ir , e cr esce m par a a lca nçar a per fe ição e,
u ma vez per fe it as, co meça m a enve lhe cer e mo r r em. E mbo r a ne m
t udo enve lheça, t udo per ece. Lo go , quando o s ser es nasce m e s e
es fo r ç a m par a exist ir , quant o ma is dep r essa cr esce m p ar a exist ir ,
t ant o ma is se apr essa m p ar a de ixar de exist ir . E st a é a sua co nd iç ão .
E is t udo o que lhe s dest e, po r que são part es de co is as que não exist e m
s imu lt a ne a me nt e mas, mo r r endo e sucedendo - se u mas às o u t r as,
fo r ma m o co nju nt o de que são part es.

Agostinho enfatiza a importância do retorno da alma à origem,


quando diz: “ Ouve também: o próprio Verbo clama que voltes, porque só
acharás repouso imperturbável lá onde o amor não é abandonado, se ele não nos
abandona antes. ” Mas este ouvir se deve dar pel a audição interior, não pela do
sensível.

E nt ão eu ig no r ava t ais co isas – e po r is so ama va be lezas t er r enas.


Ca minha va par a o abis mo , dize ndo a meu s a migo s: “S er á que ama mo s
a lgo que não é be lo ? E que é o be l o ? E que é a be leza ? Qu e é que no s
at r ai e apega às co is as que a ma mo s ? P o is, co m cer t eza, se ne las não
ho uve sse cer t a gr aça e fo r mo sur a, não no s at r air ia m.

O autor deixa claro sua dependência do sensível nesta fase da vida,


pois o belo a que se refere é p erceptível somente por ele. E que sobre este belo
efêmero muito escreveu posteriormente , em diversos livros.
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Reconhece Agostinho que sua alma vaga va pelas coisas corpóreas,


definindo então o belo como as coisas que agradam por si mesmas, “ o
conveniente com o o que agrada por sua acomodação a outra coisa, e apoiava
essa distinção com exemplos tomados dos corpos .” Que desta percepção passou
posteriormente às coisas relacionadas à natureza da alma; entretanto,
considerando que o conceito que ainda tinha era falso, não o permitir conceber
a verdade.

A pr ó pr ia fo r ça da ver dade sa lt ava - m e ao s o lho s, ma s lo go eu


a fast a va da r ea lid ade inco r pó r ea meu e s p ír it o inqu ir ido r , vo lt ando -
me par a a s figur as, as co r es e as gr and ezas mat er ia is. E co mo não
po dia ver nada se me lha nt es na a lma, ju lga va que t ampo uco ser ia
po ss íve l ver minha a lma.

Chegou à conclusão de que na paz da virtude residia a alma racional,


pois nela encontrava unidade, enquanto que na discórdia do vício achava apenas
desunião.
Foi por volta dos vinte ano s de idade que teve acesso a Aristóteles.
Entretanto, não ficou muito satisfeito, pois considerou que seus mestres de
então não conseguiram acrescentar-lhe nada além do que já tinha conseguido
compreender por si próprio através da leitura, ou seja, que tra tava sobre as
formas sensíveis.
Que aprendeu tudo o que l eu, “quanto às leis da retórica, da dialética,
da geometria, da música e da matemática, porque também a vivacidade da
inteligência e a agudeza da intuição são dons teus.” Todavia, não ficou
satisfeito pois reconheceu não ter feito bom uso deste dons tão preciosos, como
o próprio os definiu.

2.5 Confissões – Li vro V

Aos vinte e nove anos, em Cartago, teve contato com Fausto, bispo
maniqueu, o qual definiu como eloquente e sedutor, contudo, não portador da
verdade, já que não conseguia nem responder suas dúvidas e muito menos
comprovar as diversas teorias difundidas por eles.
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Lo go que chego u, pude not ar que se t r at ava de u m ho me m s imp át ico ,


de fa la cat iva nt e, e que expunha o s t ema s co mu ns do s ma niqueu s,
ma s co m mu it o ma is agr ado que e les. M as, que int er essa va à minh a
sede est e elega nt e co peir o de co po s pr ecio so s? E u já t inha o s o uvido s
far t o s daque las t eo r ias, e ne m me par ec ia m me lho r es po r ser e m
expo st as e m me lho r est ilo , ne m ma is ve r dade ir as pe la e legâ nc ia d e
suas fo r mas ; ne m eu co ns id er ava Faust o ma is sá bio po r t er o ro st o de
ma is gr aça e sua linguage m ma is f inu r a. Aque le s que o havia m
r eco me ndado não er am bo ns ju íz es: t inha m Fau st o co mo ho me m s á bio
e pr udent e so me nt e po r que lhes agr ada va sua f a cú nd ia.

Co nt udo , na r eunião do s o uvint es, me a bo r r ecia não po der


apr ese nt ar - lhe minha s dúvidas, e divid ir co m e le o s cuidado s de meu s
pr o ble mas, co nfer indo co m e le minha s d ificu ldad es e m fo r ma de
per gunt as e r espo st as. Quando , enfi m, o pude fazer , aco mpa nhado de
meu s a migo s, co me ce i a fa lar - lhe e m o cas ião e lugar o po rt uno s par a
t ais d is cussõ es, apr ese nt ando - lhe a lgu ma s o bjeçõ es das que ma is m e
pr eo cupava m. V i e nt ão que se t r at ava de ho me m co mp let a me nt e
ig no r ant e das ar t es liber a is, co m e xce ção da gr a mát ic a, que co nhec ia
de mo do super fic ia l.

E exatamente por ter reconhecido em Fausto uma ignorância, se


desiludiu com os maniqueus.
Em Roma sua indignação com os maniqueus se solidificou, pois cada
vez mais achava suas justificativas e explicações às fábulas por eles contadas
bastante fracas e sem veracidade, sem qualquer embasamento.
Após Roma seguiu para Milão, onde passou a ter contato com bispo
Ambrósio, o qual viria a ter forte influência intelectual e religiosa sobre
Agostinho.
E por todas estas experiências, após inclusive ter abandonado os
maniqueus, resolveu se tornar catecúmeno 2 na igreja católica.

2.6 Confissões – Li vro VI

Agostinho aqui tem percepções iniciais de Deus , também predicado


por ele como o incorruptível, e a proximidade dele para com o homem, já que
seu acesso de fato deve ocorrer pelo interior de cada ser.
“Contudo, chegavam a teus ouvidos as queixas que em meu coração
rugiam, e meu desejo estava diante de ti, mas a luz de meus olhos não estava
contigo, porque ela estava dentro, e eu olhava para fora. ”

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1. Aque le que r ecebia inst r ução pr eli m i nar e m do ut r ina e mo r al par a ser ad mit id o ent r e
o s fié is, na I gr e ja pr im it iva.
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Lo go ver ifiqu e i que vo sso s fi lho s e sp ir it ua is, a quem r ege ner ast e no
se i d a sa nt o mãe, a I gr e ja, não int er pr et ava m aque la s pa la vr as:
“F ize st e o ho me m à sua ima ge m” – de mo do a acr edit ar que est ava s
enc er r ado na fo r ma do co r po hu ma no . E embo r a eu ent ão não
so ubes se, ne m sequer susp e it as se de lo nge o que fo sse su bst ânc ia
esp ir it ua l – a legr e i- me co m is so , enver g o nha ndo - me po r t er ladr ado
dur ant e t ant o s ano s, não co nt r a a fé cat ó lica, mas co nt r a inve nçõ es
de minha int e ligê nc ia car na l. T inha s i do ímp io e t emer ár io po r
cr it icar u ma do ut r ina que eu dever ia t er ant es pr o cur ado co nhecer .
Mas t u – que est ás ao mes mo t e mpo t ão a lt o e t ão pert o de nó s, t ão
esco nd ido e t ão pr esent e, t u que não t ens me mbr o s ma io r es ne m
me no r es, que est ás int e ir o em t o da part e se m est ar t o do em ne nhu m
lugar , cer t ame nt e não t ens no ssa fo r ma c o r pór ea. Co nt udo, fizest e o
ho me m à t ua image m, e e is que e le, da cabeça ao s pés, é lim it ado
pe lo espaço .

“...a letra mata e o espírito vivifica. E, levantando o véu místico,


revelava-me o significado espiritual de passagens que, segundo a letra,
pareciam ensinar um erro. ” Com estas palavras Agostinho já intuía este
ensinamento que o bispo Ambrósio o passava, apesar de que reconheceu não ter
compreendido compl etamente na ocasião.
Defende que o homem é impotente para achar a verdade somente pela
razão, senda necessária “a autoridade das Sagradas Escrituras”.
Neste livro narra experiências e convi vências com amigos, dentre eles
Alípio, que tinha sido inclusive se u discípulo.
Afirma que através da leitura de livros dos platônicos, traduzidos do
gre go para o lati m, descobriu com outras palavras e diversos argumentos
verdades que tratam da alma e sua origem.

Ne le s eu li – não co m e st as pa la vr as, ma s su bst anc ia l me nt e o mes mo


e expr esso co m mu it o s e diver so s ar gu me nt o s – que “no pr inc íp io er a
o Ver bo , e o Ver bo est ava co m Deus, e o Ver bo er a Deus. E st e est ava
desde o pr inc íp io e m Deus. T o das as cois as fo r a m fe it as po r e le, e
se m e le nada fo i fe it o do que fo i fe it o . O q ue fo i fe it o é vida ne le, e
a vida er a a luz do s ho me ns. E a luz br il ha na s t r evas, mas as t r eva s
não a co mpr ee nd er a m. D iz ia m t a mbé m qu e a a lma do ho me m, e mbo r a
dê t est emu nho da luz, não é a luz, ma s o Ver bo , Deus, é a ver dade ir a
luz, que ilu m ina a t o do ho me m que ve m a est e mu ndo . E que nest e
mu ndo est ava, e que o mu ndo é cr iat ur a sua, e que o mu ndo não o
co nhe ceu.

Neste momento da vida de Agost inho dá a entender ter tido sua


primeira experiência mística da iluminação, descobrindo Deus através de sua
introspecção, reconhecendo -o como luz.
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E st imu lado por est as le it ur as a vo lt ar a m i m mes mo , e nt r ei, gu iado


po r t i, no pro fundo de meu co r ação , e o pude fazer po r que t e fize st e
m inha a juda. E nt r e i, e vi co m o s o lho s da a lma, ac ima d es ses mes mo s
o lho s, ac ima de m inha int e ligê nc ia, a luz imut áve l; não est a vu lg ar e
vis íve l a t o do s o s o lho s de car ne, ne m o ut r a do mes mo gê ner o ,
e mbo r a ma io r . Er a mu it o ma is c lar a e enc he ndo co m sua fo r ça t o do
o espaço. Não, não er a est a luz, ma s u ma luz d i fer e nt e de t o das est as.

Enfatizando, diz: “ Quem conhece a verdade conhece a luz, e quem a


conhece, conhece a eternidade. O amor a conhece! ”

Ó et er na ver dade, a mo r ver dade ir o , amada et er nidade ! T u és meu


Deus. P or t i susp ir o d ia e no it e. Quando t e co nhec i pe la pr ime ir a ve z,
er guest e - me par a me fa zer ver que ha via a lgo par a ser vist o, ma s que
eu a inda er a incapaz de ver . E des lu mbr a s t e a fr aqueza de m inha vist a
co m o fu lgo r do t eu br ilho , e eu est r emec i de a mo r e t emo r . P ar eceu -
me e st ar lo nge de t i nu ma r eg ião desco nhec ida, co mo se o uvir a t ua
vo z do alt o : “S o u o pão do s fo rt es; cr es ce, e co mer - me- ás. Não me
t r ans fo r mar ás e m t i, co mo faz es co m o a li me nt o da t ua car ne, ma s t u
ser ás mud ado em mi m”.

Com isto Agostinho descobre que o mal não tem existência própria,
mas é simplesmen te a ausência do bem. Que na verdade tudo é bom.
E tendo como comparação experiências sensíveis vividas até então
conseguiu perceber que o caminho verdadeiro está pelo interior, como descrito
adiante.

E , gr adualme nt e, fu i su bindo do s co r po s par a a alma, q ue sent e po r


me io do cor po ; e dela à sua fo r ça int er io r , à qual o s sent ido s
co mu nica m a s co is as e xt er io r es, que é o li mit e a lca nçado pe lo s
ani ma is. Daqu i pa sse i par a o po der do r ac io c ínio , ao qual cabe ju lgar
as per cepçõ es do s sent ido s co r por ais ; por sua v ez, ju lga ndo - se
su je it o a muda nça s, le va nt o u - se at é a sua pr ó pr ia int e ligê nc ia, e
a fast o u o pensa me nt o de suas co git ações ha bit ua is. L ivr o u - se da
mu lt idão de fa nt as ma s co nt r adit ór io s, par a desco br ir que luz a
inu nda va qua ndo , sem ne nhu ma dú vida, af ir ma va q ue o imut áve l d e ve
ser pr e fer ido ao mut áve l; e t a mbé m de o nde lhe vinha o co nhec i me nt o
do pró pr io imut áve l, po r que, se não t ives se de le a lgu ma no ção , nunc a
o pr efer ir ia ao mut áve l co m t ant a cert eza. E , fina lme nt e, chego u
àque le que é u m ú nico la mpe jo .

Apesar da experiência iluminadora, reconhece que, consequente de


sua fraqueza, retorna a maus hábitos, ficando apenas uma lembrança amorosa
da mesma e das revelações que dela advieram ou viriam, como a compreensão
que mais tarde lhe viria das palavras “o Verb o se fez carne”.
Deixa bem evidente a influência que os livros platônicos tiveram
sobre si, induzindo -o inclusive a buscar a verdade incorpórea. Que tudo que
12

encontrara nos neoplatônicos também encontrou nas “veneráveis escrituras”


inspiradas pelo Espírito de Deus, principalmente a do apóstolo Paulo. Com isto,
algumas antigas contradições que achava existir entre eles deixaram de ter
sentido, logo conseguindo compreender perfeitamente a mesma verdade em
ambos os ensinamentos.

2.8 Confissões – Li vro VIII

O autor inicia o texto com um longo desabafo, suplicando clemência


para Deus, afirmando que tinha consciência de como era bom servi-Lo. Porém,
que havia ainda dentro de si uma resistência.
Ele relata como as paixões do mundo eram cativantes. Que,
entretanto, não tinha nenhum sentido comparado com a beleza da santidade em
manter a vida para Deus.
Tentado a se livrar de todas as paixões do mundo , ou seja, adquiridas
através do sensível , Agostinho foi visitar um homem chamado Simpliciano , que
tinha sido o pai espiritual do então bispo Ambrósio, conhecido atualmente como
Santo Ambrósio.
Simpliciano narrou para Agostinho a história da fé de um jovem
chamado Vitorino. Que este, antes de se entregar ao cristianismo, defendia
deuses romanos. Contudo, que em certo momento começou a ler as escrituras
bíblicas e se pôs a investigá -las. E que quanto mais lia, mais mudara sua
concepção de verdade. Chegando com esta nova concepção a se declarar à fé
cristã, apesar de que muitos chegaram a pedir -lhe para fazer isto em segredo,
como era costume na época. Apesar dos pedidos, preferiu o fazer em voz alta ,
na presença de muitas pessoas, ou seja, publicamente.
Ao escutar algumas narrativas de Simpliciano, Agostinho se sentiu
cada vez mais aflito, pois queria fazer de algum modo o mesmo que Vitorino.
Porém, algo dentro de si ainda o impedia. Enquanto ia refletindo consigo
mesmo temia que a vontade pelos desejos mundanos fosse satisfeita pelo hábito,
e que, se aos poucos fossem contrariados, surgisse uma necessidade destes. O
próprio autor confessa que seu corpo tinha um desejo mais forte do que, na sua
concepção, seu espírito em outro, gerando assim um conflito interior.
13

Este suplício de querer a liberdade dos desejos car nais era grande, e
quanto mais tentava se aproximar de Deus, mais estes desejos lhe consumiam.
E este combate interior perdurou até quando fez uma viagem em que
foi visitar um homem chamado Ponticiano. E agostinho sobre ele afirma:
“Ponticiano e ra um crist ão fiel, e muitas vezes prostrava -se diante de ti, nosso
Deus, na igreja, em frequentes e prolongadas orações .”

Em certa insólita visita de Ponticiano, recebida por Agostinho e seu


amigo Alípio, esse lhes narrou inúmeras histórias, dentre as quais a de um
monge do E gito chamado Antão, que era bem conhecido entre os fiéis, porém,
até então desconhecido por eles. E sobre Santo Antão, contou -lhes:

E st es do is er a m o s cha mado s age nt es de negó c io s do imp er ado r . De


r epent e, t o mado de amo r sant o e cast o p udo r, ir ado co ns igo mes mo ,
o lha par a o co mpa nhe ir o , e lhe d iz: “D iz e - me, t e peço , o nde
pr et ende mo s cheg ar co m t o do s est es no sso s t r aba lho s ? Que
bus ca mo s ? Qua l a fina l idade do no sso labo r ? P o demo s asp ir ar ma i s
no palá c io do que ser amigo s do imper a do r ? E me s mo nist o , quant a
incer t eza, quant o s per igo s! E qua nt o s perigo s t er emo s de pas sar par a
cheg ar a um per igo aind a ma io r ? E quando chegar e mo s a isso ? Mas,
se eu qu iser ser a migo de Deus, po sso sê - lo ago r a mes mo ”. D iss e
essa s pa la vr as, e exa lt ado pe la gest ação da no va vid a vo lt o u o s o lho s
par a o livr o ; ao ler , t r ans fo r ma va - s e int erio r me nt e, o que só t u sabia s,
e seu esp ír it o se desp ia do mu ndo , co mo lo go se evide nc io u.

À medida que a história era contada, Agostinho se sentia angustiado


por não ter a mesma cora gem dos dois jovens.

Agostinho, em suas reflexões, pensou nos conceitos dos maniqueus,


deles fugindo quando afirma:

P or is so , busca va - a co m segur a nça, cer t o de que er a fa ls idade o que


d iz ia m o s ma niqueu s ; de le s fug ia co m t o da a alma, po r que via suas
inda gaçõ es so br e a o r ige m do ma l c he ias de ma l íc ia, pr e fer indo cr er
que t ua subst ânc ia er a pass íve l de so fr e r o ma l do que a dele s ser
suscept íve l de o co met er .

E mais, que num mesmo homem lutam uma natureza boa e outra má,
segundo os maniqueístas . Todavia, de fato, para resolver isto, segundo
14

Agostinho, o que manda é a vontade ou o hábito. E que há somente uma única


natureza, a boa. Portanto, largando o hábito se pode entregar a Deus.

Agostinho, após ler as sagradas e scrituras, voltou -se a seu amigo


Alípio e professou sua fé. E seu a migo demonstrou ter ficado alegre com tal
fato. Ambos resolveram ir até a casa da mãe de Agostinho e contar a novidade,
tendo ela também demonstrado felicidade, vendo que seu filho finalmente tinha
se convertido e aceitado a crença cristã.

At é o s pr azer es da vida hu ma na, não só co mpe ns a m o s ho me ns de


desgr aças ca sua is e invo lu nt ár ia s, ma s t ambé m de mo lést ia s
pr e med it ada s e dese jadas. Não há pr azer algu m e m be ber o u co mer
se m que ha ja a nt es o est ímu lo da se de o u da fo me. Os é br io s
co st uma m co mer ant es a lgu ma co isa sa lgada, que lhes cau se sede
ar dent e e que t r ans fo r mar á e m pr azer qua ndo aca lmad a co m a be bida.
O co st ume quer que as espo sas não se ja m e nt r egues imed iat a me nt e
ao s mar ido s: o mar ido despr ezar ia a no iva se não t ive sse que e sper ar
e susp ir ar po r ela.

Agostinho relata sobre o real motivo do indivíduo comer ou beber,


na sua concepção. Chega ao ponto de narrar que isto ocorre por estímulos
orgânicos involuntários, e não por vontade própria. Porém, compreendeu
também que aqui está presente apreensões e vivências através dos sentidos, ou
seja, pelo sensível

2.9 Confissões – Li vro IX

Agostinho, após sua conversão, toma uma segunda decisão, a de sair


do magistério. Iria parar de dar aulas por dois motivos, sendo o primeiro querer
dedicar-se à contemplação a Deus, e sendo o segundo a sua saúde que a sentia
debilitada.

Chegando o período de férias, Agostinho decidiu sair definitivamente


de casa. E hospedado na casa de um amigo, começa a ler os Sa lmos, dentre eles
ressaltando o de número 4, sentindo que seu conteúdo o contagiou, quando
afirma: “Quando te invoquei, tu me escutaste, ó Deus de minha justiça!
Dilataste minha alma na tribulação ”.
15

Um dos que ficaram sabendo de seu novo compromisso foi Sa nto


Ambrósio, que indicou para ser lido o livro do profeta Isaias.
Com o passar do tempo chegou o momento de Agostinho ser batizado,
e para isto deixou o campo e retornou a Milão.
Chegando em Milão presenciou perseguições aos cristãos, pois a m ãe
do impera dor Valentiano se recusava a aceitar a nova crença 3.
Nesse período, através de um sonho do bispo Ambrósio, foram
descobertos os corpos de dois mártires, S ão Gervásio e São Protásio.
E sobre isto Agostinho relata:

Co m e fe it o , depo is de desco ber t o s e desen t er r ado s, ao ser e m


t r ans ladado s co m as ho nr a s co nve nie nt es par a a bas íl ic a a mbr o s ia na,
a lgu ns po sses so s, at or me nt ado s pe lo s esp ír it o s imu ndo s, fo r a m
cur ado s, co nfo r me co nfis são do s pró prio s de mô nio s. T a mbé m u m
c idadão , cego havia mu it o s ano s, e mu it o co nhe c ido na c idade,
per gunt o u a r azão daquele a lvo r o ço e alegr ia po pu lar es ; in fo r mado ,
ped iu a seu guia que o le vas se at é as r elí qu ia s. Lá chega ndo , o bt eve
per mis são par a t o car co m u m le nço o at aúde de t eus sant o s, cuja
mo r t e havia s ido pr ec io sa a t eus o lho s. Fe it o ist o , aplico u o le nço
ao s o lho s, que imed iat a me nt e se abr ir a m .

A notícia do milagre se propagou, e chegou até a m ãe do imperador,


que, mesmo não se convertendo à nova crença mandou reprimir imediatamente
as perseguições.
Agostinho dedica um pouco de espaço para falar sobre sua mãe,
afirmando ser uma mulher muito doce e afetuosa, com bastante paciência, sendo
serva de Deus, preferindo a todos os instantes andar de forma pacífica. E traz
esta lembrança viva na memória exatam ente por ter acompanhado sua morte,
uma vez que deixa isto claro quando narra que ela faleceu exatamente com
cinquenta e seis anos de idade.
A morte de sua mãe lhe trouxe muito pesar, ao ponto de cair doente
e deixar por alguns instantes sua fé abalada. Neste momento de aflição relata
que conversava plenamente com Deus, suplicando para que lhe restituísse suas
forças. E, apesar de tanta dor, conseguiu se restabelecer voltando a si em sua

3
cr ença ( lat . medi eval credent i a ) 1. At it ude pe la qua l a f ir ma mo s, co m cer t o gr au de
pr o babi l idade o u de cert eza, a r ea lidade o u a ver dade de u ma co isa, e mbo r a não
co ns iga mo s co mpr o vá - la r ac io na l e o bjet iva me nt e.
2. Do po nt o de vist a r elig io so , assent ime nt o fir me e segur o do esp ír it o , se m ju st if icaç ão
r ac io na l, à exist ênc ia de u ma r ea lidad e t r ansc e nde nt e o u divina. S inô nimo de fé.
16

fé e convicções, desfechando este episódio marcante de sua vida com um a prece


em prol de sua mãe.

2.10 Confissões – Li vro X

Após a morte de sua mãe o autor retorna ao estado de contemplação


a Deus, e esclarece a finalidade do livro Confissões, afirmando sua busca em
alcançar a luz, como segue:

Ó Deus, faz que eu t e co nhe ç a, meu co nhec edo r , que eu t e co nhe ça


co mo de t i so u co nhec ido . Vir t ude de minha a l ma, penet r a - a,
asse me lha - a a t i, par a que a t enha s e po ssuas se m ma nc ha ne m r uga.
E st a é a esper ança co m que fa lo , e ne st a esper ança me a legr o , quando
go zo de sã a legr ia. T ud o o ma is de st a vida, t ant o me no s se há de
cho r ar quant o ma is o cho r a mo s, e t ant o ma is t er ía mo s que c ho r ar
quant o me no s o cho r amo s.

Mas t u a ma st e a ver dade, po r que quem a pr at ica a lca nça a luz. E u


dese jo pr at icá - la e m meu co r ação , dia nt e de t i, por est a mi nha
co nfis são , e dia nt e de mu it as t est emu nha s po r meu s escr it o s.

Em outro momento Agostinho assume que os homens têm ignorância


e que seus conhecimentos são limitados. Inverso ao Conhecimento de Deus, que
é ilimitado.

É s t u, S enho r , quem me ju lga, por que ningué m co nhece o que se passa


no ho me m, a não ser o seu esp ír it o que ne le est á, t o davia há no
ho me m co is as que at é o esp ír it o que ne le ha bit a ig no r a. Mas t u,
S enho r , que o cr ia st e, co nhec es t o das as co isas. E eu, embo r a dia nt e
de t i me despr eze e me co ns ider e co mo t err a e cinza, se i a lgo de t i
que ig no r o de mi m mes mo . É cert o que ago r a ve mo s por espe lho , em
enig ma s, e não fa ce a fa ce. Po r isso , enquant o per egr ino lo nge de t i,
est o u ma is pr ese nt e a mi m do que a t i. S e i que e m nada po des ser
pr e jud icado , ma s ig no r o a que t ent açõ es po sso r es ist ir e a qua is não
po sso. To davia há e sper a nça, po is é s fie l, e não per mit es que se ja mo s
t ent ado s a lé m de no ssas fo r ças ; co m a t ent ação , dás t a mbé m me io s
par a supo rt ar , par a que po ssa mo s r es ist ir .

Co nfe ssar e i, po rt ant o , o que sei de m i m, e t a mbé m o que de mi m


ig no r o, por que o que se i de mi m só o sei po r que me i lu m inas, e o que
de mi m ig no r o co nt inuar e i ig no r ando at é que minhas t r evas se
t r ans fo r me m e m me io - d ia, e m t ua pr esença.

Pela citação acima reconhece também suas p róprias limitações.


Porém, que também suplica a Deus que na Sua presença, suas trevas sejam
dissipadas e a Luz do “meio -dia” o Ilumine.
17

Inda gando a todos sobre quem é Deus, e não obtendo respostas


conclusivas, finda descobrindo em si mesmo, em seu próprio interior, junto a
sua Alma, a Luz deste conhecimento que buscava, como podemos constatar
abaixo:

P ar a me s er vir e m, t enho u m co r po e uma a lma: aque le ext er io r , est a


int er io r . Po r qual de les d e ver e i per gu nt ar pe lo meu Deus, a que m j á
ha via pr o cur ado co m o cor po desde a t err a at é o céu, at é o nde pude
enviar o s r aio s de meu o lhar co mo me nsa ge ir o s? M e lho r , se m dúvid a,
é a part e int er io r de mi m me s mo . É a ela que dir ige m su as r espo st as
t o do s o s me nsage ir o s de meu co r po, como a um pr es ide nt e o u ju iz,
r espo st as do céu, da t er r a, e de t udo o que exist e, e que pro cla ma m:
“Não so mo s Deus” – e a ind a – “E le no s cr io u”. O ho me m int er io r
co nhe ce essa s co isa s po r me io do ho me m ext er io r ; mas o ho me m
int er io r , que é a a lma, t a mbé m co nhe ce essa s co isa s po r me io do s
se nt ido s do co r po.

Agostinho reconhece que o homem finda escravizado pelas coisas


criadas, observando -as através dos sentidos, impedindo -os de serem capazes de
julgá-las. Mas também reconhece a dualidade do homem, quando afirma ser ele
corpo e alma, e que esta tem natureza superior, como pode ser constatado a
seguir:

Ou me lho r : e les fa la m a t o do s, ma s apena s se e nt ende m o s que


co mpar a m sua expr es são ext er io r co m a ver dade int er io r . De fat o a
ver dade me d iz: T eu Deus não é ne m o céu, ne m a t er r a, ne m co r po
a lgu m. A nat ur eza das co isa s o d iz par a que m sa be ver ; a mat ér ia é
me no r e m seus e le me nt o s que e m seu t o do . Po r isso , minha a l ma,
d igo -t e que és super io r ao co r po, po is vi vi fic as sua mat ér ia, dando -
lhe vid a, co mo nenhu m co r po po de dar a o ut ro cor po .

Nestas suas a firmações pode ser compreendido que considera todo o


exterior apenas uma expressão de uma verdade interior, e que apenas os que
sabem ver é que a conseguem de fato enxergar.
Sobre a memória , fazendo algumas análises, conclui u que ela tem
recursos para permitir recordar coisas anteriormente vistas, ouvidas e sentidas.
Que através da memória intelectual podemos aprender matemática,
onde nesta parte surgem as ideias inatas, aprender literatura, aprender a
dialética, e, como afirma: “ as diferentes espécies de questões, tudo o que sei a
respeito desses problemas estão em minha memória, mas não estão ali como a
imagem solta de uma coisa, cuja realidade se deixou fora ”.
18

Sobre a memória dos sentidos afirma que apesar da apreensão de


imagens, sons e cheiros, através dos próprios sentidos, não é através deste s que
a compreensão destas memórias vem , mas de um entendimento já existente no
interior, e que somente ainda não estava desperto, o que pode ocorrer muitas
vezes após indagações externas. E discorre ainda sobre muitos outros tipos de
memória.
Afirma que da memória tira quatro emoções da alma, que são o
desejo, a alegria, o medo e a tristeza. Que o esquecimento é a ausência da
memória, mas que também esse faz parte da própria memória, pois do contrário
não saberia que tinha esquecido.
Também fala sobre a busca da felicidade e que os homens sempre a
almejam. Contudo, a felicidade está exatamente na busca da verdade, e que a
verdade é Deus.

Lo nge de mi m, lo nge do co r ação de t eu ser vo , S enho r , que a t i se


co nfes sa, a ide ia de enco nt r ar a fe l ic i dade não impo r t a em que
a legr ia ! A fe l ic idade é u ma a legr ia que não é co nced id a ao s ímp io s,
ma s àque le s que t e ser ve m po r puro amo r : t u és essa alegr ia ! Alegr ar -
se de t i, e m t i e po r t i: is so é fe l ic ida de . E não há o ut r a. Os que
i mag ina m o ut r a fe l ic idade, apega m - s e a uma a legr ia que não é a
ver dade ir a. Co nt udo, se mpr e há u ma im age m da a legr ia da qual sua
vo nt ade não se afast a.

Sobre os prazeres do sentido diz que no caso do olfato, da visão e da


audição, por vezes surgem uma alegria decorrente destes. Entretanto, que não
permanecem por muito tempo, sendo necessário recorrer novamente a eles
sempre, tornando assim este processo uma prisão, pois afirma que o indivíduo
que procura a felicidade por qualquer um dos sentidos acaba perdendo -a, pois
a verdadeira felicidade é encontrada somente em Deus.
Sobre Deus e os sentidos, afirma:

E exist e o ut r a fo r ça, que não só vivi fi ca, mas que t a mbé m t or na


se ns íve l m inha car ne que o S enho r me deu, or dena ndo ao o lho que
não o uça, e ao o uvido que não ve ja, mas àque le que s ir va par a ver , e
a est e par a o uvir ; e que det er mino u a ca da u m do s o ut ro s sent ido s o
r espect ivo lug ar e o fíc io . É deles que se ser ve minha a l ma par a
exer cer sua s d iver s as fu nçõ es, per ma nec endo , co nt udo , u ma só .

Venc er e i t a mbé m es sa fo r ça, que t ambé m a po ssue m o cava lo e a


mu la, po is t a mbé m e les se nt e m po r me io do co r po.
19

Agostinho com a afirmação acima relaciona os sentidos físicos, que


captam o sensível, à uma força que vi vifica, e que de certo modo serv em à alma.
Porém, quando afirma que também vencerá esta força dá a entender que ela
ainda não é o caminho a ser trilhado, pois estas sensações sensíveis são mais
ligadas ao corpo do que à própria alma.
Fa z uma avaliação sobre a curiosidade humana, onde po r vezes é
usada para saciar prazeres que não convêm. Além disto, alerta para o orgulho ,
que por vezes faz pedir sinais apenas para saber se o que de fato acontece é
algo como diz acontecer.

Al i se co ns er va m t a mbé m, d ist int as e m e spéc ies, as se nsaçõ es que a í


penet r ar a m cada qua l po r sua port a: a luz, as co r es, as fo r ma s do s
co r po s, pelo s o lho s ; t o da espécie de sons, pe lo s o uvido s ; t o do s o s
o do r es, pe las nar inas ; t o do s o s sabo r es, pe la bo ca; e nf i m, pe lo t at o
de t o do o cor po , o duro e o br ando , o quent e e o f r io , o suave e o
ásper o , o pesado e o le ve, quer ext r íns ec o , co mo int r ínseco ao cor po .
A me mó r ia ar maze na t udo isso e m seu s va st o s r ecesso s, em sua s
secr et as e ine fá ve is s inuo s id ades, par a le mbr a - lo e t r azê - lo à lu z
co nfo r me a nece ss idade. T o das essas i ma g ens e nt r am na me mó r ia po r
suas r espect iva s po rt as, sendo a li ar maze nada s.

T o davia, não são as co isas e m s i qu e ent r a m na me mó r ia, mas a s


i mage ns das co isa s se ns íve is, que a l i f ica m à d ispo s iç ão do
pensa me nt o que as evo ca. Mas que m po der á exp licar co mo se
fo r mar a m t a is i mage ns, apes ar de se conhec er o sent ido pe lo qua l
fo r a m capt adas e esco nd id as e m seu ín t imo ? P o is, me s mo quando
est o u em s ilê nc io e no escuro , imag ino , se quiser , as cor es, e se i
d ist ingu ir o br anco do pr et o, e t o das as o ut r as ent r e si; e is t o sem
que o s so ns, me s mo o s le mbr ado s, per t ur be m minha s image ns vis ua is,
e per ma nece m co mo que a part e.

Nas citações transcritas acima se observa a importância que


Agostinho reconhecia nas sensações adquiridas através dos sentidos, sendo
estas armazenadas na memória. Que na verdade são as imagens do sensível que
ficam na memória, e não as coisas em si.

Do mes mo mo do as de ma is i mpr es sõ es , int r o duz idas e ar maze nad as


e m mi m po r me io do s o ut ro s sent ido s, po sso r eco r dar a meu t ala nt e ;
d ist ingo o aro ma do s lír io s do das vio let as, se m c he ir ar ne nhu ma flo r ;
e se m pr o var ne m t o car em nada, mas ape na s co m a le mbr a nça, po sso
pr efer ir o me l ao ar ro b e e o mac io ao ásper o.

T udo ist o r ea lizo int er io r me nt e, no ime nso pa lác io da me mó r ia. Ali


eu t enho às minhas o r dens o céu, a t er r a, o mar , co m t udo o que ne les
pude per ceber , co m exceção do que já me esque c i. Ali e nco nt r o a
m i m mes mo , r eco r do de mi m e d e minha s açõ es, de seu t em po e lug ar ,
e do s sent ime nt o s que me do mina va m ao pr at icá - la s. Al i e nco nt r o a
m i m mes mo , r eco r do de mi m e d e minha s açõ es, de seu t empo e lug ar ,
20

e do s sent ime nt o s que me do mina va m ao pr at icá - las. Al i est ão t o das


as le mbr a nça s do que apr end i, quer pe lo t est e mu nho alhe io , quer pe la
exper iê nc ia.

Como que finalizando o argumento anterior, ele ressalta que antes do


aprendizado foi necessário passar pelo campo do sensível, sendo este o início
do aprendizado, do conhecimento armazenado na memória. Lembranças esta s
que podem ser acessadas a qualquer momento, sejam nas imagens ou outras
sensações também presentes.

T o das essas r ea lidade s não no s penet r a m a me mó r ia, ma s t ão so me nt e


são capt adas as suas image ns co m mar avi lho sa r ap idez, e dispo st as,
d iga mo s, e m co mp ar t ime nt o s admir á ve is , de o nde são ext r aída s pe lo
m i lagr e da le mbr a nça.

“Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que
estavas dentro de mim, e eu lá fora, a te procurar! Eu, disforme, me atirava à
beleza das formas que criaste. Estavas comigo, e eu não estava em ti ”. Mais
uma vez Agostinho reconhece que Deus, a Beleza, somente pode ser encontrado
dentro de si ; ou seja, dentro de cada um . E que este é o caminho. Pois como
normalmente os homens fazem, enquanto buscam no exterior e através dos
sentidos, não o encontram.

Quando deixast e de me aco mpa nhar , ó Ver dade, par a me ens inar o
que eu devia evit ar o u pro cur ar , sempr e t e co nsu lt e i, a t i submet endo ,
dent r o da minha li m it aç ão , meu s med ío cr es po nt o s de vist a ? P er co r r i
co m o s se nt ido s, co mo pude, o mu ndo ext er io r . Obser ve i a vida de
meu co r po e o s meus pr ó pr io s sent ido s. Depo is adent r e i nas
pr o funde zas da me mó r ia e m seus mú lt ip lo s do mín io s, t ão
mar a vi lho sa me nt e r ep let o s de inú mer as r iqueza s ; o bser ve i t udo is so ,
est upefat o . S em t eu auxí l io na da po der ia d ist ingu ir , mas r eco nhec i
que nada d ist o er as t u. Ne m er a eu o desco br ido r de t o das essas
co isas ; me es fo r ce i par a d ist ingu i - la s e ava l iá - las e m seu de vido
va lo r , r ecebe ndo - a at r avés do s se nt ido s e int er r o gando - as. S ent i
o ut r as co isa s unida s a mi m, e as e xa m in e i, ass i m co mo o s sent ido s
que as t r azia m; r e vo lvi a s vast as r eser va s da me mó r ia, ana lis a ndo
cer t as le mbr a nça s, guar dando uma s e t raze ndo o ut r as à lu z. Po r que
t u és a luz per ma ne nt e que eu co nsu lt ava so br e a exi st ênc ia, o va lo r
e a qua lidade de t o das as co isas, e eu o uvia t eus ens ina me nt o s e t uas
o r dens. Co st umo faz ê - lo mu it as veze s, po is ess a é a minha a legr ia, e
se mpr e que meu s t r aba lho s me per mit e m a lgu m de sca nso , r efug io - me
ne sse pr azer .

E m ne nhu ma dessa s co isa s que per co r ro co nsu lt ando - t e, não enco nt ro


lugar segur o par a minha a lma se não em t i; só em t i se r eúne m meu s
pensa me nt o s espar so s, se m que nada me u se apar t e de t i. Às veze s,
me faz es co nhecer u ma e xt r ao r dinár ia p lenit ude de vida int er io r , de
ine fá ve l do çur a que, se chegasse à co nt e mp lação , não ser ia
cer t ame nt e co mpat íve l co m est a vida. Ma s t o r no a ca ir nest a ba ixez a,
21

cu jo peso me aca br unha ; vo lt o a ser dom inado pelo s meus há bit o s,


que me t em cat ivo e, apesar de minhas lágr i mas, não me liber t a m.
T ão pes ado é o far do do hábit o ! Não quer o est ar o nde po sso e não
po sso est ar o nde quer o : mis ér ia e m a mbo s o s caso s!

Demonstrando a utilidade do olfato, o autor relata sobre os prazeres


deste. Que por causa deste sentido se pode ter a experiência do cheiro, dos
odores, e que bastam ser sentidos algumas ve zes para que possam ficar
guardados na memória, permitindo que se possa distinguir posteriormente uns
de outros. “Quanto à sedução dos perfumes, não me preocupo demais. Quando
ausentes, não os procuro; quando pres entes, não os recuso, mas estou sempre
disposto a deles me abster.”

Sobre a audição também tece comentários, sobre a qual apesar de


propiciar prazeres e excelentes sensações, não se sentia preso a ela,
considerando que esta liberdade foi conseguida graças a Deus que o sentia em
seu interior. “ Os prazeres do ouvido me prendem e me subjugam com mais
força, mas tu me desligaste, me libertaste. ”

Agr ada m- me a inda, eu o co nfe sso , o s cânt ico s que t uas pala vr as
viv if ic a m, qua ndo exe cut ado s po r vo z suave e ar t íst ica ; t o davia e le s
não me pr e nde m, e de le po sso me des ve nc i lhar qua ndo quer o. P ar a
asse nt ar e m no meu ínt imo , em co mp a nhia co m o s pensa me nt o s que
lhe dão vida, bu sca m e m meu co r ação um lug ar de dig nidade, ma s eu
me es fo r ço o u me o fer eço par a ceder - lhe s só o lug ar co nve nie nt e.

Às veze s par ece - me t r ibut ar - lhe ma is at enção do que devia: s int o que
t uas pala vr as s a nt as, aco mpa nhadas d o cant o, me infla ma m de
p iedade ma is de vo t a e ma is ar de nt e do que se fo ss e m ca nt adas de
o ut ro mo do. S int o que as emo çõ es da al ma enco nt r a m na vo z e no
cant o , co nfo r me suas pecu liar idade s, seu mo do de expr ess ão pró pr io ,
u m mist er io so est ímu lo de afin idad e.

Mas o pr azer do s sent ido s, que não dever ia sedu z ir o esp ír it o , mu it as


vez es me eng a na.

Entretanto, reconhece que muitas vezes ainda se deixa va enganar


pelos sentidos.
Dá continuidade à análise dos prazeres pelos sentidos através da
visão, quando afirma “m eus olhos apreciam as formas belas e variadas, as cores
brilhantes e amenas ”. Todavia, reconhece adiante que apesar da beleza d a luz
22

captada pela visão, que a verdadeira luz é captada pelo interior, conforme o
discernimento de cada um.

Ó lu z que To bias co nt e mp la va qua ndo , cego, mo st r ava ao filho o


ca minho da vida, ca m inha ndo à sua fr e nt e co m o s passo s da car id ade,
se m ja ma is se p er der ! Luz que via I saac, quando seus o lho s car na is,
o pr imido s e ve lado s pe la ve lh ic e, mer ec er a m não abe nço ar o s fi lho s
r eco nhec e ndo -o s, ma s r eco nhecê - lo s ao abe nço á - lo s! Luz que vi a
Jacó , t ambé m cego pe la idade pr o vect a, ir r ad io u o s fu lgo r es de seu
co r ação ilu m inado so br e as ger açõ es do po vo fut uro , r epr esent adas
e m seus f i lho s ! E a seus net o s, o s fi lh o s de Jo sé, impô s as mão s
m ist ica me nt e cr uzadas, não na o r de m e m que quer ia d ispô - lo s o pai,
que via co m o s o lho s co r por a is, ma s de aco r do co m seu pr ó pr io
d is cer ni me nt o int er io r ! E is a ver dade ir a lu z; e la é u ma, e t o do s o s
que a vêe m e a ma m fo r ma m u m ú nico ser .

Sobre a vã curiosidade diz que está disfarçada sob o nome de


conhecimento e ciência, nascendo pelo sentidos, principalmente pelos olhos.

Daqu i po de mo s d ist ingu ir c lar a me nt e o papel da vo lúp ia e o da


cur io s idade na ação do s sent ido s. O prazer pro cur a o que é be lo ,
me lo d io so , suave, sa bo ro so, agr adáve l ao t o do ; a cur io s idade po r sua
vez dese ja o co nt r ár io , não par a se expo r ao so fr ime nt o , ma s pe la
pa ixã o de co nhecer po r me io da e xper iê nc ia. Que pr azer po de t er na
vis ão de u m cadá ver d i lacer ado , que caus a ho r ro r ? E t o davia o nde há
u m cadá ver , par a lá co r r e t oda a gent e par a se ent r ist ecer e
e mpa l idec er . E t eme m depo is r e vê - lo e m so nho s, co mo se a lgué m o s
t ives se o br ig ado a co nt emp lá - lo , o u co mo se a fa ma de a lgu ma be le za
o s t ive ss e at r aído . O me s mo aco nt ece com o s o ut ro s sent ido s, o que
ser ia e nfado nho enu mer ar .

“Mas incontáveis são as pequenas e desprezíveis bagatelas que tentam


cada dia nossa curiosidad e! E quem poderá contar nossas quedas? Quantas
vezes ouvimos contar banalidades!”

2.11 Confissões – Li vros XI ao XIII

Agostinho reconhece os sentidos como importantes para a


materialização das intenções da alma.

Dest e - lhe o s ó r gão s do s sent ido s, int ér pr et es pelo s quais mat er ia l iza
as int ençõ es de sua a lma ; info r ma m o esp ír it o do que fizer a m, par a
que est e co nsu lt e a ver dade, o ju iz int e r io r , par a saber se a o br a é
bo a. T udo isso t e lo uva co mo cr iado r de t o das as co isas.
23

Agostinho reconhece a exis tência de uma Verdade absoluta, que é


imutável, e “... que nos reconduz àquele de quem viemos”. Para ele, aquele de
quem viemos é o princípio e por ainda permanecer, temos para onde retornar.

Aí, S enho r , o uço t ua vo z a me d izer que só no s fa la ver dade ir a m e nt e


que m no s ens ina, e que m não no s inst r ui, me s mo que fa le, não no s
d iz nada. Mas que m no s ens ina, se não a Ver dade imut áve l? As liçõ es
da cr iat ur a mut á ve l t ê m o único va lo r de no s co nduz ir à Ver dade, que
é imut áve l. Ne la ver dade ir a me nt e apr ende mo s quando , de pé, a
o uvimo s, a legr a ndo - no s por cauda da vo z do E spo so, que no s
r eco nduz àque le de que m vie mo s. P or iss o , ele é o pr inc íp io , po is s e
e le não per ma nec ess e, não t er ía mo s par a o nde vo lt ar de no sso s er ro s.
Quando vo lt a mo s de u m er r o , t emo s p le na co nsc iê n c ia d ess a vo lt a; e
é par a que t o me mo s co nsc iê nc ia de no ss o s erro s que ele no s inst r ui,
po r que ele é o pr inc íp io , e sua pa la vr a é par a nó s.

Agostinho analisa a percepção do tempo , considerando que o mesmo


não pode ser medido em relação ao passado e ao futu ro, pois o passado já não
existe e o futuro ainda não tem existência, como se questiona: “S erá que só o
presente existe, porque os demais, o passado e o futuro, não existem? ”. Logo,
conseguimos ter percepção real somente do presente imediato. Porém,
considerando que a memória tem lembrança do passado, considera passado e
futuro existentes.

E , co nt udo, S enho r , per cebe mo s o s int er va lo s de t e mpo s, o s


co mpar a mo s e nt r e si, e d ize mo s que uns são ma is lo ngo s e o ut ro s
ma is br e ves. Med i mo s t a mbé m o quant o uma dur aç ão é ma io r o u
me no r que o ut r a, e r espo nde mo s que est a é o do bro o u o t r ip lo de
o ut r a; que aque la é s i mp les, o u que amba s são igu a is. Mas é o t e mpo
que passa que med i mo s quando o per cebe mo s passar . Quant o ao
passado , que não exist e ma is, e o fut uro que não exist e a inda, que m
po der á med i- lo s, a me no s que o use a fir mar que o nada po de ser
med ido ? Ass i m, qua ndo o t empo passa, po de ser per cebido e med ido .
P or é m quando já deco r r eu, ningué m o pode me nt ir o u sent ir , po r que
já não exist e.

É impo ss íve l ver - se o que não exist e. E o s que nar r am o passado


d ir ia m me nt ir a s se não vis se m o s aco nt eci me nt o s co m o esp ír it o . Or a,
se esse passado não t ives se exist ênc ia algu ma, ser ia abso lut ame nt e
i mpo ss íve l vê - lo . P or co nsegu int e, o fut uro e o passado t ambé m
exist e m.
24

Agostinho afirma ainda que o tempo só tem início com a formação


das coisas, da matéria, que se tornou perceptível.

2.12 A Trindade – Li vro I

Mais importante que a história de vida deste grande filósofo 4 são suas
contribuições para a filosofia. Contribuições estas muitas vezes não totalmente
compreendidas ou até distorcidas por alguns. E são exemplos disto que serão
apresentados deste ponto em diante, tendo como fonte principal parte da sua
obra intitulada ‘A Trindade ’, através de alguns de seus livros, considerando
que nela há uma variedade de conceitos 5 apresentados, muitos com sentidos
bem profundos.

PEREIRA (2013) 6 sobre Agostinho afirma: “ Desde os seus primeiros


diálogos, o preceito socrático “Conhece -te a ti mesmo” é objeto de inquietação
e torna-se o ponto de partida de sua busca pela sabedoria ”.
No Li vro I Agostinho afirma que “... A verdadeira imortalidade. A fé
e a compreensão das coisas divi nas.”, assim como:

4
F iló so fo ( gr . phi l ósophos ) S egundo a t rad ição , P it ágo r as é o cr iado r desse t er mo ,
pr et endendo co m isso mo st r ar que lo ng e de ser um s á bio ( sophós) er a ant es, um s i mp les
"a migo do saber ' ( ph/ l( I so pl, o s) . E nt r et ant o. na t r adiç ão clá ss ic a, at é o per ío do mo der no , o
t er mo "1116 - so fo " fo i e mpr egado e m u m sent ido a mp lo , sen do pr at ic a me nt e equiva le nt e a
"sá bio ". E m u m se nt ido ma is espe c íf ico , o filó so fo é o met a fís ico , aquele que bus ca o s
pr ime ir o s pr inc íp io s, que invest iga o r eal e m su a d ime nsão ma is ger a l, ma is bá s i ca, ma is
abst r at a. "Buscar as causa s pr ime ir as e os ver dade ir o s pr inc íp io s. . . é fu nda me nt a lme nt e
ao s que se dedica m a isso que deno mina mo s fi ló so fo s" ( Desc ar t es. Pr inc íp io s da f ilo so fia,
pr efác io ) . E m u ma ac epção ma is co nt e mpo r ânea, o filó so fo é aque le que dese nvo lve u ma
r efle xão cr ít ica so br e o s difer e nt es e le m en t o s que co nst it ue m sua e xper iê nc ia e s o br e o
co nt ext o so cio cu lt ur a l e m que vive, exa m ina ndo seus pr essupo st o s. t endo co nsc i ênc ia de
seus li m it e s, pro cur ando basear sua ação e m pr inc íp io s r ac io na is.
5
Co nce it o : ( lat . concept urn : pensa me nt o , id e ia) 1. E m seu s e nt ido ger a l, o co nce i t o é uma
no ção abst r at a o u ide ia ger a l. de s ig na nd o seja u m o bjet o supo st o único ( ex. : o conce it o de
Deus) , se ja u ma c lass e de o bjet o s ( ex. : o co nce it o de cão ) . Do po nt o de vist a ló gico , o
co nce it o é car act er izado po r sua ext ensã o e po r sua co mpr ee nsão .
2. P ar a Ka nt , o co nce it o nada ma is é do que u ma encr uz ilhad a de ju ízo s vir t ua is, u m
esque ma o per at ó r io cujo se nt ido só po ssu ir e mo s qua ndo so uber mo s ut il izar a pa lavr a e m
quest ão. E le d ist ingue: a) o s co nce it o s a pr io r i o u puro s ( as cat ego r ias do ent end ime nt o ) :
co nce it o de unid ade. de plur a l idade, de causa l idade et c. ; b) o s co nce it o s a po st er io r i o u
e mp ír ico s ( no çõ es ger ais de fin indo c las s es de o bjet o s) : co nce it o de ver t ebr ado, co nce it o
de pr azer et c.
6
Ver it as, v. 58, n. 3, set . / dez. 2013, p. 567 - 597.
ht t p: // r evist ase let r o nica s. pucr s. br / o js/ in dex. p hp/ ver it as/ ar t ic le/ view/ 12957/ 1160 9
25

Algu ns pr et ende m ap lic ar às co isas in co r pór eas e esp ir it ua is as


no çõ es adquir ida s so br e co isas co r pór eas, med ia nt e o s sent ido s, o u
gr aças à fo r ça da r azão hu ma na e à po t enc ia l idade da inve st ig ação ;
o u a inda, co m a a juda de a lgu ma ar t e, pr et ende m med ir as co isa s
esp ir it ua is pe la s co r po r ais e co njet ur ar so br e aque la s, co mo faze m
co m est as.

Já na citação acima se pode observar a importância que Agostinho dá


a assuntos ligados a “coisas incorpóreas” e “divinas”, como se expressa. E
ainda no mesmo livro muitas outras afirmações relacionadas são encontradas.

V ist o que se diz a alma ser imo r t al, co mo de fat o é, a E scr it ur a não
d ir ia: “O ú nico ”, se a ver dade ir a i mo r t alidade não fo sse a i mut áve l,
da qua l ne nhu ma cr iat ur a é dot ada, já que est a imo r t alid ade per t ence
so me nt e ao Cr iado r .

Desse mo do t or na - se d if íc i l int u ir e co nhec er p le na me nt e a


subst ânc ia de Deus, que faz as co isas mut áve is se m muda nça e m s i
me s mo , e cr ia as co is as t empo r a is se m qu a lquer r e laç ão co m o t empo .
Faz- se m ist er , por isso , pur ific ar no ssa me nt e 7 par a po der mo s
co nt emp lar ine fa ve lme nt e o ine fá ve l. Ao não co nsegu ir mo s a inda
essa pur if ic ação , a lime nt a mo - no s da fé, so mo s co nduz ido s po r
ca minho s ma is pr at icá ve is a fi m de se r mo s capazes de cheg ar a
co mpr ee nder a Deus

E dando ênfase ao que afirma, menciona “há também o que diz Davi :
“E como uma vestidura, tu as mudas e ficam mudadas; tu, porém, és sempre o
mesmo” (Sl 101,27-28)”.
Pelo exposto, compreende -se que Agostinho defendia ser a Alma
imortal, assim como é possível ao homem contemplar as coisas divi nas, desde
que faça mudanças em si próprio , “purificando a mente”.
Pela passagem a seguir, defend e que o homem é renascido pela graça.
O que parece bem claro, pois quem renasce é porque já havia nascido
anteriormente. Mas a que termo pode ser compreendida esta afirmação?

Nesse se nt ido , afir mo u o Apó st o lo que t odo s o s t eso uro s da sabedo r ia


e da c iê nc ia e st ão esco nd ido s e m Cr ist o ( C l 2, 3) , mas apr es e nt o u -o
ao s que, embo r a r enasc ido s pela gr aça, são a inda car na is e a nima is ,
e port ant o t ais co mo cr ia nç as.

7
Ment e: ( lat . me ns, ment i s: esp ír it o ) T ermo s inô ni mo de "esp ír it o ". " int e lect o ",
"co nsc iê nc ia", ut il izado ent r et ant o ger alme nt e e m u m se nt ido ma is po s it iv o e
exper i me nt a l. Des ig na ass i m o co nju nt o de facu ldades o u po der es r acio na is do home m,
t ais co mo o pensa me nt o, a per cepção , a me mó r ia, a imag ina ção , o dese jo et c. As t eo r ias
subst anc ia l ist as, co mo a de Descar t es, supõ em que a me nt e exist e co mo t al: e nqua n t o que
as t eo r ias e mp ir ist as co mo a de Hume nã o co ns ider a m a me nt e co mo exist ent e por s i
me s ma, mas ape na s co mo o co nju nt o de suas fu nçõ es de pensar , per ceber et c. Opo st o a
co r po.
26

Observando as passa gens transcritas, se entende que Agostinho deixa


claro que o homem pode vir a purificar -se, e chegar a compreender a Deus. Dá
a entender que se trata de experiência direta daqueles que se preparam, ou
Iluminação pessoal decorrente do próprio processo vivido pela Alma do homem
através das diversas vestiduras, que apesar de serem mudadas, permanece o Ser
sempre o mesmo.
Cita Agostinho:

P o is eu não qu is sa ber o ut r a co isa e nt r e vó s a não ser Jesus Cr ist o , e


Jesu s Cr ist o cr ucific ado . E , pro ssegu ind o : E st ive e nt r e vó s che io de
fr aqu eza, r ece io e t emo r ( 1Co r 2, 2 - 3) . E ma is ad ia nt e: Qua nt o a mi m,
ir mão s, não vo s pude fa lar co mo a ho me ns esp ir it ua is, ma s t ão
so me nt e co mo a ho me ns car na is, co mo a cr ia nça s e m Cr ist o .

Como interpretar “como a homens espirituais, mas tão somente como


a homens carnais”, se não apenas através da dualidade dos homens? Seres
possuidores de uma Alma, espiritual, e um corpo, material.
PEREIRA (2013) em sua publicação diz que :

E m vár ias o br as, Ago st inho abo r da a quest ão do ma l, ma s é no


d iá lo go De l i bero arbi t ri o que e le ma is se est end e so br e es se t e ma.
A per gunt a so br e a o r ige m do ma l co nduz a ar gume nt ação do diá lo go ,
int r o duz indo ao s po uco s o que va i se t o r nar a fó r mu la c lás s ica do
ago st inis mo , a saber , o int e le ct o aceit a o que a fé escu lpe. O ma l
sur ge quando há de so r de m, des med ida, exce sso o u defic iê nc ia. O ma l
é o avesso da o r dem nat ur al. Cupi di t as , a má l ib ido , é uma deso r de m
na a l ma, é o dese jo po r co isa s pass íve is de per da. O ma l pr ee xist e à
pr o mu lg ação da le i, já que der iva do pecado o r ig ina l. Do co git o de
Ago st inho – exist ir , viver e int e lig ir –, a pr inc ipa l e exc lu s iva
qua lidade do ho me m é a int e ligê nc ia. Ag o st inho est abe lec e o axio ma:
a fé bu sca e a int e ligê nc ia enco nt r a. No ent ant o , par a que ha ja
int e l igê nc ia, é nec ess ár ia a ilu m ina ção , que, ma is t ar de, t o mar á
co nt o r no s ma is nít ido s na co nce it uação da gr aça divina. P e la livr e
vo nt ade, o ser hu ma no peca. A gr aça é necessár ia ao livr e - ar bít r io da
vo nt ade hu ma na par a enfr e nt ar eficaz me nt e a lut a co nt r a o ma l.

Deixa a entender o autor citado que Agostinho co mpreendia que a


Iluminação é uma necessidade para que se tenha a inteligência. Compreender
isto traz a necessidade de entender também a que sentido exato ele estava dando
à inteligência. Pois, se tratando de predicado da Alma, está diretamente ligado
ao aspecto do homem interior, ou seja, do homem superior, que simplesmente
habita, temporariamente, o homem exterior. E continua: “ Assim, o desejo de
27

chegar a Deus traça a estrada que a alma deve percorrer em seu interminável
processo de autoconhecimento, de tr ansformação e de crescimento ”. Afirma que
este processo de autoconhecimento pertence a um caminho espiritual, e que
para trilhar este , um guia se faz necessário, sendo este guia o conhecimento.
Todavia, argumenta também que se pode afirmar que este guia na verdade é
Deus, e não o conhecimento, “mas sendo Deus Onipresente, Ele é guia,
caminho, porto de chegada ”. E ponto de partida , continua . Menciona que “ para
os gnósticos, a gnose é imprescindível à alma em seu percurso de retorno à
origem”.
Fica evidente para Rosalie Pereira que Agostinho trilhou este
caminho, alcançando a Iluminação necessária, através da qual conseguiu
externar este Conhecimento e dar seguimento à própria trajetória de retorno à
origem.
SILVA (2008) 8 deixa claro que Agost inho, na sua busca por Deus,
não o encontra no além, mas dentro de si. E citando Agostinho, ratifica esta
afirmação quando diz:

E ssas duas pas sage ns de mo nst r a m que S ant o Ago st inho enco nt r a
Deus na su a a lma, no seu int er io r , e não no ext er io r ; a lé m d is so , par a
que e le pas se a se aut o co nhecer de ve, pr ime ir a me nt e, co nhecer a
Deus, deve pr ime ir o buscá - Lo , po is De us o co nhece ma is qu e a s i
me s mo ; e, ass i m, s e dá a busca de S ant o Ago st inho a Deus.

Em De libero arbítrio, Li vro I, Agostinho passa a argumentar que


nem todo ser vivente sabe que vive. Que ele sabia que vivia. Afirmou que saber
que se vive é uma expressão superior de vida. Sobre isto Rosalie Pereira diz,
Apud AGOST INHO : “ Aquele que sabe que vi ve não carece de razão ” 9; saber
não é outra coisa que perce ber pela razão”.

2.13 A Trindade - Li vro VIII

É no Li vro VIII que Agostinho apresenta sobre a Trindade de forma


mística, e juntamente com o livro IX desenvol ve toda uma filosofia de amor.

8
Col l oqui um Humanarum , Pr es ide nt e P r udent e, v. 5, n. 2, p. 46 - 58, dez. 2008 . DOI :
10. 5747/ ch. 2008. v05. n2. h059
9
C f. AGOS T I NHO. E l l i bre al bedrí o (De l i bero arbi t ri o) , p. 235: “Qui ergo sci t se vi vere,
rat i one non caret ”.
28

Sobre o Pai, o Filho e o dom de ambos, o Espírito Santo, Agostinho


esclarece que: “ O que é dito, porém, de cada um dos três em relação a si mesmo,
é dito não no plural, mas no singular, pois referente a uma única realidade: a
própria Trindade”.
Tirando um argumento da razão, diz que na Trindade duas ou três
pessoas junta s não são maiores do que somente uma delas separadamente. Deve
isto à Verdade das próprias coisas criadas, ou seja, à essência, à substância da
Verdade.

FI GUR A – 1

UNI DADE

P AI FI LHO
T RI NDADE

E S P Í RIT O S ANT O

Fo nt e: P ró pr io aut o r ( 2018)

Ó a lma, o lha be m, se o po des, o pr imida q ue est ás pelo peso do co r po


su je it o à co rr upção e cur vada so b mú lt ip lo s e var iado s pensa me nt o s
t err eno s. Olha be m, e co mpr ee nde, se o po des: Deus é a ver dade! ( S b
9, 15) . Co m e fe it o , est á escr it o : Deus é luz ( 1Jo 1, 15 ). Não co mo a
luz que est es o lho s vêe m, mas co mo aque la que só o co r ação vê,
quando escut a d izer : é a ver dade ! Não per gunt es o que se ja a ver dade,
po is i med iat a me nt e se int er por ão névo as das image ns co r pó r eas e
nu ve ns de fa nt as ias que pert ur bar ão a ser ena c lar idad e que br ilho u
e m t i, no pr ime ir o inst ant e e m que t e diss e: Ver dade! S im, se o po des,
per ma nec e nes se pr ime ir o mo me nt o em que fo st e t o cada co mo po r
u m r a io , quando o uvist e: Ver dade! Mas não , não o po des, po is
r esva la s par a o s pensa me nt o s t er r eno s e rot ine ir o s. Qual é po is, eu t e
peço , esse peso que t e faz r eca ir , senão o das impur ezas co nt r a ída s
pe la visco s idade das pa ixõ es e er r o s de t ua per egr ina ção ?

Agostinho mostra ser a Trindade uma Lei, pois da mesma forma que
o homem superior a ela está sujeito, também o está o homem inferior. Que é
aplicada no modo geral tanto quanto no modo particular.
Sobre justiça no homem afirma que somente a alma o é. “ Portanto é
em nós que conh ecemos o que é ser justo. ”
29

A “serena claridade que brilhou em ti, no primeiro instante em que te


disse : Verdade!”. Fica bastante evidente a própria experiência mística de
Agostinho, quando faz esta afirmação. E esclarece com isto que para se alcançar
a Verdade se faz necessário ser alcançado por um raio, pela Luz!
Ele também esclarece que somente o Bem é verdadeira mente bom,
deixando a compreender como Bem, Deus. Defende que somente existem bens
transitórios porque há um Bem imutável, eterno, infinito.
Sobre a alma defende que esta é boa só por ser alma. Mesmo que não
tenha ainda sido despertada para esta bondade imutável. E que tem sua origem
na própria fonte Divina, como segue: “ Referimo-nos à fonte, onde sabemos que
esteve antes de ter sido criada. Essa fonte é a Verdade e o Bem puro, onde
somente há o que é bom, e que é por isso o sumo Bem.”
Diz que é neste Bem que temos a vida, o movimento e o ser.
Muito interessante quando diz também que a alma, mesmo antes de
ter sido criada , esteve na fonte original.
Apesar de afirmar que a alma tem sua origem no próprio Bem, também
o faz no sentido de que enquanto alma vivente Deus deve ser buscado pela visão
(interior), e não pela fé.

Mas é pr ec iso per ma necer ju nt o a ele, ader ir p le na me nt e a ele, par a


go zar mo s de s ua pr ese nça, já que po r e le e xist imo s e, se m sua
pr esença, não po demo s exist ir . Co nt udo, co mo caminha mo s pe la fé,
não pe la vis ão ( 2Co r 5, 7) , ainda não ve mo s a Deus, co mo disse o
me s mo Apó st o lo , face a face ( 1Co r 13, 12) ; se não o amar mo s ago r a,
nu nca o ver e mo s.

Mas que m a ma o que desco nhece ? P o de - se co nhe cer a lgo e não o


a mar . P er gunt o, po r ém, se é po ss íve l, a m ar a lgo que se ig no r a por que
se isso fo r po ss íve l, ningué m é capaz d e a mar a Deus, a nt es de o
co nhe cer . E o que é co nhecer a Deus, se não o co nt emp lar e per ceber
co m f ir mez a, co m o s o lho s da me nt e? E le não é u m co r po par a que
po ssa mo s d ivisá - lo e per cebê - lo co m o s o lho s co r por ais.

Em Mateus encontramos: “ Bem -aventurados os puros de coração,


porque verão a Deus ”. (Mt 5,8)
Para Agostinho, nas di versas pa ssagens que tratou da Verdade,
sempre deixou claro que o caminho para a mesma é somente um, através do
interior de cada buscador, como pode ser constato a seguir.
30

E t o do aquele que me o uve e co nco r da cons c ie nt e me nt e, por sua vez,


o co nt emp la de nt ro de s i, e mbo r a não se ja e le mes mo a que m
co nt emp la. E nt r et ant o , quando é um ju s t o que o diz, e le vê e d iz o
que e le me s mo é. E o nde o co nt emp la senão e m s i mes mo ? I s so ,
po r ém, não deve ser mo t ivo de ad mir a ç ão , po is, o nde o haver ia de
co nt emp lar , a não ser em s i mes mo ? O que é par a se admir ar de que
u ma a l ma ve ja e m s i me s ma, o que nunc a viu e m par t e a lgu ma, e o
ve ja ver dade ir a me nt e, e ve ja que a a l ma é de fat o uma a l ma just a ?
E la se faz u ma id e ia exat a do que se ja u ma a lma ju st a e, po rt ant o ,
se ndo uma a lma, não é ela essa a l ma just a que ela vê e m s i. Haver á,
po r acaso, uma a l ma ju st a nu ma a l ma que a inda não é ju st a? E se não
exist e, a que m vê e la e m s i me s ma, quand o vê e diz o que é uma a lm a
just a, que não é vist a po r e la, fo r a de la mes ma, se e nt r et ant o e la
me s ma a inda não é ju st a? O que ela vê nã o ser á essa Ver dade int er io r
pr esent e à a lma capaz de a ver ? Mas ne m t o do s são capazes. E aque le s
que o são, não são t odo s aqu ilo que vêe m, d it o de o ut ro fo r ma: não
são po r is so a lmas just as, a inda que se ja m capaz es de ve r , de d izer o
que se ja u ma a l ma just a. E co mo po der ão se t or nar t al, a não se ser
ader indo a esse ide a l ( fo r ma: mo de lo ) que e la s vê e m, a fi m d e se
mo de lar po r ele ? P o der ão desse mo do não so me nt e o bser var e dizer
o que seja u ma a lma ju st a: “aque la que, segu ndo o s dit a mes da
c iê nc ia e da r azão , dá a cada um o que a cada um per t ence, na vid a e
no s co st umes”, ma s t ambé m es fo r çar - se po r viver e les mes mo s
co nfo r me a just iça, d ist r ibu indo a cada u m o seu, não deve ndo nada
a ningué m, a não ser o amo r mút uo ( Rm 13, 8 ) .

Ele afirma ainda que somente amando a alma consegue aderir àquela
Forma ori ginal (Deus), justa, divina. E enfatiza, somente a própria Forma é tal
como é, e ninguém nem nada se assemelha a ela.
Em duas passagens esclarece sobre o verdadeiro amor e sobr e a Lei :
“Pois toda a lei está contida numa (Deus)só palavra : amarás o teu próximo como
a ti mesmo (ib. 5,14) ”, e segue, “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os
homens vos façam, fazei -o vós a eles, porque isto é a Lei e os Profetas (Mt
7,12)”. Parece bastante evidente que quando fala da Lei se reporta claramente
a uma que dá retorno similar a todas as ações.

Deus é Amo r ( 1Jo 4, 8) , e o s que são fié is ao seu a mo r desc a nsar ão


unido s a e le ( S b 3, 9) , cha mado s que são do t úmu lo ext er io r às
a legr ias s ile nc io sa s do int er io r . S e Deus é Amo r , por que caminhar e
co rr er às a lt ur as do s céus o u às pro fu ndez as da t er r a à pro cur a
daque le que est á ju nt o de nó s, se quiser mo s e st ar ju nt o dele ?

Mais uma vez fica bastante evidente que para Agostinho a vida usual,
do homem exterior, é o túmulo exterior, e que somente pelo homem interior se
tem acesso às “alegrias silenciosas do interior”. Que somente no íntimo de cada
um, na própria solidão da busca silenciosa, se pode chegar a Deus e se retornar
31

à própria origem. Q ue todos que buscam a Deus pelas sendas exteriores e


abandonam o seu interior somente se distanciam dele.

E m co nsequê nc ia, o s que busca m a Deu s po r me io do s po der es que


go ver na m est e mu ndo o u part es do mu nd o , dist a nc ia m - se de le e são
la nçado s par a lo nge d e le, não no sent ido de espaço , mas pe la
o po sição de sent ime nt o s. E mpe nha m - s e em ca m inhar po r senda s
ext er io r es e aba ndo na m o seu int er io r , no ínt imo do qual est á Deus.

Agostinho diz que Deus é Amor, e portanto, “Deus ama deveras quem
ama o amor”. E mais, que há aqui também a Trindade, ou seja, aplicação da
Lei. Pois estão presentes três realidades, a daquele que ama, a do que é amado
e do próprio amor.

FI GUR A – 2

Mundo vis íve l das e ssê nc ia s

Deus ( Be m)

Ho me m e xt er io r

Ho me m int er io r

Fo nt e: P ró pr io aut o r ( 2018)

2.14 A Trindade – Li vro IX

Enfatiza que são três os elementos: o que ama, o que é amado e o


amor.

Afirma que o que ama e o que é amado formam uma unidade, ou seja,
não são duas realidades distintas.

Sobre o homem, também afirma estar presente a trindade, pois é


composto por um corpo, uma alma e um espírito. Que o homem é a própria
32

imagem de Deus. Que sua mente, seu amor e seu conhecimento também formam
uma unidade, mesmo sendo três realidades.

P ort ant o , ass im co mo a me nt e adqu ir e no çõ es so br e co isa s co r pó r eas


ser vindo - se do s sent ido s co r po r ais, do me s mo mo do , em r e lação às
r ea lidade s inco r pó r eas, ela as adqu ir e po r s i me s ma. Lo go , a me nt e
co nhe ce - se a s i mes ma, po r si mes ma, por ser inco r pó r ea. Po is s e não
se co nhecer a s i mes ma não po der á amar - se a s i me s ma.

Para Agostinho as coisas devem ser conhecidas em si mesmas e na


Verdade eterna. Que a Verdade eterna é a regra para o juízo sobre as coisas das
essências.

A me nt e hu ma na ao co nhecer - se e a mar - s e não co nhec e ne m a ma a lgo


de imut á ve l. U ma co isa é o que cada ind ivíduo diz ver ba l me nt e, de
sua a lma pe sso a l, quando est á at ent o ao que exper ime nt a e m se u
int er io r ; e o ut r a co is a a defin ição que dá da alma hu ma na po r um
co nhe c ime nt o , espec ífico o u genér ico , que po ssua. Ass i m, quando
a lgué m me fa la de sua pró pr ia a lma a fir ma ndo , po r exe mp lo , que
co mpr ee nde o u não ist o o u aquilo ; o u quer o u não ist o o u aquilo ; eu
acr ed it o ne le. Mas ao co nt r ár io , quando algué m me d iz a ver dade
so br e a ess ê nc ia esp ec íf ic a o u gen ér ica da a l ma hu ma na, eu
r eco nheço e apro vo .

Todas as coisas temporais foram feitas pela Verdade eterna, segundo


Agostinho. E por isto que para contemplarmos a forma que nos serve de modelo
temos que olhar através da mente. Que é graças a ela que temos o ve rdadeiro
Conhecimento das coisas intrínsec as 10. Conhecimento este que é como o verbo
gerado por nós em uma “dicção interior”.

Defende que através do nosso verbo interior podemos passar


sensações sensíveis à nossa alma, e esta pode repassá -las a outras alm as.
“Assim, pois, nada fazemos por meio dos membros do corpo, em nossas ações
e palavras, que utilizamos para aprovar ou reprovar a conduta moral das
pessoas, que não seja antecipado por esse verbo gerado em nosso interior.”

Ainda sobre este Verbo, que ele não se afasta de nós ao nascermos.
Portanto, afirma com isto que já nos acompanha mesmo antes de nascermos.

10
I nt r ínseco ( do lat . t ar dio i nt ri nsecus) I nt r ínseco s ig ni f ica "que per t ence à nat ur eza de
a lgo , que lhe é int er io r ".
33

Logo, reconhece que a alma já existe mesmo ante s do próprio nascimento do


corpo.

É essencial compreender a seguinte afirmação dele, pois através de la


confirma nossa semelhança com Deus: “ Assim, o quanto conhecemos a Deus,
tornamo-nos semelhantes a ele; não, porém, com semelhança equivalente à
igualdade, pois não o conhecemos o quanto ele se conhece a si mesmo. ”

O autor esclarece que da própria mente que é amável a si mesma é


que o amor o pr ecede, mesmo antes dela se amar. Ou seja, assim é o princípio
do próprio amor.

Para Agostinho, a busca do conhecimento é como um parto. Nota -se


aqui uma forte influência platônica. E salienta que se as coisas descob ertas pela
busca já existiam, todavia, não o conhecimento, já que este somente passa a
existir após a descoberta. Iluminada fica a compreensão de que o que se busca,
mesmo sem se saber às vezes, já tem existência, independente de estar ou não
consciente por parte dos buscadores.

Fa z sobre a mente também uma relação com a trindade, sendo a


própria mente o primeiro elemento, seu conhecimento o segundo, “que é sua
prole e verbo gerado dela mesma”; e o terceiro , o amor. Afirma que estes três
formam uma única unidade , sendo todos da mesma substância. Portanto, são
iguais, tendo a mesma importância e nenhum sendo superior ou inferior aos
demais.

2.15 A Trindade – Li vro X

Agostinho deixa claro que o desejo de saber não é amor ao


desconhecido, pois não se pode amar o que se desconhece. Com isto afirma que
o conhecimento buscado já está existente em cada buscador.

“Por isso, todo aquele que se dedica ao estudo, ou seja, todo espírito
que deseja saber o que ignora, ama não o que desconhece, mas aquilo que sabe,
e em vista desse conhecimento deseja saber o que ainda não sabe ”.
34

“Como se ama a alma, se é desconhecida de si mesma?” Com esta


indagação Agostinho esclarece que a alma ama o que lhe é conhecido e busca
o que é ignorad o. Que portanto busca a si mesma, em si mesma, sabendo de
forma latente o que busca. Daí afirmar se tratar de um parto, pois dá luz a um
conhecimento que já tem inato 11.

Co mo , po r ém, co nhe ce o seu saber , se não se co nhe ce a s i me s ma ?


Co m e fe it o , sabe que co nhec e o ut r as co isas, e mbo r a não se co nheç a
a s i mes ma. P ort ant o , é em s i que e la sa be o que é co nhecer . De que
mo do , po r ém, sabe o que seja co nhec er , que m não se co nhece ? P o is
não co nhece o ut r a alma capaz de co nhece r , mas a s i me s ma. Po rt ant o ,
co nhe ce a s i me s ma. Po r isso , ao se buscar par a se co nhe cer já se
co nhe ce pr o cur ando - se par a se co nhecer . Lo go, já se co nhece. Ass i m,
não po de ig no r ar - se t ot alme nt e a a lma q ue, ao saber que se ig no r a a
s i me s ma, já se co nhece po r si me s ma. S e não so ubess e que ig no r a a
s i mes ma não se pro cur ar ia par a se co nhecer . Po rt ant o, pelo fat o de
se pro cur ar a si me s ma fica pr o vado que ela é ma is co nhec id a a s i
me s ma do que ig no r ada. Co nhece - se, po is, pr o cur ando - se, e ig no r a -
se ao se pro cur ar par a se co nhecer

Fica bastante evidente que a alma já tem ciência interior intrínseca


da sua própria existência, e que é daí que vem a vontade de buscar este
conhecimento latente em si mesma, tornando -o claro ao homem exterior. E
mais, que como já conhece a si mesma de for ma completa, é que consegue
realizar esta busca. Pois para Agostinho não se pode buscar o que se
desconhece. Quando afirma: “ Qua ndo vier essa lembrança à memória, poderá
logo ser reconhecida como sendo o que era procurado”, fica tudo evidente. Se
o que é procurado vem de uma lembrança, se trata de um conhecimento
existente e anterior, portanto, pertencente à própria alma buscadora. Significa
que esta lembrança precede a atual experiência do homem exterior , através de
sua percepção e memória física .

11
I nat o / adquir ido : Na linguage m fi lo só fic a, o inat o e o adquir ido se r est r ing e m
est r it a me nt e ao do mínio da t eo r ia do co nhec i me nt o , nada t endo a ver co m u ma d if er ença
qua lquer e nt r e o s ho me ns. Ass i m. as ide i as inat as, de fe nd idas po r Descar t es, são a s ide ia s
de no sso esp ír it o que não no s advê m pe l a exper iê nc ia. E x. : as ide ias de Deus, de causa, de
pensa me nt o. As ide ia s adqu ir idas, ao cont r ár io , são as que são apr eend idas pe la
exper iê nc ia: as ide ia s de co r, de co ns ist ênc ia, de sa bo r et c. Tr at a - se de uma d ist inção
esse nc ia l me nt e ló g ica, não cr o no ló g ica. E m t er mo s mo der no s, ps icó lo go s e bió lo go s
pr efer e m fa lar de d ispo s içõ es inat as; po r exe mp lo , no ho me m, a facu ldade de fa la r .
35

P o is a a l ma vê a lgu mas co isas int r insec a me nt e be las nu ma nat ur eza


super io r , que é Deus. E quando dever ia est ar per ma nece ndo no go zo
desse B e m, ao quer er at r ibu í - lo a s i mes ma não quer fazer - se
se me lha nt e a Deus, co m o auxíl io de Deus, ma s ser o que e la é por si
pr ó pr ia, a fast a ndo - se dele e r esva la ndo . F ir ma - se cada vez me no s,
po r que se ilude, pensa ndo subir cada vez ma is a lt o . Não se bast a a s i
me s ma, e ne m lhe bast a be m a lgu m, ao se afast ar daque le que
unica me nt e se bast a. Po r is so devido à sua po br eza e às dif icu ldade s
se m co nt a, ent r ega - se exce ss iva me nt e à s suas pr ó pr ia s at ivid ades e
ao s pr azer es mist ur ado s a inqu iet açõ es insac iá ve is que susc it a. E
ent ão , pelo ávido dese jo de adquir ir co nhec i me nt o s do mundo
ext er io r , cujas de líc ias a ma e t eme per der , caso não a s r et iver co m
mu it o cu idado , per de a t r anqu il idad e, e t ant o me no s pensa e m s i
me s ma quant o ma is segur a est á de que não po de per der - se a si mes ma.

É bastante evidente que Agostinho , com a citação acima , afirma que


o homem exterior, “ao se afastar daquele que unicamente se basta”, também se
afasta do que realmente é o homem interior e de sua origem, ou seja, Deus. Que
é pelo íntimo do homem exterior que se encontra o homem interior e através
deste o próprio Bem, assim como consegue se identificar como Superior e sua
própria centelha divina.

E po r que são co r po s que amo u ext r ins eca me nt e pe lo s sent ido s


co r por a is e se apego u a ele s po r uma dur ado ur a fa mi l iar idade, e por
não t er po ss ibil id ade de o s int er io r iza r nu ma co mo r eg ião de nat ur eza
inco r pór ea, enr eda - se ne ssa s image ns. E fo r mad as que fo r a m e m s i
me s mas, de s i mes ma s, de las se apo ssa. A me nt e co mu nica - lhes a lgo
co mo de sua pró pr ia subst ânc ia. Co nser va co nt udo o po der co m o
qua l e m it e l ivr e me nt e u m ju ízo so br e a be lez a des sas i mage ns. E sse
po der é pro pr ia me nt e a me nt e, o u se ja, a int e l igê nc ia r ac io na l à qua l
per ma nec e co mo pr inc íp io de ju lga me nt o.

I nco r r e em er r o a alma qua ndo se ide nt if ica t ant o a essas ima ge ns,
le vada po r t al a mo r , que ve m a co ns ider a r - se da me s ma nat ur eza que
e la s. As s i m d e cer t o mo do ass im i la - s e a e la s, não pe la e xist ênc i a
r ea l, mas pe lo pensa me nt o . Não que se co ns ider e u ma image m, mas
se ide nt if ica co m o o bjet o de que le va a imag e m e m s i mes ma.
E nt r et ant o , per ma ne ce ne la o ju ízo que a capac it a a d ist ingu ir o co r po
ext r ínseco da image m que e la le va e m s i. A não ser que essas image ns
se pr o duzam co mo se est ives se m fo r a de s i, e não po r r epr esent ação
no pens a me nt o int er io r . É o que aco nt ece co m o s que est ão ent r egues
ao so no, ao s pr ivado s da r azão o u ao s que se e nco nt r a m e nt r egues a
qua lquer t ipo de êxt ase.

Agostinho deixa entendido pelo que foi exposto acima que a


existência verdadeira do Ser somente pode ser rememorada pelo interior, e que
quando as imagens são do homem exterior, adquir idas pelos sentidos, e aceitas
36

por este como a realidade, é uma prova de que está entregue ao sono, entregue
em um mundo ilusório. Segundo ele, o mundo real somente é acessível pelo
interior, como já visto.

P or que, ass im co mo o que é pro cur ado pe lo s o lho s o u o ut ro sent ido


do cor po , é a alma que pr o cur a — po is é e la que d ir ige o s sent ido s e
é e la que e nco nt r a, quando o s sent ido s depar a m a co isa pr o cur ada —
a pró pr ia a l ma de ve co nhecer po r si mes ma as r ea l idade s que co nhec e
se m a int er ve nção do s sent ido s, quando a e la s se d ir ige e as e nco nt r a.
I sso quer se t r at e da subst ânc ia ma is e le vada que é Deus, quer se ja
das de ma is par t es da a l ma, co mo aco nt ece quando e la e m it e u m
ju lga me nt o so br e as image ns me s mas do s co r po s. E la as t er á
enco nt r ado , co m e fe it o , no se u int er io r mes mo , impr e ssa s at r avés do s
se nt ido s.

Afirma enfatizando que a causa deste afastamento é o uso dos


sentidos colocando o homem exterior amor nas coisas em que pensa com amor,
entretanto, nas coisas corporais. Isto impede que se contemple a si mesmo em
sua pureza, ou seja, o homem interior.

Chama atenção para quando se ouvir “conhece -te a ti mesmo” se dever


saber o real significado do “conhece -te” e do “a te mesma”, pois somente assim
a alma se reconhecerá e saberá o que e onde buscar. Afirma que a alma
entendendo isto se intui, e realiza então o ato.

Que a alma co nheç a - se, po rt ant o, a si m es ma, e não se busque co mo


se vives se aus e nt e, ma s fixe e m s i mes m a a int enção da vo nt ade que
vague ia po r o ut r as co isa s e pense e m s i m es ma. Ver á ass im que nu n ca
de ixo u de se amar ne m de se co nhecer , mas ao amar o ut r as co is as
co nfud iu - se co m e la s e, de cert o mo do , co m e las adqu ir i u
co ns ist ênc ia. De ma ne ir a se me lha nt e, um co nju nt o abr ange d iver so s
e le me nt o s, co ns ider a ndo - se não ha ver se não uma só r ealidade, o nde
há d iver so s e le me nt o s be m d ifer e nt es.

Também esclarece que se a alma se reconhece é porque conhece a sua


substância, e tudo com uma absoluta certeza interior que inunda sua mente.

Voltando a falar sobre memória, inteligência e vontade , diz que como


não são três vidas, mas somente uma, e como não são três almas mas também
somente uma, consequentemente também será uma única substância, e não três.
Ainda, que encontramos na memória, na inteligência e na vontade , a presença
37

da mente, e , por isto, ela se conh ece e se quer sempre lembrando de si mesma ,
tendo inteligência e amor também de si.

2.16 A Trindade – Li vro XI

Agostinho, confirmando que “é consenso universal que, assim como


o homem interior é dotado de inteligência, o homem exterior é dotado de
sentidos corporais”, dá início a argumentos tratando da trindade, tanto do
homem exterior como do interior. E considerando certa semelhança entre eles,
mesmo sendo o homem exterior corruptível, defende que em ambos está a
trindade presente. Neste capítulo fica b astante evidente que a trindade se trata
de uma Lei universal 12.

Defende que decorrente da condição humana, sendo seres mortais e


carnais, est amos sujeitos mais facilmente a lidar com as coisas sensíveis do que
com as inteligíveis 13. Aqui pode se r notad a mais uma vez a forte influência
platônica nos ensinamentos deste importante filósofo. Diz que a s coisas
sensíveis são perceptíveis pelos sentidos do corpo e as inteligíveis pe la mente.

Para Agostinho, como estamos tão familiarizados com o que é


corporal, nossa atenção normalmente se volta para o mundo exterior, e que, por
conta das incertezas destes, finda tendo mais dificuldade em se fixar no

12
Univer sa l/ u niver sa is ( lat . uni versal es ) 1. Univer sa l é aqu i lo que se ap lica à t ot alidade,
que é vá lido e m qua lquer t empo o u lugar . *E ssênc ia, qua lidade es se nc ia l e xist ent e e m
t o do s o s ind ivíduo s de u ma mes ma esp éc ie e de fin indo - o s co mo t ais. P ar a P lat ão,
univer sa l é a fo r ma o u ide ia. S egundo Ar ist ót ele s, "u ma vez que há co isas u niv er s a is e
co isas s ingu lar es ( c ha mo univer sa l aqu i l o cuja nat ur eza é a fir mada de d iver so s su je it o s e
s ingu lar aqu i lo que não o po de ser : po r exe mp lo , ho me m é u m t er mo univer sa l, C á lia s, u m
t er mo ind iv idua l) " ( Da I nt er pr et ação, VII ) .
13
I nt elig íve l: ( lat . i nt el l i gi bi l i s ) Que po de ser co mpr ee nd ido , que é acess íve l ao
ent end i me nt o hu ma no . 1. P ar a P lat ão , é o mundo das ide ia s o u fo r ma s, co nst it u íd o pelas
fo r ma s pur as das qua is o s o bjet o s no mu ndo sens íve l são có pias, se ndo po r nat ureza
i mut áve l, et er no , per fe it o . "No mu ndo int elig íve l, a id e ia de be m é per cebida po r ú lt imo e
a cust o . .. é causa de t udo quant o há de d ir e it o e be lo cm t o das as co isas " ( P lat ão ). Na
co ncepção plat ô nica, o mu ndo int e lig íve l co nst it u i a ver dade ir a r ea lidad e, exist indo
separ ada e aut o no ma me nt e do mu ndo sens íve l, o que faz co m que seu s cr ít ico s,
pr inc ipa l me nt e Ar ist ót eles, le va nt e m o pr o ble ma da d ific u ldade de r e lação ent r e o s do is
mu ndo s, de nat ur eza difer ent e e o po st a.
2. E m P lo t ino , t r aduz - se po r vezes o t ermo nous po r "int e ligê nc ia " o u "int e lig ív e l",
co nst it u indo e m sua o nt o lo g ia a segu nda e ma nação o u hipó st ase, t endo sua o r ige m no Uno
do qual se eng e ndr a pe la co nt e mp lação .
38

espiritual. Contudo, que quanto mais nos esforçarmos por compreender as


realidades espirituais e interiores, mais facilmente passam a ser o s acessos aos
mesmos.

Sobre o corpo e a alma diz que: “ E embora um corpo sem vida não
tenha sensações, a alma, no entanto, unida ao corpo sente através de um
instrumento corporal, instrumento esse chamado de sentido ...”. Sentido este
que deixa de se apresentar no corpo quando presente alguma limitação física.
Porém, a alma não sofre qualquer alteração com isto, permanece a mesma, pois
é perfeita e imortal.

A a l ma r ac io na l vive de ma ne ir a co nt rár ia à sua nat ur eza quando


co nfo r ma sua vida à t r indade do ho me m ext er io r , o u se ja, quando se
a ju st a às co isas qu e do ext er io r info r ma m o se nt ido co r po r al, não
segu indo a vo nt ade be m int e nc io nada qu e a po der ia d ir e c io nar a a lgo
pr o ve it o so . E nt r ega - se ass im às co isa s t empo r a is co m co ncup is cê nc i a
e a elas se apega.
I sso po r que, desapar ec ida a figur a cor por al que at uava so br e o
se nt ido co r po r al, per ma nece na me mó r ia u ma i mage m de sse o bjet o ,
i mage m e ss a que po de le var a vo nt ade a vo lt ar - se no va me nt e a ela
co m o o lhar da alma. A info r mação passa - se ass i m p ar a o int er io r ,
t al co mo do ext er io r o sent ido er a inf o r mado med ia nt e o o bjet o
se ns íve l. P r o duz - se desse mo do uma no va t r indade pr o duz ida pe la
me mó r ia, pe la visão int er na e pe la vo nt ade que a a mbas e nla ça.
Quando essas t r ês co is as est ão r eunida s e m u m só t o do, essa r eunião
é d it a ser o pensa me nt o — pala vr a cu ja r a iz le mbr a essa u nião .

Para Agostinho, a natureza da alma racional é conformar sua vida à


trindade do homem interior. Logo, considerando que o homem interior é
imagem e semelhança de Deus, é natural que busque seu retorno à condição
original, como também já visto anteriormente em outros livros seus.

Todavia, deixa claro que a trindade do homem exterior não é imagem


de Deus, uma vez que é gerada pelos sentidos, e embora se processe
interiormente, continua se referindo a coisas exteriores . Todavia, não tem
dessemelhança total com Deus, já que é produzida na alma, mesmo tendo sido
apreendida pelos sentidos do homem exterior.

Esclarece que a alma tem poder e influência sobre o corpo com tanta
intensidade que po de ser comparada a uma pessoa que se veste com uma roupa
e que com ela se ident ifica.
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Sobre a segunda trindade Agostinho fala que é mais interior do que a


primeira. Que é existente nos sentidos e no sensí vel; todavia, sendo aí que tem
origem. Entretanto, completa: “ não é mais um objeto exterior que informa o
sentido corporal, e sim a memória, que informa o olhar da alma.” Isso ocorre
quando a visão dos sentidos é percebida exteriormente e adere à memória .
Todavia, ela já tinha existência na memória mesmo antes de nela pensarmos.
“Embora a trindade, de que agora se trata, tenha se introduzido na alma
mediante elementos exteriores, contudo seu campo de ação é o interior. ” Com
isto, afirma, nenhum dos elementos são estranhos à natureza da alma.

Com Agostinho se percebe que há inúmeras trindades deste gênero,


já que nenhuma pode aparecer sem as três realidades, ou seja, o que está retido
na memória (antes mesmo de ser acessado), a imagem (formada no pensamento
e na hora da visão) e a vontade que une as duas, formando estes elementos a
unidade, isto é, “um todo acabado”.

O mo me nt o me ad ver t e so br e a o br igaç ão de agor a inve st igar ess a


me s ma t r indade no ho me m int er io r e ir par a dent ro part in do dess e
ho me m a ni ma l e car na l, que se de no min a ext er io r , do qual t r at ei já
dur ant e t ant o t empo . E sper amo s e nco nt rar ne le a i mage m de Deu s,
co mo r efle xo da T r indade, a jud a ndo - no s e m no sso s es fo r ço s aque le
que a cr iaç ão e a pró pr ia E scr it ur a at est a m que d is pô s t udo e m
nú mer o , med ida e peso .

Finaliza este livro voltando a mencionar a trindade existente também


no homem interior, como reflexo da própria Trindade divina, ou seja, de Deus.
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3 CONCLUSÃO

Pelo que foi visto na obra Confissões pode ser observado que
Agostinho teve uma vida normal, pelo menos inicialmente, como de qualquer
outro homem de sua época.

Agostinho relatou diversas experiências vividas ao longo de sua vida


que afirmavam sua dependência do sensível ao longo de muitos anos, e a
importância que dava aos sentidos. Chega inclusive a tratar das faculdades dos
sentidos humanos e sua relação com as percepções percebidas pelos mesmos.

Contudo, por efeito de sua vontade exterior, atendendo a vontade


própria de seu homem interior, a partir de certa idade deu início a uma busca
da Verdade. Inicialmente acredita va que se tratava simplesmente de uma busca
por conhecimento, o que posteriormente ficou evidente estar equivocado. Pois
pelos escritos que deixou, principalmente os da idade madura, fica eviden ciado
que sua busca na verdade era atendendo a um anseio interior de encontrar e
compreender o próprio Bem, a Deus .

Também pode ser observado em seus ensinamentos, principalmente


os contidos na obra A Trindade, que o homem exterior é apenas parte de uma
trindade, sendo as demais o homem interior e o próprio Bem, contido em ambos,
os quais formam uma unidade. Aliás, unidade e trindade estas evidenciadas em
vários casos e situações diversas, portanto, comprovando o autor se tratar de
uma Lei universal.

Outro ensinamento evidenciado por este grande filósofo é de que a


alma é imortal, portanto, precede e sucede ao corpo. Logo, demonstra haver
uma origem esquecida pelo homem exterior, mas que pode ser rememorada
através do homem interior . E que uma ve z vi ve nciada esta rememoração, a
mesma passa a integrar permanente mente a memória consciente do ser. E que
inconscientemente ali já exist ia, dando inclusive condições para o retorno
consciente à origem da própria alma.

Foi observado também que ele recebeu influência principalmente dos


ensinamentos de Platão, Aristóteles, Plotino e Santo Ambrósio. E que seus
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próprios conhecimentos registrados influenciaram toda a filosofia ocidental


assim como o próprio cristianismo. Porém, que , séculos após a própria igreja à
qual fazia parte alterou a concepção de muitos dos ensinamentos deixados por
ele, como a experiência direta através do homem interior para alcançar Deus,
sendo esta substituída por dogmas, como alcançar o Criador através dos
sentidos do homem exterior , ou seja, no mundo visível e pelos sentidos
sensíveis.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGR ÁFICAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia; 6ª ed., 4ª tiragem. São Paulo:


Editora WMF Martins Fontes Ltda, 2018.

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AGOST INHO, Santo. Confessiones; tradução Maria Luiza Jardim Amarante .


São Paulo: Editora Paulus, 2016.

AGOST INHO, Santo. Os Fundamentos Ontológicos do Agir ; [recurso


eletrônico]; tradução Matheus Jeske Vahl . Pelotas: NEPFIL online
(Departamento de Filosofia UFPE L ), 2016. ISBN: 978 -85-67332 -44-4;
http://nepfil.ufpel.edu.br/index.php .

PEREIRA, Rosalie Helena de Souza . Agostinho de Hipona : considerações


sobre o mal e temas correlatos em De libero arbítrio ; Porto Alegre : Editora
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EDIPUCRS) ,
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http://re vistaseletronicas.pucrs.br/ojs/indez.php/veritas/article/view/12957/11
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SANTO Agostinho de Hipona . direção: Christian Dugua y, 3:14:57 mi n.,


Color. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=P6HYTjMjJns .
Acesso em 12/09/2018.

SILVA, Roberto José da. SANTO AGOST INHO: INTERIORIDADE E


MEMÓRIA; Presidente Prudente, 2008. Disponível em
http://re vistas.unoeste.br/revistas/ojs/index.php/ch/article/view/302/588 .
Acesso em 15/09/2018.

JAPIASSÚ, Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia ; 3ª


ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

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