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Monografia
Salvador (Bahia)
Dezembro de 2017
II
FICHA CATALOGRÁFICA
Universidade Federal da Bahia
Sistema de Bibliotecas
Biblioteca Gonçalo Muniz – Memória da Saúde Brasileira
III
Monografia
Salvador (Bahia)
Dezembro, 2017
IV
COMISSÃO REVISORA:
EQUIPE
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES
FONTES DE FINANCIAMENTO
1. Recursos próprios.
VII
AGRADECIMENTOS
♦ A minha família, por todo apoio e carinho de sempre durante essa caminhada.
♦ Aos amigos e colegas, que participaram desse percurso tornando mais colorido, alegre e leve.
1
SUMÁRIO
I. RESUMO 3
II. OBJETIVOS 4
IV. METODOLOGIA 9
V. RESULTADOS 11
VI. DISCUSSÃO 17
VII. CONCLUSÕES 24
VIII. SUMMARY 25
IX REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 26
2
I. RESUMO
II. OBJETIVOS
GERAL:
ESPECÍFICOS:
O entendimento dos conceitos de saúde e doença que se conhecem atualmente passou por
diversas mudanças ao longo dos anos. A análise da trajetória dessas concepções ao longo da história
permite uma compreensão de como o modelo biomédico alcançou o auge e conquistou um enorme
espaço dentro do modelo de cuidado, dificultando o reconhecimento das práticas integrativas e
complementares (PICs) como formas de opções terapêuticas.1,4
A medicina mágico-religiosa, predominante na antiguidade, atribuía às enfermidades
presentes no período como punições por transgressões cometidas individuais ou coletivamente. Com
o advento da Filosofia, na Grécia clássica, há um marco sobre a busca de explicações para os
fenômenos naturais que contribui para o surgimento da medicina empírico-racional, livre da
intromissão de forças divinas. Essa implementação do pensamento científico e posteriormente a
revolução industrial, contribuíram para o desenvolvimento do modelo biomédico que foi bastante
importante no desenvolvimento da saúde pública, principalmente no controle das infecções.
Contudo, com avanço e sofisticação da biomedicina foi sendo detectada sua impossibilidade de
oferecer respostas conclusivas ou satisfatórias para muitos problemas de componentes psicológicos
ou subjetivos que acompanham o processo de adoecimento, uma vez que esse modelo
intervencionista reduziu o corpo a um objeto de estudo e permitiu que o conceito de saúde fosse
associado a um estado de ausência de doença. 1,4
É nesse contexto em que há uma expansão do entendimento de saúde, vinculando conceitos
de prevenção e promoção como práticas importantes no bem-estar do individuo. Esse cenário torna
favorável uma maior inserção e reconhecimento das PICs no campo da saúde, uma vez que há um
objetivo de resgatar modelos alternativos de sociabilidades mais ligados à natureza e com menor
interferência das indústrias farmacêuticas. 4,26
As práticas integrativas e complementares em saúde, também denominados de medicina
tradicional e complementar/alternativa (MT/MCA), segundo Schveitzer (2012), consistem em
“racionalidades e práticas que partilham de uma perspectiva vitalista, centrada na experiência de vida
do paciente, com ênfase no doente e não na doença; e integradora, de caráter não intervencionista”.
Essas foram emersas de práticas artísticas conhecidas como medicina popular, que passa a ser campo
de estudo de antropólogos e sociólogos internacionais em meados da década de 30, que fazem uma
investigação de práticas culturais relacionadas ao cuidado. 5,26
No âmbito internacional (EUA e Europa), no final dos anos 60, movimentos de contracultura
em combate a uma onda tecnológica, visando uma necessidade de valorização da natureza,
fortaleceram noções e conceitos ligados à ecologia. No campo da saúde, essa movimentação criou
um espaço para o conceito de promoção de saúde, que visa à prevenção antes que se atinja uma
6
morbidade, fugindo da medicalização social vista como um domínio político dos cidadãos, atrelado
ao reducionismo biologicista da medicina. Nesse contexto, a Conferência Internacional de Alma-Ata,
realizada na antiga União Soviética (URSS) em 1978, e a Conferência Internacional sobre Promoção
da Saúde, realizada em Ottawa em 1986, foram importantes para a propagação do conhecimento e
levantamento desse debate para o resto do mundo. Trazendo para o contexto do Brasil, tem-se a
realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, no qual suas ideias são utilizadas, ainda
que de forma discreta, na criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988. 16,29
Dentro desse campo, têm-se as práticas conhecidas como Racionalidades Médicas (RM) que
englobam a Medicina Ocidental Contemporânea ou Medicina Alopática, Medicina Tradicional
Chinesa, Medicina ayurvédica, Medicina Homeopática, dentre outras. 29
A formulação da RM, iniciada por volta de 1992, foi composta por diversas etapas de um
projeto realizando um estudo e comparação das medicinas homeopática, tradicional chinesa,
ayurvédica e ocidental contemporânea também conhecida como biomedicina. Ao final desse grande
estudo, ao longo dos anos, passou a assumir um caráter político na afirmativa de diversas
modalidades de saber médico. 17,29
É importante salientar que a RM não é um campo isolado, está inserida nas práticas
integrativas. Ocorre uma distinção entre esses termos, pois o conceito da RM foi fundamentado e
estruturado em seis dimensões que são: morfologia humana, dinâmica vital (fisiologia), sistema de
diagnóstico, sistema terapêutico, doutrina médica e cosmologia, que trazem uma proposta de
expansão da prática clínica engessada nos conhecimentos da biomedicina. Enquanto que as práticas
integrativas e complementares são bastante abrangentes, não estabelecem uma padronização
conceitual, abarcando também práticas artísticas e conhecimentos do saber popular de várias
culturas. 16,29
Atualmente, foi implantado pelo Ministério da Saúde a Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC), em 2006, no SUS que envolvem justificativas
socioculturais e econômicas, como garantia de se realizar uma integralidade na atenção à saúde, que
é uma das políticas do Sistema Único de Saúde (SUS). 5,26
A PNPIC promoveu incorporação e institucionalização de práticas como a homeopatia, as
plantas medicinais e fitoterápicas, a medicina tradicional chinesa/acupuntura, a medicina
antroposófica e o termalismo social/crenoterapia, que já vinham sendo desenvolvidas na rede pública
de muitos municípios e estados. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adoção dessas
práticas favorecem princípios fundamentais como: “universalidade, acessibilidade, vínculo,
continuidade do cuidado, integralidade da atenção, responsabilização, humanização, equidade e
participação social”. 3,5,26
7
Essa política sofreu uma atual expansão com a Portaria nº 849, de 27 de março de 2017,
proposta pelo Ministério da Saúde, em que mais práticas foram incorporadas, que são: Arteterapia,
Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia,
Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga. 15
Ainda que haja um crescente debate sobre essas práticas integrativas e adoção de medidas
públicas, há um desafio inerente de se inserir essas práticas como modalidade terapêutica. Isso
ocorre, pois a totalidade do individuo e seu processo de adoecimento são, em muitos casos,
desconsiderados no modelo hegemônico da clínica médica. Sobre essa negligência do processo de
adoecimento, através de uma perspectiva vitalista, Canguilhem (2005 apud Nogueira, 2010) faz a
seguinte abordagem: “as doenças do homem não são somente limitações do seu poder físico, são
dramas de sua história”. 17,20
É dessa forma que a integralidade no desenvolvimento da racionalidade biomédica é
prejudicada, uma vez que essa prática se afasta da individualidade das pessoas, tornando a prática
homogênea e padronizada sem levar em questão as subjetividades envolvidas, além da fragmentação
dos conhecimentos, onde a prática é voltada para ações terapêuticas medicamentosas com solicitação
de exames. Há um destoamento entre o saber teórico e as práticas acolhedoras, voltada para o ser em
processo de adoecer. Esse desequilíbrio e um maior empoderamento dos usuários do sistema, em
relação aos serviços oferecidos e sua qualidade, tem levado há um aumento na procura de práticas
integrativas e complementares. 16,29
Diante desses fatores, torna-se necessário analisar também a formação desses profissionais de
saúde, mais especificamente os médicos, para verificar o acesso dos mesmos a essas práticas
alternativas do cuidado que pregam uma visão ampliada do individuo. 30
Trazendo um panorama internacional, percebe-se uma boa adesão das universidades no
ensino das PICS em resposta ao crescente interesse na década 90. O Reino Unido, em 1993 passou a
recomendar o ensino das medicinas alternativas e complementares (CAM) nas escolas médicas, e
após três anos (1996), 23% das faculdades de medicina já ministravam esse conteúdo referente às
CAM. Um levantamento em 1998 mostrou que 64% das escolas médicas americanas (EUA)
ministravam conteúdos relacionados às práticas. Do mesmo modo, uma pesquisa também em 1998,
revelou que 81% das escolas canadenses tinham adotado o ensino dessas mesmas práticas. 8,19,30
No contexto brasileiro, há uma enorme defasagem no ensino regular destas abordagens no
currículo das escolas de medicina e, com isso, a classe médica não tem preparo para atuar com essas
práticas, não proporcionando uma abordagem terapêutica adequada para o paciente. Já estão sendo
realizadas pesquisas que reforçam a necessidade e importância da adaptação das universidades a essa
“nova” demanda da sociedade e os benefícios obtidos na relação médico-paciente, uma vez que além
de diminuir o preconceito com essas práticas, o profissional se encontrará mais qualificado para
8
orientar os seus pacientes. Outras contribuições do ensino das PICs é a valorização da subjetividade
do indivíduo e a integração com o modelo biomédico no cuidado em saúde. 7,17,20,31
Com isso, a ampliação do ensino inserindo as práticas integrativas durante a formação médica
está em consonância com que é proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais desse curso, no qual o
perfil almejado para esse profissional é baseado na “perspectiva da integralidade da assistência, com
senso de responsabilidade social”. 8
Sendo assim, tem-se a intenção caracterizar o ensino das práticas integrativas e
complementares nos cursos de graduação em medicina no Brasil.
Considerando a importância das PICs, outro objetivo é evidenciar o seu ensino na
Universidade Federal da Bahia, que foi a primeira instituição de ensino superior no pais, pois há
necessidade de uma pluralidade na assistência com ampliação da percepção do indivíduo e das
propostas terapêuticas no cuidado. 17,20
A UFBA possibilita aos seus alunos a realização de uma matrícula via internet a partir do
segundo semestre, através de um portal chamado Siac, que todos os discentes são orientados a fazer
inscrição logo no inicio do curso. Esse portal, no período da matricula, fornece acesso dos estudantes
às matérias obrigatórias e optativas referentes ao seu curso disponíveis, para que possa ser solicitada
a matricula. Com isso, o portal e o site da instituição foram utilizados para a realização da
caracterização do ensino.
9
IV. METODOLOGIA
A seleção dos artigos foi realizada considerando artigos publicados no período de 01 janeiro
de 2006 a 31 de outubro de 2017, sendo a busca realizada no segundo semestre de 2015 até o
segundo semestre de 2017.
As ementas foram buscadas no início do segundo semestre curricular, mês de novembro, de
2016 e foi realizada uma nova busca no segundo semestre curricular, mês de outubro, de 2017.
As buscas dos artigos para revisão foram realizadas do segundo semestre de 2015 até o
segundo semestre de 2017 e foram selecionados artigos que abordavam o ensino dessas práticas
integrativas e complementares na graduação do estudante de medicina e artigos publicados no
período de 01 de janeiro de 2006 a 31 de outubro 2017.
A retirada de artigos foi realizada adotando os seguintes critérios de exclusão: artigos que
fugissem do tema do ensino das práticas integrativas na graduação de medicina, cartas de editoriais,
artigos duplicados e que não estivessem disponíveis o texto integral e de forma gratuita.
Para a realização deste estudo não houve necessidade de submissão do projeto ao Conselho
de Ética em Pesquisa.
11
V. RESULTADOS
Como descrito na metodologia, as buscas dos artigos foram realizadas nas bases de dados
indicadas aplicando os descritores, selecionando artigos dos últimos 11 anos (2006-2017). Os
resultados obtidos através dessa busca podem ser visualizados no Quadro 1.
dos artigos e aplicando os critérios de exclusão foi realizada uma triagem, em que artigos de revisão,
duplicados, que fugissem do tema e cartas de editoriais foram descartados, sendo 38 artigos pré-
selecionados. Desses artigos, 6 foram selecionados, uma vez que artigos duplicados encontrados nos
descritores e que fugiram do tema após leitura completa do texto foram dispensados.
Autores/Ano de publicação Instituição de Ano que Práticas Formato de Momento que Avaliação dos
ensino superior iniciou o integrativas e oferta da PIC está disponível resultados
ensino complementares para o aluno para alunos alcançados
(PICS) ensinada
João Eduardo Daud Amadera; Faculdade de 2002 Acupuntura 1 matéria Sétimo Os alunos
Hong Jin Pai; Wu Tu Hsing; Medicina da optativa semestre consideraram que o
Marcus Zulian Teixeira; Universidade de curso possui boa
Mílton de Arruda Martins; São Paulo qualidade, no qual
Chin An Lin. 2010 se acham
parcialmente
capazes de exercer
a técnica.
Sandra Abrahão Chaim Salles. Centro 2009 Homeopatia 1 matéria Sexto semestre Os alunos
2012 Universitário obrigatória referiram que a
São Camilo matéria contribui
para sua formação
e resultou na
redução de
preconceitos,
escuta ampliada,
foco no individuo,
clinica ampliada, e
outro caminho de
abordagem
terapêutica.
2014 públicas do
Brasil
Maria Inês de França Roland; Faculdade de 2002 Acupuntura 1 matéria Terceiro ano Alunos percebem
Reinaldo José Gianini. 2014 Medicina da optativa com certa resistência na
Universidade de prática utilização dessa
São Paulo ambulatorial. prática no meio
médico;
desconhecem o
processo de
implantação da
acupuntura como
política pública de
saúde; identificam
o seu benefício
terapêutico;
avaliam
necessidade de
regulamentação da
formação e prática
dessa técnica.
João Bosco Guerreiro da Faculdade de 1997 Acupuntura 1 Matéria Terceiro ano e Alunos avaliam
Silva; RassenSaidah; Cecília Medicina de Rio obrigatória; quinto ano positivamente a
Baccili Cury Megid; Neil Preto Ambulatório presença da
Alvimar Ramos. 2017 (2007) acupuntura no
currículo e que
proporcionou
identificar
pacientes que
podem se
beneficiar dessa
técnica.
Ivia Fonseca de OliveiraI; Universidade 1994 Homeopatia 2 matérias Segundo período Alunos avaliam
Bráulio Henrique B. PelusoI; Federal obrigatórias; 3 e sétimo período positivamente a
Filipe A. C. FreitasI; Fluminense optativas (1997); (obrigatórias). A presença dessa
Marilene Cabral do partir do prática no ensino,
Nascimento. 2017 segundo período, porém sentem
terceiro período faltam de uma
ou todos maior integração
períodos com modelo
(optativas). biomédico e um
ambulatório-escola
para realização de
aulas práticas.
NI- Não informado
Com a avaliação do início do ensino das PICs nas universidades encontradas, foi possível
identificar que a grande maioria teve seu início antes da implantação da Política Nacional de 2006.
Também foi verificado que há um maior espaço para o ensino da homeopatia e acupuntura em
comparação com as outras práticas integrativas e complementares, e que essas, em determinadas
universidades, são realizadas há décadas. Esse longo tempo de ensino permitiu um avanço no ensino
das mesmas, com expansão de oferta de matérias optativas e inclusão de práticas ambulatoriais,
contudo, muitos autores trazem, que houve também uma dificuldade de continuação do ensino e
muitas perderam seu campo de prática ou reduziram as matérias oferecidas. 2,18,22,23,24,25,27
15
Outro dado coletado a partir dos textos selecionados, é que a grande maioria das instituições
apresentaram o ensino das PICs em seu currículo de forma optativa e sem realização de aulas
práticas pelos alunos, trazendo alguns prejuízos no aprendizado por não desenvolver a habilidade
técnica e ter contato com os pacientes que se beneficiam dessas práticas. Devido a isso, em algumas
instituições houve a formação de ligas acadêmicas pelos alunos voltadas para suprir a necessidade de
um contato prático ou então para proporcionar uma maior experiência na área. 2,,22,23,24,25
A perspectiva dos estudantes de medicina quanto ao aprendizado das PICs, abordada por
esses autores, se mostrou bastante favorável a sua presença na grade curricular do curso, onde a
maioria concorda que deveria ser abordado como optativa, alegando uma atual grade curricular com
extensa carga horária. 2,18,,23,24,25,27
Outro dado importante apontado, é que muitos dos graduandos em medicina desconheciam a
Política Nacional de práticas integrativas e complementares de 2006, que possibilita o acesso a essas
práticas pelo SUS. 23
Apesar de não ter sido o foco da revisão, foi identificada a formação de ligas acadêmica por
determinados grupos de alunos nas faculdades o que proporcionou um aprofundamento do
conhecimento sobre PICs e possibilitou a realização de atividades práticas. 22,24,25,27
A análise documental das ementas de cada matéria obrigatória e optativa, disponíveis no Siac
e no site da instituição, do primeiro ao sexto ano na graduação de medicina na UFBA, revelou não
existir o objetivo de debater sobre práticas integrativas e complementares no seu componente
curricular. Na busca não foram visualizadas as palavras-chaves (medicina alternativa e
complementar; práticas integrativas e complementares; fitoterapia; racionalidades médicas;
naturopatia; meditação; reiki; homeopatia; reflexoterapia; auriculoterapia; acupuntura; antroposofia;
terapia comunitária; medicina ayuverdica) propostas para avaliação.
17
VII. DISCUSSÃO
abordavam sobre essa realidade da formação médica e o ensino dessas práticas integrativas no
âmbito acadêmico. 5,28
Em uma análise geral dos artigos, pode-se observar que apesar das PICs estarem há milênios
sendo utilizadas por diversas populações, e que mesmo com a política de 2006 que foi importante
para reforçar sua presença e importância na terapêutica ampliada do paciente, ainda são reduzidos os
números de instituições que fornecem essa temática na graduação. Isso é bem verificado por Salles
(2007), que realizou uma investigação exploratória das 115 instituições listadas pela Associação
Brasileira de Educação Médica (Abem), a partir das suas pesquisas, encontrou que apenas 17
instituições ofertavam a prática de homeopatia. Essa pequena adesão das instituições também é
evidenciada no trabalho de Salles (2014), em que das 74 instituições públicas, catalogadas junto aos
órgãos de educação que possuem o curso de medicina, apenas 13 ofertam atividades em caráter
optativo, contra 53 instituições que não ofereciam nenhuma atividade sobre a temática. 23,24
Um fator que explicaria a ausência nas instituições seria a dificuldade de continuação do
ensino das PICs por falta da sua consolidação dentro da instituição, uma vez que foram
desenvolvidos por iniciativa pessoal de um grupo específico, dependendo dos mesmos para que haja
continuidade das atividades devido às resistências e falta de interesse nos demais docentes presentes.
Isso corrobora com que foi apontado por Texeira (2013), em que a incorporação dessas práticas no
currículo é dependente da vontade política de coordenadores dos cursos e diretores da instituição,
sendo muitas vezes desenvolvidas por médicos especializados na área de forma voluntária. Em
consonância com isso, tem-se o relato trazido por Oliveira (et al, 2017) de uma médica homeopata
que coordena três disciplinas optativas de homeopatia na Universidade Federal Fluminense (UFF) e
recebe auxílio de médicos convidados e cedidos pelo ministério da saúde para a continuidade do
curso. 8,18,24,32
Outro dado observado com a avaliação dos artigos é que a grande maioria das faculdades
identificadas ofertam esses cursos em caráter optativo. Isso também é indicado na revisão realizada
por Christensen (2010), em que as matérias são ofertadas em caráter eletivo. Contudo, há uma
sugestão de que eles fossem incorporados à grade principal do currículo, construídos com os mesmos
quesitos dos outros cursos ofertados. Essa inserção de caráter obrigatório permitiria abranger mais a
formação desses futuros médicos generalistas, permitindo uma integralidade como é proposto na
diretriz curricular avaliado por Salles (2012):
19
Com isso, estaria garantindo a integralidade a respeito do seu raciocínio clínico sem depender da
busca individual de cada aluno pela temática. 7,25,31
Essa “disputa” por tempo na grade curricular mínima obrigatória não é recente, como também
é apontado por Salles (2012). Com o crescente desenvolvimento das áreas de conhecimento ligadas à
biomedicina, as instituições de ensino rediscutem a carga horária que se usará para esses conteúdos.
Esse fator torna a inserção das práticas complementares na grade curricular dos profissionais de
saúde uma ação complexa que não possuiu uma solução simples. Há motivos corporativistas,
econômicos, religiosos a se considerar quando se deseja aprofundar o entendimento dessas práticas e
quando se propõe analisar a perspectiva de mudança de paradigmas no campo da saúde. Com isso, é
importante ressaltar que o ensino das PICs não visa substituir a estrutura do saber vigente, mas
agregar valores, percepções, possibilidades de compreensões diagnósticas e terapêuticas. 24,25,23
Também foi possível identificar outra característica nos artigos analisados, em que se há um
predomínio dentre as instituições oferecerem abordagem sobre homeopatia e acupuntura. Isso pode
ser explicado por essas práticas serem reconhecidas como especialidades médicas pelo Conselho
Federal de medicina desde 1980 para homeopatia e 1995 para a acupuntura. Segundo um
levantamento realizado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) e
pelo CFM, mostrou que a acupuntura e a homeopatia ocupam, respectivamente, o 22º e o 28º
contingente de profissionais dentre 53 especialidades médicas brasileiras. 8,24,26
Um dos motivos apontado como obstáculo na inclusão de outras práticas na graduação é a
escassez de estudos científicos, o que explica a dificuldade de encontrar artigos que identifique a
presença no ensino médico. Isso é paradoxalmente contrastado pelo crescimento da busca dessas
práticas pela sociedade como terapêuticas alternativas, principalmente nos casos de doenças crônicas.
Com isso, a produção científica não acompanha esse crescimento, o que reflete na falta de adesão das
graduações no ensino das mesmas, repercutindo em profissionais despreparados para oferecer um
serviço amplo, resultando em uma barreira para orientar sobre outras modalidades terapêuticas e na
relação médico-paciente. Existem relatos na literatura de pacientes que não se sentem confortáveis
em compartilhar que fazem uso dessas práticas com a maioria dos médicos. 20,23,24
Um fator que pode explicar esse desinteresse por uma abordagem mais holística e ampliada é
o predomínio da biomedicina no cuidado ao longo da história que contribui para o crescimento do
preconceito em relação às PICs, no qual muitos médicos desacreditam sua eficiência.1,20
20
A ciência pode ser um ponto de apoio para legitimação, não o único nem tampouco
necessário sempre. Outros valores além dos científicos são desejáveis na promoção
da saúde, bem como outros saberes de novas e antigas tradições não científicas ou
ocidentais [...]. Isso significa, em certa medida, "desepistemologizar" a discussão ou
tirá-la do marco positivista restrito e ingênuo em que comumente se a coloca.
(Tesser apud Azevedo, 2011)
No contexto dos estudantes, uma analise geral dos artigos, possibilitou observar uma boa
receptividade por parte dos estudantes que demonstraram interesse e reconhecimento da importância
dessa abordagem durante sua formação. Esse fato pode ser explicado pela proposta de integralidade
abordada pelas PICS, como evidenciado por Oliveira (et al, 2017): “A singularização do indivíduo,
com a valorização de queixas sensoriais, emocionais [...] preenchem lacunas do modelo biomédico e
facilitam uma abordagem ampliada de cada pessoa”. Isso promove uma ampliação da escuta ao
paciente e o raciocínio clínico, contribuindo para relação médico-paciente. 18,22,24,25,27
A grande maioria dos discentes concordou com a inserção das PICs de forma optativa, sendo
a principal justificativa o excesso de carga horária que ocasionaria na grade curricular. Já alguns
alunos acreditam que essa crítica à adesão no currículo obrigatório parte da dificuldade de aceitação
de novos paradigmas onde afirmam que “o modelo biomédico também possui um grau de abstração,
menos questionado devido à dominância de seu paradigma na cultura ocidental” (Oliveira, et al,
2017). Isso reflete que há maior valorização à dimensão física/bioquímica em comparação às
dimensões emocionais, psicológicas, energéticas no cuidar/ tratar de um indivíduo. 18,25
Ainda sobre a perspectiva dos alunos, um problema evidenciado é que maioria das
instituições que apresentam conteúdo teórico sobre as PICS não possuem um espaço para realização
de atendimentos com aplicação dessas práticas. Esse fato não possibilita uma melhor imersão e
21
vivência com maior apropriação dos conhecimentos pelos discentes, com também não permite
verificar resultados e obter relatos dos pacientes que utilizam essa prática. 2,18
Como um mecanismo de superar essas dificuldades encontradas em algumas instituições,
determinados grupos de alunos fundaram ligas acadêmicas sobre essas práticas para promover um
espaço de debate mais ampliado sobre essas técnicas, principalmente acupuntura e homeopatia. A
resposta à criação desses grupos foi bastante positiva e contribuiu para a formação acadêmica dos
participantes. 22,25
Em 1808, a transferência do trono família real portuguesa para o Brasil e sua permanência
temporária na Bahia acarretaram em fatos de relevância na nossa história. Um deles foi à criação da
Escola de Cirurgia, no Hospital Militar da Bahia, em 18 de fevereiro desse mesmo ano. Somente em
03 de outubro de 1832 adquire o nome de Faculdade de Medicina, que guarda até os dias atuais. 6
Dentro desses anos desde a sua criação, algumas mudanças foram realizadas na grade
curricular de ensino diante da necessidade de adequar a formação do médico de acordo as novas
realidades. O ultimo processo de transformação curricular em desenvolvimento nesta escola desde
2004, foi finalizado em 2009 e se encontra vigente até hoje. Esse projeto Político-pedagógico do
curso de medicina foi elaborado baseado no preceito legal da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(Lei n 9.394/96) que prevê, no seu artigo 12, inciso I, que “os estabelecimentos de ensino,
respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e
executar sua proposta pedagógica”. Esse projeto também visou seguir as recomendações propostas
pela diretriz Nacional Curricular de 2001, proposta pelo Ministério da Educação, definindo os
princípios, fundamentos, condições e procedimentos para a formação de médicos, estabelecidos pela
Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação. É apresentado que esse processo
de construção pedagógico reflete a busca de harmonizar os interesses que operam no sistema
educacional e necessidades da sociedade sobre o profissional que se quer formar. 8,12
Limitações do estudo
Esse estudo apresentou algumas limitações na caracterização do ensino das PICs nas
instituições de graduação médica.
A fonte utilizada para obter informações foram artigos publicados, a grande maioria com
mais de 5 anos, que podem não mais refletir a atual situação da instituição sobre o ensino dessas
23
práticas. Além disso, há possibilidade de que outras instituições ofertem as PICs na sua grade
curricular, mas que não tenham publicado artigos.
Assim, é proposto que estudos posteriores realizem a busca desses dados diretamente com as
faculdades, através dos seus sites e/ou com aplicação de questionários com os coordenadores do
curso via internet.
Do mesmo modo, somente a análise documental das ementas da grade curricular da UFBA
foi insuficiente para caracterizar o ensino nessa instituição. Também se tem como sugestão a
realização de entrevistas e/ou questionários para maior compreensão da atual realidade.
24
VII. CONCLUSÃO
VIII. SUMMARY
2.Amadera JE, Pai HJ, Hsing WT, Teixeira MZ, Martins MA, Lin CA. The teaching of acupuncture
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27
10.Contatore OA, Barros NF, Durval MR, Barrio PCCC, Coutinho BD, Santos JA, et al . Uso,
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