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"Essas raras mulheres novas" - Colette Soler

E quanto aos sintomas inéditos da mulher contemporânea? Não me detenho nas formas
atualizadas dos conflitos internos que as mulheres experimentam em sua relação com o falo, e
que foram diagnosticados há muito tempo. Conflitos, tensões entre os dois tipos de falicismo,
o do ser e o do ter, que, longe de se reduzirem à simples oposição entre ser mulher e ser mãe,
assumem também, hoje em dia, a forma banalizada de uma tensão entre os sucessos
profissionais e a chamada “vida afetiva”, digamos, entre o trabalho e o amor.

Primeiro, eu gostaria de introduzir o tema da degradação da vida amorosa, que Freud


diagnosticou nos homens, mas que não me parece poupar as mulheres. Neste ponto do
desdobramento entre o objeto de amor e o objeto de desejo, a evolução dos costumes
contemporâneos faz surgirem novos fenômenos. Lacan, por outro lado, anos depois de Freud,
já fez distinções mais sutis. Seu texto de 1958 sobre “A significação do falo” parece adotar
inicialmente a tese de Freud, porém a reformula, ao observar que, nas mulheres,
diversamente dos homens, não há separação, mas, ao contrário, convergência do amor e do
desejo num mesmo objeto. Na página seguinte, contudo, Lacan introduz uma nuance de porte,
esclarecendo que o desdobramento entre o objeto de amor e o de desejo não está menos
presente na mulher, a não ser pelo fato de que o primeiro é dissimulado pelo segundo.

Pois bem, o que hoje não se deve dissimular é que, uma vez livres da escolha exclusiva do
casamento, muitas mulheres amam de um lado e desejam ou gozam de outro. Mas é preciso
que elas possam escapar do jugo da instituição de um vínculo exclusivo e definitivo, para que
percebamos que os diversos parceiros de uma mulher situam-se de um lado ou do outro — do
lado do órgão que satisfaz o gozo sexual ou do lado do amor — e que a convergência num
mesmo objeto se realiza como uma entre outras configurações. Vejo nisso uma mudança
patente na clínica.

Há outra. São as novas inibições femininas. Eis como as explico a mim mesma: só há inibição
onde há uma escolha possível, ou imperativa. Onde o desejo não é solicitado, onde só há
coerção, as procrastinações da realização ou da decisão não podem manifestar-se. A
emancipação que multiplica as possibilidades, que permite à mulher determinar-se em função
de seus anseios, optar por ter ou não ter um filho, casar-se ou não, quando quiser e se quiser,
e também trabalhar ou não, deixa transparecer que o drama da inibição não é uma
especialidade masculina. Ainda mais que, por efeito de discurso, tudo que não é proibido
torna-se obrigatório. Por conseguinte, realmente vemos nas mulheres o mesmo recuo diante
do ato que se constata no homem obsessivo, as mesmas hesitações frente às decisões
fundamentais, aos compromissos definitivos, especialmente no campo amoroso. O homem —
no singular — e o filho, ambos desejados, mas adiados até um momento mais oportuno, fazem
parte da clínica cotidiana de hoje e, muitas vezes, encontram-se na origem da demanda de
análise. Assim, a extensão do unissex ao conjunto das condutas sociais caminha de mãos dadas
com uma homogeneização de grande parte da sintomatologia.

Evocarei, no entanto, uma configuração tipicamente feminina que me parece, ao mesmo


tempo, freqüente e muito atual. Não uma mulher de 30 anos, mas uma que se aproxima dos
40, solteira, que em geral trabalha, que goza da livre disposição de sua intimidade, e que
começa a perceber que o tempo está passando e que, se quiser ter um filho, será preciso que
se apresse a encontrar um homem digno de ser pai, a menos que sua escolha seja ter um filho
sozinha. Havendo a contracepção, aliada à legalidade do aborto, separado mais radicalmente
que nunca a reprodução e o ato sexual, ela obriga as mulheres a decidir não apenas ter um
filho, mas, muitas vezes, a assumir a escolha do pai — e a idade ou a esterilidade ficam sendo
os únicos a introduzir uma impossibilidade, às vezes. As conjunturas do desejo de um filho
mudaram, e geram novos dramas subjetivos e novos sintomas. Mesmo assim, conferem às
mulheres um novo poder, que, em minha opinião, poderia ter conseqüências maciças.

Evoco aí o que chamarei de mulheres responsáveis pelo pai. Diógenes, em sua ironia,
pretendia procurar um homem. Atualmente, muitas mulheres procuram um pai... para o
futuro filho. Novas escolhas, novos tormentos, novas queixas! As configurações são múltiplas:
estou procurando um pai, mas não suporto viver com um homem; estou procurando um pai,
mas os que encontro não querem ter filhos; estou procurando um pai, mas não encontro
nenhum; eu o amo, mas não o vejo como pai; e sem esquecer: achei na mesma hora que ele
seria um bom pai! O passo seguinte é dar uma aula ao pai sobre o que deve ser um pai, às
vezes sob a forma inédita de censurar a si mesma pelo pai escolhido, de não se perdoar por ter
dado tal pai aos filhos.

Não se trata, evidentemente, de questionar as liberdades condicionadas pela disjunção entre


procriação e amor, nem tampouco de desconhecer a pouca liberdade que o inconsciente
realmente dá ao sujeito no que concerne ao escolher. Mas podemos constatar que, de fato,
essas novas liberdades colocam as mulheres numa posição nova, que, mais que nunca,
permite que elas se tornem juízas e medidas do pai. Assim, desenvolve-se um discurso da
responsabilidade materna ampliada, a ponto de superar a do pai. Ele veicula algo assim como
uma metáfora paterna invertida, ou, pelo menos, eleva a uma potência secundária a carência
paterna que é própria de nossa civilização, na medida em que instaura a mulher-mãe na
posição de sujeito suposto saber do ser pai. Percebe-se bem, além disso, que o “estou
procurando um pai”, tal como o “estou procurando um homem” de Diógenes, significa um
“não existe nenhum” que seja digno de minha exigência.

Concluo. Não temos que deplorar a evolução de nossa civilização. O psicanalista não tem nada
a censurar: pode apenas constatar, na perspectiva do discurso que o determina. E talvez, por
ora, ainda não saibamos que conseqüências resultarão das mudanças do estatuto da mulher
contemporânea.

As recriminações feitas à mãe


No vínculo social de hoje, a mãe ou seu substituto torna-se, num número cada vez maior de
casos, o parceiro preponderante ou exclusivo da criança, ou, pelo menos, o único que é estável.
Daí uma configuração que se tornou muito comum: uma mãe com seu filho ou filhos, acrescida,
vez por outra, de um homem — ou uma série de homens que se sucedem —, ao qual se dá o
nome de “companheiro da mamãe”. Obviamente, as configurações concretas são múltiplas e
variadas, mas a mobilidade dos laços sociais e amorosos dá ao cara-a-cara da criança com a
mãe um peso novo na história, o qual não pode deixar de ter conseqüências subjetivas.

Evidentemente, há um discurso prévio sobre a mãe que faz dela o objeto vital por excelência:
o pólo das primeiras efervescências sensuais, a figura que cativa a nostalgia essencial do ser
falante, o próprio símbolo do amor. Ecos disso ressurgem, é claro, nos ditos dos analisandos,
mas, em essência, estes acentuam outra coisa: a angústia e a recriminação.

Para situar esse desvio dos discursos, evocarei dois exemplos que têm o mérito de pôr em
cena, entre a mãe e o filho, de maneira contrastante, o imaginário da castração. Por um lado, o
dito de uma analisanda que se lembrou da menina que fora para sua mãe e, por outro, a
lembrança comovida que um filho guardou de uma mãe... excepcional. Lembrou-se a
analisanda: ela devia estar com uns oito ou nove anos e tinha uma cabeleira magnífica, com
duas longas mariaschiquinhas. Um dia, a mãe lhe anunciou: “Vamos ao cabeleireiro cortar suas
madeixas.” Por mais que ela implorasse, de nada adiantou, porque o espantoso projeto da
mãe era fazer para si própria um coque postiço! Atualmente, ela mesma transformada em
mãe, a analisanda ainda guarda no alto de um armário esse coque, objeto agalmático roubado
que, afinal, sua mãe nunca ousou utilizar.

A outra história é o contrário. Trata-se de um filho que não é analisando, mas um músico
célebre, o catalão Pablo Casals. Ele se recordou do momento de uma visão perturbadora. Na
época, morava em Paris, por vontade da mãe, a qual, embora não tivesse recursos, queria para
ele escolas dignas de seu talento. Um dia, ela chegou em casa, irreconhecível, depois de
vender sua bela e farta cabeleira, alegremente sacrificada à vocação do filho. Nesse caso,
foram a gratidão idealizadora e a saudade do objeto perdido que nimbam a lembrança.

Ao contrário, na associação livre, sejam quais forem as variações individuais, é mais como
acusada que a mãe se instala. Imperiosa, possessiva, obscena ou, ao contrário, indiferente, fria
e mortífera, presente demais ou ausente demais, atenta demais ou distraída demais, quer
cubra de mimos, quer prive, quer se preocupe, quer se mostre negligente, por suas recusas ou
por suas dádivas, ela é, para o sujeito, uma imagem de suas primeiras angústias, lugar de um
enigma insondável e de uma ameaça obscura. No cerne do inconsciente, as falhas da mãe
sempre têm lugar, chegando até à “devastação”, às vezes, quando se trata da filha, diz Lacan.

Lacan teve de polemizar com os defensores do corpo-a-corpo silencioso que supostamente


conjugaria numa unidade primária, dita indiferenciada ou não, a mãe e seu produto. O texto
“Observações sobre o relatório de Daniel Lagache” fez eco a isso, mas o debate visou, além do
interlocutor do momento, todos os partidários de uma causalidade pré-verbal da realidade
psíquica. Decerto não se pode negar que a mãe, como genitora e parturiente, é um ser
corporal, mas tampouco é possível negar que a reprodução dos corpos é inteiramente
ordenada, ou até programada, pelo discurso. Não há como ignorar que, no nível das
necessidades vitais primárias do organismo e dos cuidados que elas requerem, só entra em
jogo o que Lacan propôs chamar de uma “relação de objeto no real”, mas a questão analítica
diz respeito a outra coisa, isto é, à emergência do sujeito e à marca que ele recebe do Outro.

É aí que a vontade materna às vezes o disputa em seu amor, e que o filho pode ter a
experiência da autoridade ou do capricho dela. Penso, por exemplo, na mãe que tinha como
ponto de honra que, na data do primeiro aniversário, cada um de seus filhos houvesse
adquirido o controle dos esfíncteres! O grande princípio moderno, anti-sadiano, de que
ninguém tem o direito de dispor do corpo do outro acaba, desse modo, encontrando um
obstáculo nessa zona limite da maternação, ficando a humanização primária do corpo exposta
aos excessos e transgressões que, antes mesmo de entrar em jogo para a criança a apreensão
da diferença sexual, já a aprisionam no “serviço sexual da mãe”,6 na posição de fetiche e, às
vezes, na de vítima.

O declínio do terceiro paterno é acompanhado, aliás, pela ascensão de toda sorte de


especialistas, como se houvesse uma compreensão de que as mães não podem assumir
sozinhas a humanização completa dos filhos. Há uma legião deles oferecendo-se para se
interpor no par primário e dizer às mães o que elas devem ou não devem fazer. E às vezes,
nem mesmo o próprio pedopsicanalista, se assim posso chamá-lo, recua em se comprometer
como Outro do Outro materno, para dar alguns conselhos às mães! Vejam-se Winnicott e
Françoise Dolto. Na verdade, esse processo pode ser lido desde o famoso caso freudiano do
Pequeno Hans, no qual, numa família prestes a se desfazer, o “Professor” é chamado à medida
que ocorre uma carência do pai.

Colette Soler

Extraído de: O que Lacan dizia das mulheres

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