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LOUIS FAVOREU
I
\
(CNRS UBA o. 1392)
ASC
c
ORTES
ONSTITUCIONAIS
Tradução
Dunia Marinho Silva
111
LANDY
E o I TO "Ã
•
Título original:
Les Cours COlIstitlltidllllclles
@2004,Prcsses U,Iiversitaires de Fmnce
Tradução:
DI/nia Marinho Silva
Revisão da tradução:
Clárldia Toledo
Luiz Moreira
Coordenação editorial:
Vi/ma Maria da Silva
Capa:
Camila Mesquita
Editor; SUMÁRIO
.................. A1/tollio Da/JieIAbreu.
Produção:
Kleber Kolltl
Editoração;
ETCetem Editom de Livros e Revistas Lida.
FOlles: (01/) 3825-3504 / 3826-4945
Fax: (01 J) 3826-7770
e tcetcra@etcctemeditOTa.co1l1.br Introdução para a edição brasileira 9
Introdução 15
D"dos Internacionais de Cunlogação na Publicação' (CIP)
. (Câmara BrJsilcira do Livro, sr, Brasil)
Favoreu, Louis CAl'fTULO I -As CORTES CONSTITUCIONAIS:
As (Cortes constitudonais J Louis Fuvoreu ; 17
O MODELO EUROPEU DE JUSTiÇA CONSTITUCIONAL
traduçiio Dun;" Marinho Sih-".- são Paulo:
Lnlldy Editora, 2004. 1. A escolha do modelo europeu 18
Titulo originnl Cours constitucionnelles.
2. As características do modelo europeu 27
nibliogrnfi".
ALEMÁO 59
LANDY 1. Composição e funcionamento 59
Landy Livraria Editora e Distribuidora LIda.
Alameda Jaú, 1.791 - te!. e fax: (11) 3081-4169 (tronco-chave) 2. Atribuições 63
CEP 01420-002 - São Paulo, SP, Brasil
la ndy@landy.com.br
3. Jurisprudência 73
www.landy.com.br 4. Influência sobre a ordem jurídica e política 75
2004
.,
,
CAPfTULO IV -A CORTE CONSTITUCIONAL ITALIANA 77
1. Composição e funcionamento 77
2. Atribuições 80
3. Jurisprudência 88
4. Influência sobre a ordem jurídica c política 90
INTRODUÇÃO
O
podemos
acontecimento
ropeu da segunda
lnais conceber
mais marcante
metade
do Direito
do século
um sistema constitucional
xx.
constitucional
Atualmente
que não dê lugar
eu-
não
I'
)
que pode estabelecer preceitos, sem que possamos falar propriamente por Edouard Lambert, cuja obra célebre! veio paradoxalmente ali-
de litígios, por meio da provocação desse Tribunal pelas autoridades mentar o debate e reforçar a corrente favorável à adoção do sistema
políticas ou jurisdicionais e até mesmo por particulares, com decisões estadunidense, apesar de ter denunciado com vigor o risco do gover-
que têm efeito absoluto de coisa julgada. no dos juízes. Paradoxo para o qual o decano Hauriou deu uma ex-
Os europeus aceitaram o desafio magistralmente expresso por plicação que, contraditoriamente. mostra as razões do fracasso do
Tocquevile em 1835: implante:2
Os estadunidcnses ... confiaram a seus tribunais um imenso poder Neste vigoroso estudo, que não está isento de paixão, o autor (E.
político; mas, obrigando-os a não atacarem as leis senão por meios Lambert), que se nega a concluir, mostra que teme a introdução
judiciais, diminuíram bastante os perigos desse poder".
dessa prática em França; mas, em seu próprio trabalho e na rica
"Se o juiz pudesse atacar as leis de maneira teórica e geral, se pu-
exposição apresentada, encontramos os argumentos necessáriospara
desse tomar a iniciativa de censurar o legislador, entraria estrepi-
""""'refu-ra:c"$'C'us
temores e ver claramente que, se nos Estados Unidos
tosamente na cena política; tornando-se campeão ou adversário
o controle da constitucionalidade degenerou em um Governo dos
de um partido, teria chamado todas as paixões que dividem o país
juízes, foi devido à ausência de regime administrativo c porque
a tomar parte da luta. Mas, quando o juiz ataca uma lei em um
essa ausência impede o juiz de fechar-se no contencioso: acidente
debate anônimo e em uma aplicação particular, esconde em pane
que não devem temer os países que possuem regime administrativo.
a importância do ataque aos olhos do público. Sua sentença não
tem outro objetivo senão o de proteger um interesse individual; a
lei só é atacada por acaso. Ora, veremos que a existência de um "regime administrativo" _
no que diz respeito a uma dualidade de jurisdições - é uma das razões
do fracasso do implante.
L A ESCOLHA DO MODELO EUROPEU
b) Na Alemanha, sob o regime da Constituição de Weimar, os
Corno os europeus puderam adotar o sistema que envolvia um juízes ordinários, autorizados pelo artigo 102 da Constituição, acei-
confronto direto e aberto com o legislador, quando o respeito a este taram verificar a constitucionalidade formal das leis a partir de uma
havia-lhes impedido, no século XIX e começo do século xx, de adotar decisão do Tribunal do Reich de 4 de novembro de 1925; entretanto
o sistema estadunidense, aparent~mente menos atentatório aos direi- não ousaram formular regras sobre a constitucionalidade da lei e prin-
tos dó, Parlamento? cipalmente sobre a proteção dos direitos fundamentais. Desse modo"
não se opuseram a «numerosas violações da ordem constitucional que
1. A rej.eição do moddp,.esta4u,nidense -'A 'maioria d~s paí- foram cometidas ben1 cedo pelo Parlamento".3 Essa experiência im-
ses atualmente dotada de um Tribunal Constitucional, ficaran1, em' peliu os reformadores, após a guerra, a voltar às teorias de Kelsen que
'u~ certo momento, tentados a ~dot~r"a s'istema.estadunidense e fi-: tinham sido afastadas em proveito das de C. Schmitt.
nalmente o rejeitaram - se n~o aberta ao menos implicitamente. Al- c) Na Itália, a tentativa feita após a guerra, antes da criação da
guns países europeus, no entanto,_adotaram sistemas de justiça cons:, Corte Constitucional, resultou em fracasso. Como ressaltam
titucional próximos do n1odelo estadunidense (Grécia, Dinamarca, Cappelletti e Cohen, esse período foi dominado pela forre resistência
Suécia, Noruega).
A) As tentativas de implantação do modelo estadunidense - a) 1. Le Gouvernement desjuges Cf la lutte contn lalégislation sociale allX Étau-Unis, Paris,
1921-
Na França, a discussão foi lançada por um comunicado de Larnaude
2. Prtcis de droitconstitutionnel, 1929, p. 272.
à Sociedade de Legislação Comparada, em 1902, e principalmente 3. Béguin, 1982, p. 18.
18 AS CORTES CONSTITUCtONAIS
AS CORTES CONSTITUCIONAIS, O MODELO éUROPEU._ 19
daqueles que dificilmente se adaptam a uma nova concepção do di- A "fraqueza e a timidez do juiz de modelo continental" se expli-
cam pelo seu estatuto de magistrado de "carreirà', sem "investidura
reito e da justiça, e os juízes ordinários "fizeram um trabalho muito
democrática", como o juiz estadunidense, e sem dúvida também pelo
pobre quanto à interpretação de uma Constituição tão programática
fato de que, na Alemanha, Itália, França, Espanha e Grécia, ele não
e progressistà' .4
esteve ao abrigo de depurações e de outras medidas coercitivas em
Em qualquer hipótese, na Assembléia Constituinte, a tese dos
períodos excepcionais.
partidários do modelo kelseniano prevaleceu.
c) A ausência de unidade de jurisdição é uma outra explicação
complementar. De fato, ao contrário da opinião de Hauriou, a
B)A explicação do fracasso do "implante" - a) A sacralização da
dualidade ou a pluralidade de jurisdições (ver acima) não é uma ga-
lei é uma primeira explicação. A partir da Revolução de 1789, ao
rantia para o sucesso do implante mas, ao contrário, um fator de
longo do século XIX e início do século xx, o dogma rousseauniano da
fracasso. O sistema de tipo estadunidense só funciori'a-'he'iTi'"onde'"h;t'
infalibilidade da lei se impôs e raramente foi posto em dúvida. O
unidade de jurisdição, isto é, nos Estados Unidos e nos países com
reino do Direito era o reino da lei: "O conceito de legitimidade ...
common law, porque nestes países não há separação entre os
coincide com o de legalidade, isto é. com a conformidade das ativi- contenciosos e a dimensão constitucional pode estar presente em to-
dades públicas e privadas com as leis votadas pelo Parlamento. O
dos os processos, sem necessitar um tratamento à parte e sem risco de
"direito"(jus, law, diritto, derecho, Recht) é cada vez mais identificado chegar a divergências de opinião sobre a constitucionalidade dos tex-
com as leis do Parlamento (Lex, statute, legge, tey, Gesetz)". 5 Mas, como tos fundarnentais. A justiça constitucional não se divide; ora ela é
diz Kelsen,6 "se admitirmos que a lei é todo o Direito, a regularidade difusa, mas no centro de um aparelho jurisdicional único, encabeçado
equivalente à legalidade, não há evidência de que possamos estender por uma única Corte Suprerna; ora ela é concentrada nas mãos de
mais a noção de regularidade". uma jurisdição constitucional única.
Nos Estados Unidos a Constituição é sagrada; na Europa é a lei A contraprova é-fornecida pelo exem,plo grego. A Constituição de
que é sagrada. 1975 convida expressamente os tribunais a "não aplicarem uma lei cujo
b) A incapacidade do juiz ordindrio de exercer a justiça consti- conteúdo é contrário à Constituição": os tribunais administrativos ten-
tucional é outra razão que ~. Cappelletti trouxe à luz? do à testa o Conselho de Estado; os tribunais judiciários dep~ndendo
da Corte de Cassação; a Corte de Contas e outros tribúnais não "de-
Os juízes da Europa continental são em geral magistrados de
pen"dendo de ordens precedentes, podem exercer um, ~o~i:r;le "da
carreira, pouéo aptos a assumir um trabalho de controle" da~ le'i~",
trabalho que, como" veremos, é inevitavelmente criativo e que constitucionalidade das leis, ievantandú de ~fício a inco~stituciúnali~
vai muito além suas funções tradicionais de simples "fntérprt;tes e dade em"úm 'proces~o civll,"pe~al.oü administrativo."Normal~e~te a
fiéis servidores das leis. A própria interpretação das nor,mas cons- questão subirá às jurisdições superiores epodemos"imaginar um confli-
titucionais e especialmente do núcleo central destas, que é a De- to de decisões entre estas diferentes jurisdições. (Esta üão é apenas uma
claração dos Direitos Fundamentais ou Bit! of Rights, é normal- hipótese, pois, em 1985, o Conselho de Estado c a Corre de Cassaçfio
mente muito diferente da interpretação das leis ordinárias; ela assumiram posições diferentes sobre a constitucionalidade da lei relativa
não se coaduna com a tradicional fraqueza e timidez do juiz de ao ensino superior.) Para resolver tais problemas a Constituição previu
modelo continental. uma Corte especial, superior, cujas atribuições surpreendentemente se
parecem com as de uma Corte Constitucional!8
Podemos constatar que na Alemanha de Weimar, as leis vota- B) Razões teóricas - A construção de Hans Ke1sen,exposta em
das pela maioria prevista no artigo 76 da Constituição permitiam. seu estudo de 1928 e na tese de seu discípulo, Charles Eisenrnann,
"derrogar materialmente" o texto constitucional em detrimento da parece hoje espantosamente moderna ..Kelsen e Eisenrnann demonstra-
proteção dos direitos fundamentais; e urll dos comentadores auto- ram que a instituição de um Tribunal Constitucional, encarregado
rizados da Constituição da épocalo "felicitou-se pela pouca rigidez principalmente de controlar a constitucionalidade das leis. estavaper-
da Constituição" .11
feitamente de acordo com a teoria da separação dos poderes. Por isso
foram suprimidos os últimos obstáculos.
2. A ad0c?0 do modelo kelseni~no - O sucesso do modelo a) Segundo KeLsen,antes de mais nada, devendo a Constituição
ke1seniano após a Segunda Guerra Mundia.l deve-se a váriãs causas ser 'a ~;;~~~ .f";'~da~.ental, isto é, da qual deco.rrem todas as outras,
que reconhecemos na maioria dos países que o adotaram. convém "assegurar-lhe a maior estabilidad~_possíyel»,tor~a:ndo sua
revisão difícil; ~stando. dar~ que à ~oção .de..Co.nstituição deve .ser
A) Razões históricas - a) Elas podem ser invocadas de iníclO entendida em sentido amplo., pois. <IasConstituisões modernas .~on-:
pela Alemanha e Áustria. De faro, nesses dois países, a idéia de um têm não somente regras sobre os órgãos e o. proc::::esso legislativo,
Tribunal do Império com atribuições de uma Corte Constitucional, mas também um catálogo de direitos fundamentais dos indivíduo;
ao menos no que se refere aos litígios federais, foi expressa desde ou liberdades individuais ... A Constituição não é portanto uni~a-
1848 e realizada, ao menos na Áustria, em 1867. mente uma regra de procedimento, é também uma regra de fundo".
A garantia da Constituição repousa principalmente sobre a possibi-
lidade de anulação dos atos que lhe são contrários, mas nunca "deve
9. La /oi, (xpmsion d~ la volonté ginirak. 1931, p. 128. ser confiada a anulação dos atos irregulares ao próprio órgão que os
10. G. Anschün. criou", uma vez que:
11. Segundo Béguin, op. cit., p. 18.
[:
" 22 AS CORTES CONSTITUCIONAIS
I,
o órgão legislativo considera-se,
na realidade, um criador livre do Essa construção desagradava entretanto à doutrina francesa que,
Direito e não um órgão de aplicação do Direico, ligado à Consti- sendo favorável à justiça constitucional, escolhia o sistema estadu-
tuição, quando na verdade o é apenas teoricamente, ainda que em nidense. porque se recusar a aplicar uma lei (com autoridade relativa
medida relativamen~e restrita. Não é portanto com o Parlamento de coisa julgada) não era considerado um atentado- à separação dos
que podemos contar para conseguir sua subordinação à Consti-
poderes. Ao que Eisenman respondia, dirigindo-se principalmente
tuição. É a um órgão diferente dele, independente dele, e conse-
a Duguit. Hauriou e ]eze:J3
qüentemente também a uma autoridade estatal, que é preciso en-
carregar da anulação dos atos inconstitucionais - isto é, uma ju- Não há, entre os dois sistemas examinados, uma diferença de
risdição ou tribunal constitucional. qualidade, mas simplesmente a diferença - de grau - de uma
anulação relativa ou limitada para uma anulação absoluta ou
P?_4._~.~
b) Duas objeções__ .._s~~_
_ ..f.~~~~s~..~~.tesi~.~<::~.a:
ele seria in- definitiva ... Podemos admitir que o Conselho de Estado não
compatível com a soberania do Parlamento e contrário à separação perceba que, quando se recusa a anular um ato que lhe é subme-
dos poderes. tido, ele administra, e que não administra quando anula uma
À primeira objeção, após ter observado "que não pode tratar-se decisão administrativa individual? Que ele legifera - do ponto de
da soberania de um órgão estatal especial, a soberania pertencente no vista material - quando anula um regulamento? Não é curioso
encontrar entre teóricos tão eminentes do Direito público esta
máximo à própria ordem estatal", Kelsen responde que "a legislação é
adesão - instantânea - ao dogma civilista da autoridade relativa
inteiramente subordinada à Constituição. como a justiça e a admi-
da coisa julgada?
nistração o são à legislação", e se. "contrariando essavisão. continuar-
mos afirmando a incompatibilidade da justiça constitucional com a
soberania do legislador, é simplesmente para dissimular o desejo do Podemos acrescentar que atualInente considera-se, na maior p~.~te
poder político, que se exprilue no órgão legislativo.de não se deixar- dos países que adotaram o modelo kelseniano (ver infra), que a juris-
em patente contradição com o Direito positivo - limitar pelas nor- dição constitucional situa-se fora dos três poderes dos quais ela é en-
mas da Constituição". Não saberíamos qualificar melhor a atitude carregada de fazer respeitar as respectivas atribuições. Desde então o
daqueles que reclamam a inscauração do Estado de Direito, mas re- problema não fài mais colocado.
cusam sua aplicação ao legis.lado-r. Pois. como diz Charles Eisenmann
nas últimas linhas de sua tese: "puas ~oluçõesoferecem-se e somente C) Razões instituàonais ou políticas O decano Hauriou -já
""7
dúás: deixar a~.legisladór o cuidado de.respeitar a Constituição ou dizia em 1929: "Percebemos a necessidade de controlar os parla-
confiaf";;l.osjÚÍzes o cuidado de .assegurar-o respeito a ela. Entre as mentos porque sua legislação. emudecida pelas paixões--eleitorais.
duas ê prec.isoes'colher.A ~scolha pode ser duvidosa?". tornou-se uma perigosa ameaça para as liberdades" .14 Essa"nec~ssi-
À seguúda obj~ç_ão,sabef"0.os que .Kelsen opõe sua célebre teoria dade tornou-se imperiosa quando os regimes parlamentaristas. ou
do "(egis~adornegativo"-.segundo a qual certamente "anular uma lei semi-parlamentaristas evoluíram para o sistema no qual se exerce, sem
é impor uma norma ger:a1".todavia a diferença essencial entre a con- limites. um poder majoritário composto pela Inaioria parlamentar li-
fecção e a simples anulação das leis é que a "livre criação". que carac- gada a um governo estável e monolítico, às vezes.reforçado por um
teriza a primeira, falta à segunda, pois. diferente da atividade do chefe de Estado eleito. da mesma tendência. Em face do bloco majo-
legislador (positivo). "a atividade do legislador negativo, na jurisdi- ritário. a oposição tem necessidade de proteção, e a própria maioria
ção constitucional. é totalmente determinada pela Constituição" .12
i
I
c) Um monopólio do contencioso constitucional. A justiça consti- "um lugar adequado para os juristas profissionais", não obstantc, sua
tucional é concentrada nas mãos de uma jurisdição especialmente fórmula indicava que "o lugar adequado" não era exclusivo e admitia
formada para tanto e que goza de um Inonopólio nesse domínio: o que pudesse ser dos não-especialistas ao lado dos "especialistas", pois
que significa que os juízes ordinários não podem conhecer do estes poderiam "dedicar-se muito mais às considerações puramente
técnicas, porque sua consciência política ficaria desimpedida, devido
contencioso reservado à Corte Constitucional.
Assim sendo, é evidente que o contencioso constitucional, cujo à colaboração dos membros escolhidos para defender interesses espe-
cificamente políticos". 20
julgamento é objeto de um monopólio reservado à Corte, não tem o
mesmo conteúdo eIn cada caso. todavia comporta, ao menos, o A designação feita pelas autoridades poIícicas pressupõe uma liber-
contencioso da constitucionalidade das leis. dade de escolha. Já foi mostrad021 que essa intervenção das autori-
EiseIlIuann. como Ke1sen.demonstra que é esta a razão de ser da A~,~~,~
dades pol.í.~i~:1:S?J()_ng_e ...l;l,rr:t_.<:lefeit?,.
~.'.~
. ()..<??~.t,r.~~~0,~.
uma qua-
lidade, na medida em que esse tipo de indicação reforça .~'~.~ legici-
justiça constitucional; não há justiça constitucional sem a necessidade
midade e aproxima o sistema europeu do sistema estadunidense:
de confrontar os atos do legislador nacional com a Constituição. Os "Essa diferença importante (a não eleição dos juizes) entre os mun-
outros setores do contencioso constitucional podem ser encaminhados dos da civil faw e da common law foi, se não abolida, ao menos
para o setor principal: por exemplo, como sugeria Marcel Waline, em recentemente atenuada, principalmente pelo criador (...) das Cor-
1928, o contencioso de verificação dos poderes dos membros das as- tes Consticucionais, cujos juizes são na maioria pessoas eleitas ou
sembléias parlamentares podem ser incluídos no contencioso constitu- designadas politicamente" Y Nesse sentido, veremos que Kelsen,
após mencionar os modos de recrutamemo possiveis (principalmente
cional; até n1esmo, como diz Kelsen, "é talvez oportuno. nq caso, fazer
a eleição pelo Parlamento e a indicação pelo chefe de Estado, ou a
do Tribunal Constitucional uma Alta Corte de Justiça, encarregada de combinação de ambas), acha "preferível aceitar essa participação
19
julgar os ministros acusados, um Tribunal Central dos Conflitos OU legitima na formação do tribunal, do que uma influência oculta e
atribuir-lhe outras competências para poupar a instituição de jurisdi- conseqüentemente não controlável pelos partidos polfticos".
ções especiais". Mas todas estas atribuições não são essenciais como o
controle da edição dos atos fUndamentais, das leis nacionais e dos trata- Se compararmos a composição real das diversas Cortes Consti-
dos. O monopólio deveater-seprincipalmente a este último contencioso. tucionais no presente momento,23 constataremos que há muit~s se-
d) A indicação de juízes não magistrados pelas autoridades polí- melhanças: as autoridades políticas,. quaisquer que sejam, des~igna-
ticas. As Cort~s Constitucionais •.ao contrário-.das jurisdições ordiná.., ram juízes próximos ou des.tacados por suas tendências polític~s; de
rias, não são compostas por magistrados de.carreira, que ~1cançaram f~to. na Alem~nha, na I.tália,ria Espanha, na França ou na Áustria, os
seu posto por meio de profP,oçõ.esregulares e progrcssivas.A indicação dois ou tf'ês principais pa~tidbs políticos dividem as escolhas entre si,
dos membros das Cortes nã~..obedece aos cri.tér~?stradicionais, o que mesmo.quando, como'.naAlemanha ou na Espanha, tentou-se tomar
os distingue das jurisdições ordinárias (ainda que possam existir, no precauçõ.espar~ e~itá-Io;além disso1 as origens dos membros são muito
seio das jurisdições ordinárias, indicações que não correspondem aos parecidas, tendo coino característica principal a grande proporção
critérios tradicionais, por exemplo, o Conselho de Estado Francês, de professores universitários. Neste ponto, podemos observar que
por ocasião das indicações para o turno cxterior), os juízes não são não é por acaso que, nos países considerados, a independência dos
professores universitários é maior do que a dos magistrados.
necessariamente magistrados; podem ser escolhidos também entre os
professoresde Direito., advogados. funcionários, como na França, onde
não é mister que scjam juristas. Kelsen recomendava que fosse criado 20. Op. ciô., p. 227.
21. Cf. RDP. 1984, n. 5, p. 1147.
22. Cappelletti. Cours constitutionneLJes. p. 478.
23. Ver o quadro nas páginas seguintes.
19. Op. cit .• p. 234.
Presidente da Federação Presidente da Até completar Mâximo de Ser juiz, funcionário Ministro
Corte 14 (e 6 Presidente da Federaçi:io por
por proposição do Federação por 70 anos de idade 70 anos ou professor
ConstitucionaL supLentes) proposição: ParLamentar
Governo Federal proposição do universitário
Austriaca - do Governo Federal (8) Agente ou empregado
Governo Federal (8 membros)
- do Conselho NacionaL (3) de um partido político
Ser jurista
- do ConseLho Federal (3)
Corte
ConstitucionaL
,. 8undestag (8) Bundestag e Bundesrat
sucessivamente
Bundestag
Bundesrat
e 12 anos (de acordo
com as disposições
40 anos no
mínimo
Não Ser magistrado federaL
supremo (6 membros)
Ministro
Parlamentar {da Federação
Bundesrat (8) ...........
dO"-i1it.-'4- 'da '"lei' '(fé" 'ijÓ"'anos no .......
sucessivamente Preencher as ou de um Land)
ALemã 12 de março de máximo condições para ser
1951) Quatquer função pública
juiz alemão o, privada
A própria Corte 9 anos (de acordo Nenhum Não S" magistrado, ParLamentar
Corte 15 Presidente d(l Republica (5)
com as disposições professor de direito
Const1tudonal Parlamento (5) Conselheiro regionaL
do art. • do Lei ou advogado
Italiana Magistraturas Supremas (5) constitucionaL de QuaLquer outra função
21 de novembro púbLica ou privada
d, 1967)
Presidente da RepúbLica 9 anos (de acordo Nenhum Não (de acordo Nenhuma Ministro
Conselho 9 Presidente da Repúbtica (3)
com as disposições com
Constitucional Presidente da Assembléia do art. 2 do "'
disposições do
ParLamentar
Francês NacionaL (3) Decreto 58-1067) ort. 2 do Membro do Conselho
Presidente do Senado (3) Decreto 58-1057) Econõmico e Social
Dirigente de um Partido
Politico
O Rei por proposiçào O Rei por 9 anos (de acordo Nenhum Não (de acordo Ser jurista (magistrado, Parlamentar
Tribunal 12 Rei por proposiçao:
do próprio TribunaL proposiçào do com o art. 2 da com o art. 1. professor ou Função poLítica ou
Constitucional - do Congresso (4) lei de 3 de
próprio TribunaL da lei de 2 de advogado)
Espanhol administrativa em niveL de
- do Senado (4) outubro d, 197.9) outubro d,
i - do governo (2) 1979)
Estado ou das
Comunidades Autónomas
t .. .:. do' Cons'eLho GeraL
Judici~rio (2)
Função de direção de um
I
partido poLitico, sindicato,
associaçào e empregado
desses organismos
,O próprio TribunaL Q próprio Tribunal' 5 anos Nenhum Sim Ser juiz (pelo menos Ministro
Tribunal 13 Assembléia da' RepúbLica
(10) 6 anos) ou jurista ParLamentar
Constitucional
Português Cooptação (13) Oualquer funçào púbLica
o, privada
I Nem dirigente nem membro
de um partido poLitico
.
das instituições em U01 Estado moderno, e tambétn para a pram.oção 2. As particularidades de cada UIna das Cortes Constitu-
e a proteção dos direitos fundamentais. cionais - "Não podemos ... propor uma solução uniforme para todas
A proteção dos direitos fundamentais contra o legislador é eviden- as Constituições possíveis: a organização da jurisdição constitucional
temente a primeira das funções, pois apenas a Corte Constitucional, deverá moldar-se às particularidades de cada uma delas." Esta sábia
nos sistemas do tipo europeu, pode assumir essa tarefa. Os juízes ordi- advertência de Kelsen foi observada na preparação dos diversos siste-
nários - como, por exemplo, o Conselho de Estado na França - podem mas de justiça constitucional, pois, além dos traços comuns acima
assumir essa função até mesmo em relação aos atos administrativos mais analisados, cada um tem suas particularidades.
importantes, todavia SOlnente o juiz constitucional pode fazê-lo em re-
lação aos atos do legislador. Nos países dotados de uma Corte Consti- A) A <especialidade" de cada Corte - Se compararmos a ativida-
..~.çª,.éess~..flç,~~
tucional, a construção j~ri~'p-r1,lcl~!}.ç:i,al_firrl1a..cl.a -p()r. ... de real das diversas Cortes Constitucionais, constataremos que, aci-
ma das definições textuais de suas atribuições, cada uma tem uma
o controle da constitucionalidade das leis exerce outras funções
conexas: contribui para a pacificação da vida política, ~segurando otientação privilegiada que a caracteriza.
à oposição um meio de fazer com que a maioria respeite os limi- Assim, incontestavelmente na Alemanha, é o recurso constitu-
tes constitucionais; garante a regulação e a autenticação das mu- cional que ocupa um lugar quase exclusivo já que, por exemplo, em
danças e das alternâncias políticas, evitando um grande retrocesso
1994, de 5.324 novos casos levados perante o Tribunal Constitucional
capaz de romper o equilíbrio constitucional, canalizando a onda
das reformas da nova maioria; reforça a coesão da sociedade polí- Federal, 4.855, ou seja, 91,12°/0, eram recursos constitucionais. Isto
tica, como nos Estados Unidos. Finalmente, há uma função de se explica pelo fato de que a questão dos direitos fundamentais é
adaptação da Constituição e dos textos constitucionais, princi- essencial na Alemanha. Há também o fato de que um recurso apre-
palmente nos casos em que a rigidez da Constituição opõe-se a sentado provoca um afluxo de casos. Na Itália, a atividade principal
revisões muito freqüentes.
é o controle das leis em questões remetidas pelos Tribunais ordinários;
de 594 decisões proferidas em 1994, 493, ou seja, 83%, .foram re-
c) As técnicas de controle da constitucionalidade das leis ten-
metidas pelo juiz ordinário. Na Áustria é por meio do contencioso
dem a aproximar-se, principa!Inente no que se refere ao conteúdo e
de constitucionalidade dos atQ~.administrativos, que representa mais
ao alcance das decisões.
ou menos 800/0 dos casos julgados ou apresentadqs em 1994, que.se.
As jurisdições alemã, italian~, a"usrcíacae francesa tendem a usar pode questionar a constitucionalidade de uma lei mais facilmente
.técnicas que permitem control::~.ra fegislação sem chocar-se com o do que por recurso direto. Na Espanha foi o recurso de ampara. que
legislador. Mais do ,que anular pura e simplesmente, o juiz consti-
representou 870/0 dos casos julgados em 1994; o sucesso deste pro-
tucional prcfeie declarar conforme reservas e preparar uma série de
fórmulas e.procedimentos para possibilitar o alcance dos mesmos cedimento explica-se pela dúvida dos jurisdicionados 'quanto à ca-
resultados. Mesr~1.oconfrontado 'com o problema da invocação pacidade dos juízes ordinários espanhóis de fazer prevalecer os prin-
quase sistemácic.a da violação do princípio da igualdade, o juiz cípios constitucionais. Na França, a tônica é sobre o desenvolvi-
constitucional está pronto para elaborar uma jurisptudência cada
mento do controle da constitucionalidade das leis submetidas ao
vez mais complexa, destinada a evitar um controle da racionalidade
da ação legislativa e conseqüentemente, a oportunidade desta ação. Parlamento, mesmo que outros contenciosos (principalmente elei-
O enfrentamento legislador-juiz constitucional requer, da pane torais) sejam importantes. Por outro lado, o respeito às regras consti-
deste último, a elaboração de uma jurisprudência cada ve:z mais tucionais pela Administração ou pelos Tribunais é assegurado pelos
refinada, que lhe exigirá atenção especial. Ora, para algumas Cor- juízes ordinários submetidos à autoridade do Conselho de Estado e
tes Constitucionais, isso não é possível porque estio assoberbadas
da Corte de Cassação.
POt outros contenciosos.
CAPJTUL-o. ..ll
A COR TE CONSTITUCIONAL
AUSTRÍACA
"
E
A MAIS ANTIGA das Cortes Constitucionais e a que criou o
modelo que inspirou as outras Cortes instituídas na Euro-
pa. Podemos considerar que ela tem um predecessor: o Tri-
bunal do Império (Reichsgericht) criado pela Constituição de 21 de
dezembro de 1867 e ao qual ~s cidadãos podiam apresentar recursos
pela violação de seus direitos constit.ucio~ais. garantidos; direitos, aliás,
enumerados.na Constituição e qúe s"ã.oainda hoje a base do controle
.da:-.coristit~t:ionalidade. e001 a"queda da monarq~ia, uma lei da As-
sembléia Nac~onal Proyisofia? de 25 de janeir.o dc"1919. substituiu o
. Tribunal do Império e.u~a nov:a lei, de 14.clé setembro de 1919.
atribuiu à J\lta Corre Constitucionai assIm criada? poder de verifi-
car, antes da publicação, a conformidade das leis-votadas pelas assem-
bléias provinciais, mediante recurso do Governo Federal, no prazo de
14 dias a contar da comunicação (obrigatória) dos textos feita pelo
governo provisório. Quando julgasse necessário, a Alta Corte Consti-
tucional suspendia a aplicação da lei e tinha um mês para apresentar
novo estatuto. A Constituição de 10 de outubro de 1920 veio dar,
à jurisdição constitucional, sua forma definitiva. Um de seus princi-
pais inspiradores foi Hans Kelsen, professor de Direito Público e de
)
Filosofia do Direito da Universidade de Viena, que se tornou o pri- que pode indicar uma Inaioria de membros à Corte Constitucional".l
meiro relator permanente da Corte, após ter sido nomeado como Entretanto, devemos notar que, em virtude de um pacto tácito entre
membro, em 1921. A estrutura e a organização da Corte foram mo- os dois principais partidos, estabelece-se geralmente um equilíbrio.
dificadas e01 1925 e em 1929 (esta última reforma provocou a saída Uma vez nonleados, os juízes permanecem na função aré completa-
de Kelsen). Fechada durante o golpe de Estado de 1933, ela foÍ subs- rem setenta anos.
tituída, com a nova Constituição de 1934, por uma "Corte Federal"
(que reunia as competências das antigas Corte Constitucional e Cor- B) Para ser nomeado juiz titular ou suplente da Corte Constitu-
cional, é preciso ter «completado os estudos de direito e ter exercido
te Administrativa). A Corte foi suprimida em 13 de março de 1938,
ao menos por dez anos uma profissão para a qual o término desses
após a ocupação da Áustria pela Alemanha. Foi restabelecida pela Lei
estudos é exigido". 2
Constitucional de 12 de outubro de 1945, que introduziu na Cons-
As nomeações feitas por proposição do Governo.FederaLsão sub-
..ütüiçã6J)fbVisória o artigo 48.
metidas a condições mais estritas do que as feitas por proposição das
assembléias. De fato, «esses membros devem ser escolhidos entre os
1. COMPOSI<:;ÃO E FUNCIONAMENTO juízes, os funcionários da administração e os professores das Faculda-
des de Direito e de ciência política das universidades".3
1. COluposição - A corte compõe-se de um Presidente, de
um vice-Presidente, de 12 juízes titulares e de seis juízes suplentes. Se examinarmos a composição efetiva da Corte em 1992, consta-
taremos que dela fazem parte: entre os titulares, seis professores de
Direito, três advogados, um juiz (Corre Suprema), quatro funcio-
A) Entre 1920 e 1929, os nlagistrados da Corte Constitucional
nários; entre os suplentes, três professores de Direito, um juiz, um
eram designados na proporção de metade pelo Conselho Nacional e advogado e um funcionário (aposentado). Portanto, no toral de
m.etade pelo Conselho Federal. A partir de 1929, o poder de nomea- vinte membros (titulares ou suplentes) há nove professores de
ção pertence ao Presidente da Federação por proposição: do Governo Direito (eritre eles o presidente), dois juízes, quatro advogados e
, Federal para o Presidente, o vice-Presidente, seis juízes titulares e três cinco funcionários. O relator permanente é um professor.
iI
"~I'
juízes suplentes; do Conselho Nacional, para três juízes titulares e
C) As funções de membro da C.0rte Constitucional são incompa-
dois juízes suplentes; do Conselho Federal. para três juízes titulares e
tíveis c~m as 4e J?~"~~ro dO,G()yerno,Fe4~.ralou de um governo de
um juiz suplente.
Land [esrado], do Conselho Nacional, do Conselho Federal ou de..
Quando o Conselho Nacional ou o Conselho Federal precisam
«qua~quer outro órgão de representação em g~.r:~r'~.'O~~~.rcíci9das
fazer indicações para preencher uma vaga, elaboram uma ~istade três
funções de' Presidente e de Vice-Presidente da Corte. dur~nte os
nomes, entre os quais o Presidente da Federação pode teoricamente
quatro"anos' de seu ~aiidato, impede sua designação pa"ra'"as'as-
escolher. mas é sempre nomeado o primeiro da lista.
sembléias locais. Há também incompatibilidade entre as funções de
Assim. podemos dizer que o Conselho Nacional e o Conselho
membro da Corte Constitucional e as de representante ou assalariado
Federal nomeiam três membros cada um. Podemos notar que o go-
de partidos políticos.4
verno, ao indicar sozinho oito membros titulares. entre os quais o
Presidente e o vice-Presidente - a maioria do poder - pode orientar a
composição da Corte no sentido que lhe for favorável: <'De acordo 1. F. Ermacora, Cours constitucionn~li~s, p. 190.
2. Constituição, art. 147, aI. 3.
com a prática adotada, a indicação dos juízes obedece a regras políti-
3. Constituição. art. 147, aI. 2.
cas, e é o partido político que tem responsabilidades governamentais 4. Constituição. art. 147, al. 4.
vinciais). Tratava-se ora de fazer respeitar as regras relativas à divisão De 1976 a 1983,os Depurados do Conselho Nacional recoÍTe-
das competências entre Federações e Lander [estados], ora de regras ram cinco vezes à Corte e obtiveram ganho de causa uma vez; ~o~ve
substantivas. De fato, não parece que atualmente esse tipo de compe- a ação de uma Dieta provincial (a de Burgenland) que fracassou;
, I
I tência seja muito importante: em 1980, por exemplo, dois recursos uma 'outra foi bem sucedida em 1990.
"
Acesso pelos indivlduos- Desde 1975 os indivíduos podem con- A explicação brilhante de Eisemmann (1928) continua válida
testar a constitucionalidade de uma lei federal com a condição de ainda hoje e mostra a importância da faculdade conferida à Corte
que seus direitos tenham sido violados pela lei em questão e que que pode, de fato, por ocasião do exerdcio de suas diversas atribui~
esta lei seja aplicável sem a intervenção de uma decisão judicial ou ções, levantar de ofício a inconstitucionalidade da lei.
de uma decisão administrativa.
Como ressalta Olinger, Kelsen percebeu a importância da
Na prática, enquanto há de 20 a 30 recursos de indivíduos por
adjunção constitucional que ele tinha sugerido: os indivíduos podem
ano (20 em 1981,30 em 1982), no período de 1976-1983 a Corte
assim, indiretamente c desde o início, pedir o exame da constitucio-
Constitucional só admitiu o recebimento dos recursos individuais
nalidade de uma lei, apresentando perante a Corte Constitucional
em 15 casos. Veremos entretanto que, em 1990, três anulações fo-
um tecurso contra um ato administrativo, em razão de ter sido prati-
ram obtidas e que, em 1994, houve 102 pedidos a esse título, dos
cado com base numa lei inconstitucional. A reforma de 1975 adotou
quais apenas um obteve a anulação. a respeito de uma lei de 1980
essa orientação.
que previa a existência de uma só comunidade cultural israelita por
comuna. Nesses diferentes casos não há prazo para a provocação da O resultado é que definitivamente a própria Corte, entre as ques-
Corte. Em compensação, a Corte tem o prazo de um mês para jul- tões que lhe são submetidas, escolhe aquelas que parecem, na oca-
gar, mas "na medida do possível". Na prática, este prazo não é res- sião, necessitar de um julgamento relativo à constitucionalidade de
peitado. Mas, como vimos, houve 102 recursos em 1994. uma lei. Constataremos que esse contencioso é importante, uma vez
Acesso de ofício pela Corte. Desde a sua origem, a Corte tem o que em 1982, dos 106 casos relativos à constitucionalidade de uma
poder de examinar de ofício a constitucionalidade de uma lei, desde lei, 60 resultaram de um controle de ofício (44 em 1988 e 207 em
que essa lei deva servir de base para uma decisão e que existam 1989). Isso significa que essa é a principal via do controle da consti-
dúvidas sobre sua constitucionalidade. tucionalidade das leis na Áustria.
Uma lei pode servir de base para um julgamento da Corte, ime- b) A decisão da Corte e gUS eftitos. A Corte, em princípio, só
diata ou mediatamente. Imediatamente se ela deve aplicar-se à julga nos limites dos pedidos dos requerentes: ela não pode pronun-
espécie pendente de julgamento, a qualquer título - jurisdição ciar-se ultra petita. Isso é válido mesmo quando é levantada de ofício
administrativaespecial,15Tribunaldos Conflitos,16TribunalElei- a inconstitucionalidade de uma lei ou de uma disposição legislativa.
toral,17ou ainda, Juri~diçãoRepressiva.la Mediatamente, quan~ De fato, é muito difícil para a Corre respeitar essas regras; principal- .'
do a soluçãoda que"stãoque formao objeto imediatodo debate-.
'mente quando-anulações parciais mudam_o sentido da lei. Ne~te úl-
regularidadede um ato.administrativoou de uma norma geral-
timo caso, ela poderá dar um prazo para 'olegislado~ .refazersua lei: A
dependa da validadeda n~rmasuperior na qual se baseia.É, por
exemplo, o caso:de um particular que supõe que uma décisão . revisão constitucional dé"1975 deu..:lheo pod~r de julgar ultr.a.petita
administrativa viola seus direitos constitucionalmente garanti- caso a lei tenha sido. feit<:L
por -um.órgão )egislativo.'incompeten't~ ou
i:,,' dos, porque foi tomada em cumprimento de uma lei inconstitu- tenha sido publicada de forma irregular.
ciona(l9... ou ainda quando é argüida a irregularidade de um Se a Corte decretar a anulação da lei atacada ou de alguns de
'I regulamentofeito com base em uma lei inconsticucionapo
"
seus dispositivos, as conseqüências dessa decisão são cuidadosamente
explicadas pela Constituição. O princípio é o da não-retroati~idade
15. Aet.137.
16. Art.138.
da decisão anulatória: a lei cessa de ter efeitos na data da sua publi-
17. Art.141. cação no Boletim das Leis Federais, todavia ela conserva seus efeitos
1'1' 18. Art.143.
anteriores e continua a vigorar quanto aos fatos produzidos antes
I 19.
20.
Art.144.
Art.139. da sentença.
A Cone pode também decidir retardar os efeitos da decisão de 2. O princípio da legalidade - De acordo com esse princípio,
anulação no prazo máximo de um ano: o prazo concedido deixará expresso no artigo 18, alínea I", da Constituição, a atividade admi-
tempo ao legislador para refazer sua lei. Contudo, passado esse prazo, nistrativa do Estado somente pode ser exercida em conformidade às
a lei não deverá mais ser aplicada.21 "Na prática. esse grande poder Leis. Isso obriga o legislador a propor regras precisas e só deixar ao
da Corte de organizar o efeito temporário de suas decisões verificou- regulamento, que deve evidentemente ser um, regulamento de aplica-
se muito eficaz. É baseado no fato de que a anulação de urna lei é, do ção das leis, o mínimo de explicações a serem dadas.
ponto de vista formal, uma função legislativa. Assim Kelsen qualifi- A Corte é explícita nesse sentido. desde 1923:
cou a Corte Constitucional de "legislador negativo". 22
Para que possamos falar de regulamento complementar de unla
Lei, é preciso que esta disponha não apenas que medidas podem
IH. JURISPRUDÊNCIA
ser tomadas - o que seria uma simples delegação de competência-
Não se trata de expor aqui quase 60 anos de jurisprudência. mas quais medidas devem ser tomadas, cuja regulamentação do
detalhe ela deixa ao regulamento ... É preciso que possamos perce-
Procuraremos principalmente fazer um apanhado.
ber na lei... todos os elementos essenciais da regulamentação pre-
tendida.. (sem dúvida) o limite entre a delegação legislativa e a
1. O Estado e as coletividades que o compõem.
disposição concreta nem sempre é evidente. É a Corte que deve
decidir se estamos diante de uma ou de outra espécie.
A) No que se refere às relações entre as Federações e os Lander, três
atribuições da Corte podem ser fontes de jurisprudência: o julga-
Assim, por exemplo. a Corte anulou, em 1958. un"la disposição
ll"lento dos conflitos negativos ou positivos de atribuições entre Fede-
legislativa que previa que o Ministro Federal do Comércio estava au-
ração e Lander, o controle preventivo da constitucionalidade dos pro-
torizado a subordinar o exercício de algumas profissões à expedição
a posteriori das Leis Federais e provinciais de
jetos de lei e o controle
de uma licença, através de regulamento. se o interesse público o exi-
iniciativa Não,há muitas decisões ligadas à prin"leira
dos governos.
gisse expressamente.23 Tarnbém foi anulada uma disposição legislativa
atribuição. Em compensação. quanto à segunda (controle preventi-
que previa que, em caso de oferta de terrenos para construção, 15 a
vo), podemos contar umas 60 decisões, e quanto à terceira, com uma
20% da superfície deviarTI ser cedidos gratuitamente à comuna (a
centena de decisões de,anulação de disposições legislativas, o que prova
cidade de Viena) poi 'serem de "necessidade pública". Nos dois casos,
uma grande atividade ~a Corte nessa área.
a noção de in"teresse O~l de necessidade pareceu muito viga 'à Corte.
B)" No que se refere'ao Estatuto Constitucional das Comunas, a Nos anos 1950, a Corte aplicou o mesmo raciocínio aos atos ad-
existência de"uma jurisprudência abundante da Corte explica-se pelo ministrativos individuais, anulando várias disposições "legislativas que
fàto de qué,~ C~ilstituição "contém dispositivos muito detalhados re1ati- não se adaptavam a essa exigência. Assim, em 1966. da"declatóu in:..
"vos à organização das cO'munas, às suas relações com a Federação e os constitucional uma disposição legislativa que. após detalhar as condi-
Lander e às suas competências exclusivas, que são exercidas sob o ções nas quais podia ser concedida a licença de exploração de um cine-
controle das outras autoridades. Uma revisão constitucional, de 1962, ma. acrescentava que quem preenchesse essas condições não tinha um
reforçou esta autonomia que a Corre protege contra possíveis ata- direito subjetivo à obtenção dessa licença, pois isso significava conceder
ques, entre estes os do Legislador Federal. Foi assim que a Corte de- um poder discricionário muito grande à autoridade administrativa.24
cretou umas 20 anulações de disposições legislativas nessa área. Ocorreram 83 anulações por essa razão, de -1946 a 1980.
21. Art. 140, aI. 5, da Constituição. 23. 21 de junho de 1958, Slg 3360.
22. Ohlinger. 24. 17 de março de 1966, Slg 524.
I,~
'I
", >I.
tância da jUrlsprudência .relari~a-áQ princípio dc igualdade.
..' .b) . Se nos basearmos si'mpks!Jl"rotc ~as causas de anulação. pro-
'"rit.inci~dáspor violação dos direitos fundamcntai~ pelo legislador, entre
. Direito ou aplicá-lo senão em função das normas. de ordem consti- .
tucional. Os Direitos Fundamentais, principalmente. são considera-
dos como dirctamente aplicáveis à administração. a( compreendidos'
~:' 1946 c 1979" constatarem~s a esmagadora 'preponderância da viola- os decorrentes da Convenção Européia dos Direitos do Homem. En-
" ção do pri'ndpio deig;'aldade Como causa de anulação: 121 casos em tretanto. a Corte Constitucional não dispõe sobre a possibaidade de
,11: 142. ou seja, quase nove casos em dez .. controlar o respeito aos direitos fundamentais pelas jurisdições ordi-
. '. nárias. pois não há recurso que permita deferir um ato jurisdicional
25. Ohlinger.
26. Ver rd:uório Ohlinger ao Colóquio de Aix. 1981.
27. Ohlingcr. 1982. p. 382.
I",i
')
li\
,
De fato "os tribunais inclinam-se a resolver os problemas jurídicos Primeirarnente, assegura a defesa dos direitos da oposição ou da mi-
que lhes são colocados com a ajuda do Direito Civil ou do Direito noria parlamentar "forçando a maioria a respeitar estritamente a Cons-
Penal, sem recorrer diretamente ao Direito Constltucional".28 tituição Ce)compensando a disparidade de poder entre a maioria e a
Aliás, no Direito austríaco não há (o que em Direito aletnão cha- minoria". o que facilita à oposição a reconquista do poder.30 A seguir,
mamos a DrittuJirkung) efeito direto dos direitos fundamentais nas ela protege as minorias sociológicas ou políticas que não são suficien-
relações entre particulares: os direitos fundamentais são unicamente temente representadas ou não o são de forma alguma, o que com-
invocáveis contra o Estado, como decidiu a Corte Constitucional pensa a dominação e a monopolização do debate político pelas gran-
em questões recentes e principalmente em uma sentença de 1974.29 des formações. Finalmente, controlando a objetividade ou a precisão
Em uma outra decisão relativa ao direito à reunião, a Corte decidiu das leis, a Corte contríbui para racionalizar o processo de elaboração
que a ameaça de uma manifestação contra uma réunião não justifica das normas e para corrigir __
()_~
__
ciefeit.os resultantes do rno~opólio da
decisão política pei~'~'
g'~a~des partido~~.. .... _..........
..... . ..
a proibição dessa reunião, pois um particular não deve poder limitar
a liberdade de reunião de outro. Há alguns anos a Corte interpreta - para grande desgosto dos
partidos políticos - de maneira muito mais extensiva suas atribuições
2. A influência sobre a ordem política é reconhecida há mui- em matéria de proteção dos direitos fundamentais. Sua jurisprudência
to tempo, mas ela é maior ou menor de acotdo com a situação tornou-se mais "política" e isto desencadeou um debate com muitas
I
I
i
I,
i
I
CAPITULO 111
i i
i
I; I
o TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
f FEDERAL ALEMÃO
I
l
I'
II
I'
I
I
,A JURISDIÇÃOconstitucional foi criada na Alemanha Federal
pela Lei Fundamental de 8 de maio de 1949.
Depois de demonstrada a incapacidade do legislador. na
época do nacional-socialismo, de proteger os direitos fundamentais,
os constituintes de 1949 adotaram o r:nodelo kelsen.iano, criando um
Tribunal Çonstitucional dotado de a~pla c'ompetência. Este Tribunal
foi cri~do,pela ~í de 12 de março de -1951 e começou a funcionar
..e~ s.etenibrodo mesmo ano.
Além 'dessa" várias C~:>rte:S_
Co'nstitucionais ,foram instaladas nos
Linder, entre ,1947 e 1955,exceto asde Schleswig-Holstein e de
Berlim;- cinco ,novas Cortes foram criadas nos Lander da ex-Alema-
nha do Leste.
1
r. COMPOSIC;ÃO E FUNCIONAMENTO
II
B) De acordo com a Constituição,2 "metade dos melubros do vamos o mesmo grande comparecimento de professores de Direi-
Tribunal ConstitucionalFederal é eleita pelo Bundestag [Câmara dos to e de advogados. Os políticos não estão excluídos e podemos
Deputados], metade pelo Bundesrat [Senado]. notar, curiosamente, que o Presidente do Tribunal Constitucional
Federal, até 1983, J. Benda, era um antigo Ministro do Interior, o
As modalidades de designação foram fixadas em textos específicos
que também era o caso, como sabemos, de seu homólogo francês
e pela prática. Primeiramente, a escolha pelas duas assembléias é
na meslna época.
feita a partir de listas elaboradas pelo Ministério da Justiça, con-
tendo, de um lado, os nomes de todos os Juízes Federais que pre-
enchem. as condições exigidas, e de outro, "os nomes de todos os
I
! C) A média da idade é nitidamente menos elevada. De fato,
cada juiz é eleito para um m.andato de 12 anos, mas o limite da
postulantes que são apresentados por um grupo parlamentar do r
Bundestag, Governo Federal e governos dos Uinder". 3 A partir idade é fixado enl 68 anos completos. O mandato não é renovável e
~
somente a assembléia plenária da Corte pode autorizar unia apo-
I
dessas listas, cada assembléia escolhe de acordo com as diferentes
modalidades. No Bundesrat, os Juízes são eleitos através de escru- sentadoria antecipada ou destituição em caso de faltas graves' aos
tínio direto e devem contar com a maioria dos dois terços (ou 34 deveres. ou de atos que acarre.~em y.ma. peria .pri.vativa da .liberdade
votos dos 50). No Bundestag elege-se primeiro, através de repre- de mais de seis meses.4 Eles não podem exercer outras fúnções,
sentação proporcional e para o período da legislatura, os 12 gran-
!! exceto os professores ..un~versitários, autorizados a c,ontinuar k;:çio.-:-
...
des eleitores que escolhem os juízes por maioria de dois terços.
Para cada uma das duas Câmaras da Corte, Bundestag e Bundesrat
, nando,
em primeiro
com a condição
plano. ..
de. p'~r sua atividade
..
de juiz conscitucional
.
elegem, cada um, quatro juízes, ist~ é, duas vezes quatro juízes, ~
assim divididos: dois Juízes Federais e dois Juízes não federais para
uma Câmara, e um Juiz federal e três Juízes não federais para a I 2. Funcionamento - A) A divisão do Tribunal em duas câma-
outra câmara. Finalmente, Presidente e vice-Presidente são elerros
nas mesmas condições, tanto pelo Bundestag como pelo Bundesrat, Ií ras é bem marcada.
em uma determinada
De fato, cada juiz é eleito para ocupar
câmara e não há possibilidade
um lug~r
de troca; álém
e devem pertencer a câmaras diferentes. disso, cada câmª-ra é presidida pelo Presidente ou pelo vice-Presiden-
i
te; enfiIn, a cada uma é atribuída uma função específica (embora
60 AS CORTES CONSTITUCIONAIS
~llj:
rlil
I J haja tendência para atenuar essa especificidade). Tanto isso é verdade
I, que essas câmaras «formam praticamente dois tribunais distintos". 5
V~remosentretanto que a quase totalidade dos casos julgados
peIo Tnbunal são de outras modalidades: assim, os recursos constitu-
As atribuiçóes conferidas às seções de três juízes, criadas em 1985,
cionais, que representam perto de 980/0das demandas, são examina-
dentro de cada câmara, tendem a aumentar.
dos por seções de três juízes que, em mais de 99% dos casos, decidi-
ram rejeitá-los em 1994.
B) O Tribunal Constitucional goza de uma total autonomia no
plano administrativo e financeiro. Ele não depende do Ministério da
Ir. ATRIBUIÇÕES
Justiça para seus quadros; seu orçamento é separado dos demais ór-
gãos constitucionais. Conforme a tradição alemã. segundo a qual "as 1. As outras atribuições além do controle da constitucionali_
jurisdições supremas não se situam na mesma cidade que as assem- dade das leis.
..bléiase-o-governo"f--QTribunaJ.Const-itucional têm sede em KarIsruhe.
A) O Tribunal Constitucional é Tribunal Eleitoral mas somente
C) O procedimento adotado perante o Tribunal Constitucional em caso de apelo.
é regido pela lei de 12 de março de 1951 (modificado em 12 de
De fato, o Bundestag é competente para verificar os poderes de
dezembro de 1985 e 2 de agosto de 1993), pela aplicação do artigo
seus membros e pode também declarar a perda do mandato des-
94 da Constituição. Todavia, como esta lei só contém princípios. re-
tes;Bmas a decisão do Bundestag pode ser encaminhada ao Tribu-
corre-se também aos Códigos de Processo Civil e Penal e ao Regi- nal Constitucional, no prazo de um mês, por aquele cuja eleição é
mento Interno da Corte. contestada, por um eleitor cuja demanda foi rejeitada pelo
Bundestag (se mais de 100 eleitores se juntarem a ele), por um
o procedimento é escrito e oral... Mas, após 1963, não há au-
grupo parlamentar ou mais de um décimo dos membros do
diência oral se todas as partes renunciarem a ela. Além disso. em
Bundeuag. De fato, a atividade do Tribunal Constitucional nesse
matéria de controle concentrado por meio de remessas dos Tri-
campo é mais fraca, pois, em 39 anos, só proferiu 60 sentenças
bunais das normas, o Tribunal pode decidir que não haverá au- em matéria eleitoral.
diência. "De fato, a maior parte das decisões são tomadas sem
. audiência oral."7 A Corte conduz o procedimento e ordena as
B) A fúnção do Tribunal Constitucional como Alta Corte de Jus-
.medidas de instrução necessárias. Em cada câmara, seis juízes
tiça ou como Tribu,?al repressivo é ~in~a .IT.l~i.s
ár~ua. .
pelo menos (de oito) devem estar presentes e as decisões são (0-
m~das pcfa maioria dos juízes presentes; o voto do Presidente De acordo com o artigo 61 d.a Constituição, o Bundesrat pode
não é preponderante no caso de empate. Apenas a declaração de acusar o Presidente da República Federal por violação volunt:1ria
inco~stitucionalidade de um partido político exige a maioria de da Lei Fundamental ou de!-1maoutra lei.federal.,'Mas esse dispo-
'~ois'~erços. Após 1970 os votos são tomados um a um, as opi- sitivo nunca foi aplicado. Acontece o mesmo com a ação contra os
niões di~sidentes são declaradas e sua publicação é deixada a cri- Juízes federais.
tério. de seus autores. O exemplo estadunidense foi adotado, mas O Tribunal Constitucional pode declarar a perda dos direitos fun-
não sem alguma resistência. damentais, a pedido do Governo Federal, do Bundestag ou do
governo de um Land, contra "qualquer abuso da liberdade de ex-
pressão, principalmente da liberdade de imprensa, de ensino, de
5. Fromont e Rieg. reunião, de associaÇão,de sigilo de correspondência, do correio e
6. Idem.
7. Idem.
8. Art. 41 da Constituição.
62 AS CORTES CONSTITUCIONAIS
o TRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMÃO 63
,
das telecomunicações, da propriedade ou do direito de asilo por Houve 43 decisões a esse título, de 1951 a 1990, das quais 19
lurar contra a liberdade e a democracia .. ".9 Duas decisões foram antes de 1975 e 24 depois.
tomadas com esse fundamento, UInaantes de 1970, outra em 1974.
E) O controle da qualidade e do sentido das nonnas constitui
Enfim, a pedido do Bundestag, do Bundesrat ou do Governo uma competência especial do Tribunal Constitucional desde que esse
Federal, o Tribunal Constitucional pode decidir a interdição de um controle não termine anulando uma norma.
partido polírico por violação dos princípios da Lei Fundamental. 10
De 1951 a 1992, o Tribunal Constitucional proferiu duas decisões: Num primeiro caso, o Tribunal pode ser provocado por uma
autoridade pública (Bundestag, Bundesrat, Governo Federal de
em 23 de outubro de 1952 ele declarou inconstitucional o Partido
um Land) ou também pelo Juiz ordinário, antes de aplicar o
Nacional Socialista e, em 17 de outubro de 1956, o P?-rtido Comu-
texto,- quando--o-problema que se coloca é saber se uma regra de
nista Alemão.
Direito, editada antes da Constituiçao, continua a ser aplicada
como norma jurídica federal ou como norma jurídica dos Lander.
C) Como Corte federa!, o Tribunal Constitucional julga litígios No segundo caso, o juiz ordinário pode interpelar o Tribunal
entre a Federação e os Liinder, assim como entre os Liinder. II Constitucional "em caso de dúvidas se uma regra de Direito
internacional faz parte do Direito federal e se ela cria direta-
Trata-se principalmente de resolver conflitos de competência c isto
mente direitos e deveres para os particulares". Finalmente, "se o
nem sempre é fácil, pois, na Alemanha Federal como na Áustria, o
entrelaçamento das competências é uma realidade. O Tribunal Tribunal Constitucional de um Land, por ocasião da interpre-
Constitucional é provocado ora pelo Governo Federal, ora pelos tação da Lei Fundamental, quiser derrogar uma decisão do
governos dos Lãnder. O número de recursos não é elevado: um Tribunal Constitucional Federal ou da Corte Constitucional de
total de 37 decisões de 1951 a 1990. um outro Land, ele deve submeter a questão ao Tribunal Cons-
titucional Federal".
O) O julgamento dos conflitos entre órgãos constitucionais da
Federação é confiado ao Tribunal Constitucional, pelo artigo 93, par. F) O <recursoconstitucionar e o pape! do Tribunal Constitucional
1, aI. 1, da Constitu"ição. como Corte Administrativa e 'superCorte de Cassação': O recurso consti-
"~ucíonalfoi previsto pela lei de 12 de março de 1951, sobre o Tribunal
o Juiz Cónstirucióna1-exerce amplamente sua c?mpetência nesse
Co~stituc~onal, depois foi constitucionalizado pela Revisão Consti-
campo, pois entende por "órgãos constitucionais" não smnente' o
Presidente da Federação, o Governo -Federal,"asduas d~aras, mas
1 "tucional de 29 de janeiro de 1969, como indica o artigo 93, parágra-
também, em algumas hipóteses, os "grup,?syarláinentares,_ ós de"- fo 1.'\ alínea 4 "a" da Constituição: "qualquer pessoa que sentir-se
""putados e os partidos políticos.l2" Entret~nto, s6 pode haver juris- lesada pelos poderes públicos em seus direitos fundamentais" pode
diçao se houver uma verdadeira discordância entre doÍs órgãos apresentar um Recurso Constitucional. Isto tem em vista os prej uízos
sobre a interpretação de um dispositivo da Constituição e sua apli-
cação em um caso determinado. Segundo a lei de 12 de março de
1951, o recurso deve ser apresentado no prazo de seis meses.
I causados pelos atos administrativos, regulamentares ou individuais, os_
atos iurisdicionais e as leis. De fato, os atos administrativos, e princi-
i
I
palmente os atos jurisdicionais,
contencioso levado à Corte.
representam a maior parte do
9.
lO.
lI.
Constituição, art. 18.
Constituição, art. lI.
Constituição, art. 93, par. I, aI. 3 e 4.
I
!
Assim, efetivamente, "o Recurso Constitucional preenche duas
grandes funções: a primeira, em casos extremos, permite aos indiví-
i duos ~cionar o controle da constitucionalidade de uma lei; a segunda,
ll. Promant e Rieg.
66 AS CORTES CONSTITUCIONAIS
o TRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMÃO 67
,
1,1
Deve-se observar que normalmente o requerimento visa a obter difuso: a remessa é decidida pelo juiz independentemente das con-
a anulação. Contt:do a autoridade requerente pode também pedir a c!usóes das partes; o Tribunal Constitucional "não é obrigado a
confirmação da validade da lei e de sua aplicabilidade; neste caso, ela limitar seu exame aos dispositivos para os quais o juiz do mérito
pede anulação";2o a decisão de anulação tem efeito erga omnes.
pede a intervenção do Tribunal para obrigar a autoridade governa-
Todavia, a instância perante a Corte Constitucional é subsidiária
mental ou administrativa a aplicar a lei.
e extingue-se com a instância principal.
b) O controle por meio de remessas dos Tribunais. O artigo 100
.1
17. Are. 80, aI. 3, da lei sobre a Corte Constitucional. 20. Béguin, 1982, p. 102.
18. 29 de maio de 1974, RDP, 1976, p. 197. 21. Idem, p. 115_
19. Schlaich, 123. 22. Lei Te, par. 90, aI. 2.
"'i
68 AS CORTES CONSTITUCIONAIS o TRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMÃO 69
. ,,
o requerente deve ter sido lesado em um de seus direitos funda- evoluir o direito constitucional". 24 Além disso, o Tribunal não está
mentais, enumerados nos primeiros artigos da Constituição ou nos vinculado às conclusões dos requerentes, quer o controle tenha sido
artigos 20, alíneas 4, 33, 38, 101, 103 e 104. Mas esra enumeração provocado por um tribunal por remessa (controle incidental), por
não limita realmente o recebimento dos recursos, pois o Tribunal Cons- um órgão político (controle por ação) ou por um particular (recurso
titucional considera que "os d.ireitos fundamentais formam uma 0[- constitucional), o que demonstra bem o caráter objetivo do
dem jurídica objetiva que deve ser interpretada não como uma série de contencioso de constitucionalidade das leis, qualquer que seja o modo
garantias pontuais, mas corno um sistema coerente e completo de va- de ingresso em juíZO.25 A Corre pode também levantar de ofício a
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lores que visa à proteção da dignidade da pessoa humana e o seu livre inconstitucionalidade de urna lei. desde que o litígio que lhe é sub-
, '
desenvolvimento".23 Em último caso, portanto, o recurso constitucio- metido, por via de recurso, contra um ato administrativo ou
nal pode invocar a violação de outros dispositivos da Constituição. jurisdicional, pressuponha a aplicação dessa lei (ver supra). Final-
mente ela pode, de ofício, avocar um,.despacho__ provisório.
Não há necessidade de enumerar os recursos diretos e indiretos
contra as leis federais. Para ser exato, seria preciso acrescentar os
b) Normalmente a constatação da inconstitucionalidade de um
I"', casos em que o Tribunal Constitucional Federal levanta de ofício dispositivo legislativo deve resultar na sua anulação; mas, cada vez mais
'i
" a inconstitucionalidade da lei, pois na ocasião de um recurso diri- hesitante diante das conseqüências dessa decisão, a Corte Constitu-
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gido contra um ato administrativo ou um julgamento, ela própria cional tem recorrido a outros métodos.
!' pode examinar a regularidade da lei que serve de fundamento a
['I
esses atos. Não podemos efetivamente ter uma idéia do alcance A Corre pode declarar a anulação da lei, mas essa anulação terá um
l'j efeito retroativo. fu conseqüências podem ser muito graves, tra-
I real do recurso direto no controle das leis federais. O que pode-
mos dizer é que, considerando um pequeno número de recursos tando-se de um controle a posteriori, exercido sobre leis em vigor
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declarados admissíveis, esse alcance não deve ser muito grande: às vezes por muitos anos e tendo gerado uma multidão de atos
~
I,
'
em 1983, por exemplo, houve em torno de 3.000 recursos, mas
secundários. É por esse motivo que a lei sobre o Tribunal corrige
somente uma centena de ~ecisões; destas 100 decisões deve-se esse efeito retroativo, dispondo que, exceto nos julgamentos em
"
deduzir todos os casos que não se referem a atos administrativos matéria penal que podem provocar uma reabertura do processo,
ou julgamentos, questões que são, de longe, as mais numerosas. "as decisões baseadas em uma norma declarada nula..., mas que
não podem mais ser objeto de contestação, subsistem..." .26 De fato,
:'1 mesmo com essas correções, o juiz-con-stitucional hesita em fazer
A importância do cOJ:1troledas leis, de iniciativa .dos -parricula...
I1
res, é portanto relativa: sem dúvida uma ou duas dezena; de decisões
po~ ano e ainda menos anulações ou iny~idações.
T
,
anulaçge~: observamos, por exe.mplo,que.de 1951 até o final dos
anos--r970, n~o ho.uve mais do que,cinco Casosde'anulação total
de leiS27,e mesmo os casos de anulação parcial não são muito numc-
.rosos. Qu~ certas .deci~ões,.dítas'''de anulação parcial qualitativa",
.
O) A decisão da Corte e seus efeitos - O Tribunal Constitucio- consistem; sem amputar.o texto, em decl<l.-rarque a,lei é nula na
nal Federal exerce poderes consideráveis na apreciação da constitu- medida em qu~ ela se aplica a "umasituação; assim, por exemplo,
cionalidade das leis. uma legislaçãosobre o transpor~ede pessoasé declaradanula quanto
a) Antes de mais nada ele não se sente obrigado a julgar a fun-
do todos os recursos e realiza uma triagem entre os casos: "t a própria
Corte que escolhe alguns casos quando percebe que é necessário fazer
24. Schlaich, 1982, p. 207.
25. Béguin, 1982, p. 60, 102, 123.
26. Art. 79.
23. Béguin, p. 128. 27. Béguin, 1982, p. 169.
I,
, I
, 70 AS CORTES CONSTITUCIONAIS o TRIBUNAL CONSTITUCIONAL fEDERAL ALEMÃO 71
, ,
, I
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"
aos táxis e aos carros de aluguel, mas continua válida para os lII. JURISPRUDÊNCIA
outros meios de transporte.
Após sua criação, em 1951, o Tribunal Constitucional Federal
A partir de 1955 o Tribunal adotou uma omra técnica, visando
a evitar a anulação pura e simples praticada por outras Cortes entregou um número enorme de decisões: 85.432 (fim de 1994).
Consrirucionais: a técnica da interpretação confOrme. A lei é Todavia, é preciso observar que, deste total, mais de 93% (ou 79.
mantida em vigor com a condição de que sua interpretação seja 687) foram tomadas, não pelo tribunal, mas por comissões de três
conforme àquela dada pelo juiz constitucional. Todavia, essa téc- juízes.
nica só é utiliZada "se o sentido e a finalidade da lei são respeira-
dos";zS caso contrário a Corte Constitucional renuncia a ela. De 1. A jurisprudência eleitoral tem, parece, uma importância
fato, o uso dessa técnica é cada vez mais freqüente na jurispru-
muito linlitada: houve apenas 60 decisões de 1951 a 1992. É verdade
dência constitucional alemã, como em outras jurisprudências, e
preenche a mesma função desras.: A-iriierpreraçio conforme se que a Corte Constitucional é aqui apenas juízo de apelação.
mosua, com mais freqüência, como uma operação de retificação
normativa que permitiria aparar as 'arestas' da produção 2. No que se refere ao equilíbrio entre a Federação e os Liinder,
normativa sem desprezar a lei. O juiz apura a inconstitucionali- o Tribunal Constitucional tem, com sua jurisprudência, freado a ten-
dade e ele mesmo retifica a norma viciada, forjando a solução de dência centralizadora da Federação e principalmente dificultado as
direito positivo aplicável."29 intervenções desta nos setores de competência dos Liinder.
A partir de 1958, o Tribunal Constitucional criou uma variante
à declaração de nulidade: a declaração de inconstitucionalidade
3. A jurisprudência relativa aos direitos fundamentais
sem a subs.eqüente anulação. Esta inovação foi consagrada pela
lei sobre o Tribunal Constitucional de 1970,3Cl e teve um nítido
. desenvolvimento ~ partir desse momento.)l A técnica é utilizada A) Os diversos direitos fUndamentais - a) Convém, antes de mais
em quase todos os casos em que há ofensa ao princípio de igual- nada, observar que os direitos econômicos e sociais nao figuram na lista
dade ou a outro direito fundamental correlato com o princípio dos direitos fundamentais constitucionalmente protegidos, e isto:p9r-
da igualdade. que os autores da Constituição de 1949 "tiveram consciência da,difi-
Última técnica: -a anulação diferida. Trata-se do caso em que a lei culdade de concebê-los conlO verdadeiros di,,"~itos subjetivos oponíveis
não é inconstitucional na origem, mas tor~a-se progressivamente
ao Estado".33 Todavia, está inscrito na leI fundamental "o pri~cípio
inconstit':lcional em vir.tude da ev?luçãa:40s fatos ou do direito: a
do Estado social",34 princípio cujo significado evoluiu.
Corte Con.stitucional não anula a lei, mas auibui-Ihe .precarieda-
.de,.indicando ao'legislador que ela.é somente provisoriamentecons-
b) O Tribunal Constitucional teve oportunidade de interpretar
titucional; 'por razó~s expiicadas nos -motivos,orclenando-o modi- os principais dispositivos da Constituição relativos aos direitos fun-
. fiC"ara lei e .dando-Ihe às veze~ u.m prazp fi>=;o.Qefin.itivamente, damentais, ou seja, principalnlentc os artigos 2 a 18 da Lei Funda-
"podemos pergu~tar-nos se "essatécnica não é a expressão de urna mentaL que dizem respeito, como foi dito acima, às liberdades clássi-
tendência que procura um modo de .intervenção semelhante, por cas: liberdade de expressão, de religião, de ensino, de reunião, de as-
natureza, a um conuole de tipo preventivo".32 sociação, de circulação. de escolha de profissão etc. Não cabe aqui
expor de maneira detalhada essa jurisprudência.35
=: 72 AS CORTE.S CONSTITUCIONAIS
o TRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMÃO 73
. :'i c) No que se refere mais diretamente ao princípio de igualdade, IV. INFLUÊNCIA SOBRE A ORDEM JURÍDICA E
sabemos que ele é invocado com muita freqüência, mas que "os re- POLÍTICA
cursos constitucionais e as remessas dos tribunais que se baseiam
unicamente em uma violaçao do princípio geral de igualdade somen- A influência da jurisprudência do Tribunal Constitucional so-
te sao admitidos em um número de casos relativamente pequenos". 36 bre a ordem jurídica e política é considerável, a ponto de dizerem
Na República Federal da Alemanha, como em outros lugares, o gran- habitualmente que, na Alemanha Federal, até mesmo acima do 'Esta-
do de direito, fica o Estado dos juízes. Isto levantou, há algum tem-
de desafio é preservar o poder discricionário do legislador, evitando
po, a questão dos limites dos poderes dos juízes constitucionais.
uma aplicação muito estrita do princípio de igualdade; pois se o prin-
cípio geral de igualdade obriga o legislador "a tratar de maneira.idên-
1. A influência sobre a ordem jurídica - A influência sobre a
tica situações idênticas e de maneira diferente, de acordo com sua
ordem jurídica resulta da conjunção de dois fenômenos ou meca[oLis-
car~'7.t~:r.[!,.çi,ç<l;
,.PJ:".qpXi~,
...~.~.~~ªÇ9~!?
..çl.~f~J;"~[lJ_ç,s
.•_.Qr:i.en
tando-se constan te-
mos: a função objetiva dos direitos fundamentais e o controle exercIdo
mente pela idéia de justiça",3? a questão de saber quais situações de
pela Corte Constitucional quanto ao respeito pelos tribunais ordiná-
fato podem ser consideradas idênticas "pode ser objeto de respostas
rios por sua interpretação dos textos constitucionais.
diferentes, de acordo com a ótica ~ política. econômica, social ou
cultural - na qual nos colocamos".38 De fato. o Tribunal Constitu-
A) Os direitos fUndamentais não são somente direitos subjeti-
cional considera que há violação ao princípio da igualdade se ele não
vos, suscetíveis de ser invocados pelos particulares contra o Estado.
encontrar justificação razoável para a discriminação, neste caso ele
Eles também têm uma função objetiva como sistema de valor impos-
procede a um controle das medidas "arbitrárias". Isso provocou, há
to ao legislador, ao juiz e ao administrador.
alguns anos, vivas críticas de alguns juristas alemães, acusando o Tri-
bunal Constitucional de substituir o legislador.39
B) Mas a influência dos direitos fundamentais e da jurisprudên-
cia que os interpreta seria menos forte se não houvesse um mecanis-
B) Beneficidrios e limites - a) Os dire£tos fUndamentais são
lTIO que permitisse torná-la efetiva. De fato, o Tribunal Constitucio-
invocáveis pelos cidadãos. Todavia, os estrangeiros gozam igualmente
nal pode assegurar o respeito às suas decisões, graças ao controle por
da proteção de um certo número de direitos fundamentais e a juris-
meio de r:emessasdos Tribunais das normas e sobretudo ao recurso
prudência da Corte Constitucional estendeu progressivamente essa
constii:'ticionaL que permite a todos submet,er ~.d~ ~u~ga~ent.o~.?'?'.
proteção,"e.m~ora.se conservando sempre restritiva quanto ao princí-
decisões administrativas que desprezem suas interpretações ou juris-
pio da igualdade. A p~9teção é extensiva às pessoas jurídicas de direi-
prudência'. Disso resulta uma grande unidade na interpretação dos
to privado e, em alguns casos, de direito público.
textos constitucionais e, particularmente, daqueles relativos aos direi-
b) Os direitosfundamentais possuem limites que podem resultar
tos fundamentais .
..ora da Constituição, ora da lei ordinária, sendo certo que alguns direi-
e
tos (liberdade de religião de opinião, da arte e da ciência, de reunião C) Conseqüentemente, apenetração das regrasconstitucionais nos
e direito de asilo) só pqde~ ser restringidos pela Lei Fundamental. diferentes ramos do Direito é bastante facilitada.
A questão que se impõe é saber se os direitos fundamentais
podem surtir efeito não somente nas relações dos particulares com
36. H. G. Rüpp, p. 257. o Estado, mas também nas relações entre os particulares. Isto não
37. E 3, 58, 135.
38. H. G. Rüpp, p. 256.
foi expressamente consagrado pelo Tribunal Constitucional mas
39. Béguio, 1982, p. 131, 0.1. parece evidente, na medida em que os direitos fundamentais são