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CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE
VITÓRIA - ES
2018
GABRIEL PEDRO ALVES LOPES
LUAN FELIPE ROSA BARROS
RONYELLE HENRIQUE DE OLIVEIRA SOUZA
VIVIANE DOS SANTOS COUTINHO
VITÓRIA - ES
2018
GABRIEL PEDRO ALVES LOPES
LUAN FELIPE ROSA BARROS
RONYELLE HENRIQUE DE OLIVEIRA SOUZA
VIVIANE DOS SANTOS COUTINHO
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________
Prof ° Dr. Vilmar José Borges
Universidade Federal do Espírito Santo
(Orientador)
_____________________________________
Esp. João Marcos Augusto Chipolesch
SEAG
_____________________________________
Prof°Ms. Éder Lira
Universidade Federal do Espírito Santo
AGRADECIMENTOS
Agradecemos, primeiramente, a Deus e as nossas famílias, que sem medir esforços, nos
apoiaram em nosso engajamento e estiveram presentes em nossas dificuldades fazendo todo o
possível para nosso bem estar.
Aos professores do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Espírito
Santo nosso muito obrigado, em especial, a Professora GISELE GIRARDI que nos ajudou
com dúvidas e problemas acadêmicos, aos Professores LUIZ CARLOS TOSTA, CÁSSIO
BOECHAT e CAROL LEITE pelos aprofundamentos intelectuais e humanos que ampliaram
nossas visões de Geografia e de próprio Mundo.
Um agradecimento especial ao nosso amoroso e excepcional professor e orientador
VILMAR BORGES que nos ajudou de forma assídua em nossa formação,sempre esteve
pronto a nos ajudar com toda sua atenção, dedicação e sabedoria, se tornando um verdadeiro
amigo que nunca nos esqueceremos.
Aos amigos e colegas da Geografia, onde encontramos pessoas excepcionais que nos
ajudaram em nossa formação e que nos deram durante estes quatro anos todos os aparatos
para que conseguíssemos almejar nossos objetivos. Não poderíamos esquecer-nos de deixar a
gratidão aos que promovem entretenimento em meio ao caos da universidade com boas
músicas, espaço para novas amizades, o forró e o café da cantina.
Também gostaríamos de agradecer aos profissionais que fazem a limpeza da UFES e
aos colaboradores do RU, da biblioteca, do LIEG e de outros espaços. Além das políticas de
assistência estudantil e bolsas de monitoria e pesquisa e Iniciação à Docência que
possibilitaram nossa permanência dentro da Universidade, dando respaldo para a ampliação
do tempo e nos possibilitando dedicação maior nos estudos e nas pesquisas realizadas durante
a nossa graduação.
Quando, enfim, o homem vier a conhecer toda
a superfície do globo do qual se diz Senhor, e
a expressão de Colombo- "El muundo és
poco"- tiver se tornado verdade para nós, a
grande obra geográfica não será mais
percorrer as terras longínquas, mas estudar a
fundo os detalhes da região em que vivemos:
conhecer cada rio, cada montanha, mostrar o
papel de cada parte do organismo terrestre na
vida em conjunto... Os verdadeiros poetas da
Terra não são somente os escritores e os
pintores, mas também os geógrafos que a
descrevem (ÉliséeReclus).
RESUMO
PALAVRAS INICIAIS...
A Geografia foi inserida como uma disciplina escolar no Brasil a partir do Decreto
expedido pela Regência Interina em 02 dezembro de 1837 e passou a ser ministrada, nesse
mesmo ano, no então Imperial Colégio de Pedro II, na cidade do Rio de Janeiro. Fortemente
baseada no modelo francês de organização de temas e conteúdos, os livros, os compêndios e
os Atlas adotados, então, eram os mesmos que já haviam sido usados na França (ROCHA,
1996). Desde então essa disciplina vem sofrendo diversas mudanças relacionadas tanto à sua
forma quanto à abordagem de seus conteúdos.
Ao longo de sua história enquanto ciência, contou com diversos conceitos e
formulações que tentaram explicar o que seria a Geografia, bem como o conteúdo por ela
estudado. Surgiram, assim diversas correntes e movimentos de renovação, resultantes,
principalmente de mudanças político-ideológicas, de processos históricos e de descobertas
científicas que alteraram todo o pensamento acadêmico em geral (MORAES, 2005). No
entanto, a Geografia é uma ciência com método e objeto de estudo próprios e,
consequentemente, também é uma disciplina escolar que compõe os currículos das escolas de
ensino fundamental e médio.
Não obstante sua inserção, como disciplina escolar no ano de 1837, no Brasil a
institucionalização da Geografia enquanto ciência só vai ocorrer na década de 1930, sendo
também deste período a criação do IBGE e da AGB, impulsionando assim a profissão de
geógrafo no País.
Entre as várias mudanças sofridas pela ciência e disciplina Geografia, destacamos a
mudança ocorrida nas décadas de 80 e 90, quando da ascensão da corrente conhecida por
Geografia Crítica e que provocou, de imediato, inúmeras discussões e polêmicas sobre a
Proposta Curricular (PC) de Geografía que então estava em processo de formulação. Vale
aqui destacar comentários e advertências do importante Geógrafo brasileiro Ab‟Sáber, no que
se refere, especificamente à Proposta Curricular de Geografia do Estado de São Paulo.
Segundo o mesmo, tal Proposta foi reduzida ao materialismo-histórico e dialético,
asseverando que não é “tudo o que se vê na paisagem é produzido pelo homem, afirmando
que na região dos trópicos, onde ainda existe uma natureza primária, é importante
compreendê-la, para impedir a sua destruição” (1987 Apud PINHEIRO, 2003, p.36).
Observa-se nessa advertência de Ab‟Sáber a preocupação e o receio de ser retirado
completamente das escolas e das atividades de ensino da Geografia temas que discutiam a
Natureza, já que na época e seguindo os princípios da emergente Geografia Crítica, a Proposta
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formação crítica e consciente acerca do ambiente no qual está inserido. Sendo assim
fundamental analisar como a Geografia Física é apresentada no âmbito escolar e o que está
sendo considerado como tal.
Além disso, como observado na literatura, há um baixo número de produções acerca
desta temática, como artigos em periódicos, artigos em anais, teses e dissertações na área do
ensino de Geografia Física no Brasil (SUERTEGARAY & NUNES, 2001; PINHEIRO, 2003;
AFONSO & ARMOND, 2009; AFONSO, 2015), e também ao fato de existirem poucas Pós-
Graduações com linhas de pesquisa focadas no ensino de Geografia (ALBUQUERQUE,
2017).
Assim, justificada nossa opção de pesquisa e visando contribuir com as reflexões e
buscas pelo resgate e valorização dessa importante área do saber geográfico, apresentamos os
resultados parciais e inconclusos de nossa investigação, cujo relatório está organizado em três
capítulos. No capítulo I, trazemos uma revisão bibliográfica acerca do processo de formação
da Geografia enquanto ciência e como disciplina escolar, com ênfase no Movimento de
Renovação da Geografia, ocorrido nos anos de 1970 no Brasil, bem como as suas influências
na abordagem desta disciplina nas escolas. No capítulo II se encontram os dados empíricos da
nossa investigação, que focou as formas como a Geografia Física vem sendo apresentada e
trabalhada em escolas de educação básica da rede municipal de Vitória-ES. Para tanto,
apresentamos discussões das informações obtidas por intermédio de entrevistas realizadas
com quatro docentes de Geografia atuantes na referida rede e nível de ensino, acerca de seus
saberes, fazeres e não fazeres no ensino de questões da Geografia Física no cotidiano escolar.
Utilizamos, ainda de análise dos livros didáticos de Geografia que estão sendo utilizados nas
referidas unidades escolares observando: o que é apresentado em cada ano escolar, ou seja,
quais temáticas da Geografia Física são trabalhadas em cada ano/série do ensino fundamental;
Se há integração entre os conteúdos ou se são demonstrados de maneira fragmentada; Quais
os subcampos da Geografia Física são apresentados nos livros; e da quantidade total de
capítulos, quantos são ocupados para discutir a Natureza.
Já no capítulo III, e em decorrência das constatações observadas com os dados
apresentados no capítulo anterior, nosso foco se centrou em apresentar metodologias que
abordam alternativas de ensino em Geografia Física e atividades práticas que apresentam
possibilidades de se trabalhar a Geografia de forma inter-relacionada.
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CAPÍTULO I
Segundo Moraes (2005), estudos apontam que Eratóstenes ao observar o rio Nilo
realizou estudos voltados para cheia de rios e zonas climáticas, tornando-se mais conhecido
pelos seus cálculos da curvatura da Terra e a localização de cidades, mares e terras. Enquanto
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Conforme bem salienta Tanaka (2010), Kant foi professor da disciplina “Geografia
Física” na Universidade alemã Königsberg e muitas são as suas contribuições para a
Geografia, destacando sua inserção na estrutura da filosofia e da ciência. É, pois, em Kant que
se encontram as raízes do espaço como fundamento da Geografia, onde nada pode ser
representado sem o espaço, pois ele “é condição para as experiências dos objetos e uma
representação necessária a toda experiência externa, por meio da intuição (do contato
imediato com o objeto) e da representação (advinda da singularidade do objeto)” (TANAKA,
2010, p.67). Nessa concepção de espaço também estariam inclusos os homens, que juntos
com os objetos fazem parte da natureza, havendo também uma indissociabilidade entre as
condições naturais e a história humana, não sendo possível conhecer o homem ignorando o
meio (LENCIONE, 1999).
Depreende-se daí, que a Geografia para Kant seria uma ciência empírica, pautada na
observação e nas sensações, havendo em sua concepção duas ciências de síntese: a) a
Antropologia, que seria a síntese dos conhecimentos relativos ao homem; e b) a Geografia,
que caberia a síntese dos conhecimentos sobre a natureza, incorporando a ela também
perspectivas sintéticas, descritivas e corológicas, mas ressaltando uma ideia de totalidade
onde é necessário uma visão de conjunto do espaço (MORAES, 2005).
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na Alemanha com Friedrich Ratzel (1844 -1904) para quem a sociedade cria vínculos muito
fortes com o solo, a natureza fornece as riquezas e os instrumentos necessários para o seu
desenvolvimento. Assim, segundo tal corrente, o Estado surgiria para defender esse espaço,
que é vital, e tão necessário para o progresso dessa sociedade. As formulações de Ratzel
acerca dessas influências foram tão potentes que seus discípulos a interpretaram de forma
bastante “determinista” e consequentemente enraizaram um paradigma com esse mesmo
termo.
Embora suas formulações terem sido usadas para justificar a expansão territorial alemã,
Ratzel em sua “Antropogeografia” contribui para o surgimento de princípios, que para
muitos, fundaram a Geografia Humana. Nesta obra continha estudos de circulação e
distribuição das sociedades humanas e a formação dos territórios.
Nesta perspectiva, a Geografia passa a ter um olhar mais fragmentado e continua mais
próxima das ciências naturais, na medida em que se falava em população e não em sociedade,
o homem era um dado do lugar e um elemento a mais na paisagem, por isso as principais
críticas a Geografia Tradicional vão se dar pela não abordagem das relações entre os homens
e a carga naturalista (MORAES, 2005).
Mais tarde o tecnicismo desta corrente começa a receber inúmeras críticas, pois não se
atentava aos problemas sociais, tratando-os apenas como números. Em contrapartida, estudos
que abordavam a fome, pobreza, a miséria e a exploração de alguns países sobre outros,
começam também a ser foco de análise de muitos geógrafos, tendo principalmente um viés
marxista para o olhar da produção do Espaço. Surge, daí a Geografia Crítica, contendo autores
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que buscam uma transformação da realidade social, propondo uma Geografia militante que
luta por uma sociedade mais justa e sirva como instrumento de libertação do homem
(MORAES, 2005).
Nesta corrente predominam as análises dos modos de produção e das formações sócio-
econômicas, os geógrafos buscam em primeiro os processos sociais e tem por base a filosofia
marxista, inserida no contexto radical do movimento científico. Portanto, ela tem por objetivo
colaborar ativamente para a transformação radical da sociedade capitalista
(CHRISTOFOLETTI, 1985).
Essa revisita à história do pensamento geográfico nos revela que desde a gênese de sua
sistematização como ciência, a Geografia veio empregando o estudo das relações e
integrações do homem com o meio. No entanto, com o passar dos movimentos de renovação e
das correntes de pensamento ora foi empregado para a natureza uma maior centralidade nessa
relação, ora o homem aparece como o centro. Em decorrência, muitas vezes essas integrações
foram se perdendo e, nesse caso, a relação do homem com meio não se torna mais o centro do
debate. Aparentemente, e não raro, as relações sociais, os fenômenos internos da sociedade
vem se transformando como principal foco da maioria dessas correntes atuais, tratando de
forma praticamente nula a atuação da natureza.
abordados como foco de estudos da Geografia. Em outras palavras, busca-se resgatar uma
maior valorização da Geografia Física, contribuindo para mitigar a visível redução e, muitas
vezes, a falta da discussão sobre a necessidade de integração e inter-relação dos campos desta
ciência, especialmente no que tange a sua abordagem no ensino escolar, uma vez que essa
fragmentação observada na ciência geográfica, automaticamente tem repercutido nas escolas e
no seu ensino. Em decorrência, o que se observa é que muitas vezes os estudantes da
educação básica não compreendem porque na disciplina de Geografia se estuda, na maior
parte das aulas, aspectos como a urbanização, população, globalização e, somente em alguns
momentos aborda temáticas relacionadas a geomorfologia, a biogeografia e outros.
Conforme Menezes (2015), a primeira vez que a Geografia aparece como uma
disciplina escolar oficial é no Império Germânico, no século XIX, e posteriormente, na
França, tendo como motivação original o projeto de unificação alemã, pautado na ideia de
construção de uma identidade nacional amparada no nacionalismo e expansão imperialista
Francesa. A partir de então ela se torna uma disciplina obrigatória dentro do currículo das
escolas alemãs. Nas universidades, a Geografia surge apenas como uma matéria, dentro das
Ciências Naturais. É importante constar, no entanto, que foi nesse período também que ficou
marcado, na própria Alemanha, o surgimento da Geografia Científica, através da definição de
princípios de pesquisa e análise, realizados por Humboldt e Ritter na segunda metade do
Século XIX, como destacado anteriormente. Portanto, após a Geografia ser sistematizada e se
tornar uma disciplina escolar é que a Geografia acadêmica se torna autonomizada na
Universidade.
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No século XIX, quando a Geografia chega na sala de aula a própria escola representava
um espaço que visava o controle e que reproduzia um discurso para atender aos interesses de
determinada classe que visava a consolidação tanto da Alemanha como Estado Nacional,
quanto a expansão do imperialismo Francês. Compreende-se, assim, o fato de que as práticas
educacionais em geografia tinham um cunho majoritariamente enciclopédico, descritivo e
fragmentado, com foco na memorização dos conteúdos, mantendo o padrão de ensino
tradicional, pois, os princípios do pensamento geográfico tradicional iam ao encontro da
Educação Tradicional, resultando em um ensino de Geografia mecânico, superficial e
descontextualizado (SOUZA & PEZZATO, 2010).
A ordem Jesuítica foi expulsa do Brasil no século XVIII, exatamente em 1759. A partir
deste período, o Marquês de Pombal, enquanto responsável pela educação do Império,
instituiu as aulas régias no Brasil. Assim, inspirado pelos ideais iluministas fez uma tentativa
de “ensino público” laico e com o ensino focado na transmissão dos saberes científicos.
Inicia-se, assim, conforme destaca Miguel (2007), uma série de reformas estaduais para
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Ainda segundo Rocha (1996), a Geografia escolar ensinada no Brasil, nesse período,
reproduziu quase que totalmente o que era ensinado nas escolas francesas, tanto no conteúdo
como no seu formato, inclusive trazendo os materiais didáticos, sem expressivas alterações,
tanto no que se refere à forma como no conteúdo que caracterizavam a Geografia Escolar.
Contudo no Brasil somente a partir dos anos 1920, foi que se conseguiu sair do padrão
francês de geografia escolar, que tinha por característica a descrição através do ensino da
nomenclatura dos aspectos geográficos e pela descrição das paisagens, já tidos na própria
frança como ultrapassados (ROCHA, 1996). Neste período, no Brasil, assiste-se, em parte da
produção escolar, a produção de aparatos didáticos nacionais e à incorporação de aportes
teórico-metodológicos e de temas difundidos pela recém-criada Geografia Moderna e da
ciência pedagógica. Ocorre a partir deste fato, inclusive, a institucionalização da Geografia
acadêmica no país, sendo os cursos de São Paulo e Rio de Janeiro, os primeiros cursos
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superiores de Geografia , com uma de suas finalidades a de formar professores para a escola
básica (ALBUQUERQUE, 2011).
O ensino de Geografia manteve-se dessa maneira até meados do século XX, visto que
somente após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando a Geografia Tradicional entre em
forte crise, sofrendo inúmeros questionamentos em seus métodos, bem como destacando as
necessidades de modificações na academia e na escola, devido às mudanças sociais e
econômicas vividas neste período. Ocorrem então mudanças profundas na Ciência Geográfica
e no ensino da Geografia Escolar, como aponta Afonso:
A Geografia Quantitativa, com foco nas ações de planejamento, não foi construída com
o desejo de ser inserida na educação básica e, portanto, seu aparecimento ocorre em pequenas
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porções na escola e em livros didáticos. Já a Geografia Humanista, com destaque para seu
viés da Geografia Cultural, demorou muito para entrar nas escolas brasileiras e até os dias
atuais tem sido pouco perceptível no meio escolar. Em contrapartida, a Geografia Crítica, ao
utilizar a base marxista para fazer uma releitura do mundo, inclui o que era ensinado na
escola, questionando inclusive a função social da Geografia, para quê e para quem ela servia
ao mesmo tempo (SAMPAIO et al., 2012), alcança grande repercussão na Geografia escolar.
A Geografia Crítica teve como uma de suas bases, a mudança no contexto escolar,
tentando aliar a superação da Geografia ensinada na escola até o momento, que tinha
basicamente o foco na memorização dos conteúdos, na descrição e informação de fatos, sem
nenhuma criticidade e pouco próxima da realidade. Esses motivos desencadearam o processo
de extremas mudanças na Geografia escolar. Porém, apesar das tentativas de superação,
contraditoriamente a forma que se deu essa renovação ficou muito mais no seu sentido teórico
do que na prática.
...o grande mal da Geografia Tradicional é ser positivista, e a Geografia Crítica nada
mais é do que a descoberta e aplicação pelos geógrafos do método dialético (...). Em
nome do marxismo(-leninismo), vai-se contra os ensinamentos do próprio Marx: no
lugar de unir a análise e crítica do pensamento (geográfico) com a práxis que o
sustentou, faz-se um exercício de escolástica – rotula-se de todo o discurso
geográfico tradicional de „positivista‟ (...) sugere-se que ele é incorreto e está em
crise apenas porque não utilizou as categorias e conceitos do materialismo histórico
e dialético. (VESENTINI, 1992, p. 46).
Destaca-se, ainda, como decorrência dessa “crise” no ensino da Geografia escolar uma
acentuada dicotomia e falta de integração na prática docente no que se refere ao ensino da
Geografia Humana e da Geografia Física. Assim, por observarmos uma sobreposição daquela
sobre essa, justifica-se desenvolver uma reflexão acerca do ensino da Geografia Física após os
Movimentos de Renovação da Geografia.
A partir do Movimento de Renovação, a Geografia Física passa a ser tratada como uma
concepção “velha”, arcaica sempre associada à Geografia Tradicional. Aparentemente foi
criada uma hierarquia de temáticas mais importantes dentro da Geografia, onde os
subcampos de estudos da Geografia Física foram colocados em uma categoria inferior.
torna-se cada vez mais evidente a necessidade e urgência de uma certa aproximação dos
conteúdos da Geografia Física no ensino escolar, no intuito de subsidiar as discussões de
temas físicos dentro de ensino de Geografia.
Como foi visto, elementos e aspectos da natureza sempre estiveram presentes na ciência
geográfica. Portanto, é uma grande controvérsia a desvalorização desses campos na educação
escolar, marcada pela tentativa de ofuscar esse conhecimento. Essa controvérsia se evidencia
ainda mais ao considerarmos a importância desses conteúdos para a abordagem do espaço e a
análise geográfica, além da necessidade dos mesmos no ensino escolar, particularmente no
contexto catastrófico atual, marcada pela extração excessiva das denominadas matérias
primas, da apropriação desenfreada dos recursos hídricos, do saturamento dos solos, poluição
do ar, da perda da biodiversidade e a extinção de espécies vegetais e animais.
Conforme nos alerta Menezes (2015), como não houve uma construção coletiva entre
professores universitários e professores do ensino básico, muito menos de pesquisadores da
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Muitas vezes esses conteúdos são até próximos dos ministrados nos cursos de
graduação, porém de uma forma simplória e resumida. Os livros didáticos também reduziram
os capítulos relacionados à dinâmica da natureza, pois havia uma certa dificuldade em criar
interações entre os elementos físico-naturais e os aspectos políticos, socioeconômicos e
culturais da Geografia, cuja dificuldade de integração é denunciada por Afonso:
Esses movimentos também vão influenciar, ainda que timidamente, dentro do ensino de
Geografia, que inevitavelmente sobreveio uma certa atenção para os conteúdos da Geografia
29
Física, sendo o campo que possibilita se ter uma melhor abordagem sobre os impactos
provocados pelo homem na natureza.
CAPÍTULO II
A partir da análise dos livros didáticos adotados e dos saberes docentes, explícitos em
suas narrativas, podemos mapear a morfologia da Geografia Física escolar ensinada no ensino
fundamental. Ou seja, podemos melhor compreender como ela é apresentada e abordada nas
escolas. Para tanto, fez-se necessário realizar um recorte de estudo, devido ao amplo número
de escolas, séries e escalas.
Assim, o universo de estudo de nossa pesquisa foi o município de Vitória, que é a
capital do Estado do Espírito Santo, sendo a centralidade de fluxos e de diferentes dinâmicas
da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV). O município segundo estimativa do
IBGE (2017) tem uma população estimada de 363.140 habitantes, havendo no ano de 2015,
segundo o INEP (2015), um total de 39.730 matrículas no ensino fundamental das escolas de
Vitória.
A rede municipal de ensino do município possui 53 escolas de ensino fundamental e 49
centros de educação infantil. Os livros analisados a seguir são os que os quatro (4) professores
entrevistados utilizam em suas escolas. Os entrevistados atuam em escolas de diferentes
posições geográficas do município.
Como nosso universo de estudo foi os professores de Geografia das escolas de Ensino
Fundamental, da Rede Municipal de Vitória/ES, analisamos a coleção do livro didático de
Geografia utilizado no município.
A escolha do livro didático a ser adotado por esta rede de ensino é feita por intermédio
de uma seleção, onde vários livros são analisados e a coleção mais bem votada entre todos os
professores da rede municipal é selecionada para ser o livro didático adotado por todas as
suas unidades escolares.
Assimos livros didáticos utilizados atualmente pelos professores e professoras de
Geografia da rede de ensino fundamental de Vitória, são os da coleção Vontade de Saber, da
autora Neiva Torrezani, que foi publicado pela editora FTD e elaborado no ano de 2015
(ANEXO III), sendo produzido para atender nos anos de 2017, 2018 e 2019, segundo o
Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD).
A seguir apresentamos uma descrição das análises realizadas nesses livros didáticos de
Geografia, de acordo com os critérios estabelecidos, em cada ano do Ensino Fundamental
(séries finais), ou seja, do sexto, sétimo, oitavo e nono anos.
A priori, o livro do sexto ano contém ao todo oito (8) capítulos (Figura 1), tendo como
temática o espaço, a relação deste espaço com o ser humano e as transformações da paisagem
a partir do processo e intencionalidade de cada momento da história.
O primeiro capítulo vem com o tema “Estudando a Geografia”, onde é apresentado os
conceitos-chave da geografia perpassando pelo conceito de lugar, espaço geográfico, tendo
como elemento chave a paisagem, parte importante do que é trabalhado no restante dos
capítulos, a visão do meio e sua interação entre Natureza e Sociedade. No segundo capítulo se
trabalha as noções cartográficas e as representações do espaço geográfico. No terceiro
capítulo se dá a apresentação do planeta Terra, sua origem, forma e processos. No quarto e
quinto capítulos ocorre a apresentação das dinâmicas naturais da Terra como o relevo, as
rochas, as águas, o clima e a vegetação de forma interligada as características paisagísticas.
No sexto capítulo é feita uma tentativa de relação entre os elementos da natureza entre si, a
partir da apresentação das interdependências desses elementos, de sua relação e interação
entre si, além de tentar ligar como os elementos da natureza são apropriados pela sociedade.
No capítulo seguinte são apresentados aspectos relacionados à sociedade e suas atividades
econômicas perpassadas no espaço geográfico, colocando os aspectos naturais diretamente
como recursos apropriados. O oitavo e último capítulo apresenta a natureza e atividades
econômicas e problemas ambientais causados, realçando uma caracterização dos problemas
ambientais decorrentes da exploração da natureza.
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Neste livro os conteúdos relacionados à Geografia Física são apresentados em quatro (4)
dos oito (8) capítulos, aparecendo no capítulo 4, que trata do relevo e das águas, no capítulo 5,
que trata do clima e da vegetação, no capítulo 6, que apresenta as relações da natureza e da
sociedade e no capítulo 8, que coloca em foco as problemáticas ambientais relacionados às
atividades econômicas e a natureza.
Na proposta do livro analisado observa-se uma integração dos conteúdos, tanto na forma
de relacionar os mesmosentre os subcampos da geografia física, quanto na inter-relação entre
sociedade e natureza. No entanto, há que se destacar que embora haja uma naturalização dos
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aspectos naturais como sendo recursos a serviço do homem, como apontado por Afonso
(2015), isto não basta para haver uma aprendizagem significativa e uma melhor relação com
o meio, e assim, possibilitar ao ensino da Geografia, ampliar a visão de cidadão do discente.
Como se pode observar, pelo sumário da Figura 1, os subcampos da Geografia Física
apresentados neste livro são a Geomorfologia, a Hidrografia, a Climatologia, a Fitogeografia e
a Pedologia. Todos os subcampos, com exceção a pedologia, são tratados de forma ampla
havendo uma real discussão acerca de seus conceitos e relações entre si e com a Sociedade. O
debate em relação aos solos são reclusos a descrição de como eles são formados.
Dos oito (8) capítulos, cinco (5) se pairam a debater de forma direta a natureza: a) o
capítulo 3, que apresenta o Planeta Terra; b), o capítulo 4 que apresenta aspectos do relevo e
águas; c), o capítulo 5, que demonstra as variáveis climáticas e vegetacionais; d), o capítulo 6,
que trabalha a interação da natureza com a sociedade; e por fim, e) o capítulo 7, que trata dos
problemas ambientais relacionados a apropriação da natureza exercida pelo ser humano. Com
isso, é interessante se constatar a ampla quantidade de temas relacionados à natureza em
apenas um ano do ensino fundamental.
No sétimo ano, o livro ao longo dos 8 capítulos se propõe a abordar as regiões
brasileiras. No primeiro capítulo há uma discussão sobre a formação do território brasileiro e
a sua atual regionalização, contendo um subtópico curioso denominado “Brasil: natureza e
sociedade”; e logo em seguida um outro subtópico “O desmatamento das formações vegetais
do Brasil”. Por último este capítulo contém uma breve abordagem sobre “A riquezas dos
manguezais”.
A temática de todo o segundo capítulo é a população brasileira, não havendo nenhum
fator do meio, nem mesmo outro tipo de aspecto relacionado. Posteriormente no terceiro
capítulo é trabalhado o rural, o urbano e a economia brasileira, apresentando uma abordagem
bastante econômica desses espaços, mostrando basicamente qual o papel de cada um deles na
economia brasileira, ou seja, quais atividades produtivas eles exercem. Observa-se a inserção
nessa discussão da agricultura, a pecuária e extrativismo, que aparecem como atividades da
economia brasileira, não trazendo nenhuma perspectiva ou relação com as características
físicas desses locais, como os tipos de solos, as dinâmicas climáticas e geomorfológicas que
atuam.
35
E por fim o livro trabalha uma única região brasileira em cada capítulo seguinte, onde
todos terão um tópico denominado “Entendendo os aspectos naturais da Região” no início do
capítulo e em seguida subtópicos com nomes de elementos naturais regionais. Além disso.
Destaca neles a discussão da agropecuária. Na Região Sudeste (4), Região Sul (5) e Região
Centro-Oeste (7) aparecerão os subtópicos a) Clima e Vegetação b) Relevo e Hidrografia.
Essas são as primeiras temáticas desses capítulos que contém as características naturais como
um caráter introdutório para a Região estudada. Na Região Nordeste (6) os subtópicos serão
a) Clima e Vegetação e b) Hidrografia, sendo que o subtópico posterior aborda as massas de
ar e o relevo regional. Ao longo deste capítulo nota-se a tentativa de fazer com que os
discentes compreendam a seca. A Região Norte (8) é trabalhada no último capítulo do livro e
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é a que mais contém aspectos naturais e se difere levemente dos outros capítulos em relação a
abordagem. Aqui os subtópicos de apresentação são a) A Floresta Amazônica; b) Os
diferentes aspectos da vegetação amazônica; e, c) Relevo e Hidrografia, tendo abordagens
também como o extrativismo, reservas extrativistas e o garimpo regional. Ou seja, se fala
sobre as principais características naturais de cada região, mas não aborda as dinâmicas e os
fatores climáticos, geomorfológicos, geológicos, hidrográficos, pedológicos e biogeográficos
que agem de maneira sistêmica diferentemente em cada Região.
O livro traz o viés, portanto, de que no sétimo ano a disciplina de Geografia deve
trabalhar predominantemente a Regionalização do território brasileiro, sua população e
economia e as principais características de cada região do país. Nota-se que os subcampos de
Geografia Física trabalhadas neste livro são a Climatologia, a Geomorfologia, a Hidrografia, e
a Fitogeografia.
O livro do oitavo ano também tem um total de 8 capítulos (Figura 3). Se inicia com o
debate sobre os continentes e a regionalização do espaço mundial. De início no capítulo 1,
discute-se sobre as dinâmicas da natureza e dos continentes terrestres, para explicar a sua
divisão e explanar sobre a sua regionalização, apresentando aspectos sobre as formações dos
mesmos. No capítulo 2, traz a discussão sobre os territórios e as nações do mundo; no
terceiro capítulo os autores dão um panorama sobre a economia e a geopolítica mundial. O
quarto capítulo trata sobre a regionalização do espaço mundial e, no quinto e no sexto, aborda
a América, onde começam a explicitar acerca dos continentes e suas regionalizações internas,
tratando da América Anglo-Saxônica e a América Latina. Já no sétimo e oitavo capítulo,
volta-se para o continente africano.
Neste livro aparecem temáticas relacionadas a Geografia Física no capítulo 1,
apresentando as placas tectônicas e as transformações na paisagem, e no capítulo 5, 6 e 7
aparecendo nas principais características naturais dos continentes americano e africano,
demonstrando o relevo, a hidrografia, o clima, as formações vegetais e os recursos naturais
das regiões dos continentes. Observa-se que não há tentativa de integração dos conteúdos,
sendo apresentado de forma fragmentada, como se não houvesse inter-relações dos aspectos
naturais entre si.
Os subcampos da Geografia Física abordados no livro do oitavo ano foram a
Geomorfologia, Hidrografia, Climatologia, Recursos Naturais e Fitogeografia. Com exceção
da Geomorfologia, que é discutida no primeiro capítulo, com a temática da formação dos
continentes atuais, os outros são apresentados na forma de uma breve caracterização das
regiões a serem abordadas, sendo colocados de forma bastante descritiva, focada no
37
Dos oito (8) capítulos do livro apenas um (1) se ocupa em discutir assuntos relacionados
a natureza, o capítulo 1, que é utilizado para demonstrar como foram formados os continentes
e a ocorrência de terremotos. O restante do livro se trata da regionalização político-econômica
38
Vimos, portanto, a partir da análise dos livros da coleção Vontade de Saber, que os
conteúdos de Geografia Física não tiveram grande mudança do paradigma tradicional, no
sentido proposto pelo Movimento de Renovação, promovida pelos teóricos da Geografia
Crítica. Esses conteúdos foram, em grande forma, suprimidos e julgados como irrelevantes
após as mudanças ocorridas na ciência e posteriormente na geografia ensinada no ensino
básico.
Conforme constatado por Furim (2012) e Afonso (2015) e já apontado anteriormente no
trabalho, o que ocorreu foi um grande distanciamento entre os pesquisadores de Geografia
Física e Geografia Humana, que mesmo com as recentes aproximações, e, pautados na análise
dos livros didáticos de Geografia, não conseguiram, ainda, superar as problemáticas
relacionadas ao ensino de Geografia Física,
Nessa direção, torna-se de mister importância para uma melhor compreensão da
problemática aqui tratada, ouvir e dar vozes aos professores de Geografia, atuantes no ensino
fundamental, acerca de suas visões, dos limites e possibilidades de tais práticas no cotidiano
das salas de aula.
de divisão, essa dicotomia tão explícita e difundida, isso tudo cabe no corpo da Geografia.”
(PROFESSOR 1).
Já na segunda forma de se integrar os conteúdos de Geografia, sendo entre os conteúdos
de Geografia Física aos de caráter político, socioeconômico e cultural, o Professor 1 destacou
que o tempo da aula atrapalha a abordagem dessa gama de conteúdos, principalmente os
interligando. O Professor 2 acredita que os conteúdos estão interligados, sendo necessário
realizar conexões, segundo ele, é através do mapa que isso se torna possível. Já o Professor 3
destaca a necessidade de uma mudança no ensino superior para preparar os futuros
licenciados a trabalhar desta forma, enquanto o professor 4 relatou que os discentes
conseguem assimilar as questões políticas de forma mais fácil e menos “chata”.
Pelos depoimentos de nossos entrevistados,podemos perceber que as dificuldades
enfrentadas pelos mesmos, referente a integração desses conteúdos, se relacionam à questão
do tempo da aula, que dura cerca de 50 minutos, sendo um período bastante curto para
trabalhar efetivamente a maioria dos conteúdos não só da Geografia mas como de qualquer
outra disciplina. Nossos entrevistados destacam, também, carência na formação inicial: a fala
do Professor 3 ratificou mais uma vez a influência das Tendências geográficas e como ela é
abordada nos cursos superiores, demonstrando que dificilmente um professor ou estudante de
Geografia desenvolverá uma abordagem integradora se a forma em que a Geografia
demonstrada pra ele durante a sua formação não possui esta perspectiva.
No que concerne a prática docente na Educação Básica, Afonso (2015) destaca que os
professores de Geografia são frequentemente induzidos a promover essa integração dos
conhecimentos gerados nas diferentes áreas e especialidades da Geografia, mencionando dois
elementos que o docente precisa incorporar em sua prática dizendo que
Para alcançar essa integração de modo eficiente, é importante que o professor
incorpore à sua prática docentes, os conhecimentos relativos aos principais avanços
teóricos e metodológicos gerados pelos pesquisadores nos diversos subcampos e
especialidades da Geografia, uma vez que esses conhecimentos tenderão a qualificar
sua prática profissional;[...] estratégias pedagógicas que facilitem e promovam a
educação geográfica significativa segundo o nível cognitivo dos alunos (AFONSO,
2015, p. 45 ).
CAPÍTULO III
água sobre as três garrafas, para que assim a água penetre e escoe sobre os três solos distintos,
como observado na Figura 5. Para tanto, é necessário também possuir três recipientes para
captar a água que será escoada através do solo. A autora ainda salienta a importância do
professor chamar a atenção do aluno para que o mesmo: “Observe a cor da água escorrida e
anote os resultados”. Nesse caso, o professor deve também explicar aos alunos que “...a água
escoada superficialmente carregará partículas de solo, poluentes, nutrientes, agrotóxicos, entre
outros, e que nem todos são visíveis a olho nu” (p.32)
Por fim, na abordagem da temática relacionada à erosão eólica, utiliza-se o foi
abordada com o auxílio de um canudinho, assoprando sobre cada um dos recipientes. Essa
etapa auxilia demonstrar a intensidade de desagregação das partículas em cada solo. Para
tanto, segundo orientações da referida autora, o professor deve solicitar aos educandos que
observem o que acontece, discutem entre si e posteriormente respondam,
Trata-se, portanto, de um recurso didático que pode ser utilizado para diversos fins
tanto fenômenos de microescala, como de meso e macroescala.
Louzada e Frota Filho (2017) propõem que uma forma de aplicar o terrário em
geografia é,
demonstrar a evolução do relevo e a heterogeneidade que o solo possui, o ideal é que
se monte um perfil dos horizontes do solo de forma que se destaquem, juntamente
com a inclusão de pequenos pedações de rochas para exemplificar a Rocha-matriz
ou Horizonte C, assim como por pequenos insetos para mostrar como decorre a
aeração do solo juntamente com plantas na superfície, dessa forma com diversos tipo
de solo pode-se exemplificar a relação solo-planta e mesmo relevo-solo.
alunos. É importante que o terrário esteja mais próximo possível do real e do local de vivência
dos discentes.
barulhentos, por isso é importante o jogo ser aplicado fora da sala de aula para não atrapalhar
as outras turmas ao lado.
Assim, o educando conseguirá trazer o conceito que antes poderia estar distante ou
abstrato de sua realidade para algo concreto que pode ser bastante significativo para sua
formação e passará a enxergar na realidade o que foi visto na teoria. Com isso, a inserção
destes conteúdos se darão a partir da observação e valorização do cotidiano e das práticas
culturais da própria comunidade, principalmente das comunidades tradicionais, em que estes
discentes estão inseridos.
Ao interrompermos, temporariamente, nossas reflexões acerca de alternativas
metodológicas para o ensino de Geografia Física na Educação Básica, salientamos, mais uma
vez, que nosso intuito não foi o de esgotar as possibilidades nesse sentido. Ao contrário,
visamos aqui, contribuir com o debate e apontar que inúmeros são os desafios e obstáculos,
porém, lembramos que o ensino da Geografia Física, assim como dos demais componentes
curriculares são efetivados pelo trabalho cotidiano do professor. Portanto, um caminho viável
e necessário para a superação das dicotomias e dificuldades reside na própria prática do
professor, onde inúmeros saberes são permanentemente mobilizados, construídos e
reconstruídos.
Vale aqui as lições de Borges e Bitte (2018):
A não consideração do professor e de suas condições reais de atuação, traz consigo a
não reflexão sobre a pluralidade de saberes que são mobilizados no exercício da
função e que, em decorrência dessa não reflexão, são, na maioria das vezes,
confinados à privacidade de experiências docentes isoladas que, embora possam ter
grande validade e muitas contribuições para o processo de melhoria da qualidade do
ensino, não são socializadas e, portanto, perdem-se no anonimato de cada docente.
(p.38).
58
PALAVRAS FINAIS…
Foi possível perceber, ao longo do primeiro capítulo, que embora ocorreram tentativas
de aproximações, bastante tímidas e com pouca efetividade, houveram também, profundos
distanciamentos e desarticulações entre os conteúdos e subcampos da Geografia Escolar de
um modo geral e, de forma bastante específica da Geografia Física Escolar. Constatou-se, a
partir da literatura, que pouco foi incorporado às abordagens sistêmicas e/ou elaboração de
metodologias de ensino que tentassem a aproximação ou articulação entre conteúdos e
subcampos da Geografia Física. Mesmo existindo um aumento das abordagens das temáticas
ambientais na disciplina de Geografia, elas continuam sendo ministradas de forma isolada,
sendo necessária a integração e inter-relação com os aspectos políticos, sociais, culturais e
econômicos para uma melhor efetivação do conhecimento e ampliação do ensino-
aprendizagem.
As entrevistas realizadas, bem como a análise dos livros didáticos adotados,
apresentados no capítulo II, tornaram bastante perceptíveis que os conteúdos de Geografia
Física não tiveram grande variação de formas e abordagens daquelas que eram trabalhadas no
paradigma da Geografia Tradicional. Esses conteúdos foram, em grande parte, suprimidos e
julgados como irrelevantes após as mudanças ocorridas na ciência e posteriormente na
Geografia ensinada no ensino básico. A Natureza foi, via de regra, reduzida a um mero
recurso, como uma fornecedora de matéria prima para a fabricação de produtos que estão
sendo partilhados de forma desigual entre lugares e pessoas. E mesmo com uma maior
incorporação das questões ambientais na disciplina de Geografia, a Geografia Física se
manteve como uma disciplina desinteressante e fragmentada, sendo ainda demonstrada como
um conteúdo isolado e de memorização.
A partir da busca por metodologias alternativas de ensino, verificou-se que dentro da
Geografia Física há inúmeras possibilidades de se ampliar o ensino de Geografia relativa à
temáticas das dinâmicas da natureza. Também há subcampos que possuem um número bem
maior de trabalhos publicados acerca de metodologias e práticas para serem realizadas nas
escolas, tais como a climatologia e a Geopedologia, em comparação, por exemplo, com a
Biogeografia onde é quase inexistente a publicação de trabalhos que apresentem alternativas
metodológicas de como ensiná-las na educação básica.
Além disso, o número publicação e socialização de metodologias de ensino são ainda
menores, quando se trata de proposição de atividades que visem e possibilitem a integração e
inter-relação dos conteúdos físicos com os de aspecto social, econômicos e culturais. Essa
constatação reforça mais uma vez a ideia de que muitos geógrafos consideram as tentativas de
59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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saberes docentes. Revista Educação e Perspectiva. Viçosa-MG, v.9, n.1, p.30-47, 2018.
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2013.
61
ANEXOS
64
ANEXO I
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nome: ___________________________________________________________
5) No exercício da sua função docente, você tem liberdade para adotar metodologias
de ensino alternativas, caso julgue necessário?
ANEXO II
ENTREVISTAS TRANSCRITAS
Apresentação Professor 1: Bom dia, nós estamos na EMEF Tancredo de Almeida Neves, que
é uma instituição da rede municipal de ensino da prefeitura de Vitória. Sou formado em
Geografia pela universidade federal do Espírito Santo, UFES, desde o ano de 2007.
Professor 1: Então, logo que eu sai da universidade, eu fiz um curso de especialização, no ano
de 2010, em 2011 eu ingressei no programa de pós graduação no mestrado em Geografia pela
universidade federal do Espírito Santo.
Entrevistador: No exercício da sua função docente, você tem liberdade para adotar
metodologias de ensino alternativas, caso julgue necessário?
Entrevistador: Você se vê com dificuldades de trabalhar a geografia física nas aulas? Quais as
principais dificuldades que você tem encontrado nesse sentido?
Entrevistador: Quais as temáticas, subcampos, da geografia física você tem mais dificuldade
de abordar nas aulas?
67
Professor 1: É, essa da estrutura da Terra eu citei mas ela não é uma das mais complexas...
Penso que... Os elementos, condições climáticas, para entender um pouco do clima, e dos
elementos que o compõe talvez gera dificuldade, assim, eu não tenho dificuldade na
abordagem, mas eu tento compreender a dificuldade do estudante de compreender esse tipo de
informação e esse tipo de linguagem, ás vezes temos muitos termos técnicos, então você
precisa simplificar né, criar uma linguagem que seja acessível, para que ele possa
compreender essas dinâmicas. Pra falar da estrutura da atmosfera, por exemplo... Tem os
nomes né, Troposfera, Mesosfera, Ionosfera, enfim... Tem nomes que fogem da realidade do
aluno, então isso gera uma uma certa dificuldade para a compreensão.
Professor 1: Existem várias contribuições, assim, uma das contribuições que são importantes,
no ponto de vista prático, em que o estudante tem contato, é o trabalho com maquetes,
inclusive os próprios estudantes questionam e pedem “ah professor, vamos fazer maquete”...
E você acaba trazendo aquilo que é abstrato para o real, vou fazer uma modelagem do relevo,
vou fazer uma estruturação da Terra, das camadas da Terra... Você tira aquilo do abstrato e
coloca numa percepção mais prática, mais visual... Então eles acabam percebendo esses
detalhes e interações daqueles elementos naturais com elementos naturais ou elementos
naturais com os seres humanos, com a sociedade. Como que eu me interajo com o relevo, com
a condição climática, como se estabelece esta relação. Outra atividade importante é o trabalho
de campo, que quando o garoto sai de sala de aula, ele vai para o ambiente externo e vai fazer
observações... Vai visualizar muitas outras questões a serem tratadas, saindo do teórico, então
sabendo fazer as intermediações adequadas, acredito que esta é uma prática pedagógica
importante, que ajuda a difundir e ampliar os conhecimentos da geografia física.
Professor 1: Sim... Esses assuntos, para que tenham significados, para que tenham algum
sentido, não podem ser trabalhados isoladamente. Apesar de alguns serem bem abstratos, eles
precisam ter um mínimo de aproximação com o real, com a vida cotidiana. Então se eu for
falar de relevo, o aluno precisa saber do relevo em si, mas como que ele se organiza no espaço
68
e que interações que ele estabelece com o relevo. Então penso que essa abordagem deve ser
integrada no ponto de vista do conteúdo, do assunto e da vida, do desenrolar da vivência dele
com o ambiente em que está inserido. Ah, então eu resido numa região inclinada, íngreme,
que tem um relevo acidentado, então ele precisa saber das implicações. Quando você discute
o relevo trazendo essas implicações, que é uma área íngreme, dos problemas que estão
relacionados ali, erosão... Você está trabalhando diversos elementos da geografia física
integrado com a vida cotidiana desse garoto. Dessa forma, você consegue ampliar os
conhecimentos dos estudantes, não só nas questões de geografia física, mas da geografia e na
condição dele naquele espaço, que eu acho que é importante.
Professor 1: São três dimensões né, bem amplas, pra você fazer esse tipo de abordagem.
Obviamente que você vai conseguir interagir melhor com alguns e outros nem tanto. As vezes
o que esbarra ou o que emperra o trabalho nessas dimensões, você pegar o conteúdo e trazer
para essas associações, é a questão do tempo de condução das aulas... Você tem pouco tempo
para trabalhar uma gama de assuntos muito grande. Mas acho que todos os assuntos são
possíveis de serem articulados e deveriam ser articulados com essas temáticas. Porque essas
questões políticas, socioeconômicas e culturais são da vida, é do cotidiano do estudante.
Então, pensar, a questão da vegetação... Qual é o significado político, qual a legislação
ambiental, que é discutida pela sociedade, que mantêm o controle, manutenção, preservação,
controle de uma determinada vegetação. Então né, e qual a articulação da sociedade com o
corpo municipal, do estado, do ponto de vista de preservar, de respeitar esse meio ambiente.
Assim você acaba trabalhando questões políticas ali. Socioeconômicas o enfoque é sempre
maior, que tem essa interação da sociedade com o ambiente, e sobretudo na questão de uso
dos recursos, que entram na esfera econômica, e entra a questão da água... E hoje pelos dois
lados, da captação para consumo e depois a questão do despejo, que ai é o socioeconômico, é
o político e cultural, e ai muita gente ainda resiste e fazem ligações da rede individual de
esgoto indo direto na estação geral de tratamento ou aqui mesmo na região de São Pedro,
muita gente tem fossa, ou joga diretamente em um córrego, então você acaba pegando um
assunto que é dentro do campo da geografia física e fazendo a articulação. Obviamente que
isso vai depender do perfil do profissional também, porque muita gente vai trabalhar isso
69
Professor 1: Com certeza! Inclusive isso é uma das fragilidades que nós temos hoje, onde
muitos estudos são feitos e pouquíssimos são divulgados, e quando são divulgados, não
chegam no público né, principal, que é o professor que está lá no ensino básico. A
universidade, a pós graduação produzem uma quantidade significativa de estudos, e esses
estudos as vezes ficam nas gavetas, as vezes são metodologias, ou estudos teóricos, que vão
contribuir com o trabalho pedagógico dos profissionais, e isso acaba não chegando até esses
profissionais, então penso que uma articulação, uma parceria entre universidade, prefeituras e
programas de formação, contribuam para a melhor difusão desses estudos. É uma coisa meio
que preocupante as vezes, quando um dos professores ficam muito tempo afastados da
academia, desses ritmos mais pesados de estudos, acabam meio que se perdendo um pouco
nessa questão da pesquisa, inovação, então a formação continuada é fundamental, deveria ser
regado com esses estudos. Que são estudos atuais e que tão discutindo os temas atuais, os
problemas da educação, do ensino de geografia e que deveriam chegar com maior freqüência
aos profissionais que estão na rede trabalhando com essa questão.
70
Entrevistadora: Bom Professora, qual foi o Local, instituição, curso e ano em que você obteve
a Graduação?
Professor 2: Eu sou efetiva, sou aposentada em uma cadeira e continuo na outra até 2020
segundo os cálculos, se não mudar a nossa previdência.
Entrevistadora: No exercício da sua função docente, você tem liberdade para adotar
metodologias de ensino alternativas, caso julgue necessário?
Professor 2: Totalmente! eu só comunico o que estou fazendo, sou sempre muito bem aceita e
apoiada aqui na escola.
Professor 2: Geralmente eu acho que a gente foi preparada para trabalhar a Geografia
Humana, mesmo porque vou dizer uma coisa, a Geografia humana- não para mim, mas para a
maioria dos professores dá ibope! então o professor parte para falar da crítica, que ele já
conhece previamente. Muitas vezes, equivocadamente a Geografia crítica é tida como falar
mal de alguma coisa e não trazer a solução. Então, isso dá ibope pros cursinhos, da ibope pro
ensino médio e também para o ensino fundamental. Quando você dá uma aula sobre isso os
alunos se interessam, na sala geralmente tem aqueles que são críticos que também confunde
as coisas com Geografia Crítica, achando que precisa apenas criticar alguma coisa, então
geralmente a Geografia física ela é sacal, ela é cansativa, ela é chata e a gente nem na
faculdade tem esse preparo, eu acho que começa lá da faculdade.
Entrevistadora: Você se vê com dificuldades de trabalhar a Geografia Física nas aulas? Quais
as principais dificuldades que você tem encontrado nesse sentido?
Professor 2: Eu não tenho dificuldade, mas eu acho que os próprios livros eles trazem poucas
coisas, poucos materiais interessantes. Eu busco trazer, fazer alguma coisa diferente [...]
Agora eu estou trabalhando vegetação com fotos! estou trabalhando um jogo com eles [...]
Geralmente eu trabalho Geografia Física trazendo o aluno pra realidade, mostrando alguma
coisa que eles estão passando, real, qual a importância desse rio, o que ele faz, qual a função
71
dele, geralmente não falar por falar da montanha [...] mas trazer isso pro cotidiano do aluno,
pra realidade dele e isso tem me facilitado mais trabalhar a Geografia Física.
Entrevistadora: Mesmo você falando que não tem dificuldade de trabalhar a Geografia Física
Quais as áreas você acha mais difícil, mais complexo de se trabalhar ou de trazer
metodologicamente para os alunos? Mais difícil de abordar nas aulas?
Professor 2: Acho que todos! a parte climática, que tem matemática também, é complexo, tem
os climogramas, acho que o clima é mais complexo! às vezes eles têm uma certa dificuldade,
eu tenho material didático para trabalhar climograma, facilitou um pouco, mas é mais difícil
pra eles compreenderem.
Professor 2: Nós temos um Atlas ambiental que ele trás assim umas questões bem resumidas
do nosso Estado, que é um apoio pedagógico [...] eu estou sempre buscando alguma
atualidade. Se você tem lá um vulcão em erupção eu aproveito e entro para trabalhar, o aluno
se interessa mais ou quando tem seca. Eu já fiz Geografia da seca, Geografia das chuvas,
estou sempre buscando novidades para desenvolver conteúdos da Geografia física, que se não
fosse assim, com essa realidade na qual está passando seria muito sem interesse por parte do
aluno.
Professor 2: Sim! toda vez eu tento, sempre, sempre, nunca faço assim: a Geografia física
agora, depois econômica. Acho que está tudo interligado, tudo que eu posso eu trabalho
questões de forma integrada, eu tenho mapa na sala e a partir dele trabalho a parte humana, a
física, esse link tem que ser feito.
Entrevistadora: Então você acha que também no Ensino Fundamental se dá uma maior ênfase
na Geografia humana?
Professor 2: Sim! Com certeza, isso que eu falei anteriormente, a Geografia humana dá ibope!
o professor muitas vezes para chamar a atenção da sala, do aluno, ele parte da Geografia
Crítica e acha que muitas vezes é só criticar, só falar mal, só mostrar! Acho importante fazer
isso, mas não só isso. Na época que eu fazia cursinho, a sala onde o professor tinha um
discurso político era a sala que todo mundo ficava quietinho.
73
Professor 3: Bom, eu me formei em 1990, na UFES, meu primeiro local de trabalho foi antes
de estar formado, foi em uma escola chamada Francisco Nascimento, em Campo Grande,
Colégio Batista, logo em seguida fui DT no estado, inclusive alguns registros desta época.
Professor 3: Fiz Especialização em Geografia do Brasil, em Cabo Frio, que era o auge dos
professores na época, e também fiz em Planejamento Educacional na parte mais pedagógica.
Professor 3: Sou efetivo, quase aposentando já, tanto na Rede municipal de Vitória, quanto no
Estado.
Entrevistador: No exercício da sua função docente, você tem liberdade para adotar
metodologias de ensino alternativas, caso julgue necessário?
Professor 3: Nós ao longo do tempo passamos por um amadurecimento, o estado ele tem um
currículo unificado, ai ao passar dos anos com as experiências, eu sinto na vontade de eu
mesmo fazer esse desvio, por que eu acho que é para o bem do aluno também. Então, eu por
conta própria faço essas mudanças, sem que o aluno tenha prejuízo.
Professor 3: Olha só, na época que eu comecei a ministrar aulas, a gente ministrava mais
Geografia Física, só que ao longo do tempo as tendências geográficas foram mudando, aí a
gente vai se adequando de acordo com essas tendências. Logo em seguida houve uma febre,
com a chegada de alguns autores diferentes como o José Willian Vicentini, que veio promover
uma Geografia diferente, junto vários outros autores, assim, eu acho que a Geografia
74
Entrevistador: Você se vê com dificuldades de trabalhar a Geografia Física nas aulas? Quais
as principais dificuldades que você tem encontrado nesse sentido?
Professor 3: Depende do Conteúdo, na Geografia Física, quando tem essa parte de decorar
mesmo, aí começar a pegar mesmo.
Entrevistador: Quais as temáticas, subcampos, da Geografia Física você tem mais dificuldade
de abordar nas aulas?
Professor 3: Uma das melhores contribuições são as aulas de campo. Sem sombra de dúvidas,
porque quando o aluno vê in loco ele vai. Você primeiro você fazendo um trabalho em sala,
depois você vai a campo com ele, o trabalho de campo é algo muito importante. O aluno claro
tem que estar com vontade.
Professor 3: O que acontece, nós temos o currículo que já vem pronto, algumas vezes vou
modificando e alterando. Hoje temos varias materiais para estarmos trabalhando, as próprias
aulas de campo e maquetes são algumas que possibilitam isso.
Professor 3: É porque nossa tendência hoje é essa, então com esse tempo todo de trabalho fica
mais fácil. É diferente de como eu comecei a trabalhar a 30 anos atrás. Ao longo do tempo
vamos modificamos as formas, nós passamos à entender melhor a Geografia, porque a
Geografia que estudamos na UFES é de um jeito, só que quando vamos para a prática é
diferente, entretanto, não adianta você ir para a prática e não pegar aquela base teórica que a
Geografia da UFES dá. Até tivemos atividades de prática de ensino na graduação, mas não
adianta só na prática você consegue aprender de verdade como aplicar e fazer.
Professor 3: Sim, claro. Nós estamos no planeta Terra o planeta terra está cercado de fatos
físicos e humanos também, e isso tem que ser casado e relacionado pra ficar bom.
Professor 3: Sim, se você pegar um livro de Geografia, dependendo da editora, eles dão um
CD com várias possibilidades de se trabalhar aquela aula, só pegar e analisar, hoje o
profissional de Geografia se ele procurar ele busca ele pode dar uma aula Show.
76
Entrevistador: Serão 13 perguntas, mas eu acho que não será tão difícil de responder. Primeiro
precisava saber sobre a sua graduação, sua formação.
Professor 4: Sim, eu tenho já praticamente mais de 30 anos de magistério, mas fiquei a mais
de 10 anos fora como subsecretária de educação. Ora na Serra, ora em Vitória e depois
retornei para Serra, aí no ano passado voltei para sala de aula.
Entrevistador: José Américo me disse que você trabalhou na Ufes durante um tempo.
Encontrei com ele pelo corretor e eu disse “ah, encontrei com uma amiga sua, a Professor 4”.
Professor 4: É, Entendeu? Então, eu fiquei o ano passado e depois de uns 10 anos retornei
para sala de aula. Tanto aqui quanto na Serra.
Entrevistador: Bom, na sua função aqui como professora, você tem autoridade para usar suas
aulas metodológicas, Caso julgue necessário? Ou você depende de autorização do pedagogo
ou algo assim.
Professor 4: Não, não, não... Eu tenho autonomia para usar do jeito que eu achar melhor,
lógico, que tendo que seguir um pouco do livro porque os próprios pais acompanham. São os
pais entre aspas é uma elite nesta escola, A elite de Jardim da Penha e, eles fazem questão
disso. Então muitas vezes eles acompanham o que você ta passando.
77
Entrevistador: Na verdade eu fui à outra escola para fazer uma pesquisa e uma amiga minha
me falou que os pais são assíduos aqui.
Professor 4: Na realidade como a geografia física quando eu também estudei era só decoreba,
desde muito tempo atrás, eu tento pegar a geografia física e trabalhar interligando. Fazendo
um paralelo com a geografia humana com a realidade deles. Porque essa de decorar a
Geografia Física pra mim se ele não entender não da nada. Fica só realmente no decoreba e
depois eles esquecem. Então, eu tento fazer um paralelo com que eles vivenciam hoje com
que cada um sabe hoje, o que eles vêem hoje dentro da geografia, no cotidiano, com a
geografia. E econômica também. Por que eu acho que a geografia não pode ser dividida. Ela é
interligada. Uma coisa depende da outra.
Entrevistador: E dentro deste sub-tema, que é a geografia física, você tem dificuldade de
algum conteúdo como solo, relevo que eles não consigam entender.
Professor 4: Não, e a gente ainda agora separa, o que as ciências trabalham e a gente trabalha
em conjunto que uma parte entra a ciência outra parte entra a geografia. Ora a ciência trabalha
e a gente complementa e vice versa a questão de solo, a questão de rocha, a questão da
formação do relevo, mas eles não trabalham com tipo de relevo, mas fazem essa interligação.
Então ora geografia ora a gente trabalha com a ciência e vai fazendo um paralelo.
Professor 4: lá atrás quando comecei no magistério, eu não sabia como passar um conteúdo
para que eles pudessem entender e não achar uma coisa chata. Só que hoje com as facilidades
da internet e os materiais pedagógico, data show, power point eu consigo ministrar as aulas
muito mais fácil e eles conseguem entender de uma forma prática o conteúdo que eu passo.
78
Professor 4: Não, eu utilizo, é o que te falei, eu utilizo aquilo que eu vejo, por exemplo, tem
lugares, na Serra, eu trabalho olhando para o Mestre Álvaro.
Professor 4: Entendeu? Então quando eu quero dar um exemplo eu quero falar que tem a parte
da turfa lá em baixo ou quando chove que alaga porque não tem estrutura, aí você tem o
Mestre Álvaro. Então você trabalha com que é visível para eles. Aqui é menos. Quando eu
trabalhava em Itararé, eu trabalhava com o Bairro da Penha. A ocupação da área, o
desmatamento, que tipo de relevo era aquele, o que ocasiona. Então, você tenta trabalhar com
estas questões que é mais visível para ele. Porque os próprios alunos acham a geografia física
mais difícil e chata por que eles têm que decorar.
Professor 4: Fiquei um pouco redundante mais eu gosto de trabalhar com o que eles têm com
o que eles sabem, o que eles imaginam ser. Pegar um conteúdo do cotidiano e interligar com a
geografia humana porque tem aquilo, isso e isso. Assim eles conseguem assimilar essas
questões política de uma forma mais fácil e menos chata.
Professor 4: Então, acho que a geografia, em especial a geografia física ela tem um caráter
muito explicativo sobre a realidade e o espaço que cada aluno vive. Então, por exemplo,
fazendo com que o aluno conheça essas vivências, sua terra, como ela é formada, como ela
muda e como isso tudo transforma seu meio de vida e colocando no meio as questões
humanas, é uma forma do estudante desde cedo entender sua formação e conseqüentemente
acaba se tornando mais crítico.
79
Professor 4: Assim, deste jeito que to te falando. Toda vez que vou falar de relevo, de clima,
volto lá trás por que o relevo influencia onde você mora. Se você sobe, se você ta no
planalto, se ta na planície, a praia, a importância disso. Então eu vou sempre interligando
uma coisa com a outra. O tempo inteiro. A mesma coisa com a orientação se tem que
trabalhar do 6ª ao 9º ano por eles fogem porque é basicamente decorar. Entendeu? Planície
tem que decorar planalto tem que decorar. Aí pra mim não dá.
80
ANEXO III
LIVROS DIDÁTICOS
6° ano
81
7° ano
82
8° ano
83
9° ano