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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – UFES

CENTRO DE EDUCAÇÃO

JAIR HUGO SILVINO DE OLIVEIRA;


JESES DA CRUZ PEREIRA;
JOSIANE FÁTIMA PIOTTO;
LUCAS DE BARROS SANTOS;
VALTEMIR XAVIER COSTA.

LINGUAGEM VISUAL: UTILIZANDO CHARGES E IMAGENS


COMO POSSIBILIDADE PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA.

VITÓRIA – ES
2018
JAIR HUGO SILVINO DE OLIVEIRA;
JESES DA CRUZ PEREIRA;
JOSIANE FÁTIMA PIOTTO;
LUCAS DE BARROS SANTOS;
VALTEMIR XAVIER COSTA.

LINGUAGEM VISUAL: UTILIZANDO CHARGES E IMAGENS


COMO POSSIBILIDADE PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Departamento de Educação, Política e Sociedade
do Centro de Educação da Universidade Federal do
Espírito Santo, como requisito parcial para a
obtenção do Grau em Licenciatura em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Vilmar José Borges

VITÓRIA – ES
2018
JAIR HUGO SILVINO DE OLIVEIRA;
JESES DA CRUZ PEREIRA;
JOSIANE FATIMA PIOTTO;
LUCAS DE BARROS SANTOS;
VALTEMIR XAVIER COSTA.

LINGUAGEM VISUAL: UTILIZANDO CHARGES E IMAGENS


COMO POSSIBILIDADE PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA.

Aprovados em: ____/____/______

Banca Examinadora

___________________________________________________
Professor: Dr. Vilmar José Borges (CE/UFES-Orientador)

___________________________________________________
Professora Esp. Tainá Guimarães Ricardo (Examinadora Externo)

____________________________________________________
Professora Dra. Regina Celi Frechiani Bitte (UFES-Examinadora Interno Titular)
AGRADECIMENTOS

Dedicamos este Trabalho de Conclusão de Curso a muitos de nossos familiares, pelos


exemplos de coragem e comprometimento em suas metas, e que nos ensinaram o
caminho da justiça, sendo fontes para as nossas inspirações. Agradecemos a DEUS,
que nos deu a força e coragem para vencer todas dificuldades enfrentadas durante o
curso, nos socorrendo espiritualmente dando-nos sabedoria para conseguir finalizar
este trabalho. Ao professor Dr. Vilmar José Borges, nosso orientador, por ter
acreditado em nosso potencial, pelo seu incansável e permanente encorajamento,
pela disponibilidade dispensada e sugestões que foram preciosas para a
concretização deste trabalho, sempre seremos muito gratos por isso. A professora
parceira Tainá Guimarães Ricardo, que nos disponibilizou seu espaço de aula para
que pudéssemos fomentar nossa pesquisa, como também, aos seus alunos por terem
participado deste trabalho, ao passo que a nossa didática desenvolvida para com eles,
resultasse na efetivação deste trabalho. Agradecemos a todos dessa instituição
(UFES) que nos permitiram chegar onde estamos, especialmente aos professores,
que nos incentivaram a continuar lutando com garra, comprometimento e coragem e
ao desempenho dos mesmos em toda essa jornada, fazendo parte de um dos
momentos mais importantes de nossas vidas. Por fim, agradecemos a nossos colegas
de classe que foram bons companheiros nessa jornada, inclusive aos que fizeram
esse trabalho, contribuindo para o crescimento e aprendizagem de cada um de nós.
“Se a educação sozinha não transforma a
sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. ”

Paulo Freire
RESUMO

O presente trabalho, intitulado “Linguagem visual: utilizando charges e imagens como


possibilidade para o ensino da Geografia”, objetiva abordar as charges e imagens
como recursos didáticos para fins de motivação, interesse e aprendizado dos
educandos nos estudos de Geografia em sala de aula. O uso de diferentes recursos
visuais auxilia no trabalho do educador, contribuindo para o desenvolvimento e o
pensar crítico do educando, pois as charges e imagens nas aulas de Geografia são
recursos que podem ser utilizados para mediar o processo de ensino e aprendizagem.
A escolha deste tema surgiu da necessidade de conhecer e compreender a
importância e como trabalhar a Linguagem Visual nas aulas de Geografia. Assim,
embasados na fundamentação teórica discutida, propõe e implementa uma alternativa
de ensino, colocando as charges e imagens para o interior da sala de aula e na
metodologia de trabalho aplicado. Pretende-se com esta iniciativa tornar as aulas mais
prazerosas e agradáveis, aguçando a curiosidade para o estudo da ciência geográfica.
Compreende-se que as charges e imagens são recursos didáticos valiosos, que
contribuem para entendimento a aproximação do conteúdo com a realidade.

Palavras-chaves: Ensino de Geografia; Charges; Imagens.


ABSTRACT

The present work, entitled "Visual language: using cartoons and images as a possibility
for the teaching of Geography", aims to approach the cartoons and images as didactic
resources for purposes of motivation, interest and learning of students in Geography
studies in the classroom. The use of different visual aids assists in the work of the
educator, contributing to the development and the critical thinking of the student, since
the cartoons and images in the classes of Geography are resources that can be used
to mediate the process of teaching and learning. The choice of this topic arose from
the need to know and understand the importance and how to work Visual Language in
Geography classes. Thus, based on the theoretical basis discussed, proposes and
implements an alternative teaching, placing the cartoons and images into the
classroom and the applied work methodology. This initiative is intended to make
classes more enjoyable and pleasant, enhancing curiosity for the study of geographic
science. It is understood that cartoons and images are valuable didactic resources,
which contribute to understanding the approximation of content with reality.

Keywords: Geography Teaching; Charges; Images.


SUMÁRIO

PALAVRAS INICIAIS................................................................................................. 09

CAPÍTULO I - A IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA E SEU ENSINO: IMAGENS E


CHARGES COMO RECURSOS METODOLÓGICOS.............................................. 12

1.1. O uso de recursos visuais através de imagens e charges no ensino de


Geografia................................................................................................................... 17

CAPÍTULO II - CARACTERIZANDO O UNIVERSO DA PESQUISA: A ESCOLA E


OS SUJEITOS PARCEIROS..................................................................................... 28

CAPÍTULO III - O NORDESTE BRASILEIRO VISTO POR CHARGES E


IMAGENS.................................................................................................................. 38

PALAVRAS FINAIS................................................................................................... 56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 58
9

PALAVRAS INICIAIS...

A comunicação ou a transmissão de saberes é uma característica intrínseca aos seres


humanos, os quais, para desenvolve-la, recorrem aos mais variados meios capazes
de expressar a necessidade da comunicação. Desde os tempos mais primórdios, os
recursos visuais vêm sendo explorados como um meio eficiente de comunicação. Isso
se evidencia, por exemplo, nos muitos achados arqueológicos pré-históricos, sob
formas de registros rupestres, ou seja, gravuras feitas na rocha, como em paredes de
grutas e cavernas habitadas por nossos antepassados a milênios atrás. O
desenvolvimento dessas gravuras, ou recursos visuais, mesmo que no formato
abstrato, possibilitaram de modo singelo, nos dias atuais, possíveis interpretações
sobre o modo de vida e costumes desses povos antigos.

Depreende-se daí, que os recursos visuais são precedentes da linguagem verbal, pois
dela, torna-se possível tirar deduções e/ou conclusões observando as informações
visuais que são expostas. Na atualidade, a utilização dos recursos visuais se
intensifica com o avanço da tecnologia, sendo produzida com diversos fins, indo do
entretenimento à utilização profissional.

No que tange aos processos de comunicação, destacando a educação escolarizada,


tem sido bastante perceptível que sua efetivação vem enfrentando ao longo dos anos,
um certo descontentamento por parte dos educandos. Uma das causas de tal
descontentamento se deve às metodologias empregadas pelos educadores em sala
de aula. Esse fato, ficou bastante evidenciado e notório, por ocasião do
desenvolvimento das atividades acadêmicas do Estágio Curricular Supervisionado, no
Curso de Licenciatura em Geografia da UFES. Na ocasião, constatamos que
lamentavelmente muitos educadores ainda insistem na utilização de modelos
tradicionais em sala de aula, apresentando na maioria das vezes, conteúdos teóricos
de forma expositiva, tornando-os pouco atrativos e de aprendizagem maçante.

Assim, destacamos a existência de estudos e reflexões que contribuam para a


superação dos persistentes obstáculos e gargalos do modelo educacional antigo,
socializando alternativas de ensino que contribuam para que o educador possa
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produzir, reproduzir e adaptar novos meios e metodologias de ensino que visem


fomentar o aprendizado dos educandos, de forma a desenvolver o senso crítico.

Nesse sentido e especificamente com relação ao ensino da Geografia, destaca-se a


relevância de se utilizar o acesso de recursos visuais presentes no dia a dia dos
educandos, como alternativa de ensino, tais como a charge e imagens que são
marcantes em muitos jornais, revistas e mídias sociais, utilizado pelos mesmos.

Assim, a presente pesquisa teve como objetivo geral desenvolver e socializar


reflexões acerca das potencialidades da utilização de imagens e charges como
recursos metodológicos para a efetivação do ensino de Geografia de forma mais
prazerosa e eficiente. Especificamente, buscamos: a) refletir sobre a importância do
ensino da Geografia na educação básica, destacando a necessidade de se buscar
alternativas metodológicas que possibilitem sua aprendizagem de forma mais
prazerosa e envolvente para os estudantes; b) selecionar e adequar diferentes
manifestações de linguagem visual no processo de ensino aprendizagem em
Geografia, com ênfase na utilização de imagens e charges; e, c) verificar a eficiência
da linguagem visual para o ensino da Geografia na Educação Básica, utilizando como
alternativa metodológica imagens e charges.

Na perseguição de tais objetivos, em um primeiro momento, realizamos um


levantamento bibliográfico que nos possibilitasse uma fundamentação teórica, de
modo a proporcionar uma melhor compreensão e embasamento relacionado a
temática proposta: “A importância da Geografia e seu ensino: Imagens e charges
como recursos metodológicos”, que deu origem ao primeiro capítulo.

Paralelamente, optamos por realizar um diagnóstico empírico em uma escola pública


da rede municipal de Ensino Fundamental de Vila Velha/ES, buscando identificar
algum conteúdo disciplinar específico da Geografia escolar e que tem sido alvo da
apatia e desinteresse dos estudantes em sua aprendizagem. Para tanto, optamos por
eleger, como nosso universo de pesquisa, a unidade escolar onde o professor atuante
de Geografia se dispusesse a participar espontaneamente da pesquisa.

Após os primeiros contatos, e mediante a disponibilidade e abertura propiciada pela


professora de Geografia Tainá Guimarães Ricardo, elegemos como nosso universo
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de pesquisa na UMEF “Irmã Feliciana Garcia”, localizada no bairro Ilha dos Ayres na
cidade de Vila Velha/ES.

Assim, após os contatos iniciais com a referida professora, foi possível um refinamento
de nosso campo de pesquisa. Portanto, foi definido que a proposta alternativa de
ensino a ser implementada deveria trabalhar com o conteúdo relacionado às
características do Nordeste brasileiro, tendo como público alvo a turma “C” do 7º ano
do Ensino Fundamental no período vespertino, cuja especificação será apresentada
no segundo capítulo.

Definido nosso universo, partimos para a terceira etapa da pesquisa: a realização de


uma intervenção pedagógica, explorando como temática de aula “Nordeste – aspectos
naturais, culturais e socioeconômicos”, com a utilização de charges e imagens
explicitada no terceiro capítulo.

A partir dessa intervenção pedagógica poderemos analisar se, somente o fato de fazer
uso de um bom recurso, vai garantir ou não uma boa aprendizagem do alunado.
Sendo importante ressaltar inicialmente, que tal recurso não vai superar o papel do
professor, mas sim auxiliá-lo. Isso poderá ser notado durante o caminho metodológico
que orientou as construções dessas reflexões realizados com base nos textos de
alguns educadores e pesquisas bibliográficas, como também em algumas práticas
pedagógicas vivenciadas por nós em sala de aula.
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CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA E SEU ENSINO: IMAGENS E CHARGES


COMO RECURSOS METODOLÓGICOS

A Geografia é uma ciência que possui um amplo campo de estudo, abordando


diversos temas, tanto na área física dialogando com o dinamismo da estrutura da
Terra, quanto na área de humanas, dialogando sobre a relação e ação do ser humano
na Terra. A própria etimologia da palavra geografia, permite uma amplitude na
abordagem de conteúdo, como verifica-se, por sua origem no grego (geographía), que
literalmente significa “descrição da Terra”.

Além disso, a Geografia é uma ciência fundamental para se entender o que ocorre no
espaço, as alterações impostas pela sociedade, bem como todos os elementos que o
incorporam constantemente. Atualmente, movida por uma série de transformações no
campo econômico, social e educacional, a Geografia mais do que nunca necessita
buscar compreender e explicar os processos que se desencadeiam no espaço. No
entanto, para se entender esses processos, há a necessidade de realizar uma análise
retomando o contexto histórico da Geografia, sua sistematização como ciência e as
transformações que ocorreram ao longo da história.

Historicamente, a Geografia sempre contribuiu para a compreensão do mundo,


servindo tanto para percepção como sobrevivência dos indivíduos, desde a origem da
ocupação humana na Terra, nas primeiras comunidades, auxiliando em sua
localização em um determinado lugar ou em sua orientação quanto aos fenômenos
naturais aos quais poderiam estar expostos em cada região.

Admitindo-se como povos primitivos aqueles que viveram na pré-história, sem


conhecimento da escrita, somos forçados a admitir que eles vivendo na
superfície da Terra, dela retirando o seu sustento e tendo uma concepção do
mundo, já tinham ideias geográficas. (ANDRADE, apud KREUTZER, 2006, p.
23).
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As contribuições dessa ciência para a humanidade são notórias, desde o surgimento


das primeiras sociedades, o início das navegações, dentre diversas outras
constatações só demonstram como o estudo da Geografia sempre foi amplamente
importante ao decorrer da história da humanidade, e não menos nos dias atuais, como
bem explicita Lacoste (1989, p. 25), ao assegurar que “Na verdade, a geografia existe
há muito mais tempo, não importa o que dizem os universitários: as "grandes
descobertas" não seriam talvez geografia? [...]”.

Apesar de sua relevância e mesmo dessa abordagem muito ampla no campo da


Geografia, enquanto ciência, a Geografia, enquanto disciplina escolar, assim como as
demais disciplinas, possuem suas complexidades e desafios específicos, quando se
trata de ambiente escolar. Talvez o maior desafio seja exatamente o de despertar
desejo e curiosidades dos estudantes na busca do conhecimento dessa ciência tão
elementar para o ser humano. Pois, mesmo a Geografia sendo tão elementar em
nossas vidas, através de vários cenários, permitindo localizarmos, descrever lugares
e também nos questionamentos do que é o mundo, o seu ensino no ambiente escolar
nem sempre se torna algo simples e eficaz como inicialmente parece ser.

De todas as disciplinas ensinadas na escola, no secundário, a geografia é a


única a parecer um saber sem aplicação prática fora do sistema de ensino. O
mesmo não acontece com a história, onde se percebe, no mínimo, as
ligações com a argumentação da polêmica política. (LACOSTE, 1989, p. 33)

Ao analisarmos essa afirmação percebemos que o autor demonstra incomodo com a


abordagem que tem sido atribuída à Geografia como conteúdo curricular. Observa-se
também, de maneira implícita, certa denúncia de que a mesma, como tem sido
abordada não atende as necessidades do indivíduo como pertencente daquele local,
sendo apresentada apenas como uma área do conhecimento que deve ser tratada no
contexto escolar, mas cujos benefícios para os educandos, não são explicitados para
além dos muros escolares.

Essa aparente “inutilidade” da Geografia escolar parece ganhar mais força nos dias
atuais, com as mudanças proporcionadas pelo momento da globalização, que
proporcionam um acesso muito grande à informação. Contudo, o ensino da Geografia
precisa acompanhar essa evolução, caso não queira ser extinta, tendo em vista as
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recentes propostas que analisam sua importância na educação escolar. Os conteúdos


presentes nas metodologias de ensino, sobretudo os mais antigos e tradicionais, se
esbarram a outros rápidos meios de divulgação de informações.

Nos colégios se tem de tal forma "as medidas cheias" da geografia que,
sucessivamente, dois Ministros da Educação (e entre eles, um geógrafo!)
Chegaram a propor a liquidação desta velha disciplina "livresca, hoje
ultrapassada" (como se tratasse de uma espécie de latim). Outrora, talvez,
ela tenha servido para qualquer coisa, mas hoje a televisão, as revistas, os
jornais não apresentam melhor todas as regiões na onda da atualidade, e o
cinema não mostra bem mais as paisagens? (LACOSTE, 1989, p. 21)

Ao se questionar os diferentes fatores que acarretam essa apatia e desinteresse


discente pela Geografia escolar, que acaba por gerar uma certa “crise da geografia”,
muitos acusam a mídia e seus meios de espetacularização de todos os
acontecimentos, como a principal causa deste “mal-estar geral” perante a disciplina.
Contudo, não é possível desconsiderar que parte dessas dificuldades enfrentadas
pelos educadores atuantes de Geografia tem relação com as metodologias de ensino
utilizados. Os livros didáticos por exemplo, com suas abordagens descritivas e
desatualizadas, sozinhos já não agregam com a mesma intensidade que possuía no
passado a formação desta nova geração.

É justamente o interesse crescente - e não o desinteresse, para o que se


passa no conjunto do mundo, que determina - em grande parte, as
dificuldades dos professores de geografia. Sem dúvida, no caso da geografia,
a relação pedagógica veio a ser transtornada, pois o mestre não tem mais,
como outrora e como ainda acontece com outras disciplinas, o monopólio da
informação. Antigamente o curso de geografia, mesmo com um discurso-
catálogo que pareceria agora uma caricatura inventada por estudantes
esquerdistas, suscitava interesse, porque ele era o único a trazer a
informação; hoje, mestre e alunos recebem ao mesmo tempo,
simultaneamente com as atualidades, uma massa de informações
geográficas, caóticas. Geografia em pedaços, o ocasional, o espetacular,
sem dúvida, mas geografia de qualquer forma. Por que em classe os alunos
não querem mais ouvir falar de geografia? Por causa da repetição, do "já
dito"? Seguramente, não. (LACOSTE, 1989, p. 182).

Diante desses desafios, percebe-se que o ensino da Geografia nas escolas possui
mesmos dilemas que deparamos em outras matérias. Destacamos, como exemplo, o
dilema da memorização, que para muitos a torna uma matéria não muito atrativa,
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principalmente se tratando de um público jovem como nas escolas públicas de Ensino


Fundamental. Podemos afirmar que,

[...] muitos ainda acreditam que a geografia é uma disciplina desinteressante


e desinteressada, elemento de uma cultura que necessita da memória para
reter nomes de rios, regiões, países, altitudes, etc. [...] (CASTROGIOVANNI,
apud PIRES, 2009, p. 57).

Para além de mudar as práticas metodológicas de abordagem da Geografia na


Educação Básica, outro ponto principal na busca pela superação dessa concepção
errônea da Geografia Escolar, como disciplina desinteressante e distante da realidade
dos estudantes, se refere à formação do educador, que tem uma importância
fundamental e que, portanto, precisa estar em formação constante.

Nesse sentido, uma alternativa que se faz premente é a de levar em consideração,


nos processos formativos, que a formação inicial não é suficiente para uma atuação
profissional de qualidade; ao contrário, a formação deve ser contínua, permanente e
deve ocorrer também nos diferentes espaços de atuação profissional, ou seja, nas
escolas. O valor da aprendizagem escolar está justamente na sua capacidade de
propiciar aos educandos a percepção dos significados da cultura e da ciência por meio
de mediações cognitivas e interacionais providas pelo educador. Sendo assim, é
extremamente importante que o educador, como semeador de conhecimento,
aprendendo de forma continua, possa ouvir e orientar, atendendo as necessidades
dos educandos, juntamente com seus conhecimentos e suas experiências.

Pertinente, aqui, os ensinamentos de Borges e Bitte (2017), no que se refere ao


processo de formação da identidade profissional docente. Segundo os referidos
autores, a profissão docente se refere à uma contínua busca pela formação.

O processo identitário docente é uma construção permanente, permeada


pelos diversos saberes com os quais o professor se relaciona no seu
cotidiano. A atividade docente e, por conseguinte, a construção da identidade
docente exige uma formação contínua e esse processo de formação não
pode ser considerado e efetivado apenas por cursos formais, mas deve ser
visto em toda a sua complexidade (BORGES; BITTE, 2017, p. 34).
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Com relação à formação do professor de Geografia, tendo em vista as especificidades


dessa importante área do saber, que toma por objeto de estudo o espaço e as
dinâmicas relações de espacialidade, esse processo de busca por uma formação
contínua e continuada se faz ainda mais premente.

A Geografia, por ser uma área do conhecimento que se preocupa com o


estudo do espaço, tem importante papel a cumprir na formação da cidadania
dos alunos, uma vez que formar cidadãos implica ensinar a ler, entender,
representar e se localizar no espaço em que se vive. (BORGES, 2001, p. 84).

Não obstante o consenso entre a grande maioria dos professores de Geografia,


quanto à importância de seu ensino para a formação crítica e cidadã dos estudantes,
ao analisarmos o contexto no qual a sociedade atual se insere, parece ainda
predominar a evidente necessidade de transformações e superação quanto a
abordagem estática no qual se apresenta o ensino da Geografia. Fugir do
tradicionalismo apresenta-se como uma das soluções neste novo paradigma, para
que a Geografia possa retomar seu papel principal, qual seja o de ciência fundamental
na compreensão das transformações que ocorrem no cotidiano das pessoas.

É latente, pois, a necessidade de se atentar e reconhecer os desafios cotidianos que


os educadores atualmente enfrentam ao lecionar essa disciplina, para que assim
possam tomar as medidas cabíveis de forma a ensina-la da melhor maneira possível
em sala de aula, tornando-a uma matéria envolvente.

Para tanto, um caminho possível e viável aponta para a necessidade de que os


educadores e pesquisadores busquem, constantemente, alternativas metodológicas
que visem contribuir para tornar o ensino da Geografia mais atrativo, atraente e
prazeroso para os estudantes, principalmente da educação básica.

Nessa direção, entre as inúmeras alternativas metodológicas possíveis, indicamos


como possibilidade a utilização de imagens e charges, aproveitando o potencial que
as mesmas nos proporcionam, justificando, assim, uma breve reflexão acerca das
potencialidades que essa alternativa nos pode propiciar. Abordar tais desafios e
questões, será, portanto, o nosso propósito do próximo subtema.
17

1.1. O uso de recursos visuais através de imagens e charges no ensino de


Geografia

Basta uma simples reflexão sobre nosso próprio processo formativo, para que
possamos perceber que geralmente as informações sobre dadas explicações são
melhores absorvidas intelectualmente, quando o professor lança mão de
determinados recursos visuais, em detrimento de uso de recursos estritamente orais,
por exemplo. No que diz respeito aos processos de ensino-aprendizagem em
Geografia, isso não é diferente e, ainda, considera-se que essa área do saber escolar
permite utilizar muitas imagens, sejam estas de cunho humano (econômico, social,
político, etc.) ou física (natureza, sensoriamento remoto, rochas, etc.).

Partindo dessa premissa, existem diversas formas de interpretar e ensinar Geografia,


o que também abre possibilidades de diálogo com outras ciências, possibilitando ao
educador a utilização de diferentes mecanismos afim de proporcionar aos estudantes
um melhor desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem.

No entanto, a simples utilização de tais imagens, de forma mecânica e rotineira, não


garantem a eficiência do processo de ensino. A padronização na forma de ensinar
utilizando os mesmos percursos que alguns educadores utilizam, geralmente
disponibilizados nos próprios livros didáticos, faz com que os educandos obtenham
uma ideia repetitiva das aulas, como sendo uma visão distanciada da realidade dos
estudantes.

Consoante a isso, pode-se dizer que a maneira pela qual estão sendo
trabalhados os conteúdos geográficos, em sua grande maioria, apresenta-se
distanciada da realidade do aluno. Isso pode contribuir para os alunos se
sentirem desmotivados, levando-os a não enxergarem os propósitos da
disciplina que poderiam fazer parte de sua vida alinhando a teoria à prática,
de acordo com sua realidade social (PIRES, 2012, p. 4).

Depreende-se daí, que o olhar e o empenho do educador se fazem necessários para


que as aulas obtenham uma dinâmica diferenciada, buscando novas formas para que
as aulas não sejam uma abordagem clichê e desmotivadora, mas sim transformadora.
Os recursos e temas da Geografia escolar podem/devem ser melhor explorados,
mesmo considerando o fator da precariedade que as escolas públicas brasileiras, em
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sua maioria, possuem como por exemplo, as constantes queixas docentes, relativas
à falta de livros, folha A4, mapas entre outras.

Essa precariedade torna-se, via de regra, uma das responsáveis pela desmotivação
docente e o consequente desinteresse de boa parte dos estudantes quanto à
Geografia, contribuindo para que denúncias, como a de Pires (2009), sejam ainda
constantes entre os estudiosos e educadores.

A realidade do ensino de Geografia nas escolas brasileiras, em geral, [salvo


raríssimas exceções] é extremamente precária. É possível identificar um
quadro desmotivador e inquietante quanto ao ensino/aprendizagem dessa
disciplina. Isso porque, a forma de apresentar os conteúdos geográficos ainda
se baseia nos métodos tradicionais de ensino [...] (PIRES, 2009, p. 55).

Não se pode negar que a falta de recursos básicos e de infraestrutura, gera


desmotivação docente que, por sua vez, acarreta a indisciplina e, também a
desmotivação por parte dos educandos. Essa avalanche, por sua vez, impacta na
realidade do ensino da Geografia na educação básica, principalmente de escolas
públicas, contribuindo para a persistente constatação de aulas tão maçantes e
desinteressantes.

Daí o grande desafio imposto aos educadores, de uma maneira geral e, de forma
bastante específica, aos professores de Geografia atuantes na educação básica: ter
clareza de intencionalidades de suas ações e opções ao selecionar conteúdos e
formas (metodologias) de ensino, tendo em vista a ciência da importância e relevância
dessa área do saber, para a formação cidadã. Destaca, portanto, a relevância do
hábito de ao planejar suas aulas, buscar motivação própria, isto é, de dentro para fora,
bem como despertar o interesse no ensino-aprendizagem dos educandos.

Nessa direção, reafirmamos as potencialidades do uso de charges e imagens. Para


tanto, apoiamo-nos em estudos e contribuições, tais como os desenvolvidos por
Martins (2014) e Girão & Lima (2013), que evidenciam que aprendemos ou retemos
mais conteúdos através da visão do qualquer outro sentido. Segundo tais estudos, o
olhar chega antes da palavra, a título de exemplo.
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Assim, o uso de imagens, como recursos didáticos nas aulas de Geografia podem
contribuir para tornar tais aulas mais atrativas, despertando maior interesse nos
educandos e proporcionando uma aprendizagem muito mais significativa. Nessa
direção, questiona-se: como podemos tratar o ensino da Geografia na educação
básica de forma a buscar alternativas metodológicas para melhor compreensão do
conteúdo aplicado em sala de aula? Os educadores estão preparados para utilizar
metodologia diferenciada ou ficam restritos ao que determina o currículo? A busca
por respostas à tais questões, podem fazer diferença no ensino e aprendizado da
Geografia.

De acordo com Martins,

A imagem é um recurso didático de extrema importância para o ensino da


Geografia, pois ela pode ser entendida como representação para a
compreensão do espaço geográfico. Omnipresente através de múltiplos
modos de reprodução e suporte, as imagens constituem uma linguagem,
transmitem mensagens, configuram a nossa cultura, a sociedade e os valores
que a sustentam (2014, p. 437).

Há que se considerar, ainda, que os vínculos entre práticas educativas e processos


comunicativos estreitaram-se consideravelmente no mundo contemporâneo, ao
menos, por duas fortes razões: os avanços tecnológicos na comunicação e informática
e as mudanças no sistema produtivo envolvendo novas qualificações e, portanto,
novas exigências educacionais. O impacto dessas novas realidades no ensino impõe
ao menos três tipos de leitura: a pedagógica, a epistemológica e a psico-cognitiva.

Os debates e reflexões acerca da Geografia escolar e suas propostas de


reorganização curricular tem sido constante desde o aparecimento de documentos
oficiais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN’s), para o Ensino Fundamental e Médio, como também,
com relação aos programas curriculares estaduais e municipais, que se orientam por
essa legislação superior, envolvendo diferentes especialistas da área.

Figura entre essa proposta de reorganização curricular a recomendação de se partir


da realidade discente, considerando seus saberes, seu cotidiano, conforme bem
assevera Cavalcanti,
20

Na escola, portanto, o ensino das diferentes matérias escolares, a


metodologia e os procedimentos devem ser pensados em razão da cultura
dos alunos, da cultura escolar, do saber sistematizado e em razão, ainda, da
cultura da escola. A tensão entre a seleção a priori de um conhecimento, a
organização do trabalho pedagógico na escola e a identidade de alunos e
professores deve ser a base para a definição do trabalho docente. Nesse
sentido, ensinar geografia é abrir espaço na sala de aula para o trabalho com
os diferentes saberes dos agentes do processo de ensino – alunos e
professores (CAVALCANTI, 2012, p. 1).

Neste sentido, os educadores podem contribuir mais efetivamente para a formação


de uma sociedade participante, construtiva e crítica com o seu próprio
desenvolvimento, não ficando restrita apenas ao convívio escolar e sim expandindo
para toda a sociedade. Esse princípio, por sua vez, também se relaciona com a
formação do educador, onde é preciso estar preparado para fazer as mudanças
necessárias nos fundamentos ou nas estratégias de ensino e assim obter bons
resultados nas escolas.

No entanto, ainda é frequente e comum observarmos, nas práticas cotidianas do


ensino de Geografia nas escolas públicas de educação básica, constatações como a
denúncia de Pires (2009, p. 58), “[...] o ensino de Geografia, em particular, apresenta-
se descontextualizado em que o aluno é, muitas vezes, um mero expectador e não
um sujeito partícipe”, o que gera, por sua vez, desinteresse e apatia discente e,
consequentemente, dificuldades de compreensão da Geografia e de suas
contribuições.

A dificuldade de compressão da Geografia, torna-se em um desafio a ser superado


pelos educadores. Essa dificuldade se acentua quando os educandos não conseguem
se familiarizar com o conteúdo e a forma como as aulas estão sendo ministradas.
Sendo assim, cabe ao educador, ter sensibilidade para perceber e desenvolver
atividades para que se aproxime da realidade do estudante, de modo a trazer para a
aula fatos e conteúdos palpáveis do seu cotidiano, sem distanciar do conteúdo
previsto mas conduzi-lo da maneira mais familiar possível.

As novas concepções de aprendizagem, a necessidade de ligação do conhecimento


cientifico com os problemas da sociedade e do cotidiano e o desenvolvimento
acelerado das novas tecnologias da comunicação e informação, exigem, cada vez
mais, a formação contínua como requisito da profissão docente. O educador, nessa
21

concepção que tem como eixo a práxis, será formado como sujeito em processo de
identificação profissional, um intelectual portador de saberes teórico-práticos sobre a
realidade em que atua. A formação profissional orienta-se por objetivos de formação
de saberes docentes.

Não se pode ser educador sem domínio pleno de conteúdo disciplinar, o que requer a
clareza sobre o que é ter esse “domínio pleno”. Certamente não se trata de conhecer
todos os desdobramentos da ciência de referência, com suas inúmeras teorias,
fórmulas, modelos e tipologias para analisar a realidade; também não se trata de ter
em mente todas as informações atinentes a essa ciência. Trata-se, isso sim, de
exercitar o hábito de refletir na ação, sobre a ação e sobre a reflexão na ação. Em
outras palavras, implementar a prática reflexiva.

Conforme bem explicita Borges,

[...] a reflexão na ação propicia uma visão crítica frente ao conhecimento e


discernimento sobre a validade, aplicabilidade e praticidade de determinados
conteúdos e metodologias. A reflexão na ação ocorre simultaneamente ao
agir, sendo que tal prática possibilita ao professor consciência e clareza em
exemplos práticos dos conteúdos trabalhos (BORGES, 2001, p. 52).

É bem verdade que nem todas as estratégias tem o resultado garantido, mas as
frustações, podem ser traduzidas como formas de aprender e aperfeiçoar seu modo
de ensinar, e o educador necessita estar atento para as dinâmicas de sala e disposto
a buscar alternativas para que possa obter sucesso.

[...] assim, não existe segurança do que ‘dá certo’. Nessa perspectiva, o
professor necessita questionar o seu pensamento e a sua prática, agir
reflexivamente no ambiente dinâmico, tomar decisões e criar respostas mais
adequadas para cada situação. (GRILLO, apud PIRES, 2009, p. 58).

Dentro dos parâmetros do professor reflexivo, quando o professor, refletindo sobre


sua prática, constata que as estratégias de ensino utilizadas não surtiram os
resultados esperados, ele revê atitudes, procedimentos e metodologias.

A reflexão sobre a ação é o exercício que o professor se habitua a executar


quando, ao planejar suas ações futuras, suas aulas e suas atividades, passa
22

a refletir sobre sua prática, a questionar e a rever, quando necessário,


posicionamentos, atitudes e práticas cotidianas (BORGES, 2001, p.53).

Esse exercício da reflexão na ação e sobre a ação possibilita ao professor ao tomar


decisões e escolhas, considerar o fator de que nem todos os temas trabalhados em
sala de aula vão causar interesse a toda a turma, pelo fato natural das pessoas
possuírem gostos e interesses diferentes. Alguns educandos se interessam mais pela
área física, outras por biologia, matemática e assim adiante, em frente a essas
questões, resta ao educador extrair o que possui de mais interessante para atrair a
atenção desses educandos, mesmo que não seja algo completamente de seus
interesses, mas que certamente é algo que o permita familiarizar com seu cotidiano,
como por exemplo a poluição que existe em seu bairro, mas que o educando nunca
parou para pensar de onde ela vem e, suas causas. Entra aí, a importância e
relevância do processo de comunicação, de metodologia de ensino. Podemos afirmar
que,

[...] todo o processo de ensino-aprendizagem supõe uma comunicação que


se inicia com a construção de uma mensagem por um emissor, que inclui uma
informação inteligível, adequada e perceptível e requer a percepção por um
receptor através dos sentidos, principalmente a visão e a audição (MARTINS,
2014, p. 430).

A clareza na metodologia pode permitir ao estudante entender a mensagem que está


sendo ministrada. Assim, considerando que a audição e visão são os principais meios
que utilizamos para aprender e ensinar, há que se considerar que a busca pela
melhoria da qualidade do ensino, deve buscar aliar tais “sentidos”, no
desenvolvimento de suas práticas educativas.

Especificamente no que se refere ao ensino da Geografia escolar, o processo de


observação, por meio de imagens se torna essencial para o estudo e análise da
paisagem e dos espaços habitados. Assim, mediante o desafio do professor de
Geografia em propiciar um melhor entendimento dessas categorias de análise, a
utilização de charges, fotografias, gráficos, mapas e tantos outros recursos visuais,
como alternativa metodológica de ensino se torna promissor à melhoria de sua
qualidade.
23

E a utilização de tais recursos é totalmente viável, pois ao olharmos ao nosso redor,


percebemos o mundo repleto de imagens, como fotos, gráficos, quadros, entre outras,
que poderão ser recursos utilizados para expressar e gerar criticidade nos tempos
atuais. Ademais, o avanço da tecnologia a cada momento atinge novos níveis,
chegando a substituir, em dados momentos, ensino dito como tradicional. Por exemplo
a fotografia, é um recurso útil para substituir modelos tradicionais de ensino que se
restringem, a somente escrita no quadro.

No entanto, ao lidar com essa ferramenta na área didática, o educador deve estar
atualizado e atento para que possua a fórmula e os caminhos ideais a serem seguidos.

O educador ao manusear as fotografias como fermento das práticas


educativas, não vê somente a leitura que foi feita de um tempo, de uma
pessoa, de um objeto. Compreende também, a topografia dos espaços, dos
olhares. Se imiscui na trama explicita que secreta histórias indizíveis,
reconhecendo o passado, o presente, mas também a transcendência como
condição para projetar o futuro [...] (DANTAS; MORAIS. 2007, p. 4).

Segundo as autoras, a interpretação do educador não só é necessária, como


imprescindível para extrair as informações e detalhes que a imagem ou charge reflete.
Todas as formas de representação da imagem procuram transcender aquele
momento especifico, buscando mostrar além de uma paisagem ou de um determinado
acontecimento, mas guardam em si minuciosos contrastes que devem ser indagados
e debatidos, sejam eles do passado, presente ou até mesmo futuro. Para isso o
engajamento e o senso crítico do educador devem estar amplamente aflorados para
direcionar e despertar também em seus educandos, para que não se torne algo
comum e sem interesse, como se fosse mais uma imagem “chata” e corriqueira.

Os filmes, os desenhos, as charges, as fotografias, os slides, os anúncios de


publicidades, os DVD’s, as músicas, os poemas representam frequentemente, de
formas mais variadas, o mundo, os lugares do mundo, os fenômenos geográficos, as
paisagens. Alguns lugares, alguns fenômenos geográficos são tão bem-trabalhados e
explorados pela mídia, de uma forma tão eficiente ao fim a que se presta, que as
pessoas parecem ter vivenciado tais lugares e fenômenos.
24

Inúmeros são os recursos e as possibilidades para educador lançar mão do visual em


suas aulas. Optamos, aqui, por enfatizar a utilização da charge e imagem para o
ensino e aprendizagem de Geografia.

Considerando a linguagem visual e verbal, como uns dos princípios norteadores para
o ensino da língua materna, vamos diferenciar os conceitos e os termos aqui
trabalhados.

No Dicionário Online, recurso significa “ato ou efeito de recorrer, pedir ajuda; auxílio.
Meio empregado para vencer uma dificuldade ou problema”. (DICIO, 2018). Recurso,
portanto, pode ser definido como um meio alternativo utilizado para ajudar a resolver
problemas.

Ainda no Dicionário Online, o gênero textual refere-se às estruturas que compõe os


textos, tanto orais como escritos, e que tem o objetivo de constituir algum tipo de
comunicação. Os gêneros textuais possuem características básicas, algumas delas
são: o tipo de assunto abordado, quem está falando, para quem está falando, qual a
finalidade do texto e qual o tipo do texto (narrativo, argumentativo, instrucional e etc.)

O significado de imagem no Dicionário, diz respeito à representação de uma pessoa


ou uma coisa pela pintura, a escultura, o desenho. Despertando assim, o sentido da
visão na representação da pessoa, do objeto ou da própria paisagem. Sendo assim,
a charge pode ser considerada um gênero textual que articula diferentes linguagens,
inter-relacionando os textos com caricaturas, desenhos e o humor. Portanto, destaca-
se a potencialidade da charge em atribuir a riqueza do gênero, a compreensão e o
posicionamento crítico do leitor através do humor. De acordo com Gurgel.

Uma das características essenciais do gênero “charge” é a articulação que


existe entre diferentes linguagens, especialmente a verbal e a visual. Ao optar
por analisar textos humorísticos da mídia escrita (jornais, revistas, etc.), ao
mesmo tempo em que fazemos um recorte para um estudo mais detalhado,
optamos também por analisar os textos imagéticos, ou seja, aqueles que
valorizam mais a imagem. Tal fato dá-se, não apenas por pura preferência,
mas inclusive por considerar que a ilustração, no caso as charges, os cartuns
e as tiras, além de provocarem o humor, em termos de conteúdo, podem ser
tão ricas e densas quanto os outros textos opinativos, crônicas e editoriais,
por exemplo. Além de atrair a atenção do leitor, o texto com imagens
transmite também um posicionamento crítico sobre personagens e fatos
políticos (GURGEL, 2004, p. 2).
25

O uso de outras linguagens, como a charge, nas aulas de Geografia, pode, portanto,
auxiliar na análise e reflexão do que acontece na sua região e no mundo, propiciando
uma visão mais ampla e completa da realidade, conforme explica Romualdo (2000, p.
30), ao destacar que “os textos chárgicos transmitem informações (informatividade)
[...]. Os chargistas colocam neles suas opiniões, suas críticas a personagens e fatos
políticos (intencionalidade) [...]”. Também Gurgel (2004, p. 5) reforça essa
potencialidade, ao afirmar que “a charge é uma forma de comunicação condensada
com muitas informações, cujo entendimento depende de um conjunto de dados e fatos
contemporâneos [...]”.

No entanto, não se pode cair na armadilha que julgar que somente com as charges e
as imagens puramente, os educandos irão conseguir compreender determinados
assuntos, devendo ser considerado em quais contextos pretende-se explorar tal
recurso auxiliar. Esse é um processo que se inicia na escolha do tema, a partir de uma
fonte alternativa ou do livro didático, abordando temas e/ou fenômenos que
acontecem em determinada região ou até mesmo por escolha dos educandos. Diante
disso é que o docente deve selecionar as imagens e charges que melhor se adequem
aos conteúdos/temas a serem trabalhados e que sirvam de tema gerador/instigador
das reflexões e debates,

O uso de imagem deve ser o ponto de partida para análise de um fenômeno


que se quer estudar em geografia, ou seja, que esteja associado ao conteúdo.
Dessa maneira, o aluno será estimulado a fazer observações, a levantar
hipóteses em face do tema abordado. Dessa forma, pode-se estabelecer
critérios no momento da escolha das imagens (CASTELLAR; VILHENA,
2011, p. 81).

Com o desenvolvimento dos meios de comunicação sendo difundidas em redes,


principalmente a internet, as charges podem ser acessadas por qualquer pessoa, e
de qualquer lugar, não sendo mais direcionadas somente para os adultos como
acontecia anteriormente.

Vivemos hoje, bombardeados por um grande volume de informações


esparsas, que nos chegam, sobretudo, pela mídia. As produções midiáticas
impregnam o cotidiano, influenciam nossa percepção de espaço e tempo, os
dados do nosso conhecimento e nossa visão de mundo. Elas modificam a
nossa relação com o real. Esse envolvimento influencia as reflexões e os
comportamentos, os modos de pensar e a aquisição de conhecimento. Essas
situações do cotidiano influenciam a dinâmica da escola e,
26

consequentemente, da sala de aula, impondo outros ritmos e concepções do


papel da escola e do professor [...] se o objetivo das aulas, entre outros, é
ampliar a capacidade crítica do aluno, é preciso propor situações em que ele
possa confrontar ideias, questionar os fatos com argumentação e, ao mesmo
tempo, facilitar-lhe o acesso aos vários gêneros de textos e de linguagens.
(CASTELAR; VILHENA, 2011, p. 65-66).

Destacando as potencialidades da charge para o ensino, a medida em que, aguça a


curiosidade do leitor, na procura de informações sobre as personagens contidas nos
textos chárgicos. De acordo com Romualdo.

Se o leitor do texto chárgico é um indivíduo bem informado, integrado nas


questões e acontecimentos políticos de sua época, há a possibilidade de que
ele compreenda e capte o teor crítico de algumas charges, sem ler os outros
textos presentes no jornal, com os quais elas se relacionam
intertextualmente. O leitor pode desconhecer também o intertexto utilizado
pelo chargista para transmitir o objeto da charge. O contexto necessário para
a interpretação pode ter sido adquirido pelo leitor por outros veículos de
comunicação e, desta forma, ele é capaz de apreender a mensagem do texto
chárgico, sem precisar buscar no jornal o (s) intertexto (s) linguístico (s) ou
imagístico (s).
Mas se ele não conhece o fato, a situação ou personagens presentes na
charge, ou se ainda deseja precisar as informações acessórias, buscará o
auxílio dos textos que mantêm relações com o chárgico. A charge serve de
estímulo, portanto à leitura das notícias, editoriais, opiniões assinadas
(ROMUALDO, 2000, p. 53).

Assim, não obstante as ricas contribuições e possibilidades do uso desses recursos


como alternativas metodológicas para o ensino da Geografia, ressaltamos, também,
a necessária articulação de tais recursos com conteúdo disciplinares específicos a
serem trabalhados. De antemão, esses recursos alternativos (charges e imagens)
podem contribuir para despertar o interesse e motivação dos estudantes, ampliando
a possibilidade de trabalhar com novos conteúdos e ajudando no desenvolvimento
cognitivo do educando.

O trabalho com charges e imagens possibilita recorrer a diferentes linguagens como


meio de expressar interpretações, hipóteses e conceitos. O uso dessas linguagens
gráficas na educação básica pode, portanto, contribuir para que os educandos
possam compreender informações particularizadas sobre a organização do espaço.

Retomando o objetivo geral da presente pesquisa e partindo de tais premissas, acerca


das contribuições do uso de charges e imagens no ensino da Geografia, partimos para
27

o campo empírico da pesquisa, propriamente dito. Para tanto, no próximo capítulo


apresentamos nosso universo de pesquisa, bem como procedimentos para
delimitação dos sujeitos e conteúdo a serem abordados na proposta alternativa de
ensino implementada.
28

CAPÍTULO II

CARACTERIZANDO O UNIVERSO DA PESQUISA: A ESCOLA E OS SUJEITOS


PARCEIROS

Conforme explicitado anteriormente, com o objetivo de verificar as potencialidades do


uso de imagens e charges no ensino de Geografia, optamos por realizar um
diagnóstico empírico em uma escola pública da rede municipal de Ensino
Fundamental de Vila Velha/ES. Nesse diagnóstico, buscamos identificar algum
conteúdo disciplinar específico da Geografia escolar e que tem sido alvo da apatia e
desinteresse dos estudantes em sua aprendizagem.

Também utilizamos, como critério de refinamento de nossa busca, a opção por eleger,
como nosso universo de pesquisa, a unidade escolar onde o professor atuante de
Geografia se dispusesse a participar espontaneamente da pesquisa. Assim, após os
primeiros contatos, e mediante a disponibilidade e abertura propiciada pela professora
de Geografia Tainá Guimarães Ricardo, elegemos como nosso universo de pesquisa
na UMEF “Irmã Feliciana Garcia”.

A escola UMEF “Irmã Feliciana Garcia”, inaugurada em 10 de maio de 1986, está


localizada na Rua Ipê, s/n – Ilha dos Ayres – Vila Velha. A escola está localizada em
região periférica com alto índice de violência, próximo ao terminal de ônibus de Vila
Velha, ao lado da principal via de chegada ao polo de moda Glória. Os estudantes em
sua maioria são pertencentes à comunidade local, o bairro Ilha dos Ayres trata-se de
um bairro não planejado.

Saindo da UFES (Goiabeiras – Vitória/ES) em direção a UMEF “Irmã Feliciana Garcia”


(Ilha dos Ayres – Vila Velha/ES), o trajeto mais rápido é iniciando pela rodovia
Fernando Ferrari, passando pela Ponte da Passagem e seguindo pela avenida Nossa
Senhora da Penha, ao final da avenida fazer uma curva a direita na avenida Jones
dos Santos Neves/praça Cristóvão Jaques, virar à esquerda e permanecer na avenida
Cristóvão Jaques em direção a Terceira Ponte, ao atravessar a ponte chegando em
Vila Velha seguir pela avenida Carioca, virar à direita na rua Europa, ao final da rua
Europa seguir pela avenida Gonçalves Ledo até a rua Ipê no bairro Ilha dos Ayres.
29

Figura 1 - Trajeto e localização da escola.

Fonte: Google Maps – Trajeto UFES/ UMEF “Irmã Feliciana Garcia” e Imagem livre, capturada na
internet, 2018.

A UMEF “Irmã Feliciana Garcia”, atende estudantes do Ensino Fundamental I e II,


funcionando nos turnos matutino e vespertino.

No turno matutino, atende aos estudantes da primeira fase do Ensino Fundamental,


do primeiro ao quarto anos. Os discentes são distribuídos em 13 turmas, numa faixa
etária de 6 a 12 anos de idade, totalizando 289 estudantes. E, no turno vespertino,
atende a segunda fase do Ensino Fundamental, do quinto ao nono anos, também
distribuídos em 13 turmas, numa faixa etária de 10 a 15 anos de idade e totalizando
325 estudantes.

A ênfase desta pesquisa, concentrou-se na turma “C” do 7º ano do turno vespertino,


que em específico, é composto por três turmas de 5º anos, com 63 estudantes; três
turmas de 6º anos, com 80 estudantes; três turmas de 7º anos, com 89 estudantes;
duas turmas de 8º anos com 46 estudantes; e, duas turmas de 9º anos com 47
estudantes, dentre estes, se encontram matriculados também estudantes com de
necessidades especiais.
30

O corpo docente que atua no turno vespertino é constituído por um total de dezenove
professores, sendo três professores de Português, Matemática e Ciências, dois
professores de História, Geografia, Educação Física e Artes, um professor de Inglês
e Ensino Religioso, cada.

Sobre a infraestrutura da escola, podemos informar que existem treze salas de aula,
cinco salas de usos diversos em dois pavimentos, uma sala-ambiente, um laboratório
e uma biblioteca em bons estados de conservação. Possui também um pátio, um
ginásio de esportes e área de recreação, cantina e refeitório com cozinha, quatro
setores administrativos e uma sala dos professores, contam como recursos didáticos
televisão, datashow, computadores.
31

Figura 2 – Foto da entrada principal da UMEF “Irmã Feliciana Garcia”.

Fonte: arquivo pessoal, 2018.

Conforme já mencionado anteriormente, foi critério para seleção da escola como


universo de pesquisa a adesão espontânea do professor de Geografia à proposta de
investigação. E, espontaneamente concordou em contribuir com nossa pesquisa a
professora Tainá Guimarães Ricardo.

A professora Tainá Guimarães Ricardo é licenciada em Geografia pela Universidade


Federal do Espirito Santo (UFES), pós-graduada em Gestão do Trabalho Pedagógico
(UNINTER), e em Educação, Pobreza e Desigualdade Social (UFES). Trabalha como
professora efetiva da rede municipal de Vila Velha, possuindo onze anos de
experiência, dos quais, vem atuando na rede privada desde 2007 e na rede pública
desde 2014.

Assim, após os contatos iniciais e uma breve caracterização da escola, a professora


parceira nos informou que a turma que melhor se adequava aos nossos critérios de
refinamento da pesquisa, seria a turma “C”, do sétimo ano, por ser considerada uma
turma bastante agitada, imatura e, não obstante ser participativa em determinadas
32

atividades, se mostra apática e desinteressada nos conteúdos específicos da


Geografia escolar.

A turma “C”, do sétimo ano, conta com cerca de 25 estudantes, alguns dos quais
apresentam grande dificuldade de aprendizagem, havendo a necessidade de retomar
periodicamente conceitos importantes.

Nesse sentido, visando obter subsídios para elaborar o planejamento, bem como a
implementação de uma Intervenção Pedagógica, explorando as potencialidades do
uso de imagens e charges no ensino da Geografia, a ser testada na referida turma,
buscando aliar as reflexões teóricas propiciadas no primeiro capítulo, partimos para
um diagnóstico prévio da turma/professora parceira. Para tanto, lançamos mão do
questionário para obtenção de dados da turma e da professora.

A tabulação dos dados empíricos nos possibilitou a elaboração do planejamento


antecipado sobre como essa intervenção se daria. Conforme bem salienta Libâneo
(1994), o planejamento é fundamental para que haja um propenso sucesso das
atividades a serem desenvolvidas, tornando-se assim imprescindível também quanto
as atividades docentes. Deveras, a ausência de uma boa proposta de aula pode ter
como consequência, aulas monótonas e desorganizadas, desencadeando o
desinteresse dos educandos pelo conteúdo e tornando as aulas desestimulantes.

Ao recorrer o livro didático para escolher os conteúdos, elaborar o plano de


ensino e das aulas, é necessário ao professor o domínio seguro da matéria e
bastante sensibilidade crítica. De um lado, os seus conteúdos são
necessários, e quanto mais aprofundados, mais possibilitam um
conhecimento critico dos objetos de estudo, pois os conhecimentos sempre
abrem novas perspectivas e alargam a compreensão do mundo (LIBÂNEO,
1994, p. 141).

Salienta-se, que independentemente da metodologia a ser utilizada, o planejamento


das atividades, considerando as características da turma, bem como suas
potencialidades e fragilidades, torna-se de mister importância para a obtenção dos
resultados esperados. Além é claro, do professor também de estar mais preparado e
seguro para responder propensas dúvidas ou questionamentos que por ventura a
turma venha apresentar sobre o assunto explanado em sala de aula.
33

Para elaboração do nosso planejamento buscamos obter informações acerca dos


conteúdos da Geografia escolar a ser trabalhado na turma parceira. Segundo
informações da professora Tainá Guimarães Ricardo, a mesma estava trabalhando a
Região do Nordeste do Brasil. Região na qual, segundo nossa professora parceira,
alguns educandos nasceram, viveram certo tempo, passam férias ou tem ascendentes
(pais, avós etc.) oriundos dessa região, criando assim uma certa identidade com o
tema explanado. Essa informação foi importante, pois, de acordo com Freire,

[...] pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever
de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das
classes populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na
prática comunitária – mas também, como há mais de trinta anos venho
sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes
em relação com o ensino dos conteúdos (FREIRE, 1996, p. 15).

Portanto, buscando aliar saberes socialmente construídos dos educandos com a


relevância do tema da aula, bem como o trabalho com charges e imagens, optamos
por elaborar o planejamento da intervenção pedagógica nos padrões de um
planejamento de aula recomendado pela Secretaria de Educação da Prefeitura de Vila
Velha (SEMED), conforme explicitaremos no terceiro capítulo.

No intuito de considerar os saberes vividos pelos educandos, bem como as


expectativas da professora parceira, na elaboração do Planejamento da Aula a ser
implementada, partimos para a tabulação dos dados coletados com a aplicação do
questionário, cuja triangulação nos propiciou os seguintes dados e gráficos.

Ao serem questionados sobre quais áreas do saber (disciplina escolar) que a turma
mais se identifica, os dados apontam que existe uma certa identificação com a
Geografia, conforme observa-se no Gráfico 1.
34

Gráfico 1 – Preferência discente pelas disciplinas da Grade Curricular.

Geografia
6

Ciências
Línguas
5
Estrangeiras
História (Inglês e/ou
4 Espanhol)

Educação Física
3
Língua
Portuguesa Artes
2

Matemática
1

Fonte: Elaboração própria, a partir dos questionários, 2018.

Essa informação traz implícita a necessidade de se buscar alternativas que facilitem


a aprendizagem discente dos conteúdos da Geografia, uma vez que existe a
identificação discente com essa importante área do saber.

Reforça ainda mais essa percepção, os dados constantes do gráfico 2, que trazem os
percentuais de respostas dos educandos da referida turma, ao serem perguntados se
percebem alguma relação entre as atividades desenvolvidas nas aulas de Geografia
com a realidade no dia a dia. O gráfico 2 revela que mais da metade da turma
consegue notar uma certa aproximação dos conteúdos tratados pela Geografia
escolar com o seu respectivo cotidiano e apenas 10% (dez por cento) não percebe
nenhuma aproximação.
35

Gráfico 2 – A Geografia Escolar e o cotidiano discente.

Talvez
38%
Sim
52%

Não
10%

Fonte: Elaboração própria, a partir dos questionários, 2018.

Visando então selecionar imagens e charges a serem exploradas na aula a ser


implementada, buscamos obter informações acerca de contatos e saberes prévios dos
estudantes abordando tais recursos. Assim, perguntamos aos mesmos se já tiveram
contatos com charges e imagens, que trazem alguma informação geográfica. As
respostas obtidas estão explicitadas no gráfico 3.
36

Gráfico 3 – Fontes de contatos discentes com charges e imagens.

Outro
7% Televisão
19%
Livro didático
26%

Jornais e Revistas
Internet
11%
37%

Fonte: Elaboração própria, a partir dos questionários, 2018.

Essa informação foi considerada pelos pesquisadores na etapa de seleção das


imagens e charges a serem utilizadas na atividade de intervenção didática e, no intuito
de incentivar a participação dos estudantes em tal atividade de intervenção,
perguntamos aos mesmos se consideram positiva a alternativa de usar esses
recursos em atividades de ensino. Essa questão vem ao encontro dos ensinamentos
de Freire (1996) e busca considerar os saberes e interesses dos educandos,
conciliando tais saberes com os saberes da ciência geográfica e discutindo com os
mesmos a razão de ser dessa relação com o ensino dos conteúdos.

A grande maioria respondeu afirmativamente à essa questão, como se observa no


Gráfico 4.
37

Gráfico 4 – Contribuições do uso de Charges e Imagens ao ensino da Geografia.

Não Talvez
0% 19%

Sim
81%

Fonte: Elaboração própria, a partir dos questionários, 2018.

Para além desse diagnóstico prévio junto aos estudantes, ouvimos também a
professora Tainá Guimarães Ricardo, responsável pela turma que, ratificando
pesquisas e reflexões abordadas no primeiro capítulo, também ressalta que para o
desenvolvimento de uma boa aula, é necessário não apenas a exposição do conteúdo
em formato de texto escrito, mas com a utilização de uma linguagem textual gráfica.
Conforme a referida professora, a utilização de imagens e charges em slides, podem
enriquecer grandemente o conteúdo disciplinar, tornando-o mais atrativo ao
educando, potencializando o senso crítico e desenvolvendo a aprendizagem.

Diante desses dados, partimos, então, para a elaboração do planejamento e


implementação da atividade de Intervenção Pedagógica, que se deu sob a forma de
uma Aula, abordando o conteúdo da região Nordeste do Brasil, com utilização de
imagens e charges como recursos metodológicos. Essa atividade será retratada no
próximo capítulo.
38

CAPÍTULO III

O NORDESTE BRASILEIRO VISTO POR CHARGES E IMAGENS

Conforme mencionado anteriormente, após definido com a professora colaboradora o


conteúdo a ser abordado e no intuito de não infligir orientações da Secretaria Municipal
de Educação de Vila Velha/ES, onde se localiza a escola campo, optamos por elaborar
o planejamento da Atividade de Intervenção, conciliando orientações e procedimentos
de uma intervenção pedagógica com os padrões de um planejamento de aula
recomendado pela referida Secretaria de Educação (SEMED).

Cuidamos, nesse sentido de considerar os dados do diagnóstico prévio, tratados no


capítulo anterior, no intuito de desenvolver uma atividade de intervenção que
possibilitasse aos educandos fazer análises críticas e associações do conteúdo e/ou
atividades a sua realidade, tornando assim, as aulas mais interessantes e
estimulantes ao seu aprendizado.

Com tais preocupações, elaboramos nossa proposta de atividade, envolvendo um


total de duas horas/aulas, a serem ministradas na turma “C”, do sétimo ano do Ensino
Fundamental e explicitada em um modelo de plano de aula, que foi apresentado para
análise e que foi aprovado por nossa colaboradora, a professora Tainá Guimarães
Ricardo, conforme se verifica na figura 3:
39

Figura 3 – Plano de Atividade de Intervenção, utilizando Imagens e Charges no Ensino


de Geografia – Brasil Nordeste

U.M.E.F. “IRMÃFELICIANAGARCIA”
PLANEJAMENTO

18 de Outubro de 2018 –
Turma: 7º C Data / Período:
1h e 40mins/ 2 aulas.

Nordeste – aspectos naturais, culturais e socioeconômicos.


Tema:

O objetivo dessa atividade será propiciar aos educandos exercitarem seu


raciocínio, fazendo análises comparativas com a utilização de charges e
imagens da realidade do Nordeste, bem como despertar seu senso crítico para
Objetivos: questões relacionadas aos aspectos naturais, culturais e socioeconômicos
vividos pelo nordestino. Além disso, objetiva-se, também, desmistificar ou
quebrar preconceitos que por ventura tenham sobre a região e seu povo e,
também fazer com que através dos assuntos abordados eles façam paralelos
com a realidade em que vivem.

Dividir os educandos em duplas para realizarem atividades envolvendo


charges e imagens, onde na primeira hora de aula os mesmos responderão
em folha de caderno separada para a dupla e podendo consultar o livro
didático e/ou anotações feitas no caderno, quatro questões envolvendo
Metodologia: diversas imagens e seis questões envolvendo diferentes charges.
Posteriormente, em cerca de trinta minutos os licenciandos explanarão para a
turma sobre os significados de cada imagem e/ou charge utilizadas nas
atividades. E nos dez minutos finais de aula os educandos da respectiva turma
e a professora parceira serão convidados a fazerem uma avaliação da
eficiência da utilização de charges e imagens durante as aulas.

Recursos: 1 Quadro branco, 1 pincel preto ou azul, 1 apagador,15 folhas impressas de


papel A4 ofício das atividades com imagens (colorida e frente e verso), 15
folhas impressas de papel A4 ofício das atividades com charges (frente e
verso), canetas pretas ou azuis e/ou lápis e corretivos e/ou borrachas.

Avaliação processual, recaindo sobre o envolvimento e participação dos


Avaliação
discentes com as atividades propostas.

Fonte: Elaboração própria, 2018.


40

Vale aqui ressaltar que para a proposição da atividade de intervenção, na seleção do


conteúdo a ser abordado, nos pautamos no livro didático que os educandos utilizam,
bem como em informações prestadas pela professora parceira, acerca dos conteúdos
trabalhados por ela anteriormente sobre as temáticas (aspectos naturais, culturais e
socioeconômicos), envolvendo a região Nordeste. A partir dessas informações
colhidas, tivemos base para explanar o Nordeste fazendo relação com o uso de
Charges e imagens. Nesse sentido, são importantes as lições de Libâneo, ao
asseverar que

Com efeito, selecionam-se conteúdos de ensino para que os alunos os


assimilem enquanto instrumentos teóricos e práticos para lidar com os
desafios e problemas da prática social, isto é, para torná-los agentes ativos
da transformação social. A questão é muito menos de adaptar a matéria à
realidade dos alunos (inclusive as suas condições de rendimento escolar), e
muito mais de transformar os conteúdos de modo que neles sejam
contempladas as exigências teóricas e práticas decorrentes da prática de vida
dos alunos (LIBÂNEO, 1994, p.134-135).

Sendo assim, abordar e estudar essa região é de extrema e significativa importância


para a Geografia, tornando-se necessário salientar que a região Nordeste é formada
por nove estados, sendo a segunda maior do país em termos populacionais,
abrigando mais de 50 milhões de habitantes, segundo o censo 2010 do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). Características bastante peculiares da região
devem ser reforçadas, como a existência de contrastes na região em relação a
distribuição populacional, caracterizada pela concentração de habitantes em algumas
áreas extremamente urbanizadas no litoral, enquanto as do interior, sobretudo o
Sertão, ainda pouco povoadas.

Vale ressaltar que a região apresenta diferenças significativas naturais e humanas em


relação as demais regiões do país, sobretudo se tratando de características climáticas
e de vegetação. Tais fatores, agravados por problemas socioeconômicos e ambientais
fizeram com que houvesse na região um intenso movimento de repulsão populacional,
desencadeando grandes ondas de emigração, especialmente entre as décadas de
1940 e 1980, que criaram uma histórica dinâmica populacional brasileira.

É interessante também notar que uma boa parte dos consumidores com maior poder
aquisitivo do país estão nas três principais regiões metropolitanas do Nordeste:
41

Salvador, Recife e Fortaleza. Além disso, Boligian e Alves (2016, p. 200) diz que “o
poder de compra dos nordestinos já supera 450 bilhões de reais anuais, valor superior
ao PIB de países como Peru e a República Tcheca.” Tais fatores, fazem do Nordeste
uma região com forte potencial para investimentos.

Assim, considerando-se tais características e fatores, nossa proposta de atividade foi


baseada em representações da região Nordeste em diferentes aspectos: Cultural,
ambiental, econômico, utilizando imagens que retratam a região, bem como imagens
que não procedem da mesma, no intuito de observarmos se os estudantes
conseguiam identificar as imagens correspondentes.

Utilizando de todas essas informações previamente coletadas elaboramos duas


atividades que pudessem contemplar o assunto abordado pela professora em sala de
aula, buscando, assim, contemplar todos os aspectos e temas mais relevantes
referente a região Nordeste.

Para melhor compreensão da atividade de intervenção, segue abaixo as atividades


propostas para a turma. Inicialmente, utilizamos de um jogo de quatro questões, com
alternativas de respostas representadas por quatro imagens. A primeira questão,
conforme se observa na figura 4, abordou a temática relacionada aos biomas. Na
segunda questão (Figura 5), tratamos da percepção discente acerca do turismo. Na
terceira questão (Figura 6), abordamos aspectos culturais; e, por último, na quarta
questão (Figura 7), buscamos verificar a percepção dos estudantes acerca das sub-
regiões nordestinas, com destaque para o Agreste.

Salientamos, mais uma vez, que optamos por utilizar imagens que tanto se referem à
região Nordeste do Brasil, como também de imagens de outras regiões, no intuito de
verificar o saber prévio do educando.
42

Figura 4 – Biomas do Nordeste Brasileiro

1) Indique as alternativas corretas correspondentes aos biomas que pertencem


a região Nordeste e justifique sua resposta:

(A) (B)

(C) (D)

Fonte: Imagens livres, capturadas na Internet. Arquivo dos pesquisadores, 2018.


43

Figura 5 – Turismo Nordestino

2) Ao visualizar as imagens abaixo, indique as alternativas das paisagens que


NÃO correspondem ao turismo pertencente a região Nordeste e justifique
sua resposta.

(A) (B)

(C) (D)

Fonte: Imagens livres, capturadas na Internet. Arquivo dos pesquisadores, 2018.


44

Figura 6 – Aspecto Cultural do Nordeste Brasileiro

3) Se compararmos as regiões brasileiras, dentre as imagens abaixo, indique


as alternativas corretas sobre a figuras culturais que tem uma maior
identidade com a região Nordeste e justifique sua resposta.

(A) (B)

(C) (D)

Fonte: Imagens livres, capturadas na Internet. Arquivo dos pesquisadores, 2018.


45

Figura 7 – Agreste Nordestino

4) Sobre o que vocês estudaram das quatro sub-regiões do Nordeste, indique


a alternativa correta na imagem correspondente ao Agreste e Justifique sua
resposta.

(A) (B)

(C) (D)

Fonte: Imagens livres, capturadas na Internet. Arquivo dos pesquisadores, 2018.


46

As potencialidades de exploração de conteúdos geográficos relativos à região


Nordeste do Brasil, podem ser nitidamente destacadas ao observarmos as figuras
apresentadas nas páginas anteriores. Percebemos que, na primeira questão, as
imagens representam quatro diferentes biomas brasileiros, quais sejam a Mata
Atlântica, o Pantanal, a Caatinga e os Pampas. Desses, os encontrados no Nordeste
brasileiro são apenas a Mata Atlântica, sendo predominante no litoral, representado
pela imagem correspondente a letra “A” e a Caatinga, veementemente encontrada na
sub-região do Sertão, representado pela imagem correspondente a letra “C”. O
Pantanal, representado pela imagem correspondente a letra “B” e os Pampas,
representado pela imagem correspondente a letra “D”, são encontrados nas regiões
Centro –Oeste e Sul, respectivamente.

Já na segunda questão, abordamos o turismo. Devido as belezas naturais do


Nordeste, o turismo vem crescendo consideravelmente no decorrer dos anos,
movimentando bem a economia nordestina. Isso deve-se a grande quantidade de
cidades litorâneas com belas praias, complexos hoteleiros, parques aquáticos e polos
de ecoturismo existentes na região. Assim, nas opções “B” e “C”, mostramos as
imagens da praia de Porto de Galinhas/PE e dos Lençóis Maranhenses,
respectivamente. Observa-se o contraste dessas imagens com relação a imagem
correspondente a opção “A”, que é típico de uma paisagem do interior sulista, de clima
mais úmido e ameno, bem como a paisagem retratando o turismo no Pantanal
brasileiro, conforme imagem “D”.

No tocante à terceira questão, as imagens utilizadas, abordam traços culturais fortes,


que lembram o Nordeste à primeira vista, como o do vaqueiro nordestino e da
“baiana”, conforme respectivas imagens “A” e “C”. Sobre a imagem “B” notamos a
figura do gaúcho com seu traje muito tradicionalmente utilizado no interior e em
comemorações relacionadas as tradições gaúchas, enquanto que na opção “D”
observamos a figura do índio, que apesar de ser encontrado em todas as regiões
brasileiras, exerce uma forte influência principalmente nas regiões Norte e Centro-
Oeste do país.

As imagens utilizadas na quarta questão mostram características urbanas e/ou


climáticas de cada uma das quatro sub-regiões encontradas no Nordeste. Pode-se
dizer também que essas sub-regiões apresentam fatores econômicos, sociais e
47

climáticos contrastantes. A imagem “A”, representa a sub-região do Meio – Norte, que


compreende todo o estado do Maranhão e boa parte do Piauí. As atividades
econômicas predominantes no Meio-Norte são ligadas ao campo, especialmente no
que diz respeito a atividade extrativa vegetal (babaçu, carnaúba) e criação extensiva
de gado bovino. Também não se pode deixar de citar as grandes plantações de arroz
de várzea e a soja, desenvolvidas por meio de alta tecnologia. A imagem “B”
representa o Agreste, menor sub-região em extensão territorial, mas que exerce uma
considerável e forte influência na policultura da região. Essa sub-região apresenta
tanto características naturais da Zona da Mata quanto do Sertão. Nessa área
destacam-se pequenas e médias propriedades policulturas, que produzem
principalmente mandioca, feijão, milho e hortaliças, além de criarem gado para o
fornecimento de leite e derivados, abastecendo os grandes centros urbanos da Zona
da Mata. A imagem “C” representa a Zona da Mata, sub-região mais urbanizada e
populosa, exercendo ainda uma considerável fatia no que diz respeito ao PIB
nordestino. Ela ocupa a maior parte do litoral nordestino, sendo uma sub-região
quente e chuvosa, com pluviosidade considerada elevada. Além disso, é a sub-região
economicamente mais importante do Nordeste, e fatores como forte mercado
consumidor e rede de transportes mais desenvolvidas do que nas outras sub-regiões
contribuem significativamente para o desenvolvimento industrial dessa área. Na
imagem “D” é representado o Sertão, sub-região de maior extensão territorial do
Nordeste, caracterizada por índices de pluviosidade baixos e irregulares, ocasionando
grandes períodos de seca. Pode-se destacar nessa sub-região a criação de caprinos,
pois são mais resistentes ao clima semiárido e constituem na região Nordeste o maior
rebanho do país.

Em um segundo momento da atividade de intervenção, utilizamos um jogo de seis


charges, conforme a figura 8 na próxima página, distribuindo-as para as duplas e
solicitando, aos educandos que, pautados na observação das mesmas,
respondessem às seguintes questões: Qual ideia cada charge procura demonstrar?
Vocês já vivenciaram a situação ilustrada ou ouviram falar do assunto tratado na
charge em outro lugar? A charge facilita a compreensão sobre a temática da aula
(Brasil Nordeste), por quê?
48

Figura 8 – Charges sobre o Nordeste do Brasil.

Charge 1

Charge 2

Charge 3
49

Charge 4

Charge 5

Charge 6

Fonte: Imagens livres, capturadas na Internet. Arquivo dos pesquisadores, 2018.


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No que diz respeito à seleção das charges, também buscamos contemplar a inserção
de conteúdos da Geografia do Nordeste Brasileiro. Observamos que a primeira charge
apresentada retrata o Sertão, que apresenta um clima semiárido, com temperaturas
elevadas e duas estações bem definidas: uma seca e outra chuvosa. A economia do
Sertão baseia-se na agropecuária, sendo a pecuária bovina sua principal atividade
econômica. Porém, a baixa pluviosidade e a ocorrência de estiagem no Sertão
comprometem o desenvolvimento das atividades agropecuárias nessa sub-região.

A segunda charge representa a demora no término do projeto de transposição das


águas do rio São Francisco implantado pelo governo federal, como forma de
solucionar o problema de falta de água, viabilizando assim, o desenvolvimento
socioeconômico do Sertão. Porém, a charge aponta para a demora na conclusão da
obra, ocasionados por atrasos, erros de projeto e estouro de orçamento da União,
afetando diretamente a vida do sertanejo. Sobre essa atividade, observa-se aqui
oportunidade para que o professor ressalte que a transposição é necessária para o
não agravamento da seca e o consequente desenvolvimento econômico do Sertão.
Destacar, também, que além da finalização da transposição do rio São Francisco,
existem as alternativas e necessidades de se investir também em construções de
cisternas, uso regular de carros pipas e implementar exemplos de outros países que
tem parte ou todo seu território coberto por locais de climas semiáridos ou desérticos,
nos quais se encontram vida humana, vegetal e animal que são bem sucedidos em
combater eficazmente a seca preservado assim, essas vidas supracitadas, sem que
seus habitantes precisem ser “forçados” a migrar para outras localidades, a título de
exemplos.

A terceira charge destaca o descaso dos políticos do país com relação a seca e outros
problemas enfrentados pelos nordestinos. Enquanto os políticos vivem no “bem bom”,
a região apresenta alguns dos indicadores sociais mais baixos do país, especialmente
nas áreas rurais, ainda sendo necessário solucionar problemas antigos da região,
como: alta concentração de terras e de renda, alto índice de desemprego e baixa
qualidade de vida de grande parte da população.

A quarta charge, mostra um dos ícones do Nordeste, o rio São Francisco, no qual os
sertanejos lhe deram o apelido carinhoso de "Velho Chico". Trata-se de um rio que fez
parte do cotidiano na ocupação do Sertão. Porém, nos últimos anos, o rio São
51

Francisco está passando pela mais severa crise hídrica, chegando aos menores níveis
de reserva. É necessário frisar que a Bacia do São Francisco é a maior dessa sub-
região, e as populações que residem ali fazem uso dessa bacia tanto para irrigação
quanto para fonte de energias, como as hidrelétricas. Porém, o despejo de esgoto
urbano nas águas do São Francisco é um dos problemas mais graves que afetam hoje
a bacia, além do assoreamento, com a constante queda de barrancos, que alargam
as margens do rio, tornando suas águas mais rasas. Destacar também, a
contaminação por resíduos industriais de grandes empresas e por agrotóxicos vindos
das lavouras. Em vista disso, além de políticas públicas serem fomentadas para a
preservação do rio, é fundamental a sua conservação desde a nascente por serem
adotadas algumas medidas de proteção do solo e da vegetação, que vão desde a
eliminação das práticas de queimadas até o enriquecimento das matas nativas. A
charge abre, ainda, a possibilidade para se trabalhar e refletir sobre a necessidade de
evitar a construção de currais, chiqueiros, galinheiros e fossas sépticas nas
proximidades acima das nascentes, pois, com a chuva, os dejetos podem contaminá-
las. Da mesma maneira, o desmatamento no entorno das nascentes e o acúmulo de
lixo nas regiões próximas a elas também precisam de atenção. É preciso também não
fazer vista grossa para o desmatamento e a ocupação irregular do solo, bem como se
conscientizar com relação a simples mudanças de hábitos que ajudam a manter os
rios em bom estado, como por exemplo, não jogar lixo próximo as encostas ou próximo
ao rio, evitar jogar bitucas de cigarro, pois estas podem provocar queimadas que
podem atingir as matas ciliares, que são de vital importância para a preservação dos
nossos rios.

A quinta charge pode propiciar debates e reflexões tanto acerca do preconceito contra
os nordestinos, quanto da questão da cultura e tradição do Nordeste. Pois, quando se
fala em nordestinos, negativamente muitas vezes se pode lembrar de atos
preconceituosos contra eles, porém pelo lado positivo, o nordestino tem uma forte
identidade cultural quando se trata da cultura e tradições locais. No que diz respeito
ao ponto ruim, o preconceito, a fala do sulista na charge equivocadamente, sugere
que o nordestino é preguiçoso. Já olhando pelo lado cultural, a culinária, dança,
música e tradições nordestinas, são um forte chamariz ao turismo na região
impulsionados por seus artistas, suas festas juninas e o Carnaval.
52

A sexta charge faz uma ligação com a corrupção existente em nosso país e a seca no
Nordeste. Destaca que em algumas regiões do Nordeste em que a seca é agravante,
notando-se grandes períodos de estiagem, apresentando muitas vezes animais
vivendo com dificuldade no solo árido, cheio de espinhos e carcaças por todo lado.
Nessas regiões, o aspecto das pessoas que vivem lá, é retratado com semblantes
tristes, corpos magros, pele maltratada pelo sol e pela falta de cuidados com
proteção relacionadas a cuidados com a saúde. Apesar de tais condições
socialmente lamentáveis, muitas vezes, infelizmente o dinheiro repassado para
combater a seca se perde na ineficiência, através de desvios desse próprio dinheiro,
ligados a esquemas de corrupção e mau uso do dinheiro público.

Assim, definida a temática da intervenção, selecionados os materiais de apoio


(imagens e charges), demos início à atividade prática, propriamente dita. Conforme já
mencionado, para aplicarmos a aula, optamos por dividir os educandos em duplas
para realizarem as atividades propostas com as imagens e charges. Em um primeiro
momento, as duplas fizeram as atividades em folha de caderno, podendo, para tanto,
consultar o livro didático e/ou anotações feitas no caderno.

As imagens a seguir registram o envolvimento dos estudantes com as atividades


propostas, bem como a realização de parte da prática de nossa intervenção.
53

Figura 9 – Fotos das Atividades práticas.

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

Seguindo o planejamento inicial, após o desenvolvimento das atividades, utilizamos


os dez minutos finais de aula, para realizarmos uma avaliação, na percepção dos
estudantes, acerca da validade e contribuições do trabalho desenvolvido. Buscamos,
também, narrativas da professora parceira, no intuito de opinar sobre a utilização de
imagens e charges no ensino da Geografia.

De maneira geral, tanto na percepção dos estudantes quanto da professora parceira,


a atividade desenvolvida foi bastante positiva. Isso ratifica e comprova a validade e a
54

potencialidade do uso de imagens e charges como alternativas auxiliares para o


processo de ensino-aprendizagem da Geografia.

Tabulando a opinião dos estudantes envolvidos, verificamos, conforme explicita o


Gráfico 5 deste capítulo, que a grande maioria da turma (68%) avalia como positiva a
atividade, enquanto que 32% julgou-a regular e nenhum educando considerou a
atividade ruim.

Gráfico 5 – Avaliação discente acerca do uso de Imagens e Charges.

Ruim
0%

Regular
32%

Bom
68%

Fonte: Elaboração própria, a partir dos questionários, 2018.

A professora parceira também julgou a atividade bastante positiva, ressaltando que a


atividade contribuiu para se romper com a prática de se prender somente na exposição
de conteúdo em formato de texto escrito. Segundo seus depoimentos, a utilização das
imagens e charges possibilitaram e estimularam os educandos a se envolverem com
o conteúdo estudado previamente, despertando nos mesmos o senso crítico.
55

A utilização de imagens e charges possibilitou, entre outros, o despertar e o desvelar


dos saberes e representações que os estudantes tem acerca da Região estudada.
Trata-se de saberes populares, produzidos no âmbito das relações sociais e que,
muitas vezes, são menosprezados nas atividades de ensino. Percebe-se que, a
sociedade como um todo, é responsável pela educação, estando diretamente
envolvida na construção ou desenvolvimento do indivíduo, isso ocorre a partir do
momento em que a sociedade fomenta a percepção do indivíduo através das
transferências de saberes ou vivencias, sendo assim, é impossível, ou mesmo
desumano, a não consideração das vivências trazidas pelos educandos para o
ambiente escolar.

Nessa direção, Freire (1996) destaca como umas das exigências na prática do ensino,
o respeito aos saberes dos educandos. Sendo a instituição escolar responsável por
parte dessa construção, torna-se estritamente necessário a presença de um corpo
docente atento as perspectivas ou demandas dos educandos, para que estes, possam
compreender de forma mais abrangente as questões da sociedade na qual se
encontram inseridos.

Recorrendo, mais uma vez à Martins (2014), ratificamos que o uso de imagens e
charges são prenhes de ricas possibilidades para o ensino da Geografia,
possibilitando as mais diversas representações do espaço e suas relações de
espacialidades. Assim, reafirmamos que a proposta aqui empreendida não tem a
pretensão de esgotar tais possibilidades. Nosso objetivo foi o de contribuir para as
reflexões e, como alternativa para o debate, testamos uma entre tantas outras
possibilidades...

O caminho é longo e seus traçados são definidos no caminhar. Não existem receitas
prontas e acabadas. Existe sim, o convite para o caminhar...
56

PALAVRAS FINAIS

Para melhor compreender a relação ensino aprendizagem da turma “C” do 7° ano da


escola UMEF “Irmã Feliciana Garcia” na Ilha dos Ayres em Vila Velha/ES, foram
realizadas atividades em sala de aula utilizando o formato da linguagem visual
caracterizado pela utilização de charges e imagens, seguindo o conteúdo que já
estava sendo trabalhado recentemente pela professora parceira. O resultado das
atividades desenvolvidas pelos educandos, foram proveitosos, atendendo a
expectativa quanto, a praticidade do desenvolvimento da atividade, facilitação da
abordagem do conteúdo, fixação do conteúdo proporcionado pela representação das
imagens gráficas, contextualização do conteúdo através das charges, além de aguçar
ou aprimorar o senso crítico através das diferentes leituras realizadas das charges e
imagens.

A disciplina de Geografia, como parte das Ciências Humanas, é fundamental para a


compreensão do ser humano enquanto parte da sociedade. Sendo assim, quanto
mais atrativo for essa ciência, melhor será o desenvolvimento da sociedade. E este
trabalho buscou oferecer, ainda que de forma sucinta, um apoio ao professor de
Geografia a partir de uma metodologia auxiliada pelo uso de charges e imagens e
modos de como trabalha-las. Neste estudo iniciou-se uma reflexão sobre o valor que
os recursos visuais, propriamente ditos, exercem na disciplina de Geografia, o que
levou ao entendimento de que a qualidade das aulas depende das boas e
diferenciadas metodologias de ensino dos próprios educadores, evidenciando a
necessidade de um bom planejamento de aulas não convencionais.

As charges e imagens possuem vários significados no cotidiano das pessoas e se


forem utilizadas de forma adequada, podem ser um agente facilitador em diversas
situações que envolvam o raciocínio e a aprendizagem. A utilização desse recurso,
além de criar novas possibilidades de ensinar, também contribui significativamente
para a percepção da Geografia no cotidiano, tornando a disciplina mais interessante
e atraente aos olhos do educando dessa maneira, justifica-se a relevância e
importância de um constante repensar em práticas docentes, em que os conteúdos
possam ser trabalhados, contemplando a realidade do educando. Esse entendimento,
é reforçado pelo art. 205 da Constituição de 1988, e ratificado pelo art. 1 da Lei de
57

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), de 1996, os quais apresentam


alguns dos espaços propensos ao desenvolvimento do processo ensino
aprendizagem, devendo os saberes ou vivências adquiridas pelos educandos nesses
espaços, serem levadas em consideração e respeitadas pelos educadores.

Percebemos no desenvolvimento desse trabalho, que a prática da utilização de


recursos visuais, tais como, as de charges e imagens, podem proporcionar uma
aproximação dos conteúdos, sendo, de acordo com a observação das atividades
realizadas, capaz de transformar o momento do aprendizado em algo significativo
para o crescimento intelectual e pessoal dos educandos, tornando-se uma ferramenta
muito valiosa. As charges e imagens utilizados, na parte prática, desse trabalho
mostraram-se também, ser um facilitador de assimilação dos conteúdos não só na
disciplina de Geografia como também nas demais áreas de ensino. Sendo assim,
como parte do desenvolvimento do processo ensino aprendizado, consideramos
indispensável, sobretudo, na disciplina de Geografia, a utilização de recursos visuais
tais como as charges e imagens, pois os mesmos potentes auxiliares para a
construção de cidadãos mais reflexíveis e conscientes.

Por fim, apresentamos as charges e imagens como mediadoras no processo ensino


e aprendizagem nas aulas de Geografia, tornando assim o ensino dinâmico e criativo,
com a finalidade de contribuir para o desenvolvimento de indivíduos em formação. E
para nós, depois de tudo o foi apresentado e pesquisado durante esse Trabalho de
Conclusão de Curso, educar tornou-se a assumir este compromisso.
58

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médio. 1ª ed. São Paulo. Editora do Brasil, 2016.

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