Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
BELÉM
2015
MARCO ANTONIO LOBO CASTELO BRANCO
BELÉM
2015
Marco Antonio Lobo Castelo Branco
Aprovado em:_____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
Não foi por intermédio da lei que a Abraão,
justiça da fé.
À Patrícia, obrigado por tudo. Como o orvalho, és manhã na natureza das flores.
Quanto às palavras, parafraseio a canção francesa, J’les dirai sans remords pour
que tu m’aimes encore.
Aos meus filhos Marcos Gabriel e Ana Clara por trazerem tanto amor à minha vida.
Se não fosse por vocês, provavelmente não seria por ninguém.
À Profª Juliana Freitas pelo apoio durante a orientação e pela paciência quando a
conclusão do curso se tornou uma questão de fé. Sua compreensão, seu
conhecimento e pragmatismo, mais educam do que ensinam. Mais cativam do que
libertam.
À Farah Malcher pela amizade e pela ajuda nos momentos difíceis do mestrado. Sua
inteligência só não é maior que sua simplicidade.
Aos meus colegas de turma por ter vivenciado um momento histórico no programa e
que ficará guardado na memória por muito tempo, destacadamente, os especiais.
À Dra. Patrícia Sampaio a quem devo a estabilidade que trouxe novas possibilidades
e esperanças a um cérebro já consumido.
This study on judicial grounds for interlocutory decisions regarding the award of
essential drugs. The reasons to decide of judges has become a great concern of
citizens in general, with a view to deciding without supporting the judge turns out to
violate the Federal Constitution with serious risks for democracy. The study will be
guided by the decisions handed down in the public judicial circuit of Belém city. The
judicial action has been very effective for certain sectors where demand shown in the
expansion phase. This is the case of health. There are countless processes in those
parts come into judgment require access to essential medicines as a way of nurturing
a dignified life. From this demand what we want to know is whether the judicial
decisions are based, are not well or ill-founded, but if the foundation is present, given
that the absence of this subject to the court to void and transforms the judge in
tyrannical agent. The legal basis is the backbone of democracy in the wake of health
care decisions and would not be different in cases involving essential drugs. More
than an individual right, it is democracy that is at stake. It’s necessary to analize if the
judicial reasons in wake of health care decisions are founded in arguments of
principles or in in policies arguments, although, this is necessary to achieve the
dimension of the aplicability on fundamental rights.
INTRODUÇÃO.........................................................................................................11
CONCLUSÃO....................................................................................................................198
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................205
Abreviaturas
MS - Ministério da Saúde
INTRODUÇÃO
apenas interesses sociais, porém, como toda indústria, exige que o investimento seja
regulado de forma a receber de volta o investimento em pesquisas acrescidos dos
devidos lucros com a garantia de proteção de sua patente - proteção jurídica de
propriedade industrial que confere o direito de fiscalização e comercialização por um
prazo determinado com exclusividade por parte do patenteador- , logo, o acesso a
medicamentos essenciais não é algo que se alcance de maneira tão simples. Não
basta cruzar as portas de uma farmácia para que o problema se resolva. O quadro
não é o melhor possível. Quando a demanda não mantém o preço dos
medicamentos elevados, a indústria cuida de possibilitar a um de seus melhores
clientes, o Estado, a compra regulada de certos medicamentos essenciais que por
vezes deixam de chegar às pessoas pela burocracia que emperra a máquina e se
deixa questionar pela má gestão.
em face de constar em uma lista que pode ser complementada à medida em que
novos fármacos se mostram eficazes, úteis e necessários para as políticas de saúde
ou para a garantia do exercício de cidadania e vida digna, avistada de uma
plataforma em que as pessoas sejam consideradas per si merecedoras de toda
consideração e respeito, devidos aos demais membros da sociedade.
1
Por todos STJ, MC 11.120/RS MEDIDA CAUTELAR 2006/0018436-5, Relator (a): Ministro JOSÉ
DELGADO (1105), Órgão Julgador T1: - PRIMEIRA TURMA, Data do Julgamento: 18.05.2006, Data
da Publicação/Fonte DJ: 08.06.2006 p. 119.
17
CAPÍTULO 1
metaforicamente, está oculto por elipse - é bem mais amplo do que há cem anos e
interpretá-lo de outra forma é ter uma visão reducionista, restritiva e que não retrata
as necessidades do cidadão.
execução do artigo constitucional que previa a criação do SUS, conforme artigo 1982
da Constituição Federal: as diretrizes do SUS são previstas constitucionalmente, não
cabendo interpretação que restrinja tais direitos ou políticas de governo que
suprimam objetivos, diretrizes e diretivas voltadas para a assistência à saúde.
2
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada
e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
26
3
Lei nº 9.313 DE 13/ 11/ 1996 - DOU 14/11/1996
Dispõe sobre a distribuição gratuita de medicamentos aos portadores do HIV e doentes de AIDS.
§ 2º A padronização de terapias deverá ser revista e republicada anualmente, ou sempre que se fizer
necessário, para se adequar ao conhecimento científico atualizado e à disponibilidade de novos
medicamentos no mercado.
Art. 2º As despesas decorrentes da implementação desta Lei serão financiadas com recursos do
orçamento da Seguridade Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
conforme regulamento.
27
fundamentais como partes de um bloco de direitos que ora se aplicam ora não se
aplicam sob qualquer argumento negativo de prestação e efetividade destes direitos.
relativo, embora não se possa negar, que haja concepções de saúde que encontram
uma aceitação comum entre um grande número de nações.
4
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes
Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social.
5
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
38
prevenção ao risco e outros agravos, sendo que este termo remete à ideia ampla da
conceituação da saúde incluindo-se aí o direito a convivência a um meio ambiente
saudável, tentando dar à saúde a um espectro bastante multifacetário e
contemporâneo em matéria de direitos fundamentais.
6
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e
constituem um sistema único...
39
a fim de que o direito seja aplicado com o objetivo de devolver ao ser humano a
grandeza da dignidade vivenciada na coletividade e garantida pelas instituições
democráticas. Assim, não cabe ao juiz questionar condições que aproveitem apenas
a sua moralidade individual, típico de juízes que se recusam a exteriorizar suas ideias
e conceitos à luz do direito, entretanto, deve o julgador cercar-se de todos os
elementos necessários a fim de que atue de forma democrática expondo suas
fundamentações.
CAPITULO 2
7
Artigo 93, inciso IX da Constituição Federal de 1988. “todos os julgamentos dos órgãos do Poder
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação” (grifo nosso).
45
8
STJ, MC 11.120/RS MEDIDA CAUTELAR 2006/0018436-5, Relator (a): Ministro JOSÉ DELGADO
(1105), Órgão Julgador T1: - PRIMEIRA TURMA, Data do Julgamento: 18.05.2006, Data da
Publicação/Fonte DJ: 08.06.2006 p. 119.
47
1) Processo: 0019000-72.2012.8.14.0301
Ação de Obrigação de Fazer c/cc Pedido de Tutela Antecipada
2) Processo: 0004804-97.2012.8.14.0301
Ação de Obrigação de Fazer c/c Pedido de Tutela Antecipada
3) Processo: 0035952-92.2013.8.14.0301
Ação de Obrigação de Fazer c/c Pedido de Tutela Antecipada
Fatos: segurada do IASEP, a autora foi diagnosticada como portadora de lesão cerebral de
5cm de etiologia desconhecida, provavelmente neoplásica, necessitando de biopsia. Assim,
para que seja detectada a presença ou não de neoplasia para que se possa dar início ao
tratamento correto, foi solicitada a realização de biopsia estereotáxica de encéfalo, devendo
ser disponibilizados pelo plano de saúde materiais para o tratamento. O IASEP, por sua vez,
não disponibilizou o aparelho e o kit de marcação e por isso, a autora recorreu ao Poder
Judiciário.
50
Pedido: concessão de tutela antecipada para que ao IASEP seja determinado que
disponibilize os itens necessários para a realização do exame, sob pena de multa diária de
R$1.000,00.
Decisão: concessão de antecipação dos efeitos da tutela de mérito: garantir o
tratamento adequado e a aplicação do artigo 23, II da Constituição Federal em face da
competência comum do Estado em matéria de Saúde.
________________________________________________________________________
4) Processo: 0026505-17.2012.8.14.0301
Ação de Obrigação de Fazer c/c Pedido de Tutela Antecipada
Fatos: o autor foi diagnosticado com câncer em metástase, sendo submetido a tratamento
médico por meio de medicação específica de valor extremamente alto, ministrada em sua
própria residência. Tal medicação é denominada SUSTENT, e a família do paciente entrou
em contato com o IASEP para que fosse fornecida referida medicação, já que o tratamento
é coberto pelo plano, segundo as determinações da ANS, mas não obteve resposta, o que
vem causando graves prejuízos a saúde do autor, que não possui recursos para arcar com
a compra dos medicamentos que custam em torno de R$17.000,00.
Pedido: concessão de tutela antecipada para que o réu seja obrigado a fornecer a
medicação supracitada, sob pena de multa de R$17.000,00/dia.
Decisão: concessão de antecipação dos efeitos da tutela de mérito Em decisão de três
laudas o magistrado afirma que o direito público à saúde representa prerrogativa jurídica
pública subjetiva indisponível e dirigida a todas as pessoas por força do artigo 196 da
Constituição Federal, tratando-se de dever jurídico constitucionalmente tutelado e por cujo
dever deve o Poder Público tutelar e propiciar políticas públicas no setor e que visem a
políticas econômicas que garantam o acesso universal e igualitário de saúde. Afirma ainda
que o direito a saúde se qualifica como direito fundamental que assiste a todas as pessoas
e tem como consequência constitucional a proteção do direito à vida. Ainda há
fundamentação teórica a partir de Kant, colocando o ser humano em lugar de destaque nas
políticas públicas.
________________________________________________________________________
5) Processo: 000203615.2008.8.14.0301
Ação Ordinária para Custeio de Medicamento c/c Tutela Antecipada
51
Fatos: a autora é portadora de artrite reumatoide com poliartrite, uma doença crônica que
compromete as articulações, podendo levar a deformidades. Ainda, a autora não tem
condições de arcar com a compra dos medicamentos, e o Estado se recusou a fornecer.
Assim, tendo a autora que fazer uso do medicamento Remicade, recorreu à justiça para
tentar que o Estado seja compelido a fornecê-lo.
Pedido: que seja determinado que a Secretaria de Saúde do Estado do Pará forneça o
medicamento receitado, e em caso de não cumprimento, que seja estabelecida multa diária.
Decisão: concessão de antecipação dos efeitos da tutela de mérito: fundamentada na
carência da autora, na grave doença a que estava acometida e no risco de vida que estava
correndo. Menção aos artigos 196 e 198 da Constituição Federal.
________________________________________________________________________
7) Processo: 0043478-94.2008.8.14.0301-
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
8) Processo 0024392-42.1011.8.14.0301
9) Processo 002961003.2009.8.14.0301
Fatos: a requerente é portadora de asma severa crônica, que progride mesmo com a
utilização de medicamentos broncodilatadores convencionais. Sendo assim, necessita do
medicamento Xolair que não possui cobertura através do SUS, e o preço do medicamento
é inacessível à autora, pois custa em torno de R$1.800,00 a ampola.
Pedido: que o Estado seja compelido ao fornecimento do medicamento, sob pena de multa
diária.
Decisão: concessão de antecipação dos efeitos da tutela de mérito sob a alegação de
que o direito à vida é um direito fundamental previsto no artigo 5º da Constituição Federal e
o artigo 2º da lei 8.080/90 que prevê o seguinte:
Fatos: o autor era dependente do filho no plano Assist, antigo PAS, porém o filho faleceu, e
o mesmo acabou sendo excluído do plano. Ocorre que o requerente é idoso e portador de
diversas moléstias, precisando de tratamento, exames e procedimentos, haja vista que suas
patologias precisam de rigoroso controle ambulatorial, pois possui hipertensão arterial
primária; insuficiência cardíaca; doença pulmonar obstrutiva crônica não especificada e
hiperlipidemia mista. Frisa-se que o autor tem como rendimento apenas uma aposentadoria
do INSS no valor de um salário mínimo, e precisa além das consultas, adquirir os
medicamentos necessários ao seu tratamento.
Pedidos: concessão da tutela antecipada para que o autor seja reintegrado ao plano de
saúde, para custeio dos tratamentos e medicamentos necessários.
___________________________________________________________________
Fatos: o autor possui uma deformidade na face e precisa que seja realizada neurocirugia,
pois possui lesão na região Peri-orbitária medial à direita, que poderá lhe comprometer a
visão. O requerente é usuário do SUS e foi cadastrado para cirurgia desde 2012, mas até o
presente momento ainda não foi operado, e seu quadro de saúde vem se agravando desde
então. Frisa-se que a representante informou que o hospital alegou não poder realizar a
cirurgia por falta de uma lâmpada necessária para um equipamento usado na cirurgia.
Fatos: a autora é portadora de câncer no pulmão, e foi submetida à cirurgia para retirada do
tumor em 2013. Porém, durante a cirurgia foi constatado que a pleura havia sido afetada, o
que impedia a retirada do nódulo pulmonar. Sendo assim, com a impossibilidade de cura por
meio do procedimento cirúrgico, o caso só pode ser tratado mediante quimioterapia. Assim,
o médico do Hospital Saúde da Mulher onde vinha sendo acompanhada pediu a realização
de um estudo de mutação do material coletado para a biopsia, e nesse momento começaram
a surgir os problemas da autora com o Plano Assist, pois após a solicitação do exame,
recebeu a resposta de que levaria 10 dias para o pedido ser analisado, e quando voltou no
prazo estipulado foi informada que inexistia qualquer protocolo nesse sentido. Voltou
diversas vezes ao IASEP, e sempre lhe renovavam o prazo para obter resposta, até que foi
informada pelo Coordenador que deveria fazer qualquer tipo de quimioterapia, frisando que
se liberasse o exame para ela, iria ter que liberar para todos que o pedissem. Assim, a autora
procurou a imprensa, e apenas depois de ter denunciado o caso no jornal da RBA é que
obteve resposta satisfatória do IASEP, já em janeiro de 2014. Com o resultado do exame a
autora, então, precisou fazer quimioterapia com uso oral do medicamento TARCERVA
150mg em uso contínuo. Porém tal tratamento foi negado pelo plano, com a alegação de
que o mesmo não é coberto pelo plano de assistência.
Pedido: que seja concedida a tutela antecipada para que o IASEP seja compelido a autorizar
o tratamento específico no prazo de 48 horas, especificamente fornecendo o medicamento
supracitado em caráter continuo sob pena de multa diária de 10.000,00.
Fatos: a autora foi diagnosticada com Neoplasia Maligna de Ovário, e foi solicitado pela
médica da requerente que iniciasse com urgência o tratamento quimioterápico
(quimioterapia sistêmica associada com antiangiogenico – doxorrubicina lipossomal +
bevacizumab (avastin – 12 doses, 10mg/kg, com dose total de 670mg em cada dose)).
Ocorre que em que pese o plano de saúde (IASEP) ter liberado o procedimento, não
autorizou a liberação do medicamento Avastin, alegando que tal remédio não é utilizado para
o tratamento desse tipo de doença. Assim, a médica entrou em contato via e-mail com
IASEP, demonstrando a necessidade do uso do medicamento em referido tratamento, mas
não tendo sido eficaz, a autora optou pelo meio judicial para conseguir a liberação.
Pedido: antecipação dos efeitos da tutela para obrigar o réu a fornecer imediatamente o
medicamento supramencionado, sob pena de multa diária de R$1.000,00.
Decisão em plantão: concessão da antecipação dos efeitos da tutela de mérito com base
no fumus boni iuri e periculum in mora.
Pedido: que seja concedida a tutela antecipada para que o Estado do Pará seja obrigado a
fornecer o medicamento no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de multa diária de
R$5.000,00.
um elemento filosófico kantiano para afirmar que o homem está no centro dos direitos
fundamentais.
________________________________________________________________________
Fatos: a autora é portadora de diabetes tipo 01, e por isso necessita fazer uso diário e
contínuo dos seguintes medicamentos: fitas reagentes para verificação de glicemia (4 p/ dia);
agula 6.0 intrafine para caneta lantus (4 p/ dia); insulina lantus (4 canetas p/ dia ou 4 refis
para caneta permanente p/ dia); lancetas para teste de glicemia (4 p/ dia). Ocorre que a
autora não vem podendo utilizá-los, haja vista que o Município de Belém não os tem
disponibilizado fazendo com que a autora corra risco de complicação da sua situação de
saúde atual, podendo inclusive vir a óbito.
Pedido: que seja concedida a tutela antecipada para que o Município seja compelido a
disponibilizar os medicamentos sob pena de multa diária no valor de R$5.000,00.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito sendo concedida com fundamento
na urgência do pedido, nos artigos 5º e 196 da Constituição Federal, urgência do pedido e
que a vida não tem preço.
________________________________________________________________________
Fatos: o autor é segurado do IPAMB – PABSS, em 2011 precisou fazer uma cirurgia, mas
foi informado que o IPAMB não cobriria tal procedimento, fazendo com que o requerente
tivesse que arcar com a compra do material cirúrgico no valor de R$21.939,92, divididos em
60 parcelas. Já em 2013, precisou de cirurgia para retirada de pedras nos rins, mas
novamente foi informado que deveria que arcar com os custos do material cirúrgico no valor
de R$3.033,76, pagos em 36 parcelas.
Pedido: que seja concedida a tutela antecipada para que o réu autorize a realização da
cirurgia para a retirada de pedra do rim, determinando a sustação dos descontos do
59
financiamento ilegal que prejudicam a subsistência do autor, sob pena de multa diária de
5.000,00.
________________________________________________________________________
Fatos: a autor apresenta Artropatias Psoriásicas e necessita com urgência fazer uso do
medicamento por 3 meses, qual seja: Adalimub 40mg – 4 ampolas no 1º mês, 2 ampolas no
2º mês e 2 ampolas no 3º mês. A requerente protocolou o pedido dos remédios junto a
SESPA, mas a mesma não os forneceu, impedimento o tratamento da autora, com a
justificativa de que não há previsão de entrega do mesmo. Frisa-se que o medicamento não
consta na lista do RENAME, mas a autora acredita ser responsabilidade do Estado fornecê-
lo da mesma maneira.
Pedido: a concessão da tutela antecipada para que ao Réu seja determinado que forneça
o medicamento no prazo de 48 horas, sob pena de multa diária de 5.000,00.
________________________________________________________________________
Fatos: a autora é inscrita no SUS, e possui Epilepsia. Por conta disso, precisa fazer uso
constante do medicamento Etoxim 50mg/ml – 10ml (3x ao dia). Além disso, também é
portadora de Hepatite Crônica, precisando do uso contínuo do medicamento Ursacol 300mg
– 1 caixa (1 comprimido de 12/12). Acontece que tais medicamentos não são fornecidos pelo
SUS, e também não são encontrados nas farmácias do município de Belém, sendo
fornecidos apenas por um laboratório de SP, e a família da autora não tem condições de
arcar com os custos para conseguir os medicamentos.
Pedido: concessão da tutela antecipada para que ao Estado do Pará seja determinada a
concessão dos medicamentos dos quais a autora precisa para seu tratamento, sob pena de
multa diária de R$5.000,00.
Pedido: que seja concedida a tutela antecipada para determinar que o réu custeie o
tratamento/procedimento de radiocirurgia e os demais procedimentos que necessitar para
garantir o seu direito à vida e à saúde, sob pena de multa diária de R$10.000,00.
61
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito com fundamento jurídico nos artigos
6° e 196 da Constituição Federal, aduzindo ainda que está em jogo a dignidade da pessoa
humana a partir de doutrina a respeito do assunto. Junta jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal a respeito da distribuição gratuita de medicamentos e por fim afirma o
magistrado que não garantir a assistência médica é uma forma de desrespeito à vida da
envolvida. Não seria ético, tampouco legal, permitir a convivência da autora sem o
tratamento adequado de sua enfermidade, capaz de minimizar seu sofrimento._sofrimento.
__________________________________________________________________________
Fatos: a autora apresenta retite e colite segmentar esquerda ulcerativa, e por isso necessita
fazer uso contínuo do medicamento supracitado, já que o não uso de referido medicamento
poderá lhe causar ulceras que podem leva-la a óbito. Frisa-se que ela é usuária do SUS e
iniciou o tratamento no H. C. Gaspar Viana. Possui o direito de receber três cotas do
medicamento, sendo cada cota fornecida ao mês, porém com o término de uma primeira
cota, o recebimento da outra ficou prejudicado pelo fato de não ter medicamento disponível
no hospital. Dessa forma, a própria família da autora teve que passar a custear o remédio,
só que esse é de alto custo, e a família não possui recursos para continuar arcando com as
compras.
Pedido: tutela antecipada para que seja fixado um prazo de 48 (quarenta e oito) horas para
o cumprimento da ordem judicial, qual seja, de fornecer o medicamento Mesalazina 800mg.
(Resposta ao Ofício 2893/2013-GAB/SESPA)
Fatos: a autora possui demência mista (mal de Alzheimer e vascular), arritmia, pressão alta,
antecedente de AVC, e carece de medicação para sobreviver, necessitando, portanto, dos
remédios Procimaz 20mg e Elexon Patch (13,3mg), além de alimentação enteral introduzida
por sonda, qual seja, Isosuorurce Soya Fiber com volume 0,250ml/5 tomadas dia, totalizando
38 litros com 30 frascos e 30 equipo mensal. Tal alimentação possui valor excessivo no
mercado e a autora não tem condições de arcar com os custos apenas com a sua
aposentadoria do INSS.
Pedido: que seja concedida a tutela específica da obrigação de fazer, para que o Município
forneça o composto alimentar por sonda de gastronomia no prazo de 72 horas sob pena de
multa diária.
Fatos: a autora é segurada do Plano Assist (antigo PAS), e é portadora de neoplasia maligna
do ovário, e está em tratamento desde dezembro de 2012. Porém, necessita da inclusão do
medicamento Avastin em referido tratamento, mas o fornecimento do mesmo foi indeferido
pelo IASEP, em que pese a inclusão do mesmo no tratamento aumente a taxa de resposta
de 57,8% para 78,5%.
Fatos: o autor descobriu em julho de 2013, através de exames específicos, que estava com
neoplasia maligna na próstata já em estado avançado, e por isso, em agosto de 2013 foi
submetido a uma "prostatectomia radical". Ao final, foi aconselhado que começasse o
tratamento radioterápico, por meio de laudo médico que foi colado aos autos, que deveria
ser do tipo IMRT (modulação de intensidade de feixe) para que se pudesse maximizar a
dose de tratamento e minimizar os efeitos colaterais. Ao entrar em contato com o IASEP
para liberação de respectivo tratamento, obteve a resposta de que o plano não cobria tal
tratamento, por e-mail ao autor, sem qualquer laudo médico ou assinatura de funcionário do
órgão. O autor frisou que a resolução do CONAD 10/2010 prevê que o IASEP forneça o
tratamento radioterápico e não delimita que tipo de tratamento será feito.
Pedido: antecipação dos efeitos da tutela para que seja concedida a autorização e custeio
integral do tratamento de radioterapia indicado pelo autor, sob pena de multa diária de
R$10.000,00.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito com fundamento nos artigos 5° e
196 da Constituição Federal, além da lei 8.080/90 (SUS), acrescentando que o tratamento
terapêutico preserva as reações do tratamento tradicional.
Fatos: a autora é portadora de lesão tumoral infiltrativa do reto (neoplasia maligna), quando
os sintomas começaram a aparecer, foi diversa vezes aos PSM's da capital e Hospital das
Clinicas, mas nao conseguiu fazer a colonoscopia necessária para obter um diagnóstico,
tendo que recorrer a um médico particular custeado pela irmã, no Porto Dias, onde
finalmente descobriu que estava com câncer e precisaria urgentemente de uma cirurgia. Por
não ter recursos, procurou o Estado para que fosse realizada a cirurgia, porém até a data
da interposição da ação, o mesmo não tinha demonstrado diligencias para realização do
procedimento. Procurou o Hospital Jean Bittar, mas o mesmo não possuía leitos disponíveis,
e, portanto, deveria aguardar a disponibilidade de um. Também procurou o Ofir Loyola, mas
lá foi informada que precisaria de uma carteirinha para dar entrada no pedido de leito.
64
Pedido: que o Estado do Pará cumpra com a obrigação de fazer para que seja realizada a
cirurgia de extração do tumor.
Decisão:antecipação dos efeitos da tutela de mérito com fundamento nos artigos 5° e
196 da Constituição Federal, além da lei 8.080/90 (SUS) sem nenhuma outra justificativa
fática ou doutrinária.
Fatos: a requerente e portadora do vírus HIV desde 1997, e por conta da doença apresenta
algumas lesões pelo corpo e febre, e por conta disso necessita ser internada para obter
tratamento correto, e evitar a contaminação dos filhos e demais familiares.
Pedido: a condenação do município para que providencie às suas custas a internação da
requerente em clínica especializada, seja na rede pública ou particular.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito com fundamento na lei 8.080/90 e
sob a alegação de que em face da urgência que o caso requer, não há alternativa a esse
juízo senão a concessão do pedido, pois o bem que está na iminência de padecer de dano
irreparável é o bem maior da autora, qual seja, sua própria vida.
Fatos: o autor apresenta Esteatose Hepática grau II, Hepatomegalia, e Hepatite A, e por
isso precisa dos medicamentos supracitados respectivamente por 3 meses, uso continuo, e
56 dias.
Solicitou os medicamentos à Secretaria de Saúde do Estado, mas nao obteve resposta aos
requerimentos, e por se tratar de motivo urgente, uma vez que a falta dos remédios poderá
lhe agravar a situação de saúde, podendo inclusive levar a óbito, o mesmo resolveu recorrer
a via judicial.
Pedido: Que o Estado forneça o medicamento requerido sob pena de multa diária.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito com fundamento nos artigos 5° e
196 da Constituição Federal de 1988, bem como da lei 8.080/90 (SUS) em face da urgência
do pedido.
________________________________________________________________________
65
Fatos: o autor e portador de retinopatia diabética grave, com edema macular em ambos os
olhos. O tratamento necessário prescrito pelo médico envolve o uso de laser de argonio e
aplicações de injeções intra-virais do medicamento Lucentis (3 em cada olho), sendo uma
injeção em cada mês, entre outros medicamentos a serem ministrados pela via oral e
subcutânea. Ocorre que o medicamento prescrito para o tratamento tem custo
extremamente elevado, e não é disponibilizado pela rede pública, e o custo da aplicação é
de R$3.500,00, não tendo o autor condições de arcar com os custos de referido tratamento.
Pedido: antecipação dos efeitos da tutela para que o réu seja compelido a fornecer a
medicação necessária ao tratamento do autor.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito com fundamento nos artigos 5° e
196 da Constituição Federal de 1988, bem como da lei 8.080/90 (SUS) em face da urgência
do pedido.
________________________________________________________________________
Fatos: a autora, quando criança na década de 50, sofreu acidente doméstico, ficando com
problemas na perna esquerda e no quadril. Em 74 foi submetida a uma cirurgia experimental
no hospital das clínicas de São Paulo para fazer um encurtamento ósseo e colocar uma
prótese. Ocorre que a cirurgia foi um fracasso, deixando a autora com sequelas, o que foi
amenizado com a colocação de hastes ortopédicas implantadas em 1977. 40 anos após a
colocação das primeiras próteses, as mesmas estão deslocadas e precisam ser substituídas
por meio de uma Artroplastia Total de Revisão Coxofemoral. Assim, o médico conveniado
ao IASEP, Jean Klay Machado, pediu para a realização da cirurgia, porém, o IASEP liberou
material medicamentoso e hospitalar de qualidade inferior sem o consentimento do médico.
Pedido: A autora pede, então, em sede de tutela antecipada, que o demandado libere o
material correto e seguro para a realização da cirurgia, e a condenação do mesmo em danos
morais.
________________________________________________________________________
Fatos: o autor é usuário do SUS, e portador de diabetes mellitus além de ter problemas
renais crônicos, realizando sessões de hemodiálise na Clínica de Nefro três vezes na
semana. Ocorre que o mesmo passou a apresentar dificuldades extremas para circulação
sanguínea no braço direito durante as sessões de hemodiálise, o que acabou por
desenvolver um quadro necrose quirodáctilos de mão direita; assim, para preservar sua vida,
é necessário que o autor se submeta à cirurgia de amputação do tecido necrosado, mas não
consegue, pois, em que pese possua guia de internação para o hospital Santa Casa de
Misericórdia do Pará não lhe dá nenhuma resposta.
Pedido: a concessão da tutela antecipada para que o Município de Belém realize a
internação do autor na Santa Casa de Misericórdia do Pará, ou outro hospital especializado
em nefrologia/hemodiálise para a realização da cirurgia de amputação do tecido necrosado
com recursos de internação em UTI e inicie imediatamente, também, o tratamento de
hemodiálise e demais procedimentos que se façam necessários.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito com fundamento na competência
comum dos entes federativos em matéria de saúde (art. 23, II da Constituição Federal de
1988), bem como ser um direito fundamental a saúde prevista no artigo 5° da Constituição
Federal de 1988, bem como direito social no artigo 6º da Constituição Federal e ainda com
fundamento no art. 1º, III, garantindo-se a dignidade da pessoa humana. Decisão em seis
laudas, juntando jurisprudência.
___________________________________________________________________
35) 0047651-80.2013.8.14.0301
Ação de Obrigação de Fazer c/c Pedido de Tutela Antecipada
68
Fatos: o autor está internado no Barros Barreto com insuficiência renal crônica, e necessita
com urgência ser transferido para hospital especializado em hemodiálise.
Pedido: a concessão da tutela para que o ente público seja compelido a transferir o autor
para internação em hospital especializado em hemodiálise com leito de UTI, bem como a
disponibilização de exames, medicamentos, cirurgia, e tudo o mais que for necessário para
salvaguardar a vida do requerente.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito com fundamento na competência
comum dos entes federativos em matéria de saúde (art. 23, II da Constituição Federal de
1988), bem como ser um direito fundamental a saúde prevista no artigo 5° da Constituição
Federal de 1988, bem como direito social no artigo 6º da Constituição Federal e ainda com
fundamento no art. 1º, III, garantindo-se a dignidade da pessoa humana. Decisão em seis
laudas, juntando jurisprudência.
________________________________________________________________________
medicada e mandada de volta para casa com a justificativa de que haviam muitas pessoas
a espera de leito. Assim, a família da autora ficou desesperada, uma vez que a mesma não
consegue se alimentar, e as tentativas de interna-la em hospital público se mostraram
frustradas.
Pedido: que seja concedida a tutela antecipada para garantir a internação da autora para
tratamento intensivo no prazo de 48 horas, sob pena de multa diária de R$5.000,00.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito a partir da presença dos requisitos
constantes no artigo 273 do CPC e assim não pode a autora ter seu direito preterido à espera
de um leito que nem ao menos de tenha uma previsão de disponibilidade, assim estamos
diante de direito assegurado constitucionalmente de forma irrenunciável, qual seja, o direito
à vida.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Fatos: a autora está a espera de internação para realização de cirurgia de prolapso uterino
total vaginal. O estado de saúde da mesma é grave, e precisa urgentemente ser submetida
ao procedimento cirúrgico em questão.
Pedido: a antecipação dos efeitos da tutela para que ao réu seja determinada a internação
da autora em hospital especializado a fim de ser realizada a cirurgia necessária.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito com fundamento no artigo 273 do
CPC sem nenhuma consideração a respeito dos fatos a não ser que estão preenchidos os
requisitos para a concessão da antecipação dos efeitos da tutela de mérito.
Fatos: o autor representado pela mãe nasceu em 18 de agosto de 2013, e desde então vem
apresentando diversos problemas de saúde, tais como: laringomalácia, proptose,
71
que mais for necessário em decorrência da cirurgia requerida, sob pena de bloqueio do valor
necessário ao custeio do tratamento.
Decisão em plantão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito sob o argumento de
que o laudo médico autorizava a concessão de liminar.
________________________________________________________________________
Fatos: O autor foi afastado de suas atividades laborais, com suspeita de Hepatite B. Para
que pudesse ter um diagnóstico preciso, procurou o Espaço Médico de Exame-Diagnóstico
Camilo Salgado e o médico que o atendeu requisitou dois exames de caráter urgente. Assim,
o autor procurou o IPAMB para realização de tais exames, mas foi informado que o PABSS
não cobre esses procedimentos, tendo sido autorizado apenas o financiamento com os
respectivos preços: R$199,48 e R$405,00, bem como as clínicas conveniadas onde o autor
poderia fazê-los.
Pedido: concessão da tutela antecipada para que o IPAMB seja obrigado a custear os
exames previstos na requisição médica, com vistas a confirmar o diagnóstico de Hepatite B,
bem como outros exames e procedimentos fundamentais à manutenção da vida.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito sob o argumento de que embora o
autor pagasse uma parcela módica no plano de assistência à saúde não seria razoável que
ainda se exigisse que complementasse de seu dinheiro a realização de um exame para
análise de sua saúde.
________________________________________________________________________
tentando a substituição do mesmo. Como a troca não foi realizada, os pais do autor
precisaram fazer um empréstimo no valor de R$1.400,00 e providenciaram a locação do
BIPAB pelo prazo de um mês. Assim, para a manutenção da vida do autor, faz-se necessária
a continuação do tratamento domiciliar com o uso dos seguintes equipamentos: BIPAB;
aspirador de secreção; cilindro de oxigênio; combitubo (AMBU); cama hospitalar; material
de aspiração, higiene e manipulação; tratamento com visitas domiciliares de profissionais
capacitados.
Pedido: a concessão da tutela antecipada para que os materiais sejam fornecidos ao autor
no prazo de 48 horas, sob pena de multa diária no valor de R$5.000,00, e o ressarcimento
do valor dispendido a título do aluguel do aparelho.
Decisão: antecipação de tutela concedida parcialmente para que seja fornecido o
material requerido, indeferindo o pedido inicial de ressarcimento dos valores já gastos.
Fundamenta afirmando que o caso é urgente e a não concessão pode tornar a decisão final
inócua. Juridicamente foi concedida com base nas provas trazidas aos autos dado o delicado
estado de saúde do autor, com fundamento na competência comum dos entes federativos
em matéria de saúde (art. 23, II da Constituição Federal de 1988), bem como ser um direito
fundamental a saúde prevista no artigo 5° da Constituição Federal de 1988, bem como direito
social no artigo 6º da Constituição Federal e ainda com fundamento no art. 1º, III, garantindo-
se a dignidade da pessoa humana. Decisão em quatro laudas.
________________________________________________________________________
Fatos: a autora apresenta problemas ortopédicos, como distrofia simpática reflexa e dores
no joelho, e necessita fazer uso contínuo diário do seguinte medicamento: Cymbalta 60mg
– duloxetina, 1 comprimido ao dia. Tal medicamento não tem sido fornecido pelo Município
pois não se encontra na lista do RENAME – Relação Nacional de Medicamentos
Controlados.
Pedido: que seja concedida ao requerente a tutela antecipada, para que se determine ao
réu o fornecimento regular do medicamento supracitado, sob pena de multa diária de
R$5.000,00.
Decisão: antecipação dos efeitos da tutela de mérito, com respaldo no artigo 196 da
Constituição Federal de 1988. Entretanto, uma lauda é dedicada ao fornecimento de “fraldas
descartáveis” a um menor, dando a entender que se tratava de outro pedido e em outro
processo.
76
________________________________________________________________________
Federal de 1988), bem como ser um direito fundamental a saúde prevista no artigo 5° da
Constituição Federal de 1988, bem como direito social no artigo 6º da Constituição Federal
e ainda com fundamento no art. 1º, III, garantindo-se a dignidade da pessoa humana.
Decisão em cinco laudas. Por fim, afirma que o cidadão não pode ficar privado de assistência
médica pelo fato de não ter como arcar com as despesas de seu tratamento.
________________________________________________________________________
trazer aos autos. Ainda assim, é utilizado esparsamente na busca pela efetividade
do direito de acesso a medicamentos essenciais.
Mandado de Segurança
Fatos: o impetrante necessita com urgência de hemodiálise para sua sobrevivência, mas
está internado no PSM do Guamá, que não possui os equipamentos necessários para a
realização do referido tratamento. Assim, precisa ser transferido para hospital que possua
UTI com hemodiálise. O Mandado de Segurança é cabível, pois trata-se de direito líquido e
certo à dignidade, saúde, vida.
Pedido: Idêntico ao anterior.
Decisão: liminar de concessão com fundamentos jurídicos idênticos ao anterior.
Decisão: concessão de liminar com respaldo no artigo 5º, caput da Constituição Federal
de que a vida é consagrada como direito fundamental e desta forma não tem preço.
80
Fatos: a autora é idosa e possui crises crônicas de asma, e não pode custear os
medicamentos necessários para minorar os efeitos, e as drogas ofertadas pelo SUS não
obtém sucesso no tratamento, uma vez que a única droga apta a minorar os sofrimentos da
autora é a denominada Xolair, que custa aproximadamente R$1.000,00.
Pedido: que o Estado seja compelido a fornecer o medicamento, sob pena de multa diária
de R$5.000,00.
Decisão: indeferimento da antecipação da tutela de mérito com fundamento no artigo 7º,
parágrafos 2º e 5º da lei 12.016 de 2009 (Lei do Mandado de Segurança) que afirma
expressamente:
Decisão: pedido de justiça gratuita deferido, e mandado de citação para o Estado do Pará
para apresentar contestação, sem apreciação de liminar.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Pedido: que ao réu seja determinado submeter o autor com máxima urgência ao
procedimento cirúrgico supramencionado.
Decisão: abertura de prazo para manifestação da parte ré antes de decidir sobre o pedido
de tutela antecipada, não havendo decisão até a conclusão da pesquisa.
83
________________________________________________________________________
Fatos: a requerente possui uma doença que causa baixa estatura idiopática com perda de
altura final em torno de 13cm em relação à altura alvo. Assim, precisa fazer uso do
medicamento Somatrotopina, porém protocolou o pedido de fornecimento do mesmo pela
Rede Pública de Saúde, mas não obteve resposta. Ocorre que o remédio custa em torno de
R$4.000,00, e a autora não possui condição de arcar com os custos do mesmo.
Pedido: Antecipação da tutela no sentido de obrigar os requeridos a fornecerem para a
requerente o medicamento em questão, sob pena de multa diária a ser fixada regularmente
pelo juízo.
Decisão: indeferimento sob os seguintes argumentos: A autora não preenche os requisitos
exigidos pelo Ministério da Saúde para deferimento de seu pleito. O requerido acostou
Portaria do Ministério da Saúde, que disciplina o tratamento, os critérios de inclusão e
exclusão no tratamento e demais assuntos pertinentes em relação ao tratamento da
deficiência do hormônio do tratamento, argumento acatado pelo juiz.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Fatos: a autora sofre de grave doença caracterizada como depressão recorrente, e por isso,
deve arcar com ônus excessivamente alto para adquirir a medicação prescrita pelo médico
que lhe acompanha há mais de 10 anos no Hospital das Clínicas Gaspar Viana. Tais
medicamentos, quais sejam, Tolrest 50mg, Venlaxim 37,5mg, Diazepan 5mg custam,
mensalmente para a autora o valor aproximado de R$500,00, e ela, caso recebesse
integralmente seus vencimentos, esses seriam no valor de aproximadamente R$622,32,
sendo, portanto, impossível arcar com o custo dos medicamentos, até porque o BANPARA
bloqueou suas contas em razão de empréstimos realizados, inclusive na tentativa de custear
a medicação em comento.
Pedido: a concessão da tutela antecipada para determinar que o réu seja obrigado a
fornecer os medicamentos relacionados na exordial, na quantidade indicada na exordial.
Decisão: Indeferimento da tutela antecipada sob o argumento de que o receituário não
era recente e por isso não poderia conceder a antecipação por falta de requisitos para tal.
CAPÍTULO 3
9
Lei nº 8.080 de 19/09/1990 - DOU 20/09/1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e
dá outras providências.
10
Ao caput segue o § 1º afirmando que “O dever do Estado de garantir a saúde consiste na
formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças
e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário
às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”
11
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
90
autor, a não utilização desses insumos, poderia causar inflamações e lesões graves
na área colostomizada, correndo o autor o risco de desenvolver outras complicações
que poderiam levar ao óbito.
Tais decisões não deveriam levar em conta outro fator que não fosse a
necessidade da demanda ou da imprescindibilidade da providência requerida. Sendo
assim é possível que o juiz fundamente sua decisão a partir de critérios de equidade,
utilizada aqui no sentido liberal da palavra – fairness -? É possível ainda que estes
critérios evitem o crivo das idiossincrasias dos homens togados? Afinal não é raro
que as divergências ocorram dentro de nós submetendo-nos a um conflito diante dos
casos difíceis (Sandel, 2014).
Neste caso, pode ser que duas pessoas recebam solos iguais, plantem
a mesma semente e colham a mesma uva, entretanto, a habilidade de um pode fazer
com que o resultado lhe seja mais favorável. Desta forma uma compensação é viável
diante do fato de que Dworkin considera uma diferenciação arbitrária do ponto de
vista moral (Vita, 1993, pg. 62).
de medicamentos essenciais. Tratar a todos com igual consideração pode ser uma
fórmula vazia se aplicada à luz de todas as limitações impostas pelo Estado. É
possível até que estas argumentações optem por caminhos diferentes das
postulações liberais, entretanto, é necessário saber se as decisões têm uma
fundamentação jurídica que torne a democracia mais efetiva ou se estamos diante
de decisões práticas sem qualquer influência na moralidade política da sociedade.
Outro grupo de decisões que responde por 14,28% (quatorze por cento
e vinte e oito décimos) do número de casos (01, 09, 10, 32, 37, 39, 42, 49, 55),
utilizou como fundamento o artigo 1°, inciso IIII e 5º da Constituição Federal, logo, o
fornecimento de medicamentos é um direito fundamental com repercussão na
essencialidade que deve resguardar as garantias assecuratórias de uma vida, e que
esta vida, seja tratada com dignidade, assim considerada, toda vida que não seja
discriminada ou aviltada por tratamento transgressor da norma preconizadora de um
tratamento adequado, voltado a todos de maneira indistinta e baseado na
consideração e respeito devidos a todo ser humano.
Outro tipo de decisão responde por 14,28% (quatorze por cento e vinte
e oito décimos) do número de casos registrados na pesquisa (01,09, 10, 32, 37, 39,
42, 49, 55). A decisão, além de considerar também o direito à medicamentos um
direito social, se respalda também no artigo 23, II da Carta Magna12, que trata da
competência comum entre os entes federativos para o cuidado com a saúde pública
e a ministração de seus instrumentos na execução de políticas voltadas para saúde.
Este grupo está formado por processos que tem como fundamento
concessivo apenas o artigo 23, II da Constituição Federal de 1988, que tratacuida da
competência comum dos entes federativos não se referindo a outros fundamentos,
sendo que em outro processo o juiz não apreciou a liminar e determinou a citação
do Estado para apresentar resposta ao pedido e, enfim, uma decisão interessante
com solução criativa encontrada pela juíza diante do fato concreto.
12
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de
deficiência;
104
processual de lado, tendo em vista que a medida é urgente, o autor está em risco de
vida e esta é protegida enquanto direito fundamental e mais, que o recebimento da
inicial, ainda que em plantão, é fator determinante para a garantia da saúde e vida
do autor, para conceder a antecipação requerida.
13
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
105
saúde, o juiz afirma sua competência local – que de fato existe - para decidir e excluir
a possibilidade de que haja deslocamento desta diante de eventual presença da
União e reafirmar sua jurisdição em face da autoridade local com os instrumentos
necessários para o cumprimento de sua decisão, tendo em vista que há possibilidade
de que o Estado-Membro ou Município como executores do SUS façam parte do polo
passivo da ação.
Então a escolha do ente federativo para litigar fica por conta do autor?
Sim. Em regra, os critérios para escolha variam entre a facilidade de acesso ao
judiciário e cumprimento da execução, que na maioria das vezes, por ser uma ordem
regional facilita a entrega do medicamento por parte da autoridade administrativa, ou
ainda à capacidade de arcar com o medicamento requisitado, sendo apontada a
União para cobrança de medicamentos mais dispendiosos. Cabe ao autor avaliar de
quem quer cobrar seus direitos fundamentais. Entretanto, esta fundamentação
instrumental não reconecta o direito com a moral, devendo ser analisada em conjunto
com a ótica dos direitos indisponíveis.
14
Segundo Caetano e Lima “Não se verifica em nenhum acordo internacional, nem em legislações
nacionais, uma definição clara do que venha a ser exatamente uma patente. Na sua formulação
clássica, constitui-se em um título, conferido pelo Estado, que fornece ao seu detentor o direito de
impedir que outros explorem sua invenção, sem seu consentimento, por um período determinado de
tempo – de acordo com TRIPS e a atual legislação brasileira, o prazo mínimo de proteção é de 20
anos para patente de invenção e 15 anos para patentes de modelos de utilidade -” (2013, pg. 553)
108
15
Imannuel Kant, nasceu na Prússia na cidade de Königsberg, (22/04/1724-12/02/1804) conhecido
entre outras ideias pelo imperativo categórico de que a ação do homem deve ser pautada por um
princípio universal e que por este princípio deve sempre agir.
109
Outros 4,70% (quatro por cento e setenta décimos) (16, 36, 40) estão
distribuídos entre ações que pouco ou nada dizem a respeito dos fundamentos da
decisão, embora estejam fazendo referência direta à artigos constitucionais e legais,
especialmente o artigo 273 do CPC para afirmar que estão presentes os requisitos
para a concessão, redundando em um dispositivo carente de fundamentação. A
fundamentação exigida pela Constituição Federal de 1988 não se restringe à simples
citação direta do texto constitucional ou legal.
É necessário que a argumentação faça colidir com a pretensão do
autor o dispositivo legal, refutando-a, ou que a faça ir ao encontro de tais dispositivos
a partir de uma operação de coerência dos fatos com o texto para que o direito possa
se manifestar na forma de efetivação da medida concessiva de acesso aos
medicamentos essenciais.
A fundamentação exigida pela Constituição Federal não se materializa
apenas na descrição da norma. Embora em seu âmago possam estar contidos os
valores que lhes conferem validade e legitimidade, não funcionam como
argumentação por si só. Nem se trata aqui de subsunção, mas, de aplicação abstrata
da lei, que a transforma em veículo de veleidades e discricionarismos.
Apenas a argumentação é garantia de um julgamento democrático à
medida que expõe as razões de privação de liberdade, de restrição de direitos, de
constrição a patrimônios, de alcance e de efetivação de direitos fundamentais, que
por vezes importam em restrição orçamentária, ou seja, decisões graves que apenas
à luz do cotejo da vida com o discurso jurídico expõem o direito à missão não
somente de garantia, porém, de efetivação do razoável e do justo, sujeito este último
ao crivo da moralidade política.
Além da declaração das razões de decidir, a fundamentação permite
as contrarrazões que serão utilizadas no recurso próprio, bem como tem o papel
constitucional fundamental de impossibilitar decisões arbitrárias, idiossincráticas,
unilaterais e eivadaos do vício da arrogância, do despreparo e não raro, da omissão,
o que solapador d a democracia. Segundo Alexy:
Quanto mais óbvia é a lei e quanto mais direta sua aplicação, maiores
são as possibilidades de que a falta de argumentação por parte do juiz traga
prejuízos na aplicação da norma. A regra por si só não é autoexplicável. É necessário
que seja contextualizada, confrontada com sua realidade, vista a partir dos valores
que a sustentam e vinculada a uma moralidade política contemporânea. De que nos
valeriam regras de direito sanitário das ordenações Filipinas? A lei não muda
somente porque o tempo muda. A sua interpretação moral é quem dita a longevidade
de sua eficácia, pelo menos é o que se espera de um regime democrático. Normas
simples não exigem grade esforço interpretativo. Porém, a concepção do que seja
simples pode variar de um juiz para outro. Logo, modelos simples de argumentação
113
liminares por parte dos juízes está fundamentado em outros requisitos. É importante
perceber que menos de 10% (dez por cento) das decisões desaguaram em
indeferimentos liminares.
Em um dos processos o juiz afirma secamente que não estão presentes
os requisitos do artigo 273 do CPC. Explicita o artigo 273 e seus incisos para
demonstrar sua tese. Em outro processo, o juiz abriu prazo para manifestação do
réu, entretanto, após a manifestação deste, mandou à réplica e oficiou ao réu para
que informasse a respeito da marcação da cirurgia do autor.
Em outro caso e de forma isolada em relação aos outros processos, o
juiz afirmou que a autora não preenchia os requisitos exigidos pelo Ministério da
Saúde para deferimento de seu pleito, sendo que o requerido acostou Portaria do
Ministério da Saúde, que disciplina o tratamento, bem como os critérios de inclusão
e exclusão na terapia e demais assuntos pertinentes em relação à análise da
deficiência do hormônio do crescimento.
Esta decisão é um raro caso entre os coletados em que o juiz enfrentou
as teses debatidas para afastar uma das pretensões, optando claramente por
argumentos de política. A decisão está fundamentada em legislação e enfrenta as
teses com raciocínio de fácil compreensão. Acatar tal argumento significa dizer que
o juiz entendeu que por mais direitos individuais que tivesse o autor, este não estaria
protegido por qualquer deliberação que significasse o descumprimento de uma
Portaria útil a todos.
Em outro indeferimento o juiz manifestou-se afirmando que o pedido
para colocação de stent no coração do paciente e o pedido para o parcelamento
direto em folha de pagamento em 48 vezes era na verdade uma discussão contratual
do plano e por isso mereceria uma instrução de caráter exauriente para se decidir a
causa. No último indeferimento coletado, o juiz entendeu que a apresentação de
receituário fora da validade fazia com que a autora não preenchesse os requisitos
legais.
É possível relatar caso a caso os processos em que houve
indeferimento da liminar requerida ou da denegação da antecipação dos efeitos da
tutela de mérito em face do amplo espectro de fundamentações – ou da ausência
destas -. Isto não significa que a denegação do pedido de liminar seja o espelho de
uma decisão melhor, entretanto, as denegações estão em regra acomodadas em
116
pressupostos que guardam estreito confronto entre o fato e suas premissas legais,
ou seja, colisão da pretensão ajuizada com a letra exclusiva da lei.
A reserva para manifestação posterior não encontra identidade na lei.
Entretanto, alguns juízes agem desta forma a fim de possibilitar além do
contraditório, condições mais amplas de decidir a respeito da antecipação de tutela.
Uma cautela que não deve ser censurada, salvo, se o paciente necessitar da
medicação urgente sob risco de vida ou desconforto insuportável. Afirmação singular
e abrangente.
Lamenta-se que após este despacho inicial reservando-se – despacho
no qual o juiz afirma reservo-me para decidir a respeito da antecipação da tutela
após a resposta do réu -, o lapso de tempo seja muito grande entre o despacho inicial
e o oferecimento da contestação, diante dos prazos concedidos à Fazenda Pública,
ocasionando por vezes a prolação da sentença antes do despacho liminar – somente
uma forma curiosa de descrever os fatos – ou ainda um cenário pior, quando a parte
abandona o processo, descrente da vida, dando razão à demora do juiz ou
transformando-se em estatística útil aos amantes de desfechos processuais, estes
sim, por vezes inúteis. Uma providência possível é a oitiva da fazenda apenas sobre
a liminar em 72 horas, que para além das calendas gregas pode custar uma vida.
Quanto ao indeferimento sem fundamentação, é bom que se diga do
receio que os juízes possam assumir este papel, não de julgadores, mas de
censores, ou seja, de autoridade pública dispensada da função democrática de
fundamentar todas as suas decisões. Isto significa que caso prevalecesse o privilégio
do juiz em decidir sem fundamentar, seu poder seria o de censurar comportamentos
sem que para isto tivesse que prestar contas de suas decisões.
Decisão sem fundamentação, incluindo aquelas em que o juiz apenas
descreveu a norma e que chamei de fundamentação seca ou não fundamentação,
exprimem a noção de um direito estático, puramente científico, que não confirma sua
existência por falta de proposições válidas. Dworkin ao falar sobre o raciocínio
jurídico diz:
16
Art. 93.
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
120
dispositivo, isto seria obra de uma razão discursiva, por mais que se tratasse de
atacar a ausência de fundamento da decisão.
Esta lembrança não é inútil, pois fundamentar – ou destinar este
espaço para uma valoração personalíssima – sem a necessária correspondência
com o objeto do pedido, resultando em uma decisão divorciada de seu alicerce
argumentativo, nada mais é do que desfundamentar, tratar com a ausência de
fundamentação e nesta ordem atuar exatamente naquilo que o constituinte quis
evitar: o pesaroso tormento de uma arbitrariedade judicial.
A razoabilidade tem sido amplamente aceita como critério de decidir17.
Uma decisão razoável18 pressupõe a ponderação de valores ínsitos aos princípios
que sustentam a decisão. Por outro lado, uma decisão razoável exige uma reflexão
debruçada aos argumentos da petição inicial, análise preliminar das provas, cotejo
das consequências do ato de julgar, seja na vida do autor, tratando-o com a
consideração que a Constituição lhe resguarda, seja quanto ao funcionamento e
afetação no orçamento público.
Isto pode resultar eventualmente em interferência nas políticas públicas
que tem como beneficiários centenas de milhares de pessoas. Estas são apenas
algumas das fundamentações possíveis, por mais que qualquer um de nós não
concorde com grande parte delas.
A razoabilidade de uma decisão é a cerviz condutora que leva à
racionalidade de uma deliberação, é a ponte que faz a ligação lógica entre as
pretensões judiciais e a decisão do juiz. Da pesquisa realizada junto às varas de
fazenda de Belém se observa que em todas, há um número considerável de decisões
em que apesar da farta utilização de normas a respeito do direito à saúde e dos
direitos humanos positivados como fundamento do Estado de direito, não existe um
cotejo destes com os fatos.
O enfrentamento do fato da vida é matéria descritiva contida no
relatório, existindo uma forma de hiato, uma fenda que separa as cavidades que
deveriam estar juntas. As decisões relatam as circunstâncias e passa-se à análise
da lei ou da Constituição Federal em tese, o que leva via de regra, à concessão de
17
Por todos, Recurso em Habeas Corpus nº 46.915/SC (2014/0078894-3), 6ª Turma do STJ, Rel.
Sebastião Reis Júnior. j. 14.10.2014, unânime, DJe 06.11.2014.
18
Alguns Tribunais como o Superior Tribunal de Justiça consideram a razoabilidade um princípio,
servindo de objeto de valoração ponderada.
121
antecipação dos efeitos da tutela de mérito com base no discurso normativo e não
na cogitação de que estes discursos deveriam fundamentar uma decisão que
demonstraria a violação legal, e mais ainda, a razão pelas quais deveria ser
concedida naquele caso específico a tutela de urgência.
Verifica-se dos dados coletados que muitas decisões têm como
fundamentação os mesmos argumentos teóricos como se cada pretensão não
exigisse uma conformação jurídica própria ao caso concreto, parecendo que a
técnica da argumentação padrão estivesse apenas aguardando uma moldura fática
que lhe servisse de pano de fundo.
Em um dos casos analisados o próprio dispositivo estava contaminado
com a troca de um pedido que havia sido analisado em outro processo, ou seja, o
pedido era para o fornecimento de medicamento e a fundamentação era de
fornecimento de fraldas descartáveis. É neste ponto que começa uma jornada no
sentido de questionar esta forma de atuar do juiz, pois o que se espera é mais do
que direcionar seu raciocínio para uma combinação estreita de verificação dos fatos
com a descoberta do melhor direito.
Há uma severa discussão a respeito da atuação dos juízes nos casos
relacionados à saúde e cada vez mais as demandas relacionadas a esta matéria
invadem os portões dos fóruns cíveis. Não parece ser uma tarefa muito fácil decidir
sobre a vida de um paciente quando há um pedido de tutela de urgência.
Entretanto, em diversos processos pesquisados há concessão de
liminares sem nenhum questionamento técnico, ou seja, o juiz se mostra impotente
em discutir a petição inicial pelo simples fato de que não há a quem recorrer para
tirar qualquer dúvida relacionada à área da saúde19 ou de medicamentos essenciais,
19
No Estado do Pará foi criado em o CIRADS – Comitê Interinstitucional de Resolução Administrativa
de Demandas da Saúde, tendo como objetivo de acordo com a cláusula primeira do Acordo de
Cooperação Técnica n° 04/2014, o CIRADS atuará no atendimento administrativo do pleito, evitando
a sua judicialização, assim como nos tratamentos de saúde (fornecimento de medicamentos,
insumos, materiais e serviços de saúde) que esteja previsto nas competências do SUS e não tenha
sido prestado, bem como naquelas hipóteses em que, por algum motivo, o médico indicou tratamento
diverso dos que são oferecidos pelo SUS. Constitui ainda objetivo do CIRADS a apresentação de
propostas, perante as autoridades competentes, tendentes ao aperfeiçoamento do SUS. O Comitê é
formado pelo Tribunal de Justiça do Pará, SESPA (Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará),
SESMA (Secretaria Municipal de Saúde de Belém), SEMAJ (Secretaria Municipal de Assuntos
Jurídicos), Justiça Federal, Ministério Público Estadual, Defensoria Pública Estadual e da União,
Procuradoria do Estado do Pará, Procuradoria da República, Advocacia da União no Estado do Pará
e COSEMES (Colégio de Secretários Municipais de Saúde do Estado do Pará.)
122
20
GARAPON (1996, p.82).
123
Dizer que a medida deve ser concedida porque o paciente vai morrer
não é mais que uma conclusão de caráter prático, quando na realidade há outras
perguntas a serem feitas como: tem o paciente o direito de receber medicamentos
em detrimento dos outros? É merecedor disto ou esta pergunta não cabe? Deve-se
preservar o bem-estar da comunidade de forma utilitarista ou a sociedade se
transformará em um lugar melhor para viver se esta vida for salva?
Isto não significa que o juiz deva ser submetido a um questionário ou
que todas as perguntas sejam respondidas em sua decisão, entretanto, o julgador
deve deixar claro que está julgando porque o direito lhe oferece estas opções e que
julgaria diferente se outras premissas justificadoras lhes fossem acrescentadas. Esta
justificativa que vincula o juiz é a questão central deste trabalho.
Em que pese haver um certo consenso de que o Poder Judiciário deve
ser célere e prático, isto não pode ser confundido com uma decisão leviana fruto de
uma reflexão prática e não moral. Isto parece ser fundamental para a democracia
que conhecemos. Logo, a decisão enfrentando desacordos morais deve
evidentemente ser viável e exequível e não uma simples opção por resultados
práticos.
Assimilar um juiz com argumentos instrumentais – no sentido de
visualizar o que é mais prático - é desarmar a democracia de um de seus bens mais
preciosos: o debate de ideias, sem os quais a vida não se transforma e o mundo não
gira, sem prejuízo de que poderes ilimitados sejam concedidos ao julgador.
É possível que um juiz filósofo resolvesse todas estas questões?
Dworkin nos apresentou Hárcules, um juiz imaginário, de capacidade e paciência
sobre-humanas, que aceita o direito como integridade (2003, pg. 287). Hércules
passa então a decidir os mais diversos casos que lhe eram submetidos por Dworkin
para demonstrar o raciocínio jurídico viável e necessário para a garantia do que
chamou de integridade do direito ou seja:
Aqui cede o individualismo a uma nova ideia de que o ser humano deve
ter como lei o imperativo categórico de tratar o ser humano como se fosse a si
próprio e assim considerar a fundamentalidade dos direitos individuais, não mais
cuidando apenas de garantir direitos próprios, porém, de tratá-los como universais.
Quando o Estado nega a assistência à saúde ou deixa de fornecer
medicamentos imprescindíveis à vida do paciente, expõe o cidadão a sua realidade
periférica do sistema social, entretanto, é de se perguntar se a negação de um
medicamento fora do protocolo estatal a custo altíssimo também não viola os direitos
fundamentais – do outro – que não participa diretamente do processo, incluindo-se
neste caso o ente federativo que se vê obrigado a arcar com as despesas
orçamentárias de uma decisão unilateral, sem oitiva da pessoa jurídica de direito
público em um primeiro momento.
Assim sendo, pertencendo a titularidade do direito coletivo a todos os
membros da sociedade indistintamente seria uma fundamentação válida qualquer
outra que não observasse o bem-estar geral e o que fosse melhor para a comunidade
como um todo? Decisões em sentido contrário colocam em risco o desenvolvimento
da sociedade em geral? Decisões em casos específicos e individuais exigem do juiz
uma decisão mais fundamentada ou não existem fundamentos plausíveis e
razoáveis para tal? O desenvolvimento acolhe argumentos fundados em direito
individual?
Todas estas questões deveriam ser enfrentadas pelo juiz cada vez que
um caso concreto lhe chegasse às mãos Segundo PeetPEET e HartwickARTWICK
o significado de desenvolvimento não pode ser compreendido sem as diversas
concepções de saúde:
126
21
Este era o pensamento do filósofo, embora não desprezasse o Poder Judiciário. “Dos três poderes
dos quais falamos o judiciário é, de algum modo nulo [...]. Porém os juízes da nação não são,
conforme já dissemos, mais que a boca que pronuncia as palavras da lei, seres inanimados que desta
lei não podem moderar nem a força e nem o rigor. (Monstequieu, 2002, pg. 169;172).
128
22
GARAPON (1999, pg. 41)
129
economia e por isto era uma solução às avessas. O foco era a doença e não
condições de higidezígidas permissivas da construção de um amplo conceito de
desenvolvimento.
que possa oferecer- restando-lhe apena a árdua tarefa de extrair da letra da lei
princípios que visem a promoção da saúde em sentido amplo, onde se encontram a
dispensação de medicamentos essenciais. Quanto aos outros agravos, se está
diante de um mistério insolúvel; a que tipo de agravos à saúde se referiu o
constituinte? Se o agravo é dano, ofensa ou piora no estado de saúde do cidadão
não seriam palavras e providências redundantes que não oferecem ao juiz
parâmetros de decisão? Ou seria uma porta para exibicionismos judiciais?
Federal de 1988 prevê ainda em seu artigo 19723 políticas regulatórias que incluem
no gênero saúde a espécie medicamentos, devendo o setor sofrer a regulamentação
necessária pelo poder público.
23
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público
dispor, nos termos da lei, cabendo interpretação sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou
jurídica de direito privado
24
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada
e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
25
Publicação do Ministério da Saúde com a relação de medicamentos usados no combate às doenças
mais comuns que acometem a população brasileira. Tem caráter nacional, orientando prescrições
médicas no direcionamento da produção de fármacos. A lista é regularmente atualizada em relação
aos fármacos utilizados no SUS. A relação se baseia em políticas nacionais de saúde, visando
segurança, eficácia terapêutica e qualidade das drogas ministradas. Contempla ainda medicamentos
e insumos ofertados pelos SUS através do Comprovante Básico de Assistência Farmacêutica,
Componente Estratégico de Assistência Farmacêutica, Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica, bem como de alguns medicamentos ministrados durante a internação hospitalar. Foi
estabelecida a lista de fármacos e insumos de caráter nacional através da Portaria MS/GM n° 533,
de 28 de março de 2012, tendo sido elaborada a partir dos critérios constantes do Decreto n° 7.508,
de 28 de junho de 2011 e estruturada nos termos da Resolução n°533 /CIT, de 17 de janeiro de 2012.
135
política pública com origem na própria Constituição Federal e não pode ser vista
como uma ação voltada para ações governamentais apenas porque se encontra no
texto constitucional. Desta forma, as ações de saúde não são ações exclusivamente
federais, mas integradas entre os diversos entes federativos em regime de
cooperação com a participação da comunidade.
chaves, vieira, reis (2008, pg. 172) afirmam que o primeiro combate à
epidemia de HIV/AIDS no Brasil foi caracterizado pela atuação da comunidade gay
em São Paulo, em 1983, organizada junto a Técnicos da Secretaria de Saúde
daquele Estado. Em 1996, cria-se o Programa Nacional de AIDS, sendo que a
discriminação, o preconceito, o isolamento, a desinformação entre outros fatores,
impulsionaram os pacientes e outras pessoas envolvidas direta ou indiretamente
com a epidemia à criação de organizações não governamentais, como o Grupo de
Apoio a Prevenção de AIDS (GAPA) em São Paulo e Associação Brasileira
Interdisciplinar de AIDS (ABIA) no Rio de Janeiro.
pg.220/221). Esses foram os primeiros passos para que êxitos e avanços fossem
obtidos no combate ao HIV no Brasil. O primeiro medicamento utilizado no
tratamento foi o AZT, sendo substituído depois por uma terapia combinada chamada
de coquetel. Em 1996, conhecida como Lei Sarney, a lei 9.313/9626 garantiu o
fornecimento gratuito de medicamentos para os portadores do vírus HIV.
26
Lei nº 9.313 DE 13/ 11/ 1996 - DOU 14/11/1996
Dispõe sobre a distribuição gratuita de medicamentos aos portadores do HIV e doentes de AIDS.
§ 2º A padronização de terapias deverá ser revista e republicada anualmente, ou sempre que se fizer
necessário, para se adequar ao conhecimento científico atualizado e á disponibilidade de novos
medicamentos no mercado.
Art. 2º As despesas decorrentes da implementação desta Lei serão financiadas com recursos do
orçamento da Seguridade Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
conforme regulamento.
138
Uma decisão até pode, e por vezes deve ser, uma deliberação pautada
em argumentos de política, entretanto, não pode o juiz logo em seguida, optar por
princípios que invalidam o argumento anterior, sob pena de se coocar nas mãos do
juiz em posição de protagonizar um capítulo final com uma decisão aleatória, profana
e discutível, sem embaraço de uma revisão de sua posição moral.
Tudo isto não significa dizer que à luz de uma reflexão razoável o juiz
não posa mudar de ideia, significa apenas que mudando de ideia também terá de
fundamentar suas novas premissas jurídicas.
27
“Os empregados do réu haviam rompido o cabo elétrico pertencente a uma companhia de energia
elétrica ao autor da ação, e a fábrica deste foi fechada enquanto o cabo estava sendo consertado. O
tribunal tinha de decidir se permitiria ou não que o demandante fosse indenizado por perda econômica
decorrentes de dano à propriedade alheia cometidos por negligência. O tribunal poderia ter chegado
a sua decisão perguntando se uma empresa na posição do demandante tinha direito a uma
indenização – o que é uma questão de princípio – ou se seria economicamente sensato repartir a
responsabilidade pelos acidentes na forma sugerida pelo demandante – o que é uma questão de
política” (Dworkin, 2011, pg. 131)
146
veja protegido por uma argumentação judicial sólida, sendo o que nos interessa
nesta pesquisa.
28
” A mídia desperta a ilusão da democracia direta, quer dizer, o sonho de um acesso à verdade, livre
de qualquer mediação[...].Quanto às partes, elas jogam alternadamente a imprensa contra a justiça,
e a justiça contra a imprensa, de acordo com seus interesses, como se a democracia lhes oferecesse
atualmente duas instâncias para se defenderem, um lugar institucionalizado e um “não-lugar”. De um
jornalismo situado em relação à instituição, passamos a um jornalismo de vanguarda. A mídia, numa
espécie de atitude “autista”, procura desempenhar todos os papéis, não se contentando em informar,
mas querendo intervir diretamente no curso dos acontecimentos[...]a igualdade de armas não existe
na mídia” (Garapon, 1996, pgs. 75;78/79).
147
mesmos lançados mão em outros tipos de demandas, sendo que além dos critérios
utilizados pela lei como a verossimilhança da alegação, prova inequívoca do fato
arrazoado ou ainda a presença de fumaça do bom direito e perigo na demora do
provimento das liminares em matéria de medicamentos essenciais é o da urgência.
O próprio Código de Processo Civil de 2015 ao tratar das tutelas de urgência em seu
artigo 30029, espécie de tutela provisória, traz no núcleo do gênero, a afirmação de
que a tutela provisória poderá ser concedida em caso de urgência30.
Nas decisões pesquisadas há um notório abandono deste critério. A
urgência pode ser caracterizada como um fato iminente de desfecho violador de
direitos fundamentais, ou ainda uma necessidade inadiável como o afastamento de
condições que ponha em risco a vida do autor ou ainda a impreterível e indispensável
decisão liminar para o exercício de direitos sem os quais a vida se torna desumana
e insuportável. Entretanto, o que se observou, foi a concessão de diversas liminares
apenas sob o pálio de tratar-se de matéria afeta a medicamentos.
29
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou
fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução
ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.
30 Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.
149
Como disse antes, cada caso traz sua natureza idiossincrática e a partir
daí o juiz deve analisá-lo com as peculiaridades que a pretensão do autor busca.
Entretanto, é preciso notar que a fundamentação da deliberação judicial deve estar
alicerçada na análise do fato concreto, que estando violado em sua essência e na
fundamentalidade do direito exige que os valores da sociedade pautados em
princípios normativos sejam sopesados por parte do magistrado.
Isto significa que qualquer que seja a tese que venha a servir de base
para a fundamentação judicial deve conter elementos persuasivos de coerência
entre o fato e o fundamento do direito que o protege, pouco importando que se
considere a norma positiva arrimo dos argumentos judiciais ou que o direito seja
encontrado em princípios normativos capazes de atuar de maneira eficaz no mundo
em que vivemos.
Uma tentação muito mais difundida do que o espírito partidário, paira em cada
um deles: a de inovar, de mudar a jurisprudência, de tornar-se o campeão de tal liberdade
ou tal direito. Será preciso ver aí um ciúme em relação ao poder? E supor uma paixão
partidária? Não se trataria mais do desejo humano de marcar sua época, de deixar sua
153
marca? Mas o risco seria, então, o de conduzir a jurisprudência a um superlance que ignora
a realidade social e despreza as restrições econômicas (1996, p.93).
receita médica sem nenhum questionamento por parte do juiz, nenhuma palavra a
respeito da moléstia da autora, apenas parágrafos e parágrafos de fundamentação
das regras de direitos fundamentais. Este tipo de decisão transforma o juiz em um
juiz sensível, confirmando o descrédito da política desacreditada e dos mecanismos
de distribuição equitativa de serviços. Isto não resolve o problema da parte, pois seu
problema é outro.
31
Conhecida frase de JEAN-PAUL CHARLES AYMARD SARTRE, (1905-1980) filósofo e literato
francês, que afirmou “Com efeito, tudo é permitido, se Deus não existe, fica, o homem, por
conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se
pegue. Antes de mais nada, não há desculpas para ele. ”(O existencialismo é um humanismo. Lisboa,
Presença, s/d, p. 226)
160
com igual consideração aos demais membros da sociedade, tendo sido colocada
nesta situação por uma condição arbitrária, bem como, qual o valor que se deve dar
à senectude em seu momento mais fraco para que tenhamos uma sociedade mais
justa?
ser corrigido a tempo, embora se tornasse inviável o manejo do Agravo ou que fosse
concedido o efeito suspensivo imediatamente pelo fato de que não havia
fundamentação alguma na decisão.
É verdade que o juiz poderia corrigir o erro na fundamentação da
sentença de mérito, afinal não há nulidade sem prejuízo, mas neste caso não haveria
mesmo prejuízo? Se ao juiz cabe optar fundamentadamente entre argumentos de
princípio e argumentos de política, tratando-se neste caso de decidir se o Estado
deve fornecer medicamentos não relacionados no RENAME, os argumentos pela
concessão ou denegação do pedido são essenciais para a compreensão do
raciocínio jurídico que dá substrato à decisão.
Sendo assim, negar a fundamentação da decisão é negar a
possibilidade que esta seja debatida em grau de recurso, sendo que isto só é
possível a partir dos elementos da petição inicial em flagrante abandono da
determinação constitucional de obrigatoriedade de fundamentação das decisões
judiciais ou será que a Constituição deve se curvar a um erro material?
Fundamentar é possibilitar ao requerido o direito de contra argumentar,
de atuar em uma linha de persuasão que convença a instância revisora do direito
alegado, afinal, ninguém pode recorrer de uma petição inicial, a parte não pode
manejar um recurso contra um dispositivo desfundamentado, pois premissas são
confrontadas com argumentos lógicos, concatenados a partir de exposição de
motivos que procurem superar os elementos fundamentais delineados na decisão
judicial. Não há razoabilidade que permita se contrapor a uma decisão de concessão
de medicamentos fora da lista do RENAME tendo como fundamento o fornecimento
de fraldas.
Aqui, exatamente neste ponto, o fato se torna relevante para o direito.
Não se trata de uma questão banal que pouca importância tenha para o fato
concreto, embora este possa necessitar de uma medida urgente para não fazer
perecer o bem da vida, ou a própria vida. Isto significa deixar para trás as razões que
levaram ao fornecimento de medicamento fora da lista do RENAME, ou ainda quais
os alicerces normativos que permitiram ou convenceram o juiz a tomar esta decisão
e de que forma a justificativa pode se tornar um precedente aceitável à medida que
outros casos certamente surgirão de maneira similar.
Tudo isto importa em consequências para o direito que são relevantes
enquanto possibilidade de defesa à parte contrária, com obediência ao devido
169
processo legal e direito à ampla defesa, afinal, coerência normativa significa também
a compreensão dos fatos e sua interpretação coesa, íntegra, trabalhada no raciocínio
jurídico cujo horizonte é a realidade da vida, ou neste caso, na possibilidade de que
ela se vá.
Daí que o CPC de 1973 afirma no parágrafo 1° do artigo 273 que “na
decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do
seu convencimento”, providência esta que se repete no artigo 298 do CPC de 2015
nos seguintes termos: “na decisão que conceder, negar, modificar ou revogar a tutela
provisória, o juiz motivará seu convencimento de modo claro e preciso”, tudo em
consonância com o artigo 93, IX da Constituição Federal de 1988 ao afirmar que
“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade...”32
As razões lançadas em uma decisão judicial, ainda que provisória, não
são meras formalidades obrigatórias em uma antecipação dos efeitos de tutela de
mérito ou liminar, sentenças e acórdãos sobrevivem pelas razões de decidir e não
pela simples ementa, e de tão importante, tal afirmativa remete à exigência
constitucional de que todas as decisões do Poder Judiciário serão fundamentadas.
Não basta serem publicadas, é necessário que sejam divulgadas suas razões sob
pena da álea ser a condutora do direito, da vida ou de ambos.
32
O Código de Processo Civil de 2015 prevê os casos em que a decisão será considerada não-
fundamentada. É o caso de se perguntar: serão os únicos? “Art. 489. São elementos essenciais
da sentença:
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar
a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.
170
oitiva prévia do requerido podendo conceder a liminar sem justificação prévia 33.
Note-se que que o parágrafo 3º do artigo 461 do CPC de 1973 afirma expressamente
que o juiz poderá rever ou modificar sua decisão desde que devidamente
fundamentada. Permanece no CPC de 2015 a proibição de tutelas antecipadas
irreversíveis. É o que afirma o artigo 300, § 3º do citado Código, sendo que a tutela
de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.
É o caso da concessão de medicamentos? O parágrafo 2º do mesmo
artigo dispensa caução do hipossuficiente, sem dúvida boa parte dos pacientes
constantes da pesquisa se encontravam nesta situação, inclusive utilizando este fato
como razão de pedir. Já o artigo 303 e incisos do CPC de 2015 que trata do
procedimento da tutela antecipada requerida em caráter antecedente, afirma que o
autor poderá aditar a petição inicial complementando sua argumentação, juntando
novos documentos e confirmando o pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em
outro prazo maior que o juiz fixar34. Fica, entretanto, condicionado a complementar
a petição inicial sob pena de indeferimento da petição, salvo, se o juiz conceder outro
prazo ou determinar a emenda da inicial.
De tudo isto, o que temos é que não há vedação para a concessão de
antecipação dos efeitos de tutela de mérito inaudita altera pars, salvo nos casos de
Mandado de Segurança Coletivo e Ação Civil Pública, e mais, o hipossuficiente não
precisará caucionar e tampouco esperar a confecção de uma petição inicial completa
de documentos com toda a prova necessária do alegado, porém, precisará apenas
que demonstre a urgência, podendo aditar depois seu pedido.
É possível imaginar os entraves que um pleito judicial de urgência sofre
para sua concessão. Não há dúvidas que a iminência da morte não espera uma
petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela
final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao
resultado útil do processo.
§ 1º Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo:
I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a juntada de
novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro prazo
maior que o juiz fixar;
172
necessários à defesa de seus interesses, seja pelo fato de uma das partes ter de
suportar as consequências de uma decisão sem que estejam definitivamente claras
as premissas de seu julgamento.
Assim, o CPC 2015 quando afirma que a parte deve complementar
seus argumentos é no sentido de que deve ser ratificada a decisão, não que o juiz
não tenha que fundamentar sua deliberação desde o primeiro momento, sendo pelo
contrário, de grande importância a fundamentação judicial neste primeiro momento,
que será o crivo que vai separar pedidos sólidos de pedidos impertinentes, afinal de
tudo o que foi dito, não se pode esquecer que a ausência de argumentos judiciais,
seja pela simples inexistência destes, seja por premissas equivocadas, errôneas ou
inexistentes, leva a uma consequência grave para a vida das pessoas, para o direito
e para o procedimento cuja tutela antecipada lhe pertence: a nulidade.
É isto o que prevê a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 93,
inciso IX quando afirma que “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade...”
Não à toa, a maior Carta jurídica do país, cominou pena de nulidade
para julgamentos sem fundamentaçãodesfundamentados. A sua anulação se
estende às consequências das decisões judiciais sem alicerce e estas estariam sob
o manto da inconstitucionalidade. A anulação do despacho deficiente - que seria
objeto de um recurso cujo pedido seria a anulação da deliberação, postergando o
debate central, aquele que interessa às partes - traria na vida das pessoas
consequências imprevisíveis.
A Constituição Federal não facultou tal providência, não deixou ao
alvedrio das partes o poder de deliberar se há nulidade ou não, entretanto, deixou
consignado o mandamento futuro em que os juízes estão impedidos de decidir sem
que o pressuposto da decisão não seja fruto do processo democrático, ou seja,
transparente e fundamentado.
Logo, a decisão que em nada fundamenta e apenas decide é nula de
pleno direito, a decisão que parte de premissas fáticas equivocadas, como a que
analisou o pedido de fraldas e concedeu medicamentos ou aquela que considerou
pertinentes norma inaplicável ao caso sem que dissesse qual o fato da vida estava
provocando a constrição judicial, são todas nulas de pleno direito. É a Constituição
Federal de 1988 quem o diz, é a democracia que está em jogo e não em debate,
quem afirma que isto é pouco, transfere o direito que tem de se submeter a
174
Quais as razões que levam o juiz a decidir que o réu em ação ordinária
de concessão de medicamentos – neste caso o poder público – é quem deve
responder pelos custos do descumprimento? A quem deve ser revertida a multa?
São perguntas de fácil compreensão e de alcance limitado. Cabe ao erário responder
com o dinheiro do contribuinte ao não cumprimento de ordens judiciais por parte de
seus agentes? Tais respostas devem ser fundamentadas de maneira simples, sem
maiores dificuldades.
Quanto ao arbitramento da multa, parece residir o grande problema na
cominação dos valores a serem arbitrados. Arbítrio parece ser a palavra mais
adequada ao caso. Cada juiz estabelece um valor aleatório e o que é mais grave
sem qualquer fundamentação, o que significa a grosso modo, que dois servidores
descumpridores de decisões judiciais idênticas poderão sofrer sanções diferentes
pelo mesmo fato.
A fundamentação que se espera neste caso diz respeito ao alcance da
decisão, ao prejuízo que pode causar ao paciente, ao fato de desobedecer
injustificadamente aos preceitos normativos que regulam a autoridade do Poder
Judiciário. Tais multas com valores arbitrários, como tudo o que é aleatório padecem
de vício de origem, ou seja, a falta de fundamentação que exige a Constituição
Federal de 1988. As consequências são facilmente identificadas.
Ao saber que tais multas podem ser desconstituídas, a ré primeiro
recorre para depois cumprir a decisão. Aposta na anulação da decisão judicial ou
pior, na diminuição da multa sob o pálio da falta de razoabilidade de seu
arbitramento. É possível sim uma fundamentação razoável no quantum da multa,
desde que seja possível entendê-la como eficaz a seus propósitos e razoável em
suas premissas.
Por fim se a multa for estabelecida contra o poder público a parte será
penalizada duas vezes. A primeira pela desobediência e a segunda por pagar por
intermédio do erário a multa que lhe será revertida, ou seja, receberá do próprio bolso
a multa imposta em uma espécie de redistribuição circular de recursos em óbvio
aviltamento da inteligência da lei.
Desta forma, o agente que deu causa ao descumprimento da ordem
judicial é que deve arcar com suas consequências, inclusive o pagamento de multa,
desde que em patamares razoáveis e compatíveis com a possibilidade de
cumprimento, em face das condições pessoais do servidor renitente. Desta forma,
177
força da norma é o mesmo que impor a liberdade por decreto. É uma quimera, um
sonho, um desejo inconfessável de fazer justiça literalmente com os próprios dedos.
Então quais seriam as razões que levariam o juiz a decidir desta forma?
Sobram hipóteses guardadas pela consciência do juiz, quiçá não guardadas. Uma
delas é o de fazer favor com a democracia, é um arroubo ético-religioso que
pressiona o juiz a partir da pergunta: por que não fazer o bem? Por que não aliviar a
consciência de pecados não purgados diminuindo a dor do paciente? Não há
fundamentação para isto e não há argumento que sustente esta veleidade. Ninguém
pode se dar ao luxo do devaneio de criar concepções personalíssimas de justiça,
nem o juiz.
A outra hipótese é o desconhecimento das doutrinas que podem lhes
emprestar um suporte teórico na hora de decidir e neste aspecto não é de todos
desconhecido que não há programas específicos para o detalhamento da doutrina a
respeito, embora a que mais se utilizou nestes casos é a que se relacionou com
direitos fundamentais e dignidade da pessoa humana. Decisões que tiveram este
suporte se mostraram com premissas fortes, ainda que o fato devesse ser analisado
com mais acuidade.
A terceira hipótese é o desconhecimento do juiz a respeito de questões
médico-farmacológicas. Neste ponto o juiz se mostra um ser solitário. Talvez porque
todo o esforço institucional localizado e realizado até aqui pelo CNJ e pelo TJE-Pa
não contem com juízes que estão diretamente expostos ao tema, não oferecendo
soluções práticas para deliberações importantes e que exigem uma decisão célere
por parte do juiz.
Como caminhar em um pântano cuja tessitura é impossível prever?
Talvez seja melhor não prever, talvez seja melhor se livrar do peso de um risco de
morte, considerando-se que o ente federativo pode se defender, não considerando
o juiz o efeito multiplicador de sua decisão, mais danosa em caso de improvimento
final da pretensão do autor, o que poderia ser resolvido com uma fundamentação
clara, mas aguda.
Assim, a falta de fundamentação pode ter suas razões práticas ou
simplesmente um desejo de não fundamentar. Em qualquer caso é a democracia
que está em risco, ou porque afiança complacências ou porque entrega soluções
igualitárias nas mãos de encantadores de sonhos.
179
sociedade que se firma como autora de si mesma e se representa por seus agentes
republicanos. O grande artista é o indivíduo. Traduzir seus sentimentos e suas
necessidades – onde o direito é de fundamental importância - é missão menos da
empatia e mais do contato sinestésico entre as instituições e a tessitura que lhe dá
suporte, a sociedade.
Este trabalho, conforme já dito antes, não busca discutir o mérito das
decisões judiciais em sua fase liminar, mas se este mérito está sendo discutido de
maneira tal, que não represente a vontade arbitrária do juiz e sim a vontade do juiz
calcada nos princípios que oferecem uma possibilidade real de que o direito possa
fazer alguma diferença na vida das pessoas.
35
Solipsismo. Sm ‘(Filosofia) doutrina segunda a qual a única realidade no mundo é o eu’ . 1899. Do latim
sõlus ‘só’ + lat. Ipse ‘o próprio’ + sufixo –ismo, por via erudita. (Cunha, 2010, pg. 601)
183
É necessário que o juiz seja livre para decidir, entretanto, deve extrair
seus argumentos a partir de interpretação que encontre guarida no direito, aqui
considerado também a aplicação de princípios normativos. O solipsismo era
característica dos soberanos que decidiam pelo arbítrio de suas consciências
eivadas de preconceitos formulados no curso da vida, considerados aqui sua
experiência em campos diversos de sua vivência.
foi preciso trazer tais homens públicos para a realidade do dia-a-dia. Não se trata de
uma reaproximação da sociedade, mas.de uma verdadeira aproximação histórica,
afinal, segundo HolandaOLANDA, ao cuidar da situação social do homem público de
início do século XIX:
”
186
Esta realidade se mostrou com mudanças pontuais, não mais que isto.
Expressões como o Judiciário tem de se aproximar da sociedade são expressões
que mostram um Poder Judiciário superior, além da comunidade, vendo a sociedade
de fora, encapsulado no tempo de um templo cujos sacrifícios eram voluntariamente
ofertados pela sociedade, lá fora.
Contra tal argumento pesa a teoria de que nenhum juiz pode perder
sua identidade cultural, entretanto, o que se espera é que determinada decisão não
esteja vinculada a um preconceito excludente, a um preconceito impeditivo de
realização dos direitos fundamentais.
190
Deste ponto de vista, não é cabível que alguém julgue desta ou daquela
forma a transfusão de sangue das testemunhas de Jeová apenas porque pensa de
determinada maneira desde que se entende por gente, ou que pareça absurda a
interpretação do texto - comum à outras religiões – e da versão dada pelas
testemunhas de Jeová que respalda a proibição da transfusão de sangue36. O ato
de vontade do juiz é um ato de razão política, não pode ser um ato privado, do
mesmo modo que julgar ações de troca de sexo, casamento homossexual, o barulho
que alguns protestantes fazem, ou ainda se um terreiro de candomblé pode funcionar
como estabelecimento religioso, ou ainda se uma procissão católica paralisa o
trânsito, não pode exigir do juiz, apenas um posicionamento de sua própria vontade
e sim da vontade do Estado. Segundo RawlsAWLS:
Isto não significa que o juiz tenha de violar suas convicções, afinal,
todos têm direito a uma identidade e preferências de toda sorte na sociedade,
entretanto, um espaço privatizado não pode tomar o centro de razões políticas e
impor preferências que a Constituição Federal não albergou. Pouco importa a
consideração que o juiz tenha a respeito da pobreza, da riqueza, da misericórdia, do
perdão, da acepção de pessoas, da aversão a certas doenças. Se alguém pode
receber medicamentos, em nada importará a vontade do juiz, se não for
36 “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além dessas coisas
essenciais: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de
animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. (Livro
de Atos, capítulo 15, versículos 28 e 29”. Haveria neste caso mais de uma opção de decisão ao juiz
abstraindo-se os preconceitos? Entendo que sim diante da possibilidade de tratar-se de pessoa com
capacidade para autodeterminar-se e que o pedido fosse o de dispensa de tratamento específico –
transfusão sanguínea – e não de ortotanásia – pois ninguém iria a juízo pedir para morrer. Sem
presunção de apontar a “resposta certa”, o objetivo é demonstrar que o conceito de vida digna deverá
ser severamente discutido nos tribunais, abrindo-se diversas possibilidades aos juízes.
191
ainda, por sua consciência, mesmo que não haja uma definição em direito do que
isto significa? É possível que um estudo em particular defenda que a análise
orçamentária poderia ser impeditiva de efetivação de certos direitos da saúde,
entretanto, se tal argumento não estiver fincado em bases sólidas através de
conhecimentos extrajurídicos é amplamente possível e aceitável que prefira
desconsiderar as consequências econômicas para desincumbir-se do “risco de vida
alheia”. Isto é uma opção ética, não é uma escolha jurídica, é uma escolha prática,
é apenas uma escolha.
De tudo o que foi dito até aqui não se pode negar a importância das
decisões judicias liminares ordenadas, e sendo assim, as argumentações utilizadas
pelos juízes avultam em importância pois podem significar influência no sistema de
fornecimento de medicamentos, podem ainda significar o termo final entre uma
reparação de supressão de direitos fundamentais ou a vida do paciente. Muitas
destas decisões se estabilizam pelo fato de a situação tornar-se irreversível,
especialmente quando se trata de paciente pobre e que não teria como indenizar o
Estado em caso de sucumbência.
Poder Judiciário e seus juízes não podem mais deixar de lado a ideia de que uma
sociedade justa nem sempre se pauta na vontade da maioria.
Assim sendo, outra matéria doutrinária que não pode ser esquecida
para o avanço de fundamentações judiciais diz respeito à reserva do possível, esta,
segundo Canela Jr.:
Segundo SABINO:
Dworkin em respeito ao cidadão, ainda que exista somente uma pessoa sufocada
por pressões violadoras dos direitos por parte da maioria dominante.
Ademais, em contraposição aos argumentos de POSNER é necessário
que se diga que nem sempre a utilização de uma linguagem econômica significa que
a decisão tem como estrutura as consequências econômicas. Pode simplesmente
significar um argumento de política que leve em conta razões orçamentárias, ou
ainda pode significar argumentos de princípio se o juiz entender que o melhor para
a sociedade é proteger seus cidadãos de forma individual, visto que a economia que
produz riqueza e desenvolvimento deve ser a mesma que prioriza índices voltados
para a redistribuição de ativos na forma orçamentária em favor dos mais
necessitados de medicamentos essenciais.
Há uma esperança então no fim do túnel quanto a consciência da
necessidade de uma fundamentação em decisões judiciais em matéria de saúde?
Segundo Viana, Carvalho, Melo e Burgos:
ético. Os valores sociais não são considerados como tal, tendo em vista a urgência
do pedido, e neste caso, do ponto de vista do julgador, qual a necessidade de se
fundamentar uma decisão unânime, especialmente se o resultado prático é fazer o
bem? São muitas as decisões neste caminho a procurar um atalho em que caiba a
moralidade política como valor social.
Assim, incursionar pelas diversas possibilidades de argumentação
diante de uma crescente demanda de casos difíceis – como o acesso a
medicamentos essenciais – é mais do que um exercício, é uma necessidade. Há
uma exigência de que os juízes participem das discussões e que lhes sejam dadas
condições de cercar-se de especialistas no assunto. Esta providência é fundamental
para decisões justas, democráticas e confiáveis. A outra opção – se é que a temos
– é vermos o direito em matéria de fornecimento de medicamentos essenciais ser
governado por milícias de tirânicos bem-intencionados.
Este é um argumento pouco plausível, mas é um argumento.
204
CONCLUSÃO
O cotejo dos casos mostra que os juízes têm uma tendência a aceitar
normativamente os direitos fundamentais e a saúde como direito social, entretanto,
em boa parte das decisões, tais direitos positivados servem de fundamento para os
dispositivos e não como argumentos de aplicação do direito que exige a formulação
205
este processo democrático sofrer as dores de seu suplício que apenas é remediado
– ou medicamentado – a partir de mecanismos de controle e nulidade de tais atos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALEXY, Robert. Direto, Razão, Discurso. Estudos para a filosofia do direito. Ed.
Livraria do Advogado: Porto Alegre, 2010.
DWORKIN, Ronald. A Raposa e o Porco Espinho. Justiça e Valor. São Paulo: Ed.
Martins Fontes, 2014.
in: DIAS, Jean Carlos. GOMES, Marcus Alan de Melo (coord.). Direito e
Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed. Forense. São Paulo: Ed. Método, 2014.
GRAU, Eros Roberto. Por Que Tenho Medo Dos Juízes. A interpretação
/aplicação do direito e os princípios. Edição Refundida do ensaio e discurso
sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo: Ed. Malheiros, 2013.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Ed. Cia. das Letras,
1995.
KANT. Immanuel. Crítica da Razão Prática. São Paulo: Martins Fontes, 2011
KRIEGEL. Blandine Barret. L’Etat et Les Esclaves. Paris: Editions Payot, 1989.
MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2002.
<www.tjpa.jus.br/.../2151-Reunião-discute-ações-para-Cirads.xhtml> acessado em
30 de junho de 2015.
________________. Para além do direito. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2009.
RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2002.
SANDEL, Michael J. Justiça. O que é fazer a coisa certa. Rio de Janeiro: Ed.
Civilização Brasileira, 2014.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Ed.
Livraria do Advogado, 2007.
STRECK, Lenio Luiz. O que é isto – decido conforme minha consciência? Porto
Alegre: Ed. Livraria do Advogado, 2012.
VIANNA, Luiz Werneck. CARVALHO, Maria Alice Resende de. MELO, Manuel
Palacios Cunha. BURGOS, Marcelo Baumann. Corpo e Alma da Magistratura
Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Revan,1997.