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Belo Horizonte
2019
SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO
Belo Horizonte
2019
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
O tema do presente trabalho é João 3.14-21. Este texto apresenta grandes princípios da
teologia cristã. Todavia, há proposições contidas no texto que tem gerado confusões no que se
refere a interpretação. Uma das proposições apresentadas no texto, especificamente no verso
16 do Capítulo 3 de João, se refere ao amor de Deus para com o mundo e, por conseguinte, a
salvação dos pecadores.
Nos dias atuais, muitos cristãos tem tido dificuldades em interpretar este texto, uma
vez que os mesmos têm a tendência de defender a teologia que Deus amou e/ou salvou todas as
pessoas contidas na humanidade, não somente os eleitos. Diante disso, percebe-se a importância
de desenvolver uma exegese que colabore na resposta frente a tais interpretações errôneas do
texto acima referido.
Diante disso, este trabalho visará uma fiel interpretação da passagem tema da exegese.
5
EXTUDO CONTEXTUAL
1.1.1 Autor
O Evangelho de João não traz consigo o nome do seu autor de forma clara. Todavia, a
sua autoria foi muito defendida pelos primeiros teólogos e historiadores bíblicos na história da
Igreja. O Evangelho de João era conhecido e utilizado desde os tempos mais antigos. Os Pais
da Igreja Primitiva sustentaram de forma uniforme a autoria de João, como por exemplo: Inácio
de Antioquia, Justino Mártir, Antenágoras, entre outros.
Irineu, teólogo e um dos Pais da Igreja afirmou: “João, discípulo do Senhor, que
também tinha se reclinado em seu peito, publicou, ele mesmo, um evangelho durante o tempo
em que residiu em Éfeso na Ásia”.1 A afirmação de Irineu nos aponta, no que se refere a
evidência externa da autoria do Evangelho de João, que é verídico a autoria do Evangelho de
João, uma vez que Irineu foi um dos Pais da Igreja que viveu em um período próximo dos
relatos do Evangelho.
Outro argumento que defende que João é autor do quarto Evangelho é o seu
conhecimento profundo dos costumes judaicos. Apenas um judeu poderia apresentar de forma
tão detalhada as tradições judaicas. Sendo assim, a autoria delimita ainda mais a alguém que
esteve perto de Jesus e tinha um conhecimento profundo do judaísmo.
1.1.2 Leitor
No que se refere aos primeiros leitores do Evangelho de João, pode-se afirmar que se
baseava em judeus e gentios. Walter A. Elwel afirma: “João escreve para que seus leitores
1
IRINEU, Contra as Heresias, São Paulo: Paulus
6
creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e que por intermédio da fé tenham vida em seu
nome.”2
É evidente que o público alvo do Evangelho de João fosse gentio e judeus, uma vez que
a simplicidade do evangelho e o seu paralelismo com o Antigo Testamento se faz presente em
toda parte dos escritos. Com a afirmação de Walter A. Elwel, se torna ainda mais claro a
intenção de João em enviar sua carta aos gentios e judeus, uma vez que se pode perceber as
obras e a vida de Cristo sendo destacado em todo o Evangelho, objetivando a conversão dos
gentios e judeus.
Mais do que apresentar uma biografia de Jesus, João nos introduz em uma reflexão
acerca da pessoa do Filho de Deus e o modo como salvou os pecadores. Dessa forma, o
Evangelho de João nos imerge a um conteúdo de profunda reflexão referente a redenção dos
pecadores.
1.1.3 Data
No que se refere a datação dos escrito do Evangelho de João, A.W. Tozer afirma: “João
foi uma das últimas testemunhas oculares sobreviventes ao ministério terreno de Jesus. O
período provável para a escrita do Evangelho é 80-90 d.C.”.4 A data do Evangelho de João
aponta por A.W. Tozer é a mesma para a maioria dos historiadores ortodoxos.
Todavia, há muitos teólogos críticos que data o Evangelho de João ao ano de 180 d.C.,
enquanto outros datam os escritos para o ano 70 d.C. Porém, a hipótese de que o Evangelho de
João tenham sido escritos na última década do 1ª século é aceita quase universalmente, até
mesmo entre os teólogos críticos. Isso se deve a alguns achados arqueológicos que nos apontam
2
ELWEL, Walter. Descobrindo o Novo testamento, Editora Cultura Cristã, 2002.
3
Bíblia de Estudo Almeida.
4
Bíblia com anotações A.W. Tozer
7
para a datação tradicional. Por exemplo, o achado do fragmento de Rylands (um pedaço de
papiro dos escritos de João datado no máximo 130 d.C.) foi um dos achados arqueológicos que
forçaram os críticos a reconhecerem que a datação do Evangelho de João aconteceu antes de
130 d.C. Dessa forma, a datação tradicional dos escritos de João tem sido aceita pela maioria
dos historiadores e teólogos.
A cultura grega influenciou grande parte do Oriente Médio. Isso se deve a expansão do
império macedônico, liderado por Alexandre, o Grande. Muitas cidades e regiões passaram a
falar a língua grega e, inclusive, passaram a viver segundo os discursos que a filosofia grega
pregava.
O evangelista João inicia seus escritos dando uma resposta para as perguntas levantadas
anteriormente pelos pensadores gregos. João afirma que em Cristo, tanto o fundamento que
rege o universo (arché) quanto a razão (logos), fazem sentidos. Sendo direcionado para os
gentios, o Evangelho de João certamente foi impactante em seus termos.
Quando se analisa a cultura judaica, as palavras de João (“No princípio era o Verbo”)
ainda fazem mais sentido. Os judeus preservavam de forma cuidadosa o Antigo Testamento, e,
em várias passagens, o Antigo Testamento relaciona o termo “Palavra de Deus” (ou seja, o
Verbo) com a vida e a obra de Jesus, como por exemplo: Gn 1.3, Sl 19.8, Sl 33.6.
respondidas em Cristo. Dessa forma, João influencia o seu contexto histórico expondo a vida e
obra do Salvador.
1.1.5 Objetivo
O objetivo do Evangelho de João implica, assim como os demais evangelhos sinóticos,
é apresentar a obra e a vida de Cristo Jesus. Todavia, quando se estuda de forma mais profunda
os escritos do Evangelho de João, encontra-se aspectos peculiares referente ao seu objetivo.
O Evangelho de João busca a direcionar o leitor para crer em Cristo através de seus
milagres a obra salvadora. D.A. Carson diz: “O evangelho (de João) foi destinado a conduzir
seus leitores à fé em jesus Cristo como o Filho de Deus. O registro dos vários sinais se
destinava a produzir esse resultado”.5 João valoriza os milagres de jesus objetivando a crença
dos gentios e judeus no Senhor Jesus Cristo.
Em último aspecto que colabora com o objetivo principal, que é apresentar a vida e
obra de Jesus aos gentios e judeus, João revela Jesus sendo uma pessoa divina e humana. Ou
seja, o Messias prometido Filho de Deus e, ao mesmo tempo, humano e próximo dos gentios.
Donald Guthrie afirma: “Há evidência de que João manteve um equilíbrio entre o fato de Jesus
ter sido um homem real tanto quanto era Filho de Deus”.7
Desse modo, ao objetivar a fé dos gentios e judeus em Cristo Jesus, João utiliza vários
métodos para facilitar a compreensão de quem é Jesus e o que Ele fez para com os pecadores.
5
CARSON, D.A., Comentário Bíblico Vida Nova, 2009
6
Bíblia de Estudo Apologia Cristã, Editora CPAD, 2015
7
GUTHRIE, Donald, Teologia do Novo Testamento, Editora Cultura Cristã, 2011
9
a) Ao mundo (1.1-18)
b) Aos discípulos (1.19-2.12)
c) Aos judeus (2.13-3.36)
d) Aos samaritanos (4.1-54)
e) Aos líderes judeus (5.1-47)
f) Às multidões (6.1-71)
a) Moisés (7.1-8.11)
b) Abraão (8.12-59)
c) Quem é o Messias (9.1-10.42)
d) Seu miraculoso poder (11.1-12.36)
e) Sua autoridade vinda do Pai (12.37-50)
8
Bíblia de Estudo Wiersbe
10
Dialogando João 3.16 com o final do Evangelho, nota-se uma associação indireta com
o texto objeto da presente exegese. No capítulo 20 verso 31 diz: “Estes, porém, foram
registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
vida em seu nome”. João, após apontar em seu Evangelho a vinda de Cristo e o seu amor para
com o mundo, finaliza apontado para a “vida” que somente Cristo pode dar.
A passagem de João 3.16 se relaciona tanto com o início do Evangelho quanto o seu
fim, sendo um verso chave para uma melhor compreensão do contexto remoto do texto objeto
deste trabalho.
O texto objeto deste estudo expõe o amor de Deus para com os pecadores. Todavia, o
mesmo texto expõe a incredulidade daqueles que rejeitam a Cristo. É notório que o texto objeto
desta exegese é cercado de fé e incredulidade. No capítulo anterior é exposto a incredulidade
11
dos judeus no templo para com Jesus. Porém, no capítulo seguinte, é evidenciado a fé da mulher
samaritana. Sendo assim, o texto de João 3.14-21 se localiza, de forma providencial, em um
lugar bem estratégico, fazendo com que o leitor se aprofunde ainda mais na compreensão de
que Jesus é de fato o Cristo.
Em João 3.14 o texto diz: “E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto,
assim importa que o Filho do Homem seja levantado”. O texto acima descrito refere-se a
passagem de Números 21.9, que diz: “Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma
haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava”. Este
diálogo entre os texto evidencia que a “serpente de bronze” era um “tipo de Cristo” 9. Ou seja,
ao levantar uma “serpente de bronze”, Moisés estava sendo usado para apontar para Cristo, o
qual viria para salvar a “todo aquele que nele crê”.
Dialogando com o texto de João 3.16, a passagem de Isaías 9.6 ainda é mais claro em
sua associação no que se refere ao texto do presente trabalho. O profeta diz: “Porque um menino
nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. Neste texto, o
Antigo Testamento faz referência a filiação de Cristo, bem como a sua responsabilidade de
governar o mundo. Complementando este texto, Paulo afirma: “Mas Deus prova seu próprio
amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”.
Sendo assim, observa-se a harmonia entre o Antigo e o Novo Testamento no que se refere o
amor de Cristo descrito em João 3.16.
A passagem de João 3.21 afirma: “Quem pratica s verdade aproxima-se da luz, a fim
de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus”. O apóstolo Paulo vai reafirmar
que as boas obras praticadas provém, não de nós mesmo, mas de Deus, ele diz: “Mas pela graça
de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei
9
Bíblia de Estudo de Genebra
12
muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo”. Dessa forma,
Paulo reafirma o que Cristo já havia dito sobre as boas obras.
2 ESTUDO TEXTUAL
16 οὕτως γὰρ ἠγάπησεν ὁ θεὸς τὸν κόσμον, ὥστε τὸν υἱὸν τὸν μονογενῆ
ἔδωκεν ἵνα πᾶς ὁ πιστεύων εἰς αὐτὸν μὴ ἀπόληται ἀλλ' ἔχῃ ζωὴν αἰώνιον.
Tradução Literal: Assim pois amou o Deus o mundo que o filho o Unigênito/ único deu para
que todo o que cré em (para dentro/ em direção a ele) Ele não pereça, mas tenha vida eterna.
T. G10 16 οὕτως γὰρ ἠγάπησεν ὁ θεὸς τὸν κόσμον, ὥστε τὸν υἱὸν τὸν μονογενῆ
ἔδωκεν ἵνα πᾶς ὁ πιστεύων εἰς αὐτὸν μὴ ἀπόληται ἀλλ' ἔχῃ ζωὴν αἰώνιον
T. L11 16 Assim pois amou o Deus o mundo que o filho o Unigênito/ único deu para que todo
o que cré em (para dentro/ em direção a ele) Ele não pereça, mas tenha vida eterna.
10
Texto Grego
11
Tradução Literal
15
Almeida Revista e Corrigida (ARC): maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna.
Almeida Corrigida e Fiel (ACF): maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna.
Nova Versão Internacional (NVI): que deu o seu Filho Unigênito, para que todo
o que nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna.
Bíblia de Jerusalém (BJ): entregou o seu Filho único, para que todo o
que nele crê não pereça, mas tenha vida
eterna.
12
As Versões utilizadas na tabela de comparação, foram retiradas do software The Word Versão 5.0.0.1450
16
Segue a tabela com as principais diferenças e semelhanças de Jo 3:16, das versões acima
citadas:
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Após analisarmos as versões podemos concluir que:
• A versão do versículo analisada que se aproxima do texto original encontra-se na ARA,
porém, seguindo o texto Crítico de Westcott e Hort que representa 0,4% da aceitação
segundo os críticos textuais.
• Apesar de algumas variantes nos demais textos, estas podem produzir prejuízos ao
entendimento e significado proposto pelo autor original.
• Podemos notar a locução adverbial de intensidade: “de tal maneira” inserido nas
versões ARA, ARC, ACF, como também o adverbio de intensidade “Tanto” nas
versões NVI, TLH, BJ, TNM. Mas, não podem ser encontradas tais expressões no
texto original.
• Outra diferença encontrada na tradução está localizada no verbo “ωστε”, pois a Bíblia
de Jerusalém traduz esse verbo como “entregar”. Já as demais versões ARA, ARC,
ACF, NVI, TLH, TNM, traduziram o mesmo verbo “ωστε” como “Dar”, porém,
apesar destes verbos parecerem sinônimos, podemos encontrar diferença entre eles na
ideia linguística do Português, pois, o verbo “Dar” em seu significado mais restrito,
demonstrará a possessão daquele que está dando algo a alguém; já o verbo “entregar”,
tende a enfatizar o movimento da entrega, não deixando evidente a característica do
possuidor. Apesar de haver essa diferença entre os verbos, “Dar” e “Entregar”, conclui-
se que estas não trazem prejuízos ao entendimento.
• Outra diferença encontrada está no adjetivo “μονογενη” qualificando o substantivo
“υιον”. Nota-se que a BJ e TLH, optaram por traduzir o adjetivo “μονογενη” como
“único”, já as demais versões ARA, ARC, ACF, NVI, TNM, traduziram o adjetivo
“μονογενη” como “unigênito”. Todavia, conclui-se que o termo “unigênito” traz uma
forma mais adequada, pois aponta para a filiação ontológica de Cristo, ou seja, o eterno
gerado do Pai. Essa definição ganha mais força, quando analisada etimologicamente,
vejamos: do latim UNIGENITUS, “unus – único”, GENITUS, “gerado”, único gerado.
Conclui-se, porém, que, essa variante não traz prejuízo na interpretação ampla do texto,
18
digo quase, pois, sem o contexto anterior e posterior, analisando somente o v.16, o
verbo “morrer” poderá ser entendido pelo leitor como a impossibilidade de uma morte,
tanto física, quanto, espiritual, somente crendo em Cristo. Já, o termo “perecer”, ainda
que sem o contexto anterior e posterior, fica mais evidente o entendimento que, ainda
que fisicamente experimentemos dores e até morte, a fé em Cristo nos impedirá de
perecermos eternamente, nos levando ao propósito de Deus que é a vida eterna com
Ele.
• A versão que menos se aproxima do original encontra-se na TNM, contendo várias
variantes, em relação com as demais traduções, considerando somente a perícope
analisada nessa exegese.
Sendo assim, após a análise do v16 de João 3, conclui-se que, estas diferenças
encontradas “podem” descaracterizam o texto a ponto de comprometê-lo, total ou parcialmente.
οὕτως γὰρ ἠγάπησεν ὁ θεὸς τὸν κόσμον, ὥστε τὸν υἱὸν ⸆ τὸν μονογενῆ ἔδωκεν
ἵνα πᾶς ὁ πιστεύων εἰς αὐτὸν μὴ ἀπόληται ἀλλ' ἔχῃ ζωὴν αἰώνιον
20
(Assim pois amou o Deus o mundo que o filho o Unigênito/ único deu para que todo o que cré
em (para dentro/ em direção a ele) Ele não pereça, mas tenha vida eterna).
A tabela abaixo trará a lista de testemunhas que apoiam o texto de Westcott e Hort
P66,75ℵB,W (0.4%) NU || long omissions (2.1%) [homoioteleuton]
Essas diferenças encontradas representam a 2,5% dos manuscritos que omitem o termo αυτου.
porem, são esses manuscritos que a Sociedade Bíblica do Brasil utilizam em suas traduções.
οὕτως γὰρ ἠγάπησεν ὁ θεὸς τὸν κόσμον, ὥστε τὸν υἱὸν αυτου τὸν μονογενῆ
ἔδωκεν ἵνα πᾶς ὁ πιστεύων εἰς αὐτὸν μὴ ἀπόληται ἀλλ' ἔχῃ ζωὴν αἰώνιον. (Assim
pois amou o Deus o mundo que o filho dele o Unigênito/ único deu para que todo o que cré em
(para dentro/ em direção a ele) Ele não pereça, mas tenha vida eterna).
Presente em
f35 97,5% dos Família XIX
1700 majoritária
manuscritos
do evangelho
de João
CP complutência 1520
poliglota
presente em
HF 99,8% dos Hodges-Farstad 1985
1700
manuscritos
do evangelho
de joão
Presente em
RP 99,8% dos Robison- 2005
1700 Pierpont
manuscritos
do evangelho
de joão
e- Evangelho; Evangelho, a – Atos, c – Epístolas Católicas, p – Epístolas Paulinas, r –
Apocalipse.
Essas diferenças encontradas representam 97,5% dos manuscritos que contém o termo αυτου.
como o autor dessas palavras. Já nos versículos 13 ao 15, há um questionamento quanto as falas
serem, de fato, de Jesus. D.A. Carson citando Nicholson em seu livro O Comentário de João,
levanta a possibilidade de elas serem comentários do evangelista (D.A. Carson, 2007, Pág. 204).
Porém, esse argumento é refutado, pelo próprio autor em seu comentário, da seguinte forma:
Isso é improvável: o título ‘Filho do homem’ é tão caracteristicamente reservado para os lábios
de Jesus, como forma de identificar-se a si mesmo, que é impensável que ele terminasse antes
do versículo 15. (D.A. Carson, 2007, Pág. 204). Por outro lado, os versículos 16 ao 21 podem,
e devem ser considerado as reflexões de João. Vejamos: logo no V.s. 16 podemos ver a mudança
do discurso da primeira para a terceira pessoa ao utilizar o pronome demonstrativo “seu”, nos
possibilitando identificar o narrador. Outra característica importante a ser considerada, que nos
leva a identificar João como o autor dessas palavras, está ligada a expressão filho unigênito,
essa expressão não pode ser encontrada em nenhum outro evangelho ou epístola, mas, somente
em João, sendo essa a posição, também, defendida por Carson em seu comentário. Vejamos o
que ele nos diz: a expressão ‘único’ (monogenês) é uma palavra usada pelo evangelista (1.14,
18; cf. ljo 4.9), mas não o é em outra passagem colocada nos lábios de Jesus ou de qualquer
outro desse evangelho. Tampouco, Jesus se refere a Deus normalmente como ho theos (‘Deus’)
(D.A. Carson, 2007, Pág. 204).
Conclui-se, portanto, essa parte que, as falas encontradas em João 3:16-21, considerando
todas essas evidências anteriormente levantadas, nos leva ao entendimento que foi o próprio
João quem as disse.
γὰρ
Οὕτως ὥστε
τὸν μονογενῆ
ὁ πιστεύων
ἀλλ’
αἰώνιον
23
João 3:16 é de imensurável valor porque nenhuma outra declaração tão bem coloca a boa
notícia de que o nosso mundo, sucumbido ao pecado, precisa ouvir. O amor universal de Deus
é conhecido por intermédio de seu filho para o mundo. Este presente de amor é dado para salvar
o mundo, mas muitos rejeitam esse Dom de Deus sendo condenados à morte eterna. No entanto,
a mensagem deste verso para aqueles que recebem o dom de Deus é vida e salvação.
Comentário Exegético
O γὰρ pós-positivo marca o versículo 16 como uma exposição adicional das ações de
“levantar” e “crer” no verso 14-15, podendo ser traduzido como: “porque, pois, visto que,
então”. O οὕτως inicial frequentemente traduzido como: “deste modo, assim, desta maneira”
não é uma declaração sobre a extensão do amor de Deus, mas sim significa “de que maneira”
Deus ama. Ou seja, em referência a Moisés oferecendo a serpente como um caminho para a
vida dos israelitas. Então agora, “desta maneira / maneira (οὕτως) Deus amou o mundo.
ἠγάπησεν (amar) traduzido no passado como “amou”, no texto original encontra-se no
indicativo ativo aoristo, de modo que expressa uma ação, enfatizando o acontecimento em si,
olhando para ação como um todo, um evento completo, acabado, sem estar relacionado,
necessariamente com a ideia de tempo13. Dessa forma podemos ver o eterno amor com que a
seus eleitos Deus amou. ὁ (o/a) o artigo definido presente nesta perícope está no caso
Nominativo masculino singular, particularizando aquele que ama o mundo, Deus. É importante
notarmos que este artigo nos mostra a origem desse amor. O amor que nos dá vida eterna em
Cristo Jesus. Θεὸς também traduzido como “Deus” encontra-se no Nominativo masculino
singular, concordando com o artigo “ὁ” ho. Sua terminação ος ligado ao artigo “ὁ” ho
determina o sujeito da oração nos mostrando a origem desse amor descrito nesse texto. Com
isso podemos ver que a missão de Cristo está inteiramente ligada diretamente a Deus e não ao
mundo. τὸν esse artigo encontra-se no caso do acusativo masculino singular indicando o objeto,
neste caso apontará para o mundo, o qual está recebendo a ação praticada pelo sujeito (Deus).
Κόσμον (mundo) encontra-se no caso do acusativo masculino singular, este substantivo no
acusativo está indicando que ele é o objeto da oração. O termo mundo, como é usado nesta
passagem, deve significar a humanidade que, apesar de pecadora, exposta ao julgamento e
13
Um Caminho Suave Para o Grego; Autodidático. Módulo II; Gilson Altino da Fonseca, pg. 128, item 3.3
24
necessitada de salvação (ver vs. 16b e 17), ainda é objeto de seu cuidado. A imagem de Deus
ainda está, de certa maneira, refletida nos filhos dos homens.14 portanto (ὥστε) é a conclusão
do amor de Deus em dar o seu filho “unigênito” como o caminho para a vida eterna para o
mundo. O “dar” de Deus ao filho “tem em vista toda a missão do filho”. A doação não se refere
apenas à encarnação, mas também, como sinalizado por οὕτως, ao “levantar” do filho (isto é,
sua morte). também é significado. Assim, o filho do homem, mais explicitamente no ato de ser
levantado, é o presente de Deus para o mundo destinado à sua salvação. A doação de Deus de
seu filho é para os eleitos. Como o levantamento da serpente em Números 21 foi planejado
para a cura dos que foram mordidos pela serpente, então o levantamento do filho do homem é
destinado aos quais foram predestinados para serem salvos da morte e do pecado.
Este texto não deve ser tomado como uma declaração da salvação universal. Enquanto a
intenção de Deus é a salvação de seus eleitos limitado pela “crença”. A crença é a condição
para “ter vida eterna”. O versículo 16 reafirma a crença como o caminho para a vida eterna e
salvação. primeiro no versículo 15, “para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna”,
mas depois “avança o argumento nomeando a alternativa para a vida eterna: perecer”. Assim,
a intenção de Deus em dar o Filho, é que todos no mundo (eleitos) possam ter a vida eterna,
Mas, para alguém receber a vida eterna, eles devem olhar para e acreditar no Filho ou então
eles perecerão.
1. Doutrina da Graça manifestada no amor de Deus, pois, Ele em um ato unilateral, decide
salvar os seus eleitos, por intermédio da pessoa de Cristo Jesus
2. Ele é o Salvador enviado do Pai. É somente por meio dEle, por intermédio dEle, é que
se pode chegar à salvação.
3. Ele é que decide salvar o homem. O amor que é o motivador da salvação do homem é
dEele, pois tudo procede dele
14
O Evangelho de João / William Hendriksen. - São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004 pg. 191
25
4. Ele é quem aplica a salvação realizada em Cristo, glorificando o Filho, assim, como ele
glorifica o Pai
5. Pode-se perceber a doutrina trinitária da salvação, soteriologia, pois: O Pai elege, o Filho
redime o Espírito regenera, isso evidencia também a ordem da salvação.
6. Pode-se perceber a soberania de Deus, pois é Ele que decide por sua bondade e a
fidelidade.
7. Na cristologia pode-se ver Jesus se fazendo homem, sua impecabilidade, sendo o filho
de Deus, sendo Deus e Homem.
• Somente Deus é quem tem o poder de nos salvar juntamente com se Filho e Espírito
Santo, portanto somos incapazes de nos achegarmos a Ele se não movidos por sua ação
trinitária. Não somos nós o motivo principal para a vinda de Cristo, mas é o amor de
Deus, é por causa de seu amor que Cristo vem ao encontro do homem. Cristo não veio
por Nossa causa e sim Para nossa causa, Ele é o nosso substituto, carregando nossas
culpas e pecados sobre si, nos concedendo a sim a vida eterna no lugar do perecimento
eterno.
• Entender que, para recebermos esta vida eterna, precisamos crer no Filho unigênito de
Deus. Portanto, é importante notar o fato de que Jesus menciona a necessidade da
regeneração, antes de falar a respeito da fé. A obra de Cristo dentro da alma sempre
precede a obra de Deus, na qual a alma coopera. E como a fé é dom de Deus, seu fruto,
a vida eterna, é também um dom de Deus. Deus deu o seu Filho, nos dá a fé para abraçá-
lo, e nos dá a vida eterna, como uma recompensa pelo exercício da fé. Glória seja dada
a ele, eternamente.
2.7 PARAFRASE
Por causa do amor de Deus foi que seu Filho Jesus Cristo, o unigênito, veio ao mundo,
afim de Salvar os que nele creem, dessa forma eles não perecerão eternamente, mas
serão salvos e viverão eternamente.
A relação do texto de João 3.16 com o restante das Escrituras nos revela a veracidade
do texto e a sua importância nas doutrinas bíblicas, uma vez que o restante das Escrituras
confirma os princípios revelados em João 3.16.
O texto de João 3.16 inicia dizendo: “Por que Deus Amou o mundo de tal maneira”. O
amor de Deus é destacado desde o início das Escrituras, quando o Senhor resolve não destruir
Adão e Eva por ter pecado contra o seu mandamento.
O texto de João 3.16 ainda nos diz: “...Que deu seu filho Unigenito...”. No Salmo 2, o
salmista, fazendo uma referência a Cristo, afirma: “Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te
gerei”. Dessa forma, percebe-se a relação do Antigo e Novo Testamento referente a
Primogenitura de Cristo. Ou seja, Jesus é o único eternamente gerado do Pai e o único
capacitado para nos salvar.
A passagem de João 3.16 ainda diz: “...Para que todo aquele que nele crê não pereça...”.
O objeto da fé salvadora, ou seja, Cristo Jesus, é revelada nos livros proféticos apontando para
o Servo sofredor. Em Isaías 53.5 afirma: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões...”.
27
Desta forma, a salvação do povo de Deus da morte eterna descrita em João 3.16 é justificada
em Isaías 53.5, o qual nos revela que não iremos ser castigados, uma vez que o Servo sofredor
morreu em nosso lugar. Antes mesmo de João descrever o nosso livramento da morte, Isaías já
havia descrito que Cristo tinha morrido e nos salvado.
O texto de João 3.16 termina dizendo: “...mas tenha a vida eterna”. A morte de Cristo
foi tão eficaz que, a recompensa que Ele nos dá, é um presente eterno. Tal recompensa já havia
sido revelada nos profetas menores. Em Miquéias 5.4 diz: “Ele se manterá firme e apascentará
o povo na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor, seu Deus; e eles habitarão seguros,
porque, agora, será ele engrandecido até os confins da terra”. Desta forma, o profeta Miquéias
nos mostra que a vida eterna é uma realidade para o povo de Deus e João, no Novo Testamento,
nos mostra que quem nos conduz a vida eterna é a pessoa de Cristo Jesus.
A relação de João 3.16 referente a teologia sistemática, pode ser abarcada de várias
vertentes. O aspecto da teologia sistemática que o presente trabalho enfatiza se refere ao amor
de Deus para com o mundo. Quando o texto afirma: “Porque Deus amou o mundo”, pode-se
destacar a profundeza do amor de Deus para com os pecadores, Heber Carlos de Campos
afirma: “(O amor de Deus) é certamente a maneira mais doce de Deus expressar a sua bondade,
especialmente quando se trata da redenção dos pecadores”15.
Referente ao amor de Deus, pode-se afirmar que o seu amor faz parte da sua essência.
Em 1João 4.8 diz: “pois Deus é amor”. Dessa forma, pode-se afirmar que, Deus não pode existir
sem o seu infinito amor. Obviamente, a aplicabilidade do seu amor se dá conforme a sua perfeita
vontade, todavia, é inegável que o amor é um dos preciosos atributos do Senhor.
O amor de Deus, além de ser manifestado de forma ad intra, ou seja, manifestado entre
as Pessoas da Trindade, o amor de Deus também é revelado de forma ad extra, se revelando em
favor das criaturas. Em João 3.16, é evidente como o amor ad extra de Deus é manifestado ao
mundo de forma indelével. A maior demonstração do amor de Deus se baseia na cruz de Cristo,
por isso João 3.16 afirma: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
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O Ser de Deus e seus atributos / Heber Carlos de Campos: São Paulo, Editora Cultura Cristã
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No que se refere a Teologia Prática, o presente trabalho enfatiza a parte de João 3.16
que afirma: “...para que todo aquele que nele crê...”, apontando para a genuína fé da igreja de
Cristo.
Sabe-se, que, nos dias atuais, a fé tem sido cada vez mais banalizada nas igrejas ou,
quando existe uma fé sincera, muitas vezes, tem sido direcionada de forma errônea. O texto de
João 3.16 é evidente em nos mostrar o objeto de nossa fé, a saber, Cristo Jesus. Sendo assim, a
igreja deve se atentar em jamais desfocar a sua fé.
É natural que os crentes vivam momentos de tropeços durante a sua jornada para a
“cidade celestial”. No entanto, a fé dos crentes deve sempre estar direcionada em Cristo Jesus,
uma vez que somente Jesus pode nos dar alegria verdadeira quando tudo vai bem e, quando
tropeçamos, nos conceder perdão para a vida eterna.
2.9 SERMÃO
Narrativa: O que é amor? Vários pensadores e filósofos tentaram responder esta pergunta e, a
maioria deles, responderam apontando para as ações solidárias do ser humano. Todavia, as
Escrituras nos respondem tal pergunta enfatizando, não o homem, mas Deus. Sem a
compreensão da atitude de Deus em amar o mundo, é impossível compreender o conceito de
“amor” no seu mais profundo significado. Não podemos encontrar o significado de “amor” fora
de Deus, uma vez que, o maior ato de amor, foi Deus ter amado os pecadores.
Tema: O amor de Deus como instrumento da redenção do seu povo – João 3.16
1) Deus entregou o seu Filho a morte por amor ao seu povo – João 3.16a
2) Deus livra seu povo da morte através de seu amor – João 3.16b
3) Deus concede ao seu povo vida eterna com Cristo mediante o seu amor – João 3.16c
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CONCLUSÃO e APLICAÇÃO
O texto, objeto da exegese, deve encontrar morada nos corações dos crentes e o seu
conteúdo ser pregado a todo mundo, uma vez que o mesmo expõe a grandeza do amor e da
misericórdia do Senhor para com o seu povo.
Mais do que lido e interpretado, o texto de João 3.16 deve ser vivido dia após dia pela
igreja de Cristo, a qual expressará o “bom perfume de Cristo” ao mundo que necessita
urgentemente do amor de Deus.
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Bibliografia
Campos, H. C. (s.d.). O Ser de Deus e seus Atributos . São Paulo : Cultura Cristã.
Carson, D. (2009). Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova.
Henry, M. (2012). Comentário do Novo Testamento Mateus a João. Rio de Janeiro: CPAD.
Hipona, A. d. (s.d.). Comentário do Evangelho ao Apocalípse de São João. São Paulo: Cultor
de Livros.
Rega, L. S. (2004). Noções do grego bíblico:gramática fundamental. São Paulo: Vida Nova.
Roy E. Ciampa, P. (s.d.). Manual de Referência Para Crítica Textual do Novo Testamento.