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RELATÓRIO DE JURISPRUDÊNCIA
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Endereço eletrônico por meio do qual é possível o acesso ao acórdão: https://tj-
df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/693375734/7063114120178070020-df-0706311-
4120178070020/inteiro-teor-693375819?ref=juris-tabs
andamento do caso, bem como elucidá-lo por meio das mais reconhecidas doutrinas,
como a seguir:
O autor da ação, Tiago, através de ação judicial, alega ter adquirido os dois
apartamentos do réu, estabelecendo em contrato os valores a serem pagos por cada um
deles, bem como o termo de entrega dos referidos bens imóveis, ou seja, a data em que
Cláudio deveria entregar-lhes as chaves. A obrigação sinalagmática descrita é classificada
como de dar coisa certa, considerados por Gonçalves2, respectivamente, objetos
imediato e mediato. A “coisa certa”, por fim, seriam os dois apartamentos.
Além disso, tal obrigação positiva de dar assume, nesse caso, a forma de entrega
da coisa. Já que se verifica contrato de compra e venda, um dos sujeitos deverá realizar o
pagamento em dinheiro, enquanto o outro deverá entregar-lhe os dois imóveis. Nesse tipo
de contrato, a transferência do domínio depende de um segundo ato, que é o registro dos
imóveis, uma espécie de tradição mais solene da coisa, conforme arts. 1.226 e 1.267 do
Códido Civil de 2002.
Menciona o autor, ainda, que oito meses após vencido o prazo para entrega dos
apartamentos, ele teria vendido um deles a um terceiro.
“ (...) Ocorre que, decorridos quase 3 anos da data prevista para entrega dos
apartamentos, o réu mantém-se inerte. O autor sofre prejuízos porque mantém o
pagamento de aluguel para sua moradia e ainda indeniza o aluguel cobrado pelo
cessionário da unidade 301. (...)”
Segue o autor afirmando que quase três anos após o vencimento da obrigação, ou
seja, a data limite para que Cláudio entregue os dois apartamentos, o dito réu nada fez.
Ou seja, o réu estaria em mora por três anos, já que não realizou a tradição dos imóveis
2
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 2. : teoria geral das obrigações. 16. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Foram desse autor todos os conceitos da seara obrigacional
apresentados ao longo do presente relatório.
no prazo acordado. Ademais, tal inadimplemento, como não poderia deixar de ser, gerou
prejuízos a Tiago que, além de ter de pagar seu próprio aluguel, já que o imóvel não estava
sob seu domínio, pagava os aluguéis do terceiro para quem teria vendido o segundo
apartamento, mas a esse também não o havia transmitido.
“ (...) Esclareceu que o requerido pagou R$1.000,00 para ambas as unidades até
20.7.2015, para lhe indenizar os prejuízos relativos ao atraso, mas os
pagamentos cessaram. Ao final, postulou condenação do requerido na obrigação
de entregar os imóveis adquiridos (unidade 301 e 401), bem como a indenizar
perdas e danos suportados, ante o atraso da obra, que estimou em lucros
cessantes vencidos de R$23.000,00 até a data de ajuizamento da ação e os
vincendos ou, alternativamente, nos danos emergentes de R$36.500,00 (despesas
com locação de imóvel para moradia e alugueis pagos ao cessionário adquirente
da unidade 301). (...)”
O requerente esclareceu ainda que, por certo período, o réu realizou pagamento
de determinado valor para que os custos com os aluguéis fossem sanados, mas esse durou
muito tempo, mantendo os prejuízos que tinha, decorrentes da mora. Sendo assim, ele
pleiteia a realização da obrigação, já que o adimplemento não foi absoluto, isto é, não
tornou o cumprimento inútil ao credor, além da responsabilidade do réu pelos danos
materiais causados: os danos emergentes, os efeitos prejuízos representados pelos
aluguéis, bem como os lucros cessantes, a frustração da expectativa de lucro, vencidos e
vincendos, “em decorrência da impossibilidade de auferir lucro com a locação dos
imóveis” (p. 04).
Vale ressaltar que os juros moratórios, aqueles previstos como consequência do
inadimplemento ou inexecução do contrato e que chegaram à soma de R$ 1.000,00, foram
pagos por um certo período de tempo apenas e, por conseguinte, não se mostraram
suficientes para minimizar as perdas do autor da ação, ainda que essa não seja sua
finalidade.
Entretanto, o réu afirma, em sua defesa, que “nada recebeu em relação aos imóveis
objeto da lide” (p. 04) e que nem mesmo o empréstimo que tomou do autor pode ser
incluído na questão, pois dele pagou parcelas excessivas, decorrentes de anatocismo3,
pelo autor, logo nem poderia o empréstimo ser envolvido numa hipótese de compensação
ou algo do gênero.
3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 2. : teoria geral das obrigações. 16. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2019. P.420. “Anatocismo consiste na prática de somar os juros ao capital
para contagem de novos juros. Há, no caso, capitalização composta, que é aquela em que a taxa de juros
incide sobre o capital inicial, acrescido dos juros acumulados até o período anterior.”
Some-se isso aos fatos de o autor não ter apresentado “nenhum documento a
demonstrar que pagou os R$160.000,00 relacionados às duas unidades em questão”,
nem de o contrato celebrado por eles indicar que o valor foi adimplido. Para os
desembargadores, tais elementos, dentre outras alegações conflitantes, tornam o
depoimento pessoal do autor inverossímil. Sendo assim, concluem que:
“(...) em síntese, o autor não demonstra que tem direito às unidades, aplicando-
se a ele a exceção do contrato não cumprido. Ele não pode exigir que o requerido
cumpra a sua obrigação antes de provar que cumpriu com a sua.”
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Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;