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DESCARTES, René

(1596-1650)

Se, como diz Hegel*, Descartes é o herói da filosofia moderna, é porque, fazendo tá-bua rasa
do passado e rompendo com a tradição, encontrou-se numa solidão total e teve a
extraordinária ambição de fazer tudo por conta própria.

Seu pensamento tem origem no reconhecimento da autonomia de um sujeito que reivindica


somente a autoridade da razão em matéria de conhecimento. Com Descartes, símbolo do
espírito racionalista, inicia-se o declínio dos dogmatismos e afirma-se a onipotência de uma
razão consciente da sua capacidade de tornar o homem senhor e pos-suidor da natureza.

A filosofia de Descartes persegue três objetivos fundamentais:

1. adquirir o verdadeiro método "para alcançar o conhecimento de todas as coisas de que meu
espírito seja capaz";

2. buscar os primeiros princípios que permitam a constituição de um sistema total do saber;

3. preparar o caminho para "a mais elevada e mais perfeita moral que, pressupon- do um
conhecimento integral das outras ciências, é o último grau da sabedoria" (prefácio da tradução
dos Principios).

Filho de um conselheiro do parlamento da Bretanha, Descartes nasceu em La Haye, Tourraine.


Perde a mãe logo após o nascimento, sendo criado pela avó materna. Aos 10 anos, entra para
o colégio dos jesuítas de La Flèche, "uma das mais célebres escolas da Europa" (Discurso do
método). Em razão da sua constituição frágil, tem direito a um regime especial: é autorizado a
estudar na cama todas as manhãs. Seduz-se pela matemática por causa "da certeza e da
evidência das suas razões" (Discurso do método) e sonha com ampliar seu campo de aplicação.
Em compensação, decepciona- se com o ensino das outras disciplinas, em particular com a
filosofia, que "proporciona o meio de falar de maneira verossímil de todas as coisas e de se
fazer admirar pelos menos sábios". Por isso, terminados os estudos, trata de recomeçar tudo
do início e nao procurar outra ciência, que não aquela que pudesse extrair de si mesmo ou
encontrar no grande livro do mundo.

Depois de obter em 1616 sua licença em direito, como muitos jovens nobres, inicia- se na
carreira militar na Holanda, depois na Alemanha. A guerra dos Trinta Anos começava e é na
cidade de Ulm, no dia 10 de novembro de 1619, que tem a revelação em uma intuição quase
estática em três sonhos sucessivos da sua vocação intelectual e do projeto de uma nova
ciência fundada na razão. Depois do seu período militar, viaja pela Alemanha, Holanda, Suíça e
Itália. Passa três anos em Paris, onde tenta com dificuldade conciliar vida mundana e
meditação, depois decide instalar-se na Holanda, em 1628, para ter a tranqüilidade de espírito
a calma propícias à reflexão filosófica. Ali permanecerá durante vinte anos. Mantém uma
correspondência contínua com a comunidade científica e filosófica européia: Mersenne,
Huygens, Arnauld, Gassendi, Hobbes*, etc.

Compõe as Regras para a orientação do espirito, obra que só será publicada depois da sua
morte. A notícia do processo e da condenação de Galileu estimula-o à prudência, e seu
Tratado do mundo ficará guardado entre seus papéis. Em 1637, publica

O Discurso do método, seguido da Dióptrica, dos Meteoros e da Geometria, que são aplicações
desse método. Tem a coragem de publicar em francês, ou seja, não o dirige aos doutos e
eruditos, qualificados de obscurantistas, mas a todos os indivíduos de bom senso que fazem
um livre uso da sua razão. A comunidade científica despreza a obra. Em compensação, as
Meditações, escritas em latim e acompanhadas de objeções de filósofos célebres, como
Hobbes, Arnauld e Gassendi, chamam a atenção e sus- citam vivos debates.

Com a publicação dos Principios da filosofia (1644), Descartes tem a sensação de ter terminado
sua obra, de oferecer "a verdadeira filosofia", isto é, a metafísica, "que contém os princípios do
conhecimento" e, por outro lado, a física, que expõe os verdadeiros princípios das coisas
materiais. Estimulado pela princesa Elisabete da Boêmia, com quem mantém uma
correspondência regular, escreverá o tratado As paixões da alma, alcançando assim seu
terceiro objetivo: preparar o caminho para "o último grau de sabedoria". Esse tratado tem sido
considerado, com razão, sua moral definitiva.

Em 1648, sente-se tentado a morar novamente na França, mas as primeiras manifestações da


Fronda levam-no de volta à Holanda, onde enfrenta as vivas polêmicas levantadas pelos
calvinistas. Essas decepções estimulam-no a aceitar o convite da rainha Cristina da Suécia para
lhe dar aulas, apesar de não se entusiasmar muito como convite. Tendo de se levantar de
manhã cedo para as lições, Descartes, nada madrugador como se sabe, pega uma pneumonia,
de que vem a falecer em Estocolmo, no dia 11 de fevereiro de 1650.

O método

A razão. "E melhor nunca pensar em buscar a verdade sobre um objeto qualquer do que fazê-
lo sem método", escreve Descartes. Podemos compreender a necessidade do método se
tivermos presentes ao espírito o sentido e a finalidade do instrumento de conhecimento de
que dispomos, a saber, a razão. Esta, única faculdade que nos faz verdadeiramente homem, é
a capacidade de discernir o verdadeiro do falso. Como tal, ela está por inteiro em cada um de
nós e se confunde com a luz natural e o bom senso que, diz ele, é a coisa mais igualitariamente
distribuída do mundo.

Mas do fato de a razão ser um instrumento universal, igual em todos os homens, não resulta
que todos os espíritos sejam iguais, porque eles diferem por uma vivacidade e uma prontidão
mais ou menos grande, por uma memória mais ou menos ampla, por uma imaginação mais ou
menos precisa. Além do mais, nem todos estão igualmente avançados no conhecimento.

E nesse sentido que o método tem uma importância decisiva. A diversidade das opiniões não
provém de que alguns são mais razoáveis que outros, mas apenas de que eles tomam
diferentes caminhos. "Porque não basta ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem."
Portanto, o poder de conhecer deve ser dirigido, e o método é a arte de bem dirigir sua razão,
que não pode ser exercida ao acaso.

A regra da evidência e o critério das idéias claras e distintas.

O método cartesiano não é um corpo de regras ou um método, como o Organon de


Aristóteles*, mas consiste em alguns preceitos simples e fáceis de executar, voltados tanto
para o entendimento como para a vontade. Nesse sentido, o método é uma verdadeira ética
do conhecimento.

A primeira regra é a da evidência, isto é, da verdade, porque a verdade não tem outro sinal
além de si mesma. A evidência é a característica que se impõe imediatamente ao espírito e
acarreta seu assentimento. Essa regra, tal como Descartes a apresenta no Discurso, insiste na
necessidade de o verdadeiro ser afirmado apenas ao fim de uma ascese do espírito, que
comporta a desconfiança em relação à precipitação e à prevenção, e passa pela prova da
dúvida. Essa ascese faz que se aceitem como verdadeiras unicamente as idéias claras e
distintas, as quais representam os verdadeiros critérios de verdade.

É clara a idéia presente e manifesta a um espírito atento. É distinta a idéia cujo conteúdo se
nos apresenta de maneira suficientemente nítida para que possamos diferenciá-la das outras.

A ordem.

As três últimas regras do método revelam a preocupação primordial com a ordem. A ordem
está do lado do espírito, não do lado do objeto. O método é o procedimento de um espírito
que desenrola a ordem das suas razões, e não o encadeamento das matérias. Aqui as regras
são as:

- da análise: reduzir as proposições mais complexas, mais difíceis às mais simples;

- da dedução: elevar-nos gradativamente do mais simples ao mais complexo, tendo o cuidado


de começar pelos princípios, isto é, pelos termos primeiros que são evidentes por si;

- da enumeração: a ordem consiste também, para o pensamento, em querer séries exaustivas,


evitando-se omitir o que quer que seja.

Intuição e dedução.

A matemática nos proporciona um modelo de certeza em que o rigor não exclui a fecundidade,
o que leva Descartes a rejeitar a lógica aristotélica, considerada formal e estéril, e conceber a
idéia de uma mathesis universalis que seria capaz de resolver indiferentemente todos os
problemas.

O procedimento exemplar da matemática repousa na intuição e na dedução, os dois meios


mais seguros para chegar ao conhecimento. A intuição, concepção de um espírito puro e
atento que nasce exclusivamente da luz da razão, conhece seu objeto sem risco de erro,
porque ela o apreende imediatamente, com um só olhar, sem recorrer à memória. Quanto à
dedução, processo discursivo que supõe um encadeamento lógico, ela tira toda a sua certeza
da intuição.

De fato, ela não difere desta senão por ape- lar para a sucessão, porque é constituída

pela intuição de cada proposição e pela in-

tuição do vínculo interproposicional. Ela é,

portanto, uma cadeia de intuições, uma in-

tuição contínua.

A dúvida metódica. Enquanto

dos céticos* é seu fim em si, já que eles a

fazem resultar da impossibilidade de dis-

tinguir o verdadeiro do falso, a dúvida car-

tesiana é uma dúvida provisória e metódi-

ca, subordinada a uma intenção de verdade


à qual ela deve possibilitar o acesso. Essa

dúvida metódica se caracteriza:

onb

dar

I0

um

a dúvida

enb

as

-op

- por seu caráter voluntário: ela repousa

na pura decisão de duvidar

por seu radicalismo: ela ataca os fun-

damentos das nossas opiniões;

de

un

por seu caráter hiperbólico: de fato, com

hipótese de um gênio maligno que pode-

ria nos enganar permanentemente, a dúvida

é generalizada e levada ao extremo, já que

impregna de incerteza não apenas o que é

manifestamente duvidoso, mas também o

oe

testemunho da razão (as idéias claras e dis-

tintas) e até a crença na existência da reali-

dade, a do meu próprio corpo e do mundo

que me rodeia

Assim, tornando-se instrumento de um

pensamento radical, a dúvida permite antes

de mais nada afastar qualquer possibili-


dade de erro mediante a suspensão geral do

juizo, enquanto a dúvida hiperbólica, mais

positivamente, mostra-se apta a realizar sua

própria superação.

I01o

OS

O itinerário metafisico:

dos fundamentos absolutos

a busca

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