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no
CÉREBRO GLOBAL
Ervin Laszlo
UM SALTO QUÂNTICO
no
CÉREBRO GLOBAL
Como o Novo Paradigma Científico
Pode Mudar a Nós e o Nosso Mundo
Tradução
NEWTON ROBERVAL EICHEMBERG
Título srcinal: Quantum Shift in the Global Brain.
Copyright © 2008 Ervin Laszlo.
Copyright da edição brasileira © 2012 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.
Texto de acordo com as novas regras ortográficas da língua portuguesa.
1a edição 2012.
Publicado srcinalmente em inglês por Inner Traditions.
Todos
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inclusive pode ser reproduzida ousistema
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críticas ou artigos de revistas.
A Editora Cultrix não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais
ou eletrônicos citados neste livro.
Resumo: “As mudanças do materialismo científico para uma visão de mundo multidimensional em
harmonia com as grandes tradições espirituais do mundo.” – Fornecido pelo editor.
Laszlo, Ervin
Um salto quântico no cérebro global : como o novo paradigma
científico pode mudar a nós e o nosso mundo / Ervin Laszlo ; tradução
Newton Roberval Eichemberg. – São Paulo: Cultrix, 2012.
12-02096 CDD-909.825
PARTE UM
MACROMUDANÇA NA SOCIEDADE
PARTE DOIS
MUDANÇA DE PARADIGMA NA CIÊNCIA
9. O Plenum Cósmico:
O Novo Conceito Fundamental de Realidade ............................. 109
10. Coerência não Local:
O Novo Conceito de Realidade Manifesta ................................... 117
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PARTE TRÊS
A GLOBAL SHIFT EM AÇÃO: O CLUBE
DE BUDAPESTE E SUAS INICIATIV AS
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––––––––––––––––––
A Revolução da Realidade
choques e surpresas cada vez mais frequentes e cada vez maiores, e eles não
se devem simplesmente à cegueira e à ignorância. É a nossa realidade que
está mudando. Como observou o economista Kenneth Boulding, a única coi-
sa que não deveria nos surpreender é o fato de estarmos surpresos.
A nova realidade é intrinsecamente surpreendente. Nada continua da
mesma maneira como era antes; tudo “bifurca”. Essa expressão, que veio
srcinalmente da matemática e da teoria do caos, indica que o caminho de
desenvolvimento de um sistema encontra uma mudança rápida e anterior-
mente imprevista. Vivemos em uma era de bifurcação no meio de uma trans-
formação fundamental do nosso mundo: em uma macromudança.
A mudança de realidade que experimentamos se refere à maneira como
nos relacionamos uns com os outros, com a natureza e com o cosmos. Pre-
viamente, alguns de nós havíamos suspeitado que essa realidade poderia
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logo mudar, mas a grande maioria da humanidade continuou supondo que
as coisas permaneceriam praticamente como eram: tudo continuaria igual.
No entanto, está ficando cada dia mais evidente que tudo, definitivamente,
não continua igual. A Terra está literalmente se transformando sob os nossos
pés. Na véspera do Ano-Novo, os russos o celebraram na antiga Praça Verme-
lha sem que houvesse no local um só traço de gelo ou neve; em janeiro, nova-
-iorquinos caminharam pelo Central Park em mangas de camisa; o centro da
Groenlândia foi ocupado por um lago descongelado do tamanho do Lago
Michigan, do Lago Superior e do Lago Erie combinados; e praticamente nada
restou da lendária neve que cobria o topo do Kilimanjaro. Qualquer um que
ainda duvida de que o mundo em que vivemos está mudando deve ser cego,
obstinado ou pura e simplesmente estúpido.
Naturalmente, o clima é apenas uma das muitas mudanças que estão
ocorrendo, embora seja a mais visível. Há uma série de outros fatores asso-
ciados com a mudança climática nas áreas econômica, social, política e cul-
tural que são tão propensos à mudança quanto a ecologia. A linha de fundo
está no fato de que, em mais de um aspecto, se nós continuarmos a caminhar
como temos feito até agora, isso nos levará a uma bifurcação catastrófica, a
um fatídico ponto de mudança irreversível.
A mudança não é mais uma mera teoria e não é mais apenas uma opção:
é uma realidade, um imperativo para a nossa sobrevivência. Prosseguir com
base na suposição de que “tudo continuará o mesmo” (TCM) é uma atitude
suicida.
Um fato interessante e importante é que o nosso mapa do mundo tam-
bém está mudando: a própria ciência está no meio de uma mudança de para-
digma. O novo paradigma nos proporciona um entendimento mais profundo
da essência das mudanças quânticas nos sistemas complexos da natureza e
da sociedade. Os sistemas complexos não evoluem uniformemente, passo a
passo: eles são acentuadamente não lineares. Eles evoluem passo a passo
apenas até certo ponto e então atingem um limiar de estabilidade e em segui-
da colapsam ou bifurcam. Isso é verdadeiro para a evolução das estrelas (em
determinado momento, elas explodem como uma supernova e vomitam a
substância que se tornará matéria-prima para a próxima geração de estrelas
ou colapsam em um buraco negro); isso também é verdadeiro para as espé-
cies vivas (em sua maioria, mais cedo ou mais tarde, em seus tempos de vida,
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as espécies são ameaçadas de extinção – e então elas passam por mutações,
que as tornam espécies mais viáveis, ou se extinguem); e também é verdadei-
ro para civilizações inteiras (elas também evoluem ou afundam, como a ex-
periência do mundo comunista demonstrou no inverno de 1989/1990).
Isso significa que a sociedade humana pode estar condenada e que nós
podemos nos extinguir até mesmo como espécie? A forma de civilização
atualmente dominante parece ter alcançado os seus limites e é compelida a
mudar. Porém, a hipótese de nossa morte como espécie, embora não possa
ser excluída, não está de modo algum estabelecida. Temos enormes recursos,
recursos ainda inexplorados, para responder com sucesso aos desafios com
que nos defrontamos. Temos toda uma gama de novas e sofisticadas tecnolo-
gias à nossa disposição, e percepções radicalmente novas estão emergindo na
linha de frente das ciências.
Entretanto, a profunda e aguçada percepção-chave que provém do novo
paradigma das ciências não é tecnológica. Ela é a confirmação de alguma
coisa que as pessoas sempre sentiram, mas para a qual não puderam dar uma
explicação racional: nossa conexão íntima uns com os outros e com o cos-
mos. As pessoas tradicionais sabiam disso e viviam isso, mas a civilização
moderna, em primeiro lugar, negligenciou esse fato e, em seguida, o negou.
No entanto, a experiência espiritual genuína oferece evidências diretas de
nossas ligações uns com os outros e com toda a criação, e hoje a ciência con-
firma a validade dessas intuições.
Até a última década – ou as duas últimas décadas –, os cientistas e as
pessoas inclinadas para a ciência consideravam o sentimento da intercone-
xão humana – ou da interconexão entre ser humano e natureza – como mera
ilusão. Mas então as evidências começaram a aparecer. Um olhar revigorado
para as nossas conexões no arcabouço das novas ciências – a física quântica
acima de tudo – começou a indicar que a “unicidade” – o sentimento de uni-
dade – que as pessoas às vezes experimentam não é ilusória e que a sua ex-
plicação não está além da compreensão das ciências. Assim como os quanta,
os átomos inteiros e as moléculas podem ser instantaneamente conectados
ao longo do espaço e do tempo, da mesma maneira, os organismos vivos,
especialmente o cérebro e o sistema nervoso – complexos e supersensíveis
– dos organismos evoluídos, podem ser instantaneamente conectados com
outros organismos, com a natureza e com o cosmos como um todo. Esse fato
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é de importância vital, pois a admissão em nossa consciência cotidiana da
intuição de conexões pode inspirar a solidariedade que tão urgentemente
necessitamos para viver neste planeta – para viver em harmonia uns com os
outros e com a natureza.
O oráculo de Delfos recomendava: “Conhece-te a ti mesmo”. Devería-
mos completar essa frase dizendo: “Conhece-te a ti mesmo como parte de
um mundo interconectado em rápida mudança”. Como você poderá ver nes-
te livro, esse conhecimento e a sabedoria prática que dele se segue tornaram-
-se a precondição da persistência da civilização humana e até mesmo da
sobrevivência da espécie humana.
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científica tem pouca semelhança, se é que tem alguma, com o conceito clás-
sico que nos ensinaram nas escolas. O novo conceito é mais amplo – ele se
estende a muitos universos que surgem em um metauniverso possivelmente
infinito – e é mais profundo – estende-se para dimensões inferiores ao domí-
nio do quantum. É também mais inclusivo, pois projeta luz em fenômenos
que foram ignorados ou que eram considerados “anômalos” e relegados à
metafísica, à teologia ou à parapsicologia até poucos anos atrás.
Os treze capítulos que, juntos, compõem a Parte 1 (que trata do nosso
mundo em mudança) e a Parte 2 (que resume as mudanças ocorridas no
mapa do mundo fornecido pela ciência) formam uma totalidade coerente,
mas cada capítulo também pode ser lido separadamente, de acordo com as
preocupações e os interesses do leitor. Eles se destinam a nos ajudar a enten-
der o nosso mundo em mudança, bem como o nosso mapa do mundo, que
também está mudando, e a nos investir de poder e guiar a nossa evolução à
medida que nos movemos para a fase crítica da macromudança atual.
A Parte 3 passa da teoria para a prática ativa e efetiva. Nela se descrevem
as srcens, os projetos e os principais objetivos do Clube de Budapeste, uma
usina de ideias global fundada pelo autor e dedicada à facilitação das mudan-
ças que precisam ocorrer em nosso mundo graças à aplicação dos profundos
discernimentos proporcionados pelo novo mapa da realidade obtido pela
ciência para a causa da paz, da sustentabilidade, do bem-estar e da sobrevi-
vência humana.
Na seção de encerramento – o anexo – se desbrava uma nova região em
nosso mapeamento científico das áreas mais profundas da experiência huma-
na. Reexamina-se uma experiência surpreendente feita pelo autor e se tenta
interpretá-la à luz do novo mapa da realidade. A experiência (“transcomuni-
cação” com pessoas que morreram recentemente) é de uma importância tão
notável que merece que nos aventuremos além dos limites da ciência estabe-
lecida – os quais, devemos observar, não são em absoluto os limites da acui-
dade perceptiva e da compreensão humana.
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PARTE 1
MACROMUDANÇA
NA SOCIEDADE
Capítulo 1
Evolução ou Extinção
EIS A QUESTÃO
Um provérbio chinês nos adverte: “Se nós não mudarmos de direção, é pro-
vável que acabemos chegando exatamente ao mesmo lugar de onde parti-
mos”. Aplicado ao mundo atual, isso seria desastroso:
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vindo à tona na Europa, e o fanatismo religioso está aparecendo em
todo o mundo.
• Os governos procuram conter a violência por meio de guerras orga-
nizadas; os gastos militares em todo o mundo subiram nos últimos
oito anos consecutivos e atingiram mais de um trilhão de dólares
por ano.
• Um em cada três moradores urbanos no mundo mora em um corti-
ço, uma favela ou em um gueto urbano. Mais de 900 milhões de
pessoas são classificadas como moradoras de cortiço. Nos países
mais pobres, 78% da população urbana subsiste em circunstâncias
que ameaçam a vida.
• Embora mais mulheres e meninas estejam sendo instruídas agora,
em relação aos anos anteriores, em muitas partes do mundo, menos
mulheres têm empregos e mais mulheres são forçadas a equilibrar
seus orçamentos no “setor informal”.
• A frustração e o descontentamento continuam a crescer à medida
que o poder e a riqueza se tornam mais concentrados e aumenta a
lacuna entre os detentores da riqueza e do poder e as populações
pobres e marginalizadas. Oitenta por cento do Produto Interno Bru-
to (PIB) do mundo pertence a um bilhão de pessoas, e 20% do que
resta é partilhado por cinco bilhões e meio de pessoas.
• A mudança no clima ameaça tornar grandes áreas do planeta inóspi-
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DOIS CENÁRIOS
1. Sem mudança: o Cenário TCM (Tudo Continuará o Mesmo)
Prosseguindo nesse caminho, o prelúdio para o colapso inevitável irá se ma-
nifestar à medida que condições críticas forem surgindo nas regiões mais
diretamente expostas aos efeitos perniciosos das mudanças climáticas. Nes-
sas regiões, lares de centenas de milhões de habitantes:
O colapso das regiões mais pobres e mais diretamente expostas cria uma
ameaça à segurança global:
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Os Processos Econômicos e Políticos
• O terrorismo se espalha, juntamente com ataques declarados e não
declarados contra países suspeitos de abrigar terroristas.
• A Aliança do Atlântico Norte, que liga a Europa, os Estados Unidos
e a Rússia, entra em colapso.
• A França, a Alemanha, a Rússia e a China formam uma coalizão para
equilibrar aquilo que eles percebem como uma crescente hegemonia
militar-econômica dos Estados Unidos, à qual se juntam o Brasil, a
Índia, a Coreia do Sul e outros países em desenvolvimento.
• Os gastos militares globais experimentam um aumento acentuado à
medida que os Estados Unidos e seus aliados e os países do bloco
oponente entram na espiral de uma corrida armamentista.
• A estagnação econômica global, combinada com o unilateralismo
norte-americano, enfraquece o Fundo Monetário Internacional e a
Organização Mundial do Comércio. À medida que os acordos econô-
micos regionais tornam-se mais atraentes do que os programas de
ação comerciais multilaterais e o comércio bilateral com os Estados
Unidos, guerras comerciais tornam-se frequentes e desestabilizadoras.
• Acordos comerciais norte-sul são cancelados e fluxos comerciais são
interrompidos; o sistema econômico-financeiro internacional está
desordenado.
• Pessoas forçadas a viver na pobreza juntam-se a rebeliões contra pro-
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As Consequências Militares
• Os conflitos políticos e econômicos entre os Estados Unidos e seus
aliados e o bloco militar/político de oposição atinge um ponto crítico;
os que defendem o uso do poder militar e oslobbies armamentistas
pressionam para que sejam usadas armas de destruição em massa.
• Regimes que defendem o uso da força sobem ao poder no Hemisfé-
rio Sul, determinados a usar as forças armadas para corrigir erros
detectados.
• Guerras regionais irrompem nas tradicionais áreas perigosas e se es-
palham para países vizinhos.
• Os principais blocos das potências militares, políticas e econômicas
decidem fazer uso de seus arsenais de armas de alta tecnologia para
atingir seus objetivos econômicos e políticos.
• Alguns entre
gam armas os novosquímicas
nucleares, regimes que enfatizam para
ou biológicas o usoresolver
da forçaconflitos
empre-
regionais.
• A guerra travada com armas convencionais e não convencionais in-
gressa em uma escalada para o âmbito global.
Os Primeiros Passos
• A experiência do terrorismo e da guerra – juntamente com o aumen-
to da pobreza e das ameaças impostas por um clima em mudança –
desencadeia mudanças positivas na maneira como as pessoas
pensam. A ideia segundo a qual indivíduos e pequenos grupos po-
dem ser agentes efetivos de transformação rumo a um mundo mais
pacífico e sustentável capta a imaginação de um número cada vez
maior de pessoas. Pessoas em diferentes culturas e de diferentes po-
sições sociais e ocupações profissionais juntam forças para enfrentar
as ameaças com que se deparam em comum.
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• A ascensão mundial de movimentos populares pela paz e pela coope-
ração internacional leva à eleição de figuras políticas animadas de
motivações semelhantes, emprestando ímpeto revigorado a projetos
de cooperação econômica e de solidariedade intercultural.
• Líderes políticos e de opinião despertam para a necessidade urgente
de oferecer ajuda para as populações mais imediatamente ameaçadas
e de criar uma organização em nível mundial para monitorar as
ameaças, fornecer advertências e levantar fundos para realizar opera-
ções de resgate.
• Líderes empresariais locais, nacionais e globais decidem adotar uma
estratégia onde a procura do lucro e do crescimento é informada pela
busca de responsabilidade social e ecológica corporativa.
• Um E-Parlamento eletrônico entra on-line, ligando os parlamentares
em todo o mundo e proporcionando um fórum para debates sobre as
• melhores maneiras
Organizações de servir a um bem
não governamentais comum.
se ligam por meio da Internet e
desenvolvem estratégias compartilhadas para restaurar a paz, revita-
lizar regiões e áreas ambientais dilaceradas pela guerra e assegurar
um suprimento adequado de alimento e de água. Elas promovem
planos de ação política social e ecologicamente responsáveis em go-
vernos locais e nacionais, e também nos negócios.
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• Líderes empresariais de todo o mundo juntam forças para criar uma
economia de mercado socioecológica voluntariamente autorregulado-
ra que assegure acesso justo a recursos naturais e a produtos indus-
triais e à atividade econômica para todos ospaíses e todas as populações.
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mantém ajustada para a vida (a “hipótese de Gaia”), proclamou que esse
sistema de controle foi destruído e que rapidamente produzirá condições que
poderão se comprovar fatais para a humanidade. O aquecimento da atmosfe-
ra pela atividade humana criará, nas palavras de Lovelock, “um clima infer-
nal”. A temperatura média aumentará aproximadamente 9,8 o C em regiões
temperadas e 12,8o C nos trópicos. “É preciso considerar que a Terra, em sua
condição física, está seriamente doente e logo entrará em um período de fe-
bre mórbida que poderá durar 100 mil anos.” “Creio que temos poucas op-
ções”, concluiu Lovelock em The Revenge of Gaia, “a não ser nos prepararmos
para o pior e admitirmos que já ultrapassamos o limiar.” O limiar a que ele
se refere é o ponto em que a dinâmica de automanutenção do sistema colap-
sa e leva irreversivelmente à catástrofe.
Será que já alcançamos esse ponto catastrófico? Não sabemos com
certeza, mas as notícias não são nada animadoras. O clima global está se
despedaçando, repleto de pontos de mudança irreversível e de laços de rea-
limentação além dos quais o lento rastejar da decadência ambiental dará lu-
gar a um súbito colapso que se autoperpetuará. Os equilíbrios vitais estão se
degradando na atmosfera, nos oceanos e nos sistemas de água doce, e tam-
bém nos solos produtivos. As consequências incluem o efeito estufa e a re-
dução da produtividade dos mares, lagos, rios e das terras agricultáveis.
Vários processos críticos se alimentam de si mesmos e estão fora de
controle. À medida que o gelo ártico derrete, o mar absorve mais calor, que
aumenta a taxa de derretimento; à medida que o permafrost siberiano desapa-
rece, o metano liberado da turfeira sob ele exacerba o efeito estufa, o que
aumenta a fusão de gelo e, portanto, a liberação de mais metano.
Mas os argumentos que apontam para o dia do juízo final não levam em
consideração um ponto básico: eles deixam de reconhecer não apenas que a
natureza é um sistema dinâmico capaz de rápidas transformações, mas tam-
bém que a humanidade é igualmente um sistema assim. Quando um deter-
minado sistema se aproxima do ponto em que as estruturas e realimentações
existentes não conseguem mais manter sua integridade, ele se torna ultras-
sensível e responde até mesmo ao menor estímulo para a mudança. Nesse
estado, é possível que ocorram “efeitos borboleta”. (Esses efeitos são assim
chamados por causa do “atrator caótico” em forma de borboleta descoberto
pelo meteorologista Edward Lorenz quando ele tentava mapear mudanças
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progressivas no sistema meteorológico global. Eles são popularmente identi-
ficados com a ideia de que as minúsculas correntes de ar criadas pelo bater
das asas de uma borboleta podem ser amplificadas muitas e muitas vezes e
acabar criando uma tempestade do outro lado do planeta.) No mundo atual,
quase caótico, instável e, portanto, ultrassensível, “borboletas” tais como o
pensamento, os valores, a ética e a consciência de uma massa crítica da socie-
dade podem desencadear transformações fundamentais.
A PERSPECTIVA POSITIVA
Estamos nos aproximando de um ponto de mudança irreversível, mas a si-
tuação está longe de nos deixar sem esperança: perto do limiar do colapso
dos sistemas, as previsões do dia do juízo final têm um efeito paradoxal. Elas
elevam o nível de percepção das pessoas, motivam uma difundida mudança
de consciência e podem acabar se tornando profecias autofalsificadoras.
A situação política pode se tornar contraditória. Planos de ação política
bem-intencionados criam a impressão de que a situação está controlada e de
que a crise está sendo administrada, e assim eles não catalisam a vontade
nem a direcionam para a transformação fundamental. Uma estratégia retró-
grada é mais útil a esse respeito. Ela, de forma inadvertida, mas efetivamente,
motiva as pessoas a insistir na mudança radical; ela projeta na ação um nú-
mero cada vez maior de pessoas.
Atualmente, políticas retrógradas ainda são dominantes. Em última aná-
lise, isso não é ruim. Nos segmentos mais avançados dapopulação, essas polí-
ticas aumentam o nível de urgência de reformas econômicas, sociais e políticas.
A mortandade que o tsunami asiático provocou entre inocentes aldeões
e turistas que desfrutavam suas férias no Sul e no Sudeste da Ásia motivou
atos de solidariedade e de generosidade em todo o mundo. O cataclismo
produzido pelo Furacão Katrina fez as pessoas “encontrarem seus pés” e
marcharem rumo a Washington a fim de protestar contra a política adminis-
trativa que consistia em se concentrar na guerra do petróleo no Iraque e
negligenciar a necessidade de o país estar preparado para desastres naturais
e a má situação em que se encontram as pessoas pobres que nele vivem. Será
que a humanidade irá esperar a ocorrência de uma catástrofe natural ou
ocasionada pelo homem, uma catástrofe que ceifará as vidas de centenas de
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milhares ou de milhões de pessoas, para se sentir realmente motivada a mu-
dar? Mas então poderá ser tarde demais. Nós precisamos, e ainda podemos,
nos encaminhar para uma mudança oportuna nos valores, na visão e nos
comportamentos.
Evolução para uma civilização sustentável, ou queda na crise, no caos e,
possivelmente, na extinção. Como Hamlet diria hoje: eis a questão.
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