Sei sulla pagina 1di 44

Democracia Soberania Unidade Nacional Patriotismo

ANO LXXXVI Nº 447 NOVEMBRO - DEZEMBRO - JANEIRO DE 2013


Expediente

Presidente
Gen Ex Renato Cesar Tibau da Costa
Asessor Especial
Democracia Soberania Unidade Nacional Patriotismo
Gen Div Clovis Purper Bandeira
Chefe de Gabinete
Cel Pedro Figueira Santos
Diretor de Segurança Institucional
Cel Celso Seixas Marques Ferreira
Diretor do Departamento Social
Cel Roberto Carvalho Barbosa
Diretor do Departamento de Comunicação Social 02 – Editorial Renats
Cel Gilberto Guedes Pereira
Diretor do Departamento de Tecnologia da Informação
03 – Palavra do Presidente “Pelô” / “Meu Dom”
Cel Jairo Ponto Lessa 04 – Ao Cadete do meu Exército
Superintendende da CHI
Cel Jorge Mathuy José Gobbo Ferreira
1º Vice-presidente 06 – A Intentona Comunista
Gen Div Sérgio Costa de Castro
Secretário Geral
Dr. Rodrigo Pedroso
Cel Jorge Peregrino Ferreira Filho
08 – Os Borgs e a Comissão da Verdade
Diretor do Departamento Cultural
Gen Bda José de Oliveira Sousa Ives Gandra da Silva Martins
Diretor do Departamento de Assistência Social
Cel Runi de Augustinis
09 – As Revoluções Brasileiras e a Comissão da Verdade
Diretor do Departamento de Estudo e Planejamento Roberto Nogueira Médici
Cel Marco Antonio de Mattos La Porta
10 – Os Radicais do Poder e a Reforma Cultural em Curso
2º Vice-presidente
Gen Div Marcio Rosendo de Melo Bruno Garschagen
Assessor 2º VP
Cel Carlos Roberto da Silva
12 – Uma Economia Encalhada
Diretor do Departamento Financeiro Rolf Kuntz
Cel Luiz Carlos da Silva
13 – Medíocres Distraídos
Diretor do Departamento Administrativo
Cel Franduya Fernandes P. Rodrigues Lya Luft
Diretor do Departamento Patrimonial
Cel Gerson Nessar Ribeiro da Silva
14 – A Nova Face da Esquerda Brasileira: o “Governismo Lulista”
3º Vice-presidente 15 – O Mundo Macunaímico da Política
Cel Dalmo Roriz de Cerqueira Lima
Fernando Luís Schüler
Assessor 3º VP
Cel Ricardo Arnaldo Lindenblatt 16 – A Guinada Moral-ideológica do Povo Brasileiro e de suas Elites
Diretor do Departamento de Esporte e Lazer
Cel Amir Miguel Filho
Sergio Tasso Vásquez de Aquino
Diretor do Departamento de Hotelaria 17 – É sustentável
Cel Fernando Joaquim Lourenço
Diretor do Departamento de Serviços Gerais
Roberto Pompeu de Toledo
Ten Cel Athayde Rodrigues Gama 18 – Major Ruy e os Olhos do Mundo
Revista do Clube Militar Durval Lourenço Pereira Junior
Diretor
CeI Marco Antonio Esteves Balbi
19 – Fim da Utopia
Conselho Editorial João Luiz Mauad
Presidente
Gen Div Ulisses Lisboa Perazzo Lannes
20 – 60º Salão de Artes Plástica do Clube Militar
Membros José de Oliveira Sousa
Cel Cesar Augusto Araripe de Almeida Lacerda
Cel Hiram de Freitas Câmara
22 – Sessão Solene Comemorativa ao “DIA DO AVIADOR”
Cel Av Manuel Cambeses Júnior
CeI Marco Antonio Esteves Balbi - Secretário
24 – O Controle do Espaço Aéreo Brasileiro: da Integração ao SIRIUS
Publicidade José Alves Candez Neto
Regina Velasco dos Santos Rosa
Tel (21) 3125-8260 27 – Mensalão e República
e-mail:
diretorevista@clubemilitar.com.br
Ricardo Vélez Rodríguez
revista@clubemilitar.com.br 28 – Algumas Lições do Mensalão
Diagramação e Programação Visual
Emerson Guimarães Everardo Maciel
Fotografia 29 – Katyn, uma Floresta Desconhecida!
Regina Velasco
Impressão e Acabamento:
Roberto Rodrigues
Sol Gráfica Ltda.
Rua João Torquato, 289 - Bonsucesso - 21032-150 - Rio de Janeiro - RJ
31 – Conselhos de Competitividade: Consumidor é o Pato
Tel.: (21) 2560-4082 Fax: (21) 2290-8599 Alexandre Barros
Distribuição:
Departamento de Comunicação Social 32 – Aliança do Pacífico faz Sombra ao Mercosul
e-mail: comsocial@clubemilitar.com.br
Denise Tavares / Ana Maria Burnier
33 – XL Curso de Extensão Cultural da Mulher
Tel: 3125-8304 e 3125-8314
Distribuição gratuita
Amaury Friese Cardoso
ISSN 0101-6547
Tiragem: 14000 exemplares
34 – A Crise de Qualidade nas Universidades da América Latina
Correspondência Francisco Vianna
Av. Rio Branco, 251 - 9º andar - 20040-009
Rio de Janeiro - RJ 37 – Atividades do Clube Militar Sede Lagoa
Telefax: (21) 2220-9376
e-mail: ouvidoria@clubemilitar.com.br 38 – Recanto da Poesia - Tributo ao Exército
Portal: www.clubemilitar.com.br
Roberto Sylla Gomes Macedo

Os conceitos emitidos nas matérias assinadas são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Estão autorizadas as transcrições integrais ou parciais das matérias publicadas, desde que
mencionados o autor e a fonte. As matérias enviadas para publicação não serão devolvidas, mesmo que deixem de ser publicadas.
Por imposição do espaço, a redação do artigo poderá receber pequena modificação, sem alterar o seu entendimento e a sua compreensão.
Os anúncios nesta revista são de total responsabilidades dos anunciantes, tirando qualquer responsabilidade do Clube Militar.
Editorial

M
ais uma troca de calen- to de multas. A Revista apresen- A Proclamação da República e
dário. Foi-se o ano de ta alguns artigos que analisam o a Intentona Comunista foram lem-
2012 e inicia-se o de julgamento mais sob o aspecto de bradas com importantes reflexões
2013. O Brasil, na sequência do como ele poderá servir de exemplo sobre o fato histórico ocorrido e as
processo democrático, realizou e antídoto no sentido de evitar a implicações nos dias atuais.
mais uma eleição. Novos prefeitos repetição da prática perversa, que Na tradicional Seção dedicada
e vereadores acabam de assumir prejudica toda a sociedade brasi- aos Novos Camaradas aproveita-
seus mandatos. Os eleitores que os leira. Assim, espera-se uma atitu- se de texto escrito pelo Coronel
sufragaram nas urnas, assim como de de absoluta moralidade no trato Gobbo que, a guisa de emulação
os munícipes que tiveram outras com a coisa pública, em especial aos jovens aspirantes da Turma
preferências, esperam que os un- no tocante aos recursos escassos Bicentenário do Marechal Osorio,
gidos cumpram as promessas reali- e retirados de todos os cidadãos, relembra a passagem dos 50 anos
zadas e efetivamente trabalhem em até de maneira escorchante, via de formatura de sua própria turma,
prol do bem comum e na melhoria impostos cada vez mais elevados. no ano de 1962.
da qualidade de vida do cidadão. Um dos maiores juristas bra-
Afinal, o município é a célula ma- sileiros, Dr Ives Gandra da Silva
ter da vida dos brasileiros. To- Martins, mais uma vez teve a
dos têm a expectativa de oportunidade de se pronun-
que os requisitos míni- ciar sobre o despropósito
mos de educação, saúde da Comissão da Verda-
e segurança sejam aten- de. A Revista reproduz e
didos em comunidades acrescenta outras matérias
organizadas, com infra- a respeito do assunto.
estrutura de transpor- A capa e a maté-
te, saneamento básico, ria principal da Revis-
creches e lazer, apenas ta, como tradicionalmente
para citar os mais impor- acontece neste primeiro nú-
tantes. É também verdade que mero do ano, repercute a exce-
o brasileiro gostaria de enten- lência da realização do 60º Sa-
der melhor o sistema político, lão de Artes Plásticas do Clube
em especial, o eleitoral. Muita Militar. O Gen Oliveira Sousa,
das vezes ele não compreende Diretor Cultural, explana mui-
como o candidato X, no qual ele to bem o assunto e as fotografias
votou, teve mais votos que o can- das obras premiadas dão uma ideia
didato Y e, no entanto, o eleito foi da qualidade dos trabalhos.
Y. Quem sabe um dia não se fará Como sempre acontece, a Re-
uma reforma política séria, com vista selecionou matérias da con-
partidos representativos, sistema juntura para apresentar aos leito-
de votação distrital ou algo nos res, na expectativa de que atenda
moldes e financiamento de campa- ao interesse de todos. É importan-
nha absolutamente transparente? te destacar, a respeito da conjun-
Aguardemos! A Revista não descuidou dos tura, que o Clube Militar mantém
O julgamento da Ação Penal eventos históricos do período. O Dia em sua página na internet uma
470, popularmente conhecida do Aviador é enaltecido com uma re- área dedicada a notícias e arti-
como “Mensalão”, atraiu a aten- portagem sobre a tradicional Sessão gos, permanentemente atualizada.
ção dos brasileiros boa parte do Solene, bem como com um artigo es- Habituem-se a frequentá-la http://
ano que passou. E eis que o mais crito pelo Brigadeiro do Ar José Al- clubemilitar.com.br/categoria/no-
alto nível do Poder Judiciário con- ves Candez Neto, objeto da palestra ticias-e-artigos/
denou a maioria dos acusados, al- apresentada no Salão Nobre, sobre o Para finalizar, que todos te-
guns deles com elevadas penas de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro, nham um ótimo ano de 2013! Boa
restrição da liberdade e pagamen- com informações oportunas e atuais. leitura!

Revista do Clube Militar 2


Palavra do Presidente

I
nício de um novo ano e aprovei- menageando os vinte anos da mu- desenvolvido junto aos cadetes
to para desejar aos nossos sócios lher no Exército, revestiu-se de da AMAN, vem atingindo seus
e amigos leitores, que ele venha pleno êxito. objetivos, hoje com a adesão de
com saúde, paz e prosperidade. Os edifícios Duque de Caxias 182 Aspirantes a Oficial.
À diretoria, aos conselheiros e Marechal Deodoro passaram O ano de 2013 pretende-se
e colaboradores, minha sincera por reformas e melhorias, tendo reafirmar a confiança em nosso
gratidão pela entusiasmada dedi- sido atualizadas as normas de se- quadro social e continuar man-
cação e solidariedade nesse mis- gurança e contra incêndio. tendo elevado o nome da ¨Casa
ter que me foi delegado de pre- O Projeto ¨Novos Camaradas¨, da República¨.
servar as centenárias tradições do
Clube Militar, ao mesmo tempo
em que se promoveu o aperfeiço-
amento de mecanismos de con-
trole da administração e a criação
de novas perspectivas de esporte,
lazer, entretenimento e cultura.
Assim, na sede da Lagoa, fo-
ram realizadas obras importantes
para melhoria das instalações:
uma nova portaria com controle
do acesso dos sócios e convida-
dos; o ginásio Mário Márcio com
piso e arquibancadas novos; uma
quadra de tênis reconstruída; re-
forma das instalações para os
funcionários; a boate teve o seu
piso substituído; o salão de jo-
gos foi modernizado; criados um
novo restaurante para os sócios e
um salão para o café da manhã,
reuniões de turmas e grupos es-
pecíficos; incremento das ativi-
dades de lazer para a garotada nos
fins de semana.
Visando principalmente aos
sócios residentes fora da cidade
do Rio de Janeiro, foram refor-
mados mais de quarenta quartos
do Hotel da Lagoa.
Em Cabo Frio foram e estão
sendo feitas obras para melhorar
a segurança e estada dos associa-
dos, em suas dependências: subs-
tituição de toda a instalação elé-
trica; reforma geral das cabanas e
refeitórios, além do aumento do
patrimônio com aquisição de ter-
renos no perímetro da Sede.
Na sede Central, a 60ª edição
do Salão de Artes Plásticas, ho-

3 Janeiro de 2013
No ano em que os Aspirantes de 1962 completam 50 pois a honra é o atributo síntese de todos os valores
anos de formados, o então cadete de Material Bélico militares.
879, José Gobbo Ferreira, escreve uma carta aos atuais Ressalta, também, com rara oportunidade, a diferen-
cadetes e jovens oficiais, onde ressalta valores e com- ça entre Comandantes e Chefes e orienta os mais jovens
portamentos da vida castrense, de muita utilidade para sobre que atitudes a tomar para liderarem seus subordi-
os jovens oficiais durante o desenrolar de suas carreiras. nados em quaisquer situações.
Ao escrever que “A fortuna do soldado é sua honra. Desta forma, o Clube Militar crê ser uma ótima lei-
Ela é a bússola que lhe mostra o azimute do correto. tura para seus “Novos Camaradas”, por destacar valores
Resguarde-a, ainda que à custa de sua vida, pois não que serão úteis e imprescindíveis ao longo de toda a
existe vida sem honra.” foi de uma felicidade ímpar, Carreira das Armas.

Ao Cadete do meu Exército José Gobbo Ferreira

Há 50 anos minha turma deixava a Academia. Nos- peito e na consideração de pares e subordinados? Ao
sa vida de Aspirante e de 2º Tenente foi vivida dia e longo de sua vida militar, você terá comandantes e
noite dentro dos quarteis, em sucessivos sobreavisos e Chefes. Os comandantes lhe serão impostos. Os Che-
intermináveis prontidões. Um bando de mercenários, fes se imporão a você. Obedeça a ambos com exação,
a soldo da União Soviética de então, de seu satélite pois que a isso lhe obrigam seu Compromisso e a letra
Cuba, pobre ontem e paupérrimo hoje, e da China, dos regulamentos. E ainda que obedeça aos primeiros
tentavam implantar o comunismo em nossa Pátria. só com o corpo, mecanicamente, obedeça aos Chefes
Atualmente, aqueles que restaram daquele grupo, com o corpo, a alma e tudo mais de que dispuser à
mais uma quadrilha de aproveitadores, voltam a ame- mão. O Chefe é aquele para o qual todos os olhares se
açar nossa liberdade, agora de maneira mais sutil, be- voltam nos momentos de aflição. Ele traz nos olhos a
neficiados pela democracia da qual hoje e sempre se centelha do entusiasmo, enquanto os outros exibem as
aproveitam, para destruí-la e depois usá-la. sombras da acomodação. Com esse brilho sagrado no
As Escolas Militares estão na mira desses crimino- olhar, ele é capaz de arrastar qualquer um de nós para
sos. Pensam em modificar seus currículos e de intervir segui-lo através da ponte do Itororó, como fez Caxias,
na formação de seus estudantes, pois as Forças Armadas sublime modelo de Chefe, com os seus. E iremos con-
são a reserva moral de nossa Pátria e uma das últimas fiantes, mesmo sob o intenso fogo do inimigo, pois o
barreiras a impedir a vitória dessas ideias alienígenas soldado de escol se agiganta a comando de um verda-
em nossa Pátria. Por isso, eles buscarão sempre manei- deiro Chefe, e lhe oferece o melhor de si.
ras de corromper a formação de seus alunos, distorcen- Ame fervorosamente o Exército e esforce-se por fazer
do a verdade e tentando atraí-los com cantos de sereias. o máximo em sua carreira. Estude, dedique-se de corpo
Eis por que resolvi dedicar a você algumas pala- e alma ao aprimoramento constante de sua competência
vras, fruto do que aprendi e resumo do comportamen- profissional. O caminho para a mediocridade é largo, su-
to que procurei adotar ao longo de minha carreira. E ave e confortável. Muitos se deixam ficar às suas mar-
até hoje, pois tenho apenas 72 anos de idade e mui- gens, na sombra, hibernando e esperando que a carreira
to preciso ainda aprender para me tornar um soldado se escoe burocraticamente. Mas a trilha que forja o Chefe
cada vez melhor, sempre aprestado para defender esta é árdua, estreita e íngreme. Siga por ela! Jovem Tenente,
terra em que nasci e que amo de todo o coração. pratique sempre a honra, a verdade, a lealdade, a justi-
A carreira das armas não lhe trará riqueza amoeda- ça, o exemplo e a sadia camaradagem. Não permita que
da. A fortuna do soldado é sua honra. Ela é a bússo- tentação nenhuma ou receio algum possa afastá-lo dessa
la que lhe mostra o azimute do correto. Resguarde-a, conduta. Não tema afrontar os poderosos em nome da
ainda que à custa de sua vida, pois não existe vida honra e da justiça. Sinta a presença inefável da Pátria
sem honra. O Cristo perguntou: de que servirá ao ho- à sua volta e deixe que isso permeie todos os seus atos.
mem ganhar o mundo inteiro se para isso vier a perder Esteja sempre pronto para defendê-la, atento para que
sua alma? (Mt 16:26). E nós, soldados, devemos nos ideologias não prosperem em seu solo. Assim, um dia
perguntar: de que vale acumular estrelas no ombro e perceberá que você terá se tornado um daqueles ungidos
medalhas no peito se for à custa da honra? De que em que os olhos se fixam na hora da dificuldade.
adianta galgar as mais altas posições da Força se for Como toda grande instituição, o Exército atravessa
preciso praticar a bajulação e a subserviência? Vale fases boas e más. Mas tudo passa. Haja o que houver,
a pena se elevar na hierarquia e se rebaixar no res- cumpra seu dever. Seja sempre um Chefe para os que

Revista do Clube Militar 4


lhe seguem. Uma tropa sem Chefe é um rebanho à mercê vas dentro dos limites do bom-senso, tendo sempre em
dos lobos, e lobos os há por toda parte, os mais vorazes mente que é próprio da condição humana ser impossí-
onde você menos espera. Mantenha viva a chama da fé: a vel agradar a todos. Cultive a empatia e acostume-se
grandeza do Exército prevalecerá sempre. a ver em seus subordinados seres humanos como você
Você tem a obrigação de buscar a verdade e tudo e, como você, capazes de atos grandiosos e de deslizes
farei para auxiliar nessa busca. Ela o libertará das acabrunhantes. Assim procedendo, você conquistará
incertezas e o protegerá da doutrinação mentirosa, seus corações e mentes e formará com eles uma equipe
principalmente sobre os fatos que cercam a contrarre- unida, disciplinada e competente.
volução de 1964. Milhões de pessoas morreram sacri- Amigos são pedras preciosas que garimpamos ao
ficadas pelo comunismo e outras tantas viveram uma longo da existência. E o Exército é uma mina inesgotá-
vida de medo, angústia, penúria e humilhação. Stalin vel delas. Eles lhe propiciarão momentos da mais pura
na Rússia, Mao na China, Pol Pot no Camboja, Fidel e felicidade. Entre eles você estará em sua tribo, posto em
Guevara em Cuba e outros da mesma laia provocaram sossego, alma em paz e coração alegre. Esteja sempre
mais dor e sofrimento que todos aqueles descritos no pronto a oferecer a seus irmãos de armas a paciência
Inferno de Dante. E, no entanto, por pura avidez pelo que escuta, a mão que auxilia e o ombro que consola, e
poder, ainda há quem os defenda. Se aqueles exemplos deles receberá o mesmo, se um dia vier a precisar.
citados acima são distantes, no espaço e no tempo, Conduza sua carreira de forma a chegar ao termo
basta ver o que se passa hoje em nosso país. Aqueles do serviço ativo respeitado por aqueles que convi-
que foram, de uma maneira ou de outra, afastados pela veram com você, convicto de ter combatido o bom
contrarrevolução, aí estão de novo, beneficiados pela combate e com o glorioso direito de encarar a todos,
Lei da Anistia que, aliás, uma vez que já se serviram olhos nos olhos, sorriso nos lábios, com a consciência
dela, agora pretendem revogar. Você é testemunha e o tranquila e o espírito em paz. Assim como Osório as-
Supremo Tribunal Federal confirmou que parte do gru- severou que a farda não abafa o cidadão no peito do
po que chegou ao poder é o que de pior a política pode soldado, posso lhe assegurar que o traje civil não ex-
produzir em termos de ética, moral, pudor, escrúpulo pulsa o soldado da alma do cidadão. Por isso, para sua
e todas as demais virtudes que nós militares venera- felicidade, soldado você será eternamente. Mantenha
mos. São esses que defendem o comunismo e querem cada vez mais vivos seu amor à Pátria e ao Exército e
reescrever a história a seu modo. Foi contra eles que forme sempre entre os melhores!
lutamos naquela época e vencemos. Fomos magnâni- Muito mais teria a lhe dizer, mas o bom senso re-
mos na vitória. Aprenda que essa é uma cortesia que comenda parar aqui. Suplico ao deus de cada um e ao
não pode ser concedida indistintamente! O Cristo já Deus de nós todos, o Chefe Maior e Senhor dos Exér-
havia ensinado: Não deveis lançar pérolas aos porcos citos, que o oriente ao longo da carreira, iluminando
(Mt 7:6). Caxias, é verdade, foi magnânimo com os seu espírito e apontando-lhe o caminho do dever. Que
Farroupilhas. Mas Canabarro era Canabarro e aqueles Ele o proteja nos combates da existência e lhe dê te-
que vencemos nem apenas barro conseguem ser. São nacidade para superar os obstáculos que ousem tentar
somente lama, que a Justiça está pouco a pouco var- separá-lo de seus ideais.
rendo para a lixeira da história. Quando o Portão dos Aspirantes se fechar atrás
Seus subordinados representam a pedra angular so- de você, as portas de uma nova vida se abrirão à sua
bre a qual repousa sua carreira. Você está sendo prepa- frente. Mergulhe nela confiante, sem medo. É para
rado para comandar. Mas, se não houvesse comanda- isso que nossa Academia o prepara! Foi especialmen-
dos, como fazê-lo? Seu subordinado pode ser o amigo te para você nessa hora, meu jovem e caríssimo guer-
leal, o colaborador dedicado que há de constituir com reiro, que Gonçalves Dias deixou essas palavras:
você, e outros mais, uma equipe harmônica e eficiente. As armas entesa,
Mas pode ser também uma fonte contínua de proble- penetra na vida.
mas. Com qual deles você terá que lidar? A resposta Pesada ou querida,
está nas suas atitudes. Tenha o respeito irrestrito ao viver é lutar.
subordinado como uma das colunas mestras de sua Se o duro combate
vida militar. Seja enérgico, se for preciso, porém cor- aos fracos abate,
tês. Seja exigente, porém sensato. Puna com tristeza, aos fortes, aos bravos,
se necessário for, mas premie com entusiasmo sempre só pode exaltar!
que possível. Jamais se furte de fazer a defesa deles (Canção do Tamoio)
e garantir-lhes proteção quando estiverem ameaçados.
Procure atender aos seus anseios e às suas expectati- * O autor é Coronel.

NR: O autor utiliza o termo "Chefe" da forma que os manuais do Exército conceituam o termo "Lider".
5 Janeiro de 2013
A Intentona Comunista Dr. Rodrigo Pedroso *

O
dia 27 de novembro é uma data que nunca deve ser muito precisas sobre como levar adiante as planejadas
esquecida pelos brasileiros. Nesta data, comemo- ações revolucionárias.
ramos a vitória sobre os traidores que, a soldo de Através do Komintern, o Partido Comunista da União
uma potência estrangeira, intentaram transformar o Brasil Soviética (PCUS) mantinha sob estrito controle a direção
em uma República comunista, e prestamos homenagens às política do Partido Comunista do Brasil, o modo como
vítimas dessa sangrenta insurreição. Trata-se de um caso eram escolhidas as suas lideranças e seus processos de
real, ocorrido no Brasil, e não de informações relativas a formação ideológica. O PCB era totalmente submisso aos
terras longínquas. ditames do PCUS, de quem adotava os símbolos, as ban-
O imperialismo soviético tinha especial interesse pelo deiras e as palavras de ordem, e nada fazia sem o aval e o
Brasil. Em relatório datado de 20 de setembro de 1930, en- financiamento de Moscou.
viado a Moscou por Abraham Guralski, então chefe do es- Para assessorar o planejamento do levante, o Komintern
critório sul-americano do Komintern, constava que “o Bra- passou a enviar agentes estrangeiros para o nosso País.
sil é e continuará sendo o centro de gravidade de todas as
batalhas futuras” (cf. WAACK, William. Camaradas: A his- Nomes dos agentes comunistas a serviço de Moscou
tória secreta da revolução brasileira de 1935 nos arquivos no Brasil
de Moscou. São Paulo, Companhia das Letras, 1993. p. 39).
Margarete Buber-Neumann relata que, antes da re- Com a abertura dos arquivos de Moscou soube-se que
alização do VII Congresso da Internacional Comunista, não eram apenas nove, como inicialmente se pensou, os
houve em Moscou uma reunião da alta cúpula do Komin- estrangeiros pertencentes ao Serviço de Relações Interna-
tern, com a participação, dentre outros, de Luiz Carlos cionais do Komintern que se encontravam no Brasil pre-
Prestes. Nessa reunião decidiu-se que Prestes deveria pre- parando a revolução socialista, mas sim 22. O jornalista
parar uma revolução comunista no Brasil (cf. BUBER- brasileiro William Waak, que pesquisou os arquivos do
NEUMANN, Margarete. La Révolution Mondiale. Komintern após a desintegração da União Sovié-
Paris, Casterman, 1971. p. 349). tica, publicou seus nomes no livro “Camaradas”.
O Komintern (abreviatura de Kommunistítcheski Dentre eles, encontra-se o de Olga Benário, ale-
Internatsional, Internacional Comunista — IC) era mã, que possuía vários codinomes. Membro do IV
uma organização de revolucionários profissionais, Departamento do Exército Vermelho (Inteligência
criada por Lênin em 1919 para implantar o comu- Externa), Olga viajou ao Brasil em dezembro de
nismo em todas as nações e impor aos partidos co- 1934, acompanhando Luiz Carlos Prestes na mis-
munistas de todo o mundo uma única direção e são que lhe fora atribuída pelo Comitê Executi-
orientação. Os partidos comunistas existentes nos vo do Komintern. Presa no Brasil em 6 de março
diversos países deveriam funcionar apenas como de 1936, juntamente com Luiz Carlos Prestes,
seções destacadas do Komintern. O Partido Co- foi deportada para a Alemanha, onde morreu em
munista Brasileiro (PCB), fundado em 1922, se- 1942, em um campo de concentração. Olga nunca
guiu à risca essa determinação, adotando a deno- foi uma heroína, mas uma agente estrangeira que
minação oficial de “Partido Comunista do Brasil veio para o Brasil organizar uma revolução para
— Secção Brasileira da Internacional Comunista”. instaurar um governo comunista e submeter nosso
A 5ª das 21 condições impostas pelo Komintern país ao imperialismo da União Soviética.
aos partidos comunistas nacionais era
a seguinte: “Todos os par- A Intentona: prepara-
tidos comunistas devem ção e objetivos
renunciar não somente ao
patriotismo como também Em dezembro de 1934,
ao pacifismo social”. Prestes saiu da União Sovi-
Os agentes do Ko- ética para liderar a revolu-
mintern tinham poderes ção no Brasil, onde chegou
praticamente ilimitados com passaporte português,
de intervenção nos par- com o nome fal-
tidos comunistas so de “Antô-
dos diversos paí- nio Villar”. O
ses, bem como traidor vinha
instruções com a missão

Revista do Clube Militar 6


que lhe impusera o Komintern: chefiar o movimento ar- A direção do Partido entendeu que Elza punha em risco
mado que se preparava no Brasil. Prestes, que se dizia a segurança da organização e, depois de alguma vacilação,
em Barcelona, estava oculto em lugar ignorado no Rio de tomou a decisão extrema de eliminar a moça. De acor-
Janeiro. De seu esconderijo enviava ordens e manifestos, do com Affonso Henriques, que foi diretor-tesoureiro da
controlando, passo a passo, o desenrolar dos trabalhos. Aliança Nacional Libertadora (frente ampla formada pelo
Quem realmente dirigia o Partido Comunista no Bra- Partido Comunista com outras correntes de esquerda, em
sil eram três estrangeiros: o soviético Pavel Vladimirovi- 1935), “Elza” foi morta a machadadas (cf. HENRIQUES,
ch Stuchevski, o judeu alemão Arthur Ernest Ewert (que Affonso. Ascensão e Queda de Getúlio Vargas. Rio de Ja-
adotava o nome de guerra de “Harry Berger”) e o norte- neiro, Record, 1966. I vol. p. 350), tendo sido seu corpo en-
americano Victor Allan Baron. Eram os homens que man- terrado no quintal da residência de um militante do Partido.
davam em Prestes, simples executor das decisões deles. Houve no Partido quem se opusesse à execução de
Prestes e o PCB contavam com simpatizantes em im- “Elza”. A reação de Luiz Carlos Prestes foi imediata: es-
portantes unidades do Exército. O levante dos quartéis seria creveu uma carta aos membros do “tribunal revolucioná-
o sinal para uma greve geral e o início da revolução. Como rio” tachando-os de medrosos e sentimentalista e exigindo
outras instituições da sociedade brasileira, as Forças Arma- o cumprimento da sentença:
das também sofreram a infiltração de agentes do movimen- Em bilhete anterior ao julgamento de “Elza”, Prestes já
to comunista. Células comunistas, envolvendo oficiais e teria escrito: “Revolução tem que ser implacável. Não há
sargentos, funcionavam no Exército e na Marinha. que ter piedade, há que julgá-la para servir de exemplo.”
Para se ter ideia do que os comunistas pretendiam com Esse era o “romântico” Luiz Carlos Prestes, que o ci-
a Intentona, basta dar uma lida no anteprojeto de Consti- nema não mostrou. Comunismo é isso.
tuição que o Partido Comunista aprovou em 1932: o artigo O assassinato de “Elza” não foi o único. Na mesma
XVI proclamava “a liberdade de uniões sexuaes” (ou seja, época, outros militantes comunistas foram executados por
a abolição da família); o artigo XVII determinava “a ex- não serem mais considerados merecedores da confiança do
propriação de toda propriedade privada sobre casas, terras, Partido: Tobias Warschavski, Bernardino Pinto de Almeida,
fábricas, minas, quédas d’agua, materiaes de transporte” Afonso José dos Santos, Maria Silveira e Domingos An-
e a “libertação imediata de (...) todos os presos communs tunes Azevedo. Estranho como a vida de nenhuma dessas
com mais de 2 annos de detenção” (esse negócio de comu- vítimas do comunismo foi parar nas telas do cinema.
nista defender bandido não é de hoje...); e, finalmente, o
artigo XI proclamava “o não-reconhecimento das igrejas e Epílogo
confissões religiosas” (fonte: A Exposição Anticomunista.
Revista O Observador Econômico, n. 36, jan. 1939). Em 5 de dezembro de 2003, a Comissão de Anistia
do Ministério da Justiça premiou o militante comunista
Depois da Intentona Apolônio Pinto de Carvalho, um dos traidores que partici-
param da Intentona Comunista, com uma pensão mensal
Deflagrada em Natal, no Recife e no Rio de Janeiro, perpétua de R$ 8.000,00, além de uma indenização retro-
a Intentona foi prontamente dominada e seus responsá- ativa. Esse foi o prêmio que Apolônio recebeu do atual
veis presos, julgados e condenados. O arquivo do Partido governo por ter traído a Pátria em 1935. Eu gostaria de
Comunista foi apreendido e bem assim grande parte dos saber quantos brasileiros têm o privilégio de receber R$
relatórios e esquemas elaborados pelo secretariado sul- 8.000,00, todos os meses, sem precisar trabalhar. E esse
americano da Internacional Comunista. prêmio ele o conquistou com a traição à Pátria!*
Luiz Carlos Prestes precisava de um bode expiatório
para sua fracassada revolução. E esse foi encontrado na *Observação
pessoa de “Elza Fernandes”, namorada de “Miranda”,
Secretário-Geral do Partido Comunista. Desgraçadamente, essa afronta seria apenas a precurso-
“Elza”, na verdade se chamava Elvira Cupelo Coloni, ra da infamante série de indenizações e homenagens que,
tinha cerca de 15 ou 16 anos, era pouco politizada e anal- desde então, vêm premiando e enaltecendo assassinos e
fabeta. De família operária, três de seus irmãos também terroristas que nos anos setenta mais uma vez derramaram
participaram do Partido Comunista. Foi presa juntamente o sangue de brasileiros em outra fracassada tentativa de
com “Miranda”, em 13 de janeiro de 1936. Por ser me- implantar no Brasil a ditadura comunista.
nor de idade e não poder ser processada criminalmente
foi liberada pela Polícia, enquanto “Miranda” continuou
NR: Condensação elaborada pelo General-de-Divisão Ulisses Lisboa Perazzo Lannes no
preso. “Elza”, ao ser solta, ainda teve tempo de queimar e artigo original intitulado 27 de novembro – Dia Nacional da Luta Contra o Comunismo, pu-
destruir muitos papéis comprometedores, livrando muita blicado no site do Grupo Guararapes e reproduzido na íntegra na página do Clube Militar na
internet http://clubemilitar.com.br/27-de-novembro-dia-nacional-de-luta-contra-o-comunismo-
gente da prisão. dr-rodrigo-pedroso/

7 Janeiro de 2013
Comissão d
O site Consultor Jurídico, considerado um dos mais comple
tiça em língua portuguesa, entrevistou recentemente o Dr Ive
do Brasil e sócio benemérito do Clube Militar. Por oportuno, a
ta, bem como o artigo por ele escrito e pu

ConJur — Em artigo publicado na Folha de regimes totalitários não há direito de defesa. Quem não
S.Paulo em 2011, o senhor criticou a interpretação pensa igual é perseguido, pode ser morto. São exemplos
que hoje se dá a fatos ocorridos durante o regime o nazismo, o comunismo e o fascismo. A Comissão da
militar, investigados pela Comissão da Verdade. Verdade só quer ver um lado, é uma teoria que não admi-
Em sua opinião, a Lei de Anistia enterrou as situa- te contestação. E as democracias só existem quando há
ções para ambos os lados da luta até mesmo para a contestação. Quando digo que a democracia precisa de
descoberta da verdade? oposições, falo de uma oposição forte, porque o poder
Ives Gandra — A Comissão da Verdade não se propôs tende a ultrapassar e superar todos aqueles que se opõem
a examinar os crimes praticados pelos terroristas contra a ele. E só com posições fortes é que se pode ter aquilo
os militares. No artigo da Folha, eu falo dos Borgs, um que John Rawls chama de “teorias não abrangentes”. As
povo fictício da série Star Trek. Ele tinha um comando teorias abrangentes não são democráticas. Quando digo:
central, uma rainha, e todos os povos de outros plane- “A verdade está comigo e ninguém pode ter uma verda-
tas que eram conquistados se transformavam em metade de”, minha intenção, se eu estiver no poder, é fazer com
humanos e metade máquinas, sob o comando dessa rai- que ela prevaleça e ninguém adote. As teorias não abran-
nha. Ou seja, havia duas saídas para os derrotados: eram gentes, aquelas que admitem o respeito com quem pensa
assimilados ou aniquilados. Típico das ditaduras. Em diferentemente, são aquelas que permitem a democracia.

Os Borgs e a Comissão da Verdade


Ives Gandra da Silva Martins *
Por ser visceralmente contra a tortura, sinto-me à vontade para criticar a
"ideologização" dos fatos passados, a meu ver enterrados com a Lei da Anistia

S
ou um admirador das séries de rios (alemão, italiano e russo, visto tes provocam a eliminação dos opo-
"Star Trek". Suas edições re- que, no início, Stálin apoiou Hitler sitores ou a "assimilação", no estilo
fletem muito a história da hu- na invasão à Polônia). dos Borgs da "Star Trek", daqueles
manidade. Os Borgs são um povo de A vitória de princípios democrá- que vivem sob seu jugo.
humanos robotizados e respondem a ticos naquele conflito, que gerou a Estamos no início de um novo
um comando central único, que pre- Declaração Universal dos Direitos governo, tendo a presidente sina-
tende "assimilar" todos os povos do Humanos, em 10/12/1948, nem por lizado, mais de uma vez, que quer
universo. Assimilar é fazer com que isso eliminou essa luta permanente fazer um governo de união, mas com
pensem rigorosamente como eles e entre ideologias totalitárias, que não respeito aos opositores.
obedeçam como uma só unidade. admitem contestação e que continu- Não creio que a Comissão da
Senão, são mortos. am poluindo a convivência das na- Verdade venha auxiliar muito esse
Os Borgs representam as ditadu- ções e das democracias. seu projeto, na medida em que, so-
ras ideológicas, que não admitem Rawls, em dois de seus livros, bre relembrar fantasmas do passado
contestação e que procuram dominar "Uma Teoria da Justiça" e "Direito e rememorar dolorosos momentos
os povos, eliminando as oposições e e Democracia", mostra que a demo- de história em que militares e guer-
as verdadeiras democracias. Se a 1ª cracia só pode ser vivida se as teo- rilheiros torturaram e mataram, ten-
Guerra Mundial foi um embate pela rias políticas não forem abrangentes de a abrir feridas e a acirrar ânimos.
realocação de poderes na Europa, a em demasia e possam conviver, em Como ex-conselheiro da seccio-
2ª Guerra já foi uma guerra entre as suas diversidades, com outras ma- nal de São Paulo da OAB, durante
democracias e os regimes totalitá- neiras de pensar. Teorias abrangen- seis anos no período de exceção, es-

Revista do Clube Militar 8


da Verdade
etos veículos independente de informação sobre Direito e Jus-
es Gandra da Silva Martins, um dos maiores constitucionalistas
a Revista reproduz uma das questões apresentadas e a respos-
ublicado em jornais de circulação nacional.

tou convencido de que com a arma de que, se for instalada Comissão da inclusive, pedido de confisco de
da palavra fizemos muito mais pela Verdade, ela deve refletir o pensa- meus bens e abertura de um IPM
redemocratização do que os guerri- mento dos dois lados do conflito. (Inquérito Policial Militar), pro-
lheiros com suas armas, que, a meu Tenho fundados receios de que cessos felizmente arquivados — e
ver, só atrasaram tal processo. uma pequena ala de radicais, a título participei da Anistia Internacional,
À evidência, sou favorável a que de defender "direitos humanos" por enquanto tinha um ramo no Brasil,
os historiadores — e não os políti- um único e distorcido enfoque — e por ser visceralmente contra a tortu-
cos — examinem, pela perspectiva os vocábulos permitem uma flexibi- ra, sinto-me à vontade para criticar a
do tempo, o ocorrido naquele perí- lização infinita para todos os gostos "ideologização" dos fatos passados,
odo, pois não são os políticos que —, pretenderá "assimilar", à manei- a meu ver enterrados com a Lei da
contam a história, mas, sim, aque- ra dos Borgs na "Star Trek", todos os Anistia, de 1979.
les que se preparam para estudá-la que não pensem da mesma maneira, Que os historiadores imparciais
e examinam-na sem preconceitos ou transformando uma Comissão da — e não os ideólogos — contem a
espírito de vingança. Verdade em Comissão da Vingança. verdadeira história da época, pois
Apoio, entretanto, o entendimen- Pessoalmente, como combati o são para isso os mais habilitados.
to do então ministro Nelson Jobim regime de então — sofri em 1969, * O autor é Advogado.

As Revoluções Brasileiras e
a Comissão da Verdade Roberto Nogueira Médici *

O
Brasil é um país de patriotas. esquecimento estão a reboque de vontade nacional, submetesse o
Por isso mesmo é um país de todas as revoluções brasileiras. povo brasileiro a um regime to-
revoluções. Nossa História Os lenços vermelhos e brancos talitário. Ela conta a História da
mostra que, em várias ocasiões, bra- que separavam “maragatos” e “xi- contrarevolução que assegurou ao
sileiros se enfrentaram em violentos mangos” na “Revolução Federalis- Brasil o direito de prosseguir na
combates buscando impor o que pen- ta”, a mais sangrenta do Brasil, a sua caminhada democrática.
savam ser o melhor para o Brasil. A revolução da degola, é um só len- Parece que a tradição do per-
“Guerra dos Farrapos” no Rio Grande ço branco a unir todos os gaúchos dão e do esquecimento, que mui-
do Sul e a “Revolução Constitucio- já na “Revolução de 30”. to contribuiu para a unidade e a
nalista” de São Paulo marcaram com A obra do General Agnaldo grandeza nacional, vai ser, aqui,
sangue as terras gaúcha e paulista. Del Nero Augusto, “Médici a ver- quebrada. Mais do que isso, mu-
O Brasil é um país de patrio- dadeira História”, conta a última tilada; busca-se, agora, com uma
tas, vale repetir. Por isso mesmo, revolução brasileira. Demonstra caolha comissão da verdade, punir
o amor à pátria comum faz do Bra- com clareza meridiana que as For- um dos lados: o vencedor. O que
sil uma terra de irmãos. Aqui, por ças Armadas do Brasil impediram, deu democracia ao Brasil.
maiores que tenham sido os ódios em luta de matar e morrer, que um Insuportável injustiça. Imper-
e os ressentimentos provocados grupo de brasileiros, com maciço doável falta de amor à pátria.
pela guerra intestina, o perdão e o apoio internacional e à revelia da * O autor é Engenheiro.

9 Janeiro de 2013
Os Radicais do Poder e a R
Bruno Garschagen *

Começa a terminar, afinal, a solidão estéril do pensamento único. E os


primeiros efeitos desse momento de transição, acredito, começam a aparecer.

A
nos atrás, quando li 'Radicais ência esclarecedora no que tange à não foram tanto os proletários que,
nas Universidades: Como a preferência acadêmica pelos autores afinal, precisavam trabalhar e eram
Política Corrompeu o Ensi- e pensamento de esquerda. detestados pelas elites comunistas ao
no Superior nos Estados Unidos da Este sistema se revelou tão eficaz redor do mundo, mas os estudantes.
América', do sempre excelente Roger que, com o passar dos anos, nem era A situação, porém, começa a mu-
Kimball, a narrativa de como as uni- mais preciso dizer aos alunos o que dar. Já se verifica nos departamentos
versidades americanas começaram se deveria ler ou pensar, como reagir de humanas de várias universidades
a ser convertidas ideologicamente a contra os inimigos e quais teorias e grupos de professores e de alunos
partir dos anos 1960, parecia também ideologias deveriam ser combatidas que de alguma forma escaparam da
expor o fenômeno de aparelhamento e eliminadas. Cumpria-se, assim, doutrinação — nas escolas de ensi-
das universidades brasileiras no mes- mais uma etapa da revolução cultu- no fundamental e médio a situação
mo período. Lá e aqui, as escolhas ral gramsciana de conquista da he- é mais ou menos grave, a depender
intelectuais e o direcionamento polí- gemonia que permitiria a condução da escola e do material didático uti-
tico, assim como a definição ideológi- imperceptível ao poder. lizado, com erros de apresentação e
ca de critérios acadêmicos, passaram Explica-se também daí o fato mui- de análise histórica grosseiros, isto
a ditar as regras, principalmente, nos to comum de, por exemplo, professo- quando a doutrinação não é explíci-
departamentos de ciências humanas. res e alunos dos cursos de história, ta, como revela com frequência o site
Aparelhar as universidades bra- ciências sociais e políticas e econo- Escola sem Partido. São grupos ain-
sileiras durante o regime militar foi mia, terem um discurso pronto con- da minoritários, mas cada dia mais
uma estratégia genial das esquerdas tra certas ideias e autores sem nunca organizados e ativos.
nativas. Poderiam de lá não apenas terem lido uma linha sequer sobre os Há 10 anos escrevi um texto di-
dominar a investigação e orientar objetos da crítica virulenta. E a postu- zendo que vivíamos no Brasil um
as perspectivas de análise da polí- ra agressiva igualmente se manifesta, período de transição cujos resulta-
tica e da economia, como também para defender os ideólogos e intelec- dos mais evidentes apareceriam en-
formar as gerações de professores, tuais que expuseram e legitimaram tre 20 e 30 anos. Não era qualquer
intelectuais, artistas, políticos, que essa cosmovisão em diversas esferas exercício insensato de adivinhação
transformariam a cultura e a menta- do pensamento. ou uma aposta tola naquilo que era
lidade nacional. Bastavam construir Num artigo publicado em 1916, o uma mera e certamente otimista pos-
um programa curricular ideológico, intelectual comunista Antonio Gra- sibilidade futura. Era uma observa-
baseado numa bibliografia que sus- msci escreveu que a afirmação e difu- ção mais ou menos convicta, diante
tentasse esta cosmovisão, e ensinar são vigorosa e enérgica pelo partido daquilo que eu via nitidamente em
a gerações de alunos determinados do “princípio geral da cultura, seja parte da minha geração e numa par-
fatos e abordagens como sendo ver- elementar, profissional ou superior” cela das gerações anteriores.
dades universais e absolutas. tinha sido mais eficiente para a cau- Os assuntos, livros e autores li-
Livros, autores e abordagens crí- sa na Itália do que se tivesse definido dos, discutidos e divulgados eram
ticas a esta visão de mundo eram um programa escolar. “Podemos afir- diferentes daqueles que fizeram a
simplesmente atacados sem sequer mar que a diminuição do analfabetis- cabeça e construíram a mentalidade
serem apresentados adequadamen- mo na Itália não se deve tanto às leis dos que estavam no poder político,
te. Uma simples consulta na biblio- sobre o ensino obrigatório quanto à acadêmico e cultural e os que es-
grafia dos cursos de humanas das vida espiritual, ao sentimento de cer- tavam em vias de conquistá-lo. As
universidades mostra claramente a tas determinações necessárias à vida vacas sagradas deixavam de ser sa-
posição ideológica escolhida. Ou- interior, que a propaganda socialista gradas; a uniformidade bibliográfica
tra consulta, dessa vez no banco de soube suscitar nos estratos proletários fora desnudada; uma determinada
teses da principal universidade pú- do povo italiano”. No Brasil, como na mentalidade era exposta e combati-
blica, a USP, pode ser uma experi- Itália, as maiores vítimas intelectuais da; a perspectiva uníssona fora de-

NR: Publicado no site Ordem Livre – 19/10/2012


Revista do Clube Militar 10
Reforma Cultural em Curso
safiada; começa a terminar, afinal, a seu trabalho intelectual e a sua posi- a sociedade perceba com mais nitidez
solidão estéril do pensamento único. ção política virtuosa em defesa do so- a correção de determinadas ideias e a
E os primeiros efeitos desse momen- cialismo. No máximo, uma ou outra falácia e perigo de suas concorrentes
to de transição, acredito, começam a reação localizada. Dessa vez, não foi ou adversárias. Num ambiente em que
aparecer. E não só no Brasil. o que aconteceu. a pluralidade de ideias seja uma reali-
A internet tem sido um instrumen- Nos jornais, blogs e redes sociais dade cultural, a existência e a defesa
to valioso nessa mudança por permi- foram vários os textos publicados explícita do pensamento de esquerda
tir o acesso à informação, a difusão com críticas mais ou menos funda- é ótimo para expor suas fragilidades e
de ideias e a formação de uma cada mentadas e sensatas, e mais ou me- inconsistências diante dos pensamen-
vez mais colaborativa rede de conta- nos agressivas, contra Hobbsbawn e tos conservador e/ou liberal.
tos. Pequenas, médias e grandes edi- seus livros, e as hagiografias e artigos Nesse sentido, ocupar posições é
toras têm publicado livros que anos mais ou menos sensatos que tenta- fundamental na cultura, na política,
atrás seriam impensáveis no merca- vam salvar a reputação desse ícone no mercado e especialmente nas uni-
do editorial brasileiro. E o têm feito da esquerda no âmbito da história e versidades públicas. Continua sendo
porque se formou um mercado para nos departamentos de humanidades. absurdo pensar, por exemplo, que
isso. Junto com os institutos liberais e A Veja, a revista de maior influência cursos de economia de faculdades
conservadores que foram criados nos e circulação do país, publicou um importantes tenham em seus quadros
últimos anos e têm desenvolvido um texto extremamente crítico sobre as professores antimercado.
trabalho fantástico, as ações indivi- escolhas política, moral e intelectual Se há atualmente um início de
duais que têm desafiado o statu quo do historiador e o recorte ideológico debate mais ou menos contundente,
possui uma vantajosa característica que realizou em suas obras. embora ainda teoricamente pobre e
que pode ser classificada como al- Ao se darem conta de que a épo- frágil, entre conservadores e liberais,
ternativa, diria mesmo reformadora, ca do pensamento único, pelo me- também este é um sinal de mudan-
e não revolucionária. A vantagem da nos daquele exposto publicamente, ça com possibilidade de amadureci-
reforma sobre a revolução é agir de já não mais existia, alguns reagiram mento para algo mais substantivo no
forma quase silenciosa, sem estron- furiosamente e o cadáver de Hobs- futuro. É preferível que haja um am-
do, e assim dificultar, de certa forma, bawn foi agitado em praça pública, biente no qual liberais e conservado-
a reação dos adversários. A outra, na como naqueles cortejos furiosos em res possam dialogar e discutir as suas
esfera pública, é ter um aspecto muito que se celebram os cadáveres dos diferentes concepções éticas, morais,
mais simpático por recusar a imposi- terroristas islâmicos. Algumas fo- políticas e econômicas e concorrerem
ção violenta do que quer que seja; a ram embaraçosas, como a nota di- politicamente, do que a atual domi-
arma é a persuasão militante e eficaz. vulgada pela Associação Nacional nação cultural, política e econômica
Essa faceta revolucionária sedu- de História (ANPUH) contra outro alicerçada numa ideologia extrema-
ziu e corrompeu o espírito juvenil texto publicado no site da Veja. As mente maléfica para a sociedade.
de brasileiros de diferentes classes críticas a Hobsbawm pareceram Este não é um texto de fundo
sociais e idades ao longo de décadas. mais ofensivas aos seus defensores otimista. Sei bem que a dominação
A juvenilidade intelectual e moral é do que se lhes fossem insultadas as dessa ideologia e mentalidade é um
uma doença que abre rachaduras no respectivas progenitoras. dado concreto e a sua influência ain-
indivíduo e permite a entrada do re- O caso do historiador inglês foi da é gigantesca nas diversas esferas
cheio revolucionário. E, nesse senti- apenas mais um exemplo da histe- de poder e camadas sociais. Se esta-
do, não há melhor instrumento para ria usada como pretexto para atacar mos mesmo no curso de um proces-
fazê-lo do que o ensino. os alvos usuais: o neoliberalismo, o so de mudança, as poucas conquis-
Outro traço da mudança em cur- conservadorismo, a mídia golpista, as tas políticas e culturais registradas
so foi a reação pública à morte do elites e, mais recentemente, os insti- não farão qualquer diferença se os
historiador inglês Eric Hobsbawm. tutos liberais. Em suma, uma reação seus fundamentos teóricos não fo-
Até a década de 1990, o falecimento contra toda e qualquer manifestação rem desenvolvidos, difundidos e
de Hobsbawm, convertido em autor desagradável ao statu quo cultural a protegidos contra os ataques siste-
obrigatório nos cursos de história, se- que estavam acostumados e conforta- máticos dos adversários e inimigos
ria mais uma oportunidade para que velmente instalados. declarados da liberdade.
o pensamento dominante celebrasse Mudanças culturais permitem que * O autor é Jornalista.

11 Janeiro de 2013
Uma Economia Encalhada
Rolf Kuntz *

O
Brasil exportou de janeiro a como lembrou em discurso no ano 57,4% haviam sido classificados
outubro US$ 202,4 bilhões, passado a senadora Kátia Abreu, presi- dessa forma. A avaliação cobriu a
5,5% menos que um ano an- dente da Confederação da Agricultura qualidade da pavimentação, da sina-
tes, pela média dos dias úteis, e isso se e Pecuária do Brasil (CNA). Ela men- lização e da geometria das estradas.
explica apenas em parte pela crise nos cionou 4 milhões de quilômetros de ro- É preciso investir muito mais, tan-
principais mercados. Com o comércio dovias asfaltadas nos Estados Unidos, to para manutenção quanto para ex-
internacional em marcha lenta, a dispu- 1,5 milhão na China e 196 mil no Bra- pansão e modernização do sistema,
ta por clientes ficou mais dura. Os pro- sil. Lembrou as ferrovias americanas, e para isso o governo lançou o Plano
dutores brasileiros têm perdido espaço com 226 mil quilômetros de extensão, Nacional de Logística e Transportes.
até no mercado interno para concor- as chinesas, com 74 mil, e as canaden- Foram projetados investimentos de
rentes estrangeiros mais competitivos. ses, com 48 mil, e as comparou com as R$ 430 bilhões até 2023, mas o pa-
A infraestrutura deficiente e de baixa brasileiras, com apenas 29 mil. cote inicial é de R$ 133 bilhões para
qualidade, especialmente rodovias, ferrovias,
na área de logística, é uma portos e aeroportos. O
das maiores desvantagens governo reconheceu
de quem produz no Brasil. suas limitações finan-
Numa lista de 144 países, ceiras e decidiu chamar
o Brasil fica na 123ª posi- o setor privado para
ção quando se comparam participar dos projetos
estradas, na 134ª quando se por meio de concessões
trata de aeroportos e na 135ª e de parcerias. A novi-
quando o assunto é o sistema dade é promissora, mas
portuário, segundo o Índice o governo ainda terá de
de Competitividade Global cuidar dos critérios de
divulgado anualmente pelo seleção das empresas,
Fórum Econômico Mundial. dos editais e das lici-
Graças à sua eficiência, tações. Os contratos só
a agricultura nacional con- passarão pelo Tribunal
tinua vendendo muito, mas de Contas da União se
para isso precisa vencer os procedimentos fo-
obstáculos temíveis. O exportador bra- O contraste é quase espantoso, rem mais cuidadosos do que têm sido
sileiro gasta em torno de US$ 125 para quando se trata do transporte hidro- até recentemente. Apesar do impor-
levar uma tonelada de soja de Mato viário. Apesar de sua invejável ma- tante papel atribuído ao setor privado,
Grosso ao Porto de Santos, enquanto lha fluvial, o Brasil tem apenas 7 mil o governo terá de mostrar muito mais
o concorrente americano paga US$ 25 quilômetros de hidrovias, enquanto os competência do que tem mostrado na
para o transporte entre Illinois e Nova Estados Unidos têm 41 mil, a China gestão dos programas.
Orleans. Números como esses, divul- 124 mil e a Rússia 102 mil. Parte im- O Ministério dos Transportes fi-
gados por entidades de produtores e de portante do discurso foi uma cobrança cou quase travado por mais de um
exportadores, dão uma primeira ideia de investimentos em eclusas para fa- ano, depois da faxina realizada em
da ineficiência logística e do choque de cilitar a navegação em rios importan- 2011, quando se tornou impossível
qualidade quando se cruza a porteira tes da Região Norte. para o governo ignorar uma longa
da fazenda ou o portão da fábrica para Mas o quadro fica mais feio quan- e custosíssima história de banda-
o sistema público de transporte. Na- do se examina a qualidade das ma- lheiras. Muito mais que financeira,
quela comparação, caminhões levam o lhas disponíveis. As condições das a limitação dos investimentos em
produto brasileiro ao porto, enquanto estradas brasileiras pioraram entre infraestrutura tem sido política e ge-
a mercadoria americana é transportada 2011 e 2012, segundo pesquisa anu- rencial. Essa parte do problema foi
por hidrovia. Mas o brasileiro estaria al da Confederação Nacional dos atacada apenas limitadamente, desde
em desvantagem, de toda forma, se o Transportes (CNT), divulgada em o ano passado. Seria preciso ir mais
confronto fosse entre as malhas rodo- 24 de outubro. Quase dois terços longe, na profilaxia, para vencer os
viárias dos dois países. dos 95.707 quilômetros avaliados - males do loteamento e do aparelha-
O Brasil perde na maior parte das 62,7% - estão em condição regular, mento da administração federal.
comparações com países relevantes, ruim ou péssima. No ano anterior, * O autor é Professor.

NR: Publicado no Jornal O Estado de São Paulo – 12/11/2012


Revista do Clube Militar 12
Medíocres Distraídos
Lya Luft *

L
eio com tristeza sobre quantos
países como Coreia do Sul e
outros estimulam o ensino bá-
sico, conseguem excelência em pro-
fessores e escolas, ótimas universida-
des, num crescimento real, aquele no
qual tudo se fundamenta: a educação,
a informação e a formação de cada um.
Comparados a isso, parecemos
treinar para ser medíocres. Como
indivíduos, habitantes deste Brasil,
estamos conscientes disso e que-
remos — ou vivemos sem saber
de quase nada? Não vale, para um
povo, a desculpa do menino levado sem exceção, somos prejudicados e o propósito parece ser o de que
que tem a resposta pronta: “Eu não pelo nosso próprio desinteresse. isso ainda piore.
sabia”", “Não foi por querer”. Nosso país tem tamanhos proble- Pois, em lugar de estimularmos
Pois, mesmo com a educação — mas que não dá para fingir que está os professores e melhorarmos imen-
isto é a informação — tão fraquinha tudo bem, que somos os tais, que samente a qualidade de ensino de
e atrasada, temos a imprensa para somos modelo para os bobos eu- nossas crianças, baixamos o nível
nos informar. A televisão não traz só ropeus e americanos, que aqui está das universidades, forçando por
telenovelas ou programas de auditó- tudo funcionando bem, e que até vários recursos a entrada dos mais
rio: documentários, reportagens, no- crescemos. Na realidade, estamos despreparados, que naturalmente
tícias, nos tornam mais gente; jornais parados, continuamos burros, doen- vão sofrer ao cair na realidade. Mas
não têm só coluna policial ou fofocas tes, desamparados, ou muito menos a esses mais sem base, porque fize-
sobre celebridades, mas nos deixam burros e doentes e desamparados do ram uma escola péssima ou ruim,
a par e nos integram no que se passa que poderíamos estar. Já estivemos dizem que terão tutores no curso
no mundo, no país, na cidade. em situação pior ? Claro que sim. superior para poder se equilibrar e
Alienação é falta grave: omissão Já tivemos escravidão, a morta- participar com todos.
traz burrice, futilidade é um mal. lidade infantil era assustadora, os Porque nós não lhes demos con-
Por omissos votamos errado ou nem pobres sem assistência, nas ruas dições positivas de fazer uma boa
votamos, por desinformados não reinava a imundície, não havia aten- escola, para que pudessem chegar
conhecemos os nossos direitos, por dimento algum aos necessitados ao ensino superior pela própria ca-
fúteis não queremos lucidez, não (hoje há menos do que deveria, mas pacidade, queremos band-aids inefi-
sabemos da qualidade na escola do existe). Então, de certa forma, mui- cientes para fingir que está tudo bem.
filho, da saúde de todo mundo, da ta coisa melhorou. Mas poderíamos Não se deve baixar o nível em coisa
segurança em nossas ruas. estar melhores, só que não parece- alguma, mas elevar o nível em tudo.
O real crescimento do país e o mos interessados. Todos, de qualquer origem, cor,
bem da população passam ao largo Queremos, aceitamos, pão e cir- nível cultural e econômico ou am-
de nossos interesses. Certa vez es- co, a Copa, a Olimpíada, a balada, o biente familiar, têm direito à excelên-
crevi um artigo que deu título a um joguinho, o desconto, o prazo maior cia que não lhes oferecemos, num dos
livro: “Pensar é transgredir”. Inevita- para nossas dívidas, o não saber de maiores enganos da nossa história.
velmente me perguntam: “Transgre- nada sério: a gente não quer se in- Não precisamos viver sob o me-
dir o quê?”. Transgredir a ordem da comodar. Ou pior: nós temos a sen- lancólico império da mediocridade
mediocridade, o deixa pra lá, o nem sação de que não adianta mesmo. que parece fácil e inocente, mas tra-
quero saber nem me conte, que nos Mas na verdade temos medo de sair va nossas capacidades, abafa nossa
dá a ilusão de sermos livres e leves às ruas, nossas casas e edifícios têm lucidez e nos deixa tão agradavel-
como na beira do mar, pensamento porteiro, guarda, alarmes e medo. mente distraídos.
flutuando, isso é que é vida. Será? Nossas escolas são fraquíssi-
Penso que não, porque todos, todos mas, as universidades péssimas, * A autora é Escritora.

NR: Publicado na Revista Veja – 07/12/2012


13 Janeiro de 2013
A Nova Face da Esquerda Brasileira:
o “Governismo Lulista”

A
extraordinária façanha dos esquerdistas brasileiros Hoje, a versatilidade do esquerdismo (encabeçado
foi ter conseguido reunir, numa mesma corrente so- sem dúvida pelos petistas no poder) levou o panorama
cial difusa, políticos, imprensa e elites, através de político à completa estagnação em torno de meia dúzia
uma plataforma que contraria o interesse da maioria da po- de pontos convergentes, sobre os quais divergir virou
pulação brasileira. um esporte para poucos abnegados. Políticos apavo-
Uma das últimas capas da revista Carta Capital apre- rados em ser confundidos com algum tipo de “oposi-
sentava uma manchete reveladora: “O Embate Final”, a ção” convertem-se à situação, mesmo contra a vontade
respeito do 2º turno paulistano entre Fernando Haddad dos próprios governistas (caso de Gilberto Kassab, por
e José Serra. Mas qual era o real significado expresso exemplo, o estorvo inevitável de tucanos e petistas,
por tal ideia? o apoio que ninguém parece querer), abrindo mão da
A intenção da esquerda brasileira — como de resto disputa e do debate político natural a qualquer demo-
qualquer esquerda — tem sido levar o ambiente político cracia. Todos querem ser, em alguma esfera e em al-
a um beco sem saída, onde qualquer agenda a ser apli- gum momento, “governo”. Se o preço a ser pago para
cada passe necessariamente por seu próprio crivo. Uma isso é o socialismo, ninguém parece incomodado o su-
espécie de “fim da história” em versão partidarizada. ficiente para rejeitar as condições.
Na cabeça de muitos esquerdistas brasileiros É possível afirmar que a maneira encontrada pela es-
(como aqueles que leem e editam a revista), o jul- querda brasileira para rearranjar o campo político bra-
gamento do Mensalão está longe de ser a “vitória sileiro, de maneira a eliminar a oposição sem derramar
suprema” do império das leis sobre o abuso dos po- muitas gotas de sangue, foi uma mistura informal de
líticos, funcionando na verdade como um exame de “governismo” com “lulismo”, que poucos têm coragem
pós-graduação para petistas e congêneres serem tes- ou disposição para questionar.
tados nas urnas: se nem a desmoralização e a cadeia O governismo é expresso pela certeza de que qual-
para alguns de seus líderes conseguiu provocar uma quer mudança, atividade ou evolução terá de acontecer
derrota proporcional na eleição, quem ou o quê pode- necessariamente com a interferência direta do Estado e
rá impedir a marcha socialista estampada na bandeira que, portanto, vale ser governo (e não oposição) inde-
dos mensaleiros e de seus camaradas? pendente do que isso signifique. O lulismo, por sua vez,
Tal fenômeno não poderia ocorrer sem o apoio mui- funciona como avalista de tal princípio, a face visível
tas vezes explícito de jornalistas, acadêmicos e repre- do projeto de poder proposto — a ponto de nem mesmo
sentantes da elite brasileira (elite entendida de maneira os maiores adversários de Lula parecerem ter a valentia
geral, inclusos aí empresários e lideranças sindicais, necessária para desafiá-lo, sob pena aparente de diluir a
por exemplo). Se o ambiente político refletido nas elei- própria “popularidade”, medida de maneira muitas ve-
ções assumiu um caráter especialmente consensual em zes suspeita pelos institutos de pesquisa.
2012, não foi sem o apoio direto ou o conformismo de De maneira mais ou menos compacta, as principais
amplos setores influentes da sociedade, divididos entre lideranças políticas brasileiras, bem como os órgãos da
colaboradores entusiásticos e apalermados. grande mídia, o alto empresariado e a elite universitária
Durante muito tempo, a esquerda brasileira foi iden- e sindical gravitam em torno dessa manifestação prag-
tificada com o oposicionismo permanente e militante mática de esquerdismo: quem é menos “governista”
(função exercida hoje pelos partidos nanicos de extre- muitas vezes alinha-se a Lula, ou vice-versa. Um bom
ma esquerda). Ao assumir o governo (primeiro através exemplo disso é o próprio PSD kassabista: embora pos-
da social democracia tucana e depois do socialismo de sa ter em seus quadros nomes tradicionalmente relacio-
origem sindical e universitária do PT), tal composição de nados ao liberalismo e à iniciativa privada, algum deles
forças políticas foi migrando da inspiração revolucioná- assume postura pública contrária ao lulismo? Raramen-
ria, nacionalista, anticapitalista e flagrantemente violenta te. Por outro lado, esquerdistas mais “sofisticados” (se
para sua versão modernizada, competitiva, globalizada, é que isto é possível), incomodados com a vulgaridade
disposta a arranjos “à direita” e "à esquerda" com as mais de métodos e palavras posto em prática por Lula, não
variadas vertentes organizadas, sem contudo perder de deixam de viver abraçados ao governismo teórico ou
vista seus objetivos estatizantes e de transformação so- aplicado (são acadêmicos de formação marxista, ideal
cial a algum preço (ou a qualquer deles). estatizante ou estudiosos de toda espécie dependentes

Editorial do site Mídia@Mais – 07/11/2012


Revista do Clube Militar 14
de bolsas e verbas públicas do próprio governo). Ao contrário, entretanto, do “fim da história” preconi-
A grande imprensa, por sua vez, acompanhada do rol zado pela Carta Capital e pelos esquerdistas governistas e
habitual de celebridades descerebradas com microfones lulistas que ela representa, a perspectiva que se desenha
grudados no pescoço, aceita a ideia socialista de interven- para o Brasil e seu panorama político pode ser ligeiramen-
ção governamental ao mesmo tempo em que submete-se te diferente do que preveem socialistas esfuziantes e con-
a Lula com medo da suposta popularidade do mestre. servadores abatidos: uma nova contraposição de forças,
Isto tudo, sem esquecer os capitalistas brasileiros desta vez entre dependentes do Estado e contribuintes, en-
alimentados pelo combustível dos empréstimos públi- tre órgãos aparelhados e cidadãos comuns, entre candida-
cos, subsídios e políticas protecionistas. Mais gover- tos profissionais e lideranças independentes. Como fazer
nismo impossível. tal batalha ser iniciada e com qual fonte de energia ali-
Enquanto tal composição de forças conduz o país, acoto- mentá-la (Leis de iniciativa popular? Desobediência civil?
velando-se próxima do poder de modo a aumentar as benes- Reforma política? Ações de inconstitucionalidade? Mili-
ses particulares que só o governo (especialmente o federal) tância profissionalizada nas redes sociais?) é a pergunta a
pode conceder, uma imensa parcela da população brasileira ser respondida — e cuja resposta parece interessar a todos,
é mantida do lado de fora do debate e da disputa eleitoral. menos à esquerda (governista e lulista) no poder.

O Mundo
Macunaímico da Política Fernando Luís Schüler *

T
enho dificuldades para imagi- lítica e o mundo jurídico. No mundo operação gramsciana: um exército de
nar que outro partido, que não jurídico, faz todo sentido a lógica bru- intelectuais, professores, jornalistas e
o PT, teria a capacidade de atra- tal enunciada por Joaquim Barbosa, ativistas de todos os tipos, em geral
vessar praticamente incólume a um segundo a qual roubo é roubo, ladrão no controle de organizações sindicais,
julgamento como o que assistimos, no é ladrão, fatos são fatos. É a mesma comunitárias, estudantis e afins, rever-
STF. Por ampla maioria, a Suprema lógica simples que guia a vida das pes- berando os argumentos que interessam
Corte do país, com sete de seus onze soas, dia a dia, quando educam os seus ao partido a cada momento, em uma
ministros indicados pelos presidentes filhos, pagam suas contas e devolvem apaixonada "guerra de posições" pela
Lula e Dilma, condenou a cúpula his- o troco dado a mais na padaria. Ocorre hegemonia política.
tórica do partido, nos termos que todos que, por muitas razões, as pessoas não Não há dúvidas de que o julgamento
conhecemos. O processo já ingressou transferem este modelo de raciocínio do mensalão pertence à história da Re-
no terreno da história. Na linguagem para o mundo da política. Expressão pública. E só a ela. A desconstrução do
do mercado financeiro, seu custo elei- maior desta dicotomia é o argumento mundo macunaímico da política, que o
toral já está precificado e parece ter que, em última instância, sustentou a STF, sob a batuta de Joaquim Barbosa,
sido, no fim das contas, irrelevante. defesa dos réus do mensalão: a tese se- produziu, simplesmente pela afirmação
Trata-se de um intrigante caso de re- gundo a qual não havia, efetivamente, de fatos e valores amplamente compar-
siliência política. Na antevéspera do jul- nenhum criminoso entre os acusados, tilhados, não terá, ao que parece, qual-
gamento, havia a expectativa de que ele visto que nenhum roubara para fins quer efeito educativo perceptível em
funcionasse como um divisor de águas, pessoais, e sim meramente políticos. nossa vida pública, ao menos no curto
uma espécie de redenção ética da vida O PT tem mostrado dominar à prazo. Quem sabe suas lições sejam
pública brasileira. Ledo engano. No fim perfeição a arte de lidar neste mundo digeridas, muito lentamente, no futuro,
do processo eleitoral, no mundo real da fluido da política. E o faz com duas pelos historiadores de ofício, e sirvam
política (e independentemente do gosto vantagens cruciais: aparece como pro- de aprendizado para uma nova compre-
partidário de cada um), tudo indica que tagonista de uma história contada e ensão ética da vida republicana.
quem estará comemorando o "troco", recontada, em nossa cultura política, Na língua do mercado financeiro, o
nas eleições, é José Dirceu, ainda que segundo a qual a "esquerda" é ética custo eleitoral do mensalão já está 'pre-
as máscaras mais vendidas no carnaval e democrática, enquanto a "direita" é cificado' e parece ter sido, no fim das
sejam as de Joaquim Barbosa. corrupta e autoritária. E esta, num ar- contas, irrelevante.
Muita tinta ainda vai se gastar para gumento circular, define-se pelo ato O PT é um intrigante caso de resili-
explicar este fenômeno. Um bom pon- de opor-se ao próprio partido. A se- ência política.
to de partida é compreender uma dis- gunda vantagem é a competência para
tinção elementar entre o mundo da po- colocar em marcha uma gigantesca * O autor é Diretor do Ibmec-Rio.

NR: Publicado no Jornal O Globo - 30/10/2012


15 Janeiro de 2013
A Guinada Moral-ideológica do
Povo Brasileiro e de suas Elites
Sergio Tasso Vásquez de Aquino *

T
ranscorreu em 15 de novem- assunto, creio ter chegado a uma con- do, para abarcar o conjunto total da
bro de 2012 o centésimo vi- clusão aceitável: foi na Constituinte e nova Constituição em elaboração, a
gésimo terceiro aniversário da na consequente Constituição de 1988 fim de utilizar o zelo patriótico militar
República no Brasil, mas os tristes que foram infiltrados as sementes e os para prevenir a ocorrência de possí-
fatos que têm toldado nossa realida- meios para desviar o Brasil dos seus veis agravos ou atentados atinentes às
de político-econômico-social-militar, destinos e criar o ambiente propício demais expressões do Poder Nacional
nos mais recentes vinte e dois anos, para a destruição que, desde 1990, no futuro.
fazem com que seja cada vez mais vem sendo sistemática, deliberada, Infelizmente, o tempo confirmou
lembrada, com imensa saudade e am- eficaz e eficientemente levada a efeito meus temores, já que a Carta Mag-
plificado respeito, a figura justa, sábia para minar o moral, a moral, a ética na elaborada incorporou influências
e magnânima do nosso último monar- nacionais, permitir os agravos ina- e ideias caras aos seguidores antina-
ca, Dom Pedro II. ceitáveis à soberania e a interferên- cionais da associação neocolonial-
Os patriotas verdadeiros, que se cia externa crescente e indevida nos esquerdista radical, como da ampla
devotaram a vida inteira a defender, assuntos nacionais e o bem sucedido demarcação das terras indígenas, de
promover e elevar a Pátria, encon- assalto da esquerda radical ao poder. salvaguarda de pretensos direitos his-
tram-se tristes e perplexos, sentem-se Nomeado representante da Marinha tóricos de supostos quilombolas, de
sós e abandonados diante do caótico perante a Assembleia Nacional Cons- incentivo a divisões e conflitos com
quadro de desmazelo moral, desres- tituinte em 1987, tive oportunidade de base racial, de relativismo moral e
peito às leis e aos direitos dos seme- combater, com sucesso, a mando e em de aceitação de teses deletérias “po-
lhantes, corrupção e violência gene- nome das Três Forças Armadas então, liticamente corretas“ associadas, de
ralizadas, perversão ideológica que o projeto de criação do Ministério da leniência com as ideias e práticas es-
tudo vai levando de roldão, diante da Defesa, ideia estimulada de fora, por querdistas radicais e revanchistas, que
mansa aceitação e até aplauso e apoio fontes externas de poder, que gozava pouco a pouco moldaram o caráter
político da maioria desavisada e igna- também do amplo apoio dos revan- das gentes, modificaram suas manei-
ra do povo e das elites inertes, quando chistas de esquerda vencidos nas lu- ras de pensar, sentir e agir, segundo
não coniventes e ativas participantes tas cruentas e políticas das décadas de o modelo de Gramsci, e dominaram
da destruição da alma nacional. 1960-1970, e que visava a reduzir a a conjuntura nacional. Daí havermos
Quando tudo começou? Onde foi participação militar na vida nacional chegado ao preocupante momento
o ponto de inflexão, de abandono da e a neutralizar a vigilante atuação das que vivemos, devido aos agrava-
nossa trajetória de povo altivo, senhor Forças em defesa do primado da lei e mentos decorrentes das más práticas
dos seus destinos, soberano, indepen- da ordem estabelecida, da soberania e político-administrativas adotadas nos
dente, justamente orgulhoso da nossa da independência. anos 1990-2002 e, principalmente,
portentosa herança nacional, dos nos- Os representantes das Três Forças 2002-2012, associadas aos efeitos da
sos valores, costumes e tradições, dos e do EMFA na Assembleia Nacional ampla, geral e irrestrita lavagem cere-
grandes heróis que escreveram com Constituinte, cumprindo as ordens bral propiciada pelas custosas e bem
honra as páginas gloriosas de nossa recebidas dos escalões militares su- urdidas mensagens propagandísticas
História e foram capazes de, com seus periores da época e utilizando os e publicitárias de cunho oficial nos
feitos e o sacrifício do seu sangue, sólidos, respeitáveis e patrióticos períodos citados.
construir o colosso verde-amarelo? argumentos derivados da Doutrina A ignorância, a incultura, a menti-
Onde e quando deixamos de sonhar Militar e dos impostergáveis e exclu- ra, a demagogia, o revisionismo his-
e de perseguir o sonho de grandeza, sivos compromissos com a defesa da tórico, a luta pela subversão da ordem
do país do futuro e da terra da espe- Pátria, conseguiram assegurar a per- estabelecida passaram a ser motivos
rança, estribado no valoroso trabalho manência de princípios e conceitos de aplauso, apoio político e idolatria
honrado do dia a dia, na dedicação e que diziam diretamente respeito aos para a maioria dos eleitores e a ditar
na capacidade de sacrifício sem limi- interesses fundamentais da expressão os rumos e resultados das eleições
tes e nos talentos dos filhos da terra militar e da sua atuação específica. Na nacionais, estaduais e municipais.
amada? ocasião, tive oportunidade de propor Nenhuma instituição de peso e seus
Depois de muito meditar sobre o que o foco de atenção fosse expandi- responsáveis levantam-se para resta-

Revista do Clube Militar 16


belecer a verdade e promover a virtu- ças e nos compromissos assumidos É preciso rezar e crer que, apesar
de. Apenas o STF e os corajosos e res- com o Brasil e em combater o bom de tudo, e mercê de Deus, o Brasil
peitáveis Ministros que condenaram e combate. É estranho e doloroso per- haverá de despertar, novas lideran-
puniram o mensalão devolvem-nos ceber que, em âmbito geral, a menti- ças fortes, corajosas e puras haverão
a esperança por melhores dias, junto ra transforma-se em verdade, o vício de surgir, para devolver nossa Terra
com a luta constante dos velhos mi- em virtude, os vilões em heróis e os aos caminhos de paz, prosperidade,
litares, na reserva e reformados, en- heróis em vilões por efeito das vence- justiça e fraternidade. O STF apon-
canecidos no fiel serviço à Pátria, que doras versões da totalizante máquina tou o caminho!
teimam em perseverar nas suas cren- propagandística a serviço das trevas! * O autor é Vice-Almirante.

É Sustentável Roberto Pompeu de Toledo *

E
lá vamos nós, outra vez. Tal qual Cármen Lúcia disse que nunca, O saldo maior do julgamento do
na deposição de Fernando Collor, em sua vida profissional, vira alguém Supremo Tribunal Federal é a defe-
tal qual na denúncia dos anões do comparecer a um tribunal para confes- sa do Estado democrático de direito.
Orçamento, tal qual nas vitórias eleito- sar um crime e sugerir que sua práti- Por não acreditar nele, o PT tentou
rais de candidatos ou partidos nas quais ca é normal. “O ilícito não é normal”, revogá-lo, ao revogar o Congresso
se vislumbrava a vitória da ética e dos continuou. “Caixa dois é crime, caixa pelo suborno.
bons costumes, eis-nos embalados pela dois é uma agressão à sociedade bra- O projeto, como disse o presiden-
esperança de que agora vai, agora é para sileira. Fica parecendo que ilícito no te do tribunal, Carlos Ayres Britto,
valer, o país superou uma etapa e galgou Brasil pode ser praticado, confessado era de poder, não de governo, o que
um novo patamar civilizatório. e que tudo bem. Não está tudo bem”. implicava uma trampolinagem nos
Nenhuma dúvida de que o julga- O mote da ministra pode ser apro- constrangimentos impostos pelas
mento do mensalão representa uma veitado em outras situações da vida instituições. A investigação que em-
virada de página. Jamais tantos e tão brasileira, pública e privada. No Bra- basou o julgamento não foi longe o
notáveis réus foram condenados. A sil, “é normal” subornar o guarda de suficiente, no entanto, para rastrear o
questão é saber se o movimento ini- trânsito assim como “é normal” os destino final dos muitos milhões de
ciado pelo Supremo Tribunal Federal é profissionais liberais perguntarem se o reais envolvidos no caso.
“sustentável”, para formar emprestada cliente quer fazer o pagamento com re- Ficou nos líderes e presidentes de
uma palavra mais frequente no reper- cibo ou sem recibo (eles também prati- partidos que recebiam as quantias e
tório dos economistas e ambientalistas. cam o caixa dois). não apurou a quem teriam sido re-
Nesse ponto, o passado nos condena. Na vida pública, “é normal” fatiar o distribuídas. Não só muita gente fi-
Em seguida ao caso Collor imagi- ministério entre escusos parceiros e mais cou de fora, como não se fixaram as
nou-se que estava exorcizado o risco “normal” ainda satisfazer com rendosas bases para requerer a devolução do
de alguém tentar algo parecido. Da diretorias de estatais a cobiça dos alia- dinheiro. Como não “é normal” em
perspectiva de hoje, transparece que dos. O julgamento do mensalão coin- episódios do gênero no Brasil, os
não poucos candidatos e partidos en- cidiu com a campanha para as eleições réus foram condenados; mas, como
xergaram ali um modelo de conquista e municipais, e o que se viu na campanha? “é normal”, o dinheiro escapou.
manutenção do poder muito útil, desde O PT em São Paulo aliou-se a um polí- O caminho aberto com as conde-
que executado sem tanta ostentação e tico que não pode pôr o pé para fora da nações do mensalão será sustentá-
despreparo, além de muito proveitoso ilha de sossego chamada Brasil porque, vel, entre muitas outras premissas,
para o patrimônio pessoal. sendo procurado pela Interpol, em qual- quando as condenações incluírem a
A ministra Cármem Lúcia, a ad- quer outro país se arrisca a ser preso. devolução do dinheiro. Ou quando
mirável campeã dos votos curtos e da Apresentaram-se como candidatos, os partidos se empenharem em coli-
economia na erudição e na retórica, pelo país afora — como “é normal” — gações baseadas em programas e não
protagonizou um grande momento ao representantes de partidos que funcio- em fisiologia. Ou ainda quando, em
insurgir-se contra a tese da defesa do nam como estandes de venda de si mes- seguida a um episódio como este,
ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. A mos. Nas negociações para as alianças elegermos um Congresso melhor.
ministra lembrou que o advogado de do segundo turno, não se discutem, e E será, pobres de nós, não quando
Delúbio, Arnaldo Malheiros, afirmara nem sequer se finge discutir, conver- cada um desses fatores se impuserem
que o cliente não negava ter operado gências de programas. O que ocorre isoladamente, mas quando todos ocor-
no caixa dois. E por que operara no cai- — como “é normal” — são transações rerem simultaneamente. Árduo é o per-
xa dois? Ora, acrescentou o advogado, em torno de cargos e outras vantagens, curso que ainda temos pela frente.
porque a origem do dinheiro era ilícita. algumas ilícitas, “e tudo bem”.
* O autor é Jornalista.

Publicado na Revista Veja – Nr 2291 – 17/10/2012


17 Janeiro de 2013
Major Ruy
e os Olhos do Mundo Durval Lourenço Pereira Junior *

A
perda de um ente querido nor- homens e mulheres vendendo o próprio a casca externa do ser humano. Para o
malmente se revela capaz de corpo. Houve destaque até para o estudo mundo, Ruy não passava de um velho
provocar mais reflexões sobre a de um juiz-forano sobre um tal pássaro cheio de velhas histórias de heroísmo e
vida do que a leitura de muitos livros. formigueiro-assobiador do Poço de An- bravura, e a grande mídia não se inte-
Ainda que inevitável, quase sempre ela tas. Contudo, nenhuma notícia sobre o ressa muito por elas, pois cultiva seus
vem acompanhada da surpresa. Por isso, falecimento do Major Ruy foi veiculada, próprios valores: a juventude, o hedo-
quando recebi a notícia do falecimento nem ao menos num rodapé de canto de nismo, o prazer da carne e do consumo,
do Major Ruy de Oliveira Fonseca, o página ou no obituário. o “eu” sempre em primeiro lugar; afinal,
mundo quase veio abaixo. Ao me ver triste e inconformado, isso tudo faz sucesso e vende bem mais
Na minha imaginação, o Major Ruy minha esposa — sempre ela — decidiu — patriotismo e civismo são conceitos
não era o veterano com idade provecta consolar-me, revelando algo que estava ultrapassados.
(97 anos), de corpo franzino e que ca- diante dos meus olhos, mas que eu não Quando jovem, Ruy frequentou o
minhava sempre amparado. Apesar de enxergava — uma visão que parece lou- Seminário São José por seis anos — era
conhecê-lo de longa data, a imagem que cura aos olhos dos homens: não havia um homem de fé. Quem teve o privilé-
cultivava do seu porte físico era oposta. o que lamentar. Deus me brindara com gio de partilhar da sua amizade, perce-
Em nossas conversas por telefone, sua a amizade do Major Ruy durante anos. bia nele o olhar de quem enxerga muito
lucidez, inteligência e memória notável Como se não bastasse isso, sem que além do que a maioria dos homens é
forjaram a imagem do tenente de infan- eu soubesse, o Criador me concedera a capaz — além dos olhos do mundo. A
taria jovem e cheio de vida, que retornou oportunidade do último adeus, trazendo frase final do seu Diário de Guerra, es-
da Itália vitorioso após II Guerra Mun- o veterano à minha residência — ainda crita quando estava no convés do navio
dial. Assim, a sua morte causou um ver- que debilitado fisicamente — poucos que o trouxe de volta ao Brasil, prestes a
dadeiro “choque de realidade”. meses antes: Ruy viera despedir-se. desembarcar, é reveladora:
Sua revelação me fez sentir tal qual “Revisto-me de muita esperança e
o personagem Neo acordando da ilusão de muita energia para enfrentar o futuro
forjada pela Matrix. Foi como se esti- que me aguarda. Será uma nova guer-
vesse imerso numa realidade ilusória, ra e já estou preparado para ela. Como
chafurdado no universo da futilidade no Capistrano (local de treinamento da
humana, onde as energias são drenadas FEB), aguardo a ordem do Comandante
continuamente para o vazio. Supremo da Vida: Em frente, marche!”.
Estava procurando no lugar errado. O Tenente Ruy seguiu em frente e
Não seria nos jornais onde encontra- travou sua nova guerra, como marido
ria algo sobre o amigo que partira. Os e pai dedicado. Lutou, venceu e, então,
olhos da mídia são os olhos do mundo, e descansou.
o mundo só tem olhos para as suas coi-
sas. Ruy de Oliveira Fonseca não fora
político, jogador de futebol, milionário
O então Tenente Ruy em 1945
ou artista famoso: o tipo de gente que
a mídia tanto idolatra. Paradoxalmente,
Procurando notícias sobre o faleci- foi ele um dos cidadão mais ilustres de
mento na internet, consultei o princi- Juiz de Fora: um dos 25.334 brasileiros
pal jornal da cidade no dia seguinte ao que lutaram na Itália, durante a II Guer-
seu enterro, onde encontrei a edição de ra Mundial — e o fez galhardamente
domingo recheada das suas pautas cor- — comandando o Pelotão de Petrechos
riqueiras: intrigas eleitorais, assaltos e Pesados da 4ª Cia do II Batalhão do 11º
furtos; na coluna social, matérias pagas Regimento de Infantaria.
com fotos de socialites auto-massagean- O Major Ruy representa a figura do
do o ego; na seção de esportes, notícias cidadão patriota, voluntarioso e corajo-
do time da cidade rebaixado para a 4ª so, que arriscou a vida pelo seu país e
Divisão do Campeonato Brasileiro; nos por seus ideais. Porém, o mundo nor- Major Ruy em entrevista para o
Projeto Memória Viva
classificados, propagandas da venda de malmente despreza isso — a não ser que
imóveis e veículos, além de anúncios de fareje lucro. O mundo enxerga apenas * O autor é Tenente-coronel.

Revista do Clube Militar 18


Fim da Utopia João Luiz Mauad *

S
ão inúmeras as explicações para O apogeu da social-democracia eu- evolução tecnológica que cria e destrói
os atuais problemas europeus. ropeia ocorreu em meio à Guerra Fria, ofícios e profissões numa velocidade
Uns apontam para a rigidez com num período marcado pela limitação tremenda. Em segundo lugar, as insti-
que o BCE administra o Euro, outros à livre movimentação de pessoas, ca- tuições de proteção social, concebidas
para especulação dos mercados ou para pitais e produtos, quase sempre me- fundamentalmente para compensar o
a moderna engenharia financeira. Até diante rígidos controles burocráticos fracasso individual, fomentam de modo
mesmo o surrado espantalho neoliberal e barreiras tarifárias. Com a queda do inexorável a ineficiência, num mundo
aparece de vez em quando como cul- Muro de Berlim e a aceleração do pro- globalizado cada vez mais competitivo.
pado. Embora evidências saltem aos cesso de globalização, consequência Thatcher concluiu, há trinta anos,
olhos, essas análises costumam ignorar direta da profusão de novas tecnolo- que as premissas do “marco social”
que, muito além de mera crise monetá- gias que permitiram a movimentação — que imperou a partir da 2ª Guerra
ria ou de crédito, o que está em xeque muito mais dinâmica da informação, — haviam sido derrubadas e, a me-
é o próprio modelo de bem estar social, dos capitais, dos produtos e do próprio nos que o modelo então vigente se
sob o qual sucessivos governos, tanto trabalho, as sociedades europeias se transformasse profundamente, seria
à direita quanto à esquerda, têm finan- viram, da noite para o dia, numa sinu- varrido pelo furacão da globalização.
ciado “direitos” generosos com altos ca de bico, obrigadas a promover uma As reformas liberais que seu governo
impostos e pilhas enormes de dívidas. reavaliação profunda do modelo, algo produziu, no entanto, se deram algum
Tudo isso sem que as economias do ve- até então impensável. fôlego à economia britânica por algum
lho continente consigam crescer o bas- E não é para menos: enquanto a tempo, já foram completamente rever-
tante para manter a farra. taxa de natalidade não para de cair e tidas pelos governos esquerdistas que
Malgrado sua concepção eminente- os velhos vivem cada vez mais, os gas- o sucederam — preocupados, como
mente coletivista, a experiência social- tos com saúde e aposentadorias ficam sempre, não com os baixos índices de
democrata que floresceu na Europa Oci- cada vez mais caros. Por outro lado, crescimento e produtividade, mas com
dental após a Segunda Guerra manteve a relação entre trabalhadores ativos e a utopia do “bem comum”.
o modelo econômico capitalista, pelo inativos segue diminuindo rapidamen- Evidentemente, a falência do “wel-
menos no sentido de que a propriedade te. Tudo isso em meio ao baixo cresci- fare state” não se dá de forma unifor-
privada dos meios de produção era per- mento econômico que já dura décadas. me. Dependendo das instituições e da
mitida, ainda que altamente concentra- Uma eventual mudança de rumo, en- cultura de cada país, ela é mais lenta
da nas mãos de poucos. O arquétipo do tretanto, não deixará de ser traumática, ou mais rápida. O modelo é mais resis-
“capitalismo selvagem” foi substituído notadamente para aqueles que se acos- tente nos países nórdicos, germânicos e
por um sistema híbrido, que combina tumaram com privilégios “sociais” anglo-saxãos — ancorados numa ética
grandes conglomerados industriais e fi- abundantes e pouco trabalho. severa, na primazia da responsabilida-
nanceiros, frequentemente patrocinados Uma das primeiras a entender que de individual e na valorização do traba-
e tutelados pelo Estado, uma agricultura as políticas da social-democracia pre- lho — do que nos países mediterrâne-
altamente subsidiada, além de empresas cisavam ser revistas foi Margareth os, mais chegados ao patrimonialismo
miúdas — quase sempre comerciais ou Thatcher, que compreendia a natureza e à cultura de privilégios. Mas não se
de prestação de serviços. Para comple- daquela armadilha econômica em seus iludam: a médio prazo, mesmo esses
tar, a hipertrofia dos governos formou dois aspectos principais. Em primeiro países precisarão promover mudanças
um enorme contingente de funcionários lugar, não é possível manter um merca- liberalizantes que tornem suas
públicos que, em alguns países, che- do de trabalho baseado na estabilidade economias mais dinâmicas
ga perto de 50% da população do emprego, especialmente em vista da e competitivas.
economicamente ativa.
* O autor é Administrador de Empresas.

NR: Publicado no Jornal O Globo – 04/07/2012 19 Janeiro de 2013


60º Salão de Artes Plás
José de Oliveira Sousa *

“... Eu tenho acompanhado a evolução deste Salão e pude observar o alcance que ele está tendo a nível nacional,
graças à ... e pela diversidade de linguagens que nele encontrei. ... A nossa dificuldade, enquanto jurados neste Salão,
foi em função da qualidade das obras que aqui chegaram.” (Professor Guilherme Guimarães, Técnico do MNBA -
Membro do Júri/60º SAP).

E
m 07 de novembro de 2012, o Técnico do MNBA), a Solenidade de no Pentatlo Moderno, nas “Olimpí-
Clube Militar vivenciou uma Premiação da 60ª Edição deste Salão adas de Londres”) - e a uma aluna
noite muito especial, verda- de Artes, que completou 65 anos de do Colégio Militar de Porto Alegre
deiramente de gala, ao ser realizada a existência, o que realmente o torna (CMPA) - Aluna Yasmin, que em 22
solenidade de premiação do 60º Salão “idoso” (a quantos salões em ativi- de setembro de 2012 foi a campeã do
de Artes Plásticas (SAP), seguida da dade no Brasil podemos dar-lhes essa quadro “Soletrando”, no programa
inauguração de “um dos mais belos qualificação?), comemorou, também, do Luciano Huck.
salões de arte do Rio de Janeiro e do os “125 Anos do Clube Militar” e ho- Quem esteve presente ao evento
Brasil” (afirmaram alguns daqueles menageou os “75 Anos de Criação pode avaliar o alto nível das ativida-
que aqui se fizeram presentes, vindos do Museu Nacional de Belas Artes” des realizadas e constatar a beleza
de locais distantes do nosso País, da (MNBA) e os “20 Anos da Mulher no desse Salão de Artes Plásticas, que
Região Norte à do Sul). A dimensão Exército Brasileiro”. teve a inscrição de 138 pintores, es-
nacional do SAP/Clube Militar vem Além de pôr fim ao clima de ex- cultores e desenhistas e um total de
sendo gradativamente alcançada, gra- pectativa experimentado pelos ar- 276 obras, das quais 178 foram clas-
ças à sua seriedade, idoneidade, con- tistas participantes, quanto ao seu sificadas e expostas (137 pinturas, 14
tinuidade e apurado tato com o artista resultado (que só é divulgado nessa desenhos e 27 esculturas).
plástico (atenção, respeito e conside- cerimônia), um dos momentos de Deixamos aqui o nosso agrade-
ração) que dele participa. grande emoção foi a homenagem re- cimento: aos artistas plásticos par-
Presidida pelo General de Divisão alizada à três militares - Maj Carla ticipantes do 60º SAP, por ajudar a
Sérgio Costa de Castro, 1º Vice-pre- Beatriz (integrante da primeira tur- escrever mais uma página da história
sidente do Clube, e contando com a ma do segmento feminino formado do nosso Salão e, por meio da arte, do
presença dos três membros do Júri na na Escola de Administração do Exér- próprio Clube Militar; à FHE/POU-
mesa principal - Sra. Carmen Thomp- cito, em 1992), Ten Silvia Nobre PEX, pelo patrocínio; e ao FRAN
son (Artista Plástica) e Srs. Arima- Waiãpi (primeira mulher indígena MOURÃO, pelo apoio cultural.
téia (Professor e Artista Plástico) e oficial das Forças Armadas) e Sgt * O autor é General de Brigada e
Guilherme Guimarães (Professor e Yane Marques (Medalha de Bronze Diretor do Departamento Cultural do Clube Militar.
Revista do Clube Militar 20
sticas do Clube Militar
Medalha de Ouro
Grande Prêmio

Renats Renats
“Meu Dom” “Pelô”
“20 anos da Mulher no
Exército Brasileiro”
Medalha de Ouro
Medalha de Ouro
Quadro Social

Sandra Kuster
“Força Sensível”
Mazeredo de Escultura

Baby
Prêmio

“Nossa Senhora”

Vanda Almaraz Vanda Almaraz


“Paternidade” “Maternidade”
Prêmio Alcides Cruz

Prêmio Fundação Casa


do Estudante do Brasil

Ukeil Alix Alix


“Uma Estrela na Mão” “O Anjo” “Jovem com Adornos Festivos”
21 Janeiro de 2013
Sessão Solene Comemorati
Faz parte da tradição do Clube Militar celebrar as principais datas comemorativas das três Forças Armadas.
Em 16 de outubro transcorreu a homenagem, do corrente ano, pela passagem do Dia do Aviador (23 de
outubro) e que contou com a significativa presença de militares do III COMAR,
associados do Clube, autoridades civis e militares.
Após o Canto do Hino Nacional, o Cel Roberto Barbosa,
Diretor Social, leu a alocução de sua autoria abaixo transcrita:

A
qui, neste Salão Nobre de incontestáveis tradições
patrióticas, reunimo-nos uma vez mais, postando-
nos respeitosos diante da sagrada Bandeira da
nossa Pátria — a qual contemplamos livre, coesa, gran-
diosa, sagrado símbolo da nossa liberdade —, para home-
nagearmos a gloriosa Força Aérea Brasileira, neste mês,
quando, dia 23, cultua-se a extraordinária figura de Alber-
to Santos Dumont, o insigne brasileiro cujo talento criador
revolucionou a engenharia mundial, resolvendo sobretudo
o problema da dirigibilidade nos ares, até então tido como
uma impossibilidade.
Impossível, portanto, levantar os olhos aos céus da
nossa terra, feita prados, e serras, e cascatas, e imensida-
des, sem nos lembrarmos das poderosas esquadrilhas que
os cruzam em todos os quadrantes, guardiãs invencíveis
do nosso formidável território continental. Nada mais belo, admirável, nobre, grandioso.
Ajoelhamo-nos, assim, contritos, em oração, extasia- Impossível não creditarmos aos integrantes da
dos diante do fascinante rebrilhar do sol nessas asas que Força Aérea o apanágio das nossas esperanças, que é
passam velozes, sobranceiras, sublimes em suas insubsti- como o ar — só quando nos falta é que sentimos sua
tuíveis missões constitucionais de paz e de guerra. imprescindibilidade.
Esperança de um Brasil consciente da significância de
sua representação na coalizão das nações democráticas,
no equilíbrio das forças garantidoras de nossos direitos
no concerto internacional dessas nações, na dissuasão de
movimentos aventureiros que busquem captar — para mi-
nar — a vontade autêntica do nosso povo bom, mas quase
sempre ingênuo, espoliado, mas sempre trabalhador, ho-
nesto, mas por vezes aviltado.
A Pátria Brasileira se emociona diante da coragem de
seus filhos que alçam voo sobre campos, florestas, cidades
e mares, enfrentando incontáveis adversidades inespera-
das, por entre nuvens e tempestades.
Como eternizado na letra de seu belo hino, cavaleiros
do século do aço lançam o roncar das hélices e das turbi-
nas nos espaços imensos, sem se curvarem a perigos, por-
quanto são capazes de oferecer suas vidas em holocausto
à honra da Pátria. São ínclitos brasileiros que cultuam a
reconhecida integridade imaculada da biografia fascinante
do Brigadeiro Eduardo Gomes — admirável Patrono des-
sa Força integradora de ideias e de bens, a qual leva o

Revista do Clube Militar 22


iva ao “DIA DO AVIADOR”
alfabeto, o remédio, a cruz, o agasalho, o pão aos mais
inóspitos rincões do país.
Importa sempre ressaltar a resposta de Coelho Neto,
ímpar literato de uma época, quando da aclamação de Al-
berto Santos Dumont para a Academia Brasileira de Le-
tras, a outro acadêmico que questionava quais as obras
escritas pelo Pai da Aviação.
Gesticulando, trêmulo, olhos faiscantes, desabafou:
“Escreveu nas estrelas. Cada avião que se levanta é como
página escrita por ele para a glória da nossa Pátria”.
“Brasil”, “Demoiselle”, “14 Bis” materializam a vi-
tória da vontade, da determinação, da inteligência des-
te filho dos contrafortes da Mantiqueira, imortalizado
como notável personalidade da engenharia mundial
— precursor das viagens aéreas e da exploração
do cosmos, na inquietante busca de interpreta-
ção da origem da vida.”
A seguir, o Brigadeiro do Ar José Alves Can-
dez Neto, Chefe do Subdepartamento de Operações
do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DE-
CEA), fez uso da palavra e proferiu a elucidativa pales-
tra “O Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro – Ao término da explanação, o Presidente do Clube
SISCEAB”. As informações atualizadas que o Brigadeiro Militar, Gen Tibau, entregou uma singela lembrança
Candez prestou em sua abordagem fez com que a Direção ao Brigadeiro Candez, materializando os agradeci-
do Clube Militar, na pessoa do seu Presidente, solicitasse mentos da instituição.
ao autor que resumisse as principais ideias e tópicos abor- O Major Brigadeiro do Ar Rafael Rodrigues Filho, Co-
dados para a publicação na Revista. Os leitores poderão mandante do III COMAR, fez uso da palavra para agra-
compulsar nas páginas seguintes o artigo sobre o tema. decer a tradicional homenagem, entregando ao Presidente
do Clube Militar uma significativa réplica em miniatura
do Muniz M7, primeira aeronave de fabricação nacional.
Com os presentes entoando o Hino do Aviador, a ceri-
mônia foi encerrada.

23 Janeiro de 2013
O Controle do Espaço Aéreo Bras
José Alves Candez Neto *

O
Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro Do mesmo modo, debruçados sobre o Oceano
(SISCEAB) atua sobre uma porção considerável Atlântico, como uma imensa porta que se abre aos
do Hemisfério Sul Ocidental. Uma área que su- continentes africano e europeu a partir da América
pera os 8,5 milhões de km² do nosso território e estende- do Sul, temos um papel preponderante no contexto
se a grande parte do Atlântico até o Meridiano 10 Oeste. do controle do espaço aéreo mundial. Não à toa, figu-
No total, são cerca de 22 milhões de km² de espaço aéreo ramos também como um dos dez países membros do
sob jurisdição do Estado brasileiro. Conselho da ICAO, desde sua fundação.
Diariamente, são mais de 12 mil profissionais atuan- Servimos, assim, ao Estado Brasileiro como um
do em uma série de atividades que asseguram a fluidez dos pilares sobre o qual se assenta o transporte aéreo
do tráfego no País e, concomitantemente, a defesa aérea no País, cooperando e compartilhando providências
brasileira. Profissionais de alto gabarito que elevam seus com os segmentos de administração da aviação civil
esforços a um patamar de excelência, reconhecido inter- e da infraestrutura aeroportuária no que concerne às
nacionalmente. atividades que garantem a segurança, mobilidade e
Esforços de uma missão que, dada a sua intangibi- eficácia deste transporte.
lidade, muitas vezes, passa despercebida, mas revela-se O Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro
na atuação cotidiana das organizações do SISCEAB nos tem como órgão central o Departamento de Controle do
serviços prestados aos usuários, que corroboram os 95% Espaço Aéreo (DECEA). Sediado no Rio de Janeiro - RJ,
de conformidade em procedimentos operacionais e de o DECEA é responsável pelo planejamento e gerencia-
segurança, aferidos em recente Auditoria da Internatio- mento das atividades relacionadas ao controle do espaço
nal Civil Aviation Organization (ICAO), que destacou o aéreo, à proteção ao voo, ao serviço de busca e salvamen-
nosso sistema entre os cinco mais eficazes do mundo. to e às telecomunicações do Comando da Aeronáutica.

Revista do Clube Militar 24


sileiro: da Integração ao SIRIUS
Outras doze Organizações Militares subordinadas ao análoga civil. Concebido originalmente para ser opera-
DECEA atuam diretamente na implantação e manutenção do pela Força Aérea em operações militares ou civis, o
dos sistemas e recursos utilizados e na execução opera- modelo resulta hoje em uma significativa economia de
cional das atividades-fim que consubstanciam no cumpri- meios e recursos. E uma vez que ambas as modalidades
mento das metas e atribuições do Órgão Central. São elas: estejam sob o mesmo comando, o SISCEAB é capaz de
CINDACTA I - Primeiro Centro Integrado de Defesa atender a qualquer contingência com rapidez, respaldado
Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Brasília-DF) por uma integração harmônica de procedimentos, nor-
CINDACTA II - Segundo Centro Integrado de Defesa mas, recursos e, mesmo, linguagens.
Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Curitiba-PR) O Sistema brasileiro viabiliza uma harmonização de
CINDACTA III - Terceiro Centro Integrado de Defesa procedimentos que atende com êxito às demandas da
Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Recife-PE) aviação civil, consoante as regulamentações emanadas
CINDACATA IV - Quarto Centro Integrado de Defesa pela ICAO, bem como as necessidades estratégicas da
Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Manaus-AM) Força Aérea Brasileira, estabelecidas pelo Comando de
SRPV-SP - Serviço de Proteção ao Voo de São Paulo Defesa Aeroespacial Brasileiro.
(São Paulo-SP) Por tudo isso, recebe da ICAO a recomendação para
CISCEA - Comissão de Implantação do Sistema de Con- que seja tomado como referência de um modelo de su-
trole do Espaço Aéreo (Rio de Janeiro-RJ) cesso, junto à comunidade aeronáutica internacional.
PAME-RJ - Parque de Material de Eletrônica da Aero-
náutica do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro-RJ) Projeto SIRIUS
ICEA - Instituto de Controle do Espaço Aéreo (São José
dos Campos-SP) O Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro
ICA - Instituto de Cartografia da Aeronáutica (Rio de está comprometido com a implementação dos chamados
Janeiro-RJ) “sistemas de navegação aérea do futuro”, o CNS/ATM,
GEIV - Grupo Especial de Inspeção em Vôo (Rio de por meio do Projeto SIRIUS.
Janeiro-RJ) Um novo paradigma para o controle do espaço aéreo
1º GCC - Primeiro Grupo de Comunicações e Controle — tal qual os programas de modernização norte-ameri-
(Rio de Janeiro-RJ) cano, NEXTGEN, e o europeu, SESAR — a implemen-
CGNA - Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea tação do SIRIUS no Brasil traduz-se na aplicação em
(Rio de Janeiro-RJ) grande escala de tecnologia satelital, comunicação digi-
Seja nas capitais, nos municípios de médio porte ou tal e de uma gestão estratégica das operações, a partir da
mesmo nos rincões mais remotos do País, nossa organi- integração de tecnologias, processos e recursos humanos,
zação faz-se presente em todo o Território Nacional, de destinados a suportar a evolução do transporte aéreo.
Norte a Sul, Leste a Oeste. Isso porque a capilaridade do Os novos recursos vêm iniciando suas operações con-
Sistema estende-se a todos os nossos ativos de navega- forme os prazos delineados no cronograma oficial de im-
ção aérea, dos 79 Destacamentos de Controle do Espaço plementação, que prevê ações de 2010 a 2020. Em linhas
Aéreo (DTCEA), que são sub-unidades regionais distri- gerais, eles propiciarão ao País:
buídas pelo interior do País, nas 27 Unidades Federativas Uso mais racional do espaço aéreo.
brasileiras. Aumento da eficiência da gestão do tráfego aéreo.
Algumas características, no entanto, fazem do SIS- Redução da emissão de gases nocivos na atmosfera.
CEAB um modelo de sucesso mundial; nosso Sistema Redução de ruído nas comunidades vizinhas aos ae-
integra a defesa aérea e o controle do tráfego aéreo, ródromos.
atuando nas esferas da aviação civil e militar simulta- Redução da carga de trabalho dos controladores.
neamente. Em outras palavras, tem por missão gerir e Redução da carga de trabalho dos pilotos.
controlar o tráfego aéreo civil viabilizando a Circulação Redução de custos para os provedores dos serviços de
Aérea Geral, ao mesmo tempo em que assegura a defesa navegação aérea.
do espaço aéreo soberano brasileiro. Redução de custos para os operadores de aeronaves.
Este conceito difere de outros países, sobretudo dada Melhor atendimento aos usuários do transporte aéreo.
a presteza do Comando da Aeronáutica, que terminou Nesse contexto, a implementação da Navegação Ba-
por estruturar uma base operacional de controle de tráfe- seada em Performance (PBN — do inglês Performance-
go aéreo antes mesmo da implantação de uma estrutura Based Navigation) — conceito associado à navegação

25 Janeiro de 2013
aérea por satélite que, dentre outros benefícios, reduz e Em 2009, estabeleceram-se as prioridades, as ações
otimiza o percurso das rotas — deve ser destacada. Sua e os prazos a serem cumpridos para a execução dos ob-
operação nas rotas brasileiras irá originar importantes re- jetivos concernentes à implementação do SIRIUS, com
sultados, otimizando as rotas, provendo mais autonomia a publicação do Programa de Implementação ATM Na-
aos voos e reduzindo as emissões de gases poluentes. cional (PCA 351-3). O documento disciplinava o pro-
O PBN redesenha e otimiza a estrutura dos trajetos cesso de implementação do CNS/ATM — sobretudo as
de navegação. Proporciona uma rota menor, melhor fases iniciais — além de consolidar a estrutura analítica
controlada e muito mais precisa, utilizando sistemas da implantação.
avançados de gestão de voo e de bordo inercial, além Inúmeras iniciativas, porém, antecederam-se ao cro-
de satélites e sistemas terrestres. nograma, a partir da identificação de necessidades opera-
Esse modelo proporciona um aproveitamento do espaço cionais, disponibilidade de tecnologia adequada e aloca-
aéreo, cuja eficácia jamais fora alcançada. Ele torna exequível ção de recursos. Dentre elas, destacaram-se:
a utilização de muito mais rotas no mesmo espaço, com meno-
res separações, ou mesmo aproximações simultâneas, gerando a) A criação do Centro de Gerenciamento da Navegação
um aumento significativo na capacidade das terminais aéreas. Aérea (CGNA).
Alguns destes aspectos já são observados nas Termi- b) A implantação da tecnologia de Vigilância Aérea (Vi-
nais Aéreas de Recife e Brasília, que já operam baseadas gilância Dependente Automática por Contrato /ADS-C)
no procedimento. O grande desafio, porém, será a imple- no Centro de Controle de Área Atlântico (ACC-AO), in-
mentação do PBN nas aproximações e saídas das termi- corporando benefícios de segurança e eficácia ao fluxo
nais aéreas de maior movimento do País — São Paulo e de tráfego aéreo sobre o oceano.
Rio de Janeiro — em 2013. c) A instalação dos dispositivos que propiciam a apro-
Do mesmo modo, com o SIRIUS, passaremos a ou- ximação de precisão por satélites, o GBAS (Sistema de
vir mais o termo "Vigilância Dependente Automática". Aumentação Baseado em Solo), no Aeroporto do Galeão,
Comumente conhecido como ADS — sigla inglesa para a fase inicial de testes.
para Automatic Dependent Surveilance — o recurso, d) Implantação da Navegação Baseada em Performance
avalizado pela (ICAO), permite à aeronave a transmis- (PBN) nas terminais de Recife e Brasília.
são contínua e automática de dados inerentes ao voo, e) O início das pesquisas para a implementação da ADS-
tais como localização, destino, modelo de aeronave, B (Vigilância Dependente Automática por Radiodifu-
velocidade, altitude, dentre outros. são), nas operações “Off shore” da Bacia de Campos.
A visualização ininterrupta das aeronaves permite ao f) A implantação — em andamento — de ferramenta de
ADS a utilização racional de todo o espaço aéreo con- sequenciamento de aeronaves em área terminal (rota de
siderado, de modo similar ao serviço provido por um chegada e aproximação).
radar. Há, no entanto, duas diferenças determinantes: Naturalmente, a evolução do Sistema de Controle do
uma é o custo, muito inferior; outra é a capacidade de Espaço Aéreo Brasileiro ocorrerá de maneira gradual e
abrangência, muito maior. coordenada, sempre capitaneada pelo Departamento de
O SISCEAB já está operando com o ADS-C. O siste- Controle do Espaço Aéreo, órgão central do Sistema.
ma está instalado no Terceiro Centro Integrado de Defesa A gestão estratégica do transporte aéreo brasileiro,
Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA III), no somada ao desenvolvimento tecnológico dos equipamen-
Recife. A unidade hospeda o Centro de Controle de Área tos de bordo das aeronaves, à utilização de dispositivos
Atlântico (ACC-AO), setor responsável pelo controle móveis de navegação e à automação dos sistemas permi-
das aeronaves que evoluem no espaço aéreo de jurisdição tirão melhorias significativas para a atividade. Assim, o
brasileira sobrejacente ao Oceano Atlântico. Brasil antecipa-se às demandas e certamente estará apto
Com o ADS-C, desde então, aeronaves que cruzam para atender o crescimento vertiginoso dos movimentos
o Atlântico diariamente, indo e vindo da Europa ou da aéreos previstos para as próximas décadas.
África, passaram a ser visualizadas na tela das conso- Com a modernização do Sistema de Controle do
les continuamente, com grande precisão, a milhares de Espaço Aéreo Brasileiro, o País pode seguir seu curso
quilômetros de distância do continente. Algo impensável rumo ao desenvolvimento, dispondo de um sistema in-
anteriormente somente com o radar. tegrado harmônico — apto a prover um fluxo de tráfego
Para consolidar essas e outras iniciativas, o SISCE- aéreo seguro e eficaz e assegurar a soberania dos nossos
AB vem cumprindo — há algum tempo — um rigoroso céus — com o que há de mais avançado na comunidade
cronograma de ações que abrange desde a adequação aérea internacional.
de tecnologias e recursos físicos à capacitação de re-
cursos humanos. * O autor é Brigadeiro do Ar.

Revista do Clube Militar 26


Mensalão e República
Ricardo Vélez Rodríguez *

T
ive uma grata surpresa com o princípios de ética pública que, meri- a política em termos de hegemonia par-
julgamento da Ação Penal 470 dianos, voltaram a presidir o espaço tidária, à maneira gramsciana.
pelo Supremo Tribunal Fede- republicano, a partir dos pareceres dos Na História republicana terminou
ral (STF). A nossa democracia parece magistrados da nossa Suprema Corte. se consolidando, à sombra das variá-
ter reencontrado a vitalidade, que pa- Que a sociedade respirou aliviada veis mencionadas, um modelo iden-
recia fenecida por causa da crise em com a ação patriótica do STF, o deixam tificado com a prática do despotismo.
que o Poder Executivo, sobranceiro à claro as opiniões dos leitores na mídia Castilhismo, getulismo, tecnocratismo
lei, tentou comprar definitivamente o eletrônica e impressa, bem como as autoritário, lulopetismo, eis os resulta-
apoio do Poder Legislativo mediante espontâneas manifestações de aplauso dos desse amálgama nada republicano.
a prática de corrupção sistemática, dos cidadãos quando encontram um Como dizia Alexis de Tocqueville
ao ensejo do episódio que o denun- dos nossos magistrados, em que pese a referindo-se à França de 1850, a face
ciante do esquema, o ex-deputado cerrada política armada pela petralha- da República viu-se desfigurada pelas
Roberto Jefferson (PTB-RJ), deno- da, de denuncismo de "golpe da magis- práticas despóticas. No Brasil, a res
minou como "mensalão". tratura e da imprensa". publica virou "coisa nossa", num es-
O nome pegou, para desespero No esquema do mensalão marca- quema mafioso de minorias encarapi-
do ex-presidente Lula da Silva, do ram encontro dois vícios da política: tadas no poder, que fazem o que bem
ex-ministro José Dirceu et cater- o tradicional "complexo de clã" e a entendem, de costas para a Nação, mal
va. Foram julgados e condenados, ausência de espírito público, bases do representada num Poder Legislativo
se não todos, pelo menos alguns patrimonialismo. Esses dois vícios, que se contempla a si próprio e zela
dos responsáveis mais representati- entrelaçados como as caras da mesma quase que exclusivamente pela manu-
vos do sinistro esquema. A História moeda, fazem com que os atores polí- tenção de seus próprios privilégios.
encarregar-se-á de julgar os que es- ticos ajam única e exclusivamente em Com uma agravante, atualmente: se
caparam, a começar pelo chefe que, benefício próprio e das suas clientelas, nos momentos anteriores havia autorita-
pelo teor das investigações e dos de- privatizando as instituições. Nisso o rismo, este se equilibrava com uma pro-
poimentos, "sabia de tudo". Partido dos Trabalhadores (PT) e co- posta tecnocrática bem-sucedida (como
É de Oliveira Vianna a previsão ligados se mostraram eficientes "como nos momentos getuliano e do ciclo mi-
de que a redenção das instituições re- nunca antes na História deste país". litar) ou com um respeito quase sagrado
publicanas, no Brasil, viria pela mão A esses dois vícios vieram juntar- pelo Tesouro público (como no Casti-
do Poder Judiciário. Vítima da "po- se duas tendências da cultura política lhismo). Restou-nos o assalto desaver-
lítica alimentar" — nome dado pelo moderna. A primeira, o jacobinismo gonhado aos cofres da Nação, em meio
sociólogo fluminense ao esquema (inspirado na filosofia de Rousseau, ao mais descarado compadrio sindical.
de clientelismo e corrupção que se no século 18), segundo o qual a orga- Ecoam ainda as graves palavras
apossou da vida pública desde tem- nização da política, nos Estados, deve com que um dos ministros do Supremo
pos que remontam à derrubada do pautar-se pelo princípio da unanimida- Tribunal Federal caracterizou o mal
Império —, a República acordaria de ao redor da "vontade geral" (identi- que tomou conta do Brasil. "Formou-
da catalepsia em que a privatização ficada com o legislador e imposta por se na cúpula do poder, à margem da
patrimonialista do poder pelas oli- seus seguidores, os "puros"), sendo lei e ao arrepio do Direito, um estra-
garquias a fez mergulhar. A indepen- excluída qualquer oposição. O segun- nho e pernicioso sodalício, constituído
dência do Poder Judiciário, segundo do princípio negativo diz respeito ao por dirigentes unidos por um comum
Oliveira Vianna, no livro Instituições "messianismo político" — pensado no desígnio, um vínculo associativo es-
Políticas Brasileiras (1949), garanti- início do século 19 por Henri-Claude tável que buscava eficácia ao objetivo
ria as liberdades civis; asseguradas de Saint-Simon e continuado por seu espúrio por eles estabelecido: cometer
estas, o País poderia pensar na con- discípulo Augusto Comte. crimes, qualquer tipo de crime, agindo
quista das liberdades políticas. Ora, na nossa organização repu- nos subterrâneos do poder como cons-
Ora, os pareceres dos juízes do blicana se juntaram, com o correr dos piradores, para, assim, vulnerar, trans-
Supremo Tribunal puseram na pauta séculos, numa síntese perversa, esses gredir e lesionar a paz pública".
da política dois princípios fundamen- dois princípios, bem como os vícios Gravíssima situação que a nossa
tais. Em primeiro lugar, todos devem balizadores do patrimonialismo. O ja- Suprema Corte encarou com patrio-
respeitar, sem exceções, a lei e seu cobinismo e o messianismo político tismo e coragem. Esperamos que essa
marco arquetípico, a Constituição. reforçaram-se, dramaticamente, na con- benfazeja reação seja o início de um
Em segundo lugar, os que governam temporaneidade, com a tendência cien- saneamento completo das institui-
não podem agir utilizando a máquina tificista do marxismo (inspiradora dos ções republicanas.
do Estado em benefício próprio. Dois ideólogos petistas), que passou a pensar * O autor é Professor.

NR: Publicado no Jornal O Estado de São Paulo – 03/11/2012


27 Janeiro de 2013
Algumas Lições do Mensalão
Everardo Maciel *

T
alleyrand, célebre chance- a condenação como algo destinado A metodologia dos julgamentos
ler de Napoleão, ao censu- a pobre, preto e prostituta, segundo revelou-se modorrenta, repetitiva e
rar a dinastia dos Bourbons, a perspicaz observação de um ma- arcaica. O cansaço visível na face
dizia que eles nunca aprendiam e gistrado mineiro. de alguns Ministros é apenas con-
nunca esqueciam. Para evitar que a Dirão alguns que outras pesso- sequência de sua condição huma-
sociedade brasileira seja estigma- as cometeram crimes idênticos ou na. Um laudo sobre determinada
tizada por esse conceito, convém assemelhados. É verdade. Que se instituição financeira foi lido mais
que sejam extraídas algumas lições julguem todos, então! O mensalão de uma dúzia de vezes.
do julgamento do mensalão. deve ser tido não como uma exce- Existe alguém capaz de ouvir
Sem lugar a dúvidas, esse epi- ção, mas como um precedente. atentamente um relatório de mais
sódio é um dos mais importantes Rejubilo-me com a repulsa da de mil páginas? Por que reprodu-
acontecimentos da nossa Justiça. Corte ao caixa dois, como crime em zir, literalmente, depoimentos con-
Pela primeira vez, estão sendo jul- si ou manobra diversionista para tidos nos autos? Não bastaria uma
gados, simultaneamente, impor- dissimular a prática de outros cri- ilação referenciada aos autos? Por
tantes próceres políticos, banquei- mes. A alegação dessa malfadada que dispensar a utilização de mo-
ros, profissionais liberais e, para “tese”, caso fosse razoável, deveria dernos meios de exposição que fa-
usar uma qualificação utilizada ter trilhado os caminhos da modés- voreçam a compreensão das inter-
pela defesa, mequetrefes. Cada réu tia e da contrição, sem manifesta- venções orais? Qual a necessidade
com sua pena ou juízo absolutório. ções de entusiasmada esperteza. de um revisor? Seria para contradi-
O julgamento foi enriquecido O Supremo Tribunal Federal tar o Relator? Revisores deveriam
por memoráveis manifestações não devia, contudo, ser onerado ser todos que participam do julga-
sobre a Ética e a República, como com um longo julgamento de um mento.
um sopro alentador em favor da volumoso processo criminal, de A fixação das penas (dosime-
restauração de valores que vêm forma estranha à sua vocação de tria) deveria pautar-se pela conci-
sendo vilipendiados seguidamen- elucidar controvérsias constitucio- são, sendo expressa em uma tabe-
te e comprometem a formação das nais e em detrimento da apreciação la, que conteria a pena-base e as
gerações mais jovens. de relevantes demandas. circunstâncias, se for o caso, que
É sagrado o direito de ficar in- Na explicação desse fato se en- a agravam.
conformado com as sentenças (jus contra o instituto do foro privile- Além disso, parece-me que, na
sperniandi) ou, em nome da liber- giado, que pretendeu (ainda que determinação da pena, seria acon-
dade de expressão, criticá-las. não se diga abertamente) evitar o selhável adotar-se o voto médio, e
Não é aceitável, contudo, pro- julgamento dos “condestáveis” da não o modal, como bem aconselha-
ferir invectivas contra a convicção República pelos magistrados de ria a ciência estatística no trato de
dos magistrados, porque, além da primeira instância, na presunção situações análogas.
possibilidade de enquadramento de que ocorreriam excessos. O julgamento dos crimes de la-
por crimes contra a honra, consti- É razoável que determinadas vagem de dinheiro produzem con-
tui uma afronta ao Judiciário. autoridades tenham prerrogativas trovérsias que revelam claramente
As divergências nos entendi- no atendimento de requisições ju- as deficiências da legislação, agra-
mentos dos magistrados, malgra- diciais. Eventuais excessos de ma- vadas por mudanças recentes, que
do os dispensáveis preciosismos e gistrados, por sua vez, devem ser podem resultar em sérios percalços
galimatias, devem ser vistas como corrigidos por uma adequada lei de para determinados profissionais
prova de vitalidade da instituição. abuso de autoridade e por uma cor- (notadamente, advogados e conta-
O dissenso é mais rico, como ensi- reição efetiva. dores), ainda que não tenham tido
namento, que o consenso. A verda- O privilégio de foro, entretanto, é participação no ciclo criminoso.
de tem muitas faces. deplorável e acarreta, como se pôde Não se sabe, ao certo, quando a
O julgamento, em virtude da ver no mensalão, julgamento em ins- lavagem de dinheiro é crime autô-
transmissão ao vivo, expôs ao pú- tância única e sobrecarga de trabalhos nomo ou quando é mera continui-
blico conceitos antes confinados para o Supremo. É privilégio na pior dade do crime antecedente. Faz al-
aos recintos dos tribunais e pôde acepção da palavra, a despeito de, no gum sentido incluir a sonegação de
arrostar a velha tese que entendia caso, ter tido um efeito inesperado. impostos (simulação) como crime
NR: Publicado no jornal O Estado de São Paulo – 05/11/2012
Revista do Clube Militar 28
antecedente da lavagem (dissimu- torno de questões políticas e elei- jetas barganhas políticas.
lação)? A legislação é claudicante e torais. A prevenção desse tipo de Se as causas não forem remo-
merece ser revista. Não há jurispru- crime aponta para o reexame da vidas, é inescapável que tenhamos
dência boa que salve uma lei ruim. legislação relativa às prestações novos mensalões no futuro, ainda
À margem desses comentários, de contas de candidatos e partidos que assumam novas denominações
não se pode desperdiçar, entretan- políticos, nela incluída a obrigação ou novos contornos. O chamado
to, a oportunidade de enfrentar as de fiscalização sistemática pela presidencialismo de coalizão ou de
causas dos crimes que deram ori- Receita Federal, e as malsinadas colisão, tanto faz, é terreno fértil
gem ao mensalão. “emendas parlamentares” — fonte para a corrupção
Na essência, tudo gravita em inesgotável de corrupção e de ab- * O autor é Consultor Jurídico e Professor

Katyn, uma
Floresta Desconhecida!
Roberto Rodrigues *

À
s 04.45 horas do dia 1º de se- executou com um tiro na nuca e en- mundo ficaria sabendo que as exe-
tembro de 1939, a Alemanha terrou em enormes valas os 14.700 cuções, realizadas ao longo de algu-
invadiu a Polônia, dando oficiais poloneses prisioneiros. A mas semanas, tiveram início no dia
início à Segunda Guerra Mundial. grande maioria do contingente fu- 10 de abril de 1940.
Em 17 de setembro de 1939, zilado (cerca de 90%) era formada Em outubro de 1992, o Presi-
sem declaração de guerra e como por oficiais temporários: políticos, dente da Polônia, Lech Walesa, re-
consequência da aliança germano- engenheiros, médicos, advoga- cebeu, entre lágrimas de emoção,
soviética firmada através do “Pacto dos, economistas e professores que os documentos referentes à sen-
Ribbentrop-Molotov”, assinado em constituíam parte significativa da tença de morte exarada pelo Co-
23 de agosto de 1939, a Rússia in- elite intelectual polonesa. Ao serem mitê Central do Partido Comunista
vadiu o leste da Polônia, repartindo soterrados, estavam fardados e tra- da União Soviética, que lhe foram
o país entre nazistas e comunistas. ziam, nos bolsos de seus uniformes, entregues por Rudolf Pichoja, Di-
Enquanto Hitler confiava no identidades, fotos de família, diá- retor do Arquivo Nacional Russo
poder das armas e na ação da Ges- rios e outros documentos pessoais. e emissário especial de Yeltzin. O
tapo, o paranoico Stalin temia a Este crime hediondo, um nefan- que passou... passou!
reação das elites polonesas. Assim, do genocídio descoberto por todos No dia 10 de abril de 2010, eu me
das centenas de milhares de prisio- os aliados em 1948, foi creditado encontrava em Petrópolis, onde fora
neiros capturados, os russos fica- aos alemães, em Nurembergue. comemorar o meu 65º aniversário,
ram apenas com os oficiais que, Com base em laudos periciais for- quando uma aeronave Tupolev-154
sem qualquer chance de resistir, jados, segundo os quais as mortes procedente de Varsóvia caiu nas pro-
se renderam sem lutar e foram le- teriam ocorrido durante ou após ximidades de Smolensk, matando
vados, em comboios ferroviários, o ano de 1942, os russos se exi- o presidente da Polônia, Lech Ka-
para um campo de prisioneiros na miram de qualquer culpa: naquela czynski, sua esposa e 95 integran-
cidade russa de Smolensk; os sol- ocasião, há muito haviam deixado tes da alta cúpula política e militar
dados, cabos e sargentos foram en- a Polônia, e já eram inimigos da do país. Não fosse esta tragédia já
tregues aos alemães. Alemanha nazista. esquecida, que atraiu as atenções
No mês de abril de 1940, em Ka- No pós-guerra, durante o domí- da mídia internacional e mereceu
tyn, uma floresta situada às margens nio soviético, este assunto tornou-se uma página inteira na edição de 12
do rio Dnieper, nos arredores de um tabu na República Popular da de abril de 2010 do jornal O GLO-
Smolensk, a polícia secreta de Beria Polônia. Só muitos anos depois o BO1, provavelmente nunca sabería-

1 - Em um encarte intitulado ‘É um local amaldiçoado’ e com o subtítulo “Floresta de Katyn foi palco para massacre de poloneses em 1940”, o periódico reproduz matéria do New York Times,
segundo a qual “Kaczynski estava a caminho de uma cerimônia em homenagem aos 20 mil soldados poloneses mortos pela União Soviética, em 1940”.

29 Janeiro de 2013
mos que o presidente polonês e sua Naquela hora, duas coisas me tência aliada vitoriosa, reescreveu a
comitiva estavam a caminho de uma deixaram intrigado: a data, 2007, história, impondo a sua versão.
cerimônia para lembrar os 70 anos de pois o canal 100 só exibe filmes an- O capitão possuía uma agenda,
um massacre de prisioneiros de guer- tigos, e a última frase, totalmente encontrada quase intacta no bolso
ra ordenado por Stalin. No Brasil, o fora do contexto, para quem conhe- do casaco que vestia, na qual escre-
presidente Lula decretou luto de três ce a história. vera um diário que começa na data
dias. Quem ficou sabendo disto? Assisti ao filme. Imperdível! de sua prisão e termina no dia 10 de
Quem desconfiou de tão macabro e Uma excelente produção da tp (“Te- abril de 1940.
estranho acidente aéreo? Quem in- levisão Polonesa”). Impecável, em Alguns prisioneiros foram poupa-
vestigou, duvidou ou contestou? termos de roteiro, elenco, fotografia dos, dentre eles um tenente, subordi-
Por volta das 23.30 horas do dia e cenários. O enredo gira em torno nado e amigo do capitão citado, que,
5 de setembro de 2012, fui surpre- da família de um dos oficiais de car- anos mais tarde, já no posto de major
endido com a menção da palavra reira assassinados, um capitão da do Exército da República Popular da
“Katyn” na grade de programação cavalaria polonesa, e só então fiquei Polônia, comete suicídio.
da TVA. Era o nome de um filme a sabendo de muitos detalhes que eu Fui deitar às 02.30 horas, mas
ser exibido pelo canal 100, Teleci- desconhecia e que certamente foram não consegui dormir. Além do im-
ne Cult, entre 00.05 e 02.15 horas. responsáveis pelas lágrimas do pre- pacto causado pelas últimas cenas
Curioso, fui consultar a sinopse, que sidente polonês em outubro de 1992. do filme, minha mente começou a
dizia: “Drama. 2007. Diretor: Andr- Muitos familiares dos principais processar o conceito de “verdade
zej Wajda. Sinopse: Polônia, 1939. líderes executados conseguiram es- histórica”, levando-me a uma triste
A polícia secreta da União Soviéti- capar. Quando a situação mudou, e conclusão: quando se trata de atos
ca massacra 15 mil prisioneiros de os russos passaram à condição de praticados por comunistas, a verda-
guerra poloneses, entre militares e inimigos, o ministério da Propagan- de só brota depois de muitas déca-
civis, nas matas da cidade de Katyn. da alemão tentou usá-los, mas já era das. Foi assim em Katyn, e assim
A tortura foi mais um dos ataques pós tarde. A Alemanha perdeu a guerra e será no Brasil.
invasão nazista no território polonês.” a União Soviética, no papel de po- * O autor é Coronel.

Revista do Clube Militar 30


Conselhos de Competitividade:
Consumidor é o Pato Alexandre Barros *

P
rodutores querem sempre e só havia lido sobre o Brasil um que não entra na essência do pro-
ganhar mais nas costas dos livro, chamado “Brasil para prin- blema. A culpa será jogada em cima
consumidores. Até aí tudo cipiantes”, que se concentrava nas dos chineses (o preconceito é sem-
bem. Estamos falando de capita- mazelas da Pindorama. pre mais facilmente exercido em re-
lismo e mercado. Cada um busca E, todos os meses, esse mesmo lação quem tem uma característica
seu ganho maior. presidente reclamava de tudo no diferente, como ter uma cor de pele
Há, entretanto, uma esquina da Brasil, sobretudo das Câmaras Se- diferente, olhos puxados ou falar
história na qual se encontram com toriais. Depois de meses de recla- uma língua enrolada que ninguém
frequência Adam Smith, Karl Marx mações, um de seus colegas disse: entende). Com isso teremos, na re-
e Milton Friedman. Lá eles esque- Ô Brian, para de reclamar e vê se alidade, mais protecionismo, que é
cem suas discordâncias e falam aprende um pouco mais sobre o a maneira mais eficiente que os em-
alegremente de um tema a respeito Brasil. As Câmaras Setoriais são presários ineficientes encontraram
do qual os três concordam enfatica- uma das maiores bênçãos que já ti- de “proteger-nos” (a nós consumi-
mente: quando homens de negócios vemos. Nunca ganhamos tanto di- dores) contra preços mais baratos.
se reúnem, mesmo que socialmen- nheiro! Você já pensou em reunir- Em jantar na Casa Branca, pouco
te, logo eles começam a arquitetar se com seus competidores e com os antes da morte de Steve Jobs, pre-
formas de ganhar mais nas costas sindicatos e estabelecer os preços sidente da Apple (ele compareceu),
dos consumidores. mais lucrativos para sua empresa num determinado momento o anfi-
Isso se complica quando partici- cobrar e os melhores salários para trião, Obama, disse aos convidados:
pam dessa conspiração os sindicatos, os sindicatos? Nós precisamos trazer de volta al-
porque sempre que setores mais or- O Brian, perplexo, reagiu: Mas eu guns desses empregos que migra-
ganizados se juntam terão, em princí- não poderia fazer isso. Eu iria para ram para a Ásia. E Jobs respondeu:
pio, maior capacidade de se articular a cadeia. Isso é crime de "price fi- Esses empregos não voltarão aos
para extrair mais dos menos organi- xing"! Estados Unidos, senhor presidente.
zados, que dados o seu número e a Então, Brian, abandone um pou- Sempre que aparecem novos
sua dispersão são os consumidores. co seus preconceitos e pense que competidores nos mercados. Esco-
Estratégias mais articuladas de se- isso, no Brasil, não é crime. Aqui lhe-se um novo vilão. Agora são os
tores organizados tendem a derrotar você pode conspirar contra os con- chineses, cujos brinquedos são acu-
setores menos organizados. sumidores com a anuência, a con- sados de intoxicar as crianças com
O alarmante é quando todos fa- cordância, e mais, com a participa- suas tintas e os eletrônicos que são
zem isso com a conivência do go- ção do governo. Caia na real Brian. taxados de ordinários.
verno, que é o que vai acontecer, Desse dia em diante ele nunca mais Mas esse filme é reprise. Fui um
gradualmente, com os Conselhos de reclamou do Brasil. fotógrafo amador aficionado nos
Competitividade. Eles são a nova Agora teremos a reedição dessas tempos da fotografia de filme e lem-
fantasia das Câmaras Setoriais. mesmas políticas, só que com nova bro-me bem quando apareceram no
No tempo das Câmaras Seto- fantasia. Dessa vez a fantasia é de mercado umas câmeras com marcas
riais eu era consultor de um grupo Conselhos de Competitividade, mas esquisitas. Dizia-se que eram todas
de empresários norte americanos. a essência é exatamente a mesma: feitas de plástico e não prestavam
Encontrava-me com eles uma vez empresários de setores escolhidos, para nada. Coisas como Nikon, Ca-
por mês para discutir políticas go- porque fizeram um lobby mais efi- non, todas feitas no Japão, o vilão
vernamentais e como defender-se ciente, reunir-se-ão com sindicatos de então.
delas. Quando surgiram as Câma- idem e com representantes do gover- Fotógrafos tradicionais fica-
ras Setoriais, um destes presidentes, no, para garantir os melhores lucros vam sempre com dois pés atrás,
recém-chegado dos Estados Unidos para aquelas, os melhores salários acostumados que estavam com
— que, como costumava acontecer para estes e impostos maiores para o marcas tradicionais do tipo Leica,
com presidentes de muitas empre- governo. Trocado em miúdos, você, Voigtlander, Rolleiflex e outros
sas, não entendia nada de Brasil —, leitor-consumidor, pagará o pato. nomes germânicos.
guiava-se apenas pelas aparência Essa é a solução mais fácil por- O mundo deu várias voltas, as
NR: Publicado no site Ordem Livre – 12/11/2012
31 Janeiro de 2013
marcas japonesas ainda são as me- na esteira: conseguimos cansar-nos, os outros quatro atores vão aprender a
lhores, mas passaram a ser produ- mas não saímos do lugar. desempenhar bem os seus.
zida em Singapura, Coreia e agora Enquanto isso, os consumidores Qualquer coincidência entre a
estão globalizadas: cada parte é pro- brasileiros estarão pagando mais existência de conselhos de competi-
duzida onde custe mais barato. caro, as indústrias ineficientes se- tividade, câmaras setoriais e outras
Enquanto o governo, os empresá- guirão sendo assim e o estado acre- práticas oligopolísticas patrocina-
rios e os sindicatos não entenderem ditará que poderá seguir cobrando das pelo governo e aumentos de
que o segredo de ser competitivo é impostos excessivamente caros. Ao preços não são mera coincidência.
ser criativo e conseguir produzir me- consumidor restará pagar o pato. Os conselhos aparecem como par-
lhores bens a custos mais baratos, ao No ensaio da peça dos BRICS te- te do Programa Brasil Maior, que
invés de erguer muralhas tarifárias e mos cinco atores em busca de um pa- é uma fantasia da realidade. Vamos
não tarifárias para produtos estran- pel. Os chineses já sabem qual será o chamá-lo pelo nome certo: Progra-
geiros melhores, mais eficientes e seu, e tudo indica que estão se saindo ma Brasil Mais Caro.
mais baratos, continuaremos a correr muito bem. Vamos ver quanto tempo * O autor é Cientista Político .

Aliança do Pacífico faz


Sombra ao Mercosul
A
estabilização da economia, Estados Unidos. Condicionados pelo protecionista e tentando de forma até
na primeira metade da década antiamericanismo juvenil do terceiro- infantil esconder a verdadeira infla-
de 90, a partir do Plano Real, mundismo e do kirchnerismo, Brasil e ção acima de 20% por meio do conge-
deu as bases para o Brasil servir de Argentina sequer negociaram a Alca. lamento dos índices oficiais em 10%.
força motriz ao Mercosul, cujos pila- Perderam uma oportunidade de bar- Para piorar as perspectivas, o Pla-
res haviam sido lançados no governo ganhar um acesso mais fácil ao maior nalto e a Casa Rosada patrocinaram
Sarney, no início da redemocratiza- mercado importador do planeta. a operação matreira de aproveitar a
ção. As economias do Cone Sul, in- A aposta brasileira na rodada da destituição de Lugo da presidência do
tegradas, se candidatavam a ser um OMC de Doha, com o objetivo de fa- Paraguai e tachá-la de "golpe", para
polo de dinamismo no mundo. zer uma ampla abertura comercial no contrabandear ao Mercosul a Vene-
À frente mesmo do entendimento mundo, foi frustrada. Abriu-se a tem- zuela de Chávez. Está decretada a
diplomático entre governos, a indús- porada de acordos bilaterais, e o Bra- imobilidade do bloco.
tria automobilística anteviu que a re- sil dela não se aproveitou — e nem Enquanto isso, surge a Aliança
gião era adequada a um tipo de ope- se aproveita — porque está amarrado do Pacífico, da qual fazem parte Co-
ração integrada, com as montadoras aos acordos do Mercosul. E este, em lômbia, Chile, Peru e México, eco-
dividindo linhas de montagem entre crise, paralisado por uma Argentina nomias mais abertas ao exterior que
Brasil e Argentina, principalmente. sem divisas, em luta jurídica com cre- as do Mercosul, e em situação rela-
O Mercosul chegou a ser o maior dores internacionais, em intensa febre tivamente privilegiada neste ciclo de
mercado de exportação do Brasil, até crise mundial: inflação sob controle,
o crescimento da importância da Chi- crescimento a taxas superiores que a
na como forte importadora de maté- brasileira, por exemplo. E com um
rias-primas. Mas foi a ideologização ambiente para negócios, em geral,
do acordo de comércio que começou melhor que o do bloco do Cone
a corroer as bases do projeto de Sul. O México, que tende a atrair
integração econômica. crescentes investimentos exter-
A chegada do casal Kirchner à nos, já faz parte do Nafta, com Esta-
Casa Rosada e o controle do Ita- dos Unidos e Canadá, uma vantagem
maraty, com Lula no Planalto, por inigualável para este bloco. A Aliança
correntes terceiro-mundistas deram do Pacífico comprovará os erros co-
as bases para o bombardeio conjunto metidos pelo Mercosul nos últimos
da proposta da Área de Livre Comér- anos, o quanto tem sido dominado por
cio das Américas (Alca) feita pelos uma visão autárquica, atrasada.

Editorial do Jornal O Globo – 31/10/2012


Revista do Clube Militar 32
XL Curso de Extensão Cultural da Mulher e
XXIII Curso de Cultura e Estudo da
Atualidade Brasileira do Clube Militar
Amaury Friese Cardoso *

E
m cinco de dezembro último, ocorreu a solenidade eleita pelas alunas, que muito se esmerou nas decorações
de encerramento de mais uma turma dos tradicio- e lautos lanches então oferecidos.
nais cursos para mulheres, desenvolvidos pelo De- Nossos cumprimentos para as “meninas da melhor
partamento Cultural do Clube Militar, os quais tiveram a idade” - Turma Imperatriz D.Teresa Cristina, cujas fo-
Imperatriz D. Teresa Cristina como patrona. tografias, nesta página, retratam a Reunião Social com
Esses cursos atendem particularmente às senhoras da festividade natalina e um passeio a Fiocruz.
“terceira idade”, proporcionando, além do salutar congra- Informamos que o próximo ano letivo de 2013 co-
çamento social, uma ampla atualização cultural e recrea- meçará dia 6 de março e que as atuais estagiárias deve-
ções através de passeios e reuniões com entretenimentos. rão renovar suas matrículas, trazendo suas amigas, isso
No presente ano letivo, contamos com sessenta e sete alu- para nossa grande satisfação.
nas que, na mais perfeita interação, consolidaram fraternas
* O autor é Coronel e Diretor do Curso de Extensão Cultural da Mulher.
amizades, o que muito motiva o Clube Militar.
Nas palestras foram abordados e debatidos assuntos
avaliando a conjuntura mundial e particularmente a do
Brasil, com grande interesses das alunas. Outros temas
sobre literatura, filosofia, psicologia, saúde, musicologia,
segurança pública, história etc., foram apresentados por
ilustres palestrantes de notável saber.
Os passeios a Fiocruz, Convento S. Bento, Porto
Maravilha, Fazendas Históricas de Vassouras e Museu
da Cervejaria Bohemia em Petrópolis proporcionaram
momentos de cultura e lazer para as participantes. As
animadas reuniões sociais constituíram memoráveis ati-
vidades que contaram com a dedicada colaboração —,
aliada a um requintado bom-gosto, da Comissão Social

33 Janeiro de 2013
A Crise de Qualidade nas
Universidades da América Latina
Francisco Vianna *

E
nquanto a mídia canalizava O ranque segue, em escala mun- Com poucas exceções, como a
a atenção de toda a Améri- dial, sendo encabeçado por universi- ajuda financeira que o Estado de
ca Latina para as eleições na dades dos Estados Unidos da América São Paulo oferece às suas universi-
Venezuela, poucos repararam numa (para o desespero dos americanófo- dades, quase todas as instituições de
notícia que deveria ter produzido bos) — o Instituto de Tecnologia da ensino técnico e superior da Améri-
impacto na região e ser manchete de Califórnia é a 1ª do mundo e sete das ca latina recebem escassos fundos
primeira página na mídia latino-ame- primeiras 10 são universidades es- governamentais, tanto locais, como
ricana: um novo ranque das melhores tadunidenses —, mas as instituições estaduais e nacionais. Ao passo que
universidades do mundo revelou uma asiáticas estão ascendendo com rapi- os EUA e a Coreia do Sul investem
ausência quase total de instituições da dez. Várias instituições chinesas, ja- 2,6 por cento de seus PIBs no ensino
América latina. ponesas e sul-coreanas estão subindo superior, o Chile investe 2,5 por cen-
No dia 3 de outubro de 2012, em no ranque, ao passo que 51 universi- to, e o México e a Argentina 1,4 por
Londres, o jornal britânico "The TI- dades estadunidenses perderam terre- cento respectivamente, é preciso ter
MES" publicou o seu já tradicional no, quando se comparam as posições em conta o que isso representa, ou
ranque das melhores universidades de que ocupavam no ano passado. seja, 2,6 por cento de um PIB de 17
educação e ensino superior do mundo Outros dois respeitados ranques trilhões de dólares é consideravel-
(Higher Education World University internacionais publicados este ano mente muito mais recursos do que,
Ranking), que assinala as 400 melho- revelam resultados igualmente de- por exemplo, os 2,5 por cento que o
res universidades do planeta, revelan- primentes para as universidades la- Chile investe de seu PIB de apenas
do que — apesar do fato de o Brasil tinoamericanas. Nem o QS World 181 bilhões de dólares, disse Baty.
“ser a sexta economia do mundo” e University Ranking, de Londres, No ensino superior, o Brasil in-
o México a décima quarta — não há nem a relação publicada pela Uni- veste apenas 0,8% do PIB, sendo o 4º
uma única universidade latino-ame- versidade Jiao Tong de Xangai, na país que menos gasta nesse nível de
ricana sequer entre as 100 melhores China, incluem qualquer universida- ensino. Já com pesquisa e desenvol-
do mundo e apenas quatro delas estão de latino-americana entre as primei- vimento o Brasil apresenta o menor
entre as 400 melhores da Terra. ras 100 melhores do mundo, onde gasto entre os 36 países avaliados
A USP (Universidade de São Pau- também predominam as universida- pela OCDE (Organização para a Coo-
lo), do Brasil, é a universidade latino- des estadunidenses. peração do Desenvolvimento Econô-
americana que ocupa a melhor posi- Phil Baty, editor do ranque de En- mico): apenas 0,04% dos investimen-
ção o 158º lugar no ranque publicado. sino Superior do jornal londrino Ti- tos em universidades vão para o setor
A UNESC (Universidade Estadual de mes, disse numa entrevista telefônica de pesquisas avançadas. As universi-
Campinas), também no Brasil, está no que o motivo pelo qual há essa escas- dades paulistas mais bem situadas re-
grupo genérico onde se amontoam as sez de universidades latino-america- cebem auxílio financeiro do governo
universidades que vão do 251º ao 275º nas nos ranques é, entre outras coisas, do estado e não de Brasília.
lugares, ao passo que a Universidade porque os países latino-americanos “Os países asiáticos estão inves-
Los Andes, da Colômbia, e a Universi- oferecem pouco apoio econômico às tindo muito nas suas universidades
dade Nacional Autônoma de México, suas universidades, os professores e as universidades de primeira linha
(UNAM), estão no grupo situado entre são muito mal remunerados, as pes- custam dinheiro. Na América Latina,
o 351º e o 400º lugar. quisas científicas de âmbito universi- vemos uma concentração de recursos
Por incrível que pareça, não há tário são praticamente inexistentes e nas universidades que têm um enorme
qualquer universidade argentina, o corpo discente delas está eivado de número de estudantes e que exigem,
chilena, peruana, nem venezuelana “alunos profissionais” que são remu- por isso, um gasto muito maior em
entre as 400 melhores do mundo nerados por partidos, invariavelmente infraestrutura, o que lhes torna difí-
neste ranque. Em compensação, há de esquerda, para transformar as uni- cil investir em pesquisas avançadas”,
22 universidades asiáticas entre as versidades em foros políticos e ideo- completou.
200 melhores e 56 instituições asiá- lógicos, onde o menos importante é a Muitos governos latino-americanos
ticas de ensino superior entre as 400 qualidade do ensino e da preparação não aceitam estes ranques, alegando
melhores do mundo. profissional do aluno. que a dezena de indicadores que em-

NR: Publicado no blog Alerta Total – 14/10/2012


Revista do Clube Militar 34
pregam nos seus cálculos — incluindo avançada que mereçam a atenção, em americanas têm metas diferentes” —
enquetes com professores universitá- qualquer língua, das melhores revis- tais como de dar ensino gratuito aos
rios de todo o mundo e publicações tas científicas do mundo”. pobres — não é desculpa para não
acadêmicas reconhecidas — tende a A verdade é que a tendência de competir em escala mundial de exce-
‘favorecer os países de língua inglesa’. muitos governos latino-americanos é lência. É como se decidissem parti-
“Vários países latino-americanos a de subestimar os principais ranques cipar de um campeonato regional de
estão trabalhando num projeto apoia- mundiais de universidades, e o pro- futebol ao invés de jogar uma Copa do
do pela UNESCO, com o propósito jeto de produzir um ranque regional Mundo, apenas usando o futebol como
de poder produzir um novo ranque “feito sob medida para as universi- meio de comparação tão em voga en-
que só inclua universidades latino- dades latino-americanas”, é de uma tre os políticos populistas de esquerda.
americanas (?!). Mas, segundo Baty, cretinice absurda e tais projetos são Ao invés de serem subestimados
“a enquete mundial que serve como receitas para a autocomplacência, a ou ignorados, os ranques das melho-
um dos 13 indicadores do ranque do paralisia e o atraso. res universidades do mundo deveriam
Times está geograficamente equi- A inveja é o sentimento por trás ocupar as primeiras páginas da mídia
librada e inclui muitos acadêmicos de projetos como esse que, se leva- latino-americana (e também dos Esta-
latino-americanos e espanhóis. Além dos a efeito, terão como consequên- dos Unidos), muito embora eles não
disso, o idioma não é desculpa para cia apenas o isolamento científico sejam mais úteis do que nos lembrar
se deixar de publicar trabalhos cien- da região do resto do mundo. Com que os países asiáticos estão escalan-
tíficos nas melhores revistas acadê- governos que, em sua maioria, des- do posições rapidamente na economia
micas do mundo. As universidades consideram a excelência do ensino do conhecimento, enquanto muitos de
asiáticas publicam muito em inglês, e da formação profissional, não é de nossos países, da América latina, estão
porque querem que suas pesquisas te- se estranhar que reajam dessa forma, ficando cada vez mais para trás.
nham um público maior e um impacto decadente e invejosa.
maior”, diz Baty. “Na América latina Alegar, como têm feito vários mi- * O autor é Articulista.

isso não ocorre, porque normalmente nistros de educação de esquerda, na


não há mesmo trabalhos de pesquisa região, que “as universidades latino-

35 Janeiro de 2013
Revista do Clube Militar 36
37 Janeiro de 2013
n t o d a P o e s i a
Reca
Tributo ao Exército
Roberto Sylla Gomes Macedo *

Exército Nacional, tropa sem igual


Guerreiros na profissão
Brasileiros em missão:
Defender a Pátria, a Sociedade,
Com fé, disciplina e força de vontade!
Exército dos valentes,
Nos legou até Presidentes!
Do campo, das serras, do litoral,
Acolhe o povo nacional
Orgulho do Brasil, soma de valores
É a caserna de nossos defensores!
Exército, esperança última, final e maior
Da Nação proteção melhor!
Do comando de Caxias
Soou o brado inspirador,
Não há melhor exemplo do que
O Pacificador!
Já antes, em Guararapes,
Nascia a Força Nacional
Nosso poder maioral.
Vencido o invasor estrangeiro,
Nasceu o Exército Brasileiro.
Da Colônia ao Império
Realiza o Exército um papel sempre sério
Defesa da democracia, vocação essencial,
Seja na Itália ou no chão nacional!
Páginas de glória,
Campanhas de vitória!
Desafios mil
Vencidos sempre a bem do Brasil
Exército Brasileiro,
Instituição leal e verdadeira
Abriga e dá corpo à alma brasileira !
O legado de Ordem e Progresso,
Expresso no pavilhão nacional,
Reflete o teu ideal!
O coração patriota pulsa forte em tuas fileiras,
formadas por gerações brasileiras!
Instituição invencível, orgulho do País,
És imortal, poderosa Força Nacional.
Guardião eterno do Brasil,
Das fronteiras aos centros urbanos,
Protege a Nação, o patrimônio e os seres humanos!
Fator de segurança nacional,
Garantia de paz e ordem regional,
Protegendo nosso continente inteiro,
Grandioso Exército Brasileiro!
* O autor é Advogado.

Revista do Clube Militar 38


39 Janeiro de 2013
Revista do Clube Militar 40
41 Janeiro de 2013
Revista do Clube Militar 42

Potrebbero piacerti anche