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SALVADOR/BA
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CONSTITUCIONALISMO
1. Introdução
Não há garantia de constitucionalismo sem essas três ideias centrais. Vamos estudar
agora as fases do constitucionalismo
Essa primeira fase vai da Antiguidade até o final do século XVIII, com o surgimento
das constituições escritas. Vamos mencionar 4 situações importantes durante o
constitucionalismo antigo:
a) Estado hebreu: considerada a primeira manifestação do constitucionalismo.
Havia um Estado teocrático, onde dogmas religiosas previstos na bíblia
limitavam o poder do Estado.
b) Grécia: Democracia constitucional: forma de governo mais moderna existente
até hoje.
c) Roma: segundo Jhering nunca em nenhum outro direito a idéia de liberdade
foi concebida de forma tão correta e digna como em Roma.
d) Inglaterra: Rule of Law: “o governo das leis” em substituição ao governo dos
homens. Vale salientar que até a pouco tempo atrás a Inglaterra não tinha
Constituição. Apenas no ano 2000 através do Human Right Acts, um tratado
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O constitucionalismo clássico tem início no fim do século XVIII e vai até a 1ª guerra
mundial. A característica mais marcante dessa nova fase é o surgimento das primeiras
constituições escritas. Juntamente a essa 1ª ideia surge ainda mais duas fundamentais:
rigidez constitucional e supremacia da Constituição (colocada acima da lei), sendo essa
última a característica principal do constitucionalismo atual.
Neste período temos duas experiências constitucionais marcantes: EUA e França.
Vamos estudar cada uma deles separadamente.
EUA: permanece bastante atuais as ideias americanas de 200 anos atrás, sendo
imitadas pelos europeus atualmente no neoconstitucionalismo, com algumas distinções.
Vamos elencar as características do modelo americano:
a) Criação da 1ª constituição escrita em 1787, sendo a mesma até hoje. Mas a
sociedade mudou tanto! Como os EUA conseguiu manter a mesma
Constituição? Ora, a Constituição americana nasceu com 7 artigos, sendo
extremamente concisa, o que é mais fácil de mantê-la no tempo. E mais: esses
artigos não são pormenorizados, como acontece na CF/88 brasileira; na
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3.2 França
que não assegura direitos e não separa poderes não tem Constituição.
A 1ª Constituição Francesa escrita é de 1791 (foi a segunda escrita, a primeira foi
uma polonesa; poucas pessoas sabem disso) e tem as seguintes características:
a) Consagração do princípio da separação dos poderes;
b) Distinção entre Poder Constituinte Originário e Derivado. O teórico
francês que formulou esta distinção foi o Abade Emmanuel Sieyès, que fez
um panfleto “O que é o Estado?”, sendo o titular do poder constituinte a
nação.
c) Supremacia do parlamento. Na França nunca houve controle de
constitucionalidade repressivo exercido pelo Poder Judiciário antes de 2010.
Na França existe a jurisdição administrativa e a tradicional (Conselho
Constitucional), esta última sempre em segundo plano. A tradição do direito
francês é a supremacia do parlamento.
d) Surgimento da escola da exegese a partir do Código de Napoleão. Para essa
eles a interpretação era mecânica: a função do juiz era descobrir o sentido da
lei, visto que o Código era tão perfeito que não precisava ser interpretado,
sendo a função do magistrado apenas expressar o que a lei continha: “ o juiz
é somente a boca da lei.”
É correto afirmar que os direitos de 1ª geração têm uma efetividade maior que os
de 2ª geração? Sim, pois os primeiros têm um custo muito inferior comparados aos
segundos, que são essencialmente de prestações positivas. Cuidado: os direitos de 1ª
geração também têm custos, como por exemplo, o gasto para realizar eleições. Vale
lembrar também que os direitos de 2ª geração estão condicionados à reserva do possível.
Alguns autores falam em dimensões, outros em gerações. De fato, sempre se falou
em gerações, porém, essa terminologia dá ideia que uma substitui, excluindo a outra, o
que não acontece com o termo dimensão.
Essa etapa vai da 1ª guerra mundial (1918) até o fim da 2ª guerra mundial (1945).
O constitucionalismo social surge com o fim da primeira guerra mundial, com uma grande
crise econômica na Europa que aprofunda a desigualdade social existente, deixando
também em situação de crise o Estado liberal, que tem que abandonar a postura
absenteísta e passar a intervir. As duas principais Constituições que iniciam a adoção
deste modelo intervencionista é a mexicana de 1917 e a Constituição alemão de Weimar
de 1919. Nesta época surgem os direitos de 2ª dimensão inspirados na igualdade material
(cumpre salientar que a igualdade formal já surgiu na época das revoluções liberais), que
são os direitos sociais, econômicos e culturais, pois visam justamente reduzir as
desigualdades. A igualdade material demanda ações positivas do Estado!
São nos direitos de 2ª geração onde surgem as garantias institucionais. As garantias
institucionais são garantias de determinadas instituições fundamentais para a sociedade.
Exemplo: família, funcionalismo público, imprensa livre.
Nesta fase surge um novo modelo de Estado: o Estado liberal se transforma em
Estado Social, que tem a seguinte característica:
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tinha a doutrina mais evoluída de dignidade da pessoa humana no tocante a pesquisas: era
proibida a pesquisa com humanos sem o seu consenso. Todavia, os alemães não
consideravam judeus, ciganos e homossexuais como pessoas.
São características do neconstitucionalismo:
1. Reconhecimento definitivo da normatividade da constituição. Os críticos do
neoconstitucionalismo afirmam que essa característica não é nova, uma vez
que a Constituição americana sempre foi vista como instrumento jurídico.
Mas, isso não se aplicava às constituições europeias que eram vistas
exclusivamente com caráter político. E o que isso significa? Que os direitos
fundamentais na Europa não vinculavam o legislador. Isso só acontece após
a 2ª guerra mundial, e tem como grande difusor o Konrad Hesse em 1959
através da sua obra “A Força Normativa da Constituição” --> as normas
constitucionais não são somente ideias, são vinculantes.
b.2 Informação
b.3 Pluralismo: está disciplinado no art. 1º, V da CF e é um dos fundamentos
da República Federativa do Brasil. O pluralismo político além de abranger
o pluralismo político-partidário, abrange também o pluralismo cultural,
artístico, religioso e de concepções de vida. Então, este respeito às
diferentes concepções em vários ramos da sociedade está protegida no
pluralismo. Um sociólogo português famoso chamado Boaventura de
Souza Santos afirma que “temos o direito de ser iguais quando a diferença
nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes quando a igualdade nos
descaracteriza.” As palavras dele colocam a isonomia e o direito à
diferença como basilares no contexto atual. Sobre o tema ver o livro
“Direito às diferenças” do profº. Álvaro Ricardo da PUC-BH.
Para concluir, segundo Dalai Lama “o maior problema do homem dos nossos dias
não é a falta de solidariedade das relações, e sim à tolerância de um com os outros.” Frase
relacionada com os direitos de 3ª e 4º dimensões.
5.2 Estado Democrático de Direito (=Estado Constitucional Democrático)
referendo, iniciativa popular de lei (ficha limpa foi por esse meio) e ação
popular.
2. Preocupação com a efetividade e a dimensão material dos direitos
fundamentais. Este é um aspecto que distingue não só o constitucionalismo
contemporâneo e o Estado democrático de direito: hoje já atingimos uma
consagração de direitos fundamentais à nível formal. O maior problema hoje
é com a efetividade desses direitos: é fazer que eles saiam do papel para a
realidade, sendo cumpridos na prática --> É o aspecto da igualdade material.
3. A limitação do Poder Legislativo deixa de ser meramente formal e passa a
abranger também o conteúdo das leis e as omissões do legislador. Uma das
críticas que o professor Dimitri de Mo da FGV afirma que a supremacia da
constituição não é uma novidade do neoconstitucionalismo, sempre existiu.
Em parte a afirmativa dele está correta, todavia, apenas no direito norte-
americano, e não na evolução do direito constitucional europeu, onde a
constituição tinha um caráter eminentemente político; nas suas declarações
de direitos não existia caráter normativo. No que tange ao controle das
omissões normativas, somente a partir de 1974 com a Constituição Iuguslava
é que é consagrado o controle de inconstitucionalidade por omissão.
4. Surgimento de uma jurisdição constitucional para assegurar a supremacia da
constituição e a proteção efetiva dos direitos fundamentais. E o que uma
jurisdição constitucional? É uma proteção da constituição pelo Judiciário, ex
vis, ADI genérica e interventiva, ADC, ADPF, Habeas corpus, habeas data,
mandado de segurança, etc. A CF/88 talvez seja a constituição onde mais haja
jurisdição constitucional. Quem usou essa terminologia (“jurisdição
constitucional”) foi Kelsen com uma obra com o mesmo nome. Inclusive, na
época, havia uma rixa de Kelsen com Carl Schmitt, onde o primeiro afirmava
que o controle da constituição deveria ser feito pelo Supremo, enquanto oo
segundo afirmava que deveria ser feito pelo Reich (Presidente da República).
Alguns anos atrás existiram vários fóruns para discutir o constitucionalismo. Entre
os artigos publicados houve o de um argentino chamado Jose Roberto Dromi com o nome
de “constitucionalismo do futuro” afirmando quais seriam os valores das constituições do
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futuro. Alguém reproduziu isso no Brasil e alguém está cobrando concurso. Vamos
colocar aqui quais seriam os valores fundamentais, em um exercício de futurologia, que
as constituições do futuro deverão ter de acordo com o argentino:
1. Verdade: as constituições do futuro não devem trazer promessas impossíveis
de ser realizadas. Esses tipos não devem ser colocados, pois são vistos com
descrédito.
2. Solidariedade: haveria uma nova ideia de igualdade baseada na solidariedade
entre os povos.
3. Integração entre os povos.
4. Continuidade: a constituição não deve sofrer rupturas em sua identidade; não
deve sofrer mudanças que descaracterizem a identidade constitucional.
5. Consenso: as constituições do futuro serão frutos de um consentimento
democrático.
6. Participação: as constituições do futuro exigirão uma participação mais ativa
e responsável do povo. Pode ser possível com os mecanismos, ex vis,
plebiscito através de celular, internet.
7. Universalidade: como todos os direitos fundamentais tem o núcleo em comum
da dignidade da pessoa humana, esses direitos devem ser universalizados.
Esta, inclusive é uma característica dos direitos fundamentais.
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CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO
Para Lassale, a Constituição é formada não pelo que está escrito, e sim pelos
poderes reais que regem uma nação, por exemplo, os detentores do poder político (chefes
de Estado), poder econômico (banqueiros), poder religioso (sacerdotes), etc. Se a
Constituição efetiva não se identifica com a efetiva, segundo Lassale, deve prevalecer a
constituição real, posto que é uma visão sociológica. Lassale entende que se a
Constituição escrita não corresponde à realidade ela seria uma mera folha da papel.
formalmente iguais, mas materialmente distintas, podendo até ter sido tratadas por lei
ordinária.
A primeira edição da teoria pura do direito foi de 1925, sendo, Kelsen, portanto,
contemporâneo de Carl Schmitt. Para Kelsen, o guardião da Constituição deveria ser o
Tribunal Constitucional, enquanto para Schmitt o guardião seria o Reich.
Segundo Hans Kelsen, a Constituição é formada por um conjunto de normas e,
portanto, é uma lei como todas as demais, cujo fundamento se encontra no plano jurídico.
O filósofo no direito não precisa recorrer à sociologia, política ou histórica para buscar o
fundamento da Constituição, segundo Kelsen: ela é lei, tendo, portanto, fundamento no
plano jurídico. É aqui que entra a distinção entre o ser o dever-ser → a lei estabelece não
o que é, e sim o que deve ser.
Kelsen faz a seguinte distinção:
1. Constituição em sentido lógico-jurídico. Kelsen questiona: onde está escrito
que eu tenho que obedecer a Constituicão? Onde está o fundamento dela? Aí
ele cria uma teoria: temos que respeitar a Constituição, pois acima dela está a
norma fundamental hipotética. Segundo Hans a norma fundamental
hipotética é justamente a Constituição em sentido lógico jurídico. E por que
ela é hipotética? Pois, é uma norma suposta, e não posta → toda sociedade
partiria do pressuposto que essa norma existe para que a Constituição exista.
• De acordo com Kelsen o conteúdo da norma hipotética seria: todos devem
obedecer a Constituição.
Leis
infraconstitucionais
Konrad Hesse defendeu essa tese em 1959 no seu livro “A força normativa da
Constituição”. A tese dele tem um contexto pós 2ª guerra mundial. A Constituição deixou
de ser vista como um instrumento político, passando a ser norma efetiva.
Essa concepção foi desenvolvida para combater a tese de Ferdinand Lassale. De acordo
com Hesse, ainda que seja inegável que, muitas vezes, uma Constituição jurídica possa
sucumbir a uma realidade, deve se atribuir a essa Constituição uma força normativa capaz
de modificar esta mesma realidade; para isso é necessário que exista uma “vontade de
Constituição”, e não apenas uma “vontade de poder”. Hesse não nega o pensamento de
Lassale, mas se entendermos que o papel da Constituição escrita é apenas descrever o que
acontece na realidade, tal será indigno de qualquer ciência. A Constituição deve mudar a
realidade, e não apenas descrevê-la.
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1. Introdução
1. Eficácia positiva: consiste na aptidão da norma para ser aplicada aos casos
previstos por ela. A norma abstrata prevê uma situação, um âmbito de
proteção e quando tem eficácia positiva está apta a ser aplicada diretamente
para resolver o caso concreto, não dependendo de uma lei regulamentadora.
Cuidado: eficácia é aptidão, o que não significa necessariamente que a norma
seja aplicada.
* É possível ter uma norma apta a ser aplicada nos casos concretos, mas que
na prática não cumpre sua função social --> quando isso acontece dizemos
que a norma tem eficácia, mas não tem efetividade. Exemplo: pedestre
deve atravessar na faixa, senão será multado. Nunca foi visto essa norma
ser aplicada no caso concreto por questões de inviabilidade prática. Tem
eficácia, mas não tem efetividade. A eficácia se situa exclusivamente no
plano jurídico, enquanto que a efetividade se situa no plano da realidade
invalidar normas posteriores. Isso não quer dizer que a norma esteja apta a
um caso concreto; muitas vezes ela depende de uma outra vontade, de um
outro ato para que ela possa ser aplicada. Todavia, essa norma tem o condão
de invalidar outras leis que sejam contrárias a ela, ainda que não exista
regulamentação. Exemplo: lei anterior a CF/88 que não foi recepcionada por
ela como a Lei de Imprensa.
* Toda norma constitucional possui eficácia, ainda que seja apenas uma
eficácia negativa.
Obs.: Maria Helena Diniz propõe - além da classificação de José Afonso da Silva - as
normas constitucionais de eficácia absoluta ou supereficazes que são as normas que tem
aplicabilidade direta, imediata e integral. A diferença em relação às normas de eficácia
plena é que estas não pode ser restringidas, nem por lei nem por emenda constitucional:
ora, são as cláusulas pétreas, então segundo a ilustre professora. Ora, mas cláusula pétrea
pode ser restringida, o que não pode é sua retirada do ordenamento e além disso, o seu
núcleo essencial deve ser preservado. Essa é uma das críticas que se faz para a
classificação de Maria Helena Diniz, além disso a doutrina aponta que para a classificação
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ser boa deve ser abrangida por apenas um critério, e, Maria Helena leva em conta na sua
classificação mais de um critério: a eficácia e a capacidade da norma constitucional ser
alterada por lei ou emenda.
Obs.: normas constitucionais de eficácia exaurida são aquelas cuja eficácia á se esgotou
em razão do cumprimento dos efeitos nelas previstos. Exemplo: algumas normas do
ADCT que já foram aplicadas ao caso previsto nela, v. g., seus arts. 2º e 3º. Para efeito de
reflexão uma pergunta: quanto ao artigo 2º será que esse dispositivo poderia impedir uma
emenda constitucional que tentasse alterar a forma de governo? O professor Marcelo
Novelino entende que não é possível alterar a forma de governo o legislador por si só,
todavia, será possível a realização de um plebiscito para consultar a população que, se
aprovar, alterar a forma de governo. Da mesma forma, nada impede que se preveja uma
nova revisão constitucional, nos termos do art. 3º se houvesse uma emenda a esse artigo
do ADCT.
1. Introdução
2. Princípio da Unidade
O que esse exemplo acima tem a ver com o princípio da unidade? Ora, o princípio
da unidade afasta a tese de hierarquia entre normas da constituição.
Conceito: Não existem princípios absolutos, pois todos encontram limites em outros
direitos também consagrados na Constituição. A CF/88 afirma que ninguém será
torturado. É um princípio? Não. É uma regra constitucional. Agora, com relação aos
princípios, não se pode dizer que existem princípios absolutos, ex vis, a proibição de
tortura não é absoluta; vide as punições disciplinares.
Alguns autores afirmam que a dignidade da pessoa humana é um valor absoluto.
Cuidado na hora de interpretar essa informação: como fica por exemplo uma colisão entre
a dignidade da pessoa humana de dois seres humanos distintos? A ADPF 54 trata do
aborto de anencéfalos. Um dos argumentos da confederação dos trabalhadores na área de
saúde é de que obrigar uma gestante a gerar de 9 meses um feto com a plenitude de certeza
que não sobreviverá ao parto é uma espécie de tortura que viola a dignidade da pessoa
humana. Do outro lado, defendendo o direito do feto, o principal argumento é que a
dignidade da pessoa humana do feto está sendo violada. A matéria está pendente de
julgamento no STF.
Esse princípio é o que leva o mesmo nome do livro de Konrad Hesse, “A Força
Normativa da Constituição”. Quem usa muito esse princípio é o Gilmar Mendes, que foi
quem traduziu esse livro para o português.
Conceito: na aplicação da Constituição deve ser dada preferência às soluções
concretizadoras de suas normas que as tornem mais eficazes e permanentes. Quando se
fala em concretizar é aplicar a norma ao caso concreto deve se optar às soluções que
favoreçam à eficácia desta norma.
O STF tem utilizado esse princípio em caso de interpretações divergentes da
Constituição. O STF é o guardião da constituição, nos termos do art. 102, CF e, cabe a
ele dar a última palavra sobre como deve ser a interpretação. Interpretações divergentes
enfraquecem a força normativa da Constituição --> se há uma norma constitucional
interpretada de maneiras diferentes por diversos órgãos do judiciário, essa norma perde a
eficácia normativa, pois ninguém vai saber a norma que deve adotar. O STF pode, em
determinados casos, até permitir a relativização de coisa julgada, para não manter
interpretações divergentes.
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Exemplo: até 1995 quando um segurado do INSS falecia, o dependente não recebia
o valor de pensão por morte integral que já recebia o segurado, e sim 80% dele. A partir
de 1995 houve uma alteração na lei e o percentual de morte passou a ser 100%: o
dependente recebe o mesmo valor que o segurado recebia. Os dependentes que recebiam
80% ajuizaram várias ações para receber o valor integral pós-lei. O TRF da 2ª região
entendeu que o princípio da não-retroatividade não estaria violado e eles poderiam
receber o valor integral pós-lei. Já O STF entendeu que se o dependente receber o valor
integral, estaria privilegiando um fato gerador de antes de 1995: seria uma retroatividade
mínima, mas mesmo assim não-permitida. Ora, mas processos do TRF2 favoráveis ao
dependente transitaram em julgado --> pra isso o INSS poderia ajuizar ação rescisória
para relativizar a coisa julgada inconstitucional, dentro do prazo de dois anos
estabelecidos em lei. Nesse caso concreto nem precisou da ação rescisória: as decisões
do STF nessa decisão foi em controle difuso inter partes, todavia, naquelas ações em que
a parte estava cobrando o pagamento atrasado ao INSS, bastava este peticionar o
cumprimento de sentença a decisão do STF.
Para ele, os direitos fundamentais devem ser aplicados de forma que lhe seja
assegurada a maior efetividade possível.
Mendes, foi julgada procedente afirmando que a decisão no referido HC não era inter
partes, e sim com efeitos erga omnes, isso porque teria havido uma modulação dos efeitos
da decisão. Ora, mas como ficaria o art. 52, X? Inócuo? Gilmar Mendes fundamentou que
o referido artigo passou por uma mutação constitucional: o Senado em vez de editar a
resolução para suspender a execução da lei, apenas dará publicidade à decisão do STF.
Ele votou nesse sentido, o ministro Eros Grau - que já se aposentou - acompanhou o
relator; todavia, os ministros Joaquim Barbosa e Sepúlveda Pertence votaram contrário
ao relator, julgando improcedente a reclamação. A questão hoje está empada, 2 x 2.
Temos que aguardar o posicionamento do Pleno.
Se prevalecer o entendimento de Gilmar Mendes, muitos doutrinadores sustentam
que o princípio da conformidade funcional teria sido violado, uma vez que neste hipótese
a competência que era do Senado foi, de certa forma, usurpada pelo Senado Federal. O
STF estaria chamando para si uma competência constitucional do Senado.
Encerramos aqui, são 7 os princípios elencados por Konrad Hesse. Vamos analisar
agora outro princípio instrumental, mas que não faz parte do catálogo do alemão.
9. Princípio da proporcionalidade
9.1 Nomenclatura
processo legal;
almejado, deve-se optar por aquela que seja a menos gravosa possível. A
necessidade de ser associada ao meio menos gravoso. Se no caso concreto há
dois meios igualmente eficazes, escolhe-se o menos gravoso. A necessidade
também é chamada pela doutrina de “princípio da menor ingerência
possível”. Citando Jellinek: “não se deve abater pardais com canhões” (ainda
que os canhões sejam capazes de abater o pardal, é um meio gravoso demais
– logo não é necessário).
geralmente sobra uns 5% de gás que seria abatido no valor do botijão novo. Vamos
investigar: o meio é adequado, visto que está protegendo o consumidor. Pela necessidade:
há outro meio mais eficaz e menos gravoso para as partes? O outro meio, inclusive já
utilizado, era uma amostragem geral dos botijões antigos e aplicar na venda de botijões
novos, mas não é tão eficaz, logo, necessidade está ok. Na proporcionalidade em sentido
estrito vamos ponderar a livre iniciativa x proteção do consumidor. Para ponderar, o STF
analisou alguns aspectos fáticos: para que haja a pesagem é preciso da balança de alta
precisão que vai pesar um gás dentro do botijão; este custo será repassado ao consumidor,
o que obviamente deixa o produto mais caro; o consumidor teria dificuldades para
comprar gás, onde só poderia nos postos de venda, não havendo mais os carrinhos de gás.
O STF entendeu que é muito melhor fazer por amostragem do que exigir a pesagem na
frente do consumidor e o gás sair mais caro. A lei do Paraná traria mais custos do que
benefícios ao consumidor, não sendo uma medida proporcional.
9.3 Proibição de excesso x proibição de insuficiência
1. Introdução
Antes de iniciar o tema, para fins didáticos vamos fazer a distinção entre direitos
humanos e direitos fundamentais. Ambos estão relacionados aos valores liberdade,
igualdade e são voltados a proteção e promoção da dignidade da pessoa humana. A
diferença é o plano no qual eles estão situados, enquanto os direitos humanos estão
consagrados no plano internacional, os direitos fundamentais situam-se no plano interno,
em geral, na Constituição. Logo, o conteúdo dos direitos é o mesmo: liberdade e
igualdade, sendo que tais valores tutelam a dignidade da pessoa humana. É claro que os
direitos fundamentais de cada país vão variar, por exemplo, os EUA consagram pena de
morte e perpétua, enquanto aqui no Brasil isso não é admitido, exceto pena de morte em
casos de guerra declarada. Muitos autores, inclusive, não fazem essa diferença chamando
inclusive direitos humanos fundamentais. A distinção aqui é essencialmente de plano.
Vejamos o art. 5º, § 3º:
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais
O art. 5º, § 2º da CF/88 consagra uma teoria material dos direitos fundamentais. O
que isso significa? Vejamos a redação:
Vamos ver duas classificações. Primeiramente a realizada pela CF/88 que trata dos
direitos fundamentais no título II e considera que direitos e garantias fundamentais são o
gênero que tem as seguintes espécies:
a) Direitos individuais: apesar de estarem sistematicamente elencados no art. 5º
os direitos e garantias individuais também podem ser encontrados em outras
partes da Constituição. Prova disso é o art. 65, § 4º, IV da CF/88: perceba que
não são todos os direitos fundamentais (apesar de que defendidos por alguns
autores) que são cláusulas pétreas, e sim apenas os direitos e garantias
individuais. E mais: o STF já entendeu que o art. 60, § 4º e o art. 150, III, “b”
foram consideradas garantias individuais e, portanto, cláusulas pétreas.
b) Direitos a prestações: São direitos que exigem do Estado não uma abstenção,
mas uma atuação positiva, ou seja, exigem uma prestação do Estado. Têm
preponderantemente um caráter positivo (status positivus)
* Os direitos prestacionais têm uma carga de eficácia menor que os direitos
de defesa? Sim, pois a maioria dos direitos de defesa estão consagrados
em normas de eficácia plena ou contida, enquanto que os direitos
prestacionais estão geralmente consagrados em normas de eficácia
limitada. Os direitos prestacionais têm menos eficácia e menos
efetividade (em razão do custo oneroso que têm). Vale lembrar também
que os direitos prestacionais dependem de recursos financeiros: quanto
mais pobre o Estado e o nível de desenvolvimento deste, maior é a
dificuldade de implementar os direitos sociais.
* Constituem-se basicamente nos direitos sociais. Alguns direitos
prestacionais podem ser, inclusive, individuais, como o direito de
assistência judiciária. E cuidado: nem todo direito prestacional é um
direito social, e a recíproca também é verdadeira, ex vis, a proteção do
trabalhador através da legislação trabalhista. A criação de legislação
trabalhista não é um direito prestacional por parte do Estado.
* Os direitos prestacionais estão ligados ao valor igualdade material (não
à formal). E em que sentido a exigência de igualdade material faz com
que o Estado tenha que atuar positivamente? Ora, o objetivo das
prestações é de reduzir as desigualdades fáticas. Por que o Estado tem
que fornecer medicamentos para algumas pessoas? Pois, algumas
pessoas não tem como pagar esses remédios, e acaba também fornecendo
para quem pode. Logo, tais direitos prestacionais visam reduzir essa
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Obs.: a rigor, todos os direitos têm caráter positivo e negativo. Exemplo: liberdade de
locomoção do indivíduo. Em regra, o Estado não pode impedir o indivíduo de ir e vir
(face negativa), mas também se ele não influir construindo estradas, meios de transporte,
etc. (face positiva) as pessoas não poderão exercitá-los.
Obs.: direitos coletivos estão sempre ligados aos direitos individuais ou sociais.
** Duplo grau de jurisdição é direito fundamental? Posso num processo não querer
recorrer. A minha posição não foi enfraquecida, eu apenas não quis exercê-la, mas meu
direito permanece.
* O italiano Norberto Bobbio em seu livro “A Era dos direitos” sustenta que
existem dois valores absolutos: o direito de não ser torturado e o direito de
não ser escravizado. Ora, a tortura já é uma regra resultante de uma
ponderação feita pelo legislador do constituinte através da dignidade da
pessoa humana. A proibição de trabalho escravo também é uma concretização
da dignidade da pessoa humana. A regra já é muitas vezes o resultado de uma
ponderação e, quem fez essa regra foi o legislador. Costuma dizer que nas
regras existem as “razões entrincheiradas”, que são justamente as
ponderações feitas nas discussões, análise do que seria votado para adentrar
no ordenamento.
* Humberto Ávila entende que os direitos fundamentais se expressam muito
mais por regras do que princípios. Agora, inegavelmente os princípios não
podem ser considerados absolutos, bem como essas regras.
nas relações entre particulares. Não tem muito prestígio entre os países, mas é a doutrina
adotada nos EUA. Os direitos fundamentais se aplicam apenas às relações entre Estado e
particulares. A 13ª emenda da Constituição americana acabou com a escrivão. Com a
exceção dessa emenda, nenhum outro dispositivo da Constituição americana, nenhum
outro dispositivo dela, de acordo com o entendimento jurisprudencial, se aplicaria a
eficácia horizontal. Isso porque a Constituição de 1787 ainda etá em vigor e nessa época
só existiam direitos fundamentais dos indivíduos em face do Estado.
Nos EUA existe uma teoria que adequa a aplicação dos direitos fundamentais por
parte de particulares contra particulares (Doutrina da State Action). Tal doutrina tenta
buscar um artifício para que algumas situações possam ser aplicados os direitos
fundamentais nas relações entre particulares. Vamos analisar três aspectos da State
Action:
a) Pressuposto: só pode haver violação a direito fundamental por meio de uma
ação estatal.
b) Finalidade: tentar afastar a impossibilidade de aplicação dos direitos
fundamentais nas relações entre particulares e definir, ainda que de forma
casuística e assistemática em que situações esta aplicação seria possível.
Existe uma divergência entre o Daniel Sarmento e o Virgílio Afonso. Daniel
estudou nos EUA e sustenta que a doutrina da State Action teria como
finalidade evitar a aplicação dos direitos fundamentais às relações
particulares. Já o Virgílio sustenta que a finalidade da doutrina não é impedir
a aplicação, e sim tentar contornar essa proibição. O professor Marcelo
Novelino concorda com Virgílio.
c) Artifício de sua utilização: equiparação de determinados atos privados a atos
estatais. Os direitos fundamentais só se aplicariam na relação Estado-
particulares, mas também nas relações particular-particular quando os atos
dos particulares se equipararem a atos do Estado.
A teoria da eficácia horizontal surgiu com Nipperdey, mas não é a teoria que
prevalece na Alemanha. A teoria prevalecente entre os Alemães (doutrina e
jurisprudência) é a eficácia horizontal indireta, que surgiu com Günter Dürig. Alexy adota
outra teoria (posição minoritária na Alemanha).
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O direito fundamental até pode ser aplicado entre as relações particulares, mas para
ocorrer, o juiz não pode buscar na Constituição diretamente tal direito, pois esse direito
na Constituição foi construído para garantir o indivíduo contra o Estado. Para que
determinado direito fundamental seja aplicado nas relações entre particulares é necessária
a regulamentação desse direito por parte do legislador legal. Isso porque no direito
privado existe o princípio da autonomia da vontade. Logo, os direitos fundamentais não
ingressam na relação particular x particular como direito subjetivo a ponto de invocar a
Constituição. O indivíduo só pode invocar a lei
A aplicação direta dos direitos fundamentais nas relações privadas aniquilaria a
autonomia da vontade e causaria uma desfiguração no direito privado. Nas relações
contratuais (entre particulares, no mesmo nível) não se pode aplicar os direitos
fundamentais da mesma forma do que nas relações Estado-particulares, devendo, em
primeiro momento, prevalecer a autonomia da vontade. Não se nega a aplicação dos
direitos fundamentais nestas relações, mas para a aplicação dos direitos fundamentais
deve haver uma intermediação da lei prevendo esta aplicação.
Os direitos fundamentais irradiam os seus efeitos nas relações entre particulares por meio
de mediação legislativa (efeito irradiador dos direitos fundamentais). Para não causar uma
desfiguração do direito privado e uma supressão da autonomia da vontade. O direito
privado, por meio da lei, iria trazer os direitos fundamentais às relações privadas.
Segundo a doutrina alemã, os direitos fundamentais entrariam no direito privado e
seriam irradiados (introduzidos) às relações particulares via cláusulas gerais do direito
privado (“portas de entrada” ou “pontos de infiltração” dos direitos fundamentais no
direito privado – interpretação destas cláusulas via direitos fundamentais).
Sobre esse tema vale conferir no STF o RE 161.243/DF. É a hipótese da air france
que tinha 2 estatutos trabalhistas: um para os franceses e outros para “estrangeiros. O STF
entendeu que, nesse caso, o princípio da autonomia deveria ser aplicado nessa relação. O
Supremo entendeu que na relação trabalhista privada existe uma desigualdade fática entre
empregador e empregado e que é preciso tutelar esse último grupo
STF, RE 161.243
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRABALHO. PRINCÍPIO DA
IGUALDADE. TRABALHADOR BRASILEIRO EMPREGADO DE
EMPRESA ESTRANGEIRA: ESTATUTOS DO PESSOAL DESTA:
APLICABILIDADE AO TRABALHADOR ESTRANGEIRO E AO
TRABALHADOR BRASILEIRO. C.F., 1967, art. 153, § 1º; C.F., 1988,
art. 5º, caput. I. - Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar
para a empresa francesa, no Brasil, não foi aplicado o Estatuto do Pessoal
da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade
seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao
princípio da igualdade: C.F., 1967, art. 153, § 1º; C.F., 1988, art. 5º,
caput). II. - A discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota
intrínseca ou extrínseca do indivíduo, como o sexo, a raça, a
nacionalidade, o credo religioso, etc., é inconstitucional. Precedente do
STF: Ag 110.846(AgRg)-PR, Célio Borja, RTJ 119/465. III. - Fatores que
autorizariam a desigualização não ocorrentes no caso. IV. - R.E.
conhecido e provido.
STF, RE 158.285
DEFESA - DEVIDO PROCESSO LEGAL - INCISO LV DO ROL DAS
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS - EXAME - LEGISLAÇÃO
COMUM. A intangibilidade do preceito constitucional assegurador do
devido processo legal direciona ao exame da legislação comum. Daí a
insubsistência da óptica segundo a qual a violência à Carta Política da
República, suficiente a ensejar o conhecimento de extraordinário, há de
ser direta e frontal. Caso a caso, compete ao Supremo Tribunal Federal
exercer crivo sobre a matéria, distinguindo os recursos protelatórios
daqueles em que versada, com procedência, a transgressão a texto
46
5.1 Introdução
da pessoa humana é a autonomia do indivíduo. Por o ser humano ter vontade, ele teria
que ter dignidade. O professor Marcelo Novelino não concorda, porque algumas pessoas
não tem racionalidade, ex vis, o feto, os senis, teriam uma dignidade relativizada? Alguns
autores dizem que a dignidade tem como fundamento a vida. O professor também
discorda. O morto não teria direito à dignidade? A vida parece para alguns ser o bem mais
valioso. E no caso de testemunha de Jeová que se recusa receber a transfusão de sangue?
Houve uma decisão no TJ/RS que forçou um deles a tomar a transfusão. Mas ora, para o
testemunha de Jeová a sua vida fica indigna. O professor Marcelo Novelino entende que
a dignidade não tem um fundamento, na verdade ela é um fundamento de todos os
direitos, inerentes ao ser humano. Todos os direitos fundamentais decorreriam direta ou
indiretamente da dignidade da pessoa humana.
A dignidade da pessoa humana está prevista no art. 1º, III da CF/88 e é tida como
um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
Vale aqui fazer uma distinção: as normas do art. 1º são normas internas, inerentes
ao Estado brasileiro enquanto que as normas do art. 3º são normas externas, aplicáveis
pelo Brasil nas suas relações exteriores.
A maioria da doutrina internacional costuma apontar a dignidade da pessoa humana
como valor constitucional supremo. Agora cuidado: valor constitucional supremo não
significa ser norma suprema. São coisas diferentes. A dignidade da pessoa humana não
se encontra acima das demais normas da Constituição em face ao princípio da unidade
que dispõe que não existe hierarquia entre as normas constitucionais. A dignidade da
pessoa humana é o valor constitucional supremo, e não a norma suprema, porque nem
sempre a dignidade prevalecerá no caso de ponderação de princípios. É verdade que na
maioria dos casos a dignidade da pessoa humana, por ser um valor supremo, prevalecerá,
mas não são em todos os casos. Exemplo: dignidade de uma pessoa contra a dignidade de
outra.
Falamos na semana passada que a dignidade da pessoa humana não é um direito, e
48
sim é uma verdadeira qualidade intrínseca do ser humano. Nós não temos dignidade
porque ela está prevista no art. 1º, III, e sim porque ela é uma qualidade intrínseca do ser
humano. Apesar de ela não ser um direito ela possui uma íntima relação com os direitos
fundamentais: tal relação se dá, pois, a dignidade da pessoa humana é o núcleo dos
direitos fundamentais. Tais decorrem da dignidade da pessoa humana. O fundamento dos
direitos fundamentais é a dignidade da pessoa humana: os direitos fundamentais existem
para proteger e promover a dignidade da pessoa humana, que é o fundamento de todos
eles. É claro que alguns direitos fundamentais possuem uma derivação mais direta ou
indireta à dignidade da pessoa humana, ex vis, o direito de liberdade é muito mais ligado
à dignidade da pessoa humana, do que um direito de férias. Mas esse não deixa de estar
ligado à dignidade da pessoa humana, pois o direito de férias visa a garantir a dignidade
moral e o direito a repouso.
Se a dignidade é o fundamento dos direitos fundamentais e, se os direitos
fundamentais existem para promover e proteger a dignidade da pessoa humana, quando
há, como no Brasil, uma CF/88 que tutela os direitos fundamentais de forma bem definida,
dificilmente se necessitará recorrer diretamente à dignidade da pessoa humana.
Exemplos: violações à integridade física e mental de uma pessoa e, consequentemente
violação também sua dignidade; a violação da liberdade; da igualdade; dos direitos de
personalidade, etc. O importante é conhecer o raciocínio que se utilizará: se há um
ordenamento jurídico onde não existe um rol de direitos fundamentais específicos (não é
o caso do Brasil), o juiz ao decidir ele vai retirar da dignidade da pessoa humana os
direitos fundamentais. Quando a CF já possui um rol de direitos fundamentais
segmentado, o juiz não vai invocar a dignidade da pessoa humana como norma principal
para resolver o caso - ele usará um dos direitos fundamentais. O magistrado utilizará a
dignidade da pessoa humana apenas como um reforço argumentativo. Inclusive, no sítio
do STF não há decisões baseadas exclusivamente na dignidade da pessoa humana, e sim
há sempre invocação de princípios constitucionais. Talvez o único caso onde o Pretório
Excelso se utilizou apenas da dignidade da pessoa humana seria a não-obrigatoriedade de
submissão ao exame de DNA. Mesmo assim, o Supremo invocou normas não-
constitucionais também para fundamentar sua decisão.
49
De acordo com a doutrina européia, mais especificamente segundo Kant: “as coisas
tem um preço; o ser humano tem dignidade. A dignidade exige do ser humano seja tratado
sempre como um fim em si mesmo, e não como um meio para se atingir determinados
fins.” Essa filosofia Kantiana a respeito da dignidade ficou conhecida como “fórmula do
objeto”, pois se o ser humano for tratado como um objeto, a dignidade será violada. A
fórmula do objeto nos ensina que o ser humano não pode ser um meio para o Estado
alcançar as suas finalidades, mas sim, deve ser sempre o fim.
O Tribunal Alemão acrescentou à fórmula do objeto a “expressão de desprezo” pelo
ser humano. O que isso significa? Muitas vezes o ser humano é tratado como meio para
atingir determinado fim, todavia, ser tratado como meio não significa uma violação à
dignidade da pessoa humana, por exemplo, uma pessoa que não tem o vírus HIV se
oferece para fins de pesquisa com o vírus. De certa forma, a pessoa está sendo tratada
como um meio, um instrumento, cobaia para se atingir um fim; todavia, tal meio não
significa violação à dignidade da pessoa humana, uma vez que foi escolha do titular do
direito. Diferente é o caso de forçar um preso à castração química. O que deu a ideia ao
Tribunal Alemão de criar a expressão de desprezo foi a experiência do nazismo, que
consideravam as pessoas não-arianas como pessoas de 2º grau e, portanto, sendo objeto,
e expressão de desprezo dessas pessoas para os arianos. Outro exemplo muito
emblemático de violação à dignidade da pessoa humana foi o arremesso de anões na
50
França: os anões estavam sendo utilizados como expressão de desprezo, visto que era um
meio e eles estavam sendo tratados como objeto em razão de sua condição física
diferenciada.
Um dos temas que envolve a dignidade da pessoa humana é: quem deve decidir que
a dignidade da pessoa humana foi violada? O próprio titular ou uma autoridade pública?
No caso dos anões da França, os próprios anões argumentaram que serem arremessados
não violaria a sua dignidade; o que violaria era eles ficarem desempregados. O professor
Marcelo Novelino comungava desse entendimento, todavia, passou a pensar diferente
quando conheceu uma aluna do LFG que tinha nanismo. Ele trocou e-mails com a aluna
na época do programa pânico na TV que tinha os anões do “pedala robinho”. Certa vez a
aluna estava em uma boate e alguém deu a tapa e falou “pedala robinho”. O professor
entendeu que tais condutas como a do programa de TV criam um estigma para
determinados tipos de pessoas, o que levaria a entender que a própria pessoa não pode
decidir sobre a sua dignidade, que caberia às autoridades públicas analisarem o caso
concreto. É uma questão polêmica que não possui um entendimento majoritário.
em sua promoção e proteção; e, por fim, como postulado, servindo de base interpretativa
(meta-norma) para outros princípios.
1. Teoria absoluta: para esse entendimento direito fundamental tem duas partes:
a) “núcleo duro”: parte dos direitos fundamentais que não pode ser violado,
sendo intangível e imodificável até mesmo por emenda constitucional. E
como é definido esse núcleo duro? Por interpretação em abstrato (a priori),
por isso é um limite forte;
b) outra parte inominada, periférica: essa parte poderia ser alterada pelo
legislador, que faria uma espécie de conformação. Essa parte poderia ser
tratada pelo legislador de forma discricionária, mas com certos limites.
* Essa teoria se chama de teoria absoluta, pois todo princípio teria seu
núcleo duro e sua parte periférica, visto que isso é definido em abstrato,
e não pelo caso concreto.
1. Teoria interna: os limites de cada direito fundamental devem ser fixados por
um processo interno ao próprio direito, sem a interferência de outras normas.
Os limites dos direitos fundamentais seriam limites imanentes ao próprio
direito, ou seja, quem define o limite de um direito fundamental é a própria
Constituição. Quando o legislador regula o direito fundamental ele só está
estabelecendo os contornos do direitos e consagrando os contornos que a
própria Constituição já estabelece. Quando se estabelece que o conteúdo dos
direitos fundamentais é feito a priori, em abstrato, se entenderá que, de
acordo com a teoria de Robert Alexy - juntando a teoria interna com a teoria
absoluta do conteúdo essencial -, que o direito fundamental é entendido como
regra e, portanto, não existiria ponderação entre princípios, uma vez que cada
princípio tem sua aplicação específica (é o entendimento também de
Dworkin). Quando se pega a classificação de José Afonso da Silva de normas
constitucionais (plena ou contida), ela só faz sentido na teoria interna em
54
Apenas a teoria relativa e a teoria externa são compatíveis com a teoria dos
princípios proposta por Alexy. O STF não adota nenhuma dessas teorias em específico, e
sim faz uma miscelânea, adotando várias, a depender do ministro relator do caso.”
No caso da teoria interna e da teoria absoluta o suporte fático do direito (aquilo que
o direito fundamental protege), ele sempre vai ser um direito definitivo. No caso da teoria
externa e da teoria relativa, aquilo que o direito abrange, nunca vai estabelecer um direito
definitivo, e sim estabelecerá um direito prima facie: o direito definitivo só surge após a
ponderação. Vamos elucidar a partir de um exemplo concreto: a liberdade de informação.
De acordo com a teoria absoluta e a teoria interna, o direito à liberdade de informação já
vai ter o seu contorno definido a priori, ex vis, uma decisão do STF que afirme que “o
direito à liberdade de informação compreende apenas informações verídicas, informações
que tenham relevância pública e sejam lícitas.” O STF está estabelecendo em caráter
definitivo, a priori, os contornos do direito à liberdade de informação, não se ponderando
mais com nenhum outro direito. Se a informação for verídica, pública e obtida de forma
licita será divulgada. E como ele excluiu os outros tipos de informação? Isso não fica
claro, logo, as teorias interna e absoluta não são muito democráticas, uma vez que não
expõem totalmente os motivos.
Peguemos o mesmo exemplo da liberdade de informação e apliquemos agora na
teoria relativa e na teoria externa: qualquer tipo de informação, prima facie, está protegida
55
constitucionalmente. Mas, por que qualquer informação? Segundo Alexy princípios são
normas que devem ser cumpridas na maior medida possível. Em um primeiro momento,
todas as condutas ligadas à liberdade de informação estão protegidas pelo princípio da
liberdade de informação. Mas como vou saber se uma informação inverídica ou sem
relevância pública está protegida? Vou ter que ponderar a liberdade de informação com
outros princípios: por exemplo, se uma informação afetar a vida privada, a honra e a
intimidade de uma pessoa eu vou ter que ponderar com a liberdade de informação e saber
qual princípio deve prevalecer. É diferente do parágrafo acima, onde se estabelece em
abstrato as informações que devem ser protegidas: nas teorias relativa e externa ao fazer
a ponderação principiológica é preciso motivar - o que as torna bem mais democráticas
do que a teoria absoluta e interna.
Obs.: Sobre o tema ver o livro de SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos fundamentais:
conteúdo essencial, restrições e eficácia. Malheiros.
A ideia de limites dos limites surgiu em 1964 por um autor alemão chamado
BETTERMAN. Essa teoria envolve um paradoxo muito interessante: os direitos
fundamentais são direitos de defesa do indivíduo em face do Estado. Então, os direitos
fundamentais funcionam como um limite à atuação do Estado. Agora vejam o paradoxo:
ao mesmo tempo em que os direitos fundamentais atuam como limite na atuação do
Estado, em alguns casos a Constituição admite que o próprio Estado, através de uma lei,
limite um direito fundamental, ex vis, é livre o exercício de qualquer trabalho, atendido
os requisitos que a lei estabelecer. Ou seja, o legislador pode limitar o exercício de direitos
fundamentais. É aí que entra a questão dos limites dos limites: essa limitação feita ao
Estado dos direitos fundamentais não pode ser uma limitação ilimitada: tal limitação terá
que o observar determinados limites.
O limite estabelecido pelo Estado a um direito fundamental tem que observar
determinados limites, pois, se não observar determinados limites, o que vai acontecer que
a lei que limita direito fundamental pode, simplesmente, esvaziar o conteúdo do
respectivo direito fundamental. É por isso que existem as teorias relativa e absoluta em
relação ao conteúdo essencial do direito - para que tal seja respeitado. E quais são esses
limites que a lei restritiva deve observar e não esvaziar o conteúdo dos direitos
56
1. Princípio da Reserva legal (art. 5º, II da CF/88): a restrição tem que ter base
legal. As restrições aos direitos fundamentais devem ser estabelecidas por lei.
Por organização didática vamos organizar o nosso estudo a partir dos valores
consagrados pelo caput do art. 5º:
Não vamos estudar as garantias especificamente, visto que a maior parte são temas
de direito processual. Vamos ver, depois algumas garantias em separado, como o
mandado de injunção.
renunciar do seu direito à vida por não querer receber transfusão de sangue: a transfusão
forçada será feita - os testemunhas de Jeová acreditam, fazendo uma interpretação bíblica
- que o sangue não pode ser misturado, ou a pessoa se tornará impura. Ora, recebendo a
transfusão e ficando vivo, ele, na sua consciência, não estaria com uma vida indigna? O
juiz que afirma que “a religião deve preservar a vítima e não exterminá-la” é um juiz
preconceituoso, que não aceita a religião como premissa de vida, algo até maior que ela.
É ponderação de princípios pura. Será mesmo que a vida é o valor mais importante que a
Constituição consagra? Será que a vida é mais importante do que a consciência dessas
pessoas serem respeitadas? Algo a se pensar.
A inviolabilidade protege o direito à vida contra terceiros - diferente do caráter
irrenunciável - que tutela a pessoa de si mesmo. Existem hipóteses em que o nosso
ordenamento jurídico permite violação da vida:
a) Pena de morte no caso de guerra declarada (art. 5º, XLVIII);
b) Aborto nos casos de ser necessário - quando a má-formação do feto
comprometer a vida da gestante - ou sentimental quando a gravidez for
decorrente de estupro. Alguns autores, inclusive, sustentam que o aborto
sentimental não teria sido recepcionado pela CF/88.
c) Aborto em caso de acrania (ADPF 54): a Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Área da Saúde sustenta que nos casos de acrania deveria ser
permitida a antecipação terapêutica do parto, sob o fundamento que não seria
aborto. Quer uma interpretação do Código Penal em conformidade com a
CF/88: que não seja aborto, e sim uma antecipação terapêutica do parto, sob
argumento de que a nossa legislação não diz a partir de que momento o direito
à vida deve ser protegido, mas afirma quando não há mais direito à vida a ser
protegido que é a partir da morte encefálica, nos termos da Lei 9.434/97, onde
se permite a partir de tal fato a doação de órgãos. Ora, se, juridicamente
falando a vida termina com a morte encefálica, o início da vida só ocorreria
em termos jurídicos quando a massa encefálica se formasse a contrario sensu.
Já que não haveria cérebro, não existiria aborto, e sim uma antecipação do
parto. Esse argumento é o principal da ADPF 54. Vamos desenvolver na
próxima página um quadro sinótico com ambos os argumentos:
59
2. Princípio da isonomia
Veja que se limita a vedação quando possa ser justificado pela natureza das
atribuições. O fim constitucional da vedação permitida é a eficiência da Administração
na prestação de seus serviços. E se a vedação for com relação ao sexo? Plenamente
possível, ex vis, concurso para agente penitenciário a ser exercido em penitenciária
masculina. E em razão da cor? É possível vedar? Celso Antônio Bandeira de Melo no
livro “O conteúdo jurídico da igualdade” afirma que o critério utilizado (sexo, idade cor,
etc.) em si não diz muito sobre a constitucionalidade da medida; o que se tem que analisar
é se existe um fim constitucionalmente legítimo. Exemplo: universidade está
investigando cientificamente porque brancos têm melhores rendimentos na natação e
decide contratar brancos para fazer essa investigação --> não há nada de errado com isso.
Esse é o entendimento de Celso. O STF entende que é preciso atender a dois requisitos
para que a discriminação possa ser constitucional:
1. Razoabilidade da exigência decorrente das atribuições do cargo a ser
preenchido;
2. Previsão legal anterior à realização do certame.
A igualdade material tem por finalidade a igualização dos desiguais por meio da
concessão de vantagens substanciais. O objetivo não é tratar diferentemente, mas sim
conceder às pessoas em situação menos favorecida condições mais benéficas, para reduzir
as desigualdades (ações afirmativas). Com isso, fica evidente a tensão da diferenciação
entre igualdade material e formal. Por exemplo, cotas no vestibular para negros. Isso é
tratar desigualmente ou não? Para o professor Novelino sim, pois está tratando diferentes
alunos de escola pública e particular. É um aspecto da igualdade formal e, por isso, essa
diferença das cotas deve ter um fim constitucionalmente previstos. Luiz Prieto Sanchís
leciona que, para se ter uma igualdade de fato, é necessário ter uma desigualdade jurídica:
se eu tratar todos da mesma forma vou acabar não atendendo a igualdade material que,
para ser atendida precisa criar aspectos discriminatórios.
A CF/88 consagra a igualdade material ou apenas a formal? A igualdade material
pode ser extraída da Constituição a partir da conjugação de alguns dispositivos, por
exemplo, o art. 6º e seguintes (direitos sociais que visam a redução de desigualdade para
tornar os desiguais iguais) e o art. 3º, III:
63
Sistema de cotas
Argumentos contrários Argumentos a favor
- Fere o mérito (critério republicano), pois as - Justiça compensatória: Consiste em uma política
pessoas alcançam determinados cargos públicos baseada na retificação de injustiças ou falhas
sem condições para tal. cometidas contra indivíduos no passado, seja por
particulares, seja pelo governo.
- Art. 208 da CF/88: - Justiça distributiva: Consiste na promoção de
oportunidades para aqueles que não conseguem
V- acesso aos níveis mais elevados do ensino, da se fazer representar de uma maneira igualitária.
pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade
de cada um;
do grupo estaria sofrendo uma discriminação de mais: diversificada, aberta, tolerante, miscigenada
forma reversa (nota melhores, mas exclusão nas e multicultural.
vagas).
- Fomenta o racismo e ódio racial
- Favoreceria negros de classe média alta
- Em uma sociedade pluralista, a condição de
membros de um grupo específico não pode ser
utilizada como critério de inclusão ou exclusão de
benefícios.
- Impossibilidade de se estabelecer critério objetivo
do conceito de “negro.” No Brasil vale a
autodeclaração.
Quem pode invocar os direitos do art. 5º, entre eles a isonomia? Como já visto em
aulas passadas, o caput afirma textualmente que os direitos fundamentais são garantidos
aos brasileiros e estrangeiros residentes no país; todavia, o princípio da dignidade da
pessoa humana, que atua como uma meta-norma, faz com que esse dispositivo tenha uma
interpretação extensiva, logo, todas as pessoas, sem exceção, que estejam no território
nacional, devem ter seus direitos fundamentais.
Pessoa jurídica pode invocar algum direito fundamental do art. 5º? Sim. Não só
direitos instrumentais como contraditório, ampla defesa, mandado de segurança, etc., mas
inclusive, os direitos materiais, por exemplo, sofrer dano moral. E pessoa jurídica de
direito público (União, Estado, autarquias, etc.) podem invocar direitos do art. 5º? A
questão é polêmica. Quando estudamos as gerações dos direitos fundamentais, vimos que
tais surgiram para proteger o indivíduo em face do Estado; mas, será que o próprio Estado
pode invocar direitos fundamentais para se proteger? O STF adota o seguinte
entendimento: pessoa jurídica de direito público pode invocar garantias individuais de
natureza instrumental, ex vis, se há um litígio entre um particular um Município, este pode
alegar cerceamento de defesa, etc.
Quem são os destinatários dos deveres do art. 5º? A quem incumbe respeitá-los? Os
destinatários dos deveres são todos os poderes públicos (eficácia vertical) e também os
particulares (eficácia horizontal). O cuidado aqui é que no caso dos particulares é que
entra a autonomia da vontade, por isso é que a isonomia não se aplica na mesma
intensidade para os particulares e poderes públicos. Por exemplo, o poder público para
contratar deve licitar, o particular, não.
Igualdade perante a lei ≠ igualdade na lei
65
A própria CF/88 estabelece distinções, por exemplo: licença gestante de 120 dias,
e a de paternidade, 5 (cinco dias). E lei infraconstitucional pode estabelecer distinções
entre homem e mulher? Sim, desde que seja para atenuar desníveis, ex vis, a Lei Maria
da Penha. O que se veda é o tratamento discriminatório.
A distinção só será legítima considerando-se o princípio da igualdade material.
3. Direitos de liberdade
O que a Constituição está protegendo não é o pensamento em si, pois o ato de pensar
não precisa ser controlado. O que está protegido é a liberdade de manifestação do
pensamento, de expressão do pensamento. O ser humano não gosta apenas de pensar, mas
de expor suas idéias.
Qual é a finalidade de vedação do anonimato?
a) Permitir a responsabilização no caso de manifestações abusivas ou que
66
No Brasil foram feitos junto ao CNJ quatro pedidos para que houvesse a retirada de
crucifixos de tribunais, sob o fundamento que violaria a neutralidade religiosa que o
Estado deveria ter. O entendimento do CNJ - com exceção do relator - foi que os
crucifixos são símbolos da cultura brasileira e, portanto, não violam o dever de
neutralidade do Estado, não ofendendo, então, a laicidade estatal. Essa decisão do CNJ é
oposta àquela dada ao tribunal constitucional alemão analisando um caso ajuizado pelo
mórmons pedindo que os crucifixos fossem retirado das escolas estaduais; o tribunal
alemão se posicionou no sentido de que colocação de símbolos religiosos em locais
públicos é incompatível com o dever de neutralidade do Estado.
O autor americano Ronald Dworkin no livro “Is democracy possible here?” trata
da questão religiosa e adota o seguinte entendimento: em um Estado secular tolerante os
símbolos religiosos não devem ser considerados ilegais, mas também não devem ser
68
* Características comuns:
a) Em ambos é necessária uma pluralidade de participantes Por isso,
alguns autores as classificam como direitos coletivos.. Para José Afonso
da Silva, reunião e associação são direitos individuais de expressão
coletiva.
b) Fim previamente determinado. Uma reunião ou uma associação não
existe quando diversas pessoas se reúnem para ver as conseqüências de um
acidente automobilístico.
* Diferenças:
a) A reunião tem um caráter temporário, episódico. As pessoas se reúnem,
deliberam sobre um determinado assunto, e a reunião acaba.
b) A associação tem um caráter permanente. As pessoas se associam com
a intenção de permanecerem associadas.
* Neste caso, segundo o STF é uma hipótese de representação (pois afirma que
é desde que expressamente autorizadas). Não precisa ser uma autorização
expressa individual (de cada associado), podendo ser dada em uma
Assembléia. A representação tem que estar relacionada aos fins da própria
entidade. E no caso do mandado de segurança coletivo? É representação ou
substituição processual?
4. Direito de privacidade
O direito de privacidade aqui tratado aqui como gênero, tendo como espécies
(previstas no art. 5º, X, da CRFB/88)
a) Direito à intimidade
b) Direito à vida privada
c) Direito à honra
d) Direito à privacidade
Teoria da esferas (Direito Alemão): quanto mais próxima do indivíduo, maior deve
ser a proteção conferida pelo ordenamento jurídico.
a) Intimidade (segredos, confidências). Não é partilhada nem com as pessoas
mais próximas dele.
b) Vida privada Ex: festa em casa de amigos, local de trabalho, etc. Estes
momentos não podem ser captados sem justa causa. Mesmo uma pessoa
pública tem direito à proteção de sua vida privada.
c) Publicidade: não está protegida pela CRFB/88. Ex: artista realizou show em
local público, se alguém tirar foto dele não há que se falar em violação de
intimidade. Outro exemplo é a divulgação de questões que constam em
72
Obs.: há que se falar em “justa causa” para se falar em restrição legítima ao direito de
imagem.
STF, AI 560.223
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE
INSTRUMENTO. GRAVAÇÃO AMBIENTAL FEITA POR UM
INTERLOCUTOR SEM CONHECIMENTO DOS OUTROS:
CONSTITUCIONALIDADE. AUSENTE CAUSA LEGAL DE
SIGILO DO CONTEÚDO DO DIÁLOGO. PRECEDENTES. 1. A
gravação ambiental meramente clandestina, realizada por um dos
interlocutores, não se confunde com a interceptação, objeto cláusula
constitucional de reserva de jurisdição. 2. É lícita a prova consistente
em gravação de conversa telefônica realizada por um dos interlocutores,
sem conhecimento do outro, se não há causa legal específica de sigilo
nem de reserva da conversação. Precedentes. 3. Agravo regimental
desprovido.
* Perceba que o inciso XII fala em dados, o que estaria aqui compreendido o
sigilo bancário. E quem tem a legitimidade para determinar a quebra do sigilo
bancário? O juiz e as CPI’s federal e estadual, estando tal legitimado pelo art.
58, § 3º da Magna Carta:
* No que tange à CPI estadual o STF decidiu em ACo 730/RJ que era possível
que ela quebrasse o sigilo bancário em votação apertada, por 6 x 5. E com
relação à CPI municipal? Esta não poderia quebrar sigilo - segundo obiter
dictum na ACO abaixo transcrita, sob o fundamento que o Município não tem
Judiciário próprio, o que não poderia ser dado os poderes de investigação de
órgão judiciário ao ente federativo respectivo.
interpretação. O STF tem o seguinte entendimento: o que o art. 5º, XII protege
não são os dados em si, mas apenas a sua comunicação.
* Sigilo das comunicações telefônicas: é cláusula de reserva de jurisdição e só
pode haver sua quebra por ordem judicial, nos termos da Lei 9.296/96.
Somente é permitida a quebra em face de investigação criminal ou instrução
processual penal. Vale salientar aqui o julgamento do STF do Inq. 2.424
(Q.O). que determinou que é possível a utilização de autos de interceptação
telefônica como prova no processo administrativo disciplinar em servidor que
também está sendo investigado criminalmente e onde foi primeiramente
produzida esta prova. E ainda, o Pretório entendeu que podia a gravação ser
utilizada para o outro servidor público que não estava sendo investigado
criminalmente.
5. Direito de propriedade
No art. 5º, XXII e XIII a CF/88 afirma ser garantido o direito de propriedade, que
deve atender à sua função social:
Toda desapropriação deve ser justa, prévia e em dinheiro nos casos previstos em
lei. Esse prévia não significa que a pessoa deve receber o valor integral antes da imissão
de posse; significa que o desapropriado deve receber o valor na imissão da posse,
independente do resgate ser em 10 ou 20 anos. Vale salientar que nem toda indenização
é paga em dinheiro, ex vis, desapropriação-sanção.
Conceito: a desapropriação consiste na transferência compulsória de uma
propriedade para o próprio Poder Público ou para o particular.
O pagamento em desapropriação somente não será feito em dinheiro na hipótese de
desapropriação-sanção nos casos em que a propriedade não está cumprindo sua função
social --> esta é a única exceção de desapropriação cuja indenização não será feita em
dinherio. Aqui o pagamento é feito em títulos da dívida pública ou da dívida agrária. Se
81
imóvel urbano, a desapropriação-sanção está prevista no art. 182, § 4º, III da CF/88:
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins
de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até
vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização
será definida em lei.
§ 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
§ 2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para
fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de
desapropriação.
§ 3º - Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório
especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação.
§ 4º - O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida
agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa
de reforma agrária no exercício.
* Veja que o art. 185 veda a desapropriação para fins de reforma agrária, e não
para o interesse social. No mandado de segurança em questão a terra foi
desapropriada para assentamento dos colonos, e não para distribuição para
reformas agrárias. Por necessidade pública, útilidade pública ou interesse
social o STF entendeu ser possível a desapropriação de pequenas ou médias
propriedades rurais e propriedades produtivas, pois essas motivações de
desapropriação não estavam abrangidas pela vedação do art. 185 da CF.
O art. 5º, XXV fala em requisição civil. Além desta existe a requisição militar
prevista no art. 139, VII. A diferença é que a militar é feita em tempos de guerra.
Desapropriação Requisição
Bens e serviços, v. g., profissionais da área de
Bens saúde para prestar serviços em local atingido por
epidemia
Aquisição da propriedade. Aqui há sempre uma
transferência da propriedade feita pelo Poder Uso da propriedade
Público para ele mesmo ou para um terceiro.
Concretizada por acordo ou decisão judicial Concretizada por ato administrativo auto-
executório
Sempre indenizável Indenização apenas se houver dano
Indenização prévia, justa Indenização sempre em dinheiro e posterior
e, em geral, paga em dinheiro
83
5.3.3 Confisco
STF, RE 543.974
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL.
EXPROPRIAÇÃO. GLEBAS. CULTURAS ILEGAIS. PLANTAS
PSICOTRÓPICAS. ARTIGO 243 DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO. LINGUAGEM DO
DIREITO. LINGUAGEM JURÍDICA. ARTIGO 5º, LIV DA
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. O CHAMADO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE. 1. Gleba, no artigo 243 da Constituição do
Brasil, só pode ser entendida como a propriedade na qual sejam
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas. O preceito não
refere áreas em que sejam cultivadas plantas psicotrópicas, mas as
84
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-
á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou
rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao
homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.
§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de
terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a
produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia,
adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por
usucapião.
A CF/88 não vai dizer quando a propriedade urbana atenda sua função social, pois
ela transfere essa responsabilidade ao plano diretor de cada Município que é obrigatório
para Municípios com mais 20 mil habitantes. Vejamos a redação do art. 182, § 2º:
No caso do imóvel rural é diferente, pois no art. 186 a própria Constituição Federal
estabelece os requisitos necessários para que uma propriedade rural cumpra sua função
social:
DIREITOS SOCIAIS
Ingo Sarlet, professor da PUC/RS, aponta três dimensões para a reserva do possível:
2. Mínimo existencial
Perceba que é como se o mínimo existencial fosse um subgrupo menor dos direitos
sociais.
Direitos sociais
Mínimo existencial
Por que a lei se preocupa em estabelece esse núcleo menor? por que os direitos
sociais tem um custo oneroso. Quanto mais se amplia, formalmente, os direitos sociais,
maior é o risco deles não terem efetividade. O mínimo existencial busca justamente o
oposto: garantir a fruição desse mínimo, independentemente de qualquer argumento
contrário.
Obs.: Daniel Sarmento tem um posicionamento no sentido de que o mínimo existencial
não é absoluto e deve ser ponderado com a reserva do possível, direitos de terceiros, etc.
Ingo Sarlet já entende que não cabe essa ponderação e sustenta que não se pode opor a
reserva do possível ao mínimo existencial. Ora, se o medicamento é imprescindível para
que a pessoa continue viva não se pode ponderar. Esse entendimento de Ingo foi o que o
ministro Celso de Mello adotou no RE 482.611/SC:
STF, RE 482.611
EMENTA: CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE ABUSO
E/OU EXPLORAÇÃO SEXUAL. DEVER DE PROTEÇÃO
INTEGRAL À INFÂNCIA E À JUVENTUDE. OBRIGAÇÃO
CONSTITUCIONAL QUE SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO.
PROGRAMA SENTINELA–PROJETO ACORDE. INEXECUÇÃO,
PELO MUNICÍPIO DE
FLORIANÓPOLIS/SC, DE REFERIDO PROGRAMA DE AÇÃO
SOCIAL CUJO ADIMPLEMENTO TRADUZ EXIGÊNCIA DE
ORDEM CONSTITUCIONAL. CONFIGURAÇÃO, NO CASO, DE
TÍPICA HIPÓTESE DE OMISSÃO INCONSTITUCIONAL
IMPUTÁVEL AO MUNICÍPIO. DESRESPEITO À
CONSTITUIÇÃO PROVOCADO POR
INÉRCIA ESTATAL (RTJ 183/818-819). COMPORTAMENTO QUE
TRANSGRIDE A AUTORIDADE DA LEI FUNDAMENTAL (RTJ
185/794-796). IMPOSSIBILIDADE DE INVOCAÇÃO, PELO
PODER PÚBLICO, DA CLÁUSULA DA RESERVA DO POSSÍVEL
SEMPRE QUE PUDER RESULTAR, DE SUA APLICAÇÃO,
COMPROMETIMENTO DO NÚCLEO BÁSICO QUE QUALIFICA
O MÍNIMO EXISTENCIAL (RTJ 200/191- -197). CARÁTER
COGENTE E VINCULANTE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS,
INCLUSIVE DAQUELAS DE CONTEÚDO PROGRAMÁTICO,
QUE VEICULAM DIRETRIZES DE POLÍTICAS PÚBLICAS.
PLENA
LEGITIMIDADE JURÍDICA DO CONTROLE DAS OMISSÕES
ESTATAIS PELO PODER JUDICIÁRIO. A COLMATAÇÃO DE
OMISSÕES INCONSTITUCIONAIS COMO NECESSIDADE
INSTITUCIONAL FUNDADA EM COMPORTAMENTO
AFIRMATIVO DOS JUÍZES E TRIBUNAIS E DE QUE RESULTA
UMA POSITIVA CRIAÇÃO
JURISPRUDENCIAL DO DIREITO. PRECEDENTES DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM TEMA DE
91
A grande maioria dos direitos sociais é consagrada em normas abertas, que vão
necessitar de uma concretização por parte do Poder Público. Não é defeito dos direitos
sociais isso, e sim uma característica inerente dos mesmos. Os Poderes Público irão eleger
as prioridades de acordo com a vontade da maioria, v. g., a CF/88 não deveria, em tese,
estabelecer regras de transporte, saúde, etc., pois o direito que será prioritariamente
atendido deve ser decidido pela maioria. Quando se vota nos políticos se vota justamente
para quem elege a melhor prioridade.
A partir do momento que os direitos sociais necessitam de uma concretização, de
norma infraconstitucional, é como se essa norma concretizadora passasse a fazer parte do
próprio direito social. Imagine que o direito social é a esponja e o poder público é o
líquido: a norma aberta absorve o líquido que passa a fazer parte dessa esponja, desse
direito social que não mais passa a ter apenas a configuração constitucional, e sim mais
ampla, englobando também a legislação infraconstitucional. Por isso essas normas
concretizadoras passariam a ser materialmente constitucional, já que tais normas são
imprescindíveis para a concretização do direito social. É como se elas começassem a fazer
parte do bloco constitucional. Por isso, a partir do momento em que ocorre a
concretização do direito social, esta não pode mais ser objeto de um retrocesso.
Zagrebelsky, juiz da Suprema Corte italiana, entende que a vedação de retrocesso
social impede reduzir o grau de concretização atingido por uma norma de direito social,
ou seja, a concretização poderia sequer ser reduzida. É um posicionamento radical. Já o
autor português José Carlos Vieira de Andrade proíbe a revogação da concretização
quando esta se revelar manifestamente arbitrária ou desarrazoada --> a vedação de
retrocesso não impede qualquer redução no grau de concretização, e sim impede uma
revogação arbitrária. É um posicionamento sensato, pois a depender da situação a
prioridade de direitos sociais pode mudar com o passar do tempo, v. g., no Brasil está se
priorizando pela Copa de 2014 o transporte urbano e a infraestrutura. É muito lógico.
Obs.: Cesare Batistti. Em 2009 quando o STF julgou a extradição o Supremo deu decisão
apertada de 5 x 4, cujo voto de desempate foi do ministro Peluso, que entendeu que o
Presidente da República não está vinculado à decisão do Supremo sobre a extradição. O
STF não pode obrigar o Presidente a extraditar ou não. Agora, o Supremo entendeu que
o Presidente da República estaria vinculado ao tratado Brasil-Itália. Confuso, Lula na
época pediu o parecer da AGU. No tratado Brasil-Itália há uma cláusula que a extradição
poderia ser negado em caso de julgamento parcial pelo outro país e o parecer se baseou
nesse AGU. O Presidente Lula deu seu último ato não extraditando Battisti. A Itália,
então, entrou com uma reclamação no STF dizendo que o Presidente da República não
respeitou a decisão do STF! O STF nem chegou a analisar o mérito e entendeu que o
Governo Italiano não pode questionar no STF um ato de soberania do Estado brasileiro.
93
DIREITOS DE NACIONALIDADE
1. Conceito
2. Espécies de nacionalidade
• Não basta que apenas um dos pais esteja a serviço do seu país; ambos os
pais devem estar à serviço do seu Estado de origem;
• Os pais devem estar a serviço do próprio país, não podendo estar a serviço
de outro. Exemplo: diplomatas argentinos estão a serviço do Chile e tem
filho no Brasil. O menino não será brasileiro. Cuidado apenas com o caso
do cônsul e sua mulher que apenas a acompanha; mesmo que a mulher não
esteja trabalhando é considerado como que esteja a serviço do seu país.
94
Alguns autores sustentam que, além dessas quatro hipóteses acima citadas,
haveria também a nacionalidade originária no caso de adoção, nos termos do art. 227, §
6º da CF. Ora, como não pode haver diferença de tratamento de filhos, se um brasileiro
adota uma criança estrangeira ela poderá ser reconhecida como brasileiro nato.
A pessoa que optar pela nacionalidade brasileira será considerado como brasileiro
naturalizado. Estas hipóteses estão previstas no art. 12, II. Antes de falar especificamente
das hipóteses vamos falar um pouco da naturalização que pode ocorrer de duas formas:
a.2. Originários dos países de língua portuguesa que possuam 1 (um) ano
de residência ininterrupta e idoneidade moral.
• É ato discricionário ou vinculado o ato do Presidente da República –
que geralmente delega para o Ministro da Justiça – que concede a
97
3. Quase nacionalidade
Primeiramente lembre que a essa diferença de tratamento somente pode ser feita
pela Constituição Federal, nos termos do art. 12, § 2º.
A CF/88 coloca que alguns cargos são privativos de brasileiros natos, com base
em dois critérios:
A lei não exige que para ser proprietário dessas empresas o brasileiro seja
necessariamente nato. Pode até ser brasileiro naturalizado, mas a naturalização deve ter
ocorrido há, pelo menos, 10 (dez) anos. Essa ressalva é justificada porque? Dizem as más-
línguas que o ex-dono da editora abril precisava dessa ressalva de naturalizados.
O brasileiro nato não pode ser extraditado em hipótese alguma, ainda que tenha
dupla nacionalidade. Já o brasileiro naturalizado poderá ser extraditado em duas
situações:
O fato de ser casado com brasileira e até mesmo ter filhos com ela não impede a
extradição, nos termos da Súmula 421 do STF.
será ele expulso do território brasileiro. As hipóteses em que o estrangeiro pode ser
expulso está disciplinado na Lei 6.815, art. 65 que deve ser lida em conjunto com a
Súmula 01 do STF:
Súmula 01 do STF. É vedada a expulsão de estrangeiro casado com
brasileira, ou que tenha filho brasileiro, dependente da economia
paterna.
Art. 73. O estrangeiro, cuja prisão não se torne necessária, ou que tenha
o prazo desta vencido, permanecerá em liberdade vigiada, em lugar
designado pelo Ministério da Justiça, e guardará as normas de
comportamento que lhe forem estabelecidas.
Parágrafo único. Descumprida qualquer das normas fixadas de
conformidade com o disposto neste artigo ou no seguinte, o Ministro da
Justiça, a qualquer tempo, poderá determinar a prisão administrativa do
estrangeiro, cujo prazo não excederá a 90 (noventa) dias.
B) No art. 5º, LII da CF/88 não se admite extradição em caso de crime político ou de
opinião. O que acontece quando há um entrelaçamento entre crime político e crime
103
5. Perda da nacionalidade
104
Obs.: vamos supor que o brasileiro nato quer optar por ser nacional de outro país e
consegue. Ele deixa de ser brasileiro e passa a ser estrangeiro. Após um período ele muda
de ideia e quer ser brasileiro de novo. O que ele pode fazer? Vimos que se fosse brasileiro
105
naturalizado não poderia solicitar a nacionalidade brasileira. Mas o nato pode. E se ele
quiser retomá-la novamente ele adquirirá a condição de brasileiro nato ou naturalizado?
O STF não tem decisão sobre o assunto e na doutrina há divergências. O professor José
Afonso da Silva entende que o brasileiro nato retornaria na mesma condição; outros
autores como Valério Mazuolli e Alexandre de Morais defendem que o brasileiro nato
somente poderá voltar como naturalizado → o argumento é que para aquisição da
nacionalidade originária brasileira depende-se de um ato natural; se a pessoa tem vontade
de se tornar nacional brasileiro é caso de nacionalidade adquirida, e portanto, de um
naturalizado.
106
DIREITOS POLÍTICOS
1. Classificação
o Essas pessoas, mesmo que estejam alistadas, não podem ser obrigadas
a votar. Vejamos também o § 2º do art. 14 que fala nos inalistáveis:
(vinte) anos para prefeitos, deputado e juiz de paz; por fim, 18 (dezoito) anos
para vereador.
• Em que momento se exige a idade mínima e as demais condições de
elegibilidade? No momento da inscrição da candidatura ou apenas na posse?
As condições de elegibilidade e as hipóteses de inelegibilidades são
verificadas no registro da candidatura. Com relação à idade mínima a
situação é diversa: apesar dela ser condição de elegibilidade, deve ser
analisada no momento da posse, com fulcro na Lei 9.504/97, art. 11, § 2º.
STF, RE 366.488
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. VICE-
GOVERNADOR ELEITO DUAS VEZES CONSECUTIVAS:
111
o O STF sobre o tema tem a súmula vinculante nº 18. Essa súmula veio
no seguinte contexto: alguns chefes do Executivo estavam se
divorciando durante o mandado para burlar essa norma constitucional.
A súmula vinculante vai justamente contra essa burla.