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Refere-se ao Art.

de mesmo nome, III(2), 119-142, 1993 OPlNIAO


Rev. Bras. Cresc. Des. /Hum.
ATIJALJCZAÇÃO
S. Paulo, I(2), 1991
OPINlON / CURRENT COMENTS

ATRIBUIÇÃO DE NOMES PRÓPRIOS E SEU PAPEL NO


DESENVOLVIMENTO SEGUNDO O RELATO DOS NOMEADOS

Elaine Pedreira Rabinovich 1


Daniela Trovaglini 2
Anna Crisíina Pereira Hulle Coser 2
Eloane Neves Esteves 2

RABINOVICH F. P. et al. Atribuiição de nomesa próprios e seu papel no desenvolvimento


segundo o relato dos nomeados. Rev. Bras. Cresc. Des.. Human, São Paulo. III(2), 1993.

Resumo: O presente estudo replica e amplia a pesquisa anteriormente realizada por


Rabinovich et al (191), sobre o processo de nomeação de crianças tendo como base agora
a fala de sujeitos adultos sobre o próprio nome. As categorias ptopostas foram validadas e
ampliadas. Concluiu-se que o nome, enquanto “script” outorgado pelos pais, indica, entre
outros fatores, o futuro papel do nomeado no seu contexto familiar e social, sendo essa
influência, em grande parte, desconhecida do nomeado.

Palavras chave: nomes próprios, nomeação.

Sumary: This study replicates and enlarges thw research by Rabinovich et al (1991) on
child naming own asking 100 adults suhjects about their names and naming. The previous
cathegories were validated. It was concludid that naming may be considered a script given
by parents to their children this script may indicate the future social and familiar role of the
named person although this influence is, at most, unknown to the subject.

Key words: first names, naming.

INTRODUÇÃO fica a pessoa, não havendo sociedade no mundo


em que as pessoas nao sejam distintas umas das
Em palestra intiulada “A morte do sujei- outras pelo nome. A identificação, para ela, seria
to”, proferida no Instituto dc Psicologia da Uni- dada pelo “olhar que nomcia” dos outros.
versidade de São Paulo (13/05/1992),Agnes Hcller O nome é uma característica presente e
afirmou não haver cultura sem nome. O nome, se- enfatizado em todas as culturas. Conforme di-
gundo ela, em contexto com outros nomes, identi- zem CHEVALIER e GHEERBRANT (1991),

Contribuiram para a coleta e discussão dos dados Vera Lúcia Ehlers Villele~ Verônica Stangler Kraemer e Ana Emília F. Mac
Dowell, Instituto de Psicologia/USP.
2 Psicologa Clínica, Mestre em Psicologia, pesquisadora do CDH e bolsista CAPES.
3 Alunos do lnstituto de Psicologia/USP

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Adão foi encarregado de nomear os animais e controle voluntário consciente daquele encarre-
isto concedeu-lhe poder sobre eles (G 2,9). A gado de fazer a nomeação” (MARTINS, 1991).
invocação do nome, segundo esses autores, evo- Desde o estudo de EAGLESON (1946)
caria o próprio ser, o nome pessoal sendo bem e o de SAVAGE e WELLS (1948) os nomes pró-
mais que um signo de identificação: seria uma prios passaram a ser objeto de estudo, princi-
dimensão do indivíduo. palmente enfocando a questão do nome ser “não
Para MARTINS (1991), o estudo do nome usual” (MARCUS, 1976) ou “peculiar” ou
é interdisciplinar por situar-se na fronteira da ela- “incomum” ou “único” (SCHOMBERG e
boração do natural em direção ao cultural, já que MURPHY, 1974). Estes estudos, assim como o
é recebendo um nome que algo se torna um obje- de HARTMAN et al (1968) apontaram para
to cultural no circuito maior da sociedade, por ajustamentos perturbados a partir de nomes pe-
intermédio da linguagem. “O nome próprio é mais culiares, enquanto outros estudos
que um signo ou significante: ele é um texto”. (ZWEIGENHAFT et al, 1980) apontam para
Estudando o mito de Édipo, VOLPI (1990) resultado em direção oposta no caso de mulhe-
menciona que o homem está lançado no palco de res. EAGLESON, aliás, já sugeria que um dos
sua existência buscando realizar continuamente principais fatores para a pessoa gostar ou não
um “script” que lhe foi entregue na entrada do do nome é sua individualidade, ou seja, sua
teatro de sua vida, ou mesmo antes. Participar des- capacidade de identificar a pessoa. Considera
te Drama é reconhecer-se integrante de uma tra- também em seus estudos que muitos sujeitos
ma cujo sentido escapa sempre; é entrar numa nunca haviam pensado sobre seus nomes
“fala” dada por outrem, estruturada ao longo das antcriomente à pesquisa
gerações e transmitida pela linguagem e pela rede Segundo KOSKAS (1985), desde a origem,
de papéis sociais. Inconsciente e destino podem os futuros pais começam a esboçar a escultura e
scr entendidos como sinônimos, no sentido de que modelagem de sua progenitura, tanto corporal
o inconsciente é vivido como um destino obscuro quanto socialmente.
e desconhecido. Já MARTINS lembra que “o RABINOVICH et al (1991), a partir de um
nome não é um destino, uma vez que o sujeito estudo longitudinal com crianças de zero a um ano,
pode vir a escolher um outro destino para si”. Esta abordou a questão do nome através de duas pergun-
questão já havia sido levantada por ABRAHAM tas respondidas pelos pais, visando estudar a dinâ-
(1961) que ao defender a idéia de que o nome mica subjacente ao desenvolvimento da criança:
contribui para determinar a maneira de ser das Quem escolheu e o porquê da escolha do nome. Clas-
pessoas, a contrapõe à concepção de que o nome sificou as respostas à primeira pergunta em cinco
obrigaria a um determinado destino (op. cit.). categorias: mãe, pai, mãe/pai, casal e outros. O con-
Para MARTINS o nome, embora sem ser junto dessas categorias foi denominado contexto. As
um destino, é portador de desejos e da trama sim- respostas à segunda pergunta foram classificadas em
bólica urdida em torno de cada sujeito. “ O incons- três categorias: estética, parente e fantasia, que fo-
ciente pesa sobre o nome de cada um, infiltrando- ram denominadas conteúdo.
se na urdidura das letras e dos significados do nome. Segundo esses autores, o nome revelaria
O nome próprio é suporte da representação psíqui- tanto o universo relacional dos pais, quanto o con-
ca primária. Esta é fruto do desejo de um outro e texto situacional onde a criança irá adquirindo a
funciona como uma fantasia inconsciente fabrican- sua personalidade; neste sentido, a análise do
do sentido.” (MARTINS, 1991). nome poderia ser um importante instrumento au-
Esse “texto”, que o nome significa, é rece- xiliar na compreensão da trama de signifcações
bido, sendo a expressão do desejo de um outro. O implicadas nesse contexto e das forças incidindo
segundo “parto”, que é o nascimento do sujeito sobre a psiquê infantil.
para si, para os outros e para a sociedade, se daria Baseados nessa pesquisa, foram feitas di-
pela fala: a “parição” de um sujeito articulado em retamente a pessoas já adultas, as mesmas per-
uma genealogia e num discurso que o sustenta. guntas que haviam sido feitas aos pais de recém-
“O nome próprio é a própria expressão da exis- nascidos (quem escolheu o nome e o porquê da
tência da intersubjetividade e do inconsciente. Ele escolha do nome), acrescidas de outras duas: o
é mensagem e mensageiro de mitos que são trans- que o sujeito acha do próprio nome e a influência
mitidos de geração em geração. Ele é também pura do mesmo no decurso de sua vida.
virtualidade enviando através das associações Essas perguntas tiveran como objctivo:
múltiplas ao universo do sujeito. Este aspecto 1. Replicar, validar e complementar a pes-
transgeracional é marcado essencialmente pela quisa anteriormente realizada.
articulação existente entre um nome e o afluxo de 2. Avaliar as premissas subjacentes à per-
impulsões desejantes, que nem sempre estão sob gunta sobre o conteúdo do nome. isto é como o

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sujeito interage com o desejo dos pais de acordo Caso 2 - Silvia Helena nome do pai Silvio
com o manifestado no nome e da mãe Helena.
3. Apreender a reacão subjetiva do sujeito Conforme MARTINS (1991) estas formas
ao próprio nome. de fusão e condensacão podem representar o amor
dos pais para com aquele filho mas podem indi-
car também um desejo de continuidade através
MÉTODO desses filhos. No caso de Marcel. havia uma ex-
pectativa de ser mais do que o pai e a mãe indivi-
Através de entrevista semi-estruturada fo- dualmente: “a expectativa do meu pai era de que
ram feitas a 120 adultos de classe social média e eu fosse diferente, sempre para mais”. Marcel
media alta (60 homens e 60 mulheres) as seguin- aparentemente buscava cumprir essa vontade im-
tes perguntas: pressa em seu nome.
1. Quem escolheu o seu nome? Na maioria dos casos porém a classifica-
2. Por que o nome foi escolhido? ção PAIS se refere a nomes mais neutros com pe-
3. O que você acha do seu nome? quena carga projetiva geralmente na eategoria
4. Como você acha que o seu nome influi ESTÉTICA.
na sua vida? Caso 3 - Marina. “acho que meu pai e mi-
5. Qual o nome de seus irmãos? nha mãe porque eles acharam bonito. Estavam en-
As respostas foram transcritas literalmen- tre Fernanda e Marina e escolheram Marina.”
te e posteriormente analisadas em categorias obe- 4. PAI/MÃE - o pai ou a mãe da criança
decendo de forma geral aos critérios usados por escolhe dentro de urna regra pré-estabelecida ou
RABINOVICH et ai (1991). através de um nome composto.
Ocorrerreram 5 dos casos (4%). Contrapõe
à categoria PAIS podendo revelar um estado de
RESULTADOS1 E DISCUSSÃO desarmonia entre o casal. Exemplo:
Caso 4 - Milena Thais: ‘’Minha mãe que-
Quem Escolheu o Nome? ria Milena. mas meu pai só deixou colocar esse
As respostas à pergunta “Quem escolheu nome se ele colocasse Thais também”.
seu nome?” foram classificadas nas seguintes ca- Caso 5 - Cintia Aline: a mãe escolheu Cin-
tegorias (Tabela 1): tia e seu pai cscolheu Aline e os dois juntos acha-
ram o nome todo bonito.
1. MÃE - quando a mãe escolhe sozinha. 5. OUTROS - outra pessoa escolhe o nome
As mães escolheram o nome em 47 dos além dos pais ou em conjunto com eles.
casos (39%). Este dado confmrma a pesquisa de Esta categoria esteve presente em 16 dos
RABINOVICH et al (1991) e também a sugestão casos (13%). Ela indica a importância de alguém
de CHEVALIER (1991) “quem nomeia tem po- além do casal. O significado desta categoria de-
der sobre o nomeado”. espelhando a organização pende de cada caso específico. Exemplos:
familiar na qual a mulher voluntária ou involun- Caso 6 - Claudia Sayuri: “Claudia porque
tariamente é colocada como dona do filho e, pre- a minha tia achava legal e Sayuri porque é peque-
ferencialmente da filha(*). no lírio e a minha avó adora lírio”. Desde os 4
2. PAI - quando o pai escolhe sozinho. anos com o falecimento da mãe Claudia foi cria-
Em contraposição às mães apenas 20 (17%) da pela avó e pela tia. Este caso ilustra uma “co-
dos pais nomearam seus descendentes. incidência” entre a posse e o nome.
3. PAIS - quando o casal escolhe em con- Caso 7 - Patricia: “Estava passando uma
junto. novela e a minha irmã deu um escândalo em casa
Os PAIS escolheram em 22 dos casos c meus pais mudaram o nome”. Há uma suspeita
(18%). A relação hannônica tende a se refletir na neste caso de que os pais tenham se omitido fren-
escolha do nome do filho confirmando RA- te à responsabilidade de ter o segundo filho, de-
BINOVICH et al (1991). Este nome pode resul- vido aos ciúmes do primeiro.
tar da combinação de nomes dos pais. Exemplos: Caso 8 - Natasha: “Minha avó materna me
Caso I - Marcel combinação dos nomes do deu esse nome por causa de uma princesa russa.
pais Marli e Célio. Eu acho que passa uma personalidade forte”.

1 Os resultados foram analisados pela fónnula 0 - E = 3 V E (Aspey. 1977). A presença de um asterisco


durante o texto indica resultado significante.

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Neste caso, sendo a avó russa, através do nome Exemplos: Angela, Lilian, Salma, Estela, Alegria,
Natasha é passada a tradição da familia. Esperança, etc.
Caso 9 - Dimitri: “Minha avó escolheu esse Caso 14 - Estela: “minha mãe queria que
nome porque tinha tendências comunistas e gosta eu fosse uma estrela, que eu tivesse um brilho que
de tudo referente à Rússia”. eu nunca consegui ter”.
Os dois últimos exemplos demonstram a in- Caso 15 - Salma: “Traduz a maior caracte-
fluência da avó sobre o casal, atingindo a criança. rística da minha personalidade - a alegria”.
6. COLETIVO - quando um grupo, que A categoria parente da pesquisa de
pode ou não ter uma rotação de parentesco com RABINOVICH et al (1991) foi, neste trabalho,
os pais, escolhe. Esta categoria está sendo pro- subdividida em TRADIÇÃO, HOMENAGEM e
posta neste trabalho. IRMANDADE.
Representa 3 dos casos (3%). Esta manei- 3. TRADIÇÃO - “Através da transmissão
ra de nomear pode indicar uma dificuldade de de uma geração à outra por intermédio da lin-
“corporificacão” dos pais, que pode ser transmi- guagem, a pessoa passa a estabelecer uma filia-
tida para o sujeito como uma dificuldade de assu- ção de ordem cultural familiar onde o desejo se
mir responsabilidades, quer sociais, quer sobre inscreve” (MARTINS, 1991). Quanto mais rígi-
seus desejos. Exemplos: da for a tradição, maior será a exigência sobre a
Caso 10 - Alexandre Augusto: “A família criança. Esta categoria se diferencia da HO-
fez uma lista com vinte nomes para menina e dez MENAGEM justamente por estes aspectos.
para menino, quando nasci colocaram os dois pri- Ambas servem para homenagear, dar prestígio e
meiros nomes mais votados na lista”. fortalecer laços, contudo, na categoria TRADI-
Caso 11 - Armando: “Aos seis anos, no dia ÇÃO a função da linhagem é muito enfatizada,
do meu batizado, sorteei meu nome de uma urna enquanto que na categoria HOMENAGEM o
onde os familiares haviam colocado as sugestões”. conteúdo afetivo é mais forte.
7. NÃO SABE - quando o entrevistado não Caso 16 - Afonso: “Foi meu tio paterno,
tem conhecimento de quem o nomeou. porque era o nome do meu avo paterno, e ele que-
Esteve presente em 7 dos casos (6%), ha- ria que eu continuasse esse nome” (TRADIÇÃO).
vendo cinco homens para duas mulheres que des- Caso 17 - Raimundo: “Meu pai escolheu o nome
conheceram a origem da nomeação. do meu avô como uma forma de dar continuidade
e homenagear alguém da familia” (TRADIÇÃO/
Razões da Escolha HOMENAGEM).
As respostas à segunda pergunta “por que Caso 18 - Lilian: “Minha mãe não
seu nome foi escolhido?”, foram classificadas em engravidava, mas ficou grávida com um médico.
seis categorias (Tabela 2): Se fosse menino teria o nome do médico, mas
como foi menina teve o nome da mulher do mé-
1. ESTÉTICA - “porque é bonito” dico...” (HOMENAGEM)
Foi a categoria de maior frequência, atin- HOMENAGEM/TRADIÇÃO significa a
gindo 37,5* (31%). Esta categoria pode estar ca- força da linhagem e da estrutura de parentesco. A
muflando outras, denotando apenas o desconhe- pessoa que é nomeada desta maneira geralmente
cimento dos próprios pais sobre os motivos que tem uma responsabilidade de corresponder à es-
os levaram à escolha do nome 27 (45% ) de no- sas expectativas.
mes de mulheres estão nesta categoria para 10,5 As categorias HOMENAGEM e TRADI-
(17%) de homens. ÇÃO correspondem, respectivamente, a 14 (12%) e
2. FANTASIA - nomes de personagens his- 18 (15%) dos casos. Na categoria TRADIÇÃO pre-
tóricos, bíblicos, de novelas, filmes, livros, músi- dominam os nomes masculinos: 16 em 18 nomes
cas, nomes de atores, etc, além do próprio signifi- representando 27% do total dos nomes masculinos.
cado do nome. Do mesmo modo que a anterior, 4. NÃO SABE - desconhccc a razão da
esta categoria se concentra em nomes femininos. nomeação. Assim como a categoria NÃO SABE
Representa 27,5 (24%) dos casos em geral e 18 da primeira pergunta, 9 homens para 2 mulhercs
(30%) das mulheres. Exemplos: não sabem a origem do nomc.
Caso 12 - Aline: “Tinha uma música que 5. IRMANDADE - é um tipo especial de
minha mãe adorava e chamava Aline”. TRADIÇÃO em que o nome é escolhido segun-
Caso 13 - Luthero: “Minha mãe queria que do uma regra de nomeação dos filhos. Essa regra
eu fosse pastor e me deu o nome de Luthero”. pode ser pela inicial, pela repetição de um mes-
Há também o caso particular do significa- mo nome (ex: Luiz Roberto e Luiz Eduardo) ou
do do nome, que pode acarretar ou não conse- pela combinação dos sons dos nomes (ex: Luciana
quências em funcão do nome ser um símbolo e Tatiana). Presente em 4,5 (4%) dos casos.

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Caso 19 - Tatiana: “meu pai queria um Na maioria dos casos o COMUM vem as-
nome russo que combinasse com Luciana, o nome sociado ao BOM, porém, determinando uma ca-
da minha innã”. racterística negativa:
Caso 20 - Roberto: “meu pai chama Caso 26 - João de Deus: “Acho bem brasi-
Rubens, meu irmão mais velho Ricardo e o irmão leiro, mas acho fácil achá no cartório vários sujos
que morreu com poucos dias chamava Renato. na praça: (com o mesmo nome dele), mas eu gos-
Eu sou chamado pelo sobrenomc”. to”.
Esse caso ilustra a força da origem pater- 4. RUIM - o sujeito não gosta do nome. É
na. não apenas pela inicial, mas também pelo uso representada por 6 (5%) dos sujeitos.
do sobrenome no lugar do nome. Roberto seguiu Caso 27 - Neusa Maria: “Acho nome de
a profissão do pai, assim como seu irmão. empregada, nunca gostei.”
A classificação IRMANDADE parece in- MARTINS (1991) comenta que a aprecia-
dicar que os pais ou iniciam ou dão continuidade ção positiva ou negativa do nome influencia o
a uma “produção”. Os nomes são como marcas modo como a pessoa c julgada pelos outros, o
que rcforçam o clã e a união familiar. No caso de que, por sua vez, tem um impacto sobre a auto-
Tatiana c Luciana, as irmãs, com um ano de dife- estima. Nomes não usuais apareceriam relacio-
rença entre seus nascimentos, comportam -se nados a pessoas desajustadas (SAVAGE e
como se fossem gêmeas idênticas. WELLS, 1948; MARCUS, 1976; ANDERSON,
6. ACASO - É a escolha do nome por um 1989). Contudo, esse mesmo autor, assim como
processo aleatório. Esta categoria demonstra a o próprio SAVAGE et al (1948), SCHOMBERG
“não elaboração” na escolha do nome. Através et al (1974) e SWEINGENHAFT et al (1980),
dos dados obtidos foi observada a vinculação desta Iembra que o nome único comporta possibilida-
categoria com o COLETIVO da primeira pergun- des positivas, o que foi por nós várias vezes evi-
ta (3 casos 3%). denciado: o nomeado tem orgulho do seu nome
7. SOCIAL - O nome é dado em função de queo identifica c personaliza.
uma significação social. Trata-se de um caso Caso 28 - Eloane: “Eu gosto porque cria
cquivalente à moda (por nós classificada em uma coisa única que eu posso ser”.
Esletiea ou Fantasia), porém com referêencia a al- 5. ADAPTAÇÃO - Ncsta categoria se en-
guma etnia ou grupo social. Ocorreu em um caso. quadram os sujeitos que declararam ter mudado
Caso 21 - Maria Helena: “não queriam que sua opinião em relação ao nome, passando a gos-
eu me chamasse Ingrid, um nome alemão, por tar do mesmo (4%, 4,5 casos).
causa da guerra”. Segundo MARTINS (1991) resolvendo o
Essa categoria articula a trama pessoal, fa- seu nome a pessoa resolve conflitos essenciais
miliar e social quc está necessariamente presente latentes que muitas vezes se prolongaram desde a
em lodos os casos. primeira infância Para esse mesmo autor a ado-
lescência marca um processo de estabilização das
Avaliação do Nome identificações do adulto jovem podendo o nome
Embasando-se na terceira pergunta “o que tornar-se também um obstáculo o que não ocor-
você acha do seu nome?” foram obtidas as se- reu em nossa pesquisa onde esta mudança ocor-
guintes categorias (Tabela 3): reu “positivamente” num encontro da pessoa con-
1. BOM - o sujeito gosta do nome. A maio- sigo própria. Exemplos
ria dos entrevislados se encontra nessa categoria, Caso 29 - Irene “teve uma época que eu
79,5 (66%) Exemplo: Caso 22 - Chr^i^sl^iane: não gostava depois aprendi a gostar pelo fato de
“Acho lindo! Adoro! Não trocaria”. ter sido meu pai que escolheu”.
2. CRÍTICA - o sujeito descreve caracte- Caso 30 - Gemma Eleonora “O nome foi
rísticas tanto positivas quanto negativas do nome escolhido pela minha mãe ... Hoje estou acostu-
21 (17%). Houve um predomínio dc mulheres nes- mada apesar de causar surpresa a todos”.
sa categoria. (14,5 mulheres para 6,5 homens) Para MARTINS (1991) o desejo de quem
Caso 23 - Luciane: “Acho bonito, forte, nomeia pode ser concebido como um investimento
mas seco”. narcísico do próprio Eu no mundo exterior. “Do
3. COMUM - representado por um nome ponto de vista interior daquele que relata sua his-
que é frequente na população. Aparece descre- tória o nome próprio é muito mais que um signo
vendo o nome de 9 (10,2%) entrevistads. referencial. Além de permitir a identificação no
Caso 24 - Ana Cristina: “Não cria problemas”. mundo exterior do indivíduo o sujeito se identifi-
Caso 25 - Ana Maria: “Comum. Não me ca a ele. Isso implica em uma “vasta aprendiza-
identifica. Preciso complementar com o sobreno- gem” que é um movimento de revelação para o
me ou com mulher do fulano”. sujeito daquilo que ele é sem o saber de forma

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prévia. É muito mais uma descoberta do quanto o 2. NAO INFLUENCIA (49%) nenhuma e
sujeito se identifica com determinadas figuras” não sabe.
(MARTINS 1991). Neste movimento identifica- De um modo geral o que os sujeitos de-
tório dois eixos de análise aparecem. São eles a monstram quando admitem a influêneia e conhe-
identificação imaginária e a simbólica. A imagi- cer a relação entre nome e identidade seja ela po-
nária se nutre e enraiza na vida de fantasia do su- sitiva ou negativa. Porém desconhecem em geral
jeito Ela está relacionada com o Eu enquanto ob- a dinâmica subjacente ao processo de nomeação
jeto. Já a identificação simbólica ancora o sujeito e sua influência sobre a própria constituição da
no campo do símbolo através sobretudo da cons- identidade da pessoa.
tituição do ideal do Eu.
Conforme um movimento de revelação a Conhecimento da Influência do Nome
pessoa irá aceitando ou não seu nome identifi- Muitas pessoas acham que o nome não tem
cando-se ou não quer com seu próprio Eu quer influência, porém algumas têm noção desse con-
com seu ideal de Eu. Deste modo explicam-se as teúdo:
categorias acima descritas Caso 35 - João de Deus. “Influi tanto quan-
to minha vida. Até esta idade graças a Deus estou
Influência Atribuída ao Nome trabalhando com saúde (conteúdo religioso).
Através dos dados obtidas à quarta pergun- Quem sabe se eu tivesse um nome mais bonito. O
ta “como você acha que seu nome influi na sua nome é um signo”.
vida?” chegamos a cinco categorias (Tabela 4). Caso 36.- Juliana: “Acho que combina co-
1. POSITIVA - o sujeito admite a influên- migo. Acho que passa um estado de espírito, é
cia sendo esta benéfica 47,5 (40%). alegre, mas o alegre é meio subjctivo meu. Se fosse
Caso 4 - Claudia Sayuri: “O nome é um Júlia... Júlia é um nome pesado e Juliana é cheia
cartão de visitas e o meu é apresentável”. de juventude. Se eu fosse Júlia, teria de assumir
Quase todos os casos POSITIVA mostran uma postura mais séria”.
uma identificacão da pessoa com o nome. A pes- Caso 37 - Betina: “A gente escuta comen-
soa incorpora o próprio nome, não se imagina com tários de que o nome é diferente e acaba se sen-
outro. Este marca sua individualidade ilustrando tindo muito especial”.
a afirmação de CHEVALIER (1991) “o nome é Caso 38 - Sérgio Fernando: “Acho que é a
uma dimensão do indivíduo” A consciência da im- base sobre a qual reconstruo a minha pessoa”.
portância do nome é observada nestes sujeitos. Caso 39 - Andre Luiz (conteúdo religioso,
Exemplos: FANTASIA): “influencia porque é o número 8, é
Caso 34 - Luiz Guillherme “O Guilherme a matéria, e eu sou comerciante”.
com certeza tem a ver com a grande admiração Caso 40 - Federico: “Por ser um nome di-
pelo meu pai mas o Luiz garantiu a minha indivi- ferente comecei a pensar diferente.
dualidade”. Caso 41 - Arnaldo Augusto: “Acho legal.
Caso 29 - Irene “Eu acho que meu nome é Tenho sido confundido com meu pai c isso não
simples como eu, cai muito bcm com a minha pes- me faz mal porque ele é uma pessoa correta e eu
soa”. me orgulho dele (...). Interfere ainda que incons-
2 NEGATIVA - o sujeito admite a influên- cientemente até na profissão porque a família do
cia sendo esta de alguma forma prejudicial. Apa- meu pai é de médicos como eu (...). Dá idéia de
rece em 13,5 (11%) dos casos. Exemplos: que faz tempo que tem pessoas corretas na famí-
Caso 31 - Claudio “Não foi importante para lia c eu sou carreto”.
mim, só para a minha “mãe”. Segundo este tipo de Ieitura pode-se per-
Caso 32 - Daniela “Só atrasou minha vida”. ceber que a questão subentendida c a da identifi-
3 NENHUMA - o sujeito declara que não cação pelo e com o nome: tanto o nome pode iden-
existe influência (39%, N = 47)(*) Exemplo: tificar ou não, quanto a pessoa pode se identificar
Caso 33 - Marina “Eu não acho que influi com o nome ou não.
o fato de eu me chamar Marina, Fernanda ou Ca- Em alguns relatos pode-se observar que a
rolina” pessoa forneceu indicacões sobre a importância c
4. NÃO SABE (10%, N = 12). a influência do nome sem, contudo, ter consciên-
O sujeito ignora se existe ou não influên- cia do que fazia. Exemplo:
cia Caso 42 - Débora Irene: “Não tem nenhu-
Essas categorias podem ser divididas cm ma influêneia. Acho forte c bonito, bem forte.
dois grandes grupos Débora. Levar o nome da minha avó não interfe-
1. INFLUENCIA (51%) positiva e negati- re em nada mas toda vez que toco no meu nome
va. Iembro-me dela”.

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Este discurso nos revela que, de início, o goria preferida pelas MÃES para escolher o nome
sujeito diz que o seu nome não tem influência mas, das filhas recai em ESTÉTICA e FANTASIA, as-
em seguida, nega o que acabara de enunciar, co- sim como quando a escolha é feita pelo PAI para
locando que o seu nome é forte. A nível conscien- as filhas, enquanto que para os filhos homens, os
te, o dcpoente pode não associar o caráter forte PAIS, o PAI e a MÃE preferem a categoria TRA-
do nome a qualquer influência, mas, o simples DIÇÃO. (Tabela 5)
fato dele enunciar tal ordem de idéias indica a Não foi encontrado nenhum caso de esco-
associação entre dois exertos de fala, o que, do lha ESTÉTICA do PAI para um filho homem, as-
ponto de vista psicanalítico, indicaria estar um sim como do TRADICÃO do PAI para filha mu-
cxerto associado ao outro. Em seguida, nega no- lher. Já a MÃE escolheu dois nomes compostos
vamente a idéia da não influência de modo mais para filhas por TRADIÇÃO. Todos esses casos
flagrante, ao associar seu nome ao da avó, que é apontam para diferenças sociais associadas ao
por ela recordada cada vez que ela é denominada, gênero.
ou seja, haveria uma confluência entre a sua iden- Partindo da hipótese de que os nomes são
tidade e a lembrança da avó. a projeção dos desejos (conscientes e inconscien-
Da Ieitura de alguns nomes pelos pesquisa- tes) dos pais nos filhos, nota-se que a escolha da
dores foi possível Ievantar a hipótese de que a fala TRADIÇÃO para os filhos homens mostra as ex-
pode revelar conteúdos inconscientes, não cxplícitos pectativas dos pais quanto à continuidade da fa-
para o sujeito mas dedutíveis de sua fala pelo outro. mília enquanto que para as filhas o projetado é
Retornamos, pois, ao campo, com hipóteses sobre a ESÉTICA e FANTASIA, um ideal ligado à
influência de alguns desses nomes: atratividade e a emotividade. Desse modo, pode-
Caso 1 - Angélica: “Quando nasci, minha se pensar haver um tipo de nomeação feminino c
pele era muito clara e lembrava um anjo... Acho um tipo de nomeação masculino, provavelmente
que é um bom nome que acabou combinando de associado à valoração atribuida a cada um dos
certa forma com meu tipo de pele, olhos claros e gêneros.
cabelos claros”. Retorno: Você se identifica com Observou-se anteriormentc a predominân-
um anjo? cia das categorias NENHUMA e POSITIVA na
Angélica: “Eu acho que sou uma anjo, exijo pergunta sobre a influência do nome, Na tabela 6,
demais de mim, minha mãe mesma diz, todo mun- pode-se ver que a maioria das pessoas destas ca-
do diz que eu preciso dar um tempo.” tegorias gostam de seu nome.
Caso 2 - Vera Lúeia: “O nome foi escolhi- A categoria BOM foi aparentemente usa-
do porque era de uma menina que fazia compa- da para encobrir a indiferença ante o nome, o que
nhia para minha mãe, e o pai gostava do signifcado aparece na alia relação entre as eategorias BOM/
do nome - verdadeira luz do amanhecer”. NENHUMA e BOM/NÃO SABE.
A hipótese era de que existia uma expecta- Quanto à influência NEGATIVA, ela se
tiva que a criança viesse a preencher a solidão correlaciona com as categorias RUIM e CRÍTI-
dos pais, principalmente da mãe, e foi confirma- CA, porém apenas homens acham o nome RUIM/
da, após perguntar-se aos pais da nomeada. Esta NEGATIVO enquanto a categoria CRÍTICA se
estrutura de apego perpetuou-se da família de ori- associa à influência NEGATIVA principalmente
gem para a sua descendência, segundo relato da em mulheres. Com essa diferença entre gêneros,
nomeada. pode-se concluir que quando a pessoa não gosta
Caso 3 - Anna Cristina: O nome foi esco- de seu nome ele influencia negativamente em sua
lhido em função de um eoncurso de beleza. vida, mas as mulheres resistem em assumir tal
Retorno: Qual a importância da questão influência.
estética na sua vida? Anna Cristina: “Nossa, eu A categoria COMUM aparece muitas ve-
fui Miss.” zes correlacionada à categoria NENHUMA in-
Esses exemplos ilustram a força modela- fluência, o que pode indicar uma indiferença ao
dora subjacente à eseolha, ou seja, os fatores que próprio nome, em oposição às duplas POSITIVA/
levaram os pais a escolher um dado nome tam- BOM ou NEGATIVA/RUIM; Pode-se, pois pen-
bém atuaram, no sentido de fazer o filho se diri- sar haver tipos POSITIVO NEGATIVO e INDI-
gir àquela direção. Ilustram a trama do simbólico FERENTE em relação ao nome, referidos tanto à
sobre o “segundo parto” e a inconsciência dos no- avaliação quanto à influência do nome segundo o
meados quanto a isso. nomeado. Haveria uma diferença de gênero no
tipo NEGATIVO enquanto as mulheres criticam
Tipos de Nomeação seu nome, os homens assumem não gostar dele.
Conforme já foi dito, na maioria dos casos De um modo geral, pode-se dizer que quan-
a mãe é quem eseolhe o nome dos filhos. A cate- do há acordo entre o casal quanto ao nome, ao

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Refere-se ao Art. de mesmo nome, III(2), 119-142, 1993 Rev. Bras. Cresc. Des. Hum. S. Paulo, I(2), 1991

mesmo tempo em que o casal em conjunto esco- No processo de nomeação, pode-se perceber e
lhe, parece ocorrer uma facilitação no sentido de inferir o modo como a pessoa foi inserida como
o nomeado ineorporar o seu nome, aceitando-o e ser social no contexto onde irá se desenvolver.
sendo por ele identifcado, enquanio situações de As crianças teriam, ao nascer, papéis pré-
conflito apontam para a direção oposta. estabelecidos pela sociedade, endossados e inter-
Há casos em que o nível de eonflito é tão pretados pelos pais em “scripts” individualizados
intenso (COLETIVO ACASO) em que parece segundo o tipo de avaliação e o tipo de expectati-
ocorrer o que KOSKAS (1985) denominou a “pa- vas destes com relação à criança. Pode-se verifi-
ralisia dos escultores”. A desistência ou transfe- car que o papel social influencia no processo de
rência da responsabilidade do casal pelo filho pa- escolha do nome e no próprio nome.
rece gerar um processo de “desinvestimento” Do ponto de vista macro-social, observou-
afetivo do nomeado em relação ao próprio nome, se uma primeira e ampla especificação por gêne-
o que levaria ao uso de um apelido ou do sobre- ro, isto é, meninos recebem nomes masculinos e
nome como substituto do nome. Esta mesma di- meninas, nomes femininos. Embora haja nomes
nâmica, de modo mais mitigado, pode ser apre- que se adequem a ambos os sexos, em nossa pes-
endida em várias pessoas quer ao mesmo tempo quisa 100% dos nomes foram claramente de ho-
que desconheciam a origem e a influência do mens ou de mulheres.
nome, não tinham problemas com o nome e o Meninas receberam prcferencialmente no-
achavam comum ou bom. As pessoas para quem mes por estética e fantasia, dados na maioria das
o nome tem uma signifcação maior, têm usual- vezes por suas mães, enquanto praticamente só
mente conhecimento da origem de seus nomes e meninos receberam nomes ligados à tradição fa-
se posicionam, favorável ou desfavoravelmente a miliar. Isso parece indicar que às mulheres, em
eles. Desse modo, parece-nos que, quando se pes- nossa sociedade, cabe o papel da atratividade,
quisa o nome a partir do adulto, pode-se apreen- enquanto os homens são responsabilizados pela
der algo do inter-relacionamento do sujeito com continuidade familiar. Os meninos, além disso,
seus pais. receberam nomes que indicam o desejo dos pais
Podemos supor dois tipos de investimento de que seus filhos ocupem posições de poder na
no próprio nome: o investido e o desinvestido, sociedade, o que aponta para a perpetuação de
com graduação entre eles. Esta tipologia estaria papéis reprodutivos e produtivos tradieionalmente
relacionada à questão da identidade construída a ocupados em nossa sociedade por mulheres e ho-
partir da relação com o contexto sócio-familiar. mens na própria atribuição dos nomes.
Observando-se as categorias do conteúdo Tal continuidade também pode ser perce-
e a influêneia/avaliação dos nomes, parece haver bida pelo fato de serem as mães a escolherem os
um tipo TRADIÇÃO/POSITIVO maseulino, em nomes dos filhos, o que indica ser ainda a mulher
que os homens gostam e são influenciados positi- a responsabilizada pelos cuidados da prole em
vamente ao receberem nomes de antepassados nossa sociedade. Por outro lado, ela escolhe tam-
(vide caso 41). bém o nome do filho homem, em conjunto com o
pai, o que parece indicar o desejo da mulher de
“possuir” o seu filho através do nome. O fato de
CONCLUSÃO muitos desses nomes confirmarem a tradição fa-
miliar em linha patriarcal sugere que a mãe com-
As categorias de conteúdo e contexto pro- põe com o pai possivelmente para não perder a
postas pelo estudo antcriormente realizado posse do filho. A hipótese de que a nomeação
(RABINOVICH et al, 1991) foram mantidas e apenas pelo pai, sem anuência da mãe, indicaria
ampliadas. As categorias de contexto, mãe, pai, conflito no casal e possívcis perturbações no de-
pais, pai/mãe, outro, foi acrescentada à categoria senvolvimento da criança, levantada pelo estudo
coletivo. A categoria de conteúdo parente foi sub- anterior, não foi confirmada nesse estudo.
dividida em três novas categorias: tradicão, ho- Por outro lado, o conteúdo irmandade for-
menagem e irmandade, acrescentando-se ainda neceu indícios de uma estrutura familiar em que
as categorias originalmente propostas, estética e os pais colocam o peso da tradição sobre todos os
tradição, às novas categorias acaso e social. filhos, instituindo uma união, solidariedade e con-
Foram confirmadas também as principais tinuidade pela identidade simbolizada no nome.
conclusões do estudo supracitado: a dinâmica fa- Com base nesses dados, podemos concluir
miliar e as expectativas/desejos parentais formam que pelo nome, a pessoa é inserida no contexto
um contexto de desenvolvimento com o qual o social, tanto familiar quanto da sociedade em ge-
neonato irá interagir, e que pode ser apreendido, ral, ao mesmo tempo que, através dele, constrói a
em parte, pelo estudo do processo de nomeação sua identidade. Esta identidade é construída em

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função de um duplo referencial: a pessoa em re- uma marca, ou é por ele marcado, mesmo que
lação ao grupo e a pessoa em relação a si própria. através da indiferenciação.
Conforme a relação da pessoa com o pro- Porém, identificadas ou não, as pessoas
jeto parental e, pressupondo-se a própria relação usualmente deseonheecm a influência do nome
pais-filho, haverá uma facilitação da incorpora- em suas vidas. Conforme MARTINS (1991) “Je
ção dos conteúdos projetados pelos pais no filho est un autrc” (RIMBAUD): somos o pensamento
e, desse modo, na relação consigo próprio. elaborado por outro e desconhecido, em grande
Pudemos verificar que quando a pessoa parte, por nós mesmos.
aceita seu nome e, deduzimos os conteúdos nele Entre a escuta da história do nome e a fala
implicados, ela gosta de seu nome, é por ele in- do nomeado há uma lacuna que parece mostrar
fluenciada positivamente e o nome a identifica. que o que esta representado no nome é tão consti-
Quando a pessoa não aceita o nome ou não tuinte da pessoa que ela não consegue “descolar”
gosta do mesmo, é por ele influenciada negativa- o nome de si própria. Tal descolamento é possí-
mente, ou, no caso de desconhecer tal influência, vel através de hipóteses interpretativas que,
acha o nome comum ou ruim c não é por ele trazidas à consciência da pessoa, são por ela as-
identificada. sumidas como verdadeiras. Desse modo podemos
Desse modo, do ponto de vista do sujeito, concluir que as pessoas geralmente desconhecem
a questão mais importante associada ao nome é a as forças que operam na constituição de sua iden-
da própria identidade: ou a pessoa o assume como tidade.

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