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• INTRODUÇÃO
Uma mucosa é uma estrutura formada por tecido epitelial que reveste as superfícies
úmidas do nosso corpo (trato respiratório e digestório, uretra, cavidade oral, vagina e etc). Na
boca, ela possui as funções sensorial, protetora e secretora. A mucosa oral tem dois espações
virtuais, o vestíbulo, que representa o espaço entre os dentes e a mucosa jugal (bochechas), e a
porção interna, correspondendo a cavidade oral propriamente dita. A mucosa oral é constituída
por dois elementos principais (figura 1), um epitélio (avascular) e uma lâmina própria de tecido
conjuntivo, que garante a nutrição do epitélio. Entre eles existe uma lâmina basal, constituída por
colágeno IV, ácido hialurônico, fibronectina, laminina, entactina, sulfato de heparan e sulfato de
condroitina. Todos esses componentes ajudam na histofisiologia do epitélio, como o reparo,
proliferação e diferenciação celular, filtração de moléculas, migração celular, barreira em
processos de invasão e entre outras.
A mucosa que reveste toda a cavidade oral, tem os mesmos componentes da pele que
reveste externamente o corpo, porém é desprovida de anexos, como unhas, pelos, glândulas
sebáceas (quando encontradas na cavidade oral, de forma ectópica, são denominadas Grânulos
de Fordyce) e sudoríparas. Em algumas regiões da boca, há uma submucosa, em que há glândulas
salivares e tecido adiposo.
Nesta época (11° semana), as cristas palatinas se fundem e dão origem ao palato. Na
14° semana, o epitélio já está bastante estratificado, o que possibilita o processo de proliferação.
Durante as próximas semanas, no processo de maturação aparecem alguns grânulos de querato-
hialina (percussoras da queratina) nas áreas em que o epitélio será queratinizado (palato,
gengiva e língua). Por volta da 20° semana, epitélio já mostra características definitivas, como
áreas paraqueratinizadas e o aparecimentos de células de Langerhans e melanócitos. Próximo
dos 6 meses de vida após o nascimento, quando os dentes começam a erupcionar, o epitélio
paraqueratinizado perde sua continuidade, e o epitélio juncional (apenas ele) passa a se tornar
ortoqueratinizado nas áreas em que os dentes se encontram (figura 6).
O epitélio oral, como um todo, é do tipo estratificado pavimentoso. Por ter uma função
de proteção está constantemente se renovando (células lábeis), porém com velocidade
diferentes dependendo da região. As novas células se originam da camada mais profunda
enquanto as mais velhas se descamam na superfície. Por possuir várias camadas o epitélio
queratinizado e o não queratinizado possui vários estratos.
Epitélio queratinizado (estratos)
- Estrato basal: constitui a camada mais profunda do epitélio queratinizado (figura 7), em
contato íntimo com a lâmina própria de tecido conjuntivo. Ele é formado por uma a três
camadas de células, consideradas progenitoras do epitélio, podendo ser denominadas
basócitos. Várias junções intercelulares são observadas, especialmente desmossomos e
hemidesmossomos entre as camadas de basócitos. Quando há mais de uma camada de células
a mais profunda é denominada estrato basal propriamente dito, e a mais superficial de estrato
suprabasal.
- Estrato espinhoso: 2° estrato mais profundo (figura 8), é constituído de três a oito
camadas de células arredondadas e poliédricas. Comparado ao estrato basal, ele possui uma
quantidade maior de desmossomos, o que gera pequenas projeções nas células
circunvizinhas, dando um aspecto espinhoso a esse estrato. Algumas células também
apresentam grânulos, contendo pró-filagrina (percussora da filagrina).
- Estrato córneo: eles seguem a mesma disposição do estrato granuloso, porém as células
são mais achatadas, não há mais citoplasma ou grânulos de querato-hialina ou qualquer outra
estrutura intracelular, como núcleo e organelas, por isso são consideradas células
queratinizadas, elas são acidófilas (cor mais rosada em HE). As células queratinizadas
podem se mostrar de duas formas: ortoqueratinizadas (observar estrato córneo da figura 9),
quando a queratinização é completa, ou paraqueratinizado (figura 10), quando
queratinização ainda não está completa, neste caso, as células apresentam deposição de
queratina e núcleo picnótico, o que indica que a célula está em processo de apoptose.
Até agora apenas células epiteliais estão presentes, contudo, no epitélio não queratinizado
alguns outros tipos celulares também fazem parte, contudo, não é tão fácil observá-las, por isso
técnicas de imunomarcação e colorações específicas são usadas para diferencia-las das células
epiteliais.
- Melanócitos: são células derivadas da crista neural (multipotentes), essas células penetram no
epitélio, alojando-se no estrato basal, eliminando vários prolongamentos dendríticos para as
camadas mais superficiais do estrato espinhoso, contudo, não há comunicação intercelular por
desmossomos. Os melanócitos (figura 13) possuem um citoplasma rico em retículo
endoplasmático granular (rugoso) e complexo de golgi bem desenvolvido, os quais originam
grânulos pré-melanossosmos, que transformam-se em melanossomos, compostos por melanina.
A melanina produzida é enviada para as outras camadas mais superficiais, contudo, apesar de
todos terem a mesma quase a mesma quantidade de melanócitos, a produção e transferência de
melanina é variável de pessoa para pessoa. A principal região pigmentada por melanina é a
gengiva inserida, contudo podemos encontrar pigmentos no palato duto, mucosa jugal e lingual.
- Células sanguíneas: não são abundantemente encontrados como outros tipos celulares, porém há
alguns linfócitos, neutrófilos e mastócitos, independentemente de um processo inflamatória estar
presente ou não.
A lâmina própria (figura 16) está localizada abaixo da membrana basal. Ele possui duas
porções, a mais superficial é a papilar, constituída por tecido conjuntivo frouxo, apresentando papilas
características em contanto com o epitélio. A mais profunda é constituída por tecido conjuntivo frouxo,
com fibras colágenas dispostas paralelamente ao epitélio em forma de rede, por isso é denominada
reticular. Componentes da lâmina própria:
- Macrófagos: são células derivadas da medula óssea, participam das reações imunológicas
apresentando antígenos e fagocitose. Seu citoplasma tem formato de um rim, além disso, observa-se
vários lisossomos, fagossomos, vacúolos endocíticos, mitocôndrias e citoesqueleto.
- Mastócitos: são células de formato globular, no seu interior contém grânulos de heparina e
histamina, além de receptores IgE.
- Células sanguíneas: podem estar presentes na ausência ou presença de um patologia, são elas os
neutrófilos e eosinófilos.
Mucosa de revestimento
- Mucosa alveolar: essa mucosa reveste o fundo de sulco vestibular e representa um limite
da mucosa labial e jugal com a gengiva inserida. Apresenta alto grau de mobilidade, podendo
ser , inclusive, ser distendida. A superfície é lisa, brilhante, de cor rosa avermelhado. Esse
tipo de mucosa quase não apresenta estrato espinhoso. Na região dos estratos e da submucosa
podemos encontrar fibras elásticas e colágenas, circundadas por glândulas salivares menores.
- Mucosa do palato mole: a mucosa que do palato mole (figura 20) é continuada
anteriormente pela mucosa do palato duto e posteriormente pela mucosa do trato respiratório
(orofaringe). Possui uma
superfície lisa, de um rosa
intenso brilhante. Possui
pouquíssimo estrato espinhoso.
Há alguns botões gustativos,
próximos ao palato duro. A
lâmina própria dessa mucosa é
altamente vascularizada e
moderadamente infiltrada por
células imunológicas. Na
submucosa, encontram-se
glândulas salivares menores,
nódulos linfáticos e algumas
fibras musculares.
- Mucosa do ventre de língua: assim como o assoalho bucal, a mucosa que reveste o ventre
lingual é formada por um epitélio muito fino e permeável, com várias células de largerhans,
porém com um estrato espinhoso pouquíssimo desenvolvido. Nela, não há submucosa (figura
21).
Mucosa mastigatória
- Mucosa do palato duro: a maioria é ortoqueratinizada. Possui uma cor rosa pálido, muito
similar a gengiva inserida. No centro do palato duro e anteriormente não há submucosa,
apenas um pouco de tecido adiposo, apenas na porção posterior há uma submucosa,
predominando glândula salivares menores (figura 22).
Figura 22. Mucosa do palato duro.
Mucosa especializada
A mucosa que recobre o dorso da língua é queratinizada, porém as papilas gustativas são
consideradas mucosas especializadas, são elas:
- Papilas valadas: também são conhecidas por calciformes ou circunvaladas (figura 25), elas
constituem o ‘V” lingual. São encontradas de 8 a 10 papilas valadas, circundadas por um sulco
circular. Na porção superior não há botões gustativos, ela é apenas recoberta por um epitélio
com um tecido conjunto frouxo altamente vascularizado e inervado. Os botões gustativos são
encontrados apenas nas superfícies laterais. Entre a porção superior e as laterais há um sulco,
nele são encontrados
glândulas salivares
menores de Von Ebner
(figura 26). As quais tem
uma particularidade: elas
secretam uma secreção
muito fluida, impedindo
que restos alimentares
obstruam os botões
gustativos.
- Papilas foliadas: também são conhecidas por papilas foliáceas, elas estão localizadas nas bordas
laterais de língua. Há sulcos que separam essas papilas umas das outras, o epitélio é não queratinizado.
Além disso, nas paredes dos sulcos há diversos botões gustativos.
• BOTÕES GUSTATIVOS
- Tipo I: são as células mais finas, localizadas na periferia do botão, elas secretam uma
substância que preenche a abertura dos poros e facilita a captação dos estímulos gustativos.
Além disso apresenta função de suporte.
- Tipo II: elas não possuem uma função conhecida. Aparentemente de suporte.
- Tipo III: são as células neuroepiteliais do botão gustativo, elas possuem um longo
prolongamento, através do qual estabelece um contato com a terminação nervosa, nela
observam-se pequenas vesículas contendo neurotransmissores.
CORRELAÇÃO CLÍNICA: os botões gustativos das papilas fungiformes respondem aos
sabores doces. Os sabores salgados são sentidos nas laterais e ponta da língua. O sabor ácido é
captado pelas papilas fungiformes e foliadas da borda lateral da língua. O amargo é sentindo
pelos botões gustativos das papilas circunvaladas. Os sabores ácidos e amargos também são
captados pelos botões gustativos no palato mole.