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The position of jurisprudence on cram down and creditors of trust alienation in judicial
recovery
Revista de Direito Recuperacional e Empresa | vol. 11/2019 | Jan - Mar / 2019
DTR\2019\24624
Resumo: O presente artigo trata das discussões atuais que pairam no Poder Judiciário e
que merecem ser revisitadas, pois a polêmica tem causado uma nova construção
jurisprudencial. A princípio, tem-se o instituto do cram down, que vem dos Estados
Unidos com a finalidade de autorizar o juiz a, unilateralmente, aprovar o plano de
recuperação judicial sem que necessite ouvir os demais credores que desaprovaram a
versão encaminhada para votação. Num segundo plano, é abordado debate sobre a
alienação fiduciária, sob o ângulo da “trava bancária” e dos contratos de alienação
fiduciária que, por lei, não fazem parte da recuperação judicial, mas, atualmente, a
jurisprudência diverge sobre tema.
Abstract: The present article deals with the current discussions that hang in the
Judiciary and that deserve to be revisited, because the controversy has caused a new
jurisprudential construction. At first, there is the cram down institute that comes from
the United States with the purpose of authorizing the judge unilaterally to approve the
judicial recovery plan without having to listen to the other creditors who disapproved the
version sent to vote. On the second level, is addressed on fiduciary alienation is
approached, under the angle of the “bank lock” and the fiduciary alienation contracts,
which by law are not part of the judicial recovery, but currently the jurisprudence
diverges on the subject.
Sumário:
1.Introdução - 2.A aprovação do plano de recuperação pelos credores e o cram down -
3.A jurisprudência sobre a alienação fiduciária na recuperação judicial - Conclusão -
Referências
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A posição da jurisprudência sobre o cram down
e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
1.Introdução
As regras que orientam a norma garantem a aplicação dos princípios previstos no artigo
47, os quais servem de diretriz para o julgador que avalia a aplicação da lei
recuperacional no caso concreto.
Esse fato é relevante, haja vista a interferência que empresas recuperandas impactam
na economia nacional, seja afetando índices financeiros, seja na apresentação de
resultados internacionais.
Dessa forma, a satisfação dos créditos, dentro do que é previsto e possível no plano
recuperacional, torna-se um dos objetivos primordiais da condução do procedimento.
Muito embora o credor tenha um papel de destaque, o juízo que, em certa medida,
restou afastado do processo recuperacional, pode exercer a atividade jurisdicional por
meio da previsão do § 1º do art. 58 da Lei 11.101/2005 (LGL\2005\2646).
Além disso, as discussões dos créditos decorrentes das instituições financeiras também
são aqui avaliados, uma vez que elas realizam o empréstimo para a sociedade
empresária com o objetivo de ter a transferência da titularidade dos créditos como
garantia do negócio.
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A posição da jurisprudência sobre o cram down
e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
Ressalta-se que, para a aprovação do plano por meio do cram down, faz-se necessário o
atendimento de dois princípios que norteiam o instituto, quais sejam, o plano deve ser
justo e equitativo e a não discriminação entre os credores.
É preciso destaque para o fato que há proibição na tratativa desigual dos credores no
plano de recuperação, ou melhor dizendo, diferenciado. Sendo detectada essa situação,
cabe ao juízo inibir o tratamento discriminatório com a aplicação do cram down.
O cram down, muitas vezes, é visto como uma forma de convencimento das classes
dissidentes, não devendo ser aplicado de modo arbitrário, até mesmo porque a sua
função perderia o efeito.
Vale dizer que a apresentação do plano e a sua aprovação não estão diretamente
ligados, pois dependem de vários fatores, entre eles a habilitação dos créditos, a
convocação da Assembleia Geral e análise da proposta da recuperanda pelos credores.
Cabe salientar que nem sempre o plano proposto pela recuperanda é aprovado, haja
vista que pode ser reavaliado, alterado e modificado. Muitas vezes, o que se observa é a
negativa do plano pelos credores com o intuito da melhora na forma de recebimento dos
seus créditos, não havendo preocupação com a continuidade e manutenção da empresa.
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A posição da jurisprudência sobre o cram down
e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
O cram down tem como propósito a aprovação, mesmo que unilateralmente do plano,
impondo-o perante aqueles que o deliberaram e não aprovaram.
Essa posição é adotada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que já aplicou o cram
down em alguns casos de recuperação judicial, visando à preservação do negócio
comercial:
Dessa forma, como o plano de recuperação empresarial deve refletir que a empresa é
viável economicamente, demonstrar os mecanismos que pretende a recolocar no
mercado, solver as suas dívidas e ter lastro mínimo para que isso possa ser seguido, não
há razão para que os credores dificultem a sua aprovação para garantir pagamento de
créditos independentes. Ocorrendo algo nesse sentindo, é cabível a intervenção do juízo
por meio da adoção do princípio do livre convencimento.
A avaliação pelo Poder Judiciário para que, se necessário for, e se quórum houver, seja
aplicado o cram down é relevante, até mesmo porque o propósito é a manutenção da
atividade produtiva.
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A posição da jurisprudência sobre o cram down
e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
A inadimplência das empresas pode resultar em três tipos de crises, a chamada crise
primária, a qual é possível ser tratada pela recuperação extrajudicial, a crise secundária,
que se trata por meio da judicial e a crise terciária, na qual ocorre a falência.
Vale dizer que, antes mesmo da Lei 11.101/2005 (LGL\2005\2646), os créditos oriundos
da alienação fiduciária tinham tratativa diferenciada, pois outras normas garantiram
espécies de propriedade fiduciária em garantia afastando credores, a exemplo, citam-se
o artigo 7º do Decreto-lei 911/69 (LGL\1969\31)2, artigos 203 e 324 da Lei 9.514/97
(LGL\1997\95), artigo 415 da Lei 11.076/2004 (LGL\2004\2874) e artigo 49, § 3º, 6 da
Lei 11.101/2005 (LGL\2005\2646). Com isso, as normas deram proteção especial aos
credores e, consequentemente, auxiliaram na expansão, distribuição e acesso ao crédito.
O valor fica literalmente “travado” no banco, não sendo permitido o seu uso pela
recuperanda. Em suma, o detentor do crédito realiza a execução sem a necessidade de
autorização judicial ou do administrador judicial, redirecionando os valores recebidos a
seu favor, sem que passe pelo caixa da recuperanda.
A discussão jurídica acerca da “trava bancária” consiste na aplicação do artigo 49, § 3º,
da Lei 11.101/2005 (LGL\2005\2646), que exclui dos efeitos da recuperação judicial
todos os bens que integram o patrimônio do devedor ou por não aquisição ou por
alienação à terceiros.
Ocorre que, nos dias de hoje, a posição que estava abrandada nos Tribunais sofreu
modificações, eis que há uma nova crise econômica no País. Para considerar o
soerguimento da empresa, é preciso avaliar a necessidade ou não de contar com os
recebíveis que estão “travados” por conta da “trava bancária”.
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A posição da jurisprudência sobre o cram down
e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
O uso dos recursos que ficam “travados” nas instituições financeiras prejudicam o bom
andamento da empresa, já que poderiam ser utilizados para o pagamento dos demais
credores, bem como ser adotados nos meios de recuperação que são apresentados no
plano.
Esse fato é certo, uma vez que numa empresa há a relação encadeada, na qual a
empresa depende de terceiros, tais como transportadoras, fornecedores em geral etc. e,
agravando a situação, os envolvidos no processo podem ser atingidos a ponto de
também se envolverem em recuperações judiciais ou até mesmo falência.
O artigo 49, § 3º, da Lei 11.101/2005 (LGL\2005\2646) deixa explícito que credores de
propriedade fiduciária não se sujeitam a recuperação judicial e, diante disso, há que
defenda a aplicação positiva da norma no caso concreto.
Isso pode ser visto em posicionamento do Superior Tribunal de Justiça que compreende,
em sua grande maioria de julgados, que a “trava bancária” deve ser aplicada, eis que os
créditos decorrentes de alienação fiduciária não sofrem sujeição na recuperação de
empresas.
Recurso especial. Recuperação judicial. Cédula de crédito garantida por cessão fiduciária
de direitos creditórios. Natureza jurídica. Propriedade fiduciária. Não sujeição ao
processo de recuperação judicial. “Trava bancária”.
2. Recurso especial não provido. (REsp 1202918/SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, j. 07.03.2013, DJe 10.04.2013)
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e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
Vale destacar as decisões proferidas pelos Des. Carlos Alberto Garbi, Des. Caio 2077712-
76.2016.8.26.0000 e 2081702-75.2016.8.26.0000 autorizando a liberação de recebíveis
a favor da recuperanda. Tem-se a transcrição da publicação:
Ocorre que esse posicionamento não é estático, uma vez que já há precedentes do
Superior Tribunal de Justiça que, ao considerar que se o bem garantidor da dívida de
alienação fiduciária for essencial à atividade da empresa, ele pode ser incluído no rol das
dívidas a serem pagas pelo plano da recuperação judicial.
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A posição da jurisprudência sobre o cram down
e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
Além desse julgado do Superior Tribunal de Justiça, outros se espalharam pelo país
pautando-se na fundamentação de que os bens decorrentes de alienação fiduciária e que
fazem parte do estoque, parque fabril, bens essenciais da empresa, devem fazer parte
da recuperação judicial. Cabe citar a decisão do Superior Tribunal de Justiça que trata
sobre esta temática:
Porém, em recente decisão, o Tribunal de Justiça de São Paulo proferiu uma decisão que
chamou atenção, no que tange à alienação fiduciária, pois incluiu na recuperação judicial
bens alienados, mas que não eram essenciais.
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e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
Moreira Gomes Júnior – Agravantes: Abengoa Bioenergia Brasil S/A (em recuperação
judicial) e outras agravadas: Amerra Latin America Finance, LLC e outras – m 2ª Câmara
Reservada de Direito Empresarial de TJSP).
Com isso, é possível concluir que a não inclusão dos créditos de alienação fiduciária é
tida como ultrapassada, já que o juízo, usando do princípio do livre convencimento,
adotou medidas que permitiram a inclusão de créditos alienados na recuperação por
meio de decisão judicial.
Conclusão
Diante disso, é necessário reforçar que o instituto do cram down pode ser utilizado pelo
juízo, quando se fizer necessário, já que é um recurso que pode garantir a salvaguarda
da preservação da empresa quando o plano não for aprovado, muitas vezes por
interesses particulares dos próprios credores. A aplicação do cram down tem respaldo
legal, seja no artigo 58, § 1º,7 da Lei 11.101/2005 (LGL\2005\2646), seja pelo princípio
da livre iniciativa do juiz. Em ambos os casos, há garantia da aplicação sem excesso de
abusividade por parte do Judiciário.
E, ainda, no que diz respeito aos contratos de alienação fiduciária, o Superior Tribunal de
Justiça se posicionou no seguinte sentido, as sociedades que têm bens essenciais objeto
de alienação fiduciária terão estes incluídos na recuperação judicial.
Ocorre que o Tribunal de Justiça de São Paulo, em decisão recente, autorizou a inclusão
de bens não essenciais de cooperativa em recuperação judicial. Como pode ser visto, o
tema merece atenção e debate, pois gera polêmica e demanda estudo.
Referências
BAIRD. Douglas. Elements of bankruptcy. 4. ed. New York: Foundation Press, 2006.
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A posição da jurisprudência sobre o cram down
e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
FRANCO, Vera Helena de Mello. In: SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro; PITOMBO, Antônio
Sérgio A. de Moraes (Coord.). Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e
Falência. São Paulo: Ed. RT, 2005.
SOUZA JR., Francisco Satiro de; PITOMBO. Antônio Sérgio A. de Moraes (Coord.).
Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência. São Paulo: Ed. RT, 2007.
SZTAJN, Rachel. Comentários aos artigos 47 a 54. In: SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro
de; PITOMBO, Sérgio A. de Moraes (Coord.). Comentários à Lei da Recuperação de
Empresas e Falência: Lei 11.101/2005 (LGL\2005\2646) – artigo por artigo. 2. ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2007.
1 Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do
devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei
ou tenha sido aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta
Lei.§ 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não
obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia,
tenha obtido, de forma cumulativa:
II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou,
caso haja somente 2 (duas) classescom credores votantes, a aprovação de pelo menos 1
(uma) delas;
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos
credores, computados na forma dos §§ 1ºe 2º do art. 45 desta Lei.
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e credores da alienação fiduciária na
recuperação judicial
não tiver havido a tradição dos títulos representativos dos créditos cedidos
fiduciariamente, ficará assegurada ao cessionário fiduciário a restituição.
6 Artigo 49, § 3º, da Lei 11.101/2005 dispõe que, tratando-se de credor titular da
posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, seu crédito não se
submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade
sobre a coisa e as condições contratuais.
7 Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do
devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei
ou tenha sido aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta
Lei.§ 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não
obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia,
tenha obtido, de forma cumulativa:
II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou,
caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos
1 (uma) delas;
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos
credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei.
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