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PONTO 6

XV CONCURSO JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO TRF1

Sumário

A. DIREITO CONSTITUCIONAL......................................................................................................................... 4
PODER EXECUTIVO. EVOLUÇÃO DO CONCEITO. ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA. PODER REGULAMENTAR, PODER REGULADOR E AS AGÊNCIAS ADMINISTRATIVAS. DO
CONSELHO DA REPÚBLICA. DO CONSELHO DE DEFESA NACIONAL. ............................................................. 4
a) Função Executiva...................................................................................................................... 4
b) Evolução ..................................................................................................................................... 4
c) Poder Executivo........................................................................................................................ 4
d) Diferenças entre presidencialismo e parlamentarismo .................................................. 4
e) Presidencialismo ...................................................................................................................... 5
f) Atribuição ............................................................................................................................................... 6
g) Responsabilidade do Presidente da República ............................................................................... 7
h) Poder Regulamentar......................................................................................................................... 8
i) Poder Regulador.................................................................................................................................... 9
j)
Do conselho da república e de defesa nacional ......................................................................... 10
k)
Poder Regulamentar e Agências Reguladoras............................................................................ 10
B. DIREITO ADMINISTRATIVO .................................................................................................................. 12
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO E DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS PÚBLICOS. CONCEITO
E TEORIAS. A RESPONSABILIDADE POR AÇAO E POR OMISSAO. EVOLÚÇAO HISTORICA NO DIREITO
BRASILEIRO. ELEMENTOS. A REPARAÇAO DO DANO. AÇAO REGRESSIVA E LITISCONSORCIO.
RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E PENAL DO SERVIDOR. ............................................. 12
Responsabilidade Civil do Estado ......................................................................................................... 13
Evolução histórica .................................................................................................................................... 13
REGIME JÚRIDICO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ADOTADO NO BRASIL ...................... 15
Evolução histórica das teorias adotadas pelas Constituições brasileiras .................................... 15
Fundamento constitucional ................................................................................................................... 16
Requisitos para caracterização da responsabilidade civil .............................................................. 18
DANO ....................................................................................................................................................... 18
CONDUTA: atribuível do agente publico .............................................................................................. 19
NEXO CAUSAL ........................................................................................................................................ 21
Prescrição .................................................................................................................................................. 25
Responsabilidade do servidor ............................................................................................................... 27
Responsabilidade administrativa do servidor ................................................................................... 28
Apuração da responsabilidade administrativa – sindicância e PAD .............................................. 32
Sindicância ............................................................................................................................................ 32
Processo Administrativo Disciplinar - PAD ..................................................................................... 33
Responsabilidade civil do servidor ...................................................................................................... 37
C. DIREITO PENAL ......................................................................................................................................... 38
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL. CONCEITO; CARACTERES E FUNÇÃO DO DIREITO PENAL. RELAÇÕES
COM OUTROS RAMOS DO DIREITO. DIREITO PENAL E POLÍTICA CRIMINAL. CRIMINOLOGIA. CRIMES
CONTRA A PESSOA. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. ............................................................................... 38
l) Introdução ao Direito Penal: Conceito, Caracteres e Funções do Direito Penal .................. 38
m) Funções Do Direito Penal ......................................................................................................... 39
n) Relações com outros Ramos do Direito ................................................................................. 39
o) Direito Penal e Política Criminal ................................................................................................... 40
p) Criminologia ...................................................................................................................................... 40
q) Princípios Básicos do Direito Penal ............................................................................................. 40
r) Crimes Contra a Pessoa ................................................................................................................... 44
s) Homicídio .................................................................................................................................... 44
t) Participação em Suicídio .......................................................................................................... 63
u) Infanticídio .................................................................................................................................. 65
v) Aborto .......................................................................................................................................... 67
w) Aborto provocado por terceiro ............................................................................................... 69
x) Lesão Corporal............................................................................................................................ 71
y) Da Periclitação da Vida e da Saúde......................................................................................... 81
z) Perigo De Contágio Venéreo ................................................................................................ 81
aa) Perigo De Contágio De Moléstia Grave .............................................................................. 82
bb) ABANDONO DE INCAPAZ ................................................................................................... 83
cc) EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO............................................................ 84
dd) OMISSÃO DE SOCORRO ...................................................................................................... 84
ee) CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR EMERGENCIAL ...... 85
ff) MAUS-TRATOS ........................................................................................................................ 86
gg) DA RIXA .................................................................................................................................... 87
hh) CRIMES CONTRA HONRA .............................................................................................................. 87
ii) CALÚNIA ....................................................................................................................................... 89
jj) DIFAMAÇÃO ................................................................................................................................. 93
kk) INJÚRIA ........................................................................................................................................ 94
ll) CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL .............................................................................. 99
mm) CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL .......................................................................... 99
nn) AMEAÇA...................................................................................................................................... 100
oo) SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO ........................................................................................ 101
pp) REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO ............................................................. 103
vv) DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO ................................................ 104
ww) VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO ................................................................................................... 104
xx) Dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência ................................................... 106
yy) VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA....................................................................................... 106
zz) CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL .......................................................................................... 107
aaa) DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS ........................................... 107
bbb) DIVULGAÇÃO DE SEGREDO ................................................................................................. 107
ccc) VIOLAÇÃO DO SEGREDO PROFISSIONAL .......................................................................... 107
ddd) INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO (Incluído pela Lei nº 12.737/12). .......... 108
CRIMES CONTRA O PATRIMONIO. .......................................................................................................... 108
eee) DISPOSIÇÕES GERAIS DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. ..................................... 109
fff) FURTO......................................................................................................................................... 109
ggg) FURTO DE COISA COMUM.................................................................................................... 114
hhh) ROUBO .................................................................................................................................... 114
iii) EXTORSÃO ................................................................................................................................. 118
jjj) EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO ..................................................................................... 121
kkk) EXTORSÃO INDIRETA ........................................................................................................... 122
lll) DA USURPAÇÃO ......................................................................................................................... 123
mmm) DANO ................................................................................................................................... 123
nnn) INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA ................... 124
ooo) DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO ................. 124
ppp) ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO .................................................. 124
qqq) APROPRIAÇÃO INDÉBITA .................................................................................................... 124
rrr) APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA ................................................................... 125
sss) Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza .............. 130
TTT) ESTELIONATO ........................................................................................................................ 131
uuu) DUPLICATA SIMULADA ........................................................................................................ 136
vvv) INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO ........................................................................................ 136
www) FRAUDE NO COMÉRCIO .................................................................................................... 136
xxx) OUTRAS FRAUDES ................................................................................................................ 136
yyy) FRAUDES E ABUSOS NA FUNDAÇÃO OU ADMINISTRAÇÃO DE SOCIEDADE POR AÇÕES
137
zzz) EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU "WARRANT" .............. 137
aaaa) FRAUDE À EXECUÇÃO .......................................................................................................... 137
bbbb) Receptação ......................................................................................................................... 138
cccc) Crimes contra a propriedade imaterial: crimes contra a propriedade intelectual
(CÓDIGO PENAL) e crimes contra o privilégio de invenção, contra as marcas e patentes e de
concorrência desleal (Lei n. 9.279/96).............................................................................................. 140
D. DIREITO PROCESSUAL PENAL ................................................................................................................. 142
INQÚERITO POLICIAL. GARANTIAS DO INVESTIGADO. A POLICIA JÚDICIARIA. ATRIBÚIÇOES. O
MINISTERIO PÚBLICO E A INVESTIGAÇAO. ........................................................................................... 142
Inquérito Policial.................................................................................................................................... 142
2.1.1 Características do inquérito ................................................................................................... 142
2.1.2 Incomunicabilidade no inquérito policial (art. 21 do CPP) ............................................. 143
Critérios para atribuição da autoridade policial ......................................................................... 143
2.1.4 Valor probatório das informações do inquérito policial .................................................. 143
2.1.5 Investigação presidida pelo MP ............................................................................................. 143
2.1.7 Atos do inquérito policial (arts. 6º e 7º do CPP) ................................................................ 145
2.1.9 Prazo para término do inquérito (art. 10 do CPP) ............................................................ 147
2.1.10 Destinatário do inquérito policial (art. 10, § 1 º, e 16, CPP) ......................................... 148
2.1.13 Arquivamento do inquérito policial ................................................................................... 148
1.12 Arquivamento e formação da coisa julgada ......................................................................... 150
1.13 Desarquivamento do inquérito policial ................................................................................ 151
E. DIREITO CIVIL ......................................................................................................................................... 151
ANULABILIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS. CLÁUSULAS GERAIS. FUNÇÃO
SOCIAL DA PROPRIEDADE E DOS CONTRATOS. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS FUNDAMENTAIS: LIBERAIS E
SOCIAIS. ...................................................................................................................................................... 151
1 ANULABILIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO .................................................................................. 152
2 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS ................................................................................................ 155
2.1 Princípios contratuais ................................................................................................................... 156
2.2 Conceito .......................................................................................................................................... 160
2.3 Classificaçao dos contratos ........................................................................................................... 160
2.3.1 Considerados em si mesmos (principais classificaçoes)..................................................... 161
Exceptio non inadimpleti contractus ............................................................................................ 161
2.3.2 Reciprocamente considerados .............................................................................................. 162
2.3.3 Outras classificaçoes .............................................................................................................. 162
2.4 A formaçao dos contratos ............................................................................................................. 164
2.4.1 Fase de negociaçoes preliminares ou de puntuaçao ........................................................... 164
2.4.2 Fase da proposta..................................................................................................................... 164
2.4.3 Teorias da formaçao ............................................................................................................... 165
2.4.4 Fase de contrato preliminar .................................................................................................. 165
2.4.5 Fase de contrato definitivo .................................................................................................... 166
2.5 Vícios redibitorios.......................................................................................................................... 166
2.6 Evicçao ............................................................................................................................................ 167
2.7 Contratos e o direito intertemporal ............................................................................................. 168
2.8 Extinçao dos contratos .................................................................................................................. 169
2.8.1 Forma natural ......................................................................................................................... 169
2.8.2 Clausulas especiais de extinçao. ............................................................................................ 169
2.8.3 A exceçao de contrato nao cumprido .................................................................................... 170
2.8.4 A teoria da imprevisao (a resoluçao por onerosidade excessiva) ...................................... 170
3 CLÁUSULAS GERAIS ........................................................................................................................ 172
4 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E DOS CONTRATOS ......................................................... 172
5 PRINCÍPIOS CONTATUAIS FUNDAMENTAIS: LIBERAIS E SOCIAIS.......................................... 172
F. DIREITO PROCESSUAL CIVIL ................................................................................................................... 172
ATO PROCESSÚAL: CONCEITO, FORMA, TEMPO, NÚLIDADES (TEORIA PROCESSÚAL DAS
NÚLIDADES, PRINCIPIOS RESPECTIVOS, IDENTIFICAÇAO, DECRETAÇAO E CONVALIDAÇAO);
PRAZOS (CLASSIFICAÇAO E MODOS DE CONTAGEM); FASES PROCEDIMENTAIS. LITISCONSORCIO:
CONCEITO, ESPECIES, A PROBLEMATICA DA ÚNITARIEDADE E DA NECESSARIEDADE.
INTERVENÇAO DE TERCEIROS: CONCEITO DE TERCEIRO, CLASSIFICAÇAO JÚRIDICA DAS
MODALIDADES INTERVENTIVAS, FIGÚRAS TIPICAS (ASSISTENCIA SIMPLES E LITISCONSORCIAL,
OPOSIÇAO, NOMEAÇAO A AÚTORIA, DENÚNCIAÇAO A LIDE, CHAMAMENTO AO PROCESSO) E
ATIPICAS, CONCEITO, NATÚREZA, CABIMENTO, ASPECTOS PROCEDIMENTAIS. .............................. 172
Ato processual: conceito, forma, tempo, nulidades (teoria processual das nulidades,
princípios respectivos, identificação, decretação e convalidação); prazos (classificação e
modos de contagem); fases procedimentais. ................................................................................... 172
CLASSIFICAÇAO .................................................................................................................................... 172
Atos das partes: autor, reu, terceiros intervenientes e MP ......................................................... 172
Atos do juiz ...................................................................................................................................... 173
Atos do escrivão ............................................................................................................................. 173
Forma dos atos processuais ......................................................................................................... 173
Publicidade dos atos processuais ................................................................................................... 173
Tempo e lugar ..................................................................................................................................... 174
Atos eletrônicos .................................................................................................................................. 174
Durante as férias e feriados, praticam-se: (art. 173, do CPC) ................................................... 174
Atos que podem ser praticados e causas que correm durante as férias: (CPC, art. 174, NCPC
art. 215) ............................................................................................................................................... 175
Prazos ................................................................................................................................................... 175
Citação .................................................................................................................................................. 176
Intimação ............................................................................................................................................. 178
Nulidades ............................................................................................................................................. 179
Espécies ................................................................................................................................................ 179
Litisconsórcio: conceito, espécies, a problemática da unitariedade e da necessariedade. .... 181
Conceito ................................................................................................................................................ 181
Classificações ...................................................................................................................................... 181
Autonomia dos litisconsortes: ......................................................................................................... 183
Prazos ................................................................................................................................................... 183
Regras especiais: ................................................................................................................................ 184
Intervenção de terceiros: conceito de terceiro, classificação das modalidades interventivas,
figuras típicas (assistência simples e litisconsorcial, oposição, nomeação à autoria,
denunciação à lide, chamamento ao processo) e atípicas, conceito, natureza, cabimento,
aspectos procedimentais. ..................................................................................................................... 184
Conceito ................................................................................................................................................ 184
Requisito .............................................................................................................................................. 184
Modalidades de intervenção de terceiros ..................................................................................... 185
Oposição (É prevista como procedimento especial no NCPC, deixando de ser tratada
como intervenção de terceiro) .................................................................................................... 185
Nomeação à Autoria (Não é mais prevista no NCPC como intervenção de terceiros,
remanescendo seu propósito nos arts. 338 e 339 do NCPC) ................................................. 186
Denunciação da Lide...................................................................................................................... 187
Chamamento ao Processo ............................................................................................................ 189
Assistência ....................................................................................................................................... 190
Recurso de Terceiro ...................................................................................................................... 190
Intervenção anômala da União e das pessoas jurídicas de direito público ....................... 192
G. DIREITO PREVIDENCIÁRIO ...................................................................................................................... 192
CUSTEIO. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. LIMITES. REAJUSTES. ................................................................... 192
CUSTEIO.................................................................................................................................................... 192
SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO. .............................................................................................................. 194
Momento da ocorrência do fato gerador. ...................................................................................... 198
LIMITES DO SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. ........................................................................................ 198
Limite máximo. ................................................................................................................................... 198
Limite mínimo..................................................................................................................................... 198
REAJUSTES. .............................................................................................................................................. 198
H. DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO ...................................................................................................... 198
COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA PLENA. INDELEGABILIDADE DA COMPETÊNCIA. NÃO EXERCÍCIO DA
COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA RESIDUAL E EXTRAORDINÁRIA. LIMITAÇÕES DA COMPETÊNCIA.
PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA TIPICIDADE. PRINCÍPIO DA ANUALIDADE. PROIBIÇÃO DE TRIBUTOS
INTERLOCAIS. IMUNIDADE E ISENÇÃO. UNIFORMIDADE TRIBUTÁRIA. TRIBUTAÇÃO DAS
CONCESSIONÁRIAS. SOCIEDADES MISTAS E FUNDAÇÕES. IMUNIDADE RECÍPROCA. EXTENSÃO DA
IMUNIDADE ÀS AUTARQUIAS..................................................................................................................... 198
Competência tributária plena ................................................................................................................... 199
Indelegabilidade da competência ....................................................................................................... 199
Não exercício da competência .................................................................................................................. 199
Competência residual e extraordinária - A competência tributária também pode ser
classificada em privativa, comum ou residual. ................................................................................ 200
Limitações da competência....................................................................................................................... 200
Princípios da Legalidade e da Tipicidade. Princípio da anualidade. Proibição de tributos interlocais. . 201
Imunidade e isenção .............................................................................................................................. 202
* prevista na Constituição Federal ................................................................................................................ 203
* é vedação ao poder de legislar sobre o tributo em determinados casos e em relação a determinadas
pessoas ........................................................................................................................................................... 203
* prevista nas leis de cada ente da Federação .............................................................................................. 203
* é a dispensa legal do pagamento do tributo .............................................................................................. 203
I. DIREITO AMBIENTAL .............................................................................................................................. 209
SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. ................. 209
4.1 Sistema Nacional do Meio Ambiente ....................................................................................... 209
4.1.1 Estrutura do SISNAMA ......................................................................................................... 209
4.1.2 SISNAMA e a gestão do meio ambiente ............................................................................ 210
4.2 Política nacional do meio ambiente - PNMA .......................................................................... 210
4.2.1 Dos princípios e objetivos .................................................................................................. 210
4.2.2 Dos conceitos ......................................................................................................................... 211
4.2.3 Dos instrumentos da PNMA (art. 9°) ................................................................................ 212
4.2.3.1 Servidão Ambiental (art. 9-A)...................................................................................... 213
4.2.3.2 Incentivos Governamentais (art. 12) ......................................................................... 213
4.2.4 Taxa de controle e fiscalização ambiental....................................................................... 214
J. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO ..................................................................................... 214
PROTEÇAO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HÚMANOS. DECLARAÇAO ÚNIVERSAL DOS DIREITOS
HÚMANOS. DIREITOS CIVIS, POLITICOS, ECONOMICOS E CÚLTÚRAIS. MECANISMOS DE
IMPLEMENTAÇAO. NOÇOES GERAIS. ..................................................................................................... 214
Proteção Internacional dos Direitos Humanos ................................................................................ 214
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) ...................................................................... 217
Impacto da Declaração Universal no Direito Interno e Internacional ........................................ 217
Relativismo e Universalismo Cultural ................................................................................................ 217
Os Novos Princípios de Direitos Humanos ........................................................................................ 218
Mecanismos de implementação ...................................................................................................... 218
Paralelo do Sistema Global e do Sistema Regional Interamericano ........................................ 218
Sistema global ..................................................................................................................................... 218
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) ........................................................ 219
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) ......................... 219
Sistema americano............................................................................................................................. 220
A CR de 1988 e os direitos humanos .............................................................................................. 221
Responsabilização no plano internacional ................................................................................... 221
A Lei da Anistia e a Teoria do DUPLO CONTROLE (Guerrilha do Araguaia, Caso Gomes Lund)
................................................................................................................................................................ 222
K. DIREITO EMPRESARIAL ........................................................................................................................... 223
CONTRATOS EMPRESARIAIS: FRANQÚIA (FRANCHISING). FATÚRIZAÇAO (FACTORING).
ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING). CARTAO DE CREDITO. ..................................................... 223
a. Contratos mercantis ...................................................................................................................... 223
i. Franquia / Franchising ............................................................................................................... 227
1. Contrato de franquia ........................................................................................................... 227
7.4.2 Faturização (Factoring ou fomento mercantil) ...................................................................... 228
7.4.2.1 Modalidades ............................................................................................................................... 229
7.4.2.2 Juros ............................................................................................................................................. 229
7.4.2.3 Cláusulas típicas ........................................................................................................................ 229
7.4.3 Leasing ou arrendamento mercantil ........................................................................................ 230
7.4.3.1 Opções do arrendatário ........................................................................................................... 230
7.4.3.2 Mora do arrendatário .............................................................................................................. 231
7.4.3.3 Modalidades de leasing........................................................................................................ 231
Cartão de crédito ................................................................................................................................ 232
L. DIREITO ECONÔMICO E PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR ......................................................................... 234
AS PRINCIPAIS ATIVIDADES EMPRESARIAIS E SÚA RELAÇAO COM O REGIME JÚRIDICO DAS
RELAÇOES DE CONSÚMO: OS SERVIÇOS PÚBLICOS, A ATIVIDADE BANCARIA, A ATIVIDADE
SECÚRITARIA, A ATIVIDADE IMOBILIARIA, A ATIVIDADE DO TRANSPORTADOR AEREO, OS
CONSORCIOS. ............................................................................................................................................ 234
1. As principais atividades empresariais e sua relação com o regime jurídico das relações
de consumo.............................................................................................................................................. 234
1. Serviço público e relação jurídica de consumo ................................................................. 235
2. Atividade bancária................................................................................................................... 236
3. Atividade securitária............................................................................................................... 237
4. Atividade imobiliária .............................................................................................................. 237
5. Consórcios ................................................................................................................................. 237
M. ÉTICA E ESTATUTO JURÍDICO DA MAGISTRATURA NACIONAL ........................................................... 238
REGIME JURÍDICO DA MAGISTRATURA NACIONAL: CARREIRAS, INGRESSO, PROMOÇÕES, REMOÇÕES. 238
N. SOCIOLOGIA DO DIREITO/FILOSOFIA DO DIREITO ................................................................................. 243
AS EVIDÊNCIAS DO COTIDIANO. ATITUDE FILOSÓFICA. ATITUDE CRÍTICA. CONHECIMENTO, VERDADE E
REALIDADE. A EXTRATIFICAÇÃO SOCIAL. ................................................................................................... 243
O. As evidências do cotidiano ........................................................................................................ 243
P. TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA ............................................................................................ 251
O PROBLEMA MORAL. ............................................................................................................................... 251
a. Direito, Moral e Ética ..................................................................................................................... 251
i. Distinção entre Direito e Moral ................................................................................................ 252
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A. DIREITO CONSTITUCIONAL

PODER EXECUTIVO. EVOLUÇÃO DO CONCEITO. ATRIBUIÇÕES E


RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. PODER REGULAMENTAR,
PODER REGULADOR E AS AGÊNCIAS ADMINISTRATIVAS. DO CONSELHO DA
REPÚBLICA. DO CONSELHO DE DEFESA NACIONAL.

a) Função Executiva
b) Evolução

Quem primeiro distinguiu as funções do Estado foi Aristóteles, no livro “A Política”, descrevendo as
funções de fazer normas gerais e abstratas, a função de aplicar estas normas gerais e abstratas ao caso
concreto e a de dirimir conflitos.
Montesquieu distinguia o legislativo do executivo e este partia em dois, “Há, em cada Estado, três
espécies de poderes: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das
gentes, e o executivo das que dependem do direito civil. Pelo primeiro, o príncipe ou magistrado faz
leis por certo tempo ou para sempre e corrige ou ab-roga as que estão feitas. Pelo segundo, faz a paz
ou a guerra, envia ou recebe embaixadas, estabelece a segurança, previne as invasões. Pelo terceiro,
pune os crimes ou julga as querelas dos indivíduos. Chamaremos este último o poder de julgar, e, o
outro, simplesmente o poder executivo do Estado.”
Na revolução Francesa e no liberalismo que se seguiu o poder executivo ficava alijado do poder de
legislar, mas foi gradativamente admitido a isto. Hoje existem no Brasil a lei delegada e a medida
provisória.

c) Poder Executivo
“Executivo é o poder responsável pela função administrativa do Estado”. (BÚLOS).
A doutrina aduz que a expressão “Poder Executivo” tem significado variado, nela se
confundindo o Poder e o governo. Ora exprime função ou atribuição de um Poder (art.
2º da CF), ora o órgão (cargo e ocupante, a teor do art. 76, da CF). Contempla atividades
diversas e variadas, que envolvem atos típicos da Chefia de Estado (manter relações com
Estados estrangeiros) e atos relativos à Chefia do governo (vetar projeto de lei) e de
Administração federal (nomear o AGU). (GILMAR MENDES).

Gilmar aduz que as diversas funções desempenhadas pelo Executivo levaram Konrad Hesse anotar
que “a expressão Poder Executivo acabou por transformar-se numa referência geral daquilo que não
está compreendido na atividade do Poder Legislativo e Judiciário”. Mas além da função típica, que é
administrar, o Executivo também legisla, por meio de medida provisória, e julga, no contencioso
administrativo, exercendo, assim, funções atípicas.
Obs: A edição de MP representa exercício de função atípica por parte do PE, mas a edição de lei
delegada é uma exceção ao princípio da indelegabilidade e não exercício de função atípica.

d) Diferenças entre presidencialismo e parlamentarismo


No presidencialismo, criação norte-americana, o Presidente exerce as funções de chefe de Estado e
chefe de Governo. Assim, o Presidente da República é chefe de Governo, na medida em que exerce a
chefia superior da Administração Pública (máquina administrativa; e também é chefe de Estado, pois
representa o país internacionalmente). No presidencialismo, o PE é independente do PL.
4
PONTO 6 | Sumário
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Já o parlamentarismo, produto de longa evolução histórica, cujos contornos atuais tem influência
inglesa, o PE é dual (o que segundo José Afonso promove uma colaboração entre os poderes), e pode
ser de duas espécies:
Parlamentarismo monárquico constitucional: o rei é chefe de Estado e o 1º Ministro é chefe de
Governo. Ex.: Espanha.
Parlamentarismo republicano: o Presidente exerce a função de chefe de Estado e o 1º Ministro
exerce a função de chefe de Governo. Ex.: Itália, França, Israel, etc.
O Brasil já viveu duas experiências parlamentaristas. A primeira delas ocorreu durante a vigência da
CF de 1824. D. Pedro II, através de decreto editado em 1847, cria o cargo de Presidente do Conselho
de Ministros, a quem cabia a formação do gabinete; a segunda se deu em 1961, após a renúncia do
Presidente Jânio Quadros.

e) Presidencialismo

No presidencialismo, o mandato do presidente é cumprido sem qualquer ingerência do PL. No


parlamentarismo, o mandato daquele que exerce função executiva recebe influencia/ingerência do
parlamento. Nesse contexto, o Primeiro-Ministro não exerce mandato por prazo determinado, e pode
ocorrer sua queda por dois motivos: a) perder a maioria parlamentar; b) voto de desconfiança.
No presidencialismo, o presidente não tem o seu mandato diminuído por vontade do CN. Já no
parlamentarismo, o parlamento deve estar afinado com aquele que exerce a função de 1º Ministro.
A Medida Provisória é própria de Estado parlamentarista e não de um Estado presidencialista. Diante
disso, por que nós adotamos a MP aqui? A assembleia constituinte começou em 01/02/87 e foi
encerrada em 05/10/88; os trabalhos da constituinte, até julho de 1987 caminhavam para um Estado
parlamentarista.
Questão da prova oral anterior: O STF pode realizar o controle de relevância e urgência das
MPs? Examinador: hoje o STF realiza esse controle em qualquer hipótese.
Apesar de o Examinador ter dito que o STF realiza o controle em qualquer hipótese, o STF
afirma (de forma questionável, para alguns doutrinadores) que a inconstitucionalidade formal
(relevância e urgência) deve ser analisada apenas excepcionalmente. Se trata de um juízo
discricionário do Presidente da República. O Congresso pode também analisar a presença dos
requisitos formais na apreciação da MP. O STF declarará a inconstitucionalidade formal da MP
apenas quando ficar caracterizado o desvio de finalidade ou abuso do poder de legislar.
OBS.: o regime/sistema de governo não é uma cláusula pétrea.
Os requisitos para ser Presidente da República estão previstos no art. 12 a 15, da CF.
No Brasil, o Presidente e o Vice são eleitos conjuntamente.
A eleição de Presidente e Vice se dá em 01/10. Eles são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário, pelo
qual, valoriza-se o candidato registrado por partido político. O candidato que tiver o maior número de
votos registrados será eleito.
Existem 2 espécies de sistemas majoritários:
- Absoluto (com 2º turno de votação): a CF exige, para que o candidato seja eleito, que ele atinja, no
mínimo, a maioria absoluta dos votos válidos. Se, no 1º turno, nenhum dos candidatos atingir essa
maioria, teremos, necessariamente, 2º turno de votação. São eleitos pelo sistema majoritário absoluto:
Presidente, Governador, Prefeito de Municípios com mais de 200 mil eleitores.
- Simples: a CF se contenta com qualquer maioria. Será eleito o candidato mais votado,
independentemente do percentual de votos. São eleitos pelo sistema majoritário simples: Prefeito de
Municípios com menos de 200 mil eleitores e Senador.
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O art. 106 do Código Eleitoral, que prevê a contagem dos votos brancos, não foi recepcionado.
O Presidente e o Vice tomam posse em 01/01 do ano subsequente às eleições, em sessão conjunta no
CN, oportunidade em que prestam compromisso de manter e defender a CF. Art. 78, CF.
Qual é o prazo máximo para o Presidente e o Vice tomarem posse? Até 10 dias do dia 01/01, ou seja,
até 11/01. Assim, até o dia 11, um dos dois tem que tomar posse, sob pena dos cargos serem
declarados vagos. Quem declara esses cargos vagos se nenhum dos dois tomar posse? O CN, salvo
motivo de força maior.
Linha sucessória do Presidente: sucessão é o gênero. Ela se divide em duas espécies:
- sucessão em sentido restrito: ocorre nos casos de vacância, que é definitiva. Exemplo de vacância:
morte, renúncia, condenação pela prática de crime de responsabilidade.
- substituição: é temporária. Ocorre nos casos de impedimento. Exemplo de impedimento: férias,
licença para tratamento médico, viagens, etc.
A importância disso é que, na linha sucessória (em sentido lato) do Presidente estão: Vice, Presidente
da CD, Presidente do SF e presidente do STF. Só o Vice assume definitivamente o Presidente, nos casos
de vacância. Já Presidente da Câmara, Presidente do Senado e presidente do STF só assumem
temporariamente, em caso de substituição.
O Presidente da Câmara vem antes na linha sucessória porque na Câmara estão os representantes do
povo, ou seja, há maior legitimidade, representatividade.
Se o Presidente da Câmara tiver menos de 35 anos, em caso de substituição, ele poderá assumir a
Presidência da República? 2 posições:
1ª posição: não, pois a CF deu importância ao princípio da idade mínima de 35 anos.
2ª posição: sim, uma vez que, as condições de elegibilidade para o cargo de deputado federal foram
preenchidos, de forma que exercerá todos os ônus e bônus do cargo.
Ao vice cabe substituir o Presidente, no caso de impedimento, e sucedê-lo no caso de vaga (art. 79, da
CF). A lei complementar a que se refere o parágrafo único do art. 79 ainda não foi editada.
O mandato do Presidente é de 4 anos, com possibilidade de reeleição.
Dividimos o mandato do Presidente em 2 períodos.
Vagando o cargo nos 2 primeiros anos do mandato, em 90 dias, deverá ocorrer nova eleição direta; se
estiver nos 2 últimos, anos, assume o Presidente da Câmara, e deverá ocorrer eleições indiretas. Vale
dizer que este é o único caso de eleições indiretas. Art. 81, CF.

f) Atribuição

As atribuições privativas do Presidente da República (art. 84, da CF) partem do princípio de que no
Brasil existe uma concentração de funções, pois o nosso presidencialismo é do tipo monocrático (art.
76), eis que há cumulação das funções de chefe do Estado e do governo.
Uadi Bulos faz a seguinte classificação das atribuições privativas do Presidente da República:
Atribuições de: (Estudar!!! Questão da prova oral anterior: Quais são as competências do
Presidente da República na seara interna e externa?)
Chefe de Estado – art. 84, VII, VIII, XIV, XV, XVI, 1ª parte, XVIII, 2 ª parte, XIX, XX, XXI, e XXII;
Chefe de governo – art. 84, I, III, IV, V, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XVIII, 1ª parte, XXIII, XXIV e XXVII;
Chefe da Administração federal – art. 84, II, VI, XVI, 2 ª parte, XXIV e XXV. (direção superior da Adm
Federal, organização da Adm Federal e extinção de cargos vagos, nomear juízes, AGU e PGR)

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Atribuições outras: Art. 84, XVII – o que denota que o rol de atribuições constantes do art. 84 é
meramente exemplificativa; Delegação de atribuições constitucionais: art. 84, § ún.

g) Responsabilidade do Presidente da República

A marca distintiva mais forte do princípio republicano é a possibilidade de responsabilização dos


agentes públicos por seus atos. Aliás, no sistema presidencial de governo, a responsabilidade do
Presidente é a regra.
A CF/88 prevê dois tipos de responsabilidade do Presidente da República: uma política e outra penal.
A política abrange os crimes de responsabilidade (art. 85, da CF), que são infrações de natureza
política-administrativa, que podem levar ao impeachment do PR, como ocorreu com o Collor. A
responsabilidade penal compreende infrações comuns (CP e legislação penal especial).
“A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo
e julgamento são da competência legislativa privativa da União.” (SV 46, ex-Súm 722/STF
A lei prevista no art. 85, § ún, é a Lei 1079/50, recepcionada em parte pela CF/88. Entretanto, ela não
regula todos os 7 incisos do art. 85. Ex: “livre exercício do ministério público”.
Aos crimes acima descritos, por serem de responsabilidade, o PR responde perante o Senado, em
julgamento presidido pelo presidente do STF. No referido julgamento, o chefe do executivo federal só
poderá ser condenado caso haja a concordância de 2/3 dos membros do Senado, cabendo ao
presidente do ato (presidente do STF) apenas exarar a condenação, a qual compreenderá a perda do
cargo, com inabilitação por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízos das demais
sanções judiciais cabíveis.
Qualquer cidadão é parte legítima para oferecer a acusação contra o presidente da república à câmara
dos deputados, pela prática do crime de responsabilidade.
O julgamento da câmara é eminentemente político e tange à conveniência e oportunidade.
Se a câmara admitir a acusação, o senado não pode emitir novo juízo de admissão (efeito vinculante).
Deve promover o julgamento.
A apresentação de renúncia após iniciado o julgamento não paralisa o processo de impeachment. Se
absolvido o agente, a renúncia terá seus efeitos normais, se condenado não terá qualquer efeito sobre
as sanções aplicadas.
Para que o Presidente da República possa ser julgado tanto pelo STF (crime comum) como pelo
Senado (crime de responsabilidade), necessita-se, previamente, de autorização da Câmara, que deverá
ocorrer por votação de 2/3 de seus membros (art. 86, da CF).
O Vice-Presidente não pratica crime de responsabilidade enquanto não assumir a presidência
(posição de José Afonso)
O Presidente será suspenso de suas funções caso:
- pratique infração penal comum e a denúncia ou queixa venha ser recebida pelo STF;
- nos crimes de responsabilidade, após instrução do processo de “impeachment” no Senado.
No que diz respeito ao mérito, a decisão do Senado é definitiva e não se sujeita a qualquer tipo de
controle ou grau de apelação. Há possibilidade de provocação do judiciário se forem feridas garantias
processuais (CF, art. 5º, XXXV).
Os processos contra o Presidente têm que ser julgados no prazo máximo de 180 dias, pois, se assim
não ocorrer no STF ou no Senado, cessará o afastamento do Presidente.

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PRISÃO DO PR: nos crimes comuns somente poderá ser preso depois da sentença condenatória. Nos
crimes de responsabilidade não há hipótese de prisão, porque não há prisão para o caso do
impeachment.
IMUNIDADE DO PR: é imunidade apenas penal. Não pode ser responsabilizado no mandato por atos
delituosos praticados antes do início do mandato e, além disso, no curso do mandato só poderá ser
responsabilizado por atos praticados em razão do ofício. Decorrido o mandato, ele poderá ser
responsabilizado, o que demonstra a relativização da imunidade que não é absoluta (imunidade
penal relativa). E a prescrição corre? ROBÉRIO: não corre porque é anti-republicano, observe-se que
a prescrição penal não pode correr enquanto o processo estiver suspenso, é uma decorrência lógica de
todo o ordenamento jurídico, há previsões de suspensão da prescrição na CF (parlamentares
federais), no CP (art. 366) e no PAES (suspensão da pretensão penal suspende o prazo da prescrição).
(Alexandre de Moraes é neste sentido).
Ao julgar a ADI 1023, STF fixou o entendimento de que somente a imunidade formal que exige 2/3 do
legislativo para o processamento do chefe do executivo pode ser estendido aos governadores e
prefeitos. As imunidades à prisão e ao processamento por fato estranho ao mandato seriam
decorrência direta das prerrogativas de chefe de estado e por tanto incompatíveis com prefeitos e
governadores.
Pergunta da Prova oral passada: A que sanções o Presidente se sujeita se praticar crimes? Crimes
de responsabilidade: perda do cargo (impeachment) e inabilitação para o exercício de funções
públicas por 8 anos. Crimes comuns: pena aplicada e, como efeito indireto (suspensão dos direitos
políticos), perda do cargo. Essas sanções políticas são taxativas? Sim. Já o rol de crimes de
responsabilidade do art. 85 da CF é meramente exemplificativo.

h) Poder Regulamentar
Cabe ao presidente da república expedir decretos e regulamentos para a fiel execução das leis. Não lhe
cabe, a princípio, a expedição de ato normativo primário, mas somente secundário. Quer dizer que
seus atos normativos não inovam o ordenamento, fazendo surgir direitos e obrigações; só explicitam o
“modus faciendi” da administração pública. Só cabe poder regulamentar quando a lei regulamentada
se refira à matéria administrativa, não se admitindo regulamentação em matéria de direito privado,
por exemplo.
Decreto autorizado: cuida-se da prática de delegação mediante autorização legislativa. Por certo, a
Lei Maior não compadece com delegações legislativas puras ou incondicionadas. Por outro lado,
também não se pode falar em delegação proibida de atribuições (ADI 2378). Com isso, vê-se que é
possível o decreto autorizado, desde que fixado os “standards” mínimos. O que é inconstitucional é a
delegação em branco.
Decretos autônomos
A EC nº 32/01 inaugurou, no sistema constitucional de 88, o assim chamado decreto autônomo (art.
84, VI), isto é, decreto de perfil não regulamentar, cujo fundamento de validade decorre diretamente
da CF.
Mas este decreto limita-se às hipóteses de “organização e funcionamento da administração federal,
quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos, e de extinção de
funções ou cargos quando vagos”.
Nessas situações, a atuação do Executivo não possui força criadora autônoma, nem possui aptidão
para inovar decisivamente na ordem jurídica.
STF: é possível decreto autônomo em caráter excepcional e somente quando expressamente
autorizado pela Constituição.
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i) Poder Regulador
José Maria Pinheiro Madeira explica que “a atividade regulatória não se confunde com a atividade
regulamentar, pois enquanto a primeira é conferida no Brasil, por lei, às agências reguladoras, a
atividade regulamentar é, por força de imperativo constitucional, privativa do Chefe do Executivo”.
Maria Sylvia utiliza a nomenclatura Poder Normativo.
O administrador não tem capacidade legislativa e política, então, o poder regulamentar tem como
objetivo normatizar/regulamentar definindo regras complementares à previsão legal buscando sua
fiel execução.
Quando complementa lei, busca a sua fiel execução (sua melhor aplicação).
Ex: A Lei 10520/02 (pregão) estabelece que o pregão deve ser utilizado para bens e serviços comuns,
que é aquele que pode ser conceituado com expressão usual de mercado. Essa lei depende de
complementação para saber o que é expressão usual de mercado. Um ato no exercício do poder
regulamentar complementa essa previsão legal, permitindo a sua fiel execução.
Exemplos de atos regulamentares: regulamentos, portarias, instruções normativas, resoluções,
deliberações, regimentos.
Regulamento ≠ Decreto regulamentar: sempre que um ato normatiza uma situação, chama-se de
regulamento (decorre do conteúdo desse ato). Mas para que ele ganhe um formato/uma forma tem
que ser via decreto regulamentar. Nem todo decreto tem conteúdo de regulamento, ex. nomeação de
um servidor.
Regulamento ≠ Lei: há duas diferenças significativas:
- a lei é feita através de um processo legislativo rigoroso, público, com deliberações parlamentar e
executiva, com muitas formalidades. O regulamento não é feito via procedimento; ele não tem
qualquer formalidade; não há deliberações.
- quem faz lei é a casa legislativa, na qual existem vários representantes de vários interesses, classes
sociais, regiões, grupos, etc. Assim, a Casa Legislativa tem, em tese o interesse de toda a sociedade. Já o
regulamento é feito, em regra, pelo Chefe do PE.
Assim, o regulamento surgiu com o objetivo inicial de vir como regulamento executivo, para dar fiel
execução da lei.
Regulamento executivo: complementa a lei buscando sua execução a lei, esse é o exercício do poder
regulamentar. Tem seu fundamento de validade na lei. Ex: art. 84, IV da CF.
Deslegalização: Tema interessante e bem em voga nos dias de hoje diz respeito ao fenômeno da
deslegalização (delegificação para Conotilho). Parte da doutrina (Diogo de Figueiredo) entende que as
agências reguladoras podem expedir regulamentos inovando no ordenamento jurídico, desde que haja
autorização legislativa para tanto (pode ser na lei instituidora da autarquia), e desde que tratem de
temas técnicos e pertinentes a área de intervenção da respectiva agência. Para outra parte da doutrina
não há que se falar em deslegalização, sob pena de afronta aos princípios da legalidade e separação
dos poderes (CABM, Binenbojm e Letícia Queiroz Andrade).
Na verdade, a lei deslegalizadora estabelece parâmetros e princípios (standards) a serem seguidos
pelo regulamento; que está vinculado aos princípios constitucionais (expressos e implícitos). Por isso
que, para Rafael Carvalho Rezende de Oliveira, ao invés de se falar em delegação de poderes, seria
mais adequado falar em atribuição de competência pelo legislador ao administrador.
A deslegalização pode ser justificada na doutrina de Eros Grau, para quem o princípio da legalidade
“estabelece uma reserva de lei em termos relativos (reserva da norma), razão pela qual não impede a

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atribuição, explícita ou implícita, ao executivo para, no exercício de função normativa, definir


obrigação de fazer e não fazer que se imponha aos particulares - e os vincule”
Ainda nesse raciocínio, Eros Grau ensina que se existem matérias que são reservadas à lei,
evidentemente as demais poderão ser dispostas por regulamentos.
Por fim, há precedente antigo do STF que não acolhe a tese da deslegalização (ADI 1668).
Ao final deste texto segue artigo interessante sobre o poder regulamentar das agências reguladoras.

j) Do conselho da república e de defesa nacional


O Conselho da república (art. 89, da CF) é órgão superior de consulta do presidente da república,
integrado pelo Vice-Presidente da República, pelo Presidente da Câmara dos Deputados, pelo o
Presidente do Senado Federal, pelos líderes da maioria e da minoria na Câmara, pelos líderes da
maioria e da minoria no Senado Federal, o Ministro da Justiça, por seis cidadãos brasileiros natos, com
mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos
pelo Senado e dois eleitos pela Câmara, todos com mandato de 3 anos, vedada a recondução.
O Conselho da República manifesta-se sobre intervenção federal, o estado de defesa, o estado de sítio
e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.
O papel de auxílio ao Presidente, desempenhado por este Conselho, é meramente opinativo ou
consultivo.
O Conselho de Defesa Nacional (art. 91) é órgão de consulta do Presidente da República nos
assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático. Dele participam
como membros natos o Vice-Presidente da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, o
Presidente do Senado, o Ministro da Justiça, o Ministro de Estado da Defesa, o Ministro das Relações
Exteriores, o Ministro do Planejamento, os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

k) Poder Regulamentar e Agências Reguladoras


Segue artigo muito bom: ww3.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20090306122950218.

Com a evolução das atividades estatais, direcionadas a atender as necessidades sociais, a


Adm Pública procura ampliar e adaptar sua área de atuação e acompanhar o
desenvolvimento tecnológico, seja diretamente por meio de seus órgãos, seja mediante
entidades da Adm Indireta ou ainda por intermédio de concessões e permissões conferidas a
particulares.
As Agências Reguladoras surgem nesse panorama com o intuito principal de exercer o
controle, a fiscalização e fixar diretrizes de atuação, sobretudo acerca das atividades das
concessionárias e permissionárias, tanto as prestadoras de serviços públicos quanto as
exploradoras de atividades econômicas.
2. NATUREZA JURÍDICA
Atualmente essas agências são consideradas autarquias de regime especial em virtude de
algumas características a elas atribuídas, que as diferenciam dos demais integrantes da Adm
Indireta, havendo maior autonomia em face da Adm Pública, principalmente no tocante ao
caráter final de suas decisões, vez que estas não se submetem a revisões por outros entes
administrativos.
O referido regime especial das agências compreende um conjunto de privilégios específicos,
com vistas à consecução de suas finalidades, dentre os quais se destacam a estabilidade de
seus dirigentes (que possuem mandato fixo e maior autonomia política frente à Adm Direta),
a ampliação da autonomia financeira (auferem renda mediante outras fontes de arrecadação
com liberdade de aplicação) e o poder normativo (que lhes confere competência para
regulamentação de matérias a elas destinadas).
Insta destacar a existência de dois tipos de agências reguladoras:
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a) As que exercem típico poder de polícia, impondo limitações administrativas com


previsão legal, em atividades de fiscalização ou repressão, como é o caso, por exemplo, da
ANS e da Anvisa.
b) As que controlam e regulam as atividades que figuram como objeto de concessão,
permissão ou autorização de serviço público ou de exploração de bem público, como é o caso
da Anatel e da ANP.
3. PODER NORMATIVO
Entende-se por poder normativo aquele conferido à Administração para, mediante
"expedição de decretos e regulamentos, oferecer fiel execução à lei" (SPITSCOVSKY).
No que atine às Agências Reguladoras, prevalece que o seu poder normativo deve se limitar à
elaboração de regramentos de caráter estritamente técnico e econômico, restritos ao seu
campo de atuação, sem invasão das matérias reservadas à lei, sob pena de violação ao
princípio da legalidade.
Esse talvez seja o ponto de maior discussão dentre os estudiosos contemporâneos, já que a
abrangência do poder conferido às agências pode ser interpretada como abusiva, conforme o
entendimento adotado no sentido de consistir ou não determinada matéria reservada à
elaboração legislativa ou passível de abordagem direta por meio de meros atos
administrativos.
Os questionamentos acerca do poder normativo deferido a essas agências se devem em
grande parte à originária influência norte-americana, uma vez que, naquele país (Estados
Unidos da América), tais agências possuem considerável liberdade legiferante.
Daí porque leciona Paulo Magalhães da Costa Coelho:
"As agências reguladoras têm inspiração no direito americano, no qual se identificam como
qualquer autoridade pública. Lá, têm competência para editar normas jurídicas, como
também atos administrativos, se o Estado, por meio do Poder Legislativo, lhes der essa
competência".
Como desdobramento dessa posição, parte da doutrina enfatiza abusos temerários a serem
perpetrados por esses entes. Assim, adverte CABM:
"Desgraçadamente, pode-se prever que ditas "agências" certamente exorbitarão de seus
poderes. Fundadas na titulação que lhes foi atribuída, irão supor-se - e assim o farão,
naturalmente, todos os desavisados - investidas dos mesmos poderes que as "agências"
norte-americanas possuem, o que seria descabido em face do Direito Brasileiro, cuja
estrutura e índole são radicalmente diversas do Direito norte-americano".
Cabe também mencionar relevante posição que procura distinguir as expressões "regular" e
"regulamentar", trazendo reflexos na delimitação do poder normativo das agências
reguladoras.
Segundo a definição dos principais dicionários nacionais, regular significa encaminhar
conforme a lei, sujeitar a regras, enquanto que regulamentar seria sujeitar a regulamento,
regularizar.
Embora as duas expressões comumente sejam utilizadas como sinônimas, no âmbito jurídico
apontam-se distinções, traçando a regulação como termo eminentemente ligado à técnica e à
economia, enquanto a regulamentação contemplaria um critério predominantemente
político.
Assim, argumenta-se que as Agências Reguladoras só atuariam no campo da regulação,
especificando aspectos técnicos e econômicos das normas legais e atos normativos expedidos
pelo Poder Executivo, estando impedidas de abordar a regulamentação, que seria exclusiva
do Poder Legislativo no seu ofício precípuo de atualizar e inovar o ordenamento ou do Poder
Executivo, como Administração Direta, quando da expedição de atos visando fiel execução à
legislação, dentro dos limites nela definidos.
Em suma, prevalece que, em princípio, ao Poder Legislativo incumbe a criação das leis
(legislar e regulamentar), que serão executadas pelo Poder Executivo, mediante atos
administrativos pautados nos limites legais (regulamentar), que por sua vez poderão ser
especificados em seus aspectos técnicos e econômicos pelo poder normativo das agências
reguladoras (regular).
4. AGÊNCIAS REGULADORAS BRASILEIRAS
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Em nítido crescimento nos últimos tempos, a criação de agências reguladoras tem se


mostrado como uma tendência no ordenamento jurídico brasileiro, podendo-se destacar
algumas de maior relevância atualmente:
ANEEL (Lei 9427/96), vinculada ao MME, com fundamento no art. 21, XII, alínea "b" da CF,
com competência para regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e
comercialização de energia elétrica, devendo atuar nas concessões e permissões pertinentes.
ANATEL (L 9.472/97), com vinculação ao Ministério das Telecomunicações e tendo por
fundamento o art. 21, XI da CF, apresenta entre suas competências a regulação e fiscalização
da execução do serviços de telecomunicações, devendo atuar nas licitações, contratos e
estipulação tarifária, conforme dispõe o artigo 15 de sua lei criadora.
ANP (L 9478/97) com base no art. 177, §2º, III da CF, vinculada ao MME. Competência para
regulação e fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do
gás natural e dos biocombustíveis.
Anvisa (L 9782/99), vinculado ao Ministério da Saúde, competente para promover a proteção
da saúde pública pela fiscalização e controle sanitários da comercialização de produtos e de
tecnologias pertinentes. Uma das principais atribuições é a expedição de atos administrativos
que complementam as normas penais em branco que tipificam os crimes da Lei Antidrogas,
tratando-se atualmente da Portaria 344/98, inicialmente editada pelo Ministério da Saúde e
posteriormente atualizada por meio de Resoluções da Anvisa (atual Res RDC 18/03),
definindo as substâncias a serem consideradas como drogas para fins penais.
ANS (Lei 9.961/00), baseada no art. 197 da CF, vinculada ao Ministério da Saúde, tendo por
competência supervisionar os serviços de saúde, regula as operadoras, inclusive nas suas
relações com os consumidores, consoante artigo 3º da lei epigrafada.
ANA (L 9984/00), com vínculo ao MMA e fundamento no art. 225 da CF. Competente para
implementar a política nacional de proteção e gestão dos recursos hídricos.
ANTT e ANTAQ (Ambas criadas pela L 10.233/01), vinculadas ao Ministério dos Transportes,
com fulcro no art. 178 da CF. Conforme o art. 20 da lei, têm competência para regular ou
supervisionar a prestação de serviços e exploração da infra-estrutura de transportes
terrestres e aquaviários, respectivamente.
ANAC (L 11.182/05), vinculada ao Ministério da Defesa, tem como atribuição regular e
fiscalizar as atividades de aviação civil e de infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária.
Colocada em evidência em virtude dos recentes acidentes aéreos ocorridos no Brasil, tem
sido bastante criticada e exigida no sentido de adoção de medidas visando melhorar o
atendimento nos aeroportos e diminuir efetivamente os riscos de acidentes.
CONCLUSÃO
As agências acima apresentadas desempenham papel de suma importância para a atuação
governamental, já que criadas justamente para possibilitar uma melhor prestação
administrativa, com maior eficiência e buscando adaptação constante às exigências
específicas dos serviços que lhes são cometidos.
Face às ponderações ora lançadas, extrai-se que o poder normativo das agências reguladoras,
aplicado dentro dos parâmetros legais e no intuito de assegurar o interesse público, consiste
em importante instrumento para evitar ou mesmo reparar eventuais desequilíbrios e
irregularidades nas prestações de serviços públicos e de atividades econômicas de interesse
coletivo.

B. DIREITO ADMINISTRATIVO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO E DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS


PÚBLICOS. CONCEITO E TEORIAS. A RESPONSABILIDADE POR AÇÃO E POR
OMISSÃO. EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO DIREITO BRASILEIRO. ELEMENTOS. A
REPARAÇÃO DO DANO. AÇÃO REGRESSIVA E LITISCONSÓRCIO.
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RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E PENAL DO SERVIDOR.

Responsabilidade Civil do Estado

CONCEITO: obrigação de reparar danos causados a terceiros em decorrência de comportamentos


comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos agentes públicos.
(MSZP)
Decorre do princípio de que aquele que causa um dano a outrem será responsável pela reparação
do prejuízo (neminem laedere)
Quando for ato lícito, o fundamento da responsabilidade é o princípio da isonomia.

RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL X RESPONSABILIDADE CONTRATUAL


RESPONSABILIDADE CONTRATUAL: surge do descumprimento de uma cláusula pactuada no
contrato, e se resolve de acordo com as regras do ajuste firmado entre as partes

RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO: advém das atividades estatais sem


conotação pactual (JSCF)

RESPONSABILIDADE DO ESTADO X RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO AGENTE


Responsabilidade do estado: o ente responde pelos atos praticados pelos seus agentes.
Responsabilidade disciplinar do agente: responde, perante a administração, pelos atos que pratica.

RECONHECIMENTO DE RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO E INICIATIVA LEGISLATIVA


STF julgou improcedente pedido formulado em ADI em face de lei estadual de iniciativa
parlamentar, autoriza o Poder Executivo estadual a reconhecer sua responsabilidade civil
pelas violações aos direitos à vida e à integridade física e psicológica decorrentes das atuações
de seus agentes contra cidadãos sob a guarda legal do Estado. A Corte destacou não haver, na
espécie, a violação ao art. 61, § 1º, II, b, da CF (...). – iniciativa do chefe do Executivo
Ademais, a disciplina estabelecida na norma impugnada, a dispor sobre responsabilidade civil
— matéria de reserva legal —, seria, inclusive, salutar. Permitiria que a Administração reconhecesse,
“motu proprio”, a existência de violação aos direitos nela mencionados.
O STF entendeu não haver usurpação de competência legislativa da União (responsabilidade civil –
entre particulares), pois a norma versa sobre responsabilidade administrativa (ADI 2255)

Evolução histórica

1. TEORIA DA IRRESPONSABILIDADE
- o rei absolutista era considerado quase uma divindade e tido como representante de Deus na terra,
nunca cometendo erros (“the king can do no wrong”). Se o Estado (representado pelo rei) era quem
exercia a tutela do Direito, ele jamais poderia violá-lo (“Le roi ne peut mal faire”: o rei não pode fazer
mal ou causar danos)

2. TEORIAS CIVILISTAS:
I) TEORIA DOS ATOS DE IMPÉRIO E DE GESTÃO
ATOS DE IMPÉRIO:
Atos praticados pelo Poder Público com as prerrogativas de autoridade e supremacia sobre os
particulares.
impossibilidade de caracterização da responsabilidade do Estado.

 ATOS DE GESTÃO:
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atos praticados pelo Poder Público em SITUAÇÃO DE IGUALDADE COM OS PARTICULARES, na


administração do patrimônio ou dos serviços do Estado.
possibilidade de caracterização da responsabilidade do Estado.
II) TEORIA DA CULPA CIVIL OU DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
- Estado deve ser responsabilizado pelos seus atos que causassem prejuízo a terceiros, desde que
SEUS AGENTES tenham agido com DOLO ou CULPA.
o Estado só vai responder se o agente tiver atuado com dolo ou culpa.
nesse sentido: [art. 15, CC/16]
O Estado passa a se responsabilizar de forma geral, mas segundo uma teoria subjetiva.
A responsabilidade subjetiva só acontecia na conduta ilícita.

3. TEORIAS PUBLICISTAS
- papel do Conselho de Estado Francês: caso Blanco (1873), no qual se definiu competência da Justiça
Administrativa para julgar a ação de indenização movida pelo pai da menina Agnés Blanco,
atingida por uma vagonete da cia nacional de manufatura de fumo na cidade de Bordeaux.

i)TEORIA DA RESPONSABILIDADE COM CULPA ADMINISTRATIVA OU CULPA DO SERVIÇO PÚBLICO


(faute du service)
-A falta do serviço pode apresentar-se sob três modalidades:
 INEXISTÊNCIA DO SERVIÇO;
 MAU FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO;
 RETARDAMENTO DO SERVIÇO.

- a CULPA não é mais de ÍNDOLE SUBJETIVA, mas se relaciona às falhas na PRESTAÇÃO DO


SERVIÇO.
MODALIDADES
 INEXISTÊNCIA DO SERVIÇO;
 MAU FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO;
 RETARDAMENTO DO SERVIÇO.

 Teoria da culpa administrativa marca transição entre doutrina subjetiva da culpa civil e a tese
objetiva do risco administrativo; leva em conta a falta do serviço e a culpa subjetiva do agente.

Crítica de CABM: não se pode considerar a culpa do serviço como sendo de natureza objetiva, por se
tratar de responsabilidade baseada na culpa. A razão desse engano seria a “presunção de culpa” que,
em inúmeros casos, haverá de ser admitida, diante da extrema dificuldade de demonstrar-se que o
serviço operou abaixo dos padrões devidos.

Tal presunção, porém, não afasta o caráter subjetivo desta responsabilidade, já que, provando o Poder
Público que houve atuação diligente, com perícia e prudência (antítese da culpa), estará isento do
dever de indenizar, o que jamais ocorreria na hipótese de responsabilidade objetiva.

A vítima tem que demonstrar a culpa do serviço, sendo dispensada a indicação da pessoa culpada
(responsabilidade na culpa anônima).
Para afastar a responsabilidade basta provar as excludentes de responsabilidade (ou seja, excluir
alguns dos elementos da teoria subjetiva).

ii) TEORIA DA RESPONSABILIDADE SEM CULPA (OBJETIVA) OU DO RISCO ADMINISTRATIVO


- deixa de exigir culpa (do agente ou do serviço) para caracterização da responsabilidade do estado
por seus atos, porém, admite a existência de excludentes.

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No Brasil, desde a CF/46, a teoria objetiva gera para o Estado a responsabilidade na conduta lícita ou
ilícita.
Elementos na teoria objetiva: conduta, dano, nexo causal.
Excludentes: ausência de qualquer um desses elementos.

-baseia-se em duas ideias: risco e solidariedade social


a) No risco que a atividade pública gera para os administrados e
b) Na possibilidade de acarretar dano a certos membros da coletividade, impondo-lhes um
ônus não suportado pelos demais
- repartição do dano a todos os membros da sociedade, de modo que irão concorrer, em igualdade de
condições, para sua reparação, através do erário, representado pela Fazenda Pública.

 Basta a existência do nexo de causalidade entre a conduta do estado, através de seus agentes
públicos, e a EXISTÊNCIA DE UM DANO ESPECÍFICO para alguns cidadãos para se ensejar a
reparação.

iii) TEORIA DO RISCO INTEGRAL


- Teoria do Risco Administrativo com um incremento: não aceita excludentes de responsabilidade
(culpa da vítima, culpa de terceiros ou força maior). Ou seja, mitiga-se o nexo causal.
Hipóteses de risco integral no ordenamento brasileiro
Acidentes por dano nuclear.
Atos terroristas

REGIME JURÍDICO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ADOTADO NO BRASIL


COMO REGRA: TEORIA DO RISCO não se adota a teoria civilista – culpa/dolo (aplicada apenas
para análise da responsabilidade do agente público frente ao Estado).
CF, art 37 § 6º: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
NCC, Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por
atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito
regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo”.
Para CABM, a teoria do risco administrativo deve ser adotada sempre. Entretanto, a doutrina clássica
(Hely Lopes) defende a existência de exceções, como na hipótese de material bélico, substância
nuclear e dano ambiental (prevalece nos concursos).

Evolução histórica das teorias adotadas pelas Constituições brasileiras


A teoria da irresponsabilidade jamais foi acolhida no Brasil, seja em doutrina, seja em jurisprudência.
A CF Imperial de 1824, em seu art.178, n.29, estabelecia a responsabilidade dos empregados públicos
pelos abusos e omissões praticados no exercício de suas funções. Equivalente dispositivo encontrava-
se no art. 82 da CF/1891.
Com o CC/16, adotou-se, majoritariamente, a teoria civilista da responsabilidade subjetiva, com
base na redação ambígua do art. 15 do CC/16, que conduzia à ideia da culpa.
As CFs de 1934 e 1937 acolheram o princípio da responsabilidade civil solidária entre o Estado e
os seus funcionários, por danos causados a terceiros, ressalvado o direito de regresso.
Com a CF/46, o Brasil assumiu uma postura mais publicista com relação à responsabilidade do
Estado, desenvolvendo-se a “teoria do risco administrativo”, exigindo-se apenas a constatação do
nexo de causalidade entre o dano e a ação administrativa para responsabilização do Poder Público.
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A CF/1967 manteve a regra em seu art. 105, acrescentando que a ação de regresso seria cabível em
caso de dolo ou culpa. Idêntica redação foi adotada pela EC 1/69, no art. 107.
Com o advento da CF/88, a responsabilidade civil, tanto do Estado, quanto da pessoa jurídica de
direito privado prestadora de serviço público passou a ser objetiva em relação a terceiros. A força
maior e culpa exclusiva da vítima podem figurar como excludentes de responsabilidade do Estado,
quando nexo causal entre a atividade administrativa e o dano não ficar evidenciado.

Fundamento constitucional
- [art. 37, § 6°, CF] trata da responsabilidade civil do estado em decorrência da função
administrativa.

ATENÇÃO: a responsabilidade civil em decorrência da função legislativa e da função jurisdicional


não tem como fundamente este dispositivo.

Para se aplicar o art. 37, §6º CF a relação precisa ser extracontratual. Caso existisse contrato, o
fundamento da responsabilidade estaria na lei 8666.
Obs: existe indenização no ordenamento que decorre de sacrifício de direito. Ex: desapropriação. O
Estado nesse caso quer a propriedade, quer atingir um direito.

- abrangência do art. 37, § 6º, CF para efeito de responsabilidade civil.


a) Pessoas jurídicas de direito público
b) Pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos: responsabilidade que
decorre da natureza da atividade desempenhada.
- integram essa categoria:
i) pessoas jurídicas de direito público ou privado integrantes da administração pública que prestam
serviço público
-EP e SEM que preste serviço público  responsabilidade conforme o art. 37, § 6°, CF.
-EP e SEM que realize atividade econômica responsabilidade conforme o direito privado.
ou seja, podem ter responsabilidade subjetiva ou objetiva, de acordo com a legislação do direito
privado. Caso venham responder objetivamente não é possível utilizar o art. 37, § 6°, CF como
fundamento.
ii) concessionárias e permissionárias
- Esgotado o patrimônio do particular (responsabilidade primária), o Estado é chamado à
responsabilidade subsidiária.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE CADÁVER EM


DECOMPOSIÇÃO EM RESERVATÓRIO DE ÁGUA. O consumidor faz jus a reparação
por danos morais caso comprovada a existência de cadáver em avançado estágio
de decomposição no reservatório do qual a concessionária de serviço público extrai a
água fornecida à população. De início, fica configurada a responsabilidade
subjetiva por omissão da concessionária decorrente de falha do dever de
efetiva vigilância do reservatório de água (REsp 1492710).

RESPONSABILIDADE CIVIL X USUÁRIO DO SERVIÇO X NÃO USUÁRIO DO SERVIÇO – discussão


se o fato da vítima ser usuária do serviço público, ou terceiro, é determinante para a caracterização da
responsabilidade civil da empresa prestadora do serviço.

A responsabilidade do estado é objetiva também em relação aos não usuários (RE 591.874)

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Basta que o dano seja produzido pelo sujeito na qualidade de prestador do serviço público, pois o
texto constitucional não faz distinção. (CABM)

LEGITIMIDADE PASSIVA DO AGENTE PÚBLICO NA AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -discute-se se seria


possível o interessado ingressar com a ação indenizatória diretamente em relação ao agente público.

1ª corrente: NÃO 2ª corrente: SIM


A vítima somente poderá ajuizar a ação A vítima tem a possibilidade de escolher se
contra o Estado (não pode contra o quer ajuizar a ação:
particular, diretamente). Havendo • somente contra o Estado;
condenação, o Estado aciona o servidor • somente contra o servidor público;
que causou o dano. • contra o Estado e o servidor público em
litisconsórcio.
Para essa corrente, ao se ler o § 6º do art. Para essa corrente, o § 6º do art. 37 da
37 da CF/88, é possível perceber que o CF/88 prevê a possibilidade de o lesado
dispositivo consagrou duas garantias buscar do Estado a indenização pelos
(TEORIA DA DUPLA GARANTIA): prejuízos que seus agentes causaram, não
• a primeira, em favor do particular significando, contudo, proibição de a vítima
lesado, considerando que a CF/88 acionar diretamente o servidor público
assegura que ele poderá ajuizar ação de causador do dano.
indenização contra o Estado, que tem Dessa forma, quem decide se irá ajuizar a
recursos para pagar, sem ter que provar ação contra o agente público ou contra o
que o agente público agiu com dolo ou Estado é a pessoa lesada, não havendo uma
culpa; imposição na CF/88 de que só ajuíze contra
• a segunda garantia é em favor do o Poder Público.
agente público que causou o dano. A
parte final do § 6º do art. 37, Se propuser a ação contra o Estado, não terá
implicitamente, afirma que a vítima não que provar dolo ou culpa. Em compensação,
poderá ajuizar a ação diretamente contra se ganhar a demanda, será pago, em regra,
o servidor público que praticou o fato. por meio de precatório.
Este somente pode ser responsabilizado Se intentar a ação contra o servidor, terá o
quando acionado pelo próprio Estado, em ônus de provar que este agiu com dolo ou
ação regressiva, depois de já ressarcido o
culpa. Se ganhar, pode ser que o referido
ofendido. servidor não tenha patrimônio para pagar a
Outro argumento invocado é o princípio indenização. Em compensação, o processo
da impessoalidade. O servidor realiza a tramitará muito mais rapidamente do que
vontade do Estado em sua atuação, sendo se envolvesse a Fazenda Pública e a
este o causador do dano. execução é bem mais simples.
Essa posição foi denominada tese da Adotada pela 4ª Turma do STJ no REsp
dupla garantia, tendo sido adotada há 1325862, 2013).
alguns anos em precedente da 1ª T do
STF (RE 327904, 2006). No mesmo É a posição também da doutrina majoritária
sentido, mas sem mencionar o nome (ex: CABM, Carvalhinho).
“dupla garantia”: RE 344133, 2008; RE
720275, 2012.

Como a doutrina majoritária prestigia o entendimento manifestado pela 2ª corrente, existe a


possibilidade de a tese da dupla garantia ser superada. (DoD).

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Requisitos para caracterização da responsabilidade civil


- Responsabilidade objetiva: dano, conduta e nexo
- Responsabilidade subjetiva: dano, conduta, nexo e culpa.

DANO
Para que haja caracterização do dano, ele deve ser:
a) DANO JURÍDICO - deve ser em face de um direito da vítima (protegido pelo ordenamento jurídico)
b) DANO CERTO - dano determinado ou pelo menos determinável.
nele se engloba o que se perdeu (dano emergeNTE) e o que se deixou de ganhar (lucros cessantes).
Dano eventual e dano impossível não são indenizáveis.
DANO EMERGENTEindenizável DANO EVENTUALnão indenizável
LUCROS CESSANTESindenizável DANO IMPOSSÍVELnão indenizável

No caso de atos lícitos, o dano deve ser: especial e anormal


ESPECIAL – atingir especificamente a vítima, e não a toda a sociedade.
dano especial como antônimo de dano genérico.
ANORMAL – acima dos riscos aceitáveis.
Ou seja: sendo a conduta lícita, o dano deve ser jurídico, certo, especial, e anormal.
[art. 37, § 6º, “(...) causarem a terceiros”]
discussão quanto à interpretação do vocábulo terceiro:
STF firmou entendimento no sentido de que excluir da responsabilidade do Estado os danos
causados aos próprios agentes públicos acabaria por esvaziar o preceito do art. 37, § 6º, da CF,
estabelecendo distinção nele não contemplada. (Ag RE 435444)
DANO MORAL POR PRESÍDIO SUPERLOTADO:
DANO MORAL. PRESIDIÁRIO.
O estado-membro foi condenado a indenizar presidiário por danos morais, devido às condições do
estabelecimento prisional (insalubridade e superlotação). (...) Explica que as teses que prevaleceram
naquela decisão são equivocadas: deve haver indenização com função pedagógica para melhoria do
sistema carcerário e há necessidade de apaziguar o sofrimento do recorrido de modo pecuniário. A
questão não é de incidir a cláusula da reserva do possível, nem de assegurar o mínimo existencial, mas
de ser urgente aprimorar as condições do sistema prisional, o que deverá ser feito com melhor
planejamento e estruturação física e não mediante o pagamento pecuniário aos apenados. Assevera,
ainda, que, a despeito das condições precárias do sistema prisional nacional, em nada contribuiria
para sua melhoria indenizar cada detento que sentir desconforto na prisão, pois a verba orçamentária
despendida seria despida de finalidade do interesse público. Por outro lado, ao permitir tal
entendimento, estar-se-ia admitindo o Estado como segurador universal, ou seja, sempre que algum
serviço público essencial fosse falho, caberia indenização, em vez de buscar soluções de melhoria do
sistema como um todo. Também haveria um choque de entendimento se, de um lado, o Estado fosse
obrigado a pagar ao delinquente quantia mensal pelo fato de suas condições de carceragem não serem
as melhores e, por outro, o Estado não pagar ao cidadão que, sem ter praticado qualquer delito, é
privado de um ente querido pelo fato de ele ter sido executado por um fugitivo ou ter sua integridade
física e moral violada por um ex-detento. Em todas essas situações, também há falha do serviço
estatal. (REsp 962934)
RE 580252 (reconhecida repercussão geral, em julgamento) – Nesse recurso, será discutido se o
preso que sofre com a superlotação tem direito à indenização, por ofensa à sua dignidade. Vale
lembrar que o entendimento que vem prevalecendo na jurisprudência é de que o preso não tem
direito à indenização.

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Precedentes no sentido de cabimento de dano moral na hipótese de excesso de prazo em prisão


cautelar (REsp 815004).

CONDUTA: atribuível do agente público

AGENTE PÚBLICO: todo aquele que exerce uma função estatal (entendido em sentido amplo).
Abrange, inclusive, o particular em colaboração com a Administração (REsp 648818).

Responsabilidade civil do Estado por atos praticados por notários dos cartórios: considera-se
que os notários dos cartórios prestam serviços públicos, havendo responsabilidade civil objetiva por
seus atos. (RE 201595)
- A responsabilidade do Estado pelos danos causados pelos notários é subsidiária (Inf 421, stj).

DANOS MATERIAIS. TITULAR. CARTÓRIO. (...) a responsabilidade dos notários equipara-se às


das pessoas jurídicas de Direito Privado prestadoras de serviços públicos, pois os serviços
notariais e de registros públicos são exercidos por delegação da atividade estatal (CF, art. 236
§ 1º), assim seu desenvolvimento deve dar-se por conta e risco do delegatário (Lei 8987/95).
(...) Precedente do STF: RE 201595. (REsp 1087862).

[art. 37, § 6º, CF - “(...) nessa qualidade (...)”]: vinculação da conduta com a qualidade de agente público.
- Qualidade de agente público é mais abrangente que o fato de o agente ter agido no exercício de
suas funções
ex.: policial fora de serviço agindo na qualidade de agente público (RE 160401).

Responsabilidade civil por dano causado por arma de fogo da corporação por policial de folga: Há
decisões do STF nos dois sentidos: pela ausência da responsabilidade civil (RE 363423,2008) e
pela responsabilidade do Estado (RE 291035, Info 421)

CONDUTA COMISSIVA: RESPONSABILIDADE OBJETIVA.

CONDUTA ILÍCITA
– indenização em decorrência doPRINCÍPIO DA LEGALIDADE.

o Estado praticou uma conduta contrária à lei e em decorrência do princípio da legalidade deve
indenizar o particular.
exemplo: decisão ilegal determinando apreensão de determinados produtos; espancamento de
prisioneiro.
CONDUTA LÍCITA
– indenização em decorrência do princípio da isonomia.

O Estado praticou conduta de acordo com a lei buscando atender interesse público, porém não seria
justo que apenas parte da sociedade (os particulares que sofreram o dano) custeasse o ônus, por isso
ser necessária a indenização.

CABM, MSZP e parte da jurisprudência: o art. 37 § 6º, da CF só cuida de danos causados por
condutas comissivas dos agentes públicos; somente nesses casos é que a responsabilidade seria
objetiva.
Entendem que é o Estado que deve provar que utilizou os meios adequados disponíveis de forma
razoável para elidir esta responsabilidade.
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CONDUTA OMISSIVA: (divergência doutrinária).


i) RESPONSABILIDADE OBJETIVA (Hely): mesmo no caso da omissão responsabilidade seria objetiva.
O art. 37, §6º, quando traz a responsabilidade objetiva, não faz distinção entre ação e omissão, não
cabendo TAC distinção ao intérprete.
ii) RESPONSABILIDADE SUBJETIVA (CABM)
na CONDUTA OMISSIVA a RESPONSABILIDADE É SUBJETIVA sob pena de caracterização do
ESTADO COMO SEGURADOR UNIVERSAL.

se o Estado não agiu, não pode, logicamente, ser ele o autor do dano. Se não foi o autor do dano, só
cabe responsabilizá-lo caso esteja obrigado a impedir o dano. Só faz sentido responsabilizá-lo se
descumpriu dever legal que lhe impunha obstar ao evento lesivo (CABM), ou seja, se o SERVIÇO NÃO
FUNCIONOU (quando tinha que funcionar), FUNCIONOU MAL ou ATRASADO.
a obrigação estatal decorre da obrigação imposta de evitar o dano, DEVERÁ SER SEMPRE
DECORRENTE DE UM ATO ILÍCITO. Deve estar configurada a culpa ou dolo.
a normalidade da eficiência estatal corresponde a um conceito aberto que sofrerá influência do
meio social, do estágio de desenvolvimento tecnológico, cultural, econômico etc. É necessário que seja
analisado o nível de expectativa comum da sociedade (e não o nível de aspirações) bem como o nível
de expectativa do próprio Estado.
 CABM – a omissão estatal não causou o dano, mas foi condição para ele.
-CAUSA – fator que positivamente gera um resultado.
-CONDIÇÃO – evento que não ocorreu, mas que, se houvera ocorrido, teria impedido o resultado.

iii) DISTINÇÃO ENTRE OMISSÃO GENÉRICA x ESPECÍFICA (Cavlieri)


OMISSÃO ESPECÍFICA: responsabilidade objetiva
- É aquela omissão que se refere a um dever específico de agir do Estado.
Ex: presidiário, proteção dos servidores
OMISSÃO GENÉRICA: responsabilidade subjetiva
- Para a omissão genérica, como no caso de segurança pública lato sensu, Cavalieri defende o princípio
da responsabilidade subjetiva.

Lembrar que:
- Responsabilidade objetiva análise do elemento subjetivo (dolo ou culpa) é irrelevante.
- Responsabilidade subjetiva por falta do serviço elemento subjetivo é relevante, mas
presumido. O Estado pode se eximir da responsabilidade provando não ter existido dolo ou culpa.
 Há precedentes pela responsabilidade subjetiva (RE 372472).

Professora da rede pública agredida por aluno: nesse caso há a caracterização de omissão do
estado em proteger seu servidor. Na hipótese concreta veiculada no informativo do STJ, a professora
havia informado à escola das ameaças do aluno que, diante da omissão do Estado, vieram a se efetivar.
Segundo essa decisão, trata-se de responsabilidade subjetiva, marcada pela culpa em concreto do
Estado que, ainda depois de ter conhecimento das ameaças, nada fez para proteger o servidor. (Inf.
450, STF) [adoção da corrente defendida por CABM]

 Morte de detento por colegas de carceragem: há decisão no sentido da responsabilidade objetiva. O


nexo de causalidade decorre do dever constitucional de guarda (RE 272839).

Suicídio de preso - Estado deve indenizar. A responsabilidade civil estatal pela integridade dos
presidiários é objetiva em face dos riscos inerentes ao meio no qual foram inseridos pelo próprio
Estado (AgRg no REsp 1305259).
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Dano causado por outro aluno: Foi o caso que envolvia um aluno de escola pública municipal, que
foi beber água no bebedouro e veio um amiguinho por trás e bateu na cabeça do menor, lesando sua
visão. O STF condenou o Município com base na responsabilidade objetiva.

- Obs: o NCC traz essa hipótese como responsabilidade objetiva, não em relação da conduta ser
omissiva ou comissiva, mas em decorrência do art. 932, IV, NCC
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo
para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

Resumo:
A CF/88 trouxe a ideia de responsabilidade objetiva, com relação aos atos comissivos (lícitos ou
ilícitos). Havendo omissão, a responsabilidade é subjetiva (descumprimento dever legal).
Na omissão, a ilicitude está prevista no descumprimento de um dever legal.
Ex: o Estado tem o dever de prestar segurança, descumprindo esse dever legal, o Estado responderá
se o serviço não foi prestado dentro de um padrão normal.
Só existirá a responsabilização do Estado se ele tem como evitar o dano. O padrão normal está
submetido ao princípio da reserva do possível (o serviço deve ser prestado dentro do que é possível
ao Estado prestar). Não se pode, porém, deixar de prestar o mínimo existencial.

NEXO CAUSAL

ATIVIDADES DE RISCO
O Estado assume um risco maior que o necessário. Trata-se de uma ação. Assim, aplica-se a teoria
objetiva. (CABM)
Há determinados casos em que a ação danosa, propriamente dita, não é efetuada por agente do
Estado, contudo é o Estado quem produz a situação do qual o dano depende. Vale dizer: são hipóteses
nas quais é o Poder Público quem constitui, por ato comissivo seu, os fatores que propiciarão
decisivamente a emergência de dano. Tais casos, a nosso ver, assimilam-se aos de danos produzidos
pela própria ação do Estado e por isso ensejam, tanto quanto estes, a aplicação do princípio da
responsabilidade objetiva. (...) O caso mais comum, embora não único, é o que deriva da guarda, pelo
Estado de pessoas ou coisas perigosas, em face do quê o Poder Público expõe terceiros a risco. Servem
de exemplo o assassinato de um presidiário por outro presidiário; os danos nas vizinhanças oriundos
de explosão em depósito militar em decorrência de um raio (...)
Com efeito, em todos estes casos, o dano liga-se embora mediatamente, a um comportamento positivo
do Estado. Sua atuação é o termo inicial de um desdobramento que desemboca no evento lesivo,
incindivelmente ligado aos antecedentes criados pelo Estado.
A fuga de internos em manicômio ou presídio que se homiziem nas vizinhanças e realizem violências
sobre os bens ou pessoas sediados nas imediações ou que nelas estejam acarretará responsabilidade
OBJETIVA do Estado.
Cumpre, apenas, esclarecer que a responsabilidade em tais casos evidentemente está correlacionada
com o RISCO suscitado. Donde, se a lesão sofrida não guardar qualquer vínculo com este pressuposto,
não haverá falar em responsabilidade objetiva.
Então, se os evadidos de uma prisão vierem a causar danos locais afastados do prédio onde se sedia a
fonte de risco, é óbvio que a lesão sofrida por terceiros não estará correlacionada com a situação
perigosa criada por obra do Poder Público. Nessa hipótese, só caberá responsabilizar o Estado se o
serviço de guarda dos delinquentes não houver funcionado ou houver funcionado mal, pois será caso
de responsabilidade por comportamento omissivo, e não pela geração de risco oriundo de guarda de
pessoas perigosas.
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É lícito ao Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de


medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade
ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade
física e moral, nos termos do que preceitua a CF, art. 5º, XLIX, não sendo oponível à decisão o
argumento da reserva do possível nem o princípio da separação dos poderes (RE 592581 RG)

ATENÇÃO: NO CASO DO CTB:

1º) O art. 1º, § 3º, dispõe ser responsabilidade objetiva:


§ 3º Os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das
respectivas competências, objetivamente, por danos causados aos cidadãos em virtude de
ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas, projetos e serviços que garantam o
exercício do direito do trânsito seguro.

2º) O STJ tem se consolidado no sentido de atribuir responsabilidade subjetiva no caso de falta de
fiscalização da Administração e acidentes de trânsito envolvendo animais na pista (REsp 438831).

3º) Em havendo concessão de serviço público, a concessionária sim responde de forma objetiva, pois
aplicável ao caso o CDC em razão da existência de pedágios (REsp 573260)

EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE
1. Culpa da vítima:
2. Culpa de terceiro:
3. Força maior:
4. Caso fortuito:

1. CULPA DA VÍTIMA:
- EXCLUSIVA: exclusão da responsabilidade do estado
- CONCORRENTE: redução da responsabilidade do Estado.
A participação da conduta da vítima para o resultado é considerada para diminuir a responsabilidade
do Poder Público (RE 120924).

Existência de passarela próxima ao local do acidente gera culpa concorrente (STJ).

2. CULPA DE TERCEIRO: se quebrar o nexo de causalidade, exclui a responsabilidade civil do Estado.

3. FORÇA MAIOR: acontecimento exterior, evento natural irresistível e estranho à vontade dos
envolvidos também é excludente da responsabilidade.

4. CASO FORTUITO: evento imprevisível, decorrente de causa desconhecida, evento interno ou falha
na Administração.
Parte da doutrina não aceita o caso fortuito como excludente de responsabilidade.
A jurisprudência: não discrimina fortuito e força maior.
STJ analisa caso a caso o que é fortuito ou força maior
“(...) caso fortuito ou de força maior existe quando uma determinada ação gera consequências, efeitos
imprevisíveis, impossíveis de evitar ou impedir: Caso fortuito + Força maior = Fato/Ocorrência
imprevisível ou difícil de prever que gera um ou mais efeitos/consequências inevitáveis.
Portanto, pedidos de indenização devido a acidentes ou fatalidades causadas por fenômenos da
natureza podem ser enquadrados na tese de caso fortuito ou de força maior”.

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Tanto na força maior como no ato de terceiro se ficar comprovado que o Estado poderia ter
evitado os danos pode haver responsabilidade, mas o entendimento majoritário é que será por
culpa do serviço.

A as decisões sobre responsabilidade civil geralmente se posicionam frente às peculiaridades do caso


concreto, e não necessariamente pela técnica.

RESPONSABILIDADE DO ESTADO NA FUNÇÃO LEGISLATIVA


REGRA: não há responsabilidade.
Em geral a lei é abstrata e genérica, incapazes de gerar dano especial (específico/individualizado)

EXCEÇÕES (JSCF)
1) Lei de efeitos concretos (constitucionais ou inconstitucionais): lei que não atinja pessoas
determinadas ou se refira a fatos específicos.

2) Lei declarada inconstitucional pelo STF: há doutrina quem admite mesmo o reconhecimento
incidental poderia gerar essa indenização (RE 153464).
Obs.: Uma das razões para admissão da modulação dos efeitos na declaração de
inconstitucionalidade é justamente evitar a caracterização de responsabilidade.

3) Omissão legislativa: questão polêmica.


Ex.: revisão geral anual dos servidores (art. 37, X, CF) continua pendente no STF. O TRF4 admitiu.

RESPONSABILIDADE POR ATOS DO PODER JUDICIÁRIO


- Atos praticados no exercício da função pública (não jurisdicional) se submete à regra geral
- Em regra, ato judicial não enseja responsabilização do Poder Público (RE 219117), pois se trata de
ato soberano e decorrente da independência do magistrado (RE 228977). Há, ainda, a possibilidade de
recurso e meios de impugnação.

EXCEÇÕES: STF entende possível a responsabilização em decorrência de atos judiciais sempre que
houver previsão legal.
a)[art. 5.º, LXXV, CF] – indenização decorrente de erro judiciário.
b)[art. 133, CPC] – indenização no âmbito do Processo civil
- Dolo ou fraude do juiz, omissão, recusa ou atraso injustificado.
c)[art. 630, CPP] – indenização no âmbito do Processo penal.
- Justa indenização, salvo se houve culpa do condenado ou ação penal privada

CASO DE REVISÃO CRIMINAL DECORRENTE DE NOVAS PROVAS

Erro judiciário. Responsabilidade civil objetiva do Estado. Direito à indenização por


danos morais decorrentes de condenação desconstituída em revisão criminal e de
prisão preventiva. CF, art. 5º, LXXV. C.Pr.Penal, art. 630 (...) 3. O art. 5º, LXXV, da CF: é
uma garantia, um mínimo, que nem impede a lei, nem impede eventuais construções
doutrinárias que venham a reconhecer a responsabilidade do Estado em hipóteses que
não a de erro judiciário stricto sensu, mas de evidente falta objetiva do serviço público
da Justiça. (RE 505393).

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REVOGAÇÃO DE PRISÃO CAUTELAR: em regra, não cabe indenização. Exceção, se a prisão não
atende aos requisitos legais, prisão além do tempo fixado na sentença e erro judiciário (STF, AI
803831 AgR).
AGU a cognição cautelar é sumária não caberia indenização.

DENUNCIAÇÃO DA LIDE: polêmica


1) IMPOSSIBILIDADE (CABM, HLM, REsp 210607)
- Fundamento: introduz elemento novo na lide (responsabilidade subjetiva) e pode tumultuar o
processo, comprometendo o direito do particular na busca da indenização devida.

2) DENUNCIAÇÃO FACULTATIVA (MSZP, REsp 313886)


- Admitida apenas se a denunciação se a ação proposta em face do Estado já individualize o servidor e
se baseie na culpa deste. Do contrário, a denunciação seria impossível.
- Se o particular, já na inicial, discute dolo/culpa do agente, é possível que o Estado denuncie o agente.
(nesse caso não haveria ampliação da instrução)

Essa parece ter sido a posição adotada pela Lei 8112, segundo a qual, ocorrendo dano causado a
terceiros, o servidor deverá responder perante a Fazenda Pública em ação regressiva (art. 122, §2º.).
Conquanto não seja o dispositivo de extrema clareza, é de supor-se que considerou tal ação como
autônoma, diversa, portanto, daquela em que o lesado tenha demandado a Fazenda. (JSCF)

3)DENUNCIAÇÃO OBRIGATÓRIA (posição isolada)


- Fundamento na literalidade do revogado art. 70 do CPC/73: denunciação obrigatória, sob pena de
não ser possível, posteriormente, exercer o direito de regresso.

- “a denunciação da lide ao agente do Estado em ação fundada na responsabilidade prevista


no artigo 37 § 6º da CF/88 não é obrigatória, vez que a primeira relação jurídica funda-se na
culpa objetiva e a segunda na culpa subjetiva, fundamento novo não constante da lide
originária” (REsp 313.886). Idem: (ED AgRg no AREsp 368976)

AÇÃO DE REGRESSO (art. 37 § 6º) nos casos de dolo ou culpa” (ver Dupla Garantia)

RESPONSABILIDADE DO SERVIDOR [art. 122 da Lei n. 8.112 traz previsão expressa nesse sentido]
1. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em
prejuízo ao erário ou a terceiros.
2. A indenização de prejuízo dolosamente causado ao erário somente será liquidada na forma prevista
no art. 46, na falta de outros bens que assegurem a execução do débito pela via judicial.
3. Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o servidor perante a Fazenda Pública, em ação
regressiva.
4. A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores e contra eles será executada, até o limite
do valor da herança recebida.
5. A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputadas ao servidor, nessa
qualidade.
6. As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes entre si.
7. A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição criminal que
negue a existência do fato ou sua autoria.

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Prescrição

5 anos: prescrição contra a Fazenda Pública é regulamentado pelo Decreto 20910/32 (RESP 1251993)
- Interrupção da prescrição contra a Fazenda: só pode ocorrer uma única vez (Dec. 20910, art. 8º).
- Hoje essa diretriz se aplica a todas as situações – art. 202, NCC.

REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO
Contagem da prescrição após a interrupção: a contagem do prazo ocorre pela metade (Dec. 20910,
art. 9º). Esse dispositivo deve ser interpretado conforme as determinações da SÚMULA 383 DO STF:

A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a
partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular
do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

- Interrupção ocorrida antes do transcurso da metade do prazo: contagem volta a correr pelo
tempo restante. [ “(...) mas não ficará reduzida aquém de 5 anos (...)”]
Ex: interrupção após o transcurso de 1 ano prazo restante: 4 anos

-Interrupção após o transcurso da metade do prazo: prazo prescricional de 2 anos e meio. [“(...)
recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo (....)”]
Ex.:interrupção após o transcurso de 4 anos prazo restante: 2 anos e meio

PRESCRIÇÃO - PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO


Nessa hipótese não há a aplicação do Decreto no 20.910/32, mas o prazo de 5 anos do art. 1o-C da Lei
9494/97. Nesse caso, diferente do que ocorre com o art. 10 do Decreto 20.910/32, não há ressalva
alguma quanto aplicação de outro prazo.

TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DE PRETENSÃO INDENIZATÓRIA DECORRENTE DE TORTURA E


MORTE DE PRESO. O termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de suposta
tortura e morte de preso custodiado pelo Estado, nos casos em que não chegou a ser ajuizada ação
penal para apurar os fatos, é a data do ARQUIVAMENTO do inquérito policial (STJ, Info 2015).

JURISPRUDÊNCIA/DOUTRINA (EXTRA) SOBRE O TEMA

Polêmica quanto à divisão de responsabilidade no SUS (U, E e M não assumem). Ajuizada a ação, os
entes políticos ficam discutindo de quem é a responsabilidade. STF proferiu decisão dizendo que as
questões processuais não podem comprometer o fornecimento de medicamentos e o atendimento à
saúde (podem discutir, mas, enquanto isso, prestem o serviço de saúde, forneçam o remédio).
Além disso, o dano à economia – alegado pelo Estado – deverá ser comprovado.

Deve ser declarada a ilegitimidade passiva ad causam da União, por se tratar de matéria de ordem
pública, passível de ser conhecida de ofício pelo magistrado (art. 301, X, § 4º, CPC). É que a
competência da União para explorar a navegação aérea, atribuída pelo art. 21, XII, “c”, da
Constituição da Federal, não tem o condão de fazê-la responsável por cancelamento de voos, já
que a prestação do serviço em si foi legitimamente concedida a empresas privadas, conforme autoriza
o citado dispositivo constitucional. Além disso, a supervisão ministerial exercida sobre a ANAC,
responsável pela fiscalização da prestação desse serviço não lhe torna responsável pelo
cancelamento do vôo, até porque nenhum fato específico lhe foi imputado. Assim, deve-se excluir a
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União do feito, extinguindo o processo sem resolução do mérito em relação a ela (art. 267, VI, § 3º,
CPC).

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. VEÍCULO DO IBAMA


CONDUZIDO POR MECÂNICO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FIRMADO ENTRE IBAMA E
EMPRESA PARA MANUTENÇÃO DOS VEÍCULOS. LEGITIMIDADE.
Deve o IBAMA responder pelos danos que eventualmente sejam causados nessas condições,
podendo exonerar-se da responsabilização em julgamento de mérito acerca das causas normais de
exclusão ou redução da responsabilidade civil do Estado. (TRF-4, 2000.70.00.0100501)

-Súm 54/STJ - Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual.

Não há falar no afastamento do dano material em razão do pagamento de benefício previdenciário. Os


fatos geradores da indenização e da prestação do INSS são distintos
Trata-se de pensões que podem ser cumuladas (STJ, ED no REsp 922951).

“As normas que dispõem sobre juros moratórios possuem natureza eminentemente processual,
aplicando-se aos processos em andamento, à luz do princípio tempus regit actum”. (...) O art. 1º-F, da
Lei 9.494, modificada pela MP 2.180-35/2001 e, posteriormente, pelo artigo 5º da Lei 11.960/09, tem
natureza instrumental, devendo ser aplicado aos processos em tramitação”. Este entendimento
continua prevalecente no STJ (EDcl no AgRg no REsp 1232970)

Tal entendimento segue a tendência já apontada pela jurisprudência do STF (AI 767094 AgR).

Não foi reconhecida a responsabilidade civil do Estado no caso em que tabelião registrou em
garantia imóvel inexistente em parceria pecuária. Foi dito que o prejuízo foi oriundo do
inadimplemento do parceiro.

Há responsabilidade civil objetiva (dever de indenizar danos causados independente de culpa) das
empresas que prestam serviço público mesmo em relação a terceiros, ou seja, aos não-usuários.
(STF, Rep Geral)

O STJ vem adotando os critérios da tabela de sobrevida da Previdência Social, de acordo com
cálculos elaborados pelo IBGE, no que concerne à data limite para a concessão de pensão em casos de
responsabilidade civil.

Na fixação do valor da indenização, não se deve aplicar o critério referente à teoria da perda da
chance, e sim o da efetiva extensão do dano causado (art. 944 do CC), na hipótese em que o Estado
tenha sido condenado por impedir servidor público, em razão de interpretação equivocada, de
continuar a exercer de forma cumulativa dois cargos públicos regularmente acumuláveis (REsp
1308719)

É imprescritível a pretensão de recebimento de indenização por dano moral decorrente de atos de


tortura ocorridos durante o regime militar de exceção. Precedentes. (REsp 1374376)

Dano Moral Coletivo


1ª Turma: é necessária a vinculação do dano moral com a noção de dor, sofrimento psíquico e de
caráter individual, incompatível, assim, com a noção de transindividualidade – indeterminabilidade do
sujeito passivo, indivisibilidade da ofensa e de reparação da lesão.

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2ª Turma: É certo que há precedentes do STJ no sentido de afastar a possibilidade de configuração do


dano moral coletivo, ao restringi-lo às pessoas físicas individualmente consideradas, que seriam as
únicas capazes de sofrer a dor e o abalo moral necessários à caracterização daquele dano. Porém, essa
posição não pode mais ser aceita, pois o dano extrapatrimonial coletivo prescinde da prova da dor,
sentimento ou abalo psicológico sofridos pelos indivíduos. Como transindividual, manifesta-se no
prejuízo à imagem e moral coletivas e sua averiguação deve pautar-se nas características próprias aos
interesses difusos e coletivos. Destarte, o dano moral coletivo pode ser examinado e mensurado.
ATENTAR QUE O TRF1 ADMITE O DANO MORAL COLETIVO (AC 00004432820114013806).
A União, na qualidade de contratante, possui responsabilidade civil por prejuízos suportados por
companhia aérea em decorrência de planos econômicos existentes no período objeto da ação. Essa a
conclusão do Plenário ao finalizar o julgamento de três recursos extraordinários nos quais se discutia
eventual direito a indenização de companhia aérea em virtude da suposta diminuição do seu
patrimônio decorrente da política de congelamento tarifário vigente, no País, de outubro de 1985 a
janeiro de 1992.
A Min. Cármen Lúcia, relatora, reportou-se a precedente da Corte segundo o qual os danos
patrimoniais gerados pela intervenção estatal em determinado setor imporiam a indenização, tendo-
se em vista a adoção, no Brasil, da teoria da responsabilidade objetiva do Estado com base no risco
administrativo. Para a aplicação da referida doutrina, suficiente a configuração do dano e a verificação
do nexo de causalidade entre aquele e a ação estatal (RE 422941) [...]
A Min. Cármen Lúcia ponderou que os atos que comporiam o “Plano Cruzado” — conquanto não
tivessem se afastado do princípio da legalidade, porque plenamente justificados por imperioso
interesse do Estado e da sociedade brasileira — teriam provocado diretamente danos à recorrida.
Esclareceu que a empresa nada poderia providenciar contra o que lhe fora determinado, pois jungida
às regras da concessão de serviço público. Repisou que não se estaria a discutir a legalidade da
decisão política. Salientou que, no entanto, os atos administrativos, mesmo os legislativos, submeter-
se-iam, em um Estado de Direito, aos ditames constitucionais. Assim, inconteste que o Estado deveria
ser responsabilizado pela prática de atos lícitos quando deles decorressem prejuízos específicos,
expressos e demonstrados. Na condição de concessionária, não poderia a companhia esquivar-se dos
danos, uma vez que não deteria liberdade para atuar conforme sua conveniência. Destacou que a
comprovação dos prejuízos ocorrera nas instâncias próprias de exame do acervo fático-probatório.
Por fim, considerou irretocável a decisão recorrida, fundada na teoria da responsabilidade do Estado
por ato lícito. (RE 571969).

Responsabilidade do servidor

-os servidores públicos, no desempenho de suas funções ou a pretexto de exercê-las, podem cometer
infrações, devendo por elas ser responsabilizado.
-âmbitos de responsabilização do servidor:
RESPONSABILIDADE PENAL: caracterizada pela sujeição dos agentes às sanções penais.
abrange os CRIMES e CONTRAVENÇÕES imputadas ao servidor, nessa qualidade (Lei 8112/90, art.
143).

RESPONSABILIDADE CIVIL: caracterizada pela sujeição dos agentes à sanção de perdas e danos.
resulta de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou a
terceiros (L 8112, art. 122 e 124).
nela se incluem os atos de improbidade.

RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA: caracterizada pela sujeição dos agentes às sanções


disciplinares internas (L 8112/90, art. 121).

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- As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes entre si (L


8112, art. 125).

A punição administrativa ou disciplinar não depende de processo civil ou criminal a que se sujeite
também o servidor pela mesma falta, nem obriga a Administração a aguardar o desfecho dos demais
processos.

- Comunicabilidade de instâncias: a responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso


de ABSOLVIÇÃO CRIMINAL que negue a EXISTÊNCIA DO FATO ou SUA AUTORIA (Lei 8112, art. 126).
a condenação criminal implica o reconhecimento automático das RESPONSABILIDADES CIVIL E
ADMINISTRATIVA.

Falta de dolo ou ausência de prova, embora isentem criminalmente e acarretem a absolvição


penal, não excluem a culpa administrativa e civil do servidor público.

RESÍDUO ADMINISTRATIVO: nomenclatura utilizada pelo STF para caracterizar situação na qual as
provas que não foram suficientes para a condenação penal podem ser residualmente suficientes para
condenação na esfera administrativa. Ex absolvição por falta de provas.

Outro caso em que há a comunicabilidade é o do art. 132, I, L 8112, que comina demissão para a
prática de crime contra a Administração (não são todos do capítulo, só os funcionais). Nesse caso,
deve haver a condenação penal para que seja aplicada a pena administrativa.

É interessante lembrar que a incomunicabilidade das esferas administrativa e penal não se confunde
com os efeitos da condenação da sentença penal. Com efeito, esta sentença poderá trazer como efeito
a perda do cargo, função pública ou mandato eletivo (art. 92, I, CP). Atentar que esta pena não é efeito
automático da condenação, devendo o juiz se manifestar expressamente. Exceção fica por conta do art.
1o da Lei de Tortura, que prevê como efeito automático a perda do cargo.

Responsabilidade administrativa do servidor


A responsabilização dos servidores públicos é dever genérico da Administração e específico do
chefe, em relação a seus subordinados.
Responsabilidade administrativa resulta da violação de normas internas da Administração previstas
em lei e normas regulamentadoras. A falta funcional gera ilícito administrativo, e dá ensejo à
aplicação de pena disciplinar, pelo superior hierárquico, com observância do devido processo legal
(processo administrativo).
A penalidade deverá sempre ser motivada, devendo a autoridade administrativa, competente para sua
aplicação, justificar a punição imposta, alinhando os atos irregulares praticados pelo servidor,
analisando a sua repercussão danosa para o Poder Público, apontando os dispositivos legais ou
regulamentares violados e cominação prevista. A administração, ao punir o servidor, deve demonstrar
a legalidade da punição.

PENALIDADES ADMINISTRATIVAS NA ESFERA FEDERAL: [art. 127]


ADVERTÊNCIA: punição aplicada para as infrações leves.
-hipóteses de aplicação da pena de advertência (art. 117)
Art. 129. A advertência será aplicada por escrito, nos casos de violação de proibição
constante do art. 117, incisos I a VIII e XIX, e de inobservância de dever funcional
previsto em lei, regulamentação ou norma interna, que não justifique imposição de
penalidade mais grave. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

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Será registrada nos assentos do servidor, e enseja a suspensão no caso de reincidência.


Cancelamento do registro: após 3 anos de efetivo exercício sem nova prática de infração disciplinar.
o cancelamento da penalidade não tem efeito retroativo (art. 131).

-prescrição da ação para apuração de infração sancionada com advertência: 180 DIAS(Art.
142).

SUSPENSÃO - punição para as infrações de média gravidade.

Lei 8.122/90
Art. 130. A suspensão será aplicada em caso de reincidência das faltas punidas com
advertência e de violação das demais proibições que não tipifiquem infração sujeita
a penalidade de demissão, não podendo exceder de 90 (noventa) dias.

Prazo de suspensão: até 90 dias.

Recusa a se submeter a inspeção médica: suspensão de 15 dias (art. 130).

Pode ser substituída por multa quando for conveniente para o serviço. O servidor é obrigado a
permanecer no serviço, com redução de 50 % por dia de vencimento ou remuneração (art. 130, §2º).

A pena de suspensão deverá ser registrada nos assentos do servidor.


Cancelamento do registro: após 5 anos de efetivo exercício sem nova prática de infração disciplinar.
Não tem efeito retroativo.

AUTORIDADE COMPETENTE para aplicar a suspensão (Art. 141):


Suspensão superior a 30 dias: autoridade de hierarquia imediatamente inferior ao Presidente da
República, aos Presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e ao Procurador-
Geral da República
Suspensão inferior a 30 dias: chefe da repartição e outras autoridades na forma dos respectivos
regimentos ou regulamentos

DEMISSÃO - aplicada para as infrações graves.


- No caso de falta grave, a punição é de demissão, não se confundindo com exoneração.

Hipóteses de aplicação da pena de demissão: [art. 132, Lei 8.112]


- Crime contra a administração
- Abandono do cargo
- Improbidade administrativa
- Incontinência pública e conduta escandalosa na repartição
- Insubordinação grave em serviço
- Ofensa física em serviço
- Aplicação irregular de recursos públicos
- Lesão aos cofres públicos ou dilapidação
- Corrupção
- Acumulação ilegal de cargos
- Valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem
- Gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não, exceto acionista, cotista ou
comanditário
- Advocacia administrativa
- Receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em razão das atribuições;
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- Aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro;


- Praticar usura sob qualquer de suas formas;
- Desídia;
- Uutilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou atividades particulares;

Não é cabível a demissão por abandono de cargo por mais de 30 dias, por ausência de animus
abandonandi, no caso do servidor que não compareceu ao serviço em decorrência de prisão
decorrente de sentença ainda não transitada em julgado. Não há intenção deliberada de faltar ao
serviço (STJ, MS 12424).

Autoridade competente para aplicar a pena de demissão (Art. 141): Presidente da República,
Presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e Procurador-Geral da República,
na hipótese de demissão e cassação de aposentadoria ou disponibilidade de servidor vinculado ao
respectivo Poder, órgão, ou entidade;

Respeitadas as garantias, nada impede a demissão de servidora gestante (STF, MS 23474)

- Perda do cargo decorrente de sentença penal condenatória


-Hipóteses:
a) PPL > 1 ano - nos crimes praticados com abuso de poder ou com violação de dever para com a
administração pública.
b) PPL > 4 anos – demais crimes (art. 92, CP).

- Perda do cargo decorrente de condenação em improbidade (LIA, art. 12, II e III)

- Perda do cargo como efeito da condenação por crime de racismo (L 7716, art. 16)

- Perda do cargo decorrente de condenação por crime de tortura (L 9455, art. 19 § 5º)

A demissão é sanção que extingue o vínculo com a administração pública, inclusive o previdenciário.
“Não é, em consequência, invocável o fato de já possuir tempo de serviço público suficiente a
aposentadoria. A lei prevê, inclusive, a pena de cassação da aposentadoria, aplicável ao servidor já
inativo, se resultar apurado que praticou ilícito disciplinar grave, em atividade” (STF, MS 21948).

Embora não haja mais, na esfera federal, a distinção entre demissão simples e a bem do serviço
público, há consequências diversas para a demissão na lei 8112/90.
Art. 137. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, por infringência do art. 117,
incisos IX e XI, incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura em cargo público federal,
pelo prazo de 5 (cinco) anos.
Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço público federal o servidor que for demitido
ou destituído do cargo em comissão por infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, X e XI.

Inconstitucionalidade da L 8112, art. 137, § ún, seria inconstitucional por veicular pena perpétua –
ofensa ao art. 5º, XLVII, b, CF está sendo discutida na ADI 2975, ainda pendente

Pode haver demissão de servidor em disponibilidade quanto ao ato praticado no efetivo exercício.

DEMISSÃO DE SERVIDOR ESTATUTÁRIO E ABSOLVIÇÃO POSTERIOR EM PROCESSO CRIMINAL:


dependerá do fundamento da absolvição:
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I) Absolvição pela negativa de autoria ou pela inexistência do fato: agente será reintegrado
- A decisão na esfera penal influenciará/vinculará o âmbito administrativo quando absolver o réu por
negativa de autoria ou pela inexistência do fato. (art. 126)

II) Absolvição por falta de provas ou insuficiência de provas: agente não será reintegrado
- Decisão na esfera penal não influenciará/vinculará o âmbito administrativo.

ATENÇÃO: STF identifica essa hipótese como “sancionamento na via administrativa de resíduo
administrativo” - Aquelas provas que não foram suficientes para a condenação penal podem ser
residualmente suficientes para condenação na esfera administrativa. Aparece nessas hipóteses,
principalmente, de absolvição por falta de provas.

Súm. 18, STF: pela falta residual, não compreendida na absolvição pelo juízo criminal, é admissível a
punição administrativa do servidor público.

CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA OU DISPONIBILIDADE


Pena aplicada quando o inativo houver praticado, na atividade, falta punível com a demissão (L 8112,
art. 134).

- Autoridade competente para aplicar a pena de cassação de aposentadoria ou disponibilidade:


PR, pelos Presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo PGR (art. 141).

Servidor aposentado e infração praticada em atividade: é lícita a pena de cassação de aposentadoria,


por ilícito administrativo cometido pelo servidor ainda na atividade, conforme reiterada
jurisprudência do supremo tribunal (STF, RMS 24557 e AI-ED 504188)

Viola a presunção de inocência (e a razoabilidade) o registro de pena prescrita nos assentamentos


funcionais – L 8112, 170 (STF, MS 23262)

CÁLCULO DA PRESCRIÇÃO COM BASE DA PENA EM CONCRETO APLICADA NA ESFERA PENAL:

PAD. CASSAÇÃO. APOSENTADORIA. PRESCRIÇÃO. (...) em casos como o dos autos, determina
o cálculo da prescrição com base na pena in concreto, pois os prazos administrativos de
prescrição só têm lugar quando a falta imputada ao servidor não é prevista como crime
penal. Assim, havendo sentença penal condenatória, o prazo da prescrição, na esfera
administrativa, computa-se pela pena in concreto penalmente aplicada, nos termos dos
arts. 109 e 110 do CP. (STJ, MS 12414)

DESTITUIÇÃO DE CARGO EM COMISSÃO: para não ocupante de cargo efetivo será aplicada nos casos
de infração sujeita às penalidades de suspensão ou demissão (art. 135).
Art. 136. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, nos casos dos incisos IV, VIII, X e
XI do art. 132, implica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, sem
prejuízo da ação penal cabível.
Art. 137. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, por infringência do art. 117,
incisos IX e XI, incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura em cargo público federal,
pelo prazo de 5 (cinco) anos.
Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço público federal o servidor que for demitido
ou destituído do cargo em comissão por infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, X e XI.

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- Autoridade que fez a nomeação é a competente para aplicar a pena de cassação de


aposentadoria ou disponibilidade (Lei 8112, Art. 141).

RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA E PRESCRIÇÃO


- Prescrição:
a) Advertência: 180 dias
b) Suspensão: 2 anos
c) Demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição cargo em comissão: 5 anos.
- Termo inicial da contagem: data em que o fato se tornou conhecido (Art. 142, §1º).
Para o STJ, a ciência do fato pode se dar por qualquer autoridade administrativa, não se exigindo que
seja a autoridade competente para apuração do fato. (STJ, MS 11974)
* A questão ainda é polemica

PREVISÃO ESPECÍFICA PARA MPF: prescrição começa a correr do dia em que a falta foi cometida (Art.
245, I, da LC 75/93).

Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às infrações disciplinares capituladas


também como crime (Art. 142, §2º).

APLICAÇÃO DA PENA DE PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA A MEMBRO DO MP EM AÇÃO DE


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. É possível, no âmbito de ação civil pública de improbidade
administrativa, a condenação de membro do MP à pena de perda da função pública prevista no art. 12
da Lei 8.429/92 (STJ, Info/2015).

- INTERRUPÇÃO do prazo prescricional: abertura de sindicância ou instauração de PAD.


A interrupção persistirá até a decisão final dada pela autoridade competente.

Art. 142. (...)


§ 3o A abertura de sindicância ou a instauração de processo disciplinar interrompe a
prescrição, até a decisão final proferida por autoridade competente.
§ 4o Interrompido o curso da prescrição, o prazo começará a correr a partir do dia em que
cessar a interrupção.

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE E A APURAÇÃO DA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA


STF admite “a interrupção prevista no § 3º do art. 142 da Lei 8112 cessa uma vez ultrapassado o
período de 140 dias alusivo à conclusão do processo disciplinar e à imposição da pena-arts. 152 e 167
da referida Lei- voltando a ter curso, na integralidade, o prazo prescricional.” (STF, RMS 23436) No
mesmo sentido: STJ, MS 17515

60 dias (prazo para conclusão do PAD) + 60 dias (prorrogação por igual período permitida) + 20 dias
(prazo para a autoridade julgadora emitir sua decisão) = 140 dias.

pedido de reconsideração e recurso interrompem a prescrição (Art. 111, Lei 8112).

a prescrição deve ser reconhecida pela administração de ofício (Art. 112, Lei 8112).

Apuração da responsabilidade administrativa – sindicância e PAD

Sindicância

Na esfera federal, é possível que cada ente federado trate sobre a matéria de uma maneira específica.
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-ESPÉCIES:
a) SINDICÂNCIA INVESTIGATIVA: meio sumário de apuração de infração disciplinar sem imposição de
penalidade;
- Não exige contraditório e ampla defesa.

b) SINDICÂNCIA INVESTIGATIVA E PUNITIVA: meio sumário de apuração de infração disciplinar e


imposição de penalidades leves.
- Exige contraditório e ampla defesa.
- Penalidades que podem ser impostas: advertência e suspensão até 30 dias

- Consequências da sindicância:
a) Arquivamento: quando não constatar a ocorrência de infração disciplinar ou a identificação da
autoria;
b) Aplicação de penalidades leves: advertência ou suspensão de até 30 dias
c) Instauração de processo administrativo disciplinar: quando se chegar à conclusão de que há a
necessidade de imposição de penalidades mais graves.

- Prazo para conclusão da sindicância: 30 dias.


Possível a prorrogação por igual período, a critério da autoridade superior]

Processo Administrativo Disciplinar - PAD


Lei 8.112
Art. 148. O processo disciplinar é o instrumento destinado a apurar responsabilidade de
servidor por infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as
atribuições do cargo em que se encontre investido.
Art. 154. Os autos da sindicância integrarão o processo disciplinar, como peça informativa da
instrução.
Parágrafo único. Na hipótese de o relatório da sindicância concluir que a infração está
capitulada como ilícito penal, a autoridade competente encaminhará cópia dos autos ao
Ministério Público, independentemente da imediata instauração do processo disciplinar.
Art. 171. Quando a infração estiver capitulada como crime, o processo disciplinar será
remetido ao Ministério Público para instauração da ação penal, ficando trasladado na
repartição.

É possível a execução imediata de penalidade imposta em PAD, ainda que a decisão não tenha
transitado em julgado administrativamente (STJ, MS 19488).

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA

STJ
A sindicância prescinde de contraditório ou ampla defesa, visto ser procedimento
inquisitorial prévio à acusação e ao PAD, fase a tramitar sem a presença obrigatória de
acusados. (atenção: essa conclusão somente ocorrerá no caso de sindicância investigativa, ou
seja, aquela que conclui pelo arquivamento, ou pela instauração do PAD. Se for hipótese de
sindicância investigativa e punitiva, aquela que aplica pena de advertência ou pena de
suspensão de até 30 dias, será necessário respeitar o contraditório e a ampla defesa) (STJ)

é farta a jurisprudência do STJ exigindo a necessidade de prova de prejuízo para o


reconhecimento da nulidade do PAD em caso de eventual irregularidade da peça inaugural.

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Não há nulidade do PAD por vícios meramente formais, quando não for evidente o prejuízo à
defesa, aplicação do princípio pas de nullité sans grief. No caso, não houve prejuízo ao
impetrante com a designação da comissão processante após a ocorrência do fato a ser
apurado.

o servidor ter sido removido para outro órgão ou mesmo entidade da Administração Pública
não tem o condão de deslocar a competência para a sindicância ou o PAD relativos a infração
que tenha surgido quando ainda estava em exercício no órgão ou ente de origem.

A Turma reiterou que é nula a instauração de PAD contra magistrado sem a sua prévia
notificação para se manifestar sobre os termos da representação e da prova contra ele
apresentada

Em observância ao princípio da proporcionalidade, a autoridade deve pôr em confronto: a


gravidade da falta, o dano causado ao serviço público, o grau de responsabilidade do servidor
e seus antecedentes funcionais para, sopesando tudo, demonstrar a justiça da sanção.

absolvição na esfera criminal por insuficiência de provas não interfere na seara da


punição administrativa, tendo, porém, repercussão na instância administrativa apenas
quando a sentença proferida no juízo criminal nega a existência do fato criminoso ou afasta
sua autoria

Em regra haverá independência de instância, sendo que o processamento e condenação no


âmbito administrativo não dependerá do processo no âmbito penal. Mas a jurisprudência
destaca uma EXCEÇÃO, quando a infração funcional for aquela prevista no art. 132, I, L
8112 - crimes funcionais (312 a 326 do CP), a condenação no PAD dependerá de
condenação anterior na seara penal. Se for outra situação que não do art. 132, I, ou seja,
ainda que a infração funcional caracterize crime, não haverá dependência da seara penal.

Ao interpretar o art. 142, § 2º, da L 8112, STF entendeu que, quando o servidor público
comete infração disciplinar também tipificada como crime, somente se aplicará o prazo
prescricional da legislação penal se os fatos também forem apurados em ação penal. (STJ,
MS 15462)

A prescrição se interrompe pela abertura do processo administrativo disciplinar (PAD),


contudo, conforme entende a jurisprudência, essa interrupção não pode ser eterna, sendo
certo que o STJ encontrou o prazo de 140 dias como montante da paralisação, findo o qual a
prescrição volta a correr(prazo máximo para a conclusão do PAD - art. 152, caput, c/c. art.
169 § 2º, L 8112). (STJ, MS 12735)

Conforme o disposto na L 8112, a instauração de PAD interrompe a prescrição até a decisão


final, a ser proferida pela autoridade competente; conforme entendimento do STF, não
sendo o PAD concluído em 140 dias, o prazo prescricional volta a ser contado em sua
integralidade

1. Diante do transito em julgado de sentença penal condenatória que decreta a perda do


cargo publico, a autoridade administrativa tem o dever de proceder à demissão do
servidor ou à cassação da aposentadoria, independentemente da instauração de PAD,
que se mostra desnecessária. Isso porque qualquer resultado a que chegar a apuração
realizada no âmbito administrativo não tera o condão de modificar a força do decreto penal
condenatório. 2. Em consequência, nesses casos, não ha falar em contrariedade ao devido
processo legal e aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, ja
plenamente exercidos nos rigores da lei processual penal, tampouco na ocorrência de
prescrição da pretensão punitiva do Estado ou de bis in idem, sendo esta ultima oriunda de
eventual apuração, na esfera administrativa, do ilícito praticado. 3. Do administrador não se
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pode esperar outra conduta, tendo em vista a possibilidade de, em tese, incidir no crime de
prevaricação ou de desobediência, conforme for apurado, segundo os arts. 319 e 330 do CP. O
fato podera, ainda, constituir ato de improbidade administrativa, conforme art. 11, II, da Lei
8.429/92. (STJ, RMS 22570)

No PAD, cabe a utilização de prova emprestada do juízo criminal, ainda que lá não tenha
se sujeitado ao contraditório (o caso se refere a escutas telefônicas). Info 436: não há
nulidade do PAD por ter-se utilizado de prova emprestada obtida em ação penal em curso,
uma vez que o STF admite a migração da prova criminal excepcional para procedimentos
cíveis (STJ, 3ªS, Info 464: No que se refere à prova emprestada, consignou ser cabível a sua
adoção no PAD consoante a jurisprudência do STF e do STJ, desde que respeitados os
princípios da ampla defesa e do contraditório.)

É assegurado a qualquer servidor público o direito de ser ouvido previamente ao ato


veiculador de sua punição disciplinar, ainda que desta resulte, por aplicação do critério da
verdade sabida, a imposição de sanção administrativa revestida de menor gravidade, como
ocorre com a repreensão e a suspensão funcional por até cinco dias.

Após a aposentadoria, o servidor não pode ser submetido a PAD por proferir declarações
contra autoridades, pois não guarda mais vínculo de subordinação hierárquica com a
Administração.

Com o reconhecimento do Judiciário da legalidade do ato administrativo que culminou com a


demissão do servidor, descabe a renovação do pedido em sede administrativa, mormente por
força da coisa julgada.

A jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido de que a exoneração de


servidores concursados, ainda que em estágio probatório, necessita da observância do
devido processo legal com a instauração de procedimento administrativo, no qual
devem ser assegurados os princípios do contraditório e da ampla defesa. (AgRg no AREsp
594615)

A CGU é o órgão central do sistema de correição do Poder Executivo Federal, daí ter
competência para instaurar e avocar PADs contra os servidores vinculados àquele Poder
(art. 18 da Lei 10.683/03).

A declaração da nulidade do PAD que conduzira à aplicação da pena de advertência não


poderia apoiar-se no disposto no art. 174 da Lei 8.112/90 (revisão em benefício do servidor
que sofrera punição disciplinar). Destacou-se que a situação descrita seria de revisão ex
officio de ato administrativo (L 8112, arts 114 – autotutela da administração – e 169 –
nulidade do PAD com instauração de novo processo). Portanto, a anulação total do processo
original e a sua retomada desde o início, ainda que se refiram aos mesmos fatos, não violara o
princípio do non bis in idem (o 2º processo levou à demissão do servidor).

O prazo de prescrição previsto na lei penal aplica-se às infrações disciplinares capituladas


como crime, levando em conta a pena concreta (CP, arts. 109/110) (art. 142 §2º da L 8112)

A 3ª Seção desta Corte pacificou o entendimento de que o termo inicial do prazo


prescricional da Ação Disciplinar é a data em que o fato se tornou conhecido da
Administração, mas não necessariamente por aquela autoridade específica competente
para a instauração do PAD (art. 142 § 1º da L 8112). Precedentes. 4.Qualquer autoridade
administrativa que tiver ciência da ocorrência de infração no Serviço Público tem o dever de
proceder à apuração do ilícito ou comunicar imediatamente à autoridade competente para
promovê-la, sob pena de incidir no delito de condescendência criminosa (art. 143 da L 8112);
considera-se autoridade, para os efeitos dessa orientação, somente quem estiver investido de
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poder decisório na estrutura administrativa, ou seja, o integrante da hierarquia superior da


Administração Pública.

conforme precedentes, o trânsito em julgado de sentença penal absolutória é o marco


inicial para contagem do prazo prescricional da ação que busca a anulação do ato de
demissão do autor, daí não se poder falar em prescrição no caso.

Novo julgamento do PAD ofende o devido processo legal, por não encontrar respaldo na L
8112, que prevê sua revisão tão somente quando constatado vício insanável ou houver
possibilidade de abrandamento da sanção disciplinar aplicada ao servidor público (REsp
1216473)

a absolvição criminal do impetrante, recorrente, por negativa de autoria é fato


superveniente que corrobora a assertiva no mandamus de que as provas e circunstâncias
apuradas no decorrer do processo administrativo disciplinar (PAD) não comportam um juízo
de certeza a respeito da conduta homicida que lhe foi imputada, o que, inclusive, culminou na
sua expulsão da corporação militar antes mesmo de ser prolatada a sentença criminal.
Asseverou que, nesse contexto, a teor do art. 462 do CPC, o fato superveniente passa a
influir na solução do litígio e deve ser considerado pelo tribunal competente para o
julgamento, sendo certo que essa regra processual não se limita ao juízo de primeiro grau,
visto que a tutela jurisdicional em qualquer grau de jurisdição deve solucionar a lide na
forma como se apresenta no momento do julgamento.

Depois de cumprida a primeira punição pelo servidor público, é inadmissível uma


segunda sanção mais gravosa pelos mesmos motivos, em razão da instauração de novo
processo administrativo disciplinar (PAD), por anulação do PAD anterior (caso em que o 1º
PAD foi anulado pela participação de servidor não estável na comissão disciplinar).

1. Anote-se, por fim, ser possível ao Judiciário examinar a motivação do ato que impõe pena
disciplinar ao servidor, isso com o desiderato de averiguar se existem provas suficientes
da prática da infração ou mesmo se ocorre flagrante ofensa ao princípio da
proporcionalidade. 2. No caso de pena disciplinar de demissão, é cabível ao Poder Judiciário
perquirir acerca da motivação do ato à luz dos princípios norteadores da Administração
Pública, máxime quanto à proporcionalidade da pena. (STJ, MS 14453)

portaria que deflagra o PAD não necessita descrever pormenorizadamente os fatos sob
apuração, o que somente é imprescindível por ocasião do indiciamento do servidor, após a
instrução do processo administrativo. Ou seja, é prescindível essa providência na fase
inaugural do PAD.

É cabível o uso excepcional de interceptação telefônica em PAD, desde que seja observado no
âmbito administrativo o devido processo legal, o contraditório e ampla defesa, bem como
haja autorização do Juízo Criminal e com observância das diretrizes da Lei 9.296/1996. (MS
14797 e MS 16146)

Apenas o presidente da Comissão (e não os demais membros) precisarão ser ocupantes de


cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao
do indiciado. Aos demais membros basta ter cargo efetivo. (STJ, MS 14797).

Em processo administrativo disciplinar não é considerada comunicação válida a remessa de


telegrama para o servidor público recebido por terceiro.

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A anulação parcial do PAD para adequar a penalidade aplicada ao servidor (caso de revisão),
consoante pareceres do órgão correspondente, ensejando aplicação de sanção mais grave
ofende o devido processo legal e a proibição da reformatio in pejus.
ATENÇÃO: O Processo Administrativo Disciplinar dos servidores públicos federais somente
poderá ser anulado quando constatada a ocorrência de vício insanável (art. 169, caput,
da Lei 8112), caso em que cabe a reformatio in pejus;
Pode também ser revisto, quando apresentados fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de
justificar a inocência do servidor punido ou a inadequação da penalidade aplicada (art. 174,
caput), sendo que a revisão da reprimenda somente será cabível quando favorecer o
acusado:

A autoridade competente até pode discordar da comissão processante, só que, pra isso, deve
motivar a discordância em provas constantes dos autos. E, no caso concreto, isso não
teria ocorrido porque a autoridade competente, ao aplicar a demissão, e não a suspensão que
foi sugerida, não a fundamentou em provas coligidas nos autos. Então, para o STJ, houve
desproporção na aplicação da sanção e uma afronta direta a L 8112, aos arts. 128 e 168.

STF
SV 5: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a constituição

Súm 19/STF: É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no mesmo


processo em que se fundou a primeira.

Decidiu-se que CNJ pode investigar, apurar a conduta de magistrados, selecionando os casos
mais relevantes, mais notórios e não precisaria esperar a decisão da Corregedoria estadual.
Mesmo que a Corregedoria estadual arquive o PAD, o CNJ pode atuar. Se o arquivamento do
PAD, na Corregedoria estadual, tivesse uma eficácia bloqueadora da atuação do CNJ, chegar-
se-ia à impunidade. Não foi pra isso que o CNJ foi criado.
Preliminar de nulidade pelo fato de o julgamento não ter sido presidido pelo Presidente do
STF: o ministro do STF pode fazer delegações, é natural que ele eventualmente se ausente em
determinados momentos, nos casos, por exemplo, de férias, licenciamentos, impedimentos.
Então, é possível que num colegiado a atuação da presidência seja delegada
momentaneamente a outras autoridades.
Análise de provas em RE e REsp. Casos de afastamento da S. 7 do STJ: tem havido uma certa
constância de decisões do STF e do STJ no sentido de anular decisões no âmbito de PAD que
são máximas (demissão ou, nesse caso, aposentadoria compulsória) por conta da ausência de
gravidade dos fatos que foram, ali, apurados, sem que isso signifique violação ao comando da
Súmula 07. (STF, Info 653)

Responsabilidade civil do servidor

- Responsabilidade civil é a obrigação que se impõe ao servidor, de reparar o dano causado à


administração, por culpa ou dolo no desempenho de suas funções.
não há para o servidor responsabilidade objetiva ou sem culpa. A sua responsabilidade nasce como
ato culposo e lesivo.
- Responsabilidade civil independe das demais, e se apura na forma do direito privado, perante a
Justiça comum.
- Essencial para a responsabilidade civil é o ato culposo do servidor que cause dano patrimonial à
administração.

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* Sem a ocorrência do dano patrimonial não há fundamento para a responsabilização civil, que visa,
unicamente, à reparação material, pecuniária, da administração, que responde objetivamente perante
terceiros.

REPARAÇÃO DO DANO FRENTE À ADMINISTRAÇÃO:


- Administrativamente, com o desconto em folha, de um a só vez ou parcelado, contanto que o
servidor autorize.
- Judicialmente - caso o servidor não concorde em reparar o dano administrativamente, a
administração deverá recorrer às vias judiciais, quer propondo ação de indenização contra o servidor,
quer executando a sentença condenatória do juízo criminal ou a certidão da dívida ativa.

DESCONTO EM FOLHA: depende ou da anuência do servidor ou de prévio processo administrativo.

DESCONTO. FOLHA. SERVIDOR PÚBLICO. (...) o desconto em folha de pagamento de


servidor público referente a ressarcimento ao erário depende de prévia autorização
dele ou de procedimento administrativo que lhe assegure a ampla defesa e o
contraditório. Precedentes (...). (AgRg no REsp 1116855)

Para o TRF1, apenas com anuência (AC 00009245419974013200).

RESSARCIMENTO AO ERÁRIO E PRESCRIÇÃO


STF recentemente fixou a tese de que a reparação de ilícito civil prescreve (RE 85247 RG)
Tendência de restringir a imprescritibilidade do art. 37 § 5º aos atos de improbidade e ilícitos penais.
Não foram discutidos em profundidade as hipóteses de reparação decorrente de ilícito administrativo.

CABM mudou seu posicionamento (2010) no sentido de defender a prescritibilidade para ação que
busque o ressarcimento ao erário.
FUNDAMENTO:
1) Segurança jurídica;
2) Possibilidade de inviabilizar a defesa do acusado no caso de a ação ser proposta muito tempo
depois dos fatos.

C. DIREITO PENAL

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL. CONCEITO; CARACTERES E FUNÇÃO DO


DIREITO PENAL. RELAÇÕES COM OUTROS RAMOS DO DIREITO. DIREITO PENAL E
POLÍTICA CRIMINAL. CRIMINOLOGIA. CRIMES CONTRA A PESSOA. CRIMES
CONTRA O PATRIMÔNIO.

l) Introdução ao Direito Penal: Conceito, Caracteres e Funções do Direito Penal

O Direito Penal se apresenta como o conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de
infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes – penas e medidas de segurança (Bitencourt).
Por outro lado, apresenta-se como um conjunto de valorações e princípios que orientam a própria
aplicação e interpretação das normas penais (Mir Puig).
Uma das principais características do moderno Direito Penal é seu caráter fragmentário, no sentido de que
representa a ultima ratio do sistema para a proteção daqueles bens e interesses de maior importância
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para o indivíduo e a sociedade à qual pertence (Bitencourt). É ciência cultural normativa, valorativa e
finalista (Magalhães Noronha). Pauta-se na análise do dever-ser, bem como nas consequências jurídicas do
não cumprimento dos preceitos normativos, enquanto as ciências causais-explicativas, como a
Criminologia e a Sociologia Criminal, preocupam-se com a análise da gênese do crime, das causas da
criminalidade, numa interação entre crime, homem e sociedade (Bitencourt) .

m) Funções Do Direito Penal

a) proteção dos bens jurídicos mais relevantes; b) instrumento de controle social; c) garantia dos cidadãos
contra o arbítrio estatal; d) disseminação ético-social de valores; e) simbólica na mente dos cidadãos e
governantes (hipertrofia do direito penal); f) motivadora de comportamento conforme a norma; g)
promocional de transformação social.
Princípio da intervenção mínima (ultima ratio) – a criminalização de uma conduta só se legitima se
constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico.

n) Relações com outros Ramos do Direito

Autonomia do Direito Penal em relação aos outros ramos do Direito – Independência das instâncias cível,
criminal e administrativa.
Relação com o Direito constitucional: a CF é a primeira manifestação legal da política penal. As regras e
princípios constitucionais são os parâmetros de legitimidade das leis penais e delimitam o âmbito de sua
aplicação. Princípios da anterioridade da lei penal, da irretroatividade etc.
Relação com os direitos humanos: Declaração Universal dos Direitos do Homem e Convenção Americana
de Direitos Humanos, consagram princípios hoje reproduzidos na CRFB/88.
Relação com o Direito Administrativo: é administrativa a função de punir. Essa relação se evidencia com a
tarefa de prevenção e investigação de crimes pelas Polícias, bem como a execução da sanção penal,
missões reservadas à administração Pública. Além disso, punem-se crimes contra a administração
(utilização de conceitos), a perda do cargo é efeito da condenação etc.
Relação como Direito Processual Penal: é íntima. O Direito Penal precisa do direito processual, porque
este último permite verificar, no caso concreto, se concorrem os requisitos do fato punível.
Relação com o Direito Processual Civil: este ramo fornece normas ao processo penal, de maneira
subsidiária.
Relação com o D. Internacional Público: denomina-se direito internacional penal. Tem por objetivo a luta
contra as infrações internacionais. Entrariam nessa categoria de ilícitos os crimes de guerra, contra a paz,
contra a humanidade etc. Tem-se procurado estabelecer uma jurisdição Penal Internacional e o grande
avanço foi a criação do TPI, instituído pelo Tratado de Roma, ratificado pelo Brasil (Decreto
4.388/2002).São importantes nesse ponto, inclusive, a menção aos institutos da extradição e cooperação
internacional em matéria penal.
Relação com o D. Internacional Privado: denomina-se direito penal internacional. Há a necessidade de
normas jurídicas para resolver eventual aplicação simultânea de leis penais (nacional e estrangeira).
Relação com o direito civil: um mesmo fato pode caracterizar um ilícito penal e obrigar a uma reparação
civil; a diferença entre ambos é de grau, não de essência. Tutela ainda o Direito Penal o patrimônio, ao
descrever delitos como furto, roubo, estelionato etc. Ademais, muitas noções constantes das definições de
crimes são fornecidas pelo Direito Civil, como as de "casamento", "erro", "ascendente", "descendente",
"cônjuge" etc., indispensáveis para a interpretação e aplicação da lei penal.
Relação com o Direito Comercial: tutela a lei penal institutos como o cheque, a duplicata, o conhecimento
de depósito ou warrant, etc. Determina ainda a incriminação da fraude no comércio e tipifica, em lei
especial, os crimes falimentares.

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Relação com o Direito do Trabalho: principalmente no que tange aos crimes contra a Organização do
Trabalho (arts. 197 a 207 do CP) e aos efeitos trabalhistas da sentença penal (arts. 482, d, e parágrafo
único, e 483, “e” e “f” da CLT).
Relação com o Direito Tributário: quando contém a repressão aos crimes de sonegação fiscal (Lei n°
8.137/90).

o) Direito Penal e Política Criminal

A política criminal é a ciência ou a arte de selecionar bens (ou direitos), que devem ser tutelados jurídica
e penalmente, e escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que iniludivelmente implica a crítica dos
caminhos e valores já eleitos. A política criminal guia as decisões tomadas pelo poder político ou
proporciona os argumentos para criticar essas decisões. O bem jurídico tutelado, escolhido como decisão
política, é o componente teleológico que nos indica o fim da norma. (Zaffaroni). Conforme Basileu Garcia, é
a “ponte entre a teoria jurídico-penal e a realidade”.

p) Criminologia

A criminologia é a disciplina que estuda a questão criminal do ponto de vista biopsicossocial, ou seja,
integra-se com as ciências da conduta aplicadas às condutas criminais (Zaffaroni).
Estuda os fenômenos e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente e sua conduta
delituosa e a maneira de ressocializá-lo. Nesse sentido, há uma distinção precisa entre essa ciência e o
Direito Penal. Enquanto neste a preocupação básica é a dogmática, ou seja, o estudo das normas enquanto
normas, da Criminologia se exige um conhecimento profundo do conjunto de estudos que compõem a
enciclopédia das ciências penais.
Criminologia crítica: a Criminologia não deve ter por objeto apenas o crime e o criminoso como
institucionalizados pelo direito positivo, mas deve questionar também os fatos mais relevantes, adotando
uma postura filosófica. Assim, cabe questionar os fatos "tais como a violação dos direitos fundamentais do
homem, a infligência de castigos físicos e de torturas em países não democráticos; a prática de terrorismo
e de guerrilhas; a corrupção política, econômica e administrativa".

q) Princípios Básicos do Direito Penal

Princípio da alteridade
 desenvolvido por Roxin, assim como o da bagatela
 corolário do principio da ofensividade
 só posso incriminar quando lesionar bem jurídico de outrem e não o seu próprio (suicídio não é
punido)
 defende-se sua utilização para usuário de drogas

Decisão do STJ. O caso foi julgado em novembro de 2009 e a ementa foi publicada logo em seguida. Ei-la: "A
Turma concedeu a ordem de habeas corpus para trancar a ação penal instaurada em desfavor de ex-
prefeito denunciado pela suposta prática do crime de poluição ambiental (art. 54, § 3º, da Lei n.
9.605/1998). In casu, o tribunal a quo consignou que a autoridade emissora da medida de controle
ambiental descumprida seria o próprio paciente, a quem, na condição de representante máximo do
município, caberia tomar providências para fazer cessar o dano e recuperar a área atingida. Contudo,
segundo a Min. Relatora, essa conclusão conduz ao entendimento de que o acusado seria, ao mesmo
tempo, o agente e o sujeito passivo mediato do delito, o que contraria característica inerente ao direito
penal moderno consubstanciada na alteridade e na necessidade de intersubjetividade nas relações
penalmente relevantes. Com essas considerações, reconheceu a atipicidade da conduta por ausência de
elementar do tipo. Precedentes citados: HC 95.941-RJ, DJe 30/11/2009, e HC 75.329-PR, DJ 18/6/2007" (HC
81175).
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Princípio da intervenção mínima: Estabelece que o Direito Penal só deve preocupar-se com a proteção dos
bens mais importantes e necessários à vida em sociedade. Impõe-se a necessidade de limitar ou, se
possível, eliminar o arbítrio do legislador no que diz respeito ao conteúdo das normas penais
incriminadoras (Bitencourt).
Princípio da lesividade: impossibilidade de atuação do Direito Penal caso um bem jurídico de terceira
pessoa não esteja efetivamente atacado. 4 funções: a) proibir a incriminação de uma atitude interna; b)
proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor; c) proibir a incriminação
de simples estados ou condições existenciais; d) proibir a incriminação de condutas desviadas que não
afetem qualquer bem jurídico.
Princípio da adequação social: Segundo Welzel, o DP tipifica somente condutas que tenham certa
relevância social; caso contrário, não poderiam ser delitos. Deduz-se consequentemente, que há condutas
que por sua “adequação social” não podem ser criminosas.
Princípio da fragmentaridade: Direito penal não protege todos os bens jurídicos de violações – só os mais
importantes. E dentre estes, não acolhe todas as lesões – intervém só nos casos de maior gravidade,
“protegendo um fragmento de interesses jurídicos”. Corolário do princípio da intervenção mínima e da
reserva legal.
Princípio da insignificância ou da bagatela: Foi cunhado pela primeira vez por Claus Roxin em 1964, que
voltou a repeti-lo em sua obra de Política criminal, partindo do velho adágio latino mínima non curat
praetor. É causa supralegal de exclusão da tipicidade material, devendo ser valorado através da
consideração global da ordem jurídica (Zaffaroni). É um postulado hermenêutico voltado à
descriminalização de condutas formalmente típicas (Min. Gilmar Mendes).
O princípio da insignificância é baseado apenas no valor patrimonial do bem?
NÃO. Além do valor econômico, existem outros fatores que devem ser analisados e que podem servir para
IMPEDIR a aplicação do princípio. Veja:
 Valor sentimental do bem. Ex: furto de uma bijuteria de baixo valor econômico, mas que pertenceu
a importante familiar falecido da vítima.
 Condição econômica da vítima. Ex: furto de bicicleta velha de uma vítima muito pobre que a
utilizava como único meio de transporte (STJ, HC 217666).
 Condições pessoais do agente. Ex: o STF já decidiu que, se a conduta criminosa é praticada por
policial militar, ela é revestida de maior reprovabilidade, de modo que isso poderá ser levado em
consideração para negar a aplicação do princípio da insignificância (STF, HC 108884)
 Circunstâncias do delito. Ex.1: estelionato praticado por meio de saques irregulares de contas do
FGTS. A referida conduta é dotada de acentuado grau de desaprovação pelo fato de ter sido
praticada mediante fraude contra programa social do governo que beneficia inúmeros
trabalhadores (STF, HC 110845). Ex.3: o modus operandi da prática delitiva - em que o denunciado
quebrou o vidro da janela e a grade do estabelecimento da vítima - demonstra um maior grau de
sofisticação da conduta a impedir o princípio (AgRg nos EDcl no REsp 1377345).
 Consequências do delito. Ex.1: não se aplica o princípio da insignificância ao delito de receptação
qualificada no qual foi encontrado, na farmácia do réu, exposto à venda, medicamento que deveria
ser destinado ao fundo municipal de saúde. Isso porque as consequências do delito atingirão
inúmeros pacientes que precisavam do medicamento (STF, HC 105963).

Requisitos objetivos para aplicação do princípio da insignificância (STF e STJ):


1. Mínima ofensividade da conduta do agente;
2. Nenhuma periculosidade social da ação;
3. Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
4. Inexpressividade da lesão jurídica provocada.

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Requisito subjetivo para a aplicação do princípio


A 5ª Turma do STJ construiu a tese de que, para a aplicação do princípio da insignificância, além do aspecto
objetivo, deve estar presente também o requisito subjetivo. Para o requisito subjetivo estar presente, o
réu não poderá ser um criminoso habitual. Caso o agente responda por outros inquéritos policiais, ações
penais ou tenha contra si condenações criminais, ele não ser beneficiado com a aplicação do princípio da
insignificância por lhe faltar o requisito subjetivo. Nesse sentido: STJ, HC 260375.
É possível a aplicação do princípio da insignificância para réus reincidentes ou que respondam a outros
inquéritos ou ações penais?
NÃO. É a posição que atualmente prevalece, sendo adotada pela 5ª Turma do STJ e pelo STF.

STF: (...) A reiteração delitiva, comprovada pela certidão de antecedentes criminais do paciente,
impossibilita a aplicação do princípio da insignificância. (...) STF. 1ª Turma. HC 109705, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 22/04/2014.

(...) Sentenciados reincidentes na prática de crimes contra o patrimônio. Precedentes do STF no sentido de
afastar a aplicação do princípio da insignificância aos acusados reincidentes ou de habitualidade delitiva
comprovada. (...) (STF. 2° Turma. HC 117083, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/02/2014).
STJ (5ª Turma):

(...) Apesar de não configurar reincidência, a existência de outras ações penais ou inquéritos policiais em
curso é suficiente para caracterizar a habitualidade delitiva e, consequentemente, afastar a incidência do
princípio da insignificância. No caso, há comprovação da existência de outros inquéritos policiais em seu
desfavor, inclusive da mesma atividade criminosa. (...) (AgRg no AREsp 332960)

É possível a aplicação do princípio da insignificância para atos infracionais (STF e STJ).


O princípio da insignificância pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da sentença
condenatória (STF).
Princípio da insignificância e prisão em flagrante
A autoridade policial pode deixar de lavrar a prisão em flagrante sob o argumento de que a conduta
praticada é formalmente típica, mas se revela penalmente insignificante (atipicidade material)? A) 1ª
corrente: SIM. O princípio da insignificância, como vimos, afasta a tipicidade material. Logo, se o fato é
atípico, a autoridade policial pode deixar de lavrar o flagrante. Nesse sentido: Cleber Masson (Direito Penal
esquematizado. Vol. 1. São Paulo: Método, 2014, p. 37); B) 2ª corrente: NÃO. A avaliação sobre a presença
ou não do princípio da insignificância, no caso concreto, deve ser feita pelo Poder Judiciário (e não pela
autoridade policial). É a posição da doutrina tradicional.
Infração bagatelar própria (princípio da insignificância) X Infração bagatelar imprópria (princípio da
irrelevância penal do fato):No primeiro caso, a situação já nasce atípica (material); o agente não deveria
nem mesmo ser processado já que o fato é atípico. Não tem previsão legal no direito brasileiro. No
segundo, por sua vez, a situação nasce penalmente relevante, porém, em virtude de circunstâncias
envolvendo o fato e o seu autor, consta-se que a pena se tornou desnecessária; o agente tem que ser
processado e somente após a análise das peculiaridades do caso concreto, o juiz poderia reconhecer a
desnecessidade da pena. Está previsto no art. 59 do CP.
Crimes nos quais a jurisprudência reconhece a aplicação do princípio da insignificância: a) furto simples
ou qualificado (tudo a depender das circunstâncias do caso concreto); b) crimes ambientais (deve ser feita
uma análise rigorosa, considerando que o bem jurídico protegido é de natureza difusa e protegido
constitucionalmente); c). crimes contra a ordem tributária previstos na Lei n. 8.137/90; d) descaminho (art.
334 do CP).
Qual o valor considerado insignificante nos crimes tributários? É possível aplicar a Portaria MF n. 75/12
que aumentou o parâmetro para R$ 20.000,00?
STJ: NÃO STF: SIM

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O STJ tem decidido que o valor de 20 mil reais, Para o STF, o fato de as Portarias 75 e
estabelecido pela Portaria MF n. 75/12 como limite 130/2012 do Ministério da Fazenda terem
mínimo para a execução de débitos contra a União, NÃO aumentado o patamar de 10 mil reais para 20
pode ser considerado para efeitos penais (não deve ser mil reais produz efeitos penais. Logo, o novo
utilizado como novo patamar de insignificância). valor máximo para fins de aplicação do
São apontados dois argumentos principais: princípio da insignificância nos crimes
i) a opção da autoridade fazendária sobre o que deve ou tributários passou a ser de 20 mil reais.
não ser objeto de execução fiscal não pode ter a força de Precedente: (STF, HC 120617).
subordinar o exercício da jurisdição penal; Vale ressaltar que o limite imposto por essa
ii) não é possível majorar o parâmetro previsto no art. 20 portaria pode ser aplicado de forma retroativa
da Lei n. 10.522/2002 por meio de uma portaria do para fatos anteriores à sua edição
Ministro da Fazenda. A portaria emanada do Poder considerando que se trata de norma mais
Executivo não possui força normativa passível de benéfica (STF, HC 122213).
revogar ou modificar lei em sentido estrito.

Crimes nos quais a jurisprudência NÃO reconhece a aplicação do princípio da insignificância: a) roubo, b)
lesão corporal, c) tráfico de drogas, d) moeda falsa e outros crimes contra a fé pública, e) contrabando, f)
estelionato contra o INSS, g) estelionato envolvendo o FGTS e o seguro-desemprego, h) crime militar, i)
violação a direito autoral.
Crimes em que há maior divergência na jurisprudência: crimes cometidos por prefeito (STF admite e STJ
não admite); porte de droga para consumo pessoal (STF admite e STJ não admite); apropriação indébita
previdenciária (STF NÃO admite e STJ admite); crime contra a administração pública (Há decisões da 2ª
Turma do STF admitindo; STJ NÃO admite); manter rádio comunitária clandestina, de baixa potência (STF já
admitiu; STJ NÃO admite).
Princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CFRB/88): pretende que o tratamento penal seja
totalmente voltado para características pessoais do agente a fim de que possa corresponder aos fins que
se pretende alcançar com a pena ou com as medidas de segurança. Presente nas fases de cominação,
aplicação e execução.
Princípio da proporcionalidade: exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre
o bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que alguém pode ser privado
(gravidade da pena). Toda vez que, nessa relação, houver um desequilíbrio acentuado, haverá
desproporção. Ou seja, a pena deve ser proporcional à gravidade do fato. Decorrência da individualização
da pena.
Princípio da culpabilidade: possui três orientações básicas: a) integra o conceito analítico de crime; b)
serve como princípio orientador, medidor, para a aplicação da pena; c) e serve como princípio que afasta a
responsabilidade penal objetiva.
Princípio da confiança: bastante difundido no direito penal espanhol, é requisito para a existência de ato
típico, determinando que todos devem esperar das demais pessoas comportamentos compatíveis com o
ordenamento jurídico (usado pela jurisprudência nos crimes praticados na direção de veículo automotor).
Princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX, CFRB/88):proíbe a retroatividade da lei penal, a criação de crimes e
penas por costumes, as incriminações vagas e indeterminadas, bem como o emprego da analogia para
criar crimes.
Legalidade formal: corresponde à obediência aos trâmites procedimentais previstos pela CF para que
determinado diploma legal possa vir a fazer parte do ordenamento jurídico.
Legalidade material: pressupõe não apenas a observância das formas e procedimentos impostos pela CF,
mas também, e principalmente, o seu conteúdo, respeitando-se as suas proibições e imposições para a
garantia dos direitos fundamentais por ela previstos.
Fundamentos do princípio da legalidade:

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 Político: exigência da vinculação do executivo e do judiciário às leis o que impede o exercício do


poder punitivo com base no livre arbítrio.
 Democrático: parlamento é responsável pela criação dos tipos definidores dos crimes.
 Jurídico: uma lei prévia e clara produz efeito intimidativo.
Medida provisória – não pode criar crimes nem penas, mas STF admite para favorecer o réu (RE
254818/PR).
Princípio da limitação das penas: A CF prevê, em seu art. 5º, XLVII, que não haverá penas de morte (salvo
em caso de guerra declarada), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento ou
cruéis.(dignidade da pessoa humana)
Princípio da responsabilidade pessoal: somente o condenado é que terá de se submeter à sanção que lhe
foi aplicada pelo Estado.

r) Crimes Contra a Pessoa


s) Homicídio

HOMICÍDIO DOLOSO SIMPLES:


ART. 121 MATAR ALGUÉM:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

TIPO NORMAL somente tem elementos objetivos


SUJEITO ATIVO: pode ser praticado por qualquer pessoa (CRIME COMUM). O tipo não exige qualidade ou
condição especial do agente.
HOMICÍDIO PRATICADO POR IRMÃOS XIFÓPAGOS / SIAMESES
Homicídio praticado por um dos irmãos, que ainda estão unidos, o que deve ser feito?
Questão: Se um deles matar uma pessoa, já que cada um pode ter uma ação, os dois respondem pelo
crime?
Resposta: Havendo o conflito entre o estado de liberdade do inocente (gêmeo que não praticou a ação),
prevalece o seu direito de liberdade. (cria-se uma impunidade em benefício ao inocente).
DOUTRINA DIVERGENTE: a) absolvição do irmão que matou; b) suspensão da condenação. Crítica de Lênio
Streck ao exemplo dos gêmeos xifópagos: www.conjur.com.br/2012-mar-22/senso-incomum-pan-
principiologismo-sorriso-lagarto
SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa.
Para que haja o crime, não é necessário que se trate de vida viável, bastando a prova de que a vítima
nasceu viva e com vida estava no momento da conduta criminosa do agente.
O que acontece quando se quer matar apenas um irmão xifópago, mas acaba matando os dois? Responde
por qual crime?
Responde por duplo homicídio, com dolo direto de primeiro grau, em relação ao irmão que se queria
matar, e dolo direto de segundo grau em relação ao outro, pois o resultado para o irmão que não se quer
matar é certo e necessário. Concurso formal impróprio.
ATENÇÃO:MATAR O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 121 – CP Art. 29 – Lei 7179/83
SEM MOTIVAÇÃO POLÍTICA COM MOTIVAÇÃO POLÍTICA
VAI A JÚRI NÃO VAI A JÚRI
Art. 29 - Matar qualquer das autoridades referidas no art. 26.

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Pena: reclusão, de 15 a 30 anos


Quando o sujeito passivo for o Presidente da República,
Presidente do Senado, Presidente da Câmara, Presidente do
STF e a morte ocorrer por motivo político, o agente responde
pelo artigo 29 da Lei de Segurança Nacional (L 7170/83).
COMPETÊNCIA JUSTIÇA FEDERAL.

Art. 121 TIRAR A VIDA DE ALGUÉM


VIDA INTRA UTERINA VIDA EXTRA-UTERINA
ABORTO HOMICÍDIO
INFANTICÍDIO
QUANDO SE INICIA O PARTO?
1ª CORRENTE: 2ª CORRENTE 3ª CORRENTE
Com o desprendimento total das Inicia-se o parto desde as dores Com a dilatação do colo do
entranhas maternas. típicas do parto. útero.
QUESTÃO: “A gestante que quer realizar o aborto, expulsa o feto. Este morre 6 meses depois em
consequência da expulsão, (em decorrência da manobra abortiva), por qual crime ela responde, aborto
ou homicídio?
Como a ação que gerou a morte foi o aborto, responde por aborto.
CUIDADO: No Brasil a eutanásia é crime; é homicídio ceifar a vida, ainda que esta não seja uma
vida viável. No entanto, a ortotanásia não é considerada crime, pois existe resolução do CFM que a
regulamenta (Resolução CFM 1.805/2006).

CRIME DE AÇÃO / EXECUÇÃO LIVRE:


 AÇÃO / OMISSÃO
 MEIOS DIRETOS / INDIRETOS

CAPUT PUNIDO A TÍTULO DE DOLO


É animus necandi ou animus occidendi. A conduta do agente é dirigida finalisticamente a causar a morte
de um homem.
a) DOLO DIRETO
b) DOLO EVENTUAL
OBS: Os motivos do crime não excluem o dolo, podendo configurar um privilégio ou uma qualificadora.
CONSUMAÇÃO: COM A MORTE ENCEFÁLICA. Art. 3º, Lei 9439/97.
É POSSÍVEL TENTATIVA DE HOMICÍDIO, pois o crime é plurissubsistente, admite fracionamento da
execução.
É POSSÍVEL A TENTATIVA NO CASO DO DOLO EVENTUAL?
Existe vontade tanto no dolo direto quando no dolo eventual. Sendo assim ambos admitem a tentativa
(maioria da doutrina e jurisprudência)
O HOMICÍDIO SIMPLES PODE SER HEDIONDO?
SIM, QUANDO PRATICADO EM ATIVIDADE TÍPICA DE GRUPO DE EXTERMÍNIO, AINDA QUE POR UM SÓ
AGENTE.

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Obs.: Prática típica do grupo de extermínio é matar sem saber quem está matando, mas mata-se por
saber das raízes da pessoa, do seu grupo social, sexual, preferências religiosas Ex. Chacina (Candelária,
Vigário Geral).
QUANTAS PESSOAS SÃO NECESSÁRIAS PARA SE FALAR EM UM GRUPO DE EXTERMÍNIO?
FERNANDO CAPEZ PARA ALEXANDRE DE ALBERTO SILVA FRANCO. Como o
2 pessoas MORAIS legislador não deu um conceito para o
3 PESSOAS. grupo de extermínio = grupo =
GRUPO ≠ PAR associação criminosa
GRUPO≠ BANDO Por analogia à associação criminosa são
3 também o número de pessoas
Melhor doutrina

O diferencial do grupo de extermínio é que o crime pode ser praticado por um só dos indivíduos do grupo.
O GRUPO DE EXTERMÍNIO é impessoal em relação a vítima, mas determinado em relação a sua classe
social etnia, raça, cor, opção sexual, etc.. Ex: Skinhead – matar homossexuais.
QUEM É QUE DECIDE SE O HOMICÍDIO FOI PRATICADO EM GRUPO DE EXTERMINIO? OS JURADOS OU O
JUIZ PRESIDENTE? (questão de prova)
POSIÇÃO MAJORIÁRIA - a verificação deste fato cabe ao juiz togado não devendo ser apresentado quesito
específico aos jurados, já que a matéria diz respeito à aplicação da pena e não aos fatos. Contudo, uma 2ª
CORRENTE, do Prof. Alberto Silva Santos (minoria), não concorda e acha que é o júri quem decide.
DIFERENÇA ENTRE O GRUPO DE EXTERMÍNIO ≠ GENOCÍDIO.
GENOCÍDIO Lei 2889/56 - INTENÇÃO DESTRUIR NO TODO OU EM PARTE – EXTERMINAR
Quem com a intenção de destruir no todo ou em parte, grupo nacional, ético, religioso, pratica genocídio.
ATENÇÃO: No genocídio, não necessita a existência de um grupo. Uma única pessoa pode realizar o crime.
O GENOCÍDIO NÃO NECESSARIAMENTE ENVOLVE O HOMICÍDIO, já que pode se praticar o genocídio
evitando que nasçam novas crianças da raça/grupo ou efetuando a transferência forçada de crianças do
grupo para outro grupo.
Genocídio de índios: competência da JF. Pelo juiz singular, salvo se houver concurso formal impróprio com
o homicídio (aí vai para o júri).

HOMICÍDIO PRIVILEGIADO

CASO DE DIMINUIÇÃO DE PENA

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima (homicídio emocional), o JUIZ PODE
reduzir a pena de um sexto a um terço.

TRÊS PRIVILÉGIOS:
1. PRATICAR O CRIME IMPELIDO POR MOTIVO DE RELEVANTE VALOR SOCIAL.
Ex. Matar um perigoso bandido que estava causando medo na comunidade.
2. IMPELIDO POR MOTIVO DE RELEVANTE VALOR MORAL.

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Matar para atender interesses particulares, porém ligados aos sentimentos de compaixão, misericórdia ou
piedade. Ex: eutanásia.
3. HOMICÍDIO EMOCIONAL: sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima. REQUISITOS:
a) DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO;
ATENÇÃO: DOMÍNIO É ABSORVENTE E DURADOURO
≠ Mera influência - passageiro e transitório
Influência é minorante do artigo 65 III.
b) IMEDIATIDADE DA REAÇÃO (Será imediata a reação sem intervalo temporal)
c) INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA
Não precisa corresponder a um crime, basta ser injusto.
Pode ser dirigida a 3ºs e não necessariamente à vítima. (Pai que mata estuprador da filha)

O PRIVILÉGIO SE COMUNICA A CO-AUTORES E PARTÍCIPES? Como não é elementar, não se comunica.


Busato, no entanto, entende que a solução mais justa passará pela comunicabilidade em algumas
situações (p.ex., farmacêutico sensibilizado que presta auxílio na prática de eutanásia).
É circunstância, embora Busato considere elementar.
TEM NATUREZA SUBJETIVA OU OBJETIVA? Subjetiva.
ATENÇÃO: Crime privilegiado “TECNICAMENTE” deveria ter novo mínimo e máximo de penas. Ou seja, o
tratamento dado no nosso ordenamento ao chamado homicídio privilegiado” é, na realidade, de um
homicídio com causa de diminuição de pena.

HOMICÍDIO PASSIONAL (crimes praticados com amor, paixão)


A morte por ciúmes e a vingança pelo abandono da pessoa amada não constituem homicídio privilegiado.

HOMICÍDIO QUALIFICADO
SEMPRE HEDIONDO (são considerados hediondos desde 1994)
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga II - por III - com emprego IV - à traição, de V - para assegurar
ou promessa de motivo fútil; de veneno, fogo, emboscada, ou a execução, a
recompensa, ou explosivo, asfixia, mediante ocultação, a
por outro motivo tortura ou outro dissimulação ou outro impunidade ou
torpe; meio insidioso ou recurso que dificulte vantagem de outro
cruel, ou de que ou torne impossível a crime:
possa resultar defesa do ofendido;
perigo comum;
MOTIVO TORPE MOTIVO MEIO CRUEL MODO SURPRESA FIM ESPECIAL
FÚTIL
SUBJETIVO SUBJETIVO OBJETIVO OBJETIVO SUBJETIVO

Art. 121 § 2º
I – POR MOTIVO TORPE;
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CASO CLÁSSICO DE INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA.


INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA é o método de ANALOGIA É uma forma de integração integrar é
interpretação. É buscar o sentido da lei. suprir lacunas. Ela consiste em uma situação fática
Há uma fórmula casuística, exemplificativa na não prevista em lei, em que aplica-se dispositivo
própria lei, seguida de uma fórmula genérica. É legal previsto para o caso semelhante, desde que a
POSSÍVEL. lacuna seja involuntária.
SÓ É POSSÍVEL QUANDO EM BENEFÍCIO DO RÉU.

CONCURSO DE AGENTES
MONOSUBJETIVO PLURISUBJETIVO
PODE SER PRATICADO POR 1 OU + AGENTES SOMENTE PODE SER PRATICADO POR
NÚMERO PLURAL DE AGENTES
REGRA GERAL DOS HOMICÍDIOS EXCEÇÃO: HOMICÍDIO MERCENÁRIO
Necessariamente teremos o mandante
e o executor. Quem paga e quem mata
mediante pagamento.

A QUALIFICADORA DO MOTIVO TORPE É SOMENTE DO EXECUTOR OU ELA SE APLICA AO MANDANTE


TAMBÉM?
1ª CORRENTE: A torpeza é elementar subjetiva 2ª CORRENTE: A torpeza é circunstância
comunicável. subjetiva incomunicável.
Prevalece na jurisprudência, inclusive do STJ. Prevalece na doutrina moderna.
APESAR DE QUE AS CIRCUNSTANCIAS Rogério Grecco.
SUBJETIVAS NÃO SE COMUNICAREM
Seria perfeitamente possível o
mandante não estar agindo com
ganância, motivos agnósticos.
Ex. Pagar alguém para realizar eutanásia,
Matar o estuprador da filha.

QUAL A NATUREZA DA PAGA E PROMESSA RECOMPENSA? Prevalece que deve ter NATUREZA
ECONÔMICA.
Mas matar por recompensa sexual é torpe do mesmo jeito, não é o exemplo do homicídio mercenário
mas é torpe.
E SE O AGENTE NÃO RECEBER O PAGAMENTO?
O homicídio continua sendo qualificado. O que importa é a motivação do agente.

II - POR MOTIVO FÚTIL;


CONCEITO: Quando o móvel do crime apresenta real desproporção entre o delito e a sua causa moral. É a
pequeneza do motivo. Há um abismo entre a motivação e o comportamento extremo levado a efeito pelo
agente. (Ex. briga no trânsito)

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ATENÇÃO:
NÃO CONFUNDIR MOTIVO FÚTIL COM MOTIVO INJUSTO.
A injustiça não qualifica o homicídio, todos os crimes são injustos.
HOMICÍDIO SEM MOTIVO É QUALIFICADO?
1ª CORRENTE: 2ª CORRENTE:
Se o motivo fútil qualifica, deve qualificar Motivo fútil não pode ser equiparado a
também a ausência de motivos. Fernando ausência de motivos, querer abranger a
Galvão assevera que, de fato, não existe ausência de motivos seria uma analogia
homicídio sem motivo, mas admite que há em malan parten, ferindo o princípio da
quem mate tão somente para “satisfazer a legalidade.Bittencourt. Essa é a posição
vontade de matar”. que vem sendo adotada pelo STJ (HC
152548).

Se o agente pratica o crime por causa de ciúmes, haverá homicídio qualificado por motivo fútil? NÃO
(posição majoritária).
Um homicídio pode ser fútil (inciso II) e torpe (inciso I) ao mesmo tempo? NÃO. Um homicídio nunca
poderá ser fútil e torpe ao mesmo tempo. Se for fútil (bobo), não pode ser torpe (repugnante).
É possível que uma pessoa pratique homicídio qualificado por motivo fútil agindo com dolo eventual?
SIM. Nesse sentido: STF. 2ª Turma. HC 111442/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 28/8/2012.
É possível que o homicídio seja qualificado por motivo fútil (art. 121, § 2º, II) e, ao mesmo tempo,
privilegiado (art. 121, § 1º)? NÃO. A jurisprudência somente admite que um homicídio seja qualificado e
privilegiado ao mesmo tempo se esta qualificadora for de natureza objetiva (ex: meio cruel, surpresa). Se a
qualificadora for subjetiva, entende-se que ela é incompatível com o privilégio. Entedimento do STF.
INFORMATIVO 716 DO STF: Não há motivo fútil se o início da briga entre vítima e autor é fútil, mas ficar
provado que o homicídio ocorreu realmente por conta de eventos posteriores que decorreram dessa briga
inicial (posição agressiva da vítima, por exemplo). Caso concreto julgado pelo STF (início de uma briga em
mesa de bilhar, porém que decorreu de discussão e ameaça laçada pela vítima em momento posterior).

III - COM EMPREGO DE VENENO, FOGO, EXPLOSIVO, ASFIXIA, TORTURA OU OUTRO MEIO INSIDIOSO OU
CRUEL, OU DE QUE POSSA RESULTAR PERIGO COMUM;
A exemplo do inciso I, o inciso III também traz a interpretação analógica.
Para que o homicídio seja qualificado pelo emprego de veneno é indispensável que a vítima desconheça a
circunstância de estar sendo envenenada. CHAMADO DE MEIO INSIDIOSO. Neste caso o agente irá
responder pelo homicídio causado com o uso de MEIO CRUEL, ou seja, o fato de obrigar a vítima a tomar
o veneno o qualifica como meio cruel de execução.

MEIO INSIDIOSO
Marido que dá para mulher substância com veneno, e após ela ingerir oferece o antídoto para ela. Não
será um arrependimento eficaz, pois ele teria que desistir antes dela tomar o veneno.
EMPREGO DE FOGO OU EXPLOSIVO:
Também é qualificado, pois se trata de meio extremamente cruel de execução podendo colocar inclusive
em risco um número indeterminado de pessoas.
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EMPREGO DE ASFIXIA:
É o impedimento, por qualquer meio, da passagem do ar pelas vias respiratórias ou pulmões da pessoa,
acarretando a falta de oxigênio no sangue, podendo, dependendo do tempo de suspensão da respiração,
causar a morte. Meio mecânico: Enforcamento, afogamento, estrangulamento, esganadura ou sufocação.
Meio tóxico: produzido por gazes deletérios.

TORTURA:
HOMICÍDIO QUALIFICADO PELA TORTURA ≠ TORTURA SEGUIDA PELA MORTE
No homicídio qualificado pela tortura, o sujeito Na tortura qualificada pela morte, o dolo é de
age com animus necandi, com vontade de tortura, mas acaba por causar morte
matar. A tortura é um MEIO PARA COMETER O Crime preterdoloso. Para Bittencourt é qualificado
HOMICÍDIO. pelo resultado.
A vontade não é matar, mas sim torturar.
Lei 9455/97, artigo 1º § 3º.
Art. 1º Constitui crime de tortura:
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez
anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a
dezesseis anos

É POSSÍVEL TORTURA SEGUIDA DE HOMICÍDIO?


Sim porque você tortura, você pretende uma confissão, depois de obtida a confissão, elimina-se o réu.
Responderá por TORTURA EM CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO COM HOMICÍDIO qualificado para
facilitar a ocultação de outro crime.

IV - À TRAIÇÃO, DE EMBOSCADA, OU MEDIANTE DISSIMULAÇÃO OU OUTRO RECURSO QUE DIFICULTE


OU TORNE IMPOSSÍVEL A DEFESA DO OFENDIDO;

INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA.
PREMEDITAÇÃO QUALIFICA O CRIME DE HOMICÍDIO?
Não, ela por si só não qualifica.
MATAR UMA PESSOA IDOSA JÁ SERVE PARA QUALIFICAÇÃO DO HOMICÍDIO POR CAUSA DE UM RECURSO
QUE TORNOU IMPOSSÍVEL A DEFESA DO OFENDIDO?
NÃO. A idade da vítima, tenra ou avançada, por si só não qualifica o crime, pois não é recurso procurado
ou utilizado pelo agente, mas sim uma característica inerente à vítima.

TRAIÇÃO EMBOSCADA DISSIMULAÇÃO


Ataque desleal, repentino e Pressupõe ocultamento do Fingimento, ocultando o agente a sua
inesperado. agente, que ataca a vítima intenção hostil, apanhando a vítima
com surpresa. desatenta e indefesa.

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HOMICÍDIO QUALIFICADO PELA CONEXÃO

V - PARA ASSEGURAR A EXECUÇÃO, A OCULTAÇÃO, A IMPUNIDADE OU VANTAGEM DE OUTRO CRIME

Mata-se pensando em outro crime, neste caso TEREMOS A CONEXÃO.


CONEXÃO TELEOLÓGICA Agente mata para assegurar a execução de crime futuro
Ex. Matar segurança de uma pessoa para estuprá-la.
PARA INCIDÊNCIA DA CONEXÃO TELEOLÓGICA, INCLUSIVE, O CRIME FUTURO QUE FOMENTOU O
HOMICÍDIO NÃO TEM QUE ACONTECER.
CONEXÃO CONSEQUENCIAL Mata para assegurar vantagem impunidade ou ocultação de crime passado.
CONEXÃO OCASIONAL QUALIFICA O CRIME DE HOMICÍDIO?
Conexão ocasional não é matar para assegurar crime, é matar por ocasião de um crime.
CONEXÃO OCASIONAL Não há vínculo finalístico entre o crime e o homicídio. NÃO QUALIFICA O
HOMICÍDIO.
PARA QUALIFICAR POR UMA DAS CONEXÕES ACEITAS, O CRIME FUTURO OU PRETÉRITO NÃO TEM QUE
SER OU TER SIDO PRATICADO PELO HOMICIDA, podendo ter autoria de pessoa diversa.
MATAR PARA ASSEGURAR A VANTAGEM DE CONTRAVENÇÃO PENAL INCIDE A QUALIFICADORA?
NÃO INCIDE ESTA QUALIFICADORA, mas pode incidir o motivo fútil ou torpe.

É POSSÍVEL O HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO?


TECNICAMENTE É INCORRETO DIZER QUE ELE É DUPLAMENTE QUALIFICADO, pois ele será qualificado por
um dos motivos e as demais circunstâncias serão consideradas: (2 correntes) Como circunstâncias judiciais
ou como agravantes.
Exemplo: Matar por motivo torpe, meio cruel e a traição. à art. 121 § 2º I, II, IV.
O INCISO I SERVIRÁ DE QUALIFICADORA E a pena JÁ IRÁ VARIAR DE 12 A 30 ANOS, JÁ OS DOIS OUTROS
INCISOS DEVEM SERVIR PARA QUE?
1ª Corrente: Servem de circunstâncias judiciais 2ª Corrente:
desfavoráveis para incidência no patamar de 12 a 30 Devem figurar como agravantes, pois todas
anos, PENA BASE. estão previstas no artigo 61 do CP.
STF: Apesar da disputa doutrinária e jurisprudencial,
VEM ADOTANDO ESTA CORRENTE.

É POSSÍVEL A EXISTÊNCIA DE UM HOMICÍDIO PRIVILEGIADO E QUALIFICADO?


SIM é perfeitamente possível a existência de um homicídio qualificado privilegiado, desde que a
qualificadora tenha natureza objetiva e não haja incompatibilidade entre as circunstâncias (STF). Busato
entende que a questão da comunhão entre privilégio e qualificadora seja resolvida topicamente (p.ex.,
mandante de homicídio que atua por relevante valor moral ou social).
O homicídio qualificado privilegiado não é considerado crime hediondo. Doutrina majoritária. O privilégio
acaba por considerar o motivo da realização do crime como nobre o que incompatibiliza com a
característica do crime hediondo.

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QUANDO HOUVER INCOMPATIBILIDADE ENTRE QUALIFICADORA E PRIVILÉGIO QUAL DEVERÁ


PREVALECER? Prevalece o privilégio, porque uma vez reconhecido o privilégio, perde-se a razão das
qualificadoras subjetivas. É POR ORDEM DE VOTAÇÃO - Primeiro se vota a tese da defesa e depois a da
acusação.

§ 6º - A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12720/12)

O §6º, por sua vez, é uma novidade trazida recentemente pela Lei 12.720/12.A pena do homicídio doloso é
majorada de 1/3 até a metade se o crime for praticado por MILÍCIA PRIVADA ou por GRUPO DE
EXTERMÍNIO.
Antes da Lei 12.720/12, o fato de o homicídio ser praticado em atividade típica de grupo de extermínio
(não falava em milícias) servia “somente” para agravar a pena-base (circunstância considerada pelo juiz) e
para etiquetá-lo, quando simples, como hediondo, sofrendo os consectários da Lei nº 8.072/90. Tal
circunstância, portanto, escapava da apreciação dos jurados. Agora, com o advento da Lei 12.720/10, a
circunstância de o crime ter sido (ou não) praticado em atividade típica de grupo de extermínio (ou milícia
privada) passou a ser majorante de pena (causa de aumento) e, como tal, dependerá de reconhecimento
por parte dos juízes leigos (jurados). Deve ser observado, porém, que a Lei 8.072/90 não foi alterada, não
abrangendo no rol dos crimes hediondos o homicídio (simples) praticado por milícia privada.

FEMINICÍDIO
O feminicídio consiste em inovação trazida pelo legislador por meio da Lei 13.104/2015.

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
(...)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela
Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

O grande destaque dessa figura típica está no fato de o crime ser cometido por razões de ser a vítima do
sexo feminino.
É importante diferenciar o femicídio do feminicídio. Genericamente, o agente que mata uma mulher
pratica o crime de homicídio. O femicídio consiste em matar uma mulher. O feminicídio, que foi objeto da
alteração legislativa (Lei 13.104/2015), consiste em matar uma mulher por razões de condição de sexo
feminino, ou seja, o crime foi motivado pelo fato de ser a vítima uma mulher.
O elemento subjetivo do tipo está para além do dolo. Este ainda é o animus mecandi, mas o fim de agir
consiste nas razões de ser a vítima do sexo feminino.
Segundo Gabriel Habib, o inciso VI é desnecessário, pois o fato de matar uma mulher por razões de
condição de sexo feminino é um homicídio por motivo torpe, portanto, era desnecessário se preocupar
com inovação legal no tema.
A Lei 13.104/2015 pode ser considerada uma lei “reativa”, pois consiste numa reação do legislador a um
problema recorrente, tendo ela a finalidade de afastar eventuais problemas, tida como uma solução a
determinados problemas sociais.
O § 2º-A traz uma norma penal explicativa.

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A redação do inciso I do § 2º-A foi inadequada, sendo necessário realizar uma interpretação teleológica
para se verificar que a “violência doméstica e familiar” prevista no inciso deve ser aquela direcionada à
mulher.

§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até ½ durante a gestação ou nos três meses posteriores ao
parto. No que tange a este último prazo, não há uma finalidade dogmática na fixação do prazo, tendo o
legislador se valido de prazo considerando o prazo de influência do estado puerperal.

I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

Acerca da dosimetria da pena, no inciso I do § 7º não incidirão as agravantes do art. 61, II, “f” e “h”, do CP,
sob pena de incorrer em bis in idem.

II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015)

No inciso II do § 7º não incidirão as agravantes do art. 61, II, “h”, do CP, sob pena de incidência em bis in
idem, bem como a majorante do § 4º, segunda parte (Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de
1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta)
anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)).
Como o legislador não fez qualquer distinção, a parte final do inciso II do § 7º abrange qualquer deficiência,
física ou mental. Os conceitos de deficiência devem ser buscados na Lei 7859/89, que regulou os crimes
praticados contra deficientes físicos.
O crime de feminicídio abrange o transexual?
Essa questão já vinha sendo discutida no que se refere ao estupro. A norma incriminadora do feminicídio é
uma norma restritiva, logo, devemos dar a ela uma interpretação restritiva, de modo que não se deve
inserir o transexual na esfera de proteção do feminicídio, pois o transexual, em geral, não é morto por
estar na condição de mulher, mas pela opção de mudar da condição de homem para a de mulher.

III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

Na presença de ascendente ou descendente, entenda-se presença física. Entretanto, considerando que o


legislador permite até o interrogatório por meio virtual, é um ponto a se observar a possibilidade de a
presença prevista no inciso III ser também virtual.
Essa lei do feminicídio também gera a discussão acerca da possibilidade de o homicídio ser a um só tempo
qualificado/privilegiado, tendo a maioria da doutrina se posicionado, regra geral, pela possibilidade de tal
configuração se as qualificadoras forem de natureza objetiva. A qualificadora do inciso VI do § 2º do art.
121 do CP tem natureza subjetiva, portanto, sendo de cunho subjetivo, será incompatível com o privilégio.
Atenção ao princípio da irretroatividade de lei penal mais severa. Embora a lei do feminicídio traga mais do
mesmo, pois a hipótese nela prevista já era abrangida pelo homicídio por motivo torpe, as causas de
aumento nela previstas no § 7º, por serem mais severas não retroagirão.

O homicídio cometido contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus familiares)
passa a ser considerado como homicídio qualificado, se o delito tiver relação com a função exercida

A Lei n. 13.142/2015 acrescentou o inciso VII ao § 2º do art. 121 do CP prevendo o seguinte:

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Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
(...)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela,
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Requisito 1: Vítima do Crime

Autoridades ou agentes do art. 142 da CF/88


O art. 142 da CF/88 trata sobre as Forças Armadas (Marinha, Exército ou Aeronáutica).

Autoridades ou agentes do art. 144 da CF/88


O art. 144, por sua vez, elenca os órgãos que exercem atividades de segurança pública. O caput desse
dispositivo tem a seguinte redação:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Situação dos guardas municipais


Como se vê pela redação do caput do art. 144 da CF/88, não há menção às guardas municipais. Diante
disso, indaga-se: o homicídio praticado contra um guarda municipal no exercício de suas funções pode
ser considerado qualificado, nos termos do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP? Essa nova qualificadora
aplica-se também para os guardas municipais?
SIM. A qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP aplica-se em situações envolvendo guardas
municipais. Chega-se a essa conclusão tanto a partir de uma interpretação literal como teleológica.
O inciso VII fala em “autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal”.
Repare que o legislador não restringiu a aplicação da qualificadora ao caput do art. 144 da CF/88.
As guardas municipais estão descritas no art. 144, não em seu caput, mas sim no § 8º, que tem a seguinte
redação:

Art. 144 (...) § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens,
serviços e instalações, conforme dispuser a lei.

Desse modo, a interpretação literal do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP não exclui a sua incidência no
caso de guardas municipais. Vale aqui aplicar o vetusto brocardo jurídico “ubi lex non distinguir nec nos
distinguere debemus”, ou seja, “onde a lei não distingue, não pode o intérprete distinguir”.
Ressalte-se que não se trata de interpretação extensiva ou ampliativa contra o réu. A lei fala no art. 144 da
CF/88, sem qualquer restrição ou condicionante. O art. 144 é composto não apenas pelo caput, mas

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também por parágrafos. Ao se analisar todo o artigo para cumprir a remissão feita pela lei (e não apenas
ocaput) não se está ampliando nada, mas apenas dando estreita obediência à vontade do legislador.
Além disso, há razões de natureza teleológica que justificam essa interpretação.
O objetivo do legislador foi o de proteger os servidores públicos que desempenham atividades de
segurança pública e que, por estarem nessa condição, encontram-se mais expostos a riscos do que as
demais pessoas. Os guardas municipais, por força de lei que deu concretude ao § 8º do art. 144 da CF/88,
estão também incumbidos de inúmeras atividades relacionadas com a segurança pública. Refiro-me à Lei
n.° 13.022/2014 (Estatuto das Guardas Municipais), que prevê, dentre as competências dos guardas
municipais, a sua atuação em prol da segurança pública das cidades (arts. 3º e 4º da Lei).
Vale ressaltar que essa também é a posição de Rogério Sanches em excelente artigo sobre o tema, cuja
leitura recomendo: Lei 13142/15: Breves comentários. www.portalcarreirajuridica.com.br/noticias/nova-
lei-13-142-15-breves-comentarios-por-rogerio-sanches-cunha
Agentes de segurança viária
O mesmo raciocínio acima penso que pode ser aplicado para os agentes de segurança viária, disciplinados
no § 10 do art. 144 da CF/88:
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
seu patrimônio nas vias públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em
lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou
entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.
Servidores aposentados
Não estão abrangidos pelo inciso VII do § 2º do art. 121 do CP os servidores aposentados dos órgãos de
segurança pública, considerando que, para haver essa inclusão, o legislador teria que ter sido expresso já
que, em regra, com a aposentadoria o ocupante do cargo deixa de ser autoridade, agente ou integrante do
órgão público.

Familiares das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança pública


Também será qualificado o homicídio praticado contra cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até 3º grau das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança pública.
Quando se fala em cônjuge ou companheiro, isso inclui, tanto relacionamentos heteroafetivos como
homoafetivos. Assim, matar um companheiro homoafetivo do policial, em retaliação por sua atuação
funcional, é homicídio qualificado, nos termos do art. 121, § 2º, VII, do CP.
A expressão “parentes consanguíneos até 3º grau” abrange:
• Ascendentes (pais, avós, bisavós);
• Descendentes (filhos, netos, bisnetos);
• Colaterais até o 3º grau (irmãos, tios e sobrinhos).

O filho adotivo está abrangido na proteção conferida por este inciso VII? Se um filho adotivo do policial é
morto como retaliação por sua atuação funcional haverá homicídio qualificado com base no art. 121, §
2º, VII, do CP?
O tema certamente suscitará polêmica na doutrina e jurisprudência, mas penso que não.
Existem três espécies de parentesco no Direito Civil:
a) parentesco consanguíneo ou natural (decorrente do vínculo biológico);
b) parentesco por afinidade (decorrente do casamento ou da união estável);
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c) parentesco civil (decorrente de uma outra origem que não seja biológica nem por afinidade).

De acordo com essa classificação, a adoção gera uma espécie de parentesco civil entre adotando e
adotado. O filho adotivo possui parentesco civil com seu pai adotivo.
O legislador, ao prever o novel inciso VII cometeu um grave equívoco ao restringir a proteção do
dispositivo às vítimas que sejam parentes consanguíneas da autoridade ou agente de segurança pública,
falhando, principalmente, por deixar de fora o parentesco civil.
Tivesse o legislador utilizado apenas a expressão “parente”, sem qualquer outra designação, poderíamos
incluir todas as modalidades de parentesco. Ocorre que ele, abraçando a classificação acima explicada,
escolheu proteger apenas os parentes consanguíneos.
É certo que a CF/88 equipara os filhos adotivos aos filhos consanguíneos, afirmando que não poderá haver
tratamento discriminatório entre eles. Isso está expresso no § 6º do art. 227:

§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Desse modo, a restrição imposta pelo inciso VII é manifestamente inconstitucional. No entanto, mesmo
sendo inconstitucional, não é possível “corrigi-la” acrescentando, por via de interpretação, maior punição
para homicídios cometidos contra filhos adotivos. Se isso fosse feito, haveria analogia in malam partem, o
que é inadmissível no Direito Penal.
Parentes por afinidade também estão fora
Não estão abrangidos os parentes por afinidade, ou seja, aqueles que a pessoa adquire em decorrência do
casamento ou união estável, como cunhados, sogros, genros, noras etc. Assim, se o traficante mata a sogra
do Delegado que o investigou não cometerá o homicídio qualificado do art. 121, § 2º, VII, do CP. A
depender do caso concreto, poderá ser enquadrado como motivo torpe (art. 121, § 2º, I, do CP).

Resumindo as vítimas que estão abrangidas pela nova qualificadora

O homicídio será QUALIFICADO se for cometido contra as seguintes vítimas:

AUTORIDADE, AGENTE OU INTEGRANTE da(o) (s):


• Forças Armadas (Marinha, Exército ou Aeronáutica);
• Polícia Federal;
• Polícia Rodoviária Federal;
• Polícia Ferroviária Federal;
• Polícias Civis;
• Polícias Militares;
• Corpos de Bombeiros Militares;
•Guardas Municipais*;
• Agentes de segurança viária*;
• Sistema Prisional (agentes, diretores de presídio, carcereiro etc.);
• Força Nacional de Segurança Pública.

OU

CÔNJUGE, COMPANHEIRO ou PARENTE consanguíneo até 3º grau de algumas das pessoas acima listadas.
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Requisito 2: Relação bom a Função

Não basta que o crime tenha sido cometido contra as pessoas acima listadas. É indispensável que o
homicídio esteja relacionado com a função pública desempenhada pelo integrante do órgão de segurança
pública.
Assim, três situações justificam a incidência da qualificadora:
• O indivíduo foi vítima do homicídio no exercício da função.
Ex: PM que, ao fazer a ronda no bairro, é executado por um bandido.
• O indivíduo foi vítima do homicídio em decorrência de sua função.
Ex: Delegado de Polícia é morto pelo bandido como vingança por ter prendido a quadrilha que ele chefiava.
• O familiar da autoridade ou agente foi vítima do homicídio em razão dessa condição de familiar de
integrante de um órgão de segurança pública.
Ex.: filho de Delegado de Polícia Federal é morto por organização criminosa como retaliação por ter
conduzido operação policial que apreendeu enorme quantidade de droga.
De outro lado, não haverá a qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP se o crime foi praticado
contra um agente de segurança pública (ou contra seus familiares), mas este homicídio não tiver qualquer
relação com sua função.
Ex.: policial civil, em seu período de folga, está em uma boate e paquera determinada moça que ele não
viu estar acompanhada. O namorado da garota, com ciúmes, saca uma arma e dispara tiro contra o
policial. Não haverá a qualificadora do inciso VII, mas o crime, a depender do conjunto probatório, poderá
ser qualificado com base no motivo fútil (inciso II).
Em suma, a novel qualificadora não protege a pessoa do militar, do policial, do delegado etc. A nova
qualificadora tutela a FUNÇÃO desempenhada por esses indivíduos. Esse é o bem jurídico protegido.

Outras observações

Tentado ou consumado
Incidirá a qualificadora tanto nos casos de homicídio tentado, como consumado.

Elemento subjetivo
É indispensável que o homicida saiba (tenha consciência) da função pública desempenhada e queira
cometer o crime contra o agente que está em seu exercício ou em razão dela ou ainda que queira praticar
o delito contra o seu familiar em decorrência dessa atividade.

Ex: João, membro de uma organização criminosa, está “jurado de morte” pela organização criminosa rival
e, por isso, anda sempre armado e atento. João não sabia que estava sendo investigado pela Polícia
Federal, inclusive sendo acompanhado por dois agentes da PF à paisana. Determinado dia, ao perceber
que estava sendo seguido, João, pensando se tratar dos membros da organização rival, mata os dois
policiais. Não incidirá a qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP porque ele não tinha dolo de
matar especificamente os policiais no exercício de suas funções. A depender do conjunto probatório, João
poderá, em tese, responder por homicídio qualificado com base no motivo torpe (inciso I), desde que não
fique caracterizada a legítima defesa putativa.

Natureza da qualificadora
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A qualificadora do inciso VII é de natureza subjetiva, ou seja, está relacionada com a esfera interna do
agente (ele mata a vítima no exercício da função, em decorrência dela ou em razão da condição de familiar
do agente de segurança pública).
Ademais, não se trata de qualificadora objetiva porque nada tem a ver com o meio ou modo de execução.
Por ser qualificadora subjetiva, em caso de concurso de pessoas, essa qualificadora não se comunica aos
demais coautores ou partícipes, salvo se eles também tiverem a mesma motivação. Ex: João, por vingança,
deseja matar o Delegado que lhe investigou e, para tanto, contrata o pistoleiro profissional Pedro, que não
se importa com os motivos do mandante, já que seu intuito é apenas lucrar com a execução; João
responderá por homicídio qualificado do art. 121, § 2º, VII e Pedro por homicídio qualificado mediante
paga (art. 121, § 2º, I); a qualificadora do inciso VII não se estende ao executor, por força do art. 30 do CP:
Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares
do crime.

Impossibilidade de a qualificadora do inciso VII ser conjugada com o privilégio do § 1º :


O § 1º do art. 121 do CP prevê a figura do homicídio privilegiado nos seguintes termos:
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um
sexto a um terço.

A jurisprudência até admite a existência de homicídio privilegiado-qualificado. No entanto, para isso, é


necessário que a qualificadora seja de natureza objetiva. No caso do novo inciso VII a qualificadora é
subjetiva. Logo, não é possível que seja conjugada com o § 1º.

Quadro-resumo:

NOVA QUALIFICADORA DO HOMICÍDIO

Requisito 1: Requisito 2:
Condição da vítima Relação com a função
1) autoridade, agente ou integrante da(o)(s):
• Forças Armadas;
• Polícia Federal;
O homicídio • Polícia Rodoviária Federal;
será • Polícia Ferroviária Federal;
QUALIFICADO • Polícias Civis;
se tiver sido • Polícias Militares; ...desde que o homicídio tenha sido praticado
cometido • Corpos de Bombeiros Militares; no exercício das funções ao lado listadas ou em
contra... • Guardas Municipais*; decorrência dela.
• Agentes de segurança viária*;
• Sistema Prisional
• Força Nacional de Segurança Pública.

2) cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até

3º grau de algumas das pessoas acima listadas.

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HOMICÍDIO CULPOSO

§ 3º SE O HOMICÍDIO É CULPOSO:
Pena - detenção, de um a três anos.

Admite suspensão condicional do processo.

CONCEITO: Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta imprudência, negligência ou
imperícia, deixa de empregar a atenção ou diligência de que era capaz, provocando com sua conduta, o
resultado lesivo morte previsto (culpa consciente) ou previsível (inconsciente), porém jamais aceito ou
querido.

IMPRUDÊNCIA NEGLIGÊNCIA IMPERÍCIA


É a precipitação, afoiteza, agindo É a ausência de precaução. É a falta de aptidão técnica para o
o agente sem os cuidados que o A negligência é negativa, exercício de arte ou profissão.
caso requer. omissão.
AFOITEZA / PRECIPITAÇÃO Falta de precaução. É um Falta de aptidão técnica p/ o
Conduta positiva praticada pelo deixar de fazer aquilo que a exercício de arte ofício ou profissão.
agente que, por não observar o diligência normal impunha. Ligada a aptidão profissional do
seu dever de cuidado, causa agente. É o caso do agente que em
resultado lesivo que era um determinado momento apesar
previsível. de ser capacitado para tal ato age
em desacordo com o “natural” e
causa o dano.

Tipo aberto.
A ESFERA DA CULPA inclui a imperícia, a negligência e a imprudência, mas deve o julgador verificar
também a CONDUTA do agente que produziu o resultado.
NÃO RESPONDE PELA TENTATIVA CULPOSA.
PREVISIBILIDADE CONDICIONADA AO DEVER DE CUIDADO. QUEM NÃO PODE PREVER NÃO TEM A SEU
CARGO O DEVER DE CUIDADO.

PREVISIBILIDADE OBJETIVA: É a substituição do agente PREVISIBILIDADE SUBJETIVA: Analisam-se


por um homem médio para procurar saber se com a as limitações e as experiências daquela
substituição o resultado não ocorresse saberia que o pessoa cuja previsibilidade está se aferindo
resultado é previsível. em caso concreto.
Se mesmo assim o fato continua ocorrendo, conclui-se
que o caso extrapola as condições normais e não lhe pode
ser atribuído.

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CARACTERÍSTICA FUNDAMENTAL DO DELITO CULPOSO:


AFERIÇÃO DA PREVISIBILIDADE DO AGENTE: Se o fato escapar totalmente à sua previsibilidade, o resultado
não lhe pode ser atribuído, mas sim ao caso fortuito ou a força maior.
EXISTE COMPENSAÇÃO DE CULPAS NO DIREITO PENAL? Não. Mas a culpa concorrente da vítima pode
atenuar a responsabilidade do agente.

CÓDIGO DE TRÂNSITO – TRATAMENTO DIFERENCIADO


Não admite suspensão condicional do processo.
O TRATAMENTO DIFERENCIADO PARA CRIME CULPOSO NÃO VIOLARIA A PROPORCIONALIDADE E A
ISONOMIA?
COMO SERIA POSSÍVEL QUE O MESMO CRIME (DESVALOR DO RESULTADO SER O MESMO) POSSUA
PENAS DIFERENTES?
Se for analisada a questão somente sob a ótica do desvalor do resultado seria inconstitucional, pois o
desvalor do resultado é o mesmo.

CONSTITUCIONALIDADE: É analisada sobre o desvalor da conduta. Porque o desvalor da conduta é mais


grave no trânsito, a conduta no trânsito negligente gera muito mais perigo do que a conduta fora do
trânsito.

PODERIA O JUIZ APLICANDO A PROPORCIONALIDADE APLICAR A PENA DO CP AO HOMICÍDIO CULPOSO


PRATICADO NA CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR?
OBS: SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO.
STJ e STF não admitem que o poder judiciário a título de princípio da isonomia aplique pena distinta
daquela cominada na lei, pois estaria ocorrendo uma invasão de poderes.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA.

§ 4o. No homicídio culposo, a pena é aumentada de ...sendo doloso o homicídio, a pena é


1/3, se o crime resulta de inobservância de regra aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente praticado contra pessoa menor de 14
deixa de prestar imediato socorro à vítima, não (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
procura diminuir as consequências do seu ato, ou
foge para evitar prisão em flagrante...
Homicídio culposo Homicídio doloso

MAJORANTES PARA O HOMICÍDIO CULPOSO


INOBSERVÂNCIA DE REGRA TÉCNICA PARA O EXERCÍCIO DE PROFISSÃO ARTE OU OFÍCIO.
O AGENTE TEM O CONHECIMENTO. MAS NÃO O OBSERVA NO CASO CONCRETO.
≠ imperícia - não domina as técnicas para o exercício de profissão, arte ou ofício
Ex. Médico que tem o conhecimento, mas não observa as normas técnicas.
SOMENTE PROFISSIONAL

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DEIXAR DE PRESTAR SOCORRO:


Quando é possível fazer.
Não incide o artigo 135 do CP (crime autônomo) evitando-se o bis in idem.

QUANDO NÃO SERÁ APLICADA ESTA CAUSA DE AUMENTO DE PENA?


1º Morte instantânea da vítima
2ª Quando o agente não tem condições de prestar o socorro mediato ou imediato.
Medo de represálias;
3º Socorro prestado por 3ºs, pois seria incabível condenar o médico que não presta socorro, se o socorro já
foi prestado por uma 3ª pessoa que estava mais apta a ajudar e com maiores recursos.
NÃO EXCLUI A MAJORANTE O AGENTE QUE ACHA QUE O SOCORRO DELE É INÚTIL. STF: Ao paciente não
cabe proceder à avaliação quanto à eventual ausência de utilidade de socorro.

NÃO DIMINUIU AS CONSEQÜÊNCIAS DOS SEUS ATOS

FUGIR PARA EVITAR O FLAGRANTE


O agente demonstra insensibilidade moral, ausência de escrúpulo bem como prejudica a investigação.
(maioria da doutrina não enxerga nenhuma inconstitucionalidade). CRITICA: Sanches - ofende o direito de
não produzir prova contra si mesmo.

MAJORANTES DO HOMICÍDIO DOLOSO


CRIME PRATICADO CONTRA A PESSOA:
 Pessoa menor de 14 anos
 Pessoa maior de 60 anos.

INDISPENSÁVEL QUE A IDADE DO OFENDIDO INGRESSE NA ESFERA DE CONHECIMENTO DO AGENTE, SOB


PENA DE RESPONSABILIZÁ-LO OBJETIVAMENTE.

PERDÃO JUDICIAL
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da
infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
PERDÃO JUDICIAL NÃO SE APLICA A NENHUMA MODALIDADE DE HOMICÍDIO DOLOSO.
PERDÃO JUDICIAL: É o instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e antijurídico
por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de aplicar, nas hipóteses taxativamente previstas em
lei o preceito sancionador cabível, levando-se em consideração determinadas circunstâncias que
concorram para o evento.
Hipótese de falta do interesse estatal de punir.

PERDÃO JUDICIAL PERDÃO DO OFENDIDO


NATUREZA JURÍDICA: Causa extintiva da Natureza jurídica: é causa extintiva de
punibilidade, punibilidade.

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Unilateral. Bilateral
O PERDÃO JUDICIAL SÓ PODE SER CONCEDIDO AO Quem é que concede o perdão? É o ofendido,
TÉRMINO DO PROCESSO, PELO MAGISTRADO. (querelante - ação penal privada).
APÓS O RECONHECIMENTO DO HOMICÍDIO NO CURSO DA AÇÃO PENAL PRIVADA. DEPENDE
CULPOSO (posição que prevalece). DE ACEITAÇÃO.

QUAL O MOMENTO DA CONCESSÃO DO PERDÃO JUDICIAL?


O perdão judicial extingue a punibilidade, sendo assim a maioria da doutrina entende que o perdão judicial
somente pode ser concedido ao final do processo, na sentença. Ou seja, antes de se declarar o perdão
judicial é necessário declarar que o agente praticou um ilícito culpável (Posição Tradicional)
NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA DE CONCESSÃO PERDÃO JUDICIAL
1ª CORRENTE: condenatória. 2ª CORRENTE: declaratória extintiva da
Interrompe a prescrição. punibilidade. (STJ)
Serve como título executivo judicial Não interrompe a prescrição.
Pressupõe o devido processo legal, não cabe na fase Não serve como título executivo judicial
de inquérito policial. Cabe na fase de inquérito policial.
CRÍTICA AO 3º REQUISITO
Por um sujeito comprovadamente culpado
PERDÃO JUDICIAL - É RECONHECIMENTO DE CULPA
INDISPENSÁVEL DEVIDO PROCESSO LEGAL

CPP Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá
absolver sumariamente o acusado quando verifica: IV - extinta a punibilidade do agente.

ATENÇÃO: PERDÃO JUDICIAL NÃO CABE NO CASO DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA PORQUE, EM VEZ DE
RECONHECER A ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA, ESTAR-SE-IA RECONHECENDO CULPA SUMARIAMENTE.
CRÍTICA: A súmula 18 STJ estaria errada, o CP teria adotado a 1ª corrente, no Art. 120 - A sentença que
conceder perdão judicial, (apesar de condenatória), não será considerada para efeitos de reincidência.
Este artigo somente tem razão de existir se a sentença é condenatória, se ela é declaratória extintiva não
teria razão de ser deste artigo 120.

CABE PERDÃO JUDICIAL NO HOMICÍDIO CULPOSO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO?

Somente é cabível quando há expressa previsão legal. Obs: Perdão judicial nos crimes de trânsito – estava
previsto no art. 300, que foi vetado pelo Presidente da República levando a discussão sobre continuar ou
não cabendo o perdão judicial nos delitos culposos de trânsito. As razões do veto fazem com que se
entenda pela aplicação do perdão judicial. RESUMO: É ADMITIDO PERDÃO JUDICIAL NO CÓDIGO DE
TRÂNSITO BRASILEIRO

EUTANÁSIA, DISTANÁSIA E ORTOTANÁSIA

EUTANÁSIA DISTANÁSIA ORTOTANÁSIA

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Homicídio piedoso, no qual o Conhecida, também, como Suspensão de medicamentos ou


agente antecipa a morte da Obstinação terapêutica, meios artificiais de vida de um
vítima, acometida de uma prolongando, com sofrimento, a vida paciente em coma irreversível e
doença incurável, com a dos pacientes, que são mantidos considerado em “morte
finalidade, quase sempre, de vivos por meio de aparelhos, sem encefálica”.
se abreviar-lhe algum tipo de qualquer chance de sobrevivência
sofrimento. caso os aparelhos sejam desligados.
Geralmente é praticada a Nesta conduta não se prolonga a vida
pedido ou com consentimento propriamente dita, mas o processo de
da própria vítima. morte.

t) Participação em Suicídio

ART. 122 - INDUZIR OU INSTIGAR ALGUÉM A SUICIDAR-SE OU PRESTAR-LHE AUXÍLIO PARA QUE O FAÇA:

PENA - RECLUSÃO, DE DOIS A SEIS ANOS, SE O SUICÍDIO SE CONSUMA; OU RECLUSÃO, DE UM A TRÊS ANOS,
SE DA TENTATIVA DE SUICÍDIO RESULTA LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE.

SUICÍDIO: É eliminação VOLUNTÁRIA e DIRETA da própria vida. O crime é instigar, induzir ou prestar
auxílio. Hungria noticia que nas ordenações de São Luís, fazia-se processo ao cadáver do suicida,
resultando no confisco dos bens do morto. No entanto, sob a perspectiva da moderna política criminal,
seria inútil, do ponto de vista preventivo, a ameaça contra quem já não sente sequer o instintivo medo
da morte.
SUJEITO ATIVO: Crime comum. SE O AGENTE (quem induz, auxilia e instiga,) PRATICAR ATOS
EXECUTÓRIOSRESPONDE POR HOMICÍDIO.
PERGUNTA PRÁTICA:
“A” induz “B” a auxiliar “C” a se matar. C morre.
QUE CRIME PRATICOU A? “A” PRATICOU PARTICIPAÇÃO NO 122 - SIM É PERFEITAMENTE POSSÍVEL A
PARTICIPAÇÃO.
SUJEITO PASSIVO:
Qualquer PESSOA CAPAZ pode ser vítima.
ATENÇÃO: Vítima, com capacidade de discernimento de autodeterminação. Caso não tenha estaremos
diante de um homicídio; DEVE SER DETERMINADO
QUAL CRIME PRATICA QUEM INDUZ VÍTIMA INDETERMINADA A SUICIDAR-SE?
É FATO ATÍPICO.

CONDUTAS:
3 Núcleos
INDUZ INSTIGA AUXÍLIO:
Criar uma ideia até então Reforçar a ideia existente Prestar assistência material. Não pode
inexistente. PARTICIPAÇÃO MORAL haver intervenção em atos executórios
(matar), pois neste caso seria 121.

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CRIME PLURINUCLEAR OU DE AÇÃO MÚLTIPLA


Se praticado mais de um núcleo dentro do mesmo contexto fático o crime continua sendo único. O juiz é
que vai considerar a pluralidade de núcleos na fixação da pena base.
A CONDUTA DO AGENTE DEVE DE ALGUMA MANEIRA EXERCER INFLUÊNCIA NA VONTADE DA VÍTIMA.
EXISTE AUXÍLIO POR OMISSÃO? A única possibilidade de omissão cabível seria a de natureza imprópria,
(comissiva-omissiva) – DEVER JURÍDICO DE AGIR.
Relação de direito que crie a custódia e assistência em face do suicida, tinha o dever jurídico de impedi-
lo. Garantidor que poderia agir para evitar o resultado.

ATENÇÃO: COAÇÃO EXERCIDA PARA EVITAR UM SUICÍDIO NÃO É CRIME DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.

NÃO EXISTE A MODALIDADE CULPOSA.


TIPO SUBJETIVO
SOMENTE A TÍTULO DE DOLO DIRETO OU EVENTUAL.
CONSUMAÇÃO:
DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA BITENCOURT
Mirabete
Nelson Hungria PREVALECE
INDUZIMENTO / INSTIGAÇÃO / INDUZIR / INSTIGAR /AUXILIA INDUZIR / INSTIGAR /AUXILIA
AUXILIO
CONSUMA-SE É EXECUÇÃO DO CRIME É EXECUÇÃO DO CRIME
PUNIBILIDADE CONSUMAÇÃO: RESULTADOS:
Condicionada: RESULTADOS: Morte: 2 a 6 anos
Morte: 2 a 6 anos Morte: 2 a 6 anos CONSUMAÇÃO
Lesão Grave: 1 a 3 anos Lesão Grave: 1 a 3 anos Lesão Grave: 1 a 3 anos
Resultados Condicionam a Resultado naturalístico TENTATIVA
Punibilidade necessário para a
consumação.
Induzimento à Morte. Induzimento à Morte. Induzimento à Morte.
Art. 122 consumado + punível Art. 122 Consumado (2 a 6) Art. 122 Consumado (2 a 6)
Induzimento à Lesão Grave Induzimento à Lesão Grave Induzimento à Lesão Grave
Art. 122 consumado + Punível Art. 122 Consumado (1 a 3) ART. 122 TENTADO
TENTATIVA SUI GENERIS
Induzimento: Não morre - não Induzimento - Não morre - não Induzimento - Não morre - não sofre
sofre lesão grave. sofre lesão grave. lesão grave.
Art. 122 consumado (não FATO ATÍPICO. FATO ATÍPICO.
punível)
OBS: O CRIME NÃO ADMITE ELE ADMITE A TENTATIVA DO 122.
TENTATIVA. EQUÍVOCO:
Tentativa é juridicamente SUICÍDIO NÃO É CRIME.
impossível. Seria uma punição de tentativa de

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CRITICA: Trata os resultados Não admite tentativa, é um forma sui generes sem precisar do
como condição objetiva de exemplo de crime material auxilio do artigo 14.
punibilidade. E a condição plurissubsistente que não .. SE DA TENTATIVA DE SUICÍDIO
objetiva de punibilidade não admite a tentativa. RESULTA LESÃO CORPORAL DE
fazem parte do dolo. NATUREZA GRAVE...
Condição objetiva de
punibilidade é exterior a
vontade do agente, e neste
caso o agente tem vontade
destes resultados.

PARÁGRAFO ÚNICO - A PENA É DUPLICADA:


I - SE O CRIME É PRATICADO POR MOTIVO EGOÍSTICO;

II - SE A VÍTIMA É MENOR OU TEM DIMINUÍDA, POR QUALQUER CAUSA, A CAPACIDADE DE RESISTÊNCIA.

O QUE É SER VÍTIMA MENOR?


DOUTRINA MENOR É AQUELE COM 18 ANOS INCOMPLETOS PARA BAIXO.
Existe limite para o menor?
O que é considerado menor para aumento de pena.
Art. 122 AUMENTO DE PENA 14 ANOS > x < 18 ANOS Pena dobrada.
Art. 121 HOMICÍDIO < 14 anos (menor que 14) DOUTRINA MAJORITÁRIA
Presunção da incapacidade de
discernimento. (homicídio)

u) Infanticídio

Nada mais é do que uma modalidade especial de homicídio.

Art. 123 - Matar, SOB A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL, o PRÓPRIO FILHO, DURANTE O PARTO OU
LOGO APÓS:

ART. 121 ART. 123


HOMICÍDIO INFANTICÍDIO
Conduta: Matar Alguém Conduta: Matar Alguém
SUJEITO PASSIVO: COMUM SUJEITO PASSIVO: ESPECIAL
SUJEITO ATIVO: COMUM SUJEITO ATIVO: ESPECIAL
MOMENTO: COMUM MOMENTO: ESPECIAL
CONDIÇÃO: COMUM CONDIÇÃO PSÍQUICA: ESPECIAL
O artigo 123 possui elementares que acrescentadas ao matar
alguém torna o 121 especial, transforma o 123 em um homicídio
especializado.
ESPECIALIZANTES
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SUJEITO ATIVO:
CRIME PRÓPRIO: GESTANTE
Aponta Fragoso, que para o antigo Direito Romano, a morte do próprio filho, pela mãe, era tão grave
quanto o parricídio, que era considerado o crime mais grave entre todos. Além disso, a legislação era
tolerante para com a morte do recém nascido disforme ou monstruoso. O sujeito ativo do infanticídio é a
PARTURIENTE SOB INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL. Hoje, vale dizer, prevalece ser perfeitamente
possível o concurso de agentes (coautoria e participação). Como admite coautoria, trata-se de um crime
próprio (se fosse crime de mão própria, não admitiria coautoria), incidindo as regras da comunicabilidade
do art. 30 do CP
QUAL É O CRIME?
MÃE MÉDICO
Art. 123 ART. 123 (partícipe)
PARTURIENTE E MÉDICO MATAM O NASCENTE OU NEONATO. CO-AUTORIA.
SE MATA FILHO DE OUTREM PENSANDO SER SEU, APLICA-SE ERRO QUANTO A PESSOA: RESPONDE
COMO SE TIVESSE MATADO A PESSOA CERTA. (art. 20 §3º)
INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL
É um elemento cronológico.
É um elemento psicológico.
ESTADO PUERPERAL PUERPÉRIO
É o desequilíbrio físico psíquico. É o estado que É o período que se estende do início do
envolve a parturiente durante a expulsão da parto até a volta da mulher às condições
criança do ventre materno. Deixando-a sem pré-gravidez.
condições plenas de entender o que está
fazendo.
É uma hipótese de semi-imputabilidade que foi
tratada pelo legislador com a criação de um
tipo penal especial.

ATENÇÃO: Dependendo do grau de desequilíbrio físico psíquico oriundo do parto, pode a gestante ser
considerada portadora de doença ou perturbação da saúde mental, aplicando-se as disposições dos art.
26, caput, ou parágrafo único (inimputável) caso tenha ela, em razão da causa biológica, retirada total ou
parcialmente a capacidade de entendimento ou de autodeterminação. Caso seja considerada
inimputável, tem-se a chamada psicose puerperal. Hungria já intuía a necessidade a questão da
necessidade de um mínimo de atividades funcionais para reconhecer a ofensa à vida. Assim, caso uma
mãe atente contra a vida de uma criança anencéfala após o parto, sob a influência do estado puerperal,
o caso deverá ser considerado atípico (Busato).

MATAR ALGUÉM DURANTE OU LOGO APÓS ESTADO PUERPERAL


Para que se configure o delito descrito no artigo 123, não basta que a mãe mate o nascente ou
neonato, durante ou logo após o parto sob a influência do estado puerperal, sendo IMPRESCINDÍVEL que

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haja uma relação de causa e efeito entre tal estado e o crime. Previsto na exposição de motivo do CP
(item 40).
CRIME PUNIDO A TÍTULO DE DOLO: DIRETO OU EVENTUAL
O QUE ACONTECE SE FOR A MORTE CULPOSA, SOB A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL? Qual crime
pratica a parturiente que culposamente, sob a influência do estado puerperal mata o neonato? Fato
atípico x Homicídio culposo (majoritária).
CONSUMAÇÃO
MORTE DO NASCENTE / NEONATO

v) Aborto

É EXCEÇÃO A TEORIA MONISTA pune de forma diversa a gestante e o terceiro que a ajuda a praticar o
delito. Por esta razão esta teoria é moderada temperada e não pura, já que existem exceções como esta.
Segundo Busato, as legislações atuais abrigam diferentes tendências a respeito do aborto, ora
criminalizando de modo mais intenso (CP Brasileiro), ora reduzindo o alcance da imputação (p.ex. EUA,
onde é possível até os três meses), ora descriminalizando a conduta (Japão, Suécia, Hungria e Rússia).
ABORTO: Interrupção da gravidez, com a destruição do produto da concepção.

ESPÉCIES DE ABORTO:
a) ABORTO NATURAL: Interrupção espontânea da gravidez, normalmente causada por problemas de
saúde da gestante. (INDIFERENTE PENAL)
b) ABORTO ACIDENTAL: Decorrentes de queda, traumatismo, acidentes em geral. (INDIFERENTE
PENAL)
c) ABORTAMENTO CRIMINOSO: Art. 124 a 127 CP.
d) ABORTAMENTO LEGAL / PERMITIDO: Art. 128 CP.
e) ABORTO MISERÁVEL / ECONÔMICO SOCIAL: Incapacidade financeira de sustentar a vida futura. É
CRIME.
f) ABORTO “honoris causa”: Realizado para interromper gravidez adulterina.
g) ABORTO EUGÊNICO / EUGENÉSICO: Praticado para interromper gravidez de risco. Praticado para
interromper gravidez de risco em razão de anomalias fetais. (É CRIME?)
OBS: Abortamento do FETO ANENCÉFALO é uma espécie deste aborto. STF – NÃO É CRIME (ADPF 54 /
DF, 12/04/2012).

ABORTO CRIMINOSO
ABORTO CRIMINOSO

ART. 124, CP ART. 125, CP ART. 126, CP


Pune a gestante pelo Pune o terceiro provocador, Pune o terceiro provocador,
autoaborto ou pelo que pratica o aborto SEM o que pratica o aborto COM o
consentimento para que consentimento da gestante. consentimento da gestante.
terceiro lhe provoque.
Pena: 1 a 3 anos. Pena: 3 a 10 anos. Pena: 1 a 4 anos.
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Cabe suspensão condicional Não cabe suspensão Cabe suspensão condicional


do processo. condicional do processo. do processo.
Não cabe prisão preventiva Cabe prisão preventiva. Não cabe prisão preventiva.
para a gestante primária.

OBJETIVIDADE JURÍDICA:
VIDA INTRA UTERINA Tem inicio A PARTIR DA NIDAÇÃO, que é a fixação do óvulo no útero,
ANTES DESTE PERÍODO NÃO SE PODE FALAR EM CRIME DE ABORTO.Isso faz da pílula do dia seguinte um
fato atípico.

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.

Divergência doutrinária
CRIME COMUM: Não exige condição especial do agente e admite co-autoria e
participação.
CRIME PRÓPRIO Exige condição especial do agente e igualmente admite
CO-AUTORIA / PARTICIPAÇÃO.
Luiz Regis Prado. Admite co-autoria, Exceção pluralista a teoria
monista, o co-autor responde pelo 126.
É EXCEÇÃO A TEORIA MONISTA
CRIME DE MÃO A exemplo do crime próprio, exige condição especial do agente
PRÓPRIA / porém SÓ ADMITE PARTICIPAÇÃO.
CONDUTA Bittencourt. Co-autor - Responde pelo 126.
INFUNGÍVEL ARTIGO. 124 Seria o caso do namorado que instiga a namorada
levando a clínica para o aborto, responderá como participe do 124.
(PARTÍCIPE)

ARTIGO. 126 Médico que é convencido por um amigo a realizar um


aborto (CO-AUTOR). O que induz responde como partícipe.

ARTIGO. 125 - Quem instiga a praticar o aborto sem o


consentimento da gestante.

TAMBÉM SÃO EXCEÇÕES À TEORIA MONISTA: Falso Testemunho, Corrupção (317 / 333), Facilitação de
contrabando (318 / 334) Nova Lei de Drogas – Traficante / Financiador(Artigo 36), Traficante / Colaborador
(artigo 37)
ART. 124: DOIS COMPORTAMENTOS PUNIDOS: Auto aborto e consentimento criminoso.
CRIME DE AÇÃO MÚLTIPLA
CRIME PUNIDO A TÍTULO DE DOLO,
DOLO GENÉRICO;

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DOLO EVENTUAL;

DOLOSO CULPOSO (ACIDENTAL)


CP – art 124, 125 e 126 Não há previsão legal, não se pune. É um indiferente penal.

ABORTO CULPOSO: FATO ATÍPICO.

CONSUMAÇÃO: O crime se consuma com a morte do feto, pouco importando se esta ocorre dentro ou
fora do ventre materno desde que decorrente das manobras abortivas. É crime material.
INEXISTE O CRIME NAS MANOBRAS ABORTIVAS REALIZADAS PELA MULHER QUE ERRONEAMENTE
ACREDITA ESTAR GRÁVIDA (delito putativo ou de alucinação) Diga-se o mesmo quando o feto já está
morto.

w) Aborto provocado por terceiro

ART. 125 - PROVOCAR ABORTO, SEM* O CONSENTIMENTO DA GESTANTE:


PENA - RECLUSÃO, DE TRÊS A DEZ ANOS. (inafiançável)

*OU DISSENSO PRESUMIDO.


Dissenso (consentimento dado por gestante não maior de 14 anos ou alienada mental, ou ainda, se é
obtido mediante fraude ou grave ameaça ou violência)

SUJEITO ATIVO: CRIME COMUM


Marido que desfere pontapés na barriga da esposa sabendo que ela traz filhos de outro é aborto ou não? É
ABORTO DO 125 - Assume-se o risco de interromper a gravidez (dolo eventual).
SOMENTE DOLOSO.
Matar mulher grávida que SABE GRÁVIDA, quantos crimes estão sendo praticados?
Concurso formal impróprio de delitos. Homicídio + Aborto (quer praticar o homicídio e o aborto). Se não
houver a intenção de causar o aborto este concurso será formal apenas.
CONSUMAÇÃO:
Morte do feto, sendo perfeitamente possível a tentativa.

ART. 126 - PROVOCAR ABORTO COM O CONSENTIMENTO (VÁLIDO) DA GESTANTE:


PENA - RECLUSÃO, DE UM A QUATRO ANOS.
PARÁGRAFO ÚNICO. APLICA-SE A PENA DO ARTIGO ANTERIOR (TRÊS A DEZ ANOS), SE A GESTANTE NÃO É
MAIOR DE QUATORZE ANOS, OU É ALIENADA OU DEBIL MENTAL, OU SE O CONSENTIMENTO É OBTIDO
MEDIANTE FRAUDE, GRAVE AMEAÇA OU VIOLÊNCIA.

HIPÓTESES DE NÃO CONSENTIMENTO PRESUMIDO:


- Menor de 14
- Alienada mental
- Consentimento mediante fraude / violenta.
HIPÓTESE DE DISSENSO PRESUMIDO - APLICA-SE O ARTIGO 125. INDISPENSÁVEL QUE SE TENHA
CONHECIMENTO DAS HIPÓTESES.

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SUJEITO ATIVO: Crime comum - Qualquer pessoa.


SUJEITO PASSIVO: IMPORTANTE: GESTANTE É AUTORA DO 124
CONDUTA: PROVOCAR ABORTO COM CONSENTIMENTO VÁLIDO DA GESTANTE.
NO MEIO DO PROCESSO ABORTIVO A GESTANTE MANDA PARAR, O MÉDICO NÃO DÁ OUVIDOS E
PROSSEGUE?
MÉDICO - Art. 125
MÃE Arrependida passa a ser vítima do art. 125.

TIPO SUBJETIVO - DOLO: ADMITE DOLO EVENTUAL.


CONSUMAÇÃO: Morte do feto.
TENTATIVA: Admitida.
NAMORADO QUE CONVENCE A NAMORADA A INTERROMPER A GRAVIDEZ, , QUAL É O CRIME? PARTÍCIPE
do art. 124.

FORMA QUALIFICADA (CAUSA DE AUMENTO DE PENA)

ART. 127 - AS PENAS COMINADAS NOS DOIS (125 / 126) ARTIGOS ANTERIORES SÃO AUMENTADAS DE UM
TERÇO, SE, EM CONSEQÜÊNCIA DO ABORTO OU DOS MEIOS EMPREGADOS PARA PROVOCÁ-LO, A
GESTANTE SOFRE LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE; E SÃO DUPLICADAS, SE, POR QUALQUER DESSAS
CAUSAS, LHE SOBREVÉM A MORTE.

PARA INCIDIR A MAJORANTE O ABORTO DEVE SER CONSUMADO, É IMPRESCINDÍVEL A INTERRUPÇÃO DA


GRAVIDEZ?
INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ É DISPENSÁVEL / PRESCINDÍVEL.
MAJORANTE INCIDE POUCO IMPORTE SE A LESÃO VEM DO ABORTO OU DOS MEIOS USADOS APESAR DE
NÃO TER SIDO EFETUADO.
“A” pratica manobras abortivas em “B”, causando nela a morte, porém não consegue interromper a
gravidez. Sabendo que a morte foi culposa qual é o crime?
CONDUTA OMISSIVA E COMISSIVA O normal é que a conduta seja comissiva. No entanto poderá esta
conduta ser omissiva, mas para que reste qualificado, tem que haver o status de garantidor da pessoa.
Por exemplo, o MÉDICO QUE EM UM HOSPITAL NÃO PRESTA ATENDIMENTO A GESTANTE que ali se
encontra e necessita de seu auxilio por estar grávida, neste caso o médico responde por aborto omissivo.
CRIME QUE DEIXA VESTÍGIOS - NECESSÁRIO O EXAME DE CORPO DE DELITO
LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE ABORTO:
O agente será punido a titulo de lesão corporal seguida de aborto quando tiver a consciência que a
mulher encontrava-se grávida, uma vez que não se pune o aborto culposo. Ou seja, o agente sabe que a
mulher está grávida. Se com a sua conduta causar lesão corporal a grávida e vier a provocar o aborto
responderá por lesão corporal seguida de aborto.
ABORTO NECESSÁRIO OU TERAPÊUTICO

I - SE NÃO HÁ OUTRO MEIO DE SALVAR A VIDA DA GESTANTE;

NÃO DEPENDE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL, PODEDO SER PRATICADO CONTRA A VONTADE DA GESTANTE
(dispensável autorização)
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Se esse aborto for praticado por outro profissional que não o médico (ex.: farmacêutico), não incidirá o art.
128, inciso, do CP, mas sim o art. 24 do CP (estado de necessidade de terceiro).
ABORTO NO CASO DE GRAVIDEZ RESULTANTE DE ESTUPRO (ABORTO SENTIMENTAL)

II - SE A GRAVIDEZ RESULTA DE ESTUPRO E O ABORTO É PRECEDIDO DE CONSENTIMENTO DA GESTANTE


OU, QUANDO INCAPAZ, DE SEU REPRESENTANTE LEGAL.

Aborto sentimental: basta BO, desnecessária a ação penal.

QUAL A NATUREZA JURÍDICA DO ABORTO PERMITIDO?


Prevalece que o artigo 28 traz MODALIDADES ESPECIAIS DE DESCRIMINANTES, ou excludentes da
ilicitude.
Médico alegando exercício regular do direito.
ATENÇÃO: para quem adota a tipicidade conglobante – é HIPÓTESE DE ATIPICIDADE.

FETO ANENCÉFALO?
LEI DOUTRINA JURISPRUDÊNCIA
É crime, não está permitido Pode configurar hipótese de ADMITE esta espécie de aborto,
por lei. A exposição de exclusão da culpabilidade da desde que:
motivos do CP considera gestante.  haja uma anomalia que
crime. Caso de inexigibilidade de conduta inviabilize a vida extra uterina.
Tanto é crime que existe diversa.  A anomalia deve ser
projeto de lei tramitando no Cezar Roberto Bitencourt. comprovada em perícia médica.
0congresso autorizando-o. Feto anencefálico não tem atividade  Prova do dano psicológico da
cerebral, portanto não tem vida intra gestante.
uterina.
Princípio da dignidade da pessoa
humana. (obrigar a mulher a
gestação do feto sem cérebro fere
este princÍpio)
O STF NA ADPF 54: ABORTO DE
ANENCÉFALO NÃO É CONDUTA
TÍPICA.

x) Lesão Corporal

O CRIME DE LESÃO CORPORAL ESTÁ DIVIDIDO DA SEGUINTE MANEIRA NO CP.

Art. 129 caput à Lesão DOLOSA LEVE.

Art. 129 § 1º à Lesão dolosa de NATUREZA GRAVE ou preter dolosa

Art. 129 § 2º à lesão dolosa NATUREZA GRAVÍSSIMA ou preter dolosa

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Art. 129 § 3º à LESÃO SEGUIDA DE MORTE (homicídio preterdoloso)

Art. 129 § 6º à Lesão CULPOSA.

Art. 129 § 9º /10 / 11 à LESÃO NO AMBIENTE DOMESTICO E FAMILIAR.

QUAL O BEM JURÍDICO TUTELADO NA LESÃO CORPORAL?


INCOLUMIDADE PESSOAL DO INDIVÍDUO.
SUJEITO ATIVO: CRIME COMUM, pode ser praticado por qualquer pessoa.
QUE CRIME PRATICA O POLICIAL MILITAR EM EXERCÍCIO QUE COMETE LESÃO CORPORAL E AGRIDE
ALGUÉM? Abuso de autoridade + lesão corporal.
JUSTIÇA MILITAR julga a Lesão corporal
JUSTIÇA COMUM julga o Abuso de autoridade. (Súmula 172 do STJ)
SUJEITO PASSIVO: qualquer pessoa
EXCEÇÃO: SUJEITO PASSIVO PRÓPRIO
MULHER GESTANTE - (Art. 129 § 1 IV / Art. 129 §2º V)
NO CASO DO ART. 129 § 9º, 10, 11 NÃO SERIA SOMENTE A MULHER, NÃO SERIA MAIS UM CASO DE
SUJEITO PRÓPRIO? Não, neste caso do CP a lei protege o homem e a mulher.
O agente que convence o doente mental a lesionar-se pratica lesão corporal na condição de autor mediato.
A AUTO LESÃO NÃO É PUNÍVEL, e acordo com o princípio da ofensividade, lesividade. Os critérios gerais
da chamada teoria da imputação objetiva oferecidos por Claus Roxin incluem a autocolocação em perigo e
a heterocolocação em perigo consentida como situações de exclusão da tipicidade ou imputação, pois
essas situações estariam fora do alcance do tipo.

A INCOLUMIDADE PESSOAL É BEM DISPONÍVEL OU INDISPONÍVEL?


DOUTRINA TRADICIONAL DOUTRINA MODERNA prefere falar que
A incolumidade é um bem indisponível. é um bem relativamente disponível.
Lesão leve;
Não contrariar a moral e os bons
costumes.
O consentimento do ofendido exclui a
ilicitude.
Bitencourt

Na ablação de órgão, não há lesão leve. Só pode ser retirado órgão devidamente autorizado, seguindo-se
os procedimentos médicos do Conselho Federal de Medicina.
INTERVENÇÃO MÉDICA
 AUSÊNCIA DE TIPICIDADE. (Bento de Faria)
 NÃO HÁ DOLO CARACTERIZADOR DO DELITO (Toledo)
 DESCRIMINANTE DO EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO
a) Dependendo do caso até estado de necessidade de 3º
b) SE A LESÃO FOR LEVE TEM-SE O CONSENTIMENTO DO OFENDIDO COMO CAUSA SUPRA-LEGAL DE
EXCLUSÃO DA ILICITUDE.
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c) TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA (o médico não cria ou incrementa o risco proibido)


d) TIPICIDADE CONGLOBANTE (o comportamento do médico é um ato normativo)
CONSUMAÇÃO: Com a efetiva ofensa da incolumidade pessoal de alguém. Dispensável a dor.
TENTATIVA: SOMENTE É POSSÍVEL NAS LESÕES DOLOSAS

LESÃO CORPORAL DOLOSA DE NATUREZA LEVE


ART. 129. OFENDER A INTEGRIDADE CORPORAL OU A SAÚDE DE OUTREM:
PENA - DETENÇÃO, DE TRÊS MESES A UM ANO.

O QUE É LESÃO LEVE, QUANDO ELA É CONSIDERADA LEVE?


Extrai-se por exclusão - Leve será a que não for grave, gravíssima ou seguida de morte.
IMPORTANTE:
É um crime de menor potencial ofensivo; ação penal depende de representação da vítima

LESÃO CORPORAL DOLOSA GRAVE

§ 1º SE RESULTA:
PENA - RECLUSÃO, DE UM A CINCO ANOS.

Sendo a pena mínima de 1 ano, trata-se de infração de MÉDIO potencial ofensivo, razão pela qual admite a
suspensão condicional do processo. Ainda, ao contrário da lesão leve, o crime em comento é de ação penal
pública incondicionada.

I - INCAPACIDADE PARA AS OCUPAÇÕES HABITUAIS, POR MAIS DE TRINTA DIAS;

Necessário exame pericial para confirmar a o fato, após 30 dias do crime, sua ausência pode ser suprida
por testemunhas. Esse prazo é penal.
OCUPAÇÃO HABITUAL: Qualquer atividade corporal rotineira, não necessariamente ligada a trabalho ou
ocupação lucrativa, devendo ser lícita ainda que imoral.

II - PERIGO DE VIDA;

(somente a título culposo, doloso seria tentativa de homicídio)


CONCEITO: Probabilidade SÉRIA, CONCRETA E IMEDIATA do êxito legal devidamente COMPROVADA POR
PERÍCIA.
INDISPENSÁVEL PERÍCIA PARA COMPROVAR QUE A LESÃO CONCRETA CAUSOU EFETIVO RISCO.
LESÃO NECESSARIAMENTE PRETERDOLOSA. DOLO NA LESÃO / CULPA NO PERIGO DE VIDA. SOMENTE A
TÍTULO DE CULPA O RISCO DA MORTE. OBS: Se for doloso o perigo de vida é tentativa de homicídio.
LESÃO CORPORAL CUJO RESULTADO SOMENTE PODE SER PROVOCADO A TÍTULO CULPOSO.

III - DEBILIDADE PERMANENTE DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO;

DEBILIDADE: É o enfraquecimento, diminuição da capacidade funcional.


PERMANENTE: É a recuperação incerta e por tempo indeterminado.

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PERDA DE DEDOS DA MÃO. (de acordo com o caso concreto poderá ser enquadrado no inciso I do
§ 1º ou § 2º )

IV - ACELERAÇÃO DE PARTO:

Não é aborto, é caso de parto pré-maturo em razão da lesão.


Se o feto morre é lesão gravíssima do §2º.
O agente não quer nem assume o risco do aborto.
Para incidência da qualificadora necessário conhecimento que a vítima é gestante, para evitar a chamada
responsabilidade penal objetiva.
ATENÇÃO: NÃO É QUALIFICADORA PRETERDOLOSA.
DOLO - LESÃO
DOLO / CULPA - NA ACELERAÇÃO DO PARTO.

LESÃO CORPORAL DOLOSA GRAVÍSSIMA*


O LEGISLADOR SOMENTE FALA EM LESÃO GRAVE.
§ 1º PENA 1 A 5 ANOS §2º PENA DE 2 A 8 ANOS.
LESÃO GRAVE LESÃO GRAVÍSSIMA
Origem doutrinária; aceito pela jurisprudência.

EXISTE ALGUMA LEI QUE ADOTA A EXPRESSÃO DA DOUTRINA?


Lei de tortura 9455/97 usa a expressão lesão corporal gravíssima.
Não admite as medidas despenalizadoras previstas na Lei 9099/95.

PENA - RECLUSÃO, DE DOIS A OITO ANOS.

§ 2° SE RESULTA:

I - INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO;

QUAL É ESTE TRABALHO? QUALQUER ATIVIDADE LABORATIVA? OU AQUELA PRÉVIA DA VÍTIMA?


DOUTRINAMAJORITÁRIA entende que é a ATIVIDADE LABORATIVA EM GERAL, não a que ele exercia
anteriormente.
TODA E QUALQUER ATIVIDADE LABORA QUE A VÍTIMA POSSA REALIZAR.
DOUTRINA MINORITÁRIA - incapacidade para o trabalho anteriormente exercido.
A incapacidade deverá ser permanente, mas isto não quer dizer que ela tenha que ser perpétua. É
possível que a vítima após um tempo volte a se capacitar normalmente para o trabalho.

II - ENFERMIDADE INCURÁVEL;

CONCEITO: Transmissão intencional de uma doença para a qual não existe cura no estagio atual da
medicina.
ATENÇÃO - DOENÇA NÃO PODE TER NATUREZA LETAL.

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A TRANSMISSÃO DOLOSA DO VIROS HIV É LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA COM INCURSO NESTE INCISO,
OU É TENTATIVA DE HOMICÍDIO? É tentativa de homicídio. É uma doença incurável, mas é uma doença
letal.(STJ)

III - PERDA OU INUTILIZAÇÃO DO MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO;

O §1º III fala em debilidade(enfraquecimento, O § 2º III à PERDA OU INUTILIZAÇÃO


redução da função motora)
PESSOA QUE FICA SEM QUALQUER
CAPACIDADE FUNCIONAL.
inexistência de capacidade funcional.
amputação (perda)
mutilação (perda)
função inoperante (inutilização)

CONCLUSÃO: Tratando-se de órgãos duplos tem que atingir ambos os órgãos.


SE EM RAZÃO DA LESÃO A VÍTIMA FICA IMPOTENTE PARA GERAR VIDAS OU COM IMPOTÊNCIA
INSTRUMENTAL, QUAL É A LESÃO? LESÃO GRAVÍSSIMA.

IV - DEFORMIDADE PERMANENTE;

CONCEITO: Consiste no dano estético aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e
capaz de provocar impressão vexatória, humilhação ao portador.
Importante: MESMO QUE SEJA POSSÍVEL CORRIGIR A DEFORMIDADE POR CIRURGIA NÃO DESCLASSIFICA
A LESÃO.

V - ABORTO: (somente punida na modalidade culposa)

QUALIFICADORA NECESSARIAMENTE
PRETERDOLOSA / PRETER INTENCIONAL
DOLO - LESÃO
CULPA - ABORTO

IMPRESCINDÍVELQUE SE SAIBA OU PUDESSE SABER QUE A VÍTIMA É GESTANTE PARA EVITAR A


RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA.
É POSSÍVEL UM CASO CONCRETO REFLETIR UMA LESÃO CORPORAL GRAVE E UMA GRAVÍSSIMA? O QUE O
JUIZ FARIA NESTE CASO?
EM RAZÃO DAS LESÕES GERAM:

§ 1º - Incapacidade para ocupações habituais por mais de 30 dias. (1 a 5 anos)

§ 2º - Deformidades permanentes (2 a 8 anos)

O QUE O JUIZ TEM QUE FAZER?

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Utiliza-se de qualificadora mais grave (§2º gravíssima) Já o §1º será considerado pelo juiz na fixação da
pena base.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE LESÃO CORPORAL E VIAS DE FATO?
Vias de fato consiste na violência empregada contra a vítima sem acarretar qualquer dano ao seu corpo.
(seria uma infração subsidiária).
OBS: TAPA NA CARA CONFIGURA INJURIA REAL à Art. 140 § 2º: Com o tapa na cara se quer ofender a
dignidade da pessoa

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:.

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
considerem aviltantes:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE

§ 3° SE RESULTA MORTE E AS CIRCUNSTÂNCIAS EVIDENCIAM QUE O AGENTE NÃO QUÍS O RESULTADO,


NEM ASSUMIU O RISCO DE PRODUZÍ-LO: (CRIME PRETER DOLOSO, SOMENTE PUNIDO A TÍTULO DE CULPA)

PENA - RECLUSÃO, DE QUATRO A DOZE ANOS.

REQUISITOS:
1. CONDUTA DOLOSA VISANDO OFENDER A INCOLUMIDADE PESSOAL DE ALGUÉM.
2. RESULTADO MORTE CULPOSO.
ATENÇÃO: Se proveniente de caso fortuito ou força maior não pode imputar o resultado ao agente.
RESPONDERÁ SOMENTE POR LESÃO CORPORAL.
A Culpa existe quando há previsão ou mera previsibilidade pelo menos.
3. NEXO CAUSAL ENTRE CONDUTA E RESULTADO

DIMINUIÇÃO DE PENA
§ 4° SE O AGENTE COMETE O CRIME IMPELIDO POR MOTIVO DE RELEVANTE VALOR SOCIAL OU MORAL OU
SOB O DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO, LOGO EM SEGUIDA A INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA, O JUIZ
PODE REDUZIR A PENA DE UM SEXTO A UM TERÇO.

O § 4º APLICA-SE A TODOS OS PARÁGRAFOS ANTERIORES.

SUBSTITUIÇÃO DA PENA

§ 5° O JUIZ, NÃO SENDO GRAVES AS LESÕES, PODE AINDA SUBSTITUIR A PENA DE DETENÇÃO PELA DE
MULTA, DE DUZENTOS MIL RÉIS A DOIS CONTOS DE RÉIS:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

ATENÇÃO: SUBSTITUIÇÃO DE PENA SOMENTE É POSSÍVEL NA LESÃO LEVE DO CAPUT.


NÃO BASTA SER LEVE
ALÉM DE LEVE: privilegiada; ou Lesões recíprocas.

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LESÃO CORPORAL CULPOSA

§ 6° SE A LESÃO É CULPOSA:
PENA - DETENÇÃO, DE DOIS MESES A UM ANO.

Mesma sistemática do homicídio culposo só que a diferença é o resultado. No mais tudo que se falou do
homicídio culposo aplica-se a lesão corporal culposa.
 Tipo penal aberto
 Indispensável a presença de todos os requisitos para configuração do delito culposo.
CTB: lesão culposa no trânsito é mais grave. O desvalor da conduta é maior.

§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121
deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)

Note que essa majorante foi acrescentada recentemente pela Lei 12.720/12, que determina que aplica-se
à lesão corporal a majorante de 1/3, caso ocorra alguma das hipóteses do art. 121, §4º do CP. Além disso,
também se aplica a majorante de 1/3, caso ocorra a situação do art. 121, §6º, do CP (crime praticado por
milícia privada ou por grupo de extermínio). Note que, no art. 121, §6º, referente ao homicídio, a pena
aumenta de 1/3 até 1/2; porém, no art. 129, §7º, referente à lesão corporal, o legislador deixou claro que a
majorante, neste caso, é de 1/3.

PERDÃO JUDICIAL / LESÃO CORPORAL

ART. 129 § 8º - APLICA-SE À LESÃO CULPOSA O DISPOSTO NO § 5º DO ART. 121.


§ 5º - NA HIPÓTESE DE HOMICÍDIO CULPOSO, O JUIZ PODERÁ DEIXAR DE APLICAR A PENA, SE AS
CONSEQÜÊNCIAS DA INFRAÇÃO ATINGIREM O PRÓPRIO AGENTE DE FORMA TÃO GRAVE QUE A SANÇÃO
PENAL SE TORNE DESNECESSÁRIA.

PERDÃO JUDICIAL NÃO SE APLICA A NENHUMA MODALIDADE DE LESÃO DOLOSA.


VER OBSERVAÇÕES NO TÓPICO SOBRE HOMICÍDIO

QUALIFICADORA:VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA PRATICADA NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

ART. 129, §9º, CP ART. 129, §10, CP ART. 129, §11, CP


Qualificadora da lesão Majorante da lesão corporal Majorante da lesão corporal
corporal de natureza leve. grave, gravíssima e seguida leve qualificada do §9º.
de morte (§§1º, 2º e 3º).
Pena: 3 meses 3 anos. Pena aumentada em 1/3. Pena aumentada em 1/3.
Deixa de ser infração de O §1º passa a não mais
menor potencial ofensivo. admitir a suspensão -
condicional do processo.
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Art. 129 - § 9o SE A LESÃO FOR PRATICADA CONTRA ASCENDENTE, DESCENDENTE, IRMÃO, CÔNJUGE OU
COMPANHEIRO, OU COM QUEM CONVIVA OU TENHA CONVIVIDO, OU, AINDA, PREVALECENDO-SE O
AGENTE DAS RELAÇÕES DOMÉSTICAS, DE COABITAÇÃO OU DE HOSPITALIDADE:
PENA - DETENÇÃO, DE 3 (TRÊS) MESES A 3 (TRÊS) ANOS.

SUJEITO ATIVO:
Crime bi-próprio: Existe uma relação doméstica ou familiar ou de intimidade entre os sujeitos ativo e
passivo.
SUJEITO PASSIVO:
HOMEM
MULHER

§ 10. NOS CASOS PREVISTOS NOS §§ 1O A 3O DESTE ARTIGO, SE AS CIRCUNSTÂNCIAS SÃO AS INDICADAS NO
§ 9O DESTE ARTIGO, AUMENTA-SE A PENA EM 1/3 (UM TERÇO).

LESÃO LESÃO QUALIFICADORA


Art. 129 caput à 3 meses a 1 ano Art. 129 § 9º 3 meses a 3 anos
Art. 129 § 1/3 1 a 12 anos. Art. 129 § 10 é (aumenta-se) 1/3 a 2/3

§ 11. NA HIPÓTESE DO § 9O. DESTE ARTIGO, A PENA SERÁ AUMENTADA DE UM TERÇO SE O CRIME FOR
COMETIDO CONTRA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA.

AÇÃO PENAL: REGRA: AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA.


EXCEÇÃO:
 LESÃO LEVE - Art. 129 “caput” Art. 88 da Lei 9.099/95 - Ação penal púbica condicionada.
 LESÃO CULPOSA - Art. 129 § 6º - Ação penal pública condicionada.
Lei 9.099/ 95 - ART. 88. ALÉM DAS HIPÓTESES DO CP E DA LEGISLAÇÃO ESPECIAL, DEPENDERÁ DE
REPRESENTAÇÃO A AÇÃO PENAL RELATIVA AOS CRIMES DE LESÕES CORPORAIS LEVES E LESÕES
CULPOSAS.

CASO DE VIOLÊNCIA DOMESTICA COMO FICA A SITUAÇÃO?


VÍTIMA HOMEM.
ART. 129 § 9º ART. 129 § 10
(LESÃO LEVE) (GRAVE / GRAVÍSSIMA / SEGUIDA DE MORTE)
PENA 3 MESES A 3 ANOS.
APLICA-SE O ARTIGO 88 DA LEI 9.099, MESMO
CONSIDERANDO ESTA PENA? AÇÃO PENAL PUBLICA INCONDICIONADA.
SIM - Porque pouco importa a pena.
AÇÃO PENAL PUBLICA CONDICIONADA

VÍTIMA MULHER.
ART. 129 § 9º ART. 129 § 10

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(LEVE) (GRAVE / GRAVÍSSIMA / SEGUIDA DE MORTE)


AÇÃO PENAL PUBLICA INCONDICIONADA.

VEDAÇÃO DA APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95


Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099/95
LESÃO CORPORAL LEVE NESTE CASO É CONDICIONADA OU INCONDICIONADA?
2 CORRENTES:
1ª CORRENTE: 2ª CORRENTE:
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA. AÇÃO PENAL PÚBLICA
CONDICIONADA.
 A Lei 11.340/06 veda a aplicação do  Quando a Lei Maria da Penha veda a
artigo 88 da Lei 9.099. aplicação da Lei 9.099, na verdade, não quer
 Trata-se de grave violação dos direitos admitir medidas despenalizadoras (por exemplo
humanos da mulher incompatíveis com outra transação penal), não abrangendo a
espécie de ação penal. representação.
 A vontade da mulher pode estar viciada  O Estupro é uma das formas mais graves de
diante do temor de nova agressão. violar direitos humanos da mulher e a pena é
 É a posição do STF, ADI 4424, perseguida mediante queixa. (era)
09/02/2012: O Tribunal, por maioria e nos  Eventuais pressões para que a vítima
termos do voto do Relator, julgou procedente a mulher se retrate da representação ofertada serão
ação direta para, dando interpretação detectadas em audiência própria.
conforme aos artigos 12, inciso I, e 16, ambos
da Lei nº 11.340/2006, assentar a natureza
incondicionada da ação penal em caso de crime
de lesão, pouco importando a extensão desta,
praticado contra a mulher no ambiente
doméstico.
LFG / MARIA BERENICE DIAS DAMÁSIO / RONALDO BATISTA PINTO / ROGÉRIO
SANCHES.

Segundo recente julgado do STJ, não é possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos em caso de condenação pelo crime de lesão corporal do art. 129, §9º, do CP (HC 191.104/MS -
2012)

Lesão corporal contra integrantes dos órgãos de segurança pública ou seus familiares

Trata-se da Lei n. 13.142/2015, que altera o Código Penal e a Lei de Crimes Hediondos.
A pena da LESÃO CORPORAL será aumentada de 1/3 a 2/3 se essa lesão tiver sido praticada contra
integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus familiares), desde que o delito tenha
relação com a função exercida.

A Lei n. 13.142/2015 acrescentou o § 12 ao art. 129 do CP, prevendo o seguinte:

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Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.
(...)
Aumento de pena
(...)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços.

Para quais espécies de lesão corporal se aplica o novo § 12?


A causa de aumento prevista no novo § 12 do art. 129 do CP aplica-se para todas as espécies de lesão
corporal DOLOSA, incluindo:
• Lesão corporal leve (art. 129, caput);
• Lesão corporal grave (art. 129, § 1º);
• Lesão corporal gravíssima (art. 129, § 2º);
• Lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º).
Fica de fora, portanto, a lesão corporal culposa (art. 129, § 6º do CP).
Valem as mesmas observações sobre o homicídio qualificado
Para que incida essa causa de aumento, serão necessários também dois requisitos:
• Requisito 1: lesão corporal contra integrantes dos órgãos de segurança pública ou contra seus familiares.
• Requisito 2: o delito deve ter relação com a função desempenhada.
Quadro-resumo:

NOVA CAUSA DE AUMENTO DE PENA DA LESÃO CORPORAL

Requisito 1: Requisito 2:
Condição da vítima Relação com a função
1) autoridade, agente ou integrante da(o)(s):
• Forças Armadas;
A pena da • Polícia Federal;
LESÃO CORPORAL • Polícia Rodoviária Federal;
será aumentada de 1/3 a • Polícia Ferroviária Federal;
2/3 se ela tiver sido • Polícias Civis;
praticada contra... • Polícias Militares; ...desde que o crime tenha sido
• Corpos de Bombeiros Militares; praticado contra a pessoa no
• Guardas Municipais*; exercício das funções ao lado
• Agentes de segurança viária*; listadas ou em decorrência dela.
• Sistema Prisional
• Força Nacional de Segurança Pública.

2) cônjuge, companheiro ou parente


consanguíneo até 3º grau de algumas das
pessoas acima listadas.

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y) Da Periclitação da Vida e da Saúde

CRIME DE PERIGO - NÃO EXISTE LESÃO SUBSTANCIAL.

z) Perigo De Contágio Venéreo

ART. 130 - EXPOR ALGUÉM, POR MEIO DE RELAÇÕES SEXUAIS OU QUALQUER ATO LIBIDINOSO, A
CONTÁGIO DE MOLÉSTIA VENÉREA, DE QUE SABE OU DEVE SABER QUE ESTÁ CONTAMINADO:

Pena - DETENÇÃO, de três meses a um ano, ou multa.

Para Fragoso, o perigo é a modificação do mundo exterior que contém a probabilidade (não mera
possibilidade) de provocar um dano. É conceito ao mesmo tempo objetivo e subjetivo (...) o perigo só é
reconhecível por uma valoração subjetiva da probabilidade da superveniência de um dano.
BEM JURÍDICO PROTEGIDO: INCOLUMIDADE FÍSICA E A SAÚDE DA PESSOA.
SUJEITO ATIVO:
CRIME PRÓPRIO: condição de portador de uma doença, moléstia venérea.
SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa pode ser vítima, pouco importando o sexo ou a reputação, o que
protege inclusive a prostituta.

O QUE OCORRE SE O SUJEITO ATIVO, NÃO ESCONDER A DOENÇA E A “VÍTIMA” CONSENTIR COM O ATO
HAVERÁ O CRIME?
Mostrando ser irrelevante a aceitação da vítima em razão da indisponibilidade do bem jurídico protegido.
- CONSUMA-SE O CRIME.
TIPO OBJETIVO:
Trata-se de delito de ação vinculada, exigindo contato sexual entre agente e a vítima.
- EXPOR A VÍTIMA A CONTAGIO DE MOLÉSTIA VENÉREA
Se outra for a forma de contágio da doença poderemos estar nos deparando com condutas do artigo
131. NÃO SE PUNE O CONTÁGIO VENÉREO, MAS SIM A RELAÇÃO SEXUAL PERIGOSA.
CONSUMAÇÃO:
No momento em que a vítima tenha se encontrado numa situação de possível contaminação da doença
venérea da qual o agente era portador.
TENTATIVA:
Rogério Greco, afirma que apesar de ser um crime de perigo, é possível a tentativa.
§ 1º - SE É INTENÇÃO DO AGENTE TRANSMITIR A MOLÉSTIA:
PENA - RECLUSÃO, DE UM A QUATRO ANOS, E MULTA.
Nesta situação o agente atua com dolo de transmissão da doença.
ATENÇÃO - O dolo do agente é tão somente em transmitir a doença e não efetivar a transmissão.
- Ficará configurado o crime mesmo no caso em que a moléstia não seja transmitida.

O QUE ACONTECE SE A VÍTIMA SE CONTAMINA?


2 CORRENTES:
Mero exaurimento do §1º do art. 130 Desclassifica-se o crime para o de lesões
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corporais conforme o caso concreto.

§ 2º - SOMENTE SE PROCEDE MEDIANTE REPRESENTAÇÃO.

TRANSMISSÃO DO VÍRUS HIV:


A Aids não pode ser considerada uma moléstia venérea, sendo assim, se ocorrer sua transmissão, o agente
responderá por outro delito e não por este aqui estudado (130). A doutrina tende a resolver o problema da
transmissão do HIV da seguinte forma:
Se era a finalidade á contaminação da vítima, almejando a sua morte, deverá responder pela
tentativa de homicídio (enquanto a vítima estiver viva) ou homicídio consumado (quando a vítima
morre).

MORTE DA VÍTIMA QUANDO A INTENÇÃO ERA SOMENTE A TRANSMISSÃO DA DOENÇA?


Responderá por lesões corporais seguida de morte.
Dolo à Dano.
Culpa à Morte.

aa) Perigo De Contágio De Moléstia Grave

ART. 131 - PRATICAR, COM O FIM DE TRANSMITIR A OUTREM MOLÉSTIA GRAVEDE QUE ESTÁ
CONTAMINADO, ATO CAPAZ DE PRODUZIR O CONTÁGIO:

Pena - RECLUSÃO, de um a quatro anos, e multa.

A conduta é dirigida finalisticamente à produção de um dano, qual seja a transmissão de uma moléstia
grave de que está contaminado.
- CRIME FORMAL
O legislador se contenta com a realização da conduta praticar com o fim de, ou seja se consuma-se ou não
o legislador não se importa, ele já pune.
A transmissão é mero exaurimento.
- CONDUTAS:
Diferentemente do artigo 130,neste a conduta é de forma livre, ao passo que aquele a vontade
transmissão tinha que ser através de ato sexual.
AÇÃO PENAL - PÚBLICA INCONDICIONADA.

PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM


ART. 132 - EXPOR A VIDA OU A SAÚDE DE OUTREM A PERIGO DIRETO E EMINENTE:
PENA - DETENÇÃO, DE TRÊS MESES A UM ANO, SE O FATO NÃO CONSTITUI CRIME MAIS GRAVE

CRIME DE PERIGO CONCRETO (consoante item 46 da exposição de motivos da parte especial


}ide:
É UM CRIME SUBSIDIÁRIO, POIS SE RESULTAR DANO SERÁ OUTRO CRIME
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BEM JURÍDICO PROTEGIDO: SAÚDE E VIDA DA VÍTIMA


ELEMENTO SUBJETIVO: DOLO

POSSIBILIDADE DO CONCURSO DE CRIMES:


1ª CORRENTE: BITTENCOURT 2ª CORRENTE: ROGÉRIO SANCHES
Tratando-se de delito subsidiário não há Não concorda com as afirmações simples de
possibilidade de concurso de crimes. que esse crime não admite concurso de crimes
Se em uma única ação o agente, criar situação de em razão da sua natureza subsidiária, pois são
perigo a várias pessoas perfeitamente temas completamente distintos.
determinadas e individualizadas, haverá concurso O concurso de crimes é inadmissível, como
formal de crimes. efeito, entre a norma subsidiária e a norma
Se porém com mais de uma conduta criar principal; afora essa circunstância, não haveria
situação de perigo a mais de uma pessoa, nenhum impedimento político dogmático.
devidamente individualizada, haverá concurso
material de crimes.

AÇÃO PENAL - INICIATIVA PÚBLICA INCONDICIONADA

bb) ABANDONO DE INCAPAZ

ART. 133 - ABANDONAR PESSOA QUE ESTÁ SOB SEU CUIDADO, GUARDA, VIGILÂNCIA OU AUTORIDADE, E,
POR QUALQUER MOTIVO, INCAPAZ DE DEFENDER-SE DOS RISCOS RESULTANTES DO ABANDONO:

PENA - DETENÇÃO, DE SEIS MESES A TRÊS ANOS.

INFRAÇÃO PENAL DE PERIGO.


OBS - Se o abandono é dirigido finalisticamente a causar a morte da vítima, o agente, fazendo de status de
garantidor, deverá responder pelo homicídio, consumado ou tentado.

ELEMENTARES DO TIPO:
ATO DE ABANDONAR PESSOA QUE ESTÁ SOB O INCAPAZ DE DEFENDER-SE DOS
CUIDADO, GUARDA, RISCOS RESULTANTES DO
VIGILÂNCIA OU AUTORIDADE ABANDONO.

ABANDONA Deixar a própria sorte, desamparar, deixar só, ou seja, o agente afasta-se da pessoa que
estava sob sua guarda - Permitindo assim que venha a correr riscos do abandono, em razão da
incapacidade de defesa.
NÃO HAVERÁ CRIME se o responsável fica próximo da vítima, vigiando para que alguém a recolha, ou,
então no caso de a vítima ser abandonada em ambiente rodeado de assistência. Em nenhuma hipótese
ocorreria o perigo concreto de abandono.

CUIDADO - DIFERENÇA DE CRIMES.

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Se entre agente e Tratando-se de Dependendo do local Tratando-se do abandono


vítima não há abandono de recém do abandono, pode o moral, pode se
qualquer relação de nascido, cujo motivo caso espelhar dolo caracterizar crime
dependência o crime seja ocultar desonra eventual do homicídio, CONTRA A ASSISTÊNCIA
poderá ser o de própria. Art. 134 aceitando o agente o FAMILIAR. Art. 244 a 247.
OMISSÃO DE EXPOSIÇÃO resultado final. (ex.
SOCORRO- ARt. 135. ABANDONO DE RECÉM Abandonar em um
NASCIDO. deserto)
ATENÇÃO: Não pode o agente querer com sua conduta de abandono causar a morte ou mesmo ofender a
saúde da vítima, pois, caso contrário, responderá por esses resultados.

SUJEITO ATIVO SUJEITO PASSIVO


PRÓPRIO PRÓPRIO
Somente aquele que, de acordo com obrigação legal Pessoa que se encontra sob os cuidados guarda,
ou contratual, está obrigado a cuidar da vítima, vigilância da autoridade do sujeito ativo.
guardá-la, vigiá-la ou tê-la sob sua autoridade.

cc) EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO

MODALIDADE ESPECIAL DO CRIME DE ABANDONO DE INCAPAZES

ART. 134 - EXPOR OU ABANDONAR RECÉM-NASCIDO, PARA OCULTAR DESONRA PRÓPRIA:


PENA - DETENÇÃO, DE SEIS MESES A DOIS ANOS.

dd) OMISSÃO DE SOCORRO

CRIME OMISSIVO PRÓPRIO

ART. 135 - DEIXAR DE PRESTAR ASSISTÊNCIA, QUANDO POSSÍVEL FAZÊ-LO SEM RISCO PESSOAL, À CRIANÇA
ABANDONADA OU EXTRAVIADA, OU À PESSOA INVÁLIDA OU FERIDA, AO DESAMPARO OU EM GRAVE E
IMINENTE PERIGO; OU NÃO PEDIR, NESSES CASOS, O SOCORRO DA AUTORIDADE PÚBLICA: (omissão
própria, quando a pessoa não é garantidora)
PENA - DETENÇÃO, DE UM A SEIS MESES, OU MULTA.

BEM JURÍDICO TUTELADO: É a segurança do individuo protegendo-o se a VIDA E A SAÚDE HUMANA.


OBJETO MATERIAL: Criança abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo que
se encontra na situação de grave e iminente perigo.
SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa
NÃO EXISTE RELAÇÃO ENTRE SUJEITO ATIVO E PASSIVO.
Caso haja deixamos de ter um mero omitente e vira garantidor, que poderá responder pelo resultado e
não pela omissão.

DEVER GENÉRICO DE AGIR: ATINGE A TODOS INDISTINTAMENTE

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É POSSÍVEL CO-AUTORIA?
Polêmica. Vai depender do liame subjetivo, segundo Rogério Grecco.
Para parcela da doutrina (Bittencourt) é possível o concurso neste crime, hipótese dos surfistas que deixam
de auxiliar banhista que está se afogando - havendo liame subjetivo há concurso em crime omisso próprio.
Outra parcela da doutrina entende que havendo ajuste dos mesmos surfistas frente ao banhista, cada um
deles, sem concurso, responderia por omissão de socorro.

O CRIME É DE DANO OU DE PERIGO?


PERIGO (na duas modalidades, conforme o caso. Ex: perigo abstrato – criança abandonada; perigo
concreto - vítima pessoa inválida, ao desamparo).

FIGURA PRETER DOLOSA / PRETER INTENCIONAL

ART. 135 PARÁGRAFO ÚNICO - A PENA É AUMENTADA DE METADE, SE DA OMISSÃO RESULTA LESÃO
CORPORAL DE NATUREZA GRAVE, E TRIPLICADA, SE RESULTA A MORTE.

OMISSÃO DOLOSA - MORTE CULPOSA


OMISSÃO DOLOSA - LESÃO CULPOSA

OMISSÕES DE SOCORRO ESPECIAIS.


CÓDIGO DE TRANSITO BRASILEIRO ESTATUTO DO IDOSO.

ee) CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR EMERGENCIAL

(Lei 12.653, de 2012 )

Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento
prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa

Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de
natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.

Para Sanches justifica-se a criação deste tipo penal, pois os demais ramos do direito não estavam sendo
capazes de combater a exigência de caução para recebimento de atendimento de urgência, problema
constante que, portanto, exigiu a intervenção do direito penal.

Sujeitos do crime: Ativo - administradores e/ou funcionários do hospital. Passivo - pessoa em estado de
emergência.

Conduta: negar atendimento emergencial, exigindo do potencial paciente (ou de seus familiares), como
condição para a execução dos procedimentos de socorro:

a) cheque caução, nota promissória ou de qualquer outra garantia (endosso de uma duplicata ou letra de
câmbio, por exemplo).
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b) o preenchimento prévio de formulários administrativos, quase sempre na forma de contratos de adesão


favorecendo abusivamente uma das partes (o hospital).

A solicitação de garantia, sem condicionar o atendimento, é fato atípico.

Tipo Subjetivo: Só DOLO.

Consumação e tentativa: Consuma-se com a indevida exigência, sendo possível, em tese, a tentativa (delito
plurissubsistente).

A doutrina, como já acontece nos demais crimes de perigo, discutirá se o delito em exame é de perigo
abstrato (perigo absolutamente presumido por lei) ou concreto (perigo deve ser comprovado), lembrando
que o STF, recentemente, decidiu que a criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só,
comportamento inconstitucional por parte do legislador penal (HC 104.410/RS).

Nos termos de que dispõe o parágrafo único, a pena é aumentada até o dobro se da negativa de
atendimento resulta lesão corporal de natureza grave (§§ 1º e 2º do art. 129), e até o triplo se resulta a
morte. Trata-se de figura preterdolosa (ou preterintencional), sendo os resultados majorantes decorrentes
de culpa.

ff) MAUS-TRATOS

ART. 136 - EXPOR A PERIGO A VIDA OU A SAÚDE DE PESSOA SOB SUA AUTORIDADE, GUARDA OU
VIGILÂNCIA, PARA FIM DE EDUCAÇÃO, ENSINO, TRATAMENTO OU CUSTÓDIA, QUER PRIVANDO-A DE
ALIMENTAÇÃO OU CUIDADOS INDISPENSÁVEIS, QUER SUJEITANDO-A A TRABALHO EXCESSIVO OU
INADEQUADO, QUER ABUSANDO DE MEIOS DE CORREÇÃO OU DISCIPLINA:

PENA - DETENÇÃO, DE DOIS MESES A UM ANO, OU MULTA.

CRIME DE PERIGO CONCRETO:


CRIME PRÓPRIO:
CARACTERIZADO PELO ESPECIAL FIM DE AGIR (educar / ensino / tratamento):

MAUS TRATOS – Art. 136 TORTURA – Art. 1º II


Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou
sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim autoridade, com emprego de violência ou grave
de educação, ensino, tratamento ou custódia, ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental,
quer privando-a de alimentação ou cuidados como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho caráter preventivo.
excessivo ou inadequado, quer abusando de
meios de correção ou disciplina
DOLO DE PERIGO DOLO DE DANO
A finalidade é a de causar intenso sofrimento físico
ou mental a vítima.
OBS: Não existe coincidência de motivação entre os delitos acima.
Agente atua para fins de educação, tratamento Atua como forma de aplicar castigo pessoal ou
e custodia. medida de caráter preventivo.
FINALIDADE É EDUCAR FINALIDADE É CASTIGAR

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gg) DA RIXA

ART. 137 - PARTICIPAR DE RIXA, SALVO PARA SEPARAR OS CONTENDORES:

PENA - DETENÇÃO, DE QUINZE DIAS A DOIS MESES, OU MULTA.

CONCEITO: É uma briga perigosa ENTRE MAIS DE DUAS PESSOAS (MAIS DE DOIS GRUPOS), agindo cada
uma por sua conta e risco, acompanhada de vias de fato ou violências recíprocas. QUAL ESPÉCIE DE CRIME
PLURISUBJETIVO É A RIXA?
CRIME PLURISUBJETIVO DE CONDUTAS:
PARALELAS CONTRAPOSTAS CONVERGENTES
Condutas auxiliam-se RIXAS O tipo penal nasce do encontro da
mutuamente. As várias condutas voltam-se convergência da vontade das várias
umas contra as outras. condutas.
Ex. Bigamia
Para alguns, como Sanches, há na rixa qualificada uma responsabilidade penal objetiva, tendo em vista que
até mesmo aqueles que sofreram a ação qualificadora da rixa respondem pela rixa qualificada. Opção
muito repelida por Grecco.

hh) CRIMES CONTRA HONRA

Estatuto geral no CP, mas temos estatutos específicos, ou seja leis especiais que tratam acerca dos crimes
contra honra.
ESTATUTO GERAL: CP
ESTATUTOS ESPECIAIS: LEI DE IMPRENSA:

Lei de imprensa 5.250/67 - ADPF 130. NÃO FOI RECEPCIONADA PELA CRFB/88

Houve abollitio criminis com a revogação da Lei de Imprensa? NÃO. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
NORMATIVA TÍPICA. A conduta não deixou de ser considerada crime; simplesmente migrou de um
dispositivo para outro. Foi tudo para o CP.

CÓDIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICAÇÕES:

Lei 4.117 - Art. 53. Constitui abuso, no exercício de liberdade da radiodifusão, o emprego desse meio de
comunicação para a prática de crime ou contravenção previstos na legislação em vigor no País, inclusive

i) CALUNIAR, INJURIAR OU DIFAMAR OS PODERES LEGISLATIVOS, EXECUTIVO OU JUDICIÁRIO OU OS


RESPECTIVOS MEMBROS;

CÓDIGO ELEITORAL (Os crimes são de ação penal publica incondicionada)


CP MILITAR (Art. 214, 215, 216)
LEI DE SEGURANÇA NACIONAL

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RESUMO:
CALÚNIA DIFAMAÇÃO INJÚRIA
Art. 138 CP Art. 139 Art. 140
Imputa-se fato definido como Imputa-se fato desonroso Atribui-se qualidade negativa
crime determinado sabidamente determinado em regra não
falso. importando se verdadeiro ou falso.
FATO FATO QUALIDADE
DETERMINADO DETERMINADO NEGATIVA
CRIMINOSO. DESONROSO.
SABIDAMENTE FALSO.
HONRA OBJETIVA HONRA OBJETIVA HONRA SUBJETIVA

HONRA OBJETIVA: HONRA SUBJETIVA:


Conceito que a sociedade possui a respeito do Conceito que o indivíduo tem de si
indivíduo. próprio.
Reputação pessoal perante 3ºs. - Dignidade / Decoro / Autoestima
É o que a vítima pensa dela mesma.
Crimes tutelados: calúnia, difamação Crimes tutelados: injúria
Pessoa Jurídica: somente pode ser vítima de
calúnia e difamação –Tem só honra objetiva. (há
divergência)
A pessoa jurídica pode ser vítima de calúnia Inimputável pode ser vítima de injúria?
(imputar crime) desde que a falsa imputação Sim, dede que possua capacidade de
refira-se a fato definido como crime ambiental. compreender a ofensa. Ex. Ofender
(que é a única previsão de imputação de crime a uma criança
pessoa jurídica)
Pessoa jurídica pode ser vítima de difamação.
CONSUMAÇÃO: (calúnia/ difamação): Consuma- CONSUMAÇÃO (Injúria): Consuma-se
se quando um 3º toma ciência da imputação quando a ofensa chega ao
conhecimento do ofendido
CABE RETRATAÇÃO CABE RETRATAÇÃO
Cuidado com a difamação, pois no caso específico (no caso da lei de imprensa)
é mais restrita.

ATENÇÃO: IMPUTAR CONTRAVENÇÃO PENAL É FATO DESONROSO E NÃO CRIMINOSO - DIFAMAÇÃO.


Vítima descrevendo uma difamação. Teria que ter pedido as penas da difamação, mas pede as penas da
calúnia - é motivo para rejeição da queixa? Juiz recebe a queixa e no momento da sentença aplica a
emendatio libeli.
Prevalece na doutrina que se trata de CRIMES DE DANO.
Doutrina diz que é um CRIME DE DANO QUE DISPENSA O RESULTADO NATURALÍSTICO, é um crime
formal.

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AUMENTO DE PENA

Art. 141 - As penas cominadas NESTE CAPÍTULO AUMENTAM-SE DE UM TERÇO, SE QUALQUER DOS CRIMES
É COMETIDO:
I - contra o PRESIDENTE DA REPÚBLICA, OU CONTRA CHEFE DE GOVERNO ESTRANGEIRO; (não admite
exceção da verdade)
II - contra FUNCIONÁRIO PÚBLICO, EM RAZÃO DE SUAS FUNÇÕES;

DESACATO CONTRA FUNCIONÁRIO CRIMES CONTRA HONRA DE FUNCIONÁRIO


Pressupõe presença do funcionário público, Ausência do servidor, o fato chega a
vendo ou ouvindo. (toma conhecimento conhecimento dele por intermédio de 3ºs ou
diretamente) por escrito.

QUEM É ESTE FUNCIONÁRIO PÚBLICO?


É cada vez mais crescente a doutrina que aplica a majorante somente para o caput do artigo 327, não
abrangendo o §1º do artigo 327, ou seja, não considera o funcionário público por equiparação. - SOMENTE
O DO CAPUT DO 327. Contudo, ainda é majoritário o entendimento que aplica ao conceito de funcionário
público equiparado.

III - NA PRESENÇA DE VÁRIAS PESSOAS, OU POR MEIO QUE FACILITE A DIVULGAÇÃO DA CALÚNIA, DA
DIFAMAÇÃO OU DA INJÚRIA.

O QUE SE ENTENDE POR VÁRIAS PESSOAS?


1ª Corrente: (Bento de Faria) 2ª Corrente: (Nelson Hungria)
Exige pelo menos 2 pessoas presente na Exige pelo menos 3 pessoas presente na
ofensa. ofensa para configuração de várias pessoas.
- Minoritária - MAJORITÁRIA

- Não se computa à CO-AUTORES, PARTICIPES E A PRÓPRIA VÍTIMA.


- Também não se consideram pessoas sem capacidade de compreender o caráter ofensivo da expressão.

IV - CONTRA PESSOA MAIOR DE 60 (sessenta) anos ou PORTADORA DE DEFICIÊNCIA, exceto no caso de


injúria. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)

ii) CALÚNIA

ART. 138 - CALUNIAR ALGUÉM, IMPUTANDO-LHE FALSAMENTE (DETERMINADO) FATO DEFINIDO COMO
CRIME:
PENA - DETENÇÃO, DE SEIS MESES A DOIS ANOS, E MULTA.

SUJEITO ATIVO: Trata-se de crime comum podendo ser praticado por qualquer pessoa, salvo por pessoa
que desfruta de imunidade.
IMUNIDADES: Senadores, Deputados Federais, Deputados estaduais, Vereadores (nos limites do
município).
ATENÇÃO: ADVOGADO NÃO TEM IMUNIDADE PROFISSIONAL PARA CALÚNIA
SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa pode ser vítima de calúnia, mesmo o desonrado. Jurisprudência:
prostituta pode ser vítima de calúnia.
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MENORES, LOUCO PODEM SER VÍTIMAS DE CALÚNIA?


1ª CORRENTE: Menor e louco não praticam 2ª CORRENTE: A lei exige imputação de
crimes. Logo não podem ser vítimas de calúnia, fato definido como crime, isto é fato
mas sim vítima de difamação. típico. Logo sabendo que o menor e o
louco praticam fato típico podem ser
vítimas de calúnia. - PREVALECE. – STJ
(CC 112616)
PESSOA JURÍDICA PODE SER VÍTIMA DE CALÚNIA?
1ª CORRENTE: Pessoa 2ª CORRENTE: Pessoa 3ª CORRENTE: 4ª CORRENTE:
jurídica não pratica jurídica pratica crime Pessoa jurídica não (Mirabeti) Pessoa
crime e nem pode ambiental podendo ser pratica crime, mas jurídica não pode
ser responsabilizada responsabilizada pode ser ser vítima de
penalmente. penalmente. Nas responsabilizada nenhum crime
demais hipóteses deve penalmente em contra a honra,
ser considerado caso de infrações pois o CP somente
difamação. ambientais. protege a honra
de pessoa física.
CONCLUSÃO: Não CONCLUSÃO: Pode ser CONCLUSÃO: Não CONCLUSÃO: Não
pode ser vítima de vítima de calúnia. pode ser vítima de pode ser vítima de
calúnia. calúnia. calúnia.

ATENÇÃO : O STF e o STJ insistem em não admitir pessoa jurídica como vítima de calúnia!

MORTO PODE SER VÍTIMA DE CALÚNIA?

§ 2º - É PUNÍVEL A CALÚNIA CONTRA OS MORTOS.

CONCLUSÃO: Morto não pode ser vítima de crime algum. No presente caso, a vítima é a família do morto
que tem interesse na manutenção do seu bom nome.
É CRIME A AUTO-CALÚNIA? SIM, É UM CRIME, MAS NÃO CONTRA HONRA, É CRIME CONTRA A
ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA. AUTO-ACUSAÇÃO FALSA.
CRIME CONTRA HONRA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA PODE CONFIGURAR CRIME CONTRA A SEGURANÇA
NACIONAL.
A HONRA É BEM DISPONÍVEL OU INDISPONÍVEL? Vítima que consente em ser caluniada haverá o crime?
- Hoje é pacífico que a honra é bem disponível, se a vítima consentir para a calúnia não haverá crime.
OBJETO MATERIAL:
Pessoa a qual são dirigidos os fatos
REQUISITOS:
 Imputação de fato definido como crime;
 Falsidade da Imputação;
 Elemento Subjetivo. Animus Calunianti

§ 1º - NA MESMA PENA INCORRE QUEM, SABENDO FALSA A IMPUTAÇÃO, A PROPALA OU DIVULGA.


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TIPO SUBJETIVO
DOLOSO
DIRETO EVENTUAL
Caput pune o dolo direto e o eventual, o criador pode agir com vontade direta ou indireta.
§1º - Somente o dolo direto. “sabendo falsa a
imputação”
IMPRESCINDÍVEL a vontade efetiva de ofender a honra. Animus Caluniandi

Se o agente está CONVENCIDO DA VERACIDADE DA IMPUTAÇÃO, não responde pelo crime de calúnia,
havendo, no caso, ERRO DE TIPO (ESSENCIAL). Não importa se o erro é evitável ou inevitável; se o erro for
evitável, ele responderia pela modalidade culposa, que não existe na calúnia, não permitindo punição.
CONSUMAÇÃO
Está ligada ao tipo de honra ofendida.
- A honra atingida na calúnia é objetiva.
Crime consuma-se quando 3ºs tomam conhecimento da calúnia, independentemente do efetivo dano a
reputação da vítima. CRIME FORMAL.
TENTATIVA: SIM É POSSÍVEL. Somente na forma escrita, carta caluniadora interceptada pela própria
vítima.

EXCEÇÃO DA VERDADE (§ 3º)


Existe a possibilidade do querelado, que está sendo acionado pela calúnia, provar que aquela pessoa que
se diz vítima é, sim, o autor do crime?
Admite-se a defesa de provar ser verdade a imputação feita à vítima.
CONCEITO DE EXCEÇÃO DA VERDADE: Trata-se de incidente processual, FORMA DE DEFESA indireta
através da qual o acusado de ter praticado calúnia pretende provar a veracidade do que alegou.
A PROCEDÊNCIA DA EXCEÇÃO DA VERDADE ACARRETA A ABSOLVIÇÃO. QUAL O FUNDAMENTO DA
ABSOLVIÇÃO?
Desaparece elementar do tipo, estamos diante de uma causa de atipicidade.

§ 3º ADMITE-SE A PROVA DA VERDADE, SALVO: (provar ao juiz a verdade da imputação)

REGRA: Possibilitar a prova da verdade do fato criminoso atribuído a alguém.


CASOS EM QUE O ACUSADO NÃO PODERÁ FAZER PROVA DA VERDADE: Art. 138, §3º, CP.

I - SE, CONSTITUINDO O FATO IMPUTADO CRIME DE AÇÃO PRIVADA, O OFENDIDO NÃO FOI CONDENADO
POR SENTENÇA IRRECORRÍVEL;

Sendo o crime de dano de ação penal privada, autorizar o agente da calúnia a fazer prova da verdade seria
admitir a terceiro provar crime sobre o qual a própria vítima, titular do direito de ação do primeiro crime,
preferiu o silêncio.

II - SE O FATO É IMPUTADO A QUALQUER DAS PESSOAS INDICADAS NO Nº I DO ART. 141 (PRESIDENTE DA


REPÚBLICA, OU CONTRA CHEFE DE GOVERNO ESTRANGEIRO); - Razões políticas diplomáticas justificam
esta ressalva.

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III - SE DO CRIME IMPUTADO, EMBORA DE AÇÃO PÚBLICA, O OFENDIDO FOI ABSOLVIDO POR SENTENÇA
IRRECORRÍVEL.

Regra = competente para julgar a exceção da verdade é o próprio juiz competente para a ação penal
privada.
No entanto, conforme art. 85, do CPP, se o excepto for uma autoridade que possua foro por prerrogativa
de função, a competência para julgar a exceção será do Tribunal competente para julgar o excepto,
porque se a exceção da verdade for julgada procedente, isso significa que ficou provado que o fato
imputado é verdadeiro, ou seja, restou demonstrado, indiretamente, que aquela autoridade praticou um
crime, e só quem pode reconhecer que a autoridade praticou um delito é o Tribunal competente.
Vale ressaltar que apenas o julgamento da exceção será de competência do Tribunal. Assim, a admissão da
exceção, o processamento e os atos de instrução são realizados em 1ª instância. O juízo de 1ª instância
pode realizar um juízo negativo de admissibilidade da exceptio veritatis, sem adentrar, obviamente, no
mérito.

EXCEÇÃO DA NOTORIEDADE (art. 523, do CPP).


A exceção da notoriedade se aplica quando o FATO IMPUTADO (MESMO FALSO) É PÚBLICO E NOTÓRIO +
NÃO SE PODE FAZER PROVA DA VERDADE.
Além disso, a consequência da procedência dessa exceção é a ABSOLVIÇÃO POR CRIME IMPOSSÍVEL. O
crime é impossível, pois a conduta do agente não tem como macular a reputação da vítima, pois tal
reputação já está maculada na própria sociedade
CALUNIA MEDIANTE PAGA PROMESSA:
PARÁGRAFO ÚNICO - Se o crime é cometido MEDIANTE PAGA OU PROMESSA de recompensa, aplica-se a
pena em DOBRO.
AÇÃO PENAL
REGRA GERAL: Ação penal pública de INICIATIVA PRIVADA.

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso
do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.

Ação penal pública CONDICIONADA A REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA

Parágrafo único - Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do n.º I do art. 141, (chefe
de governo estrangeiro)

Ação penal pública CONDICIONADA A REPRESENTAÇÃO.


Parágrafo único: ... e mediante representação do ofendido, no caso do n.º I do mesmo artigo. (servidor
público)

Injúria racial: bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código.

ATENÇÃO: SÚMULA Nº 714 É CONCORRENTE A LEGITIMIDADE DO OFENDIDO, MEDIANTE QUEIXA, E DO


MINISTÉRIO PÚBLICO, CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO, PARA A AÇÃO PENAL POR
CRIME CONTRA A HONRA DE SERVIDOR PÚBLICO EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES.

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Legitimidade Extraordinária.
COMPETÊNCIA: Regra Geral: Juizado Especial Criminal (crime de menor potencial ofensivo).
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO NA EXCEÇÃO DA VERDADE: deve ser observado, ao menos para o
julgamento da exceção.

jj) DIFAMAÇÃO

ART. 139 - DIFAMAR ALGUÉM, IMPUTANDO-LHE FATO (FATO DETERMINADO) OFENSIVO À SUA
REPUTAÇÃO:
PENA - DETENÇÃO, DE TRÊS MESES A UM ANO, E MULTA.

SUJEITO ATIVO:
Crime comum que pode ser praticado por qualquer pessoa, salvo os que desfrutam de imunidades.
SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa.
PESSOA JURÍDICA PODE SER VÍTIMA?
1ª CORRENTE: Pessoa jurídica tem honra 2ª CORRENTE: (Mirabeti) Os crimes contra a
objetiva, tem reputação a ser preservada, logo honra somente protegem a honra da pessoa
pode ser vítima de difamação. (MAJORITÁRIA) física, jamais da pessoa jurídica.

MORTO PODE SER VÍTIMA DE DIFAMAÇÃO?


Morto não pode ser vítima de nenhum crime.
É PUNÍVEL A DIFAMAÇÃO CONTRA OS MORTOS?
NÃO É PUNÍVEL a difamação contra os mortos; existia previsão legal na lei de imprensa, mas tal lei não foi
recepcionada pela CRFB/88.

CONDUTA:
IMPUTAR FATO OFENSIVO A REPUTAÇÃO.
CRIME DE EXECUÇÃO LIVRE: praticado implícita/explicitamente ou por palavras, escritos, gestos etc.
O ART. 139 PUNE ALGUÉM MAIS QUE O CRIADOR? NÃO, pois não existe previsão expressa para isto.
ENTRETANTO, entende a maioria da doutrina que PROPALAR E DIVULGAR não deixa de ser uma forma de
difamar.

ELEMENTO SUBJETIVO: DOLO

EXCEÇÃO DA VERDADE:
EM REGRA NÃO É POSSÍVEL.
EXCEÇÃO:OFENDIDO FUNCIONÁRIO PÚBLICO - OFENSAS RELATIVAS AS FUNÇÕES.
138 – CALÚNIA 139 – DIFAMAÇÃO
Procedência da exceção: Procedência da exceção:
FUNDAMENTO: FUNDAMENTO
Absolvição - Atipicidade. Absolvição - Excludente especial da ilicitude.
A falsidade é elementar do tipo. É uma modalidade especial de exercício regular de direito.

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DIFAMAÇÃO MEDIANTE PAGA PROMESSA:


PARÁGRAFO ÚNICO - Se o crime é cometido MEDIANTE PAGA OU PROMESSA de recompensa, aplica-se a
pena em DOBRO.
AÇÃO PENAL
REGRA GERAL: Ação penal pública de INICIATIVA PRIVADA.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no
caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Ação penal pública CONDICIONADA A REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA
Parágrafo único - Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do n.º I do art. 141,
Ação penal publica CONDICIONADA A REPRESENTAÇÃO.
Parágrafo único: ... e mediante representação do ofendido, no caso do n.º II do mesmo artigo.
ATENÇÃO: SÚMULA Nº 714 - Legitimidade Extraordinária.
COMPETÊNCIA:
Regra Geral: Juizado Especial Criminal (crime de menor potencial ofensivo).

OBSERVAÇÕES:
OFENSA DIRETAMENTE A VÍTIMA: Se o agente dirige a difamação diretamente a vítima não sendo
espalhado para 3ºs não configura difamação, podendo configurar injúria, pois atinge a honra subjetiva.
VÍTIMA QUE CONTA OS FATOS A TERCEIRA PESSOA (agente): Se a vítima contar para terceira pessoa não
caracteriza a difamação, mas tão somente, como afirma Rogério Greco, o delito de injúria, de menor
gravidade, comparativamente ao crime de difamação.
A difamação também admite a exceção da notoriedade. Note que o art. 523 do CPP está inserido no
Capítulo III – “Do processo e julgamento dos crimes de calúnia e injúria”. Ocorre que, quando o CPP foi
elaborado, não existia o crime específico de difamação, que era uma espécie de injúria. Por esse motivo é
que podemos considerar que a difamação também está incluída no âmbito de aplicação dessa norma.

kk) INJÚRIA

ART. 140 - INJURIAR ALGUÉM, OFENDENDO-LHE A DIGNIDADE OU O DECORO:


PENA - DETENÇÃO, DE UM A SEIS MESES, OU MULTA.

SUJEITO ATIVO:
Qualquer pessoa, crime comum. Salvo os detentores de imunidade.
OBS: O Advogado tem imunidade profissional quanto à injúria. (este só não tem para a calúnia)

INJÚRIA SIMPLES INJÚRIA REAL INJÚRIA PRECONCEITUOSA


Art. 140 caput Art. 140 §2º Art. 140 § 3º.

INJÚRIA ABSOLUTA INJÚRIA RELATIVA


Existe quando a expressão tem por si mesma Existe quando a expressão assume caráter ofensivo se
e para qualquer um significado ofensivo proferida em determinada circunstancias ou condições
constante e unívoco. de forma, tom, modo, lugar, etc.

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ELEMENTO SUBJETIVO- DOLO


Sendo imprescindível a intenção de ofender
CONSUMAÇÃO: - CRIME FORMAL:
- Afeta-se a honra subjetiva / Dignidade, decoro
CONSUMA-SE QUANDO A VÍTIMA TOMA CONHECIMENTO DA INJÚRIA
TENTATIVA: É perfeitamente possível tentativa de injúria (exemplo: Carta interceptada por 3º, evitando o
conhecimento da vítima)
INJÚRIA NÃO ADMITE A EXCEÇÃO DA VERDADE.
PERDÃO JUDICIAL - PRÓPRIO DA INJÚRIA

§ 1º - O JUIZ PODE (PODER-DEVER) DEIXAR DE APLICAR A PENA:

PREENCHIDOS OS REQUISITOS, é DIREITO SUBJETIVO DO ACUSADO


EM AMBOS OS INCISOS O OFENDIDO PROVOCOU.
I - QUANDO O OFENDIDO, DE FORMA REPROVÁVEL, II - NO CASO DE RETORSÃO IMEDIATA, QUE
PROVOCOU DIRETAMENTE A INJÚRIA; CONSISTA EM OUTRA INJÚRIA.
PROVOCAÇÃO SEGUIDA DE INJURIA PROVOCAÇÃO - SEGUIDA DE INJÚRIA
TAPA NO ROSTO INJÚRIA

QUAL O INTERESSE DE DIFERENCIAR?


No inciso I o juiz somente perdoa a injúria e não um tapa No inciso II juiz perdoa ambas as injurias
TAPA PROVOCADOR SERÁ PUNIDO.

Lei de imprensa declarada não recepcionada pelo STF. Tudo que envolver a lei de imprensa deverá buscar
amparo nos ordenamentos abaixo
CP CÓDIGO CIVIL CONSTITUIÇÃO
Crimes de calúnia, difamação, e injúria Norma socorro.
passam a ser tipificados pelo CP.
Se não encontrar amparo no CP, será Direito de resposta.
atípica a conduta. Cabe ao juiz no caso concreto analisar.

INJÚRIA REAL
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado,
se considerem aviltantes:
PENA - DETENÇÃO, DE TRÊS MESES A UM ANO, E MULTA, ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA
(ainda é crime de menor potencial ofensivo).

É A INJURIA PRATICADA COM VIOLÊNCIA OU VIAS DE FATO.


Para a maioria da doutrina, há um concurso material entre a injúria e a violência.

INJÚRIA PRECONCEITUOSA

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§ 3O SE A INJÚRIA CONSISTE NA UTILIZAÇÃO DE ELEMENTOS REFERENTES A RAÇA, COR, ETNIA, RELIGIÃO,


ORIGEM OU A CONDIÇÃO DE PESSOA IDOSA OU PORTADORA DE DEFICIÊNCIA:
PENA - RECLUSÃO DE UM A TRÊS ANOS E MULTA (Infração de médio potencial ofensivo, não sendo
apreciado no JEF).
Agente para atingir a dignidade, decoro da vítima se vale dos elementos acima expostos. Aqui haverá ação
pública condicionada.

ATENÇÃO :A INJÚRIA QUALIFICADA NÃO SE CONFUNDE COM O CRIME DE RACISMO.

INJÚRIA QUALIFICADA DELITO DE RACISMO


Atividade qualidade negativa Segregação- vítima do convívio social.
PRESCRITÍVEL IMPRESCRITÍVEL
AFIANÇÁVEL INAFIANÇÁVEL
AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PÚBLICA AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PUBLICA
CONDICIONADA. INCONDICIONADA.
DOUTRINA: DOUTRINA:
RACISMO IMPRÓPRIO RACISMO PRÓPRIO

VEDAÇÃO AO PERDÃO JUDICIAL AO §3º.


- Não se aplica o perdão judicial do § 1º quando a injúria for qualificada pelo preconceito. Não bastasse a
posição topográfica do perdão judicial (indicando aplicar-se somente a forma simples), o preconceito
manifestado viola de forma séria a honra da vítima e uma das metas fundamentais do estado democrático
de direito que é erradicar qualquer forma de preconceito.

A injúria NÃO admite exceção da verdade nem da notoriedade.

DISPOSIÇÕES FINAIS DOS CRIMES CONTRA HONRA.

Crimes contra a honra praticados pelas redes sociais da internet: competência da JUSTIÇA ESTADUAL
(regra geral)

EXCLUSÃO DO CRIME

Art. 142 - Não constituem INJÚRIA ou DIFAMAÇÃO punível (NÃO É APLICÁVEL A CALÚNIA)

I - A OFENSA IRROGADA EM JUÍZO, NA DISCUSSÃO DA CAUSA, PELA PARTE OU POR SEU PROCURADOR;

II - A OPINIÃO DESFAVORÁVEL DA CRÍTICA LITERÁRIA, ARTÍSTICA OU CIENTÍFICA,SALVO QUANDO


INEQUÍVOCA A INTENÇÃO DE INJURIAR OU DIFAMAR;

NÃO SÃO PERSONALÍSSIMAS.

III - O CONCEITO DESFAVORÁVEL EMITIDO POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO, EM APRECIAÇÃO OU INFORMAÇÃO


QUE PRESTE NO CUMPRIMENTO DE DEVER DO OFÍCIO.

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IMUNIDADE FUNCIONAL: MESMO nesta imunidade não pode haver propósito de ofender.

PARÁGRAFO ÚNICO - NOS CASOS DOS NS. I E III, RESPONDE PELA INJÚRIA OU PELA DIFAMAÇÃO QUEM LHE
DÁ PUBLICIDADE.

NATUREZA JURÍDICA DO ARTIGO 142.


1ª CORRENTE: 2ª CORRENTE: 3ª CORRENTE:
CAUSA ESPECIAL DE CAUSA DE EXCLUSÃO DA CAUSA DE EXCLUSÃO DOLO/
EXCLUSÃO DA ILICITUDE PUNIBILIDADE(MAGALHÃES (PROPÓSITO DE OFENDER)
(DAMÁSIO). É majoritária. NORONHA) ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO,
REPRESENTADO PELO PROPÓSITO DE
OFENDER (FRAGOSO)
OBS: Adotando-se a tipicidade conglobante, o artigo 142 irá excluir a própria tipicidade.

RETRATAÇÃO

ART. 143 - O QUERELADO QUE, ANTES DA SENTENÇA (1ºgrau – não existe em grau recursal), SE RETRATA
CABALMENTE DA CALÚNIA OU DA DIFAMAÇÃO, FICA ISENTO DE PENA. (não cabível para injúria OBS: Na lei
de imprensa havia esta possibilidade, mas não foi recepcionada).

RETRATAR-SE - É não apenas negar ou confessar a prática da ofensa, mas retirar do mundo o que se
afirmou.
NATUREZA JURÍDICA: Causa extintiva da punibilidade. - Fato permanece típico, ilícito e culpável.
Não obsta ação civil.
Dispensa concordância da vítima.
Caráter subjetivo, não se estende aos querelados que não se retrataram.

Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga
ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá
satisfatórias, responde pela ofensa.

PEDIDO DE EXPLICAÇÕES: medida preparatória e facultativa para o oferecimento da queixa quando em


virtude dos termos empregados ou do verdadeiro sentido das frases, não se mostra evidente a intenção de
caluniar, difamar, ou injuriar, (honra alheia) causando dúvida quanto ao significado da manifestação do
autor. O pedido não interrompe e nem suspende o prazo decadência, pois é facultativo. A RESPOSTA É
FACULTATIVA, pois existe o DIREITO AO SILÊNCIO.
Qual o rito que se aplica? O pedido de explicação do juízo segue o rito das notificações judiciais (arts. 861
a 866 do CPC). Antes da lei de imprensa ser declarada inconstitucional pelo STF aplicava-se o artigo 25 dela.

AÇÃO PENAL

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso
do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.

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Parágrafo único - Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do n.º I do art. 141, e
mediante representação do ofendido, no caso do n.º II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art.
140 deste Código. (parte final prevista em 2009).

REGRA:AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA


EXCEÇÕES:
A) INJÚRIA REAL: Ação penal pública incondicionada se da violência resulta lesão corporal.
OBS: na injúria real com vias de fato a Ação penal é privada.

B) CRIME CONTRA HONRA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA OU CHEFE DE GOVERNO ESTRANGEIRO: Ação


penal pública condicionada a requisição do ministro da justiça.
C) CRIME CONTRA FUNCIONÁRIO NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO: Ação penal pública condicionada a
representação.
STF - SÚMULA Nº 714 – Legitimidade Extraordinária.
A OPÇÃO POR UM CAMINHO GERA A PRECLUSÃO PARA O OUTRO? SIM!
CONSEQÜÊNCIAS DA SUMULA 714:
Crime contra honra de servidor em razão de suas funções.
OPÇÃO PELA QUEIXA CRIME OPÇÃO PELA REPRESENTAÇÃO
- Possível perdão do ofendido. - Não existe perdão do ofendido;
- Possível retratação extintiva da punibilidade. -Não há retratação com extinção da
- Possibilidade de perempção. punibilidade;
- Não há perempção para o MP;

D) INJURIA QUALIFICADA (ART. 140, § 3º): possibilidade de ação penal pública condicionada. Previsão de
2009.

OBSERVAÇÃO QUANTO A LEI DE IMPRENSA

OFENSA A HONRA:
C.P. C.C. Ato Administrativo
Tutela crimes. Tutela atos ilícitos Atos ilícitos
Tudo isto cedia espaço para a lei especial que era a lei de imprensa tutelava em sua as
previsões acima diretamente nela.
LEI DE IMPRENSA - NÃO RECEPCIONADA
COMO FICAM OS CRIMES NA LEI DE IMPRENSA?
Se existir infração com tipo correspondente no CP ou em alguma outra norma geral penal,
será aplicada. Caso não haja a previsão em outra norma geral, será caso de atipicidade. O
juiz não pode trabalhar com analogia.
COMO FICAM ATOS ILÍCITOS CIVIS?
Aplica-se o CC. Cabe analogia, e princípios gerais de direito.
COMO FICAM ATOS ILÍCITOS ADMINISTRATIVO?
Aplicam-se as leis especiais e até mesmo a CF.
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COMO FICA A SITUAÇÃO DO PRAZO DECADENCIAL (3 MESES) QUE EXISTIA NA LEI DE IMPRENSA PARA
CALÚNIA/DIFAMAÇÃO/INJURIA? A regra agora é 6 meses, prevista no CP.
Existia a possibilidade de suspensão de tal prazo na lei de imprensa, porém HOJE NÃO EXISTE MAIS A
SUSPENSÃO.
DIREITO DE RESPOSTA NA LEI DE IMPRENSA - Impetrado o direito de resposta havia o impedimento da
ação penal, a ação de reparação de danos. Também não corria o prazo decadencial. Hoje pode ingressar
com o direito de resposta, com a queixa crime e com a ação de reparação de danos - Uma não é mais
prejudicial da outra.

ll) CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL


mm) CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

SÃO CRIMES SUBSIDIÁRIOS. Somente são usados caso não configurem lesões mais graves. A
doutrina alude que o antecedente mais remoto do crime de constrangimento ilegal remonta ao direito
romano, consistindo na vis.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL

Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por
qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não
manda:

Pena - DETENÇÃO, de três meses a um ano, ou multa

SUJEITO ATIVO / SUJEITO PASSIVO: Crime comum em ambos os casos.


OBJETO MATERIAL / BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO: Liberdade Física/Psíquica.
Objeto Material: Pessoa que em razão dos meios utilizados pelo agente é obrigado a não fazer o que a lei
permite ou fazer o que ela não manda.
CONSUMAÇÃO: Quando a vítima deixa de fazer o que a lei permite ou faz aquilo que ela não manda.
Exige-se a produção do resultado naturalístico.
TENTATIVA: Possível, pois é crime plurissubsistente. Ex. Vítima que, intimada pelo agente, não deixa de
fazer aquilo que a lei permite, ou deixa de fazer aquilo que ela não manda.
CONDUTAS: COMISSIVA (REGRA). OMISSIVA. Somente quando tiver status de garantidor.
VIOLÊNCIA: AMEAÇA: QUALQUER OUTRO
Efetivo exercício de forca física Violência moral é o ultimato, a MEIO QUE REDUZA A
ou mecânica sobre a vítima ou manifestação do propósito de causar a CAPACIDADE DE
terceira pessoa, desde que, alguém, direta ou indiretamente, atual RESISTÊNCIA DA
nesse caso, atinja ou iminente, um mal injusto e grave, VÍTIMA (VIOLÊNCIA
indiretamente o individuo ainda que o seu autor de fato não tenha IMPRÓPRIA)
coagido. intenção de realizá-lo.

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TIPO SUBJETIVO: SOMENTE DOLO. NÃO IMPORTA O MOTIVO QUE LEVOU O AGENTE A REALIZAR O
CRIME.

AUMENTO DE PENA

§ 1º - AS PENAS APLICAM-SE CUMULATIVAMENTE E EM DOBRO, QUANDO, PARA A EXECUÇÃO DO CRIME,


SE REÚNEM MAIS DE TRÊS PESSOAS, OU HÁ EMPREGO DE ARMAS.

CONCURSO DE CRIMES

§ 2º - ALÉM DAS PENAS COMINADAS, APLICAM-SE AS CORRESPONDENTES À VIOLÊNCIA. A lei penal pune de
forma distinta, a violência neste crime, muito embora ela seja uma elementar integrante do tipo penal.
Desta forma, as penas correspondentes a uma lesão corporal qualquer que seja a natureza deverão ser
aplicadas cumulativamente com a pena do crime de constrangimento ilegal.

HIPÓTESE DE CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO. Porque mediante uma só ação ele constrange a vítima e
produz lesões corporais nela.

§ 3º - NÃO SE COMPREENDEM NA DISPOSIÇÃO DESTE ARTIGO: HIPÓTESES QUE CONDUZEM A ATIPICIDADE


DO FATO PRATICADO PELO AGENTE

I - A INTERVENÇÃO MÉDICA OU CIRÚRGICA, SEM O CONSENTIMENTO DO PACIENTE OU DE SEU


REPRESENTANTE LEGAL, SE JUSTIFICADA POR IMINENTE PERIGO DE VIDA;

II - A COAÇÃO EXERCIDA PARA IMPEDIR SUICÍDIO.

Pode ser tanto exclusão da tipicidade ou exclusão da ilicitude.


CONSENTIMENTO DO OFENDIDO: anterioridade ou simultaneidade, disponibilidade do bem e
capacidade para consentir.
VIAS DE FATO EM CONCURSO COM CONSTRANGIMENTO ILEGAL: Vias de fato fica absorvida. A previsão
do §2º abrange tão somente a lesão corporal.
CONSTRANGIMENTO EXERCIDO PARA IMPEDIR A PRATICA DE UM CRIME, NÃO CONFIGURA
CONSTRANGIMENTO ILEGAL, afinal qualquer um do povo poder prender em flagrante.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL X EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZOES: Não configura
constrangimento ilegal, mas sim o delito do 345.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL X TORTURA:
A tortura traz um fim específico, que é causar sofrimento físico e mental, com o fim de obter
informações, declarações ou confissão da vítima ou de terceira pessoa para provocar a ação ou omissão
de natureza criminosa ou em razão de discriminação racial ou religiosa.
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA

nn) AMEAÇA

ART. 147 - AMEAÇAR ALGUÉM, POR PALAVRA, ESCRITO OU GESTO, OU QUALQUER OUTRO MEIO
SIMBÓLICO, DE CAUSAR-LHE MAL INJUSTO E GRAVE:

PENA - DETENÇÃO, DE UM A SEIS MESES, OU MULTA.


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PARÁGRAFO ÚNICO - SOMENTE SE PROCEDE MEDIANTE REPRESENTAÇÃO.

SUJEITO ATIVO / PASSIVO: CRIME COMUM (regra)


SUJEITO ATIVO SUJEITO PASSIVO:
Se for Funcionário público no exercício das Deve ter capacidade de discernir a promessa de
funções: Crime de abuso de autoridade e a mal injusto que é proferida contra a sua pessoa.
ameaça é elemento integrante da figura típica.
INDISPENSÁVEL QUE A AMEAÇA SEJA CONTRA PESSOA DETERMINADA.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: CRIME FORMAL


Consuma-se ainda que concretamente a vítima não tenha se intimidado ou mesmo ficado receosa do
cumprimento da promessa do mal injusto e grave.
Basta que a ameaça tenha capacidade de influir temor em um homem comum. Dispensável a presença da
pessoa ameaçada.
TENTATIVA: Discussão doutrinária. Os que admitem a tentativa falam ser possível no caso da ameaça via
carta.
ELEMENTO SUBJETIVO:DOLO DIRETO / DOLO EVENTUAL
Indispensável que a vontade do agente seja dirigida finalisticamente a perturbar a tranquilidade psíquica
da vítima.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL X AMEAÇA
Mal grave. Mal injusto e grave.
Tenciona-se conduta positiva ou negativa da O agente pretende atemorizar o sujeito passivo.
vítima

oo) SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO

Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:

Pena - reclusão, de UM a TRÊS anos (médio potencial ofensivo).

Anota Fragoso que “a constituição romana Zenon, no ano de 486 d.c. considerava o cárcere privado
usurpação do poder soberano de encarceramento, e, pois, como crise de lesa-majestade, punido com a
morte”.

BEM JURÍDICO TUTELADO: LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO.


SUJEITO ATIVO: Crime comum. Podendo ser praticado por qualquer pessoa.
SUJEITO PASSIVO: Crime comum Doutrina majoritária. Quando o crime for praticado por funcionário
público podemos estar diante do abuso de autoridade.

SEQÜESTRO CÁRCERE PRIVADO


Privação sem confinamento da vítima. Privação com confinamento da vítima
Vítima fica privada em um sítio, chácara. Vítima privada da liberdade em um
quarto, cômodo.
(espécie) (gênero)
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O cárcere privado justifica uma pena base


mais severa do que o sequestro, pois traz
consequências maiores para a vítima.
(art. 59)

Obs.: Há doutrina minoritária que dizem que é a mesma coisa, entretanto a previsão expressa é que são
crimes diferentes. Doutrina costuma dizer que sequestro é gênero do qual o cárcere é espécie.
CRIME PODE SER PRATICADO POR AÇÃO OU OMISSÃO.
ATENÇÃO: Não se exige o deslocamento da vítima de um local para o outro
CONDUTA OMISSIVA: Médico que não concede alta para paciente já curado.

ELEMENTO SUBJETIVO: CRIME PUNIDO A TÍTULO DE DOLO, SEM FINALIDADE ESPECIAL.

§ 1º - A PENA É DE RECLUSÃO, DE DOIS A CINCO ANOS:

I - SE A VÍTIMA É ASCENDENTE, DESCENDENTE,CÔNJUGE OU COMPANHEIRO DO AGENTE OU MAIOR DE


60(SESSENTA) ANOS;

II - SE O CRIME É PRATICADO MEDIANTE INTERNAÇÃO DA VÍTIMA EM CASA DE SAÚDE OU HOSPITAL;

III - SE A PRIVAÇÃO DA LIBERDADE DURA MAIS DE 15 (QUINZE) DIAS.

IV - SE O CRIME É PRATICADO CONTRA MENOR DE 18 (DEZOITO) ANOS;

V - SE O CRIME É PRATICADO COM FINS LIBIDINOSOS. (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005): pena 2 a 5
anos.

Lei 11.106/2005 ANTES Lei 11.106/2005 DEPOIS


SEQÜESTRAR + FINS LIBIDINOSOS SEQÜESTRAR + FINS LIBIDINOSOS
Art. 219 Rapto violento Art. 219 transforma-se Art 148 §1º V
ou (Princípio da continuidade normativo-típica)
Art. 220 Rapto consensual Art. 220 (abolitio criminis)

Abolitio criminis Principio da continuidade normativa típica.


Revogação formal Revogação material
A intenção do legislador é não mais considerar A intenção é manter o caráter criminoso do
o fato criminoso. fato.
Revogação material Manutenção substancial
Ex. Sedução, Adultério. Ex. Tráfico de drogas.

Repercussão prática:
Antes da lei 11.106/2005 Depois da lei 11.106/2005
Art. 219 CP. Art. 148 §1º V
Pena de 2 a 4 anos. Pena de 2 a 5 anos.

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Ação penal de iniciativa privada. Ação penal de iniciativa pública incondicionada.

pp) REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a
jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:

Pena - reclusão, de DOIS a OITO anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Redação dada
pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

§ 1o NAS MESMAS PENAS INCORRE QUEM: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do


trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

Doutrina chama este crime de plágio: sujeição de uma pessoa a outra (o direito romano denominava
plágio a escravização do homem livre).
BEM JURÍDICO TUTELADO:
QUAL O BEM JURÍDICO PROTEGIDO?
1ª Corrente: 2ª Corrente:
Liberdade individual Organização do trabalho (Primário)
(status libertatis) Liberdade individual (secundário) – crime pluriofensivo
Argumentos: Argumentos:
Posição topográfica do artigo 149, está no O tipo está equivocadamente introduzido no CP.
capítulo dos crimes contra a liberdade
individual.
A exposição de motivos do CP diz que é
crime contra a liberdade individual.
COMPETÊNCIA JUSTIÇA FEDERAL – atualmente é o que
prevalece. No passado se entendia que era
competência da justiça estadual (CC 62156/STJ).

SUJEITO ATIVO: Crime comum.


SUJEITO PASSIVO: Crime comum. Greco discorda; para ele a relação de trabalho entre os sujeitos torna o
crime próprio.
CONDUTA:
PUNE A ESCRAVIZAÇÃO DE FATO DO HOMEM.
Sujeição de uma pessoa ao domínio da outra.
ANTES DA LEI 10.803 DEPOIS DA LEI 10.803/2003
EXECUÇÃO LIVRE EXECUÇÃO VINCULADA, somente podendo ser
praticado nas 5 hipóteses do 149.
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CONDUTAS:
qq) Submeter a vítima a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva;
rr) Sujeitá-la a condições degradantes de trabalho;
ss) Restringir, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou
preposto.
tt) Cercear o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local
de trabalho.
uu) Manter vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apoderar de documentos ou objetos pessoais
do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
JURISPRUDÊNCIA O DELITO DE SEQUESTRO FICA ABSORVIDO PELO DE REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA
DE ESCRAVO. (apesar de os bens jurídicos serem diversos).
ELEMENTO SUBJETIVO:
Pune-se somente o dolo ou dolo com finalidade especial?
CAPUT: SOMENTE A TÍTULO DE DOLO
§ 1º: DOLO + FINALIDADE ESPECIAL

TENTATIVA: O crime é plurisubsistente, sendo assim admite-se a tentativa.


AUMENTO DA PENA:

§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

I - contra criança ou adolescente;

ATENÇÃO: NÃO ABRANGE O IDOSO.

II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Não abrange o preconceito sexual nem o econômico.

vv) DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO


ww) VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO

ART. 150 - ENTRAR OU PERMANECER, CLANDESTINA OU ASTUCIOSAMENTE, OU CONTRA A VONTADE


EXPRESSA OU TÁCITA DE QUEM DE DIREITO, EM CASA ALHEIA OU EM SUAS DEPENDÊNCIAS:

PENA - DETENÇÃO, DE UM A TRÊSMESES, OU MULTA.

Protege a liberdade privada e doméstica do indivíduos


SUJEITO ATIVO SUJEITO PASSIVO
Qualquer pessoa. Morador (não necessariamente o
proprietário)
NÃO CONFIGURA O DELITO A ENTRADA OU PERMANÊNCIA EM CASAS VAZIAS OU DESABITADAS.
TIPO SUBJETIVO: SOMENTE PUNIDO A TITULO DE DOLO.

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CONSUMAÇÃO / TENTATIVA: Delito de mera conduta.


Primeira Parte: Instantâneo/Segunda Parte: Permanente.
TENTATIVA: Mesmo sendo de mera conduta, ele admite a tentativa.
 Ingressar poderá haver tentativa, quando o agente é pego escalando o muro por
policial que fazia ronda noturna.
 Permanecer, quando manifestada a vontade de ficar, a permanência por
circunstancias alheias à vontade do agente, não atinge um limite de tempo considerável que permite ter o
crime por consumado.
É CRIME SUBSIDIÁRIO

QUALIFICADORAS:

§ 1º - SE O CRIME É COMETIDO DURANTE A NOITE, OU EM LUGAR ERMO, OU COM O EMPREGO DE


VIOLÊNCIA OU DE ARMA, OU POR DUAS OU MAIS PESSOAS:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.
AUMENTO DE PENA:

§ 2º - AUMENTA-SE A PENA DE UM TERÇO, SE O FATO É COMETIDO POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO, FORA DOS
CASOS LEGAIS, OU COM INOBSERVÂNCIA DAS FORMALIDADES ESTABELECIDAS EM LEI, OU COM ABUSO DO
PODER.

Cuidado com o princípio da especialidade no caso do servidor público. Abuso de autoridade é lei especial
em face ao CP, devendo ser aplicada ela.
EXCLUDENTE DE ILICITUDE:

§ 3º - NÃO CONSTITUI CRIME A ENTRADA OU PERMANÊNCIA EM CASA ALHEIA OU EM SUAS


DEPENDÊNCIAS:
I - DURANTE O DIA, COM OBSERVÂNCIA DAS FORMALIDADES LEGAIS, PARA EFETUAR PRISÃO OU OUTRA
DILIGÊNCIA;
II - A QUALQUER HORA DO DIA OU DA NOITE, QUANDO ALGUM CRIME ESTÁ SENDO ALI PRATICADO OU NA
IMINÊNCIA DE O SER.
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
Deve o entendimento de casa ser entendido de forma mais ampla possível, abrangendo qualquer
compartimento habitável, ainda que em caráter eventual (quarto hotel), independentemente da sua
destinação, bem como suas dependências. .
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II
do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA.

DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA


Magalhães Noronha fala que é forma de proteção da manifestação da liberdade individual.

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Direito que o homem tem de comunicar-se com outros, na vida comunitária, o que evidentemente não se
concilia com a indébita intromissão de outrem. É a liberdade de comunicação de pensamento que aqui se
tem em vista.
Em regra, os crimes desta seção III são subsidiários, desaparecendo, ficando absorvido pelo crime mais
grave.

xx) Dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência


yy) VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA

Art. 151 - DEVASSAR INDEVIDAMENTE o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem: PENA -
DETENÇÃO, DE UM A SEIS MESES, OU MULTA.

TENTATIVA: É possível, momento que o agente viola a carta, mas não toma conhecimento do conteúdo.
SONEGAÇÃO OU DESTRUIÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA

§ 1º - Na mesma pena incorre:

I - QUEM SE APOSSA INDEVIDAMENTE DE CORRESPONDÊNCIA ALHEIA, EMBORA NÃO FECHADA E, NO TODO


OU EM PARTE, A SONEGA OU DESTRÓI;

Neste caso o agente dolosamente e indevidamente, se apossa de correspondência alheia e no todo ou em


parte, a sonega ou destrói, ferindo os interesses do remetente e do destinatários.
CONDUTA: ocultação / destruição.
CRIME FORMAL: Consuma-se com o simples apossamento.
OBS: Agente que se apossa de correspondência, e antes de destruir ou sonegar toma conhecimento de seu
conteúdo, o crime de violação é tido como mero exaurimento do primeiro que já se consumou em
momento anterior.
TENTATIVA: Possível nas hipóteses de iniciada a iter criminis não consuma o delito por circunstancias
alheias à vontade.
VIOLAÇÃO DE COMUNICAÇÃO TELEGRÁFICA, RADIOELÉTRICA OU TELEFÔNICA

II - QUEM INDEVIDAMENTE DIVULGA, TRANSMITE A OUTREM OU UTILIZA ABUSIVAMENTE COMUNICAÇÃO


TELEGRÁFICA OU RADIOELÉTRICA DIRIGIDA A TERCEIRO, OU CONVERSAÇÃO TELEFÔNICA ENTRE OUTRAS
PESSOAS;

Pune-se a indevida divulgação da transmissão do conteúdo da comunicação telegráfica ou radioelétrica


dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas.

CUIDADO COM A LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA.

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática,
ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.

1ª Parte Não revogou o delito previsto no CP. No CP pune-se a indevida divulgação ou transmissão de
conteúdo de comunicação.

2ª Parte Aqueles que quebram o segredo inerente ao procedimento, divulgando o conteúdo da diligencia a
pessoa alheia ao ato.

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Esta segunda parte é uma lei especial, que trata de um delito próprio, praticado por algum tipo de agente
que tenha participação no procedimento judicial.

III - QUEM IMPEDE A COMUNICAÇÃO OU A CONVERSAÇÃO REFERIDAS NO NÚMERO ANTERIOR;

IV - QUEM INSTALA OU UTILIZA ESTAÇÃO OU APARELHO RADIOELÉTRICO, SEM OBSERVÂNCIA DE


DISPOSIÇÃO LEGAL.

Revogado pelo artigo 70 da lei 4.117/62 Código Brasileiro de Telecomunicações.

zz) CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL

Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no
todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, OU revelar a estranho seu
conteúdo:

Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

O bem jurídico referido pelo artigo não é propriamente o sigilo, mas sim o interesse específico em evitar o
risco de dano à empresa ou a terceiro pela divulgação de alguma correspondência (BUSATO).

aaa) DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS


bbb) DIVULGAÇÃO DE SEGREDO

ART. 153 - DIVULGAR ALGUÉM, SEM JUSTA CAUSA, CONTEÚDO DE DOCUMENTO PARTICULAR OU DE
CORRESPONDÊNCIA CONFIDENCIAL, DE QUE É DESTINATÁRIO OU DETENTOR, E CUJA DIVULGAÇÃO POSSA
PRODUZIR DANO A OUTREM:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Trata-se da identificação do interesse jurídico-penal na valoração da liberdade, expressa sob a forma de


privacidade. Aqui, no entanto, não é mais o direito ao contato privado com terceiros através da
correspondência, mas, sim, o direito à privacidade do próprio conteúdo da informação (BUSATO).
Note-se que o foco da incriminação são aquelas aflições da privacidade que atingem que atingem os
interesses de liberdade individual somente, e não quando a violação da privacidade significa um prejuízo
para outra classe de interesses mais relevantes, como é o caso da violação de sigilo profissional, no âmbito
da administração pública (art. 325 do CP), ou a violação do sigilo em proposta de concorrência (art. 94 da
lei 8666). É possível, no entanto, que o sujeito tenha se apossado e eventualmente devassado a
correspondência, já indevidamente, o que aperfeiçoa o tipo de ação da violação de correspondência, e, em
seguida, divulgue segredo nela contido, caracterizando o crime de divulgação de segredo, o que configura
concurso material entre os delitos. Bittencour discorda, pois entende haver uma relação de crime-meio e
crime-fim, pelo que, defende a absorção da violação de correspondência pela divulgação de segredo.

ccc) VIOLAÇÃO DO SEGREDO PROFISSIONAL


Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:

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Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.


Parágrafo único - somente se procede mediante representação.

ddd) INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO (Incluído pela Lei nº 12.737/12).


Art. 154-A – Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante
violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para
obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1° Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de
computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2° Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
§ 3° Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos
comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não
autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
§ 4° Na hipótese do § 3°, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou
transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.
§ 5° Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da
Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
Ação penal
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o
crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União,
Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos.

A importância crescente do armazenamento de dados e informações, a dependência da organização


pública e privada em relação ao bom funcionamento dos sistemas de computadores, o volume de
informações armazenadas por provedores, compelem a reconhecer a existência de algo mais em termos
de valores, sobre o que deve debruçar-se o legislador (BUSATO)
Atenção: a violação de sigilo bancário ou de instituição financeira caracteriza crime mais grave, previsto no
art. 18 da Lei 7.492/86, punido com reclusão, de um a quatro anos, e multa. Lembrar do conflito aparente
entre o art. 10 da LC105 e o art. 18 da lei 7492:
A LC 105/2001, em seu art. 10, não estabeleceu nova conduta ilícita a exigir nova definição da competência,
mas apenas regulamentou as hipóteses de quebra de sigilo bancário previstas no art. 18 da Lei 7.492/86;
assim, permanece a competência da Justiça Federal para processar e julgar os crimes de quebra de sigilo
bancário, nos termos do art. 26 da Lei 7.492/86. Precedente desta Corte (STJ, CC 118973)

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Cometimento reiterado de crimes contra o patrimônio pode afastar a bagatela, ainda que o valor
isolado dos bens seja reduzido (STF, HC 117083)

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eee) DISPOSIÇÕES GERAIS DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, (Crimes contra o
Patrimônio), em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
Abrange o convivente em união estável, pois não se veda analogia in bonam parten
II - De ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. (irmãos
poderão processar mas é AP condicionada)
Não estão abrangidos nas imunidades, furto entre irmãos, furto entre colaterais e furto entre afins.
Somente ascendente e descendente.

ESCUSA ABSOLUTÓRIA (IMUNIDADE PATRIMONIAL ABSOLUTA): é causa de extinção da


punibilidade: o crime era punível, mas o Estado abre mão após o cometimento (doutrina moderna)
Alguns autores diferencial escusa e imunidade, considerando que esta última é causa de exclusão da
punibilidade – que nunca existiu em concreto (doutrina clássica).

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em
prejuízo:
ESCUSA RELATIVA: Só altera a espécie de ação penal.
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
ESCUSA RELATIVA
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores (haverá incidência da pena e a ação será
incondicionada):
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência
à pessoa;
(roubo ou extorsão não exclui a pena, também no caso da grave ameaça contra a pessoa)
II - ao estranho que participa do crime. (COMPARSA)
Escusa é personalíssima
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. (Estatuto do Idoso)

TIPOS : furto, roubo, usurpação, dano, apropriação indébita, estelionato e receptação

fff) FURTO

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de UM a QUATRO ANOS, e multa.

BEM JURÍDICO TUTELADO: propriedade, posse e detenção legítimas (majoritária)


Doutrina minoritária: apenas propriedade (Hungria) ou apenas propriedade e posse (Noronha)

SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa (crime comum), salvo o próprio dono da coisa.
Proprietário que subtrai coisa própria em poder de terceiro comete exercício arbitrário das próprias
razões (CP, art. 345/346).

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Funcionário público: responde por peculato-furto (art. 312 §1º) se a subtração foi facilitada em razão
do cargo; do contrário, comete furto

ELEMENTOS DO TIPO
SUBTRAIR: apoderamento direto ou indireto (ex: por animais ou instrumentos).
COISA: objeto economicamente apreciável.
A doutrina moderna admite furto de coisas de relevante valor moral ou sentimental
ALHEIA: o agente deve saber que a coisa é de terceiro, ainda que não saiba quem é o dono

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: aplica-se ao crime de furto, porém, deve-se distinguir valor


insignificante e pequeno valor.
Furto de bicicleta de pessoa pobre é de pequeno valor, mas não é bagatelar (STF, HC 105963 e STJ, HC
217666). Neste caso, se aplica o furto privilegiado (CP, 155 § 2º).
A jurisprudência recomenda uma análise ampla das circunstancias e resultados do delito.
Requisitos:
a) mínima ofensividade da conduta do agente.
b) nenhuma periculosidade social da ação.
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

OBJETO MATERIAL
Cadáver só pode ser objeto de furto se utilizado (licitamente) como bem de valor econômico (ex:
objeto de estudo, peça arqueológica)
Furto de cadáver, em regra, incide no tipo do CP, 221 (destruir, subtrair ou ocultar cadáver)
Coisa pública de uso comum, em regra, não é objeto material de furto, pois a todos pertence (não é
coisa alheia). Excepcionalmente, se destacada para atender atividade econômica de alguém, passa a
ser considerada coisa alheia, podendo, neste caso, ser objeto material de furto.

ELEMENTO SUBJETIVO: dolo genérico com a finalidade especial de apoderamento definitivo.

FURTO DE USO É ATÍPICO.


Ausência do elemento subjetivo.
O nome correto segundo Rogério Greco deveria ser SUBTRAÇÃO DE USO e não furto de uso. ELE É
INCRIMINADO NO CP MILITAR.

Furto famélico não é antijurídico em razão do estado de necessidade


REQUISITOS:
a) Fato seja praticado para mitigar a fome;
b) Que seja o único e derradeiro recurso do agente; (inevitabilidade do comportamento lesivo)
c) Que haja subtração de coisa capaz de diretamente contornar a emergência.
d) Insuficiência dos recursos adquiridos pelo agente, ou impossibilidade de trabalho.

CONSUMAÇÃO (teorias)

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1) CONCRECTACIO: consumação se dá pelo simples contato entre o agente e a coisa alheia,


dispensando o seu deslocamento.
2) AMOTIO/APREHENSIO: Ocorre a consumação quando a coisa subtraída passa para o poder
do agente, mesmo que num curto espaço de tempo, independentemente de deslocamento e
posse ou mansa e pacífica; STF/ STJ
3) ABLATIO: A consumação ocorre quando o agente depois de apoderar-se da coisa consegue
deslocá-la de um lugar para o outro.
4) ILATIO: A coisa deve ser transportada pelo agente, mantendo-se posse mansa e pacífica (TJ/SP)

TENTATIVA: Crime plurisubsistente; admite TENTATIVA.


Batedor de carteira que não encontra nada no bolso da vítima: a) crime impossível (se não havia
nada) e b) tentativa (se tinha dinheiro no outro bolso).

Vigilância eletrônica e supermercados não torna, por si só, o crime impossível, devendo ser
analisado o caso concreto.

TROMBADA: Se houve violência contra a pessoa, é ROUBO


SUBTRAÇÃO POR ARREBATAMENTO: será furto, porque a violência é dirigida contra a coisa e não
contra a pessoa (trombadinha puxa o relógio). Há posição no sentido contrário.

DISTINÇÃO
Furto (155) Receptação (180) Favorecimento Real (349)
Se o auxílio ocorrer antes da Na receptação o agente visa proveito Não pode ser receptador
prática do delito, o agente próprio ou alheio, enquanto no e nem ter participado do
deverá responder por furto, favorecimento real a intenção é prestar delito. Ocorre depois
em concurso de pessoas. auxilio ao criminoso. Favorece o
Receptador.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA: majorante aplicável se somente para o furto simples


§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
Independe de a casa estar habitada no momento (STJ/STF, vide exposição de motivos).

FURTO PRIVILEGIADO / FURTO MÍNIMO: causa especial de diminuição de pena.


Art. 155 § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor (até 1 salário mínimo) a coisa furtada, o
juiz pode (deve) substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar
somente a pena de multa.

REQUISITOS:
A) SUBJETIVO: primariedade técnica
B) OBJETIVO: qualquer coisa de valor inferior a 1 SM (critério matemático)
Não se confunde com valor ínfimo para fins de aplicação do princípio da insignificância.

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FURTO HÍBRIDO: STJ e STF admitem o privilégio mesmo quando o furto é qualificado, desde que
as qualificadoras sejam de ordem objetiva e que o fato delituoso enquadre-se na previsão do art.
155, §2º, do CP (Súmula nº 511/STJ).
A jurisprudência concilia homicídio objetivamente qualificado e subjetivamente privilegiado.
Dessa forma, tratando-se de circunstância qualificadora de caráter objetivo (meios e modos de
execução do crime), seria possível o reconhecimento do privilégio, que é sempre de natureza
subjetiva.
Por outro lado, os tribunais não admitem princípio da insignificância a qualquer furto qualificado, pois
o comportamento tem grau razoável de reprovabilidade.

ENERGIA ELÉTRICA
§ 3º - equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
(genética, mecânica, térmica, radioatividade)

infração permanente: admite prisão em flagrante.


CLÁUSULA DE EQUIPARAÇÃO: subtração de sinal de tv a cabo ou telefone é fato atípico, pois, diferente
da energia, o sinal de TV à cabo não se esgota ou se consome. (Bitencourt e STF)
Nucci entende não haver analogia in malan partem (minoritário)

DISTINÇÃO: furto de energia elétrica E estelionato para ocultar consumo.


Furto de energia elétrica (GATO) Estelionato para consumo (FRAUDE NO MEDIDOR)
Agente não tem autorização para O agente está autorizado a consumir a coisa, mas se vale
consumir a coisa. Ligação clandestina de artifício para provocar consumo fictício. A ligação é
legítima mas há adulteração do medidor

FURTO QUALIFICADO
§ 4º A PENA É DE RECLUSÃO DE DOIS A OITO ANOS, E MULTA, SE O CRIME É COMETIDO:

OBS: não pode aplicar a causa de aumento de pena do roubo sob pena de usurpação dos poderes do
legislativo.
Súmula 442, STJ - É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do
roubo.

I - COM DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO À SUBTRAÇÃO DA COISA;

Somente existe a qualificadora, se a violência é contra a coisa que está entre o agente e a coisa
visada. Se a violência incide sobre a própria coisa visada não há qualificadora. Assim, caso se
quebre vidro de um veículo para subtrair o veículo não incide a qualificadora. Porém, caso se quebre
um vidro de um veículo para subtrair o rádio incide a qualificadora.

QUEBRA DO VIDRO DO CARRO PARA FURTO DO APARELHO DE SOM:


STJ pacificou que a subtração de objetos situados no interior do veículo, mediante a destruição
do vidro, qualifica o delito (EDREsp 1079847)

“configura o furto qualificado a violência contra coisa, considerado veículo, visando adentrar
no recinto para retirada de bens que nele se encontravam” (STF, HC 98606).
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II - COM ABUSO DE CONFIANÇA, OU MEDIANTE FRAUDE, ESCALADA OU DESTREZA;

ABUSO DE CONFIANÇA:
Pode o criminoso:
a) Captar PROPOSITADAMENTE A CONFIANÇA DA VÍTIMA como;
b) VALER-SE DA CONFIANÇA JÁ EXISTENTE.
Não precisa o agente propositadamente conquistar a confiança, pode ele apropriar-se de uma
confiança que ele já tem. Confiança (relação de trabalho, familiar, amizade)
ATENÇÃO: A mera relação de emprego não induz a qualificadora abuso de confiança, sendo
imprescindível o especial vínculo de lealdada ou fidelidade entre a vítima e o agente. Furto Famulato
= furto em uma relação de emprego.
DISTINÇÃO
FURTO COM ABUSO DE CONFIANÇA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Agente não tem a posse, mas simples contato com a coisa. Agente exerce posse em nome de
outrem.
Dolo é antecedente a posse. Dolo é superveniente

MEDIANTE FRAUDE
A fraude é utilizada pelo agente a fim de facilitar a subtração por ele levada a efeito
DISTINÇÃO DE CRIMES
FURTO MEDIANTE FRAUDE ESTELIONATO
Fraude para facilitar a subtração da coisa. Fraude para fazer com que a vítima
entregue a coisa espontaneamente.
FINALIDADE: Retirar ou diminuir a vigilância da A vítima enganada entrega uma posse
vítima sobre a coisa. DESVIGIADA.
A fraude visa burlar a vigilância da vítima que em A fraude é usada para induzimento da
razão disso não percebe que a coisa está sendo vítima ao erro. De modo que ela própria
subtraída. entrega seu patrimônio ao agente.
A coisa sai da vítima e vai para o agente A coisa sai da vítima e vai para o agente de
unilateralmente, só agente quer que a coisa vá para forma BILATERAL, ambos querem alterar a
a sua posse. posse.
FALSO TEST-DRIVE: furto mediante fraude.
OBS: TJ/SP já considerou estelionato.
Auxiliar vítima em caixa eletrônico e trocar o cartão.
Furto mediante fraude.

ESCALADA: uso de via anormal para ingressar no local em que se encontra a coisa visada. Qualquer
via anormal gera a escalada, não importa se é subindo ou cavando túneis.

DESTREZA: peculiar habilidade física ou manual, permitindo ao agente praticar o crime, sem que a
vítima perceba que está sendo despojada de seus bens. (Batedores de carteira / Punguistas)

CHAVE FALSA: todo instrumento com ou sem forma de chave destinado a abrir fechaduras. Ex. Chave
mixa, arame.
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A chave falsa serve para dar acesso ao bem, logo, não se aplica se a chave é utilizada apenas para ligar
o carro (STJ)
Chave verdadeira obtida mediante fraude não qualifica o delito (STJ). Noronha discorda.

CONCURSO DE PESSOAS
Computam-se os partícipes (teoria monista). Hungria discorda.

Associação criminosa e furto em concurso de agentes: não há bis in idem (STJ, HC 123932), pois
os bens jurídicos tutelados são diversos.
Para Rogério Greco, haveria concurso entre associação criminosa e furto simples.

§ 5º - A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro estado ou para o exterior.

É indispensável que o veículo ultrapasse os limites de um estado ou do país.

ggg) FURTO DE COISA COMUM

Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a
detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito
o agente.

hhh) ROUBO

ART. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa (violência própria) emprego de força física sobre a vítima, bastando para
caracterizá-la a lesão leve ou a vias de fato), ou depois de havê-la, por qualquer meio (violência
imprópria), reduzido à impossibilidade de resistência:

ROUBO SIMPLES PRÓPRIO


Pode ser dividido em dois momentos: um antecedente e outro subsequente. O momento
antecedente é a violência física, grave ameaça ou qualquer outro meio capaz de reduzir a
vítima à impossibilidade de resistência. O momento subsequente, por sua vez, é a subtração.
PENA - Reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si
ou para terceiro.
ROUBO SIMPLES IMPRÓPRIO
NÃO ADMITE A TENTATIVA – Somente exercida através da violência própria e da ameaça.
O roubo impróprio também é chamado de roubo por aproximação. Também tem dois momentos,
porém diametralmente opostos aos do roubo próprio. O momento antecedente é a subtração; o
momento subsequente, por sua vez, é a violência física ou grave ameaça, com o fim de
assegurar a impunidade ou a detenção da coisa.

COISA MÓVEL ALHEIA: mesmo conceito do furto

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BEM JURÍDICO TUTELADO


Trata-se de crime complexo (fusão de duas ou mais figuras típicas): furto + constrangimento ilegal.
SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa, salvo o proprietário
O proprietário não pratica roubo, o que poderia em tese configurar roubo de coisa própria configura
exercício arbitrário das próprias razões.
SUJEITO PASSIVO: proprietário, possuidor ou detentor da coisa, bem como a pessoa contra quem se
dirige a violência ou a grave ameaça, ainda que desligada da lesão patrimonial.
É irrelevante a coisa ser comum, pois não há semelhante para o furto de coisa comum (CP, 156).
Noronha explica que o CP pune a violência humana na lesão patrimonial, e não apenas a subtração

CONDUTA:
ROUBO SIMPLES PRÓPRIO ROUBO SIMPLES IMPRÓPRIO
A diferença está no momento do emprego da violência ou da grave ameaça
ANTECEDENTE SUBSEQÜENTE ANTECEDENTE SUBSEQÜENTE
- Violência própria Subtrair Subtração (apoderamento Grave violência
- Grave ameaça prévio da coisa)
- Qualquer outro meio. Indispensável Grave ameaça
(violência imprópria - boa
noite cinderela)
Arrependimento Posterior
Possível somente no roubo com violência
imprópria.

AGENTE ESTÁ NA CASA, ELE IA SE APODERAR DA TV, AGRIDE-SE O DONO E FOGE, QUAL O CRIME
QUE PRATICA?
Não preenche o requisito do roubo impróprio. Furto tentado + lesão corporal ou homicídio (Crime
contra a pessoa) em concurso material.
Não há violência imprópria no roubo impróprio (!)
VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA: Agente faz que a pessoa impossibilite uma resistência. (boa noite cinderela)
ROUBO IMPRÓPRIO: Agente após subtrair a coisa (pois seria um furto a princípio) age com violência
contra a vítima para assegurar a consumação.
ATENÇÃO: A jurisprudência não admite “empréstimo” do privilégio do furto.
ROUBO DE USO é fato atípico porque não há a intenção de ter a coisa para si (STF/STJ)
Para Greco, a figura do furto de uso seria uma mescla de constrangimento ilegal e furto, porém, por
ser o furto impunível, resta o constrangimento ilegal

CONSUMAÇÃO
No roubo próprio, aplica-se a mesma lógica do furto (aprehensio)
No roubo impróprio, a consumação ocorre com a violência, pois se presume que a coisa já está na
posse do agente (STJ, HC 92221)
As duas teses foram consolidadas em recurso repetitivo, destacando ser irrelevante que a posse seja
mansa, pacífica e desvigiada, podendo ter havido perseguição imediata e recuperação da coisa (Resp
1499050 Rep)

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Corrente minoritária admite tentativa no roubo impróprio (Nucci, Mirabete), porém, prevalece que a
ameaça é ato unissubsistente e instantâneo.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA


NÃO É QUALIFICADORA § 2º - A PENA AUMENTA-SE DE (1/3) UM TERÇO ATÉ METADE(1/2):
Súm 443/STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado
exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do
número de majorantes.

I - SE A VIOLÊNCIA OU AMEAÇA É EXERCIDA COM EMPREGO DE ARMA.

Há polêmica quanto a necessidade de emprego da arma na violência (Bittencourt) ou o simples porte


ostensivo (Regis Prado). Há uma tendência jurisprudencial pela segunda corrente.

Não se aplica a majorante quando o porte da arma é simulado.

CONCEITO DE ARMA: arma de fogo, arma branca (considerada arma imprópria), como faca, facão,
canivete e quaisquer outros "artefatos" capazes de causar dano à integridade física do ser humano ou
de coisas, como por exemplo uma garrafa de vidro quebrada, um garfo, um espeto de churrasco, uma
chave de fenda etc.
Arma de brinquedo não qualifica o crime (revogação da Súm. 174/STJ)
Perícia obrigatória se houve apreensão da arma; se não houve, seu emprego pode ser provada por
qualquer meio.
Arma com defeito: se torna o instrumento absolutamente ineficaz, afasta a majorante; se o defeito for
relativo (ex: dispara e trava), mantém a majorante.
Fato impeditivo: é ônus do réu provar a ausência de potencial lesivo da arma (EREsp 961863).
Arma desmuniciada: também não incide a majorante (STJ, HC 190067).
Se, após o roubo, foi constatado que a arma estava desmuniciada no momento do crime, incide
mesmo assim a majorante?
Concurso com porte ilegal de arma de fogo: apenas se arma foi usada fora do contexto do roubo,
pois há consunção entre o crime-meio (porte) e o crime-fim (roubo majorado). (STJ HC 178561)
Concurso com associação criminosa armada: é possível, pois os bens tutelados são diversos e os
crimes são autônomos

CONCURSO DE CRIMES
Há um crime para cada vítima, independente da quantidade de bens subtraída de cada um – o que será
considerado na dosimetria.
Caso do assalto a ônibus: há concurso formal (STF, RHC 112871).
Considera-se uma única vítima se o patrimônio é comum (ex: casal, empresa etc.)

II - SE HÁ O CONCURSO DE DUAS OU MAIS PESSOAS; (mesmo raciocínio do crime de furto)

III - SE A VÍTIMA ESTÁ EM SERVIÇO DE TRANSPORTE DE VALORES E O AGENTE CONHECE TAL


CIRCUNSTÂNCIA.

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A expressão “valores”, vale dizer, deve ser entendida em sentido amplo. Ex.: roubo de carga nas
rodovias. Não se refere, apenas, ao carro-forte.

IV - SE A SUBTRAÇÃO FOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR QUE VENHA A SER TRANSPORTADO PARA OUTRO
ESTADO OU PARA O EXTERIOR;

V - SE O AGENTE MANTÉM A VÍTIMA EM SEU PODER,RESTRINGINDO SUA LIBERDADE.

ROUBO: Art. 157 §2º V ROUBO C/C SEQUESTRO: Art. 157 c/c Art. 148
No roubo a privação ocorre por tempo A privação ocorre por tempo desnecessário
suficiente para garantir a ação do agente. para a ação do agente na subtração.
É uma privação necessária.
Ex. Coloca uma arma na cabeça, rouba o carro Ex. Rouba a vítima coloca uma pessoa no porta
coloca a pessoa no porta malas, chega numa malas e pratica-se inúmeros roubos.
rodovia larga a pessoa em uma estrada e foge
com o carro.
Bitencourt: Quando o “seqüestro” for praticado Bitencourt: Quando o “seqüestro” for praticado
concomitantemente com o roubo de veículo depois da consumação do roubo de veiculo
automotor, ou pelo menos como meio de automotor, sem nenhuma conexão com sua
execução do roubo ou como garantia contra a execução ou garantia da fuga, não se estará
ação policial, estará configurada a majorante. diante da majorante especial, mas se tratara de
concurso de dois crimes.

VARIAÇÃO DA PENA DE 1/3 ATÉ A METADE?


Súmula 443/STJ: a quantidade de majorantes não pode ser critério único para exasperação da pena
definitiva. Assim, o juiz deve fundamentar o aumento da pena (STF e STJ)

ROUBO QUALIFICADO

§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da
multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa**(** hediondo).
(Redação da Lei nº 9.426/96) Vide Lei nº 8.072/90

PENA: 7 A 15 ANOS. CRIME QUALIFICADO. NÃO É HEDIONDO

PENA: 20 A 30 ANOS. LATROCÍNIO. SOMENTE ESTE É HEDIONDO

Ficar atento para as causas de aumento de pena.

O FIM DO LATROCÍNIO É O PATRIMÔNIO. MEIO É RETIRAR A VIDA


LATROCÍNIO NÃO É CRIME CONTRA A VIDA E, PORTANTO, NÃO É JULGADO PELO TRIBUNAL DO
JÚRI.
CUIDADO: Se a morte for decorrente não da violência, mas sim da grave ameaça, não teremos o
crime de latrocínio. Neste caso, morte ser em decorrência da grave ameaça, será o agente
responsabilizado pelo crime de roubo c/c com homicídio culposo ou doloso (dependendo se o agente
sabia da situação da vítima).
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PLURALIDADE DE VÍTIMAS NO LATROCÍNIO COM SUBTRAÇÃO ÚNICA.


A pluralidade de mortes quando a vontade era de subtrair patrimônio único não gera concurso de
crimes, devendo esta circunstância ser considerada na fixação da pena-base (STJ, HC 86005; STF HC
71267).
Contudo, há quem defenda que a pluralidade de mortes, ainda que numa só subtração, gera
pluralidade de latrocínios, em concurso formal impróprio (tese do MP/SP e REsp 1164953).
É irrelevante que a pessoa morta não seja a mesma que detenha a propriedade da coisa.

ATENÇÃO: não há latrocínio se a morte é causada na tentativa de defesa da vítima ou se um dos


assaltantes é morto. No entanto se quem dispara é o agente e acaba matando um dos seus
companheiros na prática do roubo, responderá por latrocínio (aberratio ictus).
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
SUBTRAÇÃO MORTE RESULTADO
SUBTRAÇÃO CONSUMADA MORTE CONSUMADA CONSUMADO
SUBTRAÇÃO CONSUMADA MORTE TENTADA TENTADO
SUBTRAÇÃO TENTADA MORTE TENTADA TENTADO
SUBTRAÇÃO TENTADA MORTE CONSUMADA CONSUMADO
Súm 610/STF - Há latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a
subtração de bens da vítima.

INSIGNIFICÂNCIA: Não se aplica ao crime de roubo (STF, RHC 111433 e STJ, AgRg no AREsp 348330)

iii) EXTORSÃO

ART. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:

PENA - RECLUSÃO, DE QUATRO A DEZ ANOS, E MULTA.

BEM JURÍDICO TUTELADO


A extorsão é um constrangimento ilegal seguido de uma finalidade especial que é a LESÃO AO
PATRIMÔNIO.
» A finalidade especial ou seja a obtenção de indevida vantagem econômica.
Estando ausente esta finalidade, descaracteriza-se o crime aqui estudado podendo ser o 146.
SUJEITO ATIVO: Crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. OBS: Se o sujeito ativo for
funcionário público poderá configurar o Art. 316, concussão.
SUJEITO PASSIVO: É aquele que suporta diretamente a violência ou a grave ameaça, e que pode ser,
eventualmente, pessoa diversa do bem atacado, também vítima, as duas são vítimas.
CONDUTAS: CONSTRANGER + VIOLÊNCIA/ GRAVE AMEAÇA + FIM DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

EXTORSÃO ROUBO
CONSTRANGER + VIOLÊNCIA + FIM DE SUBTRAIR + VIOLÊNCIA FÍSICA / MORAL + FIM DE
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
EXTORSÃO ROUBO
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O extorsionário faz com que lhe entregue Ladrão subtrai


Existe uma busca de vantagem mediata. Existe uma busca de vantagem imediata.
A colaboração é indispensável. Dispensa a colaboração da vítima.
Pode haver concurso entre roubo e extorsão, mas não pode haver continuidade delitiva.
ELEMENTO SUBJETIVO:
DOLO COM FINALIDADE ESPECIAL
... com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica ...
CRIME FORMAL: consuma-se independentemente do recebimento da vantagem indevida.
TENTATIVA: É perfeitamente possível, porque a execução pode ser fracionada em vários atos.
CUIDADO: DIFERENCIANDO CRIMES

CONCUSSÃO 316 ≠ EXTORSÃO CORRUPÇÃO PASSIVA 317


Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para
ou indiretamente, ainda que fora da função ou outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
antes de assumi-la, mas em razão dela, da função ou antes de assumi-la, mas em razão
vantagem indevida: dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de
tal vantagem:
O verbo usado na concussão: Exigir, Solicitar / Receber /Aceitar Promessa.
É impor como obrigação, sob pena de A grande diferença é o emprego da violência e
represarias. da grave ameaça que é usada na extorsão e na
concussão não.
Surge Metus Publiae Potestatis (temor da autoridade pública)
Faz-se da posição para impor temor na vítima que acaba cedendo as exigências. Usa do cargo para
colocar temor na vítima e ela ceder a exigência.
Neste delito o funcionário público exige da vítima em razão da função pública, vantagem indevida,
mas não a constrange com o emprego de violência ou grave ameaça que se por ventura forem
utilizadas caracterizarão o delito de extorsão ou roubo.
Se o funcionário vai além do mero temor referencial, usa algo mais que o cargo é extorsão.
Não deixa de ser uma forma de extorsão, mas sem a violência ou grave ameaça.

§ 1º - Se o crime é cometido (só executores) por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma,
aumenta-se a pena de um terço até metade.

Concurso de Pessoas na Extorsão


No caso do concurso de pessoas, se o agente ingressar na autoria do delito durante o constrangimento
da vítima, mesmo que este já tenha sido iniciado, será enquadrado como coautor, pois é a hipótese da
coautoria sucessiva.
JÁ SE UMA 3ª PESSOA INGRESSA SOMENTE PARA RECEBER O $$ QUE É MERO EXAURIMENTO NESTE
CASO, ELA SERÁ ENQUADRADA COMO CO-AUTORA?
A resposta é negativa pois, neste caso, ela será enquadrada no crime de favorecimento real previsto
no artigo 349.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

VER COMENTÁRIOS AO § 3º DO ART. 157 (latrocínio)


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SEQUESTRO RELÂMPAGO

§ 3° Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para
a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, DE 6 (SEIS) A 12 (DOZE) ANOS, ALÉM DA
MULTA; SE RESULTA LESÃO CORPORAL GRAVE OU MORTE, APLICAM-SE AS PENAS PREVISTAS NO ART.
159, §§ 2O E 3O, RESPECTIVAMENTE.(Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)

Sequestro relâmpago é uma denominação utilizada para os casos em que a conduta consiste em
capturar a vítima, apossar-se de seu cartão bancário e, em seguida, exigir, mediante grave ameaça, o
fornecimento da senha, com a qual os bandidos fazem saques da conta da vítima. Às vezes, também, a
conduta consiste em utilizar o cartão de débito da vítima para fazer comprar com sua senha enquanto
ela permanece em poder de comparsas. Nesses casos, a restrição da liberdade da vítima é
considerada condição necessária para a obtenção da vantagem, pois se os agentes a libertarem
antes de concretizarem os saques ou realizarem as compras, ela poderá, de imediato, bloquear
o uso do cartão por telefone.
O delito diferencia-se da extorsão mediante sequestro porque, nesta, o resgate é exigido de
outras pessoas (familiares em geral), enquanto no sequestro relâmpago não há essa exigência
a terceiros.
Tendo em vista que o delito já possui pena maior em abstrato e que está previsto no §3°, a ele não se
aplicam as causas de aumento do §1°.
Em razão da parte final do §3° do art. 158 estabelecer a aplicação das penas previstas no art. 159, §§2°
e 3°, no caso de resultar lesão grave ou morte no sequestro relâmpago, surgiu a polêmica em torno do
caráter hediondo do novo crime, quando dele resultar lesão grave ou morte, na medida em que não se
inseriu na Lei de Crimes Hediondos a figura do art. 158, §3°. Em razão disso, três interpretações de
mostram possíveis: 1) o sequestro relâmpago qualificado pela morte não é hediondo porque a lei que
elenca os crimes dessa natureza não faz referência ao art. 158, §3° (NUCCI), 2) o delito é hediondo
porque a lei manda aplicar as mesmas penas da extorsão mediante sequestro qualificada; 3)
deve-se pautar o raciocínio com base no crime de extorsão (art. 158), já que o sequestro
relâmpago é modalidade desse crime. Assim, como a extorsão qualificada pela lesão grave não
é infração hedionda, o Sequestro relâmpago com lesão grave também não o será. Se, todavia,
tratar-se de resultado morte, o delito será hediondo porque a extorsão seguida de morte
possui essa natureza (LFG).
Não encontrei jurisprudência no STF, STJ ou TRFs sobre o tema específico.

PRIVAÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA: TRÊS POSSIBILIDADES


ROUBO Extorsão comum EXTORSÃO MEDIANTE
Art. 157 §2º V Art. 158 §3º SEQUESTRO Art. 159
Agente subtrai com violência. Agente constrange com Agente seqüestra.
violência.
Colaboração da vítima é A colaboração da vítima é A colaboração da vítima é
DISPENSÁVEL. IMPRESCINDÍVEL (a DISPENSÁVEL.
vantagem depende de seu (a obtenção da vantagem
comportamento) depende 3ª pessoa).
NÃO É HEDIONDO. NÃO É HEDIONDO. É SEMPRE HEDIONDO
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EXCEÇÃO: QUANDO RESULTA EXCEÇÃO: QUANDO


MORTE. RESULTA MORTE.
PENA 4 a 10 PENA 6 a 12 PENA 8 A 15
Greco entende que a vantagem que o Não passa de um gênero do
agente queria é imediata e seria caso seqüestro relâmpago.
de roubo, e não caso de extorsão.
NADA IMPEDE O CONCURSO DE CRIMES. JURISPRUDÊNCIA: Concurso material. LFG: Concurso
formal próprio.

jjj) EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90

Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

BEM JURÍDICO TUTELADO


LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO DA VÍTIMA PATRIMÔNIO
Também podemos falar em liberdade individual
SEMPRE SERÁ HEDIONDO
SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa: Trata-se de crime comum
SUJEITO PASSIVO: Duas possibilidades, se os bens reúnem na mesma pessoa será uma só vítima, caso
contrário, teremos pluralidade de vítimas.
PESSOA JURÍDICA PODE SER VÍTIMA DE EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO?
SIM, mas somente no que diz respeito a lesão patrimonial, as vítimas serão a pessoa física e
patrimonial mente a pessoa jurídica.
A pessoa jurídica somente pode ter lesionado seu patrimônio.
PRIVAR A LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO UM ANIMAL EXIGINDO-SE DINHEIRO, QUAL SERÁ O CRIME?
NÃO ABRANGE ANIMAIS, O CRIME AQUI É DE EXTORSÃO (ART. 158)
CONDUTA:
SEQÜESTRAR » Sentido amplo, cárcere privado é espécie de seqüestro.
Sequestro não tem confinamento.
O QUE ACONTECE SE FOR CÁRCERE PRIVADO?
O artigo 159 trata seqüestro em sentido amplo, abrange cárcere privado.
O crime exige a locomoção da vítima de um lugar para o outro? não, pode-se ser seqüestrado no
próprio quarto, na própria cama. (ex. caso silvio santos)
QUALQUER VANTAGEM:
QUAL É O TIPO DE VANTAGEM, A DEVIDA OU INDEVIDA, ECONÔMICA OU NÃO ECONÔMICA?
SOMENTE PODE ABRANGER vantagem econômica, (PREVISTO NA PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO).
ELEMENTO SUBJETIVO: O crime é punido a titulo de dolo com estas finalidades especiais.
CONSUMAÇÃO: ocorre com a privação da liberdade. É crime permanente.
O tempo da privação da liberdade não interfere na consumação, mas interfere na fixação da pena.
Admite tentativa (Crime plurisubsistente)
É um tipo incongruente: exige um dolo especial além da prática do núcleo do tipo.

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EXTORSÃO QUALIFICADA
Art. 159 § 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18
(dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

DELAÇÃO PREMIADA:

§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a


libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269,
de 1996)

Antes da Lei 9.269/96 Depois da Lei 9.269/96


SE QUALQUER DOS ASSOCIADOS. SE QUALQUER DOS CONCORRENTES.
Somente era admitida a delação premiada quando Basta o concurso de agentes.
esta era praticada por quadrilha ou bando.
REQUISITOS CUMULATIVOS.
 Concurso de agentes
 o concorrente que o denunciar à autoridade,
 facilitando a libertação do seqüestrado (não importa se recuperou ou não os valores
eventualmente pagos).
Mais do que uma delação premiada, é uma delação premiada quando eficaz.
Lei 9.807/99 – Lei de proteção a vítimas e testemunhas.
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente
extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente
com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: (não são
cumulativos, um destes)
I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;
II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a
natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Qual o valor probatório da delação premiada?


Seria possível a condenação com base na delação premiada?
Isoladamente, a confissão de corréu (delação premiada) não respalda uma condenação,
Devendo estar confirmada ou colaborada por outros elementos probatórios (STF).

kkk) EXTORSÃO INDIRETA

ART. 160 - EXIGIR OU RECEBER, COMO GARANTIA DE DÍVIDA, ABUSANDO DA SITUAÇÃO DE ALGUÉM,
documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Vista garantir um contra risco de um dinheiro mutuado, ou seja, alguém que empresta dinheiro e tenta
forjar alguma coisa.
Requisitos:
 a conduta de exigir, ou mesmo tão somente de receber documento que possa dar causa a
procedimento criminal conta a vítima ou contra terceiros;
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 existência de uma divida entre o sujeito ativo e o sujeito passivo;


 abuso da situação que se encontra o sujeito passivo;
 a finalidade de, por meio do documento exigido, garantir o pagamento do sujeito passivo, sob
ameaça de um processo legal.

lll) DA USURPAÇÃO

Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para
apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;
Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas,
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
Supressão ou alteração de marca em animais
Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de
propriedade:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.

mmm) DANO

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. (Ação Penal Privada)
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça; (Ação P Pública) Meio utilizado pelo agente para a prática
do delito, tem que ser contra a pessoa. Ex. para danificar um relógio de pulso, agride a vítima para
arrancá-lo.
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave. (Ação P
Pública)
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou
sociedade de economia mista; (Redação dada pela Lei nº 5.346, de 3.11.1967) (Ação P Pública)
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: (Ação P Privada – Art. 167)
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA. (no
caso do inciso I, se for vias de fato e grave ameaça são absorvidas pelo dano)

Sujeito Ativo: qualquer pessoa, menos o próprio proprietário.


Sujeito Passivo: proprietário/possuidor, no caso de ser contra o possuidor tem-se dois sujeitos
passivos.
Tentativa: possível desde que não chegue a destruir efetivamente o bem, que não seja relevante, ou no
caso de uma tentativa branca onde não se consegue atingi-lo.

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ELMENETO SUBSTIVO: O dano tem que ser o fim em si mesmo, se o dano for usado para alcançar
outro delito será absorvido pelo outro, como danificar um bem para ter acesso a uma residência para
realização de um furto. O furto absorve o dano.
Não há necessidade do animus nocendi, o dolo específico de causar dano (STF e Rogério Greco).
Não admite forma culposa

nnn) INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA

Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito,
desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.

O consentimento exclui a tipicidade assim como na violação de domicílio.

ooo) DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO

Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de
valor artístico, arqueológico ou histórico:
Pena - detenção, deseis meses a dois anos, e multa.

REVOGADO TACITAMENTE PELA LEI 9605

ppp) ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO

Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por
lei:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Revogado tacitamente pela Lei 9605 (Lei dos Crimes Ambientais).

qqq) APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA X ESTELIONATO
A distinção entre a apropriação indébita e o estelionato é o chamado dolo ab initio do
estelionato.

Apropriação Indébita Estelionato


O dolo de apropriar-se surge após a dolo precede a aquisição da posse ou detenção. o
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legítima apropriação da coisa. agente pretende enganar a vítima.

A Apropriação indébita é um crime de comprovação extremamente difícil, pois o individuo agia


como possuidor e depois passa a agir como se proprietário fosse.
Qual o foro competente da apropriação indébita? Para a jurisprudência a apropriação indébita o foro
competente é o do local da prestação de contas.
É POSSÍVEL TENTATIVA NO CRIME DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA?
A apropriação é crime instantâneo consumando-se com a exteriorização da vontade de não restituir a
coisa. Caso se entenda que o crime seria plurissubsistente, seria possível a tentativa, mas na prática
não é possível.
Não existe apropriação indébita de uso, o que poderá ocorrer é um abuso da posse.

Apropriação Indébita – 168 Apropriação Indébita Previdenciária 168-A


Crime material. O resultado é essencial Constitui crime omissivo próprio, que se perfaz com a
para o tipo penal. mera omissão de recolhimento da contribuição
previdenciária dentro do prazo e das formas legais,
É indispensável a presença do animus prescindindo, portanto, do dolo específico. Consuma-
rem sibi habendi = vontade de se tornar se independentemente do resultado naturalístico e
dono da coisa alheia móvel. dispensa o animus rem sibi habendi - STJ.

OBS: No Inq 2537, STF afirmou que a apropriação


indébita previdenciária seria um crime OMISSIVO
MATERIAL, sendo necessário o término do PAF para a
configuração do crime.

rrr) APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA

Art. 168-A - Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Apesar do nome, este crime é diferente da apropriação indébita do art. 168, por duas razões:
I - Não exige o apropriar-se, nem o ânimo de apropriar-se, bastando a omissão do recolhimento
da contribuição arrecadada;
II - Não tem como pressuposto material a posse ou detenção da coisa alheia, não se exigindo a
disponibilidade material dos recursos, na medida em que o desconto é meramente escritural.
Ademais, a nova redação do art. 168-A do CP não importa em descriminalização da conduta prevista
no art. 95, d, da Lei 8.212/91. A Lei 9.983/00, que o introduziu, é considerada até mais benéfica, pois
reduziu a pena máxima abstratamente cominada de 6 para 5 anos.

BEM JURÍDICO TUTELADO


O patrimônio da Previdência Social (STF). Para o MPF, há um bem jurídico secundário consistente na
livre concorrência (anticompetitive advantage) - aquele que não recolhe se vale de uma ferramenta
espúria para ter um preço melhor.
Trata-se de crime tributário material (aplica-se a SV 24).
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Crime do art. 168-A – bem jurídico tutelado é a seguridade social e, secundariamente, a livre
concorrência. STF diz que é o patrimônio da previdência.
Antes, quando ainda vigia o art. 95, d, da Lei 8.212/91, falava-se que configuraria hipótese de prisão
civil por dívida (Clemerson, LFG). Mas o STF não entende assim – há processo penal porque ele não
repassou os recolhimentos referentes ao empregado, e não porque ele deixou de pagar.

NATUREZA DA CONDUTA
I - Crime omissivo material (STF)
Além disso, é um crime instantâneo de efeitos permanentes.
Para a doutrina majoritária e para o STJ, seria crime omissivo próprio (Regis Prado), pois pune a
omissão, e não seu resultado. Em favor da tese de que se trata de simples omissão, há o art. 33, § 5º
c/c art. 30, I, da Lei 8.212 – dever de a empresa efetuar o desconto. Presume-se que a empresa
descontou, logo, basta provar que não foi repassado à Previdência.
Para Damásio e LFG, haveria uma conduta mista: desconto feito sobre contribuição previdenciária do
contribuinte (conduta comissiva) e deixar de repassar à Previdência (conduta omissiva).
A relevância prática da classificação diz respeito ao ônus probatório, pois, se tratarmos como crime
omissivo próprio, deve-se provar na acusação apenas a omissão. Se entendermos como crime
comissivo e omissivo, deve-se provar desconto do empregado e omissão.

SUJEITO ATIVO
Sócio com PODERES DE GESTÃO.
Não basta provar que o sujeito era sócio – deve estabelecer relação (liame fático) entre a
posição do sujeito na sociedade e a conduta. Não precisa descrever pormenorizadamente, mas é
necessário estabelecer um liame mínimo entre o comportamento do sócio e seu papel na sociedade.
É razoável, assim, que a persecução penal se dirija a tantos quantos figurem no contrato social
como gerentes, ostentem o título de diretores por decisão assemblear ou tenham sido
constituídos mandatários com poderes de administração da empresa.
O sócio não se exonera pela singela alegação de que o recolhimento era efetuado por contador ou
empregado, pois mero repasse do encargo do recolhimento a terceiros (preenchimento material das
guias e recolhimento na rede bancária) é irrelevante. Ou seja, a responsabilidade do sócio-gerente
fica excluída apenas se ficar comprovado que ele não sabia da omissão ou não detinha o poder
jurídico ou fático para fazer cessar o crime.
Consultor e contador: são considerados PARTÍCIPES (STJ). Se um deles embolsa o $ destinado ao
INSS – aplica-se o art. 168 do CP – lesou o cliente dele, logo a competência não é federal, e sim
estadual.
Participação por omissão – exemplo é o do membro do Conselho de Administração. Há decisão do STJ
que admitiu, mas os TRFs não têm admitido.
Prefeito: se o Município não tem regime próprio (servidores no RGPS), pode haver o crime do art.
168-A. Como o art. 168-A é forma especial, prevalece em relação ao art. 1º, § 1º do DL 201/67.
Contudo, estranhamente, o STJ diz que essa conduta não caracteriza ato de improbidade, porque a
União vai poder limitar o repasse de recursos. Ocorre que há ofensa a princípio (art. 11, II, da Lei
8.429/92 – deixar de praticar ato de ofício).
Se o Município tem regime próprio, aí vai haver duas situações. Se o desconto for sobre o
ocupante de cargo em comissão (RGPS), o crime será o do art. 168-A. Se for o servidor comum,
será crime estadual.

SUJEITO PASSIVO

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É a União. Desde a criação da Receita Federal do Brasil, o INSS deixou de ser o órgão de arrecadação e
passou a ter apenas a incumbência de pagamento dos benefícios. Secundariamente, o segurado
pode ser vítima, se a omissão trouxer diminuição no valor dos benefícios.

OBJETO MATERIAL
É a contribuição previdenciária descontada e não recolhida. Segundo explica Baltazar, o
arrecadar ou o descontar não integram a conduta. O desconto é legalmente presumido, pois
faticamente é uma operação meramente contábil ou escritural.

RT. 168-A – DEVE SE TRATAR DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Excluem-se: a cota patronal, FGTS, PIS, COFINS – estas podem caracterizar 337-A, mas não 168-A.
O mesmo se aplica em caso de loteria: o valor é arrecadado do público, e não dos segurados – neste
caso, incide o art. 168, § 1º, I. Em caso de outros tributos, aplica-se o tipo do art. 2º, II, da Lei nº
8.137/90.

ELEMENTO SUBJETIVO
É necessário haver dolo GENÉRICO
STF/STJ: não é necessário haver intenção de se apropriar da contribuição previdenciária.
Não exige especial fim de agir (animus rem sibi habendi).

ART. 168-A É NORMA PENAL EM BRANCO

Fala em no prazo e forma legal. O momento consumativo está no art. 30 da Lei 8.212/91: até o dia 20
(vinte) do mês subsequente ao da competência.

CONCLUSÃO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL


Sempre se entendeu que era desnecessaria a conclusao do procedimento para dar início a persecuçao
penal. Contudo, no precedente citado no Informativo 498 (Inq 2537/GO), a conclusão do
procedimento administrativo fiscal passou a ser condição de procedibilidade (aplicação do
precedente do HC 81611).

Prevalece no STJ que a apropriação indébita previdenciária consiste em um crime tributário


material. Logo, aplica-se o entendimento da súmula vinculante 24-STF à apropriação indébita
previdenciária, somente havendo crime com a constituição definitiva do crédito tributário.
Em outras palavras, sendo detectado que nao houve o repasse das contribuiçoes previdenciarias, a
Receita Federal devera iniciar uma açao fiscal e efetuar o lançamento desse tributo. Apos o
procedimento administrativo-fiscal ter se encerrado, mantido o debito tributario, estara caracterizado
o crime, devendo o MPF oferecer denuncia.

(...) Enquanto houver processo administrativo questionando a existencia, o valor ou a exigibilidade de


tributos e contribuiçao previdenciaria, atípicas sao as condutas previstas no artigo 2º, inciso I, da Lei
nº 8.137/90 e no artigo 168-A do Codigo Penal, que tem, como elemento normativo do tipo, a
existencia do credito tributario e da contribuiçao devida a ser repassada. 3. Nao importa violaçao a
independencia das esferas administrativa e judiciaria o aguardo de decisum administrativo, no qual se
constitui o lançamento definitivo dos creditos. (...) (STJ, HC 163603)

ART. 168-A – QUEM PRATICA O CRIME É O RESPONSÁVEL

ART. 337-A – QUEM PRATICA O CRIME É O CONTRIBUINTE

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DESNECESSÁRIA A APROPRIAÇÃO

Além de não exigir fraude, o art. 168-A não exige a apropriação do dinheiro, assim entendido o
ato de apropriar-se, ou seja, tomar para si, apoderar-se, assenhorear-se, agir como dono. Não se exige,
tampouco, que se evidencie o desvio, a destinação do dinheiro em fim diverso daquele determinado
pela lei.

ERRO DE TIPO
Situação: empresário deixa de recolher as contribuições com base em medida liminar revogada em
decisão da qual não teve ciência porque apenas o advogado foi intimado (e não comunicou a
empresa), tudo devidamente comprovado. Aqui, há um erro quanto à situação de fato. Como não há
previsão de crime culposo, o fato fica isento de pena.

Situação 2: agente erra sobre a interpretação da lei tributária ou previdenciária (o que é


perfeitamente possível) e efetua compensação das contribuições descontadas, sem atender aos
requisitos legais. Se for razoável a interpretação, estará afastado o dolo. A vontade do agente aqui será
o pagamento do tributo, mas por outra via, por isso se fala em erro de tipo, e não em erro de proibição.

ERRO DE PROIBIÇÃO
O erro de proibição diz respeito ao erro que recai sobre o caráter ilícito da conduta realizada
(contrariedade entre a conduta e o ordenamento). No crime em questão, dificilmente o empresário
não terá a noção de que tem a obrigação de efetuar os recolhimentos das contribuições à seguridade
social, por mais iletrado que seja. Por isso não se admite o erro de proibição.

DIFICULDADES FINANCEIRAS: ESTADO DE NECESSIDADE OU INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA


DIVERSA
Diante de dificuldades comprovadas da empresa, não é razoável exigir do empresário que sacrifique o
pagamento dos salários e a própria sobrevivência da empresa em favor do pagamento dos tributos.
Mas não é qualquer situação que vai permitir isso: a DIFICULDADE deve ser EXTREMA, beirando a
impossibilidade de recolhimento.

Correntes:
A) Estado de necessidade: não se entende assim, pois não há aqui a situação de perigo; mas,
ainda que houvesse, este foi provocado pelo próprio agente. Além disso, o comportamento
lesivo não é inevitável, já que o sujeito poderá tomar empréstimos bancários, vender os bens da
empresa, despedir os empregados etc, para honrar os compromissos.
B) Inexigibilidade da conduta diversa: é a posição MAJORITÁRIA no STF/STJ.É uma excludente
de culpabilidade.

ÔNUS DA PROVA da dificuldade financeira é da EMPRESA (RESP 811423/ES). A decretação da


falência, por exemplo, pode ser um forte indício, mas, de forma isolada, não leva à conclusão de que há
dificuldade financeira, pois pode ser fraudulenta.

COMPETÊNCIA
É do local da SEDE DA EMPRESA, ainda que a retenção se dê em outro local. Isso só vale para o
168-A (não se aplica para o 337-A – local onde se dá a supressão ou redução).

PAGAMENTO

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Extingue a punibilidade a qualquer tempo. Diante disso, devem ser ignorados os §§ do art. 168 –
são inaplicáveis, pois o pagamento a qualquer tempo extingue a punibilidade.

PARCELAMENTO (QUALQUER PARCELAMENTO)


STJ(precedentes antigos): extingue a punibilidade. Mas recentemente sucumbiu à jurisprudência
do STF, passando a entender que se trata de SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA.

STF: suspende a “pretensão punitiva”. Pacelli critica essa suspensão – não há como suspender a
vontade de aplicação da lei penal – tratar-se-ia de expressão inadequada. A expressão vem sendo
interpretada como suspensão da atividade persecutória, e não da pretensão punitiva.

Como fazer subir o RE para contestar parcelamento: quando o STJ entende que houve extinção da
punibilidade, está atacando o princípio acusatório do MP, que não pode agir.

Parcelamento contra legem: nemo potest venire contra factum proprio. Segundo o STJ, uma vez
concedido o parcelamento pela Administração, não pode haver mudança. Com isso, o MPF passou a
ajuizar ações de improbidade.

Atualmente vigora o art. 83 da Lei 9.430/96, com redação dada pela Lei 12.382/11:
Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos
nos arts. 1º e 2º da Lei n. 8.137/90, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A
e 337-A do CP será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera
administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente. (Redação dada pela Lei
nº 12.350/2010)
(...)
§ 2º É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o
período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes
estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes
do recebimento da denúncia criminal. (Incluído pela Lei 12.38211)
§ 3º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. (Incluído
pela Lei 12.382/2011)
§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa
jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos,
inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento. (Incluído pela Lei
12.382/2011).

CONCURSO DE CRIMES

Concurso material: como o recolhimento é único, não há que se falar em um crime para empregado
da empresa. O crime será único para cada competência em que ocorrer a omissão – o mesmo vale
para omissão em vários estabelecimentos da mesma empresa num mesmo mês. Contudo, em caso de
omissão também do recolhimento de IPI, IRPF, haverá concurso material.

Crime continuado: se houver omissão em vários meses, pode-se falar em continuidade delitiva.
Ainda que haja intervalo de um ou dois meses, pode persistir a continuidade.

(...) O crime de apropriação indébita previdenciária é instantâneo e unissubsistente. A cada


vez que é ultrapassado in albis o prazo para o recolhimento dos tributos, há a
ocorrência de um novo delito. Assim, não prospera a tese de que a omissão no pagamento
de contribuições referentes a meses diversos, mesmo que consecutivos, deve ser considerada
como sendo um só crime - cuja consumação de prolongou no tempo -, e não como vários
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delitos em continuidade, como reconheceram a sentença condenatória e o acórdão que a


manteve, em apelação (STJ, HC 129641).

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
STF não admite em razão da reprovabilidade da conduta e da natureza supraindividual do bem
jurídico tutelado – a Previdência Social (STF, HC 102550).
Por outro lado, o STJ aplica o entendimento relativo à insignificância nos crimes tributários (AgRg no
REsp 1214866)

O parâmetro da insignificância é o valor principal do débito, sem juros e multa (não é o “débito
fiscal consolidado”, mas apenas a dívida principal).

Elevadíssimo valor sonegado à Previdência é circunstância negativa a ser valorada pelo juiz como
consequência do crime, nos termos do art. 59 do CP.

PERDÃO JUDICIAL
Inciso I: foi revogado tacitamente pelo §2º do art. 9º, da Lei n. 10.684/2003. Atualmente, o tema é
regulado pelo art. 83 da Lei n. 9.430/96.
Inciso II: continua em vigor, mas é de pouca utilidade. Isso porque a jurisprudência do STJ considera
que, se o valor das contribuições previdenciárias for inferior ao parâmetro mínimo que a
Administração elegeu para ajuizar suas execuções fiscais, deverá ser aplicado o princípio da
insignificância, que é mais favorável ao réu do que o perdão judicial. Esse inciso pode se revelar
importante caso o magistrado adote o entendimento do STF e considere que não é possível a aplicação
do princípio da insignificância. Nesse caso, poderá eventualmente conceder o perdão judicial, desde
que preenchidos os requisitos legais.

sss) Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza

Tipo Penal Doloso


Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:

Apropriação de tesouro
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o
proprietário do prédio;
Apropriação de coisa achada
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao
dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze)
dias.
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor (até 1 salário mínimo) a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
pena de multa.

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TTT) ESTELIONATO

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Dá-se pela obtenção de vantagem ilícita, em prejuízo alheio, utilizando o agente, em lugar de
clandestinidade, como se dá, usualmente, no furto, ou violência (roubo), da astúcia, da mistificação, do
engodo, embuste, trapaça ou enganação. Exige:

CONDUTA FRAUDULENTA
Discute-se se haveria diferença entre fraude civil e fraude penal. Para alguns, não há diferença
ontológica; para outros, a fraude penal é deliberada, um inadimplemento preordenado e
preconcebido.
De qualquer forma, sem fraude não há estelionato. O CP fala em artifício (fraude material), ardil
(conversa do estelionatário) ou qualquer outro meio fraudulento (execução livre).
Silêncio do agente: O silêncio pode ser fraudulento, quando houver dever de falar ou informar algo.
Ex1: sacar benefício previdenciário de pessoa que morreu (conduta fraudulenta). Ex2: percepção de
aposentadoria por invalidez após o restabelecimento do segurado – silêncio põe em causa a relevância
jurídica da omissão.

VANTAGEM
O fato de o proveito financeiro ser dirigido a terceira pessoa é irrelevante (o art. 171 fala em para si ou
para outrem). Ex: estelionato contra a Previdência Social – muitas vezes é autor um intermediário ou
despachante de benefícios (às vezes o próprio servidor).

PREJUÍZO ($$)
Cola eletrônica: não é estelionato. Contudo, a Lei 12.550/2011 inseriu o art. 311-A no CP,
criminalizando tal conduta.
ESTELIONATO – FRAUDE + VANTAGEM + PREJUÍZO – SE NÃO HOUVER ESSA SOMA, NÃO SE
CONSUMA O CRIME (crime de duplo resultado).

Princípio da insignificância: em regra, o uso do ardil torna a conduta bastante reprovável, porém
quando a lesão patrimonial é mínima, o STJ tem vários precedentes (STJ, HC 18314 RHC 14838, REsp
696440). Contudo, quando a vítima é entidade pública ou fundo de caráter social (FGTS), afasta-se a
insignificância (STJ, HS 110845). Este é o entendimento que se aplica às fraudes previdenciárias (STF, HC
111918 e TRF1)

Estelionato judiciário: discute-se a existência de estelionato no ajuizamento de ação. Ex: obtenção de


pagamento indevido em ação previdenciária por meio de artifício. Há polêmica.
SUJEITO ATIVO: É crime comum.
O terceiro pode ser coautor ou partícipe. A análise de sua posição é muito comum em estelionato
contra a Previdência Social. Se o terceiro estiver em conluio, há concurso no estelionato. Se fica
sabendo antes de receber a coisa, mas após a consumação do estelionato, há receptação. Se fica
sabendo depois de receber a coisa, responde pelo delito de apropriação de coisa havida por erro. Se
não tem ciência da fraude, não responde pelo crime (ausência de dolo).
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Ex: segurado entrega várias carteiras a um intermediário que lhe afirmou que ele teria direito ao
benefício, vindo, alguns meses depois, a receber a carta de concessão. A participação do terceiro vai
ser analisada no caso concreto (se havia muitos períodos, os honorários pagos ao intermediário, se
era pessoa simples etc.).
SUJEITO PASSIVO: são sujeitos passivos tanto quem sofre o prejuízo econômico quanto aquele que é
enganado. Pode ser vítima a PJ. No estelionato contra a Previdência Social, serão vítimas o INSS e o
servidor enganado. O ato de enganar deve atingir pessoa determinada. Em caso de indeterminação da
vítima, poderá haver crime contra a economia popular ou contra as relações de consumo.Ressalte-se
que a vítima deve ter capacidade para ser iludida. Isso significa dizer que, se incapaz, pode
caracterizar o art. 173 do CP (abuso de incapazes).
Conforme entendimento majoritário, fraude bilateral não impede a configuração do crime, uma
vez que a boa-fé da vítima não é elementar do tipo.
TIPICIDADE SUBJETIVA
Há dolo e especial fim de agir (obter vantagem ilícita em detrimento da vítima). Não afasta o dolo do
agente a má-fé por parte da vítima, na fraude bilateral.
Não existe forma culposa, mas admite-se o dolo eventual quanto à causa de aumento do § 3º do art.
171, quando o agente tem consciência da possibilidade de lesão ao SUS, ainda que não tenha intenção
específica de fazê-lo.

COMPETÊNCIA FEDERAL (STJ)


A – Falsificação da CAT: Para receber auxílio-doença.
B – Estelionato contra o SUS: Ex: clínica informa procedimentos que não ocorreram. No caso de
cobrança de paciente em caso de procedimento custeado pelo SUS, a competência é da Justiça
Estadual.
C – Falsa demissão para percepção de seguro-desemprego: JF
D – Competência territorial: É determinada pelo local da consumação, ou seja, onde o agente obteve
a vantagem ilícita. Assim, a competência será, em caso de saque fraudulento, do local onde realizado o
saque (e não onde mantida a conta bancária). Na hipótese de concessão de benefício previdenciário, a
competência será do local do saque, e não do local da concessão do benefício.

FALSO MOTIVO INVOCADO PARA ANTECIPAÇÃO DO SAQUE DO FGTS


Ex: pessoa saca antecipadamente simulando uma das causas que permitem o saque da conta
vinculada (como simular doença, simular rescisão do contrato de trabalho).
Prevalece que o fato é típico, pois a antecipação do saque diminui a rentabilidade do fundo (REsp
508878). A fraude reside no saque feito em momento indevido, sendo irrelevante o fato de o
trabalhador ser o titular da conta-vinculada.

ART. 171, § 3º – AUMENTO DE PENA CONTRA ENTIDADE DE DIREITO PÚBLICO

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público


ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

O STJ entendeu que se aplica à CAIXA. No caso do INSS (estelionato previdenciário), aplica-se esta
causa de aumento (Súmula 24 – a súmula fala em “qualificadora”, mas é causa de aumento).

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Recentemente, STF decidiu que a incidência da atenuante não pode reduzir a pena aquém do mínimo
legal (entendimento sumulado pelo STJ).

Crime instantâneo de efeitos permanentes: agente não beneficiário da aposentadoria; agente


servidor público no exercício de suas funções (STF, HC 112095, HC 107854).
A prescriçao se inicia no pagamento da primeira parcela

Crime permanente: agente beneficiário da aposentadoria (STF, HC 113179, ARE 663735).


A prescrição só inicia quando cessados os saques

CONCESSÃO FRAUDULENTA DE BENEFÍCIO


Atualmente, a posição dos Tribunais Superiores é uníssona: a) o estelionato contra a previdência
praticado pelo próprio beneficiário é crime permanente, ao passo que b) o cometido por
terceiro não beneficiário, é crime instantâneo de efeitos permanentes.
E se o terceiro for o beneficiário do crime, tal como ocorre quando um terceiro realiza saques
de valores com o cartão de um segurado falecido?
Há crime continuado na percepção reiterada de benefício fraudulento:
RECURSO ESPECIAL. PENAL. ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO PRATICADO POR TERCEIRO APÓS A
MORTE DO BENEFICIÁRIO. SAQUES MENSAIS POR MEIO DE CARTÃO MAGNÉTICO. CONTINUIDADE
DELITIVA. APLICAÇÃO. (...) 1. Tem aplicação a regra da continuidade delitiva ao estelionato
previdenciário praticado por terceiro, que após a morte do beneficiário segue recebendo o benefício
antes regularmente concedido ao segurado, como se ele fosse, sacando a prestação previdenciária por
meio de cartão magnético todos os meses. 2. Diversamente do que ocorre nas hipóteses de inserção
única de dados fraudulentos seguida de plúrimos recebimentos, em crime único, na hipótese dos autos
não há falar em conduta única, mas sim em conduta reiterada pela prática de fraude mensal, com
respectiva obtenção de vantagem ilícita. (RESP 1282118).

O mesmo vale para estelionato para obtenção de seguro-desemprego (consumação com o


recebimento da primeira parcela).
A consumação se dá no local do saque (competência também).
Sob a perspectiva administrativa, deve-se separar as fases de concessão:

1) Habilitação: inserção dos dados no sistema. Se ainda não houve o pagamento, há o crime do art.
313-A – inserção de dados falsos no sistema (funcionário autorizado). O estelionato é crime material,
deve haver prejuízo – se não houve pagamento, não houve prejuízo, não ocorreu estelionato.

2) Formatação: pagamento do benefício. Aqui há duas situações – se há conluio (parte final –


peculato-desvio - art. 312 c/c art. 30 do CP), fala-se em peculato para o servidor e para o beneficiário;
se não há conluio, há peculato para o servidor, e estelionato para o beneficiário.
Se não há prova do conluio, não há comunicabilidade das circunstâncias pessoais.

PRESCRIÇÃO
a – Crime permanente – a prescrição só seria contada a partir da cessação do pagamento.
b – Crime instantâneo de efeitos permanentes – é a que prevalece. Consuma-se com a concessão, o
levantamento de valores é exaurimento. Tem interferência na prescrição.

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Atualmente, a posição dos Tribunais Superiores é uníssona: a) o estelionato contra a previdência


praticado pelo próprio beneficiário é crime permanente, ao passo que b) o cometido por
terceiro não beneficiário, é crime instantâneo de efeitos permanentes.

ESTELIONATO + FALSIDADE DOCUMENTAL


Para o STJ, há concurso material
Para o STF, há concurso formal
Se o falso se exaure no estelionato, o agente responde somente pelo crime patrimonial de estelionato
(Súm 17/STJ).

FRAUDE NO PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUE


VI - Emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
Imprescindível a má-fé.
2 MANEIRAS DE PRATICAR O CRIME:
EMITIR SEM suficiente provisão de fundos FRUSTRAR O PAGAMENTO. (emitir cheque,
em poder do sacado. encerrando, em seguida a conta corrente)
Súm 246/STF - Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem
fundos.
Para Nucci, o endossante não pode ser sujeito ativo, pois não emite, nem tem poder para frustrar o
pagamento. No máximo, seria partícipe.

ATENÇÃO: falsificação de cheque ou de assinatura (caput), não se aplicam as Súmulas 246 e 554.
Sobre o assunto, diz a Súmula 554 do STF: “O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos,
após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”. O pagamento do cheque
sem fundos ANTES do recebimento da denúncia, então, OBSTA a ação penal.
O art. 171, §2º, VI, do CP, prevê duas formas de praticar a fraude, quais sejam, a emissão de cheque
sem fundo e a frustração do pagamento, sendo que a referida súmula fala apenas do cheque sem
fundo. Incide a Súm. 554 do STF no caso de reparação de dano na hipótese de fraude mediante
frustração de pagamento de cheque.

O AGENTE, DEPOIS DE EMITIR O CHEQUE, O AGENTE, DOLOSAMENTE, EMITE CHEQUE


ENCERRA DOLOSAMENTE A CONTA. DE CONTA JÁ ENCERRADA.
Art. 171, §2º, VI (frustrar pagamento pressupõe Art. 171, caput (o pagamento jamais poderia
que, em algum momento, o pagamento era possível). acontecer, pois a conta está encerrada).

CHEQUE SEM FUNDOS


FORO COMPETENTE: local da agência do emitente do cheque.
(exceção ao artigo 70 do CPP, apesar do crime ter se consumado em outro local)
O delito se consuma quando o cheque “bater no banco e retornar” (LOCAL DA RECUSA)

SUM. 521/STF - o foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a
modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a
recusa do pagamento pelo sacado. (agencia do correntista)
A súmula não se aplica expressamente para frustrar pagamento. a doutrina, entretanto, estende.

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CHEQUE FALSO / AGÊNCIA ENCERRADA/ASSINATURA FALSA


FORO COMPETENTE: local da emissão do cheque
Súm 48/STJ - Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
Crime do estelionato do caput.

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público


ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

É CAUSA DE AUMENTO DE PENA.


Cuidado, nestes casos deixa de ser possível a suspensão condicional do processo.
AUMENTA-SE A PENA NOS ESTELIONATOS EM FACE DO BANCO DO BRASIL? NÃO. BANCO DO
BRASIL É ENTIDADE DE DIREITO PRIVADO.
Somente atinge as entidades de direito público
ESTELIONATO EM FACE DE INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL É ESTE O CRIME?
Sim, súmula 24, STJ.
CUIDADO COM A COMPETÊNCIA:
STJ SÚMULA: 107 COMPETE A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR CRIME DE
ESTELIONATO PRATICADO MEDIANTE FALSIFICAÇÃO DAS GUIAS DE RECOLHIMENTO DAS
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS, QUANDO NÃO OCORRENTE LESÃO A AUTARQUIA FEDERAL.

STF: Compete à Justiça Federal processar e julgar ação penal relativa a crime de falsificação de
documento público e de uso de documento falso (CP, artigos 297 e 304, respectivamente), quando a
falsificação incide sobre documentos federais.

Estelionato contra idoso (comentários extraídos do "Dizer o Direito")

§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. (Incluído pela Lei 13.228/15 - vigência em
29/12/15).

Para fins de incidência da mojorante, deve-se levar em conta a definição legal de idoso contida no art. 1º da Lei
10.471/03 (Estatuto do Idoso). Portanto, idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.

Trata-se de causa de aumento de pena, a ser considerada na terceira fase da dosimetria.

Em razão da majorante, afasta-se a possibilidade de suspensão condicional do processo, considerando-se que a pena
mínima cominada passa a ser superior a um ano (art. 89 da Lei 9099/95).

A majorante do § 4º aplica-se tanto para a modalidade fundamental do estelionato (caput), como para as figuras
derivadas do § 2º.

Dolo - Para que incida essa causa de aumento, é indispensável que o agente saiba que a vítima é idosa. Se o agente
desconhecer essa circunstância, ele responderá por estelionato na modalidade fundamental (art. 171, caput). Importante
esclarecer que o agente não precisa conhecer formalmente a condição de idosa da vítima, incidindo a causa de aumento
quando isso for evidente. Assim, se o aspecto físico da vítima indicar claramente que se trata de pessoa idosa, não será
admissível que o autor do delito alegue que não sabia dessa condição.

Cuidado para não confundir com o crime do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) - Se o agente induz pessoa
idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de administração de bens ou deles dispor
livremente, neste caso ele comete o crime do art. 106 do Estatuto do Idoso (e não o estelionato). "Art. 106. Induzir pessoa
idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos".

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uuu) DUPLICATA SIMULADA


Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Crime Próprio. Somente quem tem legitimidade para emitir este tipo de documento, doloso, formal, de
perigo, de forma livre, instantâneo, monossubjetivo, plurissubsistente, não transeunte (DEIXA
VESTÍGIO-Indispensável Exame Pericial)

Pena - detenção, de 2 a 4 anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro
de Registro de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968)

vvv) INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO


Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias,
sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
O bem jurídico atacado é o patrimônio, especificamente de pessoas simples ou de mentalidade
inferior, rústicas, que não são capazes de compreender as sutilezas dos jogos, das apostas ou
especulações com títulos ou mercadorias. A consumação do delito se dá com a prática do jogo ou da
aposta ou com a realização da especulação com títulos ou mercadorias, independentemente de
qualquer prejuízo que possa haver para a vítima, portanto, é formal. Crime comum, admitindo
qualquer pessoa como autora.

www) FRAUDE NO COMÉRCIO

Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor


I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;(doutrina entende
revogado pelo art 7º IV pela lei 8137)
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender,
como precioso, metal de ou outra qualidade:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
Para Busato a matéria foi completamente regulada, e de forma mais ampla e detalhada pelo CDC,
havendo, portanto, a revogação tácita do tipo em epígrafe.

xxx) OUTRAS FRAUDES

Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena.

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Segundo Fragoso, a incriminação que toma o nome de outras fraudes no direito brasileiro, advém de
previsão medieval dos códigos italianos, que castigavam como modalidade de estelionato o ato de
tomar refeição sem possuir os recursos suficientes para pagá-la. A doutrina qualifica o crime do art.
176 como uma espécie de estelionato privilegiado, em função das características especiais do seu
autor, que é pessoa que não dispõe de recursos para pagar aquilo que utiliza. Diz-se que é um evento
de escassa lesividade, um mero calote (Hungria denominava de estelionato famélico).

yyy) FRAUDES E ABUSOS NA FUNDAÇÃO OU ADMINISTRAÇÃO DE SOCIEDADE POR AÇÕES

Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao
público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia popular.

zzz) EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU "WARRANT"

Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Conhecimento de Deposito. É um título de crédito correspondente as mercadorias depositadas no
armazém geral. Warrant é o instrumento de penhor sobre a mesma mercadoria. Os dois documentos
nascem juntos, mas podem ser separados, quem faz a solicitação é o depositante. O tipo traduz uma
norma penal em branco pois a referência é à emissão do título em descordo com disposição legal. A lei
que regula a emissão de conhecimento de depósito ou warrant é o decreto 1102/1903, que estabelece
entre as hipóteses de emissão irregular, a empresa que não está legalmente constituída. Portanto,
trata-se efetivamente de uma empresa, cujo funcionamento não é regular. Caso a empresa sequer
exista, a hipótese será de estelionato na modalidade fundamental (BUSATO). Crime Próprio (Busato e
Bitencourt entendem comum). Sujeito Ativo e Passivo.

aaaa) FRAUDE À EXECUÇÃO

Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa.
Bitencourt refere que os antecedentes mais remotos desta infração penal podem ser encontrados
antes da era Cristiana, desde a lei das XII tábuas, que permitia ao credor insatisfeito postular a
insolvência do devedor. Por meio desse ato, se concedia ao credor o direito de custódia, período
durante o qual o poderia levar o devedor ao mercado; não surgindo pretendentes, poderia matá-lo ou
vendê-lo como escravo.Desse modo, como é óbvio, desde o alvorecer do Direito Penal brasileiro,
representado pelas ordenações filipinas, o tema já era tratado no Livro V, titulo 46, onde era apenado
com a morte. O bem jurídico afligido é o patrimônio dos credores expresso em títulos executivos
judiciais e extrajudiciais. Bitencourt sustenta que a administração da justiça também é bem jurídico
violado no tipo em questão. A defender essa tese, deveria haver pronunciamento judicial para que a
configuração do tipo ( Busato discorda no que tange aos títulos extrajudiciais, pois a ciência não se dá
com a citação, mas, sim, com a emissão). A imensa maioria da doutrina afirma que o crime é próprio e
exige a condição de devedor. Parte exige que o devedor não seja comerciante, pois nesse caso tratar-
se-ia de crime falimentar. No entanto, o crime falimentar exige como condição objetiva de
punibilidade a decretação de falência, o que o tipo em questão não exige, de modo que Busato e

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Bitencourt rechaçam essa hipótese afirmando que se não houver decretação de falência, o crime
aplicável ao comerciante é o do CP.

bbbb) Receptação

ART. 180 - ADQUIRIR, RECEBER, TRANSPORTAR, CONDUZIR OU ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime (receptação própria), ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte (receptação Imprópria):
PENA - RECLUSÃO, de um a quatro anos, e multa.

Crime de receptação é crime acessório


Receptação abrange a coisa produto de contravenção penal, pois haveria analogia in malan parten.
Mas admite que o crime seja ato infracional – “fato descrito como crime” (Fragoso). Hungria discorda.
O crime pressuposto é necessariamente contra o patrimônio?
Não, pois o crime pressuposto pode ser contra a administração pública. (Adquirir coisa produto de
peculato)
Especialidade: receptação de coisa produto de contrabando ou descaminho incide no CP, art. 334
Não é possível receptação de coisa imóvel (STF), embora haja quem admita imóvel adquirido
mediante o cometimento de crime.
É irrelevante que a coisa objeto de crime tenha sido alterada ou transformada em coisa diversa (Jules
Rimet), desde que o agente tenha ciência de sua origem.
BEM JURÍDICO TUTELADO: patrimônio
Noronha entende estar secundariamente protegido o bem administração da justiça, porque ela tem a
sua atuação embaraçada pela ação do receptador.
SUJEITO PASSIVO: o mesmo do crime antecedente
Receptação de coisa própria só é possível se ela estiver na posse legítima de terceiro. Do contrário,
haverá exercício arbitrário das próprias razões.

RECEPTAÇÃO PRÓPRIA: quem adquire, oculta, conduz, recebe ou transporta


A pessoa que entrega pratica post factum impunível do crime antecedente
Dispensável o ajuste prévio com o autor do crime antecedente
Ex. Pessoa furta algo, é perseguida, e durante a perseguição se desfaz da coisa. Terceiro, sabendo ser o
objeto furtado, pega a coisa e a esconde. Crime de receptação consumado (Noronha).

RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA (180, caput, fine): influir para que terceiro de boa fé adquira
Tipo que pune o intermediário.
Trata-se de tipo misto cumulativo: quem transporta e, ao mesmo tempo, influencia outro a adquirir
Terceiro pratica receptação própria, e o intermediário será participe da receptação própria.
É possível a receptação de receptação, desde que mantido o caráter delituoso – conservação da má-fé.
Ou seja, “furta”, “B” pratica receptação com má-fé e “C”, nova receptação, também com má-fé.

ELEMENTO SÚBJETIVO: dolo, inclusive dolo eventual (“coisa que deve saber”)

ATENÇÃO:
RECEPTAÇÃO ≠ FAVORECIMENTO REAL.
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Art. 180. Art. 349


em proveito próprio ou alheio Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de
Adquirem em proveito próprio ou alheio. (3ª co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a
pessoa ≠ do autor do crime antecedente) tornar seguro o proveito do crime:
Adquire-se e proveito próprio do próprio autor do
crime antecedente.

A descoberta posterior da origem criminosa do delito não torna o fato típico, pois o dolo deve ser
concomitante. Hungria admitia o dolo superveniente.

CONSUMAÇÃO
RECEPTAÇÃO PRÓPRIA RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA
Adquirir, receber, transportar, conduzir ou Influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira,
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa receba ou oculte
que sabe ser produto de crime
Crime material Crime formal, bastando influir para que terceiro
Com a prática de qualquer um dos núcleos, de boa fé adquira, receba ou oculte.
incluindo-se a coisa na esfera de disponibilidade Pouco importa se o 3º adquiriu, recebeu ou
do agente. ocultou.
CUIDADO: Transportar / Conduzir / Ocultar. TENTATIVA: doutrina não aceita (majoritária)
Crime permanente.
Perfeitamente possível tentativa, no tentar Apesar da maioria não admitir, seria possível
adquirir. (plurisubsistente) quando praticada por escrito. (minoritária)

RECEPTAÇÃO QUALIFICADA
Art. 180. § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
CRIME PRÓPRIO: só pratica quem está no exercício de atividade comercial ou industrial.
Razão da qualificadora: É o que justifica a qualificadora: mais facilidade de passar a coisa para
terceiros de boa fé.
Cláusula de equiparação (§ 2º): inclui os comerciantes informais

§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.

O crime tem que ser praticado no exercício da atividade comercial e industrial.

Art. 180 caput Art. 180 § 1º


Coisa que sabe ser produto de crime Coisa que deve saber
1 a 4 anos 3 a 8 anos
Dolo direto Dolo direto / Dolo eventual

Art. 180 - §1º


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Apesar da polêmica acerca da desproporção das penas na receptação culposa (STF, HC 92525, Celso
de Mello), prevalece que o tipo é constitucional porque pune mais severamente o profissional que
comete o delito (STF, HC 97344, RE 443388 e RHC 117143)
CONSUMAÇÃO: Com a prática de qualquer um dos núcleos, sendo que alguns verbos são
permanentes.
TENTATIVA: É possível, estamos diante de um crime plurissubsistente, admitindo-se assim a
tentativa.
RECEPTAÇÃO CULPOSA
§ 3º - ADQUIRIR OU RECEBER COISA QUE, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, DEVE PRESUMIR-SE OBTIDA POR MEIO CRIMINOSO:
São causas alternativas, não precisam estar as 3 presentes para existência.
§ 4º - A RECEPTAÇÃO é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que
proveio a coisa.
O crime é acessório QUANTO À EXISTÊNCIA. Mas é independente e principal quanto a sua
punibilidade.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. (Incluído pela Lei
nº 9.426, de 1996)
1ª PARTE: PERDÃO JUDICIAL 2ª PARTE: PRIVILÉGIO
Cabível somente na receptação culposa. Receptação dolosa.
Abrange a forma qualificada (majoritária).
Pressupostos: Pressupostos:
- Primariedade - Primariedade
- Culpa levíssima. - Pequeno valor da coisa.
- Pouco importando o valor da coisa.

§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa


concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste
artigo aplica-se em dobro.

ATENÇÃO: O § 6º somente aplica em dobro a pena do dolo simples, não se aplica em dobro a pena do
delito qualificado. Se o legislador deixou de lado o §1º não cabe ao interprete incluí-lo.

cccc) Crimes contra a propriedade imaterial: crimes contra a propriedade intelectual (CÓDIGO
PENAL) e crimes contra o privilégio de invenção, contra as marcas e patentes e de
concorrência desleal (Lei n. 9.279/96).

CÓDIGO PENAL
Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:
Norma penal em branco – deve-se recorrer à Lei 9.610/98 para buscar o sentido de direitos de autor
(art. 3º)
Sujeito ativo – crime comum
Sujeito passivo – crime próprio, somente o autor de obra literária, artística ou científica, seus
herdeiros e sucessores ou o titular do direito sobre a produção de outrem podem figurar nessa
condição.

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Crime doloso, comissivo (pode ser praticado via omissão imprópria), material, instantâneo ou
permanente, de forma livre, monossubjetivo, plurissubsistente.
Bem jurídico tutelado: a propriedade intelectual
Objeto material: obra literária, artística ou científica
Admite tentativa

MODALIDADES QUALIFICADAS (§§1º, 2º e 3º)


§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por
qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização
expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os
represente:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 2° Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende,
expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra
intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete
ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra
intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.
(Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

SÚMULA 502 DO STJ: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime
previsto no art. 184, § 2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.

§ 3° Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou
qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em
um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto
ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do
produtor de fonograma, ou de quem os represente: (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)
CD PIRATA
- Não há adequação social, pois os consumidores tem ciência da ilicitude da conduta
- Exige-se perícia, mas esta pode ser feita por amostragem (REsp 1485832)
- Competência Justiça Federal: importação de CD pirata implica transnacionalidade pois o Brasil é
signatário de tratados de proteção do direito autoral (STJ, CC 144072)

EXCLUSÃO DA TIPICIDADE
§ 4°O disposto nos §§ 1°, 2° e 3° não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de
autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de
1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista,
sem intuito de lucro direto ou indireto.
Art. 186. Procede-se mediante:
I – queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184; - Ação Penal Privada
II – ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1° e 2° do art. 184;
III – ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em desfavor de entidades de direito
público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder
Público;
IV – ação penal pública condicionada à representação, nos crimes previstos no § 3º do art. 184.

EFEITOS DA SENTENÇA CONDENATÓRIA

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Art. 530-G, CPP – Destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o perdimento dos
equipamentos apreendidos.

D. DIREITO PROCESSUAL PENAL

INQUÉRITO POLICIAL. GARANTIAS DO INVESTIGADO. A POLÍCIA JUDICIÁRIA.


ATRIBUIÇÕES. O MINISTÉRIO PÚBLICO E A INVESTIGAÇÃO.

Inquérito Policial
- órgão responsável: polícia judiciária.
- objetivo: procedimento administrativo preparatório para o oferecimento da denúncia que tem como objetivo
a reunião dos elementos de convicção que habilitem o órgão de acusação para a propositura da ação penal
(pública ou privada).
- destinatários:
a) imediato: MP ou ofendido.
b) mediato: juiz
- natureza jurídica: procedimento administrativo-persecutorio de natureza inquisitiva. Nao e
processo administrativo, porque dele nao resulta sançao (natureza e instrumental).
 a natureza inquisitiva decorre da reuniao, em uma mesma pessoa, das funçoes de iniciar,
presidir e decidir o procedimento, e nao a existencia ou nao de contraditorio, que e uma opçao do
legislador.
 inexiste inconstitucionalidade na ausencia de previsao de contraditorio e ampla defesa no
inquerito policial, pois nao se destina a decidir litígio e nao tem por objeto aplicaçao de penalidade.

2.1.1 Características do inquérito


a) procedimento administrativo de caráter investigatório
A expressao procedimento, em sentido estrito, e a concatenaçao de atos dentro do processo. O termo,
no entanto, deve ser entendido em sentido amplo, como sinonimo de atividade.
Nao existe um rito ou uma ordem pre-determinada pela lei, por isso nao e possível o reconhecimento
de nulidade procedimental. Ex.: a instauraçao de uma portaria inepta nao acarreta a nulidade do
restante do inquerito.
b) preparatório e informativo
Visa garantir o mínimo de viabilidade fatica para a açao penal: indícios de autoria e materialidade.
c) obrigatório e indisponível [para a autoridade policial]
Em regra, a autoridade policial nao tem discricionariedade quanto a instauraçao ou nao do inquerito
policial. Sempre que tomar conhecimento da ocorrencia de infraçao penal que caiba açao penal
publica incondicionada devera instaurar o inquerito.
Hipoteses de desnecessidade de instauraçao:
i) notícia inidonea: a notícia criminis nao fornece informaçoes necessarias mínimas.
ii) fato notoriamente atípico: o que a autoridade policial analisa e a tipicidade formal, nao cabe
a ela a analise da tipicidade material (ex: insignificancia).
iii) extinçao da punibilidade. Ex.: homicídio evidentemente prescrito.
iv) infraçao penal de menor potencial ofensivo: elaboraçao do termo circunstanciado.
d) facultativo e disponível [para o titular da açao penal]
e) escrito [art. 9º, CPP]
f) sigiloso [art. 20, caput, CPP]
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Se a autoridade policial verificar que a publicidade pode causar prejuízo a elucidaçao dos fatos, pode
decretar o sigilo do inquerito. O estatuto da OAB confere acesso ao advogado, mesmo sem procuraçao
nos autos. Mas, para os inqueritos marcados pelo sigilo, so o advogado com procuraçao pode ter
acesso (STF e STJ).
SV 14: confere sigilo das diligencias em andamento para eficiencia da investigaçao. Se houver
desrespeito, e possível reclamaçao no STF, mandado de segurança junto ao juiz de primeiro grau
(violaçao a direito líquido e certo previsto no estatuto da OAB) e habeas corpus pelo acusado (a
vedaçao de acesso ao seu advogado pelo prejudicar sua defesa).
Tratando-se de investigaçoes referentes a organizaçoes criminosas, se for decretado o sigilo, o acesso
do defensor constituído dependera de autorizaçao judicial, exceto se for determinado o depoimento
do investigando, quando o advogado tera vista dos autos com no mínimo 3 dias de antecedencia (art.
23 da Lei 12.850/13).
g) não há partes, ausência de contraditório
i) oficiosidade
Ao tomar conhecimento do crime, a autoridade policial age de ofício, independente de provocaçao.
j) oficialidade
Somente os orgaos estatais podem presidir o inquerito policial.

2.1.2 Incomunicabilidade no inquérito policial (art. 21 do CPP)


Ha Discussao quanto a recepçao ou nao desse dispositivo pela CF/88.
a) nao recepçao: e a posiçao do TRF1! A incomunicabilidade e vedada ate mesmo durante o Estado de
Defesa (art. 136, § 3º, IV da CF) e o art. 5º, LXIII da CF assegurada a todo preso a assistencia moral de
sua família e a assistencia tecnica de um advogado.
b) recepçao (minoritaria): a CF veda incomunicabilidade somente no caso de Estado de Defesa e a
regra do art. 5º, LXIII, teria aplicaçao específica para as prisoes em flagrante.

Critérios para atribuição da autoridade policial


a) Em razao do lugar
b) Em razao da natureza
 Precatorios e requisiçoes: serao necessarios somente quando o pedido ultrapassar os
limites da comarca. [literalidade do art. 22, CPP]
 Flagrante pela autoridade policial: a instauraçao do inquerito policial deve ser feita por
aquele que efetuou a prisao e os atos subsequentes serao realizados pela autoridade do local
onde o crime se consumou, porque a conduçao do IP e da autoridade do local onde o crime se
consumou.

2.1.4 Valor probatório das informações do inquérito policial


O IP possui valor probatorio relativo, pois nao foi realizado perante o juiz e nao respeitou
contraditorio e ampla defesa. Em verdade sao elementos de informaçao e nao de prova.
Os elementos informativos podem ser utilizados no processo, desde que confirmados com outros
elementos obtidos nos autos (art. 155, CPP). O Juiz, no entanto, pode fundamentar sua decisao
exclusivamente em provas cautelares, nao repetíveis e antecipadas, porque sao provas, nao apenas
elementos informativos. Aqui ja fala em prova, porque ha contraditorio: a) provas cautelares tem
contraditorio diferido (exemplo: o acusado pode rebater o conteudo das interceptaçoes telefonicas
durante a instruçao); b) nao repetíveis nao tem participaçao das partes (perícias sao feitas por orga os
tecnicos do Estado); c) provas antecipadas sao feitas sob contraditorio, porque sao colhidas perante o
Juiz, presente a defesa e a acusaçao.

2.1.5 Investigação presidida pelo MP


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Discussao quanto a possibilidade do membro do MP presidir as investigaçoes criminais.


a) MP não pode investigar [tese institucional dos delegados de polícia]: interpretaçao literal do art.
144, § 1º, IV da CF, que determina a atribuiçao da polícia federal em exercer, com exclusividade, as
funçoes de polícia judiciaria da Úniao; o constituinte especificou em capítulo proprio o exercício do
poder de polícia; a investigaçao presidida pelo MP comprometeria a estrutura do sistema acusatorio;
comprometimento da parcialidade da atuaçao do MP.
b) MP só pode investigar nas hipóteses previstas em lei [tese defendida pelo Min. Nelson Jobim]
c) MP com amplo poder de investigação
STF admitiu em recurso com repercussao geral, pacificando a questao. TRFs e STJ ja admitiam (Sum
234/STJ: A participaçao de membro do MP na fase investigatoria criminal nao acarreta o seu
impedimento ou suspeiçao para o oferecimento da denuncia)
Repercussão geral. Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Constitucional.
Separação dos poderes. Penal e processual penal. Poderes de investigação do Ministério
Público. [...] Questão constitucional com repercussão geral. Poderes de investigação do
Ministério Público. Os artigos 5º, LIV e LV, 129, III e VIII, e 144, IV, § 4º, da CF, não tornam a
investigação criminal exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do
MP. Fixada, em repercussão geral, tese assim sumulada: “O MP dispõe de competência para
promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza
penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado
ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus
agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as
prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados
(Lei 8.906/94, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo
da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente
controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante
14), praticados pelos membros dessa instituição”. […] (RE 593727)
Inf. 785: A legitimidade do poder investigatorio do órgão seria extraída da CF, a partir
de clausula que outorgaria o monopólio da ação penal publica e o controle externo sobre a
atividade policial.
O “parquet”, porém, não poderia presidir o inquérito policial, por ser função precípua da
autoridade policial. Ademais, a função investigatória do MP não se converteria em atividade
ordinária, mas excepcional, a legitimar a sua atuação em casos de abuso de autoridade,
pratica de delito por policiais, crimes contra a Administração Publica, inercia dos organismos
policiais, ou procrastinação indevida no desempenho de investigação penal, situações que,
exemplificativamente, justificariam a intervenção subsidiaria do órgão ministerial. Haveria,
no entanto, a necessidade de fiscalização da legalidade dos atos investigatórios, de
estabelecimento de exigências de caráter procedimental e de se respeitar direitos e garantias
que assistiriam a qualquer pessoa sob investigação — inclusive em matéria de preservação
da integridade de prerrogativas profissionais dos advogados, tudo sob o controle e a
fiscalização do Poder Judiciário.

 Resoluçao n. 3 do CNMP regulamenta o Procedimento Investigatorio Criminal (PIC) e a


Resoluçao n. 13 do CNMP disciplina sua instauraçao e tramitaçao.
PIC: e instrumento de natureza administrativa e inquisitorial, instaurado e presidido pelo membro do
MP, tera como finalidade apurar a ocorrencia de infraçoes penais de natureza publica, servindo como
preparaçao e embasamento para o juízo de propositura, ou nao, da respectiva açao penal.

2.1.6 Início do inquérito policial (art. 5º, CPP)


a) De ofício [art. 5º, I, CPP]: por força do princípio da obrigatoriedade.
 Formas de classificaçao da noticia criminis:
- cogniçao imediata: a autoridade policial tem notícia do crime por suas atividades de rotina.
- cogniçao medita: a autoridade policial tem notícia do crime por terceiros. Requisiçao do MP, do
Juiz, representaçao.
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- cogniçao coercitiva: a autoridade policial tem notícia do crime por meio de prisao em flagrante.
 Formas de classificaçao da delatio criminis:
- delatio criminis simples: delaçao feita por qualquer um do povo.
- delaçao postulatoria: comunica o crime e pede a instauraçao. Ex.: representaçao.
 Delaçao anonima (apocrifa): STF entendeu que nao autoriza o inicio do IP. Nada impede,
contudo, que o Poder Publico, provocado por delaçao anonima (“disque-denuncia”, p. ex.),
adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguaçao sumaria, “com
prudência e discrição”, a possível ocorrencia de eventual situaçao de ilicitude penal, desde que o
faça com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, mantendo-se,
assim, completa desvinculaçao desse da persecuçao criminal em relaçao as peças apocrifas.
Peças apocrifas nao podem ser formalmente incorporadas a procedimentos instaurados pelo
Estado, salvo quando produzidas pelo acusado ou quando constituírem o proprio corpo de
delito.

b) Requisição do juiz ou MP [art. 5º, II, CPP]: a requisiçao pelo Juiz e incompatível com a CF e com o
sistema acusatorio. A requisiçao por parte do MP tem natureza de ordem (e obrigatoria) e o
descumprimento pode configurar crime de prevaricaçao.
 Discussao quanto a figura da autoridade coatora no caso de IP instaurado em
decorrencia de requisiçao (autoridade policial x MP).
- STF/TRF1 – A autoridade coatora no caso de IP instaurado em decorrencia de requisiçao e o MP.
(TRF1: HC 2009.01.00.0477647 e HC 2008.01.00.0117760)
STF: “[…] se o IPM foi instaurado por requisição de membro do Ministério Público Militar,
este deve figurar como autoridade coatora (RHC 64.385), cabendo ao TRF o julgamento de
eventual habeas corpus impetrado contra a instauração do inquérito”. (RMS 27872)
TRF1: “A questão do equívoco na indicação da autoridade coatora - o Procurador Regional da
República, em vez do Procurador da República no Distrito Federal, que requisitou a abertura
do inquérito policial - ficou superada por manifestação dos impetrantes, recebida como
aditamento à inicial”. (HC 00255212520134010000, Rel. Des. Olindo Menezes)
- STJ – diverge entre autoridade policial e MP [AgRg no REsp 700115]

c) Requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo nas ações


privadas e nas ações públicas subsidiárias [art. 5º, II, CPP]: Nos crimes de açao privada o IP so pode
ser iniciado se houver requerimento.
Recurso do despacho que indefere requerimento: recurso para o Chefe de Polícia (art. 5º, § 2º, CPP)

d) Representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo nas ações penais
públicas condicionadas [art. 5º, § 4º, CPP]: Nos crimes de açao publica condicionada o IP so pode ser
iniciado se houver representaçao.
“Doutrina e jurisprudência são uniformes no sentido de que a representação do ofendido nas
ações penais públicas condicionadas prescinde de qualquer formalidade, sendo suficiente a
demonstração do interesse da vítima em autorizar a persecução criminal.
No caso dos autos, quando da lavratura do auto de prisão em flagrante, a vítima
expressamente requereu a instauração de inquérito policial contra o acusado, seu filho, com
relação aos fatos registrados no boletim de ocorrência”. (STJ, RHC 51481)

2.1.7 Atos do inquérito policial (arts. 6º e 7º do CPP)


i) Preservaçao do local do crime [art. 6º, I, CPP]
ii) Apreensao dos objetos que tem relaçao com o fato apos liberados pelos peritos [art. 6º, II, CPP]
iii) Colheita das provas e das suas circunstancias [art. 6º, III, CPP]
Prova testemunhal no IP: nao ha maximo legal e as testemunhas sao intimadas para comparecer.
Possibilidade de conduçao coercitiva com o descumprimento da ordem de comparecimento, por
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aplicaçao analogica do art. 218, CPP  não há necessidade de autorização judicial, basta a expedição
de mandado de conduçao coercitiva; pode caracterizar crime de desobediencia; e possível aplicaçao de
multa.
Atençao: ofendido presta declaraçoes; testemunha presta depoimento; suspeito presta interrogatorio.
iv) Oitiva do ofendido [art. 6º, IV, CPP]: o ofendido nao presta compromisso, eventual mentira nao
caracterizara falso testemunho, podera caracterizar calunia.
v) Oitiva do indiciado [art. 6º, V, CPP]: seria melhor chamar de suspeito.
O termo deve ser assinado por duas testemunhas que tenham ouvido a leitura e deve ser feita a
advertencia do direito ao silencio, sob pena de vício do ato (Clausula de Miranda). O CPP preve
curador ao menor (art. 15), mas a posiçao dominante entende que o CC/02 revogou este dispositivo.
Nao e necessaria a presença de advogado no ato de interrogatorio.
[...] 2. Apesar da natureza inquisitorial do inquérito policial, não se pode perder de vista que o
suspeito, investigado ou indiciado possui direitos fundamentais que devem ser observados
mesmo no curso da investigação, entre os quais o direito ao silêncio e o de ser assistido por
advogado.
3. In casu, consta do auto de qualificação e interrogatório que o então investigado, ora
recorrente, foi cientificado de seu direito de permanecer em silêncio e de ter assistência de
um advogado, não tendo se manifestado pela presença do profissional para acompanhar o
ato. Não pode querer, agora, anular a confissão obtida naquele momento sob o argumento de
que seu patrono não foi intimado para o interrogatório. (Precedentes do STJ). [...] (STJ, RHC
34.322)
vi) Reconhecimento de pessoas ou coisas e acareaçoes [art. 6º, VI, CPP]
Acareaçao: confronto pessoal entre 2 ou mais pessoas sobre um determinado ponto divergente.
Testemunha, vítima e indiciado podem ser acareados (o indiciado nao e obrigado a participar).
vii) Exame de corpo de delito e outras perícias [art. 6º, VII, CPP]
viii) Ordenar a identificaçao criminal e fazer juntar a folha de antecedentes [art. 6º, VIII, CPP]
Hoje a identificaçao datiloscopica e regulada pela Lei 12.037/09:
Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação
criminal quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes
entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da
autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da
autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do
documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.
Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do
inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para
identificar o indiciado.
 Atribuiçao de falsa identidade para ocultar antecedentes criminais
A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial e típica, ainda que em situaçao de
alegada autodefesa (Sum 522/STJ). STF: segue na mesma linha da sumula, inclusive ja definiu em
repercussao geral:
“O Plenário Virtual do STF, no julgamento do RE 640139, decidiu que o princípio
constitucional da autodefesa não alcança aquele que atribui falsa identidade perante
autoridade policial com o intuito de ocultar maus antecedentes. Na ocasião, reconheceu-se a
existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada e, no mérito, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria”. (ARE 870572)
TRF1: Tem um precedente do Dr. Olindo, anterior a sumula, que nao considerava crime:

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“2. [...] 'Segundo a jurisprudência do STJ, não comete o delito previsto no art. 307 do CPB o
réu que, diante da autoridade policial, atribui-se falsa identidade, em atitude de autodefesa,
porque amparado pela garantia constitucional de permanecer calado, ex vi do art. 5º, LXIII da
CF/88.' (HC 162576)” (ACR 00003211420084013808, rel. Des. Olindo Menezes)
Mas ha outros julgados, de outros desembargadores, inclusive mais recentes, que consideram crime.

ix) Averiguar vida pregressa [art. 6º, VIII, CPP]


x) Reproduçao simulada dos fatos [art. 7º, CPP]: tem por objetivo a identificaçao do modus operandi.
Segundo o posicionamento da jurisprudencia, o indiciado nao e obrigado a fazer a reconstituiçao,
ainda ja tenha confessado.

2.1.8 Indiciamento
E atribuir a autoria de uma infraçao penal a uma pessoa, que pode ser feito ja no auto de prisao em
flagrante ou ate o relatorio final do delegado de polícia.
 Casos especiais de indiciamento:
a) Juiz e MP: nao podem ser objeto de indiciamento. A Lei 8624/93 (MP em geral) e as LC 75/93
(MPF) e 35/79 (magistratura) determinam que os membros nao podem ser indiciados em inquerito e,
quando houver indícios de autoria, os autos devem ser encaminhados ao Procurador-Geral ou ao
Tribunal.
b) Autoridades com prerrogativa no STF: nao ha dispositivo que vede o indiciamento, mas em
questao de ordem no Inq. 2.411 o Plenario do STF entendeu que a abertura do proprio IP fica
condicionada a autorizaçao do Relator, porque, nos casos de competencia originaria de Tribunal, a
atividade de supervisao judicial deve ser desempenhada durante toda a investigaçao.
Inf STF 802: Na chamada “operaçao Lava Jato”, o STF decidiu desmembrar um dos feitos, ficando no
Supremo a investigaçao relacionada com o Deputado Federal “EC” e sendo remetido de volta para a
Vara Federal de Curitiba o processo que apura a conduta dos demais reus (supostos comparsas do
parlamentar). Depois do desmembramento, durante a oitiva de um reu colaborador na 1ª instancia,
este revelou novos fatos criminosos que teriam sido praticados por “EC”. Essa oitiva foi correta e nao
houve usurpaçao de competencia do STF. So se poderia dizer que houve violaçao da competencia do
STF se o juiz federal tivesse realizado medidas investigatorias dirigidas ao Deputado Federal, nao
podendo ser considerada medida de investigaçao o simples fato de ele ter ouvido reu colaborador e
este ter mencionado a participaçao de “EC” durante a audiencia. E comum que, em casos de
desmembramento, ocorra a produçao de provas que se relacionem tanto com os indivíduos
investigados na 1ª instancia, como o dos demais reus com foro privativo. A existencia dessa
coincidencia nao caracteriza usurpaçao de competencia.

2.1.9 Prazo para término do inquérito (art. 10 do CPP)

REÚ PRESO REÚ SOLTO


JÚSTIÇA COMÚM 10 dias * 30 dias (prorrogaveis)
JÚSTIÇA FEDERAL 15 dias (pode duplicar) 30 dias (prorrogaveis) **
NOVA LEI DE DROGAS 30 dias (pode duplicar) 90 dias (pode duplicar)
Lei de economia popular: 10 DIAS SOLTO OÚ PRESO
Prisao temporaria - crime hediondo ou 30 (pode duplicar)
equiparado ***
* Termo inicial e o dia da execuçao da prisao. Nao prorroga, porque, se ha elementos para a segregaçao
cautelar, ha elementos para o oferecimento da denuncia.
** A Lei 5010/66 nao fala do prazo para reu solto na Justiça Federal, a doutrina que entende aplicavel
o prazo do CPP.

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*** Renato Brasileiro entende que na prisao temporaria normal (10 dias) o prazo ja coincide com o
termino do inquerito. Na temporaria dos crimes hediondos, apesar de a prisao ter prazo diferente do
inquerito, este deve finalizar no prazo da prisao.
Natureza do prazo do inquérito:
- Nucci: enquanto o acusado estiver preso, o prazo e material.
- Renato Brasileiro: o prazo para conclusao do inquerito nao se confunde com o prazo da prisao e, por
isso, seria processual.
Atraso no prazo: reu solto – nenhum problema; reu preso – a contagem do prazo e global para todo
processo, entao se for poucos dias nao ha problema; se for abusivo impoe o relaxamento da prisao.

2.1.10 Destinatário do inquérito policial (art. 10, § 1 º, e 16, CPP)


O CPP fala que, concluída a investigação, o IP deve ser encaminhado ao Poder Judiciário. No entanto, o
IP é destinado a subsidiar a atuação persecutória do MP. O CJF editou a Res. 63/09 determinando que
o IP seja remetido diretamento ao órgão ministerial.
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade
policial, SENÃO para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
O pedido de novas diligencias e feito diretamente entre MP e delegado. So passa pelo juiz se precisar
de autorizaçao, como a interceptaçao telefonica.
A doutrina interpreta o art. 16 juntamente com a segunda parte do art. 46 de forma a concluir que a
devoluçao do inquerito nao pode ocorrer no caso de reu preso. A segunda parte do art. 46 trata da
reabertura do prazo na devoluçao quando o reu estiver solto, nada tratando do reu preso.
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 (cinco) dias,
contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial,
e de 15 (quinze) dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução
do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do
Ministério Público receber novamente os autos.
Como regra, nao e possível que o magistrado indefira a diligencia requerida pelo MP, exceto no caso de
reu preso. Para o indeferimento indevido, cabe correiçao parcial.

2.1.13 Arquivamento do inquérito policial


E ato complexo, que depende de requerimento do MP e decisão do juiz competente.
Nao pode ser determinado pela autoridade policial e tampouco pela autoridade judiciaria. E do MP o
mister de conduzir o procedimento preliminar e formar seu convencimento. Por isso, o STF deu
provimento a agravo regimental para reabrir as investigaçoes quando o Min. Toffoli determinou de
ofício o arquivamento de inquerito policial instaurado para investigar parlamentar (Inq 2912).
TRF1
[…] E nula a decisao proferida pelo Juízo de primeiro grau, que, em sede de habeas corpus,
determina o trancamento da persecuçao penal, com o consequente arquivamento dos autos,
sem a oitiva do MP nesse sentido (art. 28 do CPP) […]. (RSE 00311698620144013900)
[…] Nao pode o juiz determinar o arquivamento de inquerito policial, mesmo nos casos em
que ele se aconselha, sem pedido do Ministerio Publico. Precedentes. (RSE
00215743520054013300)
O CPP nao trata as hipoteses de arquivamento de IP, de modo que seu aplica, por analogia, o
tratamento da rejeiçao da denuncia/queixa a abolviçao sumaria (art. 395 e 397, CPP).
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Art. 397. Apos o cumprimento do disposto no art. 396-A, e paragrafos, deste Codigo, o juiz
devera absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existencia manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;

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II - a existencia manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo


inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente nao constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.
PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA, virtual ou prognostical: pedido de arquivamento sob o fundamento
de que a prescriçao ocorrera durante o curso do processo - STF, STJ nao admitem (Sum. 438/STJ: "E
inadmissível a extinçao da punibilidade pela prescriçao da pretensao punitiva com fundamento em
pena hipotetica, independentemente da existencia ou sorte do processo penal").
DEFERIMENTO DO ARQUIVAMENTO e recorribilidade: em regra, da decisao que defere o
arquivamento nao cabe recurso. Exceçao: cabera remessa obrigatorio no caso de crime contra a
economia popular (art. 7º da Lei 1.521/51). Havendo provimento do recurso de ofício, devera ser
aplicado o art. 28 do CPP por analogia.

Obs: se o juiz determinar o trancamento e o arquivamento do IP, aí cabe apelação (art. 593, II, CPP). Se
decorrer de pedido de habeas corpus, aí é RESE (art. 581, X, CPP)

[…] Cabe apelação da decisão que determina o trancamento e arquivamento do


inquérito policial (art. 593, II - CPP). A interposição de RESE traduz erro grosseiro, isto é,
quando nada justifica o manejo de um recurso pelo outro, por não haver nenhuma
controvérsia sobre o tema […] (RSE 00020857320104013805, rel. Olindo)
Colhe-se do voto: “A decisao que extingue o processo sem julgamento do merito, referente a inquerito
policial, e interlocutoria mista terminativa, com força de definitiva, e desafia recurso de apelaçao, nos
termos do citado art. 593, II, do CPP. […] O recorrente, para justificar a admissibilidade do recurso,
afirma que a decisao, mandando arquivar o inquerito sem ouvir o MPF, expressa, em essencia, a
concessao de habeas corpus de oficio, segundo a previsao do art. 647 do CPP, pelo que deveria, por
produz os mesmos efeitos, comportar recurso em sentido estrito. […] Mas a decisao, em verdade, nao
trata de habeas corpus ex officio, senao de um trancamento do inquerito com base na falta de justa
causa em face da insignificancia da infraçao em relaçao ao bem jurídico protegido, que desafiaria
apelaçao, nos claros termos do art. 593, II do CPP, nao havendo necessidade de aproximaçao de
situaçoes jurídicas para justificar um recurso inadequado”.

- Indeferimento do pedido de arquivamento: MP entende ser hipótese de arquivamento, mas o


magistrado, de forma diversa, entende que é caso de propositura da ação. Aplica-se o art. 28, CPP:
CPP Art. 28. Se o órgão do MP, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento
do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao
procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do MP para oferecê-la,
ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
Pelo princípio da devolução, o juiz transfere a apreciaçao do caso ao chefe do MP, ao qual cabe a
decisao final sobre o oferecimento ou nao da denuncia. E funçao anomala do juiz de fiscalizar a
obrigatoriedade da açao penal publica.
No caso da Justiça Federal, ocorrera remessa para a Camara de Coordenaçao e Revisao do MPF.
Pelo princípio da independencia funcional, o promotor que pediu o arquivamento nao pode ser
obrigado a propor a denuncia. Deve ser indicado outro promotor, que tera obrigaçao de propor a
denuncia, porque aí esta atuando como longa manus do chefe do MP. Esse segundo promotor, no
entanto, nao tem obrigaçao de, ao final, pedir a condenaçao.
- Arquivamento da açao penal privada: ocorre por pedido expresso do querelante, que sera
considerado renuncia e acarretara a extinçao da punibilidade, ou com o transcurso do prazo
decadencial de 6 meses para exercício do direito de queixa (art. 38, CPP).
- Arquivamento implícito: situaçao na qual o promotor deixa de incluir na denuncia algum fato
investigado (aspecto objetivo) ou algum dos indiciados (aspecto subjetivo), sem justificaçao ou
expressa manifestaçao deste procedimento.

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Procedimento a ser adotado pelo juiz no caso de omissao do MP: antes de receber a denuncia, deve
solicitar a manifestaçao do MP. Persistindo a omissao devera ser aplicado o art. 28 CPP.
A jurisprudência não admite o arquivamento implícito, porque a simples omissao nao implica
arquivamento e o pedido de arquivamento deve ser fundamentado.
STF: […] I - Praticados dois roubos em sequencia e oferecida a denuncia apenas quanto a um
deles, nada impede que o MP ajuíze nova açao penal quanto delito remanescente. II -
Incidencia do postulado da indisponibilidade da açao penal publica que decorre do elevado
valor dos bens jurídicos que ela tutela. III - Inexiste dispositivo legal que preveja o
arquivamento implícito do inquerito policial […]. (RHC 95141)
STJ: “[…] 1. Nao se admite o chamado arquivamento implícito da açao penal publica no direito
processual penal patrio, de modo que o oferecimento de denuncia pelo Ministerio Publico por
apenas alguns dos crimes imputados ao recorrente nao obstaculiza que os demais sejam
posteriormente averiguados e, eventualmente, objeto de nova açao penal instaurada pelo
Parquet. Doutrina. Precedentes do STJ e do STF. [...]” (STJ, RHC 39.468)
- Arquivamento indireto: e quando o magistrado nao concorda com o pedido de declinaçao de
competencia formulado pelo orgao ministerial. O juiz recebe tal manifestaçao como se fosse um
pedido de arquivamento e aplica, por analogia, o art. 28 do CPP.
- Arquivamento de inquerito de atribuiçao do PGR: em regra, nao precisa ser submetido ao Poder
Judiciario, porque e inviavel a aplicaçao do art. 28 do CPP. O STF entende, no entanto, que se a decisao
for capaz de fazer coisa julgada material (atipicidade do fato e casos de extinçao da punibilidade), e
preciso que o Poder Judiciario examine o pedido de arquivamento. O STJ tem o mesmo entendimento
nas açoes de sua competencia originaria, em que o membro do MPF atua por delegaçao do PGR (STJ,
Inq 967).

1.12 Arquivamento e formação da coisa julgada


 Fara coisa julgada formal:
a) ausencia dos pressupostos processuais ou condiçoes para o exercício da açao penal. Ex: ausencia de
representaçao do ofendido. Suprida a ausencia, o MP pode oferecer nova denuncia.
b) ausencia de justa causa para o exercício da açao penal: nao ha lastro probatorio mínimo quanto a
autoria ou a materialidade. Surgindo novas provas, e possível a denuncia.
Sum. 524/STF: “Arquivado o inquerito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de
Justiça, nao pode a açao penal ser iniciada sem novas provas”.
 Fara coisa julgada material:
a) atipicidade da conduta: o juiz entra na analise do merito para dizer que se trata de conduta formal
ou materialmente atípica.
b) existencia manifesta de causa excludente de culpabilidade.
c) existencia de causa extintiva de punibilidade, exceto se for declarada com base em certidao de obito
falsa, porque a conduta fraudulenta partiu do proprio acusado, nao cabendo qualquer
responsabilidade ao Estado.
 Divergencia: em relaçao ao reconhecimento de excludente de ilicitude, o STJ entende que
o juiz tambem entra no merito e expressa um juízo de certeza quanto a presença de uma causa.
No entanto, ha um julgado da 1ª turma do STF (HC 95211), que entendeu que o
reconhecimento da atipicidade impede o desarquivamento do IP, mas de excludente de
ilicitude nao, porque o fato típico nao foi negado em momento algum. A conclusao foi
reafirmada pela 2ª turma recentemente:
[...] Arquivamento de Inquerito Policial Militar, a requerimento do Parquet Militar. Conduta
acobertada pelo estrito cumprimento do dever legal. Excludente de ilicitude (CPM, art. 42,
inciso III). Nao configuraçao de coisa julgada material. Entendimento jurisprudencial da
Corte. Surgimento de novos elementos de prova. Reabertura do inquerito na Justiça comum, a

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qual culmina na condenaçao do paciente e de correu pelo Tribunal do Juri. Possibilidade.


Enunciado da Sum nº 524/STF. Ordem denegada. [...] (STF, HC 125101)
STJ:
[…] 1. A par da atipicidade da conduta e da presença de causa extintiva da punibilidade, o
arquivamento de inquerito policial lastreado em circunstancia excludente de ilicitude
tambem produz coisa julgada material.
2. Levando-se em consideraçao que o arquivamento com base na atipicidade do fato faz coisa
julgada formal e material, a decisao que arquiva o inquerito por considerar a conduta lícita
tambem o faz, isso porque nas duas situaçoes nao existe crime e ha manifestaçao a respeito
da materia de merito. […] (STJ, RHC 46.666)
[…] 3. Promovido o arquivamento do inquerito policial pelo reconhecimento de legítima
defesa, a coisa julgada material impede rediscussao do caso penal em qualquer novo feito
criminal, descabendo perquirir a existencia de novas provas. Precedentes. […] (REsp 791471)

1.13 Desarquivamento do inquérito policial


CPP Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por
falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de
outras provas tiver notícia.
Sum. 524/STF: “Arquivado o inquerito policial, por despacho do juiz, a requerimento do
promotor de justiça, nao pode a açao penal ser iniciada, sem novas provas”.
Fundamento: impedir que, apesar da manifestaçao judicial pelo arquivamento, a autoridade policial
proceda investigaçoes de forma arbitraria. A descoberta de novas provas funciona como condição
de procedibilidade para o exercício da açao penal.
 STF se posicionou no sentido de que o pedido de arquivamento, homologado ou nao pelo
judiciario, tem natureza irretratável, nao sendo passível de revisao ou reconsideraçao. (Inq 2054)
[…] 2. Tendo o Parquet expressamente se manifestado pela ausencia de elementos para
denunciar o ora recorrido por crime contra os costumes, restou superada a possibilidade de
que outro membro do MP, com base nos mesmos elementos de prova, propusesse açao penal,
sob pena de afronta aos princípios institucionais mencionados. 3. De acordo com
entendimento manifestado por este STJ e pelo STF, o pedido de arquivamento do inquerito
nao e passível de revisao ou reconsideraçao sem que comprovada a existencia de novos
elementos probatorios, sendo vedado o reconhecimento da retrataçao em virtude do
oferecimento da denuncia. 4. Divergindo da primeira manifestaçao do Parquet no sentido da
ausencia de elementos para a propositura da açao penal quanto ao delito contra os costumes,
caberia ao juiz de primeiro grau remeter os autos ao Procurador-Geral, conforme
determinaçao do artigo 28 do CPP. (REsp 1543202)
 Ha duas especies de provas novas:
- substancialmente novas: sao provas ineditas, porque antes desconhecidas ja que inexistentes
ou ocultas.
- formalmente novas: ja sao conhecidas e utilizadas, mas ganham nova versao
Doutrina e jurisprudencia so admitem provas substancialmente novas para desarquivar o processo.
 STF admitiu o desarquivamento do IP em que fora reconhecida a extinçao da punibilidade fundada
em provas forjadas no ambito da polícia. O MP reinquirira as testemunhas e descobrira que as
declaraçoes haviam sido alteradas pela autoridade policial. STF entendeu que surgiram novos
elementos de convicçao. (STF, HC 87395)

E. DIREITO CIVIL

ANULABILIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS.


CLÁUSULAS GERAIS. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E DOS CONTRATOS.

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PRINCÍPIOS CONTRATUAIS FUNDAMENTAIS: LIBERAIS E SOCIAIS.

1 ANULABILIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO


1) TEORIA DAS INVALIADADES
Na ESCADA PONTEANA e possível correlacionar os planos de existencia, validade e eficacia a teoria das
invalidades.

EXISTENCIA VALIDADE EFICACIA


Agente Capaz
Termo
Objeto Lícito, possível e determinavel
Condiçao
Forma Prescrita ou nao defesa em lei
Encargo / Modo
Vontade Externada, livre e desembaraçada

Martinho Garcez admite invalidade superveniente quando decorrer de lei nova ou de decisao judicial com
modulaçao de efeitos. Contudo, a doutrina dominante entende que as invalidades sao geneticas.

Diferente do Codigo Civil Argentino, o NCC desvinculou os conceitos de ilicitude e nulidade, adotando a
premissa de que toda nulidade decorre de lei. Assim, a nulidade e sançao imposta pelo ordenamento, e nao pela
vontade das partes. Alem disso, o ato invalido nao enseja automaticamente responsabilidade civil.

2) NÚLIDADES

NÚLIDADE VIRTÚAL e a nulidade que dispensa previsao expressa em lei. Ex: contrato que viole a dignidade da
pessoa humana, que viole claramente a funçao social dos contratos etc.

Hipoteses gerais de nulidades estao nos arts. 166 e 167 do NCC.

Podem gerar EFEITOS INDIRETOS. Ex: compra e venda nula nao gera efeitos diretos de compra e venda, mas
pode justificar a posse do comprador.

Pode gerar o efeito da CONVERSÃO SUBSTANCIAL (art. 170), que consiste na conversao do negocio jurídico
nulo em outro negocio jurídico valido, desde que respeitados dois pressupostos: presença dos requisitos do
negócio jurídico novo no negócio jurídico nulo e as partes devem querer o negócio novo se soubessem
da nulidade.

Esse instituto tem pertinencia com o PRINCIPIO DA CONSERVAÇAO constante do Enunciado 13/CJF: “O aspecto
objetivo da conversao requer a existencia do suporte fático no negócio a converter-se”.

A conversao substancial aplica-se, em regra, apenas aos negocios jurídicos nulos, vez que os anulaveis podem
ser convalidados pela simples manifestaçao de vontade das partes interessadas, sendo desnecessaria a
aplicaçao da teoria do aproveitamento (excepcionalmente, aplica-se aos atos anulaveis que nao sejam passiveis
de ratificaçao).

Pode gerar o efeito da CONVERSÃO APARENTE, onde o tipo negocial e o mesmo. Ex: escritura publica de
compromisso de compra e venda, que nao e valida como publica, mas pode ser aproveitada como instrumento
particular, que tambem valida o compromisso de compra e venda.

3) ANÚLABILIDADES (NÚLIDADES RELATIVAS)

Tratando-se de vícios de natureza privada, ato anulável admite CONFIRMAÇÃO, que pode ser expressa ou
tacita, resguardando-se, por obvio, os direitos de terceiros. O ato de confirmaçao deve conter a substancia do

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negocio celebrado e a vontade expressa de mante-lo (art. 173, CC). Caso o devedor ja tenha cumprido parte do
negocio, ciente do vício que o maculava, a confirmaçao expressa sera dispensada (art. 174, CC). (outra hipotese
do princípio da conservaçao dos negocios jurídicos). O art. 175 do CC consagra a irrevogabilidade da
confirmação, seja ela expressa ou tacita.

Eficacia interinística (Pontes de Miranda): o ato ou negocio jurídico anulavel produzira regulares efeitos ate que
lhe sobrevenha decisao, no sentido de impedir que continuem se produzindo.

A anulabilidade, pois, e reconhecida por meio de açao anulatoria, ajuizada pelo interessado exclusivamente, cuja
natureza e constitutiva negativa (desconstitutiva).

Sempre se apontou que seus efeitos seriam ex nunc, nao retroativos ou somente a partir do transito em julgado
da decisao – tese que estaria confirmada pelo art. 177 do NCC. Todavia, ha orientaçao doutrinaria no sentido da
produçao de efeitos ex tunc (retroativos), uma vez que, em conformidade com o art. 182 do NCC: na anulaçao do
negocio jurídico, as partes deverao ser reconduzidas ao estado que antes dele se achavam. Ex: eventual sinal
deve ser restituído.

Ademais, somente às partes e interessados poderão suscitá-la, nao sendo possível ao juiz conhece-la de
ofício ou ao Parquet suscita-la quando tiver de intervir no processo.

As características das anulabilidades podem ser organizadas da seguinte forma:

 O negocio existe e gera efeitos concretos ate que sobrevenha a declaraçao de invalidaçao;
 Somente a pessoa juridicamente interessada podera promover a anulaçao negocial;
 Admite-se ratificaçao;
 Submete-se aos prazos decadenciais;
 O juiz nao pode conhecer a anulabilidade de ofício, nem o Ministerio Publico pode suscita-la.
Em regra, o prazo (decadencia) para pleitear a anulaçao de negocio jurídico, nos termos do art. 178, e de quatro
anos. Entretanto, quando a lei dispuser que determinado ato e anulavel sem estabelecer prazo para pleitear-lhe
a anulaçao, considerar-se-a que o prazo (decadencial, repita-se!) sera de dois anos, contados a partir da data da
conclusao do ato ou do negocio jurídico (NCC, art. 179). Enunciado 538/CJF: “No que diz respeito a terceiros
eventualmente prejudicados, o prazo decadencial de que trata o art. 179 do NCC nao se conta da celebraçao do
negocio jurídico, mas da ciencia que dele tiverem”.

O art. 171 do NCC dispoe sobre a anulabilidade, determinando que, “alem dos casos expressamente declarados
em lei, e anulavel o negocio jurídico: I – por incapacidade relativa do agente; II – por vício resultante de erro,
dolo, coaçao, estado de perigo, lesao ou fraude contra credores”.

3) MEDIDAS SANATORIAS

Decorrem do princípio da conservaçao do negocio jurídico (decorrencia da funçao social dos contratos).

Alem da conversao substancial e da confirmaçao, ha a REDÚÇAO (Teoria da Amputaçao), que consiste na


retirada de clausulas nulas, desde que compatível com a vontade das partes (art. 184).

DISTINÇÕES ENTRE NULIDADES E ANULABILIDADES

NULIDADE ANULABILIDADE
Viola norma prioritariamente de interesse publico Viola norma prioritariamente de interesse privado
Pode ser reconhecida de ofício (art. 168 § un) Apenas o interessado pode alegar
* Exceçao: nulidade de casamento * Exceçao: CDC (salvo contrato bancario)

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Nao admite confirmaçao Admite confirmaçao, tacita ou expressa


Nao convalesce com o tempo (art. 169) Deve observar prazo decadencial (arts. 178/179)
Eventuais efeitos patrimoniais prescrevem
Se reconhece por meio de açao declaratoria Se opera por meio de açao anulatoria (desconstitutiva)
O reconhecimento gera efeitos retroativos

SIMULAÇÃO

A simulaçao, como causa de nulidade, foi tratada pelo art. 167 do NCC e consiste num disfarce: “e uma
declaraçao enganosa de vontade, visando produzir efeito diverso do ostensivamente indicado” (Bevilacqua).
Nao ha erro!

A característica fundamental do negocio simulado e a divergência INTENCIONAL entre a vontade e a


declaraçao. Ha, na verdade, oposiçao entre o pretendido e o declarado. As partes desejam mera aparencia do
negocio e criar ilusao de existencia perante terceiros. A simulaçao sempre decorre de um acordo.

Na simulaçao, celebra-se o negocio jurídico que tem aparência normal, mas que nao pretende atingir o efeito
que deveria produzir. No CC/16, havia uma distinçao entre a simulação inocente (aquela que não frauda à lei e
não causa prejuízo a terceiros) e maliciosa, o que nao foi repetido pelo novo CC, quando se verifica a farsa, e
causa de invalidade do negocio jurídico. Em havendo simulaçao de qualquer especie, o ato e nulo de pleno
direito, por atentar contra a ordem publica, como vício social.

E dado ao juiz aproveitar, se possível, o contrato simulado, em decorrencia do princípio da conservaçao. Frise-se
que existe corrente doutrinaria minoritaria, que entende que a simulaçao so seria causa de nulidade se
causasse prejuízo de terceiros ou infringencia a lei, ou seja, a simulaçao maliciosa (Cristiano, citando Sílvio).

Sendo tratada como nulidade, a simulaçao pode ser alegada por terceiros que nao fazem parte do negocio, mas
tambem por uma parte contra a outra (Enunciado 294 CJF).

MODALIDADES DE SIMÚLAÇAO:

SIMULAÇÃO RELATIVA OU DISSIMULAÇÃO

O negocio jurídico existe, mas nao do jeito em que foi declarado. Esconde um outro negocio jurídico, cujo efeito
e proibido por lei. Exemplo: compra e venda por preço menor que esconde a compra e venda por preço maior;
quando houver interposta pessoa.

1 – simulaçao relativa subjetiva: caso em que o vício social acomete o elemento subjetivo do negocio jurídico,
pessoa com que este e celebrado.

2 – simulaçao relativa objetiva: caso em que o vício social acomete o elemento objetivo do negocio jurídico
celebrado, o seu conteudo.

Negócio jurídico simulado é nulo, mas o negócio jurídico dissimulado pode ser válido, desde que
preenchidos os requisitos substanciais e formais de validade deste. A possibilidade de fazer valer o
negocio jurídico oculto faz parte da puniçao a quem simulou.

SIMULAÇÃO ABSOLUTA

O negocio jurídico e totalmente distinto do que esta expresso. Esconde um efeito jurídico indevido, sem ser um
outro negocio jurídico. As partes criam um negocio jurídico destinado a nao gerar efeito nenhum. Exemplos:

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assinatura da promissoria para enganar os credores; a venda do imovel locado para encerrar a locaçao; marido
com receio da separaçao de bens, simula com o amigo a transferencia de bens, que na verdade ficarao
guardados para o marido.

A simulaçao e o unico vício do negocio jurídico no qual ocorre a nulidade absoluta.

2 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS


Contratos em geral: Teoria geral dos contratos. Princípios. Elementos constitutivos. Pressupostos de validade.
Revisao. Extinçao. (Atualizado por Grace Monteiro, 12/2015)

5.1 Contratos no Código Civil de 2002

No estudo da disciplina, o codificador inovou ao tratar de temas nao regulados pelo CC/16, a exemplo
do contrato preliminar, do contrato com pessoa a declarar, da resoluçao por onerosidade excessiva, da
venda com reserva de domínio, da venda sobre documentos e do contrato estimatorio.

Alem disso, disciplinou contratos novos, como a comissao, a agencia/distribuiçao, a corretagem e o


contrato de transporte, deixando de fazer referencia a alguns outros institutos, a exemplo da clausula
comissoria na compra e venda (art. 1163 do CC/16).

A nova teoria contratual

Ao longo da historia, o contrato mudou seu matiz ideologico, o que foi acompanhado por sua teoria
geral. Nao e possível, no entanto, fixar data específica para o seu surgimento, haja vista que ele
acompanha o desenvolvimento moral da humanidade. Trata-se do primeiro grande instrumento de
harmonizaçao de interesses contrapostos (primeira funçao social do contrato, segundo Bevilaqua).

Segundo o historiador Max Kazer, o contrato teve grande desenvolvimento no período classico do
Direito Romano, contudo, nao foi criado pelos romanistas. Sua teoria foi especialmente desenvolvida a
partir do surgimento da ideologia liberal e capitalista.

Pilares da teoria classica do contrato (ate o seculo XIX): autonomia privada, igualdade entre as partes
e força obrigatoria.

Durante o seculo XX, inumeras foram as variaveis para a modificaçao da teoria classica do contrato
(revoluçoes socialistas, as duas guerras mundiais, mudança na economia global etc). O período foi
marcado pelo avanço tecnologico e pela sociedade de massa e o Estado, por sua vez, sentiu a
necessidade de limitar a autonomia privada, que ate entao pressupunha a igualdade dos contratantes.
O contrato de adesao1, criado em 1901 por Raymond Saleilles, exemplifica essa necessidade, na
medida que e ditado por uma das partes na relaçao contratual, gerando desequilíbrios e abuso de
poder economico.

A nova teoria contratual foi reconstruída em perspectiva constitucional, sem, contudo, menoscabar os

1 Sobre o contrato de adesão. Ele possui as seguintes características:


• Uniformidade: as cláusulas são gerais e homogêneas para todas as pessoas.
• Pré-determinação unilateral: o conteúdo do contrato é pré-determinado.
• Rigidez: não há discussão sobre as cláusulas.
• Superioridade material de uma das partes: essa característica está presente em quase todos os contratos de adesão.
Não se pode confundir o contrato de adesão com o contrato obrigatório. O último não é nem tanto um contrato, mas uma determinação da lei. EXEMPLO:
contrato de seguro obrigatório (só é contrato no nome, mas não tem qualquer expressão de vontade); trata-se na verdade de uma imposição da lei.
O NCC é muito tímido ao regular o contrato de adesão somente trata do assunto em dois artigos 423 e 424. Atenção: Nos contratos bancários, é vedado ao
julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas (S. 381/STJ)
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elementos da teoria classica. Aponta no sentido de reconhecer na autonomia privada funçao


socializante, de modo a permitir a pactuaçao de relaçoes negociais em harmonia com o valor maximo
da dignidade da pessoa humana (Tepedino/Fachin/Hironaca).

2.1 Princípios contratuais


a) Autonomia privada: foi inicialmente desenvolvida pela escola jusnaturalista, que sufragava a
liberdade do homem nas suas açoes. Atualmente, contudo, e empregada de forma mais comedida.

No ambito do direito contratual, a autonomia privada significa liberdade negocial: o poder que os
particulares tem de regular, pelo exercício de sua propria vontade, as relaçoes que participam,
estabelecendo-lhe o conteudo e a respectiva disciplina jurídica (se, quando, como e com quem
contratar).

Autonomia privada x autonima da vontade: esta ultima tem uma conotaçao subjetiva, psicologica,
enquanto a autonomia privada marca o poder da vontade de um modo objetivo, concreto e real”
(Tartuce).

Judith Martins Costa fala em autonomia solidária, na medida em se condiciona a autonomia a valores
sociais solidarizantes. Nesse passo, a autonomia privada e contida pela eficacia horizontal dos direitos
fundamentais, pelo princípio da funçao social e tambem pelo princípio da boa-fe objetiva.

b) Princípio da força obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda): o contrato tem força de lei
entre as partes. Princípio e relativizado pela teoria da imprevisao (onerosidade excessiva ou quebra da
base objetiva do contrato para o direito do consumidor).

“... o princípio da força obrigatória não tem mais encontrado a predominância e a prevalência que
exercia no passado. O princípio em questão está, portanto, mitigado ou relativizado, sobretudo pelos
princípios sociais da função social do contrato e da boa fé-objetiva” (Tartuce).

c) Princípio da Equivalência Material: Corolario da funçao social dos contratos, princípio busca
evitar abusos por uma das partes em relaçao a outra, principalmente em razao do poder economico.
Conceito assegura que haja um equilíbrio entre direitos e deveres de um contrato. Significa que em um
contrato as partes devem guardar equilíbrio entre as prestaçoes pactuadas. Ha, contudo, situaçoes em
que o contratante assume o risco, a exemplo dos contratos aleatorios. Possui íntima conexao com a
funçao social:

“O princípio da equivalência material busca realizar e preservar o equilíbrio real de direitos e


deveres no contrato, antes, durante e após sua execução, para harmonização dos interesses. Esse
princípio preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja para manter a proporcionalidade
inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os desequilíbrios supervenientes, pouco importando
que as mudanças de circunstâncias pudessem ser previsíveis. O que interessa não é mais a exigência cega
do cumprimento do contrato, da forma como foi assinado ou celebrado, mas se sua execução não
acarreta vantagem excessiva para uma das partes e desvantagem excessiva para outra, aferível
objetivamente, segundo as regras da experiência ordinária. O princípio clássico pacta sunt servanda
passou a ser entendido no sentido de que o contrato obriga as partes contratantes nos limites do
equilíbrio dos direitos e deveres entre elas. (Paulo Luiz Netto Lobo)”

d) Princípio da relatividade dos efeitos do contrato: via de regra, contrato vincula, em nível
obrigacional, apenas as partes contratantes. Em alguns casos, no entanto, podera gerar efeitos perante
terceiros.
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Exceçoes previstas pelo CC/02:

1) Estipulaçao em favor de terceiro: terceiro, que nao e parte do contrato, e beneficiado por seus
efeitos, podendo exigir o seu adimplemento. Ex: Seguro de vida.

2) Promessa de fato de terceiro: promitente assegura ao credor que o objeto do contrato sera prestado
por outrem, sob pena de responsabilizaçao civil. Aceito o encargo pelo terceiro, que se compromete
pessoalmente, exonera-se o promitente de responsabilidade.

3) Contrato com pessoa a declarar (clausula pro amico elegendo): no momento da conclusao do
contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os
direitos e assumir as obrigaçoes dele decorrentes.

e) Princípio da função social do contrato: Trata-se do respeito a valores socialmente


objetivados. Este princípio, consagrado em clausula geral no art. 421, traduz um forte elemento de
contençao da autonomia privada, de acordo com valores como defesa ambiental, do consumidor, da
etica. A liberdade de contratar sera exercida em razao e nos limites da funçao social do contrato.
Projeta-se no ambito interno da relaçao (as partes devem guardar respeito e lealdade entre si) e no
ambito externo (o impacto na coletividade).

Funçao social traduz uma clausula geral de conteudo de natureza principiologica, limitativa da
liberdade de contratar. E ao mesmo tempo clausula geral e princípio.

Enunciado 21/CJF: “A funçao social do contrato, prevista no art. 421 do NCC, constitui clausula geral, a
impor a revisao do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relaçao a terceiros, implicando
a tutela externa do credito”

Cláusula geral: segundo Judith Martins Costa, trata-se de disposiçao normativa dirigida ao juiz para
que, a vista do caso concreto, crie, complemente ou desenvolva uma norma jurídica. Possui conteudo
aberto que impoe ao juiz uma conduta, um comportamento, no sentido de desenvolver a norma
jurídica. Tem conteudo aberto, mas nao se trata de conceito aberto.
Obs: princípio nao foi retratado pelo CC/16.

f) Princípio da boa-fé objetiva: a atual doutrina indica como fonte o Direito Alemao, que traduz o
conceito de forma objetiva, tendo por base a lealdade e a confiança. Constitui modelo de conduta
social ou padrao etico de comportamento que impoe concretamente a todos que atuem com
honestidade, lealdade e probidade nas suas relaçoes (Min. Paulo de Tarso Sanseverino). Nao se esgota
no ramo do direito civil, escoando-se para todo o ordenamento jurídico.

≠ boa-fe subjetiva: estado de consciencia ou crença do sujeito de estar agindo em conformidade com
as normas do ordenamento jurídico.

BOA-FÉ SUJETIVA BOA-FÉ OBJETIVA


E estado psicológico de inocência. Boa-fe do E cláusula geral implícita em todos os contratos.
“eu nao sabia”, ou seja, o indivíduo ignora tem status principiologico e se traduz em uma
possível vício. ex: posse de boa-fe. regra de conteúdo ético e exigibilidade jurídica.
Tem varias funçoes: interpretativa, limitadora e
regra basica para os deveres anexos

Funçoes para a boa-fe objetiva:


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1. Função Interpretativa (art. 113): foi retratada por Orlando Gomes. Interpretaçao do contrato deve
resguardar a boa-fe. “O negocio jurídico deve ser interpretado segundo a boa-fe e os usos do lugar de
sua celebraçao”.
Obs: segundo a classificaçao proposta pela Prof. Judith Martins Costa, a funçao interpretativa e
denominada “funçao hermeneutico-integrativo do contrato”.

2. Função Integrativa (art. 422): segundo tal funçao a boa-fe objetiva estabelece deveres anexos,
laterais, que estarao presentes no contrato independente da vontade das partes. Ex: dever de
informaçao, segurança, lealdade... Essa funçao torna a boa-fe objetiva em fonte autonoma de
obrigaçoes, haja vista a presença dos deveres laterais independe da vontade das partes.
Esses deveres anexos implicam no reconhecimento das responsabilidades pre e pos contratual.

Deveres anexos deu origem a duas figuras parcelares:


I. Violação positiva de contrato: contratante cumpre todas as suas obrigaçoes contratuais, mas viola
os deveres anexos. Nao houve violaçao negativa, eis que o contratante cumpriu suas obrigaçoes
contratuais. Ex: outdoors dirigidos a classe “A” instalados na periferia.
II. Inadimplemento antecipado de contrato: historicamente, as partes somente poderiam invocar o
inadimplemento apos o efetivo descumprimento contratual. Figura permite tal invocaçao quando uma
das partes percebe que uma das partes encontra-se na iminencia de descumprir o ajuste. Nesse caso,
podera pedir ao juiz sua resoluçao. Ex: art. 590, CC – notoria mudança na situaçao economica do
mutuario permite a exigencia de garantia pelo mutuante.

O dever de informaçao decorre da boa-fe objetiva, da sua funçao integrativa. Em todo e qualquer
contrato, as partes devem, reciprocamente, prestar informaçoes necessarias uma a outra.

Críticas ao art. 422 do NCC:


- Previu a aplicaçao do princípio da boa-fe na conclusao e durante a execuçao, mas se omitiu quanto
às fases pré e pós contratual. A pos-eficacia objetiva do contrato: o princípio da boa-fe deve ser
tambem observado apos a consumaçao do contrato;
- A questao foi objeto de prova oral no TRF1 (Des. Olindo Menezes): o art. 422 do CC contem duas
imperfeições. E a liberdade contratual – e nao a liberdade de contratar – que esta limitada pela
funçao social do contrato, porquanto a liberdade contratual e ilimitada, ja que o sujeito celebra o
contrato quando quiser e com quem quiser. No mais, a razao para o contrato e a autonomia privada, e
nao a funçao social. (a sugestao e retirar o termo “em razao” do dispositivo). (Tartuce).

3. Função de Controle (art. 187): coíbe o abuso de direito. “Tambem comete ato ilícito o titular de
um direito que, ao exerce-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim economico ou
social, pela boa-fe, ou pelos bons costumes”.
CIVIL. CONTRATOS. DÍVIDAS DE VALOR. CORREÇÃO MONETÁRIA. OBRIGATORIEDADE.
RECOMPOSIÇÃO DO PODER AQUISITIVO DA MOEDA. RENÚNCIA AO DIREITO. POSSIBILIDADE.
COBRANÇA RETROATIVA APÓS A RESCISÃO DO CONTRATO. NÃO-CABIMENTO. PRINCÍPIO DA
BOA-FÉ OBJETIVA. TEORIA DOS ATOS PROPRIOS. SÚPRESSIO. (...) 4. O princípio da boa-fe
objetiva exercer tres funçoes: (i) instrumento hermeneutico; (ii) fonte de direitos e deveres
jurídicos; e (iii) limite ao exercício de direitos subjetivos. A essa ultima funçao aplica-se a
teoria do adimplemento substancial das obrigaçoes e a teoria dos atos proprios, como meio
de rever a amplitude e o alcance dos deveres contratuais, daí derivando os seguintes
institutos: tu quoque, venire contra facutm proprium, surrectio e supressio. 5. A supressio
indica a possibilidade de reduçao do conteudo obrigacional pela inercia qualificada de uma
das partes, ao longo da execuçao do contrato, em exercer direito ou faculdade, criando para a
outra a legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. (...) (REsp 1202514).

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Segundo doutrina, a violação de um dos deveres anexos gera responsabilidade civil objetiva (En.
24/CJF). Neste contexto de objetivaçao de responsabilidade civil, esta tambem o En. nº 37/CJF: “a
responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa, e fundamenta-se
somente no criterio objetivo-finalístico”.

Teorias relevantes para os contratos e relacionadas à boa-fé objetiva: Supressio, Surrectio, Tu


quoque, Venire contra factum proprium no potest, Duty to mitigate the loss e Cláusula de
Estoppel (direito internacional)

O “venire contra factum proprium”, tambem conhecido como teoria dos atos proprios, e uma vedaçao
decorrente do princípio da confiança. Trata-se de um tipo de ato abusivo de direito.
Situaçoes de confiança legitimamente criadas nas relaçoes jurídicas contratuais deverao ser mantidas,
vedando-se a adoçao de condutas contraditorias.
Trata-se de “uma regra de coerencia, por meio do qual se veda que se aja em determinado momento
de uma certa maneira e, ulteriormente, adote-se um comportamento que frustra, vai contra aquela
conduta tomada em primeiro lugar”.
O Superior Tribunal de Justiça aplicou o princípio antes do advento do CC/02, em julgado que afastou
a possibilidade de anulaçao de compra e venda de um imovel, celebrado somente pelo marido sem a
outorga uxoria, em virtude da existencia de declaraçao pela esposa, na condiçao de testemunha em
outro processo, de anuencia tacita a venda.

Ja as expressoes “surrectio” e “supressio” sao classificaçoes dadas em Portugal as expressoes


“verwirkung” e “erwirkung”, originarias da Alemanha, e decorrem diretamente do venire contra
factum proprium.
A “supressio” refere-se ao fenomeno da supressao de determinadas relaçoes jurídicas pelo decurso do
tempo. A “surrectio”, por sua vez, consagra fenomeno inverso, ou seja, o surgimento de uma pratica de
usos e costumes locais.
Tanto a “supressio” como a “surrectio” consagram formas de perda e de aquisiçao de direito pelo
decurso do tempo.
Aquisiçoes e restriçoes de direito no ordenamento patrio, a princípio, dependem de expressa
disposiçao de lei. Ex: arts. 1.238 (prescriçao aquisitiva) e 205 (prescriçao extintiva).
Contudo, tambem sera admitida aquisiçao (surrectio) ou perda de direitos (supressio) pelo transcurso
do tempo desde de que a ele se relacionam uma situaçao de confiança, investida numa relaçao jurídica.
Portanto, o transcurso de tempo, como forma de aquisiçao ou perda de um direito, afora das previsoes
legais, somente e possível mediante a conjugaçao do “venire contra factum proprium no potest”.

Exemplo de “supressio” e “surrectio”, conforme Maria Helena Diniz: art. 330 do Codigo Civil, ao dispor
que se o devedor efetuar, reiteradamente o pagamento da prestaçao em lugar diverso do estipulado no
negocio jurídico, ha presunçao “juris tantum” de que o credor a ele renunciou, baseado no princípio da
boa-fe objetiva e nessas formas de aquisiçao e perda de direito pelo decurso do tempo.

Nas palavras de Menezes de Cordeiro surrectio “e o instituto que faz surgir um direito que nao existe
juridicamente, mas que tem existencia na efetividade social”.

Com relaçao ao “tu quoque”, e esta expressao que, de fato, revela os deveres anexos de uma relaçao
contratual, decorrentes da boa-fe. Este conceito quer evitar, a luz da boa-fe e da confiança, que a parte
seja surpreendida no bojo do contrato.
E designativo de uma situaçao gerada de um abuso de direito, que se verifica quando uma das partes
viola a norma jurídica e, apos tenta aproveitar-se dessa conduta em benefício proprio.
Observa o seguinte brocardo: “o sujeito não pode valer-se da própria torpeza”. Portanto, quem viola as

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suas obrigaçoes contratuais nao pode se valer da sua propria falta para se favorecer diante da contra
parte.
Conforme o Enunciado nº 24 do Conselho Superior da Justiça Federal, a violaçao dos deveres anexos
decorrentes da clausula geral da boa-fe objetiva, constitui-se especie de inadimplemento,
independentemente de culpa.

Duty do mitigate the loss - o conceito e desenvolvido no direito norte-americano e cristaliza o


imperativo da boa-fe na relaçao obrigacional para impor a parte, que evite o dano evitavel, sob pena de
perder o direito a indenizaçao. Traduz a expressao “o dever de mitigar”. Mesmo sendo vítima, ha dever
de mitigar os efeitos do dano, se estiver ao alcance. Se aplica em qualquer ramo do direito:
EXECÚÇAO PENAL. (...) (2) NAO LOCALIZAÇAO DO CONDENADO. DILIGENCIAS JÚNTO A
RECEITA FEDERAL E CARTORIO ELEITORAL. ENDEREÇO PRESENTE NOS AÚTOS (BOLETIM
DE OCORRENCIA). NÚMERO DA CASA. DIVERGENCIA EM ÚM DIGITO. (3) INSTRÚÇAO DO
WRIT. DEFICIENCIA. (4) PRINCIPIO DA BOA-FE OBJETIVA. DÚTY TO MITIGATE THE LOSS. (...)
3. O princípio da boa-fé objetiva ecoa por todo o ordenamento jurídico, não se
esgotando no campo do Direito Privado, no qual, originariamente, deita raízes. Dentre os
seus subprincípios, destaca-se o duty to mitigate the loss. A bem do dever anexo de
colaboraçao, que deve empolgar a lealdade entre as partes no processo, cumpriria ao
paciente e sua Defesa informar ao juízo o endereço atualizado, para que a execuçao pudesse
ter o andamento regular, nao se perdendo em inuteis diligencias para a sua localizaçao.4.
Habeas corpus nao conhecido (HC 137.549). Mesmo sendo vítima, ha o dever de mitigar os
efeitos do dano. (STJ, HC 137549)
A Clausula de Estoppel traduz-se na aplicaçao do venire contra factum proprium nas relaçoes
internacionais. Proíbe comportamento contraditorio entre Estados.
Ex. a Bolívia, no caso da Petrobras, criou condiçoes para empresa atuar la, e, em momento depois, se
comportou de forma contraditoria.
2.2 Conceito
CONTRATO e um negocio jurídico em que as partes convergem vontades contrapostas, com o escopo
de atingir determinados interesses, segundo as limitaçoes impostas pelos princípios da FÚNÇAO
SOCIAL e da BOA-FE OBJETIVA.
O contrato e um negocio jurídico, que tem forma livre, exceto no que for determinado pela lei.
2.3 Classificação dos contratos
RECIPROCAMENTE
CONSIDERADOS EM SI MESMOS
CONSIDERADOS
Únilaterais ou bilaterais
Onerosos ou gratuitos
Quanto a natureza da obrigaçao
Comutativos ou aleatorios CONTRATOS PRINCIPAIS ou
Formais ou reais
CONTRATOS-BASE
Quanto a forma Consensuais, formais ou reais
Quanto a designaçao Nominados e inominados
Alienaçao de bens
Quanto ao objeto (conteudo do Transmissao de uso e gozo
direito conferido) Prestaçao se serviço CONTRATOS ACESSÓRIOS ou
Conteudo especial
CONTRATOS-DERIVADOS
Execuçao imediata
Quanto ao tempo de execuçao
Execuçao mediata

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Execuçao diferida
Quanto a pessoa do contratante Intuito personae ou impessoal

2.3.1 Considerados em si mesmos (principais classificações)

- BILATERAIS ou UNILATERAIS
Únilaterais: apenas um dos contratantes assume obrigaçoes em face do outro, de tal sorte que os
efeitos sao ativos de um lado e passivos do outro, pois uma das partes nao se obrigara, nao havendo,
portanto, qualquer contraprestaçao.
Ex: doaçao pura e simples; deposito; comodato; mutuo; mandato.
Os contratos unilaterais requerem duas manifestaçoes de vontade, mas colocam um so dos
contratantes na posiçao de devedor, ficando o outro como credor.
Bilaterais: sao os contratos em que cada um dos contratantes e simultanea e reciprocamente credor e
devedor do outro, pois produz direitos e obrigaçoes para ambos, tendo por característica principal o
SINALAGMA, ou seja, a dependencia recíproca de obrigaçoes (contratos sinalagmáticos).

SOMENTE SE APLICAM AOS CONTRATOS BILATERAIS


Exceptio non Exceçao do contrato nao cumprido. NAO se aplica a contratos
inadimpleti contractus unilaterais
Cláusula Resolutiva Admite o inadimplemento como condição resolutiva. Os contratos
Tácita bilaterais contem implícita ou explicitamente essa clausula.
CONTRATOS ÚNILATERAIS: o contraente a quem o contrato aproveite
responde por culpa e por dolo responde aquele a quem nao favoreça.
TEORIAS DOS RISCOS Princípio da res perit creditori.
CONTRATOS BILATERAIS: cada contratante responde por dolo.
Princípio da res perit debitori.
Fica a obrigaçao em suspenso ate que seja prestada garantia real ou
fidejussoria suficiente, ja que as circunstancias supervenientes de
Exceção de ruína modificaçao no patrimonio do devedor alteram os termos contratuais,
permitindo ao contratante que se comprometeu a realizar a sua
(art. 477) prestaçao em primeiro lugar recusar-se a cumpri-la, ate que o outro
satisfaça sua obrigaçao ou de garantia bastante de que cumprira o
prometido.

- ONEROSOS ou GRATUITOS
Gratuitos ou beneficos: contratos em que apenas uma das partes aufere benefício ou vantagem.
Onerosos: ambos os contraentes obtem proveito, ao qual corresponde um sacrifício.
A doutrina distingue os contratos gratuitos propriamente ditos dos contratos desinteressados.
Aqueles acarretam uma diminuiçao patrimonial a uma das partes, como se da nas doaçoes puras.
Estes, subespecies dos primeiros, nao produzem esse efeito, malgrado beneficiem a outra parte
(comodato e mutuo, p.ex.).
“Como decorrencia logica da estrutura contratual, em regra, o contrato oneroso e bilateral, o gratuito
unilateral. Mas pode haver exceçao, como e o caso do contrato de mutuo de dinheiro sujeito a juros –
mutuo feneratício – pelo qual alem da obrigaçao de restituir a quantia emprestada – contrato
unilateral - , devem ser pagos os juros – contrato oneroso” (Tartuce).

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- COMUTATIVOS ou ALEATÓRIOS
Os contratos onerosos subdividem-se em comutativos e aleatorios.
a) Contrato comutativo: partes ja sabem quais sao as prestaçoes, ou seja, essas sao conhecidas ou pre-
estimadas. Ex: compra e venda.
b) Contrato aleatorio: prestaçao de uma das partes nao e conhecida com exatidao no momento da
celebraçao do negocio jurídico pelo fato de depender da sorte, da alea, que e um fator desconhecido.
Ex: contrato de seguro.
NCC consagra duas formas basicas:
b1) Contrato aleatorio emptio spei – um dos contratantes toma para si o risco relativo a propria
existencia da coisa, sendo ajustado um determinado preço, que sera devido integralmente, mesmo que
a coisa nao exista no futuro, desde que nao haja dolo ou culpa da outra parte (art. 458 do CC). O risco e
maior. No caso de compra e venda, essa forma negocial pode ser denominada venda de esperança.
b2) Contrato aleatorio emptio rei speratae – se o risco versar somente em relaçao a quantidade da
coisa comprada, pois foi fixado pelas partes um mínimo como objeto do negocio (art. 459 do CC). Na
compra e venda trata-se da venda da esperança com coisa esperada.

- CONSENSUAIS ou REAIS
Consensuais ou formais: se perfectibilizam com a simples manifestaçao do consentimento.
Contratos reais: exigem, para se aperfeiçoar, alem do consentimento, a entrega da coisa que lhe serve
de objeto. Ex: deposito, comodato ou mutuo. Sao, tambem, unilaterais.
“Nao se pode confundir o aperfeiçoamento do contrato – plano de validade – com o seu cumprimento
– plano da eficacia. A compra e venda gera efeitos a partir do momento em que as partes
convencionam sobre a coisa e o seu preço. No caso da compra e venda de imoveis, o registro mantem
relaçao com a aquisiçao da propriedade do negocio decorrente, o mesmo valendo para a tradiçao nos
casos envolvendo bens moveis. Útilizando a escada ponteana, o registro e a tradiçao estao no plano da
eficacia desse contrato. No que concerne a tradiçao, e melhor dizer que esta, em regra, no plano da
eficacia. Isso porque, no caso dos contratos reais, a entrega da coisa esta no plano da validade.”
(Tartuce).

- NOMINADOS ou INOMINADOS
Contratos nominados sao os que tem designaçao propria. Inominados sao as que nao a tem.
Contratos típicos sao os regulados pela lei, os que tem o seu perfil nela traçado. Contratos atípicos sao
os que resultam de um acordo de vontades, nao tendo, porem, as suas características e requisitos
definidos e regulados na lei.
2.3.2 Reciprocamente considerados
Contratos principais: sao os que existem por si, exercendo sua funçao e finalidade
independentemente de outro.
Contratos acessórios: sao aqueles cuja existencia jurídica supoe a dos principais, pois visam a
assegurar a sua execuçao. Ex: fiança e contrato acessorio, estabelecido para garantir a locaçao, que e
contrato principal.
Regras gerais: devem obedecer aos seguintes princípios fundamentais:
a) nulidade da obrigaçao principal acarretara a das acessorias, porem a destas nao implica a da
principal;
b) a prescriçao da pretensao relativa a obrigaçao principal induzira a alusiva as acessorias, mas a
recíproca nao e verdadeira; assim, a prescriçao da pretensao a direitos acessorios nao atinge a do
direito principal.
2.3.3 Outras classificações
Quanto à independência contratual:
Contrato-base e contrato derivado
Carlos Roberto Gonçalves: alguns contratos sao denominados derivados ou subcontratos, por tambem
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dependerem ou derivarem de outros. Tem por objeto direitos estabelecidos em outro contrato,
denominado basico ou principal. Entre os principais subcontratos, destacam-se a sublocaçao, a
subempreitada e a subconcessao.

Contrato derivado x contrato acessorio: esses contratos tem em comum com os acessorios o fato de
que ambos sao dependentes de outro. Diferem, porem, pela circunstancia de o derivado participar da
propria natureza do direito versado no contrato base. Nessa especie de avença, um dos contratantes
transfere a terceiro, sem se desvincular, a utilidade correspondente a sua posiçao contratual. O
locatario, por exemplo, transfere a terceiro os direitos que lhe assistem, mediante a sublocaçao. O
contrato de locaçao nao se extingue, e os direitos do sublocatario terao a mesma extensao dos direitos
do locatario, que continua vinculado ao locador.

Contrato derivado e cessao da posiçao contratual: o subcontrato tambem se distingue da cessao da


posiçao contratual, na qual o contrato basico persiste em sua integridade, mas com novo titular, o
cessionario. No contrato derivado, no entanto, surge uma nova relaçao contratual, sem alteraçao da
primeira, havendo apenas um dos sujeitos que e titular de ambos os contratos.

Adverte Sílvio Venosa que, “como consequencia da derivaçao, o direito contido no subcontrato tem
como limite o direito contido no contratobase; sua extensao nao pode ser ultrapassada. Aplicase o
princípio segundo o qual ninguem pode transferir mais direito do que tem. No mesmo diapasao, se o
contrato principal se extingue, extingue-se o contrato derivado por impossibilidade material de sua
continuaçao”.

(TRF1) – O contrato derivado tem o condao de extinguir o contrato base?


NAO. O mecanismo tecnico do contrato derivado propicia, por parte de terceiro, o gozo das utilidades
do contrato base, sem, contudo, levá-lo à extinção.
EX 1: a sublocaçao, como ocorre com qualquer contrato derivado, havera de seguir o contrato-base
(LOCAÇAO), nao podendo, desta forma, permitir o que este proíbe. Assim, extinto o contrato-base, seja
qual for a sua causa, serao tambem extintas as eventuais sublocaçoes, ressalvados direitos
indenizatorios em favor do sublocatario contra o sublocador.
EX 2: Contrato de subempreitada na construçao civil e o contrato celebrado entre empreiteira e outras
empresas para a execuçao de obra ou de serviços na construçao civil, no todo ou em parte, com ou sem
fornecimento de material. A subempreitada e um contrato derivado (expressao que serve para
explicar que ele depende de um contrato principal, o de empreitada. Pode ser total ou parcial
(conforme abranja todo o conjunto da obra ou parte dela).

Contratos coligados – Carlos Roberto Gonçalves: constitui uma pluralidade, em que varios contratos
celebrados pelas partes apresentam-se interligados. Quando o elo entre eles consiste somente no fato
de constarem do mesmo instrumento, nao existe propriamente coligaçao de contratos, mas, sim, uniao
de contratos. Aquela passa a existir quando a reuniao e feita com dependencia, isto e, com um contrato
relacionado ao outro, por se referirem a um negocio complexo. Apesar disso, conservam a
individualidade propria, distinguindo-se, nesse ponto, do misto. Contratos coligados sao, pois, os que,
embora distintos, estao ligados por uma clausula acessoria, implícita ou explícita.

“sao, pois, os que embora distintos, estao ligados por uma clausula acessoria, implícita ou explícita. (...)
sao os que se encontram ligados por um nexo funcional, podendo essa dependencia ser bilateral –
vende o automovel e a gasolina - ; unilateral – compra o automovel e arrenda a garagem, ficando o
arrendamento subordinado a compra e venda -. Alternativa – compra a casa na praia ou, se nao for
para la transferido, loca-a para veraneio. Mantem-se a individualidade dos contratos, mas as
vicissitudes de um podem influir sobre o outro” (Tartuce). Os contratos coligados deve ser

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interpretados segundo os criterios de hermeneutica do CC, em especial dos arts. 112 e 113,
considerada a sua conexao funcional (En. 421/CJF).
Sobre a materia, ja decidiu o STJ:

“(...) Os contratos coligados são aqueles que, apesar de sua autonomia, se reúnem por nexo econômico
funcional, em que as vicissitudes de um podem influir no outro, dentro da malha contratual na qual estão
inseridos. "Por força de disposição legal, da natureza acessória de um deles ou do conteúdo contratual
(expresso ou implícito), encontram-se em relação de dependência unilateral ou recíproca"(...). Nesse passo e
em uma perspectiva funcional dos contratos, deve-se ter em conta que a invalidade da obrigação
principal não apenas contamina o contrato acessório (CC, art. 184), estendendo-se, também, aos
contratos coligados, intermediário entre os contratos principais e acessórios, pelos quais a resolução
de um influenciará diretamente na existência do outro (REsp 1141985)
(...) CISÃO, ACORDO DE ACIONISTAS E LOCAÇÃO. CONTRATOS COLIGADOS. FUNÇÃO ECONÔMICA COMUM.
ART. 19 DA LEI 8.245/91. MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO DOS PACTOS. AVENÇA NÃO
ALTERADA. REVISIONAL QUE NÃO VISA AO RESTABELECIMENTO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO SOCIAL.
FALTA DE INTERESSE DE AGIR. VIOLAÇÃO À BOA-FÉ OBJETIVA. RESP. PROVIDO. ART. 557, § 1o.-A DO CPC.
REVISIONAL EXTINTA, SEM EXAME DO MÉRITO (...). 5. A interdependência, a conexidade ou a coligação dos
contratos firmados pelas partes (cisão de empresa, acordo de acionistas e contrato de locação) resultam
claras e evidentes, haja vista a unidade dos interesses representados, principalmente os de natureza
econômica, constituindo esse plexo de avenças o que a doutrina denomina de contratos coligados; em caso
assim, embora possível visualizar de forma autônoma cada uma das figuras contratuais entabuladas, exsurge
cristalina a intervinculação dos acordos de vontade assentados, revelando a inviabilidade da revisão
estanque e individualizada de apenas um dos pactos, quando unidos todos eles pela mesma função
econômica comum. (...) (AgRg no REsp 1206723)

2.4 A formação dos contratos


O contrato nasce da conjunçao de duas ou mais vontades coincidentes, sem prejuízo de outros
elementos, o que consubstancia aquilo que se denomina autonomia privada. Sem o mutuo consenso,
sem a alteridade, nao ha contrato. Desse modo, reunindo o que ha de melhor na doutrina, e possível
identificar quatro fases na formaçao do contrato civil:
• Fase de negociaçoes preliminares ou de puntuaçao.
• Fase de proposta, policitaçao ou oblaçao.
• Fase de contrato preliminar.
• Fase de contrato definitivo ou de conclusao do contrato.
2.4.1 Fase de negociações preliminares ou de puntuação
Essa e a fase em que ocorrem debates previos, entendimentos, tratativas ou conversaçoes sobre o
contrato preliminar ou definitivo. Essa fase nao esta prevista no Codigo Civil de 2002. Justamente por
nao estar regulamentado no Codigo Civil, nao se pode dizer que o debate previo vincula as partes,
como ocorre com a proposta ou policitaçao (art. 427 do CC). E possível, todavia, responsabilizaçao
quando quebrada a boa-fe objetiva.
2.4.2 Fase da proposta
A parte que faz a proposta (policitamento) e o proponente ou policitante. A parte que aceita e
chamada de aceitante/oblato.
Proposta. Trata-se de uma declaraçao receptícia de vontade, seria e concreta, dirigida ao aceitante. A
proposta obriga o proponente, salvo nas hipoteses em que a propria lei afirma que a proposta nao e
obrigatoria (arts. 427 e 428 do CC). Declaraçao receptícia de vontade so surte efeitos quando do
conhecimento da parte contraria.
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da
natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
RESÚLTAR DOS TERMOS DELA = previsao de desistencia
NATÚREZA DO NEGOCIO = limitaçao de estoque

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CIRCÚNSTANCIAS DO CASO = conceito aberto que sera avaliado pelo juiz, EXEMPLO: proposta jocosa.

A proposta entre presentes e aquela feita entre pessoas que mantem contato direto e simultaneo uma
com a outra (ex: telefone, chat). Entre ausentes, todavia, a proposta pressupoe nao haver contato
direto e imediato entre as partes (Ex: carta, e-mail).
A aceitaçao e a manifestaçao concordante do oblato. O consentimento somente existe com a aceitaçao
da proposta. Se o aceitante modificar a proposta ele estara fazendo uma contra-proposta.
2.4.3 Teorias da formação
O maior problema que temos na materia de contratos e formaçao de contratos entre ausentes,
digladiando-se a doutrina ao sabor de duas teorias: teoria da cogniçao e teoria da agniçao.
Fundamentalmente, a doutrina criou duas teorias explicativas a respeito da formaçao do contrato
entre ausentes (Caio Mario):
Teoria da cognição: para os adeptos dessa linha de pensamento, o contrato entre ausentes somente
se consideraria formado quando a resposta do aceitante chegasse ao conhecimento (mental) do
proponente. CRITICA: nao se sabe qual o exato momento em que o proponente tomou conhecimento.
Teoria da agnição: dispensa-se que a resposta chegue efetivamente ao conhecimento do proponente:
a) subteoria da declaração propriamente dita: o contrato se formaria no momento em que o aceitante
ou oblato redige ou datilografa a sua resposta. Peca por ser insegura, dada a dificuldade em se precisar
o instante da resposta.
b) subteoria da expedição: considera formado o contrato, no momento em que a resposta e expedida.
c) sub-teoria da recepção: reputa celebrado o negocio no instante em que o proponente recebe a
resposta. Dispensa que leia a mesma. Trata-se de uma subteoria mais segura que as demais, pois
facilita a comprovaçao (ex: por meio do A.R., nas correspondencias).

No Direito brasileiro, parte da doutrina entende ser adotada a subteoria da EXPEDIÇAO e parte
sustenta que se deve aplicar a subteoria da RECEPÇAO.
Considerando que a redaçao do art. 434 do NCC e bastante semelhante ao do art. 1086 do CC/16 e que
Bevilaqua era adepto da subteoria da expedição, por reputa-la “a mais razoavel e a mais jurídica”,
parte da doutrina entente que esta seria a teoria adotada atualmente.
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é
expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver
comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado.
Entretanto, o NCC traz grandes exceçoes a subteoria da recepçao: no art. 433, se o proponente se
houver comprometido a esperar a resposta (nesta hipotese, o policitante se comprometeu a aguardar
a manifestaçao do oblato); ou, ainda, se a resposta nao chegar no prazo assinado pelo policitante.
Mais que isso, a ressalva constante no inciso I desse art. 434, que faz remissao ao art. 433. Assim, a
aceitaçao nao se reputara existente, se antes dela ou com ela chegar a retrataçao do aceitante. Atente
para essa expressao: “se antes dela ou com ela CHEGAR ao proponente a retrataçao do aceitante”.
Com esta ressalva, o proprio legislador acabou por negar a força conclusiva da expediçao, para
reconhecer que, enquanto nao tiver havido a RECEPÇAO, o contrato nao se reputara perfeito, pois,
antes do recebimento da resposta ou simultaneamente a esta, podera vir o arrependimento do
aceitante. Podemos concluir que o contrato somente se forma quando o proponente recebe a resposta,
sem arrependimento.
Dada a amplitude da ressalva constante no art. 433, que admite a retrataçao do aceitante ate que a
resposta seja recebida pelo proponente, entende-se que o NCC adotou a sub-teoria da recepção.
2.4.4 Fase de contrato preliminar
O contrato preliminar, pre-contrato ou pactum de contrahendo encontra-se tratado na atual
codificaçao privada, como novidade, entre os arts. 462 a 466. Contudo, vale esclarecer que a fase de
contrato preliminar nao e obrigatoria entre as partes, sendo dispensavel. Dispoe o primeiro
dispositivo relativo ao tema que o contrato preliminar, exceto quanto a forma, tera os mesmos
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requisitos essenciais do contrato definitivo (art. 462 do CC).


Basicamente, dois sao os tipos de contrato preliminar previstos no Direito brasileiro, intitulados como
compromissos de contrato: a) Compromisso unilateral de contrato ou contrato de opçao; b)
Compromisso bilateral de contrato.
2.4.5 Fase de contrato definitivo
A ultima fase de formaçao do contrato e a fase do contrato definitivo, quando ocorre o choque ou
encontro de vontades originario da liberdade contratual ou autonomia privada. A partir de entao, o
contrato estara aperfeiçoado, gerando todas as suas consequencias como, por exemplo, aquelas
advindas da responsabilidade civil contratual, retirada dos arts. 389 a 391. Por fim, nao se pode
esquecer que a boa-fe objetiva, com todos os seus deveres anexos ou laterais, deve ser aplicada a essa
fase, bem como a fase pos-contratual.
2.5 Vícios redibitórios
Conceito. Os vícios redibitorios sao defeitos ocultos que diminuem o valor ou prejudicam a utilizaçao
da coisa recebida por força de um contrato comutativo.
Esquema do examinador Olindo Menezes (TRF1): tem fundamento no princípio da garantia; o
alienante, no contrato oneroso, tem o dever de assegurar a funcionalidade da coisa, dentro da sua
finalidade. Boa-fe objetiva.

Requisitos. Poderíamos, assim, elencar os seguintes elementos caracterizadores ou requisitos do vício


redibitorios:
a) a existencia de um contrato comutativo (translativo da posse e da propriedade da coisa);
b) um defeito oculto existente no momento da tradiçao (contemporaneidade);
c) a diminuiçao do valor economico ou o prejuízo a adequada utilizaçao da coisa.
Esquema do examinador Olindo Menezes: acresce ao requisito da alínea c o fator “gravidade”, nao
envolvendo defeitos insignificantes e removíveis. Ademais, acresce um quarto requisito:
desconhecimento pelo adquirente, em face da diligencia ordinaria.

Fundamento. A regulaçao dos vícios redibitorios e uma garantia para o adquirente.


OBS: Nao confundir vício redibitorio com erro. Este e uma falsa percepçao da realidade. E um defeito
na percepçao da coisa que, em si, nao contem qualquer vício. Aquele e defeito da coisa.

Ações edilícias. Diante da ocorrencia dos vícios redibitorios, o adquirente pode propor dois tipos de
açao (nao cumulaveis: TRF1), ha um concurso de açoes:
- ação redibitória: rejeiçao da coisa. As perdas e danos estao referidas no artigo 443.
Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e
danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato.
- ação estimatória ou ação quanti minoris: abatimento (artigo 442).
Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar
abatimento no preço.
Prazos: art. 445. Sao prazos decadenciais.
*venda de animais - os prazos de garantia por vícios ocultos serao os estabelecidos em lei especial, ou,
na falta desta, pelos usos locais.
Bem móvel 30 dias Conta da entrega Se já estava na 15 dias
Conta da alienação
Bem imóvel 01 ano efetiva posse 6 meses

O legislador entende que se o adquirente ja estava na posse, ja conhecia a coisa, entao deve ter um
prazo menor para ingressar com açao contra o alienante.
CRITICA: a lei nao estabeleceu um prazo mínimo da posse, assim pela letra fria da lei ate o prazo de
posse de 01 dia seria suficiente para a perda da metade do prazo decadencial. Assim, seria justo que o
legislador estabelecesse um período de tempo suficiente para o efeito de perda da metade do prazo, na
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hipotese prevista na segunda parte do artigo 445.


Ha garantia legal (tratada nos artigos acima) e tambem a garantia contratual. Enquanto o prazo de
garantia contratual está em curso, o prazo de garantia legal fica suspenso (art. 446), que se
aplica tambem as relaçoes de consumo, pois nao ha regulaçao no CDC.
OBS: CDC protege o consumidor nao so dos vícios ocultos, mas tambem dos aparentes. Nesses casos, o
consumidor pode exigir a substituiçao do produto, abatimento do preço ou cancelamento do contrato.

Quando o vício oculto, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde (art. 445, §
1°, CC), o adquirente de bem móvel terá o prazo de trinta dias (art. 445, caput, do CC), a
partir da ciência desse defeito, para exercer o direito de obter a redibição ou
abatimento no preço, desde que o conhecimento do vício ocorra dentro do prazo de
cento e oitenta dias da aquisição do bem. O prazo decadencial para exercício do direito de
obter a redibiçao ou abatimento no preço de bem movel e o previsto no caput do art. 445 do
CC, isto e, trinta dias. O § 1º do art. 445 do CC apenas delimita que, se o vício somente se
revelar mais tarde, em razao de sua natureza, o prazo de 30 dias fluira a partir do
conhecimento desse defeito, desde que revelado ate o prazo maximo de 180 dias, com relaçao
aos bens moveis. Desse modo, no caso de vício oculto em coisa movel, o adquirente tem o
prazo maximo de cento e oitenta dias para perceber o vício e, se o notar neste período, tem o
prazo de decadencia de trinta dias, a partir da verificaçao do vício, para ajuizar a açao
redibitoria. Nesse sentido, o enunciado 174 do CJF dispoe que: "Em se tratando de vício
oculto, o adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obter redibiçao ou abatimento
do preço, desde que os vícios se revelem nos prazos estabelecidos no paragrafo primeiro,
fluindo, entretanto, a partir do conhecimento do defeito". (Info 554/STJ)
2.6 Evicção
Conceito. Consiste a evicçao na perda, pelo adquirente (evicto), da posse ou propriedade da coisa
transferida, por força de uma sentença judicial ou ato administrativo que reconheceu o direito anterior
de terceiro, denominado evictor.
Para o examinador Olindo Menezes (TRF1), tem fundamento no princípio da garantia.
No NCC, a evicçao e disciplinada a partir do seu art. 447 (art. 1107, CC/16):
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que
a aquisição se tenha realizado em hasta pública.
Aquisiçao da coisa em hasta publica: NCC inovou no art. 447 ao prever que subsiste a garantia da
evicção “ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública”. A duvida que o dispositivo
suscita, consiste em saber quem responde pela evicçao: o proprietario ou o Estado.
Ha quem defenda o direito do arrematante ou adjudicante que sofre evicçao total/parcial pode exigir a
restituiçao do preço da coisa evicta ou o valor do desfalque contra os credores que se beneficiaram do
produto da arremataçao ou contra o executado/antigo proprietario, se recebeu saldo remanescente.

Personagens fundamentais:
a) ALIENANTE: que responde pelo risco da evicçao.
b) ADQÚIRENTE ou EVICTO: que e a pessoa que perde a coisa.
c) TERCEIRO ou EVICTOR: que e a pessoa que reivindica a coisa provando direito anterior.

A mesma sentença que condena o adquirente a devolver a coisa, determina que o alienante responda
junto ao adquirente. No aspecto processual, ha uma discussao afirmando que esse nao seria um caso
de denunciaçao NAO obrigatoria.

Responsabilidade Civil do alienante. A primeira parte do art. 447 deixa claro que o alienante
responde pelos riscos, exigindo-se os seguintes requisitos:
a) aquisiçao de um bem;
b) perda da posse ou da propriedade; (note-se que a evicçao pode ser parcial)

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c) prolaçao de sentença judicial ou execuçao de ato administrativo.

Direitos do evicto. Exclusão da garantia.


O contrato pode aumentar a garantia da evicçao alem do estabelecido no artigo 450, da mesma forma
pode ser diminuída.
Mas a evicçao pode ser EXCLÚIDA, por admissao do CC. A exclusao pode ser: LEGAL (artigo 457) ou
CONVENCIONAL (artigo 449). Ora, se o adquirente sabia que a coisa era de terceiro, nao pode
demandar contra a evicçao.
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o
evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele
informado, não o assumiu.
O contrato pode dizer que o alienante nao responde pela evicçao (ate poderia ser revisada sob a luz do
princípio da funçao social do contrato, mas a lei permite). Mas se isso ocorrer (clausula que exclui a
garantia), o evicto tera pelo menos o direito a receber o PREÇO QÚE PAGOÚ, o que pode significar a
nao exclusao total da garantia. Entretanto, o contrato pode prever que o adquirente ciente do ato esta
assumindo-o, o que implicara a total exclusao da garantia.
Para que haja a exclusao total da garantia (art. 449), e preciso que o adquirente expressamente tome
ciencia e assuma os riscos da evicçao. (ver arts 451 a 456 CC).
2.7 Contratos e o direito intertemporal
Com a entrada em vigor do NCC, importantes problemas referentes ao Direito Intertemporal poderao
ser suscitados, exigindo do magistrado redobrada cautela. Úm desses problemas diz respeito a
possibilidade de incidencia da lei nova em contratos celebrados antes de 11/11/2003.
Segundo o art. 2035, os negocios jurídicos celebrados antes da entrada em vigor do NCC continuarao
regidos pelas leis anteriores (CC/16, Codigo Comercial), no que tange aos seus pressupostos de
validade (nulidade e anulabilidade).
Da mesma forma, nao se aplicam as regras da lesao e do estado de perigo (defeitos do negocio
jurídico), inauguradas pelo NCC (art. 156 e 157), restando ao hermeneuta recorrer a outros meios de
colmataçao, eventualmente aplicaveis, e a luz da disciplina normativa anterior.
Por tais razoes, um contrato celebrado por um menor de 18 anos, antes de 11 de janeiro (data da
entrada em vigor do novo Codigo), continua sendo anulavel (art. 147, I, CC-16), a despeito da reduçao
da maioridade civil (18 anos), eis que, a epoca da celebraçao do negocio, segundo a lei entao vigente, o
ato seria considerado invalido.
Alias, esta impossibilidade de retroaçao dos efeitos da lei nova para atingir a validade dos negocios ja
celebrados apenas consubstancia a observancia da regra constitucional que impoe o respeito ao ato
jurídico perfeito (art. 5°, XXXVI, CF).
No entanto, se, por um lado, nao pode a lei nova atingir a validade dos negocios jurídicos ja
constituídos, por outro, se os efeitos do ato penetrarem o ambito de vigencia do novo Codigo, deverao
se subordinar aos seus preceitos, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de
execuçao.
Para melhor entende-lo, cumpre-nos marcar, neste ponto, um divisor de aguas: quanto ao aspecto de
sua validade, nao podera o NCC atingir negocios celebrados antes da sua vigencia; no entanto, quanto
ao seu aspecto eficacial, ou seja, de executoriedade ou produçao de seus efeitos, caso estes invadam o
ambito temporal de vigencia da nova lei, estarao a esta subordinados.
Ex. um contrato de financiamento celebrado em 1999, de trato sucessivo, em que o financiado se
obrigou a pagar, mensalmente, prestaçoes pecuniarias a instituiçao financeira pelo prazo de 5 anos. O
NCC nao podera interferir na validade do negocio celebrado, embora os efeitos do contrato – de
execuçao protraída no tempo – se sujeitem as suas normas (art. 2.035). Com isso, regras como as
relativas a “resoluçao por onerosidade excessiva” (arts. 478 a 480), a “correçao economica das
prestaçoes pactuadas” (art. 317), ao “aumento progressivo de prestaçoes sucessivas” (art. 316), ou as
“perdas e danos” (arts. 402 a 405), por ex., poderao ser imediatamente aplicadas aos negocios

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jurídicos ja constituídos, por interferirem apenas no campo da eficacia ou de executoriedade. Outro


exemplo, a desconsideraçao da personalidade jurídica tambem atinge o plano da eficacia.
Entretanto, nos termos da parte final do art. 2035, se as partes houverem previsto outra forma de
execuçao, a exemplo da execuçao instantanea (que se consuma imediatamente, em um so ato), ou se
afastaram a incidencia de determinadas regras consagradas na lei nova – que nao tenham substrato de
ordem publica – a exemplo do aumento progressivo das prestaçoes sucessivas, podera ser evitada a
incidencia da nova lei.
Mas observe: determinadas normas, como a que preve a resoluçao por onerosidade excessiva ou a
correçao economica das prestaçoes pactuadas, em nosso pensamento, por seu indiscutível carater
publicístico e social, nao podem, a prioristicamente, ser afastadas pela vontade das partes.
Finalmente, o paragrafo unico do artigo sob comento, utilizando linguagem contundente, determina
que “nenhuma convençao prevalecera se contrariar preceitos de ordem publica, tais como os
estabelecidos por este Codigo para assegurar a funçao social dos contratos e da propriedade”.
Útilizando a expressao “nenhuma convençao”, o legislador impoe a todos os negocios jurídicos, nao
importando se celebrados antes ou apos a entrada em vigor do novo Codigo, a fiel observancia dos
seus preceitos de ordem publica, especialmente a funçao social da propriedade e dos contratos. Assim,
contratos que violem regras ambientais ou a utilizaçao economica racional do solo, assim como as
convençoes que infrinjam deveres anexos decorrentes da clausula de boa fe objetiva (lealdade,
respeito, assistencia, confidencialidade, informaçao), expressamente prevista no art. 422 do novo
Codigo, nao poderao prevalecer, ante a nova ordem civil.
Muitos autores tem defendido que por meio desse dispositivo, ha a extinçao de toda e qualquer
clausula leonina.
2.8 Extinção dos contratos
2.8.1 Forma natural
Pelo cumprimento do contrato.
2.8.2 Cláusulas especiais de extinção.
RESILIÇÃO RESOLUÇÃO RESCISÃO
Teoria classica (Messineo):
Desfazimento de contrato que Opera-se quando houver opera-se quando houver lesao
se opera por simples inadimplemento, ou seja, ou estado de perigo.
manifestação de vontade de quando uma das partes Teoria pragmatica
uma ou de ambas as partes. descumpre o contrato. (jurisprudencia brasileira):
mesmo sentido de resoluçao.
Vínculo contratual nao mais
interessa.
Aplica-se, sobretudo, a Normalmente, os contratos
contratos por tempo trazem clausula resolutiva
indeterminado expressa.
Ex: resiliçao de contrato de
linha de celular ou de canal por
assinatura ou renuncia de
mandato ou manifestaçao do
locatario de nao continuar na
locaçao.
CONCURSO: que nome se dá ao
Havendo uma clausula O que e exceptio non adimplenti
ato jurídico que concretiza uma
resolutoria, a resoluçao e contractus?
resilição? Depende do tipo de
imediata. Trata-se de defesa conferida a
resilição:
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BILATERAL: é o DISTRATO parte demandada, no sentido


de apontar o descumprimento
UNILATERAL: é a DENÚNCIA
previo da prestaçao cabível a
parte adversa*.
Requisito: notificação prévia, Sem a clausula resolutoria, o
para a denúncia, (art. 473, § inadimplemento demanda uma
ún) notificaçao para a resoluçao.

2.8.3 A exceção de contrato não cumprido


Possui natureza de defesa de merito indireta, isto e, de exceçao substancial.

Trata-se de aplicaçao do “tu quoque” (a parte nao pode ser surpreendida dentro do contrato).

Aplica-se aos contratos bilaterais, de modo que nenhum dos contratantes, antes de adimplir sua
obrigaçao, podera exigir a do outro.

Se a primeira prestaçao houver sido cumprida de forma defeituosa, ainda assim a outra parte podera
opor a defesa, mas o nome dela muda para “exceptio non rite adimpleti contractus”.

Obs: o ordenamento brasileiro, todavia, admite a clausula “solve et repete” (pague e depois reclame),
que e uma renuncia a “exceptio non adimpleti contractus”.

A jurisprudencia italiana durante algum tempo dividiu-se em torno da legitimidade da clausula “solve
et repete”, considerando-a leonina. Condicionou-se, entao, sua validade a previsao contratual expressa,
partindo-se assim do princípio da autonomia da vontade.

Sua eficacia consiste precisamente no seguinte: uma vez fixada, parte nao pode eximir-se da prestaçao,
nem retarda-la em razao de exceçoes subordinadas ao comportamento da outra contraparte.

2.8.4 A teoria da imprevisão (a resolução por onerosidade excessiva)


Tem raiz historica no Codigo de Hamurabi. Mas foi cunhada pelos franceses (Lei Failliot de 1916).

Conceito. Consiste no reconhecimento de que a ocorrencia de acontecimento novo e imprevisível, com


impacto na base economica do contrato, justificaria a sua revisao ou resoluçao. A presente teoria
somente interessa aos contratos de execuçao continuada ou de trato sucessivo, ou seja, de medio ou
longo prazo, uma vez que se mostraria inutil nos de consumaçao instantanea.

Requisitos.
- Superveniencia de circunstancia imprevisível – claro esta, assim, que se a onerosidade excessiva
imposta a uma das partes inserir-se na alea de previsao contratual, nao se podera, em tal caso,
pretender-se mudar os termos da avença, eis que, na vida negocial, nada impede que uma das partes
tenha feito um “mau negocio”;
Segundo o artigo 317 do CC:
“Quando por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da
prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte,
de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação”.
Mas segundo o Enunciado 17 do CJF,

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“a interpretação da expressão ‘motivos imprevisíveis’ constante do art. 317 do NCC, deve


abarcar tanto causas de desproporção não previsíveis como também causas previsíveis, mas
de resultados imprevisíveis”
- Alteraçao da base economica objetiva do contrato – a ocorrencia da circunstancia superveniente
altera a balança economica do contrato, impondo a uma ou ambas as partes onerosidade excessiva;

- Onerosidade excessiva – consequentemente, uma ou ate mesmo ambas as partes, experimentam um


aumento na gravidade economica da prestaçao a que se obrigou. Com isso, podemos concluir que a
teoria da imprevisao nao pressupoe necessariamente, enriquecimento de uma parte em detrimento do
empobrecimento da outra. Isso porque, a superveniencia da circunstancia nao esperada podera haver
determinado onerosidade para ambas as partes, sem que, com isso, se afaste a aplicaçao da teoria.

- Enriquecimento ilícito – parte da doutrina defende a necessidade desse requisito. Entretanto, a


mençao a somente 03 requisitos acima e defendida por outra parte da doutrina (Rosado de Aguiar),
para a qual NEM sempre o enriquecimento ilícito e indispensável. Mas o CC/02 exige o
enriquecimento ilícito, nos termos do artigo 478, que afirma a necessidade de a onerosidade excessiva
gerar uma vantagem exagerada para a outra parte (arts. 478 a 480 CC).

No CDC, a Teoria da imprevisao e diferente, sendo denominada de Teoria da base objetiva do


negócio jurídico (Direito Alemao).

Inf. 556/STJ
A teoria da base objetiva ou da base do negocio jurídico tem sua aplicaçao restrita as relaçoes jurídicas
de consumo, nao sendo aplicavel as contratuais puramente civis. A teoria da base objetiva difere da
teoria da imprevisao por prescindir da imprevisibilidade de fato que determine oneraçao excessiva de
um dos contratantes. Pela leitura do art. 6°, V, do CDC, basta a superveniencia de fato que determine
desequilíbrio na relaçao contratual diferida ou continuada para que seja possível a postulaçao de sua
revisao ou resoluçao, em virtude da incidencia da teoria da base objetiva. O requisito de o fato nao ser
previsível nem extraordinario nao e exigido para a teoria da base objetiva, mas tao somente a
modificaçao nas circunstancias indispensaveis que existiam no momento da celebraçao do negocio,
ensejando onerosidade ou desproporçao para uma das partes. Com efeito, a teoria da base objetiva
tem por pressuposto a premissa de que a celebraçao de um contrato ocorre mediante consideraçao de
determinadas circunstancias, as quais, se modificadas no curso da relaçao contratual, determinam, por
sua vez, consequencias diversas daquelas inicialmente estabelecidas, com repercussao direta no
equilíbrio das obrigaçoes pactuadas. Nesse contexto, a intervençao judicial se daria nos casos em que
o contrato fosse atingido por fatos que comprometessem as circunstancias intrínsecas a formulaçao
do vínculo contratual, ou seja, sua base objetiva. Em que pese sua relevante inovaçao, a referida teoria,
ao dispensar, em especial, o requisito de imprevisibilidade, foi acolhida em nosso ordenamento apenas
para as relaçoes de consumo, que demandam especial proteçao. Ademais, nao se admite a aplicaçao da
teoria do dialogo das fontes para estender a todo direito das obrigaçoes regra incidente apenas no
microssistema do direito do consumidor. De outro modo, a teoria da quebra da base objetiva poderia
ser invocada para revisao ou resoluçao de qualquer contrato no qual haja modificaçao das
circunstancias iniciais, ainda que previsíveis, comprometendo em especial o princípio pacta sunt
servanda e, por conseguinte, a segurança jurídica. Por fim, destaque-se que, no tocante as relaçoes
contratuais puramente civis, quer dizer, ao desamparo das normas protetivas do CDC, a adoçao da
teoria da base objetiva, a fim de determinar a revisao de contratos, poderia, em decorrencia da
autuaçao jurisdicional, impor indesejaveis prejuízos reversos aquele que teria, em tese, algum
benefício com a superveniencia de fatos que atinjam a base do negocio.

O artigo 317 do CC e uma aplicaçao específica da teoria da imprevisao para fins de revisao de uma
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prestaçao do contrato. O artigo 478 e o artigo que serve para resolver o CONTRATO e nao somente
revisar uma prestaçao específica do contrato.

OBS: Nao confundir o instituto da lesao com a teoria da imprevisao. Na lesao, o contrate ja surge
viciado. Nesse caso, nao se aplica a teoria da imprevisao, a qual so tem uso quando o contrato nasceu
valido, porem, com o decurso do tempo, desequilibrou-se os deveres entre os contratantes.

3 CLÁUSULAS GERAIS
Útilizaçao de conceitos abertos ou indeterminados: ampliaçao do papel do juiz na interpretaçao e da
importancia da funçao social (socializaçao do contrato) e boa-fe objetiva.
Para Karl Engish, trata-se de tecnica legislativa que migra da tipicidade casuística (imobilismo) para
uma generalidade que permite captar uma maior gama de situaçoes jurídica (dinamismo)
Para Canaris, se situa no contexto de um sistema aberto, apoiado na jurisprudencia, em oposiçao a um
sistema fechado, estatico.
Para Rosenvald, boa-fe seria simultaneamente uma clausula geral e um princípio

4 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E DOS CONTRATOS


5 PRINCÍPIOS CONTATUAIS FUNDAMENTAIS: LIBERAIS E SOCIAIS
Para OLINDO:
- Princípios liberais sao autonomia da vontade, consensualismo, obrigatoriedade e relatividade.
- Princípios sociais: boa fe, equivalencia material e funçao social do contrato

F. DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ATO PROCESSUAL: CONCEITO, FORMA, TEMPO, NULIDADES (TEORIA PROCESSUAL


DAS NULIDADES, PRINCÍPIOS RESPECTIVOS, IDENTIFICAÇÃO, DECRETAÇÃO E
CONVALIDAÇÃO); PRAZOS (CLASSIFICAÇÃO E MODOS DE CONTAGEM); FASES
PROCEDIMENTAIS. LITISCONSÓRCIO: CONCEITO, ESPÉCIES, A PROBLEMÁTICA DA
UNITARIEDADE E DA NECESSARIEDADE. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS: CONCEITO
DE TERCEIRO, CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA DAS MODALIDADES INTERVENTIVAS,
FIGURAS TÍPICAS (ASSISTÊNCIA SIMPLES E LITISCONSORCIAL, OPOSIÇÃO,
NOMEAÇÃO À AUTORIA, DENUNCIAÇÃO À LIDE, CHAMAMENTO AO PROCESSO) E
ATÍPICAS, CONCEITO, NATUREZA, CABIMENTO, ASPECTOS PROCEDIMENTAIS.

Ato processual: conceito, forma, tempo, nulidades (teoria processual das nulidades, princípios
respectivos, identificação, decretação e convalidação); prazos (classificação e modos de
contagem); fases procedimentais.

CONCEITO: manifestaçao, verbal ou escrita, no processo, da vontade das partes, do juiz e dos
auxiliares da Justiça.

CLASSIFICAÇÃO
Atos das partes: autor, reu, terceiros intervenientes e MP
Observações:
 Atos postulatorios: sao as manifestaçoes de vontade para a obtençao da tutela jurisdicional.

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 Atos de causaçao (ou dispositivos): tem por objeto a produçao imediata de efeitos processuais
negociais (ex.: acordos processuais, convençao de arbitragem, conciliaçao, desistencia da açao,
renuncia, reconhecimento do pedido, etc).
 Atos probatorios (ou instrutorios): destinam-se a produzir a prova das alegaçoes das partes.
 Atos reais: tem por objeto uma prestaçao material (ex.: pagamento de despesas processuais)
O NCPC traz uma cláusula geral de negócios processuais. Nos termos do art. 190, nas causas
sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular
mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os
seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. O juiz
controlará a validade desses negócios processuais, recusando-lhes aplicação somente nos
casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se
encontre em manifesta situação de vulnerabilidade (p. único do art. 190).
No âmbito dos negócios processuais típicos, o NCPC prevê a figura do "calendário processual",
por meio do qual, de comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática
dos atos processuais, quando for o caso (art. 191). O calendário vincula as partes e o juiz, e os
prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente
justificados. Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a
realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.

Atos do juiz
Provimentos (ou pronunciamentos): atos pelos quais o juiz se manifesta no processo. São de três
tipos:
 Sentença: ato pelo qual o juiz põe fim ao seu ofício de julgar, resolvendo ou não o mérito da
causa. De acordo com o NCPC, ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos
especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, resolvendo ou não o
mérito, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a
execução (art. 203, § 1º).
 Decisão interlocutória: ato pelo qual, no curso do processo, o juiz resolve questão incidente. De
acordo com o NCPC, Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza
decisória que não se enquadre como sentença (art. 203, § 1º).
 Despachos: provimentos judiciais destituídos de qualquer conteúdo decisório.
Atos reais (ou materiais): podem ser instrutórios, como a oitiva de testemunhas, ou de documentação,
como o ato de rubricar e assinar a ata de audiência.

Atos do escrivão
 Atos de documentaçao
 Atos de comunicaçao
O escrivão (ou um escrevente juramentado) pode praticar atos meramente ordinatórios, os quais
podem ser de movimentação ou de documentação, sem que se faça necessária a prolação de despacho
judicial.

Forma dos atos processuais


Podem ser:
 Solenes
 Nao-solenes
Os atos devem ser necessariamente em Português ou então traduzidos para nossa língua.

Publicidade dos atos processuais


Em geral, os atos processuais são públicos.
Exceção: processos que correm em segredo de Justiça (art. 155) (NCPC, art. 189).
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Tempo e lugar
 Regra: os atos realizam-se na sede do juízo, das 6 as 20 horas, nos dias uteis.
 Serao concluídos depois das 20 horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a
diligencia ou causar grave dano.
 Nos juizados especiais, podem ser praticados atos processuais em horario noturno.
 A citaçao e a penhora, em casos excepcionais, poderao realizar-se nos domingos e feriados, ou nos
dias uteis, fora do horario estabelecido.

Atos eletrônicos
Lei 11.419/06 regulamenta os atos eletrônicos e o processo eletrônico.
Para fins de horário para a prática do ato eletrônico que as petições eletrônicas enviadas até às 24h do
último dia do prazo serão consideradas tempestivas (art. 3º da Lei 11419/06).
No caso de se enviar por transmissão eletrônica uma petição destinada ao atendimento de um prazo
processual, considerar-se-á tempestivo o ato se a transmissão se tiver dado até o último minuto do
último dia do prazo.
Os tribunais poderão criar DJe. A publicação eletrônica substitui qualquer outro meio e publicação
oficial, exceto se lei exigis intimação ou vista pessoal. Considera-se como data da publicação o 1º dia
útil seguinte ao da disponibilização da informação no DJe, além disso, os prazos processuais terão
início no 1º dia útil que seguir ao considerado como data da publicação. (NCPC , art. 224, §§ 2º e 3º).
Feito o cadastro do signatário junto ao Poder Judiciário, as intimações poderão ser feitas por meio
eletrônico, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico. Considerar-se-á
realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação,
certificando-se nos autos a sua realização. Nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a
intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte. A consulta deverá ser feita
em até 10dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação
automaticamente realizada na data do término desse prazo.

“No caso de intimação por DJe, o termo inicial dos prazos processuais será o primeiro
dia útil seguinte ao da data da publicação. Considera-se como data da publicação o
primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no DJe.” (DoD) (...) “A
Turma asseverou que a expressão disponibilização contida no § 3º do art. 4º da Lei 11419/06
(§ 3º. Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da
disponibilização da informação no DJe) indicaria a data em que o ato fora divulgado às partes
no DJe. Nota: decisão foi disponibilizada no DJe em 24/09/13 (data de disponibilização),
considera-se como data da publicação o dia 25/09/13; assim, o prazo que a parte tem para
recorrer contra essa decisão iniciou-se em 26/09/13.” (STF, HC 120478)

O NCPC dispõe sobre a prática eletrônica dos atos processuais (arts. 193 a 199).
Dispõe também que, com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte, as
empresas públicas e privadas, assim como as pessoas jurídicas de direito público, deverão
manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de
citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio (art. 246, §§
1º e 2º). Sempre que possível, as intimações serão realizadas por meio eletrônico (art. 270).

Durante as férias e feriados, praticam-se: (art. 173, do CPC)


 Produçao antecipada de provas
 Citaçao, a fim de evitar o perecimento de direito
 Arresto, sequestro, penhora, arrecadaçao, busca e apreensao, deposito, prisao, separaçao de
corpos, abertura de testamento, embargo de terceiros, nunciaçao de obra nova e outros atos
analogos

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O NCPC aponta os seguintes atos processuais que podem ser praticados durante as ferias e feriados
(art. 214):
 as citaçoes, intimaçoes e penhoras, independentemente de situaçao de urgencia; e
 a tutela de urgencia.

Atos que podem ser praticados e causas que correm durante as férias: (CPC, art. 174, NCPC art.
215)
 Atos de jurisdição voluntária e os necessarios a conservaçao de direitos
 Causas de alimentos provisionais (somente ate a concessao de alimentos provisorios),
daçao ou remoçao de tutores e os relativos ao procedimento sumario
 Causas que a lei federal determinar (desapropriaçao, falencia, etc)

Prazos
Conceito: lapso de tempo em que o ato processual pode ser validamente praticado.
Os atos processuais realizar-se-ao nos prazos prescritos em lei. Quando esta for omissa, o juiz
determinara os prazos. Nao havendo preceito legal nem assinaçao pelo juiz, sera de 5 (cinco) dias o
prazo para a pratica de ato processual a cargo da parte. Os prazos sao contínuos, nao se
interrompendo nos feriados. A parte podera renunciar ao prazo estabelecido exclusivamente em seu
favor.
NCPC manteve a regra supletiva de que 5 dias o prazo para a pratica de ato processual a cargo da
parte, salvo prazo legal ou assinalado pelo juiz, (art. 218, § 3º). Estabeleceu tambem que, quando a lei
ou o juiz nao determinar prazo, as intimaçoes somente obrigarao a comparecimento apos decorridas
48 hs (art. 218, § 2º). Dispoe que sera considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial
do prazo (art. 218, § 4º). Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-
se-ao somente os dias uteis (art. 219). Foi estabelecida suspensao do curso do prazo processual nos
dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive. Durante a suspensao do prazo,
nao se realizarao audiencias nem sessoes de julgamento. (art. 220).
Natureza:
 dilatorios: podem ser ampliados ou reduzidos de acordo com a convençao das partes
 peremptorios: nao permitem alteraçao
 legais: sao estabelecidos na lei, de forma fixa
 judiciais: sao fixados pelo juiz (ex.: art. 491 – prazo para resposta na açao rescisoria)
 convencionais: sao os que a lei permite sejam acordados pelas partes (art. 181). So os prazos
dilatorios
 proprios e improprios
o Proprios: prazos cujo decurso leva a perda da possibilidade de se praticar o ato
processual (sao proprios todos os prazos fixados para as partes).
o Improprios: prazos cujo descumprimento nao acarreta consequencias processuais (sao
improprios todos os prazos fixados para o Estado-juiz).
 comuns e particulares
Notas:
 mesmo os prazos peremptorios podem ser renunciados
 pode o juiz prorrogar os prazos por ate 60 dias nas comarcas onde for difícil o transporte, ou
pelo tempo necessario, em caso de calamidade

OBS: No NCPC, o juiz pode dilatar os prazos processuais, adequando-os às necessidades do


conflito de modo a conferir maior efetividade a tutela do direito (art. 139, VI).
Contagem dos prazos:
 os prazos começam a fluir a partir do dia util seguinte ao da intimaçao
 exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do vencimento
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 intimaçao feita na sexta-feira: início do prazo na segunda-feira, se for dia util


 intimaçao feita no sabado: início do prazo na terça-feira, se for dia util
Prazos especiais:
 Para o MP e Fazenda Publica:
o em dobro (2x) para recorrer
o em quadruplo (4x) para contestar (NCPC prevê prazo em dobro para todas as
manifestações - arts. 180 e 183)
 Defensoria Publica (organizada e mantida pelo Estado): todos em dobro (2x), salvo nos
juizados especiais federais.
 Litisconsortes com advogados diferentes: conta em dobro o prazo para se manifestar nos autos.
Independentemente de requerimento, os réus com diferentes procuradores têm prazo em
dobro para contestar, mesmo sendo casados entre si. (REsp 973465)
Somente há prazo em dobro para litisconsortes com diferentes procuradores (CPC, art. 191)
quando todos possuam interesse em recorrer da decisão impugnada. (STJ, AgRg Ag 963283)
Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja
sucumbido. (Súm. 641/STF)
Aplica-se o art. 191 do CPC/73 à contagem de prazo nos processos judiciais eletrônicos. (Inf
560/STJ)
IMPOSSIBILIDADE DE PRORROGAÇÃO DO TERMO INICIAL DE PRAZO RECURSAL DIANTE DE
ENCERRAMENTO PREMATURO DO EXPEDIENTE FORENSE. O disposto no art. 184, § 1º, II,
do CPC – que trata da possibilidade de prorrogação do prazo recursal em caso de
encerramento prematuro do expediente forense – aplica-se quando o referido
encerramento tiver ocorrido no termo FINAL para interposição do recurso, e não no
termo inicial. (Inf. 557/STJ)
Preclusao:
 Temporal: ocorre quando a parte deixa de praticar o ato no tempo devido.
 Logica: decorre da incompatibilidade entre o ato praticado e outro que se queria praticar
tambem.
 Consumativa: origina-se do fato de ter praticado o ato, nao importa se bem ou mal.
Comunicaçao dos atos: ocorre atraves da citaçao ou intimaçao que podem ser feitas por ordem judicial
ou requisitadas por carta – precatoria, de ordem ou rogatoria.

Citação
E o ato pelo qual se chama a juízo o reu ou o interessado, a fim de se defender (NCPC não mais dispõe
que a citação tem por fim a defesa, mas sem integrar a relação processual, na linha do que já
defendia a doutrina - art. 238). O juiz nao cita de ofício. Cita-se, ainda, o terceiro interveniente, nas
modalidades de intervençao forçada.
Quanto a citaçao da pessoa jurídica, o STJ aplica a teoria da aparencia, de modo que admite-se como
citada a pessoa jurídica, por AR, quando este e entregue a pessoa que usualmente recebe a
correspondencia.
O advogado so podera ser citado no lugar da parte se tiver procuraçao com poderes especiais para
tanto ou nas situaçoes previstas em lei (como ocorre na oposiçao).
A citaçao valida e essencial para que o processo possa se desenvolver regularmente. A falta ou
nulidade de citaçao sao supridas pelo comparecimento espontaneo do demandado. Nao havendo
citaçao valida (nem comparecimento espontaneo do demandado), a sentença de merito que venha a
ser proferida no processo sera um ato nulo. Por ser muito grave, a doutrina aponta que se trata de uma
nulidade absoluta sui generis nao submetida a saneamento, nem mesmo apos o decurso do prazo para
a açao rescisoria (vício transrescisorio). Doutrina minoritaria defende que se trata de ato inexistente.

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Nota (DoD): “Segundo o STJ, esse comparecimento espontâneo só será válido se o réu tiver
conferido ao advogado uma procuração com poderes especiais para receber citação.
Modalidades:
 Real:
o pelo correio (regra geral).
o por oficial de justiça: casos em que a citação postal for proibida, ou nos casos em que
a mesmo for frustrada (ex: AR assinado por quem não é o réu). A citação postal é
vedada nas: 1) ações de estado; 2) quando for ré pessoa incapaz; 3) quando for ré
pessoa de direito público; 4) processos de execução; 5) quando o réu residir em
local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência; 6) se o autor a
requerer de outra forma.
NCPC suprimiu o processo de execução como hipótese que demanda citação
por oficial de justiça (art. 247). No entanto, pondera Daniel Neves que, em
regra, somente será possível a citação por correio quando a obrigação
exequenda for de fazer, não fazer ou entregar coisa, sendo que, na obrigação
de pagar, dever continuar ocorrendo a citação por oficial de justiça. Lembra,
ainda, que, excepcionalmente, mesmo nas obrigações de pagar, poderá ser
afastada a necessidade de citação por oficial de justiça, nos casos de penhor
por meio eletrônico, como, por exemplo, a penhora on-line.
o Citação eletrônica: a citação eletrônica poderá ser feita para qualquer demandado,
inclusive a Fazenda Pública. Será preciso, porém, que o citando esteja cadastrado
previamente junto ao Poder Judiciário.
O NCPC dispõe que as pessoas jurídicas de direito público, deverão manter
cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de
recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas
preferencialmente por esse meio (art. 246, §§ 1º e 2º).
 Ficta:
o Por edital: art. 231, CPC (art. 256 do NCPC).
o Citação com hora certa: art. 227, CPC. Feita a citação dessa forma, o escrivão deverá
enviar ao réu comunicação postal informando-lhe de todo o ocorrido. O NCPC
dispõe que bastam duas tentativas frustradas de promover-se a citação (art.
252). Será válida a intimação feita ao porteiro, nos condomínios edilícios ou
nos loteamentos com controle de acesso (p. único do art. 252). A citação com
hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da família ou o vizinho que
houver sido intimado esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa da
família ou o vizinho se recusar a receber o mandado (art. 253, § 2º).

Na citação com hora certa, o prazo da contestação começa a correr com a juntada aos
autos do respectivo mandado e não do comprovante de recepção do comunicado a que
se refere o artigo 229 do CPC. (REsp 1291808)

A Fazenda Nacional não está obrigada ao pagamento das custas e despesas


processuais. Portanto, não há que se exigir o adimplemento do quantum equivalente à
postagem de carta citatória. (REsp 1076914)

Efeitos da citaçao valida: art. 219, CPC.


 Torna prevento o juízo (juízos com competencia territorial diversa);
 Induz litispendencia;
 Faz litigiosa a coisa;
 Ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a
prescriçao.
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o Em verdade, tais efeitos sao consequencia da propositura da demanda (art. 263), os


quais so se produzem para o reu depois que este for validamente citado.
No NCPC, não mais constam como efeitos da citação válida a prevenção do juízo e a interrupção
da prescrição (art. 240).

Intimação
É o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo, para que faça ou deixe de fazer
alguma coisa. Admite-se também por edital e por hora certa (art. 275, § 2º, do NCPC). O NCPC faculta
aos advogados promover a intimação do advogado da outra parte por meio do correio,
juntando aos autos, a seguir, cópia do ofício de intimação e do aviso de recebimento (art. 269,
§§ 1º e 2º).

o A Lei 11.419/06 diz que a intimaçao por e-mail dispensa publicaçao no Diario Eletronico.
Alem disto, importante saber que a parte intimada por e-mail so se considera intimada
depois que acessar o processo virtual, lembrando que ela tem 10 dias para o fazer sob pena
de ser considerada como intimada no decimo dia. Aqui, e curioso destacar que tambem
existe a citaçao por e-mail, mais comum no caso de litigantes habituais (CEF, BB etc.),
exigindo-se delas previo cadastramento.
o Lembrar que a intimaçao do MP e sempre pessoal, via protocolo administrativo. Tambem a
DP goza de igual prerrogativa. Ja a Fazenda Publica, embora a regra seja sua intimaçao
pessoal (art. 6º, Lei 9028/95), nas execuçoes fiscais ela so sera intimada pessoalmente com
vista dos autos se existir orgao fazendario no local onde correr o processo, pois, do
contrario, sera ela intimada via AR (REsp 83890).

STJ: É válida a intimação da PFN por carta, com aviso de recebimento, quando o órgão não
possui sede na comarca de tramitação do processo.

Há presunção de intimação da sentença proferida em audiência, na hipótese em que o


procurador, embora intimado para a AIJ, a ela não compareceu, devendo ser aplicado o art.
242, § 1º do CPC, uma vez que, o comparecimento ao ato é de opção e responsabilidade do
patrono. (AREsp 226.951)

O NCPC determina a intimação pessoal para as pessoas jurídicas de direito público, por
carga/remessa ou meio eletrônico. (art. 183). As pessoas jurídicas de direito público deverão
manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de
citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio (art. 246, §
2º). Sempre que possível, as intimações serão realizadas por meio eletrônico (art. 270).
E permitida as partes a utilizaçao de sistema de transmissao de dados e imagens para a pratica de atos
processuais (Lei 9800/99). Praticado o ato atraves da remessa da petiçao por fax ou outro meio
analogo dentro do prazo legal, tera a parte mais 05 dias, apos o termino do prazo, para entregar o
original em juízo. O termo inicial do quinquídio legal para a entrega do original e a data prevista em lei
para o vencimento (termino) do prazo recursal e nao no dia seguinte ao momento em que o advogado
enviar a petiçao via fax. Nao estando o ato sujeito a prazo para sua pratica, o original deve ser
apresentado em juízo cinco dias apos sua remessa por fax. Nao sendo o original apresentado no prazo,
o provimento judicial deixara de produzir efeitos. Considera-se litigante de ma-fe aquele que
apresenta petiçao original em juízo quando se verifica que esta nao corresponde, com fidelidade, ao
texto remetido por meio de transmissao de dados ou imagens.

A prática de atos processuais via fax possui duas situações distintas: na primeira situação, em
que os atos estão sujeitos a prazo predeterminados em lei, o prazo de cinco dias para a
entrega dos originais tem início no dia seguinte ao do termo final do prazo previsto em lei,
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ainda que o fac-símile tenha sido remetido e recebido no curso desse prazo (ou seja, o
primeiro dos cinco dias para a apresentação do originais é o primeiro dia após o término do
prazo previsto em lei para a prática do ato); na segunda situação, a dos atos sem prazo
predeterminado em lei, o prazo para a entrega dos originais tem início no dia seguinte ao da
recepção do fac-símile pelo órgão judiciário competente. (AgRg nos EREsp 640803)

Meios de comunicaçao entre juízos - as cartas:


Pelas cartas um orgao judiciario solicita a outro a pratica de um ato ou a colheita de certa prova. As
cartas podem ser de tres especies: de ordem, precatoria e rogatoria.
 Carta de ordem: dirigida por um tribunal a um orgao judiciario a ele subordinado
hierarquicamente.
 Carta precatoria: e a dirigida por um juízo brasileiro a outro juízo, tambem nacional, quando
entre eles nao houver hierarquia
 Carta rogatoria: enviada por um juízo brasileiro a juízo estrangeiro.

As cartas precatorias e de ordem, nos casos urgentes, poderao ser transmitidas por telegrama,
radiograma ou telefone.
A carta tem carater itinerante. Antes ou depois de lhe ser ordenado o cumprimento, podera ser
apresentada a juízo diverso do que dela consta, a fim de se praticar o ato.
O NCPC estabelece que as cartas deverão, preferencialmente, ser expedidas por meio
eletrônico, com assinatura eletrônica do juiz (art. 263).

Nulidades
Espécies

 absoluta: pode ser arguida em qualquer fase do processo, podendo ser reconhecida de
ofício pelo juiz;
 relativa: deve ser arguida na primeira oportunidade em que a parte falar nos autos.

O ato processual e invalido quando nao se conforma com o esquema abstrato predisposto pelo
legislador (tipo). Nao ha invalidade processual sem pronunciamento judicial, ou seja, nao existe ato
processual invalido de pleno direito.
O direito processual reconhece tres especies de invalidade (fenomenos intrínsecos do processo):
 Nulidade absoluta: violaçao a uma norma cogente de proteçao do interesse publico.
o Vício insanavel, podendo ser reconhecido de ofício ou mediante requerimento das partes, a
qualquer tempo, durante o processo.
o Ex: sao nulos os atos decisorios praticados por juízo absolutamente incompetente.
 Nulidade relativa: violaçao a uma norma cogente de proteçao de interesse privado.
o Vício sanavel, e pode ser reconhecido de ofício ou a requerimento das partes.
 Anulabilidade: violaçao a uma norma dispositiva (tutela interesse das partes).
o Vício sanavel que nao pode ser conhecido de ofício pelo juiz, dependendo sempre de
provocaçao.
Obs.: As normas jurídicas podem ser divididas em cogentes (ou de ordem pública) e dispositivas,
sendo possível que os interessados afastem a incidência destas últimas (não das cogentes) por ato de
vontade.
Princípio do prejuízo: Não poderá ser declarada a invalidade de ato processual quando esta não tiver
causado prejuízo às partes. Não há invalidade processual sem prejuízo. Também não será reconhecida
a invalidade processual quando o juiz puder decidir o mérito em favor daquele a quem aproveitaria a
decretação da invalidade.

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 O princípio do prejuízo é aplicado nas nulidades relativas e anulabilidades, pois, nas nulidades
absolutas há presunção absoluta (iuris et de iure) de prejuízo.
O ato processual inválido pode ser convalidado:
 Convalidação objetiva: embora formalmente inadequado, o ato processual atingiu a sua finalidade
essencial (princípio da instrumentalidade das formas), e não causou prejuízo às partes (princípio
do prejuízo).
 Convalidação subjetiva: a invalidade não pode ser requerida pela parte que a tenha dado causa.
Deverá a invalidade ser requerida pela parte prejudicada, na primeira oportunidade que tiver para
se manifestar, sob pena de preclusão. Esta regra é aplicável somente às invalidades que não podem
ser reconhecidas de ofício, ou seja, às anulabilidades.
Transitada em julgado a sentença, todos os vícios estarão sanados, até mesmo aqueles inicialmente
tidos por insanáveis. Com a coisa julgada pode surgir uma nova espécie de invalidade, extrínseca ao
processo onde se praticou o ato: a rescindibilidade. Nesse caso é possível a rescisão da sentença
transitada em julgado, o que se faz através de uma ação autônoma de impugnação: a ação rescisória,
que deverá ser proposta no prazo máximo de 2 anos a contar do trânsito em julgado. Após esse prazo,
nem mesmo a rescindibilidade poderá mais ser alegada, restando sanado também este vício. Surge aí,
então, o fenômeno conhecido como coisa soberanamente julgada.
Sistema de nulidades:
 Princípio da liberdade das formas: os atos processuais, em princípio, não dependem de forma
determinada, senão quando a lei expressamente o exigir. A regra é que os atos processuais sejam
não-solenes. A solenidade é a exceção, e depende de expressa previsão legal.
 Instrumentalidade das formas: considera-se válido ato praticado de forma diferente
da prescrita em lei desde que atinja o objetivo.
 Não havendo prejuízo, não se declara a nulidade.
 Tambem não se decreta a nulidade quando o juiz puder decidir o mérito a favor
da parte a quem aproveita a declaraçao.
 A nulidade so pode ser decretada a requerimento da parte prejudicada e nunca por
aquela que a causou. Anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os
subsequentes que dele dependam (causalidade); todavia, a nulidade de uma parte do
ato nao prejudicara as outras, que dela sejam independentes.
 O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarara que atos sao atingidos, ordenando as
providencias necessarias, a fim de que sejam repetidos, ou retificados.
 E nulo o processo quando o MP nao for intimado a acompanhar o feito em que deva
intervir. Essa e a regra do art. 246 (art. 279 do NCPC), que, no entanto, tem sido
temperada pela jurisprudencia (NCPC estabelece que essa nulidade só pode ser
decretada após a intimação do MP, que se manifestará sobre a existência ou a
inexistência de prejuízo - § 2º do art. 279):

“Conforme tem reiterado a jurisprudência do STJ, a intervenção do MP em segundo grau de


jurisdição, sem alegar nulidade nem prejuízo, supre a falta de manifestação do órgão
ministerial de primeira instância, não sendo causa de nulidade do processo.” (RESP 204825)

Eficácia
O ato processual inválido é apto a produzir efeitos até que a invalidade seja reconhecida (não há
invalidade processual sem pronunciamento judicial).
Os atos processuais validos produzem, em princípio, todos seus efeitos normalmente. Ha casos, porem,
em que a ineficacia e cominada, como se da com a sentença de merito proferida em processo onde
estava ausente um litisconsorte necessario (art. 47, CPC) (art. 114 do NCPC). Nesta hipotese, a
sentença e valida, mas incapaz de produzir qualquer efeito. Outros casos ha em que a ineficacia do ato

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processual valido decorre de uma natural impossibilidade de produçao dos efeitos normais (ex:
sentença condenatoria generica - ilíquida).
E inadmissível a submissao da eficacia de ato processual a um termo (evento futuro e certo).
Admite-se a submissao da eficacia do ato processual a condiçao (evento futuro e incerto)
intraprocessual, rejeitando-se, porem, as condiçoes extraprocessuais. A eficácia de um ato
processual não poderá jamais ficar submetida a um evento futuro e incerto que nenhuma
ligação tenha com o processo.

Litisconsórcio: conceito, espécies, a problemática da unitariedade e da necessariedade.


Conceito
Duas ou mais pessoas litigando no mesmo processo, ativa ou passivamente.

A União deverá figurar como litisconsorte necessária em ação na qual se discute com
particulares se determinada área é remanescente das comunidades dos quilombos (art. 68 do
ADCT), mesmo que na ação já exista a presença da Fundação Cultural Palmares (fundação
federal). (REsp 1116553)

REUNIÃO DE PROCESSOS CONEXOS. O juiz não pode, com fulcro no CPC, art. 105
extinguir o processo e condicionar o ajuizamento de nova demanda à formação de
litisconsórcio. A reunião dos processos constitui uma discricionariedade do órgão julgador
por conveniência da justiça. Nesse sentido, conforme art. 105 do CPC, verificada a conexão, o
juiz pode ordenar ao cartório que proceda à reunião dos processos em grupos de litigantes,
mas não pode impor à parte que assim o faça, sob pena de vulnerar o princípio do livre
acesso à jurisdição. Ademais, cumpre esclarecer que o instituto da conexão não se confunde
com o do litisconsórcio necessário, uma vez que este último decorre da natureza da relação
jurídica ou da lei e, portanto, afeta a própria legitimidade processual, sendo, portanto,
cogente a sua formação (art. 47 do CPC), o que evidentemente não se compatibiliza com a
facultatividade estampada no art. 105 do CPC ("pode ordenar"). (AREsp 410.980)

LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO ENTRE MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, ESTADUAL


E DO TRABALHO. Pode ser admitido litisconsórcio ativo facultativo entre o Ministério
Público Federal, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público do Trabalho em
ação civil pública que vise tutelar pluralidade de direitos que legitimem a referida
atuação conjunta em juízo. Nos termos do art. 5º, § 5º, da Lei 7.347/85: “Admitir-se-á o
litisconsórcio facultativo entre os MPs da União, do DF e dos Estados na defesa dos interesses
e direitos de que cuida esta lei”. (...) Essa atuação conjunta deve-se ao cunho social do
Parquet e à posição que lhe foi erigida pelo constituinte (de instituição essencial à função
jurisdicional do Estado), incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (...) Por outro lado, há também precedentes
contrários ao litisconsórcio ativo facultativo entre os ramos do MP. (REsp 1444484)

Obs.: Nota (DoD) - “STJ entendeu que seria possível o litisconsorcio ativo facultativo entre o MPF, o
MPE e o MPT nesta açao civil publica, considerando que ela visava a tutela de interesses difusos que
estavam inseridos nas atribuiçoes dos tres Ministerios Publicos.

Classificações

Quanto à posição das partes:


 ativo: pluralidade de autores
 passivo: pluralidade de réus
 misto: pluralidade de autores e réus
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Quanto ao momento de formação:


 inicial: a formaçao e pleiteada na inicial
 incidental (ulterior): da-se apos a propositura da açao. Sao 3 as maneiras de litisconsorcio ulterior:
o em razão de uma intervenção de terceiro
o pela sucessão processual (ingresso de vários herdeiros no lugar da parte falecida)
o pela conexão, se impuser a reunião de causas para processamento simultâneo

A inclusão de litisconsortes ativos facultativos em momento ulterior ao ajuizamento


da ação fere o princípio do juiz natural, independentemente da apreciação da liminar e
da efetivação da citação do réu. OBS: No MS, admite-se o ingresse de litisconsórcio ativo,
desde que realizado antes do despacho da petição inicial (art. 10 § 2º, da LMS). Na Ação
Popular, faculta-se a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte do autor da ação
popular (art. 6º § 5º da L 4717) (Resp 931535)

Quanto ao momento de formaçao do litisconsorcio, a alteraçao subjetiva da demanda somente e


admitida antes da citaçao, salvo as substituiçoes permitidas por lei (CPC, art. 264). Diferente da
alteraçao objetiva da demanda, admitida apos citaçao e antes do saneamento, com o anuencia do reu.
O art. 329 do NCPC tratou somente da alteração objetiva da demanda, não fazendo menção à
alteração subjetiva.
Quanto à obrigatoriedade de formação
 necessario ou obrigatorio: decorre de imposiçao legal ou da natureza da relaçao jurídica (art. 47,
CPC) (art. 114 do NCPC). Quando o litisconsorcio for necessario e a parte nao requerer a citaçao de
um dos litisconsortes, o juiz intimara o autor para requerer a citaçao, sob pena de extinçao sem
resoluçao do merito. Nunca houve controversia acerca do litisconsorcio passivo necessario. A
controversia se dava quanto ao litisconsorcio ativo necessario, entende a doutrina e a
jurisprudencia pela sua possibilidade (na pratica, o que ocorre e que o autor ingressa com a açao,
pedindo a citaçao dos demais, podendo estes optarem por integrar ou nao a açao).
 facultativo
o irrecusavel: fica ao arbítrio do autor desde que se enquadre nas hipoteses do art. 46 (art.
113 do NCPC)
o recusavel: o juiz pode recusar (numero excessivo de litigantes) – e o chamado litisconsorcio
multitudinario
Em regra, não há falar em litisconsórcio necessário no polo ativo da relação jurídica
processual, uma vez que não é possível compelir alguém a demandar em juízo ante a
voluntariedade do direito de ação, nem tolher o direito de acesso à justiça daquele que quer
litigar, mormente em face do art. 5º XXXV, da CF, que assegura a todos a inafastabilidade da
tutela jurisdicional. (RESP 968729)
Mandado de segurança: concurso público e litisconsórcio necessário (…) assentara a
inocorrência de litisconsórcio necessário na espécie, dado que presente, no mandado de
segurança, cumulação subjetiva de natureza facultativa. Assim, por se tratar de interesses
divisíveis, eventual configuração do litisconsórcio necessário implicaria a
transformação do acesso à justiça em obrigação da parte, a tolher sua liberdade.
Imaginar-se, a essa altura, a obrigatoriedade de candidatos, ainda que aprovados em
concursos ulteriores, integrarem a relação processual alusiva ao mandado de segurança
significaria subversão da ordem processual. (Inf. 772/STF)
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO EM AÇÃO DEMOLITÓRIA. Os cônjuges casados em
regime de comunhão de bens devem ser necessariamente citados em ação demolitória.
(Inf. 565/STJ)
Quanto à uniformidade da decisão
 simples: o juiz pode decidir de forma distinta em relação a cada litisconsorte
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 unitária: decisão uniforme para todos os litigantes

Quanto à intensidade do vínculo:


 Comunhão: art. 46, I (art. 113, I, do NCPC)
 Conexão: art. 46, II e III (art. 113, II, do NCPC)
 Afinidade: art. 46, IV (art. 113, III, do NCPC)

Se nao citar litisconsortes necessarios: extinçao do processo ou nulidade do processo, se proferida


sentença. De acordo com o NCPC, caso seja proferida sentença sem a integração de litisconsórcio
necessário, a sentença prolatada ser: a) ineficaz apenas para os que não foram citados, quando
se tratar de litisconsórcio necessário simples; ou b) nula, quando se tratar de litisconsórcio
necessário unitário (art. 115).

Autonomia dos litisconsortes:

 são considerados litigantes distintos


 as citações e intimações são particulares
 litisconsórcio unitário:
o atos que beneficiam a um, a todos aproveitam (provas, recursos, etc)
o as omissões e atos prejudiciais de um não prejudicam os demais
o O NCPC ratificou expressamente esse entendimento (art. 117)

Prazos

 simples: mesmo procurador para todos os litisconsortes


 em dobro para contestar, recorrer e falar nos autos: procuradores diferentes (art. 191, CPC)
(art. 229 do NCPC). Especificidades: o que faz dobrar o prazo não é a existência de mais de uma
defesa e sim procuradores distintos. Assim, os litisconsortes até podem oferecer uma única
defesa, mas tendo eles procuradores distintos o prazo será dobrado. Quando houver
litisconsórcio, o oferecimento de defesa separadamente, mediante advogado exclusivo,
presume procuradores distintos, de modo a autorizar o prazo em dobro (REsp 683956).
NCPC estabelece que os diferentes procuradores devem pertencer a escritórios de
advocacia distintos (art. 229, "caput"). Estabelece também que: a) cessa a contagem do
prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por apenas um
deles (art. 229, § 1º); e b) não se aplica o prazo em dobro no caso de processo em autos
eletrônicos (art. 229, § 2º).
 os prazos são comuns, ou seja, abrem para todos simultaneamente (art. 241, III, CPC). NCPC
mantém a simultaneidade dos prazos para a citação, contados da última carga, juntada,
publicação, ciência ou dilação (art. 231, § 1º), mas prazos individuais para as intimações (art.
231, § 2º). Importante a observação de que, se houver litisconsórcio, mas antes que um deles
tenha sido citado o autor dele desistir, o prazo para contestar só será aberto depois que os
demais réus já citados forem intimados da decisão que excluir o litisconsorte em favor de quem
o autor desistiu (art.298, § u, CPC, art.335, § 2º, do NCPC); (REsp 727065).
 No caso de execução, havendo 2 ou mais executados (litisconsórcio passivo), serão citados por
mandado (art. 222,d,CPC) para pagar (salvo execução fiscal que é por AR). Abre-se então o
prazo de 15 dias para oferecer embargos, contados da juntada (CPC, art. 738; NCPC, 915).
Observar aqui a exceção da exceção: se os devedores forem casados, o prazo será comum
para os dois depois de citado o último deles.
O NCPC suprimiu o processo de execução como uma das hipóteses que demandam
citação por oficial de justiça (art. 247). No entanto, pondera Daniel Neves que, em regra,
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somente será possível a citação por correio quando a obrigação exequenda for de fazer,
não fazer ou entregar coisa, sendo que, na obrigação de pagar, dever continuar
ocorrendo a citação por oficial de justiça. Lembra o Autor, no entanto, que,
excepcionalmente, mesmo nas obrigações de pagar, poderá ser afastada a necessidade
de citação por oficial de justiça, nos casos de penhor por meio eletrônico, como, por
exemplo, a penhora on-line.
 O litisconsorcio so se extingue com o transito em julgado da sentença ou apenas quando um
deles e condenado (AgRg no REsp 525796) – mesmo sentido da Sum 641/STF
Unitariedade e necessariedade: é possível haver litisconsórcio unitário facultativo. Agindo em
conjunto ou separadamente, o resultado será uniforme para todos os interessados, mas o
litisconsórcio não é obrigatório. O principal problema que surge em relação ao litisconsórcio unitário
facultativo é quanto à coisa julgada, especialmente no caso de improcedência do pedido (discute-se se
a coisa julgada se estenderia àqueles que não litigaram). Há várias correntes doutrinárias acerca do
tema, propondo as mais diversas soluções. Nas ACPs, o litisconsórcio não é obrigatório entre o MP e os
demais colegitimados, e os efeitos da coisa julgada foram disciplinados pelo art. 16 da Lei 7.347/85.

Regras especiais:

 FATOS COMUNS E REVELIA (art. 320) (art. 345 do NCPC): Se o litisconsorte que contestou,
contesta um fato que é comum a um outro litisconsorte que não contestou, o juiz irá julgar o
fato da mesma forma, mesmo que se trate de litisconsórcio simples.
 RECURSO (art. 509) (art. 1.005 do NCPC): a interposição de recurso aproveita aos
litisconsortes unitários. Entretanto, quando se trata de solidariedade (que nem sempre implica
a unitariedade do litisconsórcio, depende da indivisibilidade da relação), o recurso de um
litisconsorte simples pode aproveitar os demais litisconsortes devedores solidários.
 LITISCONSÓRCIO MULTITUDINÁRIO: O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta,
que recomeça da intimação da decisão.
Intervenção iussu iudicis (art. 47, § ún, do CPC) (art. 115, § ún, do NCPC): É a intervenção de um
terceiro por determinação judicial. Essa intervenção era permitida no CPC/39 (integração do
contraditório). No CPC/73, não houve a repetição do artigo. Daí surgiu a dúvida se a intervenção
permaneceu ou desapareceu:
 Para Dinamarco, desapareceu.
 Para outros autores, permaneceu no CPC, mas foi redimensionada, cabendo ao juiz apenas
exigir que o autor promova a citação dos litisconsortes necessários (art. 47, § ún)

Litisconsórcio eventual/sucessivo: quando as demandas cumuladas dirigidas a pessoas diferentes,


havendo prejudicialidade entre o pedido deduzido a cada um deles.
Litisconsórcios alternativo: quando há dúvida fundada sobre a legitimidade, ajuíza-se contra todos.

Intervenção de terceiros: conceito de terceiro, classificação das modalidades interventivas,


figuras típicas (assistência simples e litisconsorcial, oposição, nomeação à autoria,
denunciação à lide, chamamento ao processo) e atípicas, conceito, natureza, cabimento,
aspectos procedimentais.

Conceito
Intervençao de terceiro e o ato jurídico processual pelo qual um terceiro, pessoa estranha a relaçao
processual entre o autor e o reu, autorizado por lei, ingressa em processo pendente, transformando-se
em parte.

Requisito
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Interesse jurídico: nao basta interesse economico ou moral, salvo na chamada intervenção anômala,
prevista no art. 5º da Lei 9.469/97, no caso de pessoas jurídicas de direito publico.
As intervençoes de terceiros geram efeitos nos processos:
 AMPLIAÇÃO SUBJETIVA DO PROCESSO: trazer parte nova, isto é, ampliar subjetivamente o
processo.
 MODIFICAÇÃO SUBJETIVA DO PROCESSO: gerar uma mudança nos sujeitos que existiam, Ex:
nomeação à autoria.
 AMPLIAÇÃO OBJETIVA DO PROCESSO: podem surgir novos pedidos, Ex: oposição e
denunciação da lide.

Modalidades de intervenção de terceiros


 Assistência;
 Oposição;
 Nomeação à autoria;
 Denunciação da lide;
 Chamamento ao processo; e
 Recurso de terceiro.
O NCPC prevê as seguintes modalidades de intervenção de terceiros:
 Assistência (simples e litisconsorcial) (arts. 119 a 124);
 Denunciação da lide (arts. 125 a 129);
 Chamamento ao processo (arts. 130 a 132);
 Incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137); e
 Amicus Curiae (art. 138).
A oposição e a nomeação à autoria não constam mais no rol de intervenções de terceiros do
NCPC. A oposição foi prevista como procedimento especial (arts. 682 a 686). De acordo com
Daniel Neves, o propósito da nomeação da autoria não desapareceu no NCPC, diante do
disposto nos arts. 338 a 339, que admitem a modificação do polo passivo, no caso de alegação
de ilegitimidade do réu.
 Intervençao voluntaria ou espontanea: a intervençao do terceiro ocorre por ato de vontade,
(assistencia, oposiçao e recurso de terceiro).
 Intervençao forçada ou coacta: o ingresso do terceiro e provocado, sendo requerido por alguma das
partes originarias (nomeaçao a autoria, denunciaçao da lide e chamamento ao processo).
Observaçoes:
 Nenhuma modalidade de intervenção é aceita nos juizados especiais. (Art. 1062 do NCPC: o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de
competência dos juizados especiais).
 No procedimento sumário não são admissíveis: ação declaratória incidental e intervenção
de terceiros, exceto assistência, recurso do terceiro prejudicado e intervenção fundada em
contrato de seguro. (Não mais existe procedimento sumário no NCPC).
 O pedido da União para intervir no feito, mesmo sendo o processo de competência da
Justiça Estadual, deve ser apreciado pela Justiça Federal.
 Em geral, a intervenção de terceiros só é cabível no processo de conhecimento.
 Em processos de controle concentrado de constitucionalidade, entende-se não ser possível
a intervenção de terceiros, embora se admita a figura do amicus curiae.

Oposição (É prevista como procedimento especial no NCPC, deixando de ser tratada como
intervenção de terceiro)

Conceito: é a intervenção em demanda alheia com o objetivo de haver para si o bem jurídico
disputado. É modalidade de intervenção facultativa e espontânea.
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Finalidade: abreviar a pendencia entre o opoente e os opostos.


Pode ser total ou parcial. E uma nova açao, autuada em apartado e decidida simultaneamente com a
açao principal. Tanto e assim que os opostos sao citados, formando um litisconsorcio passivo
necessario ulterior – peculiaridade: os opostos sao citados atraves de seus advogados Nao e
necessario que a procuraçao tenha poderes especiais para receber citaçao (art. 57, CPC). Alem disto,
nao ha relaçao de prejudicialidade entre a demanda originaria e a oposiçao.
Pode ser oferecida ate a prolaçao da sentença.
Duas especies:
 Oposiçao interventiva: se oferecida antes da audiencia de instruçao e julgamento
 Oposiçao autonoma: se oferecida depois. Neste caso, o juiz podera sobrestar a açao originaria
por ate 90 dias, a fim de tentar ‘adiantar’ a oposiçao para que, chegando no mesmo estagio da
açao originaria, sejam julgadas simultaneamente. NCPC não mais prevê o prazo de 90 dias,
estabelecendo que o juiz suspenderá o curso do processo ao fim da produção das provas,
salvo se concluir que a unidade da instrução atende melhor ao princípio da duração
razoável do processo (art. 685, § u).
o Havendo julgamento simultaneo, a oposiçao deve ser conhecida primeiro.
o Nao cabe oposiçao apos a prolaçao da sentença.
Observaçoes:
o Nao se admite nos embargos do devedor, no processo cautelar e no processo de execuçao.
o Oposiçao de oposiçao ou oposiçao sucessiva (um novo terceiro – ou uma quarta pessoa –
entra na lide): e possível.
o Nao se aplica o prazo em dobro para contestar aos opostos – apesar disto, os demais prazos
sao dobrados.

Art. 58, CPC (art. 684 do NCPC): Princípio da independência dos litisconsortes. Conclui-se então que, o
litisconsórcio formado entre os opostos é comum (ou simples).

Nomeação à Autoria (Não é mais prevista no NCPC como intervenção de terceiros,


remanescendo seu propósito nos arts. 338 e 339 do NCPC)

Conceito: é o incidente pelo qual o mero detentor da coisa ou cumpridor de ordem, quando
demandado, indica pessoa que deveria figurar no polo passivo da relação processual. Tem por fim
fazer o acertamento da legitimidade ad causum passiva.
Intervenção de terceiro provocada pelo réu, que não amplia o objeto litigioso
Limite temporal: deve ser feita no prazo da contestação.
Hipóteses:
o detençao de coisa em nome alheio
 Obs. Art. 1228 do CC. Didier entende que, a despeito da redaçao do dispositivo, o
mero detentor nao possui legitimidade passiva para a açao reivindicatoria.
o pratica do ato causador do prejuízo em cumprimento de ordem
 se o causador do dano tambem for responsavel (art. 942 do CC), tambem e parte
legítima, entao nao cabe nomeaçao a autoria, mas chamamento ao processo.
A nomeação à autoria exige a tríplice concordância:
o do reu (nomeante), que faz a nomeaçao
o do autor – se concordar com a nomeaçao, devera requerer a citaçao do nomeado
o do nomeado
É um dever processual - Sanção: se o réu não fizer a nomeação, responde por perdas e danos.
Todas as vezes que o juiz recusa a nomeação à autoria, ele devolve ao réu-nomeante o prazo para
contestar, ainda que o réu já tenha contestado (a nomeação interrompe o prazo para resposta).
É cabível nos processos de conhecimento e cautelar. Não é admissível no processo de execução.

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Se o nomeado não aceitar, o CPC prevê que o processo prossegue contra o réu inicial; porém, a
doutrina sustenta que, nesse caso, a coisa julgada deve atingir o nomeado, para garantir a utilidade do
instituto.
Não é possível a ocorrência de nomeações sucessivas.
O NCPC estabelece mecanismo de correção do polo passivo da demanda, com o mesmo
propósito da nomeação à autoria (arts. 338 e 339). Houve uma ampliação dos casos de
correção em relação à nomeação à autoria, eis que a correção passa a ser admitida para
qualquer hipótese de ilegitimidade passiva. Foi retirada a exigência de dupla concordância,
sendo a vontade do autor de mudar o réu o suficiente para a ação ser redirecionada a um novo
sujeito. O art. 339, § 2º, admite a inclusão do sujeito indicado pelo réu, sem a sua exclusão,
formando um litisconsórcio ulterior.
Enunciado nº 42 do FPPC: "(art. 339) O dispositivo aplica-se mesmo a procedimentos especiais que
não admitem intervenção de terceiros, bem como aos juizados especiais cíveis, pois se trata de
mecanismo saneador, que excepciona a estabilização do processo".
Enunciado nº 44 do FPPC: "(art. 339) A responsabilidade a que se refere o art. 339 é subjetiva".

Denunciação da Lide

Conceito: açao regressiva incidente, que pode ser proposta tanto pelo autor como pelo reu, com o
objetivo de garantir a indenizaçao do denunciante caso perca a demanda. E hipotese de ampliaçao
objetiva do processo (nova açao). A denunciaçao somente sera apreciada se o denunciante perder a
açao.
Deferida a denunciaçao, o juiz tera de julgar duas demandas, caso a demanda principal seja julgada
procedente. O NCPC prevê expressamente que somente se passará ao julgamento da
denunciação da lide, caso denunciante reste vencido (art. 129, "caput"). Caso contrário, a ação
de denunciação não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo da condenação do denunciante
ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado.
O denunciado atuara na qualidade de litisconsorte do denunciante, seja denunciaçao da lide
promovida pelo autor (art. 74 do CPC), seja ela promovida pelo reu (art. 75). Naturalmente, essa
relaçao de litisconsorcio so pode ser considerada na demanda originaria, visto que, na demanda
secundaria, o denunciante e adversario do denunciado. Parte da doutrina sustenta, em sentido
contrario a disposiçao legal, que o denunciado atuaria como assistente do denunciante, eis que nao
participou da relaçao jurídica de direito material oriunda da demanda principal, raciocínio este que
tornaria impossível uma condenaçao direta do denunciado na açao originaria. No entanto, pondera a
doutrina majoritaria que se trata de uma legitimaçao extraordinaria do denunciado, assumindo, assim,
duas posiçoes processuais: litisconsorte do denunciante na demanda principal e reu dele na demanda
incidental. o STJ vem entendendo que ha uma relaçao de litisconsorcio, admitindo a responsabilizaçao
direta do denunciado na demanda principal. O NCPC ratifica esse entendimento, expressamente,
ao admitir que julgado procedente o pedido da ação principal, pode o autor, se for o caso,
requerer o cumprimento da sentença também contra o denunciado, nos limites da condenação
deste na ação regressiva (art. 128, p. único). Enunciado nº 121 do FPPC: "(art. 125, II, art. 128,
paragrafo unico) O cumprimento da sentença diretamente contra o denunciado e admissível em
qualquer hipotese de denunciaçao da lide fundada no inciso II do art. 125".
Hipoteses de admissibilidade:
 para garantir ao adquirente o direito que da evicçao lhe resulta
 para garantir a indenizaçao ao possuidor direto, caso perca a demanda (O NCPC excluiu
essa hipótese)
 para garantir o direito regressivo de indenizaçao

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Não é admissível a denunciação da lide embasada no art. 70, III, do CPC quando introduzir
fundamento novo à causa, estranho ao processo principal, apto a provocar uma lide paralela,
a exigir ampla dilação probatória, o que tumultuaria a lide originária. (REsp 701868)

DENUNICAÇÃO DA LIDE AO PATROCINADOR DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR. É


descabida a litisdenunciação da entidade pública patrocinadora de plano de previdência
fechada complementar no caso de litígio envolvendo participantes e a entidade de
previdência privada em que se discuta a revisão de benefício previdenciário. (REsp 701868)

Obrigatoriedade da denunciaçao: somente para garantir os direitos da evicçao. No entanto, o STJ tem
julgados no sentido de que a ausencia de denunciaçao nao implica perda dos direitos da evicçao, para
nao se prestigiar o enriquecimento ilícito. O NCPC prevê, expressamente, a facultatividade da
denunciação da lide (art. 125, § 1º). Enunciado nº 120 do FPPC: "(art. 125, §1º, art. 1.072, II) A
ausência de denunciação da lide gera apenas a preclusão do direito de a parte promovê-la,
sendo possível ação autônoma de regresso".
Existe ação autônoma de evicção? A doutrina admite a ação autônoma de evicção em duas situações
de modo indiscutível:
a) Evicçao por ato administrativo (o DETRAN apreende o carro que foi comprado de outro, o evicto
perdeu a coisa em decorrencia de um ato administrativo. Nao seria possível a denunciaçao da lide por
um ato administrativo, a denunciaçao pressupoe a existencia de um processo jurisdicional).
b) Evicçao que surgiu em processo que nao permitia a denunciaçao da lide, EXEMPLOS: juizados
especiais cíveis.
Cabimento: no processo de conhecimento e, em alguns casos, no cautelar. Nao e admissível na
execuçao.
Denunciaçoes sucessivas: e possível; Denunciaçao per saltum: e possível (art. 456 do CC); Denunciaçao
coletiva (todos da cadeia sucessoria): Moniz de Aragao defendia tal possibilidade. O NCPC não admite
mais a denunciação "per saltum", ao estabelecer o "alienante imediato" como denunciado (art.
125, I). Admite-se, de outro lado, uma única denunciação sucessiva (art. 125, § 2º).
Existe prejudicialidade direta entre a lide regressiva e a açao principal (todas as vezes que o
denunciante vencer na lide principal, ficara sem objeto a denunciaçao).
Nao atendendo o alienante a denunciaçao da lide, e sendo manifesta a procedencia da evicçao, pode o
adquirente deixar de oferecer contestaçao, ou usar de recursos (art. 456, § un. CC). O NCPC adotou
esse posicionamento (art. 128, II).

“Em ação de reparação de danos movida em face do segurado, a seguradora


denunciada e a ele litisconsorciada pode ser condenada, direta e solidariamente, junto
com este, a pagar a indenização devida à vítima nos limites contratados na apólice”
(STJ Inf. 490, Rep)

RECURSO REPETITIVO. SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL. AJUIZAMENTO DIRETO


EXCLUSIVAMENTE CONTRA A SEGURADORA. A Seção firmou o entendimento de que
descabe ação do terceiro prejudicado ajuizada, direta e exclusivamente, em face da
seguradora do apontado causador do dano, porque, no seguro de responsabilidade civil
facultativo, a obrigação da seguradora de ressarcir os danos sofridos por terceiros pressupõe
a responsabilidade civil do segurado, a qual, de regra, não poderá ser reconhecida em
demanda na qual este não interveio, sob pena de vulneração do devido processo legal e da
ampla defesa (REsp 962230)

“A Turma, ao rever orientação dominante desta Corte, assentou que é incabível a


denunciação da lide nas ações indenizatórias decorrentes da relação de consumo seja no caso
de responsabilidade pelo fato do produto, seja no caso de responsabilidade pelo fato do
serviço (...) a única hipótese na qual se admite a intervenção de terceiro nas ações que

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versem sobre relação de consumo é o caso de chamamento ao processo do segurador, nos


contratos de seguro celebrado pelos fornecedores para garantir a sua responsabilidade pelo
fato do produto ou do serviço (art. 101, II, do CDC)” (STJ, Inf. 498)

REsp 1099439: Havendo o oferecimento antecipado da contestaçao, a denunciaçao da lide pelo reu so
podera ser oferecida se ainda nao tiver escoado o prazo legal da contestaçao e, cumulativamente, nao
houver ainda sido determinada a pratica de qualquer outro ato processual (ex: o juiz nao pode ter
determinado a intimaçao do autor para apresentar replica).

Chamamento ao Processo

Conceito: objetiva a inclusao do devedor ou dos coobrigados pela dívida (chamados) para integrarem
o polo passivo na relaçao processual ja existente, a fim de que o juiz declare, na mesma sentença, a
responsabilidade de cada um.
Ampliaçao subjetiva, e nao objetiva do processo.
Hipoteses de admissibilidade (art. 77 CPC) (art. 130 do NCPC)
 do devedor, na açao em que o fiador for o reu
 dos outros fiadores, quando para a açao for citado apenas um deles
 de todos os devedores solidarios, quando o credor exigir a dívida de um ou de algum
deles
Cabimento: so no processo de conhecimento, nao sendo admitido na execuçao.
Nao se aplica aos credores cambiarios.
O litisconsorcio formado e simples ou unitario? Para formaçao da unitariedade e imprescindível que
haja solidariedade e indivisibilidade. Assim, o chamamento pode gerar um litisconsorcio simples ou
unitario.
Lembrar que o chamamento ocorre no prazo da defesa e que se trata de uma faculdade processual do
chamante – ou seja, o chamado nao pode recusar, sendo obrigado a contestar sob pena de ser revel.

CHAMAMENTO AO PROCESSO EM AÇÃO DE FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO


MOVIDA CONTRA ENTE FEDERATIVO. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E
RES. 8/2008-STJ). Não é adequado o chamamento ao processo (art. 77, III, do CPC) da União
em demanda que verse sobre fornecimento de medicamento proposta contra outro ente
federativo. Com efeito, o instituto do chamamento ao processo é típico das obrigações
solidárias de pagar quantia. Entretanto, a situação aqui controvertida representa obrigação
solidária entre os Municípios, os Estados, o DF e a União, concernente à prestação específica
de fornecimento de medicamento. Neste contexto, por se tratar de hipótese excepcional de
formação de litisconsórcio passivo facultativo, não se admite interpretação extensiva do
referido instituto jurídico para alcançar prestação de entrega de coisa certa. Além do mais, a
jurisprudência do STJ e do STF assentou o entendimento de que o chamamento ao
processo (art. 77, III, do CPC) não é adequado às ações que tratam de fornecimento de
medicamentos, por ser obstáculo inútil ao cidadão que busca garantir seu direito
fundamental à saúde. Precedentes. (REsp 103244)

OBS.: Nota (Dizer o Direito):

“STJ tem jurisprudência consolidada de que esse chamamento ao processo não é


admitido. Argumentos: 1) Este art. 77, III, é típico de obrigações solidárias de pagar quantia,
o que não é o caso, uma vez que as ações para fornecimento de medicamento são para
entrega de coisa certa; 2) O chamamento ao processo da União por determinado Estado-
membro revela-se medida protelatória, que não traz nenhuma utilidade ao processo, além de
atrasar a resolução do feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o acesso aos
remédios necessários para o restabelecimento da saúde do enfermo.”

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Assistência

Conceito: da-se quando o terceiro intervem no processo para prestar colaboraçao a uma das partes.
Nao ha ampliaçao objetiva do processo. E espontanea (DICA: sao espontaneas as formas de
intervençao de terceiro que começam com uma vogal; e provocadas aquelas que começam com
consoante).
Pressupostos de admissibilidade:
 existencia de uma relação jurídica entre uma das partes do processo e o terceiro assistente
(interesse jurídico)
 possibilidade de a sentença influir na relaçao jurídica
Tipos de assistencia:
 simples (adesiva): interesse jurídico indireto. Posiçao subsidiaria em relaçao ao assistido
(ele tem limitaçao de poderes, porem o STJ entende que pode recorrer ainda quando o
assistido nao o faça, desde que este nao vede e que seja benefico a ele).
o Na assistencia simples, ha relaçao jurídica de direito material entre o assistente e o
assistido, que podera ser indiretamente atingida pela futura sentença.
STJ: Nao configura interesse jurídico apto a justificar o ingresso de terceiro como assistente simples
em processo submetido ao rito do art. 543-C do CPC o fato de o requerente ser parte em outro feito no
qual se discute tese a ser firmada em recurso repetitivo.

 litisconsorcial (qualificada): interesse jurídico direto. Posiçao de paridade (ele tambem e


parte). E hipotese de litisconsorcio unitario facultativo ulterior.
o Na assistencia litisconsorcial, ha relaçao jurídica de direito material entre o
assistente e o adversário do assistido (art. 54 do CPC) (art. 124 do NCPC), que
podera ser afetada pela futura sentença

Cabimento: em qualquer procedimento, exceto na execuçao e no juizado especial. Daniel Neves


sustenta que e cabível na execuçao, como bem demonstra o art. 834 do CC. Para o aludido autor, a
assistencia nao e cabível nos seguintes procedimentos: a) Juizados; b) processo objetivo; e c) MS.
O assistente pode ser admitido ate o transito em julgado da sentença. No segundo grau, a assistencia
denomina-se recurso de terceiro prejudicado (art. 499) (art. 996 do NCPC).
Eficacia preclusiva da intervençao em relaçao ao assistente:
 em certo sentido e mais rigorosa que a coisa julgada: a fundamentaçao vincula o assistente, que
nao podera discutir a “justiça da decisao” em nenhum outro processo.
 em certo sentido e mais flexível que a coisa julgada: hipoteses dos incisos I e II, do artigo 55
(incisos I e II do art. 123 do NCPC), quando o assistente nao ira se submeter a eficacia preclusiva.
Art. 55 (art. 123 do NCPC): o assistente não fica atingido pela coisa julgada, mas fica impossibilitado
de rediscutir a justiça da decisão.
Na assistência, se o assistido ficar vencido, o assistente será condenado nas custas na proporção da
atividade que exerceu no processo (art. 32 do CPC) (art. 94 do NCPC).

Recurso de Terceiro
O terceiro pode interpor qualquer dos recursos que as partes e licito oferecer, e dispoe o terceiro do
mesmo prazo de que dispoem as partes para tal.
O terceiro que pode recorrer e aquele que poderia ter intervindo no processo, mas nao o fez antes da
decisao, pretendendo faze-lo agora com o fim de atacar o provimento judicial que afirma ser capaz de
lhe acarretar prejuízo. O terceiro devera demonstrar interesse jurídico na causa e o prejuízo que a
decisao acarretou a sua esfera de interesses. O NCPC dispõe que cumpre ao terceiro demonstrar a
possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir
direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual.
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Intervençao de terceiros atípica (amicus curiae – “amigos da corte”)


Segundo alguns autores, ha uma modalidade de intervençao de terceiros atípica: o amicus curiae. De
origem norte-americana, atualmente e previsto nas açoes de controle direito de constitucionalidade,
mas ha autores que defendem a sua presença ha mais tempo (art. 31 da Lei 6.385/76 – CVM –, e art.
118 da Lei 12.529/11 – CADE).
No ambito do Supremo Tribunal Federal, a figura do amicus curiae vem sendo largamente prestigiada
e encontrando crescente guarida, que culminou, recentemente, na Emenda Regimental nº 15 (5), de
30.3.2004, que regulamentou a produçao de sustentaçao oral pelo amicus curiae, nos julgamentos de
açoes diretas de inconstitucionalidade (ADIs) e açoes declaratorias de constitucionalidade (ADCs). Ate
entao, essa prerrogativa era franqueada aos amici curiae, apenas, nos julgamentos de arguiçoes de
descumprimento de preceito fundamental (ADPFs), tendo em vista a autorizaçao expressa da Lei nº
9.882/99. Sua funçao nao e auxiliar a parte, mas o juízo. Trata-se de auxiliar do juízo.
No caso das ADI e ADC, há vedação expressa à intervenção de terceiros – ainda que, mais adiante, a lei
oportunize o acesso ao amicus curiae – já na hipótese da ADPF, não há norma expressa de vedação.
Nas ADI e ADC, os critérios da relevância da matéria e representatividade do postulante serão
determinantes; na ADPF, a admissão do amicus curiae é viabilizada aos interessados no processo,
ficando sujeita ao critério do relator.
Nas ADI e ADC, o despacho do relator, que admite o ingresso do amicus curiae, é irrecorrível. Já quanto
à decisão que não admite o ingresso do amicus curiae, é possível afirmar uma tedência no cabimento
de recurso, embora haja divergência sobre o assunto, existindo posicionamento recentes do STF nos
dois sentidos.

(...) AGRAVO REGIMENTAL. DESCABIMENTO CONTRA DECISÃO QÚE ADMITE “AMICÚS


CÚRIAE”. 1. Há dois entendimentos possíveis sobre o cabimento de recurso contra
decisão que aprecia pedido de ingresso como amicus curiae: i) o primeiro, no sentido da
irrecorribilidade de tal decisão, em razão do teor literal do art. 7º, §2º, da Lei 9868/99 e
do art. 21, XVIII, do RI/STF; ii) o segundo, na linha capitaneada pelo Min. Celso, admitindo a
interposição de recurso contra a decisão que indefere o ingresso como o amicus curiae, pelo
próprio requerente que teve o pedido rejeitado (cf. RE 597165 AgR). (...) (RE 590415 AgR)

(...) AMICUS CURIAE. PEDIDO DE HABILITAÇÃO NÃO APRECIADO ANTES DO JULGAMENTO.


AUSÊNCIA DE NULIDADE NO ACÓRDÃO RECORRIDO. NATUREZA INSTRUTÓRIA DA
PARTICIPAÇÃO DE AMICUS CURIAE, CUJA EVENTUAL DISPENSA NÃO ACARRETA PREJUÍZO
AO POSTULANTE, NEM LHE DÁ DIREITO A RECURSO. 1. O amicus curiae é um colaborador
da Justiça que, embora possa deter algum interesse no desfecho da demanda, não se vincula
processualmente ao resultado do seu julgamento. É que sua participação no processo ocorre
e se justifica, não como defensor de interesses próprios, mas como agente habilitado a
agregar subsídios que possam contribuir para a qualificação da decisão a ser tomada pelo
Tribunal. A presença de amicus curiae no processo se dá, portanto, em benefício da
jurisdição, não configurando, consequentemente, um direito subjetivo processual do
interessado. (...). A decisão que recusa pedido de habilitação de amicus curiae não
compromete qualquer direito subjetivo, nem acarreta qualquer espécie de prejuízo ou de
sucumbência ao requerente, circunstância por si só suficiente para justificar a jurisprudência
do Tribunal, que nega legitimidade recursal ao preterido. (...). (ADI 3460)

O CPC também traz hipótese de participação de amicus curiae perante os Tribunais, no controle difuso
de constitucionalidade, nos incidentes de arguição de inconstitucionalidade (art. 482, §§).
O STF admitiu a participação de amicus curiae em mandado de segurança preventivo que impugnava o
trâmite do projeto de lei que criava regras para a criação de novos partidos políticos
O NCPC reconheceu, expressamente, o amicus curiae como modalidade de intervenção de
terceiros (art. 138). Requisitos: a) relevância da matéria; b) especificidade do tema objeto da
demanda; ou c) a repercussão social da controvérsia. Podem figurar como amicus curiae:
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pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada.


A intervenção poderá ser espotânea ou provocada, por decisão irrecorrível. Não implica
alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de
embargos de declaração e o recurso contra decisão que julgar o incidente de resolução de
demandas repetitivas. Os poderes do amicus curiae serão definidos na decisão que solicitar ou
admitir a intervenção.

Intervenção anômala da União e das pessoas jurídicas de direito público

Intervenção anômala da União e das pessoas jurídicas de direito público – art. 5º, Lei 9.469/97:
O dispositivo legitimou a União a intervir de forma ampla em processo alheio, tendo em vista apenas a
qualidade das partes em litígio, independentemente da juridicidade do interesse que leva à
intervenção. O interesse é presumido, não precisa demonstrar.
O parágrafo único permite a qualquer pessoa jurídica de direito público intervir em qualquer causa,
desde que demonstre as consequências econômicas, ainda que reflexas, da decisão judicial. Dispensa o
interesse jurídico, mas deve demonstrar o interesse econômico.
Dispositivo veemente criticado pela doutrina, porque rompe com a disciplina tradicional da
intervenção, que exige interesse jurídico, e pode provocar deslocamento de competência.
Intervenção Especial da União em fase recursal: Fredie Didier entende, inobstante o contido na parte
final do parágrafo único do art. 5º da Lei 9.469/97, que “se a União recorrer, como terceira, em um
processo julgado pela Justiça Estadual, o recurso, a despeito de ter sido interposto pela União, deverá ser
julgado pelo TJ, e não pelo TRF, porquanto este, de acordo com o art. 108, II, da CF, somente tem
competência recursal (competência funcional, portanto, absoluta) para as causas decididas pelos juízes
federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição”.

“Não se aplica ao MS o art. 5º, § ún. da Lei 9.469/97, que confere à pessoa jurídica de direito
público o privilégio de intervir como assistente em qualquer causa” (AgREsp 1279974)

G. DIREITO PREVIDENCIÁRIO

CUSTEIO. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. LIMITES. REAJUSTES.

CUSTEIO.
Base normativa: art. 195 da CF/88 e a Lei 8.212
O art. 195 do texto constitucional estabelece que a Seguridade Social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União,
dos Estados, do DF e dos Municípios, e da seguintes contribuições sociais: a) do empregador, da empresa e
da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a.1) a folha de salários e demais
rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício; a.2.) a receita ou o faturamento; a.3.) o lucro; b) do trabalhador e dos
demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão
concedidas pelo regime geral de previdência social; c) sobre a receita de concursos de prognósticos; d) do
importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
Ainda, insta salientar que o § 4º do art. 195 prevê a possibilidade de instituição de outras contribuições
sociais, por meio de lei complementar.

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Conforme jurisprudência consolidada no âmbito do STF, as contribuições sociais possuem natureza


jurídica tributária, devendo-lhes ser aplicadas os princípios que informam a elaboração, interpretação e
aplicação das regras que dão conformidade ao sistema tributário nacional, ressalvadas as exceções
previstas na própria CF. Nesse sentido, saliente-se que o § 6º do art. 195 da CF especifica que as
contribuições sociais se sujeitam ao princípio da anterioridade nonagesimal, não podendo ser cobradas
antes de decorrido o prazo de noventa dias contados da publicação da lei que as instituiu ou majorou, não
se lhes sendo aplicável o a regra da anterioridade tributária prevista no art. 150, III, b, da CF.
Coube à Lei 8.212 definir o Plano de Custeio da Seguridade Social (PCSS) que, seguindo os comandos da
CF, enumera as contribuições sociais e seus respectivos sujeitos passivos, na forma resumida adiante:

CONTRIBUINTE BASE DE ALÍQUOTA RESPONSÁVEL PELO


CÁLCULO RECOLHIMENTO

8% SC até R$ 1.317,07
SEGURADO Salário de 9% SC de R$ 1.317,08 a R$
EMPREGADO contribuição (SC) 2.195,12
Empregador (art. 30, I)
(art.12, I) (art. 28, I)
11% SC de R$ 2.195,13 a R$
4.390,29

8% SC até R$ 1.317,07
EMPREGADO Salário de 9% SC de R$ 1.317,08 a R$ Empregador Doméstico (art.
DOMÉSTICO contribuição (SC) 2.195,12 30, V)
(art. 12, II) (art. 28, II)
11% SC de R$ 2.195,13 a R$ (LC 150/2015)
4.390,29

8% SC até R$ 1.317,07
SEGURADO Salário de 9% SC de R$ 1.317,08 a R$ 2.
AVULSO (art. Contribuição (SC) 195,12
Empregador (art. 30, I)
12, VI) (art. 28, I)
11% SC de R$ 2.195,13 a R$
4.390,29

20% sobre o SC Art. 21 11% Segurado (art. 30, II) e a


sobre a nota (retido pela empresa que contratar o
CONTRIBUINTE Salário de
empresa -art. 21 §2°,I) segurado contribuinte
INDIVIDUAL Contribuição (SC)
individual deve proceder a
(art. 12, IV) (art. 28, III) 5% sobre o salário mínimo se
retenção de 11% do valor da
microempreendedor individual
prestação dos serviços (art.
(21, §2°, II, “a”)
30, I, “b”)

20% sobre o Salário


Contribuição (SC) (art. 21)
SEGURADO Salário de
FACULTATIVO contribuição (SC) 11% no âmbito familiar
O próprio segurado
(art. 14) (art. 28, IV)
5% familiar + baixa renda
(art. 30, II)

A empresa adquirente,
consumidora, consignatária
SEGURADO Receita bruta 2% mais adicional de 0.1%
ou cooperativa (art. 30 IV).
ESPECIAL (art. proveniente da para o Seguro de Acidente de
Também o próprio segurado
12, VI) comercialização Trabalho
quando vender à pessoa
da sua produção
física ou para o exterior (art.
(art. 25, I)
30, X)

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Vale salientar que o STF reconheceu a inconstitucionalidade do art. 22, IV, da Lei n.º 8.212/1991 (“15%
sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são
prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho”).
Para o STF, o legislador ordinário instituiu nova norma tributária, transferindo sujeição passiva da
tributação da cooperativa para as empresas tomadoras de serviço, sem levar em conta a personalidade da
cooperativa. Além disso, a fórmula teria como resultado a ampliação da base de cálculo, uma vez que o
valor pago pela empresa contratante não se confunde com aquele efetivamente repassado pela
cooperativa ao cooperado. O valor da fatura do serviço inclui outras despesas assumidas pela
cooperativa, como a taxa de administração. De mais a mais, a tributação extrapola a base econômica
fixada pelo artigo 195, inciso I, alínea “a”, da CF, que prevê a incidência da contribuição previdenciária
sobre a folha de salários. Por fim, viola o princípio da capacidade contributiva e representa uma nova
forma de custeio da seguridade, a qual só poderia ser instituída por lei complementar (RE 595838).
Como forma de resguardar a manutenção econômico-financeira do regime previdenciário, preceitua o art.
16 da Lei 8212/91 que a União terá responsabilidade subsidiária na hipótese em que o produto da
arrecadação das contribuições se mostrar insuficiente para o pagamento dos benefícios previdenciários.
Do ponto de vista axiológico, o financiamento da Seguridade Social é norteado pelos seguintes princípios:
a) orçamento diferenciado: o orçamento da seguridade não se confunde com o orçamento da União (art.
165, § 5º, III, da CF/88), estando ela impedida de empregar os recursos arrecadados em finalidades
diversas do custeio de atividades dessa área (art. 167, XI da CF/88);
b) precedência da fonte de custeio: a criação ou majoração de benefício depende da prévia indicação da
sua fonte de custeio (art. 195, § 5º, da CF/88). Esse princípio tem íntima relação com o equilíbrio financeiro
e atuarial;
c) compulsoriedade da contribuição: a incidência das contribuições é determinada pela lei e independe da
vontade dos sujeitos passivos (art. 195, caput, da CF/88);
d) anterioridade em matéria de contribuições (art. 195, § 6º, da CF/88): contribuições criadas ou
majoradas só podem ser exigidas noventa dias após o início da vigência da lei que as instituiu.
SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO.
É instituto exclusivo do direito previdenciário.
Conforme art. 28 da Lei de Custeio, é o valor sobre o qual incide a contribuição previdenciária, nas
hipóteses em que o seu fato gerador for a prestação de serviço remunerado.
O salário-de-contribuição não pode ser confundido com o termo “salário” em sentido técnico-jurídico
(contraprestação devida pelo empregador ao empregado), pois nem sempre o salário-de-contribuição é
igual ao salário contratual, bem como porque grande parte dos segurados não aufere salário propriamente
(v.g., administradores e autônomos).
O parâmetro de quantificação para o salário-de-contribuição é a remuneração (embora não se possa
afirmar que ele sempre corresponderá a ela – há parcelas que, por lei, são excluídas), adotando-se como
critério os padrões definidos no art. 457 da CLT.
Portanto, o salário-de-contribuição guarda vinculação com as verbas remuneratórias, que são compostas
por: a) salário (é o ganho fixo, principal remuneração); b) gorjeta (pago por terceiro) e comissões; c)
conquistas sociais (valores pagos em razão do trabalho, previstos em lei - férias, adicional por hora-extra,
descanso semanal remunerado). As parcelas relativas à indenização e ao ressarcimento, em regra, não
estão incluídas no conceito de salário-de-contribuição e de remuneração.
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São características das parcelas que compõem o salário-de-contribuição:


a) Habitualidade; b) Pagamento pelo trabalho diferente de pagamento para o trabalho (se a parcela paga
ou fornecida ao trabalhador for condição para a realização do trabalho, não constitui retribuição e não tem
caráter salarial, estando excluída do conceito previdenciário de salário-de-contribuição - hipótese de
ressarcimento ou indenização); c) Integração ao patrimônio do trabalhador; d) Irrelevância da
denominação dada ao rendimento auferido.
Na hipótese de segurado que exerça mais de uma atividade, o salário-de-contribuição corresponderá à
soma dos valores de ambas (desde que respeitado o teto – o segurado só contribui até aquele limite). Tal
somatório também servirá de base para a definição da alíquota a ser aplicada.
Nos termos da Lei 8212/91, a composição do salário-de-contribuição varia de acordo com a categoria do
segurado.
Para segurados empregados e trabalhadores avulsos, ele será a remuneração auferida em uma ou mais
empresas. Ou seja, a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título,
destinados a retribuir o trabalho durante o mês (inclusive gorjetas, utilidades habituais e ajuste salarial –
ainda que na forma “in natura”), quer pelos serviços efetivamente prestados ou pelo tempo a disposição
do empregador ou tomador de serviço nos termos da lei, do contrato, de convenção ou acordo coletivo ou
de sentença normativa (Lei 8212, art. 28, I).
Já para o empregado doméstico, o salário-de-contribuição corresponde à remuneração descrita na Carteira
de Trabalho e Previdência Social (Lei 8212, art. 28, II). Assim, como a lei fala em “remuneração descrita na
CTPS”, ganha força o entendimento de que, no caso do doméstico, as parcelas “in natura” (moradia,
alimentação, etc.) não devem integrar o salário-de-contribuição.
Para o contribuinte individual, o salário de contribuição corresponderá à remuneração por ele auferida
pela prestação de serviço a empresa ou pelo exercício de atividade por conta própria, durante o mês,
observado o limite máximo.
No que tange ao segurado facultativo, o salário de contribuição corresponderá ao valor por ele declarado,
observado os limites mínimos e máximos estabelecidos em Portaria Interministerial.
Por fim, o salário de contribuição do segurado especial será a quantia resultante da comercialização de sua
produção, nos termos do § 8º da CF, sendo-lhe autorizado, ainda, se assim o desejar, verter contribuições
facultativas para o sistema previdenciário na condição de contribuinte individual, hipótese em que fará jus
a outros benefícios que não apenas a aposentadoria por idade.
A lei determina que quaisquer valores dotados de natureza remuneratória, em regra, integrarão o salário-
de-contribuição. Assim, além do salário em si, INTEGRAM tal base de cálculo os seguintes valores:
a) Décimo terceiro: muito embora não integre a base de cálculo do salário-de-benefício, integra o salário-
de-contribuição por expressa previsão no §7º do art. 28 da L 8212 (sua arrecadação tem por escopo
custear o pagamento da gratificação natalina aos beneficiários do RGPS) e por ter natureza salarial.
b) Diárias: como regra são indenizatórias e, por isso mesmo, não sujeitas à incidência de contribuição, mas,
por força do § 8º, alínea “a”, do art. 28, integrarão o salário-de-contribuição quando excederem a 50% da
remuneração mensal. Neste caso, a contribuição incidirá sobre todo o valor (e não apenas sobre a quota
excedente). Incluindo-se as compensações pecuniárias, conforme art. 9 da Lei 13.189/2015.
c) Abonos: são os adiantamentos e as antecipações concedidas aos trabalhadores pelos empregadores.
d) Comissões e percentagens: também fazem parte do salário – referem-se aos valores e percentuais
incidentes sobre as vendas realizadas pelos empregados.
e) Gratificações: quando ajustadas ou pagas com habitualidade, integram o salário.
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f) Férias gozadas: integram a remuneração, não incidindo contribuição previdenciária, no entanto, sobre o
terço constitucional, conforme jurisprudência consolidada do STF, STJ e da TNU.
g) Ganhos habituais sob a forma de utilidades: fórmula genérica para englobar outras prestações
fornecidas pelo empregador ao trabalhador, incluindo tanto pagamentos em dinheiro, como o
fornecimento de utilidades. Merece relevo o fato de que, por expressa previsão nas suas leis instituidoras,
o vale-transporte e o Programa de Alimentação ao Trabalhador (PAT) não possuem natureza salarial (art.
3º da Lei n. 6.321/77 e art. 2º Lei 7.418/85) e, assim, também ficam excluídos do salário-de-contribuição.
h) salário-maternidade: integra o salário-de-contribuição (art. 28, §1º da Lei 8212/91) por ter natureza
salarial. Inclusive, trata-se do único benefício do RGPS que sofre incidência de contribuição previdenciária.
Outrossim, é importante lembrar que o art. 28, § 9º, da Lei nº 8.212/1991 veicula rol taxativo de parcelas
que foram expressamente excluídas da composição do salário de contribuição. Confira-se:
a) benefícios da previdência social, SALVO O SALÁRIO-MATERNIDADE;
b) ajudas de custo e adicional mensal recebido pelo aeronauta (pela Lei nº 5.929/77, tais verbas têm
natureza indenizatória);
c) a parcela "in natura" do auxílio-alimentação custeado pelo empregador (o art. 3º da Lei nº 6.321/76
afasta a natureza salarial da verba), ainda que o Programa não esteja “registrado” junto ao Ministério,
segundo a jurisprudência;
d) férias indenizadas e o respectivo terço, inclusive na hipótese da “dobra” do art. 137 da CLT (as férias só
integram a base de cálculo quando pagas na vigência do contrato de emprego);
e) multa do FGTS, incentivos à adesão de programas de demissão voluntária, conversão de férias em abono
pecuniário, ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário, licença-prêmio
indenizada, vale-transporte (ainda que pago em espécie, segundo STF/STJ), ajuda de custo para mudança
(desde que em parcela única), diárias (até 50% da remuneração mensal), bolsa de estudo, participação nos
lucros (entende-se que não configura retribuição direta pelo trabalho e também não é habitual);
l) abono do PIS/PASEP (não é pago pelo empregador);
m) valores correspondentes a transporte, alimentação e habitação fornecidos pelo empregador ao
empregado contratado para trabalhar em localidade distante da de sua residência, em canteiro de obras
ou local que, por força da atividade, exija deslocamento e estada (são para o trabalho e não pelo trabalho);
n) complementação ao valor do auxílio-doença, desde que este direito seja extensivo à totalidade dos
empregados da empresa;
o) assistência ao trabalhador da agroindústria canavieira (art. 36 da Lei nº 4.870/65);
p) cota patronal de previdência complementar aberta ou fechada, desde que disponível à totalidade dos
empregados e dirigentes;
q) assistência médica ou odontológica, própria do empregador ou por ele conveniada, inclusive o
reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, despesas médico-hospitalares
e outras similares, desde que concedida a todos os empregados;
r) vestuários, equipamentos e outros acessórios (EPIs) fornecidos ao empregado e utilizados no local do
trabalho;
s) ressarcimento pelo uso de veículo do empregado (cunho indenizatório) e reembolso creche (natureza
assistencial); Súmula 310/STJ: "Auxílio-creche não integra o salário-de-contribuição".

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t) plano educacional que vise à educação básica (art. 21 da Lei nº 9.394/96) e cursos de capacitação e
qualificação profissionais vinculados às atividades desenvolvidas pela empresa, desde que não seja
utilizado como substituição de parcela salarial e seja oferecido a todos os empregados e dirigentes (se
implicar qualificação individual, específica, será salário).
u) bolsa de aprendizagem;
v) cessão de direitos autorais;
x) multa prevista no §8º do art. 477 da CLT (atraso no pagamento das verbas rescisórias).
Em REPETITIVO, a 1ª Seção do STJ decidiu que incide contribuição previdenciária sobre as
parcelas pagas no período de cinco dias de licença paternidade, que não possui natureza
previdenciária, mas sim natureza salarial, sendo de responsabilidade do empregador.
Em REPETITIVO, a 1ª Seção do STJ decidiu que não incide contribuição previdenciária sobre o
valor pago a título de terço constitucional de férias gozadas, que têm por finalidade ampliar a
capacidade financeira do trabalhador durante as férias, porquanto possui natureza
compensatória/indenizatória, não se destinando à retribuição de serviços prestados;
Em REPETITIVO, a 1ª Seção do STJ decidiu que não incide contribuição previdenciária sobre férias
indenizadas e o respectivo adicional (Lei 8.212/91, art. 28, §9º, d), inclusive nas hipóteses de
“dobra” (CLT, art. 137);
Em REPETITIVO, a 1ª Seção do STJ decidiu que não incide contribuição previdenciária sobre aviso
prévio indenizado (Lei 12.506/11), que visa reparar o trabalhador que foi dispensado sem ser
alertado previamente;
Em REPETITIVO, a 1ª Seção do STJ decidiu que não incide INSS sobre os primeiros 15 dias do
auxílio-doença, por não se tratar de retribuição por serviços prestados mas, sim, hipótese de
interrupção contratual;

O STJ possui firme entendimento sentido de que os valores recebidos pelo segurado a título de horas
extras, adicional de periculosidade, adicional de insalubridade, adicional noturno e repouso semanal
remunerado integram o salário-de-contribuição, de molde que sobre eles incide contribuição
previdenciária. Tais verbas, não obstante suas denominações, ostentam inequívoco caráter
remuneratório.
Sobre o adicional denominado QUEBRA DE CAIXA, o STJ, recentemente, firmou entendimento no sentido
de seu caráter remuneratório. O “auxílio quebra de caixa” - pagamento efetuado mês a mês ao empregado
em razão da função de caixa que desempenha, por liberalidade do empregador - não possui natureza
indenizatória típica das gratificações feitas por liberalidade do empregador, devendo incidir nesses casos a
contribuição previdenciária (AgRg no REsp 1527444).

Quadro demonstrativo – Dizer o Direito


CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS A CARGO DA EMPRESA
Incide
Verba contribuição Fundamento
previdenciária?
Salário maternidade SIM É verba salarial.
Salário paternidade SIM É verba salarial.
A Lei 8.212/91 determina que
Terço de férias indenizadas NÃO
não incide.
Terço de férias gozadas NÃO É verba indenizatória.

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Aviso prévio indenizado NÃO É verba indenizatória.


Valor pago pela empresa ao empregado nos 15
NÃO Não é verba salarial.
dias que antecedem o auxílio-doença

Momento da ocorrência do fato gerador.


O fato gerador da contribuição previdenciária surge no momento em que a remuneração passa a ser
devida e não quando efetivamente paga ou creditada, de modo que o legislador adotou o regime de
competência e não o de caixa. Em suma, basta a prestação do serviço para que a contribuição seja devida,
independentemente do efetivo pagamento da remuneração ajustada.
LIMITES DO SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO.
Limite máximo.
O limite máximo do salário de contribuição foi fixado pela EC 20/98 em R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais).
Posteriormente, a EC 41/2003 majorou este valor para R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais). Após
alguns reajustes, a Lei 12.254/2010 fixou a quantia máxima do salário de contribuição em R$ 3.467,40, com
efeitos a partir de 1º/01/2010. A partir daí, a expressão monetária do SC passou a ser redefinido por
portarias expedidas conjuntamente pelos Ministérios da Fazenda e Previdência Social. Por fim, o art. 2º da
Portaria Interministerial MPS/MF nº 13/2015, definiu o teto do salário de contribuição no em R$ 4.663,75.
Limite mínimo.
Para os segurados contribuintes individuais e facultativos, o limite mínimo do salário de contribuição
corresponderá ao valor de um salário mínimo.
Já para os segurados empregados, domésticos e trabalhadores avulsos, o salário de contribuição será
equivalente ao piso salarial legal ou normativo da categoria ou, inexistindo este, ao salário mínimo,
tomado no seu valor mensal, diário ou horário, conforme o ajustado e o tempo de trabalho efetivo durante
o mês. No tocante ao menor aprendiz, o limite mínimo do salário de contribuição corresponderá ao valor
legalmente definido em lei como piso remuneratório.
REAJUSTES.
No que se refere ao reajustamento do salário-de-contribuição, a base constitucional está no art. 201, § 3º,
segundo o qual todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de benefício serão
devidamente atualizados, na forma estabelecida em lei.
Historicamente, os diplomas normativos que regulamentaram a matérias sempre estabeleceram a regra de
que os valores do salário-de-contribuição seriam reajustados na mesma época e com os mesmos índices
utilizados para o reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social (arts. 20,
§1º, e 21, §1º, da Lei 8212).
Com o advento da Lei 10.877/04, o art. 29-B da Lei 8.213 passou a prever que os salários-de-contribuição
considerados no cálculo do valor do benefício serrão corrigidos mês a mês de acordo com a variação
integral do INPC, calculado pelo IBGE.

H. DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA PLENA. INDELEGABILIDADE DA COMPETÊNCIA. NÃO


EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA RESIDUAL E EXTRAORDINÁRIA.
LIMITAÇÕES DA COMPETÊNCIA. PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA TIPICIDADE.
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PRINCÍPIO DA ANUALIDADE. PROIBIÇÃO DE TRIBUTOS INTERLOCAIS. IMUNIDADE


E ISENÇÃO. UNIFORMIDADE TRIBUTÁRIA. TRIBUTAÇÃO DAS CONCESSIONÁRIAS.
SOCIEDADES MISTAS E FUNDAÇÕES. IMUNIDADE RECÍPROCA. EXTENSÃO DA
IMUNIDADE ÀS AUTARQUIAS.

Competência tributária plena

 A competência tributária plena é aquela outorgada à pessoa política não só para cobrar (arrecadar)
e fiscalizar o tributo (“função fiscal” ligada ao Poder Executivo), mas especialmente para criá-lo e
legislar (“poder fiscal” ligado ao Poder Legislativo) sobre ele. Somente os entes federados possuem
competência tributária. Somente a CF pode estabelecer competências tributárias.

 Limites para o exercício da competência: são apenas aqueles constantes na Constituição Federal,
mas alguns autores entendem que Estados e Municípios podem criar restrições próprias (auto-
limitações), por meio de suas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas.

 A competência tributária decorre do princípio federativo (cláusula pétrea). (ADI 2381). A


competência é modificável por Emenda Constitucional, desde que não prejudique a autonomia do
ente federativo (financeira e de auto-gestão).

Indelegabilidade da competência

 Em sentido amplo, a competência seria a soma de quatro atribuições: instituir, arrecadar, fiscalizar
e executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas relativas ao tributo. A indelegabilidade da
competência tributária refere-se apenas à atribuição de instituir o tributo. As demais funções
seriam delegáveis. Em sentido estrito, pode-se afirmar que a competência tributária (política) é
indelegável, seja expressa (CTN, art. 7º), seja tacitamente (CTN, art. 8º); já a capacidade ativa
(administrativa) é delegável de uma pessoa jurídica de direito pública a outra. Pode-se citar como
exemplo a delegação da capacidade ativa feita ao INSS de algumas contribuições previdenciárias
instituídas pela União, detentora da competência tributária. Após tal delegação, foi editada a Lei
11.098/05 a qual a União retirou a capacidade ativa delegada do INSS autorizando a criação da
Secretaria da Receita Previdenciária que, mais tarde, foi unificada com a Secretaria da Receita
Federal criando-se a Receita Federal do Brasil.
 As atribuições atinentes à capacidade tributária ativa (arrecadar, fiscalizar e exigir tributos, bem
como executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária) só podem ser
delegadas para pessoas jurídicas de direito público (art. 7º, caput, do CTN). Não confundir com o
encargo ou função de mera arrecadação exercido por pessoas jurídicas de direito privado, como os
bancos (CTN, art. 7º, § 3º), concessionária de energia elétrica (art. 149-A CF)

Não exercício da competência

O não-exercício NÃO implica decadência da competência.


Com a LC 101/00, o não exercício da competência tributária passou a ter um ônus. Com efeito, o art. 11 da
citada lei veda a realização de transferências voluntárias (entrega de recursos correntes ou de capital a
outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira) para entes que não

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exerçam as competências tributárias que lhe foram atribuídas pela Constituição em relação aos impostos.
Há quem entenda por inconstitucional tal disposição, por trazer restrição não prevista na CF.

Competência residual e extraordinária - A competência tributária também pode ser


classificada em privativa, comum ou residual.

1)Competência residual (Constituição Federal) – é sempre da União Federal em matéria de impostos e


contribuições sociais:
 Impostos: Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos
no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo
próprios dos discriminados nesta Constituição.
 Contribuições: Art. 195: § 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a
manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.
* Em ambos os casos, são necessárias a instituição via lei complementar, a obediência à técnica da não
cumulatividade e a inovação quanto às bases de cálculo e fatos geradores. STF entende que a exigência
de inovação só existe dentro da própria espécie tributária, ou seja, um novo imposto deve possuir base de
cálculo e fato gerador diferentes daqueles que servem para incidência de impostos já existentes. Já uma
nova contribuição só pode ser criada se o seu fato gerador e sua base de cálculo forem diferentes daqueles
definidos para as contribuições já criadas. A exigência de utilização de lei complementar só é aplicável para
a criação de novas contribuições (não previstas expressamente na Constituição Federal de 1988). Para a
criação daquelas cujas fontes já constam da Constituição, vale a regra geral: a utilização da lei ordinária.
Entende-se que, em matéria de taxas, a competência residual pertence aos Estados, haja vista sua
competência residual político-administrativa.

2) Competência extraordinária (Constituição Federal) -Guerra externa ou sua eminência: são


circunstâncias que permitem a criação do imposto, mas jamais serão seus fatos geradores. Terão a mesma
hipótese de incidência, base de cálculo e fato gerador de imposto ordinário já instituído pela União,
Estados, DF ou Municípios; ou seja, ele é repetitivo, é uma clonagem tributária, poderá haver a
bitributação (quando duas pessoas exigem tributo do mesmo sujeito passivo sobre a mesma hipótese de
incidência) e o bis in idem (quando a mesma pessoa exige tributos sobre o mesmo fato gerador).
 Não exige não-cumulatividade.
 Devem ser transitórios, mas podem perdurar por 5 anos depois da celebração da paz (art. 76 do
CTN).
 Podem ser instituídos por lei ordinária ou MP.
 Não se submetem ao princípio da anterioridade simples e nonagesimal.

São 3 os critérios para classificar a competência p/ instituir tributos (Paulsen): a) atividade estatal: Há
tributos cuja competência é outorgada em função da atividade estatal. Caso das taxas e contribuições de
melhoria; b) base econômica: O critério da base econômica enseja um controle material sobre o objeto da
tributação mediante análise do FG, da BC e do contribuinte em face da riqueza que pode ser tributada.- c)
finalidade: As competências pelo critério da finalidade indicam áreas de atuação que justificam a
instituição de tributos para o seu custeio. Ex: contribuições e aos empréstimos compulsórios.

Limitações da competência

Várias das limitações já foram tratadas na parte dos princípios (ver ponto 06 – “limitações constitucionais
ao poder de tributar): 1.Legalidade Tributária 2. Anterioridade 3.Igualdade Tributária 4.Capacidade
Contributiva 5.Indelegabilidade da Competência Tributária 6.Vedação ao Efeito Confiscatório 7. Liberdade

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de Tráfego 8.Uniformidade Geográfica 9.Não-Discriminação Tributária em Razão da Origem ou Destino dos


Bens. Ao exercer sua competência, o ente da Federação tem como limites todos os princípios acima. Além
desses, há as limitações das imunidades.

Princípios da Legalidade e da Tipicidade. Princípio da anualidade. Proibição de tributos


interlocais.

a) Princípio da legalidade (intitulado por Pontes de Miranda de princípio da legalitariedade):a


criação e majoração de tributos só pode ser feita por lei. Exceção para a majoração de alíquotas: II, IE, IOF,
IPI (alíquotas fixadas por decreto, dentro dos limites fixados em lei), CIDE-combustíveis (o Poder Executivo
pode reduzir e restabelecer as alíquotas) e ICMS monofásico sobre combustíveis (alíquotas fixadas por
convênio celebrado entre Estados e DF – CONFAZ). Em resumo, quanto à CIDE-combustíveis, a redução e
restabelecimento de alíquotas podem ser feitos por decreto, sem obediência à legalidade nem à
anterioridade. Já quanto ao ICMS-monofásico, incidente sobre combustíveis definidos em Lei
Complementar, a definição (inclusive redução e aumento) de alíquotas pode ser feita por convênio, sem
obediência à legalidade, mas se o aumento ultrapassar o mero restabelecimento de patamar
anteriormente fixado, deve-se obedecer à anterioridade. Não há mais ressalva para a CPMF (sem vigência
no ordenamento jurídico atual), cuja alíquota, fixada diretamente pela CF, podia ser alterada pelo
Executivo. Vale ressaltar que o princípio da legalidade é multissecular, com previsão inaugural na Carta
Magna inglesa, de 1215, do Rei João Sem Terra, e objetivava impor a necessidade de aprovação prévia dos
súditos para a co­brança dos tributos, do que irradiou a representação “no taxation whith-out
representation”.

 A EC 32/2001 veio constitucionalizar a MP como meio adequado para criar/aumentar tributo.


Todavia, antes mesmo da EC, STF já entendia nesse sentido.

 Segundo o STF, não estão sujeitas à reserva legal as seguintes matérias: a) obrigações acessórias;
b) prazos para pagamento de tributos; c) correção monetária da base de cálculo. Vale notar que,
conforme já decidido pelo STF, como a legislação sobre direito financeiro encontra-se no âmbito da
legislação concorrente (CF, art. 24, I), os entes federados podem utilizar-se de índices locais para a
correção monetária dos seus tributos. No âmbito do STJ, se entende ser relativa a liberdade dos
Municípios para estipular índice de correção monetária para o IPTU, tendo por limite o “índice
oficial de correção monetária”. Nesta linha, a Súmula 160/STJ: “É defeso, ao Município, atualizar o
IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária”.

 Alguns tributos devem ser instituídos por lei complementar: imposto sobre grandes fortunas,
empréstimos compulsórios, impostos residuais da União e contribuições sociais residuais da União.

b) Princípio da tipicidade: O tributo só será devido se o fato concreto se enquadrar na previsão da lei
tributária. Este princípio não é autônomo perante a legalidade tributária, sendo “um corolário do princípio
da legalidade” (Ricardo Lobo Torres). Alberto Xavier: “é a expressão mesma desse princípio, quando se
manifesta na forma de uma reserva absoluta de lei”, nos contornos da segurança jurídica. A tipologia da lei
tributária, sendo fechada e exauriente, remete o intérprete à noção de tipo ou de tipificação, em um
elevado grau de determinação conceitual e fixação de conteúdo, obrigando o aplicador da regra a
submeter as matérias ali discriminadas à moldura legal, sob pena de violação da estrita legalidade. Ives
Gandra: “é fechada a tipicidade de tributo e pena. É absoluta a reserva da lei. Sua veiculação normal deve
conter toda a informação necessária para a aplicação da norma”. Assim, a lei tributária deverá fixar, com

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hialina clareza, a alíquota, a BC, o sujeito passivo do tributo, a multa e o FG, sendo-lhe vedadas as
indicações genéricas no texto legal de tais rudimentos numerus clausus da tipologia cerrada.

c) Princípio da anualidade: Existia na CF/46. Exigia para que o tributo fosse exigido no ano seguinte prévia
inclusão no orçamento como receita. Entretanto, esta limitação temporal que existia não existe mais.
Atualmente, exige-se que a lei instituidora ou majoradora do tributo seja publicada antes do final do
exercício financeiro, respeitada também a anterioridade nonagesimal, à luz das esperas temporais (art.
150, III, “b”, “c”, CF). Logo, tributo mesmo não previsto no orçamento, pode ser exigido, restando
prejudicado o final da Súm 545/STF (não sendo exigida prévia autorização orçamentária p/ cobrar taxas).

d) Princípio da proibição de tributos interlocais (ou princípio da liberdade de tráfego): O trânsito de


pessoas e mercadorias não pode ser restringido por meio da imposição de tributos. A regra possui
exceções: a) ICMS interestadual; b) pedágio. A ressalva feita ao pedágio no dispositivo constitucional
parece indicar que, para o constituinte, o pedágio se afigura como tributo. O STF entende que o pedágio-
tributo tem natureza de taxa de serviço (RE 181475). Entretanto, é cediço que o pedágio tem sido cobrado
por particulares em regime de concessão, permissão ou autorização. Nestes casos, terá natureza de tarifa
ou preço público.

Imunidade e isenção

A imunidade é uma limitação constitucional ao poder de tributar, é uma limitação da competência


legislativa. Já a isenção é a dispensa legal do pagamento do tributo, por limitação de um dos critérios da
hipótese de incidência. Luciano Amaro, a esse respeito, preconiza que “a diferença entre a imunidade e a
isenção está em que a primeira atua no plano da definição da competência, e a segunda opera no plano do
exercício da competência”. É importante destacar, ademais, que “enquanto a norma de isenção é de ser
interpretada literalmente, a imunidade, a teor de precedentes do Supremo Tribunal Federal, admite
interpretação ampla à luz dos princípios constitucionalmente consagrados”.
Vejamos decisão recente sobre o tema no STF:

EMENTA Imunidade. Entidade de assistência social. Artigo 150, VI, c, CF. Imóvel vago.
Finalidades essenciais. Presunção. Ônus da prova. 1. A regra de imunidade compreende o
reverso da atribuição de competência tributária. Isso porque a norma imunitória se traduz
em um decote na regra de competência, determinando a não incidência da regra matriz
nas áreas protegidas pelo beneplácito concedido pelo constituinte. 2. Se, por um lado, a
imunidade é uma regra de supressão da norma de competência, a isenção traduz uma
supressão tão somente de um dos critérios da regra matriz. 3. No caso da imunidade das
entidades beneficentes de assistência social, a Corte tem conferido interpretação
extensiva à respectiva norma, ao passo que tem interpretado restritivamente as normas
de isenção. 4. Adquirido o status de imune, as presunções sobre o enquadramento
originalmente conferido devem militar a favor do contribuinte, de modo que o
afastamento da imunidade só pode ocorrer mediante a constituição de prova em contrário
produzida pela administração tributária. O oposto ocorre com a isenção que constitui mero
benefício fiscal por opção do legislador ordinário, o que faz com que a presunção milite em
favor da Fazenda Pública. 5. A constatação de que um imóvel está vago ou sem edificação
não é suficiente, por si só, para destituir a garantia constitucional da imunidade. A sua
não utilização temporária deflagra uma neutralidade que não atenta contra os requisitos
que autorizam o gozo e a fruição da imunidade. 6. Recurso extraordinário a que se nega
provimento. (RE 385091)

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Imunidade Isenção

* prevista na Constituição Federal * prevista nas leis de cada ente da Federação


* é vedação ao poder de legislar sobre o tributo * é a dispensa legal do pagamento do tributo
em determinados casos e em relação a
determinadas pessoas
* é ausência de competência * é causa de exclusão do crédito tributário
De forma resumida esses são os quatro casos que resultam no não pagamento do tributo:

• O CTN coloca a isenção ao lado da anistia, como formas de exclusão do crédito tributário. Parte da
doutrina, porém, sustenta que a isenção é norma que reduz o campo de abrangência da norma tributária
impositiva, o que implicaria na inexistência de incidência. STF perfilha a literalidade do CTN, entendendo
que há a incidência da norma, ocorre o FG e surge a obrigação tributária, com posterior dispensa do
pagamento do tributo em razão da isenção. (visão clássica de Rubens Gomes de Souza).
• A isenção está submetida à reserva legal (lei específica) - pode ser restrita a determinada região
do território da entidade tributante, em função de condições a ela peculiares. Tal regra deve ser aplicada
em harmonia com o art. 151, I da CF, que permite a concessão de incentivos fiscais destinados a promover
o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País.Não há previsão de
que ela possa ser restrita a “determinada classe ou categoria de sujeitos passivos”, como há em relação à
moratória.
• Salvo disposição legal em contrário, a isenção genérica não se aplica às taxas e contribuições de
melhoria, que têm caráter contraprestacional, e aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão
(art. 177 do CTN)
• As isenções onerosas ou condicionais (em que é exigida alguma contrapartida do beneficiário)
concedidas por prazo certo geram direito adquirido à fruição do benefício, pelo prazo estipulado, para os
que cumpram as condições (vide súmula 544/ STF: Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa,
não podem ser livremente suprimidas). A lei que concede tal isenção pode ser revogada, mas a isenção,
não. Assim, ainda que revogada a lei, o beneficiário continuará fruindo da isenção até o prazo final.

Revogação de isenção e anterioridade: Tema polêmico. Art. 104, III, CTN: lei que extinga ou reduza
isenção relativa a imposto sobre o patrimônio ou a renda entra em vigor apenas no exercício seguinte. A
revogação de benefício fiscal deverá obedecer ao princípio da anterioridade tributária? SIM. O ato
normativo que revoga um benefício fiscal anteriormente concedido configura aumento indireto do
tributo e, portanto, está sujeito ao princípio da anterioridade tributária. (1ª Turma. RE 564225 AgR/RS,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/9/2014 (Info 757) Vencidos os min. Toffoli e Weber. Para eles, a
revogação de benefício fiscal não configura aumento de imposto, portanto, não precisaria respeitar o
princípio da anterioridade. NÃO. A revisão ou revogação de benefício fiscal, por se tratar de questão

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vinculada à política econômica, que pode ser revista pelo Estado a qualquer momento, não está adstrita
à observância das regras de anterioridade tributária. (2ª Turma, RE 617389). Questão pendente no Pleno.

Vedação às isenções heterônomas – art. 151,III,CF: é vedado à União (...): “instituir isenções de tributos da
competência dos Estados, do DF ou dos Municípios”). Exceções expressas: - Art. 155, § 2º, XII, e, CF: A
União pode, por LC, conceder isenção heterônoma do ICMS incidente nas operações com serviços e outros
produtos destinados ao exterior. A partir da EC 42/2003, esta exceção perdeu a utilidade, uma vez que tal
emenda estendeu tal isenção (rectius, imunidade) a todas as operações que destinem bens e serviços para
o exterior. -Art. 156, § 3º, II, CF: A União pode, por LC, conceder isenção heterônoma do ISS nas
exportações de serviços para o exterior. Exceção implícita (jurisprudência do STF): tratado internacional
pode conceder isenções de tributos estaduais e municipais, porque o PR, quando firma tratados, age como
Chefe de Estado e não em nome da União. STJ Súm 178 “INSS não goza de isenção de custas e
emolumentos, nas ações acidentárias e de benefícios propostas na Justiça Estadual”..

A CF/88 traz outras 2 exceções à vedação de isenções heterônomas: a) o art. 155, §2º, XII, “e”, autoriza o
Poder Legislativo da União, por Lei complementar, a excluir da incidência do ICMS serviços e outros
produtos exportados para o exterior; b) o art. 156, § 3º, II, autoriza a União a editar lei complementar que
exclua da incidência do ISS as exportações de serviços para o exterior (implementada pela LC 116/03).

 ICMS: STF permitiu a concessão de isenção fiscal sem necessidade de convênio autorizativo, no
caso de isenção do ICMS nas contas de água, luz, telefone e gás utilizados por templo de qualquer
culto (não abrangido pela imunidade religiosa, haja vista o contribuinte de direito serem as
concessionárias). A situação não geraria guerra fiscal ou gerar risco ao pacto federativo (ADI 3421)

Imunidade recíproca ou intergovernamental (art. 150, VI, a, CF): é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios instituir impostos (não alcança taxas e contribuições – STF, RE-AgR 378144 e RE
364202) sobre o patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros (independentemente da finalidade).
A regra é extensiva (imunidade tributária recíproca extensiva) às autarquias e às fundações instituídas e
mantidas pelo Poder Público (§ 2º do art. 150), no que se refere ao patrimônio, renda ou serviços
vinculados a suas finalidades essenciais ou delas decorrentes.
Trata-se de cláusula pétrea, fundada no pacto federativo (ADI 939).
Imunidade de natureza subjetiva.
SÚMULA 583/STF: O promitente comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é
contribuinte do IPTU. Quanto às obrigações acessórias não estão quaisquer dos imunizados dela
exonerados (STF, RE 627051). (…) A imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, a, da Constituição, alcança
o IPTU que incidiria sobre os imóveis de propriedade da ECT e por ela utilizados. (STF, 2015).
• Somente impostos. A imunidade recíproca somente se aplica aos impostos, não impedindo, a título
de exemplo, que um Município institua taxa pela coleta domiciliar de lixo, cobrando-a, também, pelo
serviço prestado nas repartições públicas federais e estaduais localizadas em seu território.
• Abrange impostos indiretos: no RE 242827, o STF considerou imune ao ICMS a unidade
agroindustrial que, em virtude de desapropriação promovida pelo INCRA, passou a integrar seu acervo
patrimonial: a atividade exercida pelo Incra, autarquia federal, não se enquadra entre aquelas sujeitas ao
regime tributário próprio das empresas privadas, considerando que a eventual exploração de unidade
agroindustrial, desapropriada, em área de conflito social, está no âmbito de sua destinação social em setor
relevante para a vida nacional. A imunidade tributária só deixa de operar quando a natureza jurídica da
entidade estatal é de exploração de atividade econômica.
• Abrange patrimônio, renda ou serviços (jurisprudência: também aplicações financeiras).
• Não há imunidade: se o ente, direta ou indiretamente, explora atividades econômicas regidas pelas

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normas aplicáveis aos empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de


preços ou tarifas pelo usuário.
• Empresas públicas e sociedade de economia mista: quando prestadoras de serviços públicos de
prestação obrigatória e exclusiva do Estado, são abrangidas pela imunidade recíproca (RE 407099 - ECT e AC
1550 - Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia). Pode-se concluir, conforme entendimento de Sasha
Calmon Navarro Coelho, que a Corte, quanto ao alcance da imunidade tributária recíproca, já assentou que
não é restrita aos impostos incidentes sobre o patrimônio, a renda ou o serviço, senão que alcança todo e
qualquer imposto que possa comprometer o funcionamento do ente imune.
• Concessionárias de serviços públicos: se forem remuneradas apenas pelo Estado (ex: Parceria
Público Privada, na modalidade concessão administrativa), há imunidade. Se forem remuneradas também
pelo usuário, não há imunidade.
• Autarquias e Fundações: como exercem atividades típicas estatais, há imunidade, mas apenas no
que for vinculado às finalidade essenciais ou às delas decorrentes (art. 150, § 2, da CF).Parte da doutrina
denomina a regra de extensão de “imunidade tributária recíproca extensiva”.

Resumindo a tese esposada, o Supremo Tribunal Federal afirmou que, sem prejuízo da necessidade de
cumprimento de outros requisitos constitucionais e legais, a aplicabilidade da imunidade deve observar os
seguintes requisitos (denominados “estágios” pela Corte):

a. restringir-se à propriedade, bens e serviços utilizados na satisfação dos objetivos


institucionais imanentes do ente federado;

b. não beneficiar atividades de exploração econômica, destinadas primordialmente a aumentar


o patrimônio do Estado ou de particulares;

c. não deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princípios da livre concorrência e
do exercício de atividade profissional ou econômica lícita.

Casa da Moeda do Brasil (CMB) tem imunidade por se tratar de empresa pública federal dedicada à
execução de serviços públicos de emissão de moeda, outorgados por meio de lei pela União, a quem foi
constitucionalmente deferido, em regime de monopólio, o indigitado encargo (art. 21, VII, CF) (RE 610517)
* A delegação da execução de serviço público, mediante outorga legal, não implica alteração do regime
jurídico de direito público, que incide sobre referida atividade.
* Linha de entendimento adotada pelo STF para casos similares (ex: Correios, INFRAERO, CAERD e CODESP).

Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL) tem imunidade, pois se trata de entidade prestadora de
serviço público essencial de abastecimento de água e tratamento de esgoto, fora da livre exploração e
concorrência – é uma sociedade de economia mista, todavia o Estado de Alagoas detém sobre ela uma
participação acionária de 99%, revestindo-a de estatalidade (ACO 2243)

Foi também com base na imunidade recíproca que o Supremo Tribunal Federal proferiu algumas decisões
cujo conhecimento é fundamental para a compreensão da matéria.

a) os valores investidos pelos entes federados, bem como a renda auferida estão imunes ao
IOF e ao IR (STF, AI AgR 174808 e RE 196.415);

b) bens que integram patrimônio de ente federado são imunes, mesmo que estejam
ocupados pela empresa delegatária de serviços públicos (STF, 1.a T., RE 253394);
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c) a empresa privada que presta serviços de iluminação pública e é remunerada pelo


Município não é beneficiada pela imunidade, visto que paga o ICMS à Fazenda Estadual e
o inclui no preço do serviço disponibilizado ao usuário. Segundo o STF “a imunidade
tributária, no entanto, pressupõe a instituição de imposto incidente sobre serviço,
patrimônio ou renda do próprio Município” (STF, AC-MC 457);

d) A imunidade tributária recíproca diz respeito aos impostos, não alcançando as


contribuições (RE-AgR 378144) nem as taxas (RE 364202).

e) O serviço notarial e de registro é uma atividade estatal delegada, mas, por ser exercido
em caráter privado, não é imune à incidência do ISS (ADI 3089)

Ademais, o entendimento do STF somente abrange as entidades quando a mesma se encontra na posição
de contribuinte de direito, e não contribuinte de fato. Com base nesse entendimento, o STF negou o
pedido de um município que invocava direito a imunidade quanto ao ICMS incidente no fornecimento de
energia elétrica para iluminação pública, por estar o município na posição de contribuinte de fato, logo a
imunidade recíproca não beneficia o contribuinte de fato (AI-AgR 671412).

No RE-RG 599176, o Pleno do STF entendeu que a imunidade tributária recíproca não alcançaria a União
com relação aos créditos tributários constituídos em face de extinta RFFSA ao tempo em que houvera a
sucessão:

A imunidade tributária recíproca (CF, art. 150, VI, a) não afasta a responsabilidade
tributária por sucessão, na hipótese em que o sujeito passivo era contribuinte regular do
tributo devido. Com base nessa orientação, o Plenário deu provimento a recurso
extraordinário para reformar acórdão que considerara aplicável a imunidade recíproca a
débitos tributários da extinta Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), sucedida pela União.
No recurso extraordinário, discutia-se a aplicação da imunidade tributária recíproca de
créditos tributários já constituídos e transferidos à União por sucessão. (...) Registrou que,
com a liquidação da pessoa jurídica e com a já mencionada sucessão, a União se tornara
responsável tributária pelos créditos inadimplidos, nos termos dos arts. 130 e seguintes
do CTN. A Corte frisou que a regra constitucional da imunidade, por se destinar à
proteção específica do ente federado, seria inaplicável aos créditos tributários
constituídos legitimamente contra pessoas jurídicas dotadas de capacidade contributiva
e cuja tributação em nada afetaria o equilíbrio do pacto federativo. (...) Ressaltou que a
União não poderia se livrar da responsabilidade tributária ao alegar simplesmente que o
tributo seria devido por sociedade de economia mista, tampouco por sugerir a aplicação de
regra constitucional que protegeria a autonomia política de entes federados. Sublinhou
que a responsabilidade tributária dos sucessores protegeria o erário de um tipo de
inadimplência bastante específica, que seria o desaparecimento jurídico do contribuinte,
conjugado com a transferência integral ou parcial do patrimônio a outra pessoa jurídica.
Assim, a desconstituição da pessoa jurídica faria com que o crédito tributário não pudesse
mais ser exigido contra o contribuinte original, que deixaria de existir juridicamente.
Explicou que o patrimônio – material ou imaterial – transferido deveria garantir o crédito.
Salientou, por fim, que o sucessor, ainda que se tratasse de um ente federado, deveria
arcar com a dívida. (RE 599176 RG).

Por fim, a parte final do art. 150, § 3º, da CF tem o objetivo de impedir a utilização da imunidade recíproca
como mecanismo de elisão fiscal. Assim, se o Estado da Paraíba celebra compromisso irretratável de
compra e venda, o promitente comprador deve pagar os impostos incidentes sobre o imóvel (Súmula 583

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do STF: Promitente-Comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é contribuinte do


imposto predial territorial urbano).

CORREIOS
Não incide IPVA sobre os veículos automotores pertencentes à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
(ACO 879)
Não incide o ICMS sobre o serviço de transporte de bens e mercadorias realizado pela ECT (RE 627051).
* Imunidade pessoal e justificada pelo subsídio cruzado ao serviço público exclusivo da União
Não incide IPTU sobre os imóveis de propriedade da ECT, bem como os imóveis por ela utilizados (RE
773992)
* Não seria sequer aplicável o regime da imunidade prevista para a Administração Indireta, pois se trata de
serviço público de prestação obrigatória e exclusiva (RE-407099)

Imunidade Recíproca e Caixa de Assistência dos Advogados


A imunidade tributária recíproca aplicável à Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, quando atua no campo
próprio que lhe outorga a Constituição, não se estende às atividades sociais ou de assistência
desempenhada pelas respectivas Caixas de Assistência. Com base nesse entendimento, a Turma proveu
recurso extraordinário interposto pelo Município de Belo Horizonte contra acórdão do Tribunal de Justiça
do Estado de Minas Gerais que considerara imóvel da Caixa de Assistência dos Advogados dessa mesma
unidade federativa imune ao pagamento do IPTU. (RE-233843)
Decisões correlatas:

* proibição de cobrança do IOF nas operações financeiras realizadas pelos


Municípios ou Estados (RE 196.415 – STF)

* vedação da incidência do imposto de renda sobre os rendimentos auferidos pelas


pessoas públicas que gozam da imunidade recíproca (ADIMC 1758)

* declaração da inconstitucionalidade do art. 2º, §2º, da EC nº 3/93, que, entre


outras coisas, pretendeu excluir o IPMF da vedação ora tratada (ADI 939)

Decisões recentes do STF:

- A imunidade tributária prevista no art. 195, § 7º, da CF (§ 7º - São isentas de


contribuição para a seguridade social as entidades beneficente s de assistência
social que atendam às exigências estabelecidas em lei ), regulamentada pelo art. 55
da Lei 8.212/1991, abrange a contribuição para o PIS. (RE 636941)

- Os serviços prestados pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT


estão abrangidos pela imunidade recíproca (CF, art. 150, VI, a, e §§ 2º e 3º). (RE
601392)

- É inconstitucional a incidência da contribuição para PIS e Cofins não cumulativas


sobre os valores recebidos por empresa exportadora em razão da transferência a
terceiros de créditos de ICMS. Com base nesse entendimento, o Plenário, por
maioria, negou provimento a recurso extraordinário em que discutido se os valores
correspondentes à transferência de créditos de ICMS integrariam a base de cálculo
de contribuição para PIS e Cofins não cumulativas. Inicialmente, aduziu-se que a
apropriação de créditos de ICMS na aquisição de mercadorias teria suporte na
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técnica da não cumulatividade (CF, art. 155, § 2º, I), a fim de evitar que sua
incidência em cascata onerasse demasiadamente a atividade econômica e gerasse
distorções concorrenciais. Esclareceu-se, na sequência, que a não incidência e a
isenção nas operações de saída implicariam a anulação do crédito relativo às
operações anteriores. Destacou-se, contudo, que tratamento distinto seria
conferido no caso de exportações, uma vez que a Constituição concederia
imunidade a essas operações, bem como asseguraria a manutenção e o
aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações
anteriores (art. 155,§ 2º, X, a). Frisou-se que essa norma teria por finalidade
incentivar as exportações — ao desonerar as mercadorias nacionais do seu ônus
econômico, de maneira a permitir que empresas brasileiras exportassem produtos,
e não tributos —, mas não impedir a incidência cumulativa do ICMS. (RE 606107).

- É inconstitucional a incidência da contribuição para PIS e Cofins sobre a receita


decorrente da variação cambial positiva obtida nas operações de exportação.
Com base nessa orientação, o Plenário negou provimento a recurso extraordinário
no qual sustentada ofensa aos artigos 149, § 2º, I, e 150, § 6º, da CF, sob a alegação
de que a expressão contida no texto constitucional “receitas decorrentes de
exportação” não autorizaria interpretação extensiva a alcançar receita decorrente
de variação cambial positiva. Rememorou-se que o STF teria assentado que a
imunidade prevista no art. 149, § 2º, I, da CF somente tutelaria as receitas
decorrentes das operações de exportação, de modo a não alcançar o lucro das
empresas exportadoras. Isso porque se trataria de imunidade objetiva, concedida
às receitas advindas das operações de exportação, e não subjetiva, a tutelar as
empresas exportadoras, no que se refere ao seu lucro (RE 474132E 564413). (RE
6278153).

- A contribuição para o Finsocial, incidente sobre o faturamento das empresas,


não está abrangida pela imunidade objetiva prevista no art. 150, VI, d, da CF/88,
anterior art. 19, III, d, da Carta de 1967/69 (“Art. 150. Sem prejuízo de outras
garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: ... VI - instituir impostos sobre: ... d) livros, jornais,
periódicos e o papel destinado a sua impressão”). Reafirmou-se jurisprudência da
Corte no sentido de que a contribuição para o Finsocial possuiria natureza tributária
de imposto (de competência residual da União), incidente sobre o faturamento das
empresas. Caracterizar-se-ia como tributo pessoal e, desse modo, não levaria em
consideração a capacidade contributiva do comprador de livros, mas sim a do
vendedor. Assim, aduziu-se que a imunidade recairia sobre o livro (objeto
tributado) e não sobre o livreiro ou sobre a editora (RE 628122).

- A 1ª Turma, por maioria, negou provimento a recurso extraordinário em que


discutido se imóvel não edificado pertencente ao Serviço Social da Indústria - SESI
estaria alcançado pela imunidade tributária. Na espécie, reconheceu-se que, por ser
o recorrido entidade de direito privado, sem fins lucrativos, encaixar-se-ia na
hipótese do art. 150, VI, c, da CF e, por isso, estaria imune. Apontou-se que a
constatação de que imóvel vago ou sem edificação não seria suficiente, por si só,
para destituir a garantia constitucional da imunidade tributária. Ponderou-se que,
caso já tivesse sido deferido o status de imune ao contribuinte, o afastamento

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dessa imunidade somente poderia ocorrer mediante prova em contrário


produzida pela administração tributária. Asseverou-se não ser possível considerar
que determinado imóvel destinar-se-ia a finalidade diversa da exigida pelo
interesse público apenas pelo fato de, momentaneamente, estar sem edificação
ou ocupação. Assinalou-se que a qualquer momento poderia deixar sua condição
de imóvel vago. (RE 385091)

- A destinação do imóvel às finalidades essenciais da entidade deve ser


pressuposta no caso do Imposto de Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis -
ITBI, sob pena de não haver imunidade para esse tributo (...) § 4º - As vedações
expressas no inciso VI, alíneas ‘b’ e ‘c’, compreendem somente o patrimônio, a
renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas
mencionadas”]. (RE 470520)

- SÚMULA VINCULANTE 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece


imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art.
150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para
as quais tais entidades foram constituídas.

I. DIREITO AMBIENTAL

SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO


AMBIENTE.

4.1 Sistema Nacional do Meio Ambiente

O SISNAMA, é formado pelo conjunto de órgãos e instituições dos diversos níveis do Poder
Público, incumbidos da proteção ambiental e da implementação da Política Nacional do Meio
Ambiente - PNMA.

O antecedente do SISNAMA foi a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, que surgiu logo após a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano - Estocolmo, 1972. Foi a resposta
brasileira às pressões da comunidade internacional do momento.
4.1.1 Estrutura do SISNAMA

A estrutura político-administrativa está descrita no art. 6º da Lei 6.938/81, tendo a seguinte


disposição, sendo que, por ser um sistema nacional, não detém personalidade jurídica:

Órgão Superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na


formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos
ambientais.

Órgão Consultivo e deliberativo: Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, com a


finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas
governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua
competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado
e essencial à sadia qualidade de vida.

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Destaca-se sua competência normativa, editando normas complementares à lei - atuação secudum
legem. O Conselho é formado por representantes de cinco setores, a saber, órgãos federais, estaduais
e municipais, setor empresarial e sociedade civil.

As competências do CONAMA estão disciplinadas no art. 8o, da Lei 6.938/81, destacando-se sua
atribuição para o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, notadamente no que toca
ao licenciamento ambiental.

Avulta salientar a competência do CONAMA para revisão das penalidades aplicadas pelo IBAMA.
(Revogado pela L 11941)

Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente (antiga Secretaria do Meio Ambiente), a quem
incumbe planejar, coordenar, supervisionar e controlar a Política Nacional e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente.

Órgãos Executores: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais renováveis -
IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBIO. Ao Ibama
compete exercer o poder de polícia ambiental federal, executar ações da PNMA na esfera federal e
ações supletivas. Ao ICMBio compete a tarefa da conservação ambiental, mediante a gestão das
unidades de conservação federais.
Órgãos Seccionais: são órgãos ou entidades estaduais constituídos na forma da lei e por ela
incumbidos de preservar o meio ambiente, assegurar e melhorar a qualidade ambiental, controlar e
fiscalizar ações potencial ou efetivamente lesivas aos recursos naturais e à qualidade do meio.

Órgãos Locais: são órgãos ou entidades municipais incumbidos legalmente de exercer a gestão
ambiental no respectivo território e no âmbito de sua competência, na forma a lei.

4.1.2 SISNAMA e a gestão do meio ambiente

Deve-se entender que o SISNAMA, como um sistema, exercer a tutela ambiental por meio dos seus
órgãos executores federais (IBAMA e ICMBIO), estaduais e municipais, em compasso com as normas
legais e as regulamentares expedidas pelo CONAMA, sem embargo da administração ambiental
setorizada, tal como na área de recursos hídricos, a ser realizada por órgãos específicos criados para
tal fim (Sistema Nacional de Recursos Hídricos).

4.2 Política nacional do meio ambiente - PNMA

Trata-se das diretrizes gerais estabelecidas na lei que têm o objetivo de harmonizar e de integrar
as politicas públicas de meio ambiente dos entes federados, procurando torná-las mais efetiva,
por meio de instrumentos tratados na própria lei, tendo como vetor a promocao do desenvolvimento
sustentável.

4.2.1 Dos princípios e objetivos

O art. 2º da Lei 6.938/81 traz uma série de princípios, formatados mais como objetivos ou metas a
serem alcancados por meio da PNMA, saber:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como
um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

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VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos
recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando
capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.
Tais príncipios, como concernentes à política de governo, não se confundem aqueles mais amplos e
ditados como vetores do Direito Ambiental como ciência, como o da precaução na seara ambiental.

Já o art. 4º elucida de forma mais precisa os objetivos a serem alcançados pela PNMA, sem se descurar
dos objetivos gerais, nos ditames do art. 2o, a saber: preservar e melhorar a qualidade ambietal para
as presentes e futuras gerações.
I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade
do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao
equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios;
III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas
relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso
racional de recursos ambientais;
V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e
informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de
preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional
e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico
propício à vida;
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar
os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos
ambientais com fins econômicos.
Atenção ao art. 4o, VII, da Lei, o qual elucida a necessidade de responsabilzação tanto do poluidor
quanto do usuário dos recursos ambientais para fins lucrativos, para este última na forma de
contribuição.

4.2.2 Dos conceitos

Há vários conceitos na lei de Política Ambiental, que se encontram no art. 3º, a saber:
I - meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio
ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem
condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a
biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente e) lancem
matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV - poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

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V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os


estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora
Cabe ressaltar a distinção feita pela lei entre degradação e poluição, nos incisos II e III, do dispositivo,
tratando o diploma a poluição como uma forma qualificada de degradação.

4.2.3 Dos instrumentos da PNMA (art. 9°)

São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:


I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
Frederico Amado preceitua que estados, DF e municípios também poderão fixar padrões de qualidade
ambiental, comumente, mais restritivos. Defende que, a princípio, inexiste conflito quando as
normas estaduais e municipais são mais restritivas que as federais, desde que não invadam a
competência privativa de outros entes. Os padrões, nada mais são do que a definição de níveis de
poluição e da tecnologia a ser utilizada para a sua mitigação, sendo atribuicao do CONAMA estabalecer
tais limitacões.
II - o zoneamento ambiental;
III - a avaliação de impactos ambientais;
IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou poten. poluidoras;
V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia,
voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
Tal previsão tem encontrado grande eco, atualmente, por força dos processos de certificação da ISO
9.000 e ISO 14.000. O objetivo deste instrumento é fazer com que o Poder Público estimule a adoção e
práticas ecologicamente corretas por meio de incentivos fiscais ou econômicos. desdobramento do
princípio do protetor-recebedor, efetivado por meio das chamadas sanções premiais. É o caso da
isenção de ITR para imóveis transformados em espaço especialmente protegido.
VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal,
estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e
reservas extrativistas
VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
Visa fortalecer o processo de criação, sistematização, análise de informações, estatísticas e
indicadores ambientais (relacionado aos princípios da obrigatoriedade da intervenção estatal, da
informação e da participação democrática). Faz parte da estrutura do IBAMA, no âmbito do CNIA -
Centro Nacional de Informação Ambiental. À União compete organizá-lo e mantê-lo (LC
140/2011).Além disso, o novo Código Florestal instituiu o Cadastro Ambiental Rural – CAR,
obrigatório para todos os imóveis rurais, para registros de posse e propriedades rurais.
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;
Registro, com caráter obrigatório, de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam à consultoria técnica
sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e
instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. É
administrado pelo IBAMA, nos termos do artigo 17, I da Lei 6.938/81.
IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental
X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;

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Este item não tem sido cumprido sistematicamente, mas vale ressaltar a importância do Relatório
lançado pelo IBAMA denominado GEO BRASIL 2002 - Perspectivas do meio ambiente no Brasil.
XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder
Público a produzi-las, quando inexistentes;
Apesar do não cumprimento do encargo pelo Poder Público, a Lei 10.650/03 dispõe sobre o a acesso
público aos dados e informações existentes no SISNAMA.
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos
recursos ambientais.
Também em pleno funcionamento por parte do IBAMA, que o administra, nos termos do artigo 17, II, e
inclusive cobra uma taxa anual para tal fim, nos termos da Lei 10.165/00 (TCFA).

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro


ambiental e outros.
Os instrumentos econômicos concretizam os princípios do poluidor-pagador e do protetor recebedor.
O seguro ambiental ainda não foi regulamentado; a concessão florestal está no CFlo e a servidão
ambiental na L 6938.

4.2.3.1 Servidão Ambiental (art. 9-A)


O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou
particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o
uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos
ambientais existentes, instituindo servidão ambiental.

A servidão ambiental não se aplica às APPs e à Reserva Legal mínima exigida.

A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser, no mínimo, a
mesma estabelecida para a Reserva Legal, inclusive em relação aos percentuais.

Pode ser negociada com outros proprietários ou possuidores para compensar áreas com proteção
ambiental deficitária, ou com proprietário ou entidade pública ou privada que tenha a conservação
ambiental como fim social.

O instrumento de instituição da servidão ambiental e o eventual contrato de alienação, cessão ou


transferência devem ser objeto de averbação na matrícula do imóvel.

É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da destinação da área, nos casos
de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites do imóvel.

A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária (prazo mínimo de 15 anos) ou
perpétua.

É dever do proprietário do imóvel serviente, entre outras obrigações, manter a área sob servidão
ambiental e defender a posse da área serviente, por todos os meios em direito admitidos.

É dever do detentor da servidão ambiental, entre outras obrigações, defender judicialmente a


servidão ambiental.

4.2.3.2 Incentivos Governamentais (art. 12)


Instrumento econômico para induzir comportamentos ambientalmente recomendados. Condiciona a
concessão de incentivos e financiamentos públicos à comprovação de licenciamento ambiental e ao
cumprimento das normas vigentes. Segue os “Princípios do Equador”.
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Atento a isso, o Novo Código Florestal (art. 78-A) prevê que “após cinco anos da data da publicação
desta lei, as instituições financeiras só concederão créditos agrícola, em qualquer de suas
modalidades, para proprietários de imóveis rurais que estejam inscritos no CAR(...).”

4.2.4 Taxa de controle e fiscalização ambiental


A Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA tem como fato gerador o exercício regular do
poder de polícia conferido ao IBAMA para controle e fiscalização das atividades potencialmente
poluidoras e utilizadoras de recursos naturais."
O STF, no que diz respeito à natureza jurídica da TCFA, por ocasião do julgamento do RE
416601, decidiu que a hipótese de incidência da taxa em destaque decorre da fiscalização de
atividades poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais, ou seja, remunera o exercício do
poder de polícia do Estado exercido pelo IBAMA. A forma simplificada de tributação
(SIMPLES) engloba o recolhimento exclusivo de tributos e contribuições expressamente
elencados na Lei 9.317/96 e LC 123/06. Não se revela possível abranger no sistema de
arrecadação diferenciado, por ausência de previsão legal, a TCFA ... (REsp 1242940)

O STF já se manifestou pela constitucionalidade da referida Taxa (RE 361009 RJ).

Rememore-se a possibilidade de instituição de taxas estaduais e municipais com o mesmo objetivo. De


acordo com o art. 17-P da Lei 6.938/81, parte do montante efetivamente pago pelo
empreendedor ao Estado ou ao Município constitui crédito para compensação com o valor
devido a título de TCFA (federal).

J. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO

PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS. DECLARAÇÃO UNIVERSAL


DOS DIREITOS HUMANOS. DIREITOS CIVIS, POLÍTICOS, ECONÔMICOS E
CULTURAIS. MECANISMOS DE IMPLEMENTAÇÃO. NOÇÕES GERAIS.

Proteção Internacional dos Direitos Humanos


Precedentes históricos
Até a fundação das Nações Unidas (1945), não havia no DIP preocupação consciente e organizada
sobre o tema dos direitos humanos. Havia alguns textos esparsos para proteger minorias dentro do
contexto da sucessão de Estados, além da proteção humanitária em caso de guerra (Rezek).
O direito humanitário é o precedente histórico mais concreto do atual sistema internacional de
proteção dos direitos humanos. Regulamento: Convenção de Genebra (1830). Aplica-se em caso de
guerra, mesmo que interna. Busca reduzir o impacto dos conflitos armados na dignidade da pessoa
humana, regulando a proteção jurídica mínima e a assistência às vítimas dos conflitos (militares fora
de combate e civis). Aplica-se independentemente do motivo para o conflito.
O direito humanitário, a Liga das Nações e a OIT são os primeiros marcos de internacionalização dos
direitos humanos. O moderno DIDH é um fenômeno pós-guerra. Surge da necessidade de se evitar
novas atrocidades cometidas pelos regimes totalitários e conflitos armados do período (Flávia
Piovesan).
A criação do Tribunal de Nuremberg – com competência material para julgar crimes do regime nazista
– e a criação da ONU foram instrumentais para a internacionalização dos direitos humanos.
Terminologia

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Conforme Bobbio, os direitos humanos nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se
como direitos positivos particulares (quando cada Constituição incorpora uma Declaração) para
finalmente encontrar a plena realização como direitos positivos universais (Flávia Piovesan).
a) Direitos do homem: conotação jusnaturalista;
b) Direitos fundamentais: direitos do cidadão positivados na constituição de um país (podem ser
extensíveis a não cidadãos);
c) Direitos humanos: direitos positivados em tratados ou costumes internacionais.
A CF/88 foi técnica na utilização destes termos: art. 5º, § 1º, refere-se a direitos fundamentais; art. 5º,
§ 3º, refere-se a direitos humanos; e, quando quis abranger ambos, mencionou apenas “direitos e
garantias”, sem qualificar (art. 5º, § 2º).
GERAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS
1ª Geração: Liberdade. Abrange os direitos de defesa, a proteção do indivíduo contra a indevida
intervenção do Estado. Delimitam o espaço de liberdade do sujeito e estruturam o modo de
organização do Estado e do seu poder. Direitos civis e políticos. Marco histórico: revoluções liberais
do séc. XVIII, na Europa e nos EUA. Além do tradicional papel passivo, o Poder Público também deve
agir para garantir, entre outros, a segurança pública e a administração da justiça. Na pós-
modernidade, ampliou-se este conceito para proteger, também, o indivíduo em relação a outros
indivíduos (eficácia horizontal). No Brasil, prevalece a tese da eficácia direta e imediata dos direitos
fundamentais nas relações privadas.
2ª Geração: Igualdade (lato senso): em estrito senso, os direitos sociais, econômicos e culturais
individuais. Em sentido lato, engloba os direitos coletivos ou de coletividades introduzidos no
constitucionalismo do estado social de concepção marcadamente antiliberal. Exigem papel ativo do
Estado. Ex: direito à saúde, educação, previdência social. São direitos programáticos (de eficácia
limitada), como no caso da CF, art. 205. Mas a compreensão de que tais direitos têm eficácia limitada
deve ser vista com cautela. Apesar de o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais (PIDESC) mencionar a realização progressiva dos direitos sociais, o seu Protocolo
Facultativo, de 2008 – ainda não ratificado pelo Brasil –, reforçou a exigibilidade de tais direitos,
equiparando-os, segundo ACR, ao regime jurídico internacional dos direitos civis e políticos.
3ª Geração: Fraternidade/Solidariedade: estabelecem uma plataforma emancipatória para a
sociedade internacional. Caráter transindividual. Ex: meio ambiente saudável, preservação do
patrimônio comum da humanidade.
4ª Geração: Direitos pós-modernos (Paulo Bonavides): direitos ligados à globalização e à formação de
um mundo em que as fronteiras nacionais são menos identificadas, ressaltando os valores como a
democracia, o pluralismo, o direito à informação, etc.
5ª Geração: Bonavides cita um direito extremamente amplo, mas essencial: a paz em toda a
humanidade (obs.: na teoria original das gerações, de Karel Vasak, a paz entraria na 3ª geração –
solidariedade/fraternidade).
Críticas às gerações de direitos:
a) Não-correspondência entre as gerações de direitos e o processo histórico de efetivação dos direitos
humanos. Ex: em 1919, nasceu a OIT, que cuidou dos direitos sociais. Em 1966, os pactos de Nova
Iorque cuidaram dos direitos de 1ª geração.
b) Se as gerações de direitos humanos induzem a ideia de sucessão, a realidade histórica aponta para
a concomitância dos mesmos. Esta ideia de sucessão leva a uma hierarquização dos direitos, o que não
corresponde à realidade. A Declaração Universal de 1948 veio acabar com a ideia de sucessão.
c) A teoria geracional apresenta os direitos humanos de forma fragmentada, ofensiva ao princípio da
indivisibilidade. Tal crítica vale, igualmente, para a teoria que substitui o termo “gerações” por
“dimensões”.
PRINCIPIOS BASILARES DOS DIREITOS HUMANOS
1) Inviolabilidade da pessoa humana: a obtenção de benefícios por algumas pessoas não legitima a
imposição de sacrifícios a outras – o ser humano como fim em si mesmo;

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2) Autonomia da pessoa: toda pessoa é livre para a realização de qualquer conduta, desde que seus
atos não prejudiquem terceiros;
3) Dignidade da pessoa: verdadeiro núcleo-fonte de todos os demais direitos fundamentais do
cidadão, todas as pessoas devem ser tratadas e julgadas de acordo com os seus atos, e não em relação
a outras propriedades suas.
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS:
a) Historicidade: construídos ao longo do tempo, o que tende a excluir dos “direitos naturais” o seu
fundamento de validade;
b) Universalidade: basta ser pessoa humana para poder invocar a proteção destes direitos;
c) Essencialidade: tanto em razão da prevalência da dignidade da pessoa humana (conteúdo material),
como pela sua especial posição normativa (conteúdo formal);
d) Irrenunciabilidade: a autorização de seu titular não convalida toda sorte de violação do seu
conteúdo;
e) Inalienabilidade: não podem ser transferidos pelo titular, onerosa ou gratuitamente, apesar de
poderem, em determinadas situações, sofrer limitação voluntária, como nas questões ligadas ao uso
da imagem;
f) Inexauribilidade: podem sempre ser expandidos, a eles podendo ser acrescidos novos direitos;
g) Imprescritibilidade: o seu não exercício não implica a sua perda;
h) Vedação do retrocesso: os Estados estão proibidos de proteger menos do que já protegem, assim
como os tratados internacionais por eles concluídos estão impedidos de impor restrições que
diminuam ou nulifiquem direitos anteriormente já assegurados, tanto no plano interno, quanto no
internacional;
i) Transnacionalidade: Fundamenta a parcial superação do postulado da não intervenção em Estados
que não garantam seu respeito. Justifica a proteção onde quer que o indivíduo esteja, abrangendo,
pois, os apátridas e refugiados;
j) Indivisibilidade, interdependência e complementaridade: todos os direitos humanos gozam de
fundamental importância, não havendo prévia diferença de valor entre eles. A dignidade da pessoa
humana, ademais, somente pode ser alcançada com a conjugação de todos;
k) Primazia da norma mais favorável: não podem ser usados para enfraquecer outros direitos
previstos na ordem interna ou costumes.
PRECEDENTES HISTÓRICOS - três grandes marcos históricos:
1) Direito Humanitário: é o precedente histórico mais concreto do atual sistema internacional de
proteção dos DH. É o direito de guerra, também conhecido como ética de guerra. Proteção
humanitária: advém da Convenção de Genebra (1830). Aplica-se em caso de guerra, mesmo que
interna. Busca reduzir o impacto dos conflitos armados na dignidade da pessoa humana, regulando a
proteção jurídica mínima e a assistência às vítimas dos conflitos (militares fora de combate, civis).
Preocupa-se em regular os aspectos humanitários do conflito, aplicando-se às partes beligerantes
independentemente do motivo para o conflito ou se a causa defendida por uma das partes é justa (jus
in bello). Diferente do jus ad bellum (direito do uso da força).
2) Liga das Nações: Existe desde 1920. Formada pelo movimento dos aliados no pós 1ª guerra
mundial (1914-1917). Transforma-se na ONU em 1945.
3) Organização Internacional do Trabalho – OIT (1919/20). Antes se chamava Escritório Internacional
do Trabalho. O termo “organização” vem em 1946, com a Convenção da Filadélfia. É o precedente mais
importante, pois visualiza o sujeito de direito: gestante, criança, trabalhador estrangeiro etc. Protege
os direitos humanos para além do domínio estatal.
CONTRIBUIÇÕES DOS PRECEDENTES HISTÓRICOS PARA OS DIREITOS HUMANOS
1) Flexibilização do conceito tradicional de soberania: os Estados assumem compromissos na ordem
internacional versando sobre a temática dos direitos humanos, assentindo, por exemplo, com a
observância de certas recomendações da OIT – relativa limitação da soberania.

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2) Mudança de agenda externa dos governos, com uma crescente preocupação com os direitos
humanos, e não apenas com questões econômicas.
3) Indivíduo passa a ser sujeito de direito internacional público: o Direito Internacional vai,
paulatinamente, passando a aceitar a participação ativa (petições das vítimas comunicando ofensas a
direitos humanos) e a legitimidade passiva (possibilidade de responsabilização criminal, perante
tribunal internacional, por ofensa a crimes de guerra, contra a humanidade, genocídio) dos indivíduos
no plano internacional.

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)


FUNDAMENTO: dignidade da pessoa humana; a única condição para o exercício dos direitos e
liberdades nela proclamados é o nascimento do ser humano com vida.
OBJETIVOS: a) romper com a lógica da 2ª guerra mundial, que imperava durante o período do
holocausto b) positivar o que se entende por direitos humanos e liberdades do artigo 55, letra “c”, da
Carta das Nações Unidas.
ESTRUTURA: simétrica e dividida em duas partes. A Declaração não viveu a época dos direitos da
fraternidade – que apareceram no séc. XX, por isso não tratou deles, tampouco dos de 4ª ou 5ª
gerações.
NATUREZA JURIDICA: é controvertida, há 4 correntes: a) norma de soft law (direito plástico e
maleável); b) recomendação aos Estados, do ponto de vista material; c) resolução da ONU, do ponto de
vista formal; d) Resolução não é Tratado, mas tem força de tratado, pois é uma extensão da Carta da
ONU (daí porque não é soft law, mas hard law), segundo Mazzuoli. Interpretação autorizada da
expressão “direitos humanos”, constante da Carta das Nações Únidas, apresentando por este motivo,
força jurídica vinculante.
JUS COGENS - norma cogente de direito internacional. Tem força vinculante, apesar de não ser tratado.
É norma imperativa mesmo para os Estados que não a assinaram. É uma carta de princípios que
integra a Carta da ONU, interpretação autêntica em matéria de direitos humanos. Para Piovesan,
transformou-se em direito costumeiro internacional e princípio geral do Direito Internacional.
CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS - Havia a preocupação de a
Declaração de 1948 cair no esquecimento, pelo que estabeleceu-se que de tempos em tempos
deveriam ser feitas conferências internacionais para reanimá-la. Já foram feitas 2 conferências
internacionais: Teerã (1968), foi inexpressiva. Viena (1993), importante, trouxe grandes novidades:
novos princípios de direitos humanos; deixou expresso que a Declaração é norma imperativa do
direito internacional geral, jus cogens.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) é o marco mais importante no estudo dos
direitos do homem. Outros: Declaração Inglesa de 1689; Declaração norte-americana de
independência de 1778; Declaração francesa sobre os direitos do homem e do cidadão de 1789.

Impacto da Declaração Universal no Direito Interno e Internacional


a) no Direito Interno: serve de inspiração para várias Constituições. Ex: CF/88: art. 1º, II: cidadania;
art. 1º, III: dignidade da pessoa humana; art. 4º, II: prevalência dos direitos humanos.
b) no Direito Internacional: serve de paradigma e referencial ético para conclusão de inúmeros
tratados internacionais de direitos humanos, tanto no âmbito do sistema global quanto no âmbito do
sistema regional interamericano.

Relativismo e Universalismo Cultural


As normas de direitos humanos têm alcance em sentido universal ou são culturalmente relativas?
Teoria Relativista: A noção de direito está estritamente relacionada ao sistema político, econômico,
cultural, social e moral vigente em determinada sociedade. Cada cultura possui seu próprio discurso
acerca dos direitos fundamentais, que está relacionado às específicas circunstâncias culturais e
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históricas de cada sociedade. Não há moral universal. Há o primado do coletivismo, isto é, o ponto de
partida é a coletividade, e o indivíduo é percebido como parte integrante da sociedade (Piovesan).
Defendida pelos países islâmicos, mulçumanos e a China. A pretensão de universalidade simboliza
arrogância do imperialismo cultural ocidental. Ex: mutilação clitoriana.
Teoria Universalista: os direitos humanos são universais, devem prevalecer em relação às condições
regionais, culturais, políticas ou econômicas de determinado Estado.
Essas teorias foram positivadas, no cenário internacional, na Conferência de Viena de 1993. O § 5º da
Declaração e Programa da Convenção de Viena (1993) traz os princípios de direitos humanos e as
regras do relativismo e do universalismo cultural.
Para Piovesan, com fulcro na lição de Jack Donnelly, pode-se concluir que dita Convenção acolheu a
corrente do forte universalismo ou fraco relativismo cultural. Determina que “embora
particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração (...) é dever dos Estados
promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus
sistemas políticos, econômicos e culturais”.
Para Boaventura de Souza Santos, “os direitos humanos têm que se reconceptualizados como
multiculturais”. Todas culturas possuem concepções distintas de dignidade humana, mas são
incompletas. Assim é necessário um diálogo intercultural para uma construção de uma concepção
cosmopolita.
Joaquin Herrera Flores sustenta um universalismo de confluência, ou seja, um universalismo de
ponto de chegada, não de ponto de partida.

Os Novos Princípios de Direitos Humanos


Estabelecidos na Convenção de Viena de 1993, pela “Declaração e Programa de Ação de Viena”:
1- Princípio da Universalidade
2- Princípio da Indivisibilidade
3- Princípio da Interdependência: corolário lógico da indivisibilidade, significa que os direitos sociais e
liberais se completam, não se excluem.
4- Princípio da Interrelacionariedade: os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos
(global e regionais) estão aptos a proteger o cidadão independentemente do sistema político,
econômico ou cultural do seu Estado de origem. Havendo violação dos direitos humanos, a vítima
pode escolher o aparato mais benéfico para satisfação de seu interesse, dentro dos sistemas global e
regional dos direitos humanos. Assim, ora pode escolher um dispositivo do sistema global, ora um
dispositivo do sistema regional, de acordo com a sua necessidade concreta.

Mecanismos de implementação
Paralelo do Sistema Global e do Sistema Regional Interamericano
Dois sistemas internacionais de direitos humanos têm particular interesse para o Brasil: o global
(ONU) e o regional interamericano. Nos dois sistemas existem tratados de caráter geral e de caráter
específico.
Os primeiros são aqueles que valem indistintamente para todas as pessoas ou categorias de pessoas,
ex: Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, Pacto Internacional de Direitos Econômicos e
Sociais, Convenções para prevenir e reprimir a tortura, o genocídio, o racismo etc. Os segundos
(caráter específico) são aqueles que atingem apenas determinada categoria de pessoas, por exemplo
as mulheres, crianças, adolescentes, portadores de deficiência, idosos etc.

Sistema global
CARTA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS (INTERNATIONAL BILL OF RIGHTS): instrumento
costumeiro (common law). É junção de vários documentos internacionais: Carta da ONU + Declaração

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de 1948 + 2 Pactos de NY (1966 – Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos não trouxe os instrumentos processuais necessários
para a efetivação dos direitos humanos, tanto nos tribunais internacionais, como nos internos. O
processo de universalização dos direitos humanos traz em si a necessidade de implementação desses
direitos, mediante a criação de uma sistemática internacional de monitoramento e controle
(international accountability) Estes instrumentos foram apresentados com os Pactos de Nova Iorque
(2 pactos, por uma questão didática).

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP)


Cuida dos direitos de 1ª geração. Direitos civis e políticos que devem ser assegurados de plano pelo
Estado – autoaplicabilidade, na concepção do Pacto. Sistemática de monitoramento e realização
internacional desses direitos: obrigação dos Estados de enviar, periodicamente, relatórios (reports)
sobre medidas administrativas, legais e judiciais adotadas com vistas ao seu cumprimento. Os
relatórios são examinados pelo Comitê de Direitos Humanos (criado pelo PIDCP), o qual tece
comentários e os encaminha ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, que fará seus
próprios relatórios. Há, também, a sistemática das comunicações interestatais (inter-state
communications), pela qual um Estado-parte denuncia outro ao Comitê por suposta ofensa a direito
humano (para isso, os Estados denunciante e denunciado devem ter reconhecido, em declaração
separada, essa competência do Comitê). O procedimento das comunicações interestatais pressupõe o
fracasso das negociações bilaterais e o esgotamento dos recursos internos. A função do Comitê é
auxiliar na superação da disputa, mediante proposta de solução amistosa.
Protocolo Facultativo ao PIDCP: possibilidade de as vítimas peticionarem ao Comitê, desde que o
Estado tido como violador tenha ratificado esse protocolo facultativo. Requisitos das petições das
vítimas: esgotamento prévio dos recursos internos e inexistência de litispendência internacional. Um
indivíduo apenas poderá ser considerado vítima se pessoalmente sofreu a violação de direito
consagrado pelo Pacto. O Comitê não se atém apenas a declarar a violação ao Pacto, como também
determina a obrigação de repará-la e adotar medidas para assegurar observância ao Pacto. Contudo, a
decisão não tem efeito vinculante e não há sanção jurídica, apenas política (constrangimento político e
moral) ao Estado violador (power of embarassment). Aprovado no Brasil pelo Decreto Leg. 311/09.

Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC)


Reconheceu os direitos sociais em sentido amplo como de realização progressiva, devendo os Estados
dispor do máximo dos recursos disponíveis para a sua efetivação. Obrigação de sua promoção e, uma
vez conquistados, estão protegidos pela vedação do retrocesso.
Protocolo Facultativo ao PIDESC: aprovado em 2008 pela Assembleia Geral da ONU. O Brasil ainda não
o ratificou. O PIDESC previa apenas o mecanismo de informes gerais, com encaminhamento de
relatórios periódicos, pelos Estados-partes, ao Secretário-Geral da ONU; análise dos relatórios pelo
Conselho Econômico e Social (o Conselho, por resolução, criou o Comitê de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais para fazer essa análise). Este Protocolo Facultativo veio contribuir para a efetivação
dos direitos sociais em sentido amplo, com a incorporação: a) do sistema de petições (comunicação,
pelas vítimas, de violações de direitos, a qual não será admitida se: não submetida ao Comitê até um
ano após o esgotamento dos recursos internos; houver litispendência internacional; os fatos forem
anteriores à entrada em vigor do protocolo para o Estado-parte; for anônima); b) do procedimento de
investigação (visita ao território, com o consentimento do Estado-parte); e c) medidas
provisionais/cautelares.
O comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais tem enfatizado o dever de os Estados-partes
assegurarem, ao menos, o núcleo essencial mínimo. Para a implementação dos direitos sociais, o
Comitê adota os seguintes critérios: a) acessibilidade; b) disponibilidade; c) adequação; d) qualidade;
e) aceitabilidade cultural.
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Há crítica doutrinária no sentido de que a não acionabilidade dos direitos sociais é ideológica e não
científica. Na prática, as violações de direitos civis e políticos são consideradas mais sérias e
intoleráveis pela comunidade internacional.
No âmbito do Sistema Global de Proteção Interacional dos Direitos Humanos, existem outras
convenções (Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial; Eliminação de todas as formas de
Discriminação contra a Mulher, contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos
ou Degradantes, sobre os direitos da Criança, sobre a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores
Migrantes e dos Membros de suas famílias, sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência). Tal como
os Pactos, existem Comitês, geralmente instituídos por protocolo facultativo, que analisam as
alegações de violação às normas internacionais, desde que o Estado aceite se submeter à autoridade
do Comitê.

Vantagens dos sistemas regionais em relação ao sistemaglobal: refletem com maior autenticidade
as peculiaridades e os valores históricos de povos de uma determinada região, resultando em
aceitação mais espontânea; maior potencialidade de pressão em face dos Estados vizinhos, em caso de
violação.
Complementaridade do sistema global com o regional: o propósito da coexistência de vários
instrumentos garantidores dos mesmos direitos é ampliar e fortalecer a proteção. Aplicação do
critério da primazia da norma mais favorável às pessoas protegidas. Maior coordenação vertical
(tratados x direito interno), quanto horizontal (dois ou mais tratados) (Piovesan).

Sistema americano
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (Pacto de São José da Costa Rica – 1969)
Apenas em 1978 entrou em vigor no plano internacional e em 1992 entrou em vigor no plano interno.
É composto de duas partes: Parte 1: elenca grande rol de direitos civis e políticos (direito à vida, à
liberdade, a julgamento justo, proibição de escravidão, tortura, liberdade de consciência, crença,
direito a um nome, a uma nacionalidade etc.). Parte 2: elenca os meios processuais que garantem os
direitos elencados na parte 1. Não possui normas programáticas, embora exista previsão genérica
acerca da criação destes direitos (art. 26), o que foi concretizado com o Protocolo de San Salvador.
Previu 2 órgãos principais: Comissão Interamericana de Direitos Humanos (sede em Washington) e a
Corte Interamericana (sede em San Jose da Costa Rica).
Comissão: alcança todos os Estados-partes, em relação aos direitos humanos nela consagrados, bem
como todos os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos em relação aos direitos
consagrados na Declaração Americana de 1948.
Atribuições: recomendações, estudos e relatórios, solicitar aos governos informações quanto às
medidas adotadas pelos governos, submissão de relatório anual à Assembleia-Geral da OEA, exame de
denúncias de violação a direito consagrado pela Comissão (o Estado, ao se tornar parte da Convenção,
aceita automaticamente esta competência da Convenção).
Funções: a) conciliadora entre governo e grupos; b) assessora, aos governos; c) crítica, ao informar
sobre a situação dos direitos humanos em dado Estado; d) legitimadora, quando o governo acata suas
orientações; promotora, ao efetuar Estudos; e) protetora, quando intervém em casos urgentes.
Procedimento da Comissão ao receber a denúncia: a petição é admitida se houve o prévio
esgotamento dos recursos internos (exceto demora injustificada ou ausência de previsão doméstica
do devido processo legal) e inexistência de litispendência internacional. Se admitida, há solicitação de
informações ao Governo. Após a resposta ou decurso do prazo, a Comissão verifica se subsistem os
motivos que deram ensejo à denúncia. Caso não haja arquivamento, passa-se à investigação. Após,
tenta-se a solução amistosa. Em caso de acordo, elabora-se informe, com breve exposição dos fatos e
solução alcançada. Caso não haja acordo, elabora-se relatório com conclusões e recomendações ao
Estado-parte, caso tenha havido violação à Convenção. O Estado-parte possui (03) três meses para
conferir cumprimento às recomendações. Neste período, pode haver solução consensual ou
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encaminhamento à Corte Interamericana – este apenas poderá ser feito pela Comissão ou Estado-
parte. Não há direito de petição direta do indivíduo à Corte. Para submissão à Corte é necessária
prévia anuência do Estado-parte, ainda que seja apenas para aceitar a jurisdição da Corte quanto a um
caso específico (Piovesan).

Corte Interamericana de Direitos Humanos


Membros: 07 (sete) juízes nacionais dos Estados-membros, eleitos a título pessoal.
Competência: a) consultiva – qualquer membro da OEA (parte ou não do Pacto) pode solicitar o
parecer da Corte em relação à interpretação da Convenção ou outro tratado relativo a direitos
humanos; pode ainda opinar sobre a compatibilidade entre o direito internacional e a legislação
doméstica (“controle de convencional idade das leis”); até junho de 2012, a Corte emitiu 20 (vinte)
opiniões consultivas. Exemplos: impossibilidade da pena de morte na Guatemala, violação da
Convenção ao exigir diploma de jornalista na Costa Rica. B) contenciosa – apenas os Estados-parte e a
Comissão podem submeter um caso à Corte. A decisão da Corte tem força jurídica vinculante e
obrigatória (é título executivo a ser executado no Estado-membro). O Brasil reconheceu a
competência da Corte, por meio do Decreto Legislativo n. 89, de 3 de dezembro de 1998).

A CR de 1988 e os direitos humanos


Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes a emendas constitucionais.
Incongruências do § 3º do art. 5º da CF:
1) Existem tratados que dão as grandes linhas de uma situação jurídica (Umbrella Treaty ou
Framework Treaty). Com base neles, se estabelecem protocolos, convenções, mais específicos. O § 3º
permite que se aprove tratado acessório com o caráter de emenda constitucional, enquanto o tratado
principal permanece como lei ordinária.
2) Úso da expressão “aprovados”. Fases de um tratado: assinatura; referendo do CN, aprovação;
ratificação; promulgação e publicação no DOU. Como se aprova na 2ª fase, como tal poderia ser
emenda, se ainda não passou pelas outras duas fases? Mazzuoli sugere uma 5ª fase de aprovação pelo
CN com quórum de emenda, ou que no DL da 2ª fase se ressalve que só valerá como emenda após a
promulgação e publicação.
STF - se não forem aprovados com o quórum de emenda têm status supralegal.

Responsabilização no plano internacional


O tema é objeto de outros pontos do edital, ao qual remetemos o leitor. Para facilitar o estudo,
trazemos pequenas considerações.
A responsabilização do Estado e do indivíduo violador de direitos humanos é indispensável à efetiva
proteção dos direitos humanos. Para André de Carvalho Ramos, a responsabilização reafirma “a
juridicidade das normas internacionais de direitos humanos. Com efeito, a negação dessa
responsabilidade acarreta a negação do caráter jurídico da norma internacional”.
Requisitos da responsabilidade internacional: fato internacionalmente ilícito (especificamente o
descumprimento dos deveres básicos de garantia e respeito aos DH); resultado lesivo (prejuízos
materiais e morais causados à vítima e familiares; e nexo de imputação (vínculo entre os primeiros).
A reparação completa do dano causado pelo fato ilícito internacional terá as formas da restituição, da
compensação e da satisfação, unicamente ou em combinação. Preferencialmente, o retorno ao status
quo ante. A reparação pecuniária tem utilizado o critério do "projeto de vida", diferenciando-se da
ideia dos lucros cessantes. Cessação do ilícito: independente da reparação. Modalidades de satisfação:
1) reconhecimento da ilegalidade pelo Estado; 2) indenização punitiva em benefício da vítima; e 3)
obrigações de fazer. Garantia de não repetição: graves violações. Neste caso, implica o dever de
investigar, processar e punir. Sanções pela comunidade internacional.
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A Lei da Anistia e a Teoria do DUPLO CONTROLE (Guerrilha do Araguaia, Caso Gomes Lund)
ADPF 153, proposta pelo CFOAB. Pretensão: fosse dada à Lei 6683/79, art. 1º, § ún, interpretação
conforme a CF, de modo a declarar que a anistia concedida pela citada lei aos crimes políticos ou
conexos não se estenderia aos crimes comuns praticados pelos agentes da repressão (civis ou
militares) contra opositores políticos, durante o regime militar. STF decidiu, em abril de 2010, que a
Lei da Anistia alcançava os agentes da ditadura militar.
Sucede que, em 2009, a Comissão IDH processou o Brasil perante a Corte IDH, no caso Gomes Lund,
invocando a jurisprudência da Corte IDH, contrária às leis de anistia e favorável ao dever de
investigação, persecução e punição penal dos violadores de direitos humanos.
Em nov. 2010, a Corte IDH condenou o Brasil no citado caso, exigindo a completa investigação,
persecução e punição criminal aos agentes de repressão política durante a ditadura militar, mandando
o Brasil desconsiderar a anistia para tais indivíduos.
André de Carvalho Ramos: não há conflito entre as decisões do STF e da Corte IDH. Aplicação da teoria
do duplo controle ou crivo de direitos humanos: atuação em separado do controle de
constitucionalidade (STF e juízos nacionais) e do controle de convencionalidade internacional, feito
por órgão de direitos humanos no plano internacional, no caso, a Corte IDH.
No Brasil, portanto, o respeito aos direitos humanos reclama que qualquer ato ou norma deva passar
por esses dois controles. Assim, não obstante o STF, na citada ADPF, haja concluído que o formato
amplo de anistia foi recepcionado pela CF/88, a Corte IDH, guardiã da Convenção Americana de
Direitos Humanos, em controle de convencionalidade, entendeu pela impossibilidade de a Lei da
Anistia ser invocada pelos agentes da ditadura. Forte nessas premissas, conclui ACR: “no caso da ADPF
153, houve o controle de constitucionalidade. No caso Gomes Lund, houve o controle de
convencionalidade. A anistia aos agentes da ditadura, para subsistir, deveria ter sobrevivido intacta aos
dois controles, mas só passou (com votos contrários, diga-se) por um, o controle de constitucionalidade.
Foi destroçada no controle de convencionalidade. Cabe, agora, aos órgãos internos (MP, Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário) cumprirem a sentença internacional”.
Todas as leis de anistia violam o dever internacional do estado de investigar e punir graves violações a
direitos humanos (Piovesan).

Informativos do STF e direitos humanos


Inquéritos e ações penais em andamento e maus antecedentes - 4 Inquéritos policiais ou ações
penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus antecedentes para fins de
dosimetria da pena. (...) O Colegiado explicou que a jurisprudência da Corte sobre o tema estaria em
evolução, e a tendência atual seria no sentido de que a cláusula constitucional da não culpabilidade
(CF, art. 5º, LVII) não poderia ser afastada. (...) esse ponto de vista estaria em consonância com a
moderna jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Tribunal Europeu dos
Direitos do Homem. Ademais, haveria recomendação por parte do Comitê de Direitos Humanos das
Nações Unidas, no sentido de que o Poder Público deveria abster-se de prejulgar o acusado (...) (RE-
591054 RG, Info 772)

Tráfico de drogas e indulto humanitário - 2 Em acréscimo, o Min. Celso de Mello lembrou que,
eventualmente, se poderia invocar a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas
Portadoras de Deficiência, subscrita pelo Brasil e incorporada ao sistema de Direito positivo interno.
Consignou que, hoje, essa seria a única convenção internacional revestida de eficácia constitucional,
considerado o procedimento ritual de sua aprovação, nos termos do § 3º do art. 5º da CF (...) frisou que
o art. 14 do Dec 6949/09, que promulgou a referida Convenção, estabelece que os Estados nacionais,
como o Brasil, não podem privar alguém do regime prisional apenas em razão dessa mesma deficiência
(“1. Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência, em igualdade de oportunidades
com as demais pessoas: ... b) não sejam privadas ilegal ou arbitrariamente de sua liberdade e que toda
privação de liberdade esteja em conformidade com a lei, e que a existência de deficiência não justifique
a privação de liberdade. 2. Os Estados Partes assegurarão que, se pessoas com deficiência forem
privadas de liberdade mediante algum processo, elas, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas, façam jus a garantias de acordo com o direito internacional dos direitos humanos e sejam

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tratadas em conformidade com os objetivos e princípios da presente Convenção, inclusive mediante a


provisão de adaptação razoável”). MC (STF, HC 118213, Info 745)

AP 470: embargos infringentes e admissibilidade - 18 O Ministro Celso de Mello reiterou que não se
presumiria a revogação tácita das leis, mormente por não incidir, no caso, qualquer hipótese
configuradora de revogação das espécies normativas, na forma descrita no art. 2º, § 1º, da LINDB.
Registrou, ademais, que a Lei 8.038/90 abstivera-se de disciplinar o sistema recursal interno do
Supremo, embora pudesse fazê-lo, a caracterizar uma lacuna intencional do legislador ordinário.
Assinalou, também, que a regra consubstanciada no art. 333, I, do RISTF buscaria permitir a
concretização, no âmbito desta Corte, no contexto das causas penais originárias, do postulado do
duplo reexame, que visa a amparar direito consagrado na Convenção Americana de Direitos
Humanos, na medida em que realizaria, embora insuficientemente, a cláusula da proteção
judicial efetiva. Sublinhou, por fim, que o referido postulado seria invocável mesmo nas hipóteses de
condenações penais em decorrência de prerrogativa de foro, formuladas por Estados que houvessem
formalmente reconhecido, como obrigatória, a competência da Corte Interamericana de Direitos
Humanos em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação desse tratado internacional. O
Ministro Celso de Mello, então, ao proferir o voto de desempate, admitiu a possibilidade de utilização,
no caso, dos embargos infringentes. (...) (AP-470)

Custódia cautelar e fundamentação inidônea Por atacar decisão monocrática do STJ e ante a
ausência de interposição de agravo regimental, a 2ª Turma não conheceu de habeas corpus, mas
concedeu a ordem, de ofício, para permitir que o paciente responda o processo em liberdade, se não
estiver preso por outro motivo. (...) Reputou que, na situação dos autos, a prisão cautelar revelar-se-ia
medida desproporcional. Ressaltou que esse seria um caso emblemático do abuso de prisão cautelar.
Frisou que o STF deveria exigir, especialmente em tráfico de drogas, a observância da apresentação do
preso ao juiz, como previsto na Convenção Interamericana de Direitos Humanos. (STF, HC 119095).

K. DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS EMPRESARIAIS: FRANQUIA (FRANCHISING). FATURIZAÇÃO


(FACTORING). ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING). CARTÃO DE CRÉDITO.

a. Contratos mercantis
Os contratos mercantis ou empresariais são entendidos como aqueles firmados entre empresários,
no exercício de atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços.
Os contratos entre empresários podem eventualmente se submeter às regras do CDC, bastando para
tanto que um dos contratantes assuma a posição de consumidor. O STJ tem admitido a aplicação do
CDC a relações entre empresários quando fica caracterizada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou
econômica de uma das partes. Os contratos empresariais que não se enquadram nessa situação são
chamados, segundo Santa Cruz Ramos, de estritamente empresariais.
Por outro turno, parte da doutrina comercialista critica a submissão de contratos cíveis e contratos
empresariais a uma mesma “teoria geral” no campo obrigacional, a ponto de ter iniciado um
movimento em defesa de um novo Código Comercial (PL 1.572/11). Com efeito, os contratos
empresariais se caracterizam pela simetria natural entre os contratantes, não se podendo se-
lhes aplicar certas regras do NCC que limitam ou relativizam a imprescindível liberdade para a
celebração de contratos (Santa Cruz Ramos).
Nesse sentido, confiram-se os seguintes enunciados da I Jornada de Direito Comercial do CJF:
Enunciado 21. “Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em vista
a simetria natural das relações interempresariais”
Enunciado 28. “Em razão do profissionalismo com que os empresários devem exercer sua atividade,
os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada na inexperiência.”
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De toda sorte, desde sua formação, passando pela execução e até a sua definitiva resolução, o contrato
empresarial se submete a uma série de princípios norteadores, atualmente disciplinados pelo NCC:

PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
AUTONOMIA DA VONTADE
Confere liberdade de contratar e a liberdade contratual, mas é relativizado pelo dirigismo contratual
(o contrato deve atender a sua função social e não pode contrariar preceitos de ordem pública).
OBS: En 21/CJF e En 26/CJFCom: “ O contrato empresarial cumpre sua função social quando não
acarreta prejuízo a direitos ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não
participantes da relação negocial”

ATIPICIDADE
Trata-se de outra perspectiva da autonomia da vontade, segundo a qual é lícito as partes celebrar
contratos atípicos. Há maior liberdade quando prevalece a atipicidade contratual. Nos contratos
típicos, tais como representação comercial e franquia, a liberdade contratual dos empresários diminui
significativamente.

CONSENSUALISMO
O mero acordo de vontades é suficiente para a formação dos contratos. É excepcionado nos contratos
solenes e reais.

RELATIVIDADE
O contrato só vale entre as partes (aspecto subjetivo) e não se estende além de seu objeto (aspecto
objetivo) – é relativizado pela boa-fé objetiva.
Uma questão interessante acerca do princípio da relatividade se dá em função da aplicação da
chamada teoria da aparência. Segundo a teoria da aparência, determinada situação pode gerar
obrigações para terceiros quando o contratante, de boa-fé, tinha razões efetivas para tomá-la por real.
Essa teoria é comum nas hipóteses de excesso de mandato, continuação de fato de mandato findo,
inobservância de diretrizes do representado pelo representante etc. Orlando Gomes admite até
mesmo a responsabilização do empresário por atos praticados por falso representante,
quando a aparência de direito poderia enganar um contratante médio. A teoria da aparência é
cada vez mais adotada pelo STJ como corolário da boa-fé objetiva.

BOA-FÉ
As partes devem agir com probidade e todo contrato gera deveres implícitos, decorrentes da sua
própria natureza. A boa-fé objetiva foi expressamente prevista no CC.
A propósito, não se deve fazer prevalecer, sobre a real intenção das partes, apenas o que está
eventualmente escrito no acordo firmado.
Jornadas de Direito Civil do CJF:
En. 168: “o princípio da boa- fé objetiva importa no reconhecimento de um direito a cumprir em
função do titular passivo da obrigação.”
En. 169: “O princípio da boa-fé deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”.
En. 170: “a boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e
após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.”
En 27 da Jorndada Comecial: “Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário,
durante as negociações do contrato empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar
a prestação de informações reservadas, confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de não
colocar em risco a competitividade de sua atividade.”

FORÇA OBRIGATÓRIA

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As partes podem exigir, uma da outra, que cumpram a prestação prometida. Mas esta é excepcionada
pela cláusula “rebus sic stantibus”, representadas pela teoria da imprevisão nos contratos
comutativos. No âmbito dos contratos empresariais, é temerária a utilização da teoria da imprevisão.
STJ já negou a aplicação da teoria da imprevisão em contratos empresariais, em casos de variação
cambial, dentre outras situações normais às atividades dos empresários.
Enunciados da I Jornada D. Comercial do CJF:
En. 23. “Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer parâmetros
objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do pacto contratual.”
En. 25. “A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código Civil deve levar em
conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais, deve-se presumir a
sofisticação dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles acordada.”
OBS: Os contratos bilaterais contêm, implícita, a cláusula da “exceptio non adimpleti contractus”, pela
qual uma parte não pode exigir o cumprimento do contrato pela outra, se estiver em mora em relação
à sua própria prestação. Essa teoria pode ser aplicada aos contratos empresariais. Nesse sentido, cite-
se o En. 24/CJFCom:
24. Os contratos empresariais coligados, concretamente formados por unidade de interesses
econômicos, permitem a arguição da exceção de contrato não cumprido, salvo quando a
obrigação inadimplida for de escassa importância.

Por último, cabe acrescentar que a propalada socialização do contrato, provocada pelo CC/02, por
meio da consagração dos princípios da função social dos contratos e a boa-fé objetiva, tem dado
ensejo à aplicação da teoria do adimplemento substancial, inclusive no âmbito dos contratos
empresariais, o que é criticado por parte da doutrina (Santa Cruz Ramos).
En. 586: “O reconhecimento do adimplemento substancial impede o exercício do direito de
resolução por parte do credor. Para a sua caracterização, deve-se levar em conta aspectos
quantitativos e qualitativos, a serem extraídos dos valores do ordenamento e da cláusula geral
da boa-fé objetiva”.

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO PARA


AQUISIÇÃO DE BEM COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. CLÁUSULA PREVENDO A VENDA DO BEM.
AJUIZAMENTO DE EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL PARA COBRAR A DÍVIDA REMANESCENTE.
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. POSSIBILIDADE. SENTENÇA EXTINTIVA DESCONSTITUÍDA. 1. A
orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de manter o bem na posse do
devedor, caso se constate o adimplemento substancial da dívida. 2. No caso, está configurado o
adimplemento substancial, considerando que foram pagas 35 (trinta e cinco) parcelas das 48
(quarenta e oito) a que o mutuário se comprometeu. 3. Nessas circunstâncias, revela-se legítimo o
ajuizamento de execução para cobrança do débito remanescente do financiamento bancário, tendo em
vista que o Decreto-lei 911/69 dá ao credor três opções ante o inadimplemento do devedor com o
contrato de alienação fiduciária: vender o bem alienado fiduciariamente (art. 2º), promover sua busca
e apreensão (art. 3º) ou ajuizar ação executiva (arts. 4º e 5º). 4. A opção de ajuizamento da execução
feita pela credora coaduna-se com a norma do art. 620 do CPC, na medida em que não retira do
devedor a posse do bem alienado fiduciariamente (câmara frigorífica) que fora instalada em seu
estabelecimento e utilizada para sua atividade empresarial. 5. A sentença que indeferiu a petição
inicial da execução tão somente por existir cláusula contratual prevendo a venda do bem no
caso de inadimplemento contratual e a aplicação do produto da venda na solução da dívida
(cláusula 9.6) deve ser desconstituída. 6. Apelação da Caixa a que se dá provimento, para anular a
sentença extintiva e remeter os autos à origem para o regular prosseguimento da execução. (AC
00721440420104013800, NÉVITON, 2015)

OBS: Alguns autores dizem não haver mais contratos mercantis solenes, pois a dinâmica empresarial
é incompatível com a submissão de contratos a determinadas formalidades específicas. Outros
apontam que alguns contratos ainda são solenes, tal como o contrato de seguro.

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Enunciados das Jornadas de Direito Comercial do CJF


OBRIGAÇÕES EMPRESARIAIS E CONTRATOS
20. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados entre empresários em
que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se de insumos para sua atividade de produção,
comércio ou prestação de serviços.
21. Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em vista a simetria
natural das relações interempresariais.
22. Não se presume solidariedade passiva (NCC, art. 265) pelo simples fato de duas ou mais pessoas
jurídicas integrarem o mesmo grupo econômico.
23. Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer parâmetros objetivos para a
interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do pacto contratual.
24. Os contratos empresariais coligados, concretamente formados por unidade de interesses
econômicos, permitem a arguição da exceção de contrato não cumprido, salvo quando a obrigação
inadimplida for de escassa importância.
25. A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no NCC deve levar em conta a natureza
do objeto do contrato. Nas relações empresariais, deve-se presumir a sofisticação dos contratantes e
observar a alocação de riscos por eles acordada.
26. O contrato empresarial cumpre sua função social quando não acarreta prejuízo a direitos ou
interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não participantes da relação negocial.
27. Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário, durante as negociações do contrato
empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar a prestação de informações reservadas,
confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de não colocar em risco a competitividade de sua
atividade. 28. Em razão do profissionalismo com que os empresários devem exercer sua atividade, os
contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada na inexperiência.
29. Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social do contrato e a boa-fé
objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade com as especificidades dos contratos
empresariais.
30. Nos contratos de shopping center, a cláusula de fiscalização das contas do lojista é justificada
desde que as medidas fiscalizatórias não causem embaraços à atividade do lojista.
31. O contrato de distribuição previsto no art. 710 do Código Civil é uma modalidade de agência em
que o agente atua como mediador ou mandatário do proponente e faz jus à remuneração devida por
este, correspondente aos negócios concluídos em sua zona. No contrato de distribuição autêntico, o
distribuidor comercializa diretamente o produto recebido do fabricante ou fornecedor, e seu lucro
resulta das vendas que faz por sua conta e risco. 54
32. Nos contratos de prestação de serviços nos quais as partes contratantes são empresários e a
função econômica do contrato está relacionada com a exploração de atividade empresarial, as partes
podem pactuar prazo superior a quatro anos, dadas as especificidades da natureza do serviço a ser
prestado, sem constituir violação do disposto no art. 598 do Código Civil.
33. Nos contratos de prestação de serviços nos quais as partes contratantes são empresários e a
função econômica do contrato está relacionada com a exploração de atividade empresarial, é lícito às
partes contratantes pactuarem, para a hipótese de denúncia imotivada do contrato, multas superiores
àquelas previstas no art. 603 do Código Civil.
34. Com exceção da garantia contida no artigo 618 do Código Civil, os demais artigos referentes, em
especial, ao contrato de empreitada (arts. 610 a 626) aplicar-se-ão somente de forma subsidiária às
condições contratuais acordadas pelas partes de contratos complexos de engenharia e construção, tais
como EPC, EPC-M e Aliança.
35. Não haverá revisão ou resolução dos contratos de derivativos por imprevisibilidade e onerosidade
excessiva (arts. 317 e 478 a 480 do Código Civil).
36. O pagamento da comissão, no contrato de corretagem celebrado entre empresários, pode ser
condicionado à celebração do negócio previsto no contrato ou à mediação útil ao cliente, conforme os

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entendimentos prévios entre as partes. Na ausência de ajuste ou previsão contratual, o cabimento da


comissão deve ser analisado no caso concreto, à luz da boa-fé objetiva e da vedação ao
enriquecimento sem causa, sendo devida se o negócio não vier a se concretizar por fato atribuível
exclusivamente a uma das partes.
37. Aos contratos de transporte aéreo internacional celebrados por empresários aplicam-se as
disposições da Convenção de Montreal e a regra da indenização tarifada nela prevista (art. 22 do Dec
5910/06).
38. É devida devolução simples, e não em dobro, do valor residual garantido (VRG) em caso de
reintegração de posse do bem objeto de arrendamento mercantil celebrado entre empresários.

OBRIGAÇÕES EMPRESARIAIS E CONTRATOS


68. No contrato de comissão com cláusula del credere, responderá solidariamente com o terceiro
contratante o comissário que tiver cedido seus direitos ao comitente, nos termos da parte final do art.
694 do Código Civil.
Justificativa: O enunciado tem por objetivo conciliar os arts. 694 e 698 do NCC. A cláusula del
credere afasta a irresponsabilidade presumida do comissário, prevista no art. 697 do NCC,
tornando-o responsável perante o comitente do cumprimento da obrigação assumida e
descumprida pelo terceiro. A princípio, não pode haver solidariedade entre o comissário e o
terceiro que com ele contratou perante o comitente, porque o art. 694 do Código Civil dispõe que não
haverá direito de ação do comitente em face das pessoas com quem o comissário contratar, mesmo
que no interesse daquele. O del credere não pode vincular o terceiro ao contrato de comissão porque
este dele não tem conhecimento e os efeitos não se estendem à compra e venda (princípio da
relatividade dos contratos). Assim, o comissário somente se constituirá garante solidário ao terceiro
por força do del credere se houver cedido seus direitos ao comitente, nos termos do que faculta a
parte final do art. 694 do NCC.

i. Franquia / Franchising

Origem: Singer Sewig Machine (1860), seguida de Coca-Cola e GM no final do Séc. XIX e McDonalds
após. Importância das franquias como forma de empregar pessoas desmobilizadas no pós guerra.
Conceito da Lei 8.955/94, art. 2º: “franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao
franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou
semiexclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, ao direito de uso da tecnologia implantação e
administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos pelo franqueado [...]”
O contrato de franquia envolve: a) licença de uso de marca ou patente; b) distribuição exclusiva
ou semiexclusiva de produtos ou serviços; e c) transferência de “know how” – conhecimento
técnico.
Para parte da doutrina, os itens “b” e “c” podem ser resumidos em organização empresarial. A
propósito, o franqueador presta ao franqueado serviços de organização empresarial, que se
desdobram basicamente em três contratos específicos: i) engineering, por meio do qual o franqueador
orienta o franqueado em todo o processo de montagem e planejamento do seu estabelecimento; ii)
management, mediante o qual o franqueador orienta o franqueado no treinamento de sua equipe de
funcionários e na gerência de sua atividade; iii) marketing, por meio do qual o franqueador orienta o
franqueado quanto aos procedimentos de divulgação e promoção dos produtos comercializados.
No contrato em questão, há, portanto, duas pessoas empresárias distintas: franqueador e franqueado.

1. Contrato de franquia

O art. 6º da Lei 8.955/94 prevê que o contrato franquia deve ser celebrado por escrito e assinado na
presença de 2 testemunhas. Terá validade independentemente de registro perante cartório ou

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órgão público, mas só produzirá efeitos perante terceiros se for registrado no INPI (art. 211 da
LPI).
Na franquia, existe um documento muito importante:
Circular de Oferta de Franquia-COF: documento semelhante a uma proposta, contendo as
informações úteis e indispensáveis para que se conheça a franquia. Só depois de conhecer esse
documento, o franqueado deverá pagar algum tipo de taxa de filiação ou royalties. A COF deve
ser realizada por escrito e em linguagem acessível; as informações que nela constam estão previstas
no art. 3º da lei.
O candidato a franqueado tem um prazo de reflexão sobre a assinatura d a franquia (10 dias),
contados do recebimento da circular de oferta de franquia (art. 4º). Aliás, a circular só pode ser
assinada depois de 10 dias do recebimento desta circular (prazo de reflexão), sob pena de
anulabilidade, de alegação exclusiva do franqueado. Além disso, a anulação provoca a devolução de
todas as parcelas até então pagas, corrigidas pelo índice da caderneta de poupança, sem prejuízo das
perdas e danos.
O contrato de franquia não provoca vínculo empregatício entre franqueador e franqueado e
tampouco entre franqueador e empregados do franqueado. O TST decidiu ser inaplicável sua Súm.
331, IV, para um contrato de franquia Isso significa que o franqueador não tem responsabilidade
solidária ou subsidiária pela dívida trabalhista do franqueado.

DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DE FRANQUEADORA EM FACE DE


CONSUMIDOR. A franqueadora pode ser solidariamente responsabilizada por eventuais danos
causados a consumidor por franqueada. No contrato de franquia empresarial, estabelece-se um
vínculo associativo entre sociedades empresárias distintas, o qual, conforme a doutrina, caracteriza-se
pelo "uso necessário de bens intelectuais do franqueador (franchisor) e a participação no aviamento do
franqueado (franchise)". Dessa forma, verifica-se, novamente com base na doutrina, que o contrato de
franquia tem relevância apenas na estrita esfera das empresas contratantes, traduzindo uma clássica
obrigação contratual inter partes. Ademais, o STJ já decidiu por afastar a incidência do CDC para a
disciplina da relação contratual entre franqueador e franqueado (AgRg no REsp 1193293; e AgRg no
REsp 1336491). Aos olhos do consumidor, entretanto, trata-se de mera intermediação ou
revenda de bens ou serviços do franqueador, que é fornecedor no mercado de consumo, ainda que
de bens imateriais. Aliás, essa arquitetura comercial - na qual o consumidor tem acesso a produtos
vinculados a uma empresa terceira, estranha à relação contratual diretamente estabelecida entre
consumidor e vendedor - não é novidade no cenário consumerista e, além disso, não ocorre apenas nos
contratos de franquia. Desse modo, extraindo-se dos arts. 14 e 18 do CDC a responsabilização solidária
por eventuais defeitos ou vícios de todos que participem da introdução do produto ou serviço no
mercado (REsp 105822) - inclusive daqueles que organizem a cadeia de fornecimento -, as
franqueadoras atraem para si responsabilidade solidária pelos danos decorrentes da inadequação dos
serviços prestados em razão da franquia, tendo em vista que cabe a elas a organização da cadeia de
franqueados do serviço. (REsp 1426578).

7.4.2 Faturização (Factoring ou fomento mercantil)


HISTÓRICO: a figura do “agente mercantil” é antiga na história das civilizações e está relacionada à
negociação de “ativos” (direitos sobre negócios futuros ou promessas de pagamento). Os fenícios
teriam criado “factorias” na Península Ibérica; os romanos estabeleceram “factor agentes” em pontos
estratégicos de seu território. A expressão latina factor remete a “fomento”, “desenvolvimento”.
CONCEITO: contrato por meio do qual o empresário transfere ao faturizador (que não precisa
ser, necessariamente, uma instituição financeira) atribuições atinentes à administração do seu
crédito. Em síntese, orientando o empresário acerca da concessão do crédito a seus clientes, o
faturizador antecipa o valor dos créditos que o empresário possui (por um valor inferior ao que
eles valem, aplicando o deságio) e assume o risco da inadimplência desses créditos. Para Santa
Cruz Ramos, o contrato de factoring serve ao empresário justamente para lhe permitir uma melhor
organização do seu negócio.

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O conceito legal de factoring consta da LC 123/06, art. 17: aquele que explora a atividade de prestação
cumulativa e contínua de serviços, assessoria creditícia, gestão de crédito, assunção de riscos,
administração de contas a pagar e receber, gerenciamento de ativos, compras de direitos
creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços. Apenas o conceito
tem previsão legal, pois não legislação específica regendo a matéria, motivo pelo qual se aplicam ao
contrato de faturização as regras de cessão de crédito, previstas no art. 286 e ss do NCC.
No contrato de faturização, encontram-se presentes : i) Faturizador, que é a empresa de factoring,
pessoa jurídica que não é uma instituição financeira e não precisa de autorização do BACEN
para funcionamento; ii) Faturizado, que é a empresa que vende seu faturamento para o faturizador.
Dispõe o art. 296 do NCC, relativo à cessão de crédito, que o cedente não responde pela solvência do
devedor (cessão pro soluto). Por conta deste risco maior (possível insolvência do devedor), a factoring
não compra qualquer título, selecionando aqueles que vai adquirir (seleção e riscos).
Diferença entre factoring e contrato bancário:

Factoring Desconto bancário


A empresa de factoring não é instituição financeira. É realizado por instituição financeira.
O cedente do título não responde pela sua Quem transfere o título responde pelo
solvência. O risco é transferido ao faturizador, pagamento, pois a transferência é feita por
muito embora, na prática, as faturizadoras exijam endosso.
dos faturizados o endosso dos títulos cedidos.

7.4.2.1 Modalidades
I. Factoring tradicional ou “conventional factoring”: o pagamento é antecipado. Há antecipação dos
valores referentes ao crédito do faturizado, motivo pelo qual a remuneração da faturizadora costuma
ser mais elevada.
II. Factoring de vencimento ou “maturity factoring”: não há antecipação de pagamento, o pagamento
ocorrerá no vencimento. Nessa hipótese, há apenas a prestação de serviços de administração do
crédito.

7.4.2.2 Juros
Conforme orientação jurisprudencial do STJ, aplica-se aos contratos de factoring a limitação de juros
de 12% ao ano, prevista na Lei de Usura. É que o STJ entende que o factoring não possui, de
acordo com a Lei 4.595/64, natureza de contrato bancário típico, razão pela qual, inclusive, as
faturizadas não precisam de autorização do BACEN para funcionamento nem lhes é aplicável a regra
do dever de sigilo.

7.4.2.3 Cláusulas típicas


Dentre as cláusulas típicas de um contrato de faturização, merecem destaque:
a)cláusula de exclusividade  Por ela, há o compromisso de não se contratar outro faturizador;
b) cláusula de totalidade Por ela, o faturizado transmite todos os seus créditos ao faturizador,
cabendo a este escolher os que vai garantir;
c) cláusula de aprovação prévia do faturizador.
OBS: O contrato de factoring não pode ser confundido com a atividade ilícita de agiotagem.

Para a maioria, a faturizadora NÃO tem direito de regresso contra a faturizada com base no
inadimplemento dos títulos transferidos, uma vez que esse risco é da essência do contrato de
factoring e por ele a faturizada paga o preço mais elevado do que pagaria, por exemplo, em um
contrato de desconto bancário, no qual a instituição financeira não garante a solvência dos títulos
descontados. Apesar de o assunto não ser pacífico, existe julgado recente do STJ, afirmando que,
mesmo que o contrato de factoring preveja a responsabilidade da faturizada nesses casos, tal cláusula
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deverá ser considerada nula (...) “o risco assumido pelo faturizador é inerente à operação de
factoring, não podendo o faturizado ser demandado para responder regressivamente, salvo se tiver
dado causa ao inadimplemento dos contratos cedidos (...)”. (REsp 949360)

Para a maioria, a faturizada, ao ceder os títulos, assume a garantia de que eles são existentes.
Trata-se de aplicação expressa do art. 295 do CC (“Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que
não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe
cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-
fé.”). Desse modo, a faturizada possui direito de regresso contra a faturizada quando estiver em
questão não um mero inadimplemento, mas sim a própria existência do crédito. Não
reconhecer tal responsabilidade quando o cedente vende crédito inexistente ou ilegítimo
representa compactuais com a fraude e a má-fé. (REsp 1289995)

7.4.3 Leasing ou arrendamento mercantil


HISTÓRICO: US Leasing Company, que fornecia alimentos para o Exército Americano, precisou
celebrar contrato com um banco para obter os equipamentos necessários ao atendimento da
demanda. Na época, ainda não havia o elemento financeiro, mas a noção inicial de self leasing.
A expressão leasing também tem influencia norte-americana.
CONCEITO: contrato especial de locação que assegura ao locatário a prerrogativa de adquirir o
bem alugado ao final da avença, pagando, nesse caso, uma diferença chamada valor residual. Em
síntese, trata-se de um contrato de locação com opção de compra no momento final do contrato.
Não há lei específica que trate do arrendamento mercantil. Em realidade, ele é regulado pela
Resolução 2309/96 do BACEN. A Lei 6.099/74 regula apenas o seu aspecto tributário.
No contrato de leasing, encontram-se presentes: a) Arrendador, que é a empresa de leasing, a qual
necessariamente será uma sociedade anônima; b) Arrendatário, que pode ser qualquer um, seja
pessoa física ou jurídica (exceto no leasing de retorno).
O leasing pode ter por objeto tanto bens MÓVEIS quanto bens IMÓVEIS e esses bens podem ser de
fabricação nacional ou estrangeira, estes desde que autorizados pelo Conselho Monetário Nacional,
nos termos do art. 10 da Lei 6.099/74.

7.4.3.1 Opções do arrendatário


Ao final do contrato de leasing, o arrendatário possui 3 opções: i) Devolução do bem; ii) Renovação
do contrato de leasing; iii) Opção de compra, nesse caso, se o arrendatário fizer a opção de compra,
é obrigado a pagar VRG (valor residual garantido).
- COBRANÇA ANTECIPADA DO VRG
De início, o STJ entendia que a opção de compra deve ser feita ao final do contrato e, assim, momento
em que o VRG deveria ser cobrado. Se ele fosse cobrado desde o início do contrato, na verdade, não
haveria leasing, mas sim compra e venda em prestações. Esse foi o primeiro posicionamento do STJ
(Súm 263: “A cobrança do valor residual (VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil,
transformando-o em compra e venda a prestação”).
Contudo, o STJ cancelou a Súm 263 e editou a Súm 293: “A cobrança antecipada do VRG não
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil”. Prestigiaram-se os princípios da liberdade de
escolha e da livre convenção entre as partes.
Todavia, o STJ também entendeu que, caso não haja opção de compra ao final do contrato, a parte
terá de devolver o valor residual garantido pago antecipadamente.
O prazo prescricional para se pleitear essa devolução é o prazo geral de 10 anos, pois não se trata de
pedido fundado na vedação do enriquecimento sem causa, mas de restituição de quantia em razão do
desfazimento de arrendamento mercantil. (REsp 1174760)

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7.4.3.2 Mora do arrendatário


Se o arrendatário deixa de pagar as prestações, o arrendador pode recorrer à REINTEGRAÇÃO DE
POSSE.
O STJ firmou o entendimento de que é necessária a constituição em mora do arrendatário por
notificação prévia, não havendo que se falar em mora ex re, ainda que haja cláusula resolutiva
expressa (Súm 369).
No arrendamento mercantil, é pago um aluguel mensal pela utilização do bem. Assim, reintegrado o
arrendado à posse do bem, não há que se falar em pagamento das prestações futuras.
Pagando-se o VRG antecipado, há declaração de vontade de compra. Havendo reintegração de posse
deverá o arrendatário devolver o bem, mas, segundo o STJ, poderá requerer a devolução do VRG, na
forma abaixo explicitada:
Devolução do VRG no caso de reintegração/apreensão do bem (REsp 1099212 Rep):
i) se o VRG pago + valor do bem vendido > VRG previsto no contrato, o arrendatário terá o direito de
receber a diferença;
ii) Se o VRG pago + valor do bem vendido < VRG previsto no contrato, o arrendatário NÃO terá direito
de receber a diferença (até porque não haverá diferença).
Mesmo na primeira hipótese, o contrato poderá prever que, antes de devolvida a diferença para o
arrendatário, o arrendador terá direito de descontar, previamente, outras despesas que tenha
tido ou encargos contratuais.

MUDANÇA IMPORTANTE: A Lei 13.043/14 determinou que o procedimento adotado pelo DL 911/69
para o caso de inadimplemento do devedor na alienação fiduciária, inclusive o regramento sobre a
ação de busca e apreensão deveria ser também aplicado para o arrendamento mercantil. Assim, a
partir de agora, os procedimentos previstos no art. 2º, caput e § 2º e no art. 3º do DL 911/69 (regras
relativas a alienação fiduciária) deverão ser aplicadas às operações de arrendamento mercantil.

Após a L 13043, não é mais possível a purgação da mora, pois foi determinada a aplicação do regime
do DL 911, que não a admite, em lugar da regra geral do NCC, 401, I (REsp 1381832)

7.4.3.3 Modalidades de leasing


I. Leasing financeiro
Nesta modalidade, o arrendatário indica o bem ao arrendador, que o adquire perante o fornecedor e
depois realiza o contrato de arrendamento mercantil com o arrendatário. O leasing financeiro é a
modalidade típica de arrendamento mercantil. Traz as figuras de 3 atores intervenientes: a)
arrendador(a); b) arrendatário; e c) fornecedor.
O arrendador precisa ser instituição financeira (banco múltiplo com carteira de arrendamento
mercantil ou sociedade de arrendamento mercantil)
De acordo com a Resolução sobre o leasing financeiro, neste contrato o valor total das parcelas deve
ser igual ao valor do bem + lucro para o arrendador.
II. Leasing operacional
Caracteriza-se pelo fato de o bem arrendado já ser da arrendadora (que, em regra, o fabrica), a qual
apenas aluga ao arrendatário, sem ter o custo inicial de aquisição do bem, comprometendo-se a
prestar assistência técnica. Há apenas 2 intervenientes: a) arrendador(a); e b) arrendatário.
No leasing operacional, o valor total das prestações, segundo a Resolução do BACEN, não pode ser
superior a 90% do valor do bem, nem o prazo superior a 75% da vida útil do bem.
A vantagem dessa espécie de leasing reside na assistência técnica que, no leasing operacional,
só pode ser prestada pelo arrendador. O lucro vem sobretudo por meio da assistência técnica.
III. Lease back (leasing de retorno)

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Cuida-se de modalidade específica de leasing, em que o bem arrendado era de propriedade do


arrendatário, que o vende à arrendadora para depois arrendá-lo, podendo readquiri-lo ao final do
contrato, caso se utilize da opção de compra, pagando o valor residual.
Nessa modalidade de arrendamento mercantil, o arrendatário somente pode ser pessoa jurídica. A
sua grande finalidade é a obtenção de capital de giro. O lease back é cabível em duas operações: a)
compra e venda; e b) dação em pagamento.
Nesta modalidade, ao final do contrato, o arrendatário tem as mesmas 3 opções já vistas.

Lease back ou Leasing de retorno Alienação fiduciária em garantia


Cuida-se, grosso modo, de uma locação com
É um contrato de aquisição de um bem;
opção de compra. Nem sempre o arrendatário
ele instrumentaliza uma venda.
quer adquirir o bem.
Havendo inadimplemento, utiliza-se de ação de
Faz-se uso da busca e apreensão.
reintegração de posse.

No caso de reintegração de posse em arrendamento mercantil financeiro, quando a soma da


importância antecipada a título de valor residual garantido (VRG) com o valor da venda do
bem ultrapassar o total do VRG previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de
receber a respectiva diferença, cabendo, porém, se estipulado no contrato, o prévio
desconto de outras despesas ou encargos pactuados. (Súm 564/STJ)

Em regra, não incide o ICMS importação na operação de arrendamento mercantil


internacional, uma vez que, no leasing, não há, necessariamente, a transferência de
titularidade do bem. Em outras palavras, pode haver ou não a compra.
EXCEÇÃO: incidirá ICMS importação se ficar demonstrado que houve a antecipação da opção
de compra. (RE 540829).

O STJ e STF entendem que o ICMS não incide no leasing de aeronaves, pois não implica
circulação de mercadoria. Todavia, o ICMS incide sobre mercadorias que venham integrar o
ativo fixo da empresa, uma vez que, nesses casos, a opção de compra é implícita. (AgRg na MC
13339).

(...) 2 - Responsabilidade solidária da instituição financeira vinculada à concessionária


do veículo ("banco da montadora"), pois parte integrante da cadeia de consumo. 3 -
Distinção em relação às instituições financeiras que atuam como "banco de varejo", apenas
concedendo financiamento ao consumidor para aquisição de um veículo novo ou usado sem
vinculação direta com o fabricante. 4 - Aplicação do art. 18 do CDC. (REsp 1379839)

Cartão de crédito

Trata-se de contrato por intermédio do qual uma instituição financeira, a operadora do cartão,
permite a seus clientes a compra de bens e serviços em estabelecimentos comerciais cadastrados, que
receberão os valores da compra diretamente da operadora. Esta, por sua vez, cobra dos clientes
mensalmente, o valor de todas as suas compras realizadas em um determinado período. Chama-se,
portanto, cartão de crédito o documento por meio do qual o cliente realiza a sua compra,
apresentando-o ao estabelecimento comercial cadastrado.
Nesses contratos, há necessáriamente três partes envolvidas:
a)Títular (ou usuário): é aquele que faz uso do cartão ao afetuar uma compra ou receber um serviço.
O titular recebe mensalmente do emissor uma relação das compras realizadas em que foi utilizado o
cartão, para que, em data preestabelecida, efetue o pagamento. Em caso de atraso, o emissor pode
cobrar juros na fatura do mês seguinte. É também possível que o titular pague apenas uma parte do
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valor, hipótese em que a diferença será cobrada no vencimento do mês seguinte, evidentemente
acrescida de juros.
b) Sociedade emissora (ou emissor): é uma instituição financeira, que se compromete a cobrar do
titular do cartão o crédito outorgado e a pagar o valor ao fornecedor do bem ou serviço. A maior parte
do lucro do emissor resulta de uma taxa percentual que ele cobra do fornecedor para cada pagamento
feito, em razão de lhe estar angariando cientela, garantindo o pagamento e assumindo o risco de não
receber posteriormente do titular. O emissor também cobra uma taxa de adesão do titular e, em
regral, uma taxa a título de anuidade.
c) Fornecedor: é o empresário que realiza contrato de filiação com a empresa emissora do cartão no
sentido de aceitar o uso deste sem acréscimo no preço dos produtos. O fornecedor receberá do
emissor o montante referente ao total de vendas realizadas com o cartão, sendo, evidentemente,
descontada a comissão deste. O fornecedor não pode recusar a venda aos portadores do cartão, salve
se ele já estiver vencido ou se o preço ultrapassar o limite. Também não poderá aumentar o preço em
razão do uso do cartão.
Somente há relação de consumo na relação jurídica da operadora com seu cliente e na relação do
cliente com o estabelecimento comercial. Não há relação consumerista entre a operadora e o
estabelecimento comercial, conforme já decidiu o STJ.
A remessa de cartão de crédito a quem não o tenha solicitado constitui prática abusiva descrita
expressamente no CDC, art. 39, III. Nesse sentido, preconiza a novel Súm 532/STJ: “Constitui prática
comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor,
configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa administrativa”.

As operadoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, assim, não há limitação de juros à
12% a.a. previsto na lei de usura (Súm 283/STJ).

O cliente tem direito à prestação de contas por parte da operadora do cartão, a fim de dirimir dúvidas
acerca dos lançamentos por ela feitos no extrato da fatura mensal (REsp 457055).

É de fundamental importância que o estabelecimento comercial credenciado pela operadora confira a


assinatura do cliente titular do cartão, comparando-a com a assinatura utilizado em sua carteira de
identidade (REsp 348343)

STJ admite capitalização anual dos juros nos contratos de cartão de crédito: em diversos julgados,
firmou-se o entendimento de que, não sendo os casos previstos na Súm. 93/STJ, a capitalização mensal
é vedada, mas a anual é permitida. Só depois, a partir do ano 2000, passou a prevalecer o
entendimento de que mesmo a capitalização mensal era autorizada. Recentemente, no RE 592377,
com repercussão geral reconhecida, o STF entendeu válida a capitalização mensal dos juros: o Plenário
do STF autorizou a capitalização de juros em empréstimos bancários com periodicidade inferior a um
ano. Os ministros julgaram constitucional a Medida Provisória 2.170-36/2001 que autorizou o cálculo de
juros compostos. (EREsp 932303, Info 464)

O “credit scoring” originou-se no EUA, a partir de um trabalho elaborado por David Durand, em 1941,
denominado “Risk Elements in Consumer Installment Financing”, em que foi desenvolvida a técnica
estatística para se distinguir os bons e os maus empréstimos, atribuindo-se pesos diferentes para cada
uma das variáveis presentes. A partir da década de 60, esse sistema de pontuação de crédito passou a
ser amplamente utilizado nos EUA nas operações de crédito ao consumidor, especialmente nas
concessões de cartão de crédito.
O STJ analisou a validade do chamado sistema “credit scoring”, fixando as seguintes teses:
a) “Credit scoring”, também chamado de “credscore”, é um método desenvolvido para avaliação
do risco de concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando diversas
variáveis, com atribuição de uma pontuação ao consumidor avaliado (nota do risco de crédito);
b) O “credit scoring” é considerado como prática comercial LÍCITA, estando autorizada pelo art.
5º, IV, e pelo art. 7º, I, da Lei 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo);
c) Vale ressaltar, no entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que respeite os
limites estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da

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privacidade e da máxima transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da


Lei 12.414/2011;
d) Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem ser a ele
fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos dados considerados
(histórico de crédito), bem como as informações pessoais valoradas;
e) O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema “credit scoring” configura abuso no
exercício desse direito, podendo ensejar a responsabilidade objetiva e solidária do fornecedor
do serviço, do responsável pelo banco de dados, da fonte e do consulente pela ocorrência de
danos morais nas hipóteses de utilização de informações excessivas ou sensíveis, bem como
nos casos de comprovada recusa indevida de crédito pelo uso de dados incorretos ou
desatualizados. (REsp 1419697 Rep).

A cláusula-mandato que, no bojo do contrato de cartão de crédito, permite que a administradora do


cartão de crédito tome recursos perante instituições financeiras em nome do contratante para
saldar sua dívida é válida. Por outro lado, nos contratos de cartão de crédito, é abusiva a previsão de
cláusula-mandato que permita à operadora emitir título cambial contra o usuário do cartão. (REsp
1084640, Info 570).

Caracteriza prática abusiva quando o fornecedor de bens e serviços prevê preços mais
favoráveis para o consumidor que paga em dinheiro ou cheque em detrimento daquele que
paga em cartão de crédito. Segundo decidiu o STJ, o preço à vista deve ser estendido também aos
consumidores que pagam em cartão de crédito, os quais farão jus, ainda, a eventuais descontos e
promoções porventura destinados àqueles que pagam em dinheiro ou cheque. (REsp 1479039)

OBS: A Lei 13.172/15 alterou as Leis nos 10.820/03, 8.213/91 e 8112/90, dispondo sobre autorização
de desconto em folha de pagamento de valores destinados ao pagamento de cartão de crédito.

L. DIREITO ECONÔMICO E PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR

AS PRINCIPAIS ATIVIDADES EMPRESARIAIS E SUA RELAÇÃO COM O REGIME


JURÍDICO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO: OS SERVIÇOS PÚBLICOS, A ATIVIDADE
BANCÁRIA, A ATIVIDADE SECURITÁRIA, A ATIVIDADE IMOBILIÁRIA, A ATIVIDADE
DO TRANSPORTADOR AÉREO, OS CONSÓRCIOS.

1. As principais atividades empresariais e sua relação com o regime jurídico das relações de
consumo
“CDC e norma de ordem publica e de interesse social, geral e principiologica, o que significa dizer que e
prevalente sobre todas as demais normas especiais anteriores que com ela colidirem. As normas gerais
principiologicas, pelos motivos que apresentamos no início deste trabalho ao demonstrar o valor superior dos
princípios, tem prevalencia sobre as normas gerais e especiais anteriores”. (Rizzatto Nunes)
A respeito do carater de norma principiológica, Nelson Nery Jr. entende pela prevalencia contínua do CDC sobre
as demais normas, eis que “as leis especiais setorizadas (v.g., seguros, bancos, calçados, transportes, serviços,
automoveis, alimentos etc.) devem disciplinar suas respectivas materias em consonancia e em obediencia aos
princípios fundamentais do CDC”. Em resumo, o CDC tem eficácia supralegal, ou seja, esta em um ponto
hierarquico intermediario entre a Constituiçao Federal de 1988 e as leis ordinarias.
Como exemplo dessa conclusao, pode ser citado o problema das Convençoes de Varsovia e de Montreal,
tratados internacionais que preveem tarifaçao de indenizaçao no transporte aereo internacional, nos casos de
cancelamento e atraso de voos, bem como de extravio de bagagem – e que nao sao convençoes de direitos
humanos, nao tendo a força de emendas a Constituiçao (CF, art. 5º, § 3º). Tais convençoes internacionais
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colidem com o princípio da reparação integral dos danos (CDC, art. 6º, VI), que reconhece ser direito basico do
consumidor a efetiva reparaçao dos danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos, afastando
qualquer possibilidade de tabelamento de indenizaçao em seu desfavor. Diante da citada posiçao intermediaria
ou supralegal do CDC, a norma consumerista deve prevalecer sobre as citadas fontes internacionais. Ademais,
nos termos do art. 17 da LINDB, as fontes do Direito Internacional Publico, caso das citadas convençoes, nao
podem entrar em conflito com as normas internas de ordem publica, como e o caso do CDC.
“O STJ pacificou o entendimento de que a responsabilidade das companhias aéreas em virtude de falha
no serviço prestado ao consumidor deve ser aferida com base nas disposições do CDC, afastando-se,
portanto, as convenções internacionais” (AgRg AREsp 44380). No mesmo sentido: TRF1 , AC
00204619619984010000.
Foi reconhecida repercussao geral no RE 636331 acerca da possibilidade de limitaçao, com fundamento na
Convençao de Varsovia, dos valores das indenizaçoes por danos morais e materiais, decorrentes de extravio de
bagagem, tendo em vista o disposto no art. 178 da CF (a lei brasileira deve obedecer aos acordos firmados pela
Úniao na ordenaçao do transporte internacional, observada a reciprocidade). Nao obstante, ha precedente
relativamente recente do STF sobre a materia: “O fato de a convenção de Varsóvia revelar, como regra, a
indenização tarifada por danos materiais não exclui a relativa aos danos morais. Configurados esses
pelo sentimento de desconforto, de constrangimento, aborrecimento e humilhação, cumpre observar a
Carta Política da República, no que se sobrepõe a tratados e convenções ratificados pelo Brasil” (RE
391032 AgR).

1. Serviço público e relação jurídica de consumo


De acordo com o disposto no caput do art. 22 do CDC, a legislaçao consumerista incide sobre todos os serviços
publicos prestados pelo Estado ou por suas empresas:
“Os orgaos publicos, por si ou suas empresas, concessionarias, permissionarias ou sob qualquer outra
forma de empreendimento, sao obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto
aos essenciais, contínuos.”

 Serviços de transporte público: REsp 976836;


 Prestação de serviços rodoviários, por meio de empresas concessionárias: REsp 647710;
 Serviços de telefonia fixa ou móvel: STJ, AgRg no AgRg no REsp 1.032454.
- Sum 356/STJ: E legítima a cobrança da tarifa basica pelo uso dos serviços de Telefonia fixa.
 Serviços públicos de fornecimento de água e esgoto, luz (energia elétrica) e gás (AgRg no REsp
1151496)
Sum 407/STJ: E legítima a cobrança da tarifa de agua fixada de acordo com as categorias de usuarios e as
faixas de consumo.
"A jurisprudencia desta Corte possui entendimento pacífico no sentido de que a relaçao entre
concessionaria de serviço publico e o usuario final, para o fornecimento de serviços publicos
essenciais, tais como agua e energia, e consumerista, sendo cabível a aplicaçao do CDC” (AgRg no
AREsp 354991).

Por fim, nos moldes da teoria finalista aprofundada, o Estado podera ser tambem beneficiado pela
regulamentaçao prevista no CDC, ante a sua vulnerabilidade enfrentada no caso concreto: “Quanto a
aplicabilidade do CDC, esta Corte ja se pronunciou no sentido de que, para se enquadrar no conceito de
consumidor, se aplica a Teoria Finalista, de forma mitigada, quando a parte contratante de serviço
público é pessoa jurídica de direito público e se demonstra a sua vulnerabilidade no caso concreto.”
(REsp 1297857)

Quanto a questao do corte de serviço essencial (casos de corte de serviços de agua, luz e gas por parte das
empresas concessionarias que prestam o serviço), grande parte da doutrina defende a impossibilidade de
interrupçao do serviço público essencial em qualquer hipotese, categoria na qual se situam os serviços de agua e
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luz, sustentando-se no art. 22 do CDC. O corte de serviço essencial constituiria uma pratica abusiva na cobrança
da dívida, nos termos do art. 42, caput, do CDC (Rizzatto Nunes, Lima Marques e Herman Benjamin). Cabe
apenas a prestadora do serviço procurar outros meios judiciais para cobrar o valor devido.

Todavia, prevalece na jurisprudência do STJ a possibilidade de interrupçao do serviço, nas hipoteses de


inadimplencia do usuario, desde que haja prévia comunicação por parte do prestador de serviços. Esta
tesse se baseia no fato de ser Lei de Concessoes Publicas especiais e posteriores ao CDC (critério da
especialidade +critério cronológico). Em reforço, tem-se utilizado o fundamento constitucional de proteçao da
propriedade e da sua funçao social (art. 5º, XXII e XXII, CF/1988), bem como a manutençao da ordem
economica (art. 170 da CF/1988). Ressalvas a regra:
a) o corte somente é possível em relação a débitos atuais, do proprio mes de consumo, e nao quanto a
dívidas antigas ou anteriores (STJ, AgRg no Ag 1359604); b) não cabe o corte do serviço essencial pelo
inadimplemento se houver valores pagos a mais pelo usuário-consumidor (compensaçao);
c) não é possível o corte nos casos de fraude no medidor sem prévio processo administrativo
contraditório, nao se podendo presumir a culpa do consumidor, diante da presunçao de sua boa-fe;
d) não se defere o corte quando consumidor está em situação excepcional de enfermidade, existindo, por
exemplo, um tratamento medico domiciliar (REsp 864715);
e) o corte do serviço somente pode atingir o imóvel que gerou o débito e nao outros de propriedade do
consumidor inadimplente;
f) o débito de consumo realizado por proprietário anterior, não autoriza o corte do serviço essencial no
tocante ao novo proprietário do imóvel (STJ, AgRg no Ag 1107257);
g) o STJ tem aplicado a ponderação de valores e de princípios constitucionais nas hipóteses envolvendo
o corte de serviço essencial em relação à pessoa jurídica consumidora, havendo situações especiais,
como nos casos relativos as pessoas jurídicas de Direito Público (v. g., municípios) e pessoas jurídicas de
Direito Privado que prestam serviços essenciais à coletividade (hospitais, creches, escolas, centros de
saude, pronto-socorros etc.). A tendencia e de se afastar o corte em hipoteses tais, em prol da solidariedade
social (art. 3º, inc. I, da CF/1988) (REsp 853392).
Somente os serviços uti singuli podem figurar como objeto da relação de consumo, pois somente esses
satisfazem usuarios certos e determinados e sua contraprestaçao pecuniaria e paga diretamente ao prestador
de serviço (mediante tarifa), a exemplo dos serviços de agua e esgoto (Sum. 412/STJ). Por outro lado, nao se
cogita configurar este tipo de relaçao a existente entre o doente que e atendido por hospital do SÚS e este, assim
como no serviço de segurança publica, iluminaçao de praças e ruas, diplomacia etc, pois sao serviços uti
universi, remunerados por tributo (impostos), sendo tal relação tutelada pelo direito administrativo.

2. Atividade bancária
E pacífico na jurisprudencia o entendimento de sofrer a atividade bancaria incidencia do CDC, pois os serviços
prestados aos clientes, correntistas ou nao, sao serviços postos a disposiçao de consumidores e nao atividade
financeira propriamente dita, esta, sim, objeto de regulamentaçao por lei complementar. Neste sentido, ADI
2591; Sumulas 285 e 297/STJ (“Nos contratos bancários posteriores ao CDC incide a multa moratória nele
prevista” e “O CDC é aplicável às instituições financeiras.”).
Em decisao recente, ficou assentada a responsabilidade da CEF, em vista do onus da fornecedora dos serviços
bancarios em demonstrar a inexistencia ou impossibilidade de violaçao do sistema eletrônico de saque por
meio de cartão bancário, ou mesmo de provar eventual conduta da vítima que tenha concorrido para a
ocorrência do evento danoso. (TRF1 AC 00201149620084013400).
No caso específico do serviço de compensaçao de cheques, o STJ concluiu pelo afastamento da incidencia do
CDC, porquanto a relaçao jurídica existente baseia-se em serviço publico de carater eminentemente
administrativo, logo, sem fins economicos (AgRg no REsp 1441904).

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As entidades de previdencia privada, embora nao exerçam atividade bancaria, são consideradas instituições
financeira, sujeitas às disposições do CDC. Diante disso, o STJ entende possível a revisao das taxas de juros
remuneratorios praticadas por entidades abertas de previdência (AgRg no REsp 1119309).
O STJ reiteradamente tem afastado a incidencia das disposiçoes do CDC aos contratos de credito educativo
(FIES), uma vez que tais ajustes nao contem natureza de serviços bancarios (REsp 1256227).
Ha responsabilidade dos bancos:
- Inclusao no CCF sem comunicaçao ao correntista (REsp 1354590)
- Avaliaçao indevida no Crediscore (REsp 1419697)
- Saque fraudulento por terceiros (STJ, 479)
- Demora em ressarcir vítima de fraude eletronica (AREsp 395426)
- Assalto na porta da agencia, a depender da circunstancia (AREsp 764352)
Nao ha responsabilidade dos bancos:
- Cancelamento de cheque roubado a pedido do correntista, com base na Lei do Cheque (REsp 1324125)
- Juntamente com o correntista por devoluçao de cheque sem fundo (REsp 1509178)
3. Atividade securitária
Aplica-se, ainda, o CDC nas relaçoes advindas do contrato de seguro (REsp 802442) e planos de saude (Sum
469/STJ). Todavia, se quem contrata o seguro e empresa prestadora de serviço, no intuito de beneficiar seus
empregados com seguro-saude, nao se aplica o CDC (REsp 1102848).
Sao abusivas as clausulas em plano de saude que limitam tempo de internaçao (Sum 302/STJ), limita home care
com custo semelhante ao da internaçao (RESP 1378707), vedam reembolso de hospital nao conveniado para
atendimento de urgencia (REsp 1286133), de renuncia a entrevista com medico no ato da contrataçao (REsp
1554448). Geral dano moral presumido a negativa indevida de tratamento por plano de saude (AREsp 718634)
Seguradora nao e obrigada a manter o premio anterior de segurado que migra de plano coletivo para individual
(REsp 1471569)
4. Atividade imobiliária
No que se refere a este tipo de atividade, se se tratar de relaçao locatícia, nao tem aplicaçao o diploma
consumerista, mas a lei de locaçoes. Porem, se houver empresa de administraçao imobiliaria intermediando o
negocio, havera relaçao de consumo (REsp 509304)
Quanto a incidencia de juros nos contratos relativos ao SFH, o STJ consolidou a possibilidade de controle da
estipulaçao dos juros: “Nos contratos celebrados no âmbito do SFH, é vedada a capitalização de juros em
qualquer periodicidade. (REsp 1070297 Rep).
Sum 473/STJ: “O mutuario do SFH nao pode ser compelido a contratar o seguro habitacional obrigatorio com a
instituiçao financeira mutuante ou com a seguradora por ela indicada”. O seguro habitacional continua
obrigatorio, no entanto, a escolha da seguradora compete ao consumidor.
Ja quanto a atividade de venda de imoveis por incorporadora, imobiliaria e outra empresa que se dedica
profissionalmente ao ramo imobiliario, incide o CDC.
“em contratos submetidos ao CDC, é abusiva a cláusula contratual que determina a restituição dos
valores devidos somente ao término da obra ou de forma parcelada, na hipotese de resolução de
contrato de promessa de compra e venda de imovel, por culpa de quaisquer contratantes. Em tais
avenças, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador -
integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso
tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento (REsp 1300418 Rep).
5. Consórcios
Segundo o STJ, incide o CDC aos negocios jurídicos realizados entre empresa administradora de consorcios e
seus consumidores consorciados (REsp 541184).

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Consorcio pode incluir o abatimento dos valores relativos ao prejuízo causado ao grupo e a vantagem
economica decorrente da utilizaçao do bem (CDC, 53 § 2º)
Administradora de consorcio pode definir livremente a taxa de administraçao, mesmo que superior a 10% (STJ,
538)
Devoluçao dos valores pagos pelo desistente somente apos encerramento do grupo do consorcio, ate 30 dias
(REsp 1119300 Rep)
* Deve ser restituído o valor pago a título de fundo de reserva
* Incide correçao monetaria sobre as prestaçoes pagas quando da restituiçao (STJ, 35)

M. ÉTICA E ESTATUTO JURÍDICO DA MAGISTRATURA NACIONAL

REGIME JURÍDICO DA MAGISTRATURA NACIONAL: CARREIRAS, INGRESSO,


PROMOÇÕES, REMOÇÕES.

Vige, em nosso ordenamento jurídico, o princípio da separação dos Poderes, sendo tão importante a ponto de
configurar cláusula pétrea (art. 60, § 4º, III, da CF), não podendo ser objeto de deliberação qualquer emenda à CF
tendente a abolir a separação entre os Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo.
Nos termos constitucionais, é possível afirmar que o judiciário é Poder da República e seus integrantes são titulares
de uma parcela da soberania estatal.
O Poder Judiciário é exercido pelos seguintes órgão: a) STF; b) CNJ; c) STJ; d) TRFs e Juízes Federais; e) TRTs e Juízes
do Trabalho; f) Tribunais e Juízes Militares; h) TJs e Juízes dos Estados e do DF e Territórios. (CF, art. 92)
A partir da natureza estrutural e organizacional do poder político, na sua repartição horizontal, coube ao Poder
Judiciário privativamente a função estatal da jurisdição, mediante a atuação de vontade do direito nos casos
concretos, por intermédio do processo judicial, sendo responsável pela pacificação social.
A divisão da estrutura judiciária brasileira é o resultado da repartição racional do trabalho da mesma natureza entre
distintos órgãos jurisdicionais, pois o Poder Judiciário é uno, assim como é una a sua função precípua, que é a
jurisdição, dotada do mesmo conteúdo e da mesma finalidade sempre.
São características da jurisdição: a) Lide: É um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida; b)
Inércia: os órgãos jurisdicionais, em regra, dependem de provocação das partes (arts. 2º e 262 do CPC), salvo
algumas exceções, como o inventário de ofício; c) Definitividade: toda decisão jurisdicional tem a tendência de se
tornar imutável, não impugnável, formando coisa julgada. Após o seu trânsito em julgado, a sentença é revestida do
caráter da imutabilidade, não podendo ser modificada, salvo exceções, como a desconstituição por meio de ação
rescisória; d) Escopo de atuação do direito – a atividade jurisdicional tem por objetivo aplicar o direito ao caso
concreto, restabelecendo a paz social; e) Substitutividade – cabe ao Estado resolver os litígios, substituindo a
atividade das partes;
A jurisdição é nacional (nem federal, nem estadual) e não comporta divisões. É um poder único que se positiva por
meio de vários órgãos estatais: federais e estaduais.
São instituídos organismos distintos para uma divisão racional do trabalho, atribuindo-se a cada um deles uma fatia
do total das numerosas causas que são processadas no país.
Para a distribuição de competência, são levados em conta critérios como a natureza da relação jurídica material
controvertida, a qualidade de quem figurará como parte e, notadamente, o interesse público com o propósito de
assegurar aos cidadãos a melhor prestação jurisdicional.
O Estado atribui a determinadas pessoas a função de prover os órgãos e de agir em nome dele, e qualquer ato que
pratiquem investidos de jurisdição é atribuído ao próprio Estado, daí porque a natureza do cargo de juiz ser a de
agente político, que exerce suas atribuições com prerrogativas e responsabilidades próprias estabelecidas na
Constituição e em leis especiais.
Regime jurídico é o conjunto de regras de direito que regulam determinada relação jurídica.
No caso da magistratura nacional, a LOMAN – é o regime jurídico único nacional a ser observado.
A LOMAN não somente prevê direitos, deveres, vantagens e obrigações aos magistrados, mas também assegura o
pleno exercício da jurisdição, evitando a usurpação dos limites institucionais conferidos ao Judiciário nacional.
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A importância de Lei Complementar para reger a carreira da magistratura reside no fato de o constituinte ter
interpretado que determinadas matérias, nada obstante a sua relevância, não poderiam ser regulamentadas em
sede constitucional, sob pena de dificultar-se eventual processo de alteração, tampouco poderiam comportar
alterações constantes em processo legislativo ordinário.
Em diversos precedentes, o STF já afirmou que a LOMAN foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, de
modo que seus dispositivos compatíveis com a Lei Fundamental têm plena vigência (ADI 841QO; ADI 1152-MC; ADI
1503; ADI 4108-REF-MC; ADI 4042-MC).
Emendas à Constituição Federal de 1988 já imprimiram significativas mudanças na organização e disciplina do Poder
Judiciário, inclusive estabelecendo, no art. 93, caput, que “Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal
Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura”.
Entretanto, enquanto não editada a nova lei, permanece em plena vigência a Lei Complementar nº 35/1979, com
interpretação necessariamente a partir das normas constitucionais que tratam da matéria.
A magistratura é uma carreira jurídica, cuja forma mais comum de ingresso é o concurso público de provas e títulos.
O provimento dos cargos públicos pode acontecer de duas formas: originário e derivado.
O provimento originário ocorre quanto o agente não está no quadro e presta concurso para ingressar.
O provimento derivado ocorre quando o agente já está no quadro e nele vai movimentar-se, de forma horizontal ou
vertical.
Ou seja, existem as entrâncias inicial, intermediária e final. A movimentação é horizontal quando o juiz fica na
mesma entrância (remoção ou permuta). Por outro lado, a movimentação é vertical quando o juiz vai de uma
entrância para outra, por promoção ou acesso ao Tribunal.
O ingresso na magistratura de carreira pressupõe concurso público de provas e títulos, com a participação do
Conselho Seccional da OAB em todas as fases, nos termos do art. 78 da LOMAN.
Observando-se a ordem de classificação, o aprovado no concurso será nomeado e investido no cargo de Juiz
Substituto, no qual permanecerá por um período auxiliando ou substituindo magistrados mais experientes, antes de
se tornar juiz titular.
É possível que se estabeleça curso preparatório (art. 78, § 1º da LOMAN). Sendo assim, é admissível que os tribunais
criem o curso, que será tido como uma etapa do processo seletivo. Em SC já funciona dessa forma.
A partir da EC nº 45/04, há imposição constitucional acerca da exigência de3 anos de atividade jurídica como
requisito para a nomeação do juiz. Esta matéria encontra-se regulamentada na resolução nº 11/06 do CNJ, cujo art.
2º preceitua que “considera-se atividade jurídica aquela exercida com exclusividade por bacharel em Direito, bem
como o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de magistério superior, que exija a utilização
preponderante de conhecimento jurídico, vedada a contagem do estágio acadêmico ou qualquer outra atividade
anterior à colação de grau”. Nessa toada, o STF tem admitido o exercício de atividades jurídicas de escrivão de
polícia, oficial de justiça, etc.
Há uma discussão a respeito da exata contagem do prazo. Segundo o artigo 5º da resolução supramencionada, deve-
se completar esse prazo com a inscrição definitiva no concurso. Atualmente, o STF entende que a contagem é feita a
partirda conclusão do curso de Direito (e não da colação de grau) até a data da inscrição definitiva.
Conforme exigência do art. 78, §1º da LOMAN, “os candidatos serão submetidos a investigação relativa aos aspectos
moral e social, e a exame de sanidade física e mental, conforme dispuser a lei”. Geralmente essa investigação é feita
através de consulta a pessoas com as quais o candidato trabalhou, com o objetivo de obter informações para
verificar a sua conduta. Porém, é necessário deixar claro que essa investigação não é determinante, embora sirva
como apoio para saber se o magistrado terá condições de exercer o seu cargo.
O recrutamento dos juízes por seleção, impingindo a escolha dos mais capacitados com idêntica oportunidade a
todos, é uma caracterização de meritocracia, atendendo exatamente ao ideal democrático.
Durante os dois primeiros anos na carreira, prazo necessário para aquisição da vitaliciedade, o Poder Judiciário
verificará, por meio de seus órgãos internos de controle, se o magistrado atende aos requisitos para a integração
definitiva nos quadros da Magistratura.
O segundo grau de jurisdição admite outras formas de acesso.O acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por
antiguidade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância.
Nos termos do art. 94 da Constituição Federal, “um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais
de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de
efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes”.
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Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias
subsequentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação (art. 94, parágrafo único da CF).
Os Tribunais são majoritariamente compostos por juízes, cujo provimento se dá mediante promoção, que é a
ascensão vertical na carreira.
A promoção na carreira submete-se à regra da alternância entre os critérios de antiguidade e merecimento.
A Constituição Federal, em seu artigo 93, II, dispõe que a promoção se dará de entrância para entrância,
alternadamente, por antiguidade e merecimento. Esses critérios são válidos tanto para a promoção horizontal (de
entrância para entrância) quanto para a promoção vertical (de um grau de jurisdição para outro).
É interessante lembrar que entrância é diferente de instância.
Entrância é cada um dos segmentos (divisões) que compõem o primeiro grau de jurisdição. As comarcas, na Justiça
Estadual, são unidades jurisdicionais que, apesar de assemelharem-se, não coincidem necessariamente com os
municípios. Elas são classificadas em entrâncias de acordo com sua população, desenvolvimento, complexidade ou
por outros critérios fixados pelo legislador. Na Justiça Federal, por sua vez, há Seções judiciárias (capitais) e
Subseções Judiciárias (interior).
Por outro lado, instância correspondente ao grau de jurisdição. O princípio do duplo grau de jurisdição assegura ao
vencido a interposição de recurso para reexame de seu pleito em um grau superior da jurisdição, o segundo grau.
Quanto à promoção vertical, como dito, se dá através de antiguidade ou merecimento.
A antiguidade é critério meramente cronológico.É mais antigo aquele que permanece na carreira por mais tempo.
Será o primeiro da lista elaborado de acordo com a ordem de ingresso na carreira ou no segmento considerado
(entrância).
Merecimento é mérito, mas sua aferição obedece a parâmetro duplo, pois o mérito é verificado em conjunto com
um mínimo de antiguidade.
Conforme entendimento do STF, a norma vigente ao tempo da posse dos interessados acerca do critério de
antiguidade deve prevalecer para todos os fins.

(...). PROMOÇÃO POR ANTIGUIDADE DE MAGISTRADOS. CRITÉRIO DE DESEMPATE. TEMPO DE


SERVIÇO PRESTADO AO ESTADO. NORMA POSTERIOR. EFEITOS RETROATIVOS. IMPOSSIBILIDADE.
OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA IRRETROATIVIDADE DA NORMA, DA SEGURANÇA JURÍDICA E DA
PROTEÇÃO DA CONFIANÇA. CRITÉRIOS DIFERENTES DAQUELES PREVISTOS NA LEI ORGÂNICA DA
MAGISTRATURA NACIONAL - LOMAN. CONTRARIEDADE AO ART. 93 DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. (...) 1. O princípio da irretroatividade das normas e da segurança jurídica, na sua
dimensão subjetiva densificada pelo princípio da proteção da confiança, veda que norma
posterior que fixe critérios de desempate entre magistrados produza efeitos retroativos capazes
de desconstituir uma lista de antiguidade já publicada e em vigor por vários anos. 2. Cuida-se de
writ contra decisão do Conselho Nacional de Justiça que afastou critério de desempate aplicado
pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso em promoção de magistrados. 3. O tempo de
serviço público como critério de desempate em detrimento da ordem de classificação no
concurso para o cargo de juiz foi introduzido pela Lei Complementar estadual (...). 4. A legislação
estadual não pode modificar matéria de competência de Lei Complementar nacional da
magistratura, disciplinando critérios de desempate entre magistrados, esvaziando o animus do
constituinte de criar regras de caráter nacional. Precedentes (...) . (STF, MS 28494)

Na apuração de antiguidade, o Tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois
terços de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até
fixar-se a indicação.
Os cargos vagos, bem como os cargos providos, mas cujos ocupantes estejam afastados cautelarmente do exercício
da função jurisdicional, não devem ser computados para o fim de determinação do referido quórum. Contudo,
devem ser levados em consideração os cargos preenchidos por membros afastados em caráter eventual, nesses
incluídos todos aqueles que, juridicamente aptos a exercer suas atribuições, estejam impedidos por motivos
transitórios.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – ATUAÇÃO. O CJF atua no campo administrativo, devendo ter
presente a independência versada no artigo 935 do NCC. PROMOÇÃO – MAGISTRADO –
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ANTIGUIDADE – QUÓRUM – APURAÇÃO. O quórum de dois terços de membros efetivos do


Tribunal ou de seu órgão especial, para o fim de rejeição de juiz relativamente à promoção por
antiguidade, há de ser computado consideradas as cadeiras preenchidas e aqueles em condições
legais de votar, observadas ausências eventuais. (STF, MS 31357)

Conforme art. 93, II, e da CF, “não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver os autos em seu poder além
do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão”.
A promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na primeira quinta parte da lista de antiguidade
desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago. A finalidade de tais requisitos é impedir
que, a pretexto de se atender ao critério de merecimento, fosse promovido um juiz distanciado da antiguidade.
Note-se que, excepcionalmente, e em atenção ao interesse público de provimento da unidade jurisdicional por um
juiz titular, nos termos do artigo 93, II, b da CF, poderá ser promovido por merecimento um juiz que não tenha o
biênio na entrância e não esteja na primeira quinta parte da lista de antiguidade, e isso acontecerá se não houver
tais requisitos quem aceite o lugar vago.
Para se aferir o mérito no critério de merecimento, a CF, em seu art. 93, II, c, previu 05 elementos: desempenho,
produtividade, presteza, frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento.
A partir dos ensinamentos de José Renato Nalini, tais elementos são delineados na forma a seguir:
a) Desempenho: é conceito indeterminado que não pode ser medido pela produtividade nem pela celeridade.
Desempenho é um complexo de atributos, que envolve a atuação integral do juiz, e que corresponde a um conjunto
de qualidades a evidenciar que o magistrado é de fato vocacionado;
b) Produtividade e Presteza: devem ser aferidos com objetividade. Produtividade não significa mera quantificação de
decisões. Julgar muito nem sempre significa julgar bem, no sentido de conferir ao litígio a solução mais equânime.
Por outro lado, a presteza é a reiteração da insistência com que o constituinte almeja que o juiz brasileiro seja célere
na outorga da jurisdição.
c) Frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento: atualmente, a ascensão
funcional do juiz, mediante o sistema de promoções, depende também de cursos específicos. A promoção por
merecimento não pode prescindir do compromisso permanente de cada magistrado com o seu projeto pessoal de
aprimoramento. Com a EC 45/04, as Escolas da Magistratura obtiveram condição diferenciada, com vistas à
realização de cursos oficiais de preparação e aperfeiçoamento e promoção de magistrados.
É obrigatória a promoção do juiz que figure três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento
(art. 93, II, a, da CF).
Os juízes que ingressam nos tribunais por força do quinto constitucional estão liberados de todas essas exigências
(art. 94 da CF). Tais magistrados são vitalícios a partir da nomeação, não se sujeitando a cursos de preparação, nem
de aperfeiçoamento.
O quinto constitucional corresponde à destinação de vinte por cento dos lugares dos TRFs e dos TJs membros do MP
e advogados, como já referida. Segundo o STF, o quinto constitucional, quando eventualmente não observado, não
gera por si só a nulidade do julgado, mercê da incidência do princípio pas de nullité sans grief.
Os integrantes do quinto constitucional devem ter mais dez anos de advocacia ou de carreira, além da reputação
ilibada e notório saber jurídico. A partir da EC 45/04, a CF passou a conter mais duas regras referentes ao quinto
constitucional: quanto à composição do TST (art. 111-A) e dos TRT’s (art. 115).
Na Magistratura de carreira dos Estados, a remoção precede ao provimento inicial e à promoção por merecimento.
As normas incidentes sobre a promoção também valem, no que couber, para a remoção a pedido do juiz.
O princípio da inamovibilidade, assegurado aos magistrados, não obriga a promoção ou remoção, sem que o cargo a
ser ocupado esteja vago.

PROCESSO ADMINISTRATIVO – ATUAÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – LIMITES


OBJETIVOS. O Conselho Nacional de Justiça não está sujeito aos limites objetivos do processo
civil, podendo, em prol dos princípios básicos referentes à Administração Pública, atuar de ofício.
MAGISTRATURA – CONCURSO DE REMOÇÃO – OPORTUNIDADE. O concurso de remoção
pressupõe encontrar-se vago o cargo envolvido. MAGISTRATURA – MODIFICAÇÃO DA ENTRÂNCIA
– JUÍZO – TITULAR – PRESERVAÇÃO DO EXERCÍCIO. Ocorrendo a modificação da natureza do
Juízo, passando este a ser de entrância de maior envergadura, cumpre preservar a situação do
magistrado que o exerce. (STF, MS 26366)
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Ou seja, se a lei eleva a comarca para outra instância superior (ex: de entrância intermediária para final), o juiz que lá
é titular não pode ser removido compulsoriamente em virtude dessa transformação. Aplica-se, no caso, a Súmula 40
do STF: A elevação da entrância da comarca não promove automaticamente o Juiz, mas não interrompe o exercício
de suas funções na mesma comarca. Logo, mesmo tendo havido essa transformação, o TJ não pode abrir edital para
remoção ou promoção dessa comarca. Deve-se aguardar o magistrado decidir deixar a vaga. Atenção: o magistrado
é inicialmente nomeado para uma comarca de entrância (“nível”) inicial e, com o tempo, vai sendo promovido para
comarcas de entrância intermediária e especial (a nomenclatura irá variar de acordo com o TJ).
No que tange à nomeação dos membros dos Tribunais Superiores, não existe qualquer pertinência com a carreira da
magistratura.
Trata-se de escolha do Presidente da República, cujas exigências são: que o candidato tenha entre 35 e 65 anos,
notável saber e reputação ilibada. Após a indicação pelo Presidente da República, o nome do ministro é submetido a
uma sabatina pelo Senado.
O STF compõe-se de onze ministros, compostos de cidadãos escolhidos entre cidadãos com mais de35 e menos de
65 anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
O STJ compõe-se de, no mínimo, 33 Ministros, que serão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros
com mais de 35 anos e menos de 65 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a
escolha pela maioria absoluta do Senado, sendo: a) Um terço dentre juízes dos TRFs Federais indicados em lista
tríplice elaborada pelo próprio Tribunal; b) Um terço dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça indicados em
lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal; c)Um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do MPF,
MPE e MPDFT, alternadamente, indicados na forma do artigo 94 do CF.
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) compor-se-á de 27 Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de 35 e
menos de 65 anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado
Federal, sendo: a) Um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros
do MPT com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no artigo 94 da CF; b) Os demais dentre
juízes dos TRTs, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.
O TSE compõe-se, no mínimo, de sete membros, escolhidos, mediante eleição, pelo voto secreto, de três juízes
dentre os Ministros do STF e de dois juízes dentre os Ministros do STJ. Além disso, dois juízes serão indicados pelo
STF dentre seis advogados, com posterior nomeação pelo Presidente da República.
O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal
Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
O STM compõe-se de 15 Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a
indicação do Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do
Exercício, ativa e do posto mais elevado do mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.
Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente República dentre brasileiros maiores de 35 anos, sendo: a) 3
dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibida, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;
b) 2, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar.
Os TRFs compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo
Presidente República dentre brasileiros com mais de 30 e menos de 65, sendo: a) Um quinto dentre advogados com
mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de
carreira; b) Os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco anos de exercício, por antiguidade e
merecimento, alternadamente.
Os TRTs compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados
pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de 30 e menos 65anos, sendo: a) Um quinto dentre
advogados com mais dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com
mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no artigo 94 da CF; b) Os demais, mediante promoção
de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente.
Os TREs compor-se-ão de sete juízes. Os membros são escolhidos mediante eleição, por voto secreto, de dois juízes
dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça, de dois juízes dentre os juízes de direito escolhidos pelo Tribunal
de Justiça ede um juiz do TRF (ou juiz federal escolhido pelo TRF caso não seja sede). Além disso, dois juízes serão
indicados pelo Tribunal de Justiça dentre seis advogados, com posterior nomeação pelo Presidente da República.
O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente, e o Vice-Presidente, dentre os desembargadores.
Quanto aos Tribunais de Justiça, os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos na
Constituição Federal.
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A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de
iniciativa do Tribunal de Justiça.
O Tribunal de Justiça instalará justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade
jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
Foram extintos os Tribunais de Alçada e seus membros passaram a integrar os Tribunais de Justiça dos respectivos
Estados, respeitadas a antiguidade e classe de origem (art. 4º da EC 45/2004).
Com fundamento no art. 96, I, a, “compete privativamente aos tribunais eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus
regimentos internos”, estando pacífico o entendimento do STF no sentido de que apenas os desembargadores
podem participar de tal eleição, sendo inconstitucional a norma estadual que possibilitar a participação de juízes
vitalícios.

N. SOCIOLOGIA DO DIREITO/FILOSOFIA DO DIREITO

AS EVIDÊNCIAS DO COTIDIANO. ATITUDE FILOSÓFICA. ATITUDE CRÍTICA.


CONHECIMENTO, VERDADE E REALIDADE. A EXTRATIFICAÇÃO SOCIAL.

O. As evidências do cotidiano

A vida é feita de crenças silenciosas que nunca questionamos por parecerem óbvias. Não há, aqui, atitude
filosófica (reflexiva)
Ex: vai chover, a pessoa é sonhadora (porque olha para o horizonte) etc.
Os seres humanos se guiam por hábitos, costumes e atitudes condicionadas por valores e normas morais,
sociais, políticas etc.
ATITUDE FILOSÓFICA
A atitude filosófica não é uma atitude natural. Qualquer indivíduo de forma imediata face à realidade não
começa a examiná-la de forma especulativa. Pelo contrário, o que é natural é que se centre na resolução
problemas práticos, que se guie pelo senso comum, tendo em vista resolver certas necessidades imediatas
ou interesses concretos (atitude natural). Ninguém pode viver sem se adaptar constantemente às condições
do seu mundo. Estas exigências de sobrevivência tendem, naturalmente a sobrepor-se a todas as outras
preocupações.
2.Embora o homem seja inseparável das suas circunstâncias, não pode todavia ser reduzido a uma mero
produto das mesmas. Ele está permanentemente a ser confrontado com novos problemas que o colocam
perante novas situações imprevisíveis, e que o obrigam a alargar os seus horizontes de compreensão da
realidade. Cada mudança pode representar, assim, uma nova possibilidade para ampliar o conhecimento.
Trata-se de uma possibilidade, não algo que necessariamente tenha que acontecer a todos os homens nas
mesmas circunstâncias e em todas as ocasiões.
3. Estas mudanças frequentemente inquietam-nos ou maravilham-nos, despertando a nossa curiosidade sobre
o porquê das coisas, levando-nos a questionar o que nos rodeia. Ao fazê-lo estamos a distanciarmo-nos
da realidade, que de repente se tornou estranha ou mesmo enigmática. Esta atitude reflexiva, pode-nos
conduzir a uma atitude mais radical, a atitude filosófica.
4. A atitude filosófica se decorre do quotidiano, não é todavia ao mesmo redutível. Não é fácil caracterizá-la,
dada a enorme diversidade de aspectos que pode assumir. Vejamos apenas quatro aspectos que caracterizam
a atitude filosófica:
O espanto. Aristóteles afirmava que a filosofia tinha a sua origem no espanto, na estranheza e perplexidade
que os homens sentem diante dos enigmas do universo e da vida. É o espanto que os leva a formularem
perguntas e os conduz à procura das respectivas soluções. Como refere Eugen Fink o espanto torna o
evidente em algo incompreensível, o vulgar extraordinário.
A duvida. Ao filósofo exige-se que duvide de tudo aquilo é assumido como uma verdade adquirida. Ao
duvidar este distancia-se das coisas, quebrando desta forma a sua relação de familiaridade com as coisas. O
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que era natural torna-se problemático. O que então emerge é uma dimensão inquietante de insatisfação e
problematização. A reflexão começa exactamente a partir do exame daquilo que se pensa ser verdadeiro. Se
nunca duvidarmos de nada nunca saberes o fundamento daquilo em que acreditamos, mas também jamais
pensaremos pela nossa cabeça.
O rigor. O questionamento radical que anima o verdadeiro filósofo, não é mais do que um acto preparatório
para fundar um novo saber sobre bases mais sólidas. A crítica filosófica é por isso radical, não admite
compromissos com as ambiguidades, as ideias contraditórias, os termos imprecisos.
A insatisfação. A filosofia revela-se uma desilusão para quem quiser encontrar nela respostas para as suas
inquietações. O que o aprendiz de filósofo encontra na filosofia são perguntas, problemas e incitamentos
para que não confie em nenhuma autoridade exterior à sua razão, para que duvide das aparências e do senso
comum. A única "receita" que os filósofos lhe dão é que faça da procura do saber um modo de vida. Não se
satisfaça com nenhuma conclusão, queira saber sempre mais e mais.

ATITUDE CRÍTICA
A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não aos “pré-conceitos”, aos “pré-
juízos”, aos fatos e as idéias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido.
Numa palavra, é colocar entre parênteses nossas crenças para poder interrogar quais são suas causas e qual é
seu sentido.
A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas,
as idéias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmo. É também uma interrogação
sobre o porquê e como disso tudo e de nós próprios. “O que é?”, “Por que é?”, “Como é”. Essas são as
indagações fundamentais da atitude filosófica. A face negativa e a face positiva da atitude filosófica
constituem o que chamamos de atitude crítica. Por que “crítica”?
Em geral, julgamos que a palavra crítica significa “ser do contra”, dizer que tudo vai mal, que tudo está
errado, que tudo é feio ou desagradável. Em geral, crítica é mau humor, coisa de gente chata ou pretensiosa
que acha que sabe mais que os outros. Mas não é isso que essa palavra quer dizer.
A palavra critica vem do grego e possui três sentidos principais:
1) Capacidade para julgar, discernir e decidir corretamente;
2) Exame racional de todas as coisas sem preconceito e sem julgamento;
3) Atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma ideia, um valor, um costume, um comportamento,
uma obra artística ou cientifica.
A atitude filosófica é uma atitude critica porque preenche esses três significados da noção de critica, a qual,
como se observa, dizendo não as crenças e aos preconceitos do dia-a-dia para que possam ser avaliados
racional e criticamente. Por isso começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber ou, como
dizia Sócrates, começamos a buscar o conhecimento quando somos capazes de dizer: “Só sei que nada sei”.
Para Platão, o discípulo de Sócrates, a filosofia começa com a admiração ou, como escreve seu discípulo
Aristóteles, a Filosofia começa com o espanto: ”... pois homens começam e começaram sempre a filosofar
por motivos de espanto (...). Aquele que se coloca uma dificuldade e se espanta reconhece sua própria
ignorância (...). De sorte que, se filosofaram, foi pra fugir da ignorância”.

CONHECIMENTO, VERDADE E REALIDADE

Marilena Chauí chamou de “atitude filosófica” a não aceitação de certezas e crenças estabelecidas, isto
porque seria papel da filosofia buscar a verdade.

No entanto, a grande questão é: será possível atingir a verdade em uma sociedade globalizada, dominada por
uma grande quantidade de informações, muitas das quais servem aos interesses do sistema capitalista.
Além do fato que a própria definição de verdade comporta múltiplos conceitos.
Entretanto, a busca pela verdade passa necessariamente pelo combate contra o dogmatismo, a crença de que
o mundo é tal como observado e percebido inicialmente, sem possibilidade de contestação.

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Neste sentido, a atitude dogmática é conservadora, evita novidades e modificações, enraizando-se em


crenças e opiniões, o que conduz, muitas vezes, ao fanatismo.

A concepção de verdade.
A nossa ideia contemporânea de verdade foi construída ao longo de séculos, desde a antiguidade,
misturando a concepção grega, latina e hebraica.
Em grego, a verdade (aletheia) significa aquilo que não está oculto, o não escondido, manifestando-se aos
olhos e ao espírito, tal como é, ficando evidente à razão.
Em latim, a verdade (veritas) é aquilo que pode ser demonstrado com precisão, referindo-se ao rigor e a
exatidão.
Assim, a verdade depende da veracidade, da memória e dos detalhes.
Em hebraico, a verdade (emunah) significa confiança, é a esperança de que aquilo que é será revelado, irá
aparecer por intervenção divina.
Em outras palavras, a verdade é convencionada pelo grupo que possui crenças em comum.
A união destes conceitos fez com que Tomás de Aquino terminasse definindo a verdade como expressão da
realidade, a concepção em voga entre nós no senso comum até hoje.

A verdade filosófica.
Em filosofia, uma designação tradicional de verdade diria que é aquilo que permanece inalterável a
quaisquer contingências, um conceito que não está em concordância com o senso comum e que trás um
problema.
O conceito tradicional de verdade, do ponto de vista do senso comum e da filosofia, contraria o objetivo da
filosofia, uma busca pelo que está oculto por trás das aparências, tornando a verdade relativa e provisória.
Em outras palavras, a verdade espelha aquilo que é, o problema é encontrar a essência do que as coisas são,
adquirir a certeza incontestável sobre algo, o que geraria uma atitude dogmática.
O grande problema é que a verdade não possui um significado único, tampouco estático e definitivo, sendo
influenciada por inúmeros fatores.
Destarte, a construção de um sistema filosófico configura uma verdade dogmática que se contrapõem a
outras verdades dogmáticas.
Neste sentido, em filosofia existem várias verdades, todas possíveis desde que exista a ausência de
contradições, já que somente elementos que se anulam mutuamente poderiam invalidar a verdade.
Na filosofia e nas Ciências Humanas paradigmas coexistem e não se anulam.

Leibniz, Kant e Husserl.


A concepção de verdade foi objeto de estudo de diversos pensadores ao longo da história da filosofia, mas
três particularmente exerceram forte influência: Leibniz, Kant e Husserl.
Para Leibniz seria necessário distinguir dois tipos de verdade: de um lado as verdades de razão e de outro as
verdades de fato.
As verdades de razão enunciam que uma coisa é, necessariamente e universalmente, não podendo ser
diferente do que é, tal como as ideias matemáticas, sendo inatas.
As verdades de fato, ao contrário, são aquelas que dependem da experiência, expressando ideias obtidas
através das sensações, percepção e memória, sendo, portanto, empíricas.
A relação entre verdades de razão e de fato, julgadas pela racionalização das informações, permite conhecer
a realidade.
Já para Kant, a verdade surge a partir da relação entre juízos analíticos e sintéticos, expressando o primeiro
operações intelectuais e o segundo as estruturas ou fenômenos analisados.
Em outras palavras, a realidade que conhecemos não corresponde aquilo que é, mas sim ao que a razão
interpreta.
Partindo do mesmo principio, Husserl criou a fenomenologia, uma ramo da filosofia que estuda a leitura dos
fenômenos pela razão, já que a realidade seria relativa e subordinada à manifestação para consciência.

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O entendimento sofreria influencia dos sentidos e da razão, além dos conhecimentos previamente presentes
na mente e do contexto.

Concluindo.
A teoria do conhecimento, através da epistemologia (ciência que estuda o discurso), mesclada a discussão
em torno do conceito de verdade, a partir do racionalismo, do empirismo e do criticismo; fundou posturas
que influenciaram a construção da ciência e atitudes, maneiras de enxergar o mundo e agir.
A maneira de lidar com informações e tomar decisões, considerando especialmente os critérios para
solucionar problemas, acabaram sendo influenciados por três tendências que dizem respeito à forma de
conhecer e encarar a verdade:

1. Dogmatismo: Baseado no racionalismo de Descartes, afirma que o conhecimento adquirido é seguro e


universal, alguns inclusive inatos, conferindo certeza absoluta às decisões.
2. Ceticismo: Oposta ao dogmatismo, originado a partir do empirismo, afirma que o verdadeiro
conhecimento é fornecido pelos sentidos e pela experiência, sendo impossível construir uma verdade segura;
portanto toda decisão é provisória e sujeita a constantes reajustes.
3. Relativismo: Atitude filosófica originada a partir do criticismo kantiano, a qual defende a idéia de que
cada indivíduo possui uma verdade, um ponto de vista e uma perspectiva, para qual as decisões só podem
ser tomadas em conjunto, analisando os diversos ângulos e pontos de vista.

Chegar à verdade pode ser mais complexo do que aparente, talvez mesmo impossível dentro da limitada
capacidade humana de racionalização.
Porém, o interessante é o caminho percorrido em busca da verdade, uma luz que pode iluminar novas
tentativas.
___
Apartado I - Realidade, conhecimento e verdade
 Todas as teorias do conhecimento se propuseram o problema da verdade
 Conhecer é interpretar os dados da experiência.
 A verdade tem um caráter distintivo: a objetividade.
1.- O problema da verdade
 Ao longo da história a verdade focou-se de diferentes maneiras.
 A verdade passou de ser uma propriedade dos seres (verdade metafísica ou ontológica) a ser uma
propriedade do que sabemos dos seres (Verdade epistemológica)
1.1.- A verdade ontológica
 Para os gregos a verdade (alétheia) era o permanente, o que tinha embaixo das aparências, o que
captam nossos sentidos.
 Por exemplo, um amigo para valer
1.2.- A verdade epistemológica
 Um novo conceito vem do conceito de latim veritas.
 É verdadeiro o relato que é fiel e exato
 A verdade desloca-se do objeto ao que se diz dos objetos, a ser uma propriedade de nosso
conhecimento.
 Por exemplo “Juan disse a verdade”
 Está relacionado com o conceito de realidade.
 É verdadeiro o que concorda com a realidade dos fatos.
 Há um terceiro conceito, o acordo do pensamento consigo mesmo, ou o que tanto faz, a ausência de
contradição.
2.- Os Critérios para valer
 Não basta saber que entendemos por verdade. Há que saber quando um enunciado é verdadeiro ou
falso.
 Há muitas teorias (que se complementam) sobre este conceito.

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 Podemos distinguir entre verdades formais e verdades empíricas


 Esta distinção permite-nos distinguir as duas grandes teorias para valer, a de correspondência ou
adequação e a da coerência ou não-contradição. Há outras formas de entender a verdade como a
teoria pragmatista ou utilitarista, a relativista ou a mas recente de entender a verdade como consenso
2.1.- Verdade Empírica e verdade formal
 O conhecimento centra-se no conhecimento científico.
 Ao falar para valer há duas proposições científicas: empíricas e formais. Isto nos permite distinguir
entre verdade empírica e verdade formal
o Nas empíricas a verdade depende da correspondência entre o que se afirma e a realidade
o Nas formais a verdade depende da coerência ou não contradição da proposição com o resto
das proposições do sistema
2.2.- A verdade como correspondência ou adequação
 Corresponde-se com a verdade empírica
 Foi exposta por Aristóteles e coincide com o sentido comum
 Quando se aprofunda se torna problemática, já que supõe duas premissas:
o Que existe uma “realidade” objetiva e independente do pensamento
o Que o pensamento pode aceder a esta realidade
 A aceitação conduz ao realismo. A negação leva-nos ao idealismo.
 Não está muito claro que a realidade seja “isso que percebemos pelos sentidos”
2.3.- A verdade como coerência ou não contradição
 Corresponde à verdade formal, mas também às ciências empíricas.
 A verdade é a coerência de uma proposição com o resto de enunciados do sistema ao qual pertence.
 Define a verdade sem fazer referência a uma realidade exterior.
 Não há que sair do pensamento para determinar que é verdadeiro ou falso
 Um enunciado é verdadeiro se é compatível com o conjunto
2.4.- A verdade como evidência
o Este critério complementa à verdade como coerência.
o É exposto por Descarte, que diz que só são verdadeiras as proposições que não permitem o
mínimo motivo de dúvida.
o São os axiomas científicos e dos princípios lógicos.
2.5.- A verdade como utilidade
 É a formulação pragmatista da verdade.
 A verdade é o útil, o que se verifica na prática e tem resultados positivos e práticos.
 É um conceito provisório
 É muito próxima ao relativismo e como defensores teve aos sofistas gregos e a outros como W James
 Outras teorias para valer são:
o Teoria Relativista: O verdadeiro e o falso dependem das circunstâncias do momento
o Teoria do Consenso: A verdade é um acordo entre os hablantes em um diálogo ideal.
Apartado II - A Atitude Filosófica ante o conhecimento
 Somos capazes de descrever um mundo composto por objetos que se comportam de acordo com
nossas expectativas
 A contradição é o fundamento da pergunta sobre a possibilidade do conhecimento
 Há três formas de propor o problema, o ceticismo, o dogmatismo e a atitude crítica
3.- O Ceticismo
 A experiência da mudança constante fez pensar aos filósofos gregos que depois dessas mudanças se
escondia algo que sem ser captado pró os sentidos, constituía o componente último
 Era impossível determinar em concreto esses elementos, e os sofistas começaram a duvidar de nossa
capacidade de conhecer a realidade
 Com os sofistas começa o ceticismo na filosofia
3.1- O ceticismo radical
 Começou com o sofista Gorgias.

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 Desconfiava radicalmente na possibilidade de um conhecimento verdadeiro, e expressava-o em três


afirmações:
o Nada existe
o Se algo existisse não o poderíamos conhecer
o Embora algo existisse e o pudéssemos conhecer, não o poderíamos comunicar.
 O mérito foi haver dito tão radicalmente uma doutrina, o ceticismo
 O ceticismo baseia-se em negar todo conhecimento firme ou opinião segura.
 A base desta proposta é que a toda proposição se lhe pode contrapor outra.
 A única postura honrada é o “epojé”, suspender o julgamento para chegar à tranquilidade da alma
 É um ceticismo tão radical que se auto contradiz, porque dizer que é impossível atingir a verdade é
afirmar uma tese como verdadeira.
 Um ceticismo radical pode conduzir à paralisia intelectual (para que vamos pesquisar se não vamos
conhecer a verdade) e à desorientación moral (não há nenhuma coisa melhor que outra)
 O ceticismo por tanto leva-nos à pasividad e a inacción
3.2.- O ceticismo moderado
 Aparece na renascença com Montaigne e termina com Hume
 Meio século antes que Descarte Montaigne ressaltava a importância da dúvida. A sábio dúvida de
tudo.
 A dúvida é a expressão da sabedoria. Se a razão acha captar algo inmutable ou eterno, se engana.
 Não pode haver ciência verdadeira, porque no mundo os costumes são uma realidade cambiante, pelo
que não há questão que não seja motivo de disputa.
 Destaca o ceticismo de Hume, que centra sua crítica no relacionamento causa-efeito, ou a causalidad.
 O costume de haver visto antes algo nos faz achar que também acontecerá em um futuro.
 Nosso conhecimento do mundo é uma crença.
 Nosso conhecimento limita-se ao que recebemos pelos sentidos
 Nossas afirmações sobre o mundo são produto de nossa imaginação.
 É uma postura cética que mostra que o conhecimento está limitado.
 Hume diz que uma postura de ceticismo radical não é útil para a vida. A natureza faz-nos/fá-nos
julgar, embora para viver basta-nos esta limitada forma de conhecimento
4.- O dogmatismo
 O dogmatismo afirma a capacidade do homem para conhecer, embora admite a possibilidade de
equivocar-se.
 Não todos os homens são capazes de atingir a verdade, pelo que há que lhes ensinar ou lhes impor a
verdade, originando o dogmatismo radical
 A filosofia só pode ser relacionado com um dogmatismo moderado, que cofia na razão para atingir a
verdade
4.1.- O dogmatismo radical
 O dogmatismo é uma confiança ilimitada na capacidade de conhecer.
 Parte de um realismo ingênuo que identifica o conhecimento com sua percepção subjetiva e com sua
opinião acrítica
 Só admite como válida sua visão das coisas
 O dogmatismo radical conduz ao errar no plano epistemológico e aos preconceitos no plano
psicológico.
 Impede o progresso e dificulta a convivência em tolerância, pelo que tem efeitos nocivos.
4.2.- O dogmatismo moderado
 O dogmatismo moderado baseia-se em uma confiança razoada na capacidade humana para conseguir
um saber.
 Não é contrário à atitude crítica, senão que se baseia nela.
 Destaca Descarte, que se propõe a necessidade de buscar um ponto de partida firme para poder
atingir a verdade por se mesma, sem depender dos ensinos recebidos.
 Submete a dúvida todos os conhecimentos

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 Baseia-se no “Penso, depois existo”, que é uma verdade indudable, como deve ser todo
conhecimento.
 São verdadeiros os conhecimentos que se apresentem a um espírito atento
 Platão, Aristóteles, São Tomas e Kant elaboraram sistemas e teorias que afirmam a possibilidade de
um conhecimento verdadeiro da realidade.
5.- A atitude crítica
 É uma atitude de cautela à hora de admitir como verdadeiro qualquer conhecimento, aceitar como
verdadeiro o que se capta pelos sentidos ou o que possa ser compatível com o já conhecido.
 É uma atitude natural em frente ao conhecimento.
 A atitude crítica exige distanciar da atitude natural para saber que conhecimentos são verdadeiros e
quais falsos.
 Este distanciamiento fundamenta a possibilidade do conhecimento
 A atitude crítica tem que ser radical. Nada relacionado com o conhecimento pode escapar à inspeção,
nem sequer a própria razão.
 Com a crítica pretendem-se atingir três metas:
o Purificación: Não aceitar nenhum conhecimento sem o analisar criticamente, recusando os
suspeitos de dúvida
o Fundamentar o conhecimento: Buscar um ponto de partida que assegure que os
conhecimentos são válidos e sem erros
o Delimitar o conhecimento: Estabelecer os limites de nosso conhecimento
Apartado III - Condicionantes do conhecimento
 Os condicionantes de influência social são fatores que influem na cada indivíduo e têm que ver com
o relacionamento do conhecimento com a resposta às necessidades humanas
6.- Determinantes sociais
 Uma das formas tradicionais de enfrentar os fatores sociais foi em torno da tolerância.
 Segundo os pensadores da Ilustração, a razão deve exercer suas tarefas (analisar, conhecer e aplicar
suas ideias) com independência, porque só pode abranger todos os conhecimentos
 A razão deve ser crítica consigo mesma, superando os preconceitos ou idéias preconcebidas.
 Os preconceitos são formas de pensar, valores e comportamentos assumidos acríticamente, que
impedem ver o mundo de forma autônomo.
 Os preconceitos são um impedimento para o exercício da razão, e segundo Voltaire devem ser
abandonados para enfrentar ao mundo com independência de julgamento.
 Há duas classes de preconceitos, os religiosos e os civis, que controlam aos indivíduos pela
influência nas consciências ou pelo controle das condutas respetivamente
 Esta dependência dos preconceitos produz uma “minoria de idade” segundo Kant, da que há que sair
para exercer a própria razão de forma autônoma.
 Kant propôs a solução “atreve-te a conhecer, a pensar por ti mesmo”
 A partir do século XIX, dá-se maior importância ao relacionamento entre o indivíduo e a sociedade,
à aceitação obrigada do já que é-lhe atribuído na sociedade.
 As análises de Marx sobre a superestructura, sobre a vida social formada a partir da realidade
econômica fazem-lhe ver que a consciência individual é um produto da sociedade.
 Os preconceitos são imposições externas e considera-se uma manipulação por parte dos poderes
6.1.- O conhecimento como construção social
 A cada indivíduo vai assumindo um conjunto de valores desde os que interpreta o mundo que o
rodeia e no que vive, constrói sua própria visão da realidade. Assume como a realidade aquilo que é
objetivo e verdadeiro.
 O conhecimento e os indivíduos são fruto de uma construção social, que chega às pessoas pelos
“universos simbólicos” (linguagem, direito, instituições sociais….) com os que a cada sociedade se
define.
 A objetividade está determinada pelo que a sociedade afirma que são as coisas
7.- Conhecimento e interesse

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 Outra perspectiva dos condicionantes do conhecimento é a de Tê-las. Analisa os interesses que dirige
o conhecimento.
 Não se trata de afirmar que o interesse deteriora o processo do conhecimento, senão saber que o
conhecimento está dirigido por diversas taxas de juro.
7.1.- Taxas de juro
 Segundo Tê-las, há três interesses que aparecem no ser humano:
o Interesse técnico: Aparece nas ciências empíricas e a tecnologia. Nasce da necessidade de
dominar a natureza para melhorar as condições materiais de vida
o Interesse comunicativo: Surge da necessidade de desenvolver a vida em comum com outros
seres, na necessidade de comunicação. Seu método de trabalho é a hermenéutica e o diálogo
o Interesse emancipatorio: Parte da necessidade das pessoas de livrar das opressões para atingir
uma maior qualidade de vida humana
7.2.- O Relacionamento entre saber e interesse
 Segundo o tipo de necessidades a resposta do conhecimento é diferente.
 Se a necessidade refere-se ao mundo técnico, o conhecimento dirige-se ao domínio da natureza e
constitui o saber científico. Pode ser afirmado que o interesse técnico dirige o conhecimento
científico.
 O interesse comunicativo manifesta-se nas “ciências do espírito” (ciências humanistas e culturais)
 O interesse de emancipação manifesta-se nas ciências críticas: a filosofia, as teorias sociais, a
psicanálise, etc.
 Estes três interesse formam os elementos básicos da autoformación do ser humano.
 Uma vez que se respondeu de forma teórica a estes interesses, o labor ainda não acabou.
 A ciência propõe-se novas metas, a interpretação descobre novos sentidos e a filosofia segue sua
tarefa crítica.
 O conhecimento recupera a função de fazer habitável o mundo e de contestar o porquê das coisas.
Apartado IV - Origem e limites do conhecimento
 Estabelecido o fato da existência do conhecimento, aparecem duas questões: De onde provem nosso
conhecimento e até onde nos é dado conhecer.
 O primeiro é o problema da origem do conhecimento
 O segundo, o de seus limites
 O racionalismo e o empirismo são duas formas de enfrentar ambas questões. O criticismo kantiano é
uma terceira proposta de síntese das duas anteriores
8.- O racionalismo
 O racionalismo é crer na capacidade da razão humana para atingir a verdade.
 A razão humana permite-nos afirmar a validade de seus conhecimentos.
 Entre seus autores destacam Platón, San Agustín, Hegel e Descarte
8.1.- Origem e limites do conhecimento
 Descarte tem a tarefa fundamental de buscar um fundamento sólido para as ciências, para eliminar
seus erros e conseguir um conhecimento verdadeiro. Para isso considera que o instrumento mas
apropriado é a razão corretamente dirigida.
 Descarta todo o que conhecemos pela experiência. Os sentidos são pouco fiáveis e induzem a erro.
 Devemos basear na razão, que intuye princípios indudables ou idéias inatas e deduzir daí o resto de
conhecimentos.
 Os racionalistas dizem que o conhecimento humano é ilimitado.
 Se utilizamos bem a razão poderemos atingir qualquer conhecimento
 O erro é fruto de uma incorreta utilização de nossas faculdades cognoscitivas
 Ao sublinhar o caráter racional da realidade não há nenhum obstáculo para atingir a verdade por
médio da razão.
9.- O empirismo
 Na outra orla, o empirismo situa a experiência como origem e limite do conhecimento.
 Todo conhecimento começa e acaba com a experiência

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 A razão só é incapaz de produzir conhecimento, quando muito pode refletir sobre os dados da
experiência, mediante observação ou de experimentação
 O empirismo é uma corrente epistemológica.
 Alguns filósofos empiristas são Guillermo Ockham, Locke ou Hume
9.1.- As origens do conhecimento. Locke
 Locke estabelece os princípios do empirismo.
 Afirma que não existem ideias inatas, que o entendimento sem experiência é um papel em alvo
 Todos os conhecimentos começam nos sentidos, pelo que não há mas fonte de conhecimento que a
experiência interna (sensação) ou interna (reflexão)
 Quando pensamos combinamos idéias cuja origem está na experiência.
 Segundo Hume, nossa mente recebe um faça de impressões e organiza-as por médio das leis de
associação de idéias
9.3.- Os limites do conhecimento
 Hume diz que a experiência é o limite de todos nossos conhecimentos
 Todos os conhecimentos são impressões e idéias
 As idéias são imagens das impressões que se produzem quando refletimos sobre elas.
 Toda idéia da que não tenhamos a impressão da que se deriva pode ser recusada. Por tanto, idéias
como substância, à que não corresponde nenhuma impressão, pode ser recusada.
 Ao criticar Deus, substância, alma ou eu, (as idéias inatas cartesianas), Hume dá um golpe à
metafísica racionalista e reduz o alcance de nosso conhecimento.
 Só podemos aceitar o que provem da experiência.
 O hábito, o costume e a crença permitem-nos construir um mundo com existência em se mesmo mas
lá das impressões atuais.
10.- A Síntese Kantiana
 Inmanuel Kant tem em conta as idéias racionalistas e as empíricas, e buscará um novo ponto de vista,
perguntando-se como o indivíduo constrói o objeto de conhecimento
 O objeto de conhecimento é o resultado de uma síntese entre o que nos é dado e o que nossa mente
põe por se mesma.
 A coisa conhecida é o fruto da elaboração dos dados dos sentidos por nossa forma de conhecer
 A experiência e a razão precisam-se mutuamente
 Kant estabelece limites ao conhecimento humano. Estes limites vêm dados pela experiência e por
nossa subjetividade.
 Só conhecemos os fenômenos da realidade, o que eu percebo e como eu o percebo.
 A realidade nela mesma (noúmeno) é um complexo mistério.
 Não podemos livrar de nossa subjetividade para captar as coisas-em-se ou noúmenos.
 Devemos conformar com um conhecimento limitado por nossa forma de perceber.
 A teoria de Kant deixou estabelecida a necessidade de ter em conta que o conhecimento tem limites
relacionados com a forma de ser dos humanos, cujo conhecimento parte das sensações.

P. TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA

O PROBLEMA MORAL.

a. Direito, Moral e Ética

Para o pensamento grego, os elementos do direito e da moral ainda que não venham a se constituir como institutos
obrigatoriamente relacionados, em algumas situações se aproximavam, outras não.
Isso era assim porque para Aristóteles o caminho da ética e o caminho do direito não eram exatamente iguais,
uma vez que o caminho da ética é marcado pela predominância da virtude, enquanto o do direito é marcado pela
presença da norma.
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Desde a Antiguidade Clássica a relação desses elementos é assim tumultuada, o que gerou um conjunto de teorias
ao longo dos séculos, que ora buscam compreender o direito e a moral como institutos que não podem prescindir
um do outro, ora aceitam a distinção afirmando que direito e moral são elementos distintos. Podem ser resumidas a
partir destas seguintes teses:
 Os mandamentos jurídicos e morais coincidem (tese da identidade);
 As regras jurídicas constituem o núcleo das regras morais (tese do direito como mínimo ético);
 As regras morais constituem o núcleo do direito, que compreende muitas normas moralmente indiferentes
(tese da moral como mínimo jurídico);
 As regras jurídicas são aparentadas com as morais, sendo impossível criar e interpretar o direito sem levar
em consideração a moral (tese da conexão);
 Entre ambos os ordenamentos há plena e absoluta separação (tese da separação).
Somam-se a estas teses da relação do direito com a moral, as escolas que buscaram compreender a ética e os seus
efeitos, quando possível, no direito:
a) AS NATURALISTAS, derivando do positivismo, sem esquecer Bergson e sua Lebensphilosophie;
b) AS HISTORICISTAS, derivando do culturalismo, aí incluídas suas vertentes hermenêuticas (Dilthey,
Heidegger, Gadamer e Paul Ricoeur), fenomenológicas (Husserl e Max Scheler) e existencialistas
(Kierkegaard, Jaspers e Sartre);
c) A DESCONSTRUTIVISTA, em grande parte advindo de Nietzsche e do niilismo em geral, bem como de Freud
e sua psicologia
A MORAL consiste numa instância de justificação da própria conduta segundo valores experimentados pelos
sujeitos, enquanto indivíduos e, enquanto sujeitos sociais. Seu centro de legitimidade está na própria vida do
homem a partir de suas experiências repetidas até o momento destas se tornarem em memória coletiva do grupo e
do indivíduo (Morus); valoriza a conduta nela mesma, plenamente, mantendo uma relação com a condição do
sujeito, sem qualquer limitação; tem na consciência o seu espaço fundamental; valoriza as ações dos indivíduos em
si mesmas.
O DIREITO consiste numa instância de justificação da própria conduta segundo normas constituídas legalmente no
direito positivo e que exalam a força do Estado em se fazer soberano do agir social-político; valoriza a conduta a
partir de uma relação relativa, a Lei, buscando alcançar os sujeitos e a sociedade como um todo; no direito há uma
ponderação das relações dos sujeitos com os outros sujeitos, isto é, a partir de uma organização da vida social.

Finalmente, o ‘moralmente devido’ e o ‘juridicamente devido’ não podem ser sinônimos. Isto
porque além de não serem conceitos sinônimos tais termos, igualmente, não são co-extensivos.

Em muitos casos aquilo que é moralmente devido necessariamente não será juridicamente devido. O ‘moralmente
devido’ também não pode ser compreendido como um hipônimo daquilo que é ‘juridicamente devido’, isto é,
compreendendo o hipônimo como uma palavra ou frase cujo alcance semântico (significado) é incluído dentro de
outra palavra. Moralmente devido não é extensão e nem está contida no juridicamente devido e vice-versa.

i.Distinção entre Direito e Moral

Direito Moral
Quanto à valoração a) bilateral e atributivo a) unilateral
do ato b) visa mais ao ato exteriorizado, b) visa mais à intenção,
partindo da intenção. partindo da exteriorização do
ato.
Quanto à forma c) pode ser heterônomo c) nunca heterônoma
d) incoercível d) incoercível
e) especificamente predeterminado e) não apresenta igual
e certo, assim como objetivamente predeterminação tipológica.
certificável.
Quanto ao objeto ou f) visa de maneira imediata e f) visa de maneira imediata e
conteúdo prevalecente ao bem social, ou aos prevalecente ao bem
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valores de convivência. individual, ou aos valores da


pessoa.
Quanto à sanção g) sanção organizada g)sanção difusa

O QUE É ÉTICA?
A Ética é uma ciência, com princípios próprios, que tem por objeto o estudo da moral; se ocupa com o estudo
sistematizado da moral e os seus diversos desdobramentos; é um conhecimento racional que, a partir da análise de
comportamentos concretos, se caracteriza pela preocupação em definir o bem, enquanto a moral preocupa-se com
a escolha da ação que, em determinada situação, deve ser empreendida.

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