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VIAJOLOGIA
Uma anciã da etnia mursi usa um botoque de cerca de 13 centímetros em seus lábios (Foto: ©
Haroldo Castro/ÉPOCA)
Para as mulheres da tribo mursi que vivem no Vale do Rio Omo, no sul da
Etiópia, a tradição mais típica é o uso do botoque, um disco preso ao lábio
inferior. Esse objeto circular é considerado um ornamento prestigioso para a
etnia africana. Mas para qualquer estrangeiro o uso do botoque pode parecer ser
exemplo de bizarrice e até mesmo da tão maldita deformação do corpo
feminino.
Para nós, brasileiros, o botoque não deveria ser considerado como um elemento
tão estranho. Várias etnias indígenas do Brasil conseguiram manter viva essa
tradição. No caso dos caiapós, o botoque é usado somente pelos homens e é um
símbolo associado à oratória e à comunicação verbal. O botoque é quase uma
marca registrada do famoso chefe Raoni, que, na luta para defender seu povo e
seu território, sempre fez questão de visitar autoridades internacionais portando
seu disco labial.
Raoni, cacique da etnia caiapó, usando um botoque de 10 centímetros durante uma reunião de
líderes indígenas em Mato Grosso (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
Confeccionado no passado em madeira e hoje cada vez mais em cerâmica, o
botoque dos mursis levanta uma questão evidente: por que as mulheres usam
esse disco na boca? Afinal, o objeto torna-se um incômodo para comer e beber e
até mesmo para falar.
A primeira teoria foi publicada pela National Geographic em sua edição de
setembro de 1938. O autor, C. Thaw, ao encontrar mulheres com discos labiais no
Chade, escreveu que “essa forma de desfiguração teve início há alguns séculos
para desencorajar vendedores de escravos”, citando uma informação de uma
autoridade da então colônia África Equatorial Francesa.
A partir daí, a informação – verídica ou não – espalhou-se pelos quatro cantos
do continente. Hoje, não é raro um guia etíope mencionar ainda essa teoria que,
se poderia ter uma justificativa na África do Oeste e Central, onde o comércio de
escravos foi intenso, não tem nenhuma lógica nas terras isoladas do Vale do
Omo.
Uma mulher mursi com ornamento labial e decoração feita com cabaça (Foto: © Haroldo Castro/
ÉPOCA)
Uma mulher mursi com pintura fácil e botoque carrega cesto na cabeça (Foto: © Haroldo Castro/
ÉPOCA)
A antropóloga canadense Shauna LaTosky convive com os mursis desde sua
primeira visita em 2004. Os resultados de suas inúmeras pesquisas de pós-
doutorado foram divulgados em inúmeras publicações científicas. Ela assegura
que a teoria relacionada com o tráfico de escravos é falsa, pois nenhum
indivíduo da etnia jamais fez menção sobre o tema. LaTosky também desabona
o argumento de que o uso do botoque seria uma mutilação do corpo feminino.
Segundo LaTosky, a principal razão para as mulheres usarem botoques é
sublinhar a feminilidade e um estilo de beleza definido pelas tradições tribais.
Os objetos também simbolizariam a força da mulher. Ela considera que uma
jovem que usa discos labiais está em uma posição vantajosa ao ser cortejada por
pretendentes e que seu futuro esposo a respeitará mais por considerá-la uma
“jovem madura”.
Uma jovem mursi com um disco labial ainda de tamanho médio mostra um fuzil AK-47 como
símbolo de poder (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
Além do disco labial, esta mulher mursi usa inúmeros ornamentos sobre sua cabeça (Foto: ©
Haroldo Castro/ÉPOCA)
É óbvio que usar um disco de cerâmica no lábio não é uma tarefa simples – na
nossa perspectiva ocidental, é extremamente incômoda. Por isso, durante seu
intenso cotidiano, as mulheres preferem retirar o objeto da boca e utilizá-lo
apenas em momentos especiais.
Assim, as mulheres mursis colocam sua decoração labial ao servir a refeição do
dia ao marido e, dada a importância do gado na vida da comunidade, quando
elas tiram o leite das vacas. Também estão ornadas com o disco, chamado
dhebi-a-tugoiny, durante todos os eventos da comunidade, como casamentos,
danças, competições entre jovens e rituais, como os das colheitas.
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O processo de inserção do disco começa quando a jovem atinge a puberdade e o
momento é considerado como um ritual de passagem entre a infância e a
idade adulta. O lábio inferior da menina é cortado e uma pequena rolha de
madeira é inserida. Depois da adaptação dos primeiros meses, o lábio da jovem
vai ganhando novos discos de cerâmica, com diâmetros cada vez maiores. Essa
substituição gradativa de discos de cerca de 4, 6 e 8 centímetros vai moldando o
lábio que, com sua elasticidade, vai se encaixando ao novo objeto. Mulheres
adultas usam geralmente botoques de 12 a 15 centímetros.
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https://epoca.globo.com/sociedade/viajologia/noticia/2017/08/o-disco-labial-e-uma-decoracao-que-sublinha-beleza-feminina-ou-e-uma-mutilaca… 7/12
29/05/2019 O disco labial é uma decoração que sublinha a beleza feminina ou é uma mutilação do corpo? - ÉPOCA | Viajologia
Um colar feito com asas de inseto completa a decoração desta mãe mursi (Foto: © Haroldo
Castro/ÉPOCA)
O uso do botoque, além de representar o compromisso da mulher mursi com
sua cultura, simboliza o vínculo com seu marido. Se seu esposo morrer, a
mulher deve quebrar seu disco. Viúvas não usam botoques.
Existe a opção cada vez mais frequente de que uma jovem não queira perfurar
seu lábio para usar um disco no futuro. Mas a escolha ainda é considerada
como uma afronta à tradição, e as mulheres que não portam discos são
consideradas pelas anciãs como “preguiçosas”. LaTosky analisa que, embora
não haja regra sobre o tema, a família de uma jovem pronta para o casamento
pode receber uma oferta de dote menor por ela não usar o botoque. Isso
implicaria que o número de cabeças de gado presenteadas no casamento não
chegaria ao usual, que é entre 36 e 38 animais.
Esta jovem mãe mursi escolheu não cortar o lábio para usar o botoque, mas decora seu rosto
com o mesmo tipo de pintura feita nos discos (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
Com a chegada do asfalto e das torres de celulares ao longo da província (a
Região das Nações, Nacionalidades e Povos do Sul) e devido ao maior contato
com etíopes urbanos e estrangeiros, algumas jovens mursis começam a
considerar que ter um lábio estendido pelo uso do botoque poderá prejudicar
seus estudos ou trabalhos caso ela vá morar em uma cidade.
Assim como todas as outras culturas pastoralistas do Vale do Rio Omo, os
mursis passam por um momento de forte transição. Se por um lado é essencial
reconhecer que a tradição de usar o botoque dá um sentido de pertencimento à
tradição mursi, sublinhando sua identidade cultural, seu orgulho e sua
autoestima, o irredimível século XXI aceita cada vez menos que um povo
continue usando práticas que, aos olhos urbanos, sejam classificadas como
“atrasadas”.
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29/05/2019 O disco labial é uma decoração que sublinha a beleza feminina ou é uma mutilação do corpo? - ÉPOCA | Viajologia
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