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ISSN 2176-7181

N. 56
Verão 2014
Ano XXX
Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro
www.tcm.rj.gov.br
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA -VENDA PROIBIDA - Disponível no sítio: www.tcm.rj.gov.br

Governança pública:
uma nova aliança entre
Estado e sociedade
Vista aérea do Vidigal

Missão: Visão:
Exercer o controle Ser referência como órgão de
externo da gestão dos controle, reconhecido pela
recursos públicos, a sociedade como indispensável
serviço da sociedade à melhoria da gestão pública e
carioca. à defesa do interesse social.
Palavras do Presidente
Preparados para os novos
e mais complexos desafios

O
XXVII Congresso dos Tribunais de Contas do Brasil,
realizado em Vitória, nos dias 03 a 6 de dezembro,
foi palco das eleições para renovação das diretorias
da Atricon e do IRB.
Em abril do ano em curso, compartilhei
com todos os colegas conselheiros do Brasil, por meio de
correspondência, minha inquietação com o que considero
essencial para o desenvolvimento das atividades das
instituições representativas dos tribunais de contas, cujas
competências, se exercidas em sua plenitude, com dedi-
cação e perseverança, podem contribuir enormemente
para o projeto de fortalecimento do sistema nacional de
controle externo.
A chapa vitoriosa, composta pelos conselheiros Valdecir Pascoal e Sebastião
Helvécio, eleitos presidentes da Atricon e do IRB, respectivamente, com significati-
va vantagem sobre os concorrentes, tem o perfil que corresponde à dimensão das
potencialidades de ambas as instituições. Trata-se de homens públicos dotados
de extraordinária visão prospectiva e arrojada para implementar mudanças
estruturais necessárias à modernização do sistema de controle externo, com
indubitáveis capacidade intelectual e experiência técnica, além de possuírem
grande habilidade, que lhes permite bom trânsito com os demais conselheiros
e com os membros dos poderes constituídos, aspecto relevante e necessário
para a condução de negociações e reivindicações de interesse dos associados,
somando-se ainda a extrema dedicação às suas funções e absoluto despojamento
de pretensões pessoais.
Assim sendo, acredito ― visto que apostei na vitória dessa chapa ― que os
tribunais de contas fizeram a melhor escolha para representar suas demandas
e acelerar a implementação dos projetos que venham a fortalecer o sistema de
controle externo. Os conselheiros Valdecir Pascoal, eleito presidente da Atricon, e
Sebastião Helvécio, presidente do Instituto Rui Barbosa, estão aptos e preparados
para enfrentar os novos desafios que se apresentam aos tribunais de contas, hoje
muito mais complexos e que estão, portanto, a exigir competência e dedicação
redobradas para lidar com as necessidades atuais e agilizar a busca de soluções
para dar continuidade à execução do planejamento estratégico e acompanhar a
tramitação dos Projetos de Emenda Constitucional de interesse dos tribunais de
contas, dentre tantos outros assuntos não menos relevantes, asseguradores da
atual dimensão das cortes de contas e de seus membros, tais como a criação do
Conselho Nacional dos Tribunais de Contas, prioridade na plataforma da chapa
eleita.
Parabéns aos conselheiros Valdecir Pascoal e Sebastião Helvécio pela vitória
e a todos os demais conselheiros do Brasil, pelo exercício do processo eleitoral,
em absoluta harmonia e coerência com os valores democráticos.

THIERS MONTEBELLO

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Sumário
TCMRJ em AÇÃO
45 ... As ações do planejamento estratégico do TCMRJ já
começam a dar bons resultados, como afirma o Auditor
3 ... GOVERNANÇA PÚBLICA: uma nova aliança
de Controle Externo e coordenador do programa, Carlos
entre estado e sociedade
Augusto Werneck de Carvalho.
Os Tribunais de Contas, no exercício de sua missão
constitucional, estão fortemente empenhados na questão
49 ... Novos sotaques se ouvem no prédio-sede
da qualidade da gestão pública. À frente deste esforço,
do Tribunal carioca. São os novos concursados,
o Presidente do TCU, Ministro João Augusto Nardes, em
proveninetes de diversas partes do país, que somam
entrevista especial para a Revista do TCMRJ, fala sobre as
experiências e outras culturas ao exame das contas do
vantagens, dificuldades e impactos acerca da implementação
município.
da governança pública, cujo sucesso depende essencialmente
do envolvimento pessoal do gestor, segundo os membros
51 ... Porta de entrada dos processos do TCMRJ, a rotina
da Coordenadoria de Fiscalização dos Serviços Essenciais
do Protocolo começa bem cedo. Veja as atividades
do Estado (Coestado), Cláudio Castello Branco e Cláudio
incessantes da equipe.
Silva Cruz. E, para completar, o Pós-Doutor em Direito
Administrativo Gustavo Justino de Oliveira apresenta as
53 ... Bira, como é conhecido Ubiracy Rufino Rezende,
ferramentas para colocar em prática a melhoria da qualidade
é funcionário da Casa há 27 anos e, nas horas vagas
da administração pública.
não pára; ao contrário, corre. Veja nossa Prata da Casa
desta edição.
CONTROLE: NOVAS TENDÊNCIAS
17 ... A evolução do controle passa pela transformação
RIO DE JANEIRO
do uso da imperatividade para instrumentos baseados
56 ... Com exclusividade para a
em consensualidade. O Doutor em Direito Luciano Ferraz
Revista do TCMRJ, o economista
defende os Termos de Ajustamento de Gestão como proposta
carioca Carlos Lessa concedeu um
de solução negociada dos conflitos entre gestores e órgãos
simpático encontro onde abordou
de controle.
inúmeros temas da agenda atual
da cidade.
22 ... Os advogados Edgar Guimarães e Caroline da Rocha
Franco demonstram que é através da análise das licitações
60 ... A interdição e demolição de parte
que se permite avaliar de forma eficiente o desenvolvimento
do Elevado da Perimetral encerra uma marcante época
das diretrizes traçadas pelo administrador público para a
da história do trânsito no Rio de Janeiro.
realização das políticas públicas almejadas.
62 ... A cientista política Helena Severo relembra os 100
28 ... A renovação das diretorias da Associação dos Tribunais
anos de Vinícius de Moraes, abordando um inédito perfil
de Contas do Brasil (Atricon) e do Instituto Rui Barbosa (IRB)
do poeta, que “soube, como ninguém, reinventar-se,
confirmam a vertente impressa nas instituições em prol da
adaptando-se ao seu tempo”.
implementação de projetos que fortalecerão cada vez mais
o sistema de controle externo do país.
64 ... O bairro da Glória, um dos mais tradicionais da
cidade, é revelado pela jornalista e escritora - e agora
CONTROLE SOCIAL
colaboradora permanente desta Revista – Luísa Borges.
37... O Secretário-Geral da Presidência do TCMRJ, Sergio
Aranha, apresenta as estatísticas dos serviços de Ouvidoria
66 ... Vale a Pena Ler de Novo
e de Informação ao Cidadão do órgão, ressaltando o caráter
fundamental destes mecanismos para o incremento do
controle social e da cidadania. Veja alguns exemplos das
demandas e respostas aos chamados. EM PAUTA

40 ... O histórico da transparência no Brasil é relativamente 68 ... Colar do Mérito 2013


recente, mas em menos de 14 anos tem avançado e angariado 72 ... Registro
cada vez mais a adesão de Estados e municípios. O Secretário- 92 ... Visistas
Executivo da Controladoria Geral da União, Carlos Higino 96 ... Livros
Ribeiro de Alencar revela o cenário das ações que garantem 98 ... Cartas
ao acesso às informações públicas no país, em recortes
regionais.

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Governança pública:
uma nova aliança entre
Estado e sociedade
I
magine-se uma polis na qual cidadãos, governo, associações e
empresas, juntos, se engajassem em prol da coletividade e do
bem comum. Pois é exatamente esse cenário visionário que a go-
vernança pública propõe: a tão desejada democracia cooperativa.
O conceito surgiu internacionalmente na década de 70 - e no Brasil
a partir dos anos 90 - em meio à crise do Estado e o esgotamento do
modelo burocrata, com o objetivo de oferecer maior transparência,
focar nas necessidades da sociedade e prestar serviços públicos mais
eficientes. Esse movimento foi denominado Nova Administração Públi-
ca. Ao longo dos anos foi evoluindo e hoje o termo largamente difundido
é Governança Pública.
A introdução do modelo de administração privada no âmbito público
traz como consequência o aumento das responsabilidades dos gesto-
res, mudança de enfoque do controle de processos para o controle de
resultados e maior rigidez nas especificações de desempenho. E é nesse
contexto que os Tribunais de Contas, no desempenho de sua missão
constitucional, podem contribuir, como indutores de boas práticas,
para o aperfeiçoamento da gestão pública.

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Um paladino da boa
Gove r nan ça Pú bl i ca

? !
governança pública entrevista

Desde maio de 2013, o presidente do


TCU, Augusto Nardes, tem percorrido
as capitais do Brasil com o firme
propósito de estabelecer um grande
pacto pela melhoria da gestão pública.
Nesta entrevista exclusiva para a Revista
do TCMRJ, o ministro fala sobre os
impactos e as dificuldades da aplicação
deste conceito e os instrumentos que
os Tribunais de Contas possuem para
induzir as boas práticas nas relações
entre governo e sociedade.

Ministro Augusto Nar- trazidas à apreciação do Tribunal, do papel do TCU na promoção da


des, percebe-se um envolvimento para verificação da legalidade da governança pública como indutor
pessoal do senhor na promoção aplicação dos recursos públicos e de boas práticas, na medida que,
da melhoria da governança dos atos administrativos, denota- para contribuir com a efetiva reso-
pública, através dos Diálogos vam um Brasil faceando desafios lução dos problemas públicos, deve
Públicos promovidos em diversas consentâneos à superação dos níveis indicar aos gestores os adequados
cidades do país, ocasião nas quais de crescimento econômicos então mecanismos de avaliação, direção
o senhor faz questão de estar apresentados nos anos recentes. Tais e monitoramento, necessários à
presente, abrindo, inclusive, estes parâmetros de desenvolvimento, efetividade das políticas públicas
eventos. Quando e por que o relacionados à manutenção da relacionadas aos setores tidos por
senhor percebeu a importância estabilidade econômica e financeira, prioritários pelo governo, conforme
deste esforço todo? repercutiram na necessidade de acima exemplifiquei.
Tenho a firme convicção de que gastos em setores-chave como
a melhoria da governança pública educação, inovação tecnológica e Quais são os impactos que
é a pedra de toque no processo de obras de infraestrutura, além da uma boa governança trará para a
desenvolvimento brasileiro e, por superação dos desequilíbrios sociais sociedade?
tal razão, esta é a tônica que venho e regionais. Boa governança no setor público
imprimindo nas palestras e discur- Neste contexto, em que o governo requer, entre outras ações, uma
sos proferidos nos diversos fóruns atual e os vindouros se defrontam gestão estratégica, gestão política
nacionais e internacionais dos quais com o desafio de completar a tran- e gestão da eficiência, eficácia e
participo e, notadamente, nos Diálo- sição entre o subdesenvolvimento efetividade.
gos Públicos que nossa gestão vem e o desenvolvimento, mantendo a É por meio de uma gestão es-
promovendo nas diversas capitais estabilidade alcançada e o mesmo tratégica que se torna viável criar
brasileiras. ritmo de crescimento do PIB, tendo valor público. Isto diz respeito
A mobilização nesse sentido que oferecer à população serviços à capacidade da administração
foi-me despertada antes mesmo de públicos de padrão superior, es- pública de atender de forma efe-
ser galgado à presidência do TCU, pecialmente no tocante à saúde, tiva e tempestiva as demandas ou
ainda quando ocupava a cadeira educação, segurança pública e mobi- carências da população que sejam
de ministro da Corte. As matérias lidade urbana, cresce a importância politicamente desejadas (legitimi-

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Uma boa governança
permite o
estabelecimento de
condições amplamente
favoráveis a um
crescimento econômico-
social equitativo e
sustentável do nosso país.

dade); sua propriedade seja coletiva;


e, requeiram a geração de mudanças
sociais (resultados) que modifiquem
nentemente pela boa governança
brasileira. Enquanto não houver
eficiência do Estado na en­trega de

que superar os seguintes desafios:
manter o equilíbrio fiscal e a esta-
bilidade monetária; racionalizar os
aspectos da sociedade. melhores serviços, melhores produ- gastos públicos; e investir mais em
Com a gestão política, pode-se tos e melhor infraestrutura, jamais o setores-chave como educação, ino-
buscar a obtenção da legitimidade Brasil alcançará níveis adequados de vação tecnológica e infraestrutura
junto aos dirigentes políticos e à crescimento econômico e bem-estar (transporte, energia, telecomunica-
população. social. ções etc.).
A gestão da eficiência, eficácia Atualmente, o TCU é bastante co- A exemplo do que vimos com
e efetividade é a forma de usar nhecido como um órgão que pune os relação às políticas que tratam do
adequadamente os instrumentos gestores e, de fato, fazemos isso com crescimento inclusivo, a melhoria da
disponíveis para tornar viável uma base na nossa competência constitu- governança é um desafio primário
boa governança. cional. Somente no ano passado, foi que permeia todos os outros.
Visto o que é governança, pode- encaminhada à Justiça Eleitoral, para Com uma melhor governança
mos compreender que sua melhoria serem declarados impedidos de con- é possível, no curto prazo, mesmo
pode ser indutora do desenvolvi- correrem às eleições, uma relação de sem reformas estruturantes como a
mento entendido como crescimento aproximadamente sete mil gestores, previdenciária, trabalhista, política
econômico conjugado com mais qua- cujas contas foram julgadas irregula- e fiscal, fazer mais com o mesmo
lidade de vida para as pessoas nas res pelo TCU. Mas, apenas este viés volume de recursos; acelerar o ritmo
áreas da saúde, educação, segurança repressor do Tribunal não tem sido das obras; melhorar a qualidade
e mobilidade urbana, dentre outras. suficiente para cumprirmos nossa do serviço prestado nos hospitais,
Um dos gran­d es gargalos do missão estratégica de contribuir com nas escolas, na pesquisa, no meio
desenvolvimento brasileiro é a o aperfeiçoamento da Administração ambiente; promover a inclusão das
deficiência da gestão pública. A falta Pública em benefício da sociedade. pessoas, grupos sociais e regiões.
de governança atua como um grande Queremos estabelecer um gran- Enfim, uma boa governança permite
entrave para a implementação de de pacto pela governança pública o estabelecimento de condições
políticas públicas de qualidade e de para atender aos anseios populares amplamente favoráveis a um cresci-
ações que realmente be­neficiem o por políticas públicas com mais mento econômico-social equitativo e
cidadão. Com ações governamentais efetividade. sustentável do nosso país.
mais seguras e confiáveis, mais chan- Além da necessidade de ven- Tenho convicção de que o Tribu-
ces tem a população de ter serviços cermos as desigualdades regionais nal de Contas da União desempenha
públicos de qualidade. e sociais, para alcançarmos o de- papel relevante nessa nova diretriz
Precisamos trabalhar perma- senvolvimento pretendido temos de controle e que a melhoria da

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governança trará excelentes resul- ações. pios, com vistas ao aperfeiçoamento
Gove r nan ça Pú bl i ca

tados para a sociedade brasileira, a Uma boa governança, com con- do sistema de controle externo.
qual espera que os gestores públicos troles internos fortes e atuantes Além de transferir conhecimen-
atuem com lisura, competência e e um controle externo presente e tos e promover maior intercâmbio
transparência, seja em áreas vitais independente, mitiga a possibilidade de experiências e cooperação técni-
para a população mais carente, a da ação de gestores corruptos. ca, propiciando o aperfeiçoamento
exemplo da saúde e da educação, das instituições, as ações conjuntas
seja em investimentos que promo- Que instrumentos o TCU e das cortes de contas expandem o
vam, com efetividade, o desenvolvi- outros Tribunais de Contas alcance e a efetividade do controle
mento nacional. podem oferecer para aprimorar externo em âmbito nacional.
a atuação do governo? As auditorias coordenadas, por
Quais são, hoje em dia, A partir de 2013, o foco estra- exemplo, são instrumentos impor-
as maiores dificuldades para tégico de atuação do Tribunal está tantes de intercâmbio de experiên-
a implementação da boa concentrado na contribuição para cias e conhecimentos, que fomentam
governança pública? a melhoria da governança pública, m maior integração entre órgãos de
A meu ver, uma das maiores difi- notadamente quanto ao aprimora- controle e possibilita uma rede de
culdades para a implementação da mento da gestão, do desempenho e planejamento de futuras atividades.
boa governança reside, justamente, da transparência na Administração Para a realização de um trabalho
na falta de coordenação federativa, Pública, mas sem deixar de lado as coordenado, torna-se imprescindível
que impõe sério gargalo ao desen- suas atribuições constitucionais de o nivelamento de conceitos e o
volvimento nacional, tal como as coibir os desperdícios, as fraudes e estabelecimento de estratégias
reformas políticas e tributárias que os desvios de recursos públicos. para possibilitar a padronização
mencionei na questão anterior. No âmbito do controle externo, a dos dados, manter a comparabili-
No entanto, o descompasso de antiga visão atrelada tão somente à dade e a posterior consolidação das
interesses entre os entes federados punição dos gestores foi superada, informações.
é, ainda, o ponto de maior óbice evoluindo para a vertente da con- Um dos aspectos mais importan-
que identifico para a melhoria da tribuição. O Tribunal passou, então, tes das auditorias coorde­nadas, que
governança pública no país. E é a reforçar a atuação pedagógica sempre consideramos primordial, é
por tal razão que defendemos, com e preventiva, a fim de evitar que o fortalecimento de todo o sistema
denodada ênfase, o advento de irregularidades ocorram e culminem de tribunais de contas no país,
um grande pacto pela melhoria do em prejuízos aos cofres públicos. que seria mais facilmente atingido
Estado brasileiro, nas três esferas A insuficiência de desempenho por meio da colaboração entre os
de governo. Sem a integração de da gestão pública é um dos gran­des atores e ações de treinamento. As
interesses dos entes que compõem nós do desenvolvimento brasileiro. auditorias coordenadas constituem,
a Federação, a resolução do proble- A falta de governança atua como assim, excelente instrumento neste
ma, no curto prazo, fica difícil de um grande entrave para a imple- projeto, pois, ao mesmo tempo em
vislumbrar. mentação de políticas públicas de que favorecem o intercâmbio de ex­
Uma situação que bem exempli- qualidade e de ações que realmente periências, promovem a capacitação
fica esta questão é o problema da be­neficiem o cidadão. dos participantes.
mobilidade urbana, no âmbito do Por isto, estamos atuando pre- Referidas auditorias devem ser
planejamento da Copa do Mundo ventivamente para identi­ficar onde permanentemente discutidas, apri-
2014, no qual se verificou nítido des- estão os grandes gargalos da ad- moradas e validadas. Para tanto,
compasso entre as ações dos entes ministração pública. Nesta linha, o usamos os painéis de referência,
federados envolvidos, resultando em Tribunal se reestruturou para atuar prática que promove a reunião de
prejuízo aos resultados almejados. de forma especializada em áreas pessoas reconhecidas e experientes
Outro ponto que vulnera a boa temáticas relevantes e diagnosticar em determinada área para debater
governança, indubitavelmente, é a de modo efetivo as grandes necessi- e opinar sobre a matéria exposta.
corrupção. Suas causas estruturais dades nacionais. Em auditoria, os objetivos gerais do
residem na má escolha dos gestores, Em consonância com o objetivo painel de referência são: contribuir
em processos de trabalhos ruins estratégico de fortalecer a atuação para a garantia de qualidade, para
ou desatualizados, na ausência conjunta com outros órgãos de a análise e interpretação de dados
ou deficiência dos indicadores de controle, estamos intensificando a e para fortalecer o processo de
desempenho e metas e na falta de aproximação do Tribunal com seus accountability de desempenho.
monitoramento e avaliação das congêneres nos estados e municí- Os painéis de referência têm por

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objetivo o controle de qualidade con-
comitante das auditorias mediante
a revisão e validação das matrizes
de planejamento e de achados.
É uma oportunidade para ouvir
especialistas que dedicaram anos
de estudo ao tema, bem como pro-
fissionais experientes em auditoria
e em administração pública. O painel
pode contribuir para garantir que a
auditoria siga padrões de qualidade,
visando torná-la aderente às melho-
res práticas de investigação e focada
sobre os pontos mais relevantes.
Assim, são permanentes os nos-
sos esforços na busca de novos
instrumentos para assegurar a
efetividades de nossos trabalhos em
prol do aprimoramento da atuação
governamental.
Tenho a convicção de que, no
desempenho de sua missão institu-
cional, o TCU e demais tribunais de
contas do país podem, a cada dia,
prestar melhor serviço à sociedade
brasileira, contribuindo para o
aperfeiçoamento da Administração
Pública, induzindo o desenvolvi-
mento do país e incrementando a
qualidade dos serviços oferecidos
aos cidadãos.

Que resultados foram


alcançado s desde que esta


iniciativa teve início? Como o
senhor avalia as consequências
geradas pela atuação do TCU neste
sentido? (...) um controle interno forte e bem
Dentre outros trabalhos em exe-
cução, o TCU está concluindo duas estruturado se configura como uma das
importantes e amplas auditorias
sobre as universidades públicas principais ferramentas dos governantes e
federais: um grande monitoramento
para avaliar como tem evoluído a da alta administração dos órgãos federais.


relação destas instituições com suas
fundações de apoio e um panorama
do estágio de maturidade das uni-
dades de auditoria interna das IFES
(Instituições Federais de Ensino Temos divulgado em nossas pa- monitorar e avaliar bem as ações
Superior). lestras que um controle interno forte dos gestores, garantindo, assim, a
A avaliação das auditorias in- e bem estruturado se configura como entrega a tempo e com qualidade dos
ternas está em consonância com uma das principais ferramentas dos produtos esperados pela população.
a grande diretriz do momento do governantes e da alta administração Isso é boa governança.
TCU, de contribuir para a melhoria dos órgãos federais. Estruturados de Ainda nesta linha, o TCU fez uma
da governança pública. modo adequado, podem direcionar, ampla avaliação da governança da

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Tecnologia da Informação (TI) em De acordo com o estudo, apenas público ambiental na região.
Gove r nan ça Pú bl i ca

todo o governo federal. O simples 23% das organizações foram clas- Iniciativa que também mere-
fato de haver um acompanhamento sificadas em estágio aprimorado ce registro foi o importantíssimo
sistematizado do TCU fez com que quando analisada a liderança da alta acordo de cooperação assinado
a governança de TI tivesse um salto administração. Para a equipe técnica pelo TCU com a Organização para
de 2010 para 2012. Em 2010, apenas do tribunal, o resultado indica que a a Cooperação e Desenvolvimento
5% dos órgãos auditados estavam alta administração de muitas organi- Econômico (OCDE), uma das organi-
no estágio avançado de governança, zações não se responsabiliza ou se zações mais avançadas no mundo em
38% no estágio intermediário e 57% responsabiliza de forma inadequada relação à governança pública, para a
estacionavam no estágio inicial. Em pelo estabelecimento de estratégia realização de estudo internacional
2012, 16% foram classificados no e instrumentos de governança de sobre o tema. Esse acordo faz parte
estágio avançado, 50% no inter- pessoas. de um grande projeto desenvolvido
mediário e 34% no inicial. Como Outros dois trabalhos de gran- na atual gestão do TCU destinado
nos dias atuais tudo depende de TI, de importância acabam de ser ao aprimoramento da governança
uma boa governança nesse quesito concluídos e deverão ser apresen- pública brasileira.
favorece a entrega de serviços à tados ao Colegiado da Casa ainda O trabalho tem o objetivo de
população e evita invasões e roubo nesse mês. facilitar a contribuição do TCU e das
de dados confidenciais, a exemplo Um deles refere-se à realização demais Entidades de Fiscalização
das pesquisas em desenvolvimento de auditoria operacional, sob a for- Superiores dos países participantes
nas universidades. ma coordenada, na área de educação (Estados Unidos, França, Canadá,
Na vertente da Gestão de Pesso- e com foco no ensino médio. Os Chile, África do Sul, Coreia do Sul,
as, fração relevante do gasto público trabalhos envolveram 28 tribunais Índia, México, Polônia e Portugal) no
brasileiro, o TCU acaba de apresen- de contas nacionais e foram desen- fortalecimento da boa governança e
tar os resultados de levantamento volvidos em 500 escolas do país, da sólida gestão pública.
realizado em 305 organizações com o envolvimento de 90 auditores, No referido estudo serão contem-
públicas com o objetivo de traçar sendo considerada a maior auditoria plados os sistemas de planejamento
diagnóstico e identificar pontos coordenada em curso no mundo. e orçamento público, administra-
vulneráveis para induzir melhorias O objetivo geral dessa audito- ção financeira, controles internos,
na governança de pessoal. ria coordenada foi identificar os gestão de riscos, monitoramento e
Na Lei Orçamentária Anual de principais problemas que afetam a avaliação de políticas públicas e de
2013, foi prevista despesa de pessoal qualidade e a cobertura do ensino prestação de contas.
no montante de R$ 226 bilhões e as médio no Brasil, bem como avaliar as Com esse recorte, pretendemos
organizações que fizeram parte do ações governamentais que procuram ter uma visão seletiva e sistêmica das
levantamento empregam 80% dos eliminar ou mitigar suas causas. áreas determinantes para a consoli-
servidores públicos federais. Outra ação de controle signifi- dação de uma Administração Pública
Releva destacar que mais da cativa foi o desenvolvimento de um estratégica, responsável, aberta e
metade da administração pública fe- trabalho conjunto na área ambiental, ágil, que seja efetivamente indutora
deral (55%) encontra-se em estágio para avaliar a governança das unida- do desenvolvimento nacional.
inicial no que tange à governança de des de conservação (UCs) do bioma Observa-se, portanto, que a es-
pessoas. Na maioria das entidades Amazônia de forma sistêmica, que tratégia desenvolvida pelo TCU, ali-
analisadas, as atividades de depar- contou com a participação dos tribu- cerçada em diretrizes modernas e
tamento de pessoal aparentam ser nais de contas da região Amazônica, arrojadas, dentre elas a formação de
bem administradas, mas a gestão uma vez que a biodiversidade dos parcerias, a propagação de técnicas
estratégica de pessoas mostra-se ecossistemas, da fauna e da flora e experiências na área do controle
rudimentar. suplanta os limites demarcatórios externo, a utilização de instrumen-
A classificação definida pela dos municípios, estados e países. tos de fiscalização inovadores e a
auditoria variou entre os estágios Tendo em vista a relevância realização de treinamentos sobre
inicial, intermediário e aprimorado. do tema no âmbito nacional e in- as melhores práticas internacionais
No primeiro, predominaram organi- ternacional, buscou-se avaliar a de auditoria, têm possibilitado
zações que não adotam boas práticas governança desses territórios sob melhor atuação e alcance de bons
de governança e gestão de pessoas. os aspectos de insumos, articulação resultados por parte de todos os
O estágio intermediário foi caracte- e resultados, bem como analisar as órgãos envolvidos, com impactos
rizado pela adoção parcial de tais condições normativas, institucionais positivos no aprimoramento da
práticas e o aprimorado significou e operacionais necessárias para gestão pública em todas as esferas
adoção integral. a gestão eficiente do patrimônio de governo.

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O papel do gestor e do
auditor na governança
do setor público
A capacidade de prestar
serviços adequados
aos cidadãos depende
essencialmente de que
a alta administração
acompanhe pessoalmente
seus indicadores,
avaliando eventuais
distorções e comandando
sua pronta correção.
Cláudio Souza Castello Branco Cláudio Silva da Cruz
Coordenador-Geral de Fiscalização Assessor da Coordenadoria-Geral
dos Serviços Essenciais do Estado de Fiscalização dos Serviços Es-
e das Regiões Sul e Centro-Oeste senciais do Estado e das Regiões
(Coestado). Sul e Centro-Oeste (Coestado).

A
Constituição Federal com base em padrões de qualidade, Finalmente, a Constituição também
brasileira estabelece para saber se tais serviços são ade- estabelece instâncias de controle
que o poder público quados ou se precisam ser melhora- (externo e interno) que avaliam se as
é u m p re s t a d o r d e dos. Tal obrigação decorre do direito operações do Estado produzem ser-
serviços aos cidadãos- viços cujos efeitos sejam o adequado
de participação dos usuários de
-usuários e está obrigado a prestá- atendimento ao interesse público
serviços na administração pública. (legitimidade), observando o respei-
-los com qualidade adequada.
Art. 37. A administração pública to à legislação (legalidade) e alocan-
Art. 175. Incumbe ao Poder Público [...] obedecerá aos princípios de [...] do os recursos disponíveis de modo a
[...] a prestação de serviços públicos. eficiência e, também, ao seguinte: [...] produzir o melhor conjunto possível
de serviços (economicidade).
Parágrafo único. A lei disporá sobre: § 3º A lei disciplinará as formas de
participação do usuário na admi- Art. 70. A fiscalização contábil, finan-
[...] II - os direitos dos usuários; nistração pública direta e indireta, ceira, orçamentária, operacional e
regulando especialmente: patrimonial da União e das entidades
[...] IV - a obrigação de manter servi- da administração direta e indireta,
ço adequado. (CF/88, grifos nossos) I - as reclamações relativas à pres- quanto à legalidade, legitimidade,
tação dos serviços públicos em economicidade, aplicação das sub-
Na mesma linha de raciocínio, a geral, asseguradas a manutenção de venções e renúncia de receitas, será
Constituição também estabelece a serviços de atendimento ao usuário exercida pelo Congresso Nacional,
obrigação de existirem mecanismos e a avaliação periódica, externa e mediante controle externo, e pelo
de avaliação interna e externa dos interna, da qualidade dos serviços; sistema de controle interno de cada
serviços oferecidos aos cidadãos, (CF/88, grifos nossos) Poder. (CF/88, grifos nossos)

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Embora a Constituição indique param tais serviços com padrões que, por isto, os papéis do gestor e do
Gove r nan ça Pú bl i ca

objetivamente a obrigação de o internacionais. auditor públicos precisam ser mais


Estado prestar bons serviços, parece O presente artigo sugere que fa- bem compreendidos e desempenha-
claro que esta não é a experiência lhas na governança do setor público dos para que seja possível alcançar
mais comum do cidadão brasileiro, podem ser causas fundamentais na boa qualidade desses serviços.
principalmente quando se com- deficiência dos serviços prestados, e

1.1 Governabilidade x governança

O
texto constitucional poder político para obter (ou tentar mecanismos que o implementam são
apresentado conduz obter) o alinhamento dos interesses chamados de governança (BRASIL,
logicamente à neces- externos à organização e que possam 2013).
sidade de estabelecer, afetar o seu resultado. À associação Segundo o TCU (2013), “gover-
para os serviços pres- destes poderes chamamos de gover- nança no setor público compreende
tados, indicadores e metas claros: nabilidade (ARAÚJO, 2002). A gover- essencialmente os mecanismos de li-
de eficácia (prestar o serviço neces- nabilidade é essencial para garantir derança, estratégia e controle postos
sário, com a qualidade planejada); que uma organização pública preste em prática para avaliar, direcionar
de eficiência (com baixo custo por os serviços esperados. e monitorar a atuação da gestão,
unidade de serviço prestado e maior Porém, caso não existam meca- com vistas à condução de políticas
produtividade); de efetividade nismos que limitem o exercício da públicas e à prestação de serviços
(causando o efeito final desejado); governabilidade, pode surgir sério de interesse da sociedade”. Portanto,
e de economicidade (escolhendo obstáculo à legitimidade chamado governança no setor público serve
a combinação de ações de serviço “conflito de agência”: os poderes para maximizar a probabilidade de
que produza o maior valor possível concedidos ao dirigente máximo e que o comportamento (as ações)
aos cidadãos, frente à limitação dos o acesso privilegiado que ele tem às dos altos administradores seja
recursos públicos disponíveis). Tais informações institucionais podem dirigido para o atendimento aos
indicadores e metas são a base da favorecer o desejo de atendimento interesses dos cidadãos brasileiros
avaliação (externa ou interna) da de seus próprios interesses, em (na forma de serviços públicos ade-
adequação dos serviços públicos. detrimento do atendimento ao quados), e não pelos seus próprios
Para oferecer serviços, o diri- interesse público. Por esta razão, interesses; isto inclui o conjunto de
gente máximo de uma organização o exercício da governabilidade mecanismos externos de avaliação,
pública recebe poder gerencial (re- precisa ser avaliado, direcionado e direcionamento e monitoração de
cursos, estrutura, pessoal e mandato monitorado pelos maiores interes- uma organização necessários para
legal) necessário à implantação e sados na organização pública: os implementar tal capacidade (ABNT,
à manutenção de tais serviços, e cidadãos brasileiros. Este poder e os 2009b, 2012; BRASIL, 2012).

1.2 Impacto do comportamento da alta administração no resultado institucional

M
as há evidência cidadãos e a sociedade, e transforma maior envolvimento da sua alta
de que o compor- tais compromissos em estratégias e administração (liderança) definindo
t a m e n to d a a l t a planos que definem como as pessoas diretrizes de governança (p.ex. polí-
administração seja e os processos da organização são ticas, objetivos, indicadores e metas)
de fato tão impor- organizados e geridos para obter eram aquelas em que os processos
tante para a oferta de serviços de resultados (serviços de qualidade) de gestão interna parecem mais
qualidade? Sim, há. em prol dos cidadãos e da sociedade. bem executados. Contrariamente,
Por exemplo, na versão atual Figura 1. as organizações em que sua alta
do modelo Gespública4 (Figura 1), Mas esta relação de causa-e-efei- administração não firmava dire-
ressalta-se a importância do papel to pode ser observada na prática? trizes claras também reportavam
da liderança para a boa governança Em levantamentos de auditoria processos de gestão mais frágeis
e para a boa gestão. Ou seja, a de governança pelo TCU5, foi possível e ineficientes, que possivelmente
liderança institucional estabelece detectar que, frequentemente, as custavam mais do que deveriam e
diálogos e compromissos com os organizações que apresentavam produziam menos benefícios para
4
O Gespública foi lançado oficialmente no Brasil em 1995, com o nome de Programa Qualidade e Participação na Administração Pública – QPAP, e atualizado pelo Decreto
nº 5.378 de 23 de fevereiro de 2005, com o nome de Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização.
5
Perfil de Governança de Tecnologia da Informação, ciclo 2010, com a participação de 255 organizações públicas (Acórdão 2308/2010-TCU-Plenário) e ciclo 2012, com
a participação de 337 organizações públicas (Acórdão 2585/2012-TCU-Plenário).

10 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


pios de governança: transparência,
equidade, prestação de contas e
responsabilidade corporativa. Estes
princípios são aplicáveis à Admi-
nistração Pública e aparecem na
legislação pública federal há muito
tempo, às vezes com outros nomes,
mas com o semelhante conteúdo
conceitual. Vejamos: planejamento
e controle (Decreto-lei 200/1997,
art. 6º); transparência e publicidade
(Constituição Federal/88, art. 37
e Lei de Responsabilidade Fiscal);
moralidade (CF/88, art. 37); impes-
soalidade (CF/88, art. 37); economi-
cidade (CF/88, art. 70); legalidade
(CF/88, arts. 37 e 70); legitimidade
(CF/88, art. 70); eficiência (CF/88,
art. 37); eficácia e efetividade (Lei
10.180/2001, arts. 7º, III, 20, II); e
Figura 1. Critérios de análise do Gespública (BRASIL, 2010)
outros.
o cidadão. Esses dados podem ser ça da organização pública? É por meio destes mecanismos
observados na Figura 2. Para o Instituto Brasileiro de que os cidadãos podem influenciar
Governança Corporativa (IBGC, (avaliar, direcionar e monitorar) o
Princípios e práticas de gover- 2009), a alta administração de uma comportamento da alta adminis-
nança no setor público organização está comprometida tração de uma organização pública,
Nesse sentido, como se pode com a governança quando cria e a fim de obter serviços públicos
caracterizar o compromisso da alta mantém em funcionamento prá- de qualidade. Há muitas práticas
administração com a boa governan- ticas derivadas dos quatro princí- de governança previstas em nossa

Figura 2. Correlação (0,62) entre liderança e qualidade de processos


de TI (baseado em BRASIL, 2012)
Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 11
legislação e citam-se aqui apenas as detectar precocemente riscos ainda tégia para seu atendimento; definir
Gove r nan ça Pú bl i ca

principais: não adequadamente tratados e for- as diretrizes para funcionamento


Representação parlamentar ou necer à sociedade a certeza de que dos processos e projetos internos
representação em Conselhos que os controles internos são efetivos; que implementam a estratégia;
incluem representantes da socie- A atuação do Controle Externo, definir os objetivos, indicadores e
dade civil (p.ex. Conselho Nacional exercido pelo Congresso Nacional metas de cada processo ou projeto
de Assistência Social) aumentam com apoio do TCU, é o meio pelo qual e os mecanismos de controle para
a possibilidade de participação da a sociedade brasileira poderá saber monitorar o seu cumprimento e
sociedade na gestão da coisa pública, se aqueles que administram o Estado alcance; alocar os recursos aos
como principal interessado; em seu nome estão de fato cumprin- processos e projetos de forma ótima
Serviços de atendimento ao do as normas de conduta (legali- e monitorar o efeito das operações,
cidadão-usuário e de ouvidorias; dade), agindo no estrito interesse garantindo que estejam alinhadas e
Divulgação da Carta de Servi- do povo brasileiro (legitimidade) e produzindo os serviços esperados
ços ao Cidadão e a realização de utilizando os recursos públicos nas (BRASIL, 2010).
pesquisas de satisfação com os alternativas que dão o melhor re- Além disto, incumbe à alta admi-
serviços ofertados; torno à sociedade (economicidade). nistração estabelecer o sistema de
Garantia de acesso fácil, rápi- Como se vê, não faltam princípios liderança da organização, o sistema
do e estruturado às informações ou práticas previstos em lei para de gestão de riscos e controles (p.ex.
públicas, tema da Lei de Acesso à governar e gerir bem. Todas essas ABNT, 2009a) e o sistema de repre-
Informação; práticas, e outras mais, são úteis para sentação dos interesses dos cidadãos,
O planejamento institucional aumentar o valor obtido da aplicação de sua participação na administração,
contribui para a alocação ótima dos dos recursos, mitigar riscos de não de seu acesso à informação e de
recursos disponíveis e dá maior alcance de metas e para melhorar a controle social (p.ex. ABNT 2012).
transparência, permitindo o controle prestação de serviços à sociedade. Necessário esclarecer que é a
pelos interessados. Sem isto, não há Assim, a sociedade brasileira se alta administração quem define o
governança; beneficia, as organizações públicas sistema de gestão de riscos e con-
Comitês internos que facilitam amadurecem, tornando-se mais troles, mas a execução dos processos
o alinhamento dos vários gestores sustentáveis, e os gestores e altos deste sistema é feita tanto pela alta
quanto a serviços complexos e administradores podem ser reco- administração quanto pelos demais
evitam conflitos; nhecidos pelo valor agregado e têm gestores em todos os níveis (IIA,
A descentralização adminis- menor risco jurídico. 2009, IPPF 2120-1).
trativa e o investimento em exce- Nesse sentido, é importante
lência de pessoal são metas legais O papel do gestor e do auditor perceber que a unidade responsável
e a base para que as organizações Como um dirigente máximo pode pela atividade de auditoria interna
sejam céleres, eficazes e eficientes; começar a implantar governança? (frequentemente chamada de “con-
A gestão de riscos serve para re- O primeiro passo é compreender trole interno”) não é responsável
duzir o impacto negativo dos riscos que, embora a responsabilidade pela concepção ou implantação dos
sobre as metas institucionais, por pela gestão de recursos possa ser controles internos, pois estes são
meio da adoção de controles inter- delegada para os gerentes da or- os mecanismos implantados pelos
nos, concebidos e implementados ganização, a prestação de contas próprios gestores, de qualquer nível,
pelo próprio gestor (ABNT, 2009a); (accountability) pelo uso destes para lidar com os riscos relevantes
A divulgação de planos, como o recursos de forma efetiva, eficiente dos seus processos de trabalho.
PPA e os Planos de Ação Global, de e aceitável na organização para a Ao contrário, incumbe à auditoria
portfólios, como a Carta de Serviços produção de serviços permanece interna a avaliação da adequação e
ao Cidadão, e de resultados, como com a alta administração e não pode da eficácia dos controles internos em
no caso do Relatório de Gestão, são ser delegada aos níveis inferiores resposta aos riscos relativos à gover-
instrumentos de transparência para (adaptado de ABNT, 2009b). nança da organização, às operações e
a sociedade; Assim, incumbe à alta adminis- aos sistemas de informação (IIA, 2009,
As avaliações de desempenho tração a responsabilidade de estabe- IPPF 2130.A1; INTOSAI, 2004). Já a
individual e institucional oferecem lecer um sistema de governança que função dos auditores das entidades
um caminho excelente de melhoria começa por avaliar adequadamente de fiscalização superiores, tais como
contínua da eficiência institucional; as demandas da sociedade que estão os tribunais de contas, é avaliar o
A prática de auditoria interna na esfera de atuação da organização funcionamento do sistema de gestão
é outro mecanismo essencial para pública e estabelecer a melhor estra- de riscos e controles (ou sistema de

12 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


controle interno) (INTOSAI, 2004). sistema de governança, definindo auxiliando a alta administração em
Dentro da própria organização, rumos e monitorando que cada parte identificar os riscos mais relevantes
são estes os dois papeis cruciais da organização os esteja seguindo da organização e avaliando a eficácia
para implantar a governança: a alta e prestando contas de tudo o que dos controles internos para tratar
administração, estabelecendo o faz à sociedade; a auditoria interna, tais riscos.
Conclusão

E
spera-se que os altos realizadas auditorias internas, de exatamente em que focalizar seus
administradores e os modo que a alta administração esteja esforços de qualidade de serviço.
auditores internos com- sempre consciente das principais Finalmente, é absolutamente
preendam seu papel vulnerabilidades da organização essencial que a alta administração
fundamental na cons- para garantir seu tratamento tem- pessoalmente acompanhe os in-
trução da estrutura de governança pestivo pelos gerentes em todos os dicadores dos serviços prestados
que determina, em grande medida, níveis da instituição. aos cidadãos, avaliando eventuais
a capacidade de prestar serviços Em terceiro lugar, é necessário distorções e comandando a sua
adequados aos cidadãos. investir na seleção de gerentes que pronta correção junto aos gerentes
Isto começa pelo estabelecimen- estejam efetivamente comprometi- da organização.
to de políticas e diretrizes e pros- dos com a avaliação dos riscos de Além disso, a alta administração
segue na definição dos objetivos, que os objetivos institucionais não precisa estimular a participação da
indicadores e metas institucionais. sejam alcançados e que sejam capa- sociedade na governança de sua
Esses elementos são definidos pela zes de criar e desenvolver controles organização. Estas são as principais
alta administração e consolidados no internos suficientes para tratar características de uma boa gover-
plano estratégico institucional, com tais riscos, especialmente sobre os nança no nível de órgãos e entidades
apoio dos gestores internos. processos críticos de negócio. da Administração Pública e elas
Em segundo lugar, é necessário Em quarto lugar, é essencial que farão parte cada vez mais frequente
garantir que o sistema de controle a organização defina a sua Carta de das ações de controle do TCU como
interno funcione bem e que sejam Serviços ao Cidadão para que saiba critérios de auditoria.
REFERÊNCIAS
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de governabilidade e governança, da sua Brasil, de 5 de outubro de 1988. Diário Oficial da Administração Pública (minuta em
relação entre si e com o conjunto da reforma da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 1988. consulta interna). Brasília: TCU, Secretaria de
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Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 13


Qualidade da
Gove r nan ça Pú bl i ca

? !
administração entrevista

pública sob um tripé

Governança, governabilidade e
accountability são as ferramentas que o
Estado contemporâneo dispõe para colocar
em prática a melhoria da qualidade da
administração pública, de acordo com o
Pós-Doutor em Direito Administrativo,
Gustavo Justino de Oliveira.

Em que contexto surgiu uma redefinição, como consequência dar do Estado o estabelecimento
a importância que se dá hoje à de diversos fatores, como o advento de um ambiente de cooperação e
qualidade da administração do neoliberalismo, avanço da globa- colaboração.
pública? lização, desenvolvimento tecnológi-
A difusão da ideia de qualidade co, dentre outros. A fim de inserir-se G ove r n a n ç a é u m t e r m o
remonta à revolução industrial do neste novo contexto, o Estado teve relativamente novo no âmbito
século XVIII, quando significava pro- que sair de um papel imperativo e governamental. Como estes
duzir com uniformidade e homoge- provedor e assumir uma postura modelos de administração se
neidade. O conceito de qualidade foi mais consensual e relacional, a fim inserem na melhoria da gestão
passando por diversas adaptações de bem atender aos interesses de pública?
até atingir seu significado atual, em uma sociedade democrática, que Governança pública é um con-
que é visto como uma capacidade de exige eficácia, eficiência e economi- ceito transnacional, com a proposta
planejar para evitar o desperdício cidade. Os diversos papéis exercidos de um modelo de colaboração entre
e proporcionar a maior satisfação pelo Estado contemporâneo estão nações e entre diversos atores den-
possível para o consumidor, o que ligados ao estabelecimento de vín- tro de um Estado, tendo como base
na maioria das vezes, só pode ser culos com os indivíduos e com os a melhoria da eficiência e da eficácia
alcançada através de uma mudança grupos sociais, com os quais ele administrativa e o respeito aos valo-
cultural na organização. No âmbito passou a interagir. A administração res de uma sociedade democrática.
da administração pública, a acepção pública passou, portanto, a exercer O termo é derivado das empresas
de qualidade também está ligada à um papel de mediador, identificando privadas, nas quais a governança
obtenção dos melhores resultados e conjugando interesses públicos e corporativa veio como resposta aos
e no atendimento das demandas e privados, através da participação da conflitos de interesses entre acionis-
necessidades dos cidadãos e das co- sociedade civil. O cidadão também tas e administradores em questões
munidades, que são os beneficiários teve sua atuação transformada e de sustentabilidade financeira,
das políticas e dos serviços públicos. deixou de ser mero destinatário da desempenho patrimonial e gestão
Há algumas décadas, o Estado sofreu ação pública e começou a deman- corporativa transparente. Trata-se

14 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ



de um conjunto de princípios e
práticas para regulamentar a relação
entre acionistas, gestores e outros
interessados, com a finalidade de Boa governança
aumentar o valor para a sociedade,
facilitar seu acesso ao capital e é a condução
aprimorar o desempenho da orga-
nização. Na esfera governamental,
responsável
suas origens datam de meados da dos assuntos de
década de 90 e traduzem um consen-


so de que a eficácia e legitimidade da Estado.
atuação pública se apoiam na quali-
dade da interação entre os distintos
níveis de governo, e entre estes e
as organizações empresariais e da modelo de interação entre níveis e de fato. A divisão de poderes e a
sociedade civil. Busca-se a interação de governo e destes com os outros possibilidade de controles entre eles
entre os diversos atores sociais, que atores sociais. A governabilidade têm como objetivos evitar a corrup-
devem se unir para enfrentar as pode ser melhorada através de uma ção e estabelecer forte ligação com a
ações sociais segundo os preceitos reforma do estado; já a governança democracia. Quanto à accountability
da flexibilidade, da visão estratégica, pode ser incrementada através de vertical, política, ou democrática,
da transparência e da comunicação. uma reforma no aparelho de Estado, esta refere-se ao controle político
Nesta conjuntura, o governo tem a ou seja, uma reformulação no jeito realizado pelos cidadãos.
função de gerenciar a rede de atores, de administrar e prestar serviços, a
que devem comunicar e dividir res- fim de melhorar a eficiência da ativi- O que seria uma boa governança
ponsabilidade. Como bem sintetiza dade do Estado e colocá-la em maior pública?
J. Gomes Canotilho, boa governança consonância com os interesses dos O conjunto de regras, processos
é “a condução responsável dos cidadãos. e práticas que dizem respeito à
assuntos do Estado”. qualidade do exercício do poder.
G ove r n a n ç a m a i s g ove r - Segundo o Livro Branco da Gover-
Governança pública cumpre, nabilidade: esta é a fórmula nança Europeia, são regidos pela
por si só, a missão de alcançar completa para a tão almejada responsabilidade, transparência,
a melhoria da qualidade dos qualidade? coerência, eficiência e eficácia. No
serviços prestados pelo Estado? Há, ainda, outro ingrediente para Brasil, Canotilho destacou também
Não, há uma forte relação de atingir uma administração pública a coerência entre as diversas po-
interdependência entre as ideias mais eficiente, eficaz e efetiva: líticas do Estado, a abertura como
de governança e governabilidade. reduzir gastos e aumentar qualidade busca de soluções e a democracia
Muitos autores preferem unificar e, acima de tudo, respeitar os valores participativa. O “Choque de Gestão”,
estes dois conceitos e chamá-los de éticos e democráticos, a fim de me- em Minas Gerais, pode ser tomado
capacidade governativa. Governa- lhorar a ação do governo de forma como exemplo de programa de
bilidade está ligada ao exercício do legítima. É a accountability, que governo com foco em qualidade,
poder e de legitimidade do Estado e pode ser traduzida, segundo o Centro com uma proposta de moderni-
de seu governo. Tem relação com as Latinoamericano de Administratión zação administrativa baseada em
condições do ambiente político em pare el Desorróllo (CLAD) , como um reorganização e reestruturação do
que se efetivam ou devem efetivar- cumprimento pelo servidor público aparato estatal, com o objetivo de,
-se as ações da administração, à do dever de prestar contas a um or- a curto prazo, reduzir despesas e,
base da legitimidade dos governos, ganismo de controle, ao parlamento a médio prazo, orientar a gestão
credibilidade e imagem pública da ou à própria sociedade. A doutrina administrativa para a obtenção de
burocracia, conforme definiu Leo- faz uma classificação de accountabi- resultado. As medidas para o alcance
nardo Valles Bento. Em suma, gover- lity em duas dimensões: horizontal e destes objetivos basearam-se na
nabilidade refere-se às condições de vertical. A primeira diz respeito aos adoção de um desenho institucional
legitimidade e sustentação política mecanismos de supervisão, controle mais dinâmico e no incentivo à
que um governo tem para exercer o e avaliação recíproca dos vários capacitação dos servidores públicos,
poder. Ao seu lado, governança diz níveis de governo, que são exercidos e no estabelecimento de parcerias
respeito à forma como é exercido através de agências e instituições entre o poder público e entidades
este poder, ou seja, através de um estatais possuidoras de poder legal privadas.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 15


CON TROL E : novas TE N DÊ N CI AS

“Mecanismos de controle consensual como o Termo de


Ajustamento de Gestão desenvolvem-se para além do âmbito
estrito da legalidade e dos procedimentos organizacionais
rígidos, em ordem a prestigiar perspectivas relevantes
traduzidas em princípios jurídicos (boa-fé, segurança
jurídica), tudo relacionado com o consenso e com a solução
negociada dos conflitos em âmbito interno”
Luciano Ferraz, página 21

“É bem verdade que o controle é a tarefa que permeia quase


todas as fases das políticas públicas, no entanto, considerando-
se que elas exigem a determinação de resultados baseados em
diretrizes delineadas inicialmente, é na etapa de avaliação
que o controle, por meio das licitações, ocorre de forma mais
concreta”
Edgar Guimarães e Caroline Franco, página 24

“ Os tribunais de contas são instituições totalmente


desconhecidas da sociedade. Ela não nos conhece. Grande
parte da culpa é nossa. Os tribunais de contas, por muitos
anos, foram fechados em si, não se preocupavam em se
relacionar com a população, com os formadores de opinião,
com a imprensa”
Conselheiro Antônio Joaquim, página 29

16 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Termos de Ajustamento
de Gestão: do sonho
à realidade
O consenso representa uma evolução nas
relações entre gestores públicos e órgãos de
controle. Os Termos de Ajustamento de Gestão,
por sua vez, configuram um “contrato” que visa a
afastar a aplicação de sanções e adequar os atos
e procedimentos da administração pública aos
padrões de regularidade

Luciano Ferraz
Advogado
Mestre e Doutor em Direito pela UFMG

N
a última década, tenho invés de na imperatividade. criam ambiente propício à renova-
me dedicado acadêmi- Primeiramente, para o âmbito ção do pensamento administrativo
ca e profissionalmente das cortes de contas nominei estes acerca dos mecanismos de controle
ao estudo da atividade instrumentos de controle de TACTC da Administração Pública.1
de Controle da Ad- (Termos de Ajustamento de Conduta Na seara administrativa, além
ministração Pública. Estes estudos dos Tribunais de Contas). Ao depois, do Município de Belo Horizonte, o
não tiveram como foco o controle em palestra proferida no Tribunal anteprojeto de lei para a reforma
judicial da atividade administrativa, de Contas do Município do Rio de do Decreto-lei 200/67 prevê a
comumente presente nos manuais Janeiro, no dia 19.08.2005, passei figura do TAG. O anteprojeto de lei
de Direito Administrativo e Consti- a denominá-los, mais apropriada- orgânica dos tribunais de Contas
tucional, mas o controle externo e o mente, Termos de Ajustamento de idem. Tem-se notícia, ainda, de
controle interno da Administração Gestão (TAG). que no âmbito da Controladoria
Pública, com previsão nos artigos 70 Atualmente, há legislações, pro- Geral da União um anteprojeto
a 75 da Constituição da República. jetos de lei e experiências práticas de Decreto pretende instituir o
As conclusões alcançadas que absorveram o modelo referido, TCO – Termo de Compromisso e
levaram-me a propor modelo de sendo que o pioneirismo foi do Orientação, com idêntica forma
controle da atividade administrativa Município de Belo Horizonte, que, e substância ao TAG, porém com
baseado no consenso e não na san- no âmbito do controle interno, criou nomenclatura diversa.2
ção. Desde a tese de doutoramento dois instrumentos de controle con- A proposta deste ensaio é de-
na UFMG (09.08.2003), intitulada sensual da Administração Pública: monstrar que, na perspectiva de um
“Novos Rumos para o Controle da O TCG (Termo de Compromisso Estado Democrático, a consensua-
Administração Pública”, vislumbrei a de Gestão), idêntico ao TAG, e a lidade é alternativa fundamental e
possibilidade de utilização pelos SUSPAD (Suspensão do Processo necessária ao uso da imperatividade
tribunais de contas e pelos órgãos Administrativo Disciplinar). em matéria de controle público,
de controle interno de instru- Doutrinariamente, alguns artigos dando ensejo e fundamentação aos
mentos alternativos de controle, começam a difundir a ideia, o que é instrumentos de controle consensu-
baseados na consensualidade, ao fundamental e salutar, haja vista que al da Administração Pública.
1. Cf. CUNHA, Daniela Zago. Um breve diagnóstico sobre a utilização dos termos de ajustamento de gestão pelos Tribunais de Contas estaduais. Revista Interesse Público,
n. 51, 2009. Ver também GUEDES, Jefferson Carús. Transigibilidade de interesses públicos: prevenção e abreviação de demandas da Fazenda Pública. www.carreiras
jurídicas.com.br. Acesso em 10.09.2010.
2. HAGE, Jorge. Palestra proferida no VI Congresso Brasileiro de Licitações, Contratos e Compras Governamentais, Salvador, Bahia, de 18 a 20 de agosto de 2010.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 17


Desenvolvimento
CON TROL E : novas TE N DÊ N CI AS

J “
á se afirmou que o Direito
Administrativo é o direito
da cidadania.3 O reconhe-
cimento da centralidade O Termo de Compromisso
cidadã do Direito Adminis-
trativo, aliada à constatação de que
de Gestão - TCG, obriga as
a atividade de administração pública
vincula-se ao Direito (e não é lei),
autoridades signatárias à
implica obviamente alteração na
maneira de se desenvolverem rela-
adoção das recomendações
ções jurídicas entre a Administração formuladas pelo controlador-
Pública de per se e os cidadãos e a
sociedade. geral e será monitorado
João Batista Gomes Moreira per-
cebeu essa mutação ao afirmar que regularmente pela Auditoria-
o Direito Administrativo caminha da


rigidez autoritária à flexibilidade de- Geral do Município (...)
mocrática.4 Neste passo, não é mais
possível sustentar que as relações
jusadministrativas impulsionam-se
inteiramente por um agir unilateral
da função administrativa, baseada tempos hodiernos, a imperatividade princípio, a solução pacífica dos
exclusivamente em mecanismos cede espaço à consensualidade. 7 conflitos.
autoritários de exercício do Poder: o Fala-se mesmo em “era da consen- Especificamente sobre a temática
interesse público não é um interesse sualidade.”8 do controle consensual da Adminis-
próprio da pessoa estatal, externo Assim é que se propõe a exis- tração Pública9, a ideia fundamental
e contraposto ao interesse dos tência de um princípio da consen- subjacente é a alteração da lógica
cidadãos.5 sualidade a impor à Administração dos mecanismos de controle, que
Com efeito, a atividade adminis- Pública o dever de, sempre que deixam de ser vistos numa vertente
trativa está permeada da ideia de possível, buscar a solução para as estritamente sancionatória – visão
finalidade e “a incidência do princípio questões jurídicas e conflitos que típica do Direito concebido como
da legalidade sobre os negócios vivencia pela via do consenso. ordem de coerção –, para se afirmar
privados [...] é meramente formal, Dito princípio tem fundamento como meio de pacificação negociada
enquanto na seara dos negócios constitucional no preâmbulo da das controvérsias na ordem interna,
públicos é substancial, preenchida Constituição da Republica que na conformidade do que preceitua
pela finalidade pública que norteia afirma estar o Estado Brasileiro o Preâmbulo da Constituição da
toda a atividade estatal.”6 comprometido na ordem interna República de 1988.
O abalo do modelo burocrático e internacional com a solução pa- Com efeito, a concepção da ati-
de administração reclama formas cífica das controvérsias. Também vidade de controle exclusivamente
menos rígidas de atuação, numa no art. 4º, VII, da Constituição como controle-sanção pertence ao
onda de resgate da colaboração entre que impõe ao Estado Brasileiro, tempo em que tanto a atividade de
Estado, sociedade e indivíduos. Em nas relações internacionais, como administração pública quanto o

3. FERRAZ, Luciano. Novas formas de participação social na Administração Pública: conselhos gestores de políticas públicas. Revista Diálogo Jurídico. www.direitodoestado.
com.br. Acesso em 10.09.2010.
4. MOREIRA, João Batista Gomes. Direito Administrativo: da rigidez autoritária à flexibilidade democrática, Belo Horizonte: Fórum, 2008.
5. MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 11.
6. FERRAZ, Luciano. Controle da Administração Pública, Belo Horizonte: Mandamentos, 1999. p. 99.
7. MOREIRA NETO. Mutações do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 40.
8. SOUTO, Marco Juruena Villela. A era da consensualidade e o Ministério Público. In: RIBEIRO, Carlos Vinicius Alves (Org.) Ministério Público: reflexões sobre princípios e
funções institucionais, São Paulo: Atlas, 2010.
9. Sobre controle consensual da Administração Pública, cf. FERRAZ, Luciano. Controle Consensual da Administração e Suspensão do Processo Administrativo Disciplinar.
Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, n. 4, Ano XXV, 2007; FERRAZ, Luciano. Termo de Ajustamento de Gestão e o alerta do art. 59, §1º da Lei de
Responsabilidade Fiscal. Dez anos depois. In: CASTRO, Rodrigo Pironte Aguirre de. Lei de Responsabilidade Fiscal: ensaios em comemoração aos 10 anos da Lei Complementar
n. 101/00. Belo Horizonte: Fórum. 2010. p. 287-294.

18 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


ordenamento jurídico buscavam sua refere ao controle da Adminis- Preâmbulo, art. 4º, VII e art. 71, IX
essência no Positivismo: a adminis- tração Pública, que ‘o processo da Constituição da República; art.
tração seria eficiente e otimizada tradicional privilegia a linguagem 59, §1º da Lei de Responsabilidade
se cumprisse fidedignamente os burocrática. Mas ocorre que a Fiscal;16 art. 7º, §6º da Lei de Ação
procedimentos traçados pelos regu- tutela dos direitos transindividu- Civil Pública.
lamentos organizacionais (Escola da ais pressupõe, muitas vezes, que Com efeito, diante destes dis-
Administração Científica), e o Direito sejam levadas em conta variáveis positivos constitucionais e legais,
restaria respeitado à medida que diversas, que podem ser melhor tenho sustentado que os tribunais de
o administrador cumprisse à risca examinadas em um processo com contas podem realizar a previsão do
os artigos de lei – abstrata e gené- ênfase na conciliação.’14 TAG, mediante Resolução do próprio
rica – predispostos pelo legislador [O TAG] afina-se com a moderna órgão17; relativamente aos órgãos de
(princípio da legalidade estrita). tendência da Administração controle interno, entendo bastante
Na lógica do controle-sanção Pública e do Direito Adminis- a previsão em Decreto do Poder
não há meio termo: ou a conduta do trativo, menos autoritários e Executivo, na forma do art. 84, VI da
controlado é conforme as regras e mais convencionais, imbuídos do Constituição e congêneres (exercício
procedimentos ou não é. Neste último espírito de ser a consensualidade da competência regulamentar).
caso, deve-se penalizar o sujeito, alternativa preferível à impera- O TAG foi utilizado pioneiramente
independentemente das circunstân- tividade, sempre que possível, pelo Município de Belo Horizonte –
cias práticas por ele vivenciadas na ou em outros termos, sempre sob a nomenclatura TCG – Termo de
ocasião e das consequências futuras, que não seja necessário aplicar o Compromisso de Gestão – na gestão
às vezes negativas para o próprio poder coercitivo15. do prefeito Fernando Pimentel,
funcionamento da máquina admi- Vislumbra-se a adoção, pelos quando ocupei pela primeira vez o
nistrativa e, quiçá, à perspectiva tribunais de contas, de expediente cargo de controlador-geral do Muni-
de justiça inerente ao Direito na como objetivo de “contratar”, cípio18, mediante o Decreto 12.634,
modernidade. com os administradores públi- de janeiro de 2007. Veja-se o art. 12:
Necessário perceber-se em dias cos, alternativas e metas para a
Art. 12 - O Termo de Compromis-
atuais a aproximação, cada vez mais melhoria do desempenho dos
so de Gestão - TCG é instrumento
premente, entre fatos (condições órgãos, entidades e programas
de controle consensual, celebrado
de atuação) e normas prima facie [...]. Este “contrato” assumirá con-
entre a autoridade máxima do
(no âmbito do Direito) e entre pro- tornos de verdadeiro “contrato
órgão, entidade, programa ou pro-
cedimentos e demandas sociais (no de gestão” e o tribunal de contas
jeto auditado e a Controladoria-
âmbito da administração pública). É desempenhará o papel de árbitro
-Geral do Município, e conterá:
neste cenário que restou concebida entre a sociedade e os agentes
I - identificação sucinta das au-
a idéia de produção de instrumentos encarregados de lidar com a res
toridades e da administração
consensuais de controle, com o publica.
envolvidas;
objetivo deliberado de substituir
A competência para iniciativas II - obrigações e metas assumidas
parcialmente o controle-sanção
deste jaez [encontra] guarida pelas autoridades diante das
pelo controle-consenso; o controle-
numa leitura sistêmica do art. recomendações do controlador-
-repressão pelo controle-impulso.
71, IX, da Constituição e do alerta -geral do Município;
Neste ambiente de evolução10,
previsto no art. 59, § 1º, V, da III - prazos para implementação
mutações11 e transformações12 ga-
Lei Complementar 101/2000 das obrigações assumidas;
nhou fôlego a proposta teórica de
(LRF) [isto sem mencionar do IV - outros elementos necessários
“Novos Rumos para o Controle da
art. 5º, § 6º da Lei 7.347/85 e do para seu fiel cumprimento. 
Administração Pública”13, mediante
preâmbulo da Constituição].” § 1º - O Termo de Compromisso
a implantação dos Termos de Ajus-
Em suma, as seguintes normas de Gestão - TCG, obriga as auto-
tamento de Gestão (TAG).
respaldam constitucional e legalmen- ridades signatárias à adoção das
Sustentei nos idos de 2003, verbis:
te a adoção dos TAG pelos tribunais recomendações formuladas pelo
É preciso perceber, no que se de contas e controladorias internas: controlador-geral e será monito-

10
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo em evolução, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.
11
MOREIRA NETO. Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
12
BAPTISTA, Patrícia. Transformações do Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar. 2003.
13
FERRAZ, Luciano. Novos Rumos para o Controle da Administração Pública. Tese de Doutoramento. Belo Horizonte, UFMG, 2003. p. 134-142.
14
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação Civil Pública e Termo de Ajustamento de Conduta: Teoria e Prática, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 130
15
MOREIRA NETO. Mutações..., cit. p. 41. Entende-se possível a aplicação do consenso em substituição à imperatividade quando não restar demonstrada a má-fé do agente
público controlado.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 19


rado regularmente pela Auditoria-
CON TROL E : novas TE N DÊ N CI AS

-Geral do Município, a qual poderá


solicitar informações periódicas
sobre seu adimplemento.
§ 2º - Será instituído banco de
dados específico, visando ao
permanente monitoramento dos
Termos de Compromissos de
Gestão celebrados.
§ 3º - O não cumprimento das
obrigações previstas no Termo
de Compromisso de Gestão - TCG,
pelas autoridades signatárias,
provoca sua automática rescisão,
autorizando o controlador-geral
do Município a dar ciência do
fato ao prefeito e ao TCEMG, sem
prejuízo das responsabilidades
funcionais a serem apuradas em
processos próprios.
Os primeiros resultados apurados
pela Auditoria-Geral do Município no
monitoramento regular aos Termos
de Compromisso de Gestão aponta-
ram para a melhoria do desempenho
da Administração Municipal, com
percentual de resolução negociada
dos problemas administrativos de-
tectados da ordem de 87% (oitenta
e sete por cento).
Os elaboradores do anteprojeto
de Lei Orgânica da Administração
Pública Federal, apresentado por
comissão de juristas ao Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão,
contemplaram o TAG (Termo de
Ajustamento de Gestão), no art. 57,
nos seguintes termos:
“Art. 57 – Os órgãos de controle
público podem propor a assina-
tura de termos de ajustamento
de gestão para o efeito de afastar
a aplicação de penalidades ou


sanções e adequar os atos e
procedimentos dos órgãos ou A moderna Administração Pública e
entidade controlada aos padrões o Direito Administrativo participativo
de regularidade.
Parágrafo único – O termo de exigem da comunidade jurídica, no
ajustamento de gestão não pode Século XXI, o repensar dos meios
ter por objeto a limitação de


competência discricionária do tradicionalmente empregados no
gestor, nem a imposição de obri- controle da Administração Pública.
gações para os particulares, por
via direta ou reflexa.

20 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


A previsão do TAG é adequada e observância do efeito ex nunc limitação de competência discri-
corrobora tudo o que se discorreu de nova interpretação adminis- cionária do gestor.
acerca do controle consensual da trativa (art. 2º, parágrafo único, § 2º - Se o termo de ajustamento
Administração Pública. Objeta-se XIII, da Lei 9.784/99), seja no de gestão refletir direta ou indi-
apenas a redação da parte final reconhecimento da decadência, retamente na esfera jurídica de
do parágrafo único, que prevê a quando for o caso (art. 54 da Lei particulares, estes deverão ser
inaplicabilidade do instrumento 9.784/99). previamente notificados para
quando dele resulte imposição de Assim, mercê do direito funda- aquiescer expressa ou tacitamen-
obrigações por via direta ou reflexa mental ao contraditório e à ampla te com o seu conteúdo.
aos particulares. defesa (art. 5º, LV, CR), proponho a §3º - Se do termo de ajustamento
Isto porque é óbvio que um TAG alteração do preceito para que cogite de gestão resultar a necessidade
assinado entre o gestor e o órgão de expressamente da participação do do desfazimento de ato adminis-
controle poderá refletir em relações particular atingido na confecção trativo ampliativo de direitos, os
obrigacionais com particulares do TAG. efeitos da nova orientação, salvo
(v.g., no âmbito contratual) ou em Por isto é que se propõe a se- comprovada má-fé, não poderão
relações unilaterais (atos adminis- guinte redação para o dispositivo ser retroativos.
trativos) que traduzam obrigações do projeto: § 4º - Se o particular discor-
imperativas aos particulares. dar do conteúdo do termo de
Art. 57 – Os órgãos de controle
A vedação é justificável no ajustamento de gestão poderá
público podem propor a assina-
â m b i to c o n t ra t u a l , p o rq u e o propor aos órgãos públicos
tura de termos de ajustamento
particular não participa da assi- a rescisão do contrato ou a
de gestão para o efeito de afastar
natura do TAG, embora se possa renúncia ao direito decorrente,
a aplicação de penalidades ou
cogitar de sua aquiescência. No observando-se para todos os
sanções e adequar os atos e
âmbito das medidas unilaterais, efeitos o disposto no art. 59, §1º
procedimentos dos órgãos ou
em razão da imperatividade, os da Lei 8.666/93.
entidade controlada aos padrões
reflexos do TAG para os parti- § 5º - O termo de ajustamento de
de regularidade.
culares serão naturais, mas será gestão observará os prazos e os
§ 1º – O termo de ajustamento de
de rigor o respeito ao princípio efeitos decadenciais e prescricio-
gestão não pode ter por objeto a
da segurança jurídica, seja na nais previstos na legislação.

Conclusão

A
moderna Adminis- legalidade e dos procedimentos or- do desempenho e dos resultados nas
tração Pública e o ganizacionais rígidos, da legalidade organizações sempre – desde Taylor
Direito Administrativo formal, em ordem a prestigiar pers- – ocupou os estudiosos da Ciência de
participativo exigem da pectivas juridicamente relevantes Administração; uma Administração
comunidade jurídica, traduzidas em princípios jurídicos Pública econômica, eficiente, eficaz
no Século XXI, o repensar dos meios (boa-fé, segurança jurídica), tudo e, sobretudo, efetiva e transparente,
tradicionalmente empregados no relacionado com o consenso e com preocupada com o incremento dos
controle da Administração Pública. a solução negociada dos conflitos resultados sociais de sua ação, é o
Mecanismos de controle consen- em âmbito interno (Preâmbulo da desejo da sociedade brasileira, sejam
sual como o TAG desenvolvem-se Constituição). tais resultados alcançados com mé-
para além do âmbito estrito da A busca constante da melhoria todos imperativos ou consensuais.

16
Cf. FERRAZ, Luciano. Termo de Ajustamento de Gestão e o alerta do art. 59, §1º da Lei de Responsabilidade Fiscal: Dez anos depois. In: CASTRO, Rodrigo Pironte Aguirre de.
Lei de Responsabilidade Fiscal: ensaios em comemoração aos 10 anos da Lei Complementar n. 101/00. Belo Horizonte. Fórum. 2010.
17
Sobre o exercício da competência normativa pelos tribunais de contas, cf. FERRAZ, Luciano. Poder de sanção e poder de coerção dos tribunais de contas: competência
normativa e devido processo legal. Revista Diálogo Jurídico. www.direitodoestado.com.br. Acesso em 10.09.2010.
18
A pertinência na utilização do mecanismo de controle consensual pelos órgãos de controle interno (cuja competência material é a mesma dos tribunais de contas)
foi afirmada, ainda que indiretamente, pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, na resposta à Consulta n. 751.297, Rel. Cons. Eduardo Carone, sessão do dia
24.09.2008, que formulei àquele órgão. Vejam excertos do parecer: “[Voto do cons. Eduardo Carone]: O Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, na qualidade de
órgão julgador das contas de administradores públicos estaduais/ municipais e de responsáveis por danos à administração estadual/ municipal, somente deve ser acionado
após o esgotamento das providências administrativas internas [...] [Voto do cons. Antônio Carlos Andrada]: acompanho in totum o voto do Relator. Mas queria elucidar um
pequeno item. Bem ao final do voto, V. Exa. diz que é preciso esgotar as medidas internamente, para que depois se reporte a esta Corte. Eu concordo com esta linha, quero
apenas ressaltar este item porque, uma vez verificada a ilegalidade e sanada internamente, não há por que acionar o Tribunal. [Réplica do cons. Eduardo Carone]: Mas eu
falo que o Tribunal só deve ser acionado após o esgotamento das providências administrativas. Se o controle interno exercendo a sua função, apura um fato e consegue
revertê-lo, ele não tem que acionar. Só deve acionar se não tiver êxito.”

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 21


Políticas públicas podem
CON TROL E : novas TE N DÊ N CI AS

ser controladas por meio


das licitações
A inclusão do desenvolvimento nacional sustentável como nova finalidade das
licitações ensejou que o atendimento das políticas públicas deva estar alinhado
aos seus objetivos. Sendo assim, pode-se considerar que houve ampliação do
seu controle, no sentido de permitir avaliar a implementação, as diretrizes,
metas e atuação dos programas de governo.

Edgar Guimarães1 Caroline da Rocha Franco2


Advogado. Mestre e doutor em Advogada
Direito Administrativo pela PUC/SP

A
transformação do Estado públicas. Ele se insere em uma como as novas tecnologias de
legislativo para o Estado conjuntura de necessário reexame informação e o papel decisivo da
Constitucional consubs- do papel dos governos, com a mídia, a crescente participação dos
tanciou a passagem do percepção de uma mudança global grupos de pressão nos processos
government by law para de atribuições da administração decisórios e a exigência de maior
o government by policies,3 justifican- pública, 4 que inclui a interna- transparência, além da necessida-
do o crescente interesse dos juristas cionalização de muitos assuntos de de informação em todas as áreas
brasileiros pelo tema das políticas antes considerados domésticos, de ação governamental.5

1
Advogado. Mestre e Doutor em Direito Administrativo pela PUC/SP. Professor de Licitações em cursos de Pós-graduação. Consultor jurídico do Tribunal de Contas do
Estado do Paraná.
2
Advogada. Mestranda em Políticas Públicas pelo Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas da UFPR.
3
“O government by policies, em substituição ao government by law, supõe o exercício combinado de várias tarefas que o Estado liberal desconhecia por completo. Supõe o
levantamento de informações precisas sobre a realidade nacional e mundial, não só em termos quantitativos (para o qual foi criada a técnica da contabilidade nacional),
mas também sobre fatos não redutíveis a algarismos, como em matéria de educação, capacidade inventiva ou qualidade de vida. Supõe o desenvolvimento da técnica
previsional, a capacidade de formular objetivos possíveis e de organizar a conjunção de forças ou a mobilização de recursos – materiais e humanos – para a sua consecução.
Em uma palavra, o planejamento”. (COMPARATO, Fábio Konder. Ensaio sobre o Juízo de Constitucionalidade das Políticas públicas. In: Estudos em Homenagem a Geraldo
Ataliba. Direito Administrativo e Constitucional. Celso Antônio Bandeira de Mello (org.) São Paulo: Malheiros, 1997. p. 351).
4
“Such changes are underway in all countries. In some, such structural change may be aimed at reducing the role and size of government. In others, it may be aimed at
defending and enhancing the public sector.” Organisation for Economic Co-operation and Development. Ministerial Symposium on the Future of Public Services,
Paris, OCDE, Mar. 1996.
5
SARAVIA, Enrique. Introdução à teoria da política pública. In SARAVIA, Enrique e FERRAREZI, Elisabete (org.). Políticas Públicas – Coletânea, volume I. Escola Nacional
de Administração Pública- ENAP, 2006.

22 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Este contexto denota paulatina
modificação do Direito Administra-
tivo6 ao se incrementar o estudo de
mecanismos jurídicos que visam a
ampliar possibilidades de gestão
participativa, democrática e mais
humana. Neste sentido, as licitações
públicas representam exemplo de
instituto jurídico incrementado a
partir da sua nova finalidade de re-
alizar o desenvolvimento nacional
sustentável, fazendo com que a Lei
nº 8.666/93 passasse a regular não
apenas a transação comercial entre
particular e Administração pública,
mas a concretização de políticas
públicas com reflexos perante toda
sociedade.7
Considerando-se isto, o presen-
te ensaio busca abordar o controle
de políticas públicas por meio das
licitações, a fim de demonstrar
que o novo viés dos certames


licitatórios permite avaliar de
forma eficiente o desempenho das
diretrizes traçadas pelo adminis- (...) a política pública
trador público para a realização
da politica almejada. A perspectiva deve visar a realização de


adotada neste trabalho segue a
metodologia do ciclo de políticas objetivos definidos.
públicas, no qual o controle se rea-
liza na etapa de avaliação da policy.
O ESTUDO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

N
a literatura se costuma agenda, formulação de alternativas, a natureza das políticas públicas
pautar a apresentação tomada de decisão, implementação, como um conjunto ordenado de atos
dos temas analisados avaliação e extinção da policy, em e processos. Na sua mais recente
consoante o ciclo de um processo de interdependência definição, política pública é assim
políticas públicas que a contempla desde a gênese delineada:
(policy cicle) buscando-se facilitar até a sua extinção. A complexidade (...) programa de ação go-
o estudo de acordo com o desenvol- do estudo das políticas públicas é vernamental que resulta de um
vimento da política. Por meio dele reconhecida por Maria Paula Dallari processo ou conjunto de processos
se confere ênfase às fases de: iden- Bucci, que reformulou o conceito juridicamente regulados- pro-
tificação do problema, formação da por ela estabelecido8 ao reconhecer cesso eleitoral, processo de pla-
6
“Poder-se-ia argumentar que a disciplina jurídica das políticas públicas não pertenceria ao Direito Administrativo, mas ao Direito Constitucional, pois as políticas
consistem na atuação do Estado para a implementação de escolhas políticas, que são feitas, em sua maioria, pelo poder legislativo. (...) Entretanto, há que se ver o Direito
Administrativo como um integrante da teoria política, que busca conciliar autoridade e liberdade. Ou seja, intenta este ramo jurídico buscar a realização dos interesses
públicos de um lado e a salvaguarda dos interesses privados contra o abuso do poder.” (BREUS, Thiago Lima. Políticas Públicas no Estado Constitucional: problemática
da concretização dos direitos fundamentais pela Administração Pública brasileira contemporânea. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2007).
7
O uso das licitações como instrumento de políticas públicas é anterior à alteração do art. 3º da Lei nº 8666/93. Neste sentido, recomenda-se a leitura do livro: PEREIRA
JUNIOR, Jessé Torres; DOTTI, Marinês Restelatto. Políticas públicas nas licitações e contratações administrativas. Belo Horizonte: Fórum, 2009. Ocorre que com o
acréscimo da finalidade do desenvolvimento nacional sustentável nessa Lei, o intuito de fomento passou a fazer parte dos contratos administrativos, para além da contratação
que privilegiaria equalizar a condição do fornecedor em participar das compras públicas. Por esta razão o presente trabalho valoriza a finalidade do desenvolvimento
nacional sustentável, por ser ele um conceito que incrementou o viés das licitações.
8
“Políticas Públicas são programas de ação governamental visando coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas, para a realização de objetos
socialmente relevantes e politicamente determinados.” (BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito Administrativo e Políticas Públicas. 1ª ed, 2ª tir .Belo Horizonte: Fórum,
2006. p.239).

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 23


nejamento, processo de governo, definidos, expressando a seleção controle é tarefa que permeia quase
CON TROL E : novas TE N DÊ N CI AS

processo orçamentário, processo de prioridades, a reserva de meios todas as fases de políticas públicas,
administrativo, processo judicial necessários à sua consecução e o no entanto, considerando-se que
– visando coordenar os meios à intervalo de tempo em que se es- elas exigem a determinação de
disposição do Estado e as ativi- pera o atingimento dos resultados.9 resultados baseados em diretrizes
dades privadas, para a realização Considerando-se esta faceta delineadas inicialmente, é na etapa
de objetos socialmente relevantes dinâmica das políticas públicas é de avaliação que o controle por meio
e politicamente determinados. que este trabalho se propõe a um das licitações ocorre de forma mais
Como tipo ideal, a política pública estudo mais focado na etapa de concreta. Isto será melhor explorado
deve visar a realização de objetivos avaliação. É bem verdade que o a seguir.
FINALIDADES DO PROCESSO LICITATÓRIO

A
s finalidades do pro- licitatório era o de satisfazer os elaboração da especificação técnica
cesso licitatório são interesses da Administração como do produto/serviço, revela, de igual
expressas pelo o art. 3º compradora, ressalvando aos li- forma, esta função. Como assegura
da Lei n.º 8.666/9310, citantes a igualdade na disputa. Roberto DROMI: “La importancia de
conhecida como Lei Contudo, dado o avanço teórico la licitación es tal que no solo regla el
Geral das Licitações e Contratos Ad- relativo à matéria e ao atual enten- comienzo del contrato; su normativa
ministrativos (LGL). Este dispositivo dimento do legislador, esposado se proyecta durante todo el desarrollo
recebeu alteração pela Lei nº 12.349, pela mudança da LGL, não cabe de la vinculacion contractual, pues
de 15 de dezembro de 2010, fruto mais colocar a questão apenas las bases de la licitacion, el pliego
da conversão da Medida Provisória nestes termos. Vislumbrando-se o de condiciones y la documentación
n º 495/2010, inserindo-se como Estado como garantidor de direitos licitatoria presenteada em la oferta
um dos objetivos da licitação a fundamentais, é de se defender por el contratista rigen a lo largo de
garantia do desenvolvimento na- que a estrutura organizacional la ejecución contractual.”13
cional sustentável.11 Anteriormente articulada para o atendimento Portanto, assinala-se a impor-
a esta modificação, da inteligência das necessidades internas da tância do instituto da licitação e o
do artigo 3º da Lei n.º 8.666/93, Administração deve ser realinhada seu escopo de permitir o melhor
concluía-se que a licitação deveria a também compreender o atendi- negócio para a Administração em
cumprir dois fins básicos: garantir a mento de políticas públicas.12 consonância ao interesse público,
isonomia na atuação administrativa Com isto a Administração notadamente a partir de condições
e obter a proposta mais vantajosa Pública, especialmente por seu isonômicas e competitivas, da ga-
para o cumprimento do interesse poder de compra, pode se colocar rantia de uma atuação administra-
público. como interventora no mercado tiva proba, moral, eficiente e legal,
Considerando-se a norma atu- por meio de práticas diferencia- e da racionalização do processo em
alizada, constata-se a manutenção das de consumo, estimulando e prol do desenvolvimento nacional
destas duas finalidades, acrescen- criando meios que fortaleçam um sustentável. Neste sentido, ao
do-se a promoção do desenvolvi- modelo menos pautado no acúmulo impor a contratação por meio de
mento nacional sustentável como despropositado, e que seja mais licitação pública, o administrador
fim a ser perquirido de igual forma. racional. Não só o contrato apre- não está apenas satisfazendo a sua
Evidencia-se um incremento na ende este objetivo, mas o processo necessidade secundária, mas está
concepção de licitação. Antes o prévio de escolha do contratante, contribuindo para a promoção de
elemento essencial do processo incluindo-se habilitação, propostas, uma finalidade maior, o desenvolvi-
9
BUCCI, Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: BUCCI, Maria Paula Dallari (org.). Políticas Públicas: reflexões sobre o conceito jurídico.
Belo Horizonte: Fórum, 2006.p.39.
10
A redação original do artigo consignava o seguinte: “Art. 3º  A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a
selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade,
da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento
objetivo e dos que lhes são correlatos.”
11
Entendemos que desenvolvimento nacional sustentável é finalidade de qualquer ação governamental, não apenas das licitações.
12
Registre-se distinção feita por Celso Antônio BANDEIRA DE MELLO, segundo a qual “os interesses públicos ou interesses primários – que são os interesses da
coletividade como um todo - são distintos dos interesses secundários, que o Estado (pelo só fato de ser sujeito de direitos) poderia ter como qualquer outra pessoa, isto é,
independentemente de sua qualidade de servidor de interesses de terceiros: os da coletividade.” O autor ressalta que “os interesses secundários não são atendíveis senão
quando coincidem com interesses primários, únicos que podem ser perseguidos por quem axiomaticamente os encarna e representa. Percebe-se, pois que a Administração
não pode proceder com a mesma desenvoltura e liberdade com que agem os particulares, ocupados na defesa das próprias conveniências, sob pena de trair sua missão
própria e sua própria razão de existir.” (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 28ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 72-73).
13
DROMI, Roberto. Licitación publica. Buenos Aires: Ediciones Ciudad Argentina,1995, p.44.

24 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ



mento nacional sustentável do país. consultiva e permanente, para
E com o escopo de se implementar acompanhar a implementação
esta política determinada pelos de critérios, práticas e ações de
novos paradigmas da LGL, foram (...) o processo logística sustentável no âmbito
editados os Decretos nº 7.546, de da administração pública federal
02 de agosto de 201114, e nº 7.746,
licitatório direta, autárquica e fundacional
de 05 de junho de 201215.
O Decreto 7.746/2012 buscou
funciona, além de e das empresas estatais depen-
dentes.
p o r m e n o r i z a r o s o b j e t ivo s e instrumento para Embora se tenha regulamentado
estabelecer diretrizes gerais para o pretendido acréscimo da finali-
a efetivação da política de desen- implementação da dade do desenvolvimento nacional
volvimento nacional sustentável. sustentável à Lei de licitações, men-
Conquanto tenha ressaltado as política pública, cionado Decreto concedeu relativa
intenções das contratações eco- margem discricionária aos entes
lógicas, que são importantes para como forma de administrativos, bem como delegou
se remodelar o consumo despreo- à SLTI maior normatização sobre o
cupado com as gerações futuras,
controle de metas tema. Todavia, considerando-se a
não olvidou critérios de eficiência
na gestão, criação de empregos
e de objetivos instituição da política de fomento às
licitações públicas, são necessárias
e desenvolvimento da indústria das políticas maiores diretrizes estipuladas
e mercado local. Criou também pelo ente público contratante,
a Comissão Interministerial de aplicadas. bem como a fixação de metas para


Sustentabilidade na Administra- se vislumbrar a efetividade das
ção Pública- CISAP, de natureza políticas adotadas.

LICITAÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS

A
etapa de avaliação de o beneficiário do prejudicial. Na A avaliação é um exame cuidadoso
uma politica pública gestão atual do setor público, no do mérito, da necessidade, do valor
contempla o controle entanto, a avaliação adquiriu signi- da organização, conteúdo, admi-
como forma de ave- ficados mais específicos e estreitos. nistração, produção e efeitos das
riguar se a política Aqui, a avaliação é um mecanismo intervenções governamentais em
implantada surtiu os efeitos dese- de monitoramento, sistematização, curso ou acabados, que se destina
jados pela Administração Pública classificação e intervenções gover- a desempenhar um papel no futuro,
instituidora, bem como se as metas namentais em curso ou acabadas em situações práticas.16
delineadas pelo programa foram (organizações, políticas públicas, Considerando-se esta definição
atendidas. Ainda, o controle permite programas, projetos, atividades, é possível afirmar que o processo
verificar os reflexos não previstos seus efeitos e os processos anterio- licitatório funciona, além de ins-
inicialmente e redirecioná-los, se res a estes efeitos, as percepções trumento para implementação da
assim necessário, para o atingimento do conteúdo das intervenção), para política pública, como forma de
do interesse público. Neste sentido, que funcionários públicos e outras controle de metas e de objetivos
Evert Vedung define a etapa de ava- partes interessadas em seu trabalho, das políticas aplicadas. Isto porque
liação das políticas públicas como: orientados para o futuro, sejam os processos de contratações cos-
A avaliação é uma atividade que capazes de atuar como responsáveis, tumam ser controlados estatistica-
objetiva distinguir o precioso do de forma criativa, de forma equita- mente, vislumbrando-se a economia
inútil, o aceitável do inaceitável, tiva e economicamente possível. (...) de recursos públicos alcançada com
14
Regulamenta o disposto nos §§ 5o a 12 do art. 3o da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e institui a Comissão Interministerial de Compras Públicas.
15
Regulamenta o art. 3º da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável
nas contratações realizadas pela administração pública federal, e institui a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública - CISAP.
16
“Evaluation is an activity aimed at distinguishing the precious from the worthless, the acceptable from the unacceptable, the beneficial from the detrimental. In present-
day public sector management, however, evaluation has acquired more specific and narrow meanings. Here, evaluation is a mechanism for monitoring, systematizing, and
grading ongoing or just finished government interventions (organizations, policies, programs, projects, activities, their effects, and the processes preceding these effects,
perceptions of intervention content included) so that public officials and other stakeholders in their future-oriented work will be able to act as responsibly, creatively,
equitably and economically as possible.(…) Evaluation is careful assessment of the merit, worth, and value of organization, content, administration, output, and effects of
ongoing or finished government interventions, which is intended to play a role in future, practical action situations.” (VEDUNG, Evert. siz models of evaluation. in Routledge
handbook of public policy. Eduardo Araral Jr., Scott Fritzen; Michael Howlett; M Ramesh an Xun Wu. Routledge, New York, 2013. p.387, Tradução livre).

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 25


a realização dos certames. É possível,
CON TROL E : novas TE N DÊ N CI AS

por exemplo, que daqui a algum tem-


po se constate o barateamento dos
produtos ecologicamente amigáveis,
a partir da analise dos processos
licitatórios instaurados. Ou ainda,
observar o incremento de fornece-
dores nacionais em determinadas
áreas, possibilitando-se averiguar se
a finalidade de fomento pretendida
pelo art. 3 da Lei 8.666.93 foi aten-
dida, ou não.
Esta analise pode ser feita tanto
pela administração compradora
quanto pelas cortes de contas, que
possuem um corpo técnico alta-
mente profissionalizado e eclético.
Esse controle não estabeleceria
novas metas à Administração, e sim
averiguaria se as diretrizes traçadas
por ela, quando da instituição da
política pública, foram cumpridas
com as licitações processadas, sob
pena de responsabilização, caso
ocorra de modo diverso, sem a
devida justificativa. Nos termos
defendidos por Rholden Botelho
Queiroz17:
Não é imposto pelo tribunal de
Contas aos gestores quais os direi-
tos fundamentais sociais devem
ser implementados e em que grau
se deve dar a sua concretização.
Busca-se, principalmente, averi-
guar se os meios utilizados estão
aptos e adequados à concretização
das escolhas feitas. O resultado
do trabalho do tribunal servirá de
base para que o próprio gestor cor-


rija os rumos de sua atuação para a
efetiva satisfação das necessidades
sociais, bem como subsidiará, com
informações, os cidadãos interes- (...) o controle e o
sados em verificar a qualidade
dos gastos públicos, fomentando,
assim, o controle social.
planejamento das licitações são
Outra forma de controle por
meio das licitações ocorre na fase tarefas que devem caminhar
de planejamento do processo de


contratação, na qual se analisa, juntas (...)
a partir das experiências obtidas
com as competições anteriores

17
QUEIROZ. Rholden Botelho. O Controle das Políticas Públicas pelos Tribunais de Contas. Revista Controle. Fortaleza: Tribunal de Contas do Estado do Ceará, v. VII, n. 1,
abril, p. 63-83, 2009.

26 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


e pela troca de conhecimentos contratações cujo modelo não público insista em celebrar con-
entre os entes administrativos, atenda aos objetivos traçados pela tratos divorciados das diretrizes
o meio mais adequado de mate- politica pública. Assim, o controle estabelecidas pela política pública
rializar o disposto pelo art. 3º e o planejamento das licitações em questão, estará ele sujeito ao
da Lei 8666/93. Isto ocorre por- são tarefas que devem caminhar controle das cortes de contas e
que o administrador deve evitar juntas, pois caso o administrador eventual responsabilização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A
s contratações públi- as contratações da Administração metas estabelecidas pelo programa
cas, em regra, devem Pública inserem-se em um quadro foram atendidas.
ser antecedidas de mais amplo, contemplando reflexos O controle por meio das licitações
licitação, devendo este sociais relevantes. permite verificar os reflexos não pre-
processo administra- Neste sentido, as licitações vistos inicialmente e redirecioná-los,
tivo visar à satisfação do interesse públicas, além de instrumento de se necessário, para o atingimento
público primário e secundário, não implementação de políticas públicas, do interesse público. Esta tarefa
se atendo a somente compreender servem de meio de controle de pode ser pelo feedback da própria
aquisições vantajosas à vontade metas e de objetivos das políticas administração acerca dos processos
econômica e organizacional da má- aplicadas. Esta análise faz parte do licitatórios que realizou, bem como
quina estatal. Constata-se que, com processo de avaliação das políticas desempenhada pelas cortes de
a positivação da Lei nº 12.349/2011, publicas, etapa na qual se verifica contas, ao averiguar se as licitações
que inseriu como nova finalidade se a atuação desempenhada atendeu instauradas atendem as diretrizes
das competições licitatórias o de- às diretrizes delineadas no início da nova finalidade das contratações
senvolvimento nacional sustentável, do ciclo da política, bem como se as públicas.

REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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sobre o Juízo de Constitucionalidade dos direitos fundamentais pela nio. Curso de Direito Administra-
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PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres; Buenos Aires: Ediciones Ciudad
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BUCCI, Maria Paula Dallari. O con- Controle das Políticas Públicas
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ceito de política pública em direito. pelos Tribunais de Contas. Revista
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In: BUCCI, Maria Paula Dallari (org.). Controle. Fortaleza: Tribunal de
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27 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 27


Sistema tribunais de contas
CON TROL E : novas TE N DÊ N CI AS

cada vez mais forte

C
onselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso, Antonio Joaquim
Moraes Rodrigues Neto encerra a sua gestão na Presidência da
Associação dos Membros dos Tribunais de Contas, no mesmo
ritmo acelerado que a iniciou. Entre tantos resultados positivos,
com certeza merece destaque o fato de ter agendado a Atricon na
rotina dos conselheiros e conselheiros substitutos. E, também, ter feito fixar o
nome da associação como entidade de articulação dos tribunais de contas, de tal
maneira que a Atricon passou a ser chamada para ajudar na organização de ações
pretendidas ou desenvolvidas pelo Governo Federal -  de olho na capilaridade
e na governabilidade dos tribunais na relação com os demais órgãos públicos,
pois fiscaliza e julga a gestão dos recursos públicos.
Na entrevista a seguir, o conselheiro Antonio Joaquim – como prefere,
simplesmente – fala dos dois anos de sua gestão, do que define como sua
principal utopia, a consolidação do sistema nacional de tribunais de contas, da
luta pela criação de um conselho fiscalizador para o controle externo nos moldes
do CNJ – órgão que organiza o Poder Judiciário brasileiro –, da qualidade e da
agilidade como pressupostos do controle, do viés educativo e obrigatório do
controle externo, de estímulo ao controle social e da necessidade de a sociedade
conhecer e cobrar mais dos tribunais de contas.
Neste mesmo bloco, os novos presidentes da Atricon e do Instituto Rui
Barbosa, respectivamente os conselheiros Valdecir Pascoal e Sebastião Helvécio
e, registram seus compromissos visando fortalecer cada vez mais o Sistema
Tribunais de Contas do país, coadunando-o aos desafios e temas do terceiro
milênio.

28 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


? !
Missão cumprida entrevista

  O sr. está chegando ao o planejamento foi construído com envolvimento de muitos associados.
final de sua gestão na Atricon. Que a anuência de toda a Diretoria e E isto ocorreu verdadeiramente.
tipo de sentimento lhe ocorre? aprovado pelos membros do Con-  Tivemos inúmeras atividades em
 Para quem nunca teve a preten­ selho Deliberativo, que conta com Brasília e em outras cidades. Foram
são de ser presidente da nossa asso- representantes de 33 Tribunais de realizadas parcerias com instituições
ciação e não tinha um projeto – nem Contas de Estados, de Municípios e como o Sebrae, os Ministérios da
de vida e nem de trabalho – rascu- do Distrito Federal. O planejamento Fazenda, via Secretaria do Tesouro
nhado para esta finalidade, entendo foi o nosso guia. E as metas estabele- Nacional (STN), da Previdência
que o saldo é positivo e superou as cidas, em sua grande maioria, foram Social, da Justiça, via a Estratégia
expectativas gerais. alcançadas com êxito. Então, falando Nacional de Combate à Corrupção
  O nosso candidato natural era de sentimento, expresso o do dever e Lavagem de Dinheiro (ENCCLA),
o conselheiro Salomão Ribas (TCE- realizado. Havia uma tarefa a ser com a Secretaria de Relações Institu-
-SC), que já estava na Presidência. realizada, fui designado, a cumpri. cionais da Presidência da República,
Porém, no mês que antecedia o Espero que a próxima Diretoria a Ordem dos Advogados do Brasil, o
Congresso de Belém (PA), realizado tenha esta mesma compreensão e Conselho Federal de Contabilidade,
em novembro de 2011, ele infor- dedicação. Tribunal Superior Eleitoral, com o
mou que por problemas de saúde Tribunal de Contas da União, uma
não poderia continuar à frente da A Atricon ganhou uma grande constante peregrinação no Congres-
Atricon. Disse que tinha consultado visibilidade nesse período. Como so Nacional. Tudo isso contribuiu
outros conselheiros, a exemplo de isto foi conseguido? para a boa visibilidade alcançada
Thiers Montebello, do TCM-RJ, e   A visibilidade é positiva ou pela Atricon. 
estava defendendo o meu nome para negativa sempre em consequência
a Presidência. Acabei aceitando a de algo. Minha percepção primeira Esse é o caminho, então?
indicação com a certeza que teria a é a de que a visibilidade é positiva  Sim, mas ainda é muito pouco. Os
ajuda e a experiência de ambos e de e resultou da inegável e grande mo- tribunais de contas são instituições
outros tantos  na condução da nossa vimentação provocada pela Atricon totalmente desconhecidas da socie-
entidade. Isto ocorreu e foi muito no âmbito dos tribunais de contas dade. Ela não nos conhece. Grande
importante.   e na ampliação da relação da nossa parte da culpa é nossa. Os tribunais
entidade com outros segmentos, em de contas,  por muitos anos, foram
  Como contornou esta situação especial o governo federal. fechados em si, não se preocupavam
de ser candidato de última hora?   Os associados e, mesmo aque- em se relacionar com a população,
  Foi  optar por uma gestão les conselheiros e conselheiros com formadores de opinião, com
alicerçada em um planejamento substitutos que não são filiados, os a Imprensa. Mas vejo que isto está
estratégico de longo prazo, que foi procuradores de contas que per- mudando, que os tribunais estão se
aprovado pelo Conselho Deliberativo tencem a outra entidade, a Ampcon, abrindo, buscando interagir mais
para o período de 2012-2017. Esse enfim, nunca tanta gente foi tão com os outros órgãos de controle,
foi o grande diferencial, pois conse- instada a se informar, participar e divulgando mais suas ações. Mas
guimos, desde essa decisão, atrair se envolver nas ações da Atricon é preciso ter a consciência de que
muitos associados para contribuir ou coordenadas pela associação, a boa imagem depende de ação
nos dois anos que se seguiram. que passou a também representar concreta.
Primeiro, foi um grupo muito bom os tribunais de contas. Houve uma
na elaboração da minuta do plano, busca pela ampla integração. Até Que tipo de ação o sr. defende?
ouvindo tribunais de contas de porque o planejamento estratégico  Os tribunais de contas precisam
todo país e recebendo respostas e previu uma série de iniciativas que, atuar com eficiência, com qualidade
sugestões. Depois, com este esboço, para serem realizadas, exigia o e com agilidade. De nada adianta

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 29


Sistema tribunais de contas cada vez mais forte
AS
N CIAL


julgar contas com atraso, depois por exemplo, na promoção da Lei
S OCI

de muitos anos do fato ocorrido. É Geral da Microempresa. É uma


preciso que no ano sejam julgados grande política pública, que prevê a
O primeiro passo
TE NE

todos os processos do ano anterior, compra governamental do pequeno


CON TROL

que as auditorias sejam concomi- empresário, do empresário local.


tantes, que os tribunais usem, com para a consolidação Mas essa lei complementar estava
CON TROL E : novas

responsabilidade, o instrumento da do sistema nacional sendo aplicada em apenas 20% dos


medida cautelar, para intervir em municípios brasileiros. O Sebrae
uma obra irregular, por exemplo, de controle externo procurou a Atricon, para a asso-
durante a sua execução. É o que eu ciação articular com os tribunais
aponto como fazer biópsia. De nada é a criação do de contas, que têm que fiscalizar a
adianta fazer autópsia, atuar sobre observância da legislação em vigor,
algo que já foi feito, com o prejuízo já Conselho Nacional um grande diálogo nacional com os
ocorrido. A apreciação tempestiva e dos Tribunais gestores públicos. Infelizmente, na
o julgamento em tempo de correções compra governamental, observa-se


representa efetividade. de Contas apenas a Lei das Licitações. Isto
Julgar também o resultado de é puro desconhecimento. Então,
políticas públicas, verificar se o conseguimos realizar eventos em
dinheiro aplicado trouxe resultados da República”, liderados pelo con- todos os estados, na parceria Sebrae
para a sociedade. Pode-se fazer uma selheiro substituto Jaylson Campelo e tribunais de contas, mostrando a
licitação de milhões, totalmente (TCE-PI), que realizaram as visitas importância da Lei Complementar
legal, mas o resultado ser nenhum. técnicas de avaliação em todos esses para o desenvolvimento local, além
Os tribunais de contas não podem tribunais no período de apenas três da necessidade de fiscalização da
ficar observando apenas a legali- meses, para produzir um relatório sua aplicação. Segundo informações
dade e a regularidade. Isto é muito com o diagnóstico da realidade dos recentes, o percentual de municípios
pouco e não atende  à exigência tribunais de contas. Este diagnóstico que tomaram providências em
constitucional da eficiência. Vejo é um marco referencial, que serve relação à Lei Geral alcançou 50%.
que pelo menos a metade dos nossos para que cada tribunal avalie como Isto confirma a capilaridade e a
tribunais de contas já atuam assim. está no em nível nacional. Também governabilidade dos tribunais de
Mas este nível de excelência, de serve para indicar boas experiências contas e seu potencial de executo-
qualidade e agilidade, tem que ser a serem seguidas. Esses resultados riedade de políticas públicas.
alcançado por todos. são públicos, estão publicados no
site da Atricon, mostrando também O sr. disse que houve parceria
Uma preocupação em sua ges- a opção pela transparência. com o governo federal. Como
tão, prevista no planejamento, foi Da mesma forma, objetivando foram realizadas ?
com a qualidade e a agilidade dos qualidade e excelência, outro grupo Com o Ministério da Previdência
tribunais de contas. Que tipo de de conselheiros e técnicos, liderados começamos uma parceria para
encaminhamento foi feito a este pelo conselheiro Sebastião Ranna qualificar a fiscalização da gestão
respeito? (TCE-ES), contribuiu decisivamente dos recursos pelo Regimes Próprios
  Esse será um dos marcos des- na criação da Rede de Informações de Previdência Social (RPPS), os
te período na gestão Atricon. O Estratégicas para o controle exter- órgãos previdenciários dos estados e
Conselho Deliberativo aprovou um no, a exemplo da experiência de municípios que atendem 10 milhões
inédito instrumento de Avaliação da tribunais como o TCU. Esta rede vai de servidores. Também articulamos
Qualidade e Agilidade do Controle permitir que os nossos tribunais a adesão dos tribunais ao ENCCLA,
Externo no âmbito dos tribunais de tenham acesso a bancos de dados que reúne dezenas de órgãos de con-
contas, com a definição de 20 itens e de outras instituições, para ter mais trole como o Ministério Público, o
60 critérios. Disto foi produzido um qualidade e segurança em decisões Ministério da Justiça. Com o Tribunal
questionário com 133 quesitos, apli- como acúmulo indevido de cargos da União, na realização de auditorias
cado em 28 tribunais de contas que, públicos. coordenadas em Educação, em todos
de forma espontânea, aderiram ao os estados,  e em Meio Ambiente, em
procedimento de aferição. Tivemos   E as parcerias, também foram nove estados da região da Amazônia
a colaboração de conselheiros e téc- importantes? Legal.
nicos, nossos “Homens e Mulheres Sim, e muito. Com o Sebrae, Ainda houve a articulação com

30 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


o Ministério da Fazenda, por meio existem instâncias superiores, O sistema precisa só do conse-
da Secretaria do  Tesouro  Nacional hierarquia. O CNTC será o grande lho como base para essa revolução
(STN), e o Conselho Federal de órgão de planejamento das ações que o sr. prega ? 
Contabilidade, na realização de dos tribunais de contas. Será o órgão Além do CNTC, outro ponto
atividades visando a adoção da nova normatizador, que buscará a harmo- importante para a consolidação
contabilidade pública. A STN não nização de procedimentos. Também, do sistema é a aprovação de uma
consegue  cumprir um calendário evidente, será o órgão correicional, Lei Processual Nacional para jul-
nacional de adoção das novas nor- fiscalizador de condutas. gamento de contas públicas. Este
mas de contabilidade. Já fixou um, documento já está pronto, em
mas por pressão das prefeituras, Como funcionaria o Conselho formato de um Manual de Boas
a Presidência da República reviu Nacional dos Tribunais de Contas? Práticas Processuais, para ser com-
o calendário. Então, novamente O Conselho terá esta grande partilhado por todos os tribunais de
entrou em cena a Atricon e os função, de organizar os tribunais contas. Foi dado um grande passo
tribunais de contas, que começaram de Contas, de estabelecer metas neste sentido.
a se articular para, primeiro, no para serem cumpridas, como o CNJ
âmbito interno, assimilar a nova faz com o Poder Judiciário. O CNJ já Qual tipo de providência o CNTC
contabilidade; no plano externo, baixou mais de 180 resoluções, gran- ofereceria para o jurisdicionado?
induzir os órgãos públicos a aten- de parte definindo, estabelecendo Articulando, por exemplo, as
derem essa exigência. É o que ocorre padrão, rotinas etc para todos os Escolas de Contas dos Tribunais de
com a obrigação constitucional de mais de 90 órgãos da Justiça e suas Contas para, em ação nacional, ser a
todos os órgãos públicos terem uma instâncias.  O Conselho Nacional dos grande responsável pela capacitação
unidade de controle interno. Serão Tribunais de Contas pode e terá que dos gestores públicos. Os tribunais
os tribunais de contas, com certeza, funcionar nesse modelo.  Quem ga- têm obrigação de contribuir com a
que conseguiram fazer cumprir esta nhará com o CNTC será a sociedade, melhoria da gestão pública. Neste
determinação constitucional. A Lei pois, unidos em um único rumo, os sentido, muitos tribunais atuam com
de Responsabilidade Fiscal, a LRF, foi tribunais de contas serão a ponta de a realização de cursos e treinamentos
adotada em nível nacional porque os lança no combate à corrupção e na de gestores. É o caso do TCE-MT, que
tribunais de contas passaram a exigi- busca da melhoria da gestão pública. realiza o Programa de Desenvolvi-
-la. Esta é uma grande contribuição mento Institucional Integrado, o PDI.
dos tribunais.  Qual é a dificuldade para o CNTC Por este programa, o TCE contratou
ser aprovado ?  uma consultoria e foi ajudar os 20
Os tribunais de contas se apro- Não entendo a resistência maiores municípios do Estado, que
ximaram mais, é isto ?  existente para a criação do nosso representam 60% da população, a
De fato, o principal resultado conselho, facilmente percebida elaborar o planejamento estratégico.
dessas parcerias foi articular e no Congresso Nacional.  É  como Também contribuiu na elaboração
movimentar os tribunais, que in- se alguns não quisessem que os do plano estratégico das maiores
felizmente funcionam como um tribunais de contas se organizem e Secretarias de Estado. Esse programa
arquipélago. Precisamos assumir a atuem de forma mais harmônica. A também é voltado para a sociedade,
condição de continente, unidos na PEC 28/2007 está pronta para ser para o estímulo ao controle externo.
luta pela melhoria da gestão pública votada na Câmara dos Deputados O TCE-MT contratou a Universidade
e no combate à corrupção. desde 2009 e não entra em votação. Federal de Mato Grosso (UFMT) para
Se há necessidade de ajustes na dar curso de formação para 400
Essa unidade passa pela criação sua composição, que façamos isto. membros dos conselhos municipais
do Conselho Nacional? Não existe nenhum dogma quanto de políticas públicas, como os de
Exatamente. O primeiro passo a este fato. Mas precisamos do educação, saúde, segurança. Estas
para a consolidação do sistema CNTC para iniciar a consolidação pessoas estão recebendo formação
nacional de controle externo é a do sistema nacional de controle de cidadania, sobre Leis Orçamen-
criação do Conselho Nacional dos externo. Colocar este assunto na tárias. Estamos formando fiscais da
Tribunais de Contas (CNTC). Este agenda foi uma grande ação dessa sociedade. É uma experiência tão
conselho é vital para integrar os Diretoria. Debatemos bastante rica que a Atricon foi mostrá-la para
tribunais brasileiros, que funcionam este assunto, até em obediência às os demais tribunais e entregou uma
sem hierarquia, com autonomia. últimas deliberações dos nossos cópia do programa na Presidência
Não somos como o Judiciário, onde congressos. da República.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 31


Sistema tribunais de contas cada vez mais forte
AS
N CIAL

O IRB e as diretrizes da

TE NE S OCI

Declaração de Vitória
CON TROL
CON TROL E : novas

Conselheiro Sebastião Helvecio

A
prioristicamente deve-se originário de um estado unitário, e os desafios que se apresentam
anotar que a Declaração por isto se torna importante uma descritos nas vinte e seis diretrizes
de Vitória − documento contextualização histórica de nossas que compõem a Declaração de Vitória
referência do XXVII Constituições, desde a Carta Imperial com o Planejamento Estratégico da
Congresso dos Tribunais de 1824 até a Constituição Cidadã instituição, visando ao direciona-
de Contas do Brasil1, realizado com a de 1988, para verificar o pêndulo da mento dado pela entidade aos antigos
participação de 34 tribunais de contas, centralização/descentralização, que Grupos Temáticos do Programa de
−, aprovada por unanimidade pela aqui prefiro situar como diástoles e Modernização do Sistema de Controle
Assembleia Geral da Associação dos sístoles. Externo nos Estados, Distrito Federal
Membros dos Tribunais de Contas do ELAZAR (1987) conclui que e Municípios Brasileiros, PROMOEX.
Brasil, é inovadora, porque, além de “federalismo é assim um princípio A utilização da Peer Review, revi-
situar a importância do controle ex- ou valor que permeia os sistemas são e avaliação entre pares, resultando
terno no contexto nacional, relaciona políticos federativos e que diz respeito no produto Avaliação da Qualidade
suas atividades com o exercício da à necessidade das pessoas e das e Agilidade do Controle Externo2, é
cidadania e a melhoria da qualidade unidades políticas de se unirem para ponto fundamental para o estabeleci-
da gestão pública, explicitando o atingirem objetivos comuns e ainda mento de estratégias que garantam a
enleamento com o desenvolvimento assim se manterem separados para constante reciclagem de membros e
econômico e a redução das desigual- preservar suas respectivas integri- servidores, com a utilização endógena
dades regionais e sociais. dades”. Adita-se, ainda, que o federa- do princípio da eficiência, agora com
No Brasil, a República e a Fede- lismo é explicitamente de natureza status constitucional.
ração chegaram juntas e nunca se republicana, no mesmo sentido de A Constituição Federal de 1988,
dissociaram. O federalismo como res publica (coisa pública), ao dizer a Constituição Cidadã, resgata, por
tema de análise política tem ocupado respeito à “necessidade das pessoas”. inteiro, a importância dos tribunais
a agenda de diversos pensadores e No dizer de Elazar, “... uma federação de contas, especialmente ao inscul-
institutos de formulação de estraté- deve pertencer a seu público e não pir, nos incisos do seu artigo 71, as
gias para a implantação de políticas ser propriedade particular de uma competências que balizam a atuação
públicas. No Brasil, o conhecimento pessoa ou de segmento deste público daqueles no fortalecimento da demo-
da sua evolução histórica é essencial e, portanto, seu governo requer a cracia, da república e da federação.
para correlacionar federalismo a participação pública”. Nesta esteira, é importante realçar
política pública. Daí a abordagem do O Instituto Rui Barbosa – IRB, que o reconhecimento explícito de
estudo sobre federalismo baseado conforme dispositivo regimental, que a eficiência é um princípio cons-
na observação de que quanto mais tem entre suas finalidades o estudo, titucional da Administração Pública
descentralizada fiscalmente for a fede- a pesquisa e a investigação da organi- ocorreu somente em 1998, com a
ração e maiores forem as disparidades zação, dos métodos e procedimentos Emenda Constitucional n. 193, embora
interestaduais, em termos de gerar presentes nos controles externo e o princípio da eficiência já desfilasse
renda e demandar gastos, maior será a interno, visando o aperfeiçoamento entre administrativistas e ideólogos
necessidade de existirem mecanismos das atividades com o objetivo final de de políticas públicas.
de especialização para promover o zelar pela legalidade e, sobretudo, pela O princípio da eficiência é au-
equilíbrio horizontal. eficiência do gasto público. tônomo, dotado de normatividade
O Brasil é um estado federal Hora de ajustar o momento atual suficiente para vincular as atividades

1. Congresso dos Tribunais de Contas do Brasil, realizado, em Vitória - ES, de 03 a 06 de dezembro de 2013.
2. Documento elaborado pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil – Atricon.
3. Modifica o regime e dispõe sobre princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças
públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providências.

32 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


da Administração Pública direta e resposta é implementar as diretrizes permanente de seus membros e ser-
indireta, de qualquer dos Poderes contidas nos itens 17, 18, 19, 20, 26 vidores, especialmente por meio das
da União, Estados e Municípios; e da Declaração de Vitória, com ênfase escolas de contas e em parceria com
mais, na dicção de Batista Junior, “um na InfoContas6 – Rede Nacional de o IRB, visando ao desenvolvimento
verdadeiro dever de otimização das Informações Estratégicas. e qualificação profissional; 8. apoiar
relações meio-fim e da orientação para Outros balizadores fundamentais a Política Nacional de Fomento ao
o bem comum”. da atuação do IRB são inovação e Controle Social e Dados Abertos pelos
Aqui é importante demonstrar que internacionalização. Os temas Au- TCs e compartilhar as boas práticas
o princípio da eficiência não pode ter ditoria, Contabilidade Pública, de controle social; 9. cumprir e fis-
uma interpretação minimalista, que Atos de Pessoal e Previdência, calizar para que os jurisdicionados
a reduza à mera ideia de economici- Obras Públicas, Compras Públicas observem os requisitos de Transpa-
dade. Ao contrário, o que se deseja do devem se beneficiar das melhores rência Pública especialmente LRF e
gestor público é qualidade do gasto práticas internacionais e padrões de LAI; 10. implementar e fortalecer as
público, compromisso com resultados reconhecimento cosmopolita, atentos, Corregedorias; 11. Ouvidorias como
e consequentemente acasalamento in- no entanto, às peculiaridades do local. efetivos canais de comunicação com
dissolúvel com a efetividade e eficácia. A Declaração de Vitória, em suas a sociedade.
Eis o elo fundamental: Os tribunais diretrizes, aponta para tais sendeiros: Em conclusão, da mesma forma
de contas na missão de zelar pela 12. Normas de Auditoria Governa- que os formuladores de políticas
boa aplicação dos recursos públicos mental – NAGs; 13. convergência públicas caminharam para o en-
devem lançar mão de atividades das NAGs ao novo marco normativo tendimento de que a obtenção de
de inteligência para otimizar seus recomendado pela INTOSAI; 14. resultados, eficiência do gasto, não
resultados. auditorias operacionais; 15. auditorias é primazia liberal e de que políticas
Outro desafio absolutamente coordenadas; 21. auditorias de obras inclusivas, estado de bem-estar social,
fundamental: enfrentar a resistência à públicas; 23. tratamento diferenciado não é ideologia socialista, os TCs do
mudança tecnológica. O ludismo − pra- e favorecido às microempresas e terceiro milênio, guardiões da mora-
ticado pela primeira vez na Revolução Empresas de Pequeno Porte – EPP. lidade kantiana, devem estar afinados
Industrial, com episódio de John Kay4 Ao meu sentir, o inarredável com temas hodiernos que incluem
em 1753, renovado em 1764, quando compromisso da Diretoria do IRB planejamento estratégico, articulação
os ludistas incendiaram a casa de eleita com a participação de todos interinstitucional, informações estra-
James Hargreaves5, o inventor da os 34 tribunais de contas brasileiros tégicas, produção de conhecimento a
máquina de fiar hidráulica − ainda complementa-se com as diretrizes: partir de integração que possibilite
está presente no sec. XXI, quando 22. harmonizar o plano estratégico melhor decisão, economicidade,
vozes se pronunciam contra o uso dos tribunais de contas com os da avaliação de políticas públicas, trans-
massivo de tecnologia de informação, Atricon e do IRB, bem como fortalecer parência e, sempre, cada vez mais,
sistemas de fiscalização integrada, as respectivas unidades de planeja- controle social e cidadania. Delineadas
unidades de inteligência e controle. A mento; 24. promover a capacitação as prioridades, vamos ao trabalho!

Bibliografia

ATRICON − Associação de Membros dos Externo. Brasília: Atricon, 2013. Janeiro, 2007.
Tribunais de Contas do Brasil. Avaliação da BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. Princípio OSBORNE, Roger. Do povo para o povo. Uma
Qualidade e Agilidade do Controle Externo. Constitucional da eficiência administrativa. nova história da democracia. Rio de Janeiro:
Brasília: Atricon, 2013. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004. Bertrand Brasil, 2013.
________. Declaração de Vitória. Documento CASTRO, Sebastião Helvecio Ramos de. SEN, Amartya. Desenvolvimento como
referência do XXVII Congresso dos Tribu- Sístoles e Diástoles no Financiamento liberdade. São Paulo: Companhia das
nais de Contas do Brasil. Vitória: Atricon, da Saúde em Minas Gerais: o período Letras, 2010.
2013. pós-constituinte 1989. Tese (Doutorado) ___________. A ideia de justiça. São Paulo:
________. InfoContas. Rede Nacional de em Saúde Coletiva. Instituto de Medicina Companhia das Letras, 2011.
Informações Estratégicas para o Controle Social. Universidade do Estado do Rio de

4. John Kay (1704-1764): maquinista, engenheiro e inventor inglês. Filho de um fabricante de tecidos de lã em Bory, em Lancashire, inventou
um equipamento, o Flying Schuttle, que substituía o acabamento manual da peça. Sua vantagem tornou-se motivo de revolta para os demais
tecelões, que incendiaram a sua casa e destruíram seus teares. Sua contribuição para a tecelagem automática é notável.
5. James Hargreaves (1720-1778): carpinteiro, fiandeiro e inventor britânico. Não sabia ler, nem escrever, porém com a sua engenhosidade
inventou, em 1764, a Spinning-Jenny, que substituiu a fração artesanal de algodão. Ao morrer, já existiam 20 mil máquinas em operação na
Inglaterra copiadas da sua.
6. Documento elaborado pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil – Atricon.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 33


Sistema tribunais de contas cada vez mais forte
AS
N CIAL

Atricon: projetos e desafios



TE NE S OCI

da nova gestão
CON TROL
CON TROL E : novas

Conselheiro Valdecir Pascoal


Foto: Divulgação/Atricon

Novo presidente da Atricon discursa em sua posse

A “
Associação dos Membros um todo, fica patente, ainda, a
dos Tribunais de Contas capacidade coletiva de análise
do Brasil (Atricon) acaba e de formulação de proposições
de vivenciar mais um pro- A construção de criativas e inovadoras, combustível
cesso democrático e republicano de uma entidade cada para orientar o estabelecimento
alternância do poder. Trata-se de de diretrizes que congreguem
uma entidade plural, vocacionada vez mais vigorosa e distintos pontos de vista. Com
a ocupar espaço importante no efeito, as plataformas de campanha
fortalecimento do controle público,
atuante, lastreada trouxeram propostas consistentes
atividade singular e fundamental na colaboração de e factíveis, cuja implementação
para a consolidação da democracia poderá redundar em avanços sig-
no nosso país. todos os membros nificativos no processo de gestão
Processos dialógicos, como dos tribunais de e na qualidade das intervenções
aqueles associados a uma disputa no ambiente em que a entidade se
eleitoral, costumam fortalecer as contas, é, pois, insere.
instituições, especialmente, como Para os novos eleitos, impõe-se
no caso presente, quando respei-
tarefa em prol dos o desafio de suceder uma gestão
tadas as diversidades internas, o mais legítimos marcada pela proficiência e van-
que favorece o desenvolvimento de guardismo, liderada pelo ilustre
ideias e ações com maior respaldo interesses da conselheiro Antônio Joaquim, o


político. nação. que por um lado é um fator po-
Observando o processo como sitivo, ao se considerar todo o

34 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


histórico legado. Iniciativas recém pelas limitações dos recursos tribunais de contas. Neste sentido,
implementadas, como a introdução disponíveis, hoje oriundos majo- e considerando a moderna visão
da ferramenta do planejamento ritariamente da contribuição dos de compartilhamento de ações
estratégico na gestão da entidade e seus sócios. Tradicionalmente, com instituições congêneres e
a avaliação de qualidade e agilidade conta-se com o suporte operacional parceiras, seria de bom tom con-
do controle externo, constituem que o tribunal que sedia a subsede siderar a especial contribuição do
marcos importantes para a conso- durante o mandado do presidente Instituto Rui Barbosa, liderada pelo
lidação de uma estrutura moderna pode oferecer, mediante convênio proficiente conselheiro Sebastião
e sintonizada com os novos tempos. específico, com a disponibilização Helvécio, no desenvolvimento de
Por outro lado, e pela mesma da infraestrutura básica necessária. atividades relacionadas à produção
razão, os novos gestores estão diante Por essa razão, urge, como tarefa e ao compartilhamento do conhe-
de uma grande responsabilidade, imediata, a busca de fontes de fi- cimento. Programas conjuntos
no sentido de se utilizar deste nanciamento adicionais, para fazer certamente representarão um
importante legado de forma criativa, face às necessidades da rotina ad- avanço no sentido de dar maior
com vistas a desenvolver ações que ministrativa e do desenvolvimento valor às contribuições individuais.
qualifiquem ainda mais as atividades dos projetos e ações da instituição. Por fim, a articulação institucio-
do controle externo como algo Neste sentido, vislumbra-se a nal e política é peça fundamental
essencial para a vida do cidadão, possibilidade de acessar outras para que as atividades previstas
contribuindo para a oferta de ser- fontes para o desenvolvimento alcancem os resultados pretendidos.
viços ágeis e confiáveis à sociedade de projetos específicos. No caso Com efeito, o acompanhamento
por parte da gestão pública. do levantamento da qualidade e diuturno das ações judiciais e das
Com a nova estrutura do seu agilidade dos tribunais de contas atividades parlamentares relacio-
estatuto, introduzida em novem- - cuja versão preliminar acaba de nadas com a atividade do controle
bro de 2011, além da defesa dos ser concluída - por exemplo, há externo garante, ao mesmo tempo,
legítimos interesses corporativos, sinalização concreta do interesse do o fortalecimento da defesa institu-
ampliou-se o rol de atribuições Banco Interamericano de Desenvol- cional e a possibilidade de interferir
relacionadas com o fortalecimento vimento (BID) em apoiar, mediante positivamente no encaminhamento
institucional do sistema Tribunal de financiamento, a complementação e de ações em favor do aperfeiço-
Contas e o aprimoramento da ativi- o aprimoramento técnico-científico. amento da governança pública e
dade genérica do controle externo, Não se pode olvidar, também, a da democracia. Não esqueçamos,
mormente na contribuição que esta necessidade de ampliar o quadro ademais, a necessidade de ações
pode oferecer à consolidação da de sócios, incrementando a re- com vistas ao fortalecimento da
democracia e à qualidade de vida presentatividade da instituição e imagem dos tribunais de contas.
do cidadão. também abrindo ainda mais espaço É forçoso reconhecer que ainda
Este caminho, aliás, está também para a diversidade de opiniões e precisamos avançar em muitos
vinculado ao recado que os mem- contribuições. O grande número aspectos, mas também é verdade
bros da entidade, em Assembleia, de conselheiros substitutos que se que somos melhores do que apa-
ao final do XXVII Congresso dos associaram à Atricon no último ano rentamos para a sociedade. Fazer
Tribunais de Contas do Brasil, pro- já é motivo de comemoração. Mas com que o cidadão compreenda que
feriram na Declaração de Vitória. o sonho maior é que a totalidade a atuação dos tribunais de contas
Ao afirmar o desejo de dar dos seus membros sejam filiados. estão intimamente relacionadas à
continuidade ou implementar os Para isto, é preciso consolidar lisura e à qualidade das ações de
mecanismos associados às iniciati- a estrutura organizacional com educação, saúde, segurança, mobi-
vas exitosas da gestão anterior, esta ações programáticas que atraiam e lidade, meio ambiente etc é um de
declaração enfatiza ainda a necessi- sensibilizem, ainda mais, a adesão nossos maiores desafios em busca
dade de manter a luta pela criação espontânea daqueles que fazem do definitivo reconhecimento social.
do Conselho Nacional dos Tribunal parte do seu espectro de atuação. A construção de uma entidade
de Contas do Brasil (CNTC), em que Para cumprir a finalidade cada vez mais vigorosa e atuante,
se apoia a esperança de prosseguir de modernizar a organização, é lastreada na colaboração de todos
na rota de crescimento da impor- preciso também estar atento ao os membros dos tribunais de
tância dessas instituições na vida desenvolvimento de novas compe- contas, é, pois, tarefa em prol
cidadã e democrática do país. tências, habilidades e atitudes por dos mais legítimos interesses da
Esta tarefa não é simples, até parte daqueles que integram os nação.
Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 35
Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 35

S OCI AL

A vida pública brasileira será fiscalizada


CON TROL E SOCI

pelo cidadão, do presidente ao prefeito;


do senador ao vereador. A moral é o
cerne da pátria; a corrupção é o cupim


da República.
Ulysses Guimarães
presidente da Constituinte, em 1988

36
36 VerãoTCMRJ
Revista de 2014 Verão Revista
- N. 56de 2014 - N. TCMRJ
56
TCMRJ garante amplo
acesso à informação

O
acesso é a regra e informações em todo o âmbito deste Chamado à Unidade competente,
o sigilo, a exceção. TCMRJ, visando celeridade nas res- medida que tramita em caráter
Sob esta premissa, o postas às demandas da Ouvidoria. prioritário. Recebida a instrução,
Tribunal de Contas formulo a resposta ao solicitante.
do Município do Rio Revista do TCMRJ - Qual a Há muitos casos em que os assuntos
de Janeiro tem garantido de forma estrutura da Ouvidoria? mencionados nos Chamados não se
ágil e clara o acesso à informação A Ouvidoria encontra-se, atual- inserem no âmbito de competência
de interesse público, através de mente, sob minha responsabilidade, deste TCMRJ, e, muitas vezes, da
sua ouvidoria e do serviço de in- na qualidade de titular da Secretaria própria esfera do Município do Rio
formação, criado a partir da Lei Geral da Presidência. Em sua estru- de Janeiro. Nestes casos, o solicitante
de Acesso (Lei n.12.527, de 2011). tura de pessoal, há o cargo de assis- é instruído sobre para onde deve
Qualquer cidadão, gratuitamente e tente de Ouvidoria, exercido pela dirigir sua solicitação.
sem precisar justificar, pode obter servidora Angélica Cirino Santana
as informações sobre estrutura, das Chagas, que opera diretamente Quais são as áreas mais deman-
despesas e principais atividades do o sistema informatizado, substituída dadas?
órgão, como auditorias e inspeções em seus impedimentos legais pelo Boa parte é sobre serviços pú-
realizadas. Este é um grande passo assistente da Presidência, Carlos blicos prestados pelo Município do
para o desenvolvimento do controle Alberto Borges Delgado Junior. Rio de Janeiro e, dentro desta ótica,
exercido pela sociedade em prol do saúde e educação ainda prepon-
direito fundamental à boa admi- Como funciona o sistema de deram. A área do transporte teve
nistração pública e da participação Ouvidoria? aquele pico atípico, no meio do ano,
cidadã nos processos de decisão que O Sistema de Apoio à Ouvidoria, por causa da movimentação popular.
afetam diretamente sua vida. software de informática desenhado Em princípio, gerada pelo aumento
Entre janeiro e outubro deste exclusivamente para este mecanis- de tarifa de passagem do transporte
ano, ambos os serviços de infor- mo, opera 24 horas por dia, inclusive público, o movimento demandou
mação receberam 1.482 chamados. aos sábados, domingos e feriados. O uma série imensa que ultrapas-
Autoridade responsável, o secre- sistema grava as solicitações recebi- sou 1000 solicitações, mas muitas
tário-geral da Presidência, Sérgio das pelo telefone exclusivo – 0800 orientadas pela rede social. Mesmo
Aranha, responde aqui a perguntas 2820486, ligação gratuita. Diaria- não tendo conhecimento pleno do
elaboradas pela Revista TCMRJ e fala mente, às 9h, ao iniciar o expediente, que estavam solicitando, diversas
sobre procedimentos, expectativas e a assistente Angélica recolhe as pessoas mandavam mensagens para
resultados do Setor. ligações existentes, transformando- o Tribunal, fomentadas pela dita
-as em “Chamados de Ouvidoria”, coordenação do movimento. Quando
Quando e como foi im- através de formulário próprio. respondíamos, e nós respondemos
plementada a Ouvidoria do a todos os reclames da época, a
TCMRJ? Revista do TCMRJ - Que proce- grande maioria estranhava e nos
A Ouvidoria do Tribunal foi criada dimentos são iniciados a partir da questionava de volta para saber do
em 2006, inicialmente na estrutura formação do formulário? porquê daquela resposta.
da Secretaria-Geral, então órgão de Os Chamados são submetidos,
superior graduação na hierarquia primeiramente, a meu exame. Dis- E o Serviço de Informação
desta Instituição, e subordinada pondo dos elementos para atender ao Cidadão, como funciona no
diretamente à Presidência. Com a às questões postas, providencio de TCMRJ?
sua extinção, a Ouvidoria passou a imediato a devida resposta ao solici- A Lei de Acesso à Informação, de
integrar o Gabinete da Presidência, tante. Em sendo necessária consulta novembro de 2011, determinou que
o que a dota de poder de requisitar a órgãos deste TCMRJ, direciono o todos os órgãos públicos, especifi-

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 37



CON TROL E SOCI AL

O serviço de
Ouvidoria
é um
importante
mecanismo
de controle
social e
cidadania.

camente as cortes de contas, teriam


de criar o Serviço de Informação ao
Cidadão. É um serviço tão próximo e
proteção prevista na própria Lei.
Temos atendido às solicitações sem
nunca extrapolar o prazo legal.

atender às pessoas, embora poucas
se dirijam pessoalmente para fazer
suas solicitações. Noventa e cinco por
paralelo à Ouvidoria que agregamos cento dos chamados são via internet e
um ao outro. Mas tem formulário O TCMRJ pretende implementar telefone. O protocolo atende também
separado e exigência de prazo, ações para aprimorar o serviço de a alguns, principalmente quando o
pois todas as informações devem Ouvidoria? pedido é cópia de processos. Mas o que
ser prestadas no prazo máximo de Após as obras físicas nas insta- está sempre na peocupação é: moder-
20 dias, prorrogável por mais 10 lações do Tribunal, a preocupação nizar de forma a agilizar e prestar o
quando justificada. A Lei exige que primeira é locar a Ouvidoria, dar um melhor serviço possível de Ouvidoria,
se forneça, ao solicitante, inclusive espaço próprio, com privacidade, para que é um importante mecanismo de
documentos, desde que não tenham que, com toda liberdade, se possa controle social e cidadania.

Exemplos de Chamados de Serviço de Informação ao Cidadão do TCMRJ

1- Descrição Original do Chama- também, acompanhar a solução, O TCMRJ, desde 2008, realiza
do pelo Contato (Internet) através da prevenção, manutenção o Programa de Visista às Escolas
Assisti ao programa Menorah e conservação. O problema poderia Municipais de Ensino (com foco nas
onde o presidente do TCMRJ diz que ter tido o olhar de um engenheiro ou unidades que possuem turmas do
tem uma equipe multidisciplinar. Sei arquiteto da equipe do TCM quando 6º ao 9º ano), tendo por objetivo a
que o TCM acompanha algumas Uni- acompanhou à UE, senão, de que realização de um acompanhamento
dades Escolares do Município, então, adianta acompanhar e de que adian- mais direto e constante das escolas,
por que o TCM não atua de forma ta a equipe ser multidisciplinar? propiciando, assim, ações imedia-
mais decisiva, no sentido de orientar tas, tentando solucionar, o mais
como resolver certos problemas? Resposta do TCMRJ rápido possível, as impropriedades
Acho que não vale a pena só apontar (em 9 dias) detectadas. São acompanhadas,
o problema, denunciar; deve-se,

38 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


detalhadamente, questões relati- (http://www.tcm.rj.gov.br/WEB/ empresas que pretendem participar
vas à merenda escolar, condição Site/Noticia_Detalhe.aspx?noticia=4 de licitação e esperam que o TCM
estrutural das escolas, segurança, 583&detalhada=0&downloads=24) possa fiscalizar, pois não entendem
limpeza, carência de professores com o título “Obras do Pan 2007” – como a Câmara pode contratar
etc. O TCMRJ realiza, anualmente, RIOURBE – Contrato nº 125/03, os um empresa de outro município
200 visitas, entrevistando: 2391 Relatórios das vinte e quatro (24) sem qualquer concorrência. A tal
alunos, 997 professores, e sendo Visitas Técnicas realizadas, os quais empresa não paga aos funcionários
encaminhados 2391 questionários podem ser acessados e copiados devidamente, nem mesmo os seus
aos pais (com taxa de retorno paga (download). direitos, e também não lhes dá o
pelo TCMRJ). Após as visitas, são ela- material necessário para que façam
3- Descrição Breve (Ouvidoria)
borados relatórios mensais à SME. a limpeza do local. Espera quer não
O Requerente, advogado cursan-
As unidades onde são detectados os aconteça como a empresa Locanty,
do pós-graduação em fiscalização,
problemas ficam monitoradas pelas envolvida em escândalos. Como
após ter buscado informações junto
equipes do TCMRJ até a resolução contribuinte pede providências e
ao TCMSP requereu a esta Ouvidoria
dos mesmos. O TCMRJ tem atuado aguarda que fiscalizemos.
informações quanto ao processo
em parceria com as Diretoras das
fiscalizatório das contas do TCMRJ.
escolas, esclarecendo suas dúvidas e Resposta do TCMRJ
Pergunta: 1) Qual o órgão que julga
ajudando-as a resolver os problemas (em 9 dias)
as contas do Tribunal de Contas
existentes. O Tribunal divulga os Procedemos ao exame do aponta-
do Município do Rio de Janeiro? 2)
resultados e os indicadores criados do pelo requerente e verificamos os
Quais os procedimentos para tal
pelo Programa de Visita através da seguintes dados contratuais:
julgamento? 3) Qual o prazo para
publicação dos relatórios em seu Contrato Emergencial nº
prestação de tais contas?
site. Para visualização, basta acessar 57/2012, de 180 dias, com a Gaviões
www.tcm.rj.gov.br e, na página da Cidade Prestadora de Serviços
Resposta do TCMRJ
inicial, seguir os seguintes passos: Ltda-ME, a contar de 01/12/2012.
(em 12 minutos)
atuação, Programa de Visita às Es- A Lei de Licitações, em seu Pa-
Em atenção a sua solicitação,
colas Municipais, Relatórios. Como rágrafo Único do art. 25, exige as
informamos:
forma de demonstrar a importância seguintes informações quando da
A Câmara Municipal do Rio de
do controle social, esta Corte de realização de contratações emer-
Janeiro julga as contas de gestão
Contas passou, a partir de mês de genciais:
deste Tribunal de Contas.
abril de 2010, a divulgar os resul- 1- Motivação da contratação: “em
O Tribunal prepara a Prestação
tados e os indicadores criados pelo virtude de a Concorrência 05/2012
de Contas e a envia ao Legislativo
Programa de Visita não só através da encontrar-se com as concorrentes
Municipal.
publicação dos relatórios em seu site inabilitadas, sem previsão de ser
O prazo é de 60 (sessenta) dias
mas, também através do Google Ear- finalizada”.
após o início da Sessão Legislativa
th. Para acessar estas informações, 2- Justificativa para o preço:
da Câmara Municipal.
basta acessar www.tcm.rj.gov.br e, “O valor mensal do contrato é de
na página inicial seguir os seguintes 4 - Descrição Breve (Ouvidoria) R$ 625.000,00, totalizando R$
passos: atuação, Programa de Visita A Contribuinte nos informa 3.750.000,00. Este valor é inferior ao
às Escolas Municipais, Mapeamento. que na Câmara Municipal do Rio praticado no contrato anterior (R$
de Janeiro a Empresa Gavião da 678.259,98), e, também, à estimativa
2- Descrição Original do Chama-
Cidade, que faz serviços de limpeza de preço prevista na Concorrência
do pelo Contato (Internet)
e manutenção, presta tais serviços 05/2012 (R$ 633.895,00), o que
Com base na Lei de Acesso à Infor-
sem que para isso tanha participado justifica a vantagem da contratação”.
mação, gostaria de pedir vista e cópia
de alguma licitação no Órgão. 3- Razão da escolha da contrata-
do processo 040/00002117/2004.
Assim que tomou conhecimento, da: “apresentou o menor preço na
pensou em denunciar aos órgãos pesquisa de mercado entre 03 (três)
Resposta do TCMRJ
de comunicação televisiva mas, empresas”.
(em 1 dia)
como sabia da importância do Preenchidos os quesitos legais,
Sobre o assunto tratado no pro-
TCMRJ, achou por bem denunciar- não se identificou qualquer risco.
cesso nº 40/002117/2004, qual seja
-nos. Há aproximadamente quatro Entretanto, a contratação em tela
“Acompanhamento de Obras – Es-
meses (abril de 2013) o serviço poderá ser objeto de exame formal
tádio Olímpico da Cidade do Rio de
vem sendo prestado. Soube através e operacional quando da Inspeção
Janeiro”, encontram-se disponíveis
de pessoas ligadas à Câmara que há Ordinária junto ao Órgão.
na página deste TCMRJ na Internet

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 39


Transparência nos estados
CON TROL E S OCI AL

e nos municípios
A adesão cada vez mais expressiva ao
programa Brasil Transparente e as crescentes
regulamentações regionais da Lei de Acesso à
Informação representam o início de um longo
processo de interação entre a administração
pública e a sociedade, no sentido do
fortalecimento da democracia e da melhoria
dos serviços prestados aos brasileiros

Carlos Higino Ribeiro de Alencar


Secretário-Executivo da
Controladoria-Geral da União

É
de fundamental importância para qualquer democracia a
transparência das informações públicas de forma a garantir
o direito que os cidadãos têm de acompanhar e fiscalizar as
políticas e os gastos públicos. Nesse contexto, a efetivação
plena do direito à informação nos estados e municípios
brasileiros, prestadores mais diretos de serviços à população, é essencial
à consagração da cultura de transparência no Brasil.
Tema de problematização relativamente recente, a transparência tem
como pilar o direito à informação, consagrado no art. 5º, inciso XXXIII, da
Constituição de 1988. Buscando efetivar o preceito constitucional, diver-
sos instrumentos legais foram utilizados para fomentar a transparência
das ações da administração pública.

Histórico da transparência no Brasil

C
abe destacar a Lei de real, de informações pormenorizadas Lei nº 12.527/2011, conhecida como
Responsabilidade Fiscal sobre a execução orçamentária e Lei de Acesso à Informação – LAI,
- LRF (Lei Complemen- financeira dos entes políticos. editada com o propósito de regula-
tar nº 101/2000 com Por sua vez, a Lei nº 10.683, mentar o direito constitucional dos
alterações feitas pela de 28 de maio de 2003, ao criar a cidadãos de acesso às informações
Lei Complementar nº 131/2009) que Controladoria-Geral da União – CGU, públicas dos órgãos e entidades das
instituiu nacionalmente os critérios a impulsionou de forma determinante três esferas de poder. A LAI, símbolo
serem observados pela União, Estados, as ações relativas à defesa do patri- do avanço na política brasileira
Distrito Federal e Municípios no que mônio público e ao incremento da de transparência, possibilita aos
tange ao gasto do dinheiro público. A transparência da gestão, dando-lhes cidadãos o exercício efetivo do
LRF foi de fundamental importância mais força e amplitude na adminis- controle social ao propiciar à socie-
para a transparência da gestão fiscal tração pública federal. dade amplo acesso às informações
ao exigir a disponibilização, em tempo Merece, ainda, atenção especial a públicas.

40 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Iniciativas que promovem a transparência

E
m novembro de 2004, aos estados e municípios brasileiros, Por sua vez, os dois eventos de
por iniciativa da CGU, ao Distrito Federal, a instituições grande magnitude a serem realiza-
foi criado o Portal privadas e aos cidadãos. dos no país, a Copa do Mundo de
da Transparência do Uma das questões em que con- 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016,
Governo Federal. Além seguimos avançar é a consolidação contam com portais específicos para
disso, os órgãos e entidades da e disponibilização de informações que a sociedade possa acompanhar
Administração Pública Federal públicas por meio de diversos ban- detalhadamente a aplicação de
mantêm suas próprias Páginas de cos de dados administrados pela recursos públicos.
Transparência. CGU, dentre eles pode-se citar: No âmbito internacional, alinha-
Com a criação do Portal da o CEIS – Cadastro de Empresas do a diversos países na busca da
Transparência do Governo Federal, Inidôneas que reúne informações gestão transparente, o Brasil aderiu
permitiu-se ao cidadão acompanhar de empresas e pessoas físicas que à Parceria Governo Aberto (Open
o gasto do dinheiro público e sua sofreram sanção e encontram-se Government Partnership – OGP
fiscalização a partir da implantação impossibilitadas de participar de do inglês) que objetiva difundir e
de diversas ferramentas que impul- licitações ou de celebrar contratos incentivar globalmente práticas
sionaram a transparência da gestão com a Administração Pública; o governamentais relacionadas à
pública. Cadastro de Entidades Privadas Sem transparência dos governos, ao
Destaca-se a disponibilização de Fins Lucrativos Impedidas – CEPIM acesso à informação pública e à
informações relativas ao âmbito de que consolida e divulga a relação participação social.
atuação do Poder Executivo Federal, das entidades privadas sem fins Em meio aos compromissos
como a divulgação, através de con- lucrativos que estão impedidas de firmados pelo governo brasileiro na
sultas, do cargo, função, situação fun- celebrar convênios, contratos de Parceria Governo Aberto, ressalta-
cional e remuneração dos servidores repasse ou termos de parceria com -se a disponibilização na internet
ativos civis e militares, bem como dos a administração pública federal; e dos dados do SICONV - Sistema de
agentes públicos. Além da publicação o CEAF - Cadastro de Expulsões da Gestão de Convênios e Contratos
das diárias pagas e valores usados por Administração Federal que dispo- de Repasse criado pelo Decreto nº
meio do uso de cartões de pagamento. nibiliza as penalidades expulsivas 6.170/2007 para efetuar o registro
E, dentre demais consultas, o acom- aplicadas, a partir de 2005, no âm- de todos os convênios firmados pelo
panhamento dos recursos públicos bito do Poder Executivo Federal, a poder executivo da Administração
transferidos pela União ao exterior, servidores civis, efetivos ou não. Pública Federal.

Implementação da Lei de Acesso à Informação nos Estados e Municípios

A
implementação da LAI za a necessidade de iniciativa do sociedade e desde que não sejam
no território nacional órgão público de dar divulgação a resguardadas por sigilo.
tem recebido o apoio informações de interesse geral ou A fim de garanti-lo, a LAI deter-
do programa “Brasil coletivo, ainda que não tenham sido minou que deve haver o estabeleci-
Transparente”, lançado expressamente solicitadas. mento de um Serviço de Informações
pela CGU em 2013. O programa Para efetivação desse princípio ao Cidadão (SIC) físico e outro
auxilia estados e municípios na é obrigatória a divulgação das in- eletrônico. Os SIC’s físicos devem
efetivação das medidas de governo formações em sites oficiais da rede orientar e atender pessoalmente o
transparente previstas na Lei de mundial de computadores (Internet) público, informar sobre a tramitação
Acesso à Informação. O objetivo que tenham sido especialmente de documentos e protocolizar reque-
é somar esforços no avanço da criados com essa finalidade ou no rimentos de informações, enquanto
transparência pública e na adoção Portal da Transparência do estado que os eletrônicos funcionam como
de medidas de governo aberto. ou do município. “balcão de atendimento virtual”,
Os estados e municípios, em con- Outro princípio importante, o além de gerenciar os pedidos reali-
sonância com as medidas adotadas princípio da transparência passiva, zados e auxiliar o trabalho de gestão
em âmbito federal, ao atenderem refere-se ao fato de que todo órgão da informação.
às exigências da LAI devem ter ou ente deve prestar informações A CGU atua no processo de implan-
como pressuposto o princípio da que sejam de interesse geral ou tação da LAI nos estados e municípios
transparência ativa que preconi- coletivo quando demandados pela como agente catalisador promovendo

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 41


campanhas de fomento à cultura da material técnico e disponibilização figuras abaixo, até o mês de setem-
CON TROL E S OCI AL

transparência e de conscientização do código fonte do e-SIC (Serviço de bro do corrente ano, a LAI já foi
do direito fundamental de acesso à Informação ao Cidadão do Governo regulamentada em 16 estados e 14
informação. Também atua na capaci- Federal) disponíveis no site www. capitais. E, dentre os Municípios
tação de agentes públicos no que se cgu.gov.br/brasiltransparente, como com mais de 100 mil habitantes, 42
refere ao desenvolvimento de práticas também treinamentos ministrados já o fizeram, sendo que no estado
de transparência na administração pessoalmente ou à distância em de São Paulo se encontra a maior
pública. Nesse sentido, várias medidas http://escolavirtual.cgu.gov.br/ead/. incidência desses municípios em
foram adotadas, desde a produção de Conforme percebe-se pelas um total de 13.

“O levantamento considera apenas normativos locais em plena vigência,


que tenham por objetivo expressoa regulamentação da Lei de Acesso à
informação, de acordo com o art. 45 da Lei 12.527/11. Não espelham,
por exemplo, projetos de Lei que estejam em tramitação das respectivas
Dados de setembro de 2013
assmbleias estaduais ou câmaras municipais.

Dados de: 02/09/2013

42 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Em relação ao programa Brasil
Transparente, já foram assinados
973 termos de adesão. Dos 918
14 municípios participantes, a grande
12
maioria, 790 no total, tem menos
de 50.000 habitantes. Dentre os 128
10 municípios restantes, apenas 59
8
contam com mais de 50.000 e menos
de 100.000 habitantes e os outros
6 69 com mais de 100.000 habitantes,
4
conforme gráfico abaixo.
Ao analisar-se o levantamento
2
feito por regiões, a que mais aderiu
0
ao programa Brasil Transparente foi
AC AM BA DF ES MG MG MS PA PE RJ RN RS SC SP TC
a região Nordeste seguida pela Sul.
Dados de: 02/09/2013
Os bons resultados obtidos até
o momento refletem o empenho
demonstrado pelos estados e muni-
cípios em atenderem às exigências
da LAI e representam o inicio de um
longo processo de interação entre a
Administração Pública e a sociedade
na adoção e verificação de meios que
proporcionem o aperfeiçoamento da
120
transparência e sejam capazes de
fortalecer a democracia e melhorar
100
a qualidade dos serviços públicos.
80
É importante frisar que o alcance
60 desses objetivos não se dará apenas
40 com a disponibilização do acesso às
informações pelo Estado, mas princi-
20
palmente com a participação ativa e
0
AC AL AM AP BA BR CE DF ES GO MA MGMS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO direta dos cidadãos no desempenho
Dados de: 02/09/2013
do controle social.

Fontes:

Congresso de Controle Interno e Externo,


VII, 2013, Belém. Transparência em
estados e municípios.
http://www.planalto.gov.br/
http://www.cgu.gov.br/
http://www.portaltransparencia.gov.br/
http://www3.transparencia.gov.br/
TransparenciaPublica/
https://escolavirtual.cgu.gov.br/
http://dados.gov.br/dataset/siconv/
http://www.acessoainformacao.gov.
br/acessoainformacaogov/acesso-
-informacao-brasil/
www.cgu.gov.br/brasiltransparente

Dados de: 02/09/2013

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 43


m ação

Bira, Marcelo,
Giovana, Breno,
em
TCMR J e

Milton, João
Nilton e tantos
outros: resultados
em destaque.

44
44 Verão
Verão de
de 2014
2014 -- N.
N. 56
56 Revista
Revista TCMRJ
TCMRJ
Tribunal começa a
colher bons frutos do seu
planejamento estratégico
Em consonância com a
dimensão das responsabilidades
presentes e futuras, o Tribunal
de Contas do Município
do Rio de Janeiro segue se
modernizando e investindo
com o objetivo de cumprir sua
missão constitucional e realizar
seu trabalho, atendendo às
expectativas da sociedade
carioca.

Carlos Augusto Werneck de Carvalho


Coordenador do Planejamento Estratégico do TCMRJ

C
om as parcerias do do Município do Rio de Janeiro do TCMRJ como órgão de controle.
Tribunal de Contas (TCMRJ), fundamental para o Após esta etapa, foram definidos
da União (TCU) e do desdobramento das discussões em os objetivos estratégicos do TCMRJ,
Tribunal de Contas do reuniões sistematizadas, culmi- cabendo à Presidência definir os
Rio Grande do Norte nando com um workshop, visando prioritários. Com a finalidade de
(TCERN), em 2010 demos início a a construção do mapa estratégico. atendê-los, foi realizada licitação de
um processo de discussão interno Elaborado o plano estratégi- técnica e preço para a contratação de
voltado para a elaboração do Pla- co, foi feita sua apresentação aos consultoria visando a modernizar os
nejamento Estratégico do Tribunal conselheiros e representantes de processos de trabalho, redesenhar a
de Contas do Município do Rio de todos os setores, culminando com estrutura organizacional e adequar
Janeiro (TCMRJ). A metodologia a aprovação da Deliberação nº 177, a política de gestão de pessoas, do
empregada propiciou a partici- de 22 de março de 2010, na pers- Tribunal de Contas do Município do
pação de todos os funcionários, pectiva de estabelecer, no âmbito do Rio de Janeiro, de forma alinhada
desde as respostas individuais Tribunal de Contas do Município do com a missão, visão e os objetivos
aos questionários, assim como a Rio de Janeiro, as melhores práticas estratégicos institucionais.
consolidação das mesmas por setor de administração e gestão. Para O TCMRJ obteve como resultado
e a escolha dos representantes tanto, foi constituído um grupo deste investimento a aquisição de
destas unidades. Desta forma, foi responsável pela descrição dos 25 produtos desenvolvidos em 9
feito um diagnóstico do ambiente objetivos e respectivos indicadores, fases de trabalho, conforme descrito
interno do Tribunal de Contas visando a aperfeiçoar o desempenho a seguir:

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 45


A seguir listamos as ações realizadas a
e m ação

partir de então:
i. Aprimorar Processos de Trabalho
TCMR J em

• Mapeamento dos processos de trabalho –


“como é” e “como deveria ser”;
• Início dos estudos para implantar o processo
eletrônico e elaboração de Termo de Referên-
cia para consulta pública no site do TCMRJ até
o final de setembro de 2013;
• Aprovação da Deliberação nº 186/2012 que
define prazos para prorrogação de processos
em diligência.

Na Secretaria Geral de Controle Externo:


1. A primoramento do Sistema de Análise e
Controle de envio de Editais de Concursos:
a. O controle de envio de Editais nos prazos
regimentais passou a ser realizado de forma
automática;
b. A análise passou a ser realizada por meio de
checklist, e os relatórios utilizam o conceito de
“parágrafo padrão”, padronizando e otimizan-
do o trabalho dos servidores;
2. A primoramento do Sistema de Análise e
Controle de Admissão de Pessoal:
a. Análise realizada por meio de checklist, e os
relatórios utilizam o conceito de “parágrafo
padrão”, padronizando e otimizando o trabalho
dos servidores;
b. Análise passou a ser realizada no mês de
ingresso do servidor no Sistema de Folha de
Pagamento;
3. Desenvolvimento de ferramenta para controle
de envio, nos prazos regimentais, de Processos
de Aposentadoria;
4. Acesso a sistemas e dados gerenciais dos
seguintes Bancos de Dados:
a. Sistema ERGON (integral);
b. Sistema ERGON COMLURB (integral);
c. Sistema RHUPAG (cópia);
d. Sistema de Folha de Pagamento da CDURP
(cópia);
e. RAIS (cópia);
f. SISOB (cópia);
g. Isenções de IPTU (cópia);
h. Painel de Contratos de Gestão com Organiza-
ções Sociais (parcial);
5. Acesso remoto aos sistemas SAGOF e SCP para
técnicos do Tribunal em trabalho de campo;
6. Compartilhamento das Instruções no SCP
entre as Inspetorias de Controle Externo e a
Coordenadoria de Auditoria e Desenvolvimento,
na fase de análise;

46 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


7. I mplantação do software livre a consulta a informações de para implantação de um Siste-
Redmine para acompanhamento trabalho; ma de Gestão Administrativa e
das ações do Plano Estratégico; • Maior celeridade no pagamento Financeira em atendimento às
8. Definição dos critérios do checklist dos fornecedores com a delegação Normas Brasileiras de Contabili-
para processamento automático de autorização de pagamento ao dade Aplicada ao Setor Público(em
dos termos de análise comuns ao secretário-geral de Administração; andamento).
controle externo; • Maior celeridade no fechamento
9. Realização de estudo de viabili- anual com a delegação específica Serviços de Apoio Administrativo
dade para implantar sistema de para anulações de despesas ao Alinhada com a Deliberação nº
controle de auditoria; secretário-geral de Administração; 177, de 22 de março de 2010, que
• Melhora no trâmite dos processos aprovou o Plano Estratégico do
Na Secretaria Geral de Adminis- de pagamento de diárias; Tribunal de Contas do Município
tração: • Alteração na tramitação dos pro- do Rio de Janeiro para o período
cessos de liquidação de material 2010-2014, o Departamento-Geral
Área Financeira permanente, diminuindo o tempo de Serviços Gerais e Apoio – DGF,
Alinhada com a Deliberação nº para o efetivo pagamento; alcançou resultados essenciais no
177, de 22 de março de 2010, que • Disponibilização de cópias dos âmbito dos seus processos internos.
aprovou o Plano Estratégico do contratos nos processos de paga- Os principais resultados são:
Tribunal de Contas do Município mento, permitindo a conferência • Implantação da Requisição
do Rio de Janeiro para o período de forma mais eficaz. Eletrônica de Material Junto ao
2010-2014, o Departamento Geral • Melhoria dos processos de traba- Almoxarifado através da Intranet;
de Finanças – DGF, alcançou resul- lho, por meio do redesenho dos • Implantação da solicitação para
tados essenciais no âmbito dos seus seus trâmites, gerando economia serviços diversos de: (limpeza,
Processos Internos. Os principais processual ao dar maior celerida- hidráulica, eletricidade, etc) de
resultados são: de às rotinas de autuação, análise, forma Eletrônica através da In-
• Criação de ferramenta para per- tramitação e arquivamento no âm- tranet;
mitir copiar NADs e Notas de bito da Departamento Financeiro; • Maior celeridade no atendimento
Empenhos anteriores, evitando • Interligação do Sistema de Ges- as chamadas feitas através da
retrabalho; tão Administrativa de Recursos Intranet;
• Criação de ferramenta permitindo Humanos (SIGA-RH) com o Sis- • Otimização da entrega dos ma-
a importação de dados do objeto tema Financeiro-Orçamentário, teriais nos setores requisitantes,
de compra do SisDMA; consolidando as informações, gerando um ganho de horas/ho-
• Autuação dos processos feita com tornando ágil e segura a execução mem para os setores solicitantes;
dados importados do SCP; do orçamento. • Redução no número de itens do
• Criação da ferramenta para gerar • Aprimoramento do Sistema de estoque em razão da extinção dos
o gabarito da publicação no D. O. ; Execução Orçamentária – SEOR, itens usados para manutenção,
• Criação da ferramenta de extrato dando agilidade e confiabilidade ganho de espaço físico;
da despesa; na emissão dos relatórios Or- • Implantação de melhorias no
• Criação de ferramenta para verifi- çamentários e Financeiros, tais sistema para compras – SISDMA;
car status de pagamento da Nota como: Relatório Anual da Contas • Diminuição do tempo de cotação;
de Empenho; de Gestão, Relatório de Gestão • Padronização das especificações
• Realização de melhorias no sis- Fiscal, Quadro Demonstrativo da das compras e serviços, e con-
tema para confecção da Nota de Execução da Despesa; sequentemente nas aquisições e
Empenho; • Aprimoramento do Sistema de contratações;
• Aprimoramento do relatório das Execução Orçamentária – SEOR, • Execução das Obras e Serviços de
NAD’s com saldo, permitindo dando agilidade e confiabilidade reforma geral das varandas do 11º
maior controle sobre a despesa a nos pagamentos dos tributos ao 13º andares;
ser empenhada; devidos por este Tribunal, tais • Execução das Obras e Serviços de
• Autorização de acesso ao SEOR como: ISS, IR e INSS; reforma geral das varandas do 3º
para outros setores, facilitando • Instalação da Comissão Especial ao 6º e 8º andar.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 47


e m ação

II. Incentivo ao Controle Social


Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, • Implantação da Lei de Acesso à
TCMR J em

• Criação do Grupo de Trabalho Secretaria de Educação do Estado Informação no âmbito do Tribunal


do Controle Social no âmbito do do Rio de Janeiro, Secretaria de (Serviço de Informação ao Cidadão
TCMRJ– Resolução 701, de 27 de Fazenda do Estado do Rio de – SIC, em funcionamento desde
junho de 2011. Janeiro, Procuradoria Regional 16/05/2012).
• Firmação de convênio com a da Fazenda no Estado do Rio • Realização de capacitação dos
Controladoria Geral da União, de Janeiro e Controladoria do Conselhos de Políticas Públicas no
Tribunal de Contas da União, Município do Rio de Janeiro para Tribunal.
Tribunal de Contas do Estado do realização de eventos de fomento • Disponibilização de informações
Rio de Janeiro, Secretaria da Re- do controle social (Encontros de georreferenciadas para controle
ceita Federal, Ministério Público Conselhos de Políticas Públicas da sociedade nas áreas de saúde,
Federal, Ministério Público do e I Consocial) educação e obras.

III. Promover Políticas de Remuneração e de Valorização da Carreira e do Servidor

Aprovação da Lei nº 5.187, de 10 de junho de 2010, que dispõe sobre a criação de cargos da categoria funcional
de técnico de controle externo, engenheiro e analista de informação, na estrutura do Tribunal de Contas do Município
do Rio de Janeiro, e dá outras providências.

IV. Modernizar as Políticas de Gestão de Pessoas


• Proposta de Acordo de Resultados; – concluído – necessita revisão); Quadro de Servidores do Tribunal
• Mapeamento de processos de recur- • Avaliação de Desempenho por Com- de Contas do Município do Rio
sos humanos (como era / deveria); petências – com foco em capacitação de Janeiro (Lei nº 5.544 de 20 de
• Mapeamento e revisão dos pro- (em fase de desenvolvimento); dezembro de 2012);
cessos de concurso, admissão e • Programa de Desenvolvimento • Implantação do Auxílio-Creche no
integração (implantado); (criado – em fase de desenvolvi- âmbito do Tribunal de Contas do
• Processo avaliação de estágio mento); Município do Rio de Janeiro (Deli-
probatório (revisado - em fase de • Normatização da Política de Gestão beração nº 185, de 11 de outubro
desenvolvimento); de Pessoas no Tribunal de Contas do de 2011);
• Processo memorando de férias Município do Rio de Janeiro, através • Implantação do Auxílio-Educação
(revisado - dependendo do processo da Deliberação Nº 188, de 29 de no âmbito do Tribunal de Contas
eletrônico); janeiro de 2013. do Município do Rio de Janeiro
• Processo de licença especial (revi- • Realização do Curso de Especialização (Deliberação nº 190, de 29 de abril
sado - com implantação de novas MPA em Controladoria Pública, junto de 2013);
rotinas); à Universidade do Estado do Rio de • Processo frequência e ponto (revi-
• Processo qualidade de vida (previs- Janeiro, para 30 servidores, nas de- sado sem previsão de implantação);
to – em fase de desenvolvimento); pendências do TCMRJ; • Política de Sucessão / Gestão do
• Processo de aposentadoria (revisto • Cursos e treinamentos diversos; Conhecimento (em fase de desen-
– implantado); • Política de Comunicação (em fase de volvimento);
• Processo de benefícios (revisa- desenvolvimento); • Memória Institucional (em fase de
do – novas rotinas implantadas e • Desenvolvimento e Implantação da desenvolvimento);
concessões automáticas); Pesquisa de Clima Organizacional • Avaliação de Desempenho com Foco
• Processos cartoriais (novos fluxos (concluído); em Produtividade (dependendo de
e rotinas implantados); • Manual do Servidor do TCMRJ (em aprovação do acordo de resultados);
• Mapeamento de competências fase desenvolvimento); • Novas funcionalidades no SIGA-
(essenciais, gerenciais, comporta- • Transformação dos cargos de pro- -RH (requerimentos, relatórios
mentais, técnicas gerais e específicas vimento efetivo da estrutura do gerenciais, controles de benefícios).

V. Dotar o TCMRJ de Estrutura e Logística Necessárias ao Cumprimento de sua Missão


• Conclusão da proposta de nova estrutura organizacional;
• Modernização do parque computacional;
• Adequação das instalações físicas.

48 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Novos sotaques, outras
culturas: a globalização do
controle externo do TCMRJ

R
eceber pessoas de outros atraídos por melhores condições de “Considerando a sociedade
lugares do Brasil e do trabalho oferecidas pelo órgão. brasileira como um elemento con-
mundo tem sido a vo- Para os inspetores-gerais da 2ª e 4ª solidado de formação multiétnica
cação do Rio de Janeiro IGE’s, os concursados de outros estados e policultural, observa-se que a
desde sempre. Da mes- têm exercido suas atividades de forma Cidade do Rio de janeiro é um
ma forma, o TCMRJ tem passado pelo correta e bem planejada, com extrema hub onde, à semelhança de outras
mesmo processo, acolhendo em seus dedicação ao trabalho: “O fato dos metrópoles globalizadas, há o en-
quadros cada vez mais pessoas nasci- funcionários serem oriundos de outros contro da diversidade. Assim, neste
das em outros estados, principalmente estados não influencia culturalmente no cenário holístico, a contribuição
a partir de 2011, através dos últimos exercício de suas funções. Constatamos, dos servidores de outros estados
concursos públicos para os cargos de porém, que as características pessoais e é marginal, mas perceptível face à
auditores. Baseado em números do de formação se constituem efetivamente capacidade de aceitação do carioca.
Departamento Geral de Pessoal, o Tri- como definidoras do modo como se Em particular, no nosso cotidiano
bunal tem, hoje, entre seus servidores comportam no desenvolvimento de profissional, a dedicação do mineiro
cerca de 52 “estrangeiros”. Uma breve seus trabalhos : uns mais metódicos e e o profissionalismo do paranaense
olhada nos registros de pessoal mos- organizados , outros mais objetivos , o são notados como elementos que
tra que pessoas nascidas nos estados que na área de engenharia agrega um permitem melhorar a qualidade
de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande diferencial em termos de produtivida- do corpo instrutivo”, declarou
do Norte, São Paulo, Pernambuco, de”, disse a Inspetora-Geral Simone de Ricardo Levorato, responsável pela
Amazonas e até um uruguaio foram Souza Azevedo. 4ª Inspetoria de Controle Externo.

Um breve perfil dos funcionários imigrantes:

Breno Marcos dos Santos, MG:


“Sou formado em Farmácia e Bioquímica pela Univer-
sidade Federal de Ouro Preto-MG.
Sou natural de Araxá-MG, mas tive a oportunidade de
morar em várias cidades mineiras. Além de Minas, também
morei em Porto Seguro - BA, Vitória-ES e Porto Alegre-RS.
Conheci o Rio de Janeiro em janeiro de 2003 e gostei
muito. Depois desta data, sempre tive vontade de morar
aqui, por ser uma cidade multicultural e com bastantes
opções de lazer. Além disso, gosto muito do povo carioca,
são pessoas muito alegres e receptivas. Para mim, o impacto
profissional foi sensacional. Depois de um bom tempo de
estudos, consegui ser aprovado num cargo com atribuições
muito gratificantes. Quanto ao lado pessoal, não tive
grandes impactos, exceto nos primeiros 8 meses, período
em que minha esposa ainda se encontrava em Porto Alegre.
Hoje, com quase um ano e meio de Rio de Janeiro, estou
aprendendo aos poucos a ser carioca, sem deixar de lado
as raízes mineiras!”

Verão deTCMRJ
Revista 2014 - N. Revista
56 de
Verão 2014 - TCMRJ
N. 56 49
49
Giovana Espolador Chaves, SP:
TCMR J em ação

“Me graduei em Engenharia Civil na USP, mas minha família é


do interior de São Paulo.
Via a cidade como sinônimo de grandes diferenças sociais em que
os ricos convivem de perto com os pobres. Imaginava que para os mais
afortunados a cidade garantisse excelente qualidade de vida. Quando
me mudei para cá, foram muitos os impactos: no âmbito pessoal, em
função da distância, e, no âmbito profissional, mas posso dizer que me
sinto realizada por ter conquistado o cargo que almejava. Quanto ao
aspecto da qualidade de vida, não imaginava que seria tão difícil resolver
a questão da moradia. A especulação imobiliária é impressionante.
Em função dos eventos (Copa do Mundo e Olimpíadas), os preços dos
imóveis triplicaram desde 2008, inviabilizando a sua compra. Em meu
caso especifico, mesmo já possuindo um pequeno apartamento em
São Paulo e uma poupança razoável, não tenho coragem de adquirir
nenhum imóvel aqui. O que mais me impressiona é o fato de, apesar de
ter vindo para o Rio de Janeiro para ganhar um ótimo salário (considero
que poucos trabalhadores possuem a renda do nível de um auditor
do TCMRJ), não consigo adquirir um imóvel na Zona Sul sem ter que
financiar um grande montante e pagar muitos juros. Nesse ponto,
acho que os eventos citados foram muito negativos para quem mora
na cidade.”

Marcelo Fernandes, RS:


“Imagino que todo cidadão do
mundo que já tenha ouvido falar da
‘Cidade Maravilhosa’ tenha a imagem
das lindas praias e da exuberante
paisagem de suas florestas e morros.
Quando realizei as provas de concur-
sos públicos nos anos de 2010 e 2011,
tive a oportunidade de conhecê-la
pessoalmente, dando-me ao luxo de
passear pela cidade. Naquelas opor-
tunidades, visitando algumas atrações
de suas atrações, pude comprovar a
beleza e a pujança de um lugar que setoriais tem sido preponderante público como pelo privado que possui
sempre foi o símbolo da beleza e da para o meu ganho de confiança na preços bastante acessíveis. Lá no Sul as
alegria do Brasil e dos brasileiros e que realização da análise e, para o início do opções são bem mais restritas, tanto
tem os olhos do mundo voltados para ano que vem, estão sendo esperadas em relação ao quantitativo de vagas
si. Tudo aqui é no superlativo, tudo há as primeiras visitas técnicas em que oferecidas quanto ao preço que são
em abundância, os espaços públicos, poderei visualizar na prática o pro- bem superiores .Como a família deve
os monumentos históricos e arquite- duto de nosso trabalho. Nas relações vir só no final do ano, tenho aproveita-
tônicos, as opções gastronômicas, os humanas tenho sido agraciado pela do para visitar os museus e os centros
eventos culturais etc. Sempre soube grande hospitalidade do carioca, que culturais que aqui são muitos. Tenho
que encontraria um lugar único, mas são pessoas extremamente amigáveis andado bastante de ônibus para me
o Rio superou minhas expectativas. e receptivas. Tenho feito muito bons familiarizar com as denominações e
No meu atual cargo, comecei pri- amigos a começar pelos colegas de com as características de cada bairro
meiramente tomando contato com a trabalho. Profissionalmente, está e o que tem me chamado a atenção
linguagem e com as formalidades dos sendo positivamente desafiador o é o ritmo acelerado da cidade. Tanto
processos e, atualmente, realizando que, inclusive, me fez procurar uma em nível de mobilidade, com o seu
a análise e a instrução de processos escola que oferecesse o curso de trânsito carregado, porém bastante
mais simplificados dos contratos Engenharia Civil para melhor servir ao ágil, quanto a capacidade de trabalho
administrativos firmados pelas ju- setor e, para minha surpresa, a cidade do carioca que me faz lembrar a
risdicionadas. A sempre pronta su- é extremamente rica em oferta de cidade de São Paulo a qual tenho mais
pervisão e orientação dos inspetores cursos superiores, tanto pelo acesso familiaridade”.

50 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


POR DENTRO DO TCMRJ

Protocolo:
o coração do TCMRJ

A
rotina da Divisão de Co- ao público. O protocolo é a porta de do Município. É comum, também,
municação – Protocolo entrada do Tribunal. Todo e qualquer a funcionária atender a servidores
do Tribunal de Contas expediente, obrigatoriamente, entra aposentados ou familiares, que
do Município do Rio de e sai por aqui, nasce e morre; por procuram o Tribunal para saber
Janeiro começa bem isto afirmamos: é o coração do TCM”. do andamento de seus respectivos
cedo, às 7h da manhã. “Irene e Beth Embora todos sejam competen- processos, e, ainda, particulares para
são as primeiras a chegar, logo tes para processar as atribuições fazer consultas.
seguidas pelos demais”, informou do setor, Milton esclareceu que, a Milton explicou que diversos
Milton Rodrigues de Oliveira, diretor princípio, as atividades estão espe- documentos avulsos entregues no
da Divisão desde junho de 2013. “A cificamente distribuídas. “Andréia da balcão do TCMRJ são encaminhados,
bem da verdade - continua Milton -, Conceição é a funcionária mais apta imediatamente, ao gabinete da presi-
o protocolo funciona de 8h às 18h, a atender o balcão. Diariamente, An- dência para análise e determinação
sendo que, de 8h às 9h, internamen- dréia recebe, em média,100 proces- do procedimento a ser tomado.
te, e de 9h às 18h, em atendimento sos originados em diferentes áreas “Dependendo do assunto - por exem

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 51


TCMR J em ação

plo, balancetes, convênios, edi- a custódia dos microfilmes (original problema pessoal de lado, receber
tais de concorrência, termos aditivos e cópia) dos processos julgados pelo a força do outro, descontrair, e
e outros -, a ordem é transformá-los arquivamento. O material é guardado resolver pendências de trabalho com
em processos, para que possam acondicionado em local apropriado, o colega. Sinto que, nesses últimos
tramitar normalmente no TCM. e os processos, incinerados, mas não meses, o ambiente mudou, o grupo
Vítor, Miguel, Alexandre, Manuel, antes de uma comissão formada por ficou mais estimulado e homogêneo,
Roberto e eu somos os responsáveis funcionários de diferentes setores influenciando positivamente no
por este serviço – formação de do TCM analisar a qualidade da rendimento do serviço”.
processos e cadastro – que consiste imagem dos microfilmes. A DCO
em reunir dados do documento operacionaliza, ainda, contrato com
indispensáveis e relevantes, que a Empresa Brasileira de Correios e
irão fundamentar e constar da Telégrafos”.
Funcionários lotados na DCO
capa do processo formado por Integram também a Divisão de
nós. As demandas internas, como Comunicação o chefe de serviço Milton Rodrigues de Oliveira
aposentadorias (do Departamento Sebastião Vitor que faz a triagem Sebastião Vitor Meira Lima
Geral de Pessoal), visitas técnicas e para formação de processo, sempre (chefe de serviço)
inspeções ordinárias (das Inspeto- assistido por sua auxiliar, Marília; Alexandre Kuebler
rias), também originam processos. Cátia e Beth, no recebimento e Alessandro Arbex Risarde
O funcionário Jorge responde pela distribuição dos processos internos; Andréa da Conçeição
impressão do número do processo, Alessandro, na expedição de docu- Cátia Aparecida da Costa Sousa
dia e hora, em cada folha constante mentos; Guilherme Santa Rita, no Elisabeth Pereira de Oliveira
deste processo, por meio de um arquivamento; e Irlene, na localiza- Guilherme Santa Rita da Gama Leite
relógio específico. Já os processos ção e apensação dos processos. Para Irlene Brito de Freitas
administrativos, como os de pensão, distribuir todo o expediente pelas João Nilton Camarco Flores da Silva
aposentadoria, prestação de contas e seções correspondentes do TCM, a Jorge Estácio de Souza
demais, oriundos de outros órgãos, Divisão conta com João Nilton, que Manoel Caldeira de Alvarenga Ferreira
são cadastrados por Solange, mas participa ainda da expedição do Marilia da Fonseca
não recebem numeração do TCM. O material que será entregue pelos Miguel Germigos da Franca
cadastramento é feito virtualmente Correios. Roberto Andrade Lucas Henriques
através do Sistema de Controle Para Milton, a equipe da DCO Solange Elvira Maria dos Santos Vitor
de Processos, desenvolvido pela está “apta a fazer qualquer trabalho
assessoria de informática”. e, sempre de boa-vontade, pronta Motomensageiros
Segundo Milton, a DCO operacio- a ajudar”. “Todos aqui ‘vestem a
Antônio Jerônimo da Silva Neto
naliza contratos com firmas pres- camisa’ do Tribunal”.
Orlando Rodrigues de Souza
tadoras de serviços terceirizados.
Rafael de Araújo Carvalho
“São três as empresas de que somos Café da manhã coletivo
gestores: a JC Empreendimentos
Funcionários da Empresa MGI
Ltda., responsável pelos três moto- Mesmo consciente das inúmeras
mensageiros que fazem qualquer atribuições do setor, Milton instituiu Adelina Conceição dos Santos
serviço de rua; a Micrográfica no o café da manhã coletivo. Todo dia, Fabiana Silva de Oliveira
Gerenciamento da Informação – ás 9h, a equipe se reúne para comer Jorge Robson Adão
MGI, que nos disponibiliza seis e beber “coisas gostosas” que cada Lidiane Cristina Diniz de Carvalho
funcionários para trabalharem um traz. Mas o verdadeiro objetivo Rejane da Silva
na digitalização e microfilmagem é entrosar o grupo, conversar, fazer Silvio Azevedo de Barcelos
dos processos que tramitaram ou com que os companheiros de sala se
ainda tramitam no TCMRJ; e a Delft conheçam melhor. “Acredito que seja
Soluções Corporativas, que mantém um momento de reflexão: deixar o

52 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


prata da casa

Ubiracy Rufino Rezende

“ A Maratona é como
a vida, não dá para
assegurar o resultado.
É preciso, simplesmente,
viver cada passada


A
os 54 anos de idade, há
27 no TCMRJ, o funcio-
nário do Departamento
Geral de Finanças, Ubi-
racy Rufino Rezende, se
recupera de uma fascite plantar e se
prepara para participar de mais uma
Corrida de São Sebastião, em janeiro
próximo. Ubiracy, que já correu as
duas maratonas do Rio de Janeiro,
em 1984 e 1986, e a de São Paulo,
em 1985, ficou afastado do esporte
por 20 anos em função, inicialmente,
de uma série de lesões nos joelhos
e de cálculos renais. Bira – como é lidar com o tempo que não se teve boné. Lembrei que há mais de duas
conhecido – explica como renasceu por tanto tempo? Foi aí que resolvi décadas eu também corria e senti
sua vontade de correr. voltar a pintar. Com lona e madeira uma pontinha de inveja. Naquela
– Ninguém sai incólume de uma montei algumas telas grandes e mesma semana, saí para correr.
relação de 18 anos, e comigo não fiz da mente um funil para sorver Foi, de fato, a Corrida que fez tudo
seria diferente: Era 2007 quando eu ideias. Ideias que, tal qual o tempo, mudar no corpo, na mente, na alma
deixei o voluntariado para lidar com se esparramam no espaço a espera e em todo entorno que se expande
o tempo. E foi fora do meu trabalho, de um tradutor. Traduzi estas ideias ao infinito. Novos amigos, novos
no TCMRJ, que este tempo se espar- combinando risco e cor. lugares e novas atitudes. Na época,
ramou por todos os lugares: pela rua, Bira conta que, certo dia, saiu já com 48 anos de idade, me inscrevi
praia, cinema, barzinho, praça, sofá... para comprar tintas e deparou com em todas as corridas de 10 km, pelo
Em todo o canto vazio, mas cheio de dois corredores à beira da estrada. Brasil afora, para me reacostumar.
tempo que nada preenche. Como “Um deles abrigava seus setenta e No ano seguinte, competi a Meia
tantos anos embaixo de um suado Maratona (21 km) Internacional,

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 53


e m ação
TCMR J em

aqui no Rio, e a Volta da Pampulha, naquele trajeto - ou no sentir o vento, cerca de 80 participantes, vindos
em Belo Horizonte. Aos 50 anos, já ou no pisar no asfalto, ou no ouvir o de diferentes estados, e corremos,
readaptado aos grandes percursos, barulho do mar, ou...”. cada um no seu ritmo, desde a Rua
voltei a correr Maratonas. Participei, Com o passar do tempo, Bira Alice, em Laranjeiras, até o alto do
então, da de Porto Alegre, em 2010, começou a perceber que sentia mais Sumaré, percorrendo aproximados
duas de Buenos Aires, em 2010 e prazer nos treinos e nas corridas 15 km. Há quatro meses atrás, em
2012, e duas do Rio de Janeiro, em em grupo do que nas competições agosto, o encontro foi em Goiânia. Já
2011 e 2012. Nós, maratonistas, propriamente ditas. “Hoje, o meu recebi convite para ir a Mossoró, no
somos privilegiados pois colhemos objetivo primeiro é fazer amizades, Ceará, e a Campo Grande, no Mato
ao longo de 42km de estrada os interagir, conhecer pessoas. Atual- Grosso do Sul, mas, por motivos de
frutos do que plantamos no asfalto mente, participo apenas das princi- trabalho, ainda não combinamos
e que regamos com o próprio suor, pais corridas do calendário. Priorizo quando serão estes treinos. Eu viajo
dia a dia, treino a treino. Ao fim da um bom treino com amigos, e foi para fazer amigos, conhecer lugares
maratona, passadas 2h50min, ou com este pensamento que lancei o e ouvir histórias que têm sido con-
3h25min, ou 4h20min, não importa projeto ‘Um Longão em Cada Estado’. tadas no blog BiraNaNet.com, que
o tempo de cada um, cruzamos a Por intermédio do Facebook, a ideia criei recentemente. A três anos e
linha de chegada para descobrir que é reunir corredores de todo Brasil meio da aposentadoria, eu pareço ter
a felicidade sempre esteve ao nosso para um ‘longo treino’, e já começou descoberto a minha maneira de lidar
lado, pelo caminho. Ela esteve no a funcionar. O primeiro encontro com o tempo esparramado: escrever,
olhar de um amigo - feito ali mesmo foi em maio último onde juntamos correr e pintar”.

54 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


R I O DE JAN E I RO
“Cada novo cidadão mecânico exige, para
começo de conversa, 30 metros quadrados de
pista de rolamento e área de estacionamento. Se
não houver este adicional, degrada a qualidade
do trânsito”
Carlos Lessa, página 58

“Somente cinco minutos foram suficientes para,


na chuvosa manhã de 24 de novembro, cerca
de 1/4 do Elevado da Perimetral vir abaixo e
encerrar definitivamente um capítulo na história
do trânsito do Rio de Janeiro”
Página 60

“O que torna Vinícius um grande poeta é sua


aguda percepção do lado obscuro do homem.
E a coragem para enfrentá-lo”
Helena Severo, Página 63

“José de Alencar não foi o único escritor a se


inspirar nos cenários da Glória para compor suas
narrativas. Machado de Assis (...) ambientou sua
obra mais notória, Dom Casmurro, nas ruas do
bairro, onde residiu um dos casais mais famosos,
e intrigantes, da literatura brasileira: Bento e
Capitu”
Luísa Borges, Página 65

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 55


Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 55
Foto: Ivan Gorito
R I O DE JAN E I RO

Foto: Fátima Ribeiro

Bate-papo carioca,
com Carlos Lessa

E
le foi presidente do seja conhecendo profundamente de amar a capital não é comum. Por
BNDEs, reitor da UFRJ, suas mazelas urbanas e, sobretudo, exemplo, na Argentina, Buenos Aires
assessor do então criando ideias e soluções com o não é amada pelo povo do interior. O
presidente do PMDB, sonho de rever o Rio como objeto de Rio ganhou enorme prestígio mun-
Ulysses Guimarães, desejo e prestígio mundial. dial como paraíso tropical, tendo
professor de José Serra e da pre- Bebericando uma das cachaças como símbolo o Copacabana Palace,
sidente Dilma Roussef, ajudou a fluminenses que vem relançando onde a pessoa podia estar de terno
fundar o Instituto de Economia da no Casarão Ameno Resedá, outro de um lado da calçada, e do outro
Unicamp, escreveu mais de uma imóvel centenário que recuperou estar de calção de banho. Isto é
dezena de livros, entre tantas outras no Catete, Carlos Lessa concedeu , único no mundo: uma metrópole
experiências ao longo dos seus 77 com exclusividade para a Revista balneária. Nunca fizeram ainda uma
anos de idade. Mas, é como “muito do TCMRJ, uma simpática e informal tese sobre isso, mas no cinema
brasileiro e muito carioca” que entrevista onde abordou inúmeros internacional da década de 50 e na
Carlos Lessa gosta de se apresentar. temas da agenda carioca. A seguir, literatura policial, sempre o bandido
Apaixonado pela cidade, dedica- algumas de suas máximas: fugia para o Rio. Era o imaginário do
se a ela de corpo e alma, seja re- paraíso. E esta imagem dominava
vitalizando o degradado casario Recuperação carioca tanto para fora como para dentro.
da Rua do Rosário, no Centro, que E ainda meteram o Cristo Redentor
“O Rio foi objeto de desejo bra-
transformou-se em point gastro- de braços abertos, que é a Estátua
sileiro em todo século XIX e todo
nômico e cultural, ou militando em da Liberdade brasileira. Esse objeto
século XX, o que não é pouco, porque,
favor da preservação do Maracanã, de desejo foi sendo desconstruído
por incrível que pareça, esta ideia

56 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


ao longo de décadas e o Rio passou
a ser a cidade do turismo sexual. Ao
mesmo tempo, a mídia se dedicou
a expressar a violência carioca.
“ Todo novo ser humano exige
algum investimento para ele


Eu lembro, uma vez, que teve um
bandido preso em São Paulo cha- poder estar na cidade.
mado Carioca. E saiu na primeira
página: “Carioca foi preso”. Era uma
coisa sistêmica. O Rio foi perdendo
prestígio. com o deslocamento do da cidade um Patrimônio Mundial da imagem faz-se, então, através do
poder público para o Planalto e da Humanidade; depois, a ideia dos resgate do imaginário, chamando os
do poder privado para São Paulo. grandes eventos. Constrói-se todo grandes eventos para cá e contando
Sinais de decadência foram brutais, um discurso de recuperação do Rio e, com uma economia que lhe dá
porém o Rio continuou sendo Rio, ao mesmo tempo, a economia do pe- retaguarda”.
mas não mais objeto de desejo. tróleo faz com que, na mediocridade
Após este longo período sendo brasileira dos últimos 20 anos, seja Mobilidade urbana
degradado, dá-se a regressão, com uma das poucas atividades em que o
“Eu pergunto: essa recuperação
a construção de um discurso para a Brasil consegue se manter razoável,
da imagem corresponde a um pro-
recuperação do Rio: primeiro, fazer e que estava no Rio. A reconstrução

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 57


jeto para o Rio de Janeiro? Tenho se fazer metrô subterrâneo. Outra cidade não ficar congestionada. Se
R I O DE JAN E I RO

minhas dúvidas pelo seguinte: pri- necessidade é interromper a ver- você demolir casas para ampliar rua,
meiro, sob o ponto de vista urbano, ticalidade, você tem que fazer uso fora o transtorno da obra, vai reduzir
a intervenção mais importante não do seu carro, da sua bicicleta, do a superfície de moradia. No limite,
foi feita até hoje, que é o metrô de ônibus, até um determinado ponto você faz como em Los Angeles,
superfície. Nós temos dois eixos, e dali tomar o metrô. Metrô significa acaba com todo o centro da cidade.
partindo da antiga Central e da frequência de 4 em 4 minutos de Por isto ela é chamada Cidade de
antiga Leopoldina. Mais ou menos um trem para outro; se conseguir Cristal, exemplo da pior metrópole
60% da população do município vive fazer um intervalo de dois minutos, do mundo”.
ao longo destes dois eixos. A maior desafoga inteiramente. O Rio poderia
modalidade de transporte no Rio é o ser paradisíaco”. Densificação do Centro
ônibus, numa sociedade que segurou
“A Zona Oeste é uma maluquice
a economia brasileira comprando População mecânica
do Rio. O urbanista Sergio Magalhães
carros financiados. Criou com isto
“O que está por trás das recentes chama atenção para uma coisa que é
uma questão de mobilidade urbana
manifestações é que a qualidade de dramática: a densidade demográfica
que eu denuncio há anos, mas que
vida está uma porcaria. Para vir da do Rio hoje é igual a de 1863. Fize-
agora explodiu. O Rio de Janeiro é
minha casa, no Cosme Velho, para mos a metamorfose de converter
uma cidade complicadíssima para
cá, no Catete, levei 25 minutos. Da toda a zona rural em zona urbana,
resolver o problema de mobilidade
minha casa para Copacabana, são porém não fizemos infraestrutura.
porque não somos nem estelares,
30, 40 minutos. Quando eu era reitor Se você sobrevoar o Rio de Janeiro,
radiais, tampouco somos xadrez.
da UFRJ, vinte anos atrás, gastava 15 parece que é uma cidade que se
Somos lineares, ou seja, nossos bair-
minutos para chegar ao Fundão, hoje esparramou um pedacinho aqui,
ros se enfileiram uns com os outros,
levo quase uma hora. Nenhuma cida- uma enorme área ali, um pedacinho
da Zona Sul até o Centro e depois
de segura um crescimento de 9% na lá. Quando diagnostiquei que o
abrem-se duas derivações, que são
frota automobilística por ano, como charme do Rio do ponto de vista
a Central do Brasil e a Leopoldina.
é aqui no Rio de Janeiro. Em Brasília, urbanístico era densificar os velhos
Se você olhar o Rio de Janeiro abs-
são 15%. Em São Paulo, outro dia, bairros do Porto, eu estava pensando
tratamente, ele é um Y. Quando se
deu um congestionamento que a na Avenida Rodrigues Alves até o pé
tem o xadrez, há uma combinação de
Polícia Militar calculou em 300 km de São Cristóvão. Em toda esta região
alternativas para se chegar do ponto
e não conseguiu descobrir a razão. podem caber 200 mil residências-
A para o B, o que não ocorre aqui.
Aqui, qualquer acidente de bicicleta -padrão para uma família média
A topografia do Rio nos condena,
pode produzir um engarrafamento de 4 pessoas. Se fizer residências
dá esta beleza deslumbrante, mas
de horas. Um pneu que fura tampa de qualidade, com apoio comercial,
ao mesmo tempo não há superfície
um túnel do Rio. Eu gosto muito de irá gerar uma imensa concentração
edificável e dá-se o enfileiramento
raciocinar a relação entre a popula- de população, quase um milhão de
dos bairros. A questão da mobilidade
ção humana e a população mecânica. pessoas que irão a pé para o Centro.
no Rio é dramática, porque estamos
Todo novo ser humano exige algum Descongestionaria brutalmente o
beirando os 11 milhões de habitan-
investimento para ele poder estar na sistema de transporte da cidade. Ao
tes, considerando as periferias do
cidade. Exige a construção de uma mesmo tempo, há terrenos desocu-
Rio e Niterói. A única maneira de
vaga no sistema de saúde, no sistema pados na beira da Avenida Brasil, que
resolver a mobilidade é aquela ideia
educacional, uma certa ampliação no poderiam abrigar polos de pequenas
que nós recomendamos, quando fui
sistema de abastecimento alimentar, e médias empresas. Estas ideias
coordenador do Plano Estratégico do
e assim por diante. Cada novo cida- foram ditas, repetidas e... foram
Rio, que era dar prioridade absoluta
dão mecânico exige, para começo palavras ao vento”.
ao metrô de superfície. Estamos
de conversa, 30 metros quadrados
inteiramente vulneráveis, com um
novos de pista de rolamento e área Na Copa e nas Olimpíadas...
plano de melhoria de infraestrutura
de estacionamento. Se não houver
urbana que não vai ao ponto central, “Não vai bastar decretar feriado,
este adicional, degrada a qualidade
que é restaurar a via rápida, onde tem que decretar interdição de
de trânsito. Só que, dialeticamente,
está a antiga Rede Ferroviária. Ali circulação urbana, para todo mundo
há o seguinte problema: a própria
já está tudo desapropriado, é só ficar em casa porque, senão, o que o
obra para ampliar esses 30 m2 por
construir um sistema confiável de carioca gosta de fazer? Não vai para
carro já dificulta muito até ficar
circulação e colocar bons trens. o Maracanã porque é muito caro e
pronta. Então, se a população de
É uma fração do investimento de agora, depois da reforma, possui
automóveis cresce, é impossível a

58 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


metade da capacidade de pessoas. ser símbolo das manifestações nas Precisa ter uma visão de longo
Então, o carioca vai sair, vai fazer um ruas. O povo gosta do padrão-Fifa, prazo. E a visão de longo prazo no
bolo de gente espalhada nas ruas”. mas não da imposição da Fifa, que Rio de Janeiro é óbvia e evidente
obrigou a acabar com o Maracanã e que não é só prestação de ser-
Padrão-Fifa autorizar a venda de bebida dentro viços. É prestação de serviços e
do estádio, mas, ao mesmo tempo, atividades footloose, que quer dizer
“Eu fiz parte da comissão para
proibiu de tirar a camisa e torcer em de alta sofisticação, porém semi
preservar o Maracanã. Eu perco
pé. Acabou com a torcida, que é uma industriais ou industriais. Todos
todas estas batalhas, mas não perco
criação cultural brasileira”. os grandes edifícios abandonados
a minha dignidade. As três imagens
da Av. Brasil poderiam ser colmeias
ícones do Rio eram o Cristo, o Pão
Vocação para footloose de pequenas e médias empresas
de Açucar e o Maracanã. E gentri-
altamente sofisticadas”.
ficaram o Maracanã, que passou a Não basta só estar no spotlight.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 59


E o Elevado foi abaixo:
R I O DE JAN E I RO

S
omente cinco segundos tem a menor densidade populacional Elaine Condor, Ricardo Kawamoto e
foram suficientes para, do município. Além disso, lembra Márcio Leite elaboraram um projeto
na chuvosa manhã de 24 que sua capacidade de tráfego que previa proteção acústica do
de novembro, cerca de demonstrava sobrecarga. Estudo de viaduto e utilização de sua sombra
um quarto do Elevado impacto realizado em 2010 aponta na altura da Praça Mauá, para um
da Perimetral vir abaixo e encerrar que naquela época o ideal de 2.000 espaço de caminhadas e de convi-
definitivamente um capítulo na his- veículos por hora por sentido tinha vência. Também o arquiteto Jorge
tória do trânsito do Rio de Janeiro. sido ultrapassado em muito. A Jauregui idealizou a transformação
Por décadas, a via-expressa com contagem chegava a mais de 4.753 do elevado em um espaço público
5,5 km de extensão inseriu-se no veículos em direção ao Centro, com de lazer, com uma rua verde para
sistema viário como uma importante 119% a mais do que o regular; e pedestres e pequenos veículos elé-
ligação entre as Praças XV e Mauá, rumo à rodoviária, trafegavam 4.255 tricos, capazes de ligar o Aeroporto
Av. Brasil e Ponte Rio-Niterói. Até veículos, excedendo a capacidade Santos Dumont à rodoviária.
sua interdição, estima-se que 85 em 106%. Até 2015, as vias Binário do Porto
mil veículos passavam pelo viaduto Arquitetos e urbanistas, em e Expressa, juntas, substituirão a Pe-
todos os dias. contrapartida, defendiam soluções rimetral. A primeira foi inaugurada
A demolição faz parte do projeto alternativas à demolição, como a no início de novembro. Seus 3,5 mil
de revitalização da Zona Portuária e criação de um parque suspenso, nos metros se estendem em paralelo
gerou controvérsias entre os mora- moldes do High Line Park de Nova à Avenida Rodrigues Alves, em três
dores da cidade. Já por muitos anos, York, ou a utilização do elevado para faixas por sentido e várias saídas,
políticos e urbanistas discutiram abrigar outros meios de transporte, para facilitar a distribuição interna
o fim da Perimetral, por razões como o Veículo Leve sobre Trilhos do trânsito e os acessos ao Centro
estéticas e práticas. Por um lado, a (VLT). Vencedores de concurso da cidade. A Via Expressa ligará o
Prefeitura alega que o viaduto con- público, promovido em 2004, que Aterro do Flamengo à Avenida Brasil
tribuiu para a degradação da área, tinha como objetivo encontrar saídas e à Ponte Rio-Niterói e comportará
do patrimônio público e privado, e viáveis para o marco arquitetônico um túnel de 3.450 metros, que será
para o esvaziamento da região, que famoso por sua feiúra, os arquitetos o maior do país.

60 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


o Rio sem a Perimetral

As vias Binário (foto) e Expressa


prometem aumentar a capacidade de

ng.br
tráfego da antiga Perimetral até 2015.

him.e
Grande parte do concreto será recicla-
do e usado em obras de pavimentação

oibra
da própria Zona Portuária da cidade.
.emili Na área, serão realizadas obras de
/www

infraestrutura como água, gás, energia


elétrica e esgoto, entre elas a interli-
http:/

gação da Rodrigues Alves com a rede


Fotos:

de esgoto (antes era jogado na Baía de


Guanabara sem tratamento).
Iniciada nos anos 1950, a construção da Perimetral foi feita em
etapas. O primeiro trecho construído dava-se até a Candelária,
depois continuou pela Praça Mauá, contornando o Mosteiro de São
Bento e por cima da Av. Rodrigues Alves; a terceira e última fase
foi a sua ligação com a Ponte Rio Niterói, em meados da década de
70. Cortava os bairros do Caju, parte de São Cristóvão, Santo Cristo,
Gamboa e Saúde.


Depoimento
Diante da discussão em torno da derrubada do Elevado da Perimetral, eu, como
usuária diária desta via, em especial nos horários de rush, me vi reticente com esta
possibilidade pois, diante do alto número de carros que por lá trafegavam, eu não
vislumbrava nada que pudesse amenizar aqueles engarrafamentos que há anos
transtornavam nossas vidas.
Contudo, o novo trajeto que utilizo, entre o viaduto do gasômetro e o centro da
cidade, passando pela via binário do Porto, até o momento se mostra muito satisfatório,


apesar de eu considerar, s.m.j, ser essencial a presença dos agentes de trânsito que lá
se encontram e que contribuem efetivamente para a fluidez do trânsito.

Valéria Maria Seabra, auditora


de controle externo do TCMRJ

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 61


momento 100 anos de
R I O DE JAN E I RO

histórico
Vinícius de Moraes
Foto: Acervo pessoal de Eucanaã Ferraz
Helena Severo
cientista política

N
a excelente biografia
“Vinícius de Moraes- O
Poeta da Paixão”, José
Castello registra que
“o poeta foi um ho-
mem que viveu para se ultrapassar
e para se desmentir. Para se entregar
e fugir, depois, em definitivo. Para
jogar, enfim, com as ilusões e a cre-
dulidade, por saber que a vida nada
mais é que uma forma encarnada de
ficção. Foi antes de tudo um apaixo-
nado – e a paixão, sabemos desde os
gregos, é o terreno do indomável. Daí
porque fazer sua biografia era uma
obra ingrata.”
Castello tinha razão. Nar-
rar a vida de um persona-
gem múltiplo como Vinícius
não deve ter sido tarefa fácil. Poe-
ta, diplomata, compositor, eterno
namorado de lindas mulheres, eis
algumas das inúmeras “personas”
distintas unidas em Vinícius pelo
fio condutor da paixão, sedução
e sensibilidade. Uma trajetória
digna dos melhores personagens de
grandes folhetins que transitam pela
vida em movimentos aparentemente
contraditórios
Com uma história de vida tão
variada, é natural que sua biografia
comporte diferentes abordagens
que mesclam aspectos de sua obra
poética a recortes da vida privada.
Sob este ponto de vista pode-se
dizer que Vinícius foi um amalga-
ma, um personagem em estado de
transformação permanente que
soube, como ninguém, reinventar-se,
adaptando-se ao seu tempo.
Dele se pode dizer que foi, so-

62 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


bretudo, fiel às suas circunstâncias.
Filho de uma família de classe
média da Zona Sul do Rio, Vinícius
cresceu ouvindo a mãe pianista que,
além dos clássicos, transitava com
familiaridade pela música popular.
Jovem ainda ingressou na carreira
diplomática onde ‘equilibrou-se”
por alguns anos. Sua passagem pelo lidade convive com o apreço pela da música brasileira. Estamos falando
Itamaraty rende, até hoje, ótimas experiência comum; e o distancia- da Bossa Nova, que teve em Chega de
histórias como aquelas que compar- mento da língua usual não impede, Saudade uma referência definitiva. A
tilhou com João Cabral de Melo Neto, como contrapartida , a absorção de maneira intimista de dizer os versos
também poeta/diplomata. traços coloquiais , do vocabulário e unida a uma nova batida de violão são
Mas o ambiente diplomático, da linguagem corrente”. elementos indissociáveis deste novi-
cercado de exigências protocolares, Vinícius era um poeta consa- mento que, nascido em apartamentos
não se adequava, definitivamente, grado quando se lançou por inteiro da Zona Sul carioca , transformou-se
ao figurino do poeta. A carreira dos na carreira de letrista e showman em grande referencia da cultura
“punhos de renda” supunha um da MPB. Sua opção pelo mundo do popular brasileira.
grau de formalismo que na verdade espetáculo foi de certo modo surpre- Depois de Tom vieram outros
ele sempre desprezou. Assim é endente, uma vez que, durante muito parceiros como Carlos Lyra com
que, mesmo mantendo os vínculos tempo, via com preconceito a música quem compôs canções antológicas
formais com o Itamaraty até 68 popular. A partir de 1954, quando como Minha Namorada e Coisa mais
(quando foi afastado da “carrier” no foi apresentado a Tom Jobim para Linda, e Baden Powell, responsável
rastro do AI5), Vinícius dedicou-se compor as canções da peça Orfeu pela fase dos afro sambas, músicas
desde muito cedo, à poesia e, mais da Conceição, passou a dedicar-se marcadas pelos ritmos africanos
tarde, à MPB, onde se consagrou quase que exclusivamente à carreira com influência do candomblé e
como um dos seus mais geniais de astro da MPB , deixando de lado da capoeira. São exemplos desta
letristas. a trajetória de poeta tradicional. produção canções como Berimbau
O que torna Vinícius um grande Corresponde a este período o início e Canto de Ossanha.
poeta é sua aguda percepção do lado da construção do mito do poeta A última e mais duradoura par-
obscuro do homem. E a coragem de boêmio, eterno namorador, com ceria de Vinícius foi com Toquinho,
enfrentá-lo. Temas como o mistério, uma autoproclamada vocação para que rendeu mais de 80 músicas
a paixão e a morte são recorrentes, a vagabundagem. e se estendeu até sua morte (9
no curso de toda a sua obra. Mas Esta guinada de vida levou Rui de julho de 1980). Este foi seu
engana-se quem imagina que tais Castro a observar que “Vinícius viveu período de maior popularidade,
escolhas redundam numa poética ao contrário - de jovem serio e con- quando sucessos como Tarde em
hermética, pesada, marcada pelo servador, transformou-se num velho Itapoã, Pra Viver um Grande Amor
isolamento aristocrático de ordem libertário, que agia quase como uma e Cores de Abril se sucediam numa
intelectual ou moral. Ao contrário, a criança”. E não resta dúvida que foi impressionante sequência. À época,
palavra de Vinícius, tanto no poema através da música popular brasileira quando a MPB estava associada
quanto na canção, é sempre tão ge- que Vinícius encontrou esta nova ao movimento estudantil - algo da
nerosa e acolhedora que corremos o identidade tanto profissional quanto vigilância permanente dos órgãos
risco de nos “abrigarmos” nela, sem pessoal . de repressão da ditadura - Vinícius
nos darmos conta (por vezes) de que Sua parceria com Tom Jobim é e seu parceiro lotavam auditórios
estamos diante de uma linguagem um marco definitivo na história da universitários espalhando, em meio
inovadora onde predominam a música popular brasileira. Enquanto às sombras daquele período, um
imaginação e a transformação. durou, a dupla compôs mais de 60 rastro de alegria e liberdade.
O poeta e crítico Eucanaã Ferraz canções, quase todas grandes suces- Talvez a melhor tradução de
assinala que ‘a poética de Vinícius sos como Garota de Ipanema , Ela é Vinícius tenha sido dada por Carlos
preza mais a clareza que o herme- Carioca, Canção do Amor Demais, Drummond de Andrade que dele
tismo, não buscando uma inovação Insensatez e tantas outras mais. disse: “Vinícius foi o único poeta bra-
interrupta, mas, sim, a incorporação Em 1958, a dupla Tom/Vinícius sileiro que ousou viver sob o signo
de formas e temas caros à tradição lançou a “pedra fundamental” de um da paixão. Quer dizer, da poesia em
lírica ocidental; ali, a fuga da rea- dos mais importantes movimentos estado natural”.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 63


Revista TCMRJ Junho - Agosto 2013 - N. 55
o
Retrat
R I O DE JAN E I RO

A Glória do Rio


dos
s
Bairro

...Por volta do meio-dia terminou a cerimônia, e a linda escuna


desfraldando as velas bordejou pela baía em sinal de regozijo pelo seu
batismo, e veio deitar o ferro em uma sombria e formosa enseada que havia
na praia do Catete, ainda naquele tempo coberta da floresta que deu nome
ao lugar. Esta praia tinha dois outeiros que lhe serviam como de atalaias, um
olhando para a barra, o outro para a cidade. Era ao sopé deste último que
ficava a abra, onde fundeou a escuna Maria da Glória, à sombra das grandes
árvores e do outeiro, que mais tarde devia tomar-lhe o nome. (...) Segundo
a tradição, Nossa Senhora da Glória, agastada por terem-na escolhido para
padroeira de um navio corsário, tomado aos hereges, durante o banquete


abandonara o seu nicho da proa e se refugiara no cimo do outeiro, onde à
noite se via brilhar o seu resplendor por entre as árvores.

da Glória do Outeiro, mas também Próxima dali, no alto do morro,


a todo o bairro, um dos mais tradi- está localizada a igreja descrita
cionais do Rio de Janeiro. acima, hoje tombada pelo Instituto
Não foram raras as tentativas de do Patrimônio Histórico e Artístico
Por Luísa Borges Pontes invasão dos franceses narradas pelo Nacional. Palco do batismo dos

E
romancista, que protagonizaram membros da monarquia brasileira,
foi assim, através das duras batalhas com portugueses e como o imperador Dom Pedro II, o
aventuras marítimas índios pela posse da região, durante templo foi construído sobre o terre-
do jovem Aires Brito, a implementação frustrada da no onde antes havia sido edificado o
personagem de “Al- “França Antártica”. Dois anos após forte do cacique Uruçumirim, líder
farrábios: O Ermitão fundar a cidade do Rio de Janeiro, dos índios tamoios que, ao aliar-se
da Glória”, que o escritor José de em 1565, o líder português Estácio aos franceses, teve o território
Alencar descreve o início do culto à de Sá foi flechado fatalmente em tomado pelos portugueses em 1567.
Nossa Senhora da Glória, em pleno meio aos conflitos, tal qual ocorreu Muitos anos depois, em 1714, deu-
século XVII, no antigo Morro do a São Sebastião, padroeiro da se início à construção da igreja,
Laripe. A santa não só emprestou cidade, como demonstra a estátua cujo término ocorreu em meados
nome ao oiteiro, que atualmente em homenagem ao santo ferido, do século XVIII.
abriga a Igreja de Nossa Senhora erguida na Praça do Russel.

64 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


A Glória chegou a seu apogeu
nos séculos XVIII, XIX e início do
XX, antes da transferência da capi-
tal nacional para Brasília, devido à
sua proximidade com o Palácio do
Catete e adjacências, antiga sede do
governo federal. A emancipação do
bairro foi marcada pela construção
de hotéis e residências com ares
aristocráticos e exuberantes, que
receberam políticos de diferentes
estirpes. Coqueluche inspirada nos
traços da “Belle Époque”, a Praça
Paris, inaugurada em 1929, era
endereço certo para os passeios à
paisana da alta sociedade carioca.
Em 1881, foi erigida, na rua
Benjamim Constant, número 74,
a Igreja Positivista Brasileira,
escola filosófica que teve papel de
destaque na Proclamação da Repú-
blica, oito anos depois. Em 1900,
data de efeméride da chegada dos
portugueses no Brasil, foi instalada
no Largo da Glória uma estátua de
10 metros de altura do descobridor
Pedro Álvares Cabral, esculpida por
Rodolfo Bernadelli. Fotos: Alexandre Freitas
Em 1905, o bairro recebeu um
de seus marcos arquitetônicos: o
relógio do Largo da Glória. Aos Em 1977, a área litorânea do por um processo de revitalização.
domingos, os arredores do mo- bairro passou a hospedar a Ma- Seu charme se mantém intacto, e
numento são tomados por barra- rina da Glória, cuja proposta era pode ser apreciado por todos que
quinhas de uma feira de legumes, fomentar o turismo náutico na desembarcam no Aeroporto Santos
verduras, peixes e afins, das 9h às região, servindo como ancoradouro Dumont e rumam à Zona Sul da
14h. Também no ano de 1905, foi para pequenas embarcações. Ainda cidade, através das vias expressas
erguida a amurada que atualmente nos anos de 70, foi inaugurado do Aterro Brigadeiro Gomes, mais
margeia o Glória Palace Hotel, que na região central do bairro o res- conhecido como Aterro do Flamen-
apenas foi inaugurado anos depois, taurante Amarelinho, situado na go. Seus contornos só ganharam
em 1922. Comprado em 2008 Ladeira da Glória, número 08. forma após sucessivos aterramen-
pelo grupo EBX, do empresário Outro bar da região, a Taberna da tos, que deram também origem
Eike Batista, o hotel entrou em Glória, reduto de artistas e políticos ao Largo da Glória, à Praça Paris
reforma em 2011, sem previsão dos anos 30, funciona até hoje na e à Avenida Beira-Mar, ligando o
para término. Situado à Rua da Rua do Russel, 32. Em 2004, a Centro a Botafogo.
Glória, número 446, o Palácio praça do Russel ganhou um museu José de Alencar não foi o único
São Joaquim, também conhecido subterrâneo, o Memorial Municipal escritor a se inspirar nos cenários
como Palácio da Mitra Arquiepis- Getúlio Vargas. Logo na entrada, da Glória para compor suas nar-
copal, foi construído em 1918 para um busto em grandes proporções rativas. Machado de Assis, que
servir como residência oficial do do ex-presidente traz inscrita na foi morador do vizinho Catete,
1° Cardeal Arcebispo do Rio de base uma de suas mais célebres ambientou sua obra mais notória,
Janeiro, Dom Joaquim Arcoverde frases: “Saio da vida para entrar “Dom Casmurro”, nas ruas do bair-
Cavalcanti de Albuquerque, tendo na História”. ro, onde residiu um dos casais mais
sido tombado recentemente na Hoje, o bairro, que contabiliza famosos, e intrigantes, da literatura
gestão do ex-prefeito Cesar Maia. cerca de 10 mil habitantes, passa brasileira: Bento e Capitu.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 65


Vale a pena ler de novo
CL I PPI N G

Matérias publicadas na imprensa que, por sua atualidade, não perderam o interesse.

Jornal Folha de São Paulo - 21 de Novembro de 2013

66 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


em pauta

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 67


E M PAU TA

O Presidente Thiers Montebello abre a solenidade, ladeado, à esquerda, pelo Defensor Público Nilson Bruno Fº, Procuradora Maria
Cristina Palhares Tellechea, Conselheiro Sebastião Helvécio, Pres. do TCE/RJ, Jonas Lopes e a Presidente do TJRJ, Leila Mariano; e, à
direita, pelo Prefeito Eduardo Paes, Ministro Jorge Scartezzini e Desembargador Luiz Eduardo Rabello

TCMRJ premia seis autoridades


com o Colar do Mérito Victor
Nunes Leal

O
s conselheiros do rentes e amigos dos homenageados e geral, Nilson Bruno Filho.
Tribunal de Contas do autoridades civis e militares de todo o Em discurso de abertura da
Município do Rio de país. Participaram da mesa de entrega cerimônia, o presidente do TCMRJ,
Janeiro premiaram, do prêmio o prefeito da Cidade do Rio Thiers Montebello, agradeceu a
com o Colar do Mérito de Janeiro, Eduardo Paes, o presidente presença de todos e confessou
Ministro Victor Nunes Leal, o desem- do Tribunal de Contas do Município “sentir regozijo pessoal – e para o
bargador Adilson Vieira Macabu; o do Rio de Janeiro, Thiers Montebello, Tribunal – por ter a oportunidade de,
conselheiro presidente da Atricon, o conselheiro presidente do Tribunal a cada ano, reconhecer publicamente
Antonio Joaquim M. Rodrigues Neto; de Contas do Estado do Rio de Janeiro, pessoas ilustres que contribuíram
o procurador de Justiça do Estado Jonas Lopes de Carvalho, o conselheiro para o fortalecimento dos tribunais
do Rio de Janeiro, Astério Pereira vice-presidente do Tribunal de Contas de contas, e ajudaram a construir a
dos Santos; o ministro presidente de Minas Gerais, Sebastião Helvecio democracia e a República”.
do Tribunal de Contas da União, Ramos de Castro, a procuradora Presidente do Tribunal de Contas
Augusto Nardes; o juiz federal José de Justiça, Maria Cristina Palhares da União, ministro Augusto Nardes
Arthur Diniz Borges; e o jurista Mi- Tellechea, o ministro Jorge Scartezzini, agradeceu a honra de receber o Colar
guel Seabra Fagundes, in memoriam. a desembargadora presidente do do Mérito e de representar os demais
Realizada no Palácio da Cidade – Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, agraciados. “Que minhas rápidas
sede da Prefeitura do Rio de Janeiro Leila Maria Carrilo C. R. Mariano, o palavras sejam representativas
–, no dia cinco de novembro, a sessão desembargador Luiz Eduardo Gui- do sentimento que imagino estar
solene de condecoração reuniu pa- marães Rabello, e o defensor público contido também em seus corações

68 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


neste momento de grande alegria
para todos nós. O Tribunal de Contas
do Município do Rio de Janeiro, uma
das mais nobres e reconhecidas
instituições de controle externo
de nosso país, nos prestigia e nos
distingue com sua honraria máxima”.
Nardes enalteceu, ainda, a “feliz
iniciativa do TCMRJ de adotar o
nome do Ministro Victor Nunes Leal
para nomimar o Colar do Mérito”.
“A nossa responsabilidade aumenta
muito quando nos deparamos com
a estatura moral e intelectual da
personalidade que dá nome a esta al-
mejada comenda; Victor Nunes Leal,
magistrado que se tornou símbolo da
dignidade entre os juízes, exemplo
de homem público e paradigma de
jurisconsulto”.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 69


E M PAU TA

Conselheiro Antonio Flores de Moraes e Vice-


Presidente do TCE/MG, Sebastião Helvécio

Comenda maior do TCMRJ, o Colar


do Mérito Ministro Victor Nunes Leal
foi instituído em 2004 e tem por
objetivo reverenciar personalidades
que tenham alcançado representati-
vidade e projeção em suas atividades
profissionais, de forma a contribuir
com o fortalecimento dos poderes
estatais, das ações de governo, da
identidade nacional e da democracia.
Compareceram à cerimônia os
desembargadores José Carlos S.
Murta Ribeiro, Sérgio Cavalieri Filho,
Marcus Antonio de Souza Faver,
Thiago Ribas Filho, o conselheiro José
Vereador Luiz Antonio Guaraná, Conselheiros Ivan Moreira e José de Moraes (com sua
Gomes Graciosa, do TCE/RJ, entre esposa Viviane) e Procurador Francisco Lopes
outras autoridades.

Servidores da TCU/Secex-RJ foram abraçar o Ministro João Nardes no Palácio da Cidade

70 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Os agraciados

Conselheiro Juiz Federal Desembargador


ANTONIO JOAQUIM MORAES RO- JOSÉ ARTHUR DINIZ BORGES ADILSON VIEIRA MACABU
DRIGUES NETO por manter uma relação de pro- por atuar na defesa dos mais
por atuar incansavelmente no for- ximidade e respeito institucional necessitados, dos excluídos, dos
talecimento do Sistema Nacional com os tribunais de contas, em desassistidos, que buscam a justiça
de Controle Externo, e trabalhar colaboração permanente com o como único e último recurso de
obstinadamente pela criação do aperfeiçoamento das atividades de reparação das desigualdades de
Conselho Nacional dos Tribunais fiscalização e controle, em especial que são vítimas. Por reconhecer
de Contas, cujas principais atribui- no que concerne à promoção de a importância das atividades de
ções são a fiscalização planejada e seminários para o debate de temas fiscalização e controle externo como
uniforme da gestão dos recursos que invoquem as ações da justiça imprescindíveis à República e ao
públicos, o combate articulado à má federal e as atividades de controle atendimento do interesse geral do
utilização do dinheiro público e o externo. cidadão.
enfrentamento institucional efetivo
e sumário da corrupção.

Jurista Eduardo Seabra Fagundes, Procurador de Justiça Ministro


representando seu pai, MIGUEL ASTÉRIO PEREIRA DOS SANTOS AUGUSTO NARDES
SEABRA FAGUNDES por articular a aproximação entre os por ressaltar a importância das
homenagem à memória de um dos Tribunais de Contas e o Ministério funções dos tribunais de contas
grandes brasileiros que fizeram Público, estabelecendo um convívio relativas à fiscalização da qualidade
parte da construção e do desen- de amizade, respeito e complemen- da gestão pública e a avaliação
volvimento de nosso país, lutando taridade, a bem do interesse público concomitante de seus resultados,
em defesa de valores e princípios e da sociedade, preocupado com com a finalidade de verificar se os
democráticos, e que dedicaram sua a segurança e com a proteção dos serviços públicos que se oferecem
vida à construção de um espírito direitos individuais e coletivos. aos cidadãos estão, efetivamente, de
nacionalista e republicano. acordo com suas necessidades e, de
fato, favorecendo seus destinatários.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 71


Câmara de Vassouras condecora
E M PAU TA

presidente do Preservale,
Conselheiro Nestor Rocha

N
o dia em que Vassouras co- de estudantes da rede
memorou seus 156 anos pública do Vale e receber
de vida (29/09/2013), o gratuitamente mais de oito
conselheiro do Tribunal mil pessoas na exposição
de Contas - TCM/RJ, Nestor Rocha, Casa Real. “Sem o apoio que
recebeu das mãos da presidente da recebemos da Light, da CEG
Câmara, vereadora Rosi Farias, a Gás Natural e da Piraquê,
Comenda General Severino Sombra, através de projetos da Lei de
maior honraria da cidade, concedida Incentivo do Estado (ICMS),
apenas uma vez a cada ano, pela não teríamos conseguido
grande contribuição para o desen- promover um restauro com
volvimento do turismo histórico na a qualidade alcançada e,
região, pelas ações afirmativas no certamente, veríamos uma
campo da educação, desenvolvidas preciosidade como aquela
em Vassouras e, principalmente, ruir a nossa frente,” disse.
para a preservação da memória e Para Nestor Rocha, que Nestor Rocha recebe a Comenda da vereadora Rosi Farias
história do Vale do Café. também é presidente do
Em seu discurso de agrade- Preservale - Instituto de Preser- ela, a preservação do patrimônio,
cimento, o conselheiro, que foi vação e Desenvolvimento do Vale tão defendida pelo conselheiro, é um
vereador no Rio de Janeiro por do Café, é fundamental que todos dos caminhos para que o Vale do Café
quatro legislaturas, ressaltou que a que trabalham pela preservação do seja de fato reconhecido como um
homenagem o colocava ao lado de patrimônio se unam em torno da destino do turismo histórico para
ilustres brasileiros, como o senador luta, para que as Leis de Incentivo todo país.
Francisco Dornelles e o ministro do passem a destinar obrigatoriamente Em suas palavras finais, Nes-
Supremo Tribunal Federal - STF, Luiz pelo menos 20% dos recursos para tor Rocha agradeceu à vereadora
Roberto Barroso. Ele enfatizou ainda a recuperação destes patrimônios, Gracie, que lhe concedeu o Título
a parceria com sua mulher, a jorna- espalhados não apenas pelo vale de Cidadão Vassourense e é autora
lista Liliana Rodriguez, fundamental histórico. Ele cita o caso do Rio de Ja- do projeto que criou a Rua Barão
para a recuperação de São Luiz da neiro, com seus corredores culturais de São Luiz, no Centro Histórico
Boa Sorte, um primor do Século XIX, imensos e construções centenárias da Cidade. Agradeceu também aos
que data de 1835, adquirido quase entregues à própria sorte. “Todos políticos presentes, o ex-prefeito
em ruínas. nós temos por obrigação lutar para e atual deputado federal, Eurico
O conselheiro defendeu com que não se perca mais a memória Júnior; o deputado federal Fernando
veemência que o Estado apóie os pro- deste país”, defendeu Nestor. Jordão; a ex-governadora e atual
prietários de Fazendas Históricas, já A presidente da Casa, vereadora prefeita de Campos, Rosinha Mateus
que, sozinhos, eles não têm condições Rosi Farias, que indicou o nome Garotinho; a deputada estadual
de mantê-las de pé, a fim de utilizá-las do conselheiro, com o apoio dos Clarissa Garotinho; o presidente
como geradoras de renda através das demais vereadores, elogiou as ações da Fundação Educacional Severino
visitações. Para mostrar a importância empreendidas pelo proprietário Sombra, Marco Capute, e fez uma
de investimentos no setor, Nestor da São Luiz da Boa Sorte. “Nestor saudação especial ao prefeito Renan
Rocha lembrou que a sua fazenda - a Rocha tem se movido pela cultura e Vinícius: “Prefeito, temos de tra-
São Luiz da Boa Sorte - foi a primeira pelo turismo de nossa cidade. É um balhar pela preservação de nossos
a conseguir apoio para a restauração grande orgulho homenagear alguém patrimônios, pois somos apenas os
de parte do seu acervo e, só por que leva o nome de Vassouras para guardiões temporários de toda esta
isto, pôde ser visitada por milhares todo canto do país”, elogiou. Para riqueza.”

72 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Morre aos 79 anos o
Conselheiro aposentado
Maurício Azêdo

F
aleceu, no último dia 25 de ou-
tubro, o conselheiro aposenta-
do do TCMRJ, Oscar Maurício
de Lima Azêdo, conhecido
em sua vida profissional de
jornalista e na vida pública como Maurício
Azêdo. Nascido no bairro de Laranjeiras,
no Rio de Janeiro, em 1934, formou-se
na Faculdade de Direito do Catete, mas
decidiu seguir a carreira de jornalista,
atuando como repórter, redator, cronista,
editor, chefe de reportagem, editor-chefe e
diretor de redação em inúmeros veículos,
como o Jornal do Commercio, Diário
Carioca, Jornal do Brasil, Diário de Notícias,
Jornal dos Sports, Última Hora, O Dia, O
Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, entre
outros jornais diários.
Foi também colaborador de jornais al-
ternativos de resistência à ditadura militar
(1964-1985), como a Folha da Semana,
periódico criado pelo Partido Comunista
Brasileiro, Opinião, Movimento e Hora
do Povo e o clandestino Voz Operária. Por
isto, foi perseguido pela ditadura, sendo
inclusive barbaramente torturado, fato
que marcou sua trajetória na defesa dos
Direitos Humanos.
A partir de 1982, Maurício Azêdo
dedicou-se à política, tendo sido vereador
do Rio de Janeiro por três legislaturas
(1983-88, 1989-1992, 1993-1996); pre-
feito interino em exercício por oito dias
(15-22/3/83); presidente da Câmara
Municipal no biênio 1983-85; secretário
municipal de Desenvolvimento Social
(1986-1987); e, de 1999 a 2004, conse-
lheiro do Tribunal de Contas do Município
do Rio de Janeiro, no qual foi aposentado
compulsoriamente por limite de idade, em
setembro de 2004, época em que assumiu a
presidência da ABI. Foi reeleito em outras
três oportunidades – 2007, 2010 e 2013
– sendo o último mandato interrompido
prematuramente.

73 Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 73


E M PAU TA

Mensagens dos amigos


“Parece elogio que se faz a um amigo apenas porque ele morreu,
mas não é nada disso: sempre disse que Maurício Azêdo foi o mais
brilhante colega no jornalismo e no Tribunal de Contas do Município do
Rio de Janeiro. Trabalhamos juntos durante muitos anos e posso dizer
que nossa amizade nasceu da admiração pelo seu brilhantismo desde
o tempo em que, no Jornal do Brasil. ele se destacou pelo belo texto
de suas matérias e pela capacidade de liderança. Foram vários anos
de atuação no saudoso JB, até que entramos firmes numa campanha
salarial, que resultou na nossa demissão por justa causa.
Poucos anos depois, fomos convocados para disputar as eleições
para a Câmara de Vereadores, conquistamos os mandatos – ele pelo
PDT e eu pelo PMDB – e foi mais uma oportunidade para desfrutar
do imenso talento de Maurício Azêdo, um orador de discursos tão
brilhantes que, para muitos observadores, eram tão brilhantes
quanto os pronunciamentos de Carlos Lacerda, considerado o maior
orador de toda história da política do Rio de Janeiro. Tanto brilhan-
tismo foi o que mais contribuiu para que os próprios vereadores o
elegessem para o Tribunal de Contas, onde brilhou tanto quanto no
jornalismo e na política.
Em resumo, tive todos os motivos para admirá-lo e para orgulhar-me da nossa amizade”
Sérgio Cabral, conselheiro-aposentado do TCMRJ

“Admirável, realmente admirável, é a expressão que me ocorre


com força e espontaneidade ao lembrar a figura de Maurício Azêdo”
Saturnino Braga, ex-prefeito do Rio

“Um idealista nato, destes que já não se fazem mais”


Ricardo Kotscho

“Foi embora um lutador. De todas as horas, de


todas as lutas, de todos momentos”
Hélio Fernandes, diretor da Tribuna da Imprensa

“Foi um lutador e um militante pela justiça,


pela ­liberdade, particularmente pela liberdade de
imprensa”
Ana Arruda Callado

74 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Homenageado pelo TCMRJ em
2007, Governador Marcelo Déda
falece aos 53 anos
Foto: Marcio Dantas

O
governador de Ser- deputado federal e também foi na Câmara dos Deputados em
gipe, Marcelo Déda, prefeito da capital, Aracaju. 1998. Já em 2000, conquistou o
de 53 anos, morreu Marcelo Déda foi um dos home- primeiro mandato de prefeito de
na madrugada do nageados pelo Tribunal de Contas Aracaju, referendado por 52,8%
dia 02 de dezembro, do Município do Rio de Janeiro dos votos válidos. Reeleito em
no Hospital Sírio-Libanês, em São com o Colar do Mérito Ministro 2004, Déda começou a consolidar
Paulo, onde estava internado para Victor Nunes Leal, em 2007, por a trajetória política para a candi-
tratar de problemas decorrentes suas funções e atividades que datura ao governo de Sergipe. Em
de câncer no estômago e no pân- despertaram o respeito e consi- 2006, eleito em primeiro turno
creas. O governador lutava contra deração dos tribunais de contas. com 52% dos votos, Déda investiu
a doença havia quatro anos. Déda era militante do PT desde em infraestrutura no interior do
Déda cumpria o seu segundo 1985 e conquistou o seu primeiro estado. Durante sua campanha à
mandato como governador, após cargo político em 1986, quando reeleição, disse que o foco de seu
ser reeleito nas eleições de 2010. foi eleito deputado estadual com segundo mandato seria o combate
Filiado ao PT desde os anos 1980, mais de 32 mil votos. Voltou à à violência, o aprofundamento das
iniciou a carreira como deputado política em 1994, quando foi eleito políticas sociais e a continuidade
estadual. Foi eleito por duas vezes deputado federal, sendo reeleito das obras de infraestrutura.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 75


Diálogo aberto para uma
E M PAU TA

boa governança pública

A
presença do Gover- lhenta, mas sim no sentido de dar ponderou Nardes, convocando,
nador Sergio Cabral segurança ao gestor público. Para ao final de suas palavras,  todos
foi percebida como isto é necessária uma convivência os presentes a uma parceria em
apoio ao propósito e à harmoniosa, e troca de experiências”, prol da governança brasileira.
necessidade do tema falou ele na abertura do encontro. Na mesa de abertura estiveram
que norteou o evento Diálogo Público Logo no início, o presidente do TCU também presentes o vice-presidente
pela Melhoria da Governança Pública, insistiu que “desatar o nó da buro- do TCU, Aroldo Cedraz; o presidente
promovido pela Escola da Magis- cracia é fundamental para a gover- do TCE/RJ, Jonas Lopes; a desem-
tratura do Estado do Rio de Janeiro nança” e destacou  que as auditorias bargadora do TJ/RJ, Leila Mariano;
- Emerj - e pelos Tribunais de Contas operacionais são os instrumentos o conselheiro do TCE/PE, Valdecir
da União, Estado e Município do Rio de controle que melhor permitem Pascoal;  e o vice-governador do Rio,
de Janeiro, no dia 17 de setembro. avaliar e visualizar a eficiência do Luiz Fernando Pezão.
“Aqui começa o diálogo”, pronunciou- Estado. Ele deu como exemplos as Na parte da tarde, em continu-
-se o presidente do TCMRJ, Thiers auditorias que ultimamente o órgão ação ao encontro Diálogo Público
Montebello, após os discursos do federal vem empreendendo nas para a Melhoria da Governança
presidente do TCU,  Augusto Nardes, áreas de Saúde e Educação, cujos Pública, cujo objetivo é apresentar
e de Cabral. Montebello ressaltou mapeamentos favorecem a avaliação conceitos da governança para apri-
a vocação para o papel pedagógico das políticas públicas adotadas moramento da gestão e tratar de
que os tribunais de contas e o pelo governo. “Não queremos go- temas como licitações e contratos,
Ministério Público devem reforçar. vernar, mas mostrar onde estão os convênios, obras e controle interno,
“Nossa atuação não deve ser baru- gargalos da administração pública”, Gino Novis Cardoso, secretário-ge-

76 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


ral de Controle Externo do TCE-RJ, interno, que os apóiam, e ao controle gestão; a identificação de riscos no
apresentou palestra sobre o Con- externo, que é o olhar da sociedade processo de contratação de bens
trole Interno e Social . Os números em relação à sua administração, e serviços, mapeando suas causas,
apresentados pelo secretário-geral advertiu Werneck. efeitos e possíveis ações de controle;
foram referentes ao ano de 2012, Antonio Cesar Lins Cavalcante, e a revisitação de temas recorrentes
mostrando o trabalho do TCE-RJ controlador-geral do Município sobre licitações e contratos. Segundo
na fiscalização de 91 municípios do do Rio de Janeiro, ressaltou na Frederico Goepfert, “é importante
Estado do Rio de Janeiro, em que palestra Desafios do Controle Interno que haja uma uniformidade de
foram analisados 70 mil processos Municipal e Alternativas de Ação, procedimentos dentro do TCU,
e realizadas 300 auditorias nos as principais funções do controle visando uma segurança jurídica em
diversos órgãos jurisdicionados, interno, os desafios e obstáculos; os relação ao julgar do tribunal e em
entre municipais (777) e estadu- caminhos e alternativas; a metodo- relação aos jurisdicionados, que são
ais(112). Gino Cardoso também logia de implantação e execução dos nossos clientes”.
ressaltou a importância do controle monitoramentos; deu exemplos de O último palestrante do dia, Re-
social e a necessidade de integração monitoramentos de gêneros alimen- milson Soares Candeia, secretário-
entre o controle interno e o controle tícios, a tecnologia da informação e -geral adjunto da Presidência do
externo. “Estamos caminhando em entre outros pontos abordados. TCU, ressaltou na palestra Convênios
direção ao futuro que queremos O procurador Marinus Eduardo – Riscos e Controles, a integração do
como cidadãos, onde serviços De Vries Marsico defendeu, no tema plano estratégico do TCU e a gestão
públicos primem pela qualidade O papel do MP junto ao TCU - atri- de convênios; as principais caracte-
e o dinheiro público seja tratado buições e funções institucionais uma rísticas da governança aplicadas a
com esmero e responsabilidade”, instância técnica com atuação com- convênios celebrados com a União; e
concluiu Gino. petente e independente. “O Tribunal a atuação pedagógica versus atuação
Carlos Augusto Werneck, asses- funciona a partir do momento em de controle do TCU.
sor especial da Secretaria Geral de que seus órgãos, suas instituições Remilson Candeia discorreu
Controle Externo do Tribunal de estão em equilíbrio, harmônicas e ainda sobre temas relevantes na
Contas do Município do Rio de Janeiro independentes. gestão de recursos recebidos por
(TCMRJ), falou sobre A importância Sobre Licitações e Contratos – meio de convênios, como o desvio
do Controle Interno no âmbito muni- Riscos e Controles, Frederico Julio Go- de objeto x desvio de finalidade; a
cipal, em que abordou os princípios epfert Junior, secretário de Controle inexistência de nexo entre receita
do sistema burocrático; princípios Externo de Aquisições Logísticas e despesa; a responsabilidade do
do controle interno; avaliação dos (Selog/TCU), apresentou a atuação e gestor que celebrou o convênio e de
controle interno; tomada de contas contextualização do TCU no controle seu sucessor; as principais despesas
especial ; informações gerais sobre o das aquisições públicas, com base proibidas na gestão de convênios, e
controle externo exercido pelo TCMRJ em aspectos de governança e de a contrapartida.
da segunda maior cidade do país (Rio
de Janeiro); atribuições dos tribunais
de contas; georreferenciamento, que
através dos registros do Sistema de
Controle de Obras Públicas (SICOM)
pode ser visualizado pelo Google
­Earth a localização das obras e ser-
viços de engenharia, e a análise de
caso da evolução das obras da Cidade
da Música.
Para Carlos Werneck, “Na ad-
ministração burocrática pode-se
delegar autoridade, mas não se
delega responsabilidade. O gestor
é responsável, e tem que prestar
contas. Isto é um recado que dou
principalmente aos gestores aqui
presentes; os gestores são sim obri-
gados a prestar contas ao controle

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 77


Belém sedia 7º Coninter
R E GI S TRO

Norte-Nordeste
O
 Tribunal de Con-
tas dos Municípios
do Pará cedeu seu
auditório para se-
diar o 7° Coninter
Norte-Nordeste, nos dias 19 e 20
de setembro último, na cidade de
Belém. O evento reuniu um público
de cerca de 250 pessoas vindas
de todas as partes do Brasil e
cumpriu seu objetivo maior de
capacitar servidores e gestores
que atuam na área de controle
interno e externo, contábil e de
planejamento, com informações
atualizadas na criação, execução
e desenvolvimento da auditoria
interna. Para tanto, durante suas
16 horas/aula, o congresso apre-
sentou roteiros, procedimentos e
experiências de sucesso, através de
palestrantes com larga experiência
no assunto.
Evocando a crise econômica
mundial que eclodiu a partir da
falência do banco norte-americano
Lehman Brothers, o coordenador
científico do evento, o conselheiro do
TCMRJ, Antônio Carlos Flores de Mo-
raes, alertou para a importância dos
debates propostos pelo congresso:
– Podemos distinguir o mundo
antes de Lehman Brothers e depois
de Lehman Brothers. Entramos
na era da incerteza, que impõe
novos desafios ao Estado, cujo papel
de  provedor chega ao final de sua
história - falou Flores de Moraes na
abertura do evento, ao lado do presi-
dente do TCMRJ, Thiers Montebello,
e dos conselheiros Sebastião Colares, lestras, os participantes tiveram pecialistas em assuntos como os
representando a Atricon, Severiano a oportunidade de trocar experi- reflexos da desoneração da folha
Costandrade Aguiar, presidente do ências, especialmente pelas boas de pagamentos nas contratações
IRB, e Luiz da Cunha Teixeira (TCE/ práticas apresentadas, bem como de obras e serviços contínuos;
PA), todos convidados a compor a de conjugar entendimentos das controle dos concursos públicos
mesa pelo presidente do TCM/PA, atuações dos controles interno e e t e r m o d e c o m p ro m i s s o d e
José Carlos Araújo. externo. A programação contem- gestão.
Ao longo dos dois dias de pa- plou a visão de destacados es-

78 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


TCs do Brasil vão para
encontro da EURORAI
na Alemanha
Salomão Ribas Jr.
Conselheiro-presidente do TCE-SC

O
s tribunais de contas
brasileiros estiveram
representados pela
ATRICON e pelos
Tribunais de Contas
do Município do Rio de Janeiro e do
Estado de Santa Catarina no “VIII
Congresso da EURORAI”, realizado
na Alemanha, de 17 a 18 de outubro
de 2013.
A Organização Europeia das
Organizações Regionais de Controle
Externo (EURORAI) é um projeto de
cooperação entre os órgãos de con-
trole público (tribunais de contas e
assemelhados). Por seu intermédio,
são facilitados o intercâmbio de
experiências nos setores públicos
locais e regionais. Entre seus muitos
objetivos estão a informação perma-
nente a respeito da legislação e suas
mudanças aos órgãos associados, os
estudos de matérias relacionados
à fiscalização, e a construção de
uma terminologia adequada. São
membros permanentes da entidade
a maioria dos tribunais de contas,
controladorias, sindicaturas e ou-
tros órgãos de controle externo
regionais. Fundada em 1992, a
organização conta atualmente com
45 membros, entre os quais, dois
tribunais de contas brasileiros: os
dos Estados do Paraná e de Santa
Catarina. No Congresso realizado
em Halle (Alemanha), estiveram
presentes mais de 100 participantes
de 15 países. O tema central foi
Desafios Atuais em Auditoria da
Atuação Econômica das Entidades
Regionais e Locais.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 79


A delegação
R E GI S TRO

brasileira foi inte-


grada pelos con-
selheiros Antonio
Joaquim (TCE-MT),
presidente da ATRI-
CON; Thiers Mon-
tebello (TCM-RJ),
vice-presidente da
ATRICON; Salomão
Ribas Junior (TCE-
-SC), ex-presidente do
IRB e da ATRICON; e
pelo assessor Sergio
Tadeu (TCM-RJ).
Dentro do tema
central, foram reali-
zadas três apresenta-
ções. A primeira delas
sobre necessidade,
oportunidades e li-
mites nas auditorias
de atuação econômica
dos órgãos locais e re-
gionais. Também foram
analisados aspectos
referentes ao exercício
das competências fisca-
legenda
lizadoras dos órgãos regionais de A terceira sessão de discussões conselheiro Thiers, preocupado com
controle. Sobre estes assuntos, tratou da verificação dos princípios as manifestações populares no Rio a
falaram os representantes de europeus e nacionais de contratação respeito do assunto.
Salzburgo, Cantón de Valais e e de concorrência no âmbito dos A cooperação internacional entre
Wroclaw. serviços de interesse geral. Harald Brasil e Europa foi objeto de diversos
Em seguida, um dos temas mais Noack, do Tribunal de Contas Eu- debates entre os representantes
relevantes discutidos foi relacionado ropeu, dirigiu a discussão da qual brasileiros e dos países europeus.
às auditorias e fiscalização dos participaram os representantes de Durante a Assembleia, o pre-
tribunais de contas sobre a com- Languedoc=Rosellon e Tribunal de sidente Ribas Jr. aproveitou para
posição dos preços cobrados pelos Contas de Renania-Palatinado. fazer contatos preliminares para
entes públicos para a prestação de Os conselheiros dos tribunais estimular a participação de técni-
serviços públicos (água, energia, de contas brasileiros presentes no cos e membros dos Tribunais da
coleta de lixo, limpeza pública etc). evento fizeram uma avaliação do pa- Eurorai no XVI Simpósio Nacional
Trata-se da atuação econômica das pel dos tribunais e das experiências de Auditoria de Obras Públicas
entidades locais e regionais. europeias no campo do controle de (Sinaop), que será realizado em maio
Representantes dos Tribunais preços públicos e de taxas para os de 2014, em Florianópolis. O evento
de Contas de Valência (Espanha), mesmos serviços públicos. “Colhe- será promovido pela Atricon pelo
da Escócia e da região de Leningra- mos ideias muito interessantes para Instituto Brasileiro de Auditoria de
do trataram de “experiências em um programa de trabalho na mesma Obras Públicas e pelo TCE-SC.
auditoria de atuação econômica linha no Brasil, sob a orientação da A sessão de encerramento teve
dos órgãos públicos municipais e Atricon”, afirmou o conselheiro Ribas o discurso do presidente da EU-
regionais, com especial atenção Jr. O presidente da Atricon lembrou RORAI, Ralf Seibick, que é também
para o exame da regularidade ao as discussões recentes sobre as presidente do Tribunal de Contas de
fixar e cobrar taxas e tarifas no for- planilhas de tarifas de ônibus no Sajonia-Anhalt, estado alemão onde
necimento de água potável, esgoto e Brasil, no que foi acompanhado pelo se realizou o evento.
eliminação de resíduos.”

80 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


EURORAI - ORGANIZAÇÃO E ATUAÇÃO

A EURORAI é uma organização europeia dos é a cooperação. O fomento desta cooperação é o


tribunais de contas regionais e locais. Criada na década primeiro objetivo da EURORAI. Em seguida, vem
de 90, congrega 45 entidades de controle público e tem o intercâmbio de conhecimentos e de experiências
por objetivo promover o aperfeiçoamento técnico e ins- na fiscalização da arrecadação e da despesa dos
titucional das mesmas. Para este aperfeiçoamento, são órgãos públicos em geral. O terceiro ponto é a
realizados constantes estudos, seminários, congressos manutenção de informações sobre a legislação,
e outros eventos de capacitação técnica dos membros organização e funcionamento de cada entidade.
e servidores dos órgãos regionais de controle externo A promoção de estudos, em caráter permanente,
(OCEXs). Historicamente, há cooperação entre a EU- de matérias relacionadas com a fiscalização, se
RORAI e tribunais de contas brasileiros, especialmente constitui em uma ferramenta importante de apoio
no campo da troca de experiências, do conhecimento às OCEXs. Não é menos importante a organização
e de um vocabulário comum de termos referentes à de intercâmbios e de cursos de aperfeiçoamento do
fiscalização e controle. Assim é que são convidados pessoal que atua no controle público. E finalmente,
para esses eventos órgãos representativos como o não menos importante é a criação de uma termino-
Instituto Rui Barbosa (IRB) e Associação dos Membros logia adequada que permita as comparações nos
dos Tribunais de Contas do Brasil (ATRICON). procedimentos de fiscalização.
Foram admitidos, há alguns anos, como membros Os temas discutidos no último Congresso,
observadores, os Tribunais de Contas do Paraná e realizado em outubro, na Alemanha, revelam a
de Santa Catarina. Nesta condição, tem uma série de importância dessa cooperação. Eles foram reunidos
privilégios na participação dos congressos e jornadas sob a designação geral de aspectos da fiscalização
técnicas. Recebem, igualmente, documentos técnicos e controle das atividades econômicas dos órgãos
informativos. Há membros observadores de outros públicos locais e regional. Para ser apreciado pelo
continentes nas mesmas condições que esses dois Brasil, houve interessante abordagem quanto à
Tribunais de Contas Estaduais brasileiros. fixação e cobrança de preços dos serviços públicos,
A rigor, deveriam participar da EURORAI aí incluídos os referentes ao fornecimento de água
apenas os órgãos regionais ou locais, uma vez que e esgoto, coleta de lixo, tratamento de resíduos etc.
as entidades de fiscalização superior (EFS) têm a No Brasil, há fiscalização e controle nos processos
EUROSAI, um dos braços da INTOSAI, como órgão de contratação de empresas prestadoras destes
de aglutinação e cooperação. Ocorre que, na Europa, serviços, ou, ainda, das compras de bens e serviços
há países unitários, de alta centralização política e por parte das empresas estatais de água e esgoto
administrativa, o que leva as suas únicas entidades ou de outra natureza. O que ainda é incompleta é a
de controle externo a participar das duas entidades. fiscalização, pelos tribunais de contas, dos preços
Não há nenhum problema neste procedimento, cobrados por essas empresas aos usuários dos
pois a razão de ser da existência destas entidades serviços, dos consumidores finais.

Curiosidade: na Suíça
Na Suíça, o Tribunal de Contas não tem autonomia para
decidir onde instalar sua sede. Em outubro passado, o
Conselho de Estado de Genebra deu parecer contrário à
mudança das instalações do TC local, alegando que o novo
aluguel não poderia passar para 2,5 vezes a mais sobre o
custo anterior. As divergências envolveram a Comissão de
Finanças do Estado e se estenderam até novembro, quando
o Tribunal e o Conselho chegaram, enfim, a um acordo.
Resultado: a Corte de Contas de Genebra rescindirá o atual
contrato e passará a acomodar seus 21 membros, entre
magistrados e funcionários, em um imóvel de 373 metros
quadrados, de propriedade do governo.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 81


TCMRJ recepciona visita técnica
R E GI S TRO

de avaliação do controle externo

O
Tribunal de Contas
do Município do Rio
de Janeiro recebeu,
em 07 de novembro,
membros do Comitê
Gestor de Avaliação de Qualidade
e Agilidade do Controle Externo.
O TCMRJ é um dos 28 TCs que
aderiram ao procedimento.
O presidente do TCMRJ, Thiers
Montebello, fez questão de re-
cepcionar os membros do Comitê
Gestor, conselheiros Edilson Sousa
Silva (TCE/RO), Joaquim Keneddy
Nogueira Barros e Jaylson Lopes
Campelo (ambos do TCE/PI),
e os técnicos Américo Corrêa e
Risodalva Castro, da Atricon, e
Miguel Garcia de Queiroz, do TCE/
RO (na foto), que assistiram a uma
ampla exposição da situação da
instituição e tiveram acesso a todas questionário com 133 perguntas. da realidade do controle externo
as informações necessárias, repas- Os integrantes do comitê também foi apresentado durante o XXVII
sadas por diretores de diversos visitaram setores para confirmar Congresso de Tribunais de Con-
setores, para checagem das infor- informações recebidas. tas do Brasil, em dezembro, em
mações enviadas na resposta ao O relatório com o diagnóstico Vitória-ES.

Comissão da Auditoria de Macau


visita o Rio de Janeiro

O
presidente do TCMRJ,
Thiers Montebello,
recepcionou a de-
legação do Comis-
sariado de Macau,
em visita ao Rio de Janeiro, em
novembro último. O grupo era
composto por Ho Veng On, Comis-
sário da Auditoria de Macau; Ho
Wai Heng, chefe de gabinete do
Comissário da Auditoria; Custódia
Maria Vieira Neves, assessora do
Comissário da Auditoria; e Che Kim
Cheong, assessor do Comissário da
Auditoria.

82 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Crise de representatividade
no TCE/SC

F
oi aberto, no dia 11 de
novembro, o Simpósio
Internacional: Crise de
Representatividade —
desafios e oportunidades
para o controle externo.
O evento, promovido pelo Tribu-
nal de Contas de Santa Catarina até o
dia 13 de novembro, foi realizado no
auditório do edifício-sede do TCE/
SC, em Florianópolis. O governador
em exercício, deputado estadual
Joares Ponticelli, abriu o Simpósio
com a Conferência Magna – Crise de
representatividade: desafios para a
governabilidade. Para o governador,
as recentes manifestações populares
que ocorreram em todo o país são
uma cobrança da sociedade por um
olhar para dentro de cada instituição
do poder.
Presente na abertura do evento, o
vice-presidente do Tribunal de Con-
tas de Minas Gerais e vice-presidente
do Instituto Rui Barbosa (IRB), con-
selheiro Sebastião Helvécio Ramos
de Castro, reconheceu que a crise
de representatividade pode acabar
se tornando uma oportunidade
para destacar o controle externo.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 83


Para Sebastião Helvécio, “Surge,
R E GI S TRO

na verdade, uma grande oportuni-


dade de valorização do controle e
também da oxigenação do processo
democrático, no sentido de dar um
destaque maior, dentro do controle,
ao controle social, fazendo com
que o cidadão comum, aquele que
é o destinatário da política pública,
possa se beneficiar das ações de
controle”, acredita o conselheiro.
O presidente do Tribunal de Con-
tas do Município do Rio de Janeiro e
vice-presidente da Associação Bra-
sileira dos Tribunais de Contas dos
Municípios (Abracom), conselheiro
Thiers Montebello, esteve presente
na mesa de abertura e considerou
o debate sobre a crise de represen-
tatividade relevante e preocupante.
“Até que ponto [a crise] reflete na
vida dos cidadãos e na atuação dos
TCs, do Ministério Público e dos
Poderes?”, questionou, ao defender
a oportunidade do evento. Para
Thiers, “o que vem ocorrendo com
a representatividade no nosso País
exige reflexão profunda e medidas
propositivas”, destacou.
Na cerimônia de abertura, o
presidente do Tribunal de Contas de
Santa Catarina, conselheiro Salomão
Ribas Junior, disse acreditar que o
evento produzirá indicadores para
uma reflexão do momento em que
vivem as instituições. Segundo
Salomão Ribas, “Serão debatidas
questões mundiais de interesse atual
na administração pública: a corrup-
ção, o desequilíbrio orçamentário,
a falta de transparência e o controle
dos gastos”.
O Simpósio Internacional: Crise
de Representatividade — desafios
e oportunidades para o Controle
Externo teve o apoio da Associação
dos Membros dos Tribunais de Contas
do Brasil (Atricon), Instituto Rui Bar-
bosa (IRB), Associação Brasileira dos
Tribunais de Contas dos Municípios
(Abracom), Governo do Estado de
Santa Catarina, Assembleia Legislativa
do Estado (Alesc), Tribunal de Justiça
do Estado (TJ), Ministério Público de

84 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Santa Catarina (MPSC), Federação
Catarinense de Municípios (Fecam) e
Instituto de Direito Administrativo de
Santa Catarina (Idasc).
Durante o Simpósio Internacio-
nal, a professora doutora e servidora
pública da província de Badajoz, na
Espanha, María Cruz Díaz y Días,
ratificou que a crise de represen-
tatividade é mundial. Ela falou no
evento, na terça-feira (12/11), sobre
experiências vividas em seu país na
atualidade. No mesmo Painel, o pre-
sidente da Associação dos Membros
dos Tribunais de Contas do Brasil,
conselheiro do TCE-MT Antonio
Joaquim, instigou a participação da
sociedade no controle.
Ao abordar O Estado no cenário
da crise de representatividade, o
professor doutor da PUC/SP e da
FAAP/SP, escritor, colunista e filóso-
fo, Luiz Felipe Pondé, destacou que
os movimentos sociais ocorridos
no mês de junho em todo o Brasil
foram a “agudização de uma crise
de representatividade que é latente”.
O evento contou ainda, entre
outros, com a participação do pro-
fessor doutor da PUC/RS e UFGRS
e presidente do Instituto Brasileiro
de Altos Estudos de Direito Público,
Juarez Freitas. Durante sua palestra
sobre Controle ideal e o controle
possível: respostas às demandas
sociais, fez uma relação entre as
auditorias operacionais e as priori-
dades constitucionais.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 85


Chile sedia 23ª Assembleia
R E GI S TRO

da Olacefs

E
stiveram presentes na
abertura da Assembleia
Geral da Olacefs, em 09
de dezembro, no Chile,
os presidentes do TCMRJ
e do TCE/AM, Thiers Montebello e
Érico Desterro, e o conselheiro do
TCM/BA, Francisco Neto. Esta é a 23ª
edição do encontro da Organização
Latinoamericana e do Caribe de
Entidades de Fiscalização Superiores,
que tem por objetivo fortalecer a
solidariedade e a cooperação regional
na luta contra a corrupção, e apoiar a
boa governança. A abertura contou
com a participação do presidente do
Chile, Sebastián Piñera, e de mais de
100 representantes de entidades de
20 países.

86 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Abertura solene do XXVII Congresso dos Tribunais de Contas do Brasil

Vitória sedia o 27º


Congresso dos Tribunais
de Contas do Brasil

R
ealizado em Vitória (ES) indução da melhoria da prestação do Rui Barbosa (IRB), conselheiro
no período de 3 a 6 de serviço público. Severiano Costandrade Aguiar; do
dezembro, o XXVII Con- Durante a programação foram presidente do TCU, Ministro Augusto
gresso dos Tribunais de realizadas duas conferências. A Nardes e do governador do Espírito
Contas do Brasil teve primeira enfocou a relação dos Santo, Renato Casagrande.
por objetivo debater a importância tribunais de contas com a sociedade, Em seu discurso, o conselheiro
dos tribunais de contas no contexto sob a ótica do controle social e da Carlos Ranna comemorou o grande
nacional e a atuação destes enquanto transparência e qualidade fiscal. A número de membros inscritos no
instrumentos de cidadania para o segunda, com foco na relação com os congresso. Para o conselheiro, falar
aprimoramento da gestão pública, Poderes Legislativo e Judiciário, traz de tribunais de contas significa falar
o desenvolvimento econômico e debates sobre a criação do Conselho de temas de interesse social, inclusi-
a redução da desigualdade social. Nacional dos Tribunais de Contas, a ve saúde, educação e sustentabilida-
A organização do congresso foi de elaboração de uma Lei Processual de.  “O papel do Tribunal é contribuir
responsabilidade da Associação Nacional para julgamento de contas para um mundo melhor”, resumiu
dos Tribunais de Contas do Brasil públicas, o impacto dos julgados Carlos Ranna. A utilidade das cortes
(Atricon), do Tribunal de Contas do na aplicação da Lei da Ficha Limpa de contas também foi defendida
Estado do Espírito Santo (TCE-ES), e a questão da competência no pelos demais componentes da mesa
da Associação dos Tribunais de julgamento de contas de governo e de abertura em seus discursos.
Contas dos Municípios (Abracom) e contas de gestão. Durante a abertura foi proferi-
do Instituto Rui Barbosa (IRB). da palestra magna do presidente
A temática escolhida levou em Abertura Solene do Tribunal de Contas da União,
consideração o papel desempenhado ministro Augusto Nardes. Durante
pelas instituições de controle exter- A abertura solene do XXVII Con- sua exposição, ele comentou a
no, que além de fiscalizarem a gestão gresso dos Tribunais de Contas do importância da evolução do controle
dos recursos públicos, contribuem Brasil foi realizada na terça-feira externo para o Brasil.
decisivamente para a capacitação (3/12). A solenidade foi iniciada Nardes destacou os trabalhos de
e orientação dos gestores, na exe- com a fala do anfitrião, o presidente Auditoria Coordenadas nas áreas
cutoriedade de políticas públicas do TCE-ES, conselheiro Sebastião do Meio Ambiente, realizadas nos
e de legislações que impactam Carlos Ranna, seguido do presidente Estados da Amazônia, e de Educação.
diretamente no progresso do país, da Atricon, conselheiro Antonio “Hoje nós temos um retrato do
no estímulo ao controle social e na Joaquim; do presidente do Instituto Ensino Médio no Brasil”, comemo-

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 87


rou. Para o ministro, a reunião de
R E GI S TRO

Renato Casagrande, governador do


conselheiros de vários Estados é Espírito Santo, durante sua palestra
motivo de comemoração e acelera a
integração dos tribunais de contas,
o que, segundo ele, é uma evolução.

Os Tribunais
de Contas e a Sociedade

Presidindo a mesa de abertura


do segundo dia do XXVII Congresso
Nacional dos Tribunais de Contas,
o Conselheiro Thiers Montebello
destacou a atuação do conselheiro
Antonio Joaquim frente à Atricon,
organizadora do evento que reuniu
cerca de 700 representantes das
cortes de contas de todo o país.
Compondo a mesa, também esti-
veram presentes o governador do ziu o movimento de integração entre Anfitrião do evento, o presidente
Espírito Santo, Renato Casagrande; os tribunais de contas brasileiros, do TCE do Espírito Santo, Sebastião
o gerente de Políticas Públicas do iniciado a partir da implementação Ranna, apresentou as principais
Sebrae, Bruno Quick; além dos do Programa de Modernização do ações da Rede de Informações
conselheiros Salomão Ribas (SC), Controle Externo (Promoex). “Não Estratégicas do Controle Externo,
Sebastião Ranna (ES), Severiano estamos distantes de sermos a criada em julho deste ano, por meio
Costandrade (presidente do IRB) e instituição mais importante do país, de acordo de cooperação firmado
Jaylson Campelo (PI), que apresen- no sentido da fiscalização de caráter entre a Atricon, o Instituto Rui
tou o diagnóstico da avaliação da pedagógico junto ao gestor público e Barbosa, o TCU e mais 28 tribunais
qualidade e agilidade do controle da aproximação com a sociedade, no de contas.
externo no âmbito dos TCs. fomento do controle social”, concluiu A Rede InfoContas tem entre
“De ilhas a arquipélago, visando o conselheiro, na abertura do XXVII seus objetivos criar a cultura de
a nos tornar um continente”, assim o Congresso Nacional dos Tribunais informação trabalhada, articulação
conselheiro Jaylson Campelo tradu- de Contas. institucional e compartilhamento de

Mesa de conferência Os Tribunais de Contas e a Sociedade

88 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


soluções de Tecnologia da Informa- nários” são as ações possibilitadas sua gestão, definindo como premis-
ção entre as instituições de controle pela parceria, como explicou Kizito. sas básicas as responsabilidades
externo brasileiras. A partir de 1992, o BID iniciou fiscal e ambiental, transparência e
“Somos 10 milhões de servidores sua atuação no fomento do controle participação social na atuação do
públicos no país e mais de dois tri- público no Brasil em parceria com governo.
lhões de reais de recursos públicos a CGU, e teve relevante importância Ao final do dia, a palestra de
a serem fiscalizados” reportou o como financiadora do Promoex. Leonardo Boff encerrou o segundo
Conselheiro Ranna, evidenciando Por meio de empréstimos e coopera- dia do XXVII Congresso Nacional dos
a relevância da atividade de inte- ções técnicas, o BID tem como foco TCs. “Devemos ver a corrupção não
ligência como instrumento que o fortalecimento da auditoria de só como um ato de corrupção, mas
possibilite a coleta e a busca de projetos e programas e a transferên- como uma cultura da corrupção,
dados e informações com vistas à cia de conhecimento entre tribunais. feita de forma diuturna, banal, que
produção de conhecimento para Ainda na abertura do XXVII toma conta de praticamente todas
adequada tomada de decisões e, Congresso dos TCs, em Vitória, na as instâncias sociais, do flanelinha
consequentemente, obtenção de quarta-feira (04/12), o conselheiro até as grandes negociatas”, resumiu
maior eficiência por parte da admi- do TCE de Santa Catarina, Salomão o teólogo e escritor.
nistração pública. Ribas, falou sobre o manual de boas
Fonte de financiamento para práticas processuais dos tribunais Os Tribunais de Contas
o controle externo foi o tema da de contas, distribuído aos partici- e os Poderes Executivo,
palestra a seguir, apresentada pelo pantes do evento. O documento, Judiciário e Legislativo
coordenador de gerenciamento elaborado pelo professor de Direito
financeiro do Banco Mundial no Juarez Freitas e pelo conselheiro Logo após da apresentação dos
Brasil, Joseph Kizito, e pela repre- aposentado do TCE/RS, Hélio Saul corais dos Tribunais de Contas de
sentante do Banco Interamericano Mileski, vai ao encontro das antigas Mato Grosso e do Espírito Santo,
de Desenvolvimento, Mônica Merlo. aspirações no sentido de harmonizar o terceiro dia (5/12) do XXVII
A colaboração do Banco Mundial as práticas referentes aos processos Congresso Nacional dos Tribunais de
junto à Atricon tem por objetivo de análise de contas públicas.  Contas iniciou com a conferência do
apoiar a transparência e a admi- “O passo seguinte do controle é governador de Minas Gerais, Antônio
nistração eficiente e eficaz do setor a qualidade”, assim se pronunciou Anastasia, sobre a visão do Poder
público, facilitando a troca de boas o governador do Espírito Santo, Executivo sobre os TCs. “No Brasil há
experiências entre todos os países. Renato Casagrande, no final das muito governo e pouca administra-
“Diagnóstico, fortalecimento insti- apresentações. Na oportunidade, ção pública. Não conseguimos ainda
tucional e treinamento de funcio- apresentou o mapa estratégico de distinguir de forma clara o que é um
e o que é outro. O governo cooptou
Palestra do Ministro do TSE, Henrique Neves a administração, e isto prejudica
o funcionamento dos tribunais de
contas, naturalmente”, reconheceu
o governador.
A Proposta de Emenda Constitu-
cional número 42/2013, que inclui
os Ministérios Públicos de Contas e
seus membros na jurisdição do Con-
selho Nacional de Ministério Público,
tem grandes chance de ser aprovada
no primeiro semestre do ano que
vem, segundo o senador Wellington
Dias (PT/PI), que proferiu a palestra
Visão do Poder Legislativo sobre o
Conselho Nacional dos Tribunais
de Contas e a Lei Processual para o
julgamento de contas públicas.
O advogado Eduardo Pugliesi,
presidente da Comissão Especial
de Acompanhamento Legislativo

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 89


R E GI S TRO

Antonio Anastasia: Visão do Poder


Executivo sobre os tribunais de contas

da OAB, foi a terceira pessoa a falar do Tribunal Superior Eleitoral, de Informação, Transparência e
durante as atividades matinais de Henrique Neves, encerrando as Controle, o auditor do TCU Rafael
quinta-feira. Ele defendeu a criação apresentações da manhã. Apontando Jardim, representando o ministro
de um órgão de controle dos TCs diferenças entre as contas de go- Valmir Campelo, apresentou alguns
brasileiros, mas não a aderência verno e de gestão, o ministro ainda problemas recorrentes encontrados
de conselheiros e ministros destas comentou pontos específicos da Lei na fiscalização das obras da Copa
Cortes à alçada do CNJ. da Ficha Limpa. do Mundo de 2014, tais como a di-
Ministro do TSE e auditor do ficuldade da administração pública
TCU participam do XXVII Congresso Painel Fiscalização das Obras em contratar projetos básicos. “É
Nacional dos TCs da Copa do Mundo de 2014 difícil aplicar a modalidade técnica
“As prestações de contas dos can- e preço nas licitações para este tipo
didatos às eleições poderiam passar Na parte da tarde, durante o de contrato”, reconheceu Jardim.
a ser analisadas pelos tribunais de painel Fiscalização das Obras da Entre alguns resultados obtidos pelo
contas”, assim sugeriu o Ministro Copa do Mundo de 2014: Estratégia Tribunal de Contas da União, citou as
economias geradas pelas auditorias
Senador Wellington Dias (PT/PI) fala sobre realizadas no Maracanã (R$ 97
a visão do Poder Legislativo sobre os TCs milhões), Estádio de Manaus (R$
84 milhões), Aeroporto de Confins
(R$ 70 milhões), Portos (R$ 80
milhões), entre outros.
Sem precisar sustar qualquer
execução das 30 obras para a Copa
do Mundo no Estado de Pernambu-
co, a postura pró-ativa de contribuir
resultou em 22 alertas e 10% de
economia, segundo o conselheiro
Valdecir Pascoal. “O TCE-PE tomou
a iniciativa de se inserir num con-
texto de colaboração, como tribunal
parceiro”, falou o relator, explicando
que as análises dos contratos foram
tempestivas, à medida que os docu-
mentos estavam sendo formalizados.
A outra debatedora do painel da
tarde no XXVII Congresso Nacional
dos Tribunais de Contas, Narda
Consuelo Neiva Silva, presidente

90 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


grada para mostrar experiências e
Painel sobre a fiscalização das
obras da Copa do Mundo de 2014 boas práticas de Estados diferentes.
No de Meio Ambiente, ainda houve
a preocupação de trazer para o
congresso um pouco da cultura do
Norte do país. Escamas de pirarucu,
sementes e sabonetes a base de
frutas da região fazem parte da
decoração.
O artesanato também esteve
presente em um estande montado
com trabalhos manuais feitos por
capixabas: panelas de barro, bijuterias,
porta-retratos a base de areia e con-
chas e até flores de escama de peixe.
Os participantes do congresso,
do Ibraop, chamou atenção para -MG), Cláudio Terrão, a divisão dos além disso, puderam conhecer
a importância de utilizar-se uma estandes por temática contribuiu um pouco mais sobre a Atricon,
linguagem menos técnica para que a para a governança corporativa. o Tribunal de Contas do Espírito
sociedade se aproxime da fiscaliza- Carla Tângari, secretária do CCOR e Santo, o Sebrae, o Banestes, a Editora
ção das obras públicas e evitar que coordenadora da feira, acredita que Fórum e o Instituto Rui Barbosa, nos
grande parte dos brasileiros deixe a integração ajuda a consolidação do estandes institucionais.
de pensar que bem público é “bem Sistema de Controle Externo. Para A coordenadora executiva do
de ninguém”. ambos, o próximo passo é abrir a Instituto Rui Barbosa (IRB), Márcia
feira para a sociedade civil em um Barbosa, destacou a importância
I Feira Nacional do Sistema próximo congresso. da feira para compartilhar as boas
Controle Externo Em cada um dos estandes mon- práticas entre os membros dos
tados no congresso, os tribunais de tribunais, além de poder apresentar
Da percepção de que os tribunais contas trabalharam de forma inte- no espaço as ações do instituto.
de contas executam vários trabalhos
interessantes e poucos conhecem
os projetos uns dos outros, surgiu
a ideia da I Feira Nacional do Sis-
tema Controle Externo, realizada
paralelamente ao XXVII Congresso
dos Tribunais de Contas do Brasil. A
Feira, como o Congresso, foi aberta
às 18h da terça-feira (03/12).
Organizada e idealizada pelo
Colégio de Corregedores e Ou-
vidores de Tribunais de Contas
(CCOR), a feira foi montada em
dois salões do Centro de Conven-
ções de Vitória, dividida em eixos
temáticos. São seis os estandes
que divulgaram os trabalhos dos
tribunais de contas nas seguintes
áreas: Educação, Planejamento e
Gestão, Controle Social e Acesso
à Informação, Meio Ambiente,
Obras e Engenharia e Imagem e
Comunicação Institucional.
Para o presidente do CCOR, o
corregedor do Tribunal de Contas
I Feira de Nacional do Sistema Controle Externo
do Estado de Minas Gerais (TCE-

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 91


Visitas ao TCMRJ
Maio.2013
Dia 23 – Conselheiro José
Antonio Almeida Pimentel,
do TCE/ES

Junho.2013

Dia 04 – Alexandre Cruz, Maurício Rodrigues, Luís Augusto Barcelos Barbosa e Wilson
Cuchieratto Junior
Dia 12 – Conselheiro
Reinaldo Moura, do TCE/SE

92 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Dia 12 - Procurador de Justiça Jorge Vacite Filho e assessores Clarissa Vidon e André Oliveira

Dia 25 - Deputado Edson


Albertassi

Julho.2013
Dia 5 – Conselheiro Julio
Pinheiro, do TCE/AM

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 93


Dia 16 – Mauricio Dinepi e Gilberto Ururathy

Agosto.2013
Dia 14 - Aloisio Freitas,
vereador Rafael Aloisio
Freitas e Renato Borges

Dia 19 - Conselheiro Olavo


Rebelo de Carvalho Junior,
do TCE/PI

94 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Dia 21 - Diretoria do SINDEPOL-RJ visita o TCMRJ: da esquerda para direita José Paulo Pires;
José Renato Torres; Leonardo Affonso dos Santos Dantas; Thiers Montebello; Marcus Vinicius
Lopes Montez; Vilson de Almeida Silva e Bruno Gilaberte

Outubro.2013

Dia 10 - Procuradora de Justiça Márcia Maria Tamburini Porto Saraiva, juíza da Vara de
Fazenda Pública Luciana Losada, e o advogado Mauro Roberto Gomes de Mattos

NOTA: Nesta edição, publicamos visitas que, por engano, foram omitidas na revista anterior.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 95


Auditoria Governamental:
L I VROS

em breves reflexões

Autor: Inaldo Araújo


Editora: Gestão Pública

Sara Jane Leite de Farias


Assessoria Jurídica

“O único meio de se previnir a complicados – pelo menos para A auditoria, portanto, teria
corrupção, decorrente da desordem aqueles que não militam no universo por objetivo a conferência do real
das finanças públicas, é o de fazer das Ciências Contábeis – para uma existente. Segundo Renato Santos
fiscalizar a lei orçamentária por um linguagem simples e clara, sem se Chaves, seria “uma técnica que visa
Tribunal cujos membros sejam vitalí- descuidar da profundidade dos analisar se determinados atos e
cios e, além de independentes, imunes temas, tarefa possível apenas para fatos estão consonantes com critérios
às seduções do Poder Executivo.” aqueles que detêm conhecimento preestabelecidos, sustentada em
Condorcet, em 1792, na Assembléia acadêmico, técnico e prático, haja procedimentos específicos, devendo
Nacional Francesa.1 vista sua atuação como contador, ser relatada a situação encontra-

A
mestre em Contabilidade, conse- da com respaldo em evidências
obra que tenho a honra lheiro e recém-eleito presidente do e provas consistentes” 1. Assim, a
de resenhar tem como Tribunal de Contas do Estado da auditoria extrapola os limites das
tema central a “Audi- Bahia, Pós-Graduado em Auditoria Ciências Contábeis e mergulha em
toria Governamental”. Contábil, em Auditoria Governamen- outras áreas do conhecimento com
Nela, seu autor – que tal, em Administração para auditores a mesma finalidade: verificar se
possui um vasto currículo na área – públicos e auditor concursado. os atos e fatos pertinentes a tais
traz suas reflexões sobre temas que Deste modo, no intuito de instigar áreas estão de acordo com critérios
estão intrinsecamente relacionados a leitura da obra em questão e situar predeterminados em regras, normas
à gestão pública e seu controle. o leitor não familiarizado com os ou padrões.
Seu mentor reuniu resumos de temas propostos, tomo a liberdade Com isto, surgem especializações
seus textos publicados em revistas de traçar breves considerações de auditoria:
especializadas ao longo de mais acerca da matéria. • auditoria interna: analisa atos
de 25 anos, num único trabalho, A literatura dedicada ao tema e fatos ocorridos dentro de uma
organizados da seguinte forma: “Auditoria” nos remete ao campo instituição, por funcionários desta
(I) Auditoria Governamental; (II) da Contabilidade. Trata-se de uma mesma instituição denominados
Auditoria em Programas Governa- das espécies de “Técnica Contábil”, auditores internos;
mentais; (III) Auditoria de Recursos situada ao lado da “Escrituração” • auditoria externa ou indepen-
Municipais; (IV) Sistema de Controle (que tem a função de registrar um dente: os atos e fatos são verifi-
Interno; (V) Instituição de Sistema ato ou fato), da “Demonstração Con- cados por profissional liberal ou
de Controle Interno no Âmbito Mu- tábil” (que consiste num conjunto de instituição independente daquela
nicipal; e (VI) Normas de Auditoria normas para informar as mudanças auditada, portanto, estranhos à
Governamental. contábeis) e da “Análise de Balanços” instituição;
O que mais chama atenção em (destinada a estudar as mudanças • auditoria governamental: anali-
sua leitura é a tradução de temas para futuras tomadas de decisões). sa os atos e fatos levados a efeito

1. Excerto extraído da obra de Jarbas Maranhão intitulada “Propósito do Tribunal de Contas”, publicado pela editora Letra Capital em 2003.
2. Auditoria e Controladoria no Setor Público. Ed. Juruá, 2010, p.14.
96 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ
96 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ
no setor público; os quais se dividem em interno e de acordo com uma estrutura de
• auditoria operacional: atua externo. Discriminam também seus relatório financeiro (...). Já a auditoria
avaliando as metas institucionais órgãos de atuação, sua composição operacional, conforme conceito
relacionadas à economicidade, e funções, como também realçam o também do INTOSAI, compreende
eficiência, eficácia e efetividade; dever do controle interno em apoiar o exame da economicidade, da
• auditoria fiscal: abrange o exame o controle externo no exercício eficiência e da eficácia com as quais
da legalidade dos fatos patri- de sua missão institucional, tanto a entidade auditada utiliza seus re-
moniais em face das obrigações é assim que os responsáveis pelo cursos no exercício de suas funções,
tributárias, trabalhistas e sociais; controle interno devem, sob pena de sendo conhecida, também, como
• auditoria de sistemas: analisa o responsabilidade solidária, dar ciên- auditoria de otimização de recursos.
ambiente computacional e a segu- cia ao tribunal de contas de qualquer Por vezes é também denominada
rança das informações, testando irregularidade ou ilegalidade de que como “auditoria de rendimento ou
e avaliando com profundidade venham a tomar conhecimento (art. de gestão”, como preferem os países
todos os controles num sistema 74, § 1º, CR). de língua espanhola; “performance
informatizado, abrangendo suas Assinala Inaldo Araújo3 que uma audit” e “value for money audit”,
aplicações e produtos; e breve análise destes dispositivos como utilizam, respectivamente, os
• auditoria médica: realiza a aná- constitucionais permite inferir americanos e os ingleses, ou “audi-
lise da qualidade da assistência que o Sistema de Controle Interno toria de resultado” para o português,
médica prestada aos usuários, idealizado pelo constituinte de então na forma pactuada no convênio de
comparando o atendimento pres- deveria cuidar da regularidade da padronização de conceitos comuns
tado com padrões de atendimento execução orçamentária (auditoria fi- utilizados no âmbito do controle
e utilização de recursos previa- nanceira), dos resultados alcançados externo firmado entre o Tribunal de
mente estabelecidos. pela gestão (auditoria operacional) Contas da União (TCU) e o Tribunal
Percebe-se, sem muito esforço, e apoiar o controle externo. Estas de Contas de Portugal (TCP), em
que dentre as espécies acima ar- seriam suas atribuições básicas. 1996, e publicado no Boletim do TCU
roladas encontra-se a “Auditoria A auditoria governamental foi nº 14/96.
Governamental”, ou seja, aquela classificada pelo autor4 em “contábil” Em resumo, pode-se dizer que
exercida junto ao setor público. e “operacional”. A auditoria contábil auditar, no setor público, é ve-
Neste momento trazemos à lume ou financeira, na forma preconizada rificar com independência o fiel
os dispositivos da Constituição pela Organização Internacional de cumprimento dos princípios da
de 1988 2 , que funcionam como Entidades Fiscalizadoras Superior accountability (obrigação que têm
um sustentáculo do Sistema de (INTOSAI), é a avaliação indepen- as pessoas ou entidades, às quais
Controle existente em nossa Nação, dente, materializada em um relatório foram confiados recursos públicos,
reafirmando o papel das cortes de que representa uma garantia razo- de prestar contas, responder por
contas como titulares precípuas ável de que a situação financeira uma responsabilidade assumida e
da  auditoria governamental. de uma entidade bem como os informar a quem lhes delegou esta
Os artigos 70 a 74 delineiam resultados e a utilização de recursos responsabilidade), sempre sob o
as espécies de controle existentes, são apresentados de forma adequada manto da transparência.

3. No setor público, a auditoria governamental foi inserida no ordenamento jurídico pátrio com a Constituição de 1967, que teve seu escopo significa-
tivamente ampliado com a Carta de 1988.
4. Página 65.
5. Nas páginas 31 e 32

Usuários externos utilizam


a biblioteca do tcmrj
A Divisão de Biblioteca e Documentação possui em
seu acervo mais de 27.000 ítens - livros, periódicos, dvd’s
e diários oficiais - com ênfase em Direito Administrativo,
Auditoria e Contabilidade Pública, e recebe diariamente a
visita de diversos usuários externos para estudo, consultas,
pesquisas e uso da Internet.

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 97


Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56 97
CARTAS

Mais uma vez agradeço a remessa, agora do


exemplar nº 55 do TCMRJ, e o cumprimento pelo
esforço dessa Corte de Contas para o cumprimen-
to de sua missão institucional.
RUBENS FIGUEIRÓ
Senador

Honrado em cumprimentá-lo,
acuso o recebimento do exemplar
com o Parecer Prévio à Prestação
de Contas da Prefeitura da Cidade
Acusamos o recebimento de mais um do Rio de Janeiro, referente ao
exemplar da Revista do Tribunal de Exercício de 2012.
Contas do Município do Rio de Janeiro Agradeço em nome desta Corte,
abordando magníficos artigos de pro- enaltece a consistência do trabalho
fundo interesse público em linguagem apresentado pelo eminente Con-
clara e esclarecedora servindo como selheiro Jair Lins Neto, retratando
Muitíssimo grato pela remessa da
referência para o enriquecimento da questões técnicas de maneira ob-
revista do TCMRJ, edição jun-ago
cultura dos gestores municipais em jetiva, ampliando assim, o alcance
2013. Como sempre, a qualidade
todos os níveis. da transparência da gestão fiscal,
é inquestionável para o adminis-
Não podemos deixar de ressaltar com o intercâmbio de informações.
trador público, com artigos da
o brilhantismo dos articulistas de Na oportunidade, parabenizo
mais alta relevância a orientar
nomeada que trazem a lume as suas ainda Vossa Excelência pela
as suas ações. Desconhecia que
experiências técnicas no exercício publicação da Revista TCMRJ,
a Lei 8666/93 está em processo
de suas carreiras profissionais consolidando o período de junho
de esvaziamento, paulatinamente
nos mais variados segmentos da a agosto de 2013. Com conteúdo
sendo substituída pelo RDC. Creio
administração pública. interessante e abrangente, traz
que isso aumentará muitíssimo,
Sentimo-nos honrados em receber importante contribuição para
a necessidade do controle mais
a Revista do Tribunal de Contas o desenvolvimento e a troca de
efetivo dos Tribunais de Contas
do Município do Rio de Janeiro experiência, não somente entre os
do país.
que traduz um exemplo para os Tribunais de Contas como também
LUÍZ GONZAGA SCHROEDER
administradores públicos deste fomentando conhecimento nas
LESSA
Município. mais diversas esferas da sociedade.
General do Exército
LUIZ COSME PAREDES DIAS JONAS LOPES DE CARVALHO
Presidente da Associação dos JUNIOR
Servidores Públicos – Cube Presidente do TCE/RJ
Municipal

98 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ


Cumprimentando-o, agradeço a Vossa Excelência pelo envio da
Revista TCMRJ, do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro.
Percebo que a publicação, de excelente qualidade, demonstra os bene-
fícios e conquistas obtidas pela entidade, em prol de toda sociedade.
LEONARDO CARVALHO
Conselheiro Nacional do Ministério Público

Cumprimentado-o cordialmente,
agradeço a Vossa Excelência a
Agradeço o envio da Revista TCMRJ gentileza de disponibilizar ao Ao cumprimentá-lo agra-
nº 55, ano XXX – já por sua atenção, meu gabinete um exemplar da deço a gentileza demonstrada
também pelo conteúdo do Perió- Revista tcmrj correspondente a pelo envio do livro Tribunal
dico de Comunicação altamente junho-agosto de 2013. de Contas do Município do Rio
qualificado desde o “ Quem projeta EDUARDO BRAGA de Janeiro, ao tempo em que
não constrói” até o dilema levanta- Senador o parabenizo pela excelente
do do Foro Privilegiado. qualidade da obra e pelo seu
Excepcional é memorial de aber- valor técnico e científico.
tura onde você, magistralmente, Agradeço a gentileza de Vossa AROLDO CEDRAZ
comenta o “ movimento das ruas” Excelência pelo encaminhamento Ministro
com ênfase para o Rio de Janeiro. da cópia da matéria “Fundo de
ROLDÃO JOAQUIM DOS SANTOS Previdência: serão seus balanços
Presidente da Agência de Regula- realmente transparentes?”, publi-
mentação de Pernambuco cada na Revista TCMRJ, parabeni-
zando os autores pela elaboração
e publicação do artigo.
GARIBALDI ALVES FILHO Agradecemos o envio da Revista
Ministro de Estado da Previ- TCMRJ – nº 55 jun-ago 2013 Ano
dência Social XXX.
Felicitamos o Senhor e a todos
que contribuíram para o resultado
Ao tempo em que o cumprimento,
final dessa elevada publicação.
agradeço a Vossa excelência o en-
Importante veículo de publicidade
vio de exemplar de publicação do Cumpre-me agradecer a V. Exª o dos resultados obtidos pelo Tribunal
Tribunal de Contas do Município envio da Revista nº 55 que, como de Contas do Município do Rio de
do Rio de Janeiro. de costume, contém artigos de Janeiro.
GLEISI HOFFMANN muito interesse. WANDERLEY ÁVILA
Ministra- Chefe da Casa Civil ANTONIO MIRA CRESPO Conselheiro do TCE/MG
Juiz Conselheiro do Tribunal de
Contas de Portugal

Revista TCMRJ Verão de 2014 - N. 56


REVISTA
E xpedi en t e

Diretoria de Publicações
Editora: Maria Saldanha
Redatores: Denise Cook, e Luciano Clemente
Equipe: Andréa Macedo, Carla Rosana Ditadi, Denise Losso,
Rose Pereira de Oliveira e Soria Guedes
Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro Fotografia: Alexandre Freitas e Bráulio Ferraz
Ano XXX – Nº 56 – Verão de 2014 - ISSN 2176-7181 Projeto gráfico/Edição de arte: Carlos D
Rua Santa Luzia, 732/sobreloja - Centro - Rio de Janeiro - RJ Ilustrações: Carlos D Design (Clarice Goulart)
CEP 20.030 – 042 Diagramação: Carlos D Design e Clarice Goulart
Tel: (0XX21) 3824.3690 - Fax: (0XX21) 2262.7940 Impressão: Meneghitti’s Gráfica e Editora.
Internet: www.tcm.rj.gov.br Tiragem: 5.500 exemplares
E-mail: tcmrj_publicacao@rio.rj.gov.br Capa: Pôr do sol no Arpoador, por Ivan Gorito Maurity
Pedidos de exemplares desta Revista pelo telefone 3824-3690 Os artigos assinados e imagens fornecidas
são de responsabilidade dos autores.

TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Presidente: Thiers Vianna Montebello Secretário-Chefe do Gabinete da Presidência


Vice-Presidente: José de Moraes Correia Neto Sérgio Tadeu Sampaio Lopes
Corregedor: Jair Lins Netto
Assessoria de Audiovisual
Gabinetes Bráulio Ferraz
Fernando Bueno Guimarães
Assessoria de Comunicação Social
Antonio Carlos Flores de Moraes
Elba Boechat
Nestor Guimarães Martins da Rocha
Ivan Moreira Assessoria de Informática
Rodolfo Luiz Pardo dos Santos
Procuradoria Especial:
Procurador-Chefe: Carlos Henrique Amorim Costa Assessoria Jurídica
Procuradores: Antonio Augusto Teixeira Neto, Edilza da Luiz Antonio de Freitas Júnior
Silva Camargo, Francisco Domingues Lopes e José Ricardo Assessoria de Legislação
Parreira de Castro Maria Cecília Drummond de Paula
Secretaria-Geral de Administração - SGA Assessoria de Segurança Institucional
Heleno Chaves Monteiro José Renato Torres Nascimento
Departamento-Geral de Finanças - DGF Centro Cultural
José Luiz Garcia de Morais Cordeiro
Maria Bethania Villela
Departamento-Geral de Pessoal - DGP
Alexandre Angeli Cosme Diretoria de Publicações
Maria da Graça Paes Leme Saldanha
Departamento-Geral de Serviços de Apoio – DGS Divisão de Biblioteca e Documentação
Sergio Sundin Maria Goreti Fernandes Moça
Secretaria-Geral de Controle Externo - SGCE: Secretaria das Sessões
Marco Antonio Scovino Elizabete Maria de Souza
1ª IGE - Responsável: Maria Cecília A. de S. Cantinho Centro Médico de Urgência
2ª IGE - Responsável: Simone de Souza Azevedo Maria Rita Verissimo
3ª IGE - Responsável: Marcus Vinicius Pinto da Silva
4ª IGE - Responsável: Ricardo Duarte Levorato
5ª IGE - Responsável: Heron Alexandre Moraes Rodrigues
6ª IGE - Responsável: Marta Varela Silva
7ª IGE - Responsável: Marcos Mayo Simões
Revista do Tribunal de Contas do Município do Rio de
Coordenadoria de Auditoria e Desenvolvimento - CAD Janeiro
Cláudio Sancho Mônica Ano I , n.1 (set/1981) .- Rio de Janeiro: TCMRJ, 1981

Gabinete da Presidência
Secretário-Geral da Presidência 1. Administração Pública - Controle - Periódicos - Rio
Sérgio Aranha de Janeiro (RJ)
CDU 35.078.3(815.3)(05)
100 Verão de 2014 - N. 56 Revista TCMRJ
Ouvidoria do TCMRJ:
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Urca

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encaminhando sugestões, reclamações,
denúncias e críticas, está sempre a
serviço do cidadão carioca que, pelo
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