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BIROSCA-BRAL

um espetáculo popular urbano

Peça Teatral de Tiche Vianna

MÁSCARAS

Cabral – dono de um bar na garagem de sua casa

Celeste – sua filha, apaixonada por Datinta

Datinta – grafiteiro do bairro, apaixonado por Celeste, irmão de Volante

Volante – integrante do movimento Hip-Hop, irmã de Datinta

Mineta – menina ingênua, moradora do bairro, trabalha para Cabral

Armando Traíra – homem estranho que aparece no bairro (representa o perigo)

ARGUMENTO

Num bairro de periferia vivem algumas famílias. Cabral, depois de muito sacrifício,
consegue terminar as obras de um pequeno bar, que está para ser inaugurado
brevemente. Sua filha Celeste é apaixonada por Datinta, grafiteiro da rua, com quem
Cabral se desentende constantemente, por acusá-lo de ser um pichador. Datinta, artista
crédulo, quer mudar o mundo com seus grafites e Volante, sua irmã mais velha, tem a
malícia dos espertos e cheira de longe a encrenca que se aproxima quando encontra
Armando Traíra, homem nunca visto por aquelas bandas.

Mineta, menina ingênua e solitária atende a todos que lhe dão atenção em troca de um
pouco de carinho.

SINOPSE

No dia da inauguração do BAR DO CABRAL, o velho Cabral quase tem um enfarte


quando vê que seu bar está todo pichado com o nome BIROSCA-BRAL. Irritado e
frustrado, acusa Datinta, grafiteiro do bairro, de ser o autor deste "crime" e o proíbe de
aparecer diante de seu estabelecimento, para desespero de Celeste, sua filha, apaixonada
por Datinta.

Neste mesmo dia surge no bairro Armando Traíra, figura estranha que oferece seus
préstimos a Cabral, que apesar de assustado, aceita com prazer a ajuda oferecida. Traíra
se estabelece na região e interfere na vida de todos os moradores.

Birosca-Bral é uma homenagem à expressão.

Através do Hip-Hop e da Commedia Dell’Arte, criamos um espetáculo jovem e alegre


que, apesar da dureza de seu conteúdo retirado da periferia de São Paulo, fortalece a
busca incessante de todos os que buscam seu direito à própria existência.
ENTRAM OS ATORES COM MÁSCARAS NA CABEÇA CANTANDO UM RAP:
PRÓLOGO - "QUERO VOAR"

Com a minha rima eu canto o meu sonho,

Busco um sonho risonho onde eu possa voar.

E com a força do Rap e dos meu orixás,

Com a sutileza do pássaro eu vou alcançar.

Querem me calar prá não falar da opressão,

mas não se prende um pássaro que expõe a opinião.

Enquanto a atitude estiver no coração,

ecoo nas quebradas o sentido do refrão: eu quero voar, quero voar...

Voo ao encontro dos diversos.

Encontro no confronto a coragem e os reversos.

Há muitos pássaros de idéia, irmão!

Pássaros do movimento ou não,

Não importa!

Buscando a subversão,

Sendo contra a miséria e a exclusão: dê-me sua mão!!

Faça parte desse bando, mano,

Seja um pássaro de vôo altaneiro

E espalhe pelo mundo inteiro o desejo de:

Quero voar, quero voar,

Quero voar!!!

TODOS SAEM. FICA CELESTE.

CE: Quero voar, quero voar, quero voar... Para além do caminho, voar, pro terreno
incerto, voar, porque sou muito jovem ainda, porque tenho muito o que falar, porque
tenho muito o que fazer, porque quero aprender, porque quero amar, quero voar! Para
além do caminho voar, para ser bem feliz, para amar! Datinta! Ah, Datinta quem sabe
hoje eu me tomo de toda coragem do mundo, aproveito que meu pai tá feliz e digo: -
"Seu Cabral, tá aqui o cara que me conquistou, tá aqui o cara que me inspira, me acalma
e me faz dar sentido prá tudo. Seu Cabral, tá aqui o Datinta, o cara que eu amo!.....

ENTRA VOLANTE SE APRESENTANDO

VO: Quero voar, quero voar! Sem blá, blá, blá, nem ti, ti, ti, é com muito orgulho que
me apresento aqui: Volante é meu nome e vivo nas quebradas desde que nasci. Driblo a
vida como posso: às vezes de forma impactante, outras avoante, seja como for, sigo
adiante. Aí meu irmão, foi um prazer me apresentar, aí meu irmão, essa rima vai pegar,
aí meu irmão, essa rima vai pegar, aí meu irmão (vendo Celeste), Celeste?! Num te
esforça demais no suadouro, mina porque o leite é branco mesmo se misturar com
chocolate.

CE: E aí, Volante, belê?! Ainda te provo o contrário.

VO: É tudo alegria, branquinha! (vai sair)

CE: Tô querendo falar com o Datinta, pode ser?

VO: Se ele quiser falar contigo, problema dele.

CE: Chama ele prá mim?

VO: Tá de comédia comigo? Tá me dando uma ordem, branquinha?

CE: Tô pedindo um favor, morena, rola?

VO: Morena?

CE: Prá rimar com branquinha!

VO: Esse papo não dá rima, mina, dá encrenca!

CE: Tô fora desse lance, só quero um lero com teu mano, mas se você puder dar o
recado, falo contigo e tá tudo conversado.

VO: Tô de cara, mana, às vezes tu me faz graça. O que é que manda?

CE: Meu pai vai inaugurar o bar...

VO: A birosca vai pro ar? Que milagre!

CE: Dessa vez é sério, depois de tanto sufoco, o velho pode sonhar...

VO: A birosca vai rolar!

CE: É bar, bar do Cabral, ele gosta assim!


VO: Vai ter o nome que a galera der.

CE: Mas ele quer Bar do Cabral. Até pintou na porta, prá todo mundo aprender.

VO: Se vontade criasse atitude, eu já tinha mudado o mundo!

CE: Ãhn?!

VO: Deixa prá lá! Vou marcar presença prá prestigiar! (saindo)

CE: Num esquece do Datinta! O convite é prá ele também.

VO: (saindo) Agora tu tá no esquema, na espera, no dilema. Quem sabe eu aviso,


quem sabe!

CE: Avisa o Datinta, Volante, avisa teu irmão... E agora? Como é que eu sei se ela vai
avisar ou não vai? (prá Volante) Custa ser minha amiga? Que dureza mané. Eu me
esforço mas a mina me complica!

ENTRA DATINTA FAZENDO PERCUSSÃO COM O PRÓPRIO CORPO. CELESTE


ESCUTA O SOM E O VÊ

CE: Mas se Deus tá comigo!!... COMEÇA A ACOMPANHAR A PERCUSSÃO DELE


QUE A VÊ. OS DOIS CANTAM EM DUETO.

DA: Hoje eu to aqui

E vim para mostrar, o tamanho do desejo de me expressar,

Vim falar do amor e do verbo amar.

No teu corpo eu vi o sentido da vida,

por isso é que eu canto, mina linda querida!

Você, é mais do que sei,

É mais que pensei, é mais que esperava baby...

Se a rapaziada um dia me perguntar:

E aí, Datinta, não vai mais grafitar nas quebradas?

Hoje eu grafito nos quatro cantos do mundo,

Levando como o vento meu amor tão profundo.

Desenho nos muros pra podê compartilhar,

Que a verdadeira mudança está no verbo amar!


CE: Você é algo assim, é tudo prá mim, é como eu sonhava, baby.

Você é mais do que sei é mais que pensei é mais que eu esperava, baby.

Se tudo der certo, Datinta, depois da inauguração do bar do Cabral, vou ser tua
namorada. (sai correndo)

DA: Bar do teu pai? Celeste?! E aí, vai rolar? Hoje a noite, será? Ahhhhhhh!!!!!!!! A
noite vai ser boa, de tudo vai rolar. Datinta grafitando o amor de leste a oeste. Este lance
de amor...

ENTRA MINETA, DEPOIS CABRAL

MI: E aí, Datinta, beleza?

DA: E aí, Mineta, que cê tá fazendo por aqui?

MI: Vim atrás do seu Cabral, aliás Datinta, cê não podia me dar uma forcinha numas
paradas nervosas que eu ando fazendo?

DA: É tudo alegria, mana, é nóis na fita...

MI: Olha só: E aí seu Cabral, tudo legal? Eu tô muito feliz, etc e tal.

O Sr. me contratou e não vai se arrependê. Eu vou mostrar a você o que eu consigo fazê.
O meu nome é Mineta e não gosto de careta, então vô trabalhar certinho prá ganhar um
troquinho e no final do dia sempre espero aquela hora, pelo tão prometido, chiclete
bolim bola.

DA: Tá rimando bem!

MI: Que legal, Deus tá comigo sem blá, blá, blá. Já entrei pro bar do seu Cabral, se
entrar pro movimento, etc e tal, aí é astral total!

DA: Que papo é esse de entrar pro bar do seu Cabral?

MI: Pode crer, mano, tô trabalhando prá ele!...

DA: E como é que fica o papo do conhecimento?

MI: Que papo é esse, mano?

DA: Papo de escola, Mineta.

MI: (arrepiada) Chega aí, simpatia. Toda vez que alguém fala nim escola, os pelinho do
meu braço alevanta, tá ligado?

DA: Isso é conversa prá boi dormir.


MI: Não é não, eu num gosto da escola, num posso fazê nada. Se eu erro as letra a
professora briga, se eu acerto e comemoro, a professora briga, se eu converso com os
mano e com as mina, a professora briga, se eu tô quieta demais, também briga, eu num
entendo. Parece que na escola a gente tem que ser do jeito que a gente não é.

DA: Aí cê tá por fora, mina. Tem que cavar na escola o teu espaço, tem mano que já
faz isso, Mineta.

MI: Quebradeira?

DA: Tem jeito mais inteligente de usar as mãos, Mineta: bate lata, street dance,
grafite...

Isso tem nossa cara, Mineta é por aqui que tem que começar.

MI: Num sei n....(Entra Cabral) Oi seu Cabral eu vim atrás do senhor.

CA: Que bom, minha filha, (vê Datinta e o ignora) vamos começar...

DA: E aí seu Cabral, beleza?

CA: Isso é jeito, pivete? (vai sair com Mineta)

DA: Que história é essa da Mineta trabalhar pro senhor?

MI: Ei, que cê tem com isso? Cuida da sua vida que eu cuido da minha...

CA: Ela precisa de trabalho e eu estou dando uma oportunidade a ela.

DA: Oportunidade de que?

CA: De trabalhar com dignidade, oras, ela não vai precisar ficar pedindo esmola na rua
prá ganhar a vida.

DA: E a escola?

CA: Escola? Quem precisa de escola hoje em dia? Todo mundo tem televisão, é só ligar
no telecurso!

MI: É isso aí, seu Cabral, eu nem tinha pensado nisso. Estudo pela TV e quando cansar
posso até mudar de canal, taí uma coisa que não dá prá fazer com a professora, Datinta!

DA: Viu só seu Cabral as idéias invertidas que o senhor coloca na cabeça da Mineta?
(sai)

MI: Ô Datinta...

CA: Deixa, minha filha, esse daí já tá perdido. Aproveita você a oportunidade que eu
estou te dando na escola da vida. Vamos trabalhar.
ENTRA ARMANDO TRAÍRA. OLHA AO REDOR PARA RECONHECER O
TERRENO E DECIDE: BOA ÁREA PARA ATACAR.

AT: Urubu nasce no lixo.

Prá atingir as alturas,

Muita cabeça vai fazer rolar,

Mas as asas desse bicho só batem bem fortes se carniça ele traçar.

Aqui é bom, aqui é muito bom!

ENTRAM OS ATORES: INTERMEZZO – "UM PONTO DE VISTA"

ATORES: Relativa é a verdade, depende de como se vê.

Belas mentiras também são verdades que a gente crê.

Produzindo o real a realidade está,

Hora de atuar ao invés de fantasiar.

Vivemos a concretude.

Para mim a verdade está na rebeldia da atitude,

Mas isso é só mais uma reflexão,

Agir é não consentir, eis a questão!!

Nem tudo que reluz é ouro,

Nem tudo que aparenta é,

Tudo é opinião,

Um ponto de vista sobre a situação!

Longe de tudo, mas nunca de ser verdadeiro,

Este é o lema, ou o dilema, sei lá.

Preto, branco, religioso ou insano,

Antes de tudo, ou de qualquer coisa, ser humano.

Ter consciência da diversidade é só mais uma colocação.

Conviver com o diferente,


Eis a nossa brasileira questão!

Nem tudo que reluz é ouro,

Nem tudo que aparenta é,

Tudo é opinião,

Um ponto de vista sobre a situação.

TODOS SAEM LENTAMENTE. ENTRA CABRAL

CA: Finalmente chegou o dia e é quase hora da inauguração do meu querido, amado,
estimado e tão esperado, Bar do Cabral! É uma felicidade prá essa rua, ter um barzinho
como o meu. Ninguém vai mais precisar ir até o bairro vizinho prá comprar cigarro,
tomar um cafezinho, ou a pinguinha santa de todo dia. A molecada vai comprar
amendoim, paçoca, pipoca doce e todas as porcarias que eles adoram e eu finalmente
vou poder dormir a noite toda na minha cama e não vou mais precisar cochilar na
cadeira dura da portaria, nem ficar correndo atrás daqueles pichadores que adoravam
rabiscar as paredes da escola. (se dando conta) Nem acredito que eu não sou mais o
vigia noturno. Eu não tenho mais que lavar parede pichada! Que se dane a parede! Eu
agora tenho o meu bar, na garagem da minha casinha, construído com tanto sacrifício,
ai, ai, ai, eu agora sou o meu próprio patrão! É muita felicidade...

ENTRA ARMANDO TRAÍRA E CABRAL AO VÊ-LO SE ASSUSTA COM A


FIGURA DELE.

AT: Como vai Sr. Cabral?

CA: (com espanto por Traíra saber seu nome) Bem, bem!

AT: E os negócios?

CA: Bem...

AT: Bem?!!

CA: Mal, os negócios vão bem mal...

AT: Mas não é hoje o dia da inauguração do seu bar?

CA: É, é, mas como você sabe tanto a meu respeito?

AT: Todos sabem!

CA: Todos?

AT: O Sr. é famoso, Sr. Cabral. Muita gente o conhece. O Sr. era vigia da escola, famoso
por perseguir os pichadores a mando da diretora, não é?
CA: É, mas...

AT: O Sr. sempre quis ter seu próprio negócio, não?

CA: Sim, como todo mundo!

AT: E o Sr. finalmente conseguiu, não?

CA: Com sacrifício, trabalho, esforço e...

AT: Economias.

CA: Poucas. Contraí um bocado de dívida prá começar este sonho e se Deus quiser,
ainda vou ter um futuro digno.

AT: Dignidade, Sr. Cabral, muito bem, eis o desejo de todos: dignidade!!

MINETA ENTRA GRITANDO

MI: Seu Cabral acho que a gente se ferrou!

DÁ DE CARA COM ARMANDO TRAÍRA. OLHA BEM PRÁ ELE.

MI: Quem é esse cara?

CA: É... seu nome, meu jovem!

AT: Armando Traíra.

CA: Muito bem, Armando esta é Mineta, que trabalha em meu bar. O que houve,
menina?

MI: A cerveja congelou!

CA: Ah, meu Deus do céu!!

MI: Eu num sei o que foi. Eu peguei bem no meio prá num deixar cair no chão...

CA: Sua burra! Era prá pegar pela pontinha.

MI: Mas é que começou a doer meus dedos...

ENTRA CELESTE QUERENDO FALAR COM O PAI.

CE: Pai!

CA: Ahhh, tava doendo os dedinhos, é...

MI: É...
CE: Pai!

CA: (p/ CE) Espera um pouco!

MI: Se eu deixasse cair o Sr. ia brigar comigo!

CA: Você congelou a cerveja!!

CE: Paiê!!

MI: Foi o congelador!!

CE: Pai!

CA: Cala a boca Celeste! (p/ MI) Pois você vai descongelar a cerveja nem que seja na
língua!

MI: Ah num vo mesmo...

AT: Eu ajudo o Sr.

MI/CE: ?????

CA: Como??

AT: É simples, eu tiro a cerveja do congelador e coloco na geladeira até a hora de


servirmos aos convidados. Eu ajudo o Sr.

CA: Mas você é um gênio, claro, eu estou nervoso, então vamos indo, criatura, vamos!!
(saem)

CE: Pai! Eu quero falar com o senhor! (sai atrás dele)

MI: Nossa, não sabia que eu era tão poderosa!

ENTRAM VOLANTE E DATINTA DANÇANDO E CANTANDO.

DA/VO: Volante e Datinta na área, Volante e Datinta na área!

MINETA JUNTA-SE AOS DOIS E COMEÇAM A DANÇAR. ENTRA CELESTE


IRRITADA.

CE: Mas quem é esse cara que grudou no meu pai? Cara mal encarado, o que é que ele
tá pensando?

DA: Celeste?!

CE: Datinta?! (os dois se cumprimentam) E aí galera?

ENTRAM CABRAL E TRAÍRA


CA: (falando com Traíra) Num é que eu não tinha pensado nisso, é que eu tava
nervoso....(vendo Volante e Datinta) Quem foi qu...

CE: Fui eu que convidei os dois, pai.

CA: Já te falei que não quero essa mistura com a gente lá do campinho.

CE: O bar é pro bairro, pai e a Volante é minha amiga!

VO: ??!!

MI: Todo mundo tá sabendo do bar, seu Cabral, os de cima e os de baixo e todo mundo
gostou da idéia. Uma birosca aqui é muito bem vinda!

CA: Bar, isso aqui é um bar, o meu bar, o bar do Cabral!

MI: É que na língua do povo...

CE: Tá tudo pronto pai?

CA: Quase, só falta abrir e esperar o povo chegar! E como eu sou um homem de fé.
Quero dizer uns agradecimentos prá abençoar o meu futuro! Antes de mais nada
agradeço a minha mãe que me colocou no mundo e também agradeço a Deus por ter me
dado este empurrãozinho (vai em direção ao pano branco que está sobre a porta do bar e
quando o puxa, vê que o bar está todo pichado). É com muito orgulho que eu retiro o
pano que cobre a obra de minha vida, é com muito orgulho que eu inauguro o ... (vendo)
BirosCa-bral?!!! Eu não acredito, eles me perseguem, esses malditos pichadores!!

CE: Calma!

MI: Sr. Cabral, calma!

CA: Se eu puser as minhas mãos no maldito que... (vendo Datinta que ri)

DA: Eles não dão mesmo trégua, seu Cabral, os caras são rápidos!

CA: Tá falando de quem, moleque?

DA: Pichadores!

CA: Teus cúmplices, né moleque?

DA: Que é isso, seu Cabral?

VO: Pega leve, coroa.

MI: Datinta é grafiteiro, seu Cabral!


CA: Prá mim dá tudo na mesma. Os dois riscam parede, não têm respeito nenhum, que
estão pensando? Meu bar sequer foi inaugurado e você já fez essa meleca! Se eu te
pego...

VO: Pega leve seu Cabral, Datinta não faz pichação, já falou.

CA: Pois prá mim pode falar o quanto quiser grafiteiro, pichador é tudo cheiro da
mesma tinta!

DA: Sem essa, velho, se liga!

CA: Pichador, pichador sim!!

CE: Paiii!!!!

CA: Cala a boca, Celeste, não vem defender pichador marginal!

DA: (perdendo a paciência) Nem pichador nem marginal,...

TRAÍRA PEGA O BRAÇO DE DATINTA E O EXPULSA, ASSIM COMO DE


VOLANTE E POR ÚLTIMO MINETA, COLOCANDO-OS PRÁ FORA. CELESTE
FICA ESCUTANDO TUDO ENRAIVECIDA.

AT: Vamos deixar isso tudo prá lá!

CA: Deixa ele comigo que eu dou nele de olhos fechados, delinquentezinho, o que é
que está pensando?...

AT: (empurrando todo mundo prá fora) Hoje é dia de festa, dia de realização, seu Cabral
tá concretizando seu sonho, ninguém tem o direito de destruir o sonho do Cabral, da
família do seu Cabral! (Traíra aproxima Celeste de Cabral)

CA: Um sonho de meia pataca! Perdi a vontade de fazer qualquer coisa. A gente
batalha tanto prá realizar um sonho, um só sonhozinho e quando chega a hora, um
moleque peitudo se mete a besta e põe tudo a perder! Olha o nome do sujeito, Datinta,
o nome já diz tudo!!

CE: Pai!

AT: O Senhor tem que inaugurar o seu bar!

CA: Não inauguro mais nada! Prá mim chega de amolação! Imagine se um velho
sozinho vai peitar essa molecada.

CE: Pai??!!

AT: E se eu ajudar o senhor?

CE: Pai.
CA: Num adianta, meu filho. Você é bem intencionado mas...

AT: A gente pode fazer um teste. Eu fico como uma espécie de administrador do seu bar
e tomo conta durante um tempo. Só como experiência, pro senhor não desistir tão rápido
do seu sonho, que tal?

CE: Paiê!

CA: Eu não posso pagar pelo seu serviço, rapaz, um administrador, quem me dera!

AT: Eu não falei em pagamento.

CA: Por falta de tempo né meu filho, ou você acha que eu nasci ontem?

AT: Eu fui com a sua cara, além do mais o senhor me lembra meu próprio pai.

CA: Tá falando sério?

AT: E não vou repetir a proposta, é pegar ou largar.

CA: Pois pode começar limpando essa sujeira. Assim que tudo estiver em ordem,
reabrimos!

CE: Pai!

CA: (vai sair) Tem certeza do que está propondo?

AT: Absoluta! Eu sempre sei o que faço. Não se preocupe e pode começar a contar com
o meu serviço.

CA: Isso sim é amigo, isso sim é parceiro!

AT: Obra do acaso, agora, se me dá licença, ao trabalho! (sai)

CA: Mas eu sou um homem de sorte mesmo, imagine só, encontrar esse moço, bem no
dia de hoje!

CE: Você ficou louco? Quem é esse cara?

CA: Armando Traíra...

CE: Que nome!!

CA: ...meu quase sócio!!

CE: Você nem conhece ele.

CA: Como não? Ele é uma ótima pessoa. Solícita e preocupada com os outros. Viu só
como ele me ajudou. Aliás, se não fosse ele, aquele pichador...
CE: O Datinta não pichou o seu bar, ele...

CA: Ele só veio aqui porque você chamou. Que te deu na cabeça, minhoca? Já falei que
não quero saber desse pessoal por aqui.

CE: Esse pessoal mora no bairro, cê não pode impedir eles de virem aqui e eu conheço a
galera, são meus amigos!

CA: Que conversa é essa Celeste? Você tem amizade com pichador, maconheiro?

CE: O Datinta é um artista...

CA: Artista?

CE: É, os desenhos dele são uma obra de arte!

CA: Arte que é arte tá no museu, não tá no muro dos outros.

CE: Arte que é arte, tá onde a arte tá!

CA: ??? Ora não me enrola, Celeste! Já tá falando do jeito deles, do jeito que ninguém
entende. Eu te proíbo de conversar, de sequer cumprimentar esse pessoal de lá do
campinho.

CE: Você não pode fazer isso, eles são gente boa, pai!

CA: Eu sei quem é gente boa e quem não é, você ainda é muito criança, não sabe o que
é certo e o que é errado.

CE: Que papo antigo, tô bem crescida seu Cabral, sei muito bem o que é melhor prá
mim!

CA: Se sabe mesmo cala essa boca antes que eu perca as estribeiras!!

CE: Eu amo o Datinta!

CA: Como é que é?

CE: E vou me casar com ele!!

CA: Experimenta!! Você não sabe do que eu sou capaz, Celeste! Tenta só me
desobedecer e você vai ver o que te espera. Eu te proíbo de pronunciar o nome desse
delinquentezinho! Se você me desafiar, eu mesmo, com minhas próprias mãos vou te
grafitar inteira, mas é de porrada!!

CABRAL SAI. CELESTE FICA IRADA E COMEÇA A DANÇAR UM RAP. ENTRA


MINETA. AS DUAS CANTAM E DANÇAM JUNTAS.
CE: Isso não vai ficar, isso não vai ficar assim, assim não vai rolar, isso não vai rolar
assim, melhor compreender se não quiser se separar, melhor compreender prá não se
separar de mim!!

Ei pai, gente mais velha, (professor, diretor, formador em geral)

Você viveu,

Você viveu muito mais que eu.

Então escuta, (professor, diretor, formador em geral)

Escuta a minha angústia,

Então escuta,

Escuta a minha astúcia,

Eu quero mais do que a vida me oferece agora,

Eu quero o meu direito,

O meu direito à minha vitória!!

O meu direito à minha vitória!

MI: Celesta, o cara é de morte, ele é mesmo muito forte.

CE: É de morte mas é fraco!

MI: Que fraco o que? Cê viu o que ele fez!

CE: Só me proibiu de ver o Datinta,...

MI: Proibiu?? Mas quem ele pensa que ele é? Ele nem te conhece direito!

CE: Pode crer, Mineta, não me conhece mesmo, ele também não sabe do que eu sou
capaz! (se dando conta) Será que é ciúme?

MI: Será que ele te ama?

CE: Claro que me ama, Mineta, ele é meu pai!

MI: Teu pai, com aquela carinha? Desculpa aí, Celesta, mas eu sempre pensei que teu
pai fosse o Cabral!

CE: É ele mesmo, Mineta.

MI: Ai que confa. Cê tá falando de quem afinal?


CE: Do meu pai.

MI: O Cabral?

CE: É, ele me proibiu até de pensar no Datinta!

MI: Ah bom, agora tem tudo a ver!

CE: (enraivecida) Que tudo a ver, Mineta? Então ele me proíbe de viver o meu amor e
tá tudo numa boa?

MI: Não. É que tem a ver o Cabral ser teu pai fraco e o Traíra ser o cara de morte, ser o
cara muito forte!

CE: ???

ENTRA TRAÍRA

AT: Quem tá falando de mim, tá querendo me ver!

CE: Quem aparece demais, no fundo tem o que esconder.

MI: Eta bobagem, Celesta, quem aparece demais tem coisa boa prá mostrar, isso sim.

AT: Ce acha isso, Mineta?

MI: Achá eu posso achar quanto eu quiser, bom mesmo é você provar o que eu tô
dizendo.

AT: Isso é fácil!

CE: Olha aqui moço, eu não caio na sua não, viu? Vem com esse papo maneiro, falando
doce com o coroa, com jeito bem traiçoeiro. Até ofereceu ajuda, em troca de nada?

MI: Qualé meu irmão?

AT: Você é muito esperta, Celeste, percebeu logo de cara que eu só fiz uma jogada, né?

MI: Claro, mano, a gente não é qualquer um não.

CE: Que jogada, mané?

AT: Prá mim é tudo alegria, gente boa, eu só preciso de trabalho, falô. Só preciso de um
lugar prá ficar, valeu? Aqui parece um bom lugar! Aqui tem gente boa, aqui tem coisa
boa prá quem quiser desenvolver, parece que é só questão de querer.

CE: E daí?

MI: Pega leve, Celesta, o homem tá abrindo o coração!


AT: Teu velho é gente boa, Celeste, o que estraga ele é a tristeza.

MI: Ah é, o que estraga todo mundo é a tristeza. Olha prá mim, pensa que eu sou assim
mesmo? Olha a Celesta, ela não tem essa cara não, mas ó: tá triste, ficou toda estragada.

CE: Estragada é você Mineta e eu num tô triste, eu tô é com muita raiva.

AT: A raiva também te estraga. Se o Datinta entrasse aqui agora e te visse assim, desistia
no ato!

CE: Que cê tá dizendo, cara, o Datinta me ama, se liga, meu!

MI: Mas que amor resiste a uma cara estragada, Celesta? Com tanta mina por aí...

CELESTE AVANÇA COM RAIVA PARA MINETA E TRAÍRA A DETÉM.

AT: Tive uma idéia interessante! A gente pode fazer um passeio prá esquecer e ficar bem
numa boa, tranquilizar a alma que arde dentro da cabeça e aperta os miolos, porque não
tem como sair.

MI: Tô nessa, mano e acho uma boa você também estar, Celesta. Cê tá precisando
descansar da raiva! Vamo nessa?

AT: Celeste?

OS DOIS VÃO SAINDO E CELESTE OS ACOMPANHA. ENTRA VOLANTE QUE


VÊ A SAÍDA DAS MENINAS COM TRAÍRA. CENA "NON SENSE" DE
VOLANTE E TRAÍRA.

ENTRAM OS ATORES - INTERMEZZO II: "TODOS NO MESMO BARCO"

A maior violência é não romper o silêncio que te oprime,

A maior violência é a de não afirmar tua existência,

A maior violência é viver na lei da sobrevivência,

A maior violência é acreditar na tua impotência.

Unir para fazer barulho

Ter de volta o nosso orgulho,

Juntos vamos dar este mergulho,

Olhem este retrato,

Seja qual for a etnia, educação, geografia,

Todos no mesmo barco,


Compomos este álbum de fotografia!

Olhem este retrato,

Seja qual for a etnia, educação, filosofia,

Todos no mesmo barco,

Integrantes somos desta maioria!

A maré não está prá peixe,

Só prá poucos tubarões,

A violência está onde há a negligência,

A violência está em subestimar a minha inteligência,

A violência está em tudo que me faz perder o sono,

Se juntos podemos mudar,

Então, por que separar?

Unir para fazer barulho,

Juntos vamos dar este mergulho?

Olhem este retrato,

Seja qual for a etnia, educação, geografia,

Todos no mesmo barco,

Compomos este álbum de fotografia!

Olhem este retrato,

Seja qual for a etnia, educação, filosofia,

Todos no mesmo barco,

Integrantes somos desta maioria!

Olhem este retrato, cadê a luz deste buraco?

Todos no mesmo barco, onde tá a luz do buraco?

Todos no mesmo barco...


ENTRA DATINTA BATUCANDO NO PEITO O CHAMADO DE CELESTE.
CABRAL AO ESCUTAR O CÓDIGO VEM AO ENCONTRO DE DATINTA.

CA: Eu não acredito que esse miserável teve a petulância de voltar ao local do crime.
Veio completar o serviço?

DA: Não tem nada prá completar, seu Cabral, só vim prá falar com a Celeste.

CA: Eu te proíbo! Não quero mais te ver nessa rua, nem do outro lado da rua, nem na
esquina, nem no próximo quarteirão!!

DA: Seu Cabral, a rua é pública!

CA: Você está me desafiando?

DA: O senhor é que tá abusando.

CA: Pois eu vou te mostrar o que é bom prá tosse, moleque!

CABRAL ATACA DATINTA QUE SE DEFENDE E ACABA DERRUBANDO O


VELHO, QUANDO ENTRA VOLANTE QUE OS VÊ E DISCUTE COM O IRMÃO
ENQUANTO CABRAL PEDE AJUDA. VOLANTE O AJUDA MAS CABRAL A
AGRIDE TAMBÉM. CELESTE E MINETA ENTRAM MUITO ESTRANHAS E
COMEÇAM A FAZER COISAS ESTRANHAS, ATACANDO CABRAL. OS IRMÃOS
DEFENDEM O VELHO E ACALMAM AS MENINAS QUE SE CONTROLAM.

CA: Mas o que está acontecendo aqui? Onde é que vocês estavam? (percebendo que as
duas disfarçam) Então vocês acham que podem me enganar? Eu sou um homem vivido,
vocês pensam que eu nasci ontem? Onde é que vocês estavam?

M/C: Com a Celesta/Com a Mineta!

VO: Onde vocês estavam, Mineta?

M/C: No bar/Na escola!

DA: Onde vocês estavam, Celeste?

M/C: Na escola/No bar

CA: Onde é que vocês estavam?

ENTRA TRAÍRA

AT: Comigo! (todos param e Traíra os rodeia) A gente tava fazendo um passeio prá
tranquilizar a alma que arde dentro da cabeça e aperta os miolos, porque não tem como
sair. A gente só foi dar uma volta prá esquecer, prá deixar tudo prá lá!

EPÍLOGO – "SOCORRO"
Encoberto, disfarçado, multifacetado,

Cuidado! Vai começar a trovejar,

Socorro! O perigo está no ar.

Anjos gritam em silêncio por

Socorro!

Socorro! Sussurram os guardiãos!

Há um pedido de socorro no

sorriso dos cidadãos,

Socorro! Ouço a solidão

dos que esperam pela morte.

Vejo o grito oco no olhar dos que esperam pela sorte.

Está em toda a parte,

se não gritar - vacilar,

engolido,

cuidado! Perigo!

(bis - 3 vezes)

Está em toda parte,

se não amar-expressar,

engolido,

cuidado! Perigo!

(bis - 3 vezes)

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